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Dentro no NT, existe uma pergunta intrigante: “entendes o que

lês?” (At 8.30). Esta foi a pergunta de Filipe ao eunuco etíope.


Pergunta essa que continua sendo a tônica que move o entendimento
das Escrituras. A Bíblia deve ser interpretada, e cada geração de
novos crentes, deve preocupar-se por entender a Palavra.

A Bíblia é um livro que desperta o interesse das pessoas há


muito tempo por se tratar de uma revelação de Deus ao ser humano.
Todavia a Escritura Sagrada não é tão simples de ser compreendida
quando se trata de estudá-la pormenorizadamente; pelo fato de
existir um distanciamento cronológico, linguístico e cultural, faz-
se necessário que o estudante da Bíblia conheça a hermenêutica.

Enquanto ferramenta científica, a hermenêutica é estudada com


o objetivo de interpretar produções literárias do passado. Sua tarefa é
mostrar o caminho pelo qual as diferenças e/ou distanciamentos
entre o autor e o leitor de hoje possam ser removidas. Desse
modo, a hermenêutica sacra ou bíblica desenvolve a mesma função,
só que com a Bíblia.

Assim, o objetivo dessa disciplina é apresentar ao estudante as


informações que podem gabaritá-lo para construir sua própria
hermenêutica, tendo condições, então de interpretar a Bíblia
correndo o mínimo possível de risco de erros , principalmente os
teológicos e doutrinários.

I. Derivação do Termo Hermenêutica


O étimo do verbo hermêneuein e do substantivo hermeneia,
remetem para o deus mensageiro-alado Hermes, de cujo nome as
palavras aparentemente derivam, ou vice-versa.
Hermes, segundo a mitologia greco-romana, era filho de Zeus e
de Maia, sendo o arauto e mensageiro dos deuses. Era também
considerado o deus da ciência, da interpretação e eloquência. Nas
escrituras neotestamentárias a cultura pagã romana o chamava de
Mercúrio (At 14.12). Porém, no texto original grego, aparece o
substantivo próprio Hermes em vez de Mercúrio.
No texto grego de Atos 14.12, Hermes (Eρμhν) aparece com a
oração explicativa, “porque era este o principal portador da palavra”
(ARA).
Os gregos atribuíam a Hermes a descoberta da linguagem e da
escrita — as ferramentas que a compreensão humana utiliza para
chegar ao significado das coisas e para transmitir aos outros.
Hermes se associa a uma função de transmutação —
transformar tudo aquilo que ultrapassa a compreensão humana em
algo que essa inteligência consiga compreender. As várias formas da
palavra sugerem o processo de trazer uma situação ou uma coisa, da
ininteligibilidade à compreensão.
Quando Filipe (At 8.26-40) foi conduzido pelo Espirito Santo ao
encontro do oficial etíope perguntou-lhe: “Compreendes o que vens
lendo?” (ARA). Seu objetivo era levar ao etíope a compreensão do
texto, decodificar o incógnito significado ao seu leitor.
Pregar e ensinar bem a Palavra de Deus traz consigo a
necessidade de interpretar, de forma correta, as Santas Escrituras.
Mas, o que significa “interpretar o texto Sagrado?”

1. Definição de interpretação bíblica – É o ato de entender,


corretamente, o texto sagrado, ou seja, saber o que de fato o
escrito, inspirado pelo Espírito Santo, desejava transmitir para
os seus leitores ou ouvintes originais e como o texto se aplica
aos nossos dias.
2. A correta interpretação Bíblica é um fator fundamental para que
as nossas palavras tenham crédito diante daqueles que nos
ouvem. Nos dias atuais estão faltando, principalmente nos
púlpitos das igrejas, pessoas que preguem a Palavra com
ousadia e poder de persuasão (convencimento) como fazia e
ensinava o apóstolo Paulo:

“Ele discutia todos os sábados na sinagoga, e persuadia a judeus e


gregos.”
(At 18.4)

“Paulo, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três


meses, discutindo e persuadindo acerca do reino de Deus.”
(At 19.8)
“Portanto, conhecendo o temor do Senhor, procuramos persuadir os
homens; mas, a Deus já somos manifestos, e espero que também nas
vossas consciências sejamos manifestos.”
(2 Co 5.11)

Observação.: A palavra “persuadir”, utilizada nos textos acima, vem


do grego pei,qo,, que significa: “prevalecer sobre” ou “ganhar sobre”.
Significa, literalmente, “ocasionar mudança de mente pela influência
da razão ou considerações morais.”

Infelizmente, muitos de nossos sermões não têm trazido


convencimento às pessoas aa quem ministramos. A nossa mensagem
deve produzir o mesmo efeito que a primeira mensagem do apóstolo
Pedro, onde após o término do seu sermão as pessoas foram
persuadidas (convencidas) por ele, sentiram que era necessário uma
tomada de atitude:

“E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram


a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos? Pedro então
lhes respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em
nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e recebereis o
dom do Espírito Santo.”
(At 2.37,38)

II. OS PROBLEMAS DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

“... Eis que um etíope, (...) tinha ido a Jerusalém para adorar,
regressava e, sentado no seu carro, lia o profeta Isaías. (...) E correndo
Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes, porventura, o
que estás lendo? Ele respondeu: Pois como poderei entender, se
alguém não me ensinar?...”
(Atos 8.27-31)

“... O nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que
lhe foi dada; como faz também em todas as suas epístolas, (...), nas
quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e
inconstantes torcem, como o fazem também com as outras
Escrituras, para sua própria perdição.”
(2 Pedro 3.15-16)

No texto acima o verbo “torcer”, do grego streblo,w (torturar).


aplica-se à falsificação da Palavra. Há, pelo menos, três maneiras de
torcer a Palavra de Deus:

a) Omitindo parte dela e ignorando que toda a Bíblia é a Palavra


de Deus e, por isso, sua mensagem deve ser aceita e pregada
integralmente;
b) Acrescentando ideias pessoais às verdades sagradas, alterando
o conteúdo da mensagem original;
c) Forçando um texto a dizer algo que não condiz com o seu
contexto e nem com os pensamentos do autor;

Interpretar a Bíblia não é uma tarefa simples. Por exemplo, como


saber se uma passagem foi escrita apenas para o público alvo original
ou também se destina às gerações posteriores? Em que situações
uma passagem bíblica pode ter mais de um significado? Nesse caso
como descobri-lo? Essas e outras questões da mesma natureza
precisam de respostas. Vejamos dois textos de uma interpretação
difícil nos dias atuais:

“Pois não permito que a mulher ensine, nem tenha domínio sobre o
homem, mas que esteja em silêncio.”
(1Timóteo 2.12)

Como podemos aplicar os princípios do texto acima em uma


sociedade onde o número de mulheres com nível superior concluído
ultrapassa o de homens?

“Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do


que abrasar-se.”
(1 Coríntios 7.9)

Como podemos aplicar os princípios do texto acima em uma


sociedade onde, segundo recentes pesquisas, 100% dos jovens
solteiros não cristãos e 70% dos jovens solteiros cristãos (que sabem
que fornicação é pecado) têm vida sexual ativa? Com frases do tipo
“sexo somente após o casamento” está sendo formada uma geração
de divorciados. Somente na cidade de São Paulo, de cada 10 casais
que se casam em cartório, 7 deles se divorciam até o quinto ano da
relação. Nos tempos bíblicos, as moças se casavam por volta dos seus
13 anos e os rapazes por volta dos 17 anos – momento em que o
período da puberdade de ambos começa a atingir o seu ápice. Hoje, as
mulheres normalmente se casam entre os seus 25 e 30 anos de idade;
os homens entre os seus 30 e 35 anos de idade, ou seja, com o dobro
da idade (e da experiência de vida) dos personagens dos tempos
bíblicos. Ainda assim, é requerido deles o mesmo comportamento que
havia há mais de 2.000 anos atrás.

Um dos maiores motivos porque a Bíblia é um livro difícil de


entender é o fato de ser antigo. Os cinco primeiros livros do Antigo
Testamento (Pentateuco) foram escritos por Moisés em 1.400 a.C.
com
uma mentalidade oriental. Já o último livro da Bíblia (Apocalipse) foi
escrito pelo apóstolo João por volta de 90 d.C. com uma mentalidade
greco-romana.

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