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AULA 3
Nesta aula estudaremos o movimento em uma dimensão mais importante que ocorre na
superfície terrestre, o movimento vertical de descida e de subida de um corpo.

3.1 Queda livre


Se soltarmos uma bolinha de gude e uma folha de papel sulfite simultaneamente da mesma
altura, observamos que a bolinha chega primeira ao chão. Se amassarmos o papel e repetirmos
a experiência, veremos que os tempos de queda de ambos corpos são quase iguais. Nicole
Oresme (1323-1382), ao realizar esta experiência para diferentes corpos, concluiu que em um
ambiente com ausência do ar, os tempos de queda seríam os mesmos para todos os objetos.
Esta descoberta é mais frequentemente atribuída a Galileu (1564-1642), que usando um
relógio de água estimou que na ausência do ar os corpos se moveriam com a mesma
aceleração 𝑔 ≈ 4 m/s em direção ao centro da Terra. O movimento vertical de objetos
sujeitos apenas à ação da gravidade é chamado de queda livre. Hoje, cálculos teóricos e
medidas experimentais precisas para este movimento nos dizem que 𝑔 tem um valor bem
maior e não é constante. Em função da latitude ∅ e da altura ℎ (em m), em relação ao nível do
mar, escrevemos 𝑔 (em m/s2) como
𝑔(∅, ℎ) = 9,780 + 0,0516𝑠𝑒𝑛 (∅) + 0,0002𝑠𝑒𝑛 (∅) − 3,09 × 10 ℎ (3.1)
Por exemplo, Natal está na latitude −5,5 , e sua altura em relação ao nível do mar é menor
que 1,0 km, então com duas casas decimais a aceleração da gravidade aqui é 9,78 m/s2 . No
entanto, se ℎ é menor que 9,0 km, 𝑔(∅, ℎ) = 9,8 m/s2 em qualquer ponto da Terra.
Para um modelo da Terra como uma esfera perfeita, o movimento de queda livre de um objeto
acontece ao longo de uma linha imaginária que passa pelo centro da Terra e é perpendicular à
sua superfície. Rotularemos esta linha de eixo 𝑦, e definiremos a sua origem em algum ponto
conveniente e o sentido positivo, em que 𝑦 positivo aumenta, apontado para o céu. Assim, a
aceleração de queda livre é 𝑎 = −𝑔, Figura 3.1, e as equações de cinemática são

𝑡≥0 (3.2)
𝑔 = 9,8 m/s2 (3.3)
𝑎 = −𝑔 (3.4)
𝑣 =𝑣 − 𝑔𝑡 (3.5)
1
𝑦 = 𝑦 + 𝑣 𝑡 − 𝑔𝑡 (3.6)
2
2|

1
𝑦=𝑦 + 𝑣 +𝑣 𝑡 (3.7)
2
𝑣 =𝑣 − 2𝑔(𝑦 − 𝑦 ) (3.8)

Figura 3.1 – Partícula em queda livre.

A Figura 3.2 ilustra o movimento de uma pedra lançada verticalmente para cima com uma
velocidade inicial 𝑣 .

Figura 3.2 - Detalhes do movimento de uma pedra lançada verticalmente. Ela diminui de rapidez, para no ponto
mais alto de sua trajetória, e então cai de volta. Embora a posição e a velocidade variem com o tempo, a
aceleração é constante.

Exemplo 3.1: Pingos de chuva caem de uma nuvem, a 1,5 km acima da superfície da Terra,
até o solo. (a) Se a rapidez dos pingos não fosse reduzida pela resistência do ar, quão rápidos
eles tocariam o solo? (b) Quanto tempo duraria a queda de uma gota desde a nuvem até o
solo?
Solução: A Figura 3.3 ilustra a situação inicial e final de um pingo de chuva em queda livre a
partir de uma nuvem.

Figura 3.3 – Pingo de chuva cai do repouso (𝑣 = 0) da altura inicial 𝑦 no instante 𝑡 = 0, quando toca o solo
(em 𝑦 = 0) no instante de queda 𝑡 ela possui uma rapidez 𝑣.
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(a) Um pingo de água cai da altura inicial 𝑦 = 1,5 km = 1500 m e tocam o solo na altura
final 𝑦 = 0 m. A velocidade inicial do pingo é 𝑣 = 𝑣 = 0 m/s, pois estamos supondo que
partam do repouso. Queremos saber a rapidez 𝑣 com que ele toca o solo. Aplicando a equação
de Torricelli:
𝑣 =𝑣 − 2𝑔(𝑦 − 𝑦 ) = 0 − 2(9,8)(0 − 1500) = 29400 → 𝑣 = −171,5 m/s
Foi considerada a raiz negativa porque sabemos que o sentido da velocidade, Figura 3.3, é
para baixo. Segue que a rapidez 𝑣 = |𝑣 | do pingo ao tocar o solo é 170 m/s (620 km/h).
(b) Se não tivéssemos calculado em (a) a velocidade final do pingo de chuva, poderíamos
obter o seu tempo de queda livre por
1
𝑦 = 𝑦 + 𝑣 𝑡 − 𝑔𝑡
2
ou seja, usaríamos a fórmula de Bhaskara para determinar a raiz positiva deste polinômio de
segunda ordem. No entanto, com o resultado de (a) podemos com menos cálculo obter o
tempo de queda por uma das seguintes equações:
1
𝑦=𝑦 + 𝑣 +𝑣 𝑡
2
𝑣 =𝑣 − 𝑔𝑡
Usando a equação horária da velocidade:
171,5
−171,5 = 0 − 9,8𝑡 → 𝑡 =− = 17,5 𝑠
(−9,8)
Portanto, o tempo que o pingo levaria para chegar ao solo em queda livre é 18 s.

Exemplo 3.2: Um balão está subindo com rapidez de 12 m/s a uma altura de 80 m acima do
nível do solo, quando um pacote de areia se desprende. (a) Com que rapidez o pacote toca o
solo? (b) Quanto tempo leva para alcançar o solo?
4|

Solução: (a) No instante 𝑡 = 0 o balão está subindo com uma velocidade 𝑣 = +𝑣 =


+12,4 m/s. Esta é a velocidade do pacote quando se desprende do balão a uma altura
𝑦 = +81,3 m, Figura 3.4.

Figura 3.4 – No instante inicial 𝑡 = 0 o pacote de areia está subindo com a mesma velocidade do balão a uma
rapidez 𝑣 , no instante final o pacote toca o solo com uma rapidez 𝑣 em tempo 𝑡 depois que se desprendeu do
balão.

Com estes dados podemos determinar a rapidez 𝑣 do pacote ao chegar ao solo pela equação
de Torricelli:
𝑣 =𝑣 − 2𝑔(𝑦 − 𝑦 )
𝑣 = 12 − 2(9,8)(0 − 80) = 1712,0
Como o pacote está caindo, a velocidade é
𝑣 = −41,38 m/s
e, portanto, a rapidez do pacote ao tocar o solo é de 41 m/s.
(b) O tempo que o pacote leva para atingir o solo pode ser obtido pela equação horária da
velocidade, já que conhecemos as velocidades inicial e final, calculada em (a):
𝑣 =𝑣 − 𝑔𝑡
−41,38 − 12
−41,38 = +12 − 9,8𝑡 → 𝑡 = = 5,447 = 5,4 s
−9,8

3.3 Empuxo e resistência do ar


Quão bom é o modelo de queda livre? Não vivemos em um vácuo, e o ar pode ser tão
relevante quanto a Terra para a aceleração de um corpo. Por exemplo, quando um
paraquedisma cai, a partir de certo momento a sua velocidade se torna contante; e, quando
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soltamos uma bexiga preenchida com o gás hélio, cuja densidade é 7,2 vezes menor que a do
ar, ao invés dela cair, ela sobe! Sem falar nas curvas surpreendentes que as bolas fazem ao se
moverem com rotação.
Estudos realizados por Blaise Pascal (1623-1662), George Gabriel Stokes (1819-1903) e Carl
Wilhelm Oseen (1879-1944), e outros cientistas, mostraram que quando um corpo cai
verticalmente em um fluido (gás ou líquido) a sua aceleração depende da densidade de massa
do fluido 𝜌 e sua viscosidade, uma propriedade que mede a resistência dos fluidos ao
escoamento. Além disso, depende da massa 𝑚 do corpo, de sua densidade de massa 𝜌, de sua
forma geométrica e de uma área de referência 𝐴 que interage com o fluido.
Quando o movimento é apenas na vertical, a aceleração é
𝜌 𝐶 𝜌
𝑎 = −𝑔 + 𝑔 − 𝐴𝑣 𝑣 (3.9)
𝜌 2 𝑚
onde o primeiro termo é aceleração da gravidade, o segundo é a aceleração do empuxo do
fluido no sentido oposto ao da gravidade, e o terceiro termo é a aceleração de arraste, sempre
no sentido oposto ao da velocidade. O parâmetro 𝐶 é um número adimensional que depende
da densidade e viscosidade do fluido, como também da forma geométrica e velocidade do
corpo.

3.3.1 Esfera que cai


A aplicação mais simples da Eq. (3.9) é o estudo do movimento de uma esfera de raio 𝑟 e área
referência 𝐴 = 𝜋𝑟 . Um ambiente em que o ar está em repouso, a uma temperatura de 20oC e
pressão atmosférica de 1 atm, a densidade do ar é 𝜌 = 1,20 kg/m3. Se um corpo esférico de
raio 𝑟 e densidade média 𝜌 > 𝜌 se move neste ambiente com velocidades entre 0,0075/𝑟 e
0,75/𝑟 m/s (𝑟 medido em metros), temos 𝐶 ≈ 0,48. Como um corpo largado em repouso
atinge 0,0075/𝑟 m/s em décimos de segundos, usaremos 𝐶 = 0,48 para velocidades de 0 a
0,75/𝑟 m/s.
No movimento de queda, temos
𝜌 𝐶 𝜌
𝑎 = −𝑔 + 𝑔 + 𝐴𝑣 (3.10)
𝜌 2 𝑚
Uma vez que o último termo é positivo e aumenta com a velocidade, vai chegar um momento
em que a aceleração se torna nula,
𝜌 𝐶 𝜌
𝑎 = −𝑔 + 𝑔 + 𝐴𝑣 = 0
𝜌 2 𝑚
6|

e, então, daí por diante a velocidade se tornará constante. Dizemos então que o corpo atingiu
sua velocidade terminal

2𝑚𝑔 𝜌
𝑣 = (1 − ) (3.11)
𝐶 𝜌 𝐴 𝜌

Se o corpo cai de uma altura 𝑦 do repouso (𝑣 = 0), a sua velocidade 𝑣 e posição 𝑦 em


função do tempo é obtida integrando (3.10). Os cálculos (nos slides da aula estão
desenvolvidos os detalhes para o caso em que desprezo o empuxo) resultam em
𝑡
𝑣 = −𝑣 tanh (3.12)
𝜏
𝑡
𝑦 = 𝑦 − 𝑣 𝜏 ln cosh (3.13)
𝜏
onde
𝑣
𝜏 = (3.14)
𝑔(1 − 𝜌 /𝜌)
O tempo que o corpo chega ao solo, 𝑦 = 0, é

𝑦 2𝑦
𝑡 = 𝜏 ln exp + exp −1 (3.15)
𝑣𝜏 𝑣𝜏

As funções “tanh” e “cosh” são a tangente hiperbólica e o cosseno hiperbólico:


exp(𝑥) − exp(−𝑥) exp(𝑥) + exp(−𝑥)
tanh(𝑥) = , cosh(𝑥) = (3.16)
exp(𝑥) + exp(−𝑥) 2

Exemplo 3.3: Você leva ao Midway uma bolinha pulapula (𝑚 = 5,6 g, 𝑟 = 1,0 cm), uma
bolinha de ping pong (𝑚 = 2,7 g, 𝑟 = 2,0 cm) e uma bola dente de leite (𝑚 = 65,0 g,
𝑟 = 10,0 cm). Quando tem oportunidade solta as três bolas ao mesmo tempo de uma altura de
20,0 m acima do piso térreo. (a) Se o ar não afetasse o movimento das bolas, quais seriam a
velocidade e o tempo de queda de cada uma ao atingir o piso térreo? (b) Agora, considerando
os efeitos do ar, quais são a velocidade e o tempo de queda de cada uma. Use 𝜌 = 1,20
kg/m3, 𝐶 = 0,48 e 𝐴 = 𝜋𝑟 nos cálculos.
Solução: (a) Desprezando-se o ar as bolas podem ser consideradas como partículas. Elas
chegarão ao térreo com a mesma rapidez 𝑣 = |𝑣 |, calculada pela equação de Torricelli:
𝑣 =𝑣 − 2𝑔(𝑦 − 𝑦 )

𝑣 = − 0 − 2(9,8)(0 − 20,0) = −19,8 m/s


𝑣 = 20 m/s
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E também tocarão o piso térreo ao mesmo tempo:


𝑣 =𝑣 − 𝑔𝑡
−19,8 = 0 − 9,8𝑡
19,8
𝑡= = 2,02 = 2,0 s
9,8
(b) Se consideramos os efeitos do ar, as velocidades das bolas ao atingir o piso não serão as
mesmas.
Para calcular a velocidade de cada bola em 𝑦 = 0, obtemos primeiro o tempo de queda por
(3.31):

𝑦 2𝑦
𝑡 = 𝜏 ln exp + exp −1 (1)
𝑣𝜏 𝑣𝜏

e substituímos este resultado em (3.29), tal que,


𝑡
𝑣 = 𝑣 𝑡 = 𝑣 tanh (2)
𝜏
Mas para calcular (1) e (2) precisamos calcular antes:
A área da seção transversal:
𝐴 = 𝜋𝑟 (3)
A densidade média de massa da bola:
𝑚 𝑚
𝜌= = (4)
𝑉 4𝜋𝑟 /3
Para então obter a velocidade terminal

2𝑚𝑔 𝜌
𝑣 = (1 − ) (5)
𝐶 𝜌 𝐴 𝜌

e
𝑣
𝜏 = (6)
𝑔(1 − 𝜌 /𝜌)
E então, substituímos (5) e (6) em (1) e (2)!

1) Bolinha pulapula (𝑚 = 5,6 g, 𝑟 = 1,0 cm). Seguindo o roteiro, temos


𝐴 = 𝜋𝑟 = 𝜋(1,0 × 10 ) = 𝜋 × 10 m2
𝑚 5,6 × 10
𝜌= = = 1336,9 kg/m3
4𝜋𝑟 /3 4𝜋(1,0 × 10 ) /3
8|

2𝑚𝑔 𝜌 2(5,6 × 10 )9,8 1,20


𝑣 = (1 − )= (1 − ) = 24,6 m/s
𝐶 𝜌 𝐴 𝜌 0,48(1,20)𝜋 × 10 1336,9

𝑣 24,6
𝜏 = = = 2,51 s
𝑔(1 − 𝜌 /𝜌) 9,8(1 − 1,20/1336,9)
Tempo de queda:

𝑦 2𝑦
𝑡 = 𝜏 ln exp + exp −1
𝑣𝜏 𝑣𝜏

20,0 2(20,0)
= 2,51 ln exp + exp −1
24,6(2,51) 24,6(2,51)

= 2,51 ln[1,383 + 0,955] = 2,13 = 2,1 s


Velocidade ao tocar o solo:
𝑡 2,13
𝑣 = 𝑣 tanh = 24,6 tanh = 24,6(0,691) = 17,0 = 17 m/s
𝜏 2,51
No cálculo acima foi usada a calculadora online de tangente hiperbólica
(https://www.solumaths.com/pt/calculadora/calcular/th).
2) Bolinha de ping pong (𝑚 = 2,7 g, 𝑟 = 2,0 cm):
𝐴 = 𝜋𝑟 = 𝜋(2,0 × 10 ) = 12,57 × 10 m2
𝑚 2,7 × 10
𝜌= = = 80,57 kg/m3
4𝜋𝑟 /3 4𝜋(2,0 × 10 ) /3

2𝑚𝑔 𝜌 2(2,7 × 10 )9,8 1,20


𝑣 = (1 − )= (1 − ) = 8,49 m/s
𝐶 𝜌 𝐴 𝜌 0,48(1,20)12,57 × 10 80,57

𝑣 8,49
𝜏 = = = 0,879 s
𝑔(1 − 𝜌 /𝜌) 9,8(1 − 1,20/80,57)
Tempo de queda:

𝑦 2𝑦
𝑡 = 𝜏 ln exp + exp −1
𝑣𝜏 𝑣𝜏

20,0 2(20,0)
= 0,879 ln exp + exp −1
8,49(0,879) 8,49(0,879)

= 0,879 ln[14,585 + 14,551] = 2,96 = 3,0 s


Velocidade ao tocar o solo:
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𝑡 2,96
𝑣 = 𝑣 tanh = 8,49 tanh = 8,49(0,998) = 8,47 = 8,5 m/s
𝜏 0,879
3) Bola dente de leite (𝑚 = 65,0 g, 𝑟 = 10,0 cm):
𝐴 = 𝜋𝑟 = 𝜋(10,0 × 10 ) = 𝜋 × 10 m2
𝑚 65,0 × 10
𝜌= = = 15,52 kg/m3
4𝜋𝑟 /3 4𝜋(10,0 × 10 ) /3

2𝑚𝑔 𝜌 2(65,0 × 10 )9,8 1,20


𝑣 = (1 − )= (1 − ) = 8,06 m/s
𝐶 𝜌 𝐴 𝜌 0,48(1,20)𝜋 × 10 15,52

𝑣 8,06
𝜏 = = = 0,891 s
𝑔(1 − 𝜌 /𝜌) 9,8(1 − 1,20/15,52)
Tempo de queda:

𝑦 2𝑦
𝑡 = 𝜏 ln exp + exp −1
𝑣𝜏 𝑣𝜏

20,0 2(20,0)
= 0,891 ln exp + exp −1
8,06(0,891) 8,06(0,891)

= 0,891 ln[16,199 + 16,168] = 3,10 = 3,1 s


Velocidade ao tocar o solo:
𝑡 3,10
𝑣 = 𝑣 tanh = 8,06 tanh = 8,06(0,998) = 8,04 = 8,0 m/s
𝜏 0,891

Na tabela 1 estão organizados os resultados para facilitar a comparação.

Tabela 1: Tempos de quedas e velocidades de colisões com o solo para uma queda de 20,0 m,
velocidades terminais para uma partícula e as três bolas.
Cálculos Partícula Pulapula Ping pong Bola
𝑡 (s) 2,0 2,1 3,0 3,1
𝑣 (m/s) 20 17 8,5 8,0
𝜏 (s) ∞ 2,5 0,88 0,89
𝑣 (m/s) ∞ 24,6 8,5 8,1

A bola que mais se aproxima do modelo de uma partícula é a bolinha pulapula. Esta bolinha
se distingue das demais por possuir uma densidade média de massa muito maior que a
densidade do ar e por ter um raio muito pequeno, isso faz com que as acelerações de empuxo
10|

e de arrasto sejam menores que as das demais bolas. Apesar das grandes diferenças de massas
e raios, a bolinha de ping pong e a bola dente de leite chegam praticamente no mesmo instante
ao solo, no entanto com velocidades levemente diferentes mas iguais as suas respectivas
velocidades terminais.
Nos cálculos se observa que a aceleração de empuxo é desprezível para as bolinhas pulapula e
de ping pong, mas sem ela, para a bola dente de leite teríamos uma velocidade terminal de 8,4
m/s, apenas 3,7% maior que 8,1 m/s.

3.3.1 Esfera que sobe


Quando um corpo é lançado para cima, temos 𝑣 > 0, e, então, a aceleração é
𝜌 𝐶 𝜌
𝑎 = −𝑔 + 𝑔 − 𝐴𝑣 (3.17)
𝜌 2 𝑚
Se a densidade média do corpo 𝜌 é maior que a do ar, a velocidade inicial é 𝑣 e a posição
inicial é 𝑦 = 0, as integrações resultam nas equações horárias:
𝑣 𝑡
𝑣 = 𝑣 tan arctan − (3.18)
𝑣 𝜏

𝑣 𝑣 𝑡
𝑦 = 𝑣 𝜏 ln 1+ cos arctan − (3.19)
𝑣 𝑣 𝜏

onde

2𝑚𝑔 𝜌
𝑣 = (1 − ) (3.20)
𝐶 𝜌 𝐴 𝜌
𝑣
𝜏 = (3.21)
𝑔(1 − 𝜌 /𝜌)
O tempo de subida, solução de 𝑣 = 0, é
𝑣
𝑡 = 𝜏 arctan (3.22)
𝑣
e a altura máxima que o corpo alcança é

𝑣
𝑦 = 𝑣 𝜏 ln 1+ (3.23)
𝑣

FORMULÁRIO
1) Queda livre:
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𝑡≥0
𝑔 = 9,8 m/s2
Eixo 𝑦 saindo perpendicularmente da superfície da Terra, aproximada por uma esfera perfeita.
𝑎 = −𝑔
𝑣 =𝑣 − 𝑔𝑡
1
𝑦 = 𝑦 + 𝑣 𝑡 − 𝑔𝑡
2
1
𝑦 =𝑦 + 𝑣 +𝑣 𝑡
2
𝑣 =𝑣 − 2𝑔(𝑦 − 𝑦 )

2) Efeito do ar no movimento vertical:


𝑡≥0
𝜌 𝐶 𝜌
𝑎 = −𝑔 + 𝑔 − 𝐴𝑣 𝑣
𝜌 2 𝑚
Nas seguintes aplicações consideramos 𝐶 constante!
a) Se o corpo cai da altura 𝑦 partindo do repouso (𝑣 = 0), temos:
𝑡
𝑣 = −𝑣 tanh
𝜏
𝑡
𝑦 = 𝑦 − 𝑣 𝜏 ln cosh
𝜏

2𝑚𝑔 𝜌
𝑣 = 1−
𝐶 𝜌 𝐴 𝜌
𝑣
𝜏 =
𝑔(1 − 𝜌 /𝜌)
Tempo para chegar em 𝑦 = 0:

𝑦 2𝑦
𝑡 = 𝜏 ln exp + exp −1
𝑣𝜏 𝑣𝜏

b) Se o corpo é lançado verticalmente para cima com rapidez 𝑣 da altura 𝑦 = 0:


𝑣 𝑡
𝑣 = 𝑣 tan arctan −
𝑣 𝜏

𝑣 𝑣 𝑡
𝑦 = 𝑣 𝜏 ln 1+ cos arctan −
𝑣 𝑣 𝜏
12|

Tempo para atingir a altura máxima:


𝑣
𝑡 = 𝜏 arctan
𝑣
Altura máxima que o corpo alcança:

𝑣
𝑦 = 𝑣 𝜏 ln 1+
𝑣

ATIVIDADES

1. Fernanda arremessa uma pedra aplicando-lhe um impulso. A pedra é acelerada com 50,0
m/s a partir do repouso durante um deslocamento vertical de 70,0 cm. Ela sai da sua mão a
2,35 m acima do solo. Despreze a resistência do ar. (a) Qual a velocidade da pedra
imediatamente após sair da sua mão? (b) Qual a altura máxima atingida pela pedra? (c) Qual o
tempo de que Fernanda dispõe para sair de onde está antes que a esfera volte até a sua cabeça,
situada a l,75 m acima do solo?

2. Sofia deixa um livro cair do peitoril de uma janela. Despreze a resistência do ar. O livro
leva 0,350 s para passar por uma janela que está logo abaixo, cuja altura é igual a 1,60 m.
Qual é a distância entre o topo dessa janela e o peitoril de onde o livro caiu?

3. Se da mesma altura 𝑦 = 0 você lança para cima com a mesma velocidade de 10 m/s uma
bolinha pulapula (𝑚 = 5,6 g, 𝑟 = 1,0 cm) e uma bolinha de ping pong (𝑚 = 2,7 g, 𝑟 = 2,0
cm), qual a altura máxima que cada bola atinge e o tempo que elas levam para isso? Compare
os resultados com o modelo de partícula. Use 𝜌 = 1,20 kg/m3, 𝐶 = 0,48 e 𝐴 = 𝜋𝑟 nos
cálculos.

*Correções, sugestões e críticas para a melhoria deste texto são bem vindas para lima.neemias@gmail.com.
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Soluções
1. Fernanda arremessa uma pedra aplicando-lhe um impulso. A pedra é acelerada com 50,0
m/s a partir do repouso durante um deslocamento vertical de 70,0 cm. Ela sai da sua mão a
2,35 m acima do solo. Despreze a resistência do ar. (a) Qual a velocidade da pedra
imediatamente após sair da sua mão? (b) Qual a altura máxima atingida pela pedra? (c) Qual o
tempo de que Fernanda dispõe para sair de onde está antes que a esfera volte até a sua cabeça,
situada a l,75 m acima do solo?
(a) Para o cálculo da velocidade da pedra imediatamente após sair da mão de Fernanda
podemos aplicar os dados na equação de Torricelli:
𝑣 =𝑣 + 2𝑎 (𝑦 − 𝑦 ) → 𝑣 = 0 + 2(50,0)(0,70 − 0) = 8,3666 = 8,4 m/s
(b) Para calcular a altura máxima atingida pela pedra podemos aplicar mais uma vez a
equação de Torricelli:
𝑣 −𝑣 0 − (8,3666)
𝑣 =𝑣 − 2𝑔(𝑦 − 𝑦 ) → 𝑦 = 𝑦 + = 2,35 + = 5,921 = 5,9 m
−2𝑔 −2(9,8)
(c) O tempo que Fernanda dispõe para sair da vertical e evitar a pedrada pode ser obtido da
equação horária:
1
𝑦 = 𝑦 + 𝑣 𝑡 − 𝑔𝑡 → 1,75 = 2,35 + 8,3666𝑡 − 4,9𝑡 → 4,9𝑡 − 8,3666𝑡 − 0,60
2
=0
+8,3666 ± 8,3666 − 4(4,9)(−0,60) +8,3666 ± 9,0421
𝑡= = = 1,776 = 1,8 s
9,8 9,8

2. Sofia deixa um livro cair do peitoril de uma janela. Despreze a resistência do ar. O livro
leva 0,350 s para passar por uma janela que está logo abaixo, cuja altura é igual a 1,60 m.
Qual é a distância entre o topo dessa janela e o peitoril de onde o livro caiu?
A equação que relaciona deslocamento e tempo na queda livre é (eixo 𝑦 positivo para cima):
1
𝑦 = 𝑦 + 𝑣 𝑡 − 𝑔𝑡
2
Aplicando esta equação para o deslocamento do livro no espaço da janela podemos calcular a
velocidade com que ele começa a passar pela janela:
1 −1,60 + 0,60025
−1,60 = 0 + 𝑣 (0,350) − 9,8(0,350) → 𝑣 = = −2,8564 m/s
2 0,350
Agora para saber a distância entre o topo da janela e o peitoril podemos aplicar Torricelli.
Desprezaremos a velocidade inicial que o livro deixa o peitoril, e a velocidade final desta
etapa do movimento é justamente a velocidade de −2,8564 m/s. Portanto:
14|

𝑣 −𝑣 (−2,8564) − (0)
𝑣 =𝑣 − 2𝑔(𝑦 − 𝑦 ) → 𝑦 − 𝑦 = = = −0,4163
−2𝑔 −2(9,8)
= −0,42 m
Assim, a distância entre o topo da janela e o peitoril é de 42 cm.

3. Se da mesma altura 𝑦 = 0 você lança para cima com a mesma velocidade de 10 m/s uma
bolinha pulapula (𝑚 = 5,6 g, 𝑟 = 1,0 cm) e uma bolinha de ping pong (𝑚 = 2,7 g, 𝑟 = 2,0
cm), qual a altura máxima que cada bola atinge e o tempo que elas levam para isso? Compare
os resultados com o modelo de partícula. Use 𝜌 = 1,20 kg/m3, 𝐶 = 0,48 e 𝐴 = 𝜋𝑟 nos
cálculos.
De acordo com os cálculos teóricos desenvolvidos na aula, a altura máxima (a pa que o corpo
alcança é

𝑣
𝑦 = 𝑣 𝜏 ln 1+
𝑣

e o tempo para atingir esta altura máxima é


𝑣
𝑡 = 𝜏 arctan
𝑣
Para a bolinha pulapula:
𝐴 = 𝜋𝑟 = 𝜋(1,0 × 10 ) = 𝜋 × 10 m2
𝑚 5,6 × 10
𝜌= = = 1336,9 kg/m3
4𝜋𝑟 /3 4𝜋(1,0 × 10 ) /3

2𝑚𝑔 𝜌 2(5,6 × 10 )9,8 1,20


𝑣 = (1 − )= (1 − ) = 24,6 m/s
𝐶 𝜌 𝐴 𝜌 0,48(1,20)𝜋 × 10 1336,9

𝑣 24,6
𝜏 = = = 2,51 s
𝑔(1 − 𝜌 /𝜌) 9,8(1 − 1,20/1336,9)
Logo:

10,0
𝑦 = 24,6(2,51) ln 1+ = 4,7 m
24,6

10,0
𝑡 = 2,51 arctan = 1,0 s
24,6
Para a bolinha de ping pong:
𝐴 = 𝜋𝑟 = 𝜋(2,0 × 10 ) = 12,57 × 10 m2
M e c â n i c a | 15

𝑚 2,7 × 10
𝜌= = = 80,57 kg/m3
4𝜋𝑟 /3 4𝜋(2,0 × 10 ) /3

2𝑚𝑔 𝜌 2(2,7 × 10 )9,8 1,20


𝑣 = (1 − )= (1 − ) = 8,49 m/s
𝐶 𝜌 𝐴 𝜌 0,48(1,20)12,57 × 10 80,57

𝑣 8,49
𝜏 = = = 0,879 s
𝑔(1 − 𝜌 /𝜌) 9,8(1 − 1,20/80,57)
Logo:

10,0
𝑦 = 8,49(0,879) ln 1+ = 3,2 m
8,49

10,0
𝑡 = 0,879 arctan = 0,8 s
8,49
Já o modelo de partícula prevê:
𝑣 =𝑣 − 2𝑔(𝑦 − 𝑦 ) → 0 = 𝑣 − 2𝑔(𝑦 − 0)
𝑣 10
𝑦 = = = 5,1 m
2𝑔 2(9,8)
𝑣 =𝑣 − 𝑔𝑡 → 0 = 𝑣 − 𝑔𝑡
𝑣 10,0
𝑡 = = = 1,0 s
𝑔 9,8

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