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Afinal, há algo de mal no lucro?

Romolo Kiss Marangon

1. Muitas pessoas, as quais eu me incluo, atribuem boa parte do fracasso econômico


completo e do estado miserável da sociedade brasileira, e latino-americana com um todo a
demonização do lucro. Em qualquer canto do Brasil, de norte a sul, leste a oeste, a palavra
“lucro” é quase um palavrão.

2. “O empresário é malvadão porque ele só busca o lucro”, “Saúde e educação dão


direitos! Não podem ser tratadas como mercadoria!”, são frases comuns de se ouvirem pelos
quatro cantos deste belo país em que nasci. E o pior é que a totalidade das pessoas que as falam
não conseguem perceber o quão idiotas essas frases são. Mas não são só as pessoas comuns que
falam esse tipo de coisa. As ditas “cabeças pensantes” da nossa sociedade não falam coisa muito
diversa. Jornalistas, intelectuais, políticos, professores universitários... Todos pregam, com
devoção digna de um frade católico, o evangelho da mentalidade anticapitalista.

3. Não é do meu conhecimento a origem história dessa ojeriza ao lucro. Alguns


atribuem à nossa colonização católica, em especial à ordem Jesuítica a qual, de fato, possuí tal
aversão ao lucro. Outros atribuem causa a fenômeno mais recente, devido ao forte componente
de viés esquerdista e marxista na educação brasileira, à nossa BNCC ‘padrão MEC’ com o ‘selo
Paulo Freire’ de “qualidade”. Lógico, para um marxista, lucro é a mais-valia, então é o grande
mal da humanidade.

4. É obvio também que em sociedades mais ricas e desenvolvidas, o lucro não possuí
essa conotação negativa tão acentuada. Claro, em esquerdista e socialista em todo lugar, mas a
diferença cultural quanto ao lucro dessas sociedades para a nossa é indiscutível.

5. Mas afinal, há ou não algo de mal no lucro?

6. Já posso até ver a sua cara, você deve estar esperando eu dizer que o lucro é sempre
bom, não é? Afinal, eu sou capitalista, adoro lucro não é mesmo? Você então, deve ter ignorado
o fato de o texto ter 8 páginas. Mas, você se engana pequeno gafanhoto, lucro não é sempre
bom, nem de longe. Tudo depende das condições nas quais tal lucro é obtido.

7. Lucro obtido em um livre mercado, em que as pessoas escolhem, utilizar livremente


determinado serviço ou comprar determinado produto é, de fato, bom. Agora, este não é, nem
de longe o paradigma atual das relações econômicas da sociedade em que vivemos. Lucro em
setores controlados ou regulados pelo governo nada mais são que mais um imposto e, conforme
já expliquei anteriormente e o desafio ainda está de pé para que qualquer um que me prove errado,
imposto é roubo.

8. Lucro obtido em monopólios, sejam eles estatais ou privados, como, por exemplo,
energia elétrica, saneamento básico, extração de petróleo, em que outras empresas são proibidas
de participarem, mesmo se quisessem, não passa de um imposto.

9. Se a única forma de você obter água na sua residência é pagando a SABESP (empresa
estatal de águas do governo do estado de São Paulo), isso se deve única e tão somente à proibição
mediante ameaça de uso de força por parte deste mesmo governo, dono da empresa, de permitir
concorrência no setor que ele achou que deveria controlar.

10. Todo o lucro da SABESP é nada mais que um imposto.

11. E antes que algum keynesiano ou marxista de plantão venha falar do que não sabe,
não, não existem monopólios naturais. Isso é uma desculpinha tão patética que o governo usa
para justificar reserva de mercado, que eu sinto vergonha alheia pelas pessoas que se dizem
“economistas” que caem nessa palhaçada.

12. Ficou com as bochechas rosadas de raiva Sr. (a) keynesiano/marxista? Explica aí
então qual é a justificativa para monopólio natural? Você provavelmente vai começar a falar da
estrutura de custos para a prestação de tais serviços (postes e canos para energia e saneamento,
respectivamente, por exemplo). O seu erro é achar que o valo de um serviço tem relação direta
com os custos que são empregados para o desenvolver. Errado, Sr(a). terraplanista econômico.

13. O valor-trabalho já foi provado errado, de modo categórico, desde Böhm-Bawerk


(1851-1914). E mesmo se você estivesse certo, mesmo se o mercado tivesse a tendência natural
de se tornar monopolista devido à estrutura de custo que existe no mesmo, nada justifica a
imposição de tal monopólio pela força, a priori, pelo governo.

14. E pior, escolhendo uma empresa específica, boa parte das vezes empresa essa que
propriedade do próprio governo (quem poderia imaginar?), porque essa escolha garante que
possíveis alternativas melhores, mais baratas, mais eficientes, mas tecnológicas que pudessem
surgir, jamais existirão.

15. Como saber se não há maneiras economicamente mais vantajosas de se fazer


distribuição de água ou energia elétrica que as que nós utilizamos atualmente? Forçar um
monopólio coercitivo impede que as pessoas busquem novas formas de atender àquela
necessidade do consumidor, visando, sim, ele mesmo, o lucro que atender a tal demanda geraria.
16. E tem mais, não só impede inovação como também torna a empresa monopolista
ineficiente por natureza. Afinal, não importa se ela entrega um serviço/produto bom ou ruim,
você vai fazer o quê? Comprar do concorrente? Que concorrente inteligência rara? Só tem ela.
Deixar de comprar dela? Vai ficar sem luz e água em casa por algum acaso? Evidente que não.

17. E não são só monopólios não, oligopólios (bancos e telefonia, por exemplo) sofrem
do mesmo mal, ainda que em grau menor. Porém, da mesma forma, parte significativa do lucro
que esses setores ganham são, da mesma forma, apenas mais um imposto.

18. Qualquer tipo de regulamentação estatal dificulta a entrada de novos competidores


no mercado, pois toda e qualquer regulamentação tem um custo para ser implementada. Esse
custo adicional é facilmente absorvido e pago pelas empresas maiores, pois elas já possuem
capital o suficiente para arcar com tais custos. As menores, entretanto, não dispõem desse luxo.
Logo, elas são impedidas de atuar no mercado por não atenderem as exigências aleatórias
paridas da cabeça do burocrata da agência reguladora estatal responsável pelo setor em questão.

19. Tudo que essas agências reguladoras estatais fazem é criar uma reserva de mercado
para o oligopólio em questão. Vamos a alguns exemplos, para ilustrar melhor o meu ponto. O
Brasil é um país de quase 215 milhões de pessoas e só possui 4 empresas de telefonia móvel
(Vivo, Tim, Claro e Oi), quatro empresas, para 215 milhões de pessoas. Nos EUA, existem mais
de 700 empresas de telefonia móvel1.

20. E não para por aí. Bancos são outro ótimo exemplo.

21. Vamos lá, novamente, quase 215 milhões de pessoas e 5 bancos (BB, Caixa,
Santander, Itaú e Bradesco) sendo dois desses cinco, BB e Caixa do governo. Verdade que há
outras instituições financeiras (cooperativas de crédito) como é o caso da Sicredi e Sicoob, mas,
ainda assim, não passam de algumas dezenas. Agora, vamos comparar novamente com os EUA,
que possui quase 5000 bancos e instituições financeiras2.

22. É muito comum os políticos de esquerda falarem que o Brasil é o paraíso dos bancos,
que ser banqueiro no Brasil é o melhor negócio do universo, e talvez até seja mesmo, para os
que estão aqui claro. Mas, fica o questionamento, se fosse um negócio tão bom assim, por que
outros bancos não vêm para cá? Por que o HSBC saiu do Brasil?3 Se tem tanto dinheiro a ser
feito por aqui, por que outros bancos não vêm aproveitar? Simples, eles não poderiam mesmo
se quisessem.

1 https://www.ibisworld.com/industry-statistics/number-of-businesses/wireless-telecommunications-carriers-united-states/
2 https://www.fdic.gov/news/press-releases/2021/pr21083.html
3
https://dinheirama.com/banco-hsbc-vai-quebrar-entenda-o-que-esta-acontecendo/
23. E vou além, mesmo uma regulamentação do tipo “teje proibido o comércio de
drogas”, favorece os grandes em detrimentos dos pequenos, os violentos em detrimento dos
pacíficos. O grande traficante caso tenha sua carga apreendida numa operação da PRF sofre
prejuízo? Sofre, claro. Mas esse prejuízo pontual é nada frente ao lucro que ele tem com todos
os outros carregamentos que não foram pegos no caminho até a venda.

24. Já o pequeno, se tem a sua carga apreendida, acabou. Ele não tem como recuperar o
prejuízo. Pois aquela era a única carga dele.

25. E com todo o risco decorrente da proibição de comércio de entorpecentes, aqueles


que só queriam ganhar dinheiro, sem praticar violência, são excluídos do mercado. Não há
maneiras pacíficas de resolução de conflitos nessas relações comerciais, pois a atividade em
questão é ilegal. Ele vai fazer o quê? Entrar com uma ação de cobrança da dívida de quem
comprou a maconha ou a cocaína e não pagou? Claro que não. A única maneira de se manter
nesse mercado negro é através da violência pura e simples. Fora o fato de como essa atividade é
proibida pelo Estado, os que nela participam não tem que se preocupar apenas com as pessoas
que fazem parte da cadeia de comércio, mas também com os próprios agentes do Estado (polícia)
que irá atrás deles por estarem infringindo a lei. E qual a única maneira de eles continuarem no
mercado? Exatamente, batendo de frente com a polícia. Em outras palavras, com violência.

26. Sim, é exatamente isso que você pensou. Parte considerável do lucro do PCC e do
Comando Vermelho deve-se ao governo proibir o comércio de drogas. Quanto maior a
intervenção e/ou regulação, mais ilegítimo é o lucro de tal comércio.

27. E o oposto também é verdade, na medida em que se existe menor intervenção e


regulação estatal no setor, maior é a parcela do lucro que é, sim, boa e legitima. Voltemos ao
exemplo da telefonia. Pergunte para os seus pais ou avós como era a telefonia antes das
privatizações feitas pelo Fernando Henrique Cardoso. Linha telefônica era luxo, custava o preço
de um carro, era deixada em testamento, você declarava seu número no imposto de renda. Tem
uma história na minha família que a minha mãe antes de conhecer o meu pai ia se casar com
um cara e meu avô ia vender a linha de telefone que ele tinha na casa dele na época para pagar
parte da festa de casamento.

28. Era um absurdo completo o preço da telefonia no Brasil antes de 1998. Um roubo
puro e simples e a prova irrefutável do resultado de se misturar Estado e economia: ineficiência,
desperdiço de recursos, preços abusivos e o total desinteresse de atender ao consumidor.
29. Há um dito da economia que é “Cliente é quem paga”. Sabe quem paga o salário do
funcionário público? Você? KKKKKKKK. Não meu querido, você é obrigado a pagar o imposto
que vira o salário do funça. Quem paga o salário dele é o político ou o burocrata estatal. Eles
são os clientes das empresas estatais. Eles decidem quanto do orçamento vai para qual empresa,
para qual setor, para qual função. Você é só o otário que é obrigado a pagar por um serviço que
em condições normais de temperatura e pressão você, muito provavelmente, não pagaria. Pelo
menos, não pelo preço que tem de pagar.

30. Dessa forma, parte do lucro das empresas do agora privatizado setor de telefonia é,
de fato, legitimo. E mesmo num mercado regulado, você consegue comprar uma linha telefônica
por menos de 50 reais, instalam no mesmo dia dependendo de onde você morar. Antigamente
a fila era de meses, havia sorteios para saber quem receberia uma linha telefônica.

31. Num livre mercado, lucro é a recompensa que um empresário recebe por uma aposta
bem feita. É o resultado de ele haver atendido a uma necessidade de seu cliente que, por livre e
espontânea vontade, escolheu trocar o seu dinheiro por algo de seu interesse. É o pagamento
que recebe no futuro por haver investido dinheiro, tempo e esforço hoje, por acreditar que
amanhã ele seria bem-sucedido.

32. Esse sucesso é o lucro.

33. Você pode obter lucro de diversas maneiras. Comprar um bem, um terreno por
exemplo, por um valor baixo e 6 meses depois descobre-se que construíram um grande hospital
de primeira linha a menos de uma quadra desse seu terreno. Agora, você pode vender esse
terreno por 10 vezes o valor que você pagou. Esse exemplo, claro, assim como ganhar na loteria,
é extremamente difícil de acontecer. O jeito mais comum de se obter lucro é através de um longo
espaço de tempo no qual você realiza pequenas trocas por algo que seja do seu interesse. Abrindo
uma empresa e tomando boas decisões ao gerir tal empresa, por exemplo.

34. Esse caminho, entretanto, também não é nada fácil. Requer conhecimento,
experiência, esforço, tempo, estudo e dinheiro. Além de uma boa dose de sorte. Porém, é
importante lembrar de que em um livre mercado, só se obtém lucro apostando em um produto
ou serviço de sucesso, ou seja, vendendo algo que as pessoas querem comprar, por livre e
espontânea vontade.

35. Essa é a principal diferença do ente privado para o ente estatal. O ente privado precisa
que você QUEIRA fazer negócio com ele. O ente estatal te OBRIGA a fazer negócio com ele.
36. E para que alguém tenha um produto ou serviço que as pessoas quereriam comprar,
tal produto ou serviço tem de atender a uma necessidade humana de maneira satisfatória por
um preço que as pessoas possam e queiram pagar. Isso significa que, quando o empresário tem
lucro, ele está atendendo a uma necessidade de seus clientes, e com isso, ambos saem ganhando.

37. Em um livre mercado, o lucro é bom para todos.

38. Dessa forma, estando em um livre mercado, uma empresa de sucesso, uma empresa
que dá lucro, nada mais é que uma empresa que presta um bom serviço ou entrega um bom
produto a seus clientes.

39. Monopólios pela qualidade, como é o caso do Google na questão de navegadores e


buscadores, não são ruins. Afinal, caso a qualidade do serviço caia ou o preço suba muito,
existem inúmeros outros navegadores e buscadores disponíveis no mercado. O Google só é
quase monopolista no mercado de busca na internet porque ele presta um excelente serviço. Mas
caso você não goste dele, tem o Mozilla Firefox, ou o Brave como alternativas no âmbito de
navegadores. E como alternativa no caso de buscadores o meu favorito é o DuckDuckGo.

40. A cada burrada e arbitrariedade feita pelo Google, esses concorrentes crescem. No
livre mercado, tudo se ajusta na economia. Livre mercado não é bom, é ótimo. Ele não ajuda
apenas a empresa, nem apenas seus consumidores ou somente ambos, ele ajuda todas as pessoas.

41. Isaac Asimov foi um dos maiores escritores de ficção científica que já viveu. Eu,
pessoalmente, o considero o melhor de todos. E em uma de suas obras menos conhecidas,
Azazel, um ser extraterrestre de 2 centímetros de altura que tem um amigo humano meio burro,
encontra um escritor fracassado que faz bem aquele estilo “orgulhoso de ser pobre”. Dizia com
toda pompa que dinheiro e lucro são pecados, que ele só queria escrever boas histórias e ter
sucesso, mas não dinheiro.

42. Sem ele saber, o Azazel vai e muda as conexões no cérebro dele, para ele enxergar o
mundo mais claramente. E com isso, ele passa a escrever boas histórias e com isso tem muito
sucesso, vende muitos livros e ganha muito dinheiro.

43. Então, o protagonista do livro, o amigo burrinho do Azazel, vai lá e pergunta para o
escritor: “Você não achava dinheiro algo ruim? Não desprezava o lucro? Não só queria ter
sucesso e elogiado? Agora está aí, andando de Mercedes e escolhendo qual Rolex vai usar.”

44. Ao que o escritor respondeu: “Sim, eu já pensei assim. Mas eu mudei. Eu vejo as
coisas mais claras agora, dinheiro não é algo ruim. Dinheiro é o elogio mais sincero que existe”.
45. Se você faz um desenho e alguém chega para você e fala: “Nossa! Que desenho
bonito!”, é um elogio, mas não necessariamente é um elogio sincero. Agora, se você faz um
desenho, e alguém fala: “Nossa! Que desenho bonito! Vai ficar lindo na minha casa, por quanto
você me vende?”. Agora sim, isso sim é um elogio sincero.

46. Essa é a moral do conto intitulado: “Uma questão de princípios”, da série de contos do
Azazel, feita pelo Asimov.

47. Dito isso, eu não acredito que dinheiro seja a régua última da capacidade ou mesmo
esforço pessoal. Visto que há diversos outros mecanismos de incentivo e recompensas pelas
quais as pessoas fazem o que fazem.

48. Nenhum dinheiro no mundo poderia substituir a alegria que eu sentia ao ver o
orgulho estampado no rosto do meu Avô quando ele via as minhas notas na faculdade. Poucas
coisas me deixam mais felizes que ouvir um “Muito obrigado” acompanhado de um sorriso
sincero quando alguém consegue entender algo que tinha dificuldade em entender e conseguiu
com a minha ajuda.

49. Mas, tratar dinheiro como algo ruim, lucro como dano, nada mais é que atestado de
baixa compreensão da realidade. Pois é exatamente o contrário, quanto mais lucro existir em
uma sociedade, significa que mais necessidades de mais pessoas estão sendo adequadamente
satisfeitas.

50. Por óbvio que me refiro ao lucro real, obtido pelas empresas em livre mercado, não
em lucro obtido em monopólio estatal ou oligopólio regulado pelo governo. Estou me referindo
ao lucro obtido pela escolha livre do consumidor quanto ao produto ou serviço adquirido, não
ao imposto travestido de lucro advindo de coerção estatal.

51. Me refiro ao lucro bom, o lucro de mercado, o do Uber, o qual se você não gostar
pode usar o Lyft ou o 99. Do iFood, cujas opções alternativas são o Uber Eats o Rapi e muitos
outros.

52. Não do lucro ruim, das empresas de ônibus e táxis, onde somos restritos a um
prestador de serviços bancado pela força do governo.

53. Absolutamente nada justifica essa, bem como todas as outras, imposições estatais.
Não há nenhuma justificativa, moral, ética, utilitária, filosófica, administrativa ou econômica
para um grupo de pessoas (governo), se acharem no direito de impor leis e violência sobre
pessoas pacíficas.
54. Mas, é importante perceber que uma vez que o Estado acabar, não é apenas a nossa
liberdade que conseguiremos. Mas também, uma sociedade muito melhor.

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