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Trabalho Dos Supermercados
Trabalho Dos Supermercados
A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
1. Introdução
Segundo a Associação Brasileira de Supermercados o setor supermercadista representa
aproximadamente 5,5% do PIB do país, o que ressalta a importância desse comércio na
economia brasileira (ABRAS, 2013). Esse panorama, ao mesmo tempo em que ressalta a
relevância do setor para a economia brasileira também atrai cada vez mais concorrentes,
tornando o setor paulatinamente mais competitivo.
O aumento da concorrência tem levado as empresas do setor a procurarem por novas
alternativas para melhorarem seu desempenho como, por exemplo, a melhor compreensão do
relacionamento com o consumidor, melhor gestão de custos e preços de venda dos produtos e
também o melhor aproveitamento de produtos rejeitados.
A partir desse contexto, a Logística Reversa surge no setor supermercadista como uma forma
de auferir resultados proveitosos às empresas, já que o reaproveitamento dos resíduos pode se
tornar economicamente rentável e, além disso, gerar para a empresa uma imagem de
responsabilidade socioambiental devido à reciclagem e à reutilização de produtos que seriam
descartados (BRAGA JUNIOR, 2007). Este é o caso da reciclagem de embalagens plásticas e
de papelão oriundas dos produtos adquiridos e expostos ao consumidor nas prateleiras. A
reinserção destes resíduos na cadeia produtiva é uma opção atraente aos supermercadistas,
pelo aumento das receitas devido ao redirecionamento destes materiais a postos de
reciclagem.
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Segundo Leite (2009), a Logística Reversa consiste na área da logística empresarial que
planeja, opera e controla o fluxo de materiais e informações logísticas correspondentes ao
retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo,
por meio dos canais de distribuição reversos. Os canais de distribuição reversos funcionam
como um processo onde produtos que possuem pouca ou nenhuma função após sua
comercialização e utilização são inseridos novamente em um ciclo produtivo ou de negócios,
ganhando novamente valor em mercados denominados secundários seja pela reciclagem ou
pelo reuso. O fluxo reverso agrega valor de diversas naturezas para a empresa, como
econômica, ecológica, legal, logística e de imagem corporativa (ROGERS e TIBBEN-
LEMBKE, 1999).
Esta função empresarial teve seu surgimento na década de 1970, referindo-se neste primeiro
momento apenas à reciclagem, eliminação de resíduos e gerência de materiais perigosos.
Porém, atualmente os fluxos reversos de produtos tornaram-se bastante viáveis e sua
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importância tem se ampliado, desde o reaproveitamento de materiais até práticas que afetam
as percepções da marca e da imagem das empresas pelos consumidores, ficando esses mais
propensos a comprar produtos de organizações socialmente responsáveis (MARANGONI,
2007).
Com a evolução dos conceitos associados à Logística Reversa, Lacerda (2002) e Chaves e
Batalha (2006) relatam que a escala das atividades de reciclagem e reaproveitamento de
produtos e embalagens tem aumentado consideravelmente. Dentre as razões para esta
ocorrência estão as vantagens podem ser alcançadas com a estruturação de seus canais
reversos:
O fluxo reverso de produtos já vem sendo aplicado no meio industrial com relativa
frequência. Com relação ao varejo especificamente, as empresas deste setor são consideradas
como agentes nos canais de distribuição de uma ampla gama de produtos, podendo, desta
maneira, se apresentar ainda como membros importantes de canais reversos de produtos como
o papelão, o plástico e a madeira, materiais que frequentemente compõem as embalagens. A
reutilização destes materiais promoveu um mercado secundário, abrindo espaço para a
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atuação do varejo na alocação dos materiais descartados pelo consumidor final ou pelo
próprio varejista e que teriam o lixo como destino final (ROGERS e TIBBEN-LEMBKE,
1999).
Assim, Braga Junior (2007) afirma que o volume de lixo produzido nos varejos
supermercadistas, sobretudo com o papelão e o plástico, pode diminuir com a venda destes
produtos para o mercado secundário e, dessa forma, contribuir com redução do impacto
ambiental local, aumentar as receitas e beneficiar a imagem corporativa e a competitividade
pelo diferencial de responsabilidade ambiental.
3. Os casos estudados
3.1 Supermercado A
O supermercado está instalado em uma área total de 1150 m², possui um total de 15 check-
outs e um fluxo médio diário de 2.000 pessoas. Objetivando atender às tendências do mercado
e também visando ao aumento dos seus rendimentos, o supermercado iniciou a montagem da
estrutura de Logística Reversa. Os colaboradores que repõem os produtos na área de venda
foram instruídos e criou-se o hábito de levar o plástico e o papelão para um local específico de
armazenamento.
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vendas ao longo dos sete meses analisados (Figura 1), assim como a distribuição do volume
produzido para os dois resíduos (Figura 2).
No período estudado, a produção total de resíduos sólidos foi de 80,12 toneladas. Deste total,
aproximadamente 93% é contribuição do papelão e 7% de plástico, com 87% da receita total
da venda dos resíduos correspondente ao papelão e 13% ao plástico. A diferença percentual
entre a produção total e a receita total é devida aos valores pagos pelo mercado secundário ao
varejista para os diferentes resíduos.
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Foi também possível analisar a participação da venda do plástico e papelão no lucro líquido
da empresa. Os valores demonstrados pela Figura 3 comparam a venda do papelão e do
plástico em relação ao lucro líquido alcançado pelo supermercado durante o período
analisado.
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Contudo, apesar de mostrar uma tendência linear levemente decrescente, observa-se uma
oscilação muito grande na coleta de papelão e uma menor variação na coleta de plástico. Estas
variações são consideradas normais, pois o supermercado está sujeito a inúmeros fatores
influenciando as vendas e, consequentemente, a reposição de mercadorias que geram os
resíduos plásticos e de papelão.
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Possíveis explicações encontradas para a baixa preocupação com a questão ambiental são o
baixo nível social e de escolaridade dos entrevistados, o que possivelmente os levem a
apresentar acesso mais restrito ao conhecimento e, portanto, menor conscientização sobre a
questão preservação do meio ambiente.
3.2. Supermercado B
O supermercado B está instalado em uma área total de 450 m², possui um total de 9 check-
outs e um fluxo médio diário de 700 pessoas. Este supermercadista iniciou o processo de
Logística Reversa no intuito de gerar receitas extras com a venda do plástico e do papelão.
Os resíduos gerados pelo supermercado B são vendidos sem diferenciação de preço pelo valor
médio no período de R$ 0,25 o quilograma de material. Todo o material é alocado em
embalagens específicas e armazenado até o recolhimento mensal, realizado por uma empresa
de reciclagem. O material é pesado antes da coleta e os dados são repassados para o diretor
operacional, responsável pela implantação e controle do processo.
No período analisado, a coleta de resíduos total foi cerca de 30 toneladas, o que resultou em
uma média mensal de 4,34 toneladas. Do total, aproximadamente 94% provém do papelão e
6% do plástico, conforme pode ser visualizado na Figura 4.
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No entanto, conforme ilustrado pela Figura 5, foi possível analisar apenas a contribuição total
dos resíduos em relação ao lucro líquido da empresa, pois a empresa não fazia, na ocasião da
pesquisa, diferenciação de preço dos resíduos.
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Na Figura 5, a linha “Total” representa a oscilação das receitas em torno da receita média da
venda dos resíduos e em relação ao lucro líquido. Neste supermercado, o percentual de
contribuição dos resíduos sobre o lucro líquido da empresa foi de 4,56%. A oscilação das
receitas provenientes da venda dos resíduos é considerada normal, pois, assim como no caso
anterior, o supermercado está sujeito a inúmeros fatores influenciando as vendas e,
consequentemente, a reposição de mercadorias embaladas em plástico e papelão. Para o
período em estudo, o lucro líquido foi de 2,36% e os rendimentos provenientes dos resíduos
destinados à reciclagem atingiram 4,56% deste valor.
Quanto à percepção dos clientes em relação à prática de Logística Reversa, apenas 3% dos
entrevistados atentaram ao fato do estabelecimento possuir preocupação com a questão
ambiental. Com relação às principais razões de escolha do supermercado, também se notou a
valorização de fatores de necessidade mais imediata: qualidade (43% dos entrevistados),
localização (32%), preço (23%) e outras respostas (2%). Assim como no supermercado A foi
feita a mesma da correlação entre escolaridade, renda e valorização da gestão ambiental para
os clientes do supermercado B. Como no caso anterior, possivelmente a baixa preocupação
com a questão ambiental esteja diretamente ligada ao baixo nível social e de escolaridade dos
entrevistados, já que no supermercado B a escolaridade e a renda eram ainda menores do que
as dos clientes entrevistados no supermercado A.
O rendimento financeiro adicional não foi expressivo em nenhum dos dois estabelecimentos,
sendo, no entanto, considerável nos dois casos. Para nenhum dos supermercados analisados
esse excedente de caixa encontra-se destinado a um fim específico, figurando apenas como
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Apesar dos resultados financeiros apresentados pelos casos serem pequenos quando
comparados ao rendimento total e ao lucro líquido, a Logística Reversa pode melhorar os
resultados do negócio, desde que todo o processo seja realizado de maneira eficiente, com
pessoal treinado, e principalmente se todo o resíduo gerado for identificado, classificado e
vendido com o respectivo valor de mercado. Este é o caso do Supermercado A, que
apresentou maior controle dos resíduos, vendidos à reciclagem com preços diferenciados.
Contudo, o planejamento financeiro de curto prazo já surtiu algum efeito já que a decisão em
praticar a Logística Reversa aumentou os ativos circulantes, o que pode permitir projetar um
modelo organizado e sistemático que quantifica benefícios financeiros, custos e necessidades
de capital ou financiamento para transformar as aspirações das empresas em realidade.
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Pelo fato do supermercado A ter uma estrutura para a Logística Reversa mais organizada, com
preços diferenciados na venda dos diferentes resíduos, este apresentou resultados ligeiramente
superiores aos do supermercado B. Uma possível explicação encontra-se no fato do
supermercado B possuir menor porte e, consequentemente, menor volume de resíduos
gerados, ou seja, 69 Kg/m² para o supermercado A e 67 Kg/m² para o supermercado B.
Como o supermercado A apresenta uma Logística Reversa com controle individual dos
resíduos, seus resultados financeiros foram ligeiramente superiores, salvas as
proporcionalidades, aos resultados obtidos pelo supermercado B.
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5. Considerações finais
A partir desse contexto, o setor de varejista vem buscando novas oportunidades a partir do
reaproveitamento de produtos, como no caso de abertura de restaurantes internos aos
estabelecimentos para aproveitamento de alimentos não consumidos pelos clientes, ou mesmo
a aplicação de embalagens, fato da venda de resíduos de plástico e de papelão que envolvem
os produtos para a indústria da reciclagem.
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O supermercado A tentou explorar também a questão ambiental para agregar valor à marca,
mas o perfil de clientes da localidade não considerou relevante em sua decisão de compra o
fato do supermercado apresentar responsabilidade ambiental.
A partir da pesquisa foi possível notar que a gestão ambiental ainda não atinge a percepção
imediata dos consumidores dos estabelecimentos. Uma estratégia de marketing voltada a
vincular os supermercados às suas responsabilidades ambientais poderia ser uma opção para a
atração de clientes.
Apesar das empresas estudadas ainda se encontrarem em um estágio inicial do potencial que
pode ser alcançado com o reaproveitamento de produtos, é relevante aperfeiçoar o processo
logístico reverso para que sejam alcançados resultados mais robustos, já que a adoção da
Logística Reversa bem estruturada pelo setor supermercadista pode ser uma alternativa
interessante para gerar ganhos financeiros e ambientais.
REFERÊNCIAS
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LAMBERT, S.; RIOPEL, D.; ABDUL-KADER, W. A Reverse Logistics decisions conceptual framework.
Computers & Industrial Engineering, 2011. doi:10.1016/j.cie.2011.04.012.
LEITE, P. R. Logística Reversa: meio ambiente e competitividade. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.
2.ed.
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