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MINISTÉRIO DA
MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS SAÚDE
Copyright © 2020 Fundação Demócrito Rocha
ISBN 978-65-86094-33-6
1. Transtornos mentais e emocionais. 2. Suicídio. 3. Prevenção ao suicídio. I. Nogueira, Antônio Gilberto Ramos. II.
Aragão Neto, Carlos Henrique de. III. Ramos Filho, Vagner Silva. IV. Título.
CDD 616.858445
Referências bibliográficas 15
INTRODUÇÃO
suicídio, um fenôme-
no multifacetado e
complexo, ocorre em
razão da interação
de fatores genéticos,
epigenéticos, sociais,
econômicos e cultu-
rais (BOTEGA, 2015;
T U R E C K I ; B R E N T,
2016). Trata-se de um
problema relevante de saúde pública, cujas
taxas têm aumentado significativamente na
população jovem em diversos países, inclu-
sive no Brasil (BRASIL, 2019). Apesar disso, a
discussão sobre suicídio ainda é cercada de
mitos, tabus e estigma social.
Considerando a importância da infor-
mação para a prevenção ao suicídio e a ne-
cessidade de uma intervenção precoce, o
presente fascículo aborda a epidemiologia
do suicídio na infância e na adolescência,
as peculiaridades da avaliação nessa faixa
etária e os fatores de risco de acordo com
a idade, com foco nos transtornos mentais.
O objetivo deste fascículo é fornecer
mais subsídios ao leitor para uma melhor
compreensão a respeito da infância e da
adolescência, sobre os transtornos men-
tais mais comuns nessa faixa etária e os
principais fatores de risco para o suicídio
nessa idade. O acesso à informação é uma
ferramenta fundamental para a prevenção.
ESPECIFICIDADES
NA INFÂNCIA E
ADOLESCÊNCIA
1.1. EPIDEMIOLOGIA DO
SUICÍDIO NA INFÂNCIA E
ADOLESCÊNCIA
ocê sabia que a cada três
segundos uma pessoa ten-
ta tirar a própria vida e que
há um suicídio a cada 40 se-
gundos ao redor do mundo?
Além disso, para cada suicí-
dio completo, ocorrem no
mínimo 20 tentativas (OMS,
2014). E você sabia também
que, no Brasil, 32 pessoas
por dia tiram a própria vida (DA SILVA, et al.,
2018)? Trata-se de um tema complexo a ser
discutido, sendo muitas vezes evitado, devi-
do ao receio de incentivar o jovem a tirar a
própria vida. Já o suicídio em crianças é um
evento raro, embora pensamentos e ten-
tativas possam ocorrer (KUCZYNSKI, 2014;
KORCZAK, 2015). No entanto, as maiores
taxas de prevalência de ideação (12,1%) e
tentativa de suicídio (4,1%) ocorrem na ado-
lescência quando comparadas a todos os
outros momentos da vida (MIRANDA, 2014).
Segundo a Cartilha de Agenda Estratégi-
ca do Ministério da Saúde (MS), “a autoagres-
são está entre as três primeiras causas de
morte entre as pessoas com idade entre 15
e 35 anos” (BRASIL, 2017, p. 9). Tentativa de
suicídio é o principal motivo de atendimento
psiquiátrico de emergência em adolescentes
(SCIVOLETTO; BOARATI; TURKIEWICZ, 2010).
Prevenção ao Suicídio 5
As estatísticas são preocupantes. Porém, a morte e o morrer. Assim, para avaliar o ris- sinta à vontade. A família, os educadores,
apesar de todas as vidas perdidas anualmen- co de suicídio e o potencial de letalidade do os profissionais de saúde e toda a comunida-
te, os suicídios são evitáveis. Estima-se que comportamento da criança/adolescente, é de precisam olhar atentamente para a crian-
96,8% dos que tiraram a própria vida tinham necessário considerar qual é o conceito de ça/adolescente, a fim de identificar sinais de
algum transtorno mental, não necessaria- morte para aquele indivíduo, pois o enten- sofrimento emocional e comportamento sui-
mente diagnosticado e/ou tratado (DA SILVA dimento das consequências do ato suicida cida. Ao perceber/ouvir algo que gere preo-
et al., 2018). É importante buscar entender requer a compreensão da morte e das emo- cupação quanto à saúde mental, um médico
todo e qualquer meio que vise a prevenção ções a ela relacionadas (REIMHERR; MC- deve ser consultado imediatamente.
ao suicídio; os esforços devem ser abrangen- CLELLAN, 2004).
tes e integrados entre os múltiplos setores Lembre-se: às vezes, a criança ou ado-
da sociedade (saúde, educação, economia, Ordinariamente, dos 18 meses aos lescente que está pensando em suicí-
política, justiça e meios de comunicação) seis anos de idade, as crianças não dio não diz a você porque está preo-
com o propósito de proporcionar um aces- fazem distinção entre o que tem vida cupado com a sua reação. Perguntas
so mais amplo ao tratamento e sensibilizar a e o que não tem, entendendo a mor- diretas e sem julgamento podem in-
população para identificar precocemente as te como reversível e mutável (sendo centivar a compartilhar seus pensa-
pessoas em risco e estabelecer intervenções possível reverter a morte). Já entre mentos e sentimentos.
adequadas. sete e onze anos de idade, a morte é
entendida como irreversível, porém
elas não conseguem explicar as cau-
1.2. PECULIARIDADES DA sas e consequências da morte. Após
Perguntas que contribuem para
avaliação da intencionalidade sui-
AVALIAÇÃO NA INFÂNCIA E os 11 anos de idade, a morte já é en- cida em crianças e adolescentes:
ADOLESCÊNCIA tendida como um processo interno
A morte de um ente querido é um evento
que implica na parada das atividades • Você já ficou tão triste ou irritado que
do corpo, sendo universal e absoluto desejou estar morto?
extremamente doloroso. Quando isso ocorre (TORRES, 1996, 1999, 2002). • Você já fez algo com intenção de se
na infância ou na adolescência, contrariando machucar ou até mesmo de morrer?
a ordem natural, essa perda torna-se ainda Outro aspecto que deve ser considerado
• Você, às vezes, pensa em tirar a pró-
mais difícil, principalmente quando se trata pria vida?
de um suicídio.
por ser uma característica marcante da ju- • Se sim, você já pensou em como faria
ventude é a impulsividade, oriunda da ima- isso?
Atentar-se para os comportamentos, as turidade do lobo frontal, responsável pelo
emoções, sentimentos e pensamentos da controle das emoções e tomada de decisão, (Adaptado de BOTEGA, 2015).
população infanto-juvenil, bem como sua o que pode levar à ação de forma impensada
realidade, é fundamental para prevenção ou inconsequente, motivada pelo impulso e
ao suicídio. Portanto, é preciso explorar as emoções (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2010;
diversas “infâncias” e “adolescências” em DA SILVA et al., 2018).
suas pluralidades, singularidades e fragilida- Por todas as peculiaridades próprias da
des. Nesse sentido, torna-se importante re- idade e do tema, a abordagem sobre suicí-
conhecer jovens em sua integralidade, con- dio precisa acontecer em ambiente tranquilo
templando as dimensões pessoal, familiar e e acolhedor. A escuta deve ser cuidadosa e
socioeconômica, e assim atuar em todos os compassiva, sempre despida de julgamentos
fatores de vulnerabilidade. e suposições, visando descobrir as compe-
Em cada fase do desenvolvimento hu-
mano, há um entendimento diferente sobre tências e os fatores de proteção do indivídu
Prevenção ao Suicídio 7
FATORES DE RISCO
*Os sofrimentos do jovem Werther: livro bani- Quanto mais sólidos os fatores de
do na Europa no século XVIII pela acusação proteção, menor chance de suicí-
de induzir casos de suicídio entre jovens por dio, mesmo na presença de fatores
identificação e imitação. de risco.
**LGBT: Lésbicas, gays, bissexuais e transgê-
neros e transsexuais.
Fonte: BOTEGA, 2015.
Prevenção ao Suicídio 9
Sintomas: 2.2. TRANSTORNO BIPOLAR Alguns sintomas do THB na adolescência:
Prevenção ao Suicídio 11
Desatenção: Impulsividade:
des, como: transtorno opositor desafiador,
• Dificuldade de prestar atenção a deta- • Antecipar respostas antes das pergun- transtorno de conduta, depressão e ansie-
lhes ou errar por descuido em atividades tas serem finalizadas; dade (MATTOS, 2010).
escolares e de trabalho; • Dificuldade em esperar (ex. ordem da O tratamento do TDAH requer uma abor-
• Dificuldade para manter a atenção em fila; sua vez de falar); dagem multidisciplinar com intervenções
tarefas ou atividades lúdicas; • Fazer colocações em assuntos que psicoterápicas e farmacológicas. É relevante
• Parecer não escutar quando lhe diri- não lhes dizem respeito.
gem a palavra; (RODHE, 2010; AMERICAN PSYCHIATRIC a participação de toda a rede de apoio social,
• Não seguir instruções e não terminar ASSOCIATION, 2013). a qual envolve pais, familiares, profissionais
tarefas escolares, domésticas ou deveres de saúde e educação, bem como ambientes
profissionais; estruturados e rotinas em casa e na escola.
• Dificuldade em organizar tarefas e ati- O impacto desse transtorno na socieda- Nesse sentido, a psicoeducação é fundamen-
vidades;
• Evitar ou relutar em envolver-se em de é significativo, considerando os prejuízos tal para o tratamento tanto com as crianças/
tarefas que exijam esforço mental cons- nas dimensões pessoal, familiar, acadêmi- adolescentes como com suas famílias.
tante; co, profissional, bem como seus efeitos ne-
• Perder coisas necessárias para tarefas gativos na autoestima das crianças e
ou atividades; adolescentes. Destaca-se ain-
• Distrair facilmente por estímulos da a alta prevalência
alheios à tarefa;
• Apresentar esquecimentos em ativida- de comorbida-
des diárias.
Hiperatividade:
Prevenção ao Suicídio 13
de conduta tem as seguintes características: ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO
De acordo com APA (2013), o Transtorno
de Estresse Pós-traumático (TEPT) decorre
• Egoísmo;
• Dificuldades em relacionamentos in- de “eventos estressores traumáticos que en-
terpessoais; volvem a experiência pessoal direta, o tes-
• Pouca empatia, prática de bullying, de temunho ou o conhecimento de situações
ameaças e brigas frequentes; cujo conteúdo inclui morte, sério ferimento
• Tendência a interpretar equivocada- ou ameaça à integridade física da própria
mente o comportamento dos outros
como ameaçador e a reagir de maneira pessoa ou de outros” (apud SCHAEFER et
agressiva; al., 2016, p. 112).
• Crueldade com animais; Os eventos traumáticos mais comuns na
• Danificar propriedades (ex. por meio infância e na adolescência são: violência do-
de incêndios); méstica; assaltos; abusos sexual, emocional
• Tendência a mentir e furtar. e/ou físico; negligência; acidentes de carro;
queimaduras; desastres naturais e mortes.
O tratamento é desafiador, uma vez que Dentre os sintomas do TEPT, pode-se ci-
a criança ou adolescente com TC dificilmen- tar: revivência de experiências traumáticas,
te percebe que há algo de errado com seu irritabilidade, nervosismo e isolamento.
comportamento. O tratamento envolve uso Neste ponto, é importante diferenciar o
de medicações, psicoterapia com foco nas Transtorno de Estresse Agudo do Transtor-
emoções, autocontrole e autoestima, bem no de Estresse Pós-Traumático. Geralmente,
como psicoeducação voltada para a família. o Transtorno de Estresse Agudo tem início
É importante também propiciar um ambien- imediatamente depois do evento traumá-
te acolhedor, afetivo, com práticas parentais tico com duração de, no máximo, um mês,
positivas, que incentive atividades pró-so- enquanto o TEPT pode ser uma continua-
ciais (VILHENA; DE PAULA, 2017). ção do Transtorno de Estresse Agudo ou até
mesmo não se manifestar até seis meses
2.8. TRANSTORNOS DE depois do evento.
Você sabia?
Em crianças, a violência doméstica é
a causa mais comum de Transtorno
de Estresse Pós-traumático.
Prevenção ao Suicídio 15
AUTORES
Andrea Amaro Quesada Josianne Martins de Oliveira
PhD em Neurociências e Cognição pela Ruhr-Universität Bochum. Médica formada pela Universidade Federal de Goiás. Psiquiatra
Mestre em Psicologia e Psicóloga pela Universidade de Brasília Titular da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e
(UnB). Docente do Curso de Psicologia na Universidade de Residência Médica em Psiquiatria pela Pax Clínica – Instituto
Fortaleza (UNIFOR). Professora do curso de Especialização em de Neurociência. Residência Médica em Psiquiatria da Infância
Neurociências e Reabilitação (UNIFOR). Professora do curso e Adolescência pelo Hospital São Vicente de Paulo. Diretora
de pós-graduação em Neuropsicologia e Terapia Cognitiva Secretária Adjunta da Associação Psiquiátrica de Brasília no
Comportamental na Unichristus. Trabalhos apresentados em período de 2017 a 2019, quando atuou como Coordenadora
Congressos Nacionais e Internacionais (Alemanha, EUA, Japão, Regional da Campanha de Prevenção ao Suicídio do Setembro
Argentina). Artigos publicados nos periódicos internacionais Amarelo. Trabalhou no Instituto do Câncer Infantil e Pediatria
Psychoneuroendocrinology, Stress. Pesquisadora nas áreas Especializada (Hospital da Criança de Brasília José Alencar)
de estresse, maus-tratos, Síndrome Congênita do Zika vírus no período de 2016 a 2018, atuando como médica psiquiatra
e Fenilcetonúria (PKU). Autora do livro infanto-juvenil A Caixa assistente e preceptora voluntária na Residência Médica de
Mágica e a Busca do Tesouro Escondido. Psiquiatria da Infância e Adolescência do Centro de Orientação
Médico-Psicopedagógica. Trabalhou na Saúde BRB Caixa de
Carlos Henrique de Aragão Neto Assistência, atuando como médica psiquiatra assistente no
Psicólogo e Psicoterapeuta; Especialista em Tanatologia; período de 2014 a 2020 e como coordenadora da equipe médica
Formação em Estudos do Luto; Mestre em Antropologia (UFPI) e da psiquiatria no período de 2018 a 2019. Atualmente, é
com a dissertação “Os Aspectos Socioantropológicos da membro da Câmara Técnica de Psiquiatria do Conselho Regional
Tentativa de Suicídio”; Doutor em Psicologia Clínica e Cultura de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), Diretora-Tesoureira da
(UnB) com a tese “A Relação entre Autolesão sem Intenção Associação Psiquiátrica de Brasília e atua na rede privada como
Suicida e Ideação Suicida”; Membro da Associação Brasileira médica psiquiatra assistente e diretora técnica médica da Clínica
para Estudos e Prevenção do Suicídio (ABEPS). Membro da EKIP – Emil Kraepelin Instituto de Psiquiatria.
International Society for the Study of Self-Injury (ISSS). Membro
da International Association for Suicide Prevention (IASP).
MINISTÉRIO DA
MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS SAÚDE