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Nomes,
lugares, e outros incidentes são produtos da imaginação do autor ou são
usadas na ficção. Qualquer semelhança a eventos atuais, locais, ou pessoas,
vivo ou morto, é mera coincidência.Direitos Autorais © 2020 da Lucasfilm
Ltd. ® TM onde indicada. Todos os direitos reservados. Publicado nos
Estados Unidos pela Del Rey, uma impressão da Random House, um
divisão da Penguin Random House LLC, Nova York.DEL REY e a HOUSE
colophon são marcas registradas da Penguin Random House LLC. ISBN
9780593157688 / eBook ISBN 9780593157695 randomhousebooks.com
Introdução
Prólogo
Memórias I
Capítulo Um
Memórias II
Capítulo Dois
Memórias III
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Memórias IV
Capítulo Seis
Memórias V
Capítulo Sete
Memórias VI
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Memórias VII
Capítulo Dez
Memórias VIII
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Memórias IX
Capítulo Quinze
Memórias X
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Memórias XI
Capítulo Dezenove
Memórias XII
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Memórias XIII
Capítulo Vinte e Três
Sobre o Ebook
Sobre o Autor
THRAWN | Mitth’raw’nuruodo — adotado por mérito pela família Mitth
ZIARA | Irizi’ar’alani — linha sanguínea da família Irizi
THALIAS | Mitth’ali’astov — ex-sky-walker, adotada por mérito na família Mitth
THURFIAN | Mitth’urf’ianico — síndico na família Mitth
SAMAKRO | Ufsa’mak’ro — adotado por mérito na família Ufsa
GENERAL BA’KIF (obs: General nas “Memórias” e Supremo General no período
atual)
CHE’RI — sky-walker
QILORI OF UANDUALON — Navegador Rastreador (não-Chiss)
GENERAL YIV, o Benevolente — comandante Nikardun
Hierarquia Política
PATRIARCA — Chefe da família;
PORTA-VOZ — Síndico chefe da família;
SÍNDICO — Membro da Sindicura, principal órgão governamental;
PATRIEL — Trata de assuntos da família em escala planetária;
CONSELHEIRO — Trata de assuntos da família em nível local;
ARISTOCRATA — Membro de nível médio de uma das Nove Famílias Regentes;
O ataque ao mundo natal da Ascendência Chiss, Csilla, foi repentino,
inesperado e, apesar do seu escopo limitado, impressionantemente eficiente.
As três grandes naves de guerra saíram do hiperespaço em vetores
amplamente espaçados, avançando em direção ao planeta com lasers de
espectro em plena potência em direção às plataformas de defesa e às naves
de guerra em órbita da Força de Defesa dos Chiss. As plataformas e naves,
pegas de surpresa, levaram menos de um minuto para começar a devolver o
fogo. A essa altura, os atacantes haviam mudado de direção, direcionando-
se para o aglomerado de luzes espalhadas pela superfície gelada do planeta
que marcavam a capital de Csaplar. Os seus lasers continuaram a disparar e,
à medida que elas entravam no alcance, acrescentaram mísseis ao ataque.
Mas, no final, tudo foi por nada. As plataformas de defesa capturaram
facilmente os mísseis que chegavam, enquanto as naves de guerra miravam
nos atacantes, explodindo-os em escombros e garantindo que quaisquer
fragmentos que entrassem na atmosfera fossem pequenos demais para
sobreviver à jornada. Quinze minutos após a chegada da força de ataque, o
ataque acabou.
A ameaça havia terminado, o Supremo General Ba’kif pensou
severamente, enquanto descia o corredor central em direção à Cúpula, onde
os síndicos e outros Aristocratas se reuniam depois de voltarem dos abrigos.
Agora veio o verdadeiro som de fúria.
E haveria muito de ambos. O órgão supremo da Ascendência, a
Sindicura gostava de projetar uma imagem de ponderação, nobreza e
dignidade Inabalável. Na maioria das vezes, além das disputas políticas
inevitáveis, isso era próximo o suficiente da verdade.
Mas não hoje. A Sindicura estava com a sessão completa e os Porta-
vozes tiveram a sua própria reunião particular agendada para o final da
tarde, o que significava que quase toda a Aristocracia de nível superior da
Ascendência estava nos escritórios, corredores e salas de reuniões quando o
alarme soou. Os abrigos nas profundezas da Cúpula eram razoavelmente
espaçosos e marginalmente confortáveis, mas se passaram décadas desde o
último ataque direto à Csilla e Ba’kif duvidava que algum dos atuais
funcionários do governo estivesse estado lá alguma vez.
As duas horas de ociosidade forçada enquanto a Força de Defesa
esperava para ver se haveria um ataque subsequente não foram boas com
eles, e Ba’kif não tinha ilusões de que a tempestade que se aproximava seria
pensativa, nobre ou imperturbável.
Ele estava certo.
— O que eu quero saber, — falou o Porta-voz da família Ufsa depois que
Ba’kif terminou o seu relatório, — é quem são os alienígenas que ousaram
achar que poderiam se safar de um ataque contra nós. Um nome, General,
nós queremos um nome.
— Receio não poder lhe dar um, Porta-voz, — disse Ba’kif.
— Por que não? — o Porta-voz exigiu. — Você tem os destroços, não é?
Você tem registros de dados e perfis de corpos e armas. Certamente um
nome pode ser obtido com tudo isso.
— A Ascendência foi atacada, — interrompeu gravemente o Porta-voz
da família Mitth, como se os outros pudessem, de alguma forma, ter
esquecido esse fato. — Precisamos saber a quem punir por tanta arrogância.
— Sim, — disse o da Ufsa, lançando um breve olhar sobre a mesa.
Ba’kif suprimiu um suspiro. Em tempos passados, grandes ameaças à
Ascendência geralmente levavam as Famílias Regentes a uma unidade que
substituía as habituais manobras políticas. Ele tinha uma pequena esperança
de que o ataque de hoje pudesse desencadear tal resposta.
Claramente, isso não iria acontecer. No caso das Ufsa e Mitth, em
particular, essas famílias estavam no meio de uma campanha
particularmente complicada, com um campo de mineração recém-
inaugurado em Thearterra como prêmio, e a Ufsa estava claramente irritada
por ter alguns de seus holofotes roubados pelo atual chefe rival da sua
família.
— Mais do que isso, — ele acrescentou, com o seu olhar desafiando o
Mitth a interromper novamente, — nós precisamos de garantia de que a
Força de Defesa tem os recursos para defender os Chiss contra ações
posteriores desses inimigos não identificados.
O questis, leitor de link de dados, que estava sobre a mesa em frente a
Ba’kif, acendeu quando um novo relatório chegou. Ele o pegou, apoiando-o
em um ângulo na palma da mão esquerda enquanto deslizava o dedo pela
borda para rolar a tela.
— A Sindicura não precisa se preocupar com a segurança deles, — ele
disse. — Acabei de receber a notícia de que quatro naves de guerra
adicionais da Frota Expansionista foram enviadas de Naporar e estão se
movendo para apoiar as naves da Força de Defesa já em operação.
Ele estremeceu consigo mesmo. Homens e mulheres jovens, prontos para
dar as suas vidas para proteger o mundo natal deles. Nobre e honrado.. . e
um sacrifício, se isso fosse necessário, que ele e todos os demais na Cúpula
sabiam que seria um desperdício completo e absoluto.
Felizmente, não parecia que esse sacrifício seria necessário hoje.
— E se eles atacarem outros mundos dentro da Ascendência? — o da
Ufsa pressionou.
— Outras naves já foram enviadas para reforçar as forças de patrulha dos
sistemas vizinhos, caso eles sejam alvos de ataques subsequentes, —
respondeu Ba’kif.
— Alguém mais relatou ataques ou avistamentos de inimigos? —
perguntou o Porta-voz da Clarr.
— Ainda não, Porta-voz — respondeu Ba’kif. — Até onde sabemos, este
foi um incidente isolado.
A Porta-voz da família Obbic deu uma pequena risadinha teatral.
— Duvido seriamente disso, General, — ela disse. — Ninguém envia
naves de guerra contra a Ascendência por brincadeira e depois vai pra casa.
Alguém lá fora está conspirando contra nós. Alguém que precisamos
encontrar e ensinar uma lição séria.
—
Isso continuou nessa linha por mais uma hora, com cada uma das Nove
Famílias Regentes, e muitas das Grandes Famílias que tinham aspirações de
ingressar nesse grupo de elite, certificando-se de registrar a sua indignação
e determinação.
Era, na maior parte, uma perda de tempo de Ba’kif. Felizmente, uma
vasta experiência nas forças armadas o havia ensinado a ouvir políticos com
metade da sua mente, enquanto concentrava a outra metade em questões
mais urgentes.
Os Porta-vozes e os síndicos queriam saber quem havia atacado a
Ascendência. Eles estavam olhando na direção errada.
A questão mais interessante não era quem, mas por quê.
Porque a Porta-voz da Obbic estava certa. Ninguém atacou Csilla por
diversão. E isso complicava mais ainda pois foi um ataque que custou três
grandes naves de guerra sem fornecer nenhum ganho óbvio. Ou o atacante
julgou mal, ou alcançou um objetivo mais sutil.
Qual seria esse objetivo?
A maioria da Sindicura supunha claramente que o ataque fora um
prelúdio para uma campanha mais sustentada e, assim que terminassem a
sua gesticulação, indubitavelmente começariam a instigar a Força de Defesa
a enviar as suas naves mais para dentro, para proteger os principais
sistemas. Mais do que isso, eles provavelmente insistiriam que a Frota de
Defesa Expansionista também se retirasse das fronteiras.
Esse era o objetivo? Manter os Chiss olhando para dentro e não para
fora? Nesse caso, atendendo à demanda de segurança da Sindicura os
jogaria diretamente nos planos do inimigo. Por outro lado, se os síndicos
estivessem certos sobre isto ser o início de uma campanha completa, deixar
a Frota Expansionista no Caos poderia ser um movimento igualmente fatal.
De qualquer maneira, se eles pensassem errado, seria tarde demais para
corrigir o erro quando soubessem a verdade.
Mas, enquanto Ba’kif avaliava as possibilidades, ocorreu-lhe que havia
outra possibilidade. Talvez o ataque não tenha sido feito para atrair a
atenção da Ascendência para algo que estava prestes a acontecer, mas para
distraí-la de algo que já havia acontecido.
E essa possibilidade, pelo menos, ele poderia investigar agora.
Disfarçadamente, ele digitou uma ordem de busca no seu questis.
No meio da sessão da Cúpula, enquanto continuava fazendo os seus
afagos para a Aristocracia, teve a resposta.
Talvez.
Um dos assessores de Ba’kif estava esperando quando o general
finalmente voltou ao seu escritório.
— Você conseguiu localizá-lo? — Perguntou Ba’kif.
— Sim, senhor, — disse o assessor. — Ele está em Naporar, passando
por sua última rodada de fisioterapia, pelos ferimentos sofridos durante as
operações contra os piratas Vagaari.
Ba’kif fez uma careta. Operações que, embora bem-sucedidas no sentido
militar, haviam sido um desastre completo na frente política. Meses depois,
muitos dos Aristocratas ainda estavam meditando sobre toda essa bagunça.
— Quando ele estará livre?
— Sempre que você desejar, senhor, — disse o assessor. — Ele disse que
estaria à sua disposição sempre que você o quisesse.
— Bom, — disse Ba’kif, verificando as horas. Meia hora para colocar a
Rodamoinho em situação de voo, quatro horas para chegar a Naporar, outra
meia hora para chegar até o centro médico da Frota Expansionista Chiss. —
Informe a ele que eu o quero pronto em cinco horas.
— Sim senhor. — O assessor hesitou. — Você deseja que a ordem seja
registrada ou isso se qualifica como uma viagem particular?
— Registre-a, — respondeu Ba’kif. Os Aristocratas podem ficar
infelizes quando descobrirem isso, a Sindicura pode até montar um tribunal
para perder mais do seu tempo com perguntas inúteis, mas Ba’kif faria as
coisas estritamente pelas regras. — Ordem do Supremo General Ba’kif, —
continuou ele, ouvindo a sua voz cair no tom que sempre usava para ordens
e relatórios formais. — Preparem um transporte pra mim e para o Capitão
sênior Mitth’raw’nuruodo. Destino: Dioya. Objetivo: investigação de uma
nave abandonada encontrada dois dias atrás no sistema exterior.
— Sim, senhor, — disse o assessor rapidamente. A sua voz era
estudiosamente neutra, não revelando nada dos seus sentimentos pessoais
sobre o assunto. Afinal, nem todos os que pensavam mal do Capitão
Thrawn eram membros da Aristocracia.
No momento, Ba’kif não se importava com nenhum deles. Ele encontrou
a primeira metade do porquê.
Agora, havia apenas uma pessoa em quem ele confiava para encontrar a
outra metade.
De todas as obrigações impostas aos membros da família de escalão
médio, o Aristocrata Mitth’urf’ianico pensou amargamente enquanto
caminhava pelo principal corredor da escola, o recrutamento era um dos
piores. Era chato, envolvia muitas viagens e, na maioria das vezes, era uma
perda de tempo. Ali em Rentor, estava fisicamente perto de Csilla, mas
paradoxalmente era afastado da Ascendência Chiss, não tinha dúvidas de
qual seria o resultado da viagem.
Ainda assim, quando um general, mesmo um recém-nomeado, dizia
que tinha um recruta promissor, cabia à família pelo menos dar uma
olhada.
O general Ba'kif estava esperando na sacada com vista para a
assembleia quando o Aristocrata chegou. A expressão no rosto do general
era de ansiedade controlada; o rosto em si era jovem demais para ser
atribuído a um oficial graduado. Contudo, era para isso que serviam as
conexões familiares.
Os olhos de Ba'kif brilharam quando ele avistou o seu visitante.
— Aristocrata Mitth’urf’ianico? — ele perguntou.
— Eu sou ele. General Ba’kif?
— Eu sou ele.
E com essa formalidade encerrada, eles poderiam passar para um uso
bem menos complicado de títulos e nomes centrais.
— Então, onde está esse aluno que você achou que valia a pena
atravessar metade do planeta? — Thurfian perguntou.
— Lá embaixo, — respondeu Ba’kif, apontando para as linhas de alunos
que recitavam os votos matinais. — Terceira fila atrás à direita.
Então ele era um líder de linha? Impressionante, mas só um pouco.
— Nome?
— Kivu’raw’nuru.
Kivu. Não era uma família com a qual Thurfian estava familiarizado.
— E? — ele perguntou enquanto puxava o seu questis e digitava o nome
da família.
— E as suas notas, aptidão e matriz lógica estão acima das outras, —
respondeu Ba’kif. — O que o torna um candidato principal para a Academia
Taharim em Naporar.
— Humm, — disse Thurfian, olhando para o registro. Kivu era a família
mais obscura que a Ascendência Chiss já tinha gerado. Não admira que
ele nunca tenha ouvido falar deles. — E você nos contatou por quê?
— Porque a Mitth ainda tem duas vagas para indicar neste ano, —
respondeu Ba’kif. — Se você não trouxer Vurawn, ele não terá outra chance
até o próximo ano.
— Isso seria uma catástrofe?
O rosto de Ba’kif endureceu.
— Sim, acredito que sim, — ele respondeu, oferecendo o seu próprio
questis. — Aqui está o histórico escolar dele.
Thurfian franziu os lábios enquanto rolava a tela. Ele já tinha visto
melhor, mas não com muita frequência.
— Não vejo qualquer indicação de que a família dele o preparou para o
serviço militar.
— Não, eles não prepararam, — Ba’kif confirmou. — É uma família menor,
sem os recursos ou acesso que a Mitth tem para essas coisas.
— Se eles pensaram que ele era tão excepcional, deveriam ter
encontrado ou providenciado os recursos, — apontou Thurfian
asperamente. — Então você acha que a Mitth deveria tomar a frente e
apenas recebê-lo sem fazer perguntas?
— Faça todas as perguntas que quiser, — respondeu Ba’kif. — Eu organizei
para que ele fosse retirado da primeira aula para uma entrevista.
Thurfian sorriu tensamente.
— Os Aristocratas são assim tão previsíveis?
— Os Aristocratas? Não. — Ba’kif correspondeu ao sorriso de Thurfian. —
Mas as suas rivalidades são.
— Eu imagino que sim, — Thurfian concedeu, baixando os olhos
novamente para os registros de Vurawn. Se o garoto vivesse até a metade
do seu potencial, ele seria um acréscimo digno à família Mitth.
Antigamente, há milhares de anos, as famílias eram apenas isso: grupos
de pessoas unidas por sangue e casamento, e fechadas para todas as
outras. Mas as limitações inerentes de tal sistema levaram ao declínio e
estratificação, e alguns dos patriarcas começaram a experimentar métodos
para absorver forasteiros que não envolviam casamento. O resultado tinha
sido o sistema atual, em que os prováveis prospectos podiam ser
introduzidos como adotados por mérito, com aqueles que provaram ser
especialmente dignos ascendendo para Surgido-na-provação e
possivelmente até mesmo a posição distante.
Vurawn certamente se encaixa nos critérios para se tornar um adotado
por mérito. Mais importante, se a Mitth o pegasse, a Irizi não seria capaz
de pegá-lo. Uma das muitas rivalidades familiares em que Ba’kif sem
dúvida estava pensando quando falou em previsibilidade.
Mas mesmo isso estava fora de questão. A Sindicura tinha finalmente
concordado com os apelos de longa data da Força de Defesa para
expandir as suas capacidades e mandato, e a Frota de Defesa
Expansionista recém-formada foi o resultado. A sua missão era vigiar os
interesses dos Chiss nas partes do Caos que se estendiam além das
fronteiras da Ascendência, para descobrir quem estava lá e avaliar o seu
nível de ameaça.
E pela primeira vez, a Aristocracia tinha sido realmente generosa com o
seu financiamento militar. As novas naves, bases e instalações de apoio da
Frota Expansionista já estavam em construção e precisariam de todos os
oficiais e guerreiros competentes que pudessem obter.
Este Vurawn parecia alguém que se encaixaria em tal função. Um
homem que pode fazer um nome lá, tanto para si como para a sua família.
— Tudo bem, — disse ele. — Vamos falar com ele. Ver como ele resiste a
um interrogatório adequado.
—
— Acredito que o complexo não está muito longe, — disse Vurawn
enquanto o carro de Thurfian voava rapidamente pela paisagem de
Rentor. — Já estou perdendo todas as aulas de hoje. Os meus instrutores
ficariam descontentes se eu perdesse as de amanhã também.
— Você vai ficar bem, — disse Thurfian, ouvindo a paciência tensa em sua
voz. O rapaz realmente não entendeu a profundidade da honra que foi
concedida a ele?
Aparentemente não. Assistir às aulas era importante. A adoção por uma
das Nove Famílias Regentes, não era.
Rentor não era exatamente um centro político e cultural, e Thurfian
sabia que precisava fazer concessões a um certo grau de ignorância.
Mesmo assim, tal falta de consciência separou Vurawn até mesmo dos
plebeus pouco sofisticados ao seu redor.
Ainda assim, se a avaliação de Ba’kif estivesse correta, o rapaz estaria
seguindo para uma carreira militar. A política não era tão importante lá.
Se Vurawn fosse reassociado à Mitth, o que não seria garantido.
Thurfian tinha enviado o seu próprio relatório, mas ainda havia uma
entrevista a ser conduzida pelos Conselheiros que supervisionavam os
interesses da Mitth em Rentor, seguida possivelmente por uma breve
reunião com o próprio Patriel local se os Conselheiros estivessem
devidamente impressionados. Uma vez que tudo isso acabasse, os
resultados seriam encaminhados para o domicílio da família em Csilla para
revisão final, e somente então Vurawn saberia se ele foi ou não
selecionado para ser um adotado por mérito na Mitth. Todo o processo
normalmente levava de dois a três meses; Thurfian viu levar até seis...
O seu questis sinalizou. Tirando-o do bolso, ele digitou.
Era uma mensagem de texto. Uma mensagem de texto muito breve.
Vurawn foi aceito como adotado por mérito.
Thurfian ficou olhando. Aceitaram?
Impossível. As entrevistas, a avaliação do Patriel, a revisão do
domicílio...
Mas lá estava a mensagem, o encarando. O processo foi interrompido
por alguém, e nenhum dos procedimentos usuais iria importar.
Na verdade, nenhum deles era agora nem mesmo necessário.
Presumivelmente, o Patriel havia recebido a mesma mensagem, e a única
coisa que aconteceria quando eles chegassem ao complexo seria a breve
cerimônia separando Vurawn da família Kivu e reassociando o com a Mitth.
— Há algum problema? — Vurawn perguntou.
— Não, nada, — respondeu Thurfian, colocando o questis de volta no
bolso. Então, com base estritamente no próprio interrogatório de Thurfian,
mais talvez nos registros escolares e nas avaliações do rapaz, ele foi
aceito?
Isso não fazia sentido. Por mais impressionante que o garoto pudesse
ser, ainda tinha que ter algo mais. Claramente, alguém mais alto da família
estava vigiando a missão de Thurfian hoje. Esse mesmo alguém
aparentemente também estava seguindo a vida de Vurawn e já havia
decidido que pegá-lo era do melhor interesse da Mitth.
Então, se a decisão já havia sido tomada, por que Thurfian foi enviado
para fazer uma entrevista em primeiro lugar? Certamente a sua
recomendação não teve tanto peso com o domicílio.
Claro que não. Thurfian foi enviado ali para ajudar a cobrir o fato de que
Vurawn já havia sido selecionado para ser reassociado. Pura política,
porque com as Nove Famílias eram sempre sobre política.
Franziu a testa, com os seus pensamentos tardiamente o alcançando.
Não demonstrou reação de forma alguma quando recebeu a mensagem,
ele era um Aristocrata e uma criatura política há tempo suficiente para
saber como manter as emoções como surpresa longe de seu rosto e voz.
Ainda assim, de alguma forma Vurawn reconheceu que a mensagem tinha
sido perturbadora o suficiente para questionar sobre ela.
Olhou para o rapaz novamente. Esse tipo de habilidade de observação
não era comum. Talvez houvesse mais lá do que ele percebeu. Alguma
centelha que algum dia traria honra e glória para ele e a sua família.
Aparentemente, alguém no domicílio também pensava assim, e esse
alguém determinou que a família que receberia essa glória seria a Mitth.
Ainda havia a questão de saber se o rapaz seria enviado ou não para a
Academia Taharim. Mas com o benfeitor não identificado de Vurawn
puxando os cordões, Thurfian esperava que isso também fosse uma
conclusão precipitada.
Fez uma careta para a paisagem passando por baixo deles. Não gostava
de ser manipulado. Não gostava muito dos procedimentos adequados e
consagrados pelo tempo serem jogados pela janela por capricho de
alguém.
Mas era um Aristocrata da Mitth, e não era o seu trabalho aprovar ou
desaprovar as decisões da sua família. O seu trabalho era apenas cumprir
as tarefas que lhe foram confiadas.
Talvez algum dia isso mudasse.
— Não, sem problemas, — ele respondeu. — Acabei de receber a notícia
de que você foi aceito.
Vurawn voltou os olhos arregalados para ele. — Já?
— Sim, — Thurfian confirmou, secretamente gostando da confusão do
outro. Então poderia ficar surpreso. E pelo menos ele conhecia política o
suficiente para reconhecer a natureza incomum da situação. —
Presumivelmente, passaremos pela cerimônia quando chegarmos ao
complexo.
— Como um adotado por mérito, eu presumo?
Então o garoto também sabia algo sobre as Famílias Regentes.
— É aí que todo mundo começa, — respondeu Thurfian. — Se e quando
você passar pela Provação, você passará para o Surgido-na-provação.
— E então a posição distante, — Vurawn disse pensativamente.
Thurfian soltou um suspiro silencioso. Isso, pelo menos, nunca
aconteceria. Não para alguém de uma família tão insignificante.
— Possivelmente. Por enquanto, apenas comece a se acostumar com o
nome Mitth’raw’nuru.
— Sim, — o rapaz murmurou.
Thurfian o estudou de canto do olho. O rapaz poderia trazer glória para
a Mitth, como Ba'kif pensava. Ele poderia facilmente trazer vergonha e
arrependimento. Era assim que o universo funcionava.
Mas de qualquer forma, estava feito.
Vurawn não existia mais. Em seu lugar agora estava Thrawn.
H aviam momentos, Ba’kif pensou distantemente, quando era bom para
um homem olhar pra fora da relativa estabilidade da Ascendência Chiss
dentro do Caos. Era uma chance de apreciar tudo o que a Ascendência foi, e
tudo o que ela significava: ordem e firmeza, segurança e poder, luz e cultura
e glória. Era uma ilha de calma em meio às linhas sinuosas do hiperespaço e
aos caminhos em constante mudança que retardavam as viagens e
atrapalhavam o comércio de todos os que viviam lá.
O Caos nem sempre era assim, ou assim diziam as lendas. Outrora, no
alvorecer da viagem espacial, não tinha sido mais difícil mover-se entre
qualquer uma das estrelas do que agora era viajar dentro da Ascendência.
Mas então, milênios atrás, uma série de explosões de supernovas em cadeia
em toda a região enviou enormes massas caindo em alta velocidade entre as
estrelas, algumas delas demolindo asteroides ou mundos inteiros, outras
gerando mais supernovas com os seus impactos próximos à velocidade da
luz. O movimento de todas essas massas, juntamente com regiões de forte
fluxo eletromagnético, resultou nas hipervias em constante mudança o que
tornava qualquer viagem mais longa do que difícil e perigosa em alguns
sistemas estelares.
Mas essa instabilidade era uma faca de dois gumes. As limitações que
restringiam as viagens e, portanto, ajudavam a proteger os Chiss de invasão,
também retardavam o reconhecimento e a coleta de informações. Haviam
perigos lá fora, na escuridão, mundos ocultos e tiranos que buscavam
conquista e destruição.
Aparentemente, um destes tiranos agora tinha voltado os seus olhos para
a Ascendência.
— Você tem certeza de que este é o caminho? — ele perguntou à jovem
no leme da sua nave.
— Sim, general, tenho, — ela disse. Um lampejo de dor controlada
cruzou o seu rosto. — Fiz parte da equipe que a encontrou.
Ba’kif assentiu.
— Claro. — Houve outro breve silêncio, outro momento de
contemplação das estrelas distantes...
— Lá, — disse a mulher de repente. — Dez graus para estibordo.
— Estou vendo, — disse Ba’kif. — Leve-nos paralelamente a ela.
— Sim senhor.
A nave deles avançou, diminuindo a distância de forma constante. Ba’kif
olhou para fora da janela, com o estômago apertado. Uma coisa era ver
holos e gravações de uma nave de refugiados destruída. Era algo totalmente
diferente olhar pessoalmente para a dura realidade da carnificina.
Ao lado dele, o Capitão Sênior Thrawn se agitou.
— Isto não foram piratas, — ele disse.
— Seu raciocínio? — Perguntou Ba’kif.
— O padrão de dano é projetado para destruir, não imobilizar.
— Talvez a maior parte da destruição tenha sido infligida depois que eles
a saquearam.
— Improvável, — disse Thrawn. — O ângulo da maioria dos disparos
indica um ataque pela retaguarda.
Ba’kif assentiu. Essa foi a mesma análise e lógica que ele seguiu, e isso
o levou à mesma conclusão.
Essa lógica mais uma crucial, um fato terrível.
— Vamos tirar a questão óbvia do caminho, — ele disse. — Esta nave
tem alguma relação com as que atacaram Csilla há dois dias?
— Não, — respondeu Thrawn prontamente. — Não consigo ver
nenhuma conexão artística ou arquitetural entre elas.
Ba’kif assentiu com a cabeça novamente. Essa também foi a sua
conclusão.
— Portanto, é possível que os dois incidentes não estejam relacionados.
— Nesse caso, seria uma coincidência interessante, — disse Thrawn. —
Considero mais provável que o ataque a Csilla tenha sido uma distração
para chamar a nossa atenção para dentro e para longe deste evento.
— De fato, — Ba’kif concordou. — E dado o custo da distração, sugere
ainda que alguém realmente não quer que demos uma boa olhada nesta
nave.
— De fato, — disse Thrawn, pensativo. — Eu me pergunto por que
deixaram os destroços em vez de destruí-los completamente.
— Eu posso lhe dizer isso, senhor — interveio a piloto. — Eu estava na
nave patrulha que avistou o ataque. Estávamos muito longe para intervir ou
obter quaisquer dados reais do sensor, mas o invasor aparentemente
percebeu a nossa aproximação e decidiu não arriscar um confronto. Quando
chegamos e começamos a nossa investigação, ele já havia escapado de volta
para o hiperespaço.
— Portanto, já sabíamos sobre o ataque, — acrescentou Ba’kif. — A
distração foi, então, provavelmente uma tentativa de tirá-lo da nossa
atenção.
— Pelo menos até que mais tempo tivesse passado, — disse Thrawn. —
Quanto tempo, senhor, você estima?
Ba’kif balançou a cabeça.
— Impossível dizer com certeza. Mas, dada a indignação da Sindicura
com o ataque de Csilla, acho que vão manter a pressão sobre a frota para
encontrar os culpados por pelo menos os próximos três ou quatro meses.
Supondo, é claro, que não os identifiquemos antes disso.
— Não vamos, — disse Thrawn. — Pelas gravações que vi do ataque, as
naves pareciam velhas, até mesmo um pouco obsoletas. Quem quer que
tenha sido o seu mestre, escolheu naves que provavelmente terão pouca
semelhança com as que está usando agora.
Ba’kif sorriu severamente.
— Mas então, um pouco de semelhança pode ser tudo de que
precisamos.
— Possivelmente. — Thrawn gesticulou em direção à nave naufragada.
— Presumo que iremos a bordo?
Ba’kif olhou para a piloto. As bochechas dela estavam tensas, a pele ao
redor dos olhos comprimida. Ela já havia estado a bordo uma vez e
claramente não tinha vontade de voltar.
— Sim — ele respondeu. — Apenas nós dois. A tripulação da nave deve
permanecer aqui de guarda.
— Entendido, — disse Thrawn. — Com a sua permissão, eu vou
preparar os trajes de abordagem.
— Continue, — disse Ba’kif. — Vou me juntar a você em um momento.
Ele esperou até que Thrawn saísse.
— Presumo que você tenha deixado tudo como encontrou? — ele
perguntou à piloto.
— Sim, senhor, — ela respondeu. — Mas…
— Mas? — Ba’kif perguntou.
— Não entendo por que você queria deixá-la intacta em vez de trazê-la
para uma investigação mais completa, — ela respondeu. — Não consigo
ver como alguma coisa lá vai te trazer algum benefício.
— Você pode se surpreender, — disse Ba’kif. — Podemos ambos ser
supreendidos.
Ele olhou na direção da escotilha para onde Thrawn tinha ido.
— Na verdade, estou contando com isso.
Ba’kif tinha visto os holos que a patrulha enviara para a Sindicura em Csilla
e o quartel-general da Frota de Defesa Expansionista em Naporar.
Como a própria nave, a realidade era muito pior.
Consoles destruídos. Bancos e módulos de armazenamento de dados
fritos. Conjuntos de sensores e pods de análise destruídos.
E corpos. Muitos corpos.
Ou melhor, os restos dos corpos.
— Isto não era um cargueiro. — A voz de Thrawn veio suavemente
através do alto-falante do capacete de Ba’kif. — Era uma nave de
refugiados.
Ba’kif assentiu silenciosamente. Adultos, jovens, crianças, toda a gama
de experiências de vida havia sido representada.
Todos eles massacrados com a mesma eficiência brutal.
— O que a análise da frota nos deu? — Perguntou Thrawn.
— Muito pouco, — admitiu Ba’kif. — Como já observou, o projeto da
nave não é aquele que vimos antes. O código nucleico das vítimas não está
em nossas listas de dados. O tamanho da nave sugere que não viajou de
muito longe, mas há muitos sistemas planetários e pequenos aglomerados
nas nações do Caos que nunca visitamos.
— E as suas características físicas... — Thrawn acenou com a mão.
— Não é fácil de ler, — disse Ba'kif severamente, com calafrios apesar
de tudo. Tiros explosivos deixaram muito pouco para a melhor equipe de
reconstrução trabalhar. — Eu esperava que pudesse haver algo que você
pudesse colher do que deixaram para trás.
— Existem algumas coisas, — disse Thrawn. — O projeto básico da
nave tem certas características que provavelmente se traduzem em outros
aspectos da sua cultura. As suas roupas também são distintas.
— De que maneira? — Perguntou Ba’kif. — Material? Projeto?
Padronização?
— Tudo isso e muito mais, — respondeu Thrawn. — Há um certo ar
sobre essas coisas, um sentimento geral que se forma na minha mente.
— Nada que você possa codificar para nós?
Thrawn se virou para ele e, por meio do visor, Ba’kif viu o sorriso
irônico do outro.
— Realmente, General, — ele respondeu. — Se eu pudesse escrever
tudo isso, certamente o faria.
— Eu sei, — disse Ba’kif. — Seria muito mais fácil para todos nós se
você pudesse.
— Concordo, — disse Thrawn. — Mas tenha certeza de que serei capaz
de reconhecer esses seres quando os vir novamente. Presumo que o seu
plano seja procurar o ponto de origem da nave?
— Em circunstâncias normais, eu definitivamente faria isso, —
respondeu Ba’kif. — Mas com a Sindicura em seu estado atual de alvoroço
e indignação, pode ser difícil separar uma força-tarefa da defesa da
Ascendência.
— Estou preparado para ir sozinho, se necessário.
Ba’kif assentiu. Esperava que Thrawn fosse voluntário, é claro. Se havia
uma coisa de que o homem gostava, era perseguir enigmas e resolver
quebra-cabeças. Adicione a sua habilidade única de ver conexões que
outros não conseguiam, e o fato de que uma grande porcentagem da
Aristocracia ficaria feliz em tê-lo fora de vista por um tempo, e ele era a
pessoa perfeita para o trabalho.
Infelizmente, não era tão fácil.
— Vou precisar de algo razoavelmente bem equipado para uma missão
desse tipo, — continuou Thrawn, olhando para os destroços. — a Falcão de
Primavera se sairia muito bem.
— Achei que esta seria a próxima questão, — disse Ba’kif amargamente.
— Você sabe que foi tirada de você por um motivo, certo?
— Claro, — respondeu Thrawn. — O Supremo Almirante Ja'fosk e o
Conselho ficaram descontentes com as minhas ações contra os piratas
Vagaari. Mas certamente essa raiva já se dissipou.
— Talvez, — disse Ba’kif evasivamente. — Porém... bem. Digamos só
que a sua reputação entre os outros membros do Conselho continua a ser
tênue. — Certamente, o aborrecimento do Conselho de Hierarquia de
Defesa com as ações de Thrawn foi a razão oficial para ele ser removido
como comandante da Falcão de Primavera. Não só a sua ação não
autorizada contra os piratas, mas também a subsequente morte do Sindico
Mitth’ras’safis e a perda de valiosa tecnologia alienígena.
Mas, nos bastidores, havia outros fatores em jogo. A campanha de
sucesso de Thrawn, quer os Aristocratas a aprovassem ou não, elevou o
nome e o prestígio da Falcão de Primavera, e a família Ufsa decidiu que
queria que a nave fosse comandada por um dos seus. Uma petição
silenciosa ao Conselho, provavelmente uma troca ainda mais silenciosa de
favores ou dívidas futuras, e Thrawn estava fora.
Tudo estritamente contra o protocolo, é claro. A Aristocracia não deveria
ter qualquer influência sobre as atribuições militares. Mas isso não significa
que nunca aconteceu.
A questão é que, como de costume, Thrawn vira apenas a situação
superficial e não percebeu as sutilezas políticas.
Ainda assim, esta pode ser uma boa oportunidade para lembrar aos
líderes civis da Ascendência que o Conselho, não a Sindicura, estava
encarregado dos militares. Os síndicos haviam levado embora a Falcão de
Primavera; era hora do Conselho retomá-la.
— Deixe-me ver o que posso fazer, — ele disse. — a Falcão de
Primavera está programada para se juntar ao ataque punitivo da Almirante
Ar’alani aos Paataasus em alguns dias, mas devemos ser capazes de colocá-
lo de volta no comando depois disso.
— Você realmente acha que os Paataasus são responsáveis pelo ataque
de Csilla?
— Não, eu não acho, — Ba’kif admitiu. — Nem a maioria do Conselho.
Mas um dos síndicos apresentou essa teoria, e o resto está se animando com
ela. Independentemente disso, os Paataasus estão cutucando os limites da
Ascendência novamente, então um rápido tapa punitivo era adequado de
qualquer maneira.
— Suponho que isso seja razoável, — disse Thrawn. — Em vez de
esperar até depois da operação, porém, eu gostaria de entrar na nave antes
do ataque. Não necessariamente como comandante, mas para observar e
avaliar os oficiais e guerreiros.
— Isso pode ser possível, — disse Ba’kif. — Por outro lado, porque não
como comandante? Vou passar isto para a Ar’alani e ver se ela aprova.
— Tenho certeza que sim, — disse Thrawn. — Presumo que também
será designada uma sky-walker para a minha investigação?
— Provavelmente, — disse Ba’kif. O corpo de sky-walker estava
limitado atualmente, mas sem saber até onde a investigação de Thrawn o
levaria, seria ineficiente fazê-lo viajar na velocidade de salto em salto seria
muito mais lenta. — Vou ver quem está disponível quando voltarmos para
Naporar.
— Obrigado. — Thrawn gesticulou em direção à popa. — Presumo que
os atacantes aqui deixaram pouco a encontrar no compartimento do motor
ou nas salas de abastecimento?
— Pouco ou nada, — disse Ba’kif sombriamente. — Principalmente
apenas mais alguns corpos explodidos.
— De qualquer forma, gostaria de ver essas áreas.
— É claro, — disse Ba’kif. — Por aqui.
—
Passaram-se duas décadas desde que Thalias tinha tido que ler um quadro
de horários militar, muito menos seguir um. Felizmente, assim que o
choque inicial passou, velhos hábitos e reflexos assumiram o controle e ela
conseguiu chegar à nave espacial Falcão de Primavera com tempo de
sobra.
A jovem garota estava esperando na sala de estar de sky-walker quando
chegou, esparramada em uma cadeira enorme e jogando um jogo de toque e
clique em seu questis. Ela parecia ter nove ou dez anos, mas as sky-walkers
tendiam a ser baixas, então isso era só um palpite. Ela ergueu os olhos
quando Thalias entrou pela escotilha, deu à mulher uma avaliação de
aparência bastante suspeita e então voltou a sua atenção para o jogo. Thalias
começou a se apresentar, mas lembrou-se de como costumava ficar sensível
sempre que uma nova cuidadora vinha para falar e, em vez disso, levou a
sua bagagem para a sua parte da suíte.
Ela demorou para se acomodar. No momento em que mais uma vez
entrou na sala de estar, a garota havia colocado o seu questis na cadeira ao
lado dela e estava olhando melancolicamente para a linha de mostradores
repetidores fixados na antepara abaixo da lanchonete.
— Já saímos? — Thalias perguntou.
A garota assentiu com a cabeça.
— Há pouco tempo atrás, — ela disse. Ela hesitou, então furtivamente
olhou para Thalias. — Você é a minha nova momish?
— Eu sou a sua nova cuidadora, — disse Thalias, franzindo a testa
ligeiramente. Momish? Era um novo termo oficial para a posição dela, ou
era algo que essa garota tinha inventado sozinha? — Eu cuidarei de você
enquanto estivermos a bordo da Falcão de Primavera, — ela continuou
enquanto caminhava até uma das outras cadeiras e se sentava. — O meu
nome é Thalias. Qual é o seu?
— Você já não deveria saber?
— Esta foi uma espécie de designação de última hora, — admitiu
Thalias. — Passei todo o meu tempo certificando-me de chegar ao
espaçoporto antes da nave partir.
— Oh, — a garota disse, parecendo um pouco confusa. Ela
provavelmente estava acostumada com cuidadoras com mais disciplina. E
competência. — Eu sou Che'ri.
— Prazer em conhecê-la, Che’ri, — disse Thalias, sorrindo. — Que jogo
você estava jogando?
— O que? Oh. — Che'ri tocou em seu questis. — Eu não estava jogando
nada. Eu estava desenhando.
— Sério, — Thalias disse, estremecendo um pouco. Che'ri gostava de
desenhar, e Thalias mal distinguia uma ponta da stylus da outra. Nenhum
terreno comum ali. — Não sabia que o toque-clique poderia ser adaptado à
trabalho de arte.
— Não é arte de verdade, — disse Che'ri, parecendo envergonhada. —
Eu só pego as peças já no questis e as coloco juntas.
— Parece interessante, — disse Thalias. — Como uma colagem. Posso
ver?
— Não, — respondeu Che'ri, recuando um pouco enquanto agarrava o
questis e o pressionava contra o peito. — Eu não deixo ninguém olhar pra
isso.
— Certo, tudo bem, — Thalias apressou-se em assegurá-la. — Mas se
você mudar de ideia, eu adoraria ver o que você faz.
— Você gosta de desenhar? — Perguntou Che'ri.
— Não sou muito boa nesse tipo de coisa, — respondeu Thalias. — Mas
eu gosto de ver arte.
— Você não acha que desenhar é bobo?
— Não, claro que não, — Thalias assegurou a ela. — Ter esse tipo de
talento é uma coisa boa.
— Eu realmente não desenho, — explicou Che'ri. — Eu já te disse que
eu só junto as coisas.
— Bem, ainda é um talento, — observou Thalias obstinadamente. — E
talentos nunca são bobos.
Che'ri baixou os olhos.
— Minha última momish disse que era.
— Sua última momish estava errada, — disse Thalias.
Che'ri bufou um pouco.
— Ela sempre achava que estava certa.
— Confie em mim, — disse Thalias. — Eu já vi momishes ir e vir, e
posso dizer a você imediatamente quando uma estava errada.
— Certo. — Che'ri olhou para ela. — Você não é como as outras.
— As outras momishes? — Thalias tentou um pequeno sorriso. —
Provavelmente não. Quantos delas você já teve?
Che'ri baixou o olhar novamente.
— Oito, — ela respondeu, com a sua voz quase inaudível.
Thalias estremeceu com a dor na voz da garota.
— Uau, — ela disse suavemente. — Deve ter sido difícil.
Che'ri bufou novamente.
— Como você saberia?
— Porque eu tive quatro, — respondeu Thalias.
Che'ri olhou para cima, com os olhos arregalados.
— Você é uma sky-walker?
— Eu fui, — respondeu Thalias. — E eu me lembro de como doía cada
vez que levavam uma cuidadora e me davam uma nova.
Che'ri olhou pra baixo novamente e encolheu os ombros.
— Eu nem sei o que fiz de errado.
— Provavelmente nada, — esclareceu Thalias. — Eu também me
preocupava muito com isso e nunca conseguia pensar em nada. Exceto que
às vezes ela e eu não nos dávamos muito bem, então essa pode ter sido uma
das razões.
— Elas não entendem. — A garganta de Che'ri funcionou. — Nenhuma
delas entende.
— Porque nenhuma delas jamais foi uma sky-walker, — explicou
Thalias. Embora nem sempre tenha sido o caso, se aquele oficial de pessoal
estivesse certo. Rapidamente, ela se perguntou por que essa política foi
alterada. — Depois que saímos do programa, a maioria de nós não volta.
— Então, como é que você voltou?
Thalias encolheu os ombros. Este não era o momento de dizer à garota
que ela estava aqui para se reconectar com alguém que ela só encontrou
uma vez.
— Lembro-me de como foi difícil ser uma sky-walker. Achei que
alguém que também fosse uma poderia ser uma cuidadora melhor.
— Até você ir embora, — Che'ri murmurou. — Todas elas vão.
— Mas não necessariamente porque elas querem, — explicou Thalias.
— Existem vários motivos para a transferência de cuidadoras. Às vezes, a
sky-walker e a cuidadora simplesmente não se dão bem, como você e a seu
última, e eu e aquela que acabei de mencionar. Mas às vezes há outros
motivos. Às vezes, eles precisam de uma cuidadora especial para cuidar de
uma nova sky-walker. Às vezes, há disputas familiares, quero dizer, entre as
várias famílias, que atrapalham. — Ela sentiu os seus lábios franzirem. — E
às vezes é porque existem idiotas míopes no comando do processo.
— Você quer dizer míope, como se eles não enxergassem muito bem?
— Quero dizer, míope, como se tivessem o cérebro de um sapo-pulo, —
esclareceu Thalias. — Tenho certeza de que você conheceu pessoas assim.
Che'ri deu a ela um sorriso incerto.
— Não devo falar assim sobre as pessoas.
— Você está certa, provavelmente você não deveria, — disse Thalias. —
Nem eu deveria. Isso não muda o fato de que eles têm cérebros de sapos-
pulos.
— Eu acho. — Che'ri semicerrou os olhos para ela. — Por quanto tempo
você foi uma sky-walker?
— Eu tinha sete anos quando naveguei na minha primeira nave. Eu tinha
treze anos quando naveguei pela última vez.
— Eles me disseram que eu seria uma sky-walker até os quatorze anos.
— Essa é a idade normal, — explicou Thalias. — A minha Terceira
Visão aparentemente decidiu parar mais cedo. Você tem... o que? — Ela fez
uma demonstração de olhos semicerrados para o rosto de Che'ri. — Cerca
de oito?
— Nove e meio. — A garota considerou. — Nove e três quartos.
— Ah, — Thalias disse. — Então você tem muita experiência. Isso é
bom.
— Acho que sim, — disse Che'ri. — Vamos para uma batalha?
Thalias hesitou. Havia coisas que os adultos não deveriam dizer às sky-
walkers, coisas que o Conselho, em sua estranha sabedoria, decidiu que
poderiam perturbá-las.
— Não sei, mas não é nada para se preocupar, — ela respondeu. —
Especialmente a bordo da Falcão de Primavera. O Capitão Sênior Thrawn
é o nosso capitão, e ele é um dos melhores guerreiros da Ascendência.
— Porque não me disseram por que estou aqui, — insistiu Che’ri. —
Não há ninguém muito longe para lutar, não é? Eles dizem que nós não
saímos da Ascendência para lutar contra ninguém. E se as pessoas que estão
lutando estão perto, a nave não precisa de uma sky-walker.
— Boas colocações, — Thalias observou, uma sensação desagradável
agitando o seu estômago. Mesmo que a força-tarefa estivesse indo para
alguma ação punitiva, viajar salto em salto os levaria a uma distância
razoável sem ter que correr o risco de levar uma sky-walker para o
combate. Então, por que ela e Che'ri estavam a bordo? — Bem, o que quer
que estejamos fazendo, o Capitão Sênior Thrawn vai garantir o nosso
caminho.
— Como você sabe?
— Eu li muito sobre ele. — Thalias puxou o seu questis. — Você lê?
Você gostaria de ler sobre a carreira dele?
— Tudo bem, — respondeu Che'ri, franzindo um pouco o nariz. —
Prefiro desenhar.
— Desenhar também é bom, — concordou Thalias, enviando os
arquivos de Thrawn para o questis de Che'ri. — Isto ficará aqui apenas se
você quiser ler um pouco, mais tarde.
— Tudo bem, — disse Che'ri incerta enquanto olhava para o seu questis.
— Há muita coisa lá.
— Sim, há, — admitiu Thalias, sentindo uma pontada de
constrangimento. Ela adorava ler quando era uma sky-walker.
Naturalmente, ela presumiu que com Che'ri seria o mesmo. — É o seguinte.
Vou revisar isso mais tarde e fazer uma versão mais curta para você.
Algumas das histórias mais emocionantes das coisas que ele fez.
— Tudo bem, — disse Che'ri, parecendo um pouco menos sem
entusiasmo.
— Bom. — Por um momento, Thalias tentou pensar em outra coisa para
dizer. Mas ela podia ver ainda a parede entre elas e se lembrou de como às
vezes ficava mal-humorada quando tinha a idade de Che'ri. Melhor não
forçar. — Eu tenho que me apresentar ao primeiro oficial, — ela disse, se
levantando. — Vou deixar você voltar ao seu desenho.
— Tudo bem, — disse Che'ri. — Devo preparar o meu próprio almoço?
— Não, não, eu vou fazer isso para você, — Thalias garantiu a ela. —
Você está com fome?
Che'ri encolheu os ombros.
— Eu posso esperar.
O que não foi exatamente uma resposta.
— Você quer que eu faça algo para você agora?
— Eu posso esperar, — Che’ri repetiu.
Thalias cerrou os dentes.
— Está bem então. Eu vou me apresentar e depois volto. Enquanto estou
fora, você pensa no que gostaria de comer.
Outro encolher de ombros. — Eu não me importo.
— Bem, pense sobre isso de qualquer maneira, — Thalias disse. — Eu
volto logo.
Ela saiu, carrancuda para si mesma enquanto caminhava pelo corredor.
Talvez aceitar esse emprego tenha sido um erro.
Ainda assim, ela e Che'ri mal se conheceram. Não era surpreendente que
a menina estivesse se segurando, especialmente considerando que ainda
estava sofrendo com o que considerou uma deserção de suas cuidadoras
anteriores.
Então Thalias daria à garota tempo, e espaço, e provavelmente mais
tempo. Eventualmente, esperançosamente, ela mudaria.
E se ela ainda não soubesse o que queria para o almoço quando Thalias
voltasse, seriam sanduíches de pasta de nozes. Mesmo que Che'ri não lesse,
com certeza ela pelo menos gostava de sanduíches de pasta de nozes.
—
Thrawn era mais alto do que Samakro esperava e se portava com graça e
certo ar de confiança. Ele também era cortês com os oficiais e guerreiros e
sabia lidar com a Falcão de Primavera. Além disso, ele realmente não era
grande coisa.
Mas agora, ele também estava atrasado.
— Aproximando-se do sistema de destino, — relatou Kharill. — Saída
em trinta segundos.
— Entendido, — disse Samakro, olhando ao redor da ponte. Todos os
sistemas de armas estavam verdes, incluindo o computador de mira com
esfera de plasma o qual estava causando problemas nos últimos dias. Todas
as portas da eclusa de ar foram seladas contra possível violação, a barreira
eletrostática que envolvia o casco da Falcão de Primavera estava
energizada e todos os guerreiros estavam em seus postos.
Impressionante, mas não é necessário. Pelo que Samakro sabia, toda essa
missão era apenas um pequeno passo acima de um exercício de jogo de
guerra. A Vigilante era uma nave de guerra Nightdragon de classe máxima,
fortemente armada, e a força atual da Almirante Ar'alani também incluía
cinco outros cruzadores além da Falcão de Primavera. Com tanto poder de
fogo, aparecendo sem aviso sobre o mundo natal dos Paataatus,
provavelmente não apresentariam qualquer resistência efetiva.
Nada disso significava que a Falcão de Primavera e a sua tripulação
deviam ser nada menos do que totalmente profissionais ali, é claro. E esse
profissionalismo incluía o seu capitão. Se Thrawn não estivesse ali quando
deixassem o hiperespaço, Samakro simplesmente teria que assumir...
— Prepare-se, — a voz calma de Thrawn veio de trás dele.
Samakro se virou, lutando contra uma contração reflexa. Como raios
Thrawn entrou furtivamente na ponte sem ele ouvir a escotilha se abrir?
— Capitão, — ele cumprimentou o seu superior. — Estava começando a
achar que você tinha perdido o alerta.
— Faz uma hora que estou aqui, — esclareceu Thrawn, parecendo um
pouco surpreso por Samakro não ter notado. — Eu estava supervisionando
o trabalho no computador de mira de esfera.
Samakro olhou para o console da esfera de plasma quando dois técnicos
surgiram atrás dele.
— Ah. Eu vejo que mostra verde agora.
— De fato, — disse Thrawn. — A qualidade das equipes de reparo e
manutenção da Falcão de Primavera melhorou consideravelmente desde
que você foi colocado no comando.
Samakro sentiu os seus olhos se estreitarem. Um elogio? Ou um
lembrete sutil de que Thrawn era o capitão da nave agora?
— Alguma instrução de última hora da Vigilante? — Thrawn perguntou.
— Nada desde o último salto, — disse Samakro. Provavelmente um
elogio, ele decidiu. Thrawn não parecia ser do tipo exultante. — Apenas o
aviso usual de Ar’alani para estar pronto para qualquer coisa.
— Acredito que nós estamos, — disse Thrawn. — Saindo... Agora.
Através da janela, Samakro viu as chamas das estrelas brilharem e
encolherem, trazendo a Falcão de Primavera para fora do hiperespaço.
Em uma tempestade de fogo laser.
— Caças inimigos! — Kharill esbravejou. — Rodando… ao nosso redor,
capitão. Nos enxameando. Enxameando a todos.
Samakro soltou uma pequena maldição. Kharill estava certo. Havia pelo
menos cinquenta naves de combate Paataatus lá fora, zumbindo em torno da
força de ataque Chiss como weltflies furiosas, com os seus lasers criando
flashes de um verde pálido enquanto cortavam a poeira interplanetária
rarefeita.
E como acontece com as weltflies, embora cada picada individual fosse
muito fraca para danificar a barreira eletrostática da Falcão de Primavera,
uma barragem suficientemente grande de tal fogo poderia concebivelmente
derrubar as defesas e começar a comer o casco.
— Entendido, — disse Thrawn calmamente. — Esfera Um: Atire no
atacante mais próximo no meu vetor.
— Esfera Um disparando. — A esfera de plasma se afastou do lançador
de bombordo da Falcão de Primavera.
E errou completamente o alvo.
— Controle de esfera! — Samakro disparou. — Reajustar e atirar
novamente.
— Ignore isso, — disse Thrawn. — Leme: Rotacione noventa graus para
bombordo e coloque a Esfera Dois para carregar. Dispare quando pronto.
— Não, espere! — Samakro interrompeu.
Muito tarde. A Falcão de Primavera já estava girando, direcionando-se
para as naves inimigas daquele lado.
Afastando-se da Vigilante.
E antes mesmo que o lançador de esfera de plasma estivesse em posição
de atirar, os caças inimigos estavam se reposicionando para aproveitar o
erro de Thrawn, avançando para cercar a Falcão de Primavera enquanto ele
se afastava das outras naves Chiss.
— Falcão de Primavera, volte para a formação, — a voz de Ar’alani
retumbou no alto-falante da ponte. — Thrawn?
— Não responda, — disse Thrawn. — Dispare Esfera Dois.
Desta vez, a esfera de plasma voou bem, atirando em seu caça alvo e
liberando um flash multicolorido de energia iônica através do casco do
inimigo enquanto derrubava a barreira eletrostática do caça e embaralhava
todos os eletrônicos ao seu alcance.
— Recarregue e prepare-se para atirar, — disse Thrawn.
— Não deveríamos voltar para a força principal? — Samakro
pressionou. — A Almirante Ar’alani...
— Mantenha o curso, — respondeu Thrawn. — Esfera Dois, dispare
quando estiver pronto. Abaixe a resistência da barreira em vinte por cento.
Samakro murmurou outra maldição, uma das maiores desta vez.
— Posso sugerir que implantemos chamarizes? — ele pressionou. —
Isso pelo menos desviaria parte do foco de nós.
— Desviaria sem dúvida, — Thrawn concordou. — Negativo em
chamarizes. Rotacione mais cinco graus para bombordo, depois três graus
para estibordo.
A Falcão de Primavera girou e depois girou novamente. Os lasers
Paataatus continuaram a bater contra a barreira eletrostática enfraquecida, e
através da janela Samakro pôde ver os caças Paataatus novamente
formando seu agrupamento de ataque para trazer mais força para suportar.
— Capitão, se não voltarmos para os outros, não vamos durar muito, —
ele avisou baixinho, imaginando à distância, o que teria acontecido com o
Thrawn que uma vez trouxe fama a Falcão de Primavera.
— Vamos durar o suficiente, Capitão Intermediário, — esclareceu
Thrawn. — Você não vê?
Samakro ergueu a mão em um gesto de confusão e futilidade.
A mão congelou no meio do ar quando de repente entendeu. Mais naves
atacando a Falcão de Primavera significavam menos ataques às outras
naves. Menos atacantes significavam menos confusão para os artilheiros
Chiss, computadores de mira e observadores de triangulação, permitindo
uma destruição organizada e sistemática dos atacantes que não estavam
focados na Falcão de Primavera.
E essa destruição sistemática significava...
Do lado a estibordo da Falcão de Primavera veio uma súbita enxurrada
de fogo laser, rompendo mísseis e esferas de plasma, atingindo o enxame de
caças inimigos. Samakro olhou pra a tela para ver a Vigilante e as outras
naves Chiss avançando em direção a eles em formação de cunha de batalha
completa.
— Eleve a barreira para potência total; todas as armas: disparar, —
ordenou Thrawn. — Concentre-se nos inimigos fora dos arcos de disparo
das nossas outras naves.
Os lasers e lançadores de esfera de plasma da Falcão de Primavera
dispararam, e o número de atacantes caiu vertiginosamente enquanto a força
Chiss continuava a transformar as naves inimigas em pó. Samakro observou
até que a força dos Paataatus reduziu-se a algumas naves em fuga sendo
perseguidas por dois dos outros cruzadores de Ar’alani, então se aproximou
do lado de Thrawn.
— Portanto, bancamos o animal ferido e atraímos o inimigo até nós, —
ele disse. — Dando ao resto da força tempo para se reagrupar e contra-
atacar.
— Sim, — disse Thrawn, parecendo satisfeito por Samakro ter
descoberto. Mesmo tendo descoberto isso um pouco tarde no dia. — Os
Paataatus têm uma mentalidade de enxame. Esse padrão de pensamento os
predispõe a concentrar a sua atenção nos oponentes feridos.
— Eles começam eliminando os mais fracos, depois vão subindo, —
Samakro concluiu, assentindo.
— Exatamente, — disse Thrawn. — Quando vi o tamanho da força de
ataque, percebi que a melhor estratégia seria atrair o máximo possível deles
para longe do resto das nossas naves antes que eles fossem capazes de
infligir danos significativos.
— Além de atraí-los para um aglomerado mais compacto com o qual os
nossos artilheiros e computadores de mira teriam menos problemas.
— Correto. — Thrawn sorriu ironicamente. — Essa dificuldade de
múltiplos alvos é o nosso ponto fraco. Espero que os técnicos e instrutores
da frota estejam trabalhando para resolver isso.
— Capitão Sênior Thrawn? — A voz de Ar’alani veio pelo alto-falante.
— Sim, Almirante? — Thrawn respondeu.
— Muito bem, Capitão, — disse Ar’alani, com uma ponta de
aborrecimento em seu tom. — Da próxima vez que você tiver um plano
inteligente, por favor, compartilhe-o comigo antes de executá-lo.
— Vou me esforçar para fazer isso, — prometeu Thrawn. — Desde que
haja tempo.
— E desde que você não se importe em avisar o inimigo se eles
estiverem bisbilhotando, — Samakro acrescentou baixinho.
Aparentemente, não baixinho o suficiente.
— Se você acha que é uma desculpa legítima, Capitão Intermediário
Samakro, deixe-me sugerir o contrário, — disse Ar’alani. — Tenho certeza
de que, no futuro, o Capitão Thrawn encontrará uma maneira de comunicar
as informações necessárias sem que o inimigo ouça.
— Sim, senhora, — disse Samakro, estremecendo. Corria o boato de que
os oficiais generais tinham uma configuração de comunicação especial que
lhes permitia ouvir mais das suas naves de escolta do que normalmente era
possível.
— Capitão Thrawn?
— Almirante?
— Acho que temos a situação sob controle, — disse Ar’alani. — Você
pode seguir para a sua próxima missão quando estiver pronto.
Samakro franziu a testa. Não havia nada sobre uma missão extra nas
ordens da Falcão de Primavera.
— Obrigado, Almirante, — disse Thrawn. — Com a sua permissão,
gostaria de dedicar uma hora primeiro para verificar a nave e começar a
reparar qualquer dano que possamos ter sofrido.
— Leve o tempo que quiser, — disse Ar’alani. — Estamos indo mais
para dentro do sistema para falar com os comandantes Paataatus.
Felizmente, eles aprenderam a loucura de atacar a Ascendência Chiss.
— Sim, eles aprenderam, — disse Thrawn. — Uma derrota dessa
magnitude sufocará os desejos expansionistas deles. Eles devem
permanecer dentro de suas próprias fronteiras até que a geração atual tenha
passado.
— Exceto possivelmente por um deslize ou dois em Csilla? — Ar’alani
sugeriu.
Thrawn balançou a cabeça.
— Não acredito que eles tenham sido os responsáveis por aquele ataque.
Samakro estremeceu. Pessoalmente, ele também não acreditava, mas isso
não significava que era algo que um oficial sênior deveria dizer em voz alta.
Especialmente quando uma grande porcentagem da Sindicura acreditava
nisso.
— Talvez, — observou Ar’alani, as suas palavras em tom de um neutro
muito mais politicamente aceitável. — Isso é para os outros investigarem.
Faça os seus reparos e me avise quando estiver pronto para sair. Almirante
desligando.
Ouviu-se o som do comunicador desconectando.
— Capitão Intermediário, por favor, inicie uma verificação completa da
situação, — disse Thrawn. — Preste atenção especial às armas e sistemas
de defesa.
— Sim, senhor, — disse Samakro, sentindo um fio de alívio. E com isso,
eles acabaram com a política. Pelo menos por enquanto. — Todo o pessoal:
Exame completo da nave. Os chefes de seção relatem a situação quando
concluído.
Houve um coro de reconhecimentos, e a ponte caiu em um silêncio
estudioso enquanto o pessoal iniciava as suas varreduras.
— Espero que você esteja certo sobre os Paataatus, — disse Samakro. —
Só porque os atacantes de Csilla usaram naves diferentes, não significa que
não tenham vasculhado por algo que esconderia a sua identidade.
— Não, — disse Thrawn. — Você viu as táticas deles aqui, enxameando
com números esmagadores. As táticas deles não permitem o que vimos em
Csilla, particularmente não um ataque indiferente que custou três naves.
Não, o ataque Csilla foi lançado por outra pessoa.
— Por que eles não poderiam ter convencido outra pessoa a fazer isso
por eles? — Samakro sugeriu, perversamente relutante em deixar para lá.
Ele nunca se sentiu confortável com conclusões viscerais e, pelo que podia
dizer, isso era tudo que Thrawn tinha ali. — Existem gangues de piratas por
aí que poderiam ser contratadas para lançar uma finta.
— O objetivo do ataque foi certamente tirar a nossa atenção, — apontou
Thrawn. — Mas não desta parte da fronteira. — Os seus lábios se
comprimiram brevemente. — Assim que deixarmos o resto da força-tarefa,
poderei contar a você e aos outros oficiais superiores sobre a missão que a
Almirante Ar’alani mencionou.
— Sim, senhor, — disse Samakro, olhando-o de perto. Ele também
nunca se sentiu confortável com missões ultrassecretas. — Alguma chance
de uma prévia?
Thrawn deu-lhe um pequeno sorriso.
— Sim, sempre odiei ordens seladas também, — ele observou. — O que
posso dizer é que pode haver uma nova ameaça do outro lado da
Ascendência. A nossa tarefa é localizar, identificar e avaliar essa ameaça
antes que eles voltem a atenção deles para os nossos mundos.
— Ah, — disse Samakro. Então foi por isso que eles de repente tiveram
uma sky-walker atribuída a eles. De salto em salto era uma maneira
ineficiente de viajar para qualquer distância real no Caos, e com esse tipo
de investigação não havia como dizer o quão longe a busca os levaria. —
Posso perguntar se você espera que esta busca termine em combate? — Ele
acrescentou, a sua mente voltando às instruções específicas de Thrawn para
verificar as armas e defesas da Falcão de Primavera.
— Sempre existe essa possibilidade, — respondeu Thrawn. Ele viu a
expressão no rosto de Samakro e sorriu novamente. — Não se preocupe,
Capitão. Eu conheço os protocolos relativos aos ataques preventivos
cuidadosa e especificamente definidos para mim.
— Sim, senhor, — disse Samakro. — Com a sua permissão, gostaria de
supervisionar pessoalmente as verificações da barreira.
— Muito bem, Capitão, — disse Thrawn. — Prossiga.
Samakro dirigiu-se para a estação de defesa, com o estômago apertado.
A barreira eletrostática era a primeira linha de defesa da Falcão de
Primavera contra qualquer atacante e, como tal, precisava estar em perfeito
estado de funcionamento.
Até porque ele tinha ouvido algumas das histórias sobre Thrawn. E só
porque os protocolos foram definidos para ele, não significa
necessariamente que ele tinha ouvido.
Em quase quatro anos na Academia Taharim, a Cadete Sênior Irizi’ar’alani
havia construído um registro impecável. Ela se destacou, estava bem no
caminho para posição e hierarquia de comando e, nem o menor indício de
escândalo jamais tocou o seu nome.
Até agora.
— Cadete Sênior Ziara, — entoou o Coronel Wevary com a voz que
reservava para os mais hediondos ofensores contra as tradições de
Taharim, — um cadete sob a sua tutela foi acusado de trapaça. Você tem
algo a dizer em sua ou na defesa dele?
Sob a sua tutela. Tudo o que Ziara tinha feito foi inspecionar o maldito
exercício de simulação que o Cadete Thrawn tinha feito.
Mas o nome dela estava ligado à acusação, então ali estava ela.
Não que houvesse muita chance de consequências graves. Certamente,
o representante da Irizi sentado em uma das pontas do júri de três oficiais
não parecia preocupado. Na outra ponta da mesa...
Sentiu uma pontada de dor simpática. Thrawn era o único que estava
por um fio ali, mas o representante da família Mitth nem mesmo apareceu.
Ou tinha se esquecido da audiência ou simplesmente não se importou. De
qualquer forma, não era um bom presságio para o futuro de Thrawn.
A parte mais estranha era que nada disso fazia sentido. Ziara havia
olhado os registros de Thrawn e ele já estava muito à frente dos seus
colegas. A última coisa que precisava fazer era trapacear em um exercício
de simulador.
Ainda assim, embora as suas pontuações normais no simulador fossem
consistentemente altas, a maioria delas estava dentro ou apenas
ligeiramente acima das marcas divisórias mais altas da academia. Neste
exercício em particular, ninguém na história de Taharim chegou nem perto
da pontuação de Thrawn de noventa e cinco. Havia apenas uma explicação
lógica para uma pontuação tão alta, e o Coronel Wevary chegara a ela.
Ziara mudou a sua atenção para o acusado. Thrawn estava sentado
rigidamente na sua cadeira, no seu rosto uma máscara rígida. Ele já havia
se declarado inocente das acusações, insistindo que não havia trapaceado,
mas apenas aproveitado os parâmetros que o exercício havia estabelecido
para ele.
Mas, como um dos outros membros do júri já havia dito, isso era
exatamente o que uma pessoa culpada também diria. Infelizmente, muitos
cadetes no passado haviam enganado o sistema utilizando secretamente
as sessões de treino realizadas com os seus parâmetros de teste futuros,
uma fraude que os instrutores haviam rebatido garantindo que nenhuma
simulação já realizada pudesse ser executada novamente. Essa limitação
embutida significava que Thrawn não poderia repetir a sua técnica e
provar a sua inocência.
Presumivelmente, os instrutores poderiam se aprofundar na
programação e mudar isso. Mas levaria muito tempo e, aparentemente,
ninguém pensava que um único cadete valia tanto esforço.
Mentalmente, Ziara balançou a cabeça. A outra parte do problema era
que os registros do exercício se limitavam aos pontos de vista das três
naves-patrulha atacantes. Um dos registros ficou em branco no momento
errado, não mostrando nada do encontro culminante, enquanto os outros
dois simplesmente mostravam a nave-patrulha de Thrawn desaparecendo
por vários segundos cruciais.
Um dispositivo de camuflagem prático era o sonho dos cientistas da
Força de Defesa em gerações. Era improvável que uma simulação de
cadete tivesse feito aquele avanço indescritível. Pelo menos, não sem um
ajuste ilegal da programação.
E ainda…
Ziara estudou o rosto de Thrawn. Ele tinha explicado as suas táticas ao
conselho pelo menos duas vezes, e ainda não acreditavam nele. Agora,
sem mais nada para dizer, ele se refugiou no silêncio. Ziara poderia
esperar encontrar desafio ou raiva ali, mas não conseguia ver nenhum dos
dois. Ele ficou sozinho, sem nem mesmo a sua família para apoiá-lo.
Nesse ínterim, o Coronel Wevary fez uma pergunta a Ziara.
— Não tenho nada a dizer, — ela respondeu. Ela olhou para Thrawn
novamente.
E de repente um pensamento estranho ocorreu a ela. Algo que
vislumbrou no registro de Thrawn, a história sobre como ele saiu de uma
família obscura para conseguir uma indicação para Taharim...
— Por enquanto, — ela acrescentou rapidamente. — Se me permitem
implorar a indulgência do conselho, gostaria de usar o intervalo do almoço
para considerar novamente a situação e as evidências.
— Bobagem, — zombou um dos outros membros do conselho. — Você viu
a evidência...
— Dado o adiantado da manhã, — Wevary interrompeu calmamente, —
Não vejo razão para não podermos adiar uma decisão até depois do meio-
dia. Nos encontraremos novamente em uma hora e meia.
Ele bateu na pedra polida com a ponta dos dedos e se levantou. Os
outros seguiram o exemplo e saíram silenciosamente da sala. Nenhum
deles, Ziara notou, deu a ela ou a Thrawn uma segunda olhada.
Exceto o Coronel Wevary. O último a sair, ele parou ao lado da cadeira
de Ziara...
— Não gosto de táticas protelatórias, Ziara, — ele murmurou, com um
olhar duro. — Seria muito melhor você ter algo quando nos reunirmos
novamente.
— Entendido, senhor — murmurou Ziara de volta.
Ele deu a ela um aceno microscópico e seguiu os outros para fora da
sala.
Deixando Ziara e Thrawn sozinhos.
— Eu agradeço os seus esforços, — disse Thrawn baixinho, os olhos ainda
no lugar vazio do coronel à mesa. — Mas você pode ver que eles já se
decidiram. A sua ação não faz nada além de arriscar o desagrado deles e,
possivelmente, afastá-la da sua família.
— Se eu fosse você, me preocuparia mais com a sua família do que com
a minha, — disse Ziara asperamente. — Falando dela, por que o seu
representante não está aqui?
Thrawn encolheu os ombros levemente.
— Eu não sei. Suspeito que eles não gostam que um dos seus adotados
por mérito seja vinculado a um escândalo.
— Nenhuma família gosta, — Ziara disse, franzindo a testa. Ele estava
certo sobre isso, naturalmente.
Mas mesmo os adotados por mérito contavam como parte da família e,
como tal, deviam ser protegidos e defendidos. Se a Mitth estava se
afastando de Thrawn em um momento tão crucial, deveria haver algo mais
acontecendo.
— Enquanto isso, o Coronel Wevary pediu o almoço, — ela o lembrou
enquanto se levantava. — Vou buscar algo para comer. Você deveria fazer o
mesmo.
— Eu não estou com fome.
— Coma alguma coisa de qualquer maneira. — Ziara hesitou, mas era
uma chance boa demais para deixar passar. — Dessa forma, se eles te
expulsarem, você terá pelo menos mais uma refeição grátis.
Ele olhou para ela, e por um momento ela pensou que ele fosse atacar a
insensibilidade dela. Então, para o seu alívio, ele sorriu.
— De fato, — ele disse. — Você tem uma mente eminentemente tática,
Cadete Sênior.
— Eu tento, — Ziara disse. — Faça uma boa refeição e não se atrase para
voltar. — Ela deu a ele um aceno de cabeça e saiu.
Mas ela não foi para o refeitório. Em vez disso, ela encontrou uma sala
de aula vazia, algumas portas abaixo e entrou.
Uma mente eminentemente tática, dissera Thrawn. Outros haviam dito a
ela a mesma coisa, e Ziara nunca havia encontrado um motivo para
discordar deles.
Hora de descobrir se todos eles estavam certos.
O recepcionista atendeu no terceiro toque.
— Escritório do general Ba’kif, — anunciou ele.
— Meu nome é Cadete Sênior Irizi’ar’alani, — informou Ziara. — Por favor,
pergunte ao general se pode reservar alguns minutos de seu tempo.
— Diga a ele que se trata do Cadete Mitth’raw’nuru.
—
O coronel Wevary e os outros entraram na sala de audiência exatamente
uma hora e meia depois de terem saído. Nem os oficiais nem o
representante da Irizi olharam para os dois cadetes enquanto se sentavam.
O que tornou as expressões repentinamente atordoadas em todos os
quatro rostos ainda mais irônicas, quando tardiamente avistaram o recém-
chegado sentado ao lado de Ziara.
— General Ba’kif? — O Coronel Wevary disse com uma espécie de
golfada explosiva. — Eu... me desculpe, senhor. Não fui informado da sua
chegada.
— Tudo bem, Coronel, — disse Ba’kif, dando uma olhada rápida em cada
um dos homens à mesa. Os outros dois oficiais estavam tão despreparados
quanto Wevary para encontrar um oficial de alta patente no meio deles,
mas a surpresa deles estava rapidamente se transformando em respeito
adequado.
A surpresa do Irizi, em contraste, rapidamente se transformou em
suspeita. Claramente, ele deu uma olhada na história de Thrawn e
suspeitou que Ba'kif estava ali para encobrir.
— Eu entendi que o Cadete Mitth’raw’nuru está sob suspeita de trapaça,
— continuou Ba’kif, voltando-se para Wevary. — Acho que a Cadete Ziara e
eu podemos encontrar uma maneira de resolver a questão.
— Com todo o devido respeito, General, nós examinamos todas as
evidências, — apontou Wevary, com alguma rigidez surgindo em sua
deferência. — O exercício não pode ser repetido com os mesmos
parâmetros que estavam em vigor quando ele o fez, e ele afirma que sem
esses parâmetros não pode duplicar o seu sucesso.
— Entendo, — disse Ba’kif. — Mas existem outras maneiras.
— Espero que você não sugira que reprogramemos o simulador, —
observou um dos outros oficiais. — As salvaguardas que foram colocadas
para evitar que os cadetes fizessem exatamente isso levariam semanas
para se desfazer.
— Não, não estou sugerindo isso, — Ba’kif assegurou-lhe. — Presumo,
Coronel, que o senhor tem todos os parâmetros relevantes do exercício?
— Sim, senhor, — disse Wevary. — Mas como eu disse...
— Um momento, — interrompeu Ba’kif, voltando-se para Thrawn. —
Cadete Thrawn, você registrou duzentas horas no simulador de nave de
patrulha. Você está pronto para experimentar a coisa real?
Os olhos de Thrawn se voltaram para Ziara, e depois voltaram para
Ba’kif.
— Sim, senhor, estou.
— Só um minuto, — interrompeu o Irizi. — O que exatamente você está
propondo?
— Acho que isso é óbvio, — respondeu Ba’kif. — O perigo inerente no
ensino via simulador é que, se a simulação diverge da realidade, podemos
não perceber até ser tarde demais. — Ele acenou com a mão para Thrawn.
— Temos aqui a oportunidade de comparar a simulação com a realidade e
vamos tirar proveito disso.
— A Academia Taharim está sob a autoridade do Coronel Wevary, — o
Irizi insistiu.
— De fato está. — Ba’kif se voltou para Wevary. — Coronel?
— Concordo, General, — respondeu Wevary sem hesitação. — Estou
ansioso para ver o exercício.
O Irizi olhou pra ele. Mas apenas comprimiu os lábios e inclinou a sua
cabeça.
— Bom. — Ba’kif voltou para o conselho. — Senhores, tenho quatro
embarcações de patrulha preparadas e esperando na plataforma, além de
uma lançadora de observação para nós seis assistirmos. — Ele se levantou e
gesticulou em direção à porta. — Podemos ir?
—
As quatro naves patrulheiras estavam em suas posições iniciais: Thrawn em
uma, os três pilotos do General Ba’kif nas outras. A área de teste foi isolada
e os pontos iniciais para o exercício mapeados. A lançadora de observação
estava em posição, fora da área de combate, mas perto o suficiente para
ver e registrar tudo.
Ziara se sentou ao lado de Ba’kif na segunda fileira de assentos,
olhando para fora da canopi, além das cabeças dos outros três oficiais e do
Irizi. Havia apresentado isso ao general como uma acusação injusta contra
Thrawn, envolvendo as suas preocupações no brilho do histórico
acadêmico do cadete mais jovem. E com toda a honestidade, Ba’kif não
pareceu precisar de muita persuasão.
Mas isso não mudou o fato de que Ziara ter esticado o pescoço, e agora
havia um novo alvo fresco pintado na sua testa. Antes de ligar para Ba’kif,
ela era periférica à situação, com pouco perigo para ela ou para o nome
Irizi. Agora, se Thrawn não conseguisse provar o seu caso, o nome seu
estaria bem próximo ao dele.
— Patrulhas um e três: vão, — disse Ba’kif no comunicador. — Patrulha
Quatro: Vá. Patrulha Dois: Vá. Certifiquem-se de que os seus vetores
fiquem precisamente no caminho certo.
À distância, à frente deles, as três naves patrulha começaram a se
mover. Abaixo deles, a Patrulha Quatro, a de Thrawn, seguia em direção a
elas.
— Estabilizado, — advertiu Ba’kif. — Dois, aumente o empuxo em alguns
graus. Um e três, seguindo corretamente. Cadete Thrawn?
— Pronto, senhor, — veio a voz ponderada de Thrawn.
Ziara sentiu o seu lábio torcer. Agora, quando o seu estômago estava
embrulhado, era naturalmente o momento que ele escolheu para ficar frio
e calmo.
Ou talvez fosse apenas porque o espaço e o combate eram um
ambiente mais confortável para ele do que uma sala de tribunal cheia de
oficiais, regulamentos e política familiar.
— Aguarde, — disse Ba’kif. — O exercício começa... Agora.
As quatro naves de patrulha saltaram uma em direção à outra,
combinando precisamente os parâmetros originais do exercício. Thrawn
desviou para estibordo, em direção à Três. Um e dois viraram em direção a
ele, diminuindo a distância. Thrawn abriu fogo, acertando um e três com
disparos de laser de espectro em nível de exercício, de baixa potência. As
duas naves se afastaram, saindo das linhas de tiro, enquanto Dois se dirigia
para o flanco de Thrawn, todas as três mirando em Thrawn, com os seus
próprios disparos. Por alguns segundos, Thrawn ignorou a destruição
teórica martelando no casco da sua nave e continuou em direção a Um e a
Três. Então, abruptamente, ele girou a sua nave em uma guinada de,
virando os seus propulsores em direção a Um e a Três como se estivesse se
preparando para escapar.
Mas em vez de disparar os seus propulsores de popa, ele jogou
potência total para os da frente, continuando o seu avanço em direção a
Um e a Três.
A manobra pegou os três atacantes desprevenidos. Um e Três
desviaram-se ainda mais, evitando por reflexo a ameaça de serem
abalroados. Dois, que tinha a intenção de flanquear para uma posição de
tiro próximo, em vez disso disparou além do arco de Thrawn.
E quando Dois passou na sua frente, Thrawn disparou os seus lasers na
popa dele, simultaneamente disparando os seus propulsores traseiros com
potência total na direção de Um e Três.
Alguém praguejou baixinho. De alguma forma, o ataque de Thrawn
matou a aceleração de Dois e o fez reduzir lentamente. O tiro no propulsor
do próprio Thrawn o fez passar pela popa de Dois, mais uma vez deixando
para ele um caminho livre para a fuga.
Mas para o espanto de Ziara, em vez de correr, ele disparou os seus
propulsores frontais, diminuindo a sua velocidade e caindo ao lado de
Dois, colocando a nave em redução entre ele e as mais distantes Um e
Três.
E de alguma forma, bem no meio daquela manobra, a sua nave pegou
exatamente a mesma redução que o seu ataque havia dado à Dois,
combinando precisamente a sua velocidade e rotação quando ele se
acomodou por atrás dela.
Ziara soltou uma meia risada.
— Ele fez isso, — ela disse em voz baixa. — Ele desapareceu.
— Do que você está falando? — o Irizi perguntou, parecendo confuso. —
Ele está bem ali.
— Não, foi feito, — advertiu Ba’kif.
Um segundo depois, Thrawn tirou a sua nave de sua oscilação e,
quando Dois passou por ele, ele disparou seus lasers de flanco-proa e de
flanco-popa, pegando Um e Três diretamente em suas proas.
— Aguarde! — Ba’kif comunicou. — O exercício acabou. Obrigado a
todos; por favor voltem para a plataforma de lançamento. Cadete Thrawn,
você se sente confortável em atracar a sua nave sozinho?
— Sim senhor.
— Eu te vejo lá dentro, então. Muito bem, Cadete. — Ele desligou.
— O que você quer dizer com bom trabalho? — o Irizi exigiu. — O que
isso prova? Foi uma manobra hábil o suficiente, admito, mas todos nós
vimos. Ele não desapareceu da maneira que afirmou.
— Pelo contrário, — disse Ba’kif, com uma mistura de admiração e
diversão em sua voz. — Nós só vimos isso porque estávamos acima do
campo de combate e porque estávamos usando lasers de baixa potência
que distorciam os efeitos do mundo real. A simulação, por outro lado, não
era tão limitada. — Ele olhou para Wevary. — Coronel?
— Sim, — disse Wevary. Ele não parecia tão divertido quanto Ba'kif, mas
Ziara podia ouvir a mesma admiração em sua voz. — Muito bom, de fato.
— General… — o Irizi começou.
— Paciência, Aristocrata, — disse Ba’kif.
E para a surpresa de Ziara, ele se virou para ela.
— Cadete Sênior Ziara, talvez você seja boa o suficiente para explicar?
— Sim, senhor — respondeu Ziara, sentindo como se de repente tivesse
sido jogada no fundo do poço. A pessoa mais jovem do compartimento e
ele queria que desse o que fosse uma palestra?
Ainda assim, ter um Irizi explicando para outro Irizi era provavelmente a
jogada politicamente esperta.
— O primeiro ataque contra Thrawn teria aberto as reservas de oxigênio
e tanques de combustível na popa dele, lançando os dois gases para o
espaço atrás dele, — ela explicou. — Quando ele virou de ré para Um e Três
e disparou um tiro no propulsor, os gases que escaparam teriam se
acendido, cegando temporariamente os sensores dos atacantes.
O Irizi bufou.
— Especulação.
— Nem um pouco, — Wevary acrescentou. — Foi exatamente isso que
aconteceu na simulação e a razão pela qual nos levou a isso. Continue,
Cadete Sênior.
Ziara assentiu com a cabeça.
— Ao mesmo tempo, Thrawn disparou contra os propulsores de popa de
Dois, danificando-os em um padrão precisamente específico que não
apenas o derrubou temporariamente, mas também deu à nave uma
oscilação previsível. Tudo o que ele teve que fazer então foi duplicar o
efeito com os seus próprios propulsores enquanto se alinhava,
combinando com o padrão e se escondendo atrás da nave. Então esperou
apenas o tempo suficiente para que Um e Três voltassem a atenção deles
para outro lugar na tentativa de localizá-lo, então saiu e atirou antes que
pudessem responder.
O Irizi pareceu refletir sobre isso.
— Tudo bem, — ele disse relutantemente. — Mas e quanto aos próprios
sensores de Dois? A simulação não mostra imagens daquela nave
enquanto o cadete está escondido.
— O tripulante estaria usando os propulsores de flanco para amortecer a
oscilação, — respondeu Ziara, sentindo uma sensação de alívio. O outro
ainda não estava feliz, mas percebeu claramente que não havia motivo
para arrastar isso por mais tempo. Ela e a sua família, ao que parecia, não
seriam apanhadas em um escândalo, afinal. — Todo aquele fogo teria
obscurecido os sensores.
— Então, — disse Ba’kif. — Eu acredito, Coronel, que isso vai pôr fim ao
seu inquérito?
— De fato, General, — respondeu Wevary. — Obrigado pela sua ajuda.
Isso foi muito esclarecedor.
— De fato foi, — disse Ba’kif. — Leme: leve-nos de volta ao cais, por favor.
E quando a lançadora girou e se dirigiu para a plataforma, Ba'kif deu a
Ziara um olhar de soslaio.
— E uma lição para você, Cadete Sênior, — ele disse, alto o suficiente
para ela ouvir. — Você tem bons instintos. Continue a confiar neles.
— Obrigada, senhor — disse Ziara. — Vou me esforçar para fazer isso.
O corredor que levava à sala de audiência da Aristocracia era longo,
um pouco escuro e mais do que um pouco cheio de ecos. Ar’alani ouviu os
seus passos enquanto caminhava, ouvindo uma espécie de zombaria nas
batidas maçantes doom, doom, doom. Dramática, projetada para colocar as
testemunhas e os porta-vozes que se aproximam em desvantagem
psicológica antes mesmo de entrarem na câmara.
Quem eles realmente queriam varrer para a fogueira era Thrawn, é claro.
Mas estava fora em alguma missão ultrassecreta para o Supremo General
Ba'kif e fora de alcance. Na ausência dele, alguém aparentemente decidiu
que o comandante dele durante a batalha deveria ser chamado perante um
tribunal oficial, provavelmente na esperança de que dissesse algo
depreciativo que pudessem usar contra ele em uma data posterior.
Uma completa perda de tempo, realmente. Ar’alani já havia dito tudo o
que ia dizer ao Conselho de Hierarquia de Defesa, e duvidava que alguém
ali realmente esperava que mudasse esse testemunho. E por mais zangados
que pudessem ficar com ela, em teoria a Aristocracia e as Nove Famílias
nada poderiam fazer a um oficial general da patente dela.
Em teoria.
— Isso, — bufou a Capitã Sênior Kiwu’tro’owmis enquanto ela, com as
suas pernas mais curtas, lutava para acompanhar o passo mais longo de
Ar’alani, — é fajuto. Totalmente fajuto. Fajuto ao fatorial de nove.
— Isso é um monte de besteiras, — disse Ar’alani, sorrindo para si
mesma. Wutroow não era só uma excelente primeira oficial, mas também
tinha o dom de quebrar a tensão e gritar absurdos.
— E eu defendo cada um deles, — disse Wutroow. — Nós explodimos
os Paataatus em pequenos pedaços de metal e conseguimos um acordo de
paz tão humilhante com eles como eu nunca tinha visto. E a Aristocracia
ainda não está feliz?
— Não, — concordou Ar’alani. — Mas não somos nós com quem estão
infelizes. Acontece que somos os alvos mais convenientes no momento para
a irritação deles.
Wutroow bufou.
— Thrawn.
Ar’alani assentiu com a cabeça.
— Thrawn.
— Nesse caso, é fajuto até o fatorial de dez, — disse Wutroow com
firmeza. — Havia uma boa razão para ele desobedecer a sua ordem. Além
disso, o plano dele funcionou.
Que era precisamente o motivo do Conselho não ter feito nenhuma
acusação ou repreensão contra ele, é claro. Especialmente porque nem
Ar’alani, nem nenhum dos outros comandantes de nave estavam dispostos a
registrar uma acusação.
Mas Thrawn tinha inimigos entre os Aristocratas. E vindicação do
Conselho ou não, aqueles inimigos estavam cheirando sangue.
— Então, o que vamos fazer, senhora?
— Respondemos às perguntas deles, — Ar’alani respondeu a ela. —
Honestamente, é claro. A maioria dos Aristocratas sabe que não deve fazer
uma pergunta que já não conhece a resposta.
— Presumo que isso não significa que não podemos espiralar um pouco
as nossas respostas?
— Essa certamente será a minha estratégia, — respondeu Ar’alani. —
Só tenha cuidado para não espiralar muito e acabar olhando para o seu
próprio laser. Alguns dos Aristocratas transformaram essa tática em uma
bela arte, e muitos sabem disso quando a veem.
Wutroow riu.
— Uma bela arte. Thrawn gostaria disso.
— Não é o tipo de arte em que se destaca, infelizmente, — apontou
Ar’alani. — Apenas observe a si mesma. Se não podem ter o sangue dele,
podem tentar obter um pouco do nosso.
— Não acho que tenhamos que nos preocupar muito, Almirante, — disse
Wutroow. — Lembre-se do velho ditado: o céu é sempre mais escuro...
— ...um pouco antes de ficar completamente preto, — Ar’alani concluiu
por ela. — Sim, tive o mesmo instrutor na academia.
E então elas estavam lá. As proteções da porta puxaram os anéis,
balançando os painéis pesados, abrindo, mais dramas psicológicos,
revelando a mesa das testemunhas e duas cadeiras de frente para o
semicírculo escuro onde o grupo de síndicos silenciosamente estava sentado
esperando por elas. Colocando uma nota de confiança em seus passos,
Ar’alani caminhou até a mesa e ficou atrás de uma das cadeiras, Wutroow
se posicionando ao lado dela.
— Síndicos da Ascendência da Chiss, eu os saúdo, — Ar’alani falou,
certificando-se de que a sua voz tivesse a mesma confiança que os seus
passos. — Sou a Almirante Ar'alani, atualmente no comando da Vigilante e
Força de Piquete Seis da Frota de Defesa Expansionista. Esta é a minha
primeira oficial, Capitã Sênior Kiwu’tro’owmis.
— Saudações, Almirante; Capitã Sênior, — uma voz disse do anel.
E de repente a escuridão brilhou com luz.
Ar’alani piscou algumas vezes enquanto seus olhos se ajustavam, um
canto da sua mente apreciando esse lance final. Os síndicos não precisavam
se esconder na escuridão; eles poderiam enfrentar qualquer um na
Ascendência sem medo.
— Por favor, sente-se, — disse outra voz. — Temos apenas algumas
perguntas para você.
— Nós estamos prontas para responder, — disse Ar’alani, puxando a sua
cadeira e sentando-se, os seus olhos passando rapidamente pela mesa.
Nenhum dos rostos era familiar para ela, mas as placas com os nomes da
família na beirada frontal da mesa diziam tudo o que ela precisava saber.
Seis famílias foram escolhidas para este tribunal específico, como de
costume, compreendendo uma mistura das Nove e das Grandes: a Irizi, a
antiga família de Ar’alani; a Kiwu, a família atual de Wutroow; mais a
Clarr, Plikh, Ufsa e Droc.
Conspícua por sua ausência era a família de Thrawn, a Mitth.
Conspícua e suspeita. O fato de que o próprio Thrawn não estar ali
provavelmente foi a desculpa das outras para manter a Mitth fora do
questionamento. Mas dado que ele era claramente o foco do interrogatório,
a Mitth deveria ter insistido em estar presente.
A menos que elas já tivessem decidido entre si que Thrawn era um risco
e o estavam jogando para os nighthunters. Não seria a primeira vez que
consideravam esse caminho.
— Deixe-me ir direto ao ponto, — disse o Clarr. — Seis dias atrás, a sua
força de piquete foi enviada contra os Paataatus em represália pelas sondas
deles contra a nossa fronteira sudeste-zênite. Durante essa batalha, um dos
seus comandantes de nave, o Capitão Mitth’raw’nuruodo, desobedeceu a
uma ordem direta. Isso é verdade?
Ar’alani hesitou. Verdadeiro, mas em espiral.
— Ele desobedeceu a uma ordem inferior, sim, Síndico, — ela
respondeu.
O Clarr franziu a testa.
— Desculpe?
— Eu disse que ele desobedeceu a uma ordem inferior, — respondeu
Ar’alani. — Na época, porém, ele estava obedecendo a uma ordem maior.
— Bem, isso é certamente fascinante, — disse o Irizi secamente. — A
família Irizi tem a honra de fornecer oficiais e guerreiros para as Forças de
Defesa por gerações, e não me lembro de ter ouvido falar de ordens maiores
e menores.
— Talvez prioridades seja um termo melhor, — corrigiu Ar’alani. — A
primeira prioridade de um guerreiro é, obviamente, defender a
Ascendência. A segunda é vencer a batalha e a guerra atuais. A terceira é
proteger a nave e a tripulação. A quarta é obedecer a uma ordem específica.
— Você está sugerindo que a Frota de Defesa Expansionista opere como
um combate de forma livre? — perguntou o Droc.
— Mais como uma escultura de forma livre se Thrawn estiver envolvido,
— acrescentou o Ufsa em voz baixa.
Alguns dos outros riram. O Clarr nem mesmo sorriu
— Eu fiz uma pergunta, Almirante.
— Certamente a frota não é tão caótica quanto o seu comentário faz
parecer, — respondeu Ar’alani. — Idealmente, as ordens do comandante
sênior estão perfeitamente alinhadas com todas essas prioridades. — Ela
inclinou a cabeça, como se de repente um pensamento tivesse ocorrido a
ela. — Na verdade, eu arriscaria dizer que é a mesma coisa com vocês.
Os olhos do Clarr se estreitaram.
— Explique.
— O primeiro dever de vocês é com a Ascendência, — explicou
Ar’alani. — O segundo é para com as suas famílias individuais.
— O que é bom para as Nove Famílias é bom para a Ascendência, —
argumentou o Plikh rigidamente.
— Sem dúvida, — Ar’alani concordou. — Eu simplesmente me refiro à
hierarquia de metas e deveres.
— Mesmo dentro das famílias, — Wutroow acrescentou. — Eu imagino
que você trata o sanguíneo de maneira diferente de primos, posição distante,
surgido em provação e adotados por mérito.
— Obrigado por sua declaração do óbvio, Capitã Sênior, — o Clarr disse
acidamente. — Mas você não foi trazida aqui para uma discussão sobre
relações familiares. Você foi trazida aqui para explicar por que o Capitão
Thrawn teve permissão para desobedecer a uma ordem direta do seu
superior sem sofrer quaisquer consequências pelas ações dele.
— Perdoe-me, Síndico, — interrompeu Wutroow antes que Ar’alani
pudesse responder, — mas eu tenho uma pergunta.
— Almirante Ar’alani, gentilmente informe à sua primeira oficial que
está aqui para responder às perguntas, não para fazê-las, — o Clarr
disparou.
— Mais uma vez, me perdoe, Síndico, — disse Wutroow
obstinadamente, — mas a minha pergunta tem uma relação direta com as
ações do Capitão Thrawn.
O Clarr começou a falar, hesitou e depois franziu os lábios.
— Muito bem, — ele disse. — Mas eu a aviso, capitã, que não estou
com humor para desvios frívolos.
— Nem eu, Síndico, — disse Wutroow. — Como foi estabelecido, a
razão pela qual o Capitão Thrawn moveu a Falcão de Primavera para longe
da força da Almirante Ar'alani foi para atrair a emboscada para si mesmo e
dar ao resto das naves tempo para se ajustar e contra-atacar. A minha
pergunta é a seguinte: por que a força foi emboscada tão rápida e
completamente?
— Porque os Paataatus sabiam que as suas ações contra a Ascendência
naturalmente provocariam represálias, — respondeu o Clarr. —
Especialmente se eles forem os responsáveis pelo ataque a Csilla. Eu te
avisei sobre perguntas frívolas...
— Mas por que lá? — Wutroow persistiu. — Por que aquele lugar em
particular? Porque eles estavam claramente nos esperando.
— Você soa como se já soubesse a resposta, — disse o Kiwu. — Por que
você não nos conta?
— Obrigada, — disse Wutroow, inclinando a cabeça para ele. — Eu
obtive um relatório detalhado da missão que a Sindicura enviou aos
Paataatus logo depois que foram identificados como aqueles que
pressionam contra o nosso flanco. As conversas foram breves...
— Todos nós lemos o relatório, — interrompeu o Clarr. — Continue.
— Sim, Síndico, — disse Wutroow. Não havia nenhum traço de sorriso
no rosto dela, Ar'alani notou, pois Wutroow sabia muito bem que não devia
parecer que estaria zombando de qualquer um dos Aristocratas, mas havia
um olhar sutil em seus olhos que prometia que isso seria bom. — Quando
as discussões terminaram e os emissários voltaram para a nave deles, um
deles disse à delegação de Paataatus… — Wutroow fez uma pausa e olhou
para o seu questis. — … e eu cito: ‘A próxima vez que vocês virem as
naves Chiss vindo em sua direção através daquelas estrelas, elas trarão a sua
destruição total.’ — Ela levantou os olhos. — Eu preciso identificar a
direção para a qual o emissário estava apontando?
— Bobagem, — disse o Ufsa. — Nenhum diplomata faria algo tão tolo.
— Aparentemente, um deles fez, — esclareceu Wutroow. — Se a
Almirante Ar’alani soubesse disso, é claro, ela certamente teria escolhido
um vetor de ataque diferente. Mas não sabia.
— E nessas circunstâncias, — acrescentou Ar’alani, pegando na
oportunidade aberta por Wutroow, — tenho certeza de que você reconhece
que as ações do Capitão Thrawn foram necessárias e adequadas.
— Talvez, — o Clarr disse. A voz e rosto ainda não reconheciam o
ponto, mas a sua confiança anterior tinha definitivamente esfriado. —
Interessante. Obrigado pelo seu tempo, Almirante; Capitã. Vocês estão
dispensadas. Nós chamaremos vocês de volta depois de examinarmos mais
a fundo esse assunto.
— Sim, Síndico, — disse Ar’alani, levantando-se. — Outra coisa.
Acredito plenamente que este ataque é a última demonstração que
precisaremos lançar contra os Paataatus. Os seus diplomatas parecem
totalmente comprometidos em se retirar para as suas fronteiras e deixar a
Ascendência estritamente isolada. Se isso fizer diferença para as suas
deliberações.
— Obrigado, — o Clarr disse novamente. — Bom dia.
— Eles não vão, é claro, — disse Wutroow enquanto as duas mulheres
refaziam os seus passos pelo longo corredor. — Chamar-nos de volta, eu
quero dizer. Assim que descobrirem o que aconteceu, a última coisa que
vão querer é chamar mais atenção para tal erro.
— Concordo, — disse Ar’alani. — Então, essa história é realmente
verdadeira?
— Absolutamente. — Wutroow sorriu. — Blefar com um inimigo em
combate às vezes funciona. Blefar a Aristocracia não. Não, um dos
emissários foi realmente estúpido o suficiente para ficar lá e apontar o
nosso vetor de ataque ideal.
— Você recebeu isso de alguém da sua família, eu suponho?
— Sim, senhora, — Wutroow confirmou. — Sinto muito, mas não te
posso fornecer os detalhes.
— Não ia perguntar, — Ar’alani assegurou-lhe. — Suponho que vazar
isso para você tenha a ver com alguns riscos maiores da política familiar, e
não apenas para tirar Thrawn do gancho?
— Não, isso foi apenas um efeito colateral feliz. — Wutroow lançou um
olhar de soslaio para Ar’alani. — Noto que você não deu o crédito a
Thrawn pela previsão de futura inação de Paataatus.
Ar’alani sentiu o seu nariz enrugar. Normalmente, odiava a prática
comum de um oficial assumir o crédito pelas realizações ou ideias de outro.
Mas, neste caso...
— Vou me certificar de corrigir o registro em um ou dois anos,
assumindo que a previsão funcione, — ela disse. — Hoje eu não acho que
teria corrido bem.
— Mas você queria registrar isso, — disse Wutroow, assentindo. — E
esta era a sua melhor maneira de fazer isso. Acho que nunca percebe como
as conexões familiares e canais são importantes até que você os perca.
— Não, você não percebe, — disse Ar’alani, sentindo uma antiga e
distante sensação de perda. — Então aproveite enquanto pode.
— O quê, eu? — Wutroow deu uma pequena risada. — Agradeço o
elogio, Almirante. Mas nunca vou chegar a um ranking de general.
— Nunca se sabe, Capitã, — disse Ar’alani. — Você realmente nunca
sabe.
C he'ri saiu da Terceira Visão com os olhos ligeiramente turvos, um
cansaço horrível e uma enorme dor de cabeça. Parecia que uma presságio
de sobrecarga estava começando a surgir.
Esperava desesperadamente que não fosse uma presságio de sobrecarga.
— Chegamos, — alguém disse.
Che'ri virou a cabeça, com cuidado para não a mover muito rapidamente.
O Capitão Sênior Thrawn estava sentado na cadeira de comando, com o
Capitão Intermediário Samakro à sua esquerda e Thalias à sua direita.
Isso era novo. A maioria das momishes de Che'ri a acompanhava na ida
e volta para a ponte, mas ficava na suíte enquanto estava de serviço. Sempre
presumiu que elas simplesmente não tinham permissão para entrar.
Talvez todas elas pudessem ter ficado se quisessem e simplesmente não
quisessem. Ou talvez Thalias fosse especial porque tinha sido uma sky-
walker.
Thrawn e Samakro estavam olhando para um planeta centrado na janela
principal.
Thalias estava olhando para Che'ri.
Rapidamente, Che'ri voltou aos seus controles, o movimento repentino
martelando uma onda extra de dor em sua cabeça. Nunca mostre fraqueza,
ela foi avisada repetidamente. Uma sky-walker nunca mostra fraqueza. Está
sempre pronta para continuar, com alegria e eficiência, fazendo mais uma
viagem, e mais uma depois dessa, até que o seu capitão permita que
descanse.
— Sem emissões de energia, — informou a mulher na estação de
sensores. — Nenhuma massa de metal refinado, nenhuma indicação de
atividades de vida. O planeta parece morto.
— Não é surpreendente, dado o ambiente, — disse Samakro. — Risque
mais um. Para o próximo sistema?
Houve uma pausa. Che'ri continuou olhando para os controles à sua
frente, esperando que Thrawn dissesse não.
Mas tinha certeza de que diria sim. Ninguém havia contado a ela sobre o
que era essa viagem, mas pareciam estar procurando por algo importante.
Um capitão como Thrawn não gostaria de perder tempo.
Che'ri poderia navegar com uma presságio de sobrecarga chegando? Ela
nunca tinha tentado antes. Mas ela tinha um trabalho a fazer e não havia
ninguém a bordo que pudesse fazê-lo. Se Thrawn dissesse que eles
deveriam continuar...
— Acho que não, — disse Thrawn. — A nave e os guerreiros precisam
de algumas horas de descanso.
Che'ri sentiu as lágrimas borrando os seus olhos. Lágrimas de alívio por
ela poder descansar. Lágrimas de vergonha por estar cansada demais para
continuar.
Thrawn sabia. Ela podia ouvir em sua voz. Ele poderia dizer que todo
mundo precisava descansar, mas ele sabia. Era tudo culpa dela. Tudo de
Che’ri. Ela foi a razão pela qual eles tiveram que parar.
— Leme, leve-nos a uma órbita elevada sobre o planeta, — ordenou o
capitão.
— Sim, senhor, — disse o homem no console ao lado do de Che'ri.
Ela observou os dedos dele movendo-se nos controles, fascinada apesar
de suas dores e visão embaçada. Ela tinha jogado alguns jogos de voo no
seu questis, mas assistir alguém fazendo isso de verdade era muito mais
interessante.
— Sensores, estendam as suas buscas para fora durante a entrada, —
Thrawn continuou. — Assim que estivermos em órbita, refine a busca em
direção ao planeta.
— Sim, senhor, — disse a mulher.
— O que você espera encontrar? — Samakro perguntou.
— Não estou esperando, Capitão Intermediário, — corrigiu Thrawn. —
Meramente especulando.
Che'ri franziu a testa. Especulando? Sobre o que? Continuou ouvindo,
esperando que Samakro perguntasse.
Mas ele não fez isso.
— Sim, senhor, — foi tudo o que ele disse. Che'ri ouviu os passos dele
enquanto se afastava.
— Obrigada, — Thalias disse discretamente.
Che'ri fechou os olhos com força contra a dor e a vergonha, derramando
as lágrimas pelo rosto. Thalias também sabia. Samakro sabia?
Todos na nave sabiam?
Houve um sopro na bochecha de Che'ri, aquecendo as lágrimas.
— Você está bem? — Thalias perguntou suavemente em seu ouvido. —
Devo ajudá-la a voltar para a suíte?
— Posso ficar aqui mais um pouco? — Perguntou Che'ri. — Não
posso... eu não quero ser carregada.
— Ela está bem, Cuidadora? — Perguntou Thrawn.
— Vai ficar, — respondeu Thalias, pressionando a mão contra a testa de
Che'ri. O frio e a pressão eram bons. — Às vezes, as sky-walkers saem da
Terceira Visão com sobrecarga sensorial que se apresenta com dores e
visões brilhantes. Se entrar em um presságio completo, pode levar algum
tempo para se desfazer.
— Mais uma razão para parar por enquanto, — disse Thrawn.
— Sim, — disse Thalias. — De qualquer forma, gostaria de dar a Che'ri
alguns minutos aqui para começar a sua recuperação antes de voltarmos
para a suíte.
Um pequeno conforto sussurrou em meio à dor. Nenhuma das outras
momishes de Che'ri jamais realmente entendeu esses presságios de
sobrecarga. Uma delas até ficou com raiva dela. Era bom ter alguém que
sabia o que era e o que fazer a respeito.
— Leve todo o tempo que precisar, — disse Thrawn. — Não estou
surpreso que tenha sido afetada tão fortemente, dados os parâmetros deste
sistema.
Che'ri franziu a testa, abrindo os olhos e olhando para o planeta para o
qual a Falcão de Primavera estava se movendo. Não parecia nada diferente
de qualquer outro planeta que ela tinha visto nesta viagem. O que há de tão
especial nesse?
— Não o planeta, — esclareceu Thrawn.
Che'ri estremeceu, o movimento enviando outra onda de dor por sua
cabeça e ombros. A voz do capitão veio bem atrás dela.
Os capitães geralmente não se aproximavam das suas sky-walkers. Ela
não sabia se não deveriam, ou se simplesmente não queriam. Mas Thrawn
estava parado ao lado de Thalias. Quase perto o suficiente para tocá-la.
— Observe a tela tática, — continuou Thrawn, apontando para uma das
telas grandes ao lado da janela. — Dá a você uma visão mais ampla do
sistema como um todo.
Che'ri semicerrou os olhos para a tela, tentando organizar todas as linhas,
curvas e números.
E então entendeu, e sentiu os seus olhos se arregalarem.
Não havia apenas uma estrela lá fora, como pensava. Haviam quatro
delas.
— Sistemas estelares quádruplos como este são muito raros, — disse
Thrawn. — Imagino que navegar até o meio de um cobra um preço extra na
Terceira Visão.
— Sim, eu imagino que sim, — disse Thalias, mudando as mãos para
trazer a outra, mais fria, para a testa de Che'ri. — Porque estamos aqui?
Quero dizer aqui?
— Você realmente quer saber, Cuidadora? — Perguntou Thrawn.
A mão de Thalias contra a testa de Che'ri de repente ficou rígida.
— Sim, senhor, — respondeu Thalias. — Realmente quero.
Thrawn deu a volta para o outro lado de Thalias.
— Uma nave de refugiados foi encontrada à deriva em um dos sistemas
periféricos da Ascendência, — ele disse, em voz baixa. Talvez Che'ri não
devesse ouvir essa parte? — Estamos seguindo o provável vetor de onde a
nave veio na esperança de identificar as pessoas. Uma pergunta, Tenente
Comandante Azmordi?
— Não, senhor — respondeu o tenente comandante com rigidez. — Mas
devo lembrar ao capitão que existem certas áreas que devem ser mantidas
— olhando de esguelha sob a mão de Thalias, Che'ri o viu apontando para
ela, — dentro do corpo de oficiais superiores?
— A sua preocupação está registrada, Tenente Comandante, —
respondeu Thrawn. — No entanto, em algum ponto, a sky-walker Che'ri e a
Cuidadora Thalias podem ser obrigadas a realizar tarefas extraordinárias. É
importante que a equipe saiba o que está em jogo e que esteja mentalmente
preparada.
Che'ri franziu a testa. A equipe. Ninguém nunca a chamou de parte de
uma equipe antes. Nunca tinha pensado em si mesma dessa forma. Era a
sky-walker, e a sua cuidadora era a sua momish, e isso era tudo. Che'ri
guiou a nave pra onde precisava ir, e a cuidadora preparava as suas
refeições e a colocava na cama à noite. Elas não eram uma equipe.
Elas eram?
— Sim, senhor, — disse Azmordi. Che'ri tinha ouvido oficiais infelizes o
suficiente para saber como um deles soava, e este definitivamente não
estava feliz.
Mas ele não continuou questionando.
— Ocorreu-me que os refugiados não gostariam que o seu inimigo
soubesse para onde estavam indo, — continuou Thrawn. — Também li no
modo de como as unidades familiares foram reunidas na nave destruída que
as pessoas tinham um forte senso de camaradagem. Pareceu-me que essas
pessoas prefeririam viajar em grupos. Ou, se não um grupo, pelo menos
com uma nave de acompanhamento.
Ele fez uma pausa, como se esperasse que uma delas dissesse algo.
Che'ri olhou para as quatro estrelas novamente, tentando pensar através da
sua dor de cabeça.
E então, de repente, ela entendeu.
— Eu sei! — ela disse, levantando a mão. — As quatro estrelas. É difícil
entrar aqui.
— Sim, — disse Thrawn. — Que significa…?
Che'ri sentiu os seus ombros encolherem. Ela não fazia ideia do que isso
significava.
— O que significa que é um lugar perfeito para as duas naves se
encontrarem, — concluiu Thalias. — Um lugar onde qualquer perseguidor
hesitaria em olhar. Você acha que vamos encontrar a outra nave aqui?
— Possivelmente. — Thrawn fez um intervalo novamente e Che'ri teve a
sensação de que estava olhando pra ela. — sky-walker Che'ri, você já está
pronta para retornar aos seus aposentos?
O momento de excitação desapareceu. Che'ri não fazia mais parte da
equipe, apenas alguém lá para mover a nave.
— Acho que sim, — ela respondeu com um suspiro.
— Deixe-me ajudá-la, — disse Thalias. Ela pegou o braço de Che'ri com
uma das mãos e desfez as alças de segurança com a outra. — Você está
pronta para se levantar?
— Sim, — respondeu Che'ri. Ela se levantou, parou quando a sua cabeça
girou de repente com vertigem. O universo se acalmou e assentiu. — Tudo
bem, — ela disse, e deu a volta na cadeira. Com Thalias ainda segurando o
seu braço, ela foi até a escotilha da ponte.
Um momento depois, elas estavam andando pelo corredor.
— Está com fome? — Thalias perguntou quando elas alcançaram a porta
da suíte delas. — Ou você gostaria de um banho quente primeiro?
— Um banho, — respondeu Che'ri. — Você já teve presságios de
sobrecarga como esta?
— Às vezes, — Thalias respondeu. — Principalmente quando eu estava
começando, mas tive algumas ocasionais até o fim. Provavelmente
nenhuma delas foi tão ruim quanto esta. — Ela balançou a cabeça. — Um
sistema de quatro estrelas. O pior que já tive foi um de três estrelas. Você é
incrível, Che’ri.
Che'ri torceu o nariz.
— Na verdade não.
Mas as palavras foram boas. O Capitão Thrawn tomando um tempo para
conversar com ela também a fez se sentir bem.
Um banho quente seria realmente bom.
— Bem, chegamos, — Thalias disse. — Deixe-me acomodá-la e vou
preparar o seu banho. Você gostaria do seu questis enquanto espera?
A sala de espera era menor do que Thalias esperava, e com quatro mesas
mais a equipe médica amontoada no local já estava lotada quando ela e
Samakro chegaram.
Os médicos, naturalmente, rapidamente saíram do caminho para dar ao
primeiro oficial da Falcão de Primavera algum espaço. Thalias, também
naturalmente, teve que passar por eles, evitando cotoveladas e olhares
furiosos, até chegar a um canto que não estava sendo usado.
Ainda estava ajustando a sua posição quando Thrawn e os corpos
chegaram.
Havia quatro deles, como Thrawn havia sugerido. Três eram da mesma
espécie: estatura mediana, com proeminentes protuberâncias no tórax e
quadril, a pele de um rosa claro, mas com manchas roxas ao redor dos
olhos, todos encimadas por cristas emplumadas na cabeça. Os seus braços e
pernas eram finos, mas pareciam bem musculosos. Estavam vestidos com
roupas estranhas, mas, ainda assim, com um estilo e detalhes que davam a
Thalias a impressão de ser a elegância de alguém.
O quarto corpo, em total contraste, era alto e magro, com ombros,
cotovelos, pulsos, joelhos e tornozelos aumentados. Sua pele era de um
cinza claro, e em suas têmporas havia uma linha cruzada de cicatrizes de
tatuagem verdes, vermelhas e azuis. Ele estava vestido com um macacão
vermelho escuro totalmente utilitário.
— Não há nada parecido nos nossos registros, — disse Thrawn,
apontando para os três corpos rosa. — Mas o quarto... você o reconhece,
Capitão Intermediário?
— Sim, — disse Samakro, aproximando-se e examinando o rosto rígido
dele. — Não conheço a espécie, mas aquelas cicatrizes da têmpora o
marcam como um Guia do Vazio.
Ele olhou para Thalias.
— Eles são um dos grupos que se contratam como navegadores para
viagens de longo alcance pelo Caos, — acrescentou.
— Eu sei, — disse Thalias. Ela já havia estado a bordo de uma nave de
guerra que escoltava uma missão diplomática, e as duas naves contrataram
alienígenas da Guilda dos Navegadores para ajudar a reforçar a ilusão
cuidadosamente projetada de que os Chiss não tinham navegadores
próprios. Ela e a sua cuidadora foram mantidas fora de vista na suíte dela,
mas viu algumas imagens em vídeo do navegador em seu trabalho.
Não se lembrava daquele navegador ser parecido com este Guia do Vazio
morto. Mas de qualquer forma, a guilda era composta de muitos grupos e
espécies diferentes.
— Na verdade, ficaria surpreso se você conhecesse a espécie dele, —
comentou Thrawn. — A Guilda dos Navegadores faz de tudo para não
identificar as espécies ou os sistemas de seus membros. De qualquer forma,
a presença dele é um golpe de sorte.
— Por quê? — Thalias perguntou.
— Porque alguns dos registros da ponte sobreviveram à morte da
tripulação e dos passageiros, — respondeu Thrawn. — Naturalmente, esses
registros estão na língua dos habitantes.
— O que eu presumo que nós não conhecemos? — Samakro perguntou.
— Correto, — respondeu Thrawn. — Os analisadores podem ser capazes
de fazer algo com isso, mas sem uma base linguística para começar, é
improvável que façam muito progresso.
— Mas eles também tiveram que conversar com o navegador deles, —
esclareceu Thalias ao perceber de repente aonde Thrawn queria chegar com
isso. — E a menos que ele pudesse falar a língua deles, eles teriam usado
uma linguagem comercial.
— Exatamente — disse Thrawn, inclinando a cabeça na direção dela. —
E como a principal área operacional dos Guias do Vazio se sobrepõe à
nossa, há uma chance razoável de que seja um idioma que conhecemos.
— Você disse que algumas das gravações sobreviveram, — disse
Samakro. — Algum registro de navegação entre eles?
— Excelente pergunta, Capitão Intermediário, — respondeu Thrawn,
com a voz sombria. — A resposta é não. Parece que o navegador foi o
último a morrer e apagou todos os registros que pôde antes do fim. A única
razão pela qual temos as gravações de áudio é que elas foram armazenadas
em um local diferente dos outros e ele aparentemente as esqueceu.
Thalias olhou para o corpo do Guia do Vazio, uma sensação assustadora
passou por ela.
— Ele não queria que ninguém soubesse de onde eles vieram, — ela
disse. — Ele estava trabalhando com os inimigos deles.
— Ou estava trabalhando para evitar que os inimigos deles os
retrocedessem, — sugeriu Samakro.
— Não, — disse Thrawn. — Se fosse essa a situação, o capitão teria
apagado os registros ele mesmo. A data e hora indica que não foi o caso.
Ele se voltou para Samakro.
— Estarei aqui nas próximas horas, observando a dissecção. Quero que
você faça duas cópias dos registros de áudio: uma para os analisadores e
outra para o meu exame pessoal.
— Sim, senhor, — disse Samakro. — Com a sua permissão, também
gostaria de fazer uma cópia extra para mim. O Comandante Sênior Kharill
assume a vigilância em meia hora, e posso começar a ouvi-la enquanto você
observa as coisas aqui.
— Excelente ideia, Capitão Intermediário, — disse Thrawn. —
Obrigado.
Ele olhou para o corpo do Guia do Vazio.
— Ele teve alguns problemas para esconder essas pessoas e o lar deles
de nós. Vamos ver o que podemos aprender com eles, apesar dos esforços
dele.
—
Ziara deu a ele a escolha. Ele escolheu bastão.
— Tudo bem, — disse Ziara, saltando alguns passos experimentais no
tapete e balançando os dois bastões curtos nas mãos para soltar os pulsos.
Os protetores de rosto e tórax leves não interferiam em seus movimentos,
e os bastões com revestimento macio pareciam resistentes em suas mãos,
com o mesmo peso e equilíbrio dos bastões de combate reais. — E se você
encontrou algumas gravações das minhas sessões de combate, diga agora
antes que eu o chame de trapaceiro.
— Eu nunca vi você lutar, — Thrawn garantiu a ela. — Você pode escolher
quando a luta acaba.
— Obrigada, — Ziara disse. — E esse foi o seu primeiro... erro! — ela gritou
enquanto saltava para frente. Uma rápida combinação cabeça-costela-
cabeça deve encerrar a luta antes que ele perca muito da sua dignidade.
Só que não. Thrawn bloqueou todos os três ataques, colocando os seus
bastões nos lugares certos e na ordem certa. A sua combinação costelas-
cabeça-cotovelo-finta-costelas também não passou. Nem a sua melhor
finta-finta-quadril-costelas-cabeça-finta-estômago.
Ela fez uma careta, dando um passo para trás para se recompor e
reavaliar. Sorte de iniciante, obviamente, mas estava começando a se
tornar um pouco preocupante. Até agora ele ficou apenas parado ali,
casualmente bloqueando os ataques dela, mas não lançando nenhum dos
seus. Mas isso mudaria em breve. É hora de acelerar as coisas, fazer um
ataque, forçá-lo a contra-atacar ou pelo menos fazê-lo mover os seus
malditos pés. Ela saltou para frente novamente, desviando para uma finta-
costela-finta...
Só que desta vez, na segunda finta, ele parou de ser passivo e fez o seu
movimento. Deslizando pela abertura criada pela finta, ele deu um tapinha
no bastão dela para fora da linha, girou em um círculo apertado dentro da
lacuna e trouxe o seu próprio bastão para bater levemente na lateral do
protetor de cabeça dela. Mesmo quando ela tentou trazer os dois bastões
de volta para ele, ele girou novamente e deu um longo passo para fora do
alcance dela.
Ela saltou para frente, tentando chegar até ele enquanto ele ainda
estava de costas. Mas ele foi mais rápido, virando-se para encará-la e
novamente bloqueando o ataque duplo dela.
Mais uma vez, ela recuou, aproveitando a oportunidade para tomar
umas boas respiradas. Thrawn não a seguiu, e permaneceu onde estava.
Claramente, as técnicas de combate preferidas dela não estavam
funcionando. É hora de mudar um pouco. Só porque ela gostava mais
dessas táticas melhores, não significava que não tivesse aprendido outras.
Respirando pela última vez, ela atacou novamente.
Só que desta vez, em vez de usar as combinações de finta e ataque, ela
veio direto para ele, golpeando para frente com os dois bastões, um
apontado para o rosto e outro para o peito dele. Ele bloqueou o primeiro,
mas o segundo bateu no protetor de tórax dele com um baque totalmente
satisfatório. Ela avançou, erguendo os braços para fazê-lo novamente.
Novamente, Thrawn foi mais rápido. Ele recuou rapidamente,
colocando-se fora de alcance. Ela deu mais um passo à frente, golpeando
novamente, e novamente um dos dois ataques passou. Mais uma, ela
decidiu, e ela usaria a combinação. Ela deu um passo para a frente...
E abruptamente ela se viu no meio de uma enxurrada de bastões
brilhantes enquanto ele saltava para o ataque.
Desta vez foi a vez dela recuar, xingando silenciosamente enquanto
bloqueava, aparava e tentava virar o ataque contra ele. Mas ele não estava
dando a ela nenhuma abertura. Os pés dela sentiram a mudança na
textura do tapete, avisando que ela estava chegando perto da borda.
Thrawn também viu. Ele parou, permitindo que ela diminuísse o seu
próprio recuo antes que ela pudesse bater na parede.
Outro erro. A pausa foi longa o suficiente para ela retomar a iniciativa, e
mais uma vez ela investiu contra ele.
Ele recuou lentamente, claramente mais uma vez na defensiva. Mas,
para o desgosto dela, os seus ataques estavam mais uma vez não indo a
lugar nenhum enquanto ele bloqueava cada finta e investida.
Ela interrompeu o ataque e deu um passo para trás, e por um longo
momento eles ficaram frente a frente. Antes que ele perdesse muito da sua
dignidade, o pensamento presunçoso dela voltou a zombar dela.
— Há alguma razão para continuar? — ela perguntou.
Thrawn encolheu os ombros.
— Você escolhe.
Por um longo momento, o orgulho e a determinação a impeliram a
continuar. O bom senso venceu.
— Como? — ela perguntou, abaixando os seus bastões e caminhando até
ele.
— As suas esculturas mostram o seu gosto por combinações espaçadas,
— respondeu Thrawn, abaixando os seus próprios bastões para os lados. —
Particularmente padrões de três e quatro espirais. Os seus temas favoritos;
groundlions, dragonelles e pássaros predadores; indicam os ataques
curtos, fintas de hesitação e agressão. A forma particular das áreas abertas
mostra como você compõe as suas fintas, e o estilo angular sugere que um
ataque giratório seria inesperado e desconcertante o suficiente para
retardar a sua resposta.
Que, ela lembrou, tinha sido o primeiro ataque bem-sucedido dele.
— Interessante, — Ziara disse.
— Mas o que se seguiu foi igualmente instrutivo, — continuou Thrawn.
Ele ergueu as sobrancelhas ligeiramente em um convite óbvio.
Ziara sentiu uma onda de irritação. Ela era a veterana ali, não ele. Se
havia alguém que deveria recitar lições e oferecer análises, deveria ser ele,
não ela.
Ela percebeu instantaneamente que foi, sobre o pensamento mais
estúpido que já teve em sua vida. Apenas um tolo desperdiça uma
oportunidade de aprender.
— Percebi que você descobriu o meu padrão e mudei de tática, — ela
disse. — E funcionou, pelo menos por alguns ataques. Então você atacou, e
depois disso eu não consegui mais passar de novo.
— Você sabe por quê?
Ziara franziu a testa, pensando sobre a luta...
— Eu voltei para as minhas velhas táticas, — ela respondeu com um
sorriso irônico. — Aquelas que você já tinha descoberto como vencer.
— Exatamente, — disse Thrawn, sorrindo de volta. — Uma lição para todos
nós. Em momentos de estresse ou incerteza, nós tendemos a cair no que é
familiar e confortável.
— Sim, — Ziara murmurou, de repente percebendo onde ela estava em
relação a ele. Bem dentro do alcance do ataque... e ela nunca disse
explicitamente que a luta acabou.
O momento de tentação passou. Só porque ela não havia parado
oficialmente, não significava que seria justo reiniciá-lo unilateralmente.
Thrawn havia se comportado com honra. Ela não podia fazer menos.
— E o cuidado que você dedica às esculturas mostra que você tem honra
demais para pregar peças de má qualidade contra um parceiro de treino, —
acrescentou Thrawn.
Ziara sentiu o seu rosto esquentar.
— Você tem certeza disso?
— Sim.
Por um longo momento ela foi tentada novamente. Então, girando
sobre os calcanhares, ela caminhou pelo tapete e devolveu os bastões ao
suporte de armas.
— Tudo bem, — ela disse por cima do ombro enquanto começava a tirar
a sua armadura de treino — Estou impressionada. Você realmente acha que
pode fazer a mesma coisa com culturas e táticas alienígenas?
— Sim, — respondeu Thrawn. — Algum dia, espero ter a chance de provar
isso.
C inco horas depois que a Falcão de Primavera se escondeu, Thrawn e
Thalias se prenderam em uma das naves de transporte do cruzador e se
dirigiram para o aglomerado de asteroides em direção à estação espacial
escura flutuando à distância.
— A jornada pode ser um pouco tediosa, — Thrawn avisou enquanto se
moviam entre as rochas flutuantes e a poeira. — Usaremos os jatos de
manobra exclusivamente para evitar quaisquer emissões de propulsão que
os nossos adversários possam detectar. Isso torna a viagem mais lenta.
— Entendo, — disse Thalias.
— E ainda, temos a chance de conversar em particular, — continuou
Thrawn. — Como você está vendo o seu trabalho como cuidadora?
— É um desafio, — admitiu Thalias, um alarme silencioso soando no
fundo da sua mente. Thrawn poderia tê-la chamado no escritório dele a
qualquer momento desde que deixou a Ascendência, se ele apenas quisesse
conversar em particular.
Ele sabia sobre aquela conversa de última hora com Thurfian, e o acordo
que o síndico havia a forçado fazer?
— Che'ri é muito fácil de conviver, mas há algumas coisas com que toda
sky-walker lida que podem ser difíceis.
— Pesadelos?
— E dores de cabeça e mudanças de humor ocasionais, — respondeu
Thalias. — Além de ser apenas uma criança de nove anos.
— Especialmente para alguém que é vital para o funcionamento da nave
e sabe disso?
— Certo... As histórias de terror da arrogância e das exigências das sky-
walkers, — Thalias disse com desdém. — Pura lenda da camada gelo. Eu
nunca conheci alguém que realmente viu isso acontecer. Cada sky-walker
que conheci foi na direção oposta.
— Sentimentos de inadequação, — disse Thrawn. — O medo de que não
corresponda ao que o seu capitão e a sua nave exigem dela.
Thalias assentiu com a cabeça. Como os pesadelos, esses eram
sentimentos dos quais ela se lembrava muito bem.
— As sky-walkers estão sempre preocupadas em perder a nave ou fazer
algo errado.
— Embora os registros indiquem muito poucos desses incidentes, —
disse Thrawn. — E a maioria das naves afetadas eventualmente retornou
com segurança via salto em salto. — Ele fez uma pausa. — Presumo que a
Che’ri não está enfrentando nenhum desafio que você mesma não teve que
superar?
— Não, — Thalias respondeu com um suspiro silencioso. Ela realmente
não esperava que Thrawn a deixasse embarcar sem fazer uma verificação
nela, mas ainda esperava que ele, de alguma forma, não percebesse o fato
de que ela já fora uma sky-walker. — Além de toda a parte sobre voar para
um possível perigo.
— O perigo é uma parte implícita do que fazemos.
— Exceto que todos vocês se ofereceram para esta vida, — apontou
Thalias. — Nós, sky-walkers, não tivemos essa escolha.
Thrawn ficou em silêncio por um momento.
— Você está certa, é claro, — ele disse. — O bem maior da Ascendência
é o fundamento lógico. Também a verdade, é claro. Mas o fato permanece.
— Sim, — disse Thalias. — Pelo que vale a pena, não acho que
nenhuma de nós ressente o nosso serviço. Quero dizer, além dos medos e
pesadelos e tudo. E a Ascendência precisa de nós.
— Talvez, — disse Thrawn.
Ela franziu a testa para ele.
— Só talvez?
— Uma conversa para um outro dia, — respondeu Thrawn. —
Mostrador Quatro. Você vê isso?
Ela voltou a sua atenção para o painel de controle na frente deles.
Mostrador Quatro... Aquele.
Centrado na tela estava uma pequena fonte de calor. Uma fonte de calor
proveniente de uma posição orbital próxima ao planeta habitado do sistema.
Uma fonte de calor que o computador calculou como vindo diretamente
na direção deles.
— Eles nos avistaram, — ela respirou, o seu coração de repente batendo
forte em sua garganta.
— Talvez, — disse Thrawn, ainda parecendo pensativo. — O momento
certamente sugere isso, como foi há apenas trinta segundos que a nave
ativou os seus propulsores para este nível de potência.
— Está vindo direto em nossa direção, — ela disse, sentindo uma onda
repentina de claustrofobia na cabine muito apertada. Estavam em uma nave
auxiliar, não em uma nave de combate, sem armas, sem defesas e com toda
a capacidade de manobra de uma lesma do pântano. — O que nós fazemos?
— Isso pode depender de quem eles são e para onde estão indo, —
respondeu Thrawn.
Thalias franziu a testa para a tela.
— O que você quer dizer? Eles estão vindo em nossa direção, não estão?
— Eles também podem estar indo em direção a Falcão de Primavera, —
respondeu Thrawn. — Ou possivelmente é apenas uma viagem programada
para a estação de mineração e o momento é mera coincidência. Pela
distância deles, e neste ponto do caminho deles, é impossível definir com
mais precisão o seu ponto final derradeiro.
— Então, o que fazemos? — Thalias perguntou. — Podemos voltar a
Falcão de Primavera a tempo?
— Possivelmente, — respondeu Thrawn. — A questão mais imediata é
se nós queremos.
— Se nós queremos? — Thalias repetiu, olhando pra ele.
— Viemos aqui para descobrir se este é o ponto de origem dos
refugiados massacrados, — lembrou Thrawn. — A minha intenção era
estudar a estação de mineração, mas uma conversa direta seria mais rápida e
informativa.
— Só se eles não atirarem em nós à primeira vista.
— Eles podem tentar, — disse Thrawn. — Diga-me, você já disparou
uma charric?
Thalias engoliu em seco.
— Eu pratiquei com uma algumas vezes no campo de tiro, — ela disse.
— Mas sempre em baixa potência, nunca em alta.
— Não há muita diferença operacional entre essas configurações. —
Thrawn apertou algumas teclas no seu console. — Bem. A menos que a
nave aumente a sua velocidade nas próximas duas horas, nós devemos
chegar na estação de vinte a trinta minutos antes dela.
— E se ela tiver como objetivo a Falcão de Primavera? — Thalias
perguntou. — Não deveríamos avisá-los?
— Eu tenho certeza de que o Capitão Intermediário Samakro já os notou,
— garantiu Thrawn. — Mesmo que tenham visto a Falcão de Primavera, e
há uma boa chance de que não, acho que há uma maneira de garantir que os
nossos visitantes parem na estação primeiro.
— Como?
Thrawn sorriu.
— Nós os convidamos a entrar.
—
A viagem transcorreu sem intercorrências. No comando do capitão, Qilori
colocou o seu fone de ouvido de privação sensorial e entrou em seu
transe, deixando a Grande Presença sussurrar dentro e ao redor e através
dele.
Como de costume, a Grande Presença foi avarenta com a Sua sabedoria
e percepções, tornando a viagem um pouco mais lenta do que Qilori
gostaria. Felizmente, o espaço nesta parte do Caos era relativamente
harmonioso, com apenas algumas das anomalias que tornavam
navegadores como os Rastreadores necessários para viagens
interestelares de longo alcance. Eles chegaram a Bardram Scoft alguns
minutos antes do cronograma proposto pelo capitão, e em muito menos
tempo do que uma viagem salto em salto teria levado. Em resumo, Qilori
decidiu enquanto tirava o fone de ouvido, ele merecia o seu pagamento.
Ele piscou para afastar as teias de aranha pós-transe, flexionando a
rigidez dos seus dedos. O planeta apareceu grande na janela quando a
nave entrou em órbita. A ponte estava praticamente vazia, apenas com
Qilori e um piloto ainda lá.
— Onde está todo mundo? — ele perguntou.
— Preparando o embaixador para a cerimônia de boas-vindas, — disse o
piloto. — A cultura Scoftic exige que o oficial militar de mais alta patente
acompanhe o embaixador, e pode ser que haja outros protocolos a serem
observados.
— Talvez? — Qilori perguntou, franzindo a testa enquanto examinava o
céu. Havia muitas naves lá fora, mais do que ele já tinha visto em um
mundo atrasado como este. — Achei que vocês, Chiss, gostassem de estar
preparados para tudo com antecedência.
— Nós gostamos, — disse o piloto. — O governo de Scoftic mudou
novamente, e com ele os protocolos. Nosso embaixador deve reaprendê-
los.
— Ah, — disse Qilori. Então era isso. Um novo governo, e todos próximos
enviaram emissários para oferecer os seus melhores votos e avaliar o
recém-chegado. — Não sabia que o antigo Governador tinha estado
adoentado.
— Não estava, — disse o piloto. — Ele foi assassinado. Que nave é aquela?
— O que? — Qilori perguntou, os seus winglets tremulando de surpresa.
Assassinado? — E todo mundo está bem com isso?
— Não é inédito entre os Scofti, — respondeu o piloto calmamente. —
Aquela nave. Que nação ela representa?
Qilori espiou pela janela de exibição, ainda lutando com a casualidade
de tudo isso.
— Acho que é uma Lioaoin .
— É um novo design?
— Eu não sei. Como eu deveria saber?
— Você é um navegador, — respondeu o Chiss. — Você vê muitas naves,
de muitas nações.
— Sim, mas eu vejo principalmente apenas o interior, — Qilori explicou,
franzindo a testa. — Por que o interesse repentino?
— Essa embarcação mostra muitas das mesmas características de um
grupo de naves piratas que têm atacado cargueiros nos limites externos da
Ascendência Chiss.
— Sério? — Qilori perguntou, tentando soar surpreso. Correram rumores
sombrios entre os vários grupos de navegadores de que o regime de
Lioaoin se voltara para a pirataria para sustentar a sua economia
decadente. A maioria das histórias veio dos Guias do Vazio, que
trabalhavam mais naquela região em particular, mas ele ouviu alguns dos
seus companheiros Rastreadores falando sobre isso também.
Ele não poderia dizer isso ao piloto, é claro. As regras de
confidencialidade e neutralidade dos Navegadores da Guilda eram
inquebráveis. — Parece bastante improvável.
— Você não acredita que um grupo pirata compraria as naves deles de
um fabricante local?
— Oh, — Qilori disse, sentindo uma leve sensação de alívio. Então os
Chiss nem pensavam que os Lioaoi estavam oficialmente envolvidos. —
Não, entendo o que você quer dizer. Suponho que seja possível.
— Sim, — disse o piloto. — Você já viajou para o espaço Lioaoin?
— Uma ou duas vezes, sim.
— Você poderia encontrar o caminho até lá de novo?
— Da Ascendência Chiss? Claro. Eu poderia encontrar o meu caminho
para qualquer sistema que você quisesse. Isso é o que os navegadores
fazem.
— O Regime de Lioaoin servirá por enquanto, — disse o piloto. —
Suponha que eu quisesse me aproximar por uma direção diferente da
Ascendência? Digamos, daqui de Bardram Scoft?
— Estamos indo para lá?
O piloto olhou para fora do visor por outro momento.
— Ainda não, — ele respondeu, a sua voz pensativa. — Talvez mais tarde.
Qual o seu nome?
— Qilori de Uandualon, — Qilori disse, franzindo a testa. Para onde o
Chiss estava indo com essa linha de questionamento?
— Você normalmente é encontrado na estação da Guilda dos
Navegadores, onde o contratamos?
— Eu me movo muito entre as várias estações da guilda, — respondeu
Qilori. — Obviamente. Mas o Terminal Quatro Quarenta e Sete é a minha
estação base oficial.
— Bom, — disse o Chiss. — Talvez possamos trabalhar juntos no futuro.
— Isso seria maravilhoso, — disse Qilori, estudando o perfil do Chiss.
Poucos deles se preocuparam em aprender o seu nome, muito menos
querer saber como encontrá-lo. Poucos ainda se preocupariam em estudar
o design da nave de outras espécies.
Quem era esse Chiss, afinal?
— E o seu nome? — ele perguntou. — No caso de você pedir
especificamente por mim?
— Comandante Junior Thrawn, — respondeu o Chiss suavemente. — E
sim. Com certeza eu vou pedir por você.
Q ilori nunca esperou que o Chiss chamado Thrawn escurecesse o seu
céu novamente. Certamente esperava que não. Mas ainda assim, aqui estava
ele, de volta ao Terminal da Guilda, perguntando especificamente por Qilori
de Uandualon.
E um capitão sênior agora, para começar. Qilori não sabia muito sobre as
patentes militares e cronogramas de promoção dos Chiss, mas tinha a nítida
impressão de que Thrawn era mais jovem do que a maioria dos Chiss que
tinha alcançado esse posto.
Considerando o que aconteceu em Kinoss alguns anos atrás, ele supôs
que não deveria estar muito surpreso.
— É bom ver você de novo, Qilori de Uandualon, — disse Thrawn
enquanto Qilori era conduzido para a ponte.
— Obrigado, — Qilori disse, olhando ao redor. Nunca tinha estado em
uma nave de guerra Chiss antes, e a diferença entre esta e os seus cargueiros
usuais e os seus designados como cruzador diplomático era como a
diferença do doce para o azedo. Painéis de armas, painéis de defesa, painéis
de situação, vários monitores, uma guarnição completa de peles-azuis com
uniformes pretos...
— Você está familiarizado com o sistema Rapacc? — Perguntou
Thrawn.
Qilori desviou a sua atenção das luzes e mostradores, lutando para
manter as winglets de suas bochechas paradas. Rapacc. Esse era um dos
lugares que Yiv, o Benevolente tinha sob bloqueio, não era?
Sim, ele tinha certeza disso. Qilori não sabia o plano final de Yiv, se o
Benevolente anexaria diretamente o sistema ou deixaria os Paccosh como
tributários. Mas de qualquer forma, os Nikardun certamente já estavam lá.
O que a Grande Presença de Nome Thrawn queria em Rapacc?
— Rastreador? — Thrawn solicitou.
Abruptamente, Qilori lembrou que uma pergunta havia sido feita.
— Sim, eu conheço o sistema, — ele respondeu, novamente tentando
manter as suas winglets firmes. — Difícil de entrar. Nada muito interessante
depois que você faz.
— Você poderia se surpreender, — disse Thrawn. — De qualquer forma,
esse é o nosso destino. — Ele apontou para a estação do navegador. — À
sua conveniência.
Não havia nada a fazer. Regras da Guilda à parte, Qilori não poderia
dizer a Thrawn que os Nikardun ficariam tão felizes em cortar uma nave de
guerra Chiss em pedaços, quanto fariam com qualquer outro intruso
indesejado. Além de todas as outras considerações, um aviso como esse
poderia levar Thrawn a se perguntar como Qilori sabia tanto sobre Yiv e os
Nikardun, e onde aprendeu isso.
Então Qilori levaria os Chiss para Rapacc conforme ordenado. E pediria
para a Grande Presença que o supervisor Nikardun do sistema levasse
algum tempo para puxar o valioso e totalmente inocente Rastreador dos
destroços antes de ordenar a destruição final da nave.
Ele esperaria muito por isso, muito mesmo.
Já era tempo.
O disco cintilante da Grande Presença apareceu nos olhos cegos de
Qilori. O estrondo ondulante ecoou em seus ouvidos bloqueados.
Alcançando cegamente a alavanca do hiperpropulsor à sua direita, tirou a
barra de travamento e envolveu a alavanca com os dedos. Esperou até que o
disco enchesse a sua visão, então delicadamente empurrou a alavanca para
frente. Esperou mais um momento, saboreando a experiência uma última
vez, então desligou a parte de bloqueio de som do seu fone de ouvido.
A Grande Presença desapareceu quando um zumbido baixo de vozes de
Chiss encheu os seus ouvidos. Tirou o fone de ouvido, piscando enquanto
os seus olhos se ajustavam à luz silenciosa da ponte e espiava pela janela.
Eles haviam chegado.
Casualmente, olhou ao seu redor. Todas as estações estavam ocupadas,
mas nenhum dos Chiss parecia estar olhando para ele. Mantendo seus
movimentos pequenos, ele alcançou uma das bolsas de armazenamento
embutidas em sua faixa de identificação e acionou o seu comunicador. Ele
passou os últimos três períodos de descanso gravando uma mensagem para
as naves Nikardun à espreita lá fora e, em seguida, descobrindo como
conectar-se ao transmissor de curto alcance da nave.
Uma voz aguda do Chiss na estação do sensor cortou o zumbido de
conversa. Qilori correu os olhos rapidamente pelos monitores, encontrou a
tela tática...
Sentiu as winglets da sua bochecha vibrarem. Três naves navegavam em
direção a Falcão de Primavera, uma de estibordo e as outras duas por trás.
As marcações no visor estavam todas em escrita Cheunh ilegível, mas sabia
que as naves tinham que ser Nikardun.
A suas winglets vibraram com mais força. Se os atacantes tivessem
recebido a sua mensagem, e se o comandante do bloqueio decidisse que
valia a pena salvar um Rastreador, poderiam pegar leve com a sua presa,
pelo menos até que tivessem tirado a maior parte de vida dela.
Se o comandante não estivesse se sentindo tão caridoso, Qilori tinha
visto a sua última aproximação estelar.
O convés deu um solavanco repentino. Qilori estremeceu em resposta,
esperando ver um brilho de fogo laser ou uma parede de chamas de um
míssil através da parede da ponte. Mas nada. Olhou para a tela tática
novamente, franzindo a testa.
E tenso. O choque não foi um ataque Nikardun, mas o recuo foi de uma
nave separando-se do flanco da Falcão de Primavera. Mesmo enquanto
observava, a nave se dirigiu ao sistema interno e ao planeta Rapacc em uma
aceleração incrivelmente alta.
Cerrou os dentes. Se Thrawn esperava que quem estava lá escapasse, já
havia perdido a sua aposta. Os dois perseguidores da popa desviaram,
acelerando por sua vez enquanto perseguiam a nave de transporte. Qilori
não conseguia ler as marcações nas curvas de velocidade por interceptação,
mas não tinha dúvidas de que os dois Nikardun pegariam a nave muito
antes dela alcançar Rapacc ou mesmo a segurança relativa de um dos
aglomerados de asteroides. Eles a pegariam e, com uma rajada de fogo laser
ou a torção mais delicada de um raio trator, eles a destruiriam ou
capturariam.
Na tela tática, viu que a Falcão de Primavera, com a sua missão
aparentemente cumprida, estava agora se afastando do sistema interno e da
nave de transporte em fuga. Tentando, sem dúvida, se livrar da coleção de
detritos em órbita do sistema e chegar a um ponto seguro de salto no
hiperespaço antes que o seu perseguidor remanescente pudesse entrar no
alcance de combate. Qilori olhou para a tela tática, notando que o Nikardun
havia aumentado a sua própria velocidade.
Ele franziu a testa. O perseguidor restante. A última das três naves
Nikardun que estavam paradas no ponto de entrada da Falcão de
Primavera, e pronta para entrar na batalha.
Um ponto que Thrawn havia especificado deliberadamente entre o
punhado de vetores seguros disponíveis. Foi simplesmente má sorte que os
levou a um ponto onde três Nikardun estavam esperando?
Talvez. Talvez se simplesmente não soubesse o suficiente sobre o
sistema.
Mas, nesse caso, por que não saiu do hiperespaço muito mais longe e fez
pelo menos um rápido reconhecimento antes de comprometer a si mesmo e
a sua nave com esse vetor? Pelo menos então poderia ter encontrado um
caminho ou rota que daria a sua nave uma chance melhor de chegar a algum
lugar antes de ser destruída.
Um calafrio percorreu as suas costas. Não, Thrawn não poderia ser tão
míope. Não o Thrawn cujas táticas de batalha Qilori tivera o azar de ver em
primeira mão.
O que deixava apenas uma outra opção. Thrawn havia chegado neste
vetor em particular porque queria que os Nikardun o atacassem.
Qilori olhou pra frente e pra trás entre as bancadas de telas, tentando
entender tudo isso. A Falcão de Primavera era apenas uma finta, uma
distração para deixar o verdadeiro intruso entrar no sistema Rapacc sem
impedimentos? Poderia haver alguém lá fora seguindo para os aglomerados
de asteroides, talvez, movendo-se furtivamente na esperança de que, com a
atenção dos Nikardun focada aqui, eles não fossem localizados até que
fosse tarde demais?
Mas não conseguia ver nada parecido em nenhuma das telas. Nenhuma
outra nave, nenhum outro vetor, nenhuma indicação de qualquer outra coisa
no sistema. Certamente os Chiss teriam as suas próprias embarcações
marcadas, mesmo que fossem furtivas e indetectáveis para os Nikardun.
Não teriam eles?
A nave patrulha Nikardun em perseguição aumentou a velocidade. Qilori
observou nervosamente quando ela finalmente atingiu o alcance de tiro...
Abruptamente, como se Thrawn acabasse de notar a ameaça surgindo a
estibordo, a Falcão de Primavera deu uma guinada brusca para longe do
seu atacante. A nave perseguidora abriu fogo com os seus lasers de
espectro, e um grande pedaço de destroços se desprendeu do flanco da nave
Chiss e caiu pra trás. A Falcão de Primavera mudou de direção, apenas
ligeiramente, o Nikardun ajustando o seu próprio vetor para corresponder.
E de repente Qilori percebeu o que estava acontecendo. O objeto caindo
atrás da Falcão de Primavera não eram os destroços da batalha do ataque
Nikardun, como ele pensava. Era, na verdade, outra das naves de transporte
da nave Chiss.
E o Nikardun, agora disparando em direção a Falcão de Primavera em
alta velocidade, estava prestes a bater direto nela.
O primeiro pensamento horrível de Qilori foi que o transporte espacial
iria se chocar contra o visor de grandes dimensões da ponte que marcava
todas as naves de combate de Yiv. Mas o capitão Nikardun avistou o
obstáculo a tempo de girar a nave para o lado.
Infelizmente, não houve tempo para girar o suficiente. O transporte
espacial perdeu a janela ao chocar contra o agrupamento de armas de
bombordo, destruindo aquele grupo de lasers e lançadores de mísseis e
fazendo a nave girar.
Um segundo depois, a paisagem estelar fora da janela da Falcão de
Primavera girava loucamente enquanto a nave Chiss fazia a sua própria
rotação. Qilori agarrou seus apoios de braço, lutando contra a vertigem,
enquanto o movimento da Falcão de Primavera trouxe a popa do tombado
Nikardun à vista. Houve um brilho múltiplo de fogo laser, e o brilho
amarelo ardente dos bicos do propulsor do Nikardun chamejou uma vez e
depois desapareceu quando os motores danificados atrás dos bicos
desligaram. Qilori prendeu a respiração, esperando pela salva de tiros que
transformaria a nave indefesa em pó.
A salva não veio. Em vez disso, a Falcão de Primavera desacelerou,
esperando o impulso dos Nikardun para trazê-la mais perto. A nave Chiss
moveu-se pra cima e pra baixo, estabelecendo-se acima da crista dorsal do
sensor do Nikardun, fora da linha dos aglomerados de armas restantes do
flanco. Na tela tática, as linhas verdes de dois feixes de trator surgiram,
conectando as duas naves. O círculo nebuloso de uma rede Incapacitadora
saiu do casco da Falcão de Primavera entre os projetores de raio trator e
envolveu a embarcação Nikardun, enviando uma carga de alta voltagem
pelo casco e eliminando a possibilidade de que a tripulação pudesse ativar
um sistema de destruição.
E quando a Falcão de Primavera se voltou em direção ao hiperespaço,
todas as peças finalmente se encaixaram no padrão deles.
A nave em fuga, funcionando em automático, Qilori percebeu agora,
tinha sido realmente uma distração. Mas não para a segunda nave Chiss.
Isto era só o Thrawn, e os trouxe para aquele local específico porque queria
que os Nikardun o perseguissem. Essa coisa toda nunca foi sobre morte,
destruição, infiltração, ou mesmo apenas entregar uma mensagem a Yiv.
Thrawn simplesmente entrou na esperança de capturar uma nave Nikardun.
E ele fez isso.
— Rastreador? — A voz de Thrawn veio bem atrás dele.
Qilori estremeceu.
— Sim Capitão? — ele gerenciou.
— Estaremos viajando para um sistema próximo para entregar o nosso
prêmio, — disse Thrawn. Disse isso tão casualmente também, como se eles
tivessem acabado de pegar um pedido de mantimentos na loja da esquina.
— Depois disso, voltaremos ao Terminal Quatro Quarenta e Sete. Você vai
precisar de um tempo de descanso antes de partirmos?
— Não, não por enquanto, — respondeu Qilori. Thrawn pode não
parecer ansioso por deixar esta vizinhança pra trás, mas Qilori com certeza,
como a Grande Presença estava.
— Ótimo, — disse Thrawn. — Acredito que você achou o exercício
interessante?
Com esforço, Qilori espalmou as suas winglets contra as bochechas.
— Sim, capitão, — ele respondeu. — Muito interessante mesmo.
Não era fácil nem mesmo para um Rastreador requisitar uma nave para o
seu uso pessoal. Mas Qilori estava no Terminal tempo suficiente para
acumular uma coleção de favores devidos.
O mais importante, tinha uma coleção de material de chantagem contra
várias pessoas importantes. Entre os favores e as ameaças, logo se viu
fugindo da estação, com destino ao sistema Primea, capital do Combinado
Vak.
Trinta e cinco horas depois, ele estava lá.
Primea estava no estágio inicial de uma conquista Nikardun, o que
significava que Yiv ainda estava cumprimentando e se reunindo com líderes
planetários, falando sobre os benefícios de se juntar ao Destino Nikardun e
deixando as suas naves de guerra em órbita fornecerem um aviso silencioso
do que aconteceria se eles se recusassem. Qilori deu seu nome e a urgência
da sua missão ao primeiro porteiro, ao segundo porteiro e ao terceiro. Seis
horas após a sua chegada, ele foi finalmente conduzido à sala do trono de
Yiv a bordo do Couraçado de Batalha Imortal.
— Ah, Qilori! — Yiv chamou, com a sua alegre voz estrondosa ecoando
na quietude opressora da sala do trono. Dobrados sobre os ombros como
dragonas vivas estavam os fios fungóides das estranhas criaturas que ele
assumiu como simbiontes. Sua mandíbula fendida estava aberta no que
passava por um sorriso para um Nikardun, mas que Qilori sempre achou
que parecia mais um predador se preparando para atacar.
Pelo menos ele estava de bom humor, Qilori pensou com uma pontada de
alívio. As conversas com os Vaks devem estar indo bem.
— Venha. Diga-me quais notícias você traz dos lábios da Grande
Presença.
Qilori fez uma careta enquanto caminhava na manopla entre as duas
linhas de soldados Nikardun vigilantes. Yiv estava zombando dele, é claro,
como zombava ou rejeitava a todos os que não acreditavam apenas na
divindade do próprio Yiv. Mas agora o famoso ego do Benevolente não era
tão preocupante quanto o seu temperamento um pouco menos famoso.
Qilori nunca trouxera más notícias a Yiv antes. Não tinha ideia de como
esses mensageiros eram tratados.
— Trago notícias de Rapacc, sua Benevolência, — ele disse, parando
entre o último par de guardas na manopla e caindo pra frente para deitar de
bruços no convés frio aos pés de Yiv. — Notícias e um aviso.
— Essa notícia já foi dada, — disse Yiv, com o seu jeito jovial anterior
desaparecendo como o orvalho da manhã sob dois sóis. — Você acha que
vai perder o meu tempo com uma história que já conheço?
— De jeito nenhum, sua Benevolência, — Qilori respondeu, com as suas
costas coçando com os olhos e as armas que sem dúvida estavam
direcionadas nelas. — Já esperava que você soubesse que uma de suas
fragatas de bloqueio foi capturada. O que eu vim aqui para acrescentar a
essa história é o nome do responsável.
— Você era o navegador nessa nave?
— Sim, sua benevolência. Ele pediu especificamente por mim.
Por um longo momento, Yiv permaneceu em silêncio. Qilori manteve a
sua posição, tentando ignorar a sensação arrepiante ondulando por sua pele.
— Levante-se, Rastreador — disse Yiv por fim. — Levante-se e conte-
me tudo.
Com uma sensação de alívio, Qilori ficou de pé. Algo bateu em seus
ombros com um golpe curto, mas forte; apressadamente, ele caiu de
joelhos.
— O Chiss veio e me contratou...
— O nome dele, Qilori, — Yiv disse, sua voz suave e mortal. — Eu já
sei que a nave era Chiss. Eu quero o nome dele.
As winglets de Qilori vibraram.
— Thrawn. Capitão Sênior Thrawn.
— Seu nome completo.
As winglets endureceram em pânico.
— Eu não sei, — ele respirou. — Eu nunca o ouvi.
— E você não se preocupou em aprender pra mim?
— Sinto muito, — respondeu Qilori, olhando para os pés de Yiv, sem
ousar levantar os olhos para aquele rosto jovial e implacável. Ele iria morrer
hoje, ele sabia com uma sensação sombria de sua frágil mortalidade. A
Grande Presença o esperava.
Ele seria absorvido e perdido para sempre? Ou ele seria considerado
digno de cavalgar as cristas do hiperespaço, guiando futuros Rastreadores
através do Caos?
Por um longo momento, a sala ficou em silêncio.
— Você o encontrará de novo, — disse Yiv por fim. — Quando o fizer,
obterá para mim o nome completo dele.
— Claro, sua Benevolência, claro, — Qilori disse rapidamente, temendo
a esperança cantando de repente através dele. Misericórdia? De Yiv, o
Benevolente?
Não, claro que não. Yiv não sentiu misericórdia. Qilori era simplesmente
uma ferramenta que ainda valia a pena manter.
Para o momento.
— Volte para a sua estação, — disse Yiv. — Guie as suas naves. Faça o
seu trabalho. Viva sua vidinha patética. E me traga o nome dele.
— Eu irei, — Qilori prometeu. — Enquanto a respiração permanecer em
mim, eu nunca vou deixar de servi-lo.
— Exatamente, — disse Yiv, uma pitada de seu humor habitual
finalmente aparecendo na escuridão. — Enquanto a respiração permanecer
em você.
O General Ba’kif terminou de ler a proposta e ergueu os olhos do seu
questis.
— Você está falando sério, Comandante Júnior, — ele disse
categoricamente.
— Muito sério, General, — confirmou o Comandante Júnior Thrawn. —
Estou convencido de que o governo Lioaoin está conectado aos piratas
que tem atacado os nossos transportes em Schesa e Pesfavrinos nos
últimos meses.
— E você acha que este Rastreador sabe disso?
— Qilori, — respondeu Thrawn. — Sim, ele sabe, ou pelo menos suspeita.
— Seria difícil manter um segredo como esse da Guilda de
Navegadores, — concordou Ba’kif, estudando novamente os números. Um
salto em salto do espaço Lioaoin para os mundos da Ascendência afetados
certamente seria mais seguro para aqueles com intenções criminosas, sem
a necessidade de envolver testemunhas externas. Mas tal viagem levaria
pelo menos três semanas de viagem em cada sentido. Nessas
circunstâncias, era razoável que os piratas optassem por velocidade e
eficiência, contando com a confidencialidade da guilda para manter o seu
segredo. — Você tem certeza de que as naves são as mesmas?
— Os designs são diferentes o suficiente para impedir conexões óbvias,
— respondeu Thrawn. — Mas existem semelhanças notáveis que vão além
da mera funcionalidade.
Ba’kif assentiu. Ele havia tido algumas conversas com a Capitã
Intermediária Ziara sobre as teorias de arte e táticas de Thrawn, e eles
relutantemente concluíram que nenhum deles tinha qualquer centelha de
visão ou gênio, ou insanidade, necessários para fazer as conexões que
Thrawn parecia fazer para compreender intuitivamente.
Mas só porque não podiam ver, não significava que ele estava errado.
— Suponha que você esteja certo, — ele disse. — Além disso, assuma que
você pode provar isso. O que fazer então?
Uma carranca enrugou a testa de Thrawn.
— Eles atacaram as naves da Ascendência, — ele respondeu, como se
esperasse uma armadilha oculta nas palavras de Ba’kif. — Nós distribuímos
punições.
— E se os próprios Lioaoi não estiverem envolvidos? — Perguntou Ba’kif.
— E se os piratas simplesmente compraram ou alugaram naves Lioaoin?
— Eu não estava sugerindo que atacássemos o Regime de Lioaoin ou os
mundos, — respondeu Thrawn. — Apenas os piratas.
— Se você puder distingui-los dos inocentes, — Ba’kif avisou. — Temos
poucos dados sobre o design atual das naves Lioaoin. Por falar nisso, os
Lioaoi e os piratas poderiam ter comprado a mesma nave de um terceiro.
— Entendo, — disse Thrawn. — Mas acredito que poderei deixar claro
quais naves são inimigas e quais são amigas.
— Vou me contentar com quais são as inimigas e quais são as neutras, —
disse Ba’kif amargamente. — A Ascendência mal reconheceu a existência
de outros lá fora, muito menos mostrou qualquer interesse em fazer
amizade com qualquer um deles.
— Inimigos e neutros, então, — Thrawn emendou. — Se não conseguir
fazer uma distinção clara, não irei tomar nenhuma providência.
Por um momento, Ba’kif olhou pra ele. O homem era inteligente o
suficiente, e Ba'kif tinha visto as suas habilidades estratégicas e táticas.
A questão era se talvez tivesse um pouco de confiança demais em si
mesmo. Se tivesse, e se essa confiança o fizesse ultrapassar os limites,
alguma operação no futuro poderia explodir na sua cara. Possivelmente a
mesma operação que estava propondo agora.
Mas esse grupo específico de piratas estava se tornando mais do que
apenas um incômodo. Eles precisavam ser tratados antes que alguém
tivesse a ideia de que a Ascendência poderia ser atacada impunemente.
Se Thrawn achou que tinha encontrado a alça de que precisavam, valia a
pena tentar.
— Muito bem, Comandante Júnior, — ele disse. — De quantas naves você
precisa?
— Apenas duas, senhor. — Thrawn considerou. — Não. Na verdade, seria
melhor se eu tivesse três.
—
A sensação da Grande Presença desapareceu e Qilori removeu o seu fone
de ouvido para descobrir que haviam chegado. O mundo central do
Regime de Lioaoin se estendia diante deles, verde, azul e branco, cercado
por um enxame de cargueiros, mensageiros, estações de ancoragem e
reparos e naves patrulha militares vigilantes.
Com o canto do olho, ele viu Thrawn se inclinar pra frente.
— Bem? — Qilori perguntou com cuidado.
Por alguns segundos, Thrawn ficou em silêncio. Então ele assentiu com
a cabeça.
— Sim, — ele disse. — Estas são as naves.
Qilori estremeceu, as winglets da sua bochecha enrijeceram.
— Você tem certeza?
— Muita certeza, — respondeu Thrawn. — O design das embarcações de
patrulha é semelhante o suficiente aos das naves piratas para não deixar
dúvidas.
— Entendo, — disse Qilori. Na verdade, não entendia, pra ele, as naves-
patrulha não se pareciam em nada com as que os corsários de Lioaoin
usavam.
Mas o que ele pensava não importava. Thrawn estava convencido, e se
informasse à Ascendência, provavelmente haveria uma resposta altamente
letal. E era igualmente provável que mais do que alguns Rastreadores
ficassem no meio.
Se Thrawn poderia realmente transmitir essa informação a alguém
importante, é claro, era a questão crucial. O seu cargueiro já estava
profundo o suficiente no poço gravitacional do planeta que o hiperdrive
era inútil, e o seu curso atual os estava levando cada vez mais fundo. Se
Thrawn desviasse agora e voltasse para o espaço profundo, eles poderiam
estar longe antes que alguém começasse a se perguntar por que um
cargueiro Chiss repentinamente decidiu que não queria fazer negócios
com os Lioaoi, depois de tudo.
Mas Qilori não tinha muita esperança de que Thrawn fosse inteligente o
suficiente para simplesmente parar e sair correndo.
Novamente, ele estava certo.
— Preciso olhar mais de perto, — disse Thrawn, pegando os controles do
leme e mergulhando mais fundo no poço gravitacional em direção a um
par de naves patrulha flutuando ao lado de uma das docas de reparo. —
Suspeito que a nave dentro daquela estação seja uma das que
recentemente atacou o sistema Massoss.
— Esta é uma má ideia, — Qilori avisou, com os seus winglets
pressionando firmemente contra as suas bochechas. — Se o Regime de
Lioaoin estiver envolvido com os piratas, você corre o risco de provocar
um enorme ninho de ferrão.
— Você está dizendo que o regime está envolvido? — Thrawn perguntou
friamente, virando aqueles olhos vermelhos brilhantes para Qilori.
Qilori continuou olhando, amaldiçoando-se por dizer até mesmo isso. A
primeira coisa que todo grupo de navegação aprendia quando se juntava
à Guilda dos Navegadores foi que era proibido falar sobre um cliente para
o outro. A atividade criminosa mais hedionda precisava ser tão protegida
de exposição quanto a mais inocente passagem de cargueiro ou exercício
militar.
Mas agora, as violações do protocolo eram a menor das preocupações
de Qilori. Pouco antes deles chegarem ali, bem quando seu transe estava
aumentando, ele sentiu através da Grande Presença que havia outros
companheiros Rastreadores por perto. Se eles estivessem a bordo de
algum dos corsários, e se algum desses corsários estivesse preparado para
o voo, eles poderiam seguir Qilori sem esforço pelo hiperespaço, não
importando quantas travessuras ou recursões Thrawn tentasse.
E nenhum dos corsários provavelmente se importaria se silenciar um
Chiss problemático também exigisse a morte de um Rastreador inocente.
— Não sei se o regime faz parte disso, — ele disse. — Apenas confie em
mim quando digo que este não é um lugar seguro para se estar.
Thrawn não estava ouvindo. Ele estava olhando para as naves e as
docas, os seus olhos brilhantes se estreitaram ligeiramente.
— Falo sério, — disse Qilori, tentando uma última vez. — Se eles
suspeitarem que você está caçando piratas...
— Você acha que eles apenas suspeitam? — Thrawn ecoou. Ele inclinou a
cabeça. — Sim; questão anotada. Vamos remover todas as dúvidas
remanescentes. — Ele apertou o comunicador...
E de repente foi como se ele tivesse perdido os sentidos.
— Alerta! — Thrawn chamou. — Eu encontrei os piratas. Repito: eu os
encontrei. Saiam daqui e voltem para relatar!
Qilori engasgou. O que em...?
— Thrawn...?
Thrawn desligou o comunicador.
— Pronto, — ele respondeu, sua voz e expressão de volta à sua frieza
usual. — Agora eles sabem com certeza.
— O que nas profundezas você fez? — Qilori disse em uma voz
estrangulada. — Você acabou de pintar uma marca de morte em nós. Eles
virão atrás de nós...
— Lá vão eles, — disse Thrawn, apontando para um ponto na tela
principal.
Qilori olhou para a tela a tempo de ver uma nave tremeluzir e
desaparecer no hiperespaço.
— A minha segunda nave, — identificou Thrawn. — Um dos meus colegas
está a bordo, com um dos seus navegando de volta para a Ascendência. —
Ele virou o manche do leme e o cargueiro se curvou suavemente para
longe do planeta. — E agora, como você sugere, é hora de sair.
— Sim, vamos, — murmurou Qilori, afundando em sua cadeira enquanto
Thrawn colocava os propulsores em potência máxima. As naves de
patrulha estavam começando a se mover, e quando Qilori olhou para as
baías de ancoragem de órbita alta, ele viu três corsários emergirem, seus
próprios propulsores em chamas enquanto se dirigiam para ele e Thrawn,
na esperança de interceptá-los antes que pudessem escapar para o
hiperespaço.
Ou Thrawn também os viu ou então antecipou a resposta. Ele já estava
nisso, mudando o curso do cargueiro para um vetor que o deslizaria além
da armadilha potencial.
Mas isso não faria bem a ele. Os corsários estavam em movimento e, se
houvesse Rastreador a bordo, não havia nada que Thrawn pudesse fazer
para impedi-los de segui-lo de volta ao espaço dos Chiss. Eles o pegariam,
junto com a nave reserva tão inteligente que já havia partido, e as naves
Lioaoin continuariam a atacar e saquear todos na região.
Talvez os corsários tentassem resgatar Qilori e o outro Rastreador antes
de destruir as naves Chiss. Provavelmente não.
Mas, neste ponto, tudo o que ele podia fazer era ter esperança.
— Para onde estamos indo? — ele perguntou enquanto se aproximavam
da borda do poço de gravidade.
— Kinoss, — respondeu Thrawn. — É o sistema mais próximo, e deve
haver mensageiros rápidos lá que podem levar a nossa mensagem para
Csilla e Naporar.
— Tudo bem, — Qilori disse, colocando as mãos nos controles. Talvez um
dos dois cargueiros Chiss pudesse pelo menos enviar uma mensagem
antes que os corsários obstruíssem as suas transmissões e os destruíssem.
Provavelmente não.
—
O transe desta vez foi um dos mais difíceis que Qilori já experimentou. No
topo das complexidades do curso usual estava uma malha sobreposta de
imagens sombrias e perturbadoras, visões de naves perseguidoras
guiadas por outros Rastreadores. Ele quase perdeu o caminho mais vezes
do que gostaria de se lembrar, e duas vezes foi forçado a retornar ao
espaço normal para recuperar a sua conexão com a Grande Presença.
Thrawn não disse nada durante esses rearranjos. Provavelmente
sonhando com a glória por acabar com a ameaça dos piratas, ou
presumindo que a gagueira do curso impediria qualquer perseguição.
O outro cargueiro Chiss já havia chegado quando eles finalmente
alcançaram o sistema Kinoss. Qilori podia ver os propulsores dele à
distância à frente, conduzindo a nave em direção ao planeta. Mesmo
quando Qilori terminou de sair do seu transe, Thrawn assumiu os controles
e virou para segui-lo.
Futilidade. Mesmo antes que os propulsores estivessem com potência
total, quatro corsários Lioaoin apareceram no visor de popa.
— Ah, — disse Thrawn, ainda com aquela calma enlouquecedora. —
Nossos convidados chegaram.
— Estou tão surpreso, — murmurou Qilori.
— Duvido disso, — disse Thrawn. — Eu fiz alguns estudos sobre os
Rastreadores depois do nosso primeiro encontro. Seus colegas podem
rastreá-lo através do hiperespaço, não é?
Qilori lançou-lhe um olhar assustado. Era para ser um segredo profundo
e sombrio.
— Isso... não. Não é verdade.
— Eu acho que é. — Thrawn gesticulou para a tela da popa. — O estilo
Rastreador ficou evidente no último ataque pirata. Eu esperava que você e
eu chegássemos ao mundo central de Lioaoin antes que aqueles
navegadores fossem devolvidos às suas bases.
— Você queria que eles nos seguissem?
— Claro, — respondeu Thrawn, como se fosse óbvio. — Com quaisquer
outros navegadores haveria incerteza quanto ao ponto de emergência
deles, se de fato eles pudessem nos seguir. Com os Rastreadores a bordo,
eu poderia ter certeza de que os piratas chegariam exatamente onde eu os
queria.
— Você quer dizer bem em cima de nós? — Qilori respondeu. Ele olhou
novamente para a tela da popa.
E sentiu as suas winglets ficarem rígidas. Onde antes haviam quatro
naves atrás deles, agora eram cinco. Os quatro corsários Lioaoin que já
tinha visto... e uma nave de guerra Chiss.
— Capitão Intermediária Ziara, aqui é o Comandante Júnior Thrawn, —
Thrawn chamou em direção ao comunicador. — Eu acredito que os seus
alvos esperam por você.
— Certamente, Comandante, — uma suave voz feminina respondeu. — Eu
sugiro que você continue no seu curso atual.
— Deve dar a você a melhor visão da destruição deles.
—I nteressante, — comentou o Supremo General Ba’kif enquanto
colocava o seu questis de lado. Tinha lido o relatório duas vezes, Ar’alani
notou enquanto observava os olhos dele se moverem pra frente e pra trás ao
longo do texto, a primeira vez que ela o viu fazer isso. Ou estava tentando
reunir o máximo de informações que podia ou então estava protelando
enquanto tentava descobrir o que dizer e fazer a respeito.
— Você percebe, é claro, que roubar a nave de outra pessoa, em
qualquer circunstância, é uma violação grave dos regulamentos.
— As naves Nikardun nos atacaram, senhor, — disse Thrawn. —
Entendi que os regulamentos permitem autodefesa.
— Com certeza, — disse Ba’kif. — E se você tivesse transformado a
maldita coisa em pó, ninguém teria pensado duas vezes. Mas capturá-la? —
Ele balançou sua cabeça. — E você, Almirante. Eu sei que você e Thrawn
têm uma longa história, mas estou um pouco surpreso que você concordou
em fazer parte disso.
— Na verdade, General, fiz questão de refrescar a minha memória sobre
os regulamentos antes de aceitar a proposta do Capitão Thrawn, — explicou
Ar’alani, cruzando os dedos mentalmente. — Não há nada que diga
especificamente que capturar a nave de um atacante é uma violação.
— Acho que você descobrirá que isso se enquadra no título geral de
ataques preventivos, — disse Ba’kif. — Que é definitivamente como certos
Aristocratas irão interpretar assim que ouvirem sobre isso. Alguns deles
podem até exigir que a nave seja devolvida.
— Sem a sua tripulação? — perguntou Thrawn. — Isso pode ser um
pouco estranho.
Ar’alani sentiu a sua garganta apertar. Mais do que apenas um pouco
estranho, considerando que a tripulação Nikardun se foi porque eles
cometeram suicídio em massa minutos antes dos grupos de abordagem dos
Chiss violarem as escotilhas. Por um tempo, ela preferiu esperar que tivesse
sido pelo menos uma combinação de assassinato e suicídio, talvez com os
oficiais sob ordens de massacrar os seus guerreiros antes de tirar as suas
próprias vidas. Isso teria indicado que apenas alguns dos Nikardun eram tão
fanáticos. Mas a equipe médica concluiu que todas as mortes foram auto
infligidas.
Que tipo de compulsão e domínio esse Yiv, o Benevolente exercia sobre
eles para que eles fossem voluntariamente a tais extremos violentos?
— É verdade, — Ba’kif concedeu. — Bem. Até que os síndicos decidam
escrever detalhes específicos na lei, suponho que podemos tratá-la como
uma área cinzenta. — Ele tocou no questis. — Nesse ínterim, que tipo de
ninho infernal de nighthunter você acabou de derrubar?
— Um ninho de nighthunter que eu acredito que logo estará nos
caçando, — respondeu Thrawn sombriamente. — Eles sabem claramente
sobre a Ascendência. Eles também se sentem confiantes o suficiente em
suas próprias forças para abater uma nave de refugiados bem na nossa
porta. E... — ele gesticulou para o questis, — eles já estão se mudando para
a nossa vizinhança.
Ba’kif bufou, olhando de volta para o questis, como se os dados nele
pudessem mudar repentinamente para algo menos inquietante.
— Você tem certeza de que eles tiveram contato com o Regime de
Lioaoin? — ele perguntou. — Eu olhei todos os indicadores que você
marcou e eu confesso que não consigo ver o que você acha que encontrou.
— Está aí, senhor, — respondeu Thrawn. — É sutil, mas estão lá.
— O que nós não sabemos, — Ar'alani acrescentou, — é se isso é uma
evidência de que eles estiveram pessoalmente no próprio mundo coração de
Lioaoin ou se eles acabaram por aprender alguma arte e influências
artísticas de alguém de Lioaoi em algum momento.
— É por isso que nós precisamos ir pessoalmente ao mundo coração, —
esclareceu Thrawn. — Eu preciso examinar a situação local, e não posso
fazer isso a partir da análise da transmissão ou mesmo de relatórios de
investigadores de terceiros.
— Você sabe o que a Sindicura dirá sobre qualquer um indo para o
Regime de Lioaoin, — advertiu Ba’kif. — Especialmente vocês dois.
— É por isso que nós queríamos manter isto em segredo, — apontou
Ar’alani. — E a Frota Expansionista tem um bom grau de flexibilidade em
suas funções.
— Da qual eu não estou mais no comando direto, — Ba'kif a lembrou,
olhando com uma estranha espécie de melancolia para o seu novo escritório
em Csilla.
Ar’alani poderia simpatizar. Este escritório era maior do que o antigo
escritório dele na Frota de Defesa Expansionista, em Naporar, como
convinha à sua posição recém-exaltada como o principal general da
Ascendência.
Mas o escritório ficava em Csilla, o que significava que não estava
apenas sob a superfície congelada do planeta, mas também dentro da
distância de uma cuspida a favor do vento da Sindicura e do resto dos
centros governamentais da Ascendência.
E só porque supostamente os Aristocratas não deveriam interferir nos
assuntos militares, não significava que eram agradáveis de se estar por
perto.
— Mas você está no comando geral do pessoal da frota, — observou
Thrawn. — Uma diretiva sua certamente seria reconhecida e executada.
— A Falcão de Primavera está passando por reparos no casco, mas nós
poderíamos levar a Vigilante, — apontou Ar’alani. — Thrawn poderia subir
a bordo como um oficial ou mesmo apenas como passageiro e dar uma
olhada rápida e discreta.
Ba’kif bufou.
— Você sabe o que certos síndicos pensam da sua definição de discreto.
— Ele olhou para o monitor da sua mesa e deu uma pequena bufada. — E
por pura coincidência, ou talvez não, dois desses síndicos acabaram de
chegar no interior do meu escritório.
O primeiro impulso de Ar’alani foi instar o general a não deixá-los
entrar. Mas seria um gesto inútil. Claramente, alguém tinha visto ela e
Thrawn indo ali; com a mesma clareza, os dois síndicos não iriam embora
só porque o general supremo da Força de Defesa lhes disse isso.
Políticas oficiais de separação de funções ou não, ingerência ou não, o
confronto pelo qual os síndicos estavam obviamente ali iria acontecer.
Talvez fosse melhor esclarecer agora.
Aparentemente, Ba’kif chegou à mesma conclusão. Ele bateu em uma
tecla e a porta se abriu.
— Bem-vindos, Síndicos, — ele disse rapidamente enquanto os três
oficiais se levantavam. — Como posso servi-los?
Ar’alani se virou para os recém-chegados. Mitth’urf’ianico, um dos
síndicos da família de Thrawn, liderou o caminho. Esse era o procedimento
padrão sempre que a família queria entregar uma mensagem aos militares a
respeito de um dos seus, sem puxar nada da teia emaranhada da política
interfamiliar.
Caminhando logo atrás dele estava Irizi’stal’mustro, um dos síndicos da
antiga família de Ar’alani.
Ela sentiu seus olhos se estreitarem. Esse não era o procedimento padrão.
Thurfian pode estar ali para falar sobre Thrawn em nome da Mitth, mas ela
não fazia mais parte da família Irizi, o que significava que Zistalmu não
tinha motivo para falar sobre ela com Ba'kif.
Mas havia um subtexto ainda mais interessante sobre tudo isso. Dada a
intensa rivalidade entre a Irizi e a Mitth, os dois síndicos dessas famílias
que queriam ver Ba'kif sobre assuntos militares gerais normalmente teriam
combinado de vir um de cada vez, não juntos.
Ou era esse o ponto? Thurfian e Zistalmu poderiam ter trabalhado nesta
reunião conjunta para destacar uma oposição de alto nível às atividades
recentes de Thrawn, uma resistência que suplantava a política familiar?
— Bom dia, General, — disse Zistalmu, inclinando a cabeça para Ba'kif.
— Almirante; Capitão Sênior, — acrescentou ele, fazendo os mesmos
gestos para Ar’alani e Thrawn. — Estamos interrompendo algo importante?
— Eu estava discutindo uma missão futura com dois dos melhores
oficiais da Frota Expansionista, — respondeu Ba’kif.
— Sério, — disse Thurfian com um entusiasmo fingido que não
enganaria uma criança. — Dada a presença do Capitão Thrawn, nós
podemos assumir que esta missão está conectada ao relatório que a frota
enviou à Sindicura três dias atrás?
Ar’alani reprimiu uma maldição. Normalmente, os relatórios da frota
podiam permanecer nos questises dos síndicos por dias ou semanas sem
serem lidos por alguém, exceto por seus assessores e o Aristocrata de
escalão inferior. No momento, isso era especialmente verdadeiro para
qualquer relatório que não se conectasse à investigação do ataque a Csilla.
Aparentemente, pelo menos para esses dois, o nome de Thrawn recebeu
o mesmo nível de atenção.
— Enviamos vários relatórios naquele dia, — respondeu Ba’kif. — A
qual especificamente você está se referindo?
— Você sabe perfeitamente qual deles, — respondeu Zistalmu, os seus
olhos se voltando para Thrawn. — A intrusão não autorizada em um
sistema alienígena e o subsequente ataque a naves alienígenas nesse
sistema.
— Em primeiro lugar, a missão da Falcão de Primavera no sistema
Rapacc não era desautorizada, — esclareceu Ba’kif. — Como você sabe,
houve um ataque na extremidade do sistema Dioya...
— Um ataque contra alienígenas, — interrompeu Zistalmu. — Enquanto
isso, a questão do ataque a Csilla, um ataque lançado contra cidadãos reais
Chiss, ainda não foi resolvida.
— Espero que você não esteja sugerindo que a frota é incapaz de lidar
com mais de uma investigação ao mesmo tempo, — contrapôs Ba’kif,
pondo dureza na voz.
— De jeito nenhum, — disse Zistalmu. — Mas se a investigação fosse o
objetivo, eu diria que o ataque do Capitão Thrawn em Rapacc foi muito
além das suas ordens e mandato. No entanto, não vejo nenhuma indicação
de que um tribunal foi instalado ou mesmo agendado.
— A Falcão de Primavera foi atacada, — justificou Ba’kif. — As
ordens permanentes permitem-lhe o direito de defesa.
— Dentro de limites muito estreitos e bem delineados, — acrescentou
Thurfian. — Mas isso é passado e é um assunto para um tribunal. Nossa
maior preocupação é com o futuro. Então, eu pergunto novamente: esta
missão proposta está relacionada ao ataque em Rapacc? — Ele lançou um
olhar acusador para Thrawn. — O tempo não é tão longo, nem a memória
tão curta, que esquecemos o seu fiasco em Lioaoin.
— Eu não esquecerei também, — disse Thrawn calmamente.
Silenciosamente, mas Ar’alani podia ouvir o embaraço oculto e a dor na
voz dele.
— Espero que você não esteja aqui apenas para esfregar velhas feridas,
— ela acrescentou, na esperança de atrair um pouco do ataque de Zistalmu
em sua direção.
Foi uma perda de esforço. Thurfian meramente lançou a ela um olhar
breve e ilegível, então voltou a sua atenção para o seu alvo principal.
— Como eu já disse, nós estamos olhando para o futuro, não para o
passado, — ele disse. — Sabemos que você afirma ter encontrado pinturas
ou esculturas de Lioaoin, ou algo do gênero, naquela nave apreendida
ilegalmente. Eu acredito, Supremo General, que você não está pensando
seriamente em deixar o Capitão Thrawn em qualquer lugar perto do Regime
de Lioaoin.
— Por que não? — Perguntou Ba’kif. — Os Lioaoi certamente têm a sua
cota de culpa pelo que aconteceu naquela época.
— Então você o está enviando para o coração do mundo, — Zistalmu
disse, lançando as palavras como um groundlion. — Você está louco?
— Acredito que os Nikardun se mudaram para o regime de Lioaoin, —
respondeu Thrawn. — Precisamos saber se os Lioaoi foram completamente
subjugados ou se ainda permanecem contra os seus possíveis
conquistadores.
— Nós não precisamos saber de nada disso, — retrucou Thurfian. — O
que acontece fora das nossas fronteiras não é da nossa conta. Como pensei
ter ficado claro para você na primeira vez que você se intrometeu nos
assuntos daquela região.
— E quando os Nikardun chegar na Ascendência? — Perguntou Thrawn.
— Se os Nikardun chegarem na Ascendência, — Thurfian disparou.
— Exatamente, — Zistalmu apoiou. — Realmente, Capitão Thrawn.
Alguém com a sua alardeada experiência tática pode certamente ver que, se
fôssemos um alvo tão atraente, eles já teriam se movido contra nós. Parece
óbvio para mim que as histórias contadas sobre nós no Caos os avisaram.
— A menos que estejam esperando até que tenham força suficiente para
nos derrotar, — disse Ba’kif.
— Tudo bem, — disse Zistalmu. — Vamos examinar essa possibilidade,
certo? Você afirma que os Nikardun estão subjugando outras espécies e
criando um império. Correto?
— Sim, nós vimos as evidências de tal atividade, — respondeu Ba’kif.
— E controlar uma espécie conquistada requer força e presença de
armas, não é?
Ar’alani sentiu um gosto amargo na boca. Ela podia ver onde Zistalmu
estava indo com isso.
Assim como Ba’kif também
— Pode exigir menos do que você imagina, — respondeu o general. —
Se o planeta estiver suficientemente subjugado, algumas naves de
monitoramento e um pequeno contingente terrestre poderiam facilmente ser
suficientes.
— Especialmente se eles utilizarem um sistema de reféns ou extorsão, —
acrescentou Ar’alani.
— A questão que permanece é que, conforme eles se movem em nossa
direção, eles continuam sangrando naves e tropas, — disse Zistalmu. —
Portanto, quanto mais eles esperam, menos provável que sejam uma
ameaça.
Ba’kif balançou a cabeça.
— Nem sempre funciona assim.
Mas era um argumento perdedor, Ar’alani podia ver pelas expressões
nos rostos dos síndicos. Pode ser um argumento verdadeiro, mas também
era um argumento perdedor.
— No entanto, essa também é uma conversa para outro dia, — disse
Thurfian. — Como a nave do Capitão Thrawn ainda está passando por
reparos e a Almirante Ar’alani está prestes a partir em missão diplomática,
parece que ninguém viajará para o regime de Lioaoin.
— Desculpe-me? — Perguntou Ba’kif, lançando um olhar para Ar’alani.
— Que missão diplomática é esta?
— A Ascendência está enviando um novo embaixador para Urch, a
capital de Urchiv-ki, — respondeu Thurfian. — Como a Vigilante é uma
das melhores naves de guerra da Frota Expansionista, e como o seu
comandante é um dos melhores oficiais da frota — ele inclinou a cabeça
para Ar'alani — foi decidido que a nave e o comandante seriam anfitriões
do Embaixador Boadil'par'gasoi.
— Entendo, — disse Ba’kif, com o seu tom ficando gelado. — E quando
deveríamos ser informados dessa decisão?
— Você está sendo informado agora, General, — respondeu Zistalmu
uniformemente. — a Vigilante partirá em três dias.
Ba’kif olhou para Ar’alani.
— Você pode estar pronta assim tão rápido?
— Nós podemos, — respondeu Ar’alani, tentando manter a própria
irritação longe da sua voz. A Sindicura não deveria fazer acrobacias como
essa.
Por outro lado, talvez eles tenham perdido um ângulo. Os reparos da
Falcão de Primavera deveriam levar mais duas semanas, e Zistalmu estava
claramente esperando que Thrawn ficasse fora de serviço por esse tempo.
Mas muitos dos danos da nave foram cosméticos, e como capitão da Falcão
de Primavera, Thrawn poderia declarar a nave pronta para voar sem que
estes reparos específicos fossem concluídos. Se o fizesse, quando a
Vigilante partisse para Urch, ele poderia estar quase pronto para tirar a
Falcão de Primavera do estaleiro e escapar para uma visita sub-reptícia ao
Regime de Lioaoin.
— Infelizmente, porém, a Sky-walker Ab’begh foi transferida, —
continuou Zistalmu. — No entanto, como a Falcão de Primavera não irá a
lugar nenhum por pelo menos algumas semanas, a Sky-walker Che'ri e a
Cuidadora Thalias foram transferidas para o seu comando.
— Assim como o Capitão Thrawn, — acrescentou Thurfian. — Ele
serviu a você uma vez, e tenho certeza de que as suas contribuições serão
igualmente bem-vindas desta vez.
— Eu imagino que ele vai receber de bom grado a chance de visitar
Urch, — disse Zistalmu com um sorrisinho condescendente. — Eu entendo
que as galerias de arte deles são o orgulho do povo Urchiv-ki.
Ar’alani suprimiu um suspiro. Então, eles não perderam uma aposta,
afinal.
— Tenho certeza que sim, — ela disse. — Terei a honra de tê-lo a bordo.
—
— Você nunca esteve em Csilla, não é? — Ziara perguntou enquanto o
transporte espacial descia em direção à superfície azul-branca cintilante do
mundo natal dos Chiss.
— Não, — disse Thrawn, olhando pela janela. — Todo o meu treinamento
e instruções aconteceram no complexo da Frota Expansionista em
Naporar.
Ziara olhou para o perfil dele. Havia uma tensão em torno de seus olhos
e lábios.
— Você parece preocupado.
— Preocupado?
— O estado de ver grandes Nighthunters à espreita em seu futuro, —
respondeu Ziara. — Você sabe que não tem nada com o que se preocupar,
certo? Os proprietários do cruzeiro podem gritar o quanto quiserem, mas
o fato é que você salvou oito mil pessoas que, de outra forma, estariam
comprimidas como papinha agora.
— Imagino que qualquer coisa semelhante a uma papinha teria há muito
se dissipado em gavinhas de moléculas orgânicas fragmentadas dentro
das correntes atmosféricas.
— Oh, eu gostei dessa, — Ziara disse. — Tudo bem se eu pegar
emprestado?
— Você é bem-vinda. — Thrawn assentiu com a cabeça para o planeta. —
Não, só estava pensando. Já estive em apuros antes, mas nunca fui
chamado para uma audiência de nível tão alto.
— Porque todas as outras coisas questionáveis que você fez foram
essencialmente militares, — Ziara o lembrou. — Este é um assunto
essencialmente civil. O mais importante, é um assunto civil conectado a
uma das Nove Famílias. Isso coloca você no escâner de todos.
— Ainda assim, você sugere que não preciso me preocupar?
— Não, porque a lista de passageiros incluía Aristocratas de pelo menos
cinco das outras Nove Famílias, — Ziara explicou. — Quando o
ressentimento vem para o cutucão, as chances de cinco para um são uma
posição de batalha bastante muito decente.
— Espero que não chegue a esse ponto. — Thrawn assentiu com a cabeça
em direção à janela. — Aquela é Csaplar?
Ziara esticou o pescoço. Quase invisível na superfície sem traços
característicos estava o que parecia ser uma enorme cidade congelada no
gelo.
— Sim, — ela confirmou. — A Capital da Ascendência Chiss, e outrora a
pulverizadora da florescência da cultura e requinte. Estaremos pousando
no espaçoporto na extremidade sudoeste e pegando um vagão de túnel
para oeste, para a sede da frota. A propósito, você não verá aquele
complexo daqui de cima. ele é principalmente no subsolo.
— Sim, eu sei, — disse Thrawn. — Você diz que Csaplar já foi um centro de
cultura. Não é mais?
— Infelizmente, não, — Ziara respondeu. — Mas foi realmente maravilhosa
uma vez.
— Estranho, — disse Thrawn, parecendo um pouco confuso. — Eu pensava
que uma população de sete milhões de habitantes seria mais do que
suficiente para sustentar um governo e as artes.
— Alguém poderia pensar assim, — Ziara concordou, olhando
casualmente ao redor da nave. Exitem muitas pessoas. Mas haveria muito
tempo depois para lhe contar a verdade. — Mas não se preocupe. Tenho
certeza que encontraremos algo para fazer lá.
A audiência, como Ziara previra, foi curta e superficial. A família Boadil,
proprietária do cruzeiro condenado, enviou um representante que insistiu
ruidosamente para que Thrawn fosse punido, rebaixado ou possivelmente
expulso da Frota de Defesa Expansionista. Três das cinco famílias cujos
membros foram salvos da morte também estiveram representadas,
argumentando que Thrawn merecia promoção, não censura. No final, tudo
se equilibrou, e Thrawn acabou exatamente onde havia começado.
Com uma exceção crucial. Por alguma razão, por qualquer favor
obscuro político que alguém devia a outra pessoa, a nave patrulha de
Thrawn, o seu primeiro comando, foi tirado dele.
— Sinto muito, — Ziara lamentou enquanto ela e Thrawn seguiam no seu
vagão de túnel de volta para a cidade. — Nunca esperei que a frota fizesse
isso.
— Está tudo bem, — disse Thrawn. A sua voz estava calma, mas Ziara
podia ouvir a decepção por trás dela. — Considerando quantos milhões
custou à Boadil, nenhum de nós deveria se surpreender com a sua
vingança.
— Você não custou nada a ninguém, — Ziara rosnou. — Você não levou o
cruzeiro muito perto daquele planeta. Você não ignorou os engenheiros
que alertaram que os componentes eletrônicos estavam tendo problemas
com as torções do campo magnético. Você não empurrou os motores e
embaralhou os propulsores em primeiro lugar. Se eu fosse a Boadil, estaria
tentando pregar o capitão da nave no chão, não você.
Exceto que não iriam, ela sabia, sentindo a ponta aguda da amargura. A
Boadil era aliada política tanto da Ufsa quanto da sua própria família Irizi...
e o capitão do cruzeiro era da Ufsa. Thrawn era o único bode expiatório
disponível para a bagunça, então recebeu todo o impacto da raiva e
constrangimento da Boadil.
— Obrigado, — disse Thrawn. — Mas você não precisa ficar com raiva por
mim. Juntos, nos salvamos oito mil vidas. Isso é o que importa.
Ziara assentiu com a cabeça.
— Sim. Absolutamente.
— Então, — disse Thrawn, com o seu tom profissional novamente. — Sem
o meu comando, eu não tenho mais uma passagem conveniente para fora
de Csilla. Presumo que a frota notará isso e providenciará o meu transporte
para o próximo posto onde quer que seja que eles me designem.
— Felizmente, eles não precisarão se esforçar nesse sentido, — disse
Ziara. — Já fiz um pedido para que você seja transferido para a Parala como
um dos meus oficiais. Se for aprovado, você vai embora comigo.
— Obrigado, — disse Thrawn, inclinando a sua cabeça para ela. — Notei
uma série de hotéis agrupados em torno do espaçoporto. Eu posso ir lá
encontrar um alojamento enquanto aguardo as minhas novas ordens.
— Você poderia, — Ziara disse, franzindo os lábios pensativamente. O
pensamento que acabara de ocorrer a ela...
A família não ficaria feliz com isso, ela sabia. Mas agora realmente não
se importava. Thrawn tinha sido injustamente abandonado, e se não podia
consertar isso, poderia pelo menos mostrar a ele que não tinha sido
abandonado por toda a Ascendência.
— Mas tenho uma ideia melhor, — ela disse. — Nós temos pelo menos
alguns dias, mais provavelmente uma semana. Por que você não vem para
o domicílio Irizi comigo?
— Para o seu domicílio? — Thrawn ecoou. — Estranhos são permitidos? —
Um músculo em sua bochecha se contraiu. — Especialmente estranhos de
famílias rivais?
— Não sei e não me importo, — Ziara disse. — Eu sou sanguínea, e sou
uma membro honrada da frota que acabou de ajudar a salvar oito mil
vidas. Não sei até onde tudo isso vai me levar, mas prefiro descobrir. Você
quer descobrir comigo?
— Não sei, — respondeu Thrawn, hesitante. — Não quero que você tenha
problemas por minha causa.
— Não estou preocupada com isso, — Ziara disse. — Eu mencionei que o
meu avô era um colecionador de arte incrivelmente apaixonado?
Thrawn sorriu.
— Se não mencionei isso recentemente, Ziara, você tem um talento
especial para buscar e explorar as fraquezas dos seus oponentes. Muito
bem. Devemos mais uma vez mergulhar de cabeça no perigo?
— Nós devemos, — Ziara respondeu. — Além disso, acabamos de
sobreviver a um encontro com um planeta gigante gasoso nocivo. Sério, o
quão ruim a minha família poderia ser?
—
A área ao redor do espaçoporto de Csaplar era barulhenta e
movimentada, lotada de pessoas, hotéis, restaurantes e entretenimento de
todos os tipos. O domicílio Irizi ficava a cerca de trezentos quilômetros ao
nordeste, no outro lado da cidade. Ziara conseguiu para eles um vagão de
tubo subterrâneo expresso para duas pessoas e eles partiram.
Através da cidade. Não, como geralmente era feito, em torno dela.
Não deveria fazer isso, ela sabia. Thrawn não deveria saber a verdade
sobre a cidade capital da Ascendência, ninguém, exceto os síndicos sênior,
oficiais generais e os Patriarcas das Nove Famílias sabiam a verdade
completa, e haviam muitas rotas de carros de túnel que evitariam as
seções acima do solo inteiramente.
Mas, mais uma vez, não se importou. A frota e Aristocracia trataram
Thrawn de maneira vergonhosa, e a sua raiva persistente despertou um
senso de desafio peculiar, mas surpreendentemente delicioso.
Além disso, lembrou-se ao deixar o espaçoporto de passar pelos
prédios, parques e o labirinto de outros tubos subterrâneos, seria um
exercício tático interessante ver quanto tempo Thrawn levaria para
descobrir.
Não demorou muito, no fim das contas. Eles haviam cruzado um pouco
mais de um terço da extensa metrópole, e ela estava observando a
expressão dele de perto enquanto ele olhava para fora da janela, quando
os olhos dele se estreitaram de repente.
— Algo está errado, — ele disse.
— O que você quer dizer? — Perguntou Ziara.
— Não parece haver ninguém aqui, — Thrawn respondeu. — Não desde
que deixamos a área do espaçoporto.
— Claro que há — Ziara disse, apontando ao longo do caminho para
outro vagão de tubo paralelo ao deles à distância. — Você pode ver duas
pessoas ali.
— Eles são as exceções, — disse Thrawn. — Os outros carros que vimos
estavam vazios.
— Talvez estejam longe demais para você vê-los dentro, — Ziara disse,
sentindo-se culpada e surpresa com o quanto o jogo era divertido. — Você
pode ver que o exterior do carro tende a ser reflexivo.
— Não, — disse Thrawn. — Os carros vazios andam mais alto em seus
trilhos do que os cheios. Também passamos por três locais de conexão, e
não haviam carros ou passageiros esperando em qualquer um deles.
Ele se virou, fixando-a com um olhar tão intenso que ela reflexivamente
recuou um pouco.
— O que aconteceu com a nossa capital, Ziara?
— A mesma coisa que aconteceu com todo o planeta, — Ziara respondeu
calmamente. — Me desculpe, eu não deveria ter feito isso com você. Mas
você não deveria saber.
— Saber o que? Que o povo de Csilla se foi?
— Oh, eles não se foram, — ela respondeu. — Bem, sim, a maioria deles é
claro, mas o grande êxodo aconteceu há mais de mil anos. O que eles
ensinaram na escola sobre como as mudanças na emissão do sol e o lento
congelamento da superfície forçaram a população de Csilla para o subsolo
é em grande parte verdade. O que as histórias deixam de fora é que os
números que foram movidos para baixo estavam muito longe dos quatro
bilhões que viviam aqui na época.
— Para onde eles foram?
— Para outros planetas, — Ziara respondeu. — Principalmente Rentor,
Avidiche Sarvchi. A Sindicura e a sede da frota foram mantidas aqui, junto
com muitas das instalações de carga e mercantes. Algumas das famílias
mudaram os seus domicílios para mundos onde já tinham uma presença
forte, mas a maioria não queria deixar Csilla inteiramente.
— Eles também se mudaram para o subsolo?
— Certo, — Ziara respondeu. — O novo domicílio da minha família, bem,
novo há mil anos, fica em uma enorme caverna a cerca de dois
quilômetros abaixo da superfície. Ainda na mesma terra, claro. Os Irizi são
um pouco obsessivos com relação a território e história.
— Então, quantas pessoas realmente vivem em Csilla?
— Sessenta ou setenta milhões, — Ziara respondeu. — Embora todos os
registros oficiais apontem para o número de oito bilhões. — Ela acenou
para a cidade ao redor deles. — Todo o resto é apenas para exibição.
— Pra quem?
— Para os nossos visitantes, — ela respondeu. — Nossos parceiros
comerciais alienígenas. — Ela sentiu a sua garganta apertar. — Nossos
inimigos.
— Então, alguns continuam a viver na superfície para criar a ilusão, —
murmurou Thrawn. — A luz e o calor também são mantidos. Os vagões de
tubo continuam a viajar pelas cidades restantes, fingindo ser o tráfego de
uma população próspera. — Ele olhou para Ziara. — Presumo que do outro
lado, o nosso tubo descerá para um dos túneis?
Ela assentiu.
— Existem algumas centenas de pessoas em Csaplar em qualquer
momento. Elas são alternadas com frequência para que não tenham que
aturar as condições aqui por muito tempo. O resto da cidade, a cidade
real, está espalhada em cavernas, principalmente concentradas em torno
do complexo da Sindicura. Mais ilusão para os nossos visitantes
diplomáticos.
— E, claro, a maioria dos visitantes civis e mercadores ficam perto de um
dos espaçoporto, — disse Thrawn, assentindo. — A atividade lá e em torno
do complexo do governo disfarça o vazio do resto da cidade.
— Certo, — Ziara disse. — A sua próxima pergunta é provavelmente por
que tudo isso é um grande segredo.
— De jeito nenhum — Thrawn assegurou a ela. — Entendo as vantagens
estratégicas de manobrar um inimigo potencial para desperdiçar uma
grande quantidade de força no que é essencialmente uma concha vazia. —
Ele a olhou diretamente nos olhos. — A minha pergunta é por que você me
contou tudo isso. Certamente não sou sênior o suficiente para esse tipo de
informação secreta. Especialmente depois de hoje.
— Eu te disse porque você prospera com as informações, — Ziara
explicou. O seu desafio motivado pela raiva estava começando a
desaparecer, deixando um pouco do desconforto para trás. A lei era clara:
os oficiais da graduação atual de Thrawn não deveriam saber de nada
disso. — Quanto mais você sabe sobre uma situação, melhor você cria a
estratégia e as táticas necessárias para lidar com ela. De qualquer forma,
você será chamado para a reunião de alto nível em breve. — Ela sentiu os
seus lábios franzirem. — Quando isso acontecer, tente parecer surpreso.
— Eu irei, — ele prometeu. — Falando em surpresas, a sua família sabe
que você está trazendo um convidado?
Ziara balançou a cabeça.
— Não, mas não será um problema.
Thrawn ergueu ligeiramente as sobrancelhas.
— Você presume.
— Sim, — Ziara concedeu. — Eu presumo.
A lei era clara.
A Vigilante havia sido atacada por forças do Regime de Lioaoin. Os
atacantes se identificaram como tal, removendo qualquer dúvida se eles
poderiam ser piratas ou corsários ou algum outro grupo não oficial e não
autorizado. O Conselho de Hierarquia de Defesa tinha certos respostas
necessárias para tal situação, assim como a Aristocracia e a Sindicura. A lei
era clara.
O que não quer dizer que qualquer um desses grupos estivesse
entusiasmado com o desempenho das funções deles.
— Isso, — disse o segundo oficial Kharill, — é uma loucura.
Samakro olhou pela janela para o céu turbulento do hiperespaço.
Pessoalmente, não poderia concordar mais com a avaliação do seu
subordinado.
Mas Kharill era o seu subordinado, e Samakro era o primeiro oficial da
Falcão de Primavera, e parte do seu dever era reprimir conversas como
essa a bordo da sua nave.
— Os antigos filósofos concordariam com você, — ele disse. — Por
outro lado, muitos desses mesmos filósofos diriam que toda guerra é uma
loucura. Leve isso ao extremo lógico e todos estaremos sem emprego.
— Talvez, — disse Kharill. — Eu não posso dizer que me oporia a
alguns anos de paz.
— Isso pode depender da causa subjacente dessa paz, — disse Thrawn
atrás deles. — Bom dia senhores.
— Bom dia, Capitão Sênior, — disse Samakro, levantando-se
apressadamente da cadeira de comando e virando-se quando Thrawn passou
da escotilha para a ponte.
Para a sua leve surpresa, Thrawn acenou para que ele voltasse.
— Não vou assumir o seu comando, Capitão Intermediário, — ele disse.
— Só passei para verificar o nosso progresso.
— Nós estamos dentro do cronograma, senhor, — disse Samakro,
olhando para a estação do navegador. Che'ri estava sentada ereta em seu
assento, não mostrando nenhum dos sinais sutis de fadiga das sky-walkers,
o que exigiria um retorno ao espaço normal e um período de descanso.
Em contraste, Thalias, segurando a guarda atrás da garota, estava
cedendo onde estava, aparentemente à beira de adormecer.
Mas nesse caso, esteve com Thrawn no mundo natal Vak de Primea, uma
testemunha de tudo o que aconteceu lá. Isso a colocou sob os holofotes para
a mesma rodada cansativa de audiências e interrogatórios do Conselho e da
Sindicura, que Thrawn e Ar'alani haviam suportado. Dadas as
circunstâncias, Samakro ficou um pouco surpreso que a jovem estivesse de
pé.
— Excelente, — disse Thrawn. Com o canto do olho, Samakro viu o
outro olhar para Che'ri, fazer a sua própria avaliação visual da condição
dela e chegar à mesma conclusão. — Você percebe, é claro, que a paz tem
vários sabores diferentes.
— Senhor? — Samakro perguntou, franzindo a testa.
— Eu estava voltando ao tópico levantado pelo Comandante Sênior
Kharill, — respondeu Thrawn. — Se a Ascendência fosse conquistada e as
nossas cidades deixadas em ruínas, isso seria uma espécie de paz.
— Não era isso que eu estava sugerindo, senhor, — disse Kharill
rigidamente.
— Não esperava que fosse, — garantiu Thrawn. — Mas esse seria o
conceito de paz de um conquistador. Um conquistador diferente pode
preferir que os Chiss estejam sob o seu controle inquebrável, para obedecer
às suas ordens sem questionar. Pra ele, isso seria uma versão de paz.
— Eu quis dizer o tipo de paz em que ninguém está atirando em outra
pessoa, — disse Kharill.
— Esse é o tipo que a maioria das pessoas civilizadas deseja, — disse
Thrawn. — Mas como isso pode ser alcançado?
— Não sei, Capitão, — respondeu Kharill. — Não sou um filósofo.
Por um momento, Thrawn o olhou em silêncio. Então ele inclinou
ligeiramente a cabeça.
— Entendido. Vá verificar o suprimento de esferas de plasma. Suspeito
que as usaremos muito nas próximas horas.
— Sim, senhor. — Com claro alívio, Kharill cruzou a ponte em direção
ao posto de armas.
— Ele é um bom oficial, senhor, — Samakro disse calmamente.
— Eu sei, — disse Thrawn. — A sua principal falha é a falta de
curiosidade.
— Eu teria dito sem imaginação.
— Todos os seres possuem imaginação em vários graus, — disse
Thrawn. — Pode ser encorajado e nutrido, ou às vezes pode brilhar em
momentos de estresse. Mas a curiosidade é uma escolha. Alguns desejam
ter. Outros não. Como é a paz que desejava ser alcançada?
— Através do respeito mútuo e da boa vontade de todos os seres, é claro,
— respondeu Samakro, ousando um pequeno sorriso irônico.
Thrawn sorriu de volta.
— E como esse respeito pode ser alcançado?
O sorriso de Samakro desapareceu.
— Provando, sem sombra de dúvida, que a Ascendência pode e irá
responder a um ataque com força esmagadora.
— De fato, — disse Thrawn. — E é por isso que esta missão não é uma
loucura, mas em vez disso, vitalmente necessária.
— Sim, senhor, — disse Samakro. — Mas acredito que o Comandante
Kharill estava se referindo menos à filosofia do que à questão de por que só
as nossas duas naves foram enviadas.
— Você não acredita que a Falcão de Primavera e a Vigilante se provem
num combate justo para as defesas centrais do mundo coração de Lioaoin?
Samakro hesitou.
— Para ser honesto, senhor, não.
— Talvez uma compreensão mais completa da situação possa ajudar, —
explicou Thrawn. — Há quatro grupos diferentes em jogo, cada um com os
seus próprios interesses e agenda. Primeiro são os Nikardun, que queriam
capturar ou destruir a Almirante Ar'alani em Primea, mas não queriam que a
vingança da Ascendência caísse sobre eles ou sobre o Combinado Vak. O
General Yiv chamou, portanto, uma força do Regime de Lioaoin para fazer
o ataque e assumir esse risco.
— Pensei que essa ligação não tinha sido estabelecida.
— Se não, você precisa acreditar que os Lioaoi viajaram até Primea para
atacar uma nave de guerra Chiss que nem sabiam que estava chegando.
Samakro fez uma careta.
— Sim, entendo o seu ponto.
— Portanto, Yiv alcançou o primeiro dos seus objetivos, embora
correndo o risco de sacrificar a força dos seus aliados de Lioaoin, — disse
Thrawn. — O segundo objetivo, agora que voltou a nossa raiva para os
Lioaoi, é avaliar a vontade da Ascendência de desferir uma represália. Isso
o ajudará a revisar os seus planos, se necessário, enquanto espera a sua
guerra final contra nós.
— O que significa que enviar só duas naves não foi uma boa jogada por
parte do Conselho, — concluiu Samakro. — Isso vai nos fazer parecer
fracos ou indecisos.
— Yiv pode de fato interpretar dessa maneira, — concordou Thrawn. —
Mas também poderia interpretar como confiança suprema, de que duas
naves de guerra Chiss são consideradas adequadas para entregar a
mensagem necessária. Acrescente a isso o interesse de Lioaoin em manter
os danos ao regime deles ao mínimo.
— Com o que não nos importamos.
— Talvez não, — disse Thrawn. — Ainda assim, se conseguirmos
encontrar um equilíbrio entre maximizar a nossa mensagem e minimizar
nossos danos, os Lioaoi podem se lembrar dessa restrição no futuro.
— Supondo que eles apenas não voltem as naves que nós não destruímos
contra nós, — advertiu Samakro.
— Mais uma razão para derrotar Yiv e remover o seu domínio da região
o mais rápido possível, — disse Thrawn severamente. — Certamente os
Lioaoi não se moveriam contra nós sem a pressão dos Nikardun.
— Mas a Sindicura deve primeiro reconhecer a ameaça, — ressaltou
Samakro. Embora, para ser honesto, ele também não estava totalmente
convencido disso. Era um longo caminho entre devorar filhotes de whisker
como o Regime de Lioaoin e se envolver com o nighthunter que era a
Ascendência Chiss. — De qualquer forma, atingir esses dois objetivos
exige que façamos alguns danos sem sermos arremessados do céu.
— É isso aí, — concordou Thrawn. — Mas a almirante acredita que
podemos encontrar o equilíbrio necessário.
— Um momento, — disse Samakro, franzindo a testa. — Você está
dizendo que a Almirante Ar’alani pediu apenas duas naves? Achei que
fosse decisão dos síndicos.
— Eles ficaram felizes em concordar com isso, — respondeu Thrawn. —
Mas não, foi da almirante.
— Estou feliz que ela esteja confiante, — murmurou Samakro.
— Ela está. — Thrawn inclinou a cabeça. — Há outra razão para levar
apenas uma pequena força, porém, uma razão tática. O que você acha que
pode ser?
— Não faço ideia.
— Pense, — pediu Thrawn. — Você tem o conhecimento e a visão.
Aplique-os ao problema.
Samakro reprimiu uma careta. Isso foi o que ele recebeu por sugerir que
Kharill não tinha imaginação.
Ainda assim, era uma pergunta intrigante. Duas naves Chiss... um
número desconhecido de oponentes... um motivo tático...
— Certamente será mais fácil avaliar a tática Lioaoin quando só têm
duas das nossas para atirar, — comentou, ganhando tempo enquanto tentava
pensar. Duas naves Chiss...
— Exatamente, — disse Thrawn, inclinando a cabeça. — Muito bem,
Capitão Intermediário.
Samakro piscou.
— Era só isso?
— Claro, — respondeu Thrawn. — Tudo se resume a minimizar
variáveis. Seria ainda mais fácil se trouxéssemos apenas uma nave, mas não
achamos que o Conselho aceitaria isso.
— Mas você disse que a Sindicura foi toda a favor?
O olhar de Thrawn se afastou.
— Alguns dos síndicos estavam relutantes em lançar qualquer ataque,
acreditando que Ar’alani e eu provocamos deliberadamente o incidente de
Primea. Outros, tenho certeza, acreditam que duas naves serão suficientes.
Outros…
— Outros? — Samakro perguntou.
Thrawn encolheu os ombros.
— Suspeito que um pequeno número esteja esperando que Ar’alani e eu
sejamos mortos na batalha, eliminando assim qualquer embaraço futuro que
possamos trazer à Ascendência.
Samakro olhou pra ele.
— Isso é…
— Paranoico? — Thrawn ofereceu.
— Eu ia dizer ultrajante, — respondeu Samakro. — Se a frota tiver um
problema com você ou com a Almirante Ar'alani, o Conselho pode
disciplinar ou rebaixar vocês. Não é função da Sindicura se intrometer
nessas decisões.
— Mas é função deles fazer o que é melhor para a Ascendência, —
explicou Thrawn. — Às vezes, obrigações e restrições se sobrepõem.
— Bem, se eles estão esperando que nos enrolemos e morramos para a
conveniência deles, vão ficar desapontados, — disse Samakro com firmeza.
— Esta é a Falcão de Primavera. Não perdemos batalhas. Pra ninguém.
Garanto.
— Espero mais uma vez provar isso, — disse Thrawn. — Vou deixar a
ponte com você agora, Capitão Intermediário. Avise-me se a nossa sky-
walker precisar de uma pausa para descanso. Caso contrário, voltarei antes
do nosso encontro com a Vigilante. — Com um aceno final, ele se virou e
refez os seus passos até a escotilha.
Samakro ficou olhando para a escotilha por um longo momento depois
que saiu, com o seu sangue queimando dentro dele. Ele não gostava
especialmente de Thrawn. Certamente não gostava do jeito que patinava até
no limite da linha e ocasionalmente passava direto por ela. Às vezes,
deixava o caos e as bagunças pra trás que outras pessoas tinham que limpar,
e Samakro também odiava isso.
Mas também não tinha nenhum interesse na Aristocracia, os síndicos ou
qualquer outra pessoa de fora da cadeia de comando da frota interferindo
em assuntos militares. A Falcão de Primavera e a Vigilante iriam para o
mundo coração de Lioaoin conforme ordenado, eles entregariam a
mensagem da Ascendência e retornariam. As duas naves.
E com sorte, voltariam cobertos de honra. Porque também era assim que
a Falcão de Primavera fazia as coisas.
Garantido.
—
— Capitã Sênior Irizi’ar’alani, — entoou o Supremo Almirante Ja’fosk. — Dê
um passo adiante.
Era isso. Preparando-se, tentando manter a respiração estável, Ziara
avançou para o centro do círculo iluminado com holofotes, de frente para
Ja'fosk e os outros dois oficiais sêniores.
— Diga o seu nome, — disse Ja’fosk no mesmo tom do dobre de finados.
— Capitã Sênior Irizi’ar’alani, — disse Ziara. Ele estava tentando ser
intimidante, ela se perguntou, ou isso era apenas um efeito colateral da
voz ultra formal dele?
— Essa pessoa não existe mais, — disse Ja’fosk. — Esse nome não existe
mais. Você não é mais da Irizi. Você não pertence mais a nenhuma família.
Ziara sustentou o olhar dele, com um nó no estômago. Sabia que esse
momento estava chegando desde a semana passada, e o antecipou por
muito tempo. Mas mesmo com toda aquela preparação mental, foi um
momento inesperadamente emocionante. Ao contrário de muitos Irizi, ela
nasceu dentro da família, sem desafios de mérito, reassociação ou
Provações para passar. Era uma filha de sangue puro, com todos os
privilégios e honra que essa posição conferia.
Mas não mais.
— A Ascendência é a sua família, — Ja’fosk continuou. — A Ascendência é
a sua casa. A Ascendência é o seu futuro.
— A Ascendência é a sua vida.
Ziara tinha ouvido essas palavras muitas vezes durante a semana
anterior, enquanto praticava para a cerimônia. Mas não até este momento,
ao ouvi-los falados na voz estrondosa de Ja'fosk, elas pareciam reais. A
Ascendência é a sua vida.
Mas, sério, não tinha sido sempre assim? Uma vez que tomou a decisão
de se juntar à Força de Defesa, não havia efetivamente entregado o seu
futuro para o bem maior do seu povo?
E tendo oferecido a sua vida, foi uma perda tão grande oferecer
também os seus laços com a sua família?
— A Capitã Sênior Irizi’ar’alani não existe mais, — disse Ja’fosk. Ele
alcançou a mesa atrás dele e pegou uma caixa plana. — Em seu lugar — ele
segurou a caixa na direção dela — agora está a Comodora Ar'alani.
Preparando-se, Ziara deu um passo à frente e pegou a caixa. Através da
tampa transparente, viu que era seu novo uniforme de Comodoro, branco
brilhante em vez do preto o qual usou ao longo de toda a sua carreira. Os
pinos de insígnia já estavam colocados no colarinho e, onde no emblema
de ombro tinha estado o símbolo da família Irizi, estava agora o símbolo
de vários círculos da Ascendência Chiss.
— Você aceita esse uniforme e essa nova vida? — Ja’fosk perguntou.
Ziara respirou fundo. Não; não Ziara. Não mais.
— Sim, — disse Ar’alani.
Ja'fosk baixou a cabeça... e ao fazer isso, Ar'alani pensou que detectou
um pequeno sorriso ligeiramente agridoce.
Lembrando-se, talvez, de quando ele próprio ocupara o lugar dela. E
havia perdido a sua própria família.
—
A festa de celebração da promoção de Ar’alani estava terminando, e as
multidões de simpatizantes haviam diminuído para poucos, quando
Thrawn finalmente apareceu.
— Parabéns, Comodora, — ele disse, inclinando a sua cabeça para ela. —
Você se lembra que eu disse que você estaria aqui um dia.
— Na verdade, pelo que me lembro, você sugeriu que um dia eu fosse
ser almirante, — Ar’alani o lembrou. — Eu ainda tenho um longo caminho a
percorrer.
— Você vai conseguir, — disse Thrawn. — Entendo que você foi designada
para a Destrama e a Força de Piquete Seis.
— Sim, — confirmou Ar’alani. — Eu também solicitei que você fosse o meu
primeiro oficial.
— Sério, — disse Thrawn, claramente surpreso. — Pensei que as suas
obrigações de babá haviam acabado.
— Você acha que estava a bordo da Parala porque o General Ba’kif
queria que eu cuidasse de você?
— Acho que era mais uma questão de querer que você se certificasse de
que eu não perdia o controle. — Thrawn fez uma pausa. — De novo.
— Pode ter havido um pouco disso, — admitiu Ar’alani. — Mas isso não é
realmente relevante. Eu pedi você porque você é um bom oficial. — Ela
sorriu fracamente. — Também suspeito que haverá uma promoção para
você em algum lugar ao longo do caminho.
— Obrigado, — disse Thrawn. — Vou tentar não fazer você se arrepender
da sua decisão. — Ele hesitou. — Eu preciso de um conselho, Comodora, se
tiver um momento de sobra.
— Pra você, sei que não posso perder os momentos, — ela disse, olhando
por cima do ombro dele. Nenhum dos outros convidados estava perto o
suficiente para ouvir. — E quando formos só nós dois, pode ser só Thrawn e
Ar’alani.
Ele deu uma espécie de sorriso hesitante.
— Obrigado. Isso é... estou honrado.
Ela sorriu de volta.
— Então. O que você precisa?
— Eu fui recentemente abordado por um Irizi, — ele disse, baixando um
pouco a sua voz. — Ele disse que alguns Mitth estão descontentes comigo,
e podem tentar que eu seja disponibilizado.
O primeiro instinto de Ar’alani foi desviar a conversa para outro lugar. A
política familiar sempre foi um assunto delicado.
Mas não tinha nenhuma política familiar. Não mais.
— Qual era o nome dele?
— Aristocrata Irizi’stal’mustro.
Ar’alani assentiu com a cabeça.
— Zistalmu. Nunca o encontrei, mas eu o conheço. Deixe-me adivinhar:
achou que você deveria pedir para se juntar à Irizi?
— Na verdade, o tom e fraseado dele sugeriam que a reassociação já
estava certa, — respondeu Thrawn. — Certamente não houve menção a
entrevistas ou outras barreiras à minha aceitação. Ele também sugeriu que
eu seria um Surgido-na-provação, em vez de um adotado por mérito.
— Interessante, — disse Ar’alani. — Você diz que tudo isso foi sugerido,
mas não declarado abertamente?
— Não houve nenhum convite formal, se é isso que você quer dizer.
— Isto é. — Ar’alani franziu os lábios, seu olhar vagando pela sala. Os dois
Irizi que estiveram aqui antes já se foram, com apenas algumas das famílias
menores ainda representadas. — Certo, aqui está a história relevante. A Irizi
sempre foi forte apoiadora dos militares, principalmente da Força de
Defesa. Eles gostam de ter familiares nos escalões superiores, acham que
isso lhes dá mais prestígio, o que é, obviamente, uma das moedas entre os
Aristocratas.
— Prestígio é uma moeda?
— De certa forma, — respondeu Ar’alani. — Há muitos fatores que
influenciam a posição e o poder de uma família. Alguns deles são
financeiros ou históricos; outros são mais nebulosos, como prestígio e
reputação.
— Entendo, — disse Thrawn, embora Ar’alani tivesse certeza, pela
expressão dele, de que não. — O que isso tem a ver com a Mitth e eu?
— Geralmente, a Mitth está em uma posição mais forte do que a Irizi,
pelo menos no momento, — respondeu Ar’alani. — Nos últimos anos, a
Mitth também tentou diminuir o poderio militar Irizi recrutando cadetes e
oficiais promissores.
— Como eu?
— Muito provavelmente, — respondeu Ar’alani. — Estava claro desde o
começo da Academia que você tinha uma carreira forte pela frente. A
questão é que, talvez um pouco tardiamente, a Irizi reconheceu o seu
potencial e espera roubar você da Mitth.
— Você acha que ele estava certo sobre a Mitth querer me reassociar?
Ar’alani balançou a cabeça.
— Impossível dizer. Não tenho um sentimento pela política e estrutura
da Mitth da mesma forma que tenho com a Irizi. Acho que se você puder
evitar fazer qualquer coisa... polêmica... no futuro, você ficará bem. Os
adotados por mérito estão sempre em provação até que se provem. Mas
assim que o fizerem e depois de passarem nas Provações, eles terão uma
situação muito mais segura. E, claro, se e quando você for elevado a uma
posição distante, você será amplamente intocável.
— Entendo, — disse Thrawn. — No entanto, se os Irizi têm uma
mentalidade mais militar, eles não seriam uma família melhor para mim?
Ar’alani hesitou. Sem família. Sem família.
— Com toda a honestidade, nunca me senti confortável com a forma
como a Irizi domina o pessoal da Força de Defesa. Sei que devemos
ignorar a identidade familiar enquanto servimos, mas todos nós vimos
rivalidades transbordando em conversas e até mesmo em atribuições de
dever.
— Então, você recomendaria que eu ficasse com a Mitth?
— Essa é uma decisão que você deve tomar por si mesmo, — respondeu
Ar’alani. — Ser sanguínea da Irizi foi muito bom para a minha carreira, e a
família fez o mesmo por muitos outros. Mas o que foi bom pra mim pode
não ser bom pra você.
— Entendo, — disse Thrawn. — Obrigado. Tenho uma dívida com você.
— De nada. — Ar’alani ousou sorrir. — E não só uma, você sabe. Gosto de
pensar que contribuí com a minha pequena parte para mantê-lo na
academia por causa daquela acusação de trapaça.
— A sua contribuição foi muito maior do que você talvez se lembre, —
Thrawn assegurou-lhe. — E a sua ajuda não se limitou ao passado distante.
Nunca agradeci adequadamente pelo seu apoio após o incidente em
Stivic.
— O meu apoio foi completamente desnecessário, — disse Ar’alani,
olhando-o diretamente nos olhos. — Os Garwians declararam oficialmente
que foi o Oficial de Segurança Frangelic quem detectou a fraqueza das
táticas dos piratas e encontrou uma maneira de explorá-la. Pela maneira
como estavam dizendo maravilhas sobre ele, provavelmente já foi
promovido a essa altura.
— E ele merece todos os elogios que recebeu.
— Concordo. — Ar’alani inclinou a cabeça. — Só por curiosidade, eu
pesquisei isso depois e não consegui encontrar uma maneira óbvia de
conectar um comunicador a um laser de alcance.
— Não há, — disse Thrawn. — Mas há um ponto onde um questis pode ser
conectado para download e análise de dados.
— E conexões como essa geralmente podem funcionar em qualquer
direção, — disse Ar’alani, assentindo. — Então você amarrou o seu questis à
opção de modulação de frequência do laser e usou a opção de voz para
texto?
— Apenas texto, — respondeu Thrawn. — Se houvesse uma investigação
depois, ter uma gravação de voz restringiria a busca um pouco demais.
Ar’alani acenou com a cabeça novamente.
— Os Garwians devem isso a você. Espero que percebam isso.
— Não o fiz isso pela gratidão deles, — Thrawn disse, parecendo um
pouco surpreendido que Ar'alani até pensasse nisso nesses termos. — Fi-lo
pelo bem do povo deles, e por todos aqueles que de outra forma teriam
enfrentado esses mesmos atacantes.
— Um objetivo nobre, — disse Ar’alani. — Gostaria que a Ascendência
apreciasse mais isso.
Thrawn sorriu.
— Nem o fiz por nossa gratidão.
— De fato. — Mais uma vez, Ar’alani olhou por cima do ombro. Ainda
havia seis pessoas ali, mas estavam absortas em conversas entre elas e
nunca sentiriam a falta dela. — É o seguinte. Vamos para um lugar um
pouco mais calmo e você pode me pagar uma bebida para comemorar.
Ela tocou no braço dele.
— E enquanto bebemos, — ela disse, — você pode me dizer todos os
outros objetivos que tem e pelos quais a Ascendência fingirá não ser grata.
O contramestre do estaleiro balançou a cabeça enquanto corria para o
final da lista.
— Eu não sei o que há com vocês, — ele disse. — É a segunda vez em
dois meses. Vocês deliberadamente correm para o meio das suas batalhas?
— Claro que não, — Samakro disse rigidamente. — Não é culpa da
Falcão de Primavera se o Conselho e a Aristocracia continuam nos
enviando para o Caos para lutar contra as pessoas.
— Não é culpa deles se você não vence as batalhas mais rápido, também,
— rebateu o contramestre, meio se virando para espiar pela janela a Falcão
de Primavera flutuando nas proximidades, a silhueta contra o disco branco-
azulado da superfície congelada de Csilla preenchendo metade do céu.
— Ganhamos rápido o suficiente, — garantiu Samakro. — E não vamos
exagerar no drama, vamos? Não há tantos danos.
— Você não acha? — o contramestre disse amargamente. — Bem,
suponho que é por isso que você está lá fora correndo para dentro das salvas
de mísseis e eu estou aqui remontando a sua nave. — Ele ergueu um dedo.
— Juntas de sensores precisando de substituição: sete. Placas do casco
precisando de substituição: oitenta e duas. Lasers de espectro precisando de
reparo ou reforma: cinco. E que bobagem é essa sobre adicionar um tanque
extra de fluido de esfera de plasma?
— Nós usamos muito as esferas de plasma.
— E onde exatamente o Capitão Sênior Thrawn sugere que eu coloque
isso? — o contramestre respondeu. — Nos aposentos dele? Os seus
aposentos?
— Não faço ideia, — disse Samakro. — É por isso que você está aqui
realizando milagres de manutenção e nós estamos lá fora fazendo as
pessoas se arrependerem de ter se envolvido com a Ascendência Chiss.
— Seria preciso um milagre, — resmungou o contramestre, olhando
novamente para o questis. Ainda assim, ele parecia satisfeito com o
pequeno elogio de Samakro. — O mínimo que poderia fazer é vir pedir
esses milagres pessoalmente.
— Ele está em conferência com o General Ba’kif agora.
O contramestre fungou.
— Sem dúvida planejando a sua próxima incursão em problemas. Bem.
Vou começar com o resto disso e ver se consigo encontrar espaço suficiente
em algum lugar impossível para este tanque de plasma que ele quer.
— Se há alguém que pode fazer isso, esse só pode ser você, — Samakro
assegurou-lhe. — De quanto de tempo estamos falando?
— Pelo menos seis semanas, talvez sete, — disse o contramestre. — Se
eu receber um pedido de urgência do Ba’kif ou do Supremo Almirante
Ja’fosk, talvez possa cortar uma semana.
— Bem, vá em frente e comece, e eu verei como conseguir esse pedido
de urgência, — disse Samakro. — Obrigado.
— Agradeça-me não destruindo a sua nave da próxima vez.
— O quê, e fazer o Conselho se perguntar se ainda precisam de pessoas
como você? — Samakro perguntou suavemente.
— Adoraria ver o Conselho tentar pôr a mão deles neste trabalho, —
disse o contramestre. — A Ascendência nunca mais voaria. Vai lá, saia
daqui... tenho trabalho a fazer.
Quinze minutos depois, Samakro estava em um transporte espacial indo
para a superfície.
Um nó forte no seu estômago.
Você deliberadamente corre para o meio das suas batalhas? Perguntou o
contramestre. Samakro dispensou o sarcasmo... mas no fundo do seu
coração ele não tinha tanta certeza. Houveram pelo menos duas vezes
durante a escaramuça de Lioaoin, talvez três, quando Thrawn levou a
Falcão de Primavera muito mais fundo na zona de fogo inimigo do que
deveria. Quase todos os danos que o contramestre reclamou vieram dessas
ataques em particular.
Thrawn estava tentando reunir informações adicionais sobre as novas
táticas Lioaoin, quanto gostaria de solicitar? Ou era possível que ele
estivesse começando a perder o julgamento e o discernimento tático que
haviam elevado o seu nome a tal proeminência?
Thrawn havia insinuado que havia iniciado a sua reunião atual com
Ba’kif. Mas talvez fosse o contrário. Talvez Ba’kif tenha notado o mesmo
subtexto preocupante nos relatórios pós-ação e estava tendo algumas das
mesmas dúvidas de Samakro. Talvez tenha chamado Thrawn para descobrir
o que estava acontecendo.
E se o general decidisse que Thrawn não era mais capaz de comandar a
Falcão de Primavera...
Samakro respirou fundo. Pare com isso, ele ordenou a si mesmo. Mesmo
que Thrawn fosse dispensado do comando, isso não significava
necessariamente que Samakro seria reconduzido a ele. A Falcão de
Primavera ainda tinha um nome importante, e a família Ufsa não era a
única que adoraria ter um deles no comando.
Ainda assim, era um pensamento interessante.
Por um longo minuto, a jovem apenas ficou sentada ali, o rosto rígido, o
corpo estranhamente imóvel. Procurando, sem dúvida, uma saída da
armadilha.
A armadilha na qual havia pisado de livre vontade, é claro. Era essa
promessa, ou Thurfian teria se virado, voltado para o escritório de pessoal e
cancelado a nomeação dela como cuidadora da sky-walker da Falcão de
Primavera. Com uma ameaça como aquela pairando sobre ela, ela não tinha
outra escolha senão concordar.
Mas não foi de boa vontade. Nem de longe. Mesmo agora, quando olhou
para a expressão e postura corporal dela, ficou claro que esperava sair do
negócio.
Que pena. As esperanças dela não importavam, nem a sua reticência.
Tudo o que importava era que Thrawn estava tramando algo novo e
Thurfian estava ficando cansado das travessuras dele. Precisava de uma
alavanca que pudesse usar contra o rebelde, e o conhecimento detalhado de
Thalias das outras atividades recentes de Thrawn era essa alavanca.
— Vamos, vamos... nós não temos o dia todo, — ele disse no silêncio
tenso. — Quanto mais cedo você terminar, mais cedo poderá voltar a
bajular o seu grande herói.
— Achei que isso iria esperar até que toda a campanha acabasse, —
disse Thalias, sem fazer nenhum movimento em direção ao questis.
— Eu nunca dei a você nenhum tipo de prazo, — Thurfian a lembrou. —
O negócio era muito claro: eu colocaria você a bordo da Falcão de
Primavera e você seria a minha espiã.
Thalias estremeceu visivelmente com a palavra. Thurfian também não se
importava com isso.
— Tudo o que você precisa saber sobre o Capitão Sênior Thrawn está
nos registros oficiais, — ela disse. — Depois de lê-los, eu posso responder
a qualquer outra pergunta que você tenha.
— Eu os tenho lido, — rebateu Thurfian. — E você está protelando.
— Não estou protelando, — Thalias disse, se levantando. — Acontece
apenas que tenho um compromisso em outro lugar. Se você me der
licença...
— Sente-se, — disse Thurfian, colocando toda a frieza da superfície de
Csilla em sua voz. — Você não quer falar sobre Thrawn? Tudo bem. Vamos
falar sobre a sua família.
— Você não quer dizer nossa família?
— Quero dizer, a sua família original, — disse Thurfian. — A família
que a gerou e que manteve a sua lealdade antes de você ser tirada deles para
se tornar uma sky-walker.
Thalias parou, parada no meio do caminho entre a sua cadeira e a porta,
todo um jogo de emoções passando pelo seu rosto. Não tinha nenhuma
lembrança daqueles anos, Thurfian sabia, o que tornava esta a alavanca
adicional ideal para usar contra ela.
— O que tem eles? — ela perguntou finalmente.
Thurfian escondeu um sorriso. Estava tentando parecer calma e
desinteressada, mas os músculos tensos da sua garganta e bochechas
denunciavam seu repentino interesse e incerteza.
— Achei que você gostaria de saber sobre a situação atual deles, — ele
respondeu. — E como você talvez pudesse ajudá-los. — Ele fez uma pausa,
esperando que ela respondesse.
Mas ela permaneceu em silêncio. Uma personagem fria, com certeza,
que não seria facilmente influenciada. Mas Thurfian tinha muita
experiência em manipular essas pessoas.
— Eles não estão em boa situação, sabe, — ele continuou. — A família
sempre foi pobre, mas a recente mudança nos preços de certos minerais os
pressionou de maneira particularmente forte. A família Mitth tem muitos
recursos, alguns dos quais podem ser direcionados para eles.
— Eu nem mesmo me lembro deles.
— Claro que não, — disse Thurfian. — Você era muito jovem quando
foi levada. Mas isso realmente importa? Eles são o seu povo. O seu sangue.
— A Mitth é o meu povo agora.
— Possivelmente. — Thurfian deu de ombros. — Talvez não.
Os olhos de Thalias se estreitaram.
— O que isso deveria significar? Eu sou um membro pleno da Mitth.
— Não, — disse Thurfian. — Você é uma adotada por mérito e
relativamente nova nisso. Você tem um longo caminho pela frente antes que
a sua posição seja outra coisa senão precária.
Thalias olhou para o questis.
— Você está sugerindo que a minha posição com a Mitth depende da
minha traição de Thrawn?
— Traição? Claro que não, — Thurfian disse, colocando um pouco de
indignação justa na sua voz. — Thrawn é um membro da nossa família —
pelo menos por enquanto, ele se lembrou em silêncio — E falar sobre ele
não se qualifica como traição. Pelo contrário, não relatar quaisquer
atividades questionáveis é onde residiria a traição.
— Então vamos simplificar, — disse Thalias. — Eu nunca o vi fazer
nada questionável, ilegal ou antiético. Certamente nunca o vi fazer nada
contra a Mitth. Isso é bom o bastante?
Thurfian deu um suspiro teatral.
— Você me decepcionou, Thalias. Esperava que você tivesse um futuro
com a Mitth. Mas se nós não podemos nem mesmo confiar em você para
nos ajudar a vigiar um perigo potencial para a família, não vejo como
podemos mantê-la conosco. Mas a decisão é sua. Eu mesmo posso vigiar o
Thrawn.
Ele ergueu as sobrancelhas ligeiramente.
— Começando com o que ele está fazendo agora. Percebi que estava
conversando com o General Ba’kif novamente, então esse é provavelmente
o melhor lugar para começar. Talvez eu demore uma ou duas horas para
examinar isso antes de começar o seu procedimento de reassociação.
Thalias tentou esconder a sua reação. Mas não adiantou. A ameaça
improvisada dele de reassociação com a sua antiga família tinha
funcionado. Ele daria a ela a próxima hora para considerar como seria a
vida sem a Mitth, e então ele iniciaria o procedimento.
Abruptamente, ela puxou o seu próprio questis e olhou para ele.
— Tudo bem, — ela disse. — Você ganhou.
Mais uma vez, Thurfian escondeu o seu sorriso de triunfo. Realmente, às
vezes era fácil demais.
— Excelente, — ele disse, gesticulando pra ela voltar para a cadeira. —
Embora, ao pensar melhor, me pergunto se seria melhor voltar primeiro
para a nossa conversa com o General Ba'kif. Você pode começar o seu
relatório ao longo do caminho.
— Você está certo, nós estamos saindo, — concordou Thalias. — Mas
não para a sede da frota. — Ela ergueu o seu questis. — Em vez disso, você
deve me levar para o domicílio da Mitth.
A sensação de triunfo de Thurfian desapareceu.
— O que? — ele perguntou com cuidado.
— Você mesmo disse, — ela respondeu. — Eu não tenho uma posição
estável com a família. Então, tomei providências para remediar isso.
— Como? — ele perguntou, com o seu sangue gelando de repente. Se
ela denunciasse o seu interesse em Thrawn para as pessoas erradas...
Não, não poderia ser isso. Ela não poderia saber o suficiente sobre a teia
labiríntica tecida em torno das camadas superiores da família.
— Se você acha que há alguém mais alto do que eu, você pode apelar
para...
— Não vou recorrer, — ela interrompeu. — Eu vou fazer as Provações.
Ele olhou para ela.
— As Provações?
— Os adotados por mérito podem pedir a qualquer momento para
participar das Provações, — Thalias respondeu. — Se eles forem bem-
sucedidos, eles se tornarão Surgido-na-provação.
— Por favor, não me dê sermões sobre as políticas da minha própria
família, — disse Thurfian rigidamente. — E isso ocorre só se eles tiverem
sucesso. Do contrário, eles perdem até mesmo o status de adotado por
mérito.
— Estou ciente disso, — disse Thalias. Havia um leve tremor em sua
voz, mas a sua mandíbula estava firme. — Mas você ia me expulsar da
família de qualquer maneira. — Ela ergueu o questis novamente. — Eu fiz
uma petição ao Escritório do Patriarca, e a petição foi aceita.
— Tudo bem, — disse Thurfian entre os dentes cerrados. Amaldiçoo
essa mulher, de qualquer maneira. — Vou lhe dar as instruções sobre como
chegar ao domicílio...
— O Escritório do Patriarca solicitou que você me acompanhasse.
Thurfian soltou uma maldição. A espiral final dos seus planos. Ela o
superou completamente.
Ela ... ou Thrawn.
Ele poderia ter antecipado esse confronto? Certamente Thalias não
poderia ter bolado um esquema tão perigoso sozinha. E se fosse Thrawn,
como ele a persuadiu a arriscar todo o futuro dela com a Mitth por ele?
Apenas mais uma razão pela qual este homem precisava ser derrubado.
— Claro, — ele disse, levantando-se. — Eu não perderia isso nem por
todas as riquezas da Ascendência.
Che'ri nunca foi boa em ler rostos de adultos. Mas, mesmo assim, não teve
problemas em ver que Thrawn estava surpreso e preocupado enquanto
guardava o seu questis.
— Há algo de errado? — ela perguntou ansiosamente.
Ele hesitou um momento antes de responder.
— Parece que a Cuidadora Thalias não se juntará a nós, — ele
respondeu.
— Oh, — disse Che'ri, olhando para além dele, para a pequena nave para
onde ele os trouxe. As últimas caixas de suprimentos estavam sendo
levadas a bordo pelos estivadores, e ele disse que partiriam assim que
Thalias chegasse.
Só que agora eles não estavam mais esperando?
— Então, o que nós vamos fazer?
Thrawn se virou para olhar a nave.
— Esta missão é de vital importância, Che'ri, — ele respondeu
calmamente. — Thalias não disse muito... suponho que não estava livre
para falar abertamente... mas ficou claro que estaria ocupada pelo menos
nos próximos dias.
— Então, nós não vamos? — Che'ri perguntou, ainda lutando para ler a
expressão dele.
— Isso depende de você. — Ele se virou para olhar pra ela. — Você está
disposta a ir comigo, só nós dois, para as profundezas do Caos?
Por um momento, a boca, a língua e o cérebro de Che'ri pareceram
congelar. Uma sky-walker nunca ia a lugar nenhum sem uma nave cheia de
pessoas ao seu redor. Essa foi a primeira regra e promessa que ela recebeu
quando começou o seu treinamento. Garotas como ela eram raras demais
para se arriscar a algo menos do que uma nave de guerra completa ou um
cruzador diplomático. O que Thrawn estava pedindo nunca foi feito.
Jamais.
Mas ele disse que era importante. Seria importante o suficiente para
quebrar todas as regras regulares?
— Nós podemos fazer isso? — ela perguntou hesitante.
Ele deu de ombros, um pequeno sorriso tocando os seus lábios.
— Fisicamente e taticamente, é claro que sim, — ele respondeu. — Eu
posso voar, você pode navegar, e a nave em si está bem armada para nos
livrar de qualquer problema em que provavelmente nos encontremos.
— Quis dizer que nós vamos ter problemas.
— Você, não, — ele disse. — As sky-walkers são efetivamente
intocáveis por qualquer punição. Você pode levar uma bronca, mas isso
seria tudo. — Ele fez uma pausa. — Se isso faz diferença, Thalias não
sugeriu que esperássemos por ela ou que abandonássemos a missão
completamente.
— Se eu não for, o que acontece?
— Então eu abandono a missão, — respondeu Thrawn. — O que levaria
dias sob o controle de uma sky-walker exigiria semanas ou meses de
viagem salto por salto. Eu não posso gastar meses. — Os seus lábios se
comprimiram. — Nem, eu temo, a Ascendência.
Este jogo, pelo menos, Che'ri conhecia muito bem. Um adulto faria
ameaças vagas ou promessas mais vagas, com grandes coisas acontecendo
de qualquer maneira se ela não trabalhasse por uma hora extra, pulasse um
de seus dias de descanso ou fizesse o que quer que eles quisessem.
Mas enquanto olhava para o rosto de Thrawn, teve a estranha sensação
de que ele não estava jogando. Na verdade, não tinha nem mesmo certeza se
ele sabia como jogar assim.
E se Thalias realmente esperava que fosse...
— Tudo bem, — ela disse. — Você pode...? Deixa pra lá.
— O que?
— Só queria saber se você poderia me dar mais alguns marcadores
gráficos coloridos, só isso, — respondeu Che'ri, sentindo o seu rosto
aquecer de vergonha. De todas as coisas estúpidas para pedir...
— De fato, — disse Thrawn, — já há duas caixas novas a bordo. E
quatro pastas de folhas de arte a serem desenhadas.
Che'ri piscou.
— Oh, — ela disse. — Eu estou... obrigada.
— De nada. — Thrawn gesticulou em direção à nave. — Podemos ir?
O sol já havia se posto, mas ainda havia um brilho no céu a oeste quando
Thalias finalmente emergiu do caminho. Thurfian claramente estivera
observando e, enquanto caminhava em direção à mansão, ele apareceu pela
porta e a indicou um vagão de túnel que esperava perto do mapa em
mosaico.
— Mudança de planos, — ele chamou quando ela chegou ao alcance da
voz. — Preciso voltar à Sindicura, e o Patriarca disse que eu deveria levar
você comigo.
— Há algum problema? — Thalias perguntou.
— Nenhum que eu saiba, — disse Thurfian. — Mas a Almirante Ar'alani
enviou uma mensagem pedindo que você retornasse a Vigilante o mais
rápido possível. — Ele deu a ela um olhar suspeito. — Também observei
que, enquanto estava convenientemente distraído, Thrawn conseguiu
escapar.
— Essa certamente não era a minha intenção, — disse Thalias, sabendo
muito bem que não o estava enganando nem um pouco. — Mas já que você
mencionou as Provações, quando eu saberei se eu passei neles?
— Você pensa muito como uma colegial, — respondeu Thurfian
amargamente. — As Provações não são um ensaio para ser corrigido e
devolvido após a aula. — O lábio dele torceu. — Sim, você passou. Você
agora é uma Surgida-na-Provação da Mitth. Parabéns. Entre.
— Obrigada, — Thalias murmurou.
Ela se sentou de lado em seu assento enquanto eles saíam, observando a
mansão, a montanha e o domicílio desaparecendo na distância atrás deles,
até que a parede do túnel a bloqueou abruptamente da sua vista. Nunca
sonhou que realmente encontraria o Patriarca da sua família adotada, muito
menos que teria uma longa e séria conversa só com ele. Ela manteria aquele
encontro, e as suas promessas pra ele, trancadas em seu coração.
E mesmo quando um novo capítulo da sua vida estava começando, no
entanto agora uma era na vida da família Mitth chegava ao fim.
Certa vez, foi dito, que a Marcha do Silêncio no Salão de Convocação tinha
sido usada pelos líderes das Famílias Regentes para providenciar a
censura, prisão ou execução dos seus inimigos. A sua construção e
acústica eram tais que uma conversa poderia realisticamente conter não
mais do que quatro ou cinco pessoas, sem que as pessoas no limite
externo fossem capazes de ouvir o que estava sendo dito no centro.
Mas isso acontecera há milhares de anos. Agora, com o esclarecimento
que veio da maturidade política, a Marcha havia se tornado um ponto de
encontro para Porta-vozes e síndicos que desejavam discutir questões
políticas sem que um deles tivesse que mostrar a fraqueza inerente ao se
reunir no escritório de outro.
Enquanto o Conselheiro Thurfian observava o Conselheiro Zistalmu se
aproximando do outro lado da Marcha, ele se perguntou se a Irizi
apreciaria a ironia da proposta que estava prestes a apresentar.
O caminho de Zistalmu foi por necessidade um tanto sinuoso enquanto
cuidadosamente contornava os outros grupos de conversação a distâncias
calculadas para evitar escuta não intencional. Finalmente, alcançou
Thurfian e deu um passo para o lado dele.
— Aristocrata Thurfian, — ele disse, assentindo.
— Aristocrata Zistalmu, — Thurfian retribuiu a saudação. — Deixe-me ir
direto ao ponto. Entendo que a Irizi abordou o Comandante Sênior
Mitth’raw’nuru sobre ele se separar da Mitth e se juntar à sua família.
Um lampejo de surpresa e suspeita tocou a expressão geralmente
ilegível de Zistalmu.
— Eu tive a impressão de que tais ofertas eram confidenciais até e a
menos que fossem finalizadas.
— Foi por acaso que ouvi, — explicou Thurfian. — Também entendo que
recusou a sua oferta.
— Não oficialmente, — corrigiu Zistalmu. — A oferta permanece aberta.
— Não, ele a recusou, — disse Thurfian. — Você viu os registros de
Thrawn. Ele não hesita quando vê uma vantagem tática. Se ele ainda não
aceitou até agora, a resposta é não.
— Possivelmente. — Zistalmu olhou pra ele. — Suponho que você não me
convidou para vir aqui simplesmente para se gabar da nossa tentativa
fracassada.
— De jeito nenhum, — disse Thurfian. — Eu convidei você aqui para ver se
você tinha algum interesse em derrubá-lo.
A expressão ilegível manteve-se firme desta vez. Mas Thurfian percebeu
que estava bem perto.
— Eu não entendo.
— É bastante simples, — disse Thurfian. Zistalmu poderia causar imensos
problemas pra ele, ele sabia, se repetisse qualquer uma dessas coisas para
um dos Conselheiros ou síndicos da Mitth. Mas Thurfian tinha uma boa
noção dos objetivos e da política de Zistalmu e tinha certeza de que isso
não aconteceria. — Também vi o registro de Thrawn. Ele tem potencial para
fazer grandes coisas a serviço da frota; mas também tem um potencial
igual de trazer ruína para a Mitth e, possivelmente, para toda a
Ascendência.
Zistalmu o favoreceu com um sorriso zombeteiro.
— Levar ruína à Mitth não parece tão ruim. — O sorriso desapareceu. —
Mas a Ascendência é outra questão.
— Então você concorda comigo?
— Não sei como você deu esse salto a partir de um simples comentário a
favor da Ascendência, — disse Zistalmu. — Mas, se estivermos sendo
honestos... sim, vejo o mesmo potencial tanto para glória quanto para o
desastre.
— Embora o resto da Irizi aparentemente não veja isso.
Zistalmu acenou com a mão.
— A oferta de recrutamento foi a tentativa deles de roubar Thrawn da
Mitth. Duvido que algum deles se importou em olhar profundamente no
registro dele para ver o que você e eu estamos vendo. Então, o que
exatamente você está propondo?
— Nesse ponto, nada além de vigilância, — respondeu Thurfian, sentindo
uma ligeira diminuição da tensão. — Isso deve ser fácil de fazer, visto que
as nossas duas famílias já tinham nos designado para cuidar dos assuntos
militares. Nós simplesmente continuamos com esse procedimento, apenas
com o objetivo de coordenar a nossa resposta se virmos algo perigoso em
andamento.
— Não vai ser fácil, — Zistalmu avisou, os seus olhos se estreitaram em
pensamento. — Por alguma razão, parece ter feito aliados ferrenhos do
General Ba’kif e da Comodora Ar’alani. Essas são pessoas poderosas e
influentes.
— Concordo, — disse Thurfian. — Provavelmente Ba’kif é intocável, mas
Ar’alani já foi da Irizi. Ela ainda poderia ser receptiva à pressão.
— Duvido, — disse Zistalmu amargamente. — Falei com ela uma ou duas
vezes desde a promoção dela, e está muito empenhada em manter a sua
nova situação de não familiar.
— Então nos concentramos em Thrawn, — disse Thurfian. — E, talvez, em
alguns dos seus aliados menos graduados.
— Você saberia mais sobre isso do que eu, — disse Zistalmu. — Muito
bem. Vamos observar, esperar e ver. — Ele olhou ao redor. — E, claro, nós
não falaremos sobre isso com ninguém.
— Com certeza, — concordou Thurfian. — Obrigado, Aristocrata. Com
sorte, nós nunca seremos chamados a agir. Mas e se formos...?
— Então nós agimos. — Zistalmu gesticulou em torno do corredor. —
Espero que tenha notado a ironia da nossa discussão, dada a famosa
história da Marcha do Silêncio.
— Sim, — disse Thurfian. — Voltaremos a nos falar, Aristocrata.
— Certamente nós vamos. — Com um aceno de cabeça, Zistalmu se virou
e se afastou na direção do seu escritório.
E, quando Thurfian se virou na outra direção, um pensamento tardio lhe
ocorreu. A história da Marcha fala de alguns dos Aristocratas sendo
acusados por crimes ocasionalmente tão sombrios como traição. A
questão era se o Thrawn seria objeto de qualquer acusação futura deste
tipo, ou se seria Thurfian e Zistalmu.
Só o tempo poderia dizer.
T hrawn e Che’ri estavam ausentes há quase cinco semanas e, a cada dia
que passava, Thalias sentia a sua alma morrer um pouco mais. Sabia que
deveria ter estado lá com eles, enfrentando os mesmos perigos que estavam
enfrentando. O fato de que a sua artimanha da Provação tirou Thurfian do
caminho, não contava realmente como sendo útil para a missão deles.
A ordem do Patriarca para vigiar Thrawn apenas acrescentou aquela
torção extra da facada ao seu sentimento de culpa.
Ela, portanto, sentiu uma enorme sensação de alívio quando Ar'alani
finalmente ligou para informá-la de que a nave de reconhecimento havia
entrado no sistema Csilla, mas que estava se mantendo longe da capital por
enquanto e que uma nave estava a caminho para trazer Thalias para a
Vigilante.
Descobriu-se que o retorno silencioso e sem aviso dos viajantes foi
apenas a primeira das surpresas.
— Isso pode mudar tudo, — disse Ar’alani.
Thalias assentiu com a cabeça, pensamentos e possibilidades girando na
sua mente enquanto olhava para o questis dela e os detalhes do escudo de
energia da República que Thrawn e Che'ri trouxeram de volta com eles. Em
um lugar tranquilo no fundo da sua mente, se encontrou mais surpresa com
o fato de Thrawn e Ar'alani confiarem nela o suficiente para compartilhar o
segredo deles.
Mas então se lembrou que Che'ri sabia de tudo também, e as sky-walkers
e as suas cuidadoras passavam muito tempo juntas. Os dois oficiais
provavelmente haviam decidido que Thalias poderia muito bem ouvir toda
a história antes, em vez de ouvir aos poucos a história de uma criança de
nove anos.
— Isso está a anos-luz além das barreiras eletrostáticas que temos usado,
— continuou Ar’alani. — Teremos que repensar as nossas táticas, nossa
gama de frota, todo o equilíbrio de poder. Tudo.
— Mas a nossa vantagem é apenas temporária, — advertiu Thrawn. —
Mesmo se pudermos fazer a engenharia reversa daquele que trouxemos...
— Nós podemos, — insistiu Ar’alani. — Vamos fazer isso.
— Mesmo se nós pudermos, — continuou Thrawn, — nenhuma
tecnologia permanece exclusiva por muito tempo. Assim que for conhecida
a sua existência, outros desenvolverão a sua própria versão. Ou
simplesmente vão roubá-la.
— Não de nós, — assegurou Ar’alani, torcendo os lábios. — Mas
conseguir um da República deve ser bastante fácil. — Ela bateu no questis
pensativamente. — Porém a verdadeira questão é por que Yiv ainda não
recebeu algo assim. Você disse que havia algum grupo de alienígenas
envolvido com os Separatistas, não disse?
— Sim, mas não há motivo para pensar que estão necessariamente
associados aos Nikardun, — apontou Thrawn. — Mesmo que estejam,
podem ter as mesmas preocupações que nós. Se mostrarem ao Caos que
esse escudo existe, a Ascendência e todos os outros logo terão um.
— Então, eles estão pensando em usar isso como uma surpresa em
algum lugar no futuro?
— Assim como nós, — acrescentou Thrawn. — Mas, ao contrário deles,
não podemos esperar. Temos que usá-lo agora, e contra Yiv, antes que saiba
que nós o temos.
— Embora ele já pode saber, — advertiu Ar’alani. — Parece que você e
esse General Skywalker fizeram uma bagunça bem barulhenta lá. Ela
balançou a cabeça. — Skywalker. Coincidência bizarra.
— Entendo que isto não seja um nome incomum em partes do Espaço
Menor, ponderou Thrawn. — Mas você está absolutamente correta. Não há
como os incidentes em Batuu e Mokivj ficarem encobertos por muito
tempo.
Thalias estremeceu. Batalhas, interrogatórios, destruição em larga escala
em escala planetária. Incidentes.
— Tudo bem, — concordou Ar’alani, deixando o questis de lado. —
Você obviamente tem um plano. Vamos ouvi-lo.
Thrawn fez uma pausa, como se reunisse os seus pensamentos, e Thalias
aproveitou o momento para dar a Che'ri um olhar furtivo. A menina a
cumprimentou primeiro com abraços e lágrimas, alguns de alegria e outros
de simples tensão liberada. Nesse sentido, ainda era muito a garotinha que
havia deixado a Ascendência para esta aventura.
Mas quando Thalias a olhava agora, podia ver que a jornada havia
acrescentado mais do que algumas semanas de idade a ela. Não exatamente
no sentido de envelhecimento, com o estresse ou o peso extra que poderia
ter sido imposto a ela por semanas de perigo, medo ou exaustão. Em vez
disso, era como se uma nova camada de maturidade e confiança se
instalasse no rosto da criança.
— Em primeiro lugar, nós sabemos que Yiv não está pronto para
enfrentar a Ascendência, — apontou Thrawn. — Isso ficou mais claro
depois da nossa primeira visita ao mundo coração de Lioaoin. Cercado por
seus aliados, enfrentando um inimigo que queria muito capturar ou matar...
— Você? — Ar’alani sugeriu.
— Eu, — confirmou Thrawn. — Mesmo assim, ele deteve o fogo e nos
deixou partir em paz.
— Pode ter sido simplesmente uma questão de tempo e lugar, — disse
Ar’alani. — Mas vamos supor que você esteja certo. Continue.
— Também sabemos que Yiv ainda está trabalhando para colocar os
Vaks sob o seu controle, — disse Thrawn. — Essa cautela é evidenciada
pelo fato de que, novamente com as forças Vak presumivelmente
disponíveis pra ele, trouxe naves de guerra Lioaoin para lidar com a luta
quando você veio para extrair Thalias e eu de Primea
— Concordo, — aquiesceu Ar’alani. — E dada a sua leitura da paixão
de Vak por explorar todas as linhas de pensamento, pode ser mais difícil do
que esperava fazer com que toda a liderança, sem falar em todo o planeta, o
seguisse.
— Exatamente, — concordou Thrawn. — E aí está a nossa
oportunidade. Se pudermos atrair alguns dos Vaks para o nosso lado e
mostrar aos outros que as intenções de Yiv não são elevá-los com prestígio,
mas apenas usá-los para lutar e morrer nas batalhas dele, podemos abrir
uma barreira entre eles. Se isso não interromper o plano dele
completamente, deve pelo menos nos dar tempo suficiente para convencer a
Sindicura de que os Nikardun são uma ameaça que precisa ser enfrentada.
— Com licença, — Che'ri falou hesitantemente, levantando a mão pela
metade.
Thrawn e Ar’alani olharam para ela.
— Sim? — indagou Thrawn a convidando a prosseguir.
— E se ele simplesmente deixar Primea e for para outro lugar? — a
garota perguntou. — Há muitos outros alienígenas na área.
— Ele poderia fazer isso, sim, — respondeu Thrawn. — Mas dedicou
muito tempo e esforço para conquistar os Vaks. Eu não acho que vai desistir
sem uma persuasão séria.
— Não são apenas os Vaks em si, contudo, — acrescentou Ar’alani. —
Primea é um centro de diplomacia e comércio para toda aquela região, um
lugar onde pessoas de todas as outras espécies alienígenas que você
mencionou vão para conversar e fazer negócios. Se Yiv conseguir que os
líderes Vak o endossem, ou pelo menos deixá-lo ficar por perto e encontrar
visitantes, ele terá vetores em todas essas outras nações.
— Nós já vimos que ele gosta de uma mistura de conquista pela força e
conquista pela persuasão, — explicou Thrawn. — Até mesmo o seu título,
General Yiv, o Benevolente, tenta ter as duas coisas. Não, acho que se
tentarmos tirá-lo de Primea, escolherá ficar e lutar.
— Ou trazer a luta até nós, — advertiu Ar’alani. — Mesmo que este não
seja o momento da preferência dele, pode decidir que precisa atingir a
Ascendência.
— Ele não fará isso diretamente, — disse Thrawn. — É mais provável
que ele envie os Paataatus contra nós novamente.
— E assim é melhor como?
— Melhor pra ele porque não desperdiça as suas próprias forças, —
respondeu Thrawn. — Melhor pra nós porque já sabemos como vencê-los.
— Bem, você sabe como vencê-los, — murmurou Ar’alani. — Às vezes,
não tenho tanta certeza sobre ninguém.
— Nós podemos vencê-los, — Thrawn garantiu a ela. — Mas não, a
batalha crucial será em Primea. Se pudermos demonstrar a fraqueza de Yiv
e a sua traição na frente dos Vaks, eles podem reconsiderar a escolha de
aliados deles.
— Parece uma hipótese remota, — disse Ar’alani. — Mas, salvo
qualquer tipo de intervenção direta, acho que é tudo o que temos. Então,
como faremos isso?
Thrawn pareceu se preparar.
— Nós convidamos os Vaks para nos ajudar.
E enquanto ele traçava o seu plano, Thalias descobriu que ainda tinha
mais uma surpresa a oferecer.
— Eles estão nos chamando, — anunciou Che'ri. — Essa luz, bem aí.
— Eu vi, — disse Thalias, a sua cabeça latejando com uma tensão que
não tinha nada a ver com o peso extra da crosta dura da maquiagem, mais
uma vez criando as cristas de marcação de reféns e planaltos rasos no seu
rosto. Com os Nikardun e os Vaks aqui, todo o sistema Primea era território
inimigo.
E ela e Che'ri estavam sozinhas no meio disso.
Olhou pra garota, inclinando-se um pouco sobre o painel de controle do
caça, os olhos delas se estreitavam em concentração. Pelo menos metade da
expressão dela estava coberta pela mesma maquiagem que Thalias estava
usando, mas não parecia haver qualquer tensão ali. Ela estava sentindo
algum dos escrúpulos de Thalias?
— Você está terrivelmente calma, — Thalias disse.
— E eu não deveria estar? — Che'ri perguntou, lançando um olhar
perplexo para Thalias. — Está tudo sob controle, certo?
— Bem ... claro, eu acho que sim, — Thalias respondeu. — Eu só…
— Você confia nele, não é? — Che'ri pressionou.
— Sim, acho que sim.
— Porque nós duas o vimos fazer coisas incríveis, — Che’ri continuou,
ainda carrancuda. — Pegando aquele gerador de escudo, tirando você de
Primea, batalhas e outras coisas. Você também viu tudo isso, certo?
— Certo, — Thalias concordou. — Só que dessa vez…
— Não há diferença, realmente, — interrompeu Che'ri. — Está tudo sob
controle.
— Claro que há uma diferença. — Discordou Thalias. — Todas as outras
vezes, Thrawn estava aqui conosco. Se algo desse errado, ele poderia se
adaptar ou bolar um novo plano. — Ela acenou com a mão em torno do
painel de comando apertado. — Aqui... Che’ri, nós estamos por nossa
conta.
— Mas ele nos deu as nossas instruções, — rebateu Che'ri. — Sabemos
o que devemos fazer.
— Eu sei disso, — disse Thalias. — Só estou dizendo que não é a
mesma coisa.
— Oh, — Che'ri disse, a parte do seu rosto que Thalias podia ver
clareando de repente. — Não é que você não confie em Thrawn. Você não
confia em si mesma.
— Claro que não, — Thalias disse, ouvindo o tom de amargura em sua
voz. Ela estava ciente dessa sensação nebulosa desde que Thrawn propôs
este plano pela primeira vez. Mas até agora ela nunca ousou pensar nessas
palavras. Agora, com elas a céu aberto, ela sentiu um peso repentino de
medo, dúvida e inadequação. — Por que eu deveria? O que eu já fiz para
fazer com que ele... para fazer qualquer um, pensar que poderia confiar em
mim com algo tão grande?
— Bem, você está aqui, — respondeu Che'ri. — Isso deve significar que
ele confia em você.
— Eu perguntei por um motivo.
— Nós nem sempre temos motivos, — disse Che'ri com seriedade. — O
que quer que ele veja em você, era tudo o que ele precisava. Ele confia em
você. — Ela fez uma pausa. — Eu também, se isso ajuda em alguma coisa.
Thalias respirou fundo, olhando nos olhos de Che'ri. A maturidade
desenvolvida que ela vira na garota ao voltar para bordo da Vigilante ainda
estava lá, e por um momento Thalias notou a ironia de uma criança de nove
anos confortando um adulto.
— Sabe, quando eu tinha a sua idade, lembro-me de ter pavor do meu
futuro, — ela disse. — Era tudo tão grande e desconhecido, e eu não fazia
ideia de qual seria o meu lugar nele.
— Eu também costumava me sentir assim, — disse Che'ri. — Agora não
mais.
— O que por si só já é uma loucura, — disse Thalias. — O futuro que
você está enfrentando, aliás, o futuro que você e eu enfrentamos hoje, é
muito menos seguro do que qualquer coisa que poderia ter sonhado.
— Você acabou de dizer isso, — disse Che'ri. — Sonhos. Eu nunca
soube com o que sonhar. Quero dizer, era só uma sky-walker. Não sabia se
havia algo mais que eu poderia fazer.
Ela apontou para o painel de controle à sua frente.
— Mas então Thrawn me ensinou a voar. Em apenas algumas semanas,
ele me ensinou a voar. — Ela sorriu, com o seu rosto todo radiante de
felicidade e realização. — Se u posso fazer isso, posso fazer qualquer coisa.
Você entende agora?
— Sim, — concordou Thalias. — E eu estou feliz por você. — Ela
respirou fundo novamente, desejando que a tensão fosse embora. Um
guerreiro talentoso como Thrawn; uma piloto talentosa como Che’ri. Com
eles confiando nela, como isso poderia dar errado? — Você disse que os
Vaks nos saudaram. Nós precisamos enviar uma mensagem de volta?
— Quando você estiver pronta, — Che’ri respondeu, apontando para o
microfone. — O seu discurso está pronto?
— Tenho o discurso de Thrawn pronto, — disse Thalias, forçando um
pequeno sorriso. — É bom o bastante?
— É bom o bastante. — Che'ri tocou em um botão. — Você está
conectada.
Thalias se preparou. Era agora.
— Saudações ao povo de Primea, — ela disse em Minnisiat. — Eu sou
Thalias, companheira do Capitão Sênior Thrawn, da Ascendência Chiss. Na
fuga dele do seu mundo, há algum tempo, ele inadvertidamente levou esta
nave de caça com ele. Ela foi reparada e a minha piloto e eu estamos aqui
para devolvê-la.
— Você roubou do Combinado Vak, — uma voz áspera veio no mesmo
idioma. — O que a faz pensar que não será punida por seu crime?
— Eu imploraria ao Combinado para aceitar a minha visita e o retorno
da espaçonave como um gesto de boa vontade, — respondeu Thalias. —
Tenho certeza de que posso explicar a partir da linha de pensamento de
Thrawn as razões por trás das ações dele.
Houve uma pausa.
— Nunca há um motivo válido para um roubo, — disse o Vak. Mas aos
ouvidos de Thalias ele parecia um pouco incerto.
Exatamente como Thrawn previra que seria.
— Eu voltaria a implorar a sua indulgência, — ela disse. — Trago uma
explicação escrita e uma abertura de paz e reconciliação do capitão sênior.
Você me permitirá pousar e levá-las ao seu líder militar?
Outra pausa.
— Você pode pousar, — disse o Vak. — Eu ativei um farol de navegação
para guiá-la.
— Che'ri? — Thalias murmurou.
A garota assentiu com a cabeça.
— Já o vi. Mudando de curso agora.
— Obrigada, — agradeceu Thalias. — Vou levar o documento comigo.
Recebi a ordem de colocá-lo diretamente nas mãos do seu líder militar. Eu
imploro que você me permita cumprir o meu dever.
— Pouse primeiro, — disse o Vak. — Depois que nós tivermos
examinado a nave e avaliarmos os danos, nós veremos sobre o seu
documento.
— Obrigada, — agradeceu Thalias. — Estaremos ansiosas para vê-lo em
breve.
Houve um clique quando o Vak desligou a transmissão.
— Até agora, tudo bem, — Thalias disse, tentando soar casual.
— Vai funcionar, — assegurou-lhe Che'ri enquanto o caça descia em
direção às luzes de uma cidade bem abaixo. — Thrawn conta com isso. Nós
temos que fazer isso.
Thalias assentiu com a cabeça. Ela ainda não tinha certeza sobre si
mesma, mas ela estava confiante nas habilidades de Thrawn.
Porque, realmente, quando ele se enganou?
Isso era uma grande honra, Ar’alani tinha se assegurado, quando um
governo estrangeiro convidava um oficial militar Chiss para viajar ao
mundo deles. O fato de que o chefe de segurança Frangelic ter dito
especificamente que o Ruleri estaria presente acrescentou uma camada
ainda mais profunda à honra.
E então, enquanto ela e Thrawn saíam da nave e caminhavam até o
aglomerado de Garwians à espera, esforçou-se ao máximo para não ser
dominada pela mistura de cem odores estranhos girando em torno dela
como uma névoa matinal. Isso era espesso o suficiente, e intenso o
suficiente, que quase se virou e voltou para a nave e a segurança olfativa
da Destrama.
Para a sua surpresa, porém, quando a cerimônia de saudação terminou
e ela e Thrawn foram conduzidos a um carro terrestre que os esperava, o
seu nariz e os seus pulmões já estavam começando a se adaptar. Enquanto
se dirigiam a cidade em direção ao centro de segurança planetário, os
cheiros diminuíram ainda mais, e quando o carro parou e Frangelic os
conduziu para a rua, o aroma havia se tornado neutro, chegando até
mesmo a algo agradável.
Embora fosse possível que a mistura simplesmente tivesse mudado ao
longo do caminho. Certamente, o grande pátio circular que se estendia
diante deles, lotado de pedestres, tinha muitos pontos onde nuvens de
fumaça marcavam as cozinhas de lareira, e ela sempre gostou desses
aromas.
— Este não pode ser o centro de segurança, — ela comentou enquanto
Frangelic fechava a porta do carro atrás deles.
— O centro está lá, — ele disse, apontando para um prédio de pedra
branca do outro lado do pátio. — Mas como você pode ver, os veículos
teriam dificuldade para manobrar no Mercado dos Criadores no fim de
semana.
— Nós não poderíamos ter voado? — Perguntou Thrawn.
— Poderíamos, — Frangelic concordou. — Mas o Mercado dos Criadores é
uma das melhores representações da cultura Garwiana, e esperava
compartilhar isso com vocês.
Thrawn olhou para Ar’alani.
— Comodora?
Ar’alani encolheu os ombros, farejando quando uma mudança na brisa
trouxe outro sabor na fumaça. Os banquetes de feriados à lareira tinham
sido uma das refeições favoritas da sua família quando estava crescendo.
— Por que não? — ela respondeu. — Nos guie, Chefe de Segurança.
— Obrigado. Por aqui.
Frangelic partiu em direção à beira do pátio. Estava lotado de pessoas,
como Ar’alani já havia notado, mas aquelas em volta rapidamente notaram
os rostos estranhos e saíram do caminho deles. Alguns deles se curvaram
em direção a Frangelic quando os recém-chegados se aproximaram, e o
primeiro pensamento de Ar’alani foi que o gesto era de subserviência ou
mesmo medo ao ver o uniforme dele. Mas Frangelic invariavelmente
curvava-se de volta e ela acabou concluindo que o gesto era simplesmente
uma forma de respeito entre os cidadãos.
— Você pode ver que as cabines são dispostas para fora em círculos
concêntricos, — explicou Frangelic enquanto se aproximavam do grupo
mais externo. — As mais externas são reservadas para quem precisa de
mais espaço para as suas mercadorias e equipamentos, enquanto as
menores, em direção ao centro, são para aquelas com mostradores mais
compactos.
— Você disse criadores, — disse Thrawn. — O que eles criam?
— Qualquer coisa que você quiser, — respondeu Frangelic. — Há um
homem aqui que faz utensílios de cozinha exclusivos para pessoas cuja
paixão é cozinhar. Ali está uma mulher que cria fantasias e trajes históricos
para festas de recordação. Você pode sentir os aromas das fogueiras para
cozinhar para aqueles que desejam uma preparação de comida específica
ou uma camada única de tempero ou molho.
— Parece bastante ineficiente, — disse Ar’alani.
— Oh, nós temos os mesmos itens produzidos em massa como em todos
os outros mundos para o uso diário, — Frangelic garantiu a ela. — Estes são
para quem quer o incomum e o único. Se você pode definir ou descrever o
que deseja, alguém aqui fará isso para você. Aqui, ou em milhares de
outros Mercados de Criadores por toda a Unidade.
— Você falou de festas de recordação, — disse Thrawn. — O que são estas
festas?
— Ah, — Frangelic disse, mudando de direção. — Esse é, creio eu, um
aspecto cultural em que a Unidade se destaca entre todos os outros povos.
Aqueles que frequentam essas festas usam roupas elaboradas, utilizando
características de roupas ao longo da história Garwiana, tecidas e fundidas
de maneiras sutis e únicas. O objetivo de cada participante é criar a fusão
mais bonita e complexa, enquanto ao mesmo tempo detecta e identifica
as características nas roupas dos outros participantes. Deixe-me te mostrar.
Ele os guiou até uma mesa comprida e uma mulher trabalhando em
uma máquina de costura de aparência antiga. De cada lado dela havia
pilhas organizadas de tecido, linha e instrumentos de costura, enquanto as
prateleiras atrás dela continham dezenas de amostras de tecido, couro,
seda e alguns materiais que Ar’alani não conseguiu identificar.
— Esta é Dama Mimott, uma das nossas mestras estilistas, — apresentou
Frangelic, cumprimentando-a com a cabeça. — Dama Mimott, os nossos
convidados gostariam de saber sobre o seu trabalho.
A mulher olhou para Ar’alani e Thrawn de uma forma que Ar’alani não
pôde deixar de identificar como suspeita.
— Você não está por acaso participando da festa dos Kimbples na na
próxima metade da primavera, não é? — ela perguntou.
— Sério, Mimott, — Frangelic censurou, com um tom de repreensão em
seu tom. — Você não está sugerindo que os nossos convidados de honra
trapaceariam, está?
Por um momento, a mulher apenas olhou pra ele. Então a mandíbula
dela se abriu em um sorriso.
— Os seus convidados de honra, certamente não, — ela disse. — Você,
por outro lado... — Ela inclinou a cabeça para o lado, as pontas dos dedos
tocando a bochecha dela.
— Garanto a você, Mimott, se por acaso for convidado para a festa dos
Kimbples, eu recusarei gentilmente. — Ele apontou dois dedos para o pano
em que ela estava trabalhando. — Talvez você nos explique a sua arte.
— Com prazer. — A mulher estendeu o pano. — Este tecido é obviamente
moderno, mas tem o mesmo design e textura daquele usado na décima
segunda era. O estilo de costura é do século XIV, a coloração de
tingimento particular foi usada pela primeira vez no século XVII e o estilo
de borda é do XVIII. — Ela tocou na máquina. — A máquina em si é uma
antiguidade restaurada do século XV.
— Tudo isso para uma única peça de roupa? — Perguntou Ar’alani.
— Tudo isso apenas para a camada inferior, — Mimott corrigiu com outro
sorriso. — Haverá também duas camadas externas, além de uma
bandagem de ombro, luvas e um chapéu.
— E tudo para uma única festa, — disse Frangelic. — Embora a roupa que
faz mais sucesso em confundir os foliões seja exposta para ser admirada
por toda a cidade.
— Se uma roupa for projetada corretamente, também pode ser
facilmente transformada em outra roupa formal, — acrescentou Mimott. —
Às vezes até nas roupas do dia a dia. Você tem outras perguntas?
— Não, — respondeu Ar’alani. — Obrigada por nos mostrar o seu
trabalho. É muito impressionante.
— Estou honrada, — agradeceu Mimott. — Que o seu dia seja aquecido
com a luz do sol.
Frangelic gesticulou e eles se afastaram.
— O que você achou? — ele perguntou.
— Belo trabalho, — comentou Ar’alani. — A minha tia gostava de projetos
de costura ocasionais quando eu estava crescendo, mas nada tão
elaborado.
— Temos orgulho do nosso trabalho artesanal, — disse Frangelic. — Mas
vejo que o tempo está ficando curto. Talvez mais tarde possa mostrar a
você mais dos artesãos. — Ele acelerou o passo, a multidão novamente se
abrindo para deixá-los passar.
Thrawn aproximou-se do lado de Ar’alani.
— Algum problema? — ele perguntou baixinho.
— Um problema? — Ela balançou a cabeça. — Não. É que... Eu nunca vi
alienígenas como pessoas antes. Não como os Chiss são pessoas. Sempre
pensei neles como algo inferior, algo mais próximo, talvez, de animais
altamente inteligentes. Alguns amigáveis, alguns inofensivos, alguns
perigosos. — Olhou pra ele. — Suponho que você sempre os viu como são?
— Você quer dizer como pessoas? — Thrawn balançou a cabeça. — Na
verdade não. Eu vejo as pessoas, certamente. Mas as suas personalidades
raramente está no topo dos meus pensamentos.
— Então, como você os vê?
Seus olhos varreram a multidão, e Ar’alani pensou ter visto uma pitada
tanto de consideração quanto de tristeza no rosto dele.
— Como possíveis aliados. Possíveis inimigos.
— Recursos.
—
O grupo estava quase chegando ao centro de segurança planetário de
Solitair quando o barulho de alarmes de emergência de repente encheu o
ar sobre o Mercado dos Criadores.
— O que é isso? — Ar’alani gritou por cima do barulho.
— Solitair está sob ataque! — Frangelic estalou, saindo em uma corrida
mortal. — Rápido!
Os alarmes haviam sido silenciados no momento em que os três
alcançaram a sala de situação subterrânea embaixo do prédio.
— Chefe de Segurança Frangelic, se apresentando para as ordens, —
Frangelic gritou enquanto corriam em direção a um pequeno grupo de
Garwianos parados em frente a uma grande parede de exibição. Os três
Ruleri, observou Ar’alani, também estavam presentes, conversando juntos
de um lado para o outro, em um conjunto menor de monitores. As telas
eram, é claro, rotuladas com a escrita Garwiana, o que as tornava ilegíveis
para ela.
Mas não havia como errar o motivo do alarme. A tela principal mostrava
as duas naves de Lioaoin chegando em direção ao planeta. Mesmo
enquanto Ar’alani observava, alcançaram o alcance de tiro e a mais
próxima das plataformas de defesa em órbita de Solitair abriu fogo com
lasers e mísseis.
— Chefe de Segurança, — um dos oficiais cumprimentou Frangelic,
tenso, quando Ar’alani e os outros se aproximaram deles. De perto, ela
agora o reconhecia como um general que estivera em uma de suas
reuniões anteriores, embora não conseguisse lembrar o nome dele. —
Comodora Ar’alani; Comandante Sênior Thrawn. — Ele gesticulou para as
telas. — Como vocês podem ver, as conversas silenciosas que tínhamos
imaginado entre os nossos dois povos foram violentamente interrompidas.
— De fato, — Frangelic disse severamente.
— Nós temíamos que isso acontecesse, — continuou o general. — Com as
nossas forças fora defendendo os nossos cinco mundos externos, os Lioaoi
escolheram este momento para um ataque surpresa. Você nos ajudou uma
vez, Comodora Ar’alani. Você também pode nos ajudar a repelir essa nova
agressão?
Ar’alani balançou a cabeça, sentindo uma sensação de impotência. A
mulher lá em cima no Mercado dos Criadores, costurando diligentemente
as suas roupas históricas...
— Sinto muito, General, mas não podemos, — ela respondeu. — Por todo
o protocolo padrão, nós nem deveríamos estar na sua sala de situação.
— Vocês são nossos convidados e como convidados devem ser
protegidos, — disse o general. — Se os invasores conseguirem adentrar,
você poderá correr o mesmo perigo que os nossos próprios cidadãos
indefesos.
— Há pouca probabilidade disso, — Thrawn lhe assegurou. — As suas
plataformas de defesa devem ser mais do que adequadas para protegê-lo
de duas naves de guerra.
— E se houver mais aguardando à espreita? — Frangelic rebateu. —
Qualquer coisa que você puder nos dizer sobre os nossos atacantes pode
significar a diferença entre sobrevivência e destruição total. Por favor.
Por um momento, Thrawn observou as telas em silêncio. Ar’alani podia
ver os olhos dele indo e voltando: observando, avaliando, calculando. Se
houvesse algo mais lá, alguma fraqueza que os Garwianos pudessem
explorar, ele iria descobrir.
— Então? — o general solicitou.
— Eu vejo duas fraquezas adicionais, — respondeu Thrawn. — Mas a
Comodora Ar’alani está certa. Isso é algo de que a Ascendência deve se
afastar.
— Você nos ajudou uma vez, — disse Frangelic. — A situação aqui não é
ainda mais terrível?
Thrawn olhou para Ar’alani. E de volta ao general.
— Os Lioaoi têm certos pontos cegos táticos, — ele disse. — O primeiro...
— Só um minuto, — Ar’alani o interrompeu. Os oficiais Garwianos, todos
eles, estavam olhando para Thrawn. Nenhum estava observando os
monitores. Nenhum estava dirigindo as suas defesas.
Mas então, por que fariam isso? As naves Lioaoin estavam bem
afastadas da plataforma de defesa, sem avançar, o esforço deles
aparentemente sendo feito para se defenderem da barragem Garwiana.
— Por favor, — pediu Frangelic, voltando a sua atenção para Ar’alani. —
Por favor, não atrapalhe a sobrevivência de Garwian.
— É isso que estou fazendo? — Perguntou Ar’alani. Puxando o seu
comunicador, ela ligou para a Destrama.
Silêncio. Sem nenhuma resposta. Silêncio.
E agora todos os oficiais Garwianos estavam a olhando.
— Comandante Thrawn, por favor entre em contato com o Destrama, —
ela pediu. — Parece haver um problema com o meu comunicador.
— E há, — disse Thrawn, com a voz e o rosto repentinamente
endurecidos. Ele também ouviu o silêncio do seu comunicador. — General,
por gentileza levante a sua interferência
— Não há interferência, — disse Frangelic rapidamente. — Na nossa
profundidade...
— Por favor, tire o seu bloqueio, — repetiu Thrawn.
Nem a sua voz nem o seu rosto mudaram. Mesmo assim, um arrepio
repentino percorreu as costas de Ar’alani. Silenciosamente, o general se
virou e fez um gesto para um dos oficiais nos consoles. Este então tocou
em um par de interruptores...
— ...pedindo os termos para a rendição do Regime de Lioaoin, — uma
voz tensa veio do comunicador de Ar’alani. — Os Garwianos estão os
ignorando. Comodora, você pode me ouvir?
— Sim, Comandante, — disse Ar’alani. — Agora eu posso, de qualquer
maneira. Aguarde as ordens.
Ela silenciou o comunicador.
— Bom, — ela disse ao general, colocando o máximo de gelo que pôde
em sua voz. — Você afirma que está sendo invadido por piratas e nos leva a
dobrar os nossos protocolos para ajudar. Então, depois que os Lioaoi
perderem um número crítico de naves, você lança um ataque contra... o
quê? Um antigo rival? Um novo concorrente para contratos comerciais ou
de fabricação?
— Você fala como se os Lioaoi fossem inocentes, — disse o general altivo.
— De modo nenhum. Você se lembra de eu ter falado antes de nossos
cinco mundos externos? Antes eram seis. — A sua boca se abriu em um
sorriso. — Agora serão seis novamente.
— Ou possivelmente sete? — Perguntou Ar’alani.
— Possivelmente, — o general concordou. — Há um deles em que
estamos mais interessados.
Ele olhou para Thrawn.
— Mais informações sobre as fraquezas dos nossos inimigos teriam sido
úteis. Mas não importa. A sua ajuda anterior a esse respeito foi suficiente e
muito apreciada.
Thrawn sustentou o seu olhar por outro momento. Então,
deliberadamente, ele se voltou para Ar’alani.
— Comodora, peça permissão para ordenar a Destrama que abra fogo
nas plataformas de defesa Garwian.
Uma agitação desconfortável percorreu os alienígenas.
— Uma sugestão tentadora, Comandante, — disse Ar’alani. — Mas temo
que os protocolos proíbam tal ação. Por mais justificada que seja.
— General, os Lioaoi estão se separando, — gritou alguém.
— Convocados para defender os seus mundos, sem dúvida, — disse o
general. — Um gesto fútil, mas pelo menos não haverá dúvidas de qual de
nós ganhou este dia. — Ele inclinou a cabeça para Ar’alani. — Presumo que
você deseje partir o mais rápido possível?
— Oh, nós vamos partir, tudo bem, — respondeu Ar’alani. — E você deve
esperar com todas as suas forças que nunca mais voltemos. Porque se o
fizermos... vamos apenas dizer que as percepções do capitão Thrawn em
relação aos pontos cegos táticos não se limitam às do Lioaoi.
Ela deu um passo à frente e teve a pequena e inútil satisfação de ver o
general dar um passo apressado para trás.
— Lembrem-se disso. Todos vocês.
H
caça.
avia dez guardas esperando quando Thalias e Che'ri emergiram do
Traição.
Essa era realmente a única palavra pra isso, Thurfian pensou
amargamente enquanto se apressava em direção ao Salão de Convocação
para a reunião de emergência da Sindicura. Traição.
E depois de todas as precauções que tinha tomado, as reuniões e
comparação de anotações com Zistalmu, a leitura cuidadosa de cada
fragmento de dados de cada uma das missões e atividades de Thrawn...
depois de tudo isso, ainda tinha sido pego completamente de surpresa.
Costumava assistir enquanto o guerreiro arrogante patinava até a linha e
ocasionalmente a ultrapassava. Mas nada o havia preparado para assistir
Thrawn dar um salto voador sobre aquela linha.
Eles o pegaram. Desta vez, por todos os males do Caos, eles o pegaram.
Mas a que custo? Que custo terrível, terrível?
O Salão de Convocação estava lotado quando Thurfian chegou e, ao se
dirigir para a seção da Mitth, ele fez uma rápida contagem de cabeças. Os
Porta-vozes de todas as Nove Famílias estavam presentes, assim como a
maioria dos síndicos de nível superior. Uma dúzia de outras famílias
menores estavam representadas, principalmente aquelas com laços estreitos
com uma das Nove ou aspirações de um dia se juntar a elas no governo da
Ascendência. A sala zumbia com uma conversa tranquila enquanto aqueles
que só tinham ouvido parte da situação eram inteirados pelos outros.
Sentados à mesa das testemunhas, um bolsão de silêncio em meio à
tempestade verbal, estavam o Supremo General Ba’kif, o Supremo
Almirante Ja’fosk, a Almirante Ar’alani e Thrawn.
Thurfian acabara de se sentar na cadeira quando Ja'fosk se levantou.
Instantaneamente, o estrondo desapareceu.
— Porta-vozes e Síndicos da Ascendência, — disse Ja’fosk, lançando
um rápido e avaliador olhar ao redor da câmara. — Recebi uma transmissão
do General Yiv, do Destino Nikardun. — Ele ergueu sua missão. — Cito:
— ' Tenho em minha posse as duas reféns da família do Capitão Sênior
Thrawn, as quais ele enviou a Primea com uma oferta ao Combinado Vak
de união e traição contra os povos pacíficos do Destino Nikardun. Se ele
deseja que as fêmeas sejam libertadas ilesas, ele viajará sozinho para as
coordenadas anexadas, em um cargueiro desarmado, com o equivalente a
duzentos mil Univers. ' — Ja’fosk baixou o questis. — As coordenadas
fornecidas indicam uma órbita alta sobre Primea.
O protocolo usual era um dos Porta-vozes dar a primeira resposta ou
fazer a primeira pergunta. Mas Thurfian não estava muito interessado em
protocolo no momento. Mais do que isso, precisava ter certeza de que toda
a câmara estava totalmente aterrorizada.
— Deixando de lado por enquanto a questão de por que Yiv acha que os
Chiss têm algo como reféns de família, — ele disse, levantando-se, —
gostaria de saber quem são essas duas mulheres. — Ele ergueu as
sobrancelhas. — Ou são ambas mulheres ou se uma delas é uma menina?
— Uma delas é uma mulher, — respondeu Ja’fosk, a sua voz sob
controle cuidadoso. — O nome dela é Mitth’ali’astov. A outra é de fato uma
menina, Che'ri. — Um músculo em sua bochecha se contraiu. — Uma de
nossas sky-walkers.
Uma onda de descrença e indignação percorreu a Aristocracia reunida.
Aparentemente, a maioria deles não tinha ouvido a história toda.
— Eu presumo que Yiv não tem conhecimento da situação dela? —
Thurfian perguntou.
— Acreditamos que sim, — disse Ja’fosk. — Certamente não há
indicação de que ele saiba até mesmo sobre o programa Sky-walker, muito
menos que tenha quaisquer detalhes.
— Presumo que também não haja indicação de que ele não o tenha, —
disse o Porta-voz da Plikh com severidade. — Eu gostaria de saber
exatamente como o Capitão Sênior Thrawn cometeu tal asneira a ponto de
colocar uma de nossas sky-walkers nas mãos do inimigo.
— Os Nikardun não são nossos inimigos, — Ja'fosk o lembrou. —
Quanto ao raciocínio do Capitão Thrawn neste assunto... — Ele olhou para
Thrawn.
— Certamente nunca tive a intenção de colocar nenhuma delas em risco,
— assegurou Thrawn. — A missão delas era devolver o caça Vak que eu
havia pego emprestado e levar um aviso para a liderança de Primea sobre as
atividades de Yiv entre outras espécies na região. Thalias deveria entregar a
mensagem, em seguida, tomar um transporte de passageiros para a estação
espacial dos Navegadores do Terminal Quatro Quarenta e Sete, onde seriam
trazidas de volta para a Ascendência.
— E por que uma sky-walker estava a bordo?
— Che'ri poderia pilotar o caça. Thalias não.
Thurfian sentiu seu lábio torcer. Mentiroso. Thrawn claramente sabia ou
pelo menos suspeitava o que Yiv faria se Thalias e Che'ri estivessem ao seu
alcance. Essa coisa toda parecia uma abordagem disfarçada para fazer a
Sindicura ordenar um ataque retaliatório.
E se o clima na câmara era nesse sentido, estava prestes a conseguir. Se
havia um recurso que a Ascendência guardava com ciúme insano, eram as
suas sky-walkers.
— Essa conversa não acabou, — advertiu o Porta-voz da Irizi. —
Queremos os detalhes desta situação, todos os detalhes, em algum momento
no futuro. Se erros ou enganos forem encontrados, a Sindicura determinará
as consequências apropriadas.
— Entendido, — disse Ja’fosk. — Por enquanto, a velocidade é
essencial. Devemos usar todos os meios necessários para recuperar as duas
mulheres.
— Eu presumo, — Zistalmu falou asperamente, — que isso significa um
ataque militar.
— Contra aqueles que, como o Supremo Almirante Ja'fosk já admitiu,
não são nossos inimigos, — acrescentou Thurfian.
— Eles pegaram uma sky-walker, — disse Thrawn. — Acredito que esse
ato por si só constitui um ataque à Ascendência.
— Mesmo quando eles não estão cientes deste crime?
— Eles pegaram uma Skywalker, — repetiu Thrawn.
Thurfian pegou o olhar de Zistalmu do outro lado da câmara, viu o seu
mesmo cinismo refletido na expressão do Irizi. Sim, isso tinha sido
combinado de antemão, certo. Ja’fosk e Ba’kif podiam não saber de todo o
plano em andamento, mas Thrawn e Ar’alani certamente sabiam.
Haveria um ajuste de contas para isso no final da linha, prometeu
Thurfian a si mesmo. Mas, por enquanto, isso teria que esperar. Yiv tinha
uma sky-walker, e era muito claro que a Aristocracia viraria o Caos de
cabeça para baixo se necessário para trazê-la de volta.
Mesmo assim, se tivessem sorte, se tivessem muita sorte, Thrawn
poderia finalmente ter superado a si mesmo. Nesse caso, Thurfian se
juntaria com alegria e cheio de sinceridade ao elogio da família Mitth para o
seu herói caído.
—
— Estou feliz por você estar disponível para esta jornada, — disse Thrawn,
entregando a Qilori uma caneca fumegante.
— Assim como eu, — Qilori disse, fungando em aprovação. Folha de
Chá de Galara, a sua bebida favorita. — Eu tinha acabado de voltar ao
Terminal e estava examinando a lista de possíveis trabalhos quando a sua
mensagem chegou.
— Estou feliz que você estava disposto a esperar pela minha chegada.
— Fiquei feliz em fazer isso, — disse Qilori. — Para começar, as
viagens com você nunca são entediantes. Por outro lado... — Ele ergueu a
sua caneca.
— A folha de chá?
— Sim, — disse Qilori. — Muitos poucos empregadores de Rastreador
se lembram das preferências do seu navegador. Um grande número nem se
preocupa em aprender os nossos nomes.
— Parecia apropriado, — disse Thrawn. — Já que esta será
provavelmente a nossa última viagem juntos.
— Sério? — perguntou Qilori, franzindo o cenho para o Chiss sobre a
borda da caneca. — Como assim?
— Estou indo para Primea para resgatar as minhas duas reféns do
General Yiv, — respondeu Thrawn. — Não espero que a troca termine bem.
— Oh, — Qilori disse, tentando a mistura certa de surpresa e
preocupação. — Certamente você não está esperando traição? Yiv, o
Benevolente, sempre me pareceu justo e honrado em suas relações com os
outros. Ao menos quando a outra parte também foi honrada. Você não está
planejando nenhum truque, está?
— Ele queria que eu fosse sozinho em um cargueiro desarmado. —
Thrawn acenou com a mão em torno deles. — Você vê mais alguém? Ou
alguma arma?
— Bem, certamente não daqui, — Qilori disse com um encolher de
ombros. Embora considerando que havia feito uma inspeção visual
completa no casco do cargueiro antes de subir a bordo, e tinha passado seu
último período de descanso verificando secretamente por controles de
armas, ele estava consideravelmente mais certo do que o seu comentário
improvisado parecia.
Ainda assim, havia algo estranho na forma do cargueiro, algo que
chamou a sua atenção enquanto girava em torno dele antes. Não era nada
extraordinariamente fora do comum para esta classe de nave, e não
conseguia nem codificar o que era diferente. No entanto, horas depois, isso
ainda o incomodava.
— Você pode, portanto, afirmar que segui as instruções dele, — disse
Thrawn.
— Nesse caso, você não deve ter nada a temer, — disse Qilori.
— Talvez, — disse Thrawn. — Você está pronto para o segmento final?
— Estou, — Qilori respondeu, tomando um último gole de sua folha de
chá e colocando a caneca de lado. Thrawn estava certo: seria a última
viagem deles juntos. Qilori teria que agradecer ao Benevolente mais tarde
por deixá-lo estar presente para assistir a morte do Chiss arrogante e
assassino de Rastreador. — Mais meia hora e estaremos lá.
— Ótimo — disse Thrawn, acomodando-se na cadeira. — Vamos acabar
com isso, Qilori de Uandualon. De uma forma ou de outra.
I ntuição. No final, Ar’alani meditou, era isso que se resumia. Seguia-se a
análise, depois a extrapolação e o contra movimento. Era isso que fazia uma
campanha militar ser bem-sucedida. Mas tudo começava com uma intuição.
E se a intuição estava errada, o resto desabava como uma ponte de gelo
sobre uma fogueira.
Thrawn afirmou compreender Yiv. Ele alegou compreender os Vaks.
Mas também pensava que entendia os Lioaoi e os Garwians. A falha dele
lá havia despertado velhas animosidades e conflitos políticos, matado um
bando de alienígenas e colocado a Ascendência no meio com sujeira nas
mãos. Se estivesse errado desta vez, haveriam mais mortes.
Só que desta vez, muitos dos mortos seriam Chiss.
Houve um movimento à sua esquerda, e ela olhou pra cima para ver
Wutroow parar ao lado da cadeira de comando.
— Saída em cinco minutos, — relatou a primeiro oficial da Vigilante. —
Todos os sistemas e estações estão prontos.
— Obrigada, capitã sênior, — disse Ar’alani. — Algo mais?
Wutroow franziu os lábios.
— Espero que você perceba, Almirante, que estamos pisando em ovos
estilhaçados aqui. Temos apenas a suposição do Capitão Sênior Thrawn de
que os Vaks não foram completamente para o lado dos Nikardun. Se
tiverem ido, vamos acabar lutando contra os dois. E, a menos que os Vaks
nos ataquem diretamente, não temos autorização para atirar neles.
— E fica pior, — advertiu Ar’alani, lembrando-se dos caças Lioaoi que
ela e Thrawn tinham visto no mundo coração de Lioaoin. — Se os Vaks se
juntaram a Yiv, pode já haver tripulações Nikardun a bordo das naves de
guerra Vak. Não saberemos com certeza quem é quem até que eles abram
fogo.
— E até então, eles podem manobrar o quanto quiserem, jogar como
bloqueadores para as naves Nikardun ou até mesmo lançar as suas armas
contra nós, — disse Wutroow sombriamente. — Até que realmente
dispararem, não podemos fazer nada legalmente.
— Bem, talvez tenhamos sorte e os Vaks declarem guerra assim que nos
virem chegando a eles, — disse Ar’alani. — Isso tornaria as coisas mais
fáceis.
— Sim, senhora. — Wutroow hesitou. — Este escudo de energia da
República que Thrawn trouxe da beira do Caos. É tão bom, mesmo?
— Não sei, — admitiu Ar’alani. — Eu estive lá para alguns dos testes
quando estavam descobrindo como conectá-lo aos sistemas de energia
Chiss, e parecia bastante impressionante. Mas quão forte é, e quanto tempo
vai durar sob fogo constante... — ela balançou a cabeça. — Nenhuma ideia.
Acho que vamos descobrir.
— Suponho que sim. — Wutroow soltou um suspiro. — Com a sua
permissão, Almirante, acho que vou fazer as equipes de armas fazerem uma
verificação final do sistema. Imagino que você tenha feito arranjos para
tirar a sky-walker Ab’begh da ponte assim que chegarmos a Primea?
— Designei dois guerreiros para levá-la de volta para a suíte, — disse
Ar’alani. — Vão ficar lá com ela e a sua cuidadora até o fim da batalha.
— Boa ideia, — disse Wutroow. — Thrawn perder a sua sky-walker já
foi ruim o suficiente. Se fôssemos abordados e perdêssemos a nossa
também, nunca ouviríamos o fim disso.
Ar’alani teve que sorrir.
— E se essa é a única coisa com a qual precisa se preocupar hoje, Capitã
Sênior, a sua vida deve estar indo muito bem.
— Obrigada, Almirante, — disse Wutroow inocentemente. — Faço o
meu melhor. Com a sua permissão, vou começar a checar as armas.
—
Com uma exortação final da Grande Presença e uma contração final dos
dedos de Qilori, eles chegaram.
— Bem, — Thrawn comentou enquanto Qilori tirava o seu fone de
ouvido de privação sensorial. — Vejo que o General Yiv tem uma surpresa
final pra nós.
Qilori piscou a umidade em volta de seus olhos. A trinta quilômetros da
proa do cargueiro estava uma formação de quatro enormes Encouraçados de
Batalha.
— Por que, ele disse que viria desarmado também? — ele perguntou,
tentando manter o nervosismo súbito fora de sua voz. Havia muito
equipamento militar lá fora, quase metade da força que os Nikardun tinham
na região.
Presumiu que Yiv ficaria contente em só trazer a Imortal para o
encontro. Aparentemente, o Benevolente decidiu errar por excesso de
cautela.
— Não, é claro que presumi que traria naves extras, — respondeu
Thrawn. — Estava me referindo ao fato de que essas não são as
coordenadas que enviou em sua mensagem.
— Elas não são? — Qilori perguntou, fingindo surpresa. Essas eram as
coordenadas que Yiv havia dado a ele, mas é claro que Thrawn não deveria
saber disso. — Não entendo. Estas são as que você baixou para o
computador da nave antes de deixarmos o Terminal.
— Então, alguém as trocou depois que as entreguei ao despachante. —
Thrawn apontou para a esquerda, onde o planeta Primea era um pequeno
ponto à distância. — Deveríamos sair em uma órbita planetária alta.
Aparentemente, o general quer realizar a nossa transação em uma parte
menos visível do sistema.
Ele alcançou o painel de controle e apertou o botão de comunicação.
— General Yiv, aqui é o Capitão Sênior Thrawn. Acredito que as minhas
companheiras estão incólumes?
A tela de comunicação iluminou-se. Yiv estava sentado na sua cadeira de
comando, com os seus ombros simbiontes balançando no seu ritmo
enervante de costume. Ajoelhadas no convés à sua frente estavam as suas
duas prisioneiras. Uma delas era a mulher que Qilori vira na recepção
diplomática em Primea, onde Thrawn e Yiv se conheceram, a mulher que
ele ouviu Thrawn se referir como refém da família. A outra era muito mais
jovem, possivelmente nem mesmo na adolescência, ambas usando a mesma
maquiagem grotesca. O que quer que fosse essa coisa de refém que os Chiss
estavam usando, aparentemente começava muito jovem.
— Veja por si mesmo a forma das suas reféns, Capitão — respondeu Yiv,
apoiando-se na palavra enquanto acenava casualmente para elas. — Você
tem o resgate?
— Sim, — disse Thrawn. — O dinheiro está em um pod de
equipamentos, pronto para ser enviado para a sua nave assim que as minhas
companheiras estiverem em uma nave auxiliar. As duas naves vão cruzar o
vazio ao mesmo tempo, é claro.
— Temo que você tenha entendido mal, Capitão, — disse Yiv, e Qilori
estremeceu com a malícia presunçosa em seu tom. — O dinheiro não é o
resgate. Você é o resgate.
— Entendo, — disse Thrawn calmamente. Se ficou surpreso com a
traição repentina, isso não transpareceu em seu rosto ou voz. — Você
planeja atirar em mim a partir daí?
— Você roubou uma das minhas naves e matou uma das minhas
tripulações, — respondeu Yiv, sem a presunção. — Por isso, você ganhou
automaticamente a morte nas minhas mãos. Eu preferiria trazê-lo a bordo
da Imortal para que possa assistir você morrer, mas se insiste, certamente
posso fazer isso daqui.
— Eu não insisto nisso, — assegurou Thrawn. — Desejo apenas
verificar os parâmetros do nosso acordo alterado. Devo presumir que, uma
vez que desde o local da nossa reunião foi alterado, todo o resto das
disposições originais não estão mais em vigor?
— Provavelmente, — Yiv respondeu, a presunção de volta. Com a
sentença de morte agora pronunciada com a aspereza adequada, o
Benevolente estava se acomodando para se divertir assistindo seu inimigo
se contorcer. — Há alguma disposição em particular que você gostaria de
rever?
— Em primeiro lugar, gostaria de elogiá-lo por sua intuição ao mover a
reunião para este local, — respondeu Thrawn. — Presumo que você sentiu
que a órbita de Primea seria um local muito público? Especialmente porque
você não quer que os Vaks vejam quanta força militar você tem na área?
— Isso não seria uma surpresa, — Yiv o assegurou. — Eles já tinham
visto essas naves e muitas mais. É incrível como a presença de
Encouraçados de Batalha podem suavizar uma rodada de negociações.
— Talvez no geral, — disse Thrawn. — Talvez não com um povo como
os Vaks. Você também foi sábio o suficiente para permanecer dentro do
sistema Primea em vez de nos mudar para outro lugar. Dessa forma, você
pode calcular e executar uma jornada de salto até o planeta em poucos
minutos.
— Não prevejo nenhum motivo para me apressar até lá, — disse Yiv.
Uma sugestão de cautela havia se infiltrado em sua voz, Qilori notou com
alguma apreensão. Se havia alguém que deveria estar preocupado com a sua
situação, era Thrawn. Por que estava tendo uma conversa casual sobre
assuntos irrelevantes? — Você está esperando que a liderança do
Combinado de repente precise de uma conversa comigo?
— Não necessariamente, — respondeu Thrawn. — Você perguntou qual
parte do nosso acordo eu queria revisar.
— E?
— Apenas uma cláusula, — respondeu Thrawn. — A parte sobre eu vir
para Primea sozinho.
Novamente, Qilori não fazia a menor ideia do que Thrawn estava fazendo.
Mas o pequeno sorriso no rosto do Chiss o gelou direto até os ossos.
Estava tramando algo. Sentado ali, sem fazer nenhum movimento para
avançar ou recuar, convidando Yiv para vir e pegá-lo... mas não havia
nenhum fim possível para essa artimanha, exceto a destruição total de
Thrawn.
E então, de repente, ele entendeu.
Yiv estava focado em Thrawn. Completa e obsessivamente em Thrawn.
Nada iria distraí-lo desse foco.
O que deixou a Imortal completamente aberta a um ataque pela
retaguarda.
Qilori sentiu as suas winglets tremendo. Nunca imaginou que poderia
precisar se comunicar clandestinamente com o Benevolente nesta viagem e,
por isso, nunca grampeou o sistema de comunicação do cargueiro. Como
poderia o avisar de que Thrawn o estava incitando dali para impedi-lo de
antecipar o ataque que viria de uma direção completamente inesperada?
— Rastreador Qilori.
Qilori estremeceu.
— Sim?
— Você parece chateado, — disse Thrawn. — Você possivelmente está
pensando que tenho outra força preparada, esperando o momento adequado
para lançar o seu ataque?
As winglets de Qilori aplainaram. Como Diabos ele fez isso?
— Não faço ideia de uma maneira ou de outra, — ele disse
diplomaticamente.
— Mas você sabe como isso poderia ser feito, não é? — Thrawn
persistiu. — Mesmo considerando as coordenadas alteradas que você
substituiu pelas da mensagem original de Yiv.
— Eu não... — Ele parou quando Thrawn voltou aqueles olhos
vermelhos brilhantes para ele. — Isso não é da minha conta.
— Vamos, Rastreador, não seja tão modesto, — disse Thrawn. — Você e
eu entendemos, mesmo que muitas das vítimas de Yiv não entendam. Por
muito tempo, ele tem usado a capacidade dos Rastreadores de se localizar
através do hiperespaço para coordenar os ataques dele.
— Não, claro que não, — Qilori protestou reflexivamente. — A
cooperação direta com uma força militar seria uma violação flagrante das
regras da Guilda dos Navegadores.
— E provavelmente levaria a guilda a expulsar os Rastreadores da sua
organização?
Qilori engoliu em seco.
— Isso pode acontecer, — ele admitiu.
— Não apenas poderia, — disse Thrawn. — Você prefere, então, que eu
guarde esse conhecimento pra mim?
Qilori olhou para ele.
— Claro, — ele grunhiu. — Qual é o seu preço?
Thrawn se voltou para a janela.
— O preço, — ele respondeu, — é você esquecer tudo o que vir a partir
de agora.
— Tudo bem, — disse Qilori.
Era uma promessa bastante simples, ele disse a si mesmo. Yiv
provavelmente também gostaria que esquecesse dos eventos de hoje, e ele
tinha uma longa história de obediência às ordens do Benevolente.
— E quanto ao seu medo anterior, — continuou Thrawn, — não há
necessidade de eu lançar qualquer ataque. A batalha pelo Combinado Vak
está ocorrendo em Primea e deixou Yiv com apenas duas opções. Uma: ele
pode ficar aqui e tentar me destruir, dando a impressão de que está se
escondendo da batalha. Segunda: ele pode sair para reforçar as suas forças
e, assim, parecer que está fugindo de mim. — Ele gesticulou em direção a
Imortal. — Mesmo agora, ele tenta decidir qual desses cenários prejudicará
menos a reputação dele.
— Será interessante ver para que lado ele vai, — murmurou Qilori.
E realmente, não havia dúvida de que Thrawn guardaria para si aquele
conhecimento potencialmente devastador sobre os Rastreadores. Uma vez
que ele estaria morto.
—
Thurfian teve que engolir muitos goles amargos durante os seus anos
lidando com a política da Ascendência. Mas esse gole era absolutamente
o pior de todos.
— Um Surgido-na-provação, — ele disse ao homem que o encarava no
painel de comunicação. — Depois do fiasco com os Lioaoi e os Garwians,
você o está tornando um Surgido-na-provação?
— Não temos escolha, — respondeu o Porta-voz Thistrian pesadamente.
— Os da Irizi estão fazendo propostas sérias pra ele.
— Eles já tentaram isso, — informou Thurfian. — Ele recusou.
— Nunca oficialmente, — contrapôs o Porta-voz. — E essa oferta era
apenas para torná-lo um Surgido-na-provação. Agora eu entendo que eles
estão se preparando para oferecer a ele uma posição distante.
Thurfian sentiu os seus olhos se arregalarem.
— Uma posição distante? Isso é um absurdo.
— Talvez sim. Talvez não. E até mesmo o Thrawn não é cego o suficiente
para perder as vantagens políticas que isso lhe daria. Tudo o que podemos
fazer é esperar que prefira trocar ser Surgido-na-provação na Mitth a uma
posição distante na Irizi.
— Eles estão blefando, — insistiu Thurfian. — Estão tentando nos
manobrar para atraí-lo e amarrá-lo mais perto da família. Quanto mais
perto ele estiver, maiores serão as consequências políticas quando
cometer o seu próximo grande erro.
— Talvez ele não vá.
— Não vai cometer um erro? — Thurfian bufou. — Você não acredita nisso
mais do que eu. O homem é uma ameaça. Dê a ele tempo suficiente e se
queimará. E talvez a Mitth junto com ele.
— Ou talvez faça algo que eleve a Ascendência a alturas nunca antes
alcançadas.
Thurfian olhou para ele.
— Você está brincando certo? Para alturas nunca alançadas?
— Pode acontecer, — disse o Porta-voz com tristeza. — E se isso acontecer,
não podemos correr o risco de que a glória brilhe na Irizi em vez de nós.
— Com todo o devido respeito, Porta-voz, não haverá nenhuma glória, —
disse Thurfian. — Certamente o Conselho não está olhando pra tudo isso
com olhos brilhantes. Eles já o rebaixaram a comandante intermediário.
— Mas eles também deram a ele outra nave, — ponderou Thistrian.
Pela segunda vez em menos de um minuto, Thurfian sentiu os seus
olhos se arregalarem.
— Eles fizeram o quê?
— Um cruzador pesado de categoria completa desta vez, também, a
Falcão de Primavera, — confirmou o Porta-voz. — Além disso, fala-se em dar
a ele o seu próprio grupo de combate, a Força de Piquete Dois.
Thurfian olhou para o Porta-voz, um calafrio percorrendo-o.
— Quem está fazendo isso? — ele perguntou, a sua garganta apertada. —
Alguém está queimando capital político sério aqui. Quem?
— Não sei, — disse o Porta-voz pesadamente. — Do lado da frota, o
melhor palpite é que seja o General Ba’kif ou possivelmente o Almirante
Ja’fosk. Do lado Mitth... — Ele balançou a cabeça. — Tem que ser alguém
próximo ao Patriarca.
— Poderia ser o próprio Patriarca?
— Eu hesitaria em colocar esse nome nisso, — disse o Porta-voz. — Mas
também não descartaria esse pensamento imediatamente. Certamente, a
vida e a carreira de Thrawn foram encantadas desde o início.
— Isso ainda é uma loucura, — disse Thurfian. — Os fracassos e
embaraços dele ainda superam os sucessos.
— Eu tenderia a concordar, — admitiu o Porta-voz. — Mas há loucura, e
então há loucura. Eu olhei para a tarefa atual do Piquete Dois e descobri
que eles estão trabalhando em uma zona de patrulha a uma boa distância
do limite leste do zênite da Ascendência. Isso o colocaria bem longe do
centro da política da Ascendência.
Thurfian repassou isso em sua mente. Dada a inaptidão política de
Thrawn, essa não seria a pior missão que eles poderiam dar a ele.
— E também fica do outro lado da Ascendência em relação aos Lioaoi e
Garwians.
— Outra vantagem, na minha opinião, — concordou o Porta-voz. —
Principalmente o que está lá perto são pequenas nações, grupos de
sistemas únicos, espaço vazio e piratas.
— Ótimo, — disse Thurfian amargamente. — Mais piratas.
— Mas naquele lado da Ascendência, as únicas nações grandes o
suficiente para sustentar um grupo pirata são os Paataatus, — destacou o
Porta-voz. — Isso significa menos potencial para complicações políticas se
ele for caçar. Além disso, já demonstrou que pode vencer os Paataatus se
precisar, e sabem disso.
— Imagino, — admitiu Thurfian. — O Conselho ainda poderia tê-lo
enviado pra lá sem lhe dar uma nave.
— Talvez, — disse o Porta-voz. — Ainda assim, a Falcão de Primavera não é
um grande prêmio. Não há glória para se ter lá, apenas as pressões e
responsabilidades do comando. Considerando todas as coisas, poderia ter
sido pior.
— Sério? — questionou Thurfian. Comandante de um cruzador e Surgido-
na-provação da Mitth. Se pudesse ter sido pior, ele mal conseguia ver
como.
Mas isso não acabou. Quase não. Se Thrawn rejeitasse a Irizi
novamente, e se o Porta-voz Thistrian estivesse certo ao dizer que essa era
uma conclusão precipitada, isso colocaria o Aristocrata Zistalmu ainda
mais solidamente ao lado de Thurfian. Juntos, eles continuariam com os
seus esforços para descarrilar a carreira de Thrawn antes que fizesse algo
de que a Ascendência jamais pudesse se recuperar.
E enquanto eram só os dois agora, Thurfian não tinha dúvidas de que
mais Aristocratas se juntariam a eles nos dias e anos que viriam. Se havia
um amor que todos compartilhavam, acima e além de toda política familiar
e disputas, era o amor pela Ascendência.
— Veja o lado bom, Thurfian, — disse o Porta-voz colocando os seus
pensamentos. — O que quer que Thrawn faça a seguir, pelo menos será
divertido de assistir.
— Tenho certeza que sim, — concordou Thurfian severamente. — Só
espero que todos vivamos para isso.
—E les não estão felizes com você, você sabe, — Thalias avisou
enquanto colocava o prato de triângulos yapel aquecidos na frente de Che'ri.
Era hora do jantar, o que deveria significar uma refeição devidamente
balanceada, mas Che'ri queria yapels e Thalias decidiu que uma refeição de
comida rápida não a mataria. Deus sabia que a garota tinha ganhado alguma
indulgência. — Eu falei com a Almirante Ar’alani antes dela entrar na
audiência. Ela disse que alguns dos Aristocratas querem apresentar
acusações contra você por colocar uma sky-walker em risco.
— Eu sei, — disse Thrawn. — Mas esse sentimento não vai a lugar
nenhum. Como já disse a eles, enviei você e Che'ri a Primea para devolver
o caça Vak e entregar uma mensagem, esperando que você retornasse a
Csilla no próximo transporte disponível. Foi a decisão de Yiv que colocou
vocês em risco.
Thalias acenou com a cabeça. Isso era verdade, até onde isso ia.
Mas neste ponto isso quase não importava. A Aristocracia poderia estar
tão furiosa quanto quisessem, mas a demonstração de gratidão dos Vaks
puxou o ímpeto da esperança de que pudessem infligir qualquer punição
real.
Isso, e o fato de Thrawn ter entregue Yiv vivo para interrogatório.
Thalias não fazia ideia do que o Conselho e a Aristocracia aprenderam com
ele e com os arquivos de dados que retiraram da Imortal, pois Yiv tinha
parecido a Thalias que era o tipo de pessoa que amava exibir o seu próprio
brilho, mesmo que a única pessoa permitida a ver e apreciar esse brilho
fosse ele mesmo. Não tinha dúvidas de que os registros da autoindulgência
dele incluíam os seus planos precisos para a Ascendência.
— Pelo menos você está melhorando na política, — ela disse. — Entre a
Aristocracia e os Vaks, você está aprendendo a jogar.
Thrawn balançou a cabeça.
— Não. Ar’alani e o General Ba’kif estão cuidando dos negócios com os
Aristocratas. Quanto aos Vaks, isso nunca foi estritamente sobre política.
— Eu ainda não entendo essa parte, — disse Che'ri com a boca cheia de
comida. — Todo mundo disse que querem ver todos os lados das coisas.
Mas então simplesmente ficaram do nosso lado e atacaram os Nikardun
quando nós pedimos.
— Na verdade, a solução também veio da Almirante, — explicou
Thrawn. — No último momento, ela viu algo que não tinha visto.
Thalias se endireitou um pouco mais.
— Você perdeu alguma coisa?
— Eu perdi muitas coisas, — ele respondeu. — E eu tive parte nisso, é
claro. Os Vaks querem ver todos os vários pontos de vista, todas as
diferentes linhas de pensamento, exatamente como todo mundo diz. Mas
essas linhas de pensamento não recebem o mesmo peso.
Thalias se lembrou da obra de arte que ela e Thrawn tinham visto na
galeria de arte em Primea.
— Mas você disse que a arte deles mostrava essa coisa de toda a linha de
pensamento, — ela objetou.
— Verdade, — concordou Thrawn. — Mas se todas as linhas tivessem o
mesmo peso, a arte deles seria um rabisco de confusão, sem direção ou
foco.
— Então eles decidem de quais linhas de pensamento gostam mais? —
Perguntou Che'ri.
— Quais gostam, mas o mais importante, em quais eles confiam. Não há
realmente nada de surpreendente nisso. Não importa o que as pessoas
digam, elas sempre fazem julgamentos de valor das informações e opiniões
que recebem. Não poderiam funcionar de outra forma.
— Entendo, — disse Che'ri, animando-se. — Quando você mostrou a
eles que Yiv havia roubado a sua mensagem para eles, que ele mentiu,
parou de ser alguém em quem eles podiam confiar.
— Exatamente, — concordou Thrawn. — Pior ainda, do ponto de vista
deles, assim que isso aconteceu, tudo o que disse tornou-se suspeito.
— Então, todas as suas promessas e negociações foram direto pelo ralo,
— completou Thalias.
— Correto, — disse Thrawn.
— Então, o que foi que a Almirante Ar’alani viu? — Thalias perguntou.
— Ela estava examinando a história dos Vak e viu algo estranho, —
respondeu Thrawn. — Apesar de todo o desprezo que os seus vizinhos lhes
deram ao longo dos anos, alegando que não podiam tomar uma decisão,
todos esses vizinhos foram muito cuidadosos em seus confrontos para
nunca matar um Vak em combate.
Thalias olhou para Che'ri e viu sua própria surpresa refletida no rosto da
garota.
— Sério?
— Sério, — respondeu Thrawn. — Porque sabiam a mesma coisa que
Ar’alani percebeu. Os Vaks valorizam as linhas de pensamento de todos...
mas quando alguém é morto, as suas linhas de pensamento desaparecem
para sempre. Isso rouba todas as informações do Combinado e ameaça a
cultura.
— Portanto, um ataque a qualquer indivíduo é um ataque a toda a
sociedade, — completou Thalias, assentindo.
— Exatamente, — disse Thrawn. — Se Yiv percebeu ou não isso, o
comandante do Encouraçado de Batalha que tinha a tarefa de destruir a
Falcão de Primavera aparentemente não se importava com tais sutilezas.
Ar’alani foi capaz de induzi-lo a atirar em duas naves Vak não-combatentes,
matando as suas tripulações e despertando aquela fúria cultural. Nesse
ponto, todo o resto das linhas de pensamento desapareceu de repente, com
apenas uma remanescente.
— Aquela onde eles se unem para proteger o seu mundo e o seu povo,
— murmurou Thalias.
— E com o plano de coordenação de batalha que já havia dado a eles,
não houve falhas ou falsos começos. Eles e as naves de guerra de Ar’alani
rapidamente e com eficiência juntaram forças contra os Nikardun.
— E ela percebeu tudo isso só de ler a história? — perguntou Che'ri.
— Isso e a maneira como ela olha para o universo, — disse Thrawn com
um sorriso estranhamente triste. — Onde eu vejo os não-Chiss como ativos,
ela os vê como pessoas.
Thalias olhou pra Che'ri. Muitas pessoas também viam as sky-walkers
apenas como ativos, também.
— Isso faz dela uma boa comandante.
— De fato, é verdade, — concordou Thrawn. — Certamente uma
comandante melhor do que eu.
— Talvez sim, talvez não, — disse Thalias. — Diferente não significa
necessariamente melhor ou pior. Diferente apenas significa diferente.
— Era o seu plano de batalha, certo? — Che’ri interveio. — Ela os
colocou do nosso lado, mas foram vocês dois juntos que venceram a luta.
— Junto com os guerreiros da frota de ataque dela, — disse Thrawn. —
Os seus oficiais a seguem com confiança, até mesmo com ansiedade. Os
meus me seguem porque são bons guerreiros Chiss.
— Então mude, — Thalias sugeriu. — Aprenda como ela faz isso.
— Não tenho certeza se posso.
— Não tinha certeza se poderia voar, — disse Che'ri. — Você me
ensinou como.
— E você tem me ensinado como observar e pensar, — acrescentou
Thalias. — Quanto à confiança, se você acha que Che’ri e eu colocamos as
nossas cabeças na armadilha de Yiv só porque somos boas guerreiras Chiss,
você realmente não entende as pessoas. Ou pelo menos não nos entendende.
— E que demore muito para que qualquer uma de vocês seja forçada a
confiar novamente, — disse Thrawn. — A Ascendência deve muito a
vocês, Sky-walker Che'ri e Thalias, Surgida-na-provação da Mitth.
— Você é uma Surgida-na-provação? — Che'ri disse, sorrindo com
prazer. — Uau! Isso é ótimo!
— Obrigada, — disse Thalias, piscando para o Thrawn. — Não sabia
que eles haviam anunciado isso ainda.
— Uma heroína, a estrela brilhante da Mitth? — Thrawn sorriu. —
Confie em mim. Se pudessem ter anunciado você como uma posição
distante, eles o fariam. Mas essa hora vai chegar.
— Talvez, — Thalias disse.
— Claro que vão, — disse Che'ri. — Nós somos heroínas. O capitão
Thrawn acabou de dizer isso.
— Você é realmente. — Thrawn se levantou. — E agora eu preciso
voltar para o estaleiro. A Falcão de Primavera vai precisar de reparos
extensos, e me disseram que o contramestre gostaria que estivesse lá
pessoalmente para ouvir o seu relatório.
— Obrigada por ter vindo, — disse Thalias. — Che'ri e eu queríamos
saber como tudo acabou, mas ninguém teve tempo de falar conosco.
— De nada, — disse Thrawn. — Espero que você possa se juntar a nós a
bordo da Falcão de Primavera novamente em um futuro próximo.
— Se tivermos algo a dizer sobre isso, nós o faremos, — Thalias
prometeu.
Embora isso presumisse, é claro, que ela teria permissão para continuar
como cuidadora de Che'ri. Agora, isso era tudo menos certo.
— Então tome cuidado, — ele disse. Assentindo pra cada uma delas, ele
se virou e caminhou pela escotilha.
Thalias o observou partir, as palavras do Patriarca ecoando em sua
mente: E cuide do seu comandante. Eu não posso ajudar, mas sinto que ele
detém a chave para o futuro da Ascendência, seja esse futuro triunfo ou a
destruição final.
— Thalias?
Thalias se virou para ver Che'ri franzindo a testa para um yapel que ela
pegou.
— Sim?
Che'ri olhou para o lanche por outro momento, então o colocou de volta
no prato.
— Terminei com isso, — ela disse. — Posso comer comida de verdade
agora?
— Você certamente pode, — Thalias disse, sorrindo. — O que
exatamente você gostaria?
tradutoresdoswhills.wordpress.com
SOBRE O AUTOR
FaceBook.com/TimothyZahn
Star Wars: Guardiões dos Whills
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Quando Jyn Erso tinha cinco anos, sua mãe foi assassinada e seu
pai foi tirado dela para servir ao Império. Mas, apesar da perda de
seus pais, ela não está completamente sozinha, — Saw Gerrera, um
homem disposto a ir a todos os extremos necessários para resistir à
tirania imperial, acolhe-a como sua e dá a ela não apenas um lar,
mas todas as habilidades e os recursos de que ela precisa para se
tornar uma rebelde.Jyn se dedica à causa e ao homem. Mas lutar ao
lado de Saw e seu povo traz consigo o perigo e a questão de quão
longe Jyn está disposta a ir como um dos soldados de Saw. Quando
ela enfrenta uma traição impensável que destrói seu mundo, Jyn
terá que se recompor e descobrir no que ela realmente acredita… e
em quem ela pode realmente confiar.