You are on page 1of 454

Thrawn Ascendência: Caos Crescente é uma obra de ficção.

Nomes,
lugares, e outros incidentes são produtos da imaginação do autor ou são
usadas na ficção. Qualquer semelhança a eventos atuais, locais, ou pessoas,
vivo ou morto, é mera coincidência.Direitos Autorais © 2020 da Lucasfilm
Ltd. ® TM onde indicada. Todos os direitos reservados. Publicado nos
Estados Unidos pela Del Rey, uma impressão da Random House, um
divisão da Penguin Random House LLC, Nova York.DEL REY e a HOUSE
colophon são marcas registradas da Penguin Random House LLC. ISBN
9780593157688 / eBook ISBN 9780593157695 randomhousebooks.com

TRADUTORES DOS WHILLS


Todo o trabalho de tradução, revisão e layout desta história foi feito por fãs
de Star Wars e com o único propósito de compartilhá-lo com outras que
falam a língua portuguesa, em especial no Brasil. Star Wars e todos os
personagens, nomes e situações são marcas comerciais e /ou propriedade
intelectual da Lucasfilms Limited. Este trabalho é fornecido gratuitamente
para uso privado. Se você gostou do material, compre o Original, mesmo
que seja em outra língua. Assim, você incentiva que novos materiais sejam
lançados. Você pode compartilhá-lo sob sua responsabilidade, desde que
também seja livre, e mantenha intactas as informações na página anterior, e
reconhecimento às pessoas que trabalharam para este livro, como esta nota
para que mais pessoas possam encontrar o grupo de onde vem.
Recomendamos a compra do material original, mesmo que em outra língua,
afinal, sem o trabalho e principalmente a dedicação do autor(a) esta obra
não seria feita. É proibida a venda parcial ou total deste material. Este é um
trabalho amador, não fazemos isso profissionalmente, ou não fazemos isso
como parte do nosso trabalho, nem esperamos receber nenhuma
compensação, exceto, talvez, alguns agradecimentos se você acha que nós
merecemos. Esperamos oferecer livros e histórias com a melhor qualidade
possível, se você encontrar algum erro, agradeceremos que nos relate para
que possamos corrigi-lo. Este livro digital está disponível gratuitamente no
Blog dos Tradutores dos Whills. Visite-nos na nossa página para encontrar a
versão mais recente, outros livros e histórias, ou para enviar comentários,
críticas ou agradecimentos: tradutoresdoswhills.wordpress.com
Para todos aqueles que estão à beira do caos.
Índice
Capa
Página Título
Direitos Autorais
Dedicatória
Dramatis Personae
Epígrafo

Introdução
Prólogo
Memórias I
Capítulo Um
Memórias II
Capítulo Dois
Memórias III
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Memórias IV
Capítulo Seis
Memórias V
Capítulo Sete
Memórias VI
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Memórias VII
Capítulo Dez
Memórias VIII
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Memórias IX
Capítulo Quinze
Memórias X
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Memórias XI
Capítulo Dezenove
Memórias XII
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Memórias XIII
Capítulo Vinte e Três

Sobre o Ebook
Sobre o Autor
THRAWN | Mitth’raw’nuruodo — adotado por mérito pela família Mitth
ZIARA | Irizi’ar’alani — linha sanguínea da família Irizi
THALIAS | Mitth’ali’astov — ex-sky-walker, adotada por mérito na família Mitth
THURFIAN | Mitth’urf’ianico — síndico na família Mitth
SAMAKRO | Ufsa’mak’ro — adotado por mérito na família Ufsa
GENERAL BA’KIF (obs: General nas “Memórias” e Supremo General no período
atual)
CHE’RI  — sky-walker
QILORI OF UANDUALON  — Navegador Rastreador (não-Chiss)
GENERAL YIV, o Benevolente  — comandante Nikardun

As Nove Famílias Regentes


UFSA
IRIZI
DASKLO
CLARR
CHAF
PLIKH
BOADIL
MITTH
OBBIC

Hierarquia nas Famílias Chiss


SANGUÍNEO
PRIMO
POSIÇÃO DISTANTE
SURGIDO-NA-PROVAÇÃO
ADOTADO POR MÉRITO

Hierarquia Política
PATRIARCA — Chefe da família;
PORTA-VOZ  — Síndico chefe da família;
SÍNDICO — Membro da Sindicura, principal órgão governamental;
PATRIEL — Trata de assuntos da família em escala planetária;
CONSELHEIRO — Trata de assuntos da família em nível local;
ARISTOCRATA — Membro de nível médio de uma das Nove Famílias Regentes;
O ataque ao mundo natal da Ascendência Chiss, Csilla, foi repentino,
inesperado e, apesar do seu escopo limitado, impressionantemente eficiente.
As três grandes naves de guerra saíram do hiperespaço em vetores
amplamente espaçados, avançando em direção ao planeta com lasers de
espectro em plena potência em direção às plataformas de defesa e às naves
de guerra em órbita da Força de Defesa dos Chiss. As plataformas e naves,
pegas de surpresa, levaram menos de um minuto para começar a devolver o
fogo. A essa altura, os atacantes haviam mudado de direção, direcionando-
se para o aglomerado de luzes espalhadas pela superfície gelada do planeta
que marcavam a capital de Csaplar. Os seus lasers continuaram a disparar e,
à medida que elas entravam no alcance, acrescentaram mísseis ao ataque.
Mas, no final, tudo foi por nada. As plataformas de defesa capturaram
facilmente os mísseis que chegavam, enquanto as naves de guerra miravam
nos atacantes, explodindo-os em escombros e garantindo que quaisquer
fragmentos que entrassem na atmosfera fossem pequenos demais para
sobreviver à jornada. Quinze minutos após a chegada da força de ataque, o
ataque acabou.
A ameaça havia terminado, o Supremo General Ba’kif pensou
severamente, enquanto descia o corredor central em direção à Cúpula, onde
os síndicos e outros Aristocratas se reuniam depois de voltarem dos abrigos.
Agora veio o verdadeiro som de fúria.
E haveria muito de ambos. O órgão supremo da Ascendência, a
Sindicura gostava de projetar uma imagem de ponderação, nobreza e
dignidade Inabalável. Na maioria das vezes, além das disputas políticas
inevitáveis, isso era próximo o suficiente da verdade.
Mas não hoje. A Sindicura estava com a sessão completa e os Porta-
vozes tiveram a sua própria reunião particular agendada para o final da
tarde, o que significava que quase toda a Aristocracia de nível superior da
Ascendência estava nos escritórios, corredores e salas de reuniões quando o
alarme soou. Os abrigos nas profundezas da Cúpula eram razoavelmente
espaçosos e marginalmente confortáveis, mas se passaram décadas desde o
último ataque direto à Csilla e Ba’kif duvidava que algum dos atuais
funcionários do governo estivesse estado lá alguma vez.
As duas horas de ociosidade forçada enquanto a Força de Defesa
esperava para ver se haveria um ataque subsequente não foram boas com
eles, e Ba’kif não tinha ilusões de que a tempestade que se aproximava seria
pensativa, nobre ou imperturbável.
Ele estava certo.
— O que eu quero saber, — falou o Porta-voz da família Ufsa depois que
Ba’kif terminou o seu relatório, — é quem são os alienígenas que ousaram
achar que poderiam se safar de um ataque contra nós. Um nome, General,
nós queremos um nome.
— Receio não poder lhe dar um, Porta-voz, — disse Ba’kif.
— Por que não? — o Porta-voz exigiu. — Você tem os destroços, não é?
Você tem registros de dados e perfis de corpos e armas. Certamente um
nome pode ser obtido com tudo isso.
— A Ascendência foi atacada, — interrompeu gravemente o Porta-voz
da família Mitth, como se os outros pudessem, de alguma forma, ter
esquecido esse fato. — Precisamos saber a quem punir por tanta arrogância.
— Sim, — disse o da Ufsa, lançando um breve olhar sobre a mesa.
Ba’kif suprimiu um suspiro. Em tempos passados, grandes ameaças à
Ascendência geralmente levavam as Famílias Regentes a uma unidade que
substituía as habituais manobras políticas. Ele tinha uma pequena esperança
de que o ataque de hoje pudesse desencadear tal resposta.
Claramente, isso não iria acontecer. No caso das Ufsa e Mitth, em
particular, essas famílias estavam no meio de uma campanha
particularmente complicada, com um campo de mineração recém-
inaugurado em Thearterra como prêmio, e a Ufsa estava claramente irritada
por ter alguns de seus holofotes roubados pelo atual chefe rival da sua
família.
— Mais do que isso, — ele acrescentou, com o seu olhar desafiando o
Mitth a interromper novamente, — nós precisamos de garantia de que a
Força de Defesa tem os recursos para defender os Chiss contra ações
posteriores desses inimigos não identificados.
O questis, leitor de link de dados, que estava sobre a mesa em frente a
Ba’kif, acendeu quando um novo relatório chegou. Ele o pegou, apoiando-o
em um ângulo na palma da mão esquerda enquanto deslizava o dedo pela
borda para rolar a tela.
— A Sindicura não precisa se preocupar com a segurança deles, — ele
disse. — Acabei de receber a notícia de que quatro naves de guerra
adicionais da Frota Expansionista foram enviadas de Naporar e estão se
movendo para apoiar as naves da Força de Defesa já em operação.
Ele estremeceu consigo mesmo. Homens e mulheres jovens, prontos para
dar as suas vidas para proteger o mundo natal deles. Nobre e honrado.. . e
um sacrifício, se isso fosse necessário, que ele e todos os demais na Cúpula
sabiam que seria um desperdício completo e absoluto.
Felizmente, não parecia que esse sacrifício seria necessário hoje.
— E se eles atacarem outros mundos dentro da Ascendência? — o da
Ufsa pressionou.
— Outras naves já foram enviadas para reforçar as forças de patrulha dos
sistemas vizinhos, caso eles sejam alvos de ataques subsequentes, —
respondeu Ba’kif.
— Alguém mais relatou ataques ou avistamentos de inimigos? —
perguntou o Porta-voz da Clarr.
— Ainda não, Porta-voz — respondeu Ba’kif. — Até onde sabemos, este
foi um incidente isolado.
A Porta-voz da família Obbic deu uma pequena risadinha teatral.
— Duvido seriamente disso, General, — ela disse. — Ninguém envia
naves de guerra contra a Ascendência por brincadeira e depois vai pra casa.
Alguém lá fora está conspirando contra nós. Alguém que precisamos
encontrar e ensinar uma lição séria.

Isso continuou nessa linha por mais uma hora, com cada uma das Nove
Famílias Regentes, e muitas das Grandes Famílias que tinham aspirações de
ingressar nesse grupo de elite, certificando-se de registrar a sua indignação
e determinação.
Era, na maior parte, uma perda de tempo de Ba’kif. Felizmente, uma
vasta experiência nas forças armadas o havia ensinado a ouvir políticos com
metade da sua mente, enquanto concentrava a outra metade em questões
mais urgentes.
Os Porta-vozes e os síndicos queriam saber quem havia atacado a
Ascendência. Eles estavam olhando na direção errada.
A questão mais interessante não era quem, mas por quê.
Porque a Porta-voz da Obbic estava certa. Ninguém atacou Csilla por
diversão. E isso complicava mais ainda pois foi um ataque que custou três
grandes naves de guerra sem fornecer nenhum ganho óbvio. Ou o atacante
julgou mal, ou alcançou um objetivo mais sutil.
Qual seria esse objetivo?
A maioria da Sindicura supunha claramente que o ataque fora um
prelúdio para uma campanha mais sustentada e, assim que terminassem a
sua gesticulação, indubitavelmente começariam a instigar a Força de Defesa
a enviar as suas naves mais para dentro, para proteger os principais
sistemas. Mais do que isso, eles provavelmente insistiriam que a Frota de
Defesa Expansionista também se retirasse das fronteiras.
Esse era o objetivo? Manter os Chiss olhando para dentro e não para
fora? Nesse caso, atendendo à demanda de segurança da Sindicura os
jogaria diretamente nos planos do inimigo. Por outro lado, se os síndicos
estivessem certos sobre isto ser o início de uma campanha completa, deixar
a Frota Expansionista no Caos poderia ser um movimento igualmente fatal.
De qualquer maneira, se eles pensassem errado, seria tarde demais para
corrigir o erro quando soubessem a verdade.
Mas, enquanto Ba’kif avaliava as possibilidades, ocorreu-lhe que havia
outra possibilidade. Talvez o ataque não tenha sido feito para atrair a
atenção da Ascendência para algo que estava prestes a acontecer, mas para
distraí-la de algo que já havia acontecido.
E essa possibilidade, pelo menos, ele poderia investigar agora.
Disfarçadamente, ele digitou uma ordem de busca no seu questis.
No meio da sessão da Cúpula, enquanto continuava fazendo os seus
afagos para a Aristocracia, teve a resposta.
Talvez.
Um dos assessores de Ba’kif estava esperando quando o general
finalmente voltou ao seu escritório.
— Você conseguiu localizá-lo? — Perguntou Ba’kif.
— Sim, senhor, — disse o assessor. — Ele está em Naporar, passando
por sua última rodada de fisioterapia, pelos ferimentos sofridos durante as
operações contra os piratas Vagaari.
Ba’kif fez uma careta. Operações que, embora bem-sucedidas no sentido
militar, haviam sido um desastre completo na frente política. Meses depois,
muitos dos Aristocratas ainda estavam meditando sobre toda essa bagunça.
— Quando ele estará livre?
— Sempre que você desejar, senhor, — disse o assessor. — Ele disse que
estaria à sua disposição sempre que você o quisesse.
— Bom, — disse Ba’kif, verificando as horas. Meia hora para colocar a
Rodamoinho em situação de voo, quatro horas para chegar a Naporar, outra
meia hora para chegar até o centro médico da Frota Expansionista Chiss. —
Informe a ele que eu o quero pronto em cinco horas.
— Sim senhor. — O assessor hesitou. — Você deseja que a ordem seja
registrada ou isso se qualifica como uma viagem particular?
— Registre-a, — respondeu Ba’kif. Os Aristocratas podem ficar
infelizes quando descobrirem isso, a Sindicura pode até montar um tribunal
para perder mais do seu tempo com perguntas inúteis, mas Ba’kif faria as
coisas estritamente pelas regras. — Ordem do Supremo General Ba’kif, —
continuou ele, ouvindo a sua voz cair no tom que sempre usava para ordens
e relatórios formais. — Preparem um transporte pra mim e para o Capitão
sênior Mitth’raw’nuruodo. Destino: Dioya. Objetivo: investigação de uma
nave abandonada encontrada dois dias atrás no sistema exterior.
— Sim, senhor, — disse o assessor rapidamente. A sua voz era
estudiosamente neutra, não revelando nada dos seus sentimentos pessoais
sobre o assunto. Afinal, nem todos os que pensavam mal do Capitão
Thrawn eram membros da Aristocracia.
No momento, Ba’kif não se importava com nenhum deles. Ele encontrou
a primeira metade do porquê.
Agora, havia apenas uma pessoa em quem ele confiava para encontrar a
outra metade.
De todas as obrigações impostas aos membros da família de escalão
médio, o Aristocrata Mitth’urf’ianico pensou amargamente enquanto
caminhava pelo principal corredor da escola, o recrutamento era um dos
piores. Era chato, envolvia muitas viagens e, na maioria das vezes, era uma
perda de tempo. Ali em Rentor, estava fisicamente perto de Csilla, mas
paradoxalmente era afastado da Ascendência Chiss, não tinha dúvidas de
qual seria o resultado da viagem.
Ainda assim, quando um general, mesmo um recém-nomeado, dizia
que tinha um recruta promissor, cabia à família pelo menos dar uma
olhada.
O general Ba'kif estava esperando na sacada com vista para a
assembleia quando o Aristocrata chegou. A expressão no rosto do general
era de ansiedade controlada; o rosto em si era jovem demais para ser
atribuído a um oficial graduado. Contudo, era para isso que serviam as
conexões familiares.
Os olhos de Ba'kif brilharam quando ele avistou o seu visitante.
— Aristocrata Mitth’urf’ianico? — ele perguntou.
— Eu sou ele. General Ba’kif?
— Eu sou ele.
E com essa formalidade encerrada, eles poderiam passar para um uso
bem menos complicado de títulos e nomes centrais.
— Então, onde está esse aluno que você achou que valia a pena
atravessar metade do planeta? — Thurfian perguntou.
— Lá embaixo, — respondeu Ba’kif, apontando para as linhas de alunos
que recitavam os votos matinais. — Terceira fila atrás à direita.
Então ele era um líder de linha? Impressionante, mas só um pouco.
— Nome?
— Kivu’raw’nuru.
Kivu. Não era uma família com a qual Thurfian estava familiarizado.
— E? — ele perguntou enquanto puxava o seu questis e digitava o nome
da família.
— E as suas notas, aptidão e matriz lógica estão acima das outras, —
respondeu Ba’kif. — O que o torna um candidato principal para a Academia
Taharim em Naporar.
— Humm, — disse Thurfian, olhando para o registro. Kivu era a família
mais obscura que a Ascendência Chiss já tinha gerado. Não admira que
ele nunca tenha ouvido falar deles. — E você nos contatou por quê?
— Porque a Mitth ainda tem duas vagas para indicar neste ano, —
respondeu Ba’kif. — Se você não trouxer Vurawn, ele não terá outra chance
até o próximo ano.
— Isso seria uma catástrofe?
O rosto de Ba’kif endureceu.
— Sim, acredito que sim, — ele respondeu, oferecendo o seu próprio
questis. — Aqui está o histórico escolar dele.
Thurfian franziu os lábios enquanto rolava a tela. Ele já tinha visto
melhor, mas não com muita frequência.
— Não vejo qualquer indicação de que a família dele o preparou para o
serviço militar.
— Não, eles não prepararam, — Ba’kif confirmou. — É uma família menor,
sem os recursos ou acesso que a Mitth tem para essas coisas.
— Se eles pensaram que ele era tão excepcional, deveriam ter
encontrado ou providenciado os recursos, — apontou Thurfian
asperamente. — Então você acha que a Mitth deveria tomar a frente e
apenas recebê-lo sem fazer perguntas?
— Faça todas as perguntas que quiser, — respondeu Ba’kif. — Eu organizei
para que ele fosse retirado da primeira aula para uma entrevista.
Thurfian sorriu tensamente.
— Os Aristocratas são assim tão previsíveis?
— Os Aristocratas? Não. — Ba’kif correspondeu ao sorriso de Thurfian. —
Mas as suas rivalidades são.
— Eu imagino que sim, — Thurfian concedeu, baixando os olhos
novamente para os registros de Vurawn. Se o garoto vivesse até a metade
do seu potencial, ele seria um acréscimo digno à família Mitth.
Antigamente, há milhares de anos, as famílias eram apenas isso: grupos
de pessoas unidas por sangue e casamento, e fechadas para todas as
outras. Mas as limitações inerentes de tal sistema levaram ao declínio e
estratificação, e alguns dos patriarcas começaram a experimentar métodos
para absorver forasteiros que não envolviam casamento. O resultado tinha
sido o sistema atual, em que os prováveis prospectos podiam ser
introduzidos como adotados por mérito, com aqueles que provaram ser
especialmente dignos ascendendo para Surgido-na-provação e
possivelmente até mesmo a posição distante.
Vurawn certamente se encaixa nos critérios para se tornar um adotado
por mérito. Mais importante, se a Mitth o pegasse, a Irizi não seria capaz
de pegá-lo. Uma das muitas rivalidades familiares em que Ba’kif sem
dúvida estava pensando quando falou em previsibilidade.
Mas mesmo isso estava fora de questão. A Sindicura tinha finalmente
concordado com os apelos de longa data da Força de Defesa para
expandir as suas capacidades e mandato, e a Frota de Defesa
Expansionista recém-formada foi o resultado. A sua missão era vigiar os
interesses dos Chiss nas partes do Caos que se estendiam além das
fronteiras da Ascendência, para descobrir quem estava lá e avaliar o seu
nível de ameaça.
E pela primeira vez, a Aristocracia tinha sido realmente generosa com o
seu financiamento militar. As novas naves, bases e instalações de apoio da
Frota Expansionista já estavam em construção e precisariam de todos os
oficiais e guerreiros competentes que pudessem obter.
Este Vurawn parecia alguém que se encaixaria em tal função. Um
homem que pode fazer um nome lá, tanto para si como para a sua família.
— Tudo bem, — disse ele. — Vamos falar com ele. Ver como ele resiste a
um interrogatório adequado.


— Acredito que o complexo não está muito longe, — disse Vurawn
enquanto o carro de Thurfian voava rapidamente pela paisagem de
Rentor. — Já estou perdendo todas as aulas de hoje. Os meus instrutores
ficariam descontentes se eu perdesse as de amanhã também.
— Você vai ficar bem, — disse Thurfian, ouvindo a paciência tensa em sua
voz. O rapaz realmente não entendeu a profundidade da honra que foi
concedida a ele?
Aparentemente não. Assistir às aulas era importante. A adoção por uma
das Nove Famílias Regentes, não era.
Rentor não era exatamente um centro político e cultural, e Thurfian
sabia que precisava fazer concessões a um certo grau de ignorância.
Mesmo assim, tal falta de consciência separou Vurawn até mesmo dos
plebeus pouco sofisticados ao seu redor.
Ainda assim, se a avaliação de Ba’kif estivesse correta, o rapaz estaria
seguindo para uma carreira militar. A política não era tão importante lá.
Se Vurawn fosse reassociado à Mitth, o que não seria garantido.
Thurfian tinha enviado o seu próprio relatório, mas ainda havia uma
entrevista a ser conduzida pelos Conselheiros que supervisionavam os
interesses da Mitth em Rentor, seguida possivelmente por uma breve
reunião com o próprio Patriel local se os Conselheiros estivessem
devidamente impressionados. Uma vez que tudo isso acabasse, os
resultados seriam encaminhados para o domicílio da família em Csilla para
revisão final, e somente então Vurawn saberia se ele foi ou não
selecionado para ser um adotado por mérito na Mitth. Todo o processo
normalmente levava de dois a três meses; Thurfian viu levar até seis...
O seu questis sinalizou. Tirando-o do bolso, ele digitou.
Era uma mensagem de texto. Uma mensagem de texto muito breve.
Vurawn foi aceito como adotado por mérito.
Thurfian ficou olhando. Aceitaram?
Impossível. As entrevistas, a avaliação do Patriel, a revisão do
domicílio...
Mas lá estava a mensagem, o encarando. O processo foi interrompido
por alguém, e nenhum dos procedimentos usuais iria importar.
Na verdade, nenhum deles era agora nem mesmo necessário.
Presumivelmente, o Patriel havia recebido a mesma mensagem, e a única
coisa que aconteceria quando eles chegassem ao complexo seria a breve
cerimônia separando Vurawn da família Kivu e reassociando o com a Mitth.
— Há algum problema? — Vurawn perguntou.
— Não, nada, — respondeu Thurfian, colocando o questis de volta no
bolso. Então, com base estritamente no próprio interrogatório de Thurfian,
mais talvez nos registros escolares e nas avaliações do rapaz, ele foi
aceito?
Isso não fazia sentido. Por mais impressionante que o garoto pudesse
ser, ainda tinha que ter algo mais. Claramente, alguém mais alto da família
estava vigiando a missão de Thurfian hoje. Esse mesmo alguém
aparentemente também estava seguindo a vida de Vurawn e já havia
decidido que pegá-lo era do melhor interesse da Mitth.
Então, se a decisão já havia sido tomada, por que Thurfian foi enviado
para fazer uma entrevista em primeiro lugar? Certamente a sua
recomendação não teve tanto peso com o domicílio.
Claro que não. Thurfian foi enviado ali para ajudar a cobrir o fato de que
Vurawn já havia sido selecionado para ser reassociado. Pura política,
porque com as Nove Famílias eram sempre sobre política.
Franziu a testa, com os seus pensamentos tardiamente o alcançando.
Não demonstrou reação de forma alguma quando recebeu a mensagem,
ele era um Aristocrata e uma criatura política há tempo suficiente para
saber como manter as emoções como surpresa longe de seu rosto e voz.
Ainda assim, de alguma forma Vurawn reconheceu que a mensagem tinha
sido perturbadora o suficiente para questionar sobre ela.
Olhou para o rapaz novamente. Esse tipo de habilidade de observação
não era comum. Talvez houvesse mais lá do que ele percebeu. Alguma
centelha que algum dia traria honra e glória para ele e a sua família.
Aparentemente, alguém no domicílio também pensava assim, e esse
alguém determinou que a família que receberia essa glória seria a Mitth.
Ainda havia a questão de saber se o rapaz seria enviado ou não para a
Academia Taharim. Mas com o benfeitor não identificado de Vurawn
puxando os cordões, Thurfian esperava que isso também fosse uma
conclusão precipitada.
Fez uma careta para a paisagem passando por baixo deles. Não gostava
de ser manipulado. Não gostava muito dos procedimentos adequados e
consagrados pelo tempo serem jogados pela janela por capricho de
alguém.
Mas era um Aristocrata da Mitth, e não era o seu trabalho aprovar ou
desaprovar as decisões da sua família. O seu trabalho era apenas cumprir
as tarefas que lhe foram confiadas.
Talvez algum dia isso mudasse.
— Não, sem problemas, — ele respondeu. — Acabei de receber a notícia
de que você foi aceito.
Vurawn voltou os olhos arregalados para ele. — Já?
— Sim, — Thurfian confirmou, secretamente gostando da confusão do
outro. Então poderia ficar surpreso. E pelo menos ele conhecia política o
suficiente para reconhecer a natureza incomum da situação. —
Presumivelmente, passaremos pela cerimônia quando chegarmos ao
complexo.
— Como um adotado por mérito, eu presumo?
Então o garoto também sabia algo sobre as Famílias Regentes.
— É aí que todo mundo começa, — respondeu Thurfian. — Se e quando
você passar pela Provação, você passará para o Surgido-na-provação.
— E então a posição distante, — Vurawn disse pensativamente.
Thurfian soltou um suspiro silencioso. Isso, pelo menos, nunca
aconteceria. Não para alguém de uma família tão insignificante.
— Possivelmente. Por enquanto, apenas comece a se acostumar com o
nome Mitth’raw’nuru.
— Sim, — o rapaz murmurou.
Thurfian o estudou de canto do olho. O rapaz poderia trazer glória para
a Mitth, como Ba'kif pensava. Ele poderia facilmente trazer vergonha e
arrependimento. Era assim que o universo funcionava.
Mas de qualquer forma, estava feito.
Vurawn não existia mais. Em seu lugar agora estava Thrawn.
H aviam momentos, Ba’kif pensou distantemente, quando era bom para
um homem olhar pra fora da relativa estabilidade da Ascendência Chiss
dentro do Caos. Era uma chance de apreciar tudo o que a Ascendência foi, e
tudo o que ela significava: ordem e firmeza, segurança e poder, luz e cultura
e glória. Era uma ilha de calma em meio às linhas sinuosas do hiperespaço e
aos caminhos em constante mudança que retardavam as viagens e
atrapalhavam o comércio de todos os que viviam lá.
O Caos nem sempre era assim, ou assim diziam as lendas. Outrora, no
alvorecer da viagem espacial, não tinha sido mais difícil mover-se entre
qualquer uma das estrelas do que agora era viajar dentro da Ascendência.
Mas então, milênios atrás, uma série de explosões de supernovas em cadeia
em toda a região enviou enormes massas caindo em alta velocidade entre as
estrelas, algumas delas demolindo asteroides ou mundos inteiros, outras
gerando mais supernovas com os seus impactos próximos à velocidade da
luz. O movimento de todas essas massas, juntamente com regiões de forte
fluxo eletromagnético, resultou nas hipervias em constante mudança o que
tornava qualquer viagem mais longa do que difícil e perigosa em alguns
sistemas estelares.
Mas essa instabilidade era uma faca de dois gumes. As limitações que
restringiam as viagens e, portanto, ajudavam a proteger os Chiss de invasão,
também retardavam o reconhecimento e a coleta de informações. Haviam
perigos lá fora, na escuridão, mundos ocultos e tiranos que buscavam
conquista e destruição.
Aparentemente, um destes tiranos agora tinha voltado os seus olhos para
a Ascendência.
— Você tem certeza de que este é o caminho? — ele perguntou à jovem
no leme da sua nave.
— Sim, general, tenho, — ela disse. Um lampejo de dor controlada
cruzou o seu rosto. — Fiz parte da equipe que a encontrou.
Ba’kif assentiu.
— Claro. — Houve outro breve silêncio, outro momento de
contemplação das estrelas distantes...
— Lá, — disse a mulher de repente. — Dez graus para estibordo.
— Estou vendo, — disse Ba’kif. — Leve-nos paralelamente a ela.
— Sim senhor.
A nave deles avançou, diminuindo a distância de forma constante. Ba’kif
olhou para fora da janela, com o estômago apertado. Uma coisa era ver
holos e gravações de uma nave de refugiados destruída. Era algo totalmente
diferente olhar pessoalmente para a dura realidade da carnificina.
Ao lado dele, o Capitão Sênior Thrawn se agitou.
— Isto não foram piratas, — ele disse.
— Seu raciocínio? — Perguntou Ba’kif.
— O padrão de dano é projetado para destruir, não imobilizar.
— Talvez a maior parte da destruição tenha sido infligida depois que eles
a saquearam.
— Improvável, — disse Thrawn. — O ângulo da maioria dos disparos
indica um ataque pela retaguarda.
Ba’kif assentiu. Essa foi a mesma análise e lógica que ele seguiu, e isso
o levou à mesma conclusão.
Essa lógica mais uma crucial, um fato terrível.
— Vamos tirar a questão óbvia do caminho, — ele disse. — Esta nave
tem alguma relação com as que atacaram Csilla há dois dias?
— Não, — respondeu Thrawn prontamente. — Não consigo ver
nenhuma conexão artística ou arquitetural entre elas.
Ba’kif assentiu com a cabeça novamente. Essa também foi a sua
conclusão.
— Portanto, é possível que os dois incidentes não estejam relacionados.
— Nesse caso, seria uma coincidência interessante, — disse Thrawn. —
Considero mais provável que o ataque a Csilla tenha sido uma distração
para chamar a nossa atenção para dentro e para longe deste evento.
— De fato, — Ba’kif concordou. — E dado o custo da distração, sugere
ainda que alguém realmente não quer que demos uma boa olhada nesta
nave.
— De fato, — disse Thrawn, pensativo. — Eu me pergunto por que
deixaram os destroços em vez de destruí-los completamente.
— Eu posso lhe dizer isso, senhor — interveio a piloto. — Eu estava na
nave patrulha que avistou o ataque. Estávamos muito longe para intervir ou
obter quaisquer dados reais do sensor, mas o invasor aparentemente
percebeu a nossa aproximação e decidiu não arriscar um confronto. Quando
chegamos e começamos a nossa investigação, ele já havia escapado de volta
para o hiperespaço.
— Portanto, já sabíamos sobre o ataque, — acrescentou Ba’kif. — A
distração foi, então, provavelmente uma tentativa de tirá-lo da nossa
atenção.
— Pelo menos até que mais tempo tivesse passado, — disse Thrawn. —
Quanto tempo, senhor, você estima?
Ba’kif balançou a cabeça.
— Impossível dizer com certeza. Mas, dada a indignação da Sindicura
com o ataque de Csilla, acho que vão manter a pressão sobre a frota para
encontrar os culpados por pelo menos os próximos três ou quatro meses.
Supondo, é claro, que não os identifiquemos antes disso.
— Não vamos, — disse Thrawn. — Pelas gravações que vi do ataque, as
naves pareciam velhas, até mesmo um pouco obsoletas. Quem quer que
tenha sido o seu mestre, escolheu naves que provavelmente terão pouca
semelhança com as que está usando agora.
Ba’kif sorriu severamente.
— Mas então, um pouco de semelhança pode ser tudo de que
precisamos.
— Possivelmente. — Thrawn gesticulou em direção à nave naufragada.
— Presumo que iremos a bordo?
Ba’kif olhou para a piloto. As bochechas dela estavam tensas, a pele ao
redor dos olhos comprimida. Ela já havia estado a bordo uma vez e
claramente não tinha vontade de voltar.
— Sim — ele respondeu. — Apenas nós dois. A tripulação da nave deve
permanecer aqui de guarda.
— Entendido, — disse Thrawn. — Com a sua permissão, eu vou
preparar os trajes de abordagem.
— Continue, — disse Ba’kif. — Vou me juntar a você em um momento.
Ele esperou até que Thrawn saísse.
— Presumo que você tenha deixado tudo como encontrou? — ele
perguntou à piloto.
— Sim, senhor, — ela respondeu. — Mas…
— Mas? — Ba’kif perguntou.
— Não entendo por que você queria deixá-la intacta em vez de trazê-la
para uma investigação mais completa, — ela respondeu. — Não consigo
ver como alguma coisa lá vai te trazer algum benefício.
— Você pode se surpreender, — disse Ba’kif. — Podemos ambos ser
supreendidos.
Ele olhou na direção da escotilha para onde Thrawn tinha ido.
— Na verdade, estou contando com isso.

Ba’kif tinha visto os holos que a patrulha enviara para a Sindicura em Csilla
e o quartel-general da Frota de Defesa Expansionista em Naporar.
Como a própria nave, a realidade era muito pior.
Consoles destruídos. Bancos e módulos de armazenamento de dados
fritos. Conjuntos de sensores e pods de análise destruídos.
E corpos. Muitos corpos.
Ou melhor, os restos dos corpos.
— Isto não era um cargueiro. — A voz de Thrawn veio suavemente
através do alto-falante do capacete de Ba’kif. — Era uma nave de
refugiados.
Ba’kif assentiu silenciosamente. Adultos, jovens, crianças, toda a gama
de experiências de vida havia sido representada.
Todos eles massacrados com a mesma eficiência brutal.
— O que a análise da frota nos deu? — Perguntou Thrawn.
— Muito pouco, — admitiu Ba’kif. — Como já observou, o projeto da
nave não é aquele que vimos antes. O código nucleico das vítimas não está
em nossas listas de dados. O tamanho da nave sugere que não viajou de
muito longe, mas há muitos sistemas planetários e pequenos aglomerados
nas nações do Caos que nunca visitamos.
— E as suas características físicas... — Thrawn acenou com a mão.
— Não é fácil de ler, — disse Ba'kif severamente, com calafrios apesar
de tudo. Tiros explosivos deixaram muito pouco para a melhor equipe de
reconstrução trabalhar. — Eu esperava que pudesse haver algo que você
pudesse colher do que deixaram para trás.
— Existem algumas coisas, — disse Thrawn. — O projeto básico da
nave tem certas características que provavelmente se traduzem em outros
aspectos da sua cultura. As suas roupas também são distintas.
— De que maneira? — Perguntou Ba’kif. — Material? Projeto?
Padronização?
— Tudo isso e muito mais, — respondeu Thrawn. — Há um certo ar
sobre essas coisas, um sentimento geral que se forma na minha mente.
— Nada que você possa codificar para nós?
Thrawn se virou para ele e, por meio do visor, Ba’kif viu o sorriso
irônico do outro.
— Realmente, General, — ele respondeu. — Se eu pudesse escrever
tudo isso, certamente o faria.
— Eu sei, — disse Ba’kif. — Seria muito mais fácil para todos nós se
você pudesse.
— Concordo, — disse Thrawn. — Mas tenha certeza de que serei capaz
de reconhecer esses seres quando os vir novamente. Presumo que o seu
plano seja procurar o ponto de origem da nave?
— Em circunstâncias normais, eu definitivamente faria isso, —
respondeu Ba’kif. — Mas com a Sindicura em seu estado atual de alvoroço
e indignação, pode ser difícil separar uma força-tarefa da defesa da
Ascendência.
— Estou preparado para ir sozinho, se necessário.
Ba’kif assentiu. Esperava que Thrawn fosse voluntário, é claro. Se havia
uma coisa de que o homem gostava, era perseguir enigmas e resolver
quebra-cabeças. Adicione a sua habilidade única de ver conexões que
outros não conseguiam, e o fato de que uma grande porcentagem da
Aristocracia ficaria feliz em tê-lo fora de vista por um tempo, e ele era a
pessoa perfeita para o trabalho.
Infelizmente, não era tão fácil.
— Vou precisar de algo razoavelmente bem equipado para uma missão
desse tipo, — continuou Thrawn, olhando para os destroços. — a Falcão de
Primavera se sairia muito bem.
— Achei que esta seria a próxima questão, — disse Ba’kif amargamente.
— Você sabe que foi tirada de você por um motivo, certo?
— Claro, — respondeu Thrawn. — O Supremo Almirante Ja'fosk e o
Conselho ficaram descontentes com as minhas ações contra os piratas
Vagaari. Mas certamente essa raiva já se dissipou.
— Talvez, — disse Ba’kif evasivamente. — Porém... bem. Digamos só
que a sua reputação entre os outros membros do Conselho continua a ser
tênue. — Certamente, o aborrecimento do Conselho de Hierarquia de
Defesa com as ações de Thrawn foi a razão oficial para ele ser removido
como comandante da Falcão de Primavera. Não só a sua ação não
autorizada contra os piratas, mas também a subsequente morte do Sindico
Mitth’ras’safis e a perda de valiosa tecnologia alienígena.
Mas, nos bastidores, havia outros fatores em jogo. A campanha de
sucesso de Thrawn, quer os Aristocratas a aprovassem ou não, elevou o
nome e o prestígio da Falcão de Primavera, e a família Ufsa decidiu que
queria que a nave fosse comandada por um dos seus. Uma petição
silenciosa ao Conselho, provavelmente uma troca ainda mais silenciosa de
favores ou dívidas futuras, e Thrawn estava fora.
Tudo estritamente contra o protocolo, é claro. A Aristocracia não deveria
ter qualquer influência sobre as atribuições militares. Mas isso não significa
que nunca aconteceu.
A questão é que, como de costume, Thrawn vira apenas a situação
superficial e não percebeu as sutilezas políticas.
Ainda assim, esta pode ser uma boa oportunidade para lembrar aos
líderes civis da Ascendência que o Conselho, não a Sindicura, estava
encarregado dos militares. Os síndicos haviam levado embora a Falcão de
Primavera; era hora do Conselho retomá-la.
— Deixe-me ver o que posso fazer, — ele disse. — a Falcão de
Primavera está programada para se juntar ao ataque punitivo da Almirante
Ar’alani aos Paataasus em alguns dias, mas devemos ser capazes de colocá-
lo de volta no comando depois disso.
— Você realmente acha que os Paataasus são responsáveis pelo ataque
de Csilla?
— Não, eu não acho, — Ba’kif admitiu. — Nem a maioria do Conselho.
Mas um dos síndicos apresentou essa teoria, e o resto está se animando com
ela. Independentemente disso, os Paataasus estão cutucando os limites da
Ascendência novamente, então um rápido tapa punitivo era adequado de
qualquer maneira.
— Suponho que isso seja razoável, — disse Thrawn. — Em vez de
esperar até depois da operação, porém, eu gostaria de entrar na nave antes
do ataque. Não necessariamente como comandante, mas para observar e
avaliar os oficiais e guerreiros.
— Isso pode ser possível, — disse Ba’kif. — Por outro lado, porque não
como comandante? Vou passar isto para a Ar’alani e ver se ela aprova.
— Tenho certeza que sim, — disse Thrawn. — Presumo que também
será designada uma sky-walker para a minha investigação?
— Provavelmente, — disse Ba’kif. O corpo de sky-walker estava
limitado atualmente, mas sem saber até onde a investigação de Thrawn o
levaria, seria ineficiente fazê-lo viajar na velocidade de salto em salto seria
muito mais lenta. — Vou ver quem está disponível quando voltarmos para
Naporar.
— Obrigado. — Thrawn gesticulou em direção à popa. — Presumo que
os atacantes aqui deixaram pouco a encontrar no compartimento do motor
ou nas salas de abastecimento?
— Pouco ou nada, — disse Ba’kif sombriamente. — Principalmente
apenas mais alguns corpos explodidos.
— De qualquer forma, gostaria de ver essas áreas.
— É claro, — disse Ba’kif. — Por aqui.

Por um longo momento, o Capitão Intermediário Ufsa’mak’ro olhou para as


novas ordens da missão que o seu primeiro oficial o havia entregue.
Não. Não o seu oficial. O Comandante Sênior Plikh’ar’illmorf agora era
o oficial do Comandante Sênior Mitth’raw’nuruodo. E ele não era mais o
primeiro, mas o segundo.
O próprio Samakro tinha se tornado o primeiro oficial de Thrawn.
Ergueu os olhos do questis para o homem parado rigidamente à sua
frente. Kharill estava fervendo, embora provavelmente pensasse que estava
escondendo.
— Você tem uma pergunta, Comandante Sênior? — Samakro perguntou
suavemente.
As sobrancelhas de Kharill se contraíram um pouco. Aparentemente, ele
esperava que o capitão da Falcão de Primavera ficasse tão zangado com as
ordens inesperadas quanto ele.
— Não tanto uma pergunta, senhor, mas um comentário, — ele disse,
com a sua voz tensa.
— Deixe-me adivinhar, — Samakro disse, levantando ligeiramente o
questis. — Você está indignado porque a minha nave foi tirada de mim e
entregue ao Capitão Thrawn. Você está se perguntando se devemos
apresentar as nossas reclamações individualmente ou em conjunto e, se em
conjunto, qual das nossas famílias deve ser contatada primeiro. Você acha
que devemos protestar também à Almirante Ar’alani, ao Supremo
Almirante Ja’fosk e ao Conselho de Hierarquia de Defesa, provavelmente
nessa ordem, argumentando que mudar a estrutura de comando de uma nave
na véspera da batalha é tolo e perigoso. E você realmente acha que
deveríamos mostrar o nosso descontentamento obedecendo às ordens de
Thrawn tão sem entusiasmo quanto possível. Isso cobre a pergunta?
A boca de Kharill começou a cair aberta em algum lugar em torno da
segunda frase de Samakro, e agora estava tão aberta quanto Samakro jamais
tinha visto.
— Ah ... sim, senhor, isto cobre, — Kharill administrou.
— Bem, então, — Samakro disse, devolvendo-lhe o questis. — Já que eu
já disse tudo, não há razão para você fazer isso. Retorne às suas funções e
prepare-se para a mudança no comando.
A garganta de Kharill funcionou, mas ele deu um breve aceno de cabeça.
— Sim, senhor, — ele disse, e se virou para sair.
— Mais uma coisa, — Samakro chamou de trás dele.
— Senhor?
Samakro estreitou os olhos.
— Se algum dia eu pegar você desobedecendo a uma ordem, ordem de
qualquer um, ou obedecendo a uma ordem legal, lenta ou indevidamente,
eu irei pessoalmente acusá-lo. Entendido?
— Muito claro, senhor — respondeu Kharill entre os lábios rígidos.
— Bom, — disse Samakro. — Continue.
Observou as costas rígidas de Kharill enquanto o outro caminhava pelo
corredor em direção à ponte da Falcão de Primavera. Felizmente, Samakro
havia convencido o homem mais jovem a pelo menos fingir entusiasmo
pelo novo comandante da nave, mesmo que não sentisse realmente nenhum
entusiasmo.
Que era uma fachada que o próprio Samakro deveria certificar-se de que
estava pregada diante dos seus próprios sentimentos.
Porque estava furioso. Furioso, indignado, traído, tudo isso. Como o
Conselho e o Supremo Almirante Ja'fosk se atrevem a fazer isso com ele e a
Falcão de Primavera? A atitude deslumbrante do Supremo General Ba’kif
em relação a tudo que Thrawn tocava era bem conhecida, mas certamente
Ja’fosk tinha mais bom senso.
Ainda assim, as ordens foram estabelecidas, e protestar da maneira que
Kharill queria não faria nada a não ser colocar lenha na fogueira em um
fogo já latente. Então Samakro faria o seu trabalho, e se certificaria de que
o resto dos oficiais e guerreiros da nave fizessem o mesmo.
E esperava muito que qualquer confusão política que Thrawn fizesse
desta vez não explodisse na cara de todos.
A jornada terminou, e Al’iastov saiu da Terceira Visão para a luz apagada
da ponte do Transporte Tomra, da Força de Defesa Chiss. Ela afastou as
mãos dos controles de navegação, uma sensação de vazio no estômago e
no coração.
— Comandante Sênior? — ela perguntou timidamente, olhando para o
oficial de leme sentado ao lado dela.
— Chegamos, — ele confirmou. — Obrigado. Eu assumo a partir daqui.
— Tudo bem, — murmurou Al’iastov. Desatando-se, ela se levantou e
atravessou a ponte silenciosa até a escotilha.
Ela passou pela abertura e continuou a descer o corredor vazio em
direção aos aposentos do capitão, onde ela e a sua cuidadora tinham
recebido espaço. O Tomra nunca saiu da Ascendência, então não tinha
uma suíte adequada à sky-walker. Mafole, a cuidadora de Al’iastov,
reclamou disso, em voz alta, o qual deixou a Capitã Júnior Vorlip furiosa
com ela em seguida.
Nas outras naves de Al’iastov, a sua cuidadora geralmente a encontrava
do lado de fora da ponte e a acompanhava de volta à suíte da sky-walker.
Mas depois da rixa de Mafole com Vorlip, declarou que não deixaria o
quarto delas até chegarem a Naporar, e disse a Al’iastov que estaria
andando de um lado para o outro sozinha.
E enquanto Al’iastov caminhava pelo longo corredor, os seus olhos se
turvaram em lágrimas.
Não havia razão para ter uma sky-walker nesta viagem. Sabia disso. As
rotas dentro da Ascendência não eram como as do Caos. Ali, os caminhos
estavam desimpedidos e os pilotos sabiam como chegar aonde estavam
indo.
Foi por isso que a frota colocou o teste de Al’iastov ali. Viagens como
essa eram uma maneira segura de ver se uma sky-walker ainda conseguia
fazer o seu trabalho.
O piloto não disse nada. Nem a Capitã Júnior Vorlip.
Mas Al’iastov sabia.
Ela não foi capaz de manter o Tomra no caminho certo. O piloto teve
que corrigir o curso durante a viagem.
A sua Terceira Visão praticamente se foi. O seu trabalho foi encerrado. A
única vida que conheceu acabou. Um ano antes do previsto, a sua vida
acabou.
Aos treze anos.
— Você está bem?
Al’iastov parou abruptamente, enxugando as lágrimas que a tinham
impedido de ver a aproximação da outra pessoa. Um jovem de uniforme
preto estava de frente pra ela a alguns passos de distância. Não havia
nenhum pingente de insígnia em sua gola, o que o marcava como um
cadete, e o emblema no ombro dele tinha um nascer do sol nele. Esse era
de uma das Nove Famílias, ela sabia, mas não conseguia se lembrar qual.
— Eu estou bem, — ela respondeu. Uma de suas outras cuidadoras havia
lhe dito uma vez que nunca deveria reclamar de como estava se sentindo.
— Quem é Você?
— Cadete Mitth’raw’nuru, — ele respondeu. — Viajando para a Academia
Taharim. Quem é você?
— Al’iastov. — Ela estremeceu, lembrando tarde demais que a sua
identidade deveria ser mantida em segredo de todos, exceto dos oficiais
de patente mais alta. — Sou a filha do capitão, — ela acrescentou, repetindo
a mentira que sempre deveria contar se alguém de fora da tripulação da
ponte perguntasse.
A sobrancelha de Thrawn se ergueu um pouco, e o coração de Al’iastov
afundou um pouco mais. Ele não acreditou nela. Não apenas a sua vida
havia acabado, mas ela provavelmente estava em apuros agora também.
— Quero dizer...
— Está tudo bem, — disse Thrawn. — O que há de errado, Al’iastov? Posso
ajudar?
Al’iastov suspirou. Ela não deveria reclamar. Mas, pela primeira vez, ela
realmente não se importou com o que deveria fazer.
— Acho que não, — ela respondeu. — Eu estou... só preocupada. Sobre...
eu não sei. Sobre o que eu vou fazer.
— Entendo, — disse Thrawn.
Al’iastov prendeu a respiração. Ele tinha descoberto o que ela era? O
seu breve momento de rebelião indiferente desapareceu, deixando-a mais
uma vez plenamente consciente de que estaria em apuros.
— Você entende? — ela perguntou com cuidado.
— Claro, — disse Thrawn. — Todos nós sentimos incertezas ao longo da
vida. Não sei especificamente o que a preocupa, mas garanto que todos
os cadetes a bordo desta nave também estão enfrentando mudanças em
seus futuros.
Ela se sentiu um pouco aliviada. Então ele não sabia que ela era uma
sky-walker.
— Mas todos vocês sabem para onde estão indo, — ela disse. — Você é
um cadete e vai fazer parte da Força de Defesa. Eu não sei o que vou fazer.
— Você é filha de um capitão de nave, — disse Thrawn. — Isso certamente
abrirá muitas oportunidades. Mas só porque sei que estou indo para a
academia não significa que não haja muitas incógnitas. E a incerteza pode
ser o mais assustador dos estados mentais.
E então, para surpresa de Al’iastov, Thrawn ajoelhou-se na frente dela,
colocando o rosto um pouco abaixo do dela. Os adultos quase nunca
faziam isso. Até mesmo a maioria das outras cuidadoras de Al’iastov
geralmente ficava de pé olhando para ela.
— Mas enquanto todos nós enfrentamos uma variedade de caminhos,
todos temos o poder de escolher entre eles, — continuou ele. — Você
também tem esse poder, o poder de escolher qual desses caminhos é o
certo para você.
— Eu não sei, — disse Al’iastov, sentindo as lágrimas começarem
novamente. Que tipo de escolha uma sky-walker fracassada de treze anos
tinha? Ninguém tinha falado muito sobre isso com ela. — Mas obrigada
por...
— O que está acontecendo aqui? — A voz áspera da Capitã Júnior Vorlip
veio de trás dela. — Quem é você e o que está fazendo aqui?
— Cadete Mitth’raw’nuru, — respondeu Thrawn ao se levantar
rapidamente. — Eu estava explorando a nave quando encontrei a sua filha.
Ela parecia angustiada, e parei para oferecer ajuda.
— Você não deveria estar neste corredor, — questionou Vorlip
severamente. Ela passou por Al’iastov e parou na frente de Thrawn. — Você
não viu os sinais de APENAS PESSOAL AUTORIZADO?
— Presumi que a intenção deles era deter o pessoal não militar, —
respondeu Thrawn. — Como cadete, pensei que estaria isento.
— Bem, você não está, — explicou Vorlip. — Você deveria ficar junto com
os outros cadetes.
— Minhas desculpas, — disse Thrawn. — Eu só queria sentir a nave. — Ele
abaixou a cabeça e começou a se virar.
Vorlip estendeu o braço para bloquear o caminho dele.
— O que você quer dizer com sentir a nave?
— Eu queria estudar os seus ritmos, — respondeu Thrawn. — O convés
tem vibrações sutis que refletem a vazante e o fluxo dos propulsores.
Nosso movimento através do hiperespaço era pontuado por leves
hesitações e ondas. O fluxo de ar indica pequenas variações conforme
mudamos de direção. Os compensadores ocasionalmente ficam um pouco
pra trás das mudanças de curso, com efeitos que são novamente
transmitidos através do deck.
— Sério, — disse Vorlip. Ela não parecia tão zangada agora. — Quantos
voos espaciais você já realizou antes deste?
— Nenhum, — respondeu Thrawn. — Esta é a minha primeira viagem para
longe da minha casa.
É
— É isso. — Vorlip se aproximou dele. — Feche os seus olhos. Mantenha-
os fechados até que eu diga o contrário.
Thrawn fechou os olhos. Vorlip o pegou pelos braços e, sem aviso,
começou a girá-lo.
Os braços de Thrawn se agitaram de surpresa. Os seus pés tropeçaram,
tentando acompanhar os movimentos do seu corpo. Vorlip o manteve
girando, e também se moveu lentamente com ele. Quando ela estava a um
terço do caminho de onde ela havia começado, ela agarrou os braços dele
e o fez parar.
— Olhos ainda fechados, — ela disse, segurando-o com firmeza. — Qual é
o caminho para a frente?
Thrawn ficou em silêncio por um momento. Então, levantou a mão e
apontou para a proa de Tomra.
— Para lá, — ele respondeu.
Vorlip continuou o segurando por um segundo. Então o soltou e deu
um passo para trás.
— Você pode abrir os olhos, — ela disse. — Volte para os seus aposentos.
E nunca passe por esse tipo de sinal até que você tenha certeza de que
tem permissão.
— Sim, capitã, — disse Thrawn. Ele piscou algumas vezes ao terminar de
recuperar o equilíbrio. Ele assentiu para Vorlip, assentiu com a cabeça e
sorriu para Al’iastov, depois se virou e saiu.
— Eu sinto muito, — Al’iastov disse calmamente.
— Está tudo bem, — disse Vorlip. Ela ainda estava olhando para Thrawn.
— Você está brava com ele? — Al’iastov perguntou. — Ele estava apenas
tentando me ajudar.
— Eu sei.
— Você está com raiva de mim?
Vorlip se virou e deu a ela um pequeno sorriso.
— Não, claro que não, — ela respondeu. — Você não fez nada de errado.
— Mas... — Al’iastov parou, sentindo-se confusa.
— Não estou brava com ninguém, — explicou Vorlip. — É só que... levei
quinze viagens, em quatro naves diferentes, antes de desenvolver esse
tipo de consciência. Este Mitth’raw’nuru desenvolveu em apenas uma.
— Isso é estranho?
— Muito, — Vorlip assegurou a ela.
— Ele parece legal, — disse Al’iastov. Ela fez uma pausa, pensando no
que ele disse sobre caminhos. — O que acontece comigo quando eu sair
daqui?
— Você será adotada, — respondeu Vorlip. — Provavelmente em uma das
Nove Famílias Regentes, elas gostam de ter as ex-sky-walkers.
— Por quê?
— É uma coisa de prestígio, — respondeu Vorlip. — Tenho certeza que
você percebeu que garotas com a sua habilidade são muito raras. É uma
honra para uma de vocês se tornar uma adotada por mérito.
Al’iastov sentiu a sua garganta apertar.
— Mesmo quando nós não servimos para ninguém?
— Não diga coisas assim, — respondeu Vorlip severamente. — Cada
pessoa é valiosa. Meu ponto é que você será bem-vinda em qualquer
família que a adote. Eles vão cuidar de você, enviá-la para uma educação
superior e, eventualmente, encontrar uma carreira para a qual seja mais
adequada.
— A menos que me expulsem.
— Eu disse para você parar de falar assim, — disse Vorlip. — Não vão
expulsar você. Você é prestígio para a família, lembra?
— Sim, — respondeu Al’iastov. Ela ainda não acreditava completamente,
mas não adiantava mais falar sobre isso agora.
Mas havia mais um ponto.
— Posso escolher a família que eu quero?
Vorlip franziu a testa.
— Eu não sei. Para ser honesta, não sei de nenhum dos detalhes sobre
como essas coisas são feitas. Por que, você está de olho em uma família
específica?
— Sim, — respondeu Al’iastov. — A Mitth.
— Realmente. — Vorlip olhou por cima do ombro dela. — Como o cadete
Thrawn?
— Sim.
Vorlip soltou um suspiro pensativo.
— Como eu disse, não sei como isso funciona. Mas certamente não há
motivo para você não perguntar. Na verdade, agora que penso nisso, uma
ex-sky-walker com o seu histórico deve ser capaz de pedir o que você
quiser.
E aí estava. Vorlip havia dito isso. Ex-sky-walker.
A carreira de navegação de Al’iastov estava oficialmente encerrada.
Mas, estranhamente, de repente isso não parecia importar muito agora.
— Isso é o que ele disse, — ela disse a Vorlip. — Ele disse que eu seria
capaz de escolher o meu caminho.
— Bem, cadetes dizem todo tipo de coisa, — disse Vorlip, dispensando
Thrawn e a conversa com um aceno de mão. — Venha, preciso de você e da
sua cuidadora no meu escritório. Existem formulários que precisamos
preencher.
Mitth’raw’nuru, ele se identificou, Al’iastov se lembrou enquanto ela e a
capitã caminhavam. Mitth’raw’nuru. Ela se lembraria disso.
E quando chegasse a hora, a família Mitth definitivamente receberia um
pedido.
O oficial do setor de pessoal balançou a cabeça.
— Pedido negado, — ele disse rapidamente. — Bom dia.
Mitth’ali’astov piscou. Ela tinha acabado de ouvi-lo direito?
— O que você quer dizer com negado? — ela perguntou. — Eu coloquei
todas as informações profissionais aí.
— Sim, você colocou, — ele respondeu. — Infelizmente, precisava ter
sido preenchido há quatro dias.
Thalias cerrou os dentes. Teve que lutar contra a burocracia da família
Mitth por todo o caminho, com unhas e dentes, para fazê-los concordar com
isso. Agora, tarde demais, entendeu por que de repente desistiram da luta e
cederam ao pedido dela.
— Receio não ter entendido, — ela disse, reprimindo a sua raiva da
família. O homem sentado à sua frente era a chave para colocá-la a bordo
da Falcão de Primavera, e ela precisava dele ao seu lado. — Sou membro
da família Mitth, a Falcão de Primavera está sendo comandado por um
membro da família Mitth e me disseram que a frota oferece o direito de
observação.
— Sim, é verdade, — confirmou o oficial. — Mas há limites para esse
direito. — Ele bateu em seu questis. — E no momento adequado é um
deles.
— Eu entendo isso agora, — esclareceu Thalias. — Infelizmente, a
família não deixou isso bem claro pra mim. Típico. Não há nada que você
possa fazer?
— Receio que não, — ele respondeu, com um pouco menos de
truculência. Colocar a bagunça na família Mitth em vez dele o aproximou
pelo menos um pouco mais de simpatia pela situação atual dela. — Há um
tempo de processamento a ser considerado, especialmente porque as
famílias dos outros oficiais superiores têm o direito de contestar.
— Entendo, — disse Thalias. — Sempre se resume às famílias, não é?
— Parece que vai muito longe, — disse o oficial, a sua rigidez dobrando
um pouco mais.
— Bem, se não posso embarcar como uma observadora, há alguma outra
maneira de eu entrar na nave? — Thalias perguntou. — Algum outro
trabalho que eu poderia fazer? Eu sou proficiente em computadores, análise
de dados...
— Desculpe, — ele interrompeu, parando-a com uma mão levantada. —
Você é uma civil e a Falcão de Primavera não tem cargos para civis. — Ele
franziu a testa de repente. — A menos que... só um momento.
Ele digitou em seu questis, fez uma pausa, digitou novamente, rolou
lentamente pelas páginas. Thalias tentou ler do seu lado da mesa, mas o
texto estava de cabeça para baixo e estava usando um dos formatos de texto
especificamente projetado para ser difícil de ler dessa maneira.
— Aí vamos nós, — ele disse, erguendo os olhos novamente. — Talvez.
Há um trabalho que você poderia fazer. A Falcão de Primavera acaba de
receber uma sky-walker, mas uma cuidadora ainda não foi nomeada. Você
tem alguma experiência ou qualificação em lidar com crianças?
— Na verdade não, — Thalias respondeu. — Mas eu também já fui uma
sky-walker. Isso conta?
Os olhos dele se arregalaram.
— Você foi uma sky-walker? Sério?
— Sério, — ela lhe assegurou.
— Interessante, — ele murmurou, com os seus olhos voltando ao
normal, e talvez apenas um pouco em outra direção. — Cem anos atrás,
todas as cuidadoras eram ex-sky-walker. Ou foi o que tenho ouvido.
— Interessante, — disse Thalias. Lá estava a sua abertura.
Se ela quisesse ir em frente.
Não era uma resposta fácil ou óbvia. Essa parte da sua vida ficou muito
pra atrás. Mais do que isso, estava cheia de algumas memórias que ela
preferia deixar lá.
Claro, muitas dessas memórias desagradáveis estavam envolvidas com
as mulheres que eram designadas para cuidar dela a bordo das suas naves.
Algumas delas foram razoáveis; outras não a tinham entendido de forma
alguma. Ela estaria do outro lado do relacionamento desta vez, o que
deveria ajudar muito.
Talvez. Se estivesse sendo honesta, teria que admitir que provavelmente
não tinha sido a mais fácil das designações de uma cuidadora também.
Muitas das memórias daquele tempo estavam misturadas e desfocadas, mas
se lembrava distintamente de vários períodos de mal humor de longo prazo
e mais do que alguns ataques de gritos de raiva.
Para assumir esse trabalho pra si, para enfrentar uma sky-walker com
tudo o que isso implica, para tentar tornar a vida de uma menina menos
estressante...
Endireitou os ombros. Visitar aquelas partes sombrias do seu passado
seria difícil. Mas pode ser a sua única chance de ver Thrawn novamente.
Certamente seria a sua melhor chance de uma observação real dele.
— Tudo bem, — ela disse. — Sim. Eu vou pegar.
— Uau, — o oficial avisou. — Não é tão fácil. Você ainda precisa...
Ele a interrompeu quando a porta atrás dela se abriu. Thalias se virou
para ver um homem de meia-idade entrar no escritório. Preso no alto do seu
manto externo amarelo estava o brasão do nascer do sol de um síndico da
família Mitth.
— Vejo que não estou muito atrasado, — ele comentou. —
Mitth’ali’astov, presumo?
— Sim, — Thalias respondeu, franzindo a testa. — E você?
— Sindico Mitth’urf’ianico, — o homem se identificou, com os seus
olhos se voltando para o oficial. — Eu entendi que a jovem está tentando
garantir um lugar a bordo da Falcão de Primavera?
— Ela está, Sindico, — o oficial respondeu, com os seus olhos se
estreitando um pouco mais. — Você vai me desculpar, mas isso é um
assunto da frota, não da Aristocracia.
— Não se ela for a bordo como observadora da família Mitth, —
Thurfian contra-atacou.
O oficial balançou a cabeça.
— As informações profissionais dela não estão em ordem para isso.
— Alguém da família atrasou o processamento, — acrescentou Thalias.
— Entendo, — disse Thurfian. — E não há nada que possa ser feito?
— Há uma vaga para a cuidadora da sky-walker, — Thalias respondeu.
— Estávamos começando a falar sobre isso.
— Perfeito, — disse Thurfian, iluminando-se. — O que ainda precisa ser
feito para que isso aconteça?
— Não é tão fácil, — respondeu o oficial.
— Claro que é, — argumentou Thurfian. — A vaga está aberta, e a
família Mitth ainda tem o direito de observação.
— As aprovações não foram concluídas.
— Estou as completando agora, — esclareceu Thurfian.
O oficial balançou a cabeça.
— Com todo o devido respeito, Síndico...
— Com todo o devido respeito a você, — Thurfian interrompeu. Ele
levantou-se...
E de repente Thalias teve uma sensação do verdadeiro poder que a
Sindicura exercia. Isso se estendia muito além da sua autoridade política,
carregando todo o peso da história dos Chiss.
— A Ascendência está sob ameaça de ataque, — apontou Thurfian, com
a sua voz baixa e sombria. — A Força de Defesa e a Frota Expansionista
precisam estar em plena prontidão. Toda nave que requer uma sky-walker
precisa ter uma, e uma sky-walker não pode embarcar sem uma cuidadora.
A Falcão de Primavera deixa Naporar em quatro horas para o combate.
Nós não temos tempo, você não tem tempo, para hesitar.
Ele respirou fundo e pareceu a Thalias que a sua postura e maneiras se
suavizaram um pouco.
— Agora. Você tem aqui uma cuidadora que está pronta, disposta e
capaz de servir. Você tem autorização da família dela para embarcar.
Certamente você encontrará uma maneira de fornecer a Falcão de
Primavera os recursos necessários para a tarefa que está por vir.
Por um momento, ele e o oficial permaneceram em silêncio, os olhos
deles se encontraram. A rivalidade entre a frota e a Aristocracia...
Mas havia razão e urgência no argumento de Thurfian, e o oficial
claramente sabia disso.
— Muito bem, — ele disse. Ele baixou os olhos e trabalhou por um
momento no seu questis.
— Tudo bem, — ele disse, olhando para Thalias. — As suas ordens,
instruções e autorizações estão no seu questis. Leia-as e esteja onde deveria
estar, quando deveria estar. — Os seus olhos se voltaram para Thurfian. —
Como o Síndico Thurfian disse, a Falcão de Primavera parte em quatro
horas.
— Obrigada, — disse Thalias.
— De nada. — Ele deu a ela um pequeno sorriso. — Bem-vinda à Frota
Expansionista, Cuidadora Thalias. E boa sorte com aquela sky-walker.
Um momento depois, Thalias e Thurfian estavam de volta ao corredor.
— Obrigada, — disse Thalias. — Você chegou bem na hora.
— Estou feliz por ter podido ajudar, — disse Thurfian, sorrindo. — Você
realmente é uma pessoa notável, Thalias.
Ela sentiu o seu rosto esquentar.
— Obrigada, — ela disse novamente.
— E como eu ajudei você, — continuou Thurfian, — há algo que você
pode fazer para me ajudar.
Thalias sentiu que se afastava dele.
— Desculpe? — ela perguntou cuidadosamente, parando.
— O tempo é curto, — respondeu Thurfian, pegando o braço dela e
fazendo com que eles se movessem novamente. — Venha. Eu direi a você
no caminho para a sua nave.


Passaram-se duas décadas desde que Thalias tinha tido que ler um quadro
de horários militar, muito menos seguir um. Felizmente, assim que o
choque inicial passou, velhos hábitos e reflexos assumiram o controle e ela
conseguiu chegar à nave espacial Falcão de Primavera com tempo de
sobra.
A jovem garota estava esperando na sala de estar de sky-walker quando
chegou, esparramada em uma cadeira enorme e jogando um jogo de toque e
clique em seu questis. Ela parecia ter nove ou dez anos, mas as sky-walkers
tendiam a ser baixas, então isso era só um palpite. Ela ergueu os olhos
quando Thalias entrou pela escotilha, deu à mulher uma avaliação de
aparência bastante suspeita e então voltou a sua atenção para o jogo. Thalias
começou a se apresentar, mas lembrou-se de como costumava ficar sensível
sempre que uma nova cuidadora vinha para falar e, em vez disso, levou a
sua bagagem para a sua parte da suíte.
Ela demorou para se acomodar. No momento em que mais uma vez
entrou na sala de estar, a garota havia colocado o seu questis na cadeira ao
lado dela e estava olhando melancolicamente para a linha de mostradores
repetidores fixados na antepara abaixo da lanchonete.
— Já saímos? — Thalias perguntou.
A garota assentiu com a cabeça.
— Há pouco tempo atrás, — ela disse. Ela hesitou, então furtivamente
olhou para Thalias. — Você é a minha nova momish?
— Eu sou a sua nova cuidadora, — disse Thalias, franzindo a testa
ligeiramente. Momish? Era um novo termo oficial para a posição dela, ou
era algo que essa garota tinha inventado sozinha? — Eu cuidarei de você
enquanto estivermos a bordo da Falcão de Primavera, — ela continuou
enquanto caminhava até uma das outras cadeiras e se sentava. — O meu
nome é Thalias. Qual é o seu?
— Você já não deveria saber?
— Esta foi uma espécie de designação de última hora, — admitiu
Thalias. — Passei todo o meu tempo certificando-me de chegar ao
espaçoporto antes da nave partir.
— Oh, — a garota disse, parecendo um pouco confusa. Ela
provavelmente estava acostumada com cuidadoras com mais disciplina. E
competência. — Eu sou Che'ri.
— Prazer em conhecê-la, Che’ri, — disse Thalias, sorrindo. — Que jogo
você estava jogando?
— O que? Oh. — Che'ri tocou em seu questis. — Eu não estava jogando
nada. Eu estava desenhando.
— Sério, — Thalias disse, estremecendo um pouco. Che'ri gostava de
desenhar, e Thalias mal distinguia uma ponta da stylus da outra. Nenhum
terreno comum ali. — Não sabia que o toque-clique poderia ser adaptado à
trabalho de arte.
— Não é arte de verdade, — disse Che'ri, parecendo envergonhada. —
Eu só pego as peças já no questis e as coloco juntas.
— Parece interessante, — disse Thalias. — Como uma colagem. Posso
ver?
— Não, — respondeu Che'ri, recuando um pouco enquanto agarrava o
questis e o pressionava contra o peito. — Eu não deixo ninguém olhar pra
isso.
— Certo, tudo bem, — Thalias apressou-se em assegurá-la. — Mas se
você mudar de ideia, eu adoraria ver o que você faz.
— Você gosta de desenhar? — Perguntou Che'ri.
— Não sou muito boa nesse tipo de coisa, — respondeu Thalias. — Mas
eu gosto de ver arte.
— Você não acha que desenhar é bobo?
— Não, claro que não, — Thalias assegurou a ela. — Ter esse tipo de
talento é uma coisa boa.
— Eu realmente não desenho, — explicou Che'ri. — Eu já te disse que
eu só junto as coisas.
— Bem, ainda é um talento, — observou Thalias obstinadamente. — E
talentos nunca são bobos.
Che'ri baixou os olhos.
— Minha última momish disse que era.
— Sua última momish estava errada, — disse Thalias.
Che'ri bufou um pouco.
— Ela sempre achava que estava certa.
— Confie em mim, — disse Thalias. — Eu já vi momishes ir e vir, e
posso dizer a você imediatamente quando uma estava errada.
— Certo. — Che'ri olhou para ela. — Você não é como as outras.
— As outras momishes? — Thalias tentou um pequeno sorriso. —
Provavelmente não. Quantos delas você já teve?
Che'ri baixou o olhar novamente.
— Oito, — ela respondeu, com a sua voz quase inaudível.
Thalias estremeceu com a dor na voz da garota.
— Uau, — ela disse suavemente. — Deve ter sido difícil.
Che'ri bufou novamente.
— Como você saberia?
— Porque eu tive quatro, — respondeu Thalias.
Che'ri olhou para cima, com os olhos arregalados.
— Você é uma sky-walker?
— Eu fui, — respondeu Thalias. — E eu me lembro de como doía cada
vez que levavam uma cuidadora e me davam uma nova.
Che'ri olhou pra baixo novamente e encolheu os ombros.
— Eu nem sei o que fiz de errado.
— Provavelmente nada, — esclareceu Thalias. — Eu também me
preocupava muito com isso e nunca conseguia pensar em nada. Exceto que
às vezes ela e eu não nos dávamos muito bem, então essa pode ter sido uma
das razões.
— Elas não entendem. — A garganta de Che'ri funcionou. — Nenhuma
delas entende.
— Porque nenhuma delas jamais foi uma sky-walker, — explicou
Thalias. Embora nem sempre tenha sido o caso, se aquele oficial de pessoal
estivesse certo. Rapidamente, ela se perguntou por que essa política foi
alterada. — Depois que saímos do programa, a maioria de nós não volta.
— Então, como é que você voltou?
Thalias encolheu os ombros. Este não era o momento de dizer à garota
que ela estava aqui para se reconectar com alguém que ela só encontrou
uma vez.
— Lembro-me de como foi difícil ser uma sky-walker. Achei que
alguém que também fosse uma poderia ser uma cuidadora melhor.
— Até você ir embora, — Che'ri murmurou. — Todas elas vão.
— Mas não necessariamente porque elas querem, — explicou Thalias.
— Existem vários motivos para a transferência de cuidadoras. Às vezes, a
sky-walker e a cuidadora simplesmente não se dão bem, como você e a seu
última, e eu e aquela que acabei de mencionar. Mas às vezes há outros
motivos. Às vezes, eles precisam de uma cuidadora especial para cuidar de
uma nova sky-walker. Às vezes, há disputas familiares, quero dizer, entre as
várias famílias, que atrapalham. — Ela sentiu os seus lábios franzirem. — E
às vezes é porque existem idiotas míopes no comando do processo.
— Você quer dizer míope, como se eles não enxergassem muito bem?
— Quero dizer, míope, como se tivessem o cérebro de um sapo-pulo, —
esclareceu Thalias. — Tenho certeza de que você conheceu pessoas assim.
Che'ri deu a ela um sorriso incerto.
— Não devo falar assim sobre as pessoas.
— Você está certa, provavelmente você não deveria, — disse Thalias. —
Nem eu deveria. Isso não muda o fato de que eles têm cérebros de sapos-
pulos.
— Eu acho. — Che'ri semicerrou os olhos para ela. — Por quanto tempo
você foi uma sky-walker?
— Eu tinha sete anos quando naveguei na minha primeira nave. Eu tinha
treze anos quando naveguei pela última vez.
— Eles me disseram que eu seria uma sky-walker até os quatorze anos.
— Essa é a idade normal, — explicou Thalias. — A minha Terceira
Visão aparentemente decidiu parar mais cedo. Você tem... o que? — Ela fez
uma demonstração de olhos semicerrados para o rosto de Che'ri. — Cerca
de oito?
— Nove e meio. — A garota considerou. — Nove e três quartos.
— Ah, — Thalias disse. — Então você tem muita experiência. Isso é
bom.
— Acho que sim, — disse Che'ri. — Vamos para uma batalha?
Thalias hesitou. Havia coisas que os adultos não deveriam dizer às sky-
walkers, coisas que o Conselho, em sua estranha sabedoria, decidiu que
poderiam perturbá-las.
— Não sei, mas não é nada para se preocupar, — ela respondeu. —
Especialmente a bordo da Falcão de Primavera. O Capitão Sênior Thrawn
é o nosso capitão, e ele é um dos melhores guerreiros da Ascendência.
— Porque não me disseram por que estou aqui, — insistiu Che’ri. —
Não há ninguém muito longe para lutar, não é? Eles dizem que nós não
saímos da Ascendência para lutar contra ninguém. E se as pessoas que estão
lutando estão perto, a nave não precisa de uma sky-walker.
— Boas colocações, — Thalias observou, uma sensação desagradável
agitando o seu estômago. Mesmo que a força-tarefa estivesse indo para
alguma ação punitiva, viajar salto em salto os levaria a uma distância
razoável sem ter que correr o risco de levar uma sky-walker para o
combate. Então, por que ela e Che'ri estavam a bordo? — Bem, o que quer
que estejamos fazendo, o Capitão Sênior Thrawn vai garantir o nosso
caminho.
— Como você sabe?
— Eu li muito sobre ele. — Thalias puxou o seu questis. — Você lê?
Você gostaria de ler sobre a carreira dele?
— Tudo bem, — respondeu Che'ri, franzindo um pouco o nariz. —
Prefiro desenhar.
— Desenhar também é bom, — concordou Thalias, enviando os
arquivos de Thrawn para o questis de Che'ri. — Isto ficará aqui apenas se
você quiser ler um pouco, mais tarde.
— Tudo bem, — disse Che'ri incerta enquanto olhava para o seu questis.
— Há muita coisa lá.
— Sim, há, — admitiu Thalias, sentindo uma pontada de
constrangimento. Ela adorava ler quando era uma sky-walker.
Naturalmente, ela presumiu que com Che'ri seria o mesmo. — É o seguinte.
Vou revisar isso mais tarde e fazer uma versão mais curta para você.
Algumas das histórias mais emocionantes das coisas que ele fez.
— Tudo bem, — disse Che'ri, parecendo um pouco menos sem
entusiasmo.
— Bom. — Por um momento, Thalias tentou pensar em outra coisa para
dizer. Mas ela podia ver ainda a parede entre elas e se lembrou de como às
vezes ficava mal-humorada quando tinha a idade de Che'ri. Melhor não
forçar. — Eu tenho que me apresentar ao primeiro oficial, — ela disse, se
levantando. — Vou deixar você voltar ao seu desenho.
— Tudo bem, — disse Che'ri. — Devo preparar o meu próprio almoço?
— Não, não, eu vou fazer isso para você, — Thalias garantiu a ela. —
Você está com fome?
Che'ri encolheu os ombros.
— Eu posso esperar.
O que não foi exatamente uma resposta.
— Você quer que eu faça algo para você agora?
— Eu posso esperar, — Che’ri repetiu.
Thalias cerrou os dentes.
— Está bem então. Eu vou me apresentar e depois volto. Enquanto estou
fora, você pensa no que gostaria de comer.
Outro encolher de ombros. — Eu não me importo.
— Bem, pense sobre isso de qualquer maneira, — Thalias disse. — Eu
volto logo.
Ela saiu, carrancuda para si mesma enquanto caminhava pelo corredor.
Talvez aceitar esse emprego tenha sido um erro.
Ainda assim, ela e Che'ri mal se conheceram. Não era surpreendente que
a menina estivesse se segurando, especialmente considerando que ainda
estava sofrendo com o que considerou uma deserção de suas cuidadoras
anteriores.
Então Thalias daria à garota tempo, e espaço, e provavelmente mais
tempo. Eventualmente, esperançosamente, ela mudaria.
E se ela ainda não soubesse o que queria para o almoço quando Thalias
voltasse, seriam sanduíches de pasta de nozes. Mesmo que Che'ri não lesse,
com certeza ela pelo menos gostava de sanduíches de pasta de nozes.


Thrawn era mais alto do que Samakro esperava e se portava com graça e
certo ar de confiança. Ele também era cortês com os oficiais e guerreiros e
sabia lidar com a Falcão de Primavera. Além disso, ele realmente não era
grande coisa.
Mas agora, ele também estava atrasado.
— Aproximando-se do sistema de destino, — relatou Kharill. — Saída
em trinta segundos.
— Entendido, — disse Samakro, olhando ao redor da ponte. Todos os
sistemas de armas estavam verdes, incluindo o computador de mira com
esfera de plasma o qual estava causando problemas nos últimos dias. Todas
as portas da eclusa de ar foram seladas contra possível violação, a barreira
eletrostática que envolvia o casco da Falcão de Primavera estava
energizada e todos os guerreiros estavam em seus postos.
Impressionante, mas não é necessário. Pelo que Samakro sabia, toda essa
missão era apenas um pequeno passo acima de um exercício de jogo de
guerra. A Vigilante era uma nave de guerra Nightdragon de classe máxima,
fortemente armada, e a força atual da Almirante Ar'alani também incluía
cinco outros cruzadores além da Falcão de Primavera. Com tanto poder de
fogo, aparecendo sem aviso sobre o mundo natal dos Paataatus,
provavelmente não apresentariam qualquer resistência efetiva.
Nada disso significava que a Falcão de Primavera e a sua tripulação
deviam ser nada menos do que totalmente profissionais ali, é claro. E esse
profissionalismo incluía o seu capitão. Se Thrawn não estivesse ali quando
deixassem o hiperespaço, Samakro simplesmente teria que assumir...
— Prepare-se, — a voz calma de Thrawn veio de trás dele.
Samakro se virou, lutando contra uma contração reflexa. Como raios
Thrawn entrou furtivamente na ponte sem ele ouvir a escotilha se abrir?
— Capitão, — ele cumprimentou o seu superior. — Estava começando a
achar que você tinha perdido o alerta.
— Faz uma hora que estou aqui, — esclareceu Thrawn, parecendo um
pouco surpreso por Samakro não ter notado. — Eu estava supervisionando
o trabalho no computador de mira de esfera.
Samakro olhou para o console da esfera de plasma quando dois técnicos
surgiram atrás dele.
— Ah. Eu vejo que mostra verde agora.
— De fato, — disse Thrawn. — A qualidade das equipes de reparo e
manutenção da Falcão de Primavera melhorou consideravelmente desde
que você foi colocado no comando.
Samakro sentiu os seus olhos se estreitarem. Um elogio? Ou um
lembrete sutil de que Thrawn era o capitão da nave agora?
— Alguma instrução de última hora da Vigilante? — Thrawn perguntou.
— Nada desde o último salto, — disse Samakro. Provavelmente um
elogio, ele decidiu. Thrawn não parecia ser do tipo exultante. — Apenas o
aviso usual de Ar’alani para estar pronto para qualquer coisa.
— Acredito que nós estamos, — disse Thrawn. — Saindo... Agora.
Através da janela, Samakro viu as chamas das estrelas brilharem e
encolherem, trazendo a Falcão de Primavera para fora do hiperespaço.
Em uma tempestade de fogo laser.
— Caças inimigos! — Kharill esbravejou. — Rodando… ao nosso redor,
capitão. Nos enxameando. Enxameando a todos.
Samakro soltou uma pequena maldição. Kharill estava certo. Havia pelo
menos cinquenta naves de combate Paataatus lá fora, zumbindo em torno da
força de ataque Chiss como weltflies furiosas, com os seus lasers criando
flashes de um verde pálido enquanto cortavam a poeira interplanetária
rarefeita.
E como acontece com as weltflies, embora cada picada individual fosse
muito fraca para danificar a barreira eletrostática da Falcão de Primavera,
uma barragem suficientemente grande de tal fogo poderia concebivelmente
derrubar as defesas e começar a comer o casco.
— Entendido, — disse Thrawn calmamente. — Esfera Um: Atire no
atacante mais próximo no meu vetor.
— Esfera Um disparando. — A esfera de plasma se afastou do lançador
de bombordo da Falcão de Primavera.
E errou completamente o alvo.
— Controle de esfera! — Samakro disparou. — Reajustar e atirar
novamente.
— Ignore isso, — disse Thrawn. — Leme: Rotacione noventa graus para
bombordo e coloque a Esfera Dois para carregar. Dispare quando pronto.
— Não, espere! — Samakro interrompeu.
Muito tarde. A Falcão de Primavera já estava girando, direcionando-se
para as naves inimigas daquele lado.
Afastando-se da Vigilante.
E antes mesmo que o lançador de esfera de plasma estivesse em posição
de atirar, os caças inimigos estavam se reposicionando para aproveitar o
erro de Thrawn, avançando para cercar a Falcão de Primavera enquanto ele
se afastava das outras naves Chiss.
— Falcão de Primavera, volte para a formação, — a voz de Ar’alani
retumbou no alto-falante da ponte. — Thrawn?
— Não responda, — disse Thrawn. — Dispare Esfera Dois.
Desta vez, a esfera de plasma voou bem, atirando em seu caça alvo e
liberando um flash multicolorido de energia iônica através do casco do
inimigo enquanto derrubava a barreira eletrostática do caça e embaralhava
todos os eletrônicos ao seu alcance.
— Recarregue e prepare-se para atirar, — disse Thrawn.
— Não deveríamos voltar para a força principal? — Samakro
pressionou. — A Almirante Ar’alani...
— Mantenha o curso, — respondeu Thrawn. — Esfera Dois, dispare
quando estiver pronto. Abaixe a resistência da barreira em vinte por cento.
Samakro murmurou outra maldição, uma das maiores desta vez.
— Posso sugerir que implantemos chamarizes? — ele pressionou. —
Isso pelo menos desviaria parte do foco de nós.
— Desviaria sem dúvida, — Thrawn concordou. — Negativo em
chamarizes. Rotacione mais cinco graus para bombordo, depois três graus
para estibordo.
A Falcão de Primavera girou e depois girou novamente. Os lasers
Paataatus continuaram a bater contra a barreira eletrostática enfraquecida, e
através da janela Samakro pôde ver os caças Paataatus novamente
formando seu agrupamento de ataque para trazer mais força para suportar.
— Capitão, se não voltarmos para os outros, não vamos durar muito, —
ele avisou baixinho, imaginando à distância, o que teria acontecido com o
Thrawn que uma vez trouxe fama a Falcão de Primavera.
— Vamos durar o suficiente, Capitão Intermediário, — esclareceu
Thrawn. — Você não vê?
Samakro ergueu a mão em um gesto de confusão e futilidade.
A mão congelou no meio do ar quando de repente entendeu. Mais naves
atacando a Falcão de Primavera significavam menos ataques às outras
naves. Menos atacantes significavam menos confusão para os artilheiros
Chiss, computadores de mira e observadores de triangulação, permitindo
uma destruição organizada e sistemática dos atacantes que não estavam
focados na Falcão de Primavera.
E essa destruição sistemática significava...
Do lado a estibordo da Falcão de Primavera veio uma súbita enxurrada
de fogo laser, rompendo mísseis e esferas de plasma, atingindo o enxame de
caças inimigos. Samakro olhou pra a tela para ver a Vigilante e as outras
naves Chiss avançando em direção a eles em formação de cunha de batalha
completa.
— Eleve a barreira para potência total; todas as armas: disparar, —
ordenou Thrawn. — Concentre-se nos inimigos fora dos arcos de disparo
das nossas outras naves.
Os lasers e lançadores de esfera de plasma da Falcão de Primavera
dispararam, e o número de atacantes caiu vertiginosamente enquanto a força
Chiss continuava a transformar as naves inimigas em pó. Samakro observou
até que a força dos Paataatus reduziu-se a algumas naves em fuga sendo
perseguidas por dois dos outros cruzadores de Ar’alani, então se aproximou
do lado de Thrawn.
— Portanto, bancamos o animal ferido e atraímos o inimigo até nós, —
ele disse. — Dando ao resto da força tempo para se reagrupar e contra-
atacar.
— Sim, — disse Thrawn, parecendo satisfeito por Samakro ter
descoberto. Mesmo tendo descoberto isso um pouco tarde no dia. — Os
Paataatus têm uma mentalidade de enxame. Esse padrão de pensamento os
predispõe a concentrar a sua atenção nos oponentes feridos.
— Eles começam eliminando os mais fracos, depois vão subindo, —
Samakro concluiu, assentindo.
— Exatamente, — disse Thrawn. — Quando vi o tamanho da força de
ataque, percebi que a melhor estratégia seria atrair o máximo possível deles
para longe do resto das nossas naves antes que eles fossem capazes de
infligir danos significativos.
— Além de atraí-los para um aglomerado mais compacto com o qual os
nossos artilheiros e computadores de mira teriam menos problemas.
— Correto. — Thrawn sorriu ironicamente. — Essa dificuldade de
múltiplos alvos é o nosso ponto fraco. Espero que os técnicos e instrutores
da frota estejam trabalhando para resolver isso.
— Capitão Sênior Thrawn? — A voz de Ar’alani veio pelo alto-falante.
— Sim, Almirante? — Thrawn respondeu.
— Muito bem, Capitão, — disse Ar’alani, com uma ponta de
aborrecimento em seu tom. — Da próxima vez que você tiver um plano
inteligente, por favor, compartilhe-o comigo antes de executá-lo.
— Vou me esforçar para fazer isso, — prometeu Thrawn. — Desde que
haja tempo.
— E desde que você não se importe em avisar o inimigo se eles
estiverem bisbilhotando, — Samakro acrescentou baixinho.
Aparentemente, não baixinho o suficiente.
— Se você acha que é uma desculpa legítima, Capitão Intermediário
Samakro, deixe-me sugerir o contrário, — disse Ar’alani. — Tenho certeza
de que, no futuro, o Capitão Thrawn encontrará uma maneira de comunicar
as informações necessárias sem que o inimigo ouça.
— Sim, senhora, — disse Samakro, estremecendo. Corria o boato de que
os oficiais generais tinham uma configuração de comunicação especial que
lhes permitia ouvir mais das suas naves de escolta do que normalmente era
possível.
— Capitão Thrawn?
— Almirante?
— Acho que temos a situação sob controle, — disse Ar’alani. — Você
pode seguir para a sua próxima missão quando estiver pronto.
Samakro franziu a testa. Não havia nada sobre uma missão extra nas
ordens da Falcão de Primavera.
— Obrigado, Almirante, — disse Thrawn. — Com a sua permissão,
gostaria de dedicar uma hora primeiro para verificar a nave e começar a
reparar qualquer dano que possamos ter sofrido.
— Leve o tempo que quiser, — disse Ar’alani. — Estamos indo mais
para dentro do sistema para falar com os comandantes Paataatus.
Felizmente, eles aprenderam a loucura de atacar a Ascendência Chiss.
— Sim, eles aprenderam, — disse Thrawn. — Uma derrota dessa
magnitude sufocará os desejos expansionistas deles. Eles devem
permanecer dentro de suas próprias fronteiras até que a geração atual tenha
passado.
— Exceto possivelmente por um deslize ou dois em Csilla? — Ar’alani
sugeriu.
Thrawn balançou a cabeça.
— Não acredito que eles tenham sido os responsáveis por aquele ataque.
Samakro estremeceu. Pessoalmente, ele também não acreditava, mas isso
não significava que era algo que um oficial sênior deveria dizer em voz alta.
Especialmente quando uma grande porcentagem da Sindicura acreditava
nisso.
— Talvez, — observou Ar’alani, as suas palavras em tom de um neutro
muito mais politicamente aceitável. — Isso é para os outros investigarem.
Faça os seus reparos e me avise quando estiver pronto para sair. Almirante
desligando.
Ouviu-se o som do comunicador desconectando.
— Capitão Intermediário, por favor, inicie uma verificação completa da
situação, — disse Thrawn. — Preste atenção especial às armas e sistemas
de defesa.
— Sim, senhor, — disse Samakro, sentindo um fio de alívio. E com isso,
eles acabaram com a política. Pelo menos por enquanto. — Todo o pessoal:
Exame completo da nave. Os chefes de seção relatem a situação quando
concluído.
Houve um coro de reconhecimentos, e a ponte caiu em um silêncio
estudioso enquanto o pessoal iniciava as suas varreduras.
— Espero que você esteja certo sobre os Paataatus, — disse Samakro. —
Só porque os atacantes de Csilla usaram naves diferentes, não significa que
não tenham vasculhado por algo que esconderia a sua identidade.
— Não, — disse Thrawn. — Você viu as táticas deles aqui, enxameando
com números esmagadores. As táticas deles não permitem o que vimos em
Csilla, particularmente não um ataque indiferente que custou três naves.
Não, o ataque Csilla foi lançado por outra pessoa.
— Por que eles não poderiam ter convencido outra pessoa a fazer isso
por eles? — Samakro sugeriu, perversamente relutante em deixar para lá.
Ele nunca se sentiu confortável com conclusões viscerais e, pelo que podia
dizer, isso era tudo que Thrawn tinha ali. — Existem gangues de piratas por
aí que poderiam ser contratadas para lançar uma finta.
— O objetivo do ataque foi certamente tirar a nossa atenção, — apontou
Thrawn. — Mas não desta parte da fronteira. — Os seus lábios se
comprimiram brevemente. — Assim que deixarmos o resto da força-tarefa,
poderei contar a você e aos outros oficiais superiores sobre a missão que a
Almirante Ar’alani mencionou.
— Sim, senhor, — disse Samakro, olhando-o de perto. Ele também
nunca se sentiu confortável com missões ultrassecretas. — Alguma chance
de uma prévia?
Thrawn deu-lhe um pequeno sorriso.
— Sim, sempre odiei ordens seladas também, — ele observou. — O que
posso dizer é que pode haver uma nova ameaça do outro lado da
Ascendência. A nossa tarefa é localizar, identificar e avaliar essa ameaça
antes que eles voltem a atenção deles para os nossos mundos.
— Ah, — disse Samakro. Então foi por isso que eles de repente tiveram
uma sky-walker atribuída a eles. De salto em salto era uma maneira
ineficiente de viajar para qualquer distância real no Caos, e com esse tipo
de investigação não havia como dizer o quão longe a busca os levaria. —
Posso perguntar se você espera que esta busca termine em combate? — Ele
acrescentou, a sua mente voltando às instruções específicas de Thrawn para
verificar as armas e defesas da Falcão de Primavera.
— Sempre existe essa possibilidade, — respondeu Thrawn. Ele viu a
expressão no rosto de Samakro e sorriu novamente. — Não se preocupe,
Capitão. Eu conheço os protocolos relativos aos ataques preventivos
cuidadosa e especificamente definidos para mim.
— Sim, senhor, — disse Samakro. — Com a sua permissão, gostaria de
supervisionar pessoalmente as verificações da barreira.
— Muito bem, Capitão, — disse Thrawn. — Prossiga.
Samakro dirigiu-se para a estação de defesa, com o estômago apertado.
A barreira eletrostática era a primeira linha de defesa da Falcão de
Primavera contra qualquer atacante e, como tal, precisava estar em perfeito
estado de funcionamento.
Até porque ele tinha ouvido algumas das histórias sobre Thrawn. E só
porque os protocolos foram definidos para ele, não significa
necessariamente que ele tinha ouvido.
Em quase quatro anos na Academia Taharim, a Cadete Sênior Irizi’ar’alani
havia construído um registro impecável. Ela se destacou, estava bem no
caminho para posição e hierarquia de comando e, nem o menor indício de
escândalo jamais tocou o seu nome.
Até agora.
— Cadete Sênior Ziara, — entoou o Coronel Wevary com a voz que
reservava para os mais hediondos ofensores contra as tradições de
Taharim, — um cadete sob a sua tutela foi acusado de trapaça. Você tem
algo a dizer em sua ou na defesa dele?
Sob a sua tutela. Tudo o que Ziara tinha feito foi inspecionar o maldito
exercício de simulação que o Cadete Thrawn tinha feito.
Mas o nome dela estava ligado à acusação, então ali estava ela.
Não que houvesse muita chance de consequências graves. Certamente,
o representante da Irizi sentado em uma das pontas do júri de três oficiais
não parecia preocupado. Na outra ponta da mesa...
Sentiu uma pontada de dor simpática. Thrawn era o único que estava
por um fio ali, mas o representante da família Mitth nem mesmo apareceu.
Ou tinha se esquecido da audiência ou simplesmente não se importou. De
qualquer forma, não era um bom presságio para o futuro de Thrawn.
A parte mais estranha era que nada disso fazia sentido. Ziara havia
olhado os registros de Thrawn e ele já estava muito à frente dos seus
colegas. A última coisa que precisava fazer era trapacear em um exercício
de simulador.
Ainda assim, embora as suas pontuações normais no simulador fossem
consistentemente altas, a maioria delas estava dentro ou apenas
ligeiramente acima das marcas divisórias mais altas da academia. Neste
exercício em particular, ninguém na história de Taharim chegou nem perto
da pontuação de Thrawn de noventa e cinco. Havia apenas uma explicação
lógica para uma pontuação tão alta, e o Coronel Wevary chegara a ela.
Ziara mudou a sua atenção para o acusado. Thrawn estava sentado
rigidamente na sua cadeira, no seu rosto uma máscara rígida. Ele já havia
se declarado inocente das acusações, insistindo que não havia trapaceado,
mas apenas aproveitado os parâmetros que o exercício havia estabelecido
para ele.
Mas, como um dos outros membros do júri já havia dito, isso era
exatamente o que uma pessoa culpada também diria. Infelizmente, muitos
cadetes no passado haviam enganado o sistema utilizando secretamente
as sessões de treino realizadas com os seus parâmetros de teste futuros,
uma fraude que os instrutores haviam rebatido garantindo que nenhuma
simulação já realizada pudesse ser executada novamente. Essa limitação
embutida significava que Thrawn não poderia repetir a sua técnica e
provar a sua inocência.
Presumivelmente, os instrutores poderiam se aprofundar na
programação e mudar isso. Mas levaria muito tempo e, aparentemente,
ninguém pensava que um único cadete valia tanto esforço.
Mentalmente, Ziara balançou a cabeça. A outra parte do problema era
que os registros do exercício se limitavam aos pontos de vista das três
naves-patrulha atacantes. Um dos registros ficou em branco no momento
errado, não mostrando nada do encontro culminante, enquanto os outros
dois simplesmente mostravam a nave-patrulha de Thrawn desaparecendo
por vários segundos cruciais.
Um dispositivo de camuflagem prático era o sonho dos cientistas da
Força de Defesa em gerações. Era improvável que uma simulação de
cadete tivesse feito aquele avanço indescritível. Pelo menos, não sem um
ajuste ilegal da programação.
E ainda…
Ziara estudou o rosto de Thrawn. Ele tinha explicado as suas táticas ao
conselho pelo menos duas vezes, e ainda não acreditavam nele. Agora,
sem mais nada para dizer, ele se refugiou no silêncio. Ziara poderia
esperar encontrar desafio ou raiva ali, mas não conseguia ver nenhum dos
dois. Ele ficou sozinho, sem nem mesmo a sua família para apoiá-lo.
Nesse ínterim, o Coronel Wevary fez uma pergunta a Ziara.
— Não tenho nada a dizer, — ela respondeu. Ela olhou para Thrawn
novamente.
E de repente um pensamento estranho ocorreu a ela. Algo que
vislumbrou no registro de Thrawn, a história sobre como ele saiu de uma
família obscura para conseguir uma indicação para Taharim...
— Por enquanto, — ela acrescentou rapidamente. — Se me permitem
implorar a indulgência do conselho, gostaria de usar o intervalo do almoço
para considerar novamente a situação e as evidências.
— Bobagem, — zombou um dos outros membros do conselho. — Você viu
a evidência...
— Dado o adiantado da manhã, — Wevary interrompeu calmamente, —
Não vejo razão para não podermos adiar uma decisão até depois do meio-
dia. Nos encontraremos novamente em uma hora e meia.
Ele bateu na pedra polida com a ponta dos dedos e se levantou. Os
outros seguiram o exemplo e saíram silenciosamente da sala. Nenhum
deles, Ziara notou, deu a ela ou a Thrawn uma segunda olhada.
Exceto o Coronel Wevary. O último a sair, ele parou ao lado da cadeira
de Ziara...
— Não gosto de táticas protelatórias, Ziara, — ele murmurou, com um
olhar duro. — Seria muito melhor você ter algo quando nos reunirmos
novamente.
— Entendido, senhor — murmurou Ziara de volta.
Ele deu a ela um aceno microscópico e seguiu os outros para fora da
sala.
Deixando Ziara e Thrawn sozinhos.
— Eu agradeço os seus esforços, — disse Thrawn baixinho, os olhos ainda
no lugar vazio do coronel à mesa. — Mas você pode ver que eles já se
decidiram. A sua ação não faz nada além de arriscar o desagrado deles e,
possivelmente, afastá-la da sua família.
— Se eu fosse você, me preocuparia mais com a sua família do que com
a minha, — disse Ziara asperamente. — Falando dela, por que o seu
representante não está aqui?
Thrawn encolheu os ombros levemente.
— Eu não sei. Suspeito que eles não gostam que um dos seus adotados
por mérito seja vinculado a um escândalo.
— Nenhuma família gosta, — Ziara disse, franzindo a testa. Ele estava
certo sobre isso, naturalmente.
Mas mesmo os adotados por mérito contavam como parte da família e,
como tal, deviam ser protegidos e defendidos. Se a Mitth estava se
afastando de Thrawn em um momento tão crucial, deveria haver algo mais
acontecendo.
— Enquanto isso, o Coronel Wevary pediu o almoço, — ela o lembrou
enquanto se levantava. — Vou buscar algo para comer. Você deveria fazer o
mesmo.
— Eu não estou com fome.
— Coma alguma coisa de qualquer maneira. — Ziara hesitou, mas era
uma chance boa demais para deixar passar. — Dessa forma, se eles te
expulsarem, você terá pelo menos mais uma refeição grátis.
Ele olhou para ela, e por um momento ela pensou que ele fosse atacar a
insensibilidade dela. Então, para o seu alívio, ele sorriu.
— De fato, — ele disse. — Você tem uma mente eminentemente tática,
Cadete Sênior.
— Eu tento, — Ziara disse. — Faça uma boa refeição e não se atrase para
voltar. — Ela deu a ele um aceno de cabeça e saiu.
Mas ela não foi para o refeitório. Em vez disso, ela encontrou uma sala
de aula vazia, algumas portas abaixo e entrou.
Uma mente eminentemente tática, dissera Thrawn. Outros haviam dito a
ela a mesma coisa, e Ziara nunca havia encontrado um motivo para
discordar deles.
Hora de descobrir se todos eles estavam certos.
O recepcionista atendeu no terceiro toque.
— Escritório do general Ba’kif, — anunciou ele.
— Meu nome é Cadete Sênior Irizi’ar’alani, — informou Ziara. — Por favor,
pergunte ao general se pode reservar alguns minutos de seu tempo.
— Diga a ele que se trata do Cadete Mitth’raw’nuru.


O coronel Wevary e os outros entraram na sala de audiência exatamente
uma hora e meia depois de terem saído. Nem os oficiais nem o
representante da Irizi olharam para os dois cadetes enquanto se sentavam.
O que tornou as expressões repentinamente atordoadas em todos os
quatro rostos ainda mais irônicas, quando tardiamente avistaram o recém-
chegado sentado ao lado de Ziara.
— General Ba’kif? — O Coronel Wevary disse com uma espécie de
golfada explosiva. — Eu... me desculpe, senhor. Não fui informado da sua
chegada.
— Tudo bem, Coronel, — disse Ba’kif, dando uma olhada rápida em cada
um dos homens à mesa. Os outros dois oficiais estavam tão despreparados
quanto Wevary para encontrar um oficial de alta patente no meio deles,
mas a surpresa deles estava rapidamente se transformando em respeito
adequado.
A surpresa do Irizi, em contraste, rapidamente se transformou em
suspeita. Claramente, ele deu uma olhada na história de Thrawn e
suspeitou que Ba'kif estava ali para encobrir.
— Eu entendi que o Cadete Mitth’raw’nuru está sob suspeita de trapaça,
— continuou Ba’kif, voltando-se para Wevary. — Acho que a Cadete Ziara e
eu podemos encontrar uma maneira de resolver a questão.
— Com todo o devido respeito, General, nós examinamos todas as
evidências, — apontou Wevary, com alguma rigidez surgindo em sua
deferência. — O exercício não pode ser repetido com os mesmos
parâmetros que estavam em vigor quando ele o fez, e ele afirma que sem
esses parâmetros não pode duplicar o seu sucesso.
— Entendo, — disse Ba’kif. — Mas existem outras maneiras.
— Espero que você não sugira que reprogramemos o simulador, —
observou um dos outros oficiais. — As salvaguardas que foram colocadas
para evitar que os cadetes fizessem exatamente isso levariam semanas
para se desfazer.
— Não, não estou sugerindo isso, — Ba’kif assegurou-lhe. — Presumo,
Coronel, que o senhor tem todos os parâmetros relevantes do exercício?
— Sim, senhor, — disse Wevary. — Mas como eu disse...
— Um momento, — interrompeu Ba’kif, voltando-se para Thrawn. —
Cadete Thrawn, você registrou duzentas horas no simulador de nave de
patrulha. Você está pronto para experimentar a coisa real?
Os olhos de Thrawn se voltaram para Ziara, e depois voltaram para
Ba’kif.
— Sim, senhor, estou.
— Só um minuto, — interrompeu o Irizi. — O que exatamente você está
propondo?
— Acho que isso é óbvio, — respondeu Ba’kif. — O perigo inerente no
ensino via simulador é que, se a simulação diverge da realidade, podemos
não perceber até ser tarde demais. — Ele acenou com a mão para Thrawn.
— Temos aqui a oportunidade de comparar a simulação com a realidade e
vamos tirar proveito disso.
— A Academia Taharim está sob a autoridade do Coronel Wevary, — o
Irizi insistiu.
— De fato está. — Ba’kif se voltou para Wevary. — Coronel?
— Concordo, General, — respondeu Wevary sem hesitação. — Estou
ansioso para ver o exercício.
O Irizi olhou pra ele. Mas apenas comprimiu os lábios e inclinou a sua
cabeça.
— Bom. — Ba’kif voltou para o conselho. — Senhores, tenho quatro
embarcações de patrulha preparadas e esperando na plataforma, além de
uma lançadora de observação para nós seis assistirmos. — Ele se levantou e
gesticulou em direção à porta. — Podemos ir?


As quatro naves patrulheiras estavam em suas posições iniciais: Thrawn em
uma, os três pilotos do General Ba’kif nas outras. A área de teste foi isolada
e os pontos iniciais para o exercício mapeados. A lançadora de observação
estava em posição, fora da área de combate, mas perto o suficiente para
ver e registrar tudo.
Ziara se sentou ao lado de Ba’kif na segunda fileira de assentos,
olhando para fora da canopi, além das cabeças dos outros três oficiais e do
Irizi. Havia apresentado isso ao general como uma acusação injusta contra
Thrawn, envolvendo as suas preocupações no brilho do histórico
acadêmico do cadete mais jovem. E com toda a honestidade, Ba’kif não
pareceu precisar de muita persuasão.
Mas isso não mudou o fato de que Ziara ter esticado o pescoço, e agora
havia um novo alvo fresco pintado na sua testa. Antes de ligar para Ba’kif,
ela era periférica à situação, com pouco perigo para ela ou para o nome
Irizi. Agora, se Thrawn não conseguisse provar o seu caso, o nome seu
estaria bem próximo ao dele.
— Patrulhas um e três: vão, — disse Ba’kif no comunicador. — Patrulha
Quatro: Vá. Patrulha Dois: Vá. Certifiquem-se de que os seus vetores
fiquem precisamente no caminho certo.
À distância, à frente deles, as três naves patrulha começaram a se
mover. Abaixo deles, a Patrulha Quatro, a de Thrawn, seguia em direção a
elas.
— Estabilizado, — advertiu Ba’kif. — Dois, aumente o empuxo em alguns
graus. Um e três, seguindo corretamente. Cadete Thrawn?
— Pronto, senhor, — veio a voz ponderada de Thrawn.
Ziara sentiu o seu lábio torcer. Agora, quando o seu estômago estava
embrulhado, era naturalmente o momento que ele escolheu para ficar frio
e calmo.
Ou talvez fosse apenas porque o espaço e o combate eram um
ambiente mais confortável para ele do que uma sala de tribunal cheia de
oficiais, regulamentos e política familiar.
— Aguarde, — disse Ba’kif. — O exercício começa... Agora.
As quatro naves de patrulha saltaram uma em direção à outra,
combinando precisamente os parâmetros originais do exercício. Thrawn
desviou para estibordo, em direção à Três. Um e dois viraram em direção a
ele, diminuindo a distância. Thrawn abriu fogo, acertando um e três com
disparos de laser de espectro em nível de exercício, de baixa potência. As
duas naves se afastaram, saindo das linhas de tiro, enquanto Dois se dirigia
para o flanco de Thrawn, todas as três mirando em Thrawn, com os seus
próprios disparos. Por alguns segundos, Thrawn ignorou a destruição
teórica martelando no casco da sua nave e continuou em direção a Um e a
Três. Então, abruptamente, ele girou a sua nave em uma guinada de,
virando os seus propulsores em direção a Um e a Três como se estivesse se
preparando para escapar.
Mas em vez de disparar os seus propulsores de popa, ele jogou
potência total para os da frente, continuando o seu avanço em direção a
Um e a Três.
A manobra pegou os três atacantes desprevenidos. Um e Três
desviaram-se ainda mais, evitando por reflexo a ameaça de serem
abalroados. Dois, que tinha a intenção de flanquear para uma posição de
tiro próximo, em vez disso disparou além do arco de Thrawn.
E quando Dois passou na sua frente, Thrawn disparou os seus lasers na
popa dele, simultaneamente disparando os seus propulsores traseiros com
potência total na direção de Um e Três.
Alguém praguejou baixinho. De alguma forma, o ataque de Thrawn
matou a aceleração de Dois e o fez reduzir lentamente. O tiro no propulsor
do próprio Thrawn o fez passar pela popa de Dois, mais uma vez deixando
para ele um caminho livre para a fuga.
Mas para o espanto de Ziara, em vez de correr, ele disparou os seus
propulsores frontais, diminuindo a sua velocidade e caindo ao lado de
Dois, colocando a nave em redução entre ele e as mais distantes Um e
Três.
E de alguma forma, bem no meio daquela manobra, a sua nave pegou
exatamente a mesma redução que o seu ataque havia dado à Dois,
combinando precisamente a sua velocidade e rotação quando ele se
acomodou por atrás dela.
Ziara soltou uma meia risada.
— Ele fez isso, — ela disse em voz baixa. — Ele desapareceu.
— Do que você está falando? — o Irizi perguntou, parecendo confuso. —
Ele está bem ali.
— Não, foi feito, — advertiu Ba’kif.
Um segundo depois, Thrawn tirou a sua nave de sua oscilação e,
quando Dois passou por ele, ele disparou seus lasers de flanco-proa e de
flanco-popa, pegando Um e Três diretamente em suas proas.
— Aguarde! — Ba’kif comunicou. — O exercício acabou. Obrigado a
todos; por favor voltem para a plataforma de lançamento. Cadete Thrawn,
você se sente confortável em atracar a sua nave sozinho?
— Sim senhor.
— Eu te vejo lá dentro, então. Muito bem, Cadete. — Ele desligou.
— O que você quer dizer com bom trabalho? — o Irizi exigiu. — O que
isso prova? Foi uma manobra hábil o suficiente, admito, mas todos nós
vimos. Ele não desapareceu da maneira que afirmou.
— Pelo contrário, — disse Ba’kif, com uma mistura de admiração e
diversão em sua voz. — Nós só vimos isso porque estávamos acima do
campo de combate e porque estávamos usando lasers de baixa potência
que distorciam os efeitos do mundo real. A simulação, por outro lado, não
era tão limitada. — Ele olhou para Wevary. — Coronel?
— Sim, — disse Wevary. Ele não parecia tão divertido quanto Ba'kif, mas
Ziara podia ouvir a mesma admiração em sua voz. — Muito bom, de fato.
— General… — o Irizi começou.
— Paciência, Aristocrata, — disse Ba’kif.
E para a surpresa de Ziara, ele se virou para ela.
— Cadete Sênior Ziara, talvez você seja boa o suficiente para explicar?
— Sim, senhor — respondeu Ziara, sentindo como se de repente tivesse
sido jogada no fundo do poço. A pessoa mais jovem do compartimento e
ele queria que desse o que fosse uma palestra?
Ainda assim, ter um Irizi explicando para outro Irizi era provavelmente a
jogada politicamente esperta.
— O primeiro ataque contra Thrawn teria aberto as reservas de oxigênio
e tanques de combustível na popa dele, lançando os dois gases para o
espaço atrás dele, — ela explicou. — Quando ele virou de ré para Um e Três
e disparou um tiro no propulsor, os gases que escaparam teriam se
acendido, cegando temporariamente os sensores dos atacantes.
O Irizi bufou.
— Especulação.
— Nem um pouco, — Wevary acrescentou. — Foi exatamente isso que
aconteceu na simulação e a razão pela qual nos levou a isso. Continue,
Cadete Sênior.
Ziara assentiu com a cabeça.
— Ao mesmo tempo, Thrawn disparou contra os propulsores de popa de
Dois, danificando-os em um padrão precisamente específico que não
apenas o derrubou temporariamente, mas também deu à nave uma
oscilação previsível. Tudo o que ele teve que fazer então foi duplicar o
efeito com os seus próprios propulsores enquanto se alinhava,
combinando com o padrão e se escondendo atrás da nave. Então esperou
apenas o tempo suficiente para que Um e Três voltassem a atenção deles
para outro lugar na tentativa de localizá-lo, então saiu e atirou antes que
pudessem responder.
O Irizi pareceu refletir sobre isso.
— Tudo bem, — ele disse relutantemente. — Mas e quanto aos próprios
sensores de Dois? A simulação não mostra imagens daquela nave
enquanto o cadete está escondido.
— O tripulante estaria usando os propulsores de flanco para amortecer a
oscilação, — respondeu Ziara, sentindo uma sensação de alívio. O outro
ainda não estava feliz, mas percebeu claramente que não havia motivo
para arrastar isso por mais tempo. Ela e a sua família, ao que parecia, não
seriam apanhadas em um escândalo, afinal. — Todo aquele fogo teria
obscurecido os sensores.
— Então, — disse Ba’kif. — Eu acredito, Coronel, que isso vai pôr fim ao
seu inquérito?
— De fato, General, — respondeu Wevary. — Obrigado pela sua ajuda.
Isso foi muito esclarecedor.
— De fato foi, — disse Ba’kif. — Leme: leve-nos de volta ao cais, por favor.
E quando a lançadora girou e se dirigiu para a plataforma, Ba'kif deu a
Ziara um olhar de soslaio.
— E uma lição para você, Cadete Sênior, — ele disse, alto o suficiente
para ela ouvir. — Você tem bons instintos. Continue a confiar neles.
— Obrigada, senhor — disse Ziara. — Vou me esforçar para fazer isso.
O corredor que levava à sala de audiência da Aristocracia era longo,
um pouco escuro e mais do que um pouco cheio de ecos. Ar’alani ouviu os
seus passos enquanto caminhava, ouvindo uma espécie de zombaria nas
batidas maçantes doom, doom, doom. Dramática, projetada para colocar as
testemunhas e os porta-vozes que se aproximam em desvantagem
psicológica antes mesmo de entrarem na câmara.
Quem eles realmente queriam varrer para a fogueira era Thrawn, é claro.
Mas estava fora em alguma missão ultrassecreta para o Supremo General
Ba'kif e fora de alcance. Na ausência dele, alguém aparentemente decidiu
que o comandante dele durante a batalha deveria ser chamado perante um
tribunal oficial, provavelmente na esperança de que dissesse algo
depreciativo que pudessem usar contra ele em uma data posterior.
Uma completa perda de tempo, realmente. Ar’alani já havia dito tudo o
que ia dizer ao Conselho de Hierarquia de Defesa, e duvidava que alguém
ali realmente esperava que mudasse esse testemunho. E por mais zangados
que pudessem ficar com ela, em teoria a Aristocracia e as Nove Famílias
nada poderiam fazer a um oficial general da patente dela.
Em teoria.
— Isso, — bufou a Capitã Sênior Kiwu’tro’owmis enquanto ela, com as
suas pernas mais curtas, lutava para acompanhar o passo mais longo de
Ar’alani, — é fajuto. Totalmente fajuto. Fajuto ao fatorial de nove.
— Isso é um monte de besteiras, — disse Ar’alani, sorrindo para si
mesma. Wutroow não era só uma excelente primeira oficial, mas também
tinha o dom de quebrar a tensão e gritar absurdos.
— E eu defendo cada um deles, — disse Wutroow. — Nós explodimos
os Paataatus em pequenos pedaços de metal e conseguimos um acordo de
paz tão humilhante com eles como eu nunca tinha visto. E a Aristocracia
ainda não está feliz?
— Não, — concordou Ar’alani. — Mas não somos nós com quem estão
infelizes. Acontece que somos os alvos mais convenientes no momento para
a irritação deles.
Wutroow bufou.
— Thrawn.
Ar’alani assentiu com a cabeça.
— Thrawn.
— Nesse caso, é fajuto até o fatorial de dez, — disse Wutroow com
firmeza. — Havia uma boa razão para ele desobedecer a sua ordem. Além
disso, o plano dele funcionou.
Que era precisamente o motivo do Conselho não ter feito nenhuma
acusação ou repreensão contra ele, é claro. Especialmente porque nem
Ar’alani, nem nenhum dos outros comandantes de nave estavam dispostos a
registrar uma acusação.
Mas Thrawn tinha inimigos entre os Aristocratas. E vindicação do
Conselho ou não, aqueles inimigos estavam cheirando sangue.
— Então, o que vamos fazer, senhora?
— Respondemos às perguntas deles, — Ar’alani respondeu a ela. —
Honestamente, é claro. A maioria dos Aristocratas sabe que não deve fazer
uma pergunta que já não conhece a resposta.
— Presumo que isso não significa que não podemos espiralar um pouco
as nossas respostas?
— Essa certamente será a minha estratégia, — respondeu Ar’alani. —
Só tenha cuidado para não espiralar muito e acabar olhando para o seu
próprio laser. Alguns dos Aristocratas transformaram essa tática em uma
bela arte, e muitos sabem disso quando a veem.
Wutroow riu.
— Uma bela arte. Thrawn gostaria disso.
— Não é o tipo de arte em que se destaca, infelizmente, — apontou
Ar’alani. — Apenas observe a si mesma. Se não podem ter o sangue dele,
podem tentar obter um pouco do nosso.
— Não acho que tenhamos que nos preocupar muito, Almirante, — disse
Wutroow. — Lembre-se do velho ditado: o céu é sempre mais escuro...
— ...um pouco antes de ficar completamente preto, — Ar’alani concluiu
por ela. — Sim, tive o mesmo instrutor na academia.
E então elas estavam lá. As proteções da porta puxaram os anéis,
balançando os painéis pesados, abrindo, mais dramas psicológicos,
revelando a mesa das testemunhas e duas cadeiras de frente para o
semicírculo escuro onde o grupo de síndicos silenciosamente estava sentado
esperando por elas. Colocando uma nota de confiança em seus passos,
Ar’alani caminhou até a mesa e ficou atrás de uma das cadeiras, Wutroow
se posicionando ao lado dela.
— Síndicos da Ascendência da Chiss, eu os saúdo, — Ar’alani falou,
certificando-se de que a sua voz tivesse a mesma confiança que os seus
passos. — Sou a Almirante Ar'alani, atualmente no comando da Vigilante e
Força de Piquete Seis da Frota de Defesa Expansionista. Esta é a minha
primeira oficial, Capitã Sênior Kiwu’tro’owmis.
— Saudações, Almirante; Capitã Sênior, — uma voz disse do anel.
E de repente a escuridão brilhou com luz.
Ar’alani piscou algumas vezes enquanto seus olhos se ajustavam, um
canto da sua mente apreciando esse lance final. Os síndicos não precisavam
se esconder na escuridão; eles poderiam enfrentar qualquer um na
Ascendência sem medo.
— Por favor, sente-se, — disse outra voz. — Temos apenas algumas
perguntas para você.
— Nós estamos prontas para responder, — disse Ar’alani, puxando a sua
cadeira e sentando-se, os seus olhos passando rapidamente pela mesa.
Nenhum dos rostos era familiar para ela, mas as placas com os nomes da
família na beirada frontal da mesa diziam tudo o que ela precisava saber.
Seis famílias foram escolhidas para este tribunal específico, como de
costume, compreendendo uma mistura das Nove e das Grandes: a Irizi, a
antiga família de Ar’alani; a Kiwu, a família atual de Wutroow; mais a
Clarr, Plikh, Ufsa e Droc.
Conspícua por sua ausência era a família de Thrawn, a Mitth.
Conspícua e suspeita. O fato de que o próprio Thrawn não estar ali
provavelmente foi a desculpa das outras para manter a Mitth fora do
questionamento. Mas dado que ele era claramente o foco do interrogatório,
a Mitth deveria ter insistido em estar presente.
A menos que elas já tivessem decidido entre si que Thrawn era um risco
e o estavam jogando para os nighthunters. Não seria a primeira vez que
consideravam esse caminho.
— Deixe-me ir direto ao ponto, — disse o Clarr. — Seis dias atrás, a sua
força de piquete foi enviada contra os Paataatus em represália pelas sondas
deles contra a nossa fronteira sudeste-zênite. Durante essa batalha, um dos
seus comandantes de nave, o Capitão Mitth’raw’nuruodo, desobedeceu a
uma ordem direta. Isso é verdade?
Ar’alani hesitou. Verdadeiro, mas em espiral.
— Ele desobedeceu a uma ordem inferior, sim, Síndico, — ela
respondeu.
O Clarr franziu a testa.
— Desculpe?
— Eu disse que ele desobedeceu a uma ordem inferior, — respondeu
Ar’alani. — Na época, porém, ele estava obedecendo a uma ordem maior.
— Bem, isso é certamente fascinante, — disse o Irizi secamente. — A
família Irizi tem a honra de fornecer oficiais e guerreiros para as Forças de
Defesa por gerações, e não me lembro de ter ouvido falar de ordens maiores
e menores.
— Talvez prioridades seja um termo melhor, — corrigiu Ar’alani. — A
primeira prioridade de um guerreiro é, obviamente, defender a
Ascendência. A segunda é vencer a batalha e a guerra atuais. A terceira é
proteger a nave e a tripulação. A quarta é obedecer a uma ordem específica.
— Você está sugerindo que a Frota de Defesa Expansionista opere como
um combate de forma livre? — perguntou o Droc.
— Mais como uma escultura de forma livre se Thrawn estiver envolvido,
— acrescentou o Ufsa em voz baixa.
Alguns dos outros riram. O Clarr nem mesmo sorriu
— Eu fiz uma pergunta, Almirante.
— Certamente a frota não é tão caótica quanto o seu comentário faz
parecer, — respondeu Ar’alani. — Idealmente, as ordens do comandante
sênior estão perfeitamente alinhadas com todas essas prioridades. — Ela
inclinou a cabeça, como se de repente um pensamento tivesse ocorrido a
ela. — Na verdade, eu arriscaria dizer que é a mesma coisa com vocês.
Os olhos do Clarr se estreitaram.
— Explique.
— O primeiro dever de vocês é com a Ascendência, — explicou
Ar’alani. — O segundo é para com as suas famílias individuais.
— O que é bom para as Nove Famílias é bom para a Ascendência, —
argumentou o Plikh rigidamente.
— Sem dúvida, — Ar’alani concordou. — Eu simplesmente me refiro à
hierarquia de metas e deveres.
— Mesmo dentro das famílias, — Wutroow acrescentou. — Eu imagino
que você trata o sanguíneo de maneira diferente de primos, posição distante,
surgido em provação e adotados por mérito.
— Obrigado por sua declaração do óbvio, Capitã Sênior, — o Clarr disse
acidamente. — Mas você não foi trazida aqui para uma discussão sobre
relações familiares. Você foi trazida aqui para explicar por que o Capitão
Thrawn teve permissão para desobedecer a uma ordem direta do seu
superior sem sofrer quaisquer consequências pelas ações dele.
— Perdoe-me, Síndico, — interrompeu Wutroow antes que Ar’alani
pudesse responder, — mas eu tenho uma pergunta.
— Almirante Ar’alani, gentilmente informe à sua primeira oficial que
está aqui para responder às perguntas, não para fazê-las, — o Clarr
disparou.
— Mais uma vez, me perdoe, Síndico, — disse Wutroow
obstinadamente, — mas a minha pergunta tem uma relação direta com as
ações do Capitão Thrawn.
O Clarr começou a falar, hesitou e depois franziu os lábios.
— Muito bem, — ele disse. — Mas eu a aviso, capitã, que não estou
com humor para desvios frívolos.
— Nem eu, Síndico, — disse Wutroow. — Como foi estabelecido, a
razão pela qual o Capitão Thrawn moveu a Falcão de Primavera para longe
da força da Almirante Ar'alani foi para atrair a emboscada para si mesmo e
dar ao resto das naves tempo para se ajustar e contra-atacar. A minha
pergunta é a seguinte: por que a força foi emboscada tão rápida e
completamente?
— Porque os Paataatus sabiam que as suas ações contra a Ascendência
naturalmente provocariam represálias, — respondeu o Clarr. —
Especialmente se eles forem os responsáveis pelo ataque a Csilla. Eu te
avisei sobre perguntas frívolas...
— Mas por que lá? — Wutroow persistiu. — Por que aquele lugar em
particular? Porque eles estavam claramente nos esperando.
— Você soa como se já soubesse a resposta, — disse o Kiwu. — Por que
você não nos conta?
— Obrigada, — disse Wutroow, inclinando a cabeça para ele. — Eu
obtive um relatório detalhado da missão que a Sindicura enviou aos
Paataatus logo depois que foram identificados como aqueles que
pressionam contra o nosso flanco. As conversas foram breves...
— Todos nós lemos o relatório, — interrompeu o Clarr. — Continue.
— Sim, Síndico, — disse Wutroow. Não havia nenhum traço de sorriso
no rosto dela, Ar'alani notou, pois Wutroow sabia muito bem que não devia
parecer que estaria zombando de qualquer um dos Aristocratas, mas havia
um olhar sutil em seus olhos que prometia que isso seria bom. — Quando
as discussões terminaram e os emissários voltaram para a nave deles, um
deles disse à delegação de Paataatus… — Wutroow fez uma pausa e olhou
para o seu questis. — … e eu cito: ‘A próxima vez que vocês virem as
naves Chiss vindo em sua direção através daquelas estrelas, elas trarão a sua
destruição total.’ — Ela levantou os olhos. — Eu preciso identificar a
direção para a qual o emissário estava apontando?
— Bobagem, — disse o Ufsa. — Nenhum diplomata faria algo tão tolo.
— Aparentemente, um deles fez, — esclareceu Wutroow. — Se a
Almirante Ar’alani soubesse disso, é claro, ela certamente teria escolhido
um vetor de ataque diferente. Mas não sabia.
— E nessas circunstâncias, — acrescentou Ar’alani, pegando na
oportunidade aberta por Wutroow, — tenho certeza de que você reconhece
que as ações do Capitão Thrawn foram necessárias e adequadas.
— Talvez, — o Clarr disse. A voz e rosto ainda não reconheciam o
ponto, mas a sua confiança anterior tinha definitivamente esfriado. —
Interessante. Obrigado pelo seu tempo, Almirante; Capitã. Vocês estão
dispensadas. Nós chamaremos vocês de volta depois de examinarmos mais
a fundo esse assunto.
— Sim, Síndico, — disse Ar’alani, levantando-se. — Outra coisa.
Acredito plenamente que este ataque é a última demonstração que
precisaremos lançar contra os Paataatus. Os seus diplomatas parecem
totalmente comprometidos em se retirar para as suas fronteiras e deixar a
Ascendência estritamente isolada. Se isso fizer diferença para as suas
deliberações.
— Obrigado, — o Clarr disse novamente. — Bom dia.
— Eles não vão, é claro, — disse Wutroow enquanto as duas mulheres
refaziam os seus passos pelo longo corredor. — Chamar-nos de volta, eu
quero dizer. Assim que descobrirem o que aconteceu, a última coisa que
vão querer é chamar mais atenção para tal erro.
— Concordo, — disse Ar’alani. — Então, essa história é realmente
verdadeira?
— Absolutamente. — Wutroow sorriu. — Blefar com um inimigo em
combate às vezes funciona. Blefar a Aristocracia não. Não, um dos
emissários foi realmente estúpido o suficiente para ficar lá e apontar o
nosso vetor de ataque ideal.
— Você recebeu isso de alguém da sua família, eu suponho?
— Sim, senhora, — Wutroow confirmou. — Sinto muito, mas não te
posso fornecer os detalhes.
— Não ia perguntar, — Ar’alani assegurou-lhe. — Suponho que vazar
isso para você tenha a ver com alguns riscos maiores da política familiar, e
não apenas para tirar Thrawn do gancho?
— Não, isso foi apenas um efeito colateral feliz. — Wutroow lançou um
olhar de soslaio para Ar’alani. — Noto que você não deu o crédito a
Thrawn pela previsão de futura inação de Paataatus.
Ar’alani sentiu o seu nariz enrugar. Normalmente, odiava a prática
comum de um oficial assumir o crédito pelas realizações ou ideias de outro.
Mas, neste caso...
— Vou me certificar de corrigir o registro em um ou dois anos,
assumindo que a previsão funcione, — ela disse. — Hoje eu não acho que
teria corrido bem.
— Mas você queria registrar isso, — disse Wutroow, assentindo. — E
esta era a sua melhor maneira de fazer isso. Acho que nunca percebe como
as conexões familiares e canais são importantes até que você os perca.
— Não, você não percebe, — disse Ar’alani, sentindo uma antiga e
distante sensação de perda. — Então aproveite enquanto pode.
— O quê, eu? — Wutroow deu uma pequena risada. — Agradeço o
elogio, Almirante. Mas nunca vou chegar a um ranking de general.
— Nunca se sabe, Capitã, — disse Ar’alani. — Você realmente nunca
sabe.
C he'ri saiu da Terceira Visão com os olhos ligeiramente turvos, um
cansaço horrível e uma enorme dor de cabeça. Parecia que uma presságio
de sobrecarga estava começando a surgir.
Esperava desesperadamente que não fosse uma presságio de sobrecarga.
— Chegamos, — alguém disse.
Che'ri virou a cabeça, com cuidado para não a mover muito rapidamente.
O Capitão Sênior Thrawn estava sentado na cadeira de comando, com o
Capitão Intermediário Samakro à sua esquerda e Thalias à sua direita.
Isso era novo. A maioria das momishes de Che'ri a acompanhava na ida
e volta para a ponte, mas ficava na suíte enquanto estava de serviço. Sempre
presumiu que elas simplesmente não tinham permissão para entrar.
Talvez todas elas pudessem ter ficado se quisessem e simplesmente não
quisessem. Ou talvez Thalias fosse especial porque tinha sido uma sky-
walker.
Thrawn e Samakro estavam olhando para um planeta centrado na janela
principal.
Thalias estava olhando para Che'ri.
Rapidamente, Che'ri voltou aos seus controles, o movimento repentino
martelando uma onda extra de dor em sua cabeça. Nunca mostre fraqueza,
ela foi avisada repetidamente. Uma sky-walker nunca mostra fraqueza. Está
sempre pronta para continuar, com alegria e eficiência, fazendo mais uma
viagem, e mais uma depois dessa, até que o seu capitão permita que
descanse.
— Sem emissões de energia, — informou a mulher na estação de
sensores. — Nenhuma massa de metal refinado, nenhuma indicação de
atividades de vida. O planeta parece morto.
— Não é surpreendente, dado o ambiente, — disse Samakro. — Risque
mais um. Para o próximo sistema?
Houve uma pausa. Che'ri continuou olhando para os controles à sua
frente, esperando que Thrawn dissesse não.
Mas tinha certeza de que diria sim. Ninguém havia contado a ela sobre o
que era essa viagem, mas pareciam estar procurando por algo importante.
Um capitão como Thrawn não gostaria de perder tempo.
Che'ri poderia navegar com uma presságio de sobrecarga chegando? Ela
nunca tinha tentado antes. Mas ela tinha um trabalho a fazer e não havia
ninguém a bordo que pudesse fazê-lo. Se Thrawn dissesse que eles
deveriam continuar...
— Acho que não, — disse Thrawn. — A nave e os guerreiros precisam
de algumas horas de descanso.
Che'ri sentiu as lágrimas borrando os seus olhos. Lágrimas de alívio por
ela poder descansar. Lágrimas de vergonha por estar cansada demais para
continuar.
Thrawn sabia. Ela podia ouvir em sua voz. Ele poderia dizer que todo
mundo precisava descansar, mas ele sabia. Era tudo culpa dela. Tudo de
Che’ri. Ela foi a razão pela qual eles tiveram que parar.
— Leme, leve-nos a uma órbita elevada sobre o planeta, — ordenou o
capitão.
— Sim, senhor, — disse o homem no console ao lado do de Che'ri.
Ela observou os dedos dele movendo-se nos controles, fascinada apesar
de suas dores e visão embaçada. Ela tinha jogado alguns jogos de voo no
seu questis, mas assistir alguém fazendo isso de verdade era muito mais
interessante.
— Sensores, estendam as suas buscas para fora durante a entrada, —
Thrawn continuou. — Assim que estivermos em órbita, refine a busca em
direção ao planeta.
— Sim, senhor, — disse a mulher.
— O que você espera encontrar? — Samakro perguntou.
— Não estou esperando, Capitão Intermediário, — corrigiu Thrawn. —
Meramente especulando.
Che'ri franziu a testa. Especulando? Sobre o que? Continuou ouvindo,
esperando que Samakro perguntasse.
Mas ele não fez isso.
— Sim, senhor, — foi tudo o que ele disse. Che'ri ouviu os passos dele
enquanto se afastava.
— Obrigada, — Thalias disse discretamente.
Che'ri fechou os olhos com força contra a dor e a vergonha, derramando
as lágrimas pelo rosto. Thalias também sabia. Samakro sabia?
Todos na nave sabiam?
Houve um sopro na bochecha de Che'ri, aquecendo as lágrimas.
— Você está bem? — Thalias perguntou suavemente em seu ouvido. —
Devo ajudá-la a voltar para a suíte?
— Posso ficar aqui mais um pouco? — Perguntou Che'ri. — Não
posso... eu não quero ser carregada.
— Ela está bem, Cuidadora? — Perguntou Thrawn.
— Vai ficar, — respondeu Thalias, pressionando a mão contra a testa de
Che'ri. O frio e a pressão eram bons. — Às vezes, as sky-walkers saem da
Terceira Visão com sobrecarga sensorial que se apresenta com dores e
visões brilhantes. Se entrar em um presságio completo, pode levar algum
tempo para se desfazer.
— Mais uma razão para parar por enquanto, — disse Thrawn.
— Sim, — disse Thalias. — De qualquer forma, gostaria de dar a Che'ri
alguns minutos aqui para começar a sua recuperação antes de voltarmos
para a suíte.
Um pequeno conforto sussurrou em meio à dor. Nenhuma das outras
momishes de Che'ri jamais realmente entendeu esses presságios de
sobrecarga. Uma delas até ficou com raiva dela. Era bom ter alguém que
sabia o que era e o que fazer a respeito.
— Leve todo o tempo que precisar, — disse Thrawn. — Não estou
surpreso que tenha sido afetada tão fortemente, dados os parâmetros deste
sistema.
Che'ri franziu a testa, abrindo os olhos e olhando para o planeta para o
qual a Falcão de Primavera estava se movendo. Não parecia nada diferente
de qualquer outro planeta que ela tinha visto nesta viagem. O que há de tão
especial nesse?
— Não o planeta, — esclareceu Thrawn.
Che'ri estremeceu, o movimento enviando outra onda de dor por sua
cabeça e ombros. A voz do capitão veio bem atrás dela.
Os capitães geralmente não se aproximavam das suas sky-walkers. Ela
não sabia se não deveriam, ou se simplesmente não queriam. Mas Thrawn
estava parado ao lado de Thalias. Quase perto o suficiente para tocá-la.
— Observe a tela tática, — continuou Thrawn, apontando para uma das
telas grandes ao lado da janela. — Dá a você uma visão mais ampla do
sistema como um todo.
Che'ri semicerrou os olhos para a tela, tentando organizar todas as linhas,
curvas e números.
E então entendeu, e sentiu os seus olhos se arregalarem.
Não havia apenas uma estrela lá fora, como pensava. Haviam quatro
delas.
— Sistemas estelares quádruplos como este são muito raros, — disse
Thrawn. — Imagino que navegar até o meio de um cobra um preço extra na
Terceira Visão.
— Sim, eu imagino que sim, — disse Thalias, mudando as mãos para
trazer a outra, mais fria, para a testa de Che'ri. — Porque estamos aqui?
Quero dizer aqui?
— Você realmente quer saber, Cuidadora? — Perguntou Thrawn.
A mão de Thalias contra a testa de Che'ri de repente ficou rígida.
— Sim, senhor, — respondeu Thalias. — Realmente quero.
Thrawn deu a volta para o outro lado de Thalias.
— Uma nave de refugiados foi encontrada à deriva em um dos sistemas
periféricos da Ascendência, — ele disse, em voz baixa. Talvez Che'ri não
devesse ouvir essa parte? — Estamos seguindo o provável vetor de onde a
nave veio na esperança de identificar as pessoas. Uma pergunta, Tenente
Comandante Azmordi?
— Não, senhor — respondeu o tenente comandante com rigidez. — Mas
devo lembrar ao capitão que existem certas áreas que devem ser mantidas
— olhando de esguelha sob a mão de Thalias, Che'ri o viu apontando para
ela, — dentro do corpo de oficiais superiores?
— A sua preocupação está registrada, Tenente Comandante, —
respondeu Thrawn. — No entanto, em algum ponto, a sky-walker Che'ri e a
Cuidadora Thalias podem ser obrigadas a realizar tarefas extraordinárias. É
importante que a equipe saiba o que está em jogo e que esteja mentalmente
preparada.
Che'ri franziu a testa. A equipe. Ninguém nunca a chamou de parte de
uma equipe antes. Nunca tinha pensado em si mesma dessa forma. Era a
sky-walker, e a sua cuidadora era a sua momish, e isso era tudo. Che'ri
guiou a nave pra onde precisava ir, e a cuidadora preparava as suas
refeições e a colocava na cama à noite. Elas não eram uma equipe.
Elas eram?
— Sim, senhor, — disse Azmordi. Che'ri tinha ouvido oficiais infelizes o
suficiente para saber como um deles soava, e este definitivamente não
estava feliz.
Mas ele não continuou questionando.
— Ocorreu-me que os refugiados não gostariam que o seu inimigo
soubesse para onde estavam indo, — continuou Thrawn. — Também li no
modo de como as unidades familiares foram reunidas na nave destruída que
as pessoas tinham um forte senso de camaradagem. Pareceu-me que essas
pessoas prefeririam viajar em grupos. Ou, se não um grupo, pelo menos
com uma nave de acompanhamento.
Ele fez uma pausa, como se esperasse que uma delas dissesse algo.
Che'ri olhou para as quatro estrelas novamente, tentando pensar através da
sua dor de cabeça.
E então, de repente, ela entendeu.
— Eu sei! — ela disse, levantando a mão. — As quatro estrelas. É difícil
entrar aqui.
— Sim, — disse Thrawn. — Que significa…?
Che'ri sentiu os seus ombros encolherem. Ela não fazia ideia do que isso
significava.
— O que significa que é um lugar perfeito para as duas naves se
encontrarem, — concluiu Thalias. — Um lugar onde qualquer perseguidor
hesitaria em olhar. Você acha que vamos encontrar a outra nave aqui?
— Possivelmente. — Thrawn fez um intervalo novamente e Che'ri teve a
sensação de que estava olhando pra ela. — sky-walker Che'ri, você já está
pronta para retornar aos seus aposentos?
O momento de excitação desapareceu. Che'ri não fazia mais parte da
equipe, apenas alguém lá para mover a nave.
— Acho que sim, — ela respondeu com um suspiro.
— Deixe-me ajudá-la, — disse Thalias. Ela pegou o braço de Che'ri com
uma das mãos e desfez as alças de segurança com a outra. — Você está
pronta para se levantar?
— Sim, — respondeu Che'ri. Ela se levantou, parou quando a sua cabeça
girou de repente com vertigem. O universo se acalmou e assentiu. — Tudo
bem, — ela disse, e deu a volta na cadeira. Com Thalias ainda segurando o
seu braço, ela foi até a escotilha da ponte.
Um momento depois, elas estavam andando pelo corredor.
— Está com fome? — Thalias perguntou quando elas alcançaram a porta
da suíte delas. — Ou você gostaria de um banho quente primeiro?
— Um banho, — respondeu Che'ri. — Você já teve presságios de
sobrecarga como esta?
— Às vezes, — Thalias respondeu. — Principalmente quando eu estava
começando, mas tive algumas ocasionais até o fim. Provavelmente
nenhuma delas foi tão ruim quanto esta. — Ela balançou a cabeça. — Um
sistema de quatro estrelas. O pior que já tive foi um de três estrelas. Você é
incrível, Che’ri.
Che'ri torceu o nariz.
— Na verdade não.
Mas as palavras foram boas. O Capitão Thrawn tomando um tempo para
conversar com ela também a fez se sentir bem.
Um banho quente seria realmente bom.
— Bem, chegamos, — Thalias disse. — Deixe-me acomodá-la e vou
preparar o seu banho. Você gostaria do seu questis enquanto espera?

Três horas depois, com a Che'ri banhada, alimentada e finalmente


dormindo, Thalias voltou para a ponte.
Para descobrir que a Falcão de Primavera não estava mais sozinha.
Flutuando a meio quilômetro de distância do visor, com as luzes externas
apagadas, estava uma nave alienígena.
Samakro estava sentado na cadeira de comando, falando baixinho com
um dos outros oficiais. Avistou Thalias, murmurou um comentário final e,
enquanto o outro homem se dirigia para um dos consoles, acenou pra ela.
— Como está Che’ri? — ele perguntou.
— Dormindo, — Thalias respondeu, parando ao lado da cadeira dele e
olhando para a nave alienígena. A forma em bloco fazia com que parecesse
mais um cargueiro do que com uma nave de guerra, ela decidiu. — Onde
está o Capitão Sênior Thrawn?
— Ele foi a bordo com uma equipe de pesquisa. — Samakro balançou a
cabeça. — A coisa mais estranha.
— A nave?
— O capitão, — respondeu Samakro. — Como ele sabia que estaria
aqui?
Thalias pensou em lembrá-lo da análise anterior de Thrawn, mas
lembrou a tempo de que Samakro não estava lá para isso.
— Ele tem os métodos dele, — ela disse em vez disso. — Onde ela
estava?
— Orbitando do outro lado do planeta, — respondeu Samakro. — Foi só
depois de você sair que apareceu.
Thalias estremeceu. Uma nave morta, provavelmente com mortos a
bordo. Thrawn sabia ou suspeitava quando sairia da ocultação? Foi por isso
que de repente queria que tirasse Che'ri de lá e a levasse de volta para a
suíte delas?
Porque o oficial de leme estava certo. Definitivamente haviam algumas
coisas que deveriam ser mantidas escondidas das sky-walkers.
— Então, qual é a sua história? — Samakro perguntou.
— Desculpe? — Thalias perguntou, franzindo a testa para ele.
— Por favor, — disse Samakro com desdém. — Uma ex-sky-walker,
agora trabalhando como cuidadora? Isso não acontece mais. Pelo que eu
ouvi, uma vez que as sky-walkers terminam, querem ficar o mais longe
possível dessa vida que puderem.
— Não foi tão ruim, — respondeu Thalias, apenas mentindo um pouco.
— Certo, — disse Samakro. — E a família Mitth, e a bordo da nave de
Thrawn? Se você realmente é quem afirma ser, isso é um monte de
coincidências.
A memória da sua breve conversa com o Síndico Thurfian voltou à
mente. Samakro não tinha ideia. Um lampejo de movimento chamou a sua
atenção: uma das naves da Falcão de Primavera, destacando-se da nave e
voltando.
— Se você tem uma questão, por favor, faça—a, — ela disse. — O
capitão está voltando.
— A Mitth enviou você para nos observar, — disse Samakro. — Não se
preocupe em negar isso, o oficial que a colocou na Falcão de Primavera me
disse que foi assim que tentou subir a bordo, e também que um síndico
Mitth apareceu no último minuto para lhe dar um empurrão.
Thalias manteve a sua expressão rígida.
— E?
— E eu vi a confusão dos infernos que os observadores podem fazer a
bordo de uma nave de guerra, — respondeu Samakro. — Eles atrapalham,
nunca sabem onde se posicionar ou para que lado pular, e introduzem muito
mais políticas familiares do que é saudável.
— Eu não estou aqui para criar problemas.
— Não importa, — disse Samakro. — Você apenas vai. — Ele apontou
para a nave flutuando na frente deles. — Todo mundo ali está morto. Todos
na nave que foi atacada em Dioya estão mortos. Alguém que pode ser novo
para nós. E em algum lugar ao longo da linha, podemos ter que lutar contra
eles.
O seu dedo indicador mudou para Thalias.
— Não quero morrer porque as pessoas estavam desatentas aos seus
painéis e, em vez disso, olhando por cima dos ombros para ver se a
observadora Mitth estava olhando para eles.
— Acho que isso é um sentimento que todos podemos deixar pra trás, —
disse Thalias rigidamente. — Vamos fazer um acordo. Vou fazer tudo o que
eu puder para não fazer bagunça. Você fará tudo o que puder para me avisar
quando eu estiver fazendo uma de qualquer maneira.
— Não diga isso se não for sincera, — advertiu Samakro. — Nós temos
uma cela, você sabe.
— Não ameace com algo que você não pode cumprir, Capitão
Intermediário, disse Thalias. — Não se esqueça de que sou a única que
pode cuidar da sua sky-walker.
— Desde quando? — Samakro zombou. — Você prepara sopa quando
ela fica doente, você a abraça quando está chorando e garante que nenhum
de nós, tipos guerreiros perigosos, a assuste.
— Acredite em mim, há muito mais do que isso, — disse Thalias,
afastando o seu aborrecimento reflexivo. Se Samakro estava tentando
incitá-la a causar problemas o suficiente para ter uma desculpa para prendê-
la, ele teria que se esforçar mais do que isso. — Então o que sabemos sobre
aquela nave? Você disse que todo mundo estava morto? Como?
Samakro respirou fundo.
— Tudo o que sabemos até agora é que o hiperdrive falhou, o que os
prendeu aqui. Pelo menos este agrupamento não foi assassinado como o
último grupo, parece que ficou sem ar. — Seus lábios se comprimiram
brevemente. — Não é a pior maneira de morrer, se vale de algum conforto.
— Isso também significa uma nave intacta e corpos intactos, —
observou Thalias.
— Certo, — disse Samakro. — Esperançosamente, isso nos dará o que
precisamos para retroceder o resto do caminho até o sistema deles.
— Capitão Intermediário Samakro, aqui é o capitão. — A voz de
Thrawn veio pelo alto-falante da ponte. — A sala de exame está preparada?
Samakro ligou o microfone em sua cadeira.
— Sim, senhor, — ele confirmou. — Temos quatro mesas preparadas na
Sala de Preparação Dois, e os médicos e equipamentos estão de prontidão.
— Excelente, — disse Thrawn. — Junte-se a mim lá, se você quiser.
— Estou a caminho, senhor.
Ele deu três passos em direção à escotilha de popa da ponte antes que
Thalias o alcançasse.
— Onde você pensa que está indo? — Samakro perguntou, franzindo a
testa para ela.
— Sala de Preparação Dois, — respondeu Thalias. — O que quer que o
capitão tenha encontrado, pode afetar para onde estamos indo e como Che'ri
faz o trabalho dela. Preciso saber tudo para que possa prepará-la quando
chegar a hora.
— Claro que você quer, — Samakro disse amargamente. — Bem. Lidere
o caminho.
— Certo, — Thalias disse hesitantemente. — Ah…
— Você não sabe onde ela é, não é?
Thalias soltou um suspiro.
— Não.
— Achei que não, — disse Samakro. —me siga. E quando chegarmos lá,
fique fora do caminho. E não faça bagunça.

A sala de espera era menor do que Thalias esperava, e com quatro mesas
mais a equipe médica amontoada no local já estava lotada quando ela e
Samakro chegaram.
Os médicos, naturalmente, rapidamente saíram do caminho para dar ao
primeiro oficial da Falcão de Primavera algum espaço. Thalias, também
naturalmente, teve que passar por eles, evitando cotoveladas e olhares
furiosos, até chegar a um canto que não estava sendo usado.
Ainda estava ajustando a sua posição quando Thrawn e os corpos
chegaram.
Havia quatro deles, como Thrawn havia sugerido. Três eram da mesma
espécie: estatura mediana, com proeminentes protuberâncias no tórax e
quadril, a pele de um rosa claro, mas com manchas roxas ao redor dos
olhos, todos encimadas por cristas emplumadas na cabeça. Os seus braços e
pernas eram finos, mas pareciam bem musculosos. Estavam vestidos com
roupas estranhas, mas, ainda assim, com um estilo e detalhes que davam a
Thalias a impressão de ser a elegância de alguém.
O quarto corpo, em total contraste, era alto e magro, com ombros,
cotovelos, pulsos, joelhos e tornozelos aumentados. Sua pele era de um
cinza claro, e em suas têmporas havia uma linha cruzada de cicatrizes de
tatuagem verdes, vermelhas e azuis. Ele estava vestido com um macacão
vermelho escuro totalmente utilitário.
— Não há nada parecido nos nossos registros, — disse Thrawn,
apontando para os três corpos rosa. — Mas o quarto... você o reconhece,
Capitão Intermediário?
— Sim, — disse Samakro, aproximando-se e examinando o rosto rígido
dele. — Não conheço a espécie, mas aquelas cicatrizes da têmpora o
marcam como um Guia do Vazio.
Ele olhou para Thalias.
— Eles são um dos grupos que se contratam como navegadores para
viagens de longo alcance pelo Caos, — acrescentou.
— Eu sei, — disse Thalias. Ela já havia estado a bordo de uma nave de
guerra que escoltava uma missão diplomática, e as duas naves contrataram
alienígenas da Guilda dos Navegadores para ajudar a reforçar a ilusão
cuidadosamente projetada de que os Chiss não tinham navegadores
próprios. Ela e a sua cuidadora foram mantidas fora de vista na suíte dela,
mas viu algumas imagens em vídeo do navegador em seu trabalho.
Não se lembrava daquele navegador ser parecido com este Guia do Vazio
morto. Mas de qualquer forma, a guilda era composta de muitos grupos e
espécies diferentes.
— Na verdade, ficaria surpreso se você conhecesse a espécie dele, —
comentou Thrawn. — A Guilda dos Navegadores faz de tudo para não
identificar as espécies ou os sistemas de seus membros. De qualquer forma,
a presença dele é um golpe de sorte.
— Por quê? — Thalias perguntou.
— Porque alguns dos registros da ponte sobreviveram à morte da
tripulação e dos passageiros, — respondeu Thrawn. — Naturalmente, esses
registros estão na língua dos habitantes.
— O que eu presumo que nós não conhecemos? — Samakro perguntou.
— Correto, — respondeu Thrawn. — Os analisadores podem ser capazes
de fazer algo com isso, mas sem uma base linguística para começar, é
improvável que façam muito progresso.
— Mas eles também tiveram que conversar com o navegador deles, —
esclareceu Thalias ao perceber de repente aonde Thrawn queria chegar com
isso. — E a menos que ele pudesse falar a língua deles, eles teriam usado
uma linguagem comercial.
— Exatamente — disse Thrawn, inclinando a cabeça na direção dela. —
E como a principal área operacional dos Guias do Vazio se sobrepõe à
nossa, há uma chance razoável de que seja um idioma que conhecemos.
— Você disse que algumas das gravações sobreviveram, — disse
Samakro. — Algum registro de navegação entre eles?
— Excelente pergunta, Capitão Intermediário, — respondeu Thrawn,
com a voz sombria. — A resposta é não. Parece que o navegador foi o
último a morrer e apagou todos os registros que pôde antes do fim. A única
razão pela qual temos as gravações de áudio é que elas foram armazenadas
em um local diferente dos outros e ele aparentemente as esqueceu.
Thalias olhou para o corpo do Guia do Vazio, uma sensação assustadora
passou por ela.
— Ele não queria que ninguém soubesse de onde eles vieram, — ela
disse. — Ele estava trabalhando com os inimigos deles.
— Ou estava trabalhando para evitar que os inimigos deles os
retrocedessem, — sugeriu Samakro.
— Não, — disse Thrawn. — Se fosse essa a situação, o capitão teria
apagado os registros ele mesmo. A data e hora indica que não foi o caso.
Ele se voltou para Samakro.
— Estarei aqui nas próximas horas, observando a dissecção. Quero que
você faça duas cópias dos registros de áudio: uma para os analisadores e
outra para o meu exame pessoal.
— Sim, senhor, — disse Samakro. — Com a sua permissão, também
gostaria de fazer uma cópia extra para mim. O Comandante Sênior Kharill
assume a vigilância em meia hora, e posso começar a ouvi-la enquanto você
observa as coisas aqui.
— Excelente ideia, Capitão Intermediário, — disse Thrawn. —
Obrigado.
Ele olhou para o corpo do Guia do Vazio.
— Ele teve alguns problemas para esconder essas pessoas e o lar deles
de nós. Vamos ver o que podemos aprender com eles, apesar dos esforços
dele.

Thalias observou enquanto Thrawn examinava os corpos, notando a atenção


especial que dava às roupas e adornos deles. Mas uma vez que essa parte
acabou, e os médicos avançaram com o seu equipamento cirúrgico, ela
decidiu que já tinha visto o suficiente.
A suíte estava escura e silenciosa quando entrou e trancou a escotilha
atrás dela. Andou na ponta dos pés pela sala de estar, se perguntando se um
banho quente seria bom ou se ela estava muito cansada para fazer qualquer
coisa, exceto se enrolar na cama...
— Thalias? — uma voz hesitante veio do quarto de Che'ri.
— Estou aqui, — Thalias respondeu suavemente, mudando de direção,
em direção à escotilha entreaberta. — Acordei você?
— Não, eu já estava acordada, — respondeu Che'ri.
— Desculpe, — Thalias disse. — Você está com fome? Posso pegar algo
para você comer?
— Não. — Che'ri hesitou. — Eu tive um pesadelo.
— Eu sinto muito, — ela disse novamente, abrindo a escotilha
completamente e entrando. No brilho fraco dos luminosos marcadores da
cápsula de escape, ela viu que Che'ri estava sentada na cama, curvada com
os braços abraçando um dos seus travesseiros contra o peito. Lá se vai
aquele banho quente. — Você quer falar sobre isso?
— Não, eu acho que não, — respondeu Che'ri. — Está tudo bem.
Mas ela ainda estava segurando o travesseiro. — Vamos, — Thalias
encorajou enquanto se sentava na ponta da cama da garota. — Diga-me o
seu e eu contarei um dos meus.
— Você também tinha pesadelos?
— Todas nós tivemos, — respondeu Thalias. — Assim como as
presságios de sobrecarga. Eu não sei se essas coisas são parte da Terceira
Visão em si ou se é apenas devido a toda pressão que as sky-walkers
sofrem. Mas todas nós os tínhamos. — Ela deu um tapinha no joelho de
Che'ri através do cobertor. — Deixe-me adivinhar. Você estava perdida e
todo mundo estava com raiva de você?
— Quase, — respondeu Che'ri. — Eu estava perdida, mas eles não
estavam bravos. Pelo menos eles não disseram nada. Mas eles continuaram
olhando para mim. Apenas olhando.
— Sim, eu tinha esse também, — Thalias disse tristemente. — Ninguém
falava comigo e eles não me ouviam. Às vezes, eles nem conseguiam me
ouvir.
— Lembro-me de pensar que era como estar presa em uma grande bolha
de sabão, — completou Che'ri.
Thalias sorriu. — Essa parte é do seu banho.
— O que?
— Seu banho, — Thalias repetiu. — As bolhas de alívio. O seu cérebro
captou essa memória e a colocou em seu sonho.
— Sério? Cérebros fazem coisas assim?
— O tempo todo, — respondeu Thalias. — O seu pegou as bolhas de
alívio, acrescentou aos seus medos de se perder, espalhou sobre um pouco
da sensação que você tem na ponte de que nenhum dos adultos está
prestando atenção em você, então cozinhou tudo dentro de um sonho. Retire
do forno e aí está o seu pesadelo.
— Oh. — Che'ri ponderou por um momento. — Não parece tão
assustador assim.
— Não, — Thalias concordou. — Quase bobo, na verdade, uma vez que
as luzes são acesas sobre isso. Não significa que não seja assustador quando
você está no meio disso, mas ajuda a torná-lo melhor quando você pode
descobrir as peças depois. É apenas o seu cérebro e os seus medos mexendo
com você.
— Certo. — Che'ri abraçou o travesseiro com um pouco mais de força.
— Thalias... você já se perdeu?
Thalias hesitou. Como ela deveria responder a isso? — Não quando eu
tinha a sua idade, — ela respondeu. — Aposto que você nunca se perdeu
também.
— Mas você se perdeu depois?
— Eu meio que me perdi uma ou duas vezes, — admitiu Thalias. — Mas
isso foi quando eles já sabiam que a minha Terceira Visão estava
desaparecendo, e eles estavam me fazendo passar por testes dentro da
Ascendência. Eles fazem isso de propósito, porque sabem que, se a sky-
walker perder a trilha, não será perigoso para a nave.
— E então você foi dispensada, — Che'ri murmurou.
— E eu pensei que a minha vida tinha acabado. — Thalias sorriu. —
Mas como você vê, não acabou. A sua também não acabará.
— Mas e se eu nos perder...?
— Você não vai, — Thalias disse com firmeza.
— E se eu perder?
— Você não vai, — respondeu Thalias. — Confie em mim. E confie em
si mesma.
— Eu não acho que posso.
— Você precisa, — Thalias disse. — A incerteza pode ser o mais difícil
e assustador dos estados mentais. Se você está sempre se perguntando qual
caminho seguir, você pode congelar e não ir a lugar nenhum. Se você tem
medo de não poder fazer algo, você pode nem mesmo tentar.
Che'ri balançou a cabeça. — Eu não sei.
— Bem, você não precisa saber de nada esta noite, — disse Thalias. —
Tudo que você precisa fazer é deitar e tentar voltar a dormir. Você tem
certeza que não posso pegar algo para você comer?
— Não, está tudo bem, — respondeu Che'ri. Ela olhou para o travesseiro
em seus braços, então mudou-o para trás dela. — Talvez eu desenhe um
pouco, — ela acrescentou, acomodando-se no travesseiro e puxando o seu
questis da mesa de cabeceira.
— Parece bom, — disse Thalias. — Você quer que eu me sente com
você?
— Não, está tudo bem, — respondeu Che'ri. — Obrigada.
— De nada, — disse Thalias, levantando-se e recuando em direção à
escotilha. — Eu vou deixar a porta aberta. Se você precisar de alguma
coisa, é só chamar, Certo? E tente dormir.
— Eu vou, — disse Che'ri. — Boa noite, Thalias.
— Boa noite, Che’ri.
Thalias esperou mais uma hora, apenas no caso de Che'ri mudar de ideia
e decidir que precisava de algo. Quando ela finalmente apagou a luz e se
acomodou na cama, a luz do quarto de Che'ri estava apagada e a menina
estava novamente dormindo profundamente.
E é claro, porque Thalias tinha falado sobre eles, os seus próprios
pesadelos de sky-walker escolheram aquela noite para voltar.

— Isso acabou de chegar, Almirante, — disse Wutroow, entregando o seu


questis. — Não tenho certeza do que isso significa.
Ar’alani correu os olhos pela mensagem: Encontre comigo nas seguintes
coordenadas o mais rápido possível. Traga apenas a Vigilante. Não
contrate um navegador.
— Eu verifiquei as coordenadas, — Wutroow continuou. — Está muito
longe. Sem navegador, vai demorar quatro ou cinco dias para chegar lá.
— Não é exatamente a definição usual de Thrawn para o mais rápido
possível, — concordou Ar’alani. — Tudo bem. Suponho que você sinalizou
para Naporar e perguntou se eles poderiam nos designar uma sky-walker
temporária?
Wutroow assentiu com a cabeça.
— Eu pedi. E...
— Não, não, deixe-me adivinhar, — interrompeu Ar’alani. — Você foi
desviada para pelo menos três mesas diferentes até que finalmente
encontrou alguém que disse que demoraria um mês para que alguém
estivesse livre?
— Não exatamente, — respondeu Wutroow, a sua voz estranha. — Fui
enviada diretamente para o Supremo General Ba’kif. — Ela ergueu um
dedo para dar ênfase. — Não para o escritório do general. Para o general.

— Ba’kif atendeu a sua ligação pessoalmente?


— Eu também fiquei bastante chocada, — respondeu Wutroow. —
Especialmente quando ele disse que uma sky-walker estaria nos esperando
quando chegarmos a Naporar.
— Bem, essa é vai para os registros, — disse Ar’alani, franzindo a testa.
— Sem confusão ou algo assim?
— Não sobre a sky-walker, — respondeu Wutroow. — Mas havia outra
coisa estranha. Quando virmos Thrawn, devemos perguntar sobre a
cuidadora da sua sky-walker. Aparentemente, há alguma confusão sobre
quem ela é e como ela conseguiu o emprego.
— Sério, — disse Ar’alani, olhando para a mensagem no questis
novamente. Portanto, o que quer que Thrawn estivesse fazendo, era
importante o suficiente para que uma das pessoas mais importantes do
Conselho demonstrasse interesse pessoal, enquanto, ao mesmo tempo, havia
algo acontecendo sob a superfície envolvendo a sua sky-walker e a sua
cuidadora.
Naturalmente, Thrawn estaria alheio a ambas as correntes.
— Muito bem, — ela disse. — Definir rumo para Naporar; na melhor
velocidade que tivermos.
— Sim, senhora, — disse Wutroow.
— E assim que estivermos no caminho, — acrescentou Ar’alani,
devolvendo o questis, — faça com que as equipes de armas comecem a
varreduras de serviço completo em seus equipamentos.
— Você acha que haverá combate do outro lado da viagem?
— Thrawn está lá, — Ar’alani a lembrou. — Então, sim, eu diria que
isso é praticamente garantido.
A Falcão de Primavera estava esperando exatamente onde Thrawn
dissera que estaria. Uma rápida viagem de transporte estelar e uma hora
depois de chegar ao sistema, Ar’alani e Wutroow estavam sentadas na sala
de instruções com Thrawn e Samakro, lendo os dados e a proposta de
Thrawn.
Ar’alani demorou para examinar o material. Leu uma segunda vez, como
sempre fazia com essas coisas. Então, só para ter certeza de que isso
realmente dizia o que pensava que estar escrito, leu pela terceira vez.
No momento em que ergueu os olhos do questis, viu que Wutroow e
Samakro também haviam feito isso. Os dois oficiais estavam olhando para
as seções da mesa à sua frente, as suas expressões uma mistura de surpresa,
descrença e apreensão.
Desviou o olhar para o final da mesa. Thrawn esperava pacientemente,
tentando esconder a sua própria ansiedade.
— Bem, — ela disse, pousando o seu questis. — Isso é inventivo, vou
admitir.
Um pouco da ansiedade de Thrawn desapareceu. Aparentemente, grande
parte da sua preocupação estava centrada em como ela reagiria.
— Obrigado, — ele disse.
— Com todo o devido respeito, Capitão Sênior, não tenho certeza se foi
um elogio, — disse Samakro. — O plano pode ser criativo, mas não acho
que seja fisicamente possível.
— Na verdade, Capitão Intermediário, eu já vi isso acontecer, — disse
Ar’alani. — Lá na época da Academia, o Capitão Thrawn realizou esta
mesma manobra. — Ela ergueu as sobrancelhas. — Por outro lado, era uma
nave de patrulha. Desta vez, você está falando de um cruzador pesado. Há
uma grande diferença.
— Não é tão grande quanto pode parecer, — disse Thrawn. — É verdade
que a massa da Falcão de Primavera é maior, mas os seus propulsores e
jatos de manobra são correspondentemente mais poderosos. Com os
devidos cuidados e preparação, acredito que isso pode ser feito.
— E você tem certeza de que este é o sistema certo?
— As indicações estão aí, — respondeu Thrawn. — Não vou saber com
certeza até examinar a estação de mineração.
Ar’alani franziu os lábios e pegou o seu questis novamente. Certamente
não seria fácil. O lugar que Thrawn propôs se infiltrar era o que era
coloquialmente conhecido como sistema de caixa: fluxos eletromagnéticos
incomumente fortes envolvendo as bordas externas, interagindo com o
vento solar para criar ainda mais obstrução à viagem no hiperespaço do que
o normal. A menos que uma nave estivesse disposta a sair do hiperespaço
fora do cinturão cometário e passar dias ou semanas viajando pelo espaço
normal para o sistema interno, havia apenas uma dúzia de caminhos
internos razoavelmente seguros.
Ainda mais intimidante era o fato de que algum cataclisma de milênios
antes semeou o sistema interno e grande parte do sistema externo com
grandes meteoros, tornando toda a área uma espécie de versão em miniatura
do próprio Caos. Levando esses perigos de navegação adicionais em
consideração, o número de pistas seguras para o planeta habitado caiu para
exatamente três.
Três rotas para um único planeta isolado, desconhecido para a
Ascendência e aparentemente desconectado de qualquer espécie conhecida
na área. Uma seleção um pouco maior de caminhos para o cinturão de
asteroides externo, que consistia em vários aglomerados compactados e
várias estações espaciais de mineração possivelmente abandonadas.
Mas, embora as estações de mineração pudessem estar abandonadas, o
resto do sistema estava ativo o suficiente. O breve reconhecimento de
Thrawn pegou uma boa quantidade de viagens dentro do sistema,
principalmente entre o planeta e um punhado de colônias ou estações de
manufatura orbitando-o. Infelizmente, a Falcão de Primavera estava muito
longe para dizer se essas naves eram ou não semelhantes às naves de
refugiados destruídas cujos registros Thrawn agora compartilhava com ela e
Wutroow.
E só para adicionar tempero a tudo isso, todas as três rotas de entrada
estavam sendo patrulhadas por pequenas naves de guerra de um design
completamente diferente.
— Então você acha que esse é o sistema de onde vieram as naves de
refugiados, — ela disse, olhando para Thrawn novamente. — Você ainda
acha que eles estão sob bloqueio por essas outras naves.
— Está menos para um bloqueio do que para uma interdição, — disse
Thrawn. — Você pode ver que a configuração das naves de patrulha é
projetada principalmente para controlar o acesso ao planeta principal. As
estações nos asteroides não são tão fortemente protegidas e, portanto, são
mais acessíveis.
— Mas elas ainda estão protegidas, — Wutroow apontou. — E eu estou
contando apenas três bons caminhos para entrar e sair do sistema.
— Só se você quiser o planeta, — explicou Thrawn. — Se você quiser a
estação no asteroide que indiquei, existem vários outros vetores viáveis.
— Pelo menos até que os bloqueadores consigam mais algumas naves,
— disse Ar’alani.
— De fato, — concordou Thrawn. — Portanto, parece-me que se
queremos fazer isso, temos que fazê-lo logo.
— Quanto tempo você ficou sentado na fronteira os observando? —
Perguntou Ar’alani.
— Apenas três dias, — respondeu Samakro.
— Três dias inteiros, — corrigiu Thrawn. — Tempo suficiente para eu
analisar o padrão deles de patrulha e aprender como penetrá-lo.
— Novamente, a menos que eles tenham conseguido mais naves nas
últimas quinze horas, — disse Ar’alani.
O lábio de Thrawn se contraiu.
— Sim.
Por alguns momentos, a sala de conferências ficou silenciosa. Ar’alani
olhou para o seu questis, fingindo estudá-lo, pesando nas opções. Para
qualquer outra pessoa, ela sabia, três dias não seriam o suficiente para
analisar um padrão de patrulha alienígena, muito menos descobrir uma
maneira de superá-lo.
Mas para Thrawn, três dias provavelmente era o suficiente, apesar das
dúvidas de Samakro. Ar’alani não poderia ter bolado um plano tão
rapidamente, mas percebeu que o de Thrawn tinha uma boa chance de
funcionar.
Por outro lado, isso não seria um caminho às cegas. O curso proposto por
Thrawn deve colocá-los bem à frente de qualquer perseguição das poucas
naves de patrulha que vigiam o sistema externo, mas se o comandante do
bloqueio destacar algumas de suas forças planetárias mais próximas, ele
pode pegar as duas naves Chiss com uma pinça.
— E a estratégia de saída? — ela perguntou. — Precisamos de uma
imediatamente, e você eventualmente precisará de uma.
— Lá nós temos duas opções interessantes, — respondeu Thrawn. Como
se, Ar’alani pensou ironicamente, tudo isso não viesse com o rótulo de
interessante. — O sistema de caixa típico é limitado em grande parte por
padrões de fluxo externos que interagem com o vento solar. Esses dois
pontos... — ele tocou no seu questis — ...marcam os dois planetas gigantes
gasosos do sistema externo.
Ar’alani sorriu firmemente ao vê-los.
— Planetas que esculpem pequenos buracos nos ventos solares enquanto
eles viajam ao longo de suas órbitas.
— Buracos pelos quais você pode entrar e sair sem confundir o seu
hiperdrive ou a sua sky-walker, — disse Wutroow. — Hã. Difícil de acertar
de fora, a menos que você tenha dados planetários realmente bons.
— Mas não é tão difícil ir por dentro, — disse Ar’alani, — desde que
você saiba exatamente onde estão os planetas e as lacunas. — Ela olhou
para Thrawn com uma compreensão repentina. — Foi assim que as naves
de refugiados passaram pelas patrulhas, não foi?
— Essa é a minha suposição, — respondeu Thrawn.
— E agora, é claro, também temos os dados planetários de que
precisamos, — acrescentou Wutroow. — Então, entramos pela Sombra
Número Um e saímos pela Sombra Número Dois?
— Exatamente, — respondeu Thrawn. — E a Falcão de Primavera
posteriormente pode sair por qualquer uma. Elas estão próximas o
suficiente para os seus propósitos, mas distantes o suficiente para que os
bloqueadores não sejam capazes de proteger o suficiente as duas, mesmo se
eles desejarem fazer isso.
— A menos que, como todos nós continuamos dizendo, eles tenham
encontrado mais naves, — Wutroow apontou.
Thrawn assentiu.
— Sim.
— Certo, eu estou confusa, — disse Wutroow, franzindo a testa para o
seu questis. — Você não bloqueia um lugar a menos que queira assumi-lo.
Tenho certeza que é um ótimo lugar para se viver, mas por que mais alguém
iria querer isso?
— Os sistemas de caixa têm algumas vantagens, — respondeu Samakro.
— Como já observamos, eles são fáceis de defender e não recebem muito
tráfego aleatório passando por ele. Como tal, eles são ideais como depósitos
de suprimentos, áreas de preparação e instalações de manutenção.
— Mas fácil de defender também significa fácil de engarrafar, —
destacou Wutroow.
— Os nossos oponentes desconhecidos exibem um certo grau de
arrogância, — disse Thrawn. — Algo que poderemos usar contra eles
quando chegar a hora. — Ele olhou para Ar’alani. — Se chegar a hora, —
ele emendou. — Almirante?
Ar’alani franziu os lábios. Era uma aposta. Mas então, toda guerra
também era.
— Tudo bem, vamos fazer isso, — ela respondeu. — Escolha o seu local
e nós nos encontraremos lá. — Ela ergueu um dedo. — Duas coisas
primeiro. Antes de sairmos, quero que a sua sky-walker e a sua cuidadora
sejam transferidas para a Vigilante. Você está indo para o perigo e eu as
quero seguras. Você pode fazer de salto-em-salto para sair e depois
encontrar-se conosco para recuperá-las.
— Eu concordo que a sky-walker Che’ri deva se juntar a você, — disse
Thrawn. — Mas vou precisar que Thalias fique comigo.
Ar’alani franziu a testa.
— Por quê?
— As roupas alienígenas e o posicionamento dos corpos sugerem que os
homens têm grande estima por suas mulheres, — explicou Thrawn. — Se
eu tiver uma mulher comigo...
— Um momento, Capitão Sênior? — Wutroow colocou, franzindo a
testa. — O que você quer dizer com as suas roupas e posições corporais?
Thrawn balançou a cabeça.
— Eu gostaria de poder explicar isso, Capitão Sênior, — ele respondeu.
— Posso ver isso. Posso entender isso. Mas eu realmente não consigo
colocar em palavras. A questão é que, se eu tiver uma mulher comigo,
acredito que qualquer guarda que encontrarmos terá menos probabilidade
de atacar antes de ouvir as nossas explicações.
— Achei que você disse que as estações de mineração estavam desertas.
— Acredito que sim, — disse Thrawn. — Mas, como a Almirante
Ar’alani observou, já se passaram quinze horas desde a nossa última
observação. É principalmente uma precaução.
— E você realmente acha que uma mulher pode conversar para acalmá-
los? — Wutroow persistiu. — Como?
— Vamos pular o como por um momento e nos concentrar em quem, —
respondeu Ar’alani. Ela podia simpatizar com Wutroow, ela certamente
teve a sua cota de momentos de confiança em Thrawn, ela também sabia
que havia um ponto em que ele simplesmente não conseguia colocar a sua
análise em palavras. — Thalias é uma civil, o que limita o que você pode
ordenar que ela faça.
— Eu acredito que ela estará disposta a se voluntariar.
— Esse não é o ponto, — disse Ar’alani. — Se você quiser que uma
mulher o acompanhe, há muitas oficiais femininas para escolher.
Thrawn balançou a cabeça.
— Preciso que a Falcão de Primavera esteja em plena capacidade de
combate caso algo dê errado. Isso significa cada oficial e guerreiro em seus
postos.
Ar’alani mudou a sua atenção para Samakro.
— Capitão Intermediário? — ela convidou.
— Infelizmente, o Capitão Sênior Thrawn está correto, — respondeu
Samakro com relutância. — Não estamos exatamente com falta de pessoal,
mas temos mais do que o nosso quinhão de pessoal inexperiente a bordo. Se
Thalias estiver disposta, provavelmente é ela quem deve ir.
Ar’alani olhou para Thrawn.
— Você realmente acha que pode provar que aqui é de onde os
refugiados vieram se você embarcar naquela estação? Mesmo se não houver
pessoas ou corpos ou qualquer outra coisa a bordo?
— Com certeza, — respondeu Thrawn. — Haverão designs e padrões
que resolverão rapidamente a questão.
Em que ponto... que? Ar’alani não tinha ideia de quais eram os planos de
Ba’kif uma vez que Thrawn localizasse a origem da nave destruída.
Mas descobrir isso era trabalho dele, não de Ar’alani. O seu trabalho era
trabalhar com Thrawn para conseguir as provas de que Ba’kif precisava.
— Tudo bem, — ela disse. — Mas só se Thalias estiver disposta. Se não,
ela fica com a Vigilante e você escolhe outra pessoa.
— Concordo, — disse Thrawn. — Quando você estiver pronta,
Almirante, eu tenho as coordenadas do nosso encontro preparadas.

A Falcão de Primavera estava pronta. Ou pelo menos estava tão pronta


quanto Samakro poderia deixá-la.
O próprio Samakro, nem tanto.
Ele percebeu que o Conselho considerava esta missão importante. Ele
também podia apreciar que o plano de Thrawn era provavelmente a melhor
chance deles de entrar no sistema alienígena e obter esses dados sem ter que
envolver os habitantes ou as naves que os cercam.
Esse último ponto era crucial. A política da Ascendência era fazer o que
fosse necessário para evitar o combate preventivo contra adversários em
potencial. Uma incursão no território de outra pessoa, mesmo que apenas
para coletar dados, ficava perigosamente perto do limiar. Quanto mais
rápido Ar’alani pudesse fazer a Vigilante entrar e sair, menor a chance da
nave Chiss disparar as suas armas.
— Vigilante? — Thrawn perguntou.
— Nós estamos prontos, — respondeu a voz de Ar’alani. — Vetor
travado; jatos de manobra carregados. Me diga quando ir.
— Um momento, — disse Thrawn, inclinando-se um pouco para a frente
na sua cadeira de comando enquanto olhava para a tela tática. — Preciso
que o Bloqueio Quatro avance um pouco mais em sua órbita... Aí. A postos
para contagem regressiva: três, dois, um.
Houve uma mudança sutil nas vibrações do convés conforme a Falcão
de Primavera avançava. Samakro espiou pela canopi da ponte, confirmando
que a Vigilante também estava em movimento e em perfeita sincronia com
o cruzador menor.
Em perfeita sincronia e perto demais para o seu conforto.
Samakro fez uma careta. Em teoria, o plano era simples: a Falcão de
Primavera voaria ao lado da Vigilante, permanecendo perto do seu casco e
se escondendo na sombra do sensor da nave maior, até chegar ao ponto
onde o cruzador escaparia e mergulharia dentro de um dos aglomerados de
asteroides. A Falcão de Primavera ficaria encoberta, com sorte não seria
detectada, e deixaria a Vigilante conduzir qualquer perseguição.
Na prática, a coisa toda era um desastre agachado pronto para saltar.
Thrawn optou por não usar cabos de amarração para conectar as naves,
apontando que um pequeno erro no vetor de qualquer nave criaria uma
ondulação visível que um operador de sensor de alerta poderia detectar. Os
feixes do raio trator eram impraticáveis pelo mesmo motivo, além da
desvantagem adicional de gerar uma assinatura de energia possivelmente
detectável. Conectar as duas naves com travas magnéticas, permitindo que a
nave maior simplesmente carregasse a menor, mostraria uma discrepância
flagrante de massa por empuxo.
Então, em vez disso, Thrawn tentaria o tipo de voo aproximado
normalmente associado a shows aéreos.
O problema é que estava tentando fazer isso com um cruzador e um
Nightdragon, em vez de embarcações com mísseis, menores e muito mais
manobráveis.
— Mudança de arremeço em um, — Thrawn chamou. — A postos para
contagem regressiva: três, dois, um.
Samakro ficou tenso, esperando a colisão inevitável. Para o seu alívio e
leve surpresa, o inevitável não aconteceu. As duas proas se inclinaram pra
cima precisamente ao mesmo tempo e exatamente no mesmo ângulo, e as
naves seguiram em frente.
— Os bloqueios Um e Dois estão reagindo, — disse a voz de alguém na
Vigilante. — Aumentando a velocidade e movendo-se para os vetores de
interceptação.
— Tempo para interceptar? — Perguntou Ar’alani.
— Projetando interceptação... três minutos após o desengate da Falcão
de Primavera.
— Thrawn? — Perguntou Ar’alani.
Thrawn não respondeu. Samakro olhou para a estação de comando, para
ver o seu comandante trabalhando no seu questis.
— Sugiro um aumento de dois porcento na velocidade, Almirante, — ele
respondeu.
— Dois por cento, confirmado, — disse Ar’alani. — Mudanças de
curso?
— Os próximos dois podem ser executados conforme programados, —
respondeu Thrawn. — Vou precisar recalcular os outros.
— Entendido, — disse Ar’alani. — Aumento de velocidade e curva a
estibordo preparados.
— Entendido, — disse Thrawn. — A postos para o aumento da
velocidade. Três, dois, um.
Houve uma leve sensação, tanto imaginária quanto sentida, conforme a
Falcão de Primavera aumentava a sua velocidade.
— Fique pronto para virar a estibordo, — Thrawn continuou, enquanto
as duas naves se acomodavam em seus novos vetores. — Três, dois, um.
Esta curva foi maior do que a manobra de inclinação anterior,
deslocando-os sete graus completos. Mais uma vez, as duas naves ficaram
em perfeita formação.
— Concentre-se nessas revisões, — alertou Ar’alani. — A mudança para
bombordo está programada para daqui a três minutos.
— Entendido, — disse Thrawn, com os seus dedos pulando ágeis sobre o
seu questis. — Eles estarão prontos quando precisarmos deles.
Samakro espiou através da canopi, sentindo o suor acumular sob o
colarinho da túnica. Quanto mais mudanças de curso eles faziam, maiores
as chances de uma das naves cometer um erro e toda a ilusão estourar como
uma bolha.
Mas Thrawn tinha insistido em acumular complexidade em sua incursão,
argumentando que um vetor estável e direto poderia levantar suspeitas de
um segundo intruso, enquanto múltiplas mudanças de curso deveriam
acalmar tais preocupações.
A outra opção sendo concluir que quem quer que fosse o responsável
pela missão estava louco. Era certamente essa na qual o próprio Samakro
estava optando no momento.
Os minutos foram passando. Um por um, as mudanças de curso foram
recalculadas e levadas em consideração. Samakro observou na tela tática
enquanto as duas naves continuavam adentrando, ouvindo os comentários
do oficial de sensor sobre o status das naves do bloqueio em perseguição.
Uma terceira havia se juntado ao grupo agora, virando em uma direção que
o deixaria com uma visão clara da Falcão de Primavera quase um minuto
antes da hora marcada para o cruzador terminar tudo. Thrawn e Ar’alani
discutiram a situação e, mais uma vez, as naves Chiss aumentaram a sua
velocidade em alguns pontos percentuais. Samakro continuou a assistir e
ouvir, mantendo um olhar atento sobre os monitores das armas e de defesas
da Falcão de Primavera, apenas no caso do plano de Thrawn degenerar em
uma batalha.
E então, de repente, eles estavam lá.
— A postos para a separação, — disse Thrawn. — Almirante?
— Preparados, — respondeu Ar’alani. — Bloqueios Um e Dois agora a
quatro minutos e meio da interceptação, Bloqueio Três a noventa segundos
do visual. Continuaremos por três minutos, depois nós seguiremos para a
Sombra Dois e o hiperespaço. Isso deve dar a você tempo suficiente para se
acomodar.
— Entendido, — disse Thrawn. — Podemos nos contentar com dois
minutos se você precisar sair mais cedo.
— Vou manter isso em mente, — disse Ar’alani. — Vamos esperar por
você no ponto de encontro. Boa sorte.
— Leme? — Thrawn chamou.
— Estou pronto, senhor — confirmou Azmordi.
— Prepare-se para desviar, — disse Thrawn. — Esteja pronto: três, dois,
um.
Com várias baforadas de gás comprimido, a Falcão de Primavera virou
para bombordo, afastando-se da Vigilante em um vetor que a levaria até a
borda do aglomerado de asteroides mais próximo. Samakro prendeu a
respiração, concentrando a sua atenção na tela tática. Se as naves de
bloqueio os localizassem, a farsa estaria encerrada.
Ele se contraiu reflexivamente quando a Vigilante, agora levado à frente
deles, ganhou uma súbita explosão de velocidade, mudando o seu ângulo
como se Ar'alani estivesse tentando uma última manobra para tentar chegar
ao planeta distante antes que os seus perseguidores entrassem no alcance de
combate. Se ela fosse capaz de manter a atenção dos bloqueadores nela por
mais alguns segundos, eles poderiam conseguir. O asteroide que balançava
lentamente e que era o objetivo, assomava à frente deles...
Com outra explosão de gás frio, a Falcão de Primavera freou para parar
ao lado do asteroide. Outro pulso cuidadosamente ajustado e o cruzador
combinou com a rotação lenta do asteroide. Samakro olhou para a tela
tática, observando que as naves de bloqueio ainda estavam totalmente
investidas na perseguição da Vigilante.
— Modo furtivo total, — ordenou Thrawn.
Tudo ao redor deles, os visores da ponte e os painéis do monitor
piscaram em vermelho e depois escureceram.
— Parece que chegamos sem ser detectados, — acrescentou Thrawn
calmamente.
Samakro respirou fundo, fazendo mais uma varredura visual para ter
certeza de que todos os sistemas não essenciais foram bloqueados.
— É o que parece, — ele concordou, combinando com o tom do seu
comandante. — Quanto tempo vamos esperar?
Thrawn olhou para além dele, para as estrelas que agora se moviam
lentamente no céu.
— Precisamos permitir que a Vigilante escape e as naves de bloqueio
voltem às suas posições de piquetes. Algumas horas, não mais.
Samakro assentiu com a cabeça. E então seria a hora de Thrawn deslizar
até a estação de mineração abandonada, flutuando no meio do aglomerado
de asteroides.
Onde eles descobririam se toda essa aposta valeu o esforço.

A sky-walker da Vigilante chamava-se Ab’begh e tinha apenas oito anos.


Mas tinha alguns bonecos moldáveis interessantes e alguns marcadores
gráficos coloridos muito legais. E tinha um monte de fotos de construção.
Muito mais do que Che'ri tinha.
Elas estavam começando a brincar com eles quando a momish de
Ab’begh lhe disse para parar.
— É hora de ler, meninas, — disse a mulher. — Guardem os encaixes e
peguem os seus questises. Vamos, vamos, vamos. Brinquedos longe;
questises à mão.
— Nós temos que ler? — Ab’begh perguntou com uma voz chorosa. —
Queremos jogar.
Che'ri fez uma careta. Uma chorona. Ótimo. Ela odiava estar perto de
chorões.
Ainda assim, Ab’begh tinha razão.
— Nós acabamos de fazer algumas viagens, — disse Che'ri. — Devemos
descansar agora.
— Oh, fissis, — disse a momish, balançando os dedos como se estivesse
jogando longe as palavras de Che'ri. — Você fez duas viagens, talvez duas
horas cada. Já vi as sky-walkers fazerem dez horas seguidas e chegarem
sorrindo e prontas para mais.
— Mas... — Ab’begh começou.
— Além do mais, ler é descansar, — disse a momish. — Vamos,
vamos... questises e cadeiras. Agora.
Che’ri olhou para Ab’begh. Se ambas insistissem, talvez pudessem pedir
por pelo menos mais alguns minutos. Che'ri tinha começado um design
realmente legal com os seus encaixes e queria terminá-lo antes que se
esquecesse de onde todas as peças deveriam ir.
Mas Ab’begh apenas suspirou e baixou as suas próprios próprias fotos.
Ela se levantou cansada e foi até uma das cadeiras.
— Che'ri? — a momish perguntou. — Você também.
Che'ri olhou para as suas fotos. Esta mulher não era a momish de Che'ri.
Talvez ela não tivesse permissão para dizer à sky-walker de outra momish o
que ela tinha que fazer.
Mas Che'ri tinha tido algumas momishes como ela. Discutir com elas
geralmente não a levava a lugar nenhum.
Além disso, Ab’begh estava olhando para Che’ri com súplica em seus
olhos. Che'ri poderia se safar desafiando a momish, mas isto só faria com
que aquele aborrecimento recaísse sobre a garotinha depois que Che'ri fosse
embora. Ela teve algumas momishes assim também.
Nada a fazer além de concordar. Fazendo uma careta, ela foi até onde
havia colocado as suas coisas, tirou o seu questis da mochila e subiu na
cadeira ao lado da de Ab’begh.
Ela nunca iria admitir isso para Thalias ou qualquer outra pessoa, mas
ela odiava ler.
— Aí está, — disse a momish. Agora que ela tinha conseguido o que
queria, ela parecia um pouco mais alegre. Elas sempre ficavam. — Ler é
muito importante, sabe. Quanto mais você pratica, melhor você fica.
— Não é hora de estudar, — disse Ab’begh. — Não temos que estudar,
temos?
— É hora de estudar, se eu disser que é hora de estudar, — respondeu a
momish severamente. — O que você sabe perfeitamente bem. Quando a
nossa nave está em uma viagem, nunca sabemos quando você será chamada
para a ponte, então temos que estudar quando temos a chance. — Ela olhou
para Che'ri. — Mas como temos uma convidada e as aulas dela não serão
iguais às suas, não, não estamos estudando. Mas você ainda precisa ler, —
ela acrescentou quando Ab’begh começou a dizer algo. — O que você
quiser. Meia hora, e então você pode jogar até a hora do jantar.
Houve um sinal da escotilha.
— Entre, — a momish falou.
A escotilha se abriu e a Almirante Ar'alani entrou na suíte.
— Todo mundo está bem? — ela perguntou.
— Você precisa de Ab’begh? — a momish perguntou.
— Não, está tudo bem, — respondeu Ar’alani, erguendo a mão e
sorrindo para Ab’begh enquanto a menina largava o seu questis. — Espero
que a Vigilante fique onde estamos pelo resto da noite. Se tivermos que ir a
algum lugar, podemos fazer um salto em salto curto. Então, não, vocês
podem relaxar.
Ela mudou os seus olhos para Che'ri.
— Eu vim principalmente para lhe dizer, Che'ri, que Thrawn e a Falcão
de Primavera chegaram ao asteroide onde ficarão escondidos pelas
próximas horas. Eles estão seguros e parece que ninguém os viu.
— Tudo bem, — disse Che'ri. Ela ainda não estava totalmente certa
sobre o que significava todo aquele voo sofisticado, mas estava feliz que a
Falcão de Primavera estava segura. — Thalias está com ele, certo?
— Sim, ela está, — respondeu Ar’alani, a sua voz soando um pouco
estranha. — Mas temo que você terá que dormir aqui esta noite. Mandarei
trazer uma cama extra para você.
— Ela pode dormir na minha cama, — disse Ab’begh, endireitando-se
na cadeira. — Ela é grande o suficiente.
Che'ri se encolheu. Ela nunca teve que dividir a cama. E com uma
menina de oito anos de idade?
— Prefiro ter a minha, — ela disse. Ela olhou para a expressão
repentinamente desapontada de Ab’begh — Eu chuto muito quando durmo,
— ela acrescentou.
— Você pode colocar a cama no meu quarto? — Ab’begh perguntou. —
Eu... — Ela parou e olhou para a momish. — Às vezes fico com medo, —
ela terminou em voz baixa.
Che'ri estremeceu, sentindo-se culpada. Depois de conversar com
Thalias sobre pesadelos...
— Isso serviria, — ela disse. — Certo. Podemos levar alguns bonecos
conosco e brincar antes de dormir.
— Cuidadora? — Perguntou Ar’alani.
— Se está tudo bem para Ab’begh, tudo bem para mim. — A mulher
realmente sorriu. — Eu me lembro de dormir fora quando tinha a idade
delas. Tenho certeza de que posso preparar alguns lanches pra elas, e
faremos disso um evento.
— Parece razoável, — disse Ar’alani. — Mas. — Ela ergueu um dedo de
advertência. — Quando a sua cuidadora disser que é hora de apagar as
luzes, meninas, é hora de apagar as luzes. Se precisarmos de você, não a
queremos tão cansada que você acidentalmente nos leve a uma supernova.
— Sim, senhora, nós iremos, — Ab’begh prometeu, a sua excitação
anterior começando a borbulhar novamente.
— Podemos fazer mais alguma coisa por você, Almirante? — a momish
perguntou.
— Não, — respondeu Ar’alani. — Eu só queria que vocês soubessem o
que estava acontecendo. Tenham uma boa noite... — Ela fez para as duas
garotas uma carranca fingida. — E durmam um pouco.
A carranca desapareceu, ela sorriu novamente e saiu.
— Isso vai ser divertido, — disse Ab’begh, saltando um pouco na
cadeira. — Vai ser divertido, certo?
— Claro, — respondeu Che'ri.
— Nós vamos ter certeza de garantir isso, — a momish prometeu. —
Mas agora, ainda é hora de ler. Meia hora, e quanto mais cedo vocês
começarem, mais cedo vocês terminarão.
— Você quer ler uma história sobre o povo das árvores? — Ab’begh
perguntou, segurando o seu questis em direção a Che’ri. — Há muitas fotos
boas.
Che'ri torceu o nariz. Um livro de imagens? Ela pode não gostar de ler,
mas ela já havia passado da época de livros ilustrados.
— Tudo bem, — ela respondeu à menina. — Eu tenho outra coisa que
devo ler.
— Ela disse que não precisávamos estudar.
— Isso não são estudos, — assegurou Che'ri. — Vá em frente, fique
ocupada. Eu quero voltar para aquelas fotos.
— Certo. — Sentando-se com as pernas cruzadas na sua cadeira,
Ab’begh apoiou o seu questis no joelho e começou a ler.
Che'ri pegou o seu questis, com os seus olhos se voltando para a mesa
baixa onde os marcadores gráficos coloridos de Ab'begh estavam
espalhados. A sua última momish tinha dito que os marcadores gráficos
estavam por todo o lado e não a deixavam tê-los.
Mas essa foi a sua última momish. Talvez Thalias a deixasse conseguir
algum. Ela perguntaria a ela assim que estivessem de volta a Falcão de
Primavera. Se conseguisse alguns marcadores gráficos e um pouco de
papel, poderia fazer algumas obras de arte reais.
Olhando de volta para o questis, tocou na lista. Junto com os livros de
histórias familiares, alguns dos quais havia lido mais de uma vez, avistou
um mais longo: algumas histórias sobre Mitth’raw’nuruodo.
Ela franziu o cenho. Ela havia se esquecido completamente do arquivo
que Thalias havia enviado pra ela. Era muito longo e devia haver palavras
grandes e complicadas.
Mas com Thrawn, Thalias e a Falcão de Primavera em perigo, talvez ler
um pouco disso a ajudasse a se sentir melhor. Thalias parecia pensar que
sim, de qualquer maneira.
E só porque ela começou, não significa que tinha que ler tudo.
Instalando-se confortavelmente no canto da sua cadeira, ela se preparou
e abriu na primeira página.
O General Ba'kif disse a Ziara que ela tinha bons instintos. Mas ela
aprendeu rapidamente que bom, infelizmente, não significa perfeito.
A primeira dessas lições veio muito rapidamente. No fim de semana
após Thrawn ser absolvido, ligou para convidá-la para sair, para ajudá-lo a
comemorar e agradecer a ajuda dela. Pela maneira entusiasmada com que
ele falou sobre a noite, ela imaginou uma noite de música e comida, talvez
uma apresentação de ginástica ou musical, e certamente um pouco de
bebida.
O que ela conseguiu em vez disso...
Ela olhou ao seu redor para os patronos calmos e as cores sombrias,
para as cortinas, quadros, esculturas e drapeados bem organizados.
— Uma galeria de arte, — ela disse, sua voz monótona. — Você me trouxe
a uma galeria de arte.
— Claro, — ele disse, dando a ela um olhar perplexo. — Onde você achou
que estávamos indo?
— Você disse que haveria percepção, drama e a empolgação da
descoberta, — ela o lembrou.
— Há sim. — Ele apontou para um corredor. — A história da Ascendência
está nestas salas, algumas das peças que remontam à participação dos
Chiss nas guerras entre a República Galáctica e o Império Sith.
— Parece que me lembro que aquela época não foi uma época
particularmente brilhante para a Ascendência.
— Concordo, — disse Thrawn. — Mas veja como as nossas táticas e
estratégias mudaram desde então.
Ziara franziu a testa. 
— Desculpe?
— As nossas táticas e estratégias, — repetiu Thrawn, franzindo a testa.
— Sim, eu ouvi você, — Ziara disse. — Por que nós estamos falando de
táticas em uma galeria de arte?
— Porque um se reflete no outro, — respondeu Thrawn. — A arte espelha
a alma, da qual surgem as táticas. Pode-se ver na obra de arte os pontos
fortes e fracos de quem a criou. Na verdade, se alguém tem uma
variedade suficiente de arte para estudar, pode estender e extrapolar para
os pontos fortes, fracos e táticas de culturas inteiras.
De repente, Ziara percebeu que a sua boca estava aberta.
— Isso é... muito interessante, — ela administrou. Talvez, ela pensou
tardiamente, ela não devesse ter trabalhado tão duro para tirá-lo do
gancho, afinal.
— Você não acredita em mim, — disse Thrawn. — Bem. Há obras de arte
alienígenas duas câmaras adiante. Você escolhe a cultura que quiser e eu
vou te mostrar como ler as suas táticas.
Ziara nunca tinha estado em uma ala de arte alienígena, nesta galeria
ou em qualquer outra. O mais próximo que já tinha chegado de artefatos
não-Chiss, na verdade, foi o pedaço torcido de destroços de uma nave de
guerra Paataatus que foi exibida no domicílio da família Irizi, em Csilla.
— De onde veio tudo isso? — ela perguntou, olhando para os vários
painéis e esculturas enquanto Thrawn liderava o caminho através do arco
de entrada para o salão.
— A maioria foi comprada por vários comerciantes e negociantes e
posteriormente doada à galeria, — respondeu Thrawn. — Alguns são de
espécies com as quais ainda temos contato, mas a maioria são de
alienígenas que encontramos durante as Guerras Sith, antes da retirada de
volta para as nossas próprias fronteiras. Aqui vamos nós.
Ele parou na frente de uma caixa transparente contendo garrafas e
pratos translúcidos.
— Talheres formais Scofti, de um regime governamental de cem anos
atrás, — identificou Thrawn. — O que você vê?
Ziara encolheu os ombros.
— É bonito o suficiente. Especialmente aquela cor interna em
redemoinhos.
— Que tal durabilidade? — Perguntou Thrawn. — Parece resistente?
Ziara olhou mais de perto. Agora que ele mencionou...
— A menos que esse material seja muito mais forte do que parece, não,
de forma alguma.
— Exatamente, — concordou Thrawn. — Os Scofti mudam de líderes e
governos com frequência, muitas vezes sob violência ou sob ameaça de
violência. Uma vez que cada novo líder normalmente reorganiza o palácio
da prefeitura, desde a decoração até os talheres de mesa, os artesãos não
veem por que fazer nada pra eles que dure mais de um ano. Na verdade,
uma vez que o novo mestre muitas vezes tem prazer em destruir
publicamente os itens pessoais de seu predecessor, há um forte incentivo
para tornar tudo deliberadamente frágil.
— Realmente. — Ziara o olhou com desconfiança. — Isso é realmente
verdade? Ou você está apenas supondo?
— Temos mantido contato marginal com eles nos últimos vinte anos, —
respondeu Thrawn, — e os nossos registros apoiam essa conclusão. Mas eu
fiz essa avaliação dos artefatos da galeria antes de pesquisar a história.
— Humm. — Ziara olhou para os itens por outro momento. — Certo. Qual
é o próximo?
Thrawn olhou ao redor da sala.
— Este é interessante, — ele disse, apontando para outra vitrine próxima.
— Eles se autodenominavam Brodihi.
— Denominavam, tempo passado? — Ziara perguntou enquanto eles
caminhavam até lá. — Eles estão todos mortos?
— Na verdade, nós não sabemos, — disse Thrawn. — Esses artefatos
foram recuperados dos destroços de uma nave naufragada há mais de
trezentos anos. Ainda não sabemos quem eles foram, de onde vieram ou
se ainda existem.
Ziara assentiu com a cabeça enquanto examinava rapidamente o
conteúdo da caixa. Mais aparelhos de jantar, pratos e mais talheres
alongados, todos decorados com listras em ângulo de arco-íris colorido,
além de algumas ferramentas. Na parte de trás da caixa havia uma foto de
um alienígena com um focinho comprido e um par de chifres saindo do
topo de sua cabeça, junto com uma breve descrição das criaturas e das
circunstâncias da descoberta.
— Então o que você pode me dizer sobre elas?
— Você notará as barras coloridas em ângulo nos talheres, — respondeu
Thrawn. — Para que as linhas combinem, as facas, garfos e colheres devem
ser posicionados em direção ao centro da mesa e, em seguida, voltados
para a borda.
Ziara assentiu com a cabeça.
— Como um par de asas de pássaro se abrindo.
— Ou…? — Thrawn solicitou.
Ziara franziu a testa e deu outra olhada na imagem alienígena.
— Ou como a forma de seus chifres.
— Essa foi a minha conclusão também, — concordou Thrawn. — Observe
também que embora as colheres e garfos apontem para o centro da mesa,
as facas devem ser apontadas para trás, em direção à borda para que as
barras coloridas se alinhem. O que isso lhe diz?
Ziara estudou a tela, tentando visualizar uma das criaturas sentada onde
ela e Thrawn estavam, esperando que a comida fosse colocada em seu
prato.
— As facas são armas muito melhores do que as colheres e garfos, — ela
respondeu lentamente. — Posicionar as pontas em sua direção sugere que
você não tem animosidade ou intenções contra os outros na mesa.
— Muito bom, — disse Thrawn. — Agora acrescente a isso o fato de que se
você virar as facas, o padrão sugere que elas apontam para o centro como
os outros talheres, em vez de em direção à borda da mesa. O que isso
sugere?
Ziara sorriu. A estrutura de sua própria cultura Chiss deu a resposta a
essa pergunta.
— Que existe uma hierarquia social ou política envolvida, — ela
respondeu. — Dependendo da sua hierarquia em relação aos outros na
mesa, você vira a sua faca para dentro ou para fora.
— Novamente, essa foi a minha conclusão também, — disse Thrawn. —
Uma coisa final. Observe o comprimento dos talheres, claramente
projetados para depositar a comida vários centímetros abaixo do focinho
em vez de na frente.
— Parece estranho, — disse Ziara. — Eu presumo que a maioria dos
receptores gustativos das espécies estariam na parte frontal da boca, na
língua ou em seu equivalente.
— Esse parece ser o padrão geral, — explicou Thrawn. — Isso me faz
pensar que a borda externa dos dentes era a sua arma tradicional, e as
mandíbulas se desenvolveram para que eles pudessem morder um
inimigo sem sentir o gosto da sua carne ou do sangue.
Ziara torceu o nariz.
— Isso é nojento.
— Concordo, — disse Thrawn. — Mas se algum dia os encontrarmos,
teremos uma ideia de suas prováveis táticas. Armas de curta distância,
como dentes e facas, devem se traduzir em uma preferência pelo combate
de perto, e com armas de longa distância consideradas secundárias ou
mesmo desonrosas.
— E uma hierarquia rígida com uma ameaça latente de violência nos
alertaria sobre com quem e onde nós negociamos, — disse Ziara,
assentindo. — Interessante. Certo. Onde é a próxima?
— Você quer ver mais? — Thrawn perguntou, franzindo um pouco a testa.
Ela encolheu os ombros.
— Viemos até aqui. É melhor aproveitar a noite.
Ela rapidamente se arrependeu de ter lhe dado um convite tão aberto.
Quando ela pediu um intervalo, uma hora depois, a sua cabeça girava com
nomes, imagens e inferências táticas.
— Certo, tudo isso é muito interessante, — ela disse. — Mas, pelo que
posso ver, quase tudo é muito teórico. Onde temos a história dos
alienígenas, você poderia ter pesquisado e preenchido a sua análise para
ajustá-la.
— Eu já disse que não fiz isso.
— Mas você pode ter se deparado com algo quando era mais jovem e
esquecido que tinha lido, — Ziara apontou. — Isso já aconteceu comigo. E
onde não temos nenhuma história, provavelmente nunca saberemos se
você está certo ou errado.
— Entendo — disse Thrawn, com a voz subitamente subjugada. — Eu
estou... eu pensei que isso seria interessante para você. Sinto muito se
perdi o seu tempo.
— Eu não disse isso, — Ziara protestou, olhando para ele quando uma
ideia repentina lhe ocorreu. — Mas sou uma pessoa prática e, quando ouço
uma nova teoria, gosto de testá-la.
— Deveríamos pedir à Ascendência que declare guerra a alguém?
— Eu estava pensando um pouco menos, — ela respondeu. — Vamos.
Ela se dirigiu para a saída.
— Onde estamos indo? — Thrawn perguntou ao alcançá-la.
— Meus aposentos, — ela respondeu. — Eu faço um pouco de esculturas
com fio nas minhas horas vagas para relaxar. Você pode estudá-las e ver o
quão bem consegue ler as minhas estratégias e táticas pessoais.
Thrawn ficou em silêncio por alguns passos.
— Você está assumindo que algum dia estaremos em guerra um com o
outro?
— Sim, e mais cedo do que você pensa, — Ziara respondeu com um
sorriso. — Porque depois que você terminar, vamos descer para o dojo para
alguns rounds.
— Entendo, — disse Thrawn. — Bastão ou desarmado?


Ziara deu a ele a escolha. Ele escolheu bastão.
— Tudo bem, — disse Ziara, saltando alguns passos experimentais no
tapete e balançando os dois bastões curtos nas mãos para soltar os pulsos.
Os protetores de rosto e tórax leves não interferiam em seus movimentos,
e os bastões com revestimento macio pareciam resistentes em suas mãos,
com o mesmo peso e equilíbrio dos bastões de combate reais. — E se você
encontrou algumas gravações das minhas sessões de combate, diga agora
antes que eu o chame de trapaceiro.
— Eu nunca vi você lutar, — Thrawn garantiu a ela. — Você pode escolher
quando a luta acaba.
— Obrigada, — Ziara disse. — E esse foi o seu primeiro... erro! — ela gritou
enquanto saltava para frente. Uma rápida combinação cabeça-costela-
cabeça deve encerrar a luta antes que ele perca muito da sua dignidade.
Só que não. Thrawn bloqueou todos os três ataques, colocando os seus
bastões nos lugares certos e na ordem certa. A sua combinação costelas-
cabeça-cotovelo-finta-costelas também não passou. Nem a sua melhor
finta-finta-quadril-costelas-cabeça-finta-estômago.
Ela fez uma careta, dando um passo para trás para se recompor e
reavaliar. Sorte de iniciante, obviamente, mas estava começando a se
tornar um pouco preocupante. Até agora ele ficou apenas parado ali,
casualmente bloqueando os ataques dela, mas não lançando nenhum dos
seus. Mas isso mudaria em breve. É hora de acelerar as coisas, fazer um
ataque, forçá-lo a contra-atacar ou pelo menos fazê-lo mover os seus
malditos pés. Ela saltou para frente novamente, desviando para uma finta-
costela-finta...
Só que desta vez, na segunda finta, ele parou de ser passivo e fez o seu
movimento. Deslizando pela abertura criada pela finta, ele deu um tapinha
no bastão dela para fora da linha, girou em um círculo apertado dentro da
lacuna e trouxe o seu próprio bastão para bater levemente na lateral do
protetor de cabeça dela. Mesmo quando ela tentou trazer os dois bastões
de volta para ele, ele girou novamente e deu um longo passo para fora do
alcance dela.
Ela saltou para frente, tentando chegar até ele enquanto ele ainda
estava de costas. Mas ele foi mais rápido, virando-se para encará-la e
novamente bloqueando o ataque duplo dela.
Mais uma vez, ela recuou, aproveitando a oportunidade para tomar
umas boas respiradas. Thrawn não a seguiu, e permaneceu onde estava.
Claramente, as técnicas de combate preferidas dela não estavam
funcionando. É hora de mudar um pouco. Só porque ela gostava mais
dessas táticas melhores, não significava que não tivesse aprendido outras.
Respirando pela última vez, ela atacou novamente.
Só que desta vez, em vez de usar as combinações de finta e ataque, ela
veio direto para ele, golpeando para frente com os dois bastões, um
apontado para o rosto e outro para o peito dele. Ele bloqueou o primeiro,
mas o segundo bateu no protetor de tórax dele com um baque totalmente
satisfatório. Ela avançou, erguendo os braços para fazê-lo novamente.
Novamente, Thrawn foi mais rápido. Ele recuou rapidamente,
colocando-se fora de alcance. Ela deu mais um passo à frente, golpeando
novamente, e novamente um dos dois ataques passou. Mais uma, ela
decidiu, e ela usaria a combinação. Ela deu um passo para a frente...
E abruptamente ela se viu no meio de uma enxurrada de bastões
brilhantes enquanto ele saltava para o ataque.
Desta vez foi a vez dela recuar, xingando silenciosamente enquanto
bloqueava, aparava e tentava virar o ataque contra ele. Mas ele não estava
dando a ela nenhuma abertura. Os pés dela sentiram a mudança na
textura do tapete, avisando que ela estava chegando perto da borda.
Thrawn também viu. Ele parou, permitindo que ela diminuísse o seu
próprio recuo antes que ela pudesse bater na parede.
Outro erro. A pausa foi longa o suficiente para ela retomar a iniciativa, e
mais uma vez ela investiu contra ele.
Ele recuou lentamente, claramente mais uma vez na defensiva. Mas,
para o desgosto dela, os seus ataques estavam mais uma vez não indo a
lugar nenhum enquanto ele bloqueava cada finta e investida.
Ela interrompeu o ataque e deu um passo para trás, e por um longo
momento eles ficaram frente a frente. Antes que ele perdesse muito da sua
dignidade, o pensamento presunçoso dela voltou a zombar dela.
— Há alguma razão para continuar? — ela perguntou.
Thrawn encolheu os ombros.
— Você escolhe.
Por um longo momento, o orgulho e a determinação a impeliram a
continuar. O bom senso venceu.
— Como? — ela perguntou, abaixando os seus bastões e caminhando até
ele.
— As suas esculturas mostram o seu gosto por combinações espaçadas,
— respondeu Thrawn, abaixando os seus próprios bastões para os lados. —
Particularmente padrões de três e quatro espirais. Os seus temas favoritos;
groundlions, dragonelles e pássaros predadores; indicam os ataques
curtos, fintas de hesitação e agressão. A forma particular das áreas abertas
mostra como você compõe as suas fintas, e o estilo angular sugere que um
ataque giratório seria inesperado e desconcertante o suficiente para
retardar a sua resposta.
Que, ela lembrou, tinha sido o primeiro ataque bem-sucedido dele.
— Interessante, — Ziara disse.
— Mas o que se seguiu foi igualmente instrutivo, — continuou Thrawn.
Ele ergueu as sobrancelhas ligeiramente em um convite óbvio.
Ziara sentiu uma onda de irritação. Ela era a veterana ali, não ele. Se
havia alguém que deveria recitar lições e oferecer análises, deveria ser ele,
não ela.
Ela percebeu instantaneamente que foi, sobre o pensamento mais
estúpido que já teve em sua vida. Apenas um tolo desperdiça uma
oportunidade de aprender.
— Percebi que você descobriu o meu padrão e mudei de tática, — ela
disse. — E funcionou, pelo menos por alguns ataques. Então você atacou, e
depois disso eu não consegui mais passar de novo.
— Você sabe por quê?
Ziara franziu a testa, pensando sobre a luta...
— Eu voltei para as minhas velhas táticas, — ela respondeu com um
sorriso irônico. — Aquelas que você já tinha descoberto como vencer.
— Exatamente, — disse Thrawn, sorrindo de volta. — Uma lição para todos
nós. Em momentos de estresse ou incerteza, nós tendemos a cair no que é
familiar e confortável.
— Sim, — Ziara murmurou, de repente percebendo onde ela estava em
relação a ele. Bem dentro do alcance do ataque... e ela nunca disse
explicitamente que a luta acabou.
O momento de tentação passou. Só porque ela não havia parado
oficialmente, não significava que seria justo reiniciá-lo unilateralmente.
Thrawn havia se comportado com honra. Ela não podia fazer menos.
— E o cuidado que você dedica às esculturas mostra que você tem honra
demais para pregar peças de má qualidade contra um parceiro de treino, —
acrescentou Thrawn.
Ziara sentiu o seu rosto esquentar.
— Você tem certeza disso?
— Sim.
Por um longo momento ela foi tentada novamente. Então, girando
sobre os calcanhares, ela caminhou pelo tapete e devolveu os bastões ao
suporte de armas.
— Tudo bem, — ela disse por cima do ombro enquanto começava a tirar
a sua armadura de treino — Estou impressionada. Você realmente acha que
pode fazer a mesma coisa com culturas e táticas alienígenas?
— Sim, — respondeu Thrawn. — Algum dia, espero ter a chance de provar
isso.
C inco horas depois que a Falcão de Primavera se escondeu, Thrawn e
Thalias se prenderam em uma das naves de transporte do cruzador e se
dirigiram para o aglomerado de asteroides em direção à estação espacial
escura flutuando à distância.
— A jornada pode ser um pouco tediosa, — Thrawn avisou enquanto se
moviam entre as rochas flutuantes e a poeira. — Usaremos os jatos de
manobra exclusivamente para evitar quaisquer emissões de propulsão que
os nossos adversários possam detectar. Isso torna a viagem mais lenta.
— Entendo, — disse Thalias.
— E ainda, temos a chance de conversar em particular, — continuou
Thrawn. — Como você está vendo o seu trabalho como cuidadora?
— É um desafio, — admitiu Thalias, um alarme silencioso soando no
fundo da sua mente. Thrawn poderia tê-la chamado no escritório dele a
qualquer momento desde que deixou a Ascendência, se ele apenas quisesse
conversar em particular.
Ele sabia sobre aquela conversa de última hora com Thurfian, e o acordo
que o síndico havia a forçado fazer?
— Che'ri é muito fácil de conviver, mas há algumas coisas com que toda
sky-walker lida que podem ser difíceis.
— Pesadelos?
— E dores de cabeça e mudanças de humor ocasionais, — respondeu
Thalias. — Além de ser apenas uma criança de nove anos.
— Especialmente para alguém que é vital para o funcionamento da nave
e sabe disso?
— Certo... As histórias de terror da arrogância e das exigências das sky-
walkers, — Thalias disse com desdém. — Pura lenda da camada gelo. Eu
nunca conheci alguém que realmente viu isso acontecer. Cada sky-walker
que conheci foi na direção oposta.
— Sentimentos de inadequação, — disse Thrawn. — O medo de que não
corresponda ao que o seu capitão e a sua nave exigem dela.
Thalias assentiu com a cabeça. Como os pesadelos, esses eram
sentimentos dos quais ela se lembrava muito bem.
— As sky-walkers estão sempre preocupadas em perder a nave ou fazer
algo errado.
— Embora os registros indiquem muito poucos desses incidentes, —
disse Thrawn. — E a maioria das naves afetadas eventualmente retornou
com segurança via salto em salto. — Ele fez uma pausa. — Presumo que a
Che’ri não está enfrentando nenhum desafio que você mesma não teve que
superar?
— Não, — Thalias respondeu com um suspiro silencioso. Ela realmente
não esperava que Thrawn a deixasse embarcar sem fazer uma verificação
nela, mas ainda esperava que ele, de alguma forma, não percebesse o fato
de que ela já fora uma sky-walker. — Além de toda a parte sobre voar para
um possível perigo.
— O perigo é uma parte implícita do que fazemos.
— Exceto que todos vocês se ofereceram para esta vida, — apontou
Thalias. — Nós, sky-walkers, não tivemos essa escolha.
Thrawn ficou em silêncio por um momento.
— Você está certa, é claro, — ele disse. — O bem maior da Ascendência
é o fundamento lógico. Também a verdade, é claro. Mas o fato permanece.
— Sim, — disse Thalias. — Pelo que vale a pena, não acho que
nenhuma de nós ressente o nosso serviço. Quero dizer, além dos medos e
pesadelos e tudo. E a Ascendência precisa de nós.
— Talvez, — disse Thrawn.
Ela franziu a testa para ele.
— Só talvez?
— Uma conversa para um outro dia, — respondeu Thrawn. —
Mostrador Quatro. Você vê isso?
Ela voltou a sua atenção para o painel de controle na frente deles.
Mostrador Quatro... Aquele.
Centrado na tela estava uma pequena fonte de calor. Uma fonte de calor
proveniente de uma posição orbital próxima ao planeta habitado do sistema.
Uma fonte de calor que o computador calculou como vindo diretamente
na direção deles.
— Eles nos avistaram, — ela respirou, o seu coração de repente batendo
forte em sua garganta.
— Talvez, — disse Thrawn, ainda parecendo pensativo. — O momento
certamente sugere isso, como foi há apenas trinta segundos que a nave
ativou os seus propulsores para este nível de potência.
— Está vindo direto em nossa direção, — ela disse, sentindo uma onda
repentina de claustrofobia na cabine muito apertada. Estavam em uma nave
auxiliar, não em uma nave de combate, sem armas, sem defesas e com toda
a capacidade de manobra de uma lesma do pântano. — O que nós fazemos?
— Isso pode depender de quem eles são e para onde estão indo, —
respondeu Thrawn.
Thalias franziu a testa para a tela.
— O que você quer dizer? Eles estão vindo em nossa direção, não estão?
— Eles também podem estar indo em direção a Falcão de Primavera, —
respondeu Thrawn. — Ou possivelmente é apenas uma viagem programada
para a estação de mineração e o momento é mera coincidência. Pela
distância deles, e neste ponto do caminho deles, é impossível definir com
mais precisão o seu ponto final derradeiro.
— Então, o que fazemos? — Thalias perguntou. — Podemos voltar a
Falcão de Primavera a tempo?
— Possivelmente, — respondeu Thrawn. — A questão mais imediata é
se nós queremos.
— Se nós queremos? — Thalias repetiu, olhando pra ele.
— Viemos aqui para descobrir se este é o ponto de origem dos
refugiados massacrados, — lembrou Thrawn. — A minha intenção era
estudar a estação de mineração, mas uma conversa direta seria mais rápida e
informativa.
— Só se eles não atirarem em nós à primeira vista.
— Eles podem tentar, — disse Thrawn. — Diga-me, você já disparou
uma charric?
Thalias engoliu em seco.
— Eu pratiquei com uma algumas vezes no campo de tiro, — ela disse.
— Mas sempre em baixa potência, nunca em alta.
— Não há muita diferença operacional entre essas configurações. —
Thrawn apertou algumas teclas no seu console. — Bem. A menos que a
nave aumente a sua velocidade nas próximas duas horas, nós devemos
chegar na estação de vinte a trinta minutos antes dela.
— E se ela tiver como objetivo a Falcão de Primavera? — Thalias
perguntou. — Não deveríamos avisá-los?
— Eu tenho certeza de que o Capitão Intermediário Samakro já os notou,
— garantiu Thrawn. — Mesmo que tenham visto a Falcão de Primavera, e
há uma boa chance de que não, acho que há uma maneira de garantir que os
nossos visitantes parem na estação primeiro.
— Como?
Thrawn sorriu.
— Nós os convidamos a entrar.

A estação de mineração estava equipada com vários portos de atracação,


agrupados em vários pontos ao redor de sua superfície. Um agrupamento
incluía dois dos chamados “portos universais” que muitas espécies da
região adotaram ao longo dos séculos para acomodar naves de tamanhos
variados. Thrawn atracou o transporte espacial em um deles, esperou até
que o sistema de limpeza biológica tivesse executado a verificação usual de
toxinas por risco biológico no ar da estação, então liderou o caminho para
dentro.
Thalias esperava que o lugar cheirasse a velho e mofo, talvez com o
cheiro pungente de comida podre ou, pior, corpos apodrecidos. Mas embora
houvesse um indício definitivo de estagnação, não era opressor. Sempre que
os proprietários da estação se retiravam, eles aparentemente o faziam de
maneira ordeira.
— Este é o lugar — disse Thrawn suavemente, direcionando a sua luz
para alcovas e quartos enquanto eles caminhavam por um amplo corredor.
— É daqui que eles vieram.
— As naves de refugiados? — Thalias perguntou.
— Sim, — confirmou Thrawn. — O estilo é inconfundível.
— Humm, — disse Thalias. Ela olhou para tudo o que ele tinha visto, e
ela não tinha a menor ideia do que ele estava visualizando. — E agora?
— Vamos para o centro de controle principal, — respondeu Thrawn,
acelerando o passo. — É onde nossos visitantes têm a maior probabilidade
de atracar.
— Como vamos encontrá-los?
— Nós passamos por dois esquemas de andares afixados nas paredes
desde que nós saímos do transporte espacial, — respondeu Thrawn,
franzindo a testa ligeiramente para ela. — Os principais centros de
comando e controle eram óbvios.
Thalias fez uma careta. Não apenas um esquema de um andar, mas dois
deles?
Certo. Então, talvez ela não tivesse visto tudo o que ele tinha.
Encontraram o centro de controle exatamente onde Thrawn previra que
estaria. Os controles e consoles foram rotulados com um script
desconhecido, mas tudo parecia organizado em um padrão lógico. Uma
pequena tentativa e erro com os controles, e de repente a sala brilhou com
luz.
— Assim é melhor, — disse Thalias, guardando a sua própria lanterna.
— E agora?
— Isso, — respondeu Thrawn, acionando mais alguns interruptores. —
Se eu li a organização do console corretamente, devemos agora ter ligado as
luzes externas da estação.
Thalias olhou para ele.
— Você...? Mas aquela nave nos verá.
— Eu disse que ia convidá-los para entrar, — lembrou Thrawn. — Mais
importante, esperamos que nossas luzes os distraiam da Falcão de
Primavera, caso o esconderijo dele tenha sido o destino original deles.
— Entendo, — Thalias disse, lembrando-se da charric guardada no seu
quadril. — Você não espera lutar contra eles, não é?
— Sim, eu espero evitar isso, — respondeu Thrawn. — A baia de
equipamentos com as maiores portas de atracação fica na borda a bombordo
da estação. Vamos esperar por eles lá. — Com uma olhada final ao redor no
centro de controle, ele se dirigiu para uma escotilha que conduzia naquela
direção.
Ao respirar fundo e calmamente, Thalias o seguiu.

A baia de equipamentos era maior do que Thalias esperava, apesar de que,


com os guindastes, elevadores de manobra, cabos suspensos, linhas de
ferramentas e racks de peças também houvesse menos espaço aberto do que
esperava. Ela e Thrawn tinham acabado de se instalar em frente ao porto
principal quando houve um sopro de ar ventilado e o porto começou a
trabalhar.
— Lá vêm eles, — ela murmurou, olhando por cima do ombro de
Thrawn enquanto ficava na frente dela, bloqueando parcialmente a sua
visão. Eles têm as suas mulheres em alta estima, Thrawn havia dito sobre
os alienígenas que estavam rastreando. Se estivesse certo, a posição
protetora dele na frente dela se conectaria com esse viés cultural.
— Sim. — Thrawn fez uma pausa, a cabeça inclinada como se estivesse
ouvindo.
Então, para a surpresa de Thalias, ele deslizou para atrás dela, invertendo
as suas posições originais para que ficasse na frente.
— O que você está fazendo? — ela exigiu, uma nova sensação de
vulnerabilidade inundando-a. As pessoas prestes a entrar, e quaisquer armas
que eles possam estar carregando...
A escotilha se dilatou e quatro criaturas emergiram.
Altura média, tórax e protuberâncias do quadril, pele rosada, cristas da
cabeça emplumadas. Exatamente como os corpos que Thrawn trouxera a
bordo da Falcão de Primavera da segunda nave de refugiados.
Ele realmente os havia encontrado.
Por um momento, os dois grupos se entreolharam. Então um dos recém-
chegados falou, com a sua voz rouca, as suas palavras eram
incompreensíveis.
— Você fala Minnisiat? — Thrawn falou de volta naquela linguagem
comercial.
O alienígena falou novamente, ainda usando a sua própria linguagem.
— Você fala Taarja? — Thrawn perguntou, mudando para esta.
Houve uma pequena pausa. Então um dos outros alienígenas deu um
passo à frente.
— Eu falo isso, — ele disse. — O que você faz aqui?
— Nós somos exploradores, — respondeu Thrawn. — Meu nome é
Thrawn. — Ele cutucou Thalias. — Diga a eles o seu nome.
— Eu sou Thalias, — Thalias disse, pegando a deixa e dando apenas o
seu nome central. Por alguma razão, Thrawn aparentemente não quis dar os
seus nomes completos.
Os olhos do alienígena se arregalaram e incharam um pouco enquanto
parecia estudá-la.
— Você é do sexo feminino?
— Sou, — respondeu Thalias.
O alienígena relinchando uma espécie de bufo.
— Então você, Thrawn, se esconde atrás da sua fêmea?
— De jeito nenhum, — respondeu Thrawn. — Estou protegendo-a com
o meu corpo daqueles que você enviou para atirar em nós pelas costas.
Thalias prendeu a respiração.
— Você está brincando certo? — ela murmurou.
Ela o sentiu balançar a cabeça.
— Eu senti a mudança no ar quando entraram na escotilha secundária
atrás de nós.
Thalias assentiu pra si mesma. Assim como ele absorveu rapidamente a
sensação no Tomra todos aqueles anos atrás, ele agora rapidamente
compreendeu os mesmos detalhes desta estação alienígena.
— Não planejamos violência, — disse o porta-voz alienígena
apressadamente. — Apenas cautela. A sua chegada foi inesperada e
estávamos preocupados com a nossa segurança.
— Peço desculpa por assustar vocês, — explicou Thrawn. —
Achávamos que esta estação estava abandonada. É por isso que viemos.
O alienígena deu outro relincho, um mais curto desta vez.
— Se você procura construir uma casa aqui, você escolheu
imprudentemente. Mesmo agora, pode ser tarde demais para você reverter
esse erro.
— Não viemos para morar, — disse Thrawn. — Como eu disse, nós
somos exploradores. Procuramos no Caos por obras de arte dos perdidos e
esquecidos.
O padrão manchado da pele do alienígena mudou.
— Você procura por obras de arte?
— A arte reflete a alma de uma espécie, — respondeu Thrawn. —
Procuramos preservar esse eco para aqueles que não conseguem preservá-lo
por conta própria.
Um dos outros alienígenas falou em sua língua.
— Ele fala que não há obras de arte aqui, — traduziu o porta-voz.
— Talvez haja mais arte tecida no design do que ele imagina, — disse
Thrawn. — Mas estou confuso. Não vejo evidência de catástrofe ou
destruição. Pelo contrário, a estação parece completamente funcional. Por
que vocês a abandonaram?
— Não a abandonamos, — respondeu o porta-voz, com a sua voz
visivelmente mais grave. — Fomos mandados embora por aqueles que
buscam o domínio sobre Rapacc e os Paccosh.
— Rapacc é o seu mundo, então? — Perguntou Thrawn. — E vocês são
os Paccosh?
— Somos, — respondeu o porta-voz. — Pelo menos neste momento. Os
Paccosh ainda podem deixar de existir. O futuro de cada e todo Pacc está
nas mãos dos Nikardun, e tememos contemplar isso.
— Os Nikardun são aqueles que nos seguiram através do seu sistema? —
Perguntou Thrawn.
Outro relincho.
— Se você acredita que eles só o seguiram, a sua ignorância é realmente
profunda. A intenção deles era capturar ou destruir você.
Thalias sentiu um arrepio percorrer as suas costas. Pelo que conseguia se
lembrar, nunca tinha ouvido nem um indício de informação sobre uma
espécie com esse nome. Definitivamente fora da vizinhança imediata e
muito provavelmente fora até mesmo da região mais ampla que a Frota
Expansionista havia explorado.
E se foi assim como se apresentaram, bloqueando o acesso a sistemas
inteiros, perseguindo e massacrando qualquer um que conseguisse sair, eles
provavelmente não se tornariam amigos da Ascendência em nenhum
momento.
— Ainda assim, eles devem segurar vocês e o seu mundo em mãos
soltas, — ela apontou, as palavras angulares de Taarja machucando a sua
boca. Taarja tinha sido sua língua comercial menos preferida durante a sua
escola, mas a família Mitth insistia que os seus adotados por mérito
aprendessem todas as formas de comunicação mais comuns da região. —
Caso contrário, como você está falando aqui conosco?
— Você acha que viajamos até aqui por nossa própria vontade? — O
porta-voz perguntou, abaixando a cabeça um pouco na direção dela. —
Você acha que nós mesmos removemos as armas e defesas da nave em que
chegamos? Raramente. As naves Nikardun que guardam as aproximações
de Rapacc não reconheceram o projeto da sua nave. Eles pensaram que esta
estação ainda pode ter sensores funcionando que podem ter coletado
detalhes importantes quando a sua nave passou por perto. Recebemos
ordens para vir aqui para saber se tais registros foram realmente feitos.
— Eles estavam corretos? — Perguntou Thrawn.
— Corretos sobre os sensores? — O porta-voz fez uma pausa, os seus
olhos passando rapidamente entre eles. — Por que você pergunta? Deseja
que os detalhes da sua nave permaneçam em segredo?
— Diz-se que existem aqueles que podem deduzir a origem de uma nave
a partir do seu projeto e estilo de voo, — respondeu Thrawn. — O líder
desconhecido desses Nikardun pode ser um deles.
— O líder deles não é desconhecido, — disse o Pacc, com uma pitada de
desgosto em seu tom. — O General Yiv, o Benevolente, veio pessoalmente
a Rapacc para falar sobre as suas demandas e compartilhar a sua vanglória
com os nossos líderes.
— Essas ações falam de confiança suprema, — disse Thrawn. — Ele vai
voltar em breve?
— Não sei, — respondeu o Pacc. — Mas certamente virão mais
Nikardun, e se não cumprirmos as ordens dos que estão atualmente aqui,
isso irá correr mal pra nós.
E se os Paccosh não conseguirem capturar os estranhos que passaram
pelas naves sentinelas e se esgueiraram a bordo da estação deles, Thalias
suspeitou, as coisas provavelmente iriam piorar.
— O que você vai fazer conosco? — ela perguntou.
O porta-voz voltou-se para os outros e, por um momento, todos se
consultaram.
— Muito bem, — disse Thrawn em voz baixa.
— O que você quer dizer? — Thalias perguntou.
— Essa pergunta foi melhor vindo de você do que de mim, — ele
respondeu. — A consideração deles pelas mulheres pode modificar a
resposta e influenciar a decisão deles a nosso favor.
— E se não funcionar?
— Então as charrics, — respondeu Thrawn, a sua voz calma, mas
determinada. — Você vai lidar com aqueles que estão na nossa frente. Farei
o mesmo com os que estão atrás.
A boca de Thalias ficou repentinamente seca.
— Você quer dizer apenas derrubá-los?
— Nós somos dois, — respondeu Thrawn. — Eles são quatro, mas,
contudo, muitos estão invisíveis e inumeráveis atrás de nós. Se eles
decidirem nos fazer prisioneiros, nossa única chance será um ataque
imediato e letal.
Um calafrio percorreu as costas de Thalias. Ser puxada para um tiroteio,
atirar e ser alvejada era uma perspectiva aterrorizante. Mas pelo menos ela
poderia entrar em uma batalha acalorada com a consciência principalmente
limpa.
O que Thrawn estava falando era sobre um assassinato franco e direto.
Os Paccosh encerraram a discussão deles.
— Nós não temos ordens a respeito de intrusos, — respondeu o porta-
voz. — Fomos enviados apenas para examinar os sensores. — O outro
alienígena disse algumas palavras. — Mas presumimos que os Nikardun
teriam exigido a sua captura se soubessem que vocês estavam aqui.
— Talvez, — disse Thrawn. — A questão mais importante é: o que o
Paccosh exige?
O porta-voz voltou-se para os demais. Thalias levou a mão ao cabelo,
fingindo ajustar algumas mechas, com sorte chamando um pouco mais de
atenção para si mesma.
— Se você permitir que partamos, garantirei que os Nikardun não nos
detectem — acrescentou Thrawn no silêncio.
— Como você pode ter certeza disso?
— Eles não detectaram a nossa chegada a este lugar, — respondeu
Thrawn. — Duvido que estejam mais atentos agora.
— Certamente viram você acender as luzes da estação.
— Certamente você pode ativar esses sistemas remotamente, — rebateu
Thrawn.
O porta-voz considerou e inclinou a cabeça.
— Sim. Podemos. — Ele soltou um suspiro. — O comandante decidiu.
Você pode partir em paz.
Thalias soltou a própria respiração em um suspiro silencioso de alívio.
— Obrigada, — ela disse.
— Você ainda não respondeu à minha pergunta anterior, — disse
Thrawn. — Os sensores da estação ainda estão operando?
O porta-voz relinchou.
— Nas semanas anteriores, os Nikardun ordenaram que desligássemos a
estação antes de abandoná-la, — ele respondeu. — Com a vida de cada
Pacc sob a espada deles, obedecemos às nossas ordens ao pé da letra. Não
há sensores em funcionamento.
— Tudo bem, — disse Thrawn. — Adeus, então, e que você ainda
encontre liberdade e paz. — Tocando o braço de Thalias, ele acenou com a
cabeça em direção à escotilha que os levaria de volta ao transporte.
— Espere.
Thalias virou para eles. O Pacc que havia feito todas as falas não Taarja
antes, aquele que ela identificou provisoriamente como o líder do grupo,
estava caminhando em direção a eles. Ela começou a dar um passo para
trás, mas parou quando Thrawn tocou novamente em seu braço.
— Este é Uingali, — disse o porta-voz quando o Pacc parou na frente de
Thrawn. — Ele tem algo que deseja dar a você.
Por um momento Uingali ficou imóvel. Então, com clara relutância, ele
ergueu as duas mãos na frente dele, uma mão puxando os dedos da outra.
Um momento depois, ele deslizou um anel duplo de dois dos dedos, os
anéis gêmeos conectados por uma malha curta e flexível. Outro momento
de hesitação e ele segurou o anel duplo na direção de Thrawn.
— Uingali foar Marocsaa, — ele disse.
— O anel duplo é uma valiosa herança do subclã Marocsaa, — explicou
o porta-voz em voz baixa. — Uingali deseja que você pegue e adicione à
sua arte, para que o subclã e o povo Marocsaa não sejam esquecidos.
Pela primeira vez desde que Thalias o conheceu, Thrawn pareceu
genuinamente surpreso. Ele olhou para Uingali, então para os anéis, então
para Uingali novamente. Então, ele estendeu a mão com a palma para cima.
— Obrigado, — ele disse. — Vou guardá-lo em um lugar de honra.
Uingali abaixou a cabeça em uma reverência enquanto colocava o anel
duplo na mão de Thrawn. Ele se endireitou, se virou e voltou para o outro
Paccosh. Eles se viraram em uníssono quando ele passou por eles, e os
quatro seguiram pela escotilha. Houve um sopro de ar atrás de Thalias, e ela
se sacudiu quando três outros Paccosh, aparentemente a força de apoio de
Uingali, passaram silenciosamente pelos dois Chiss e se juntaram aos seus
camaradas. Todos eles desapareceram de vista, a escotilha se fechando atrás
deles.
Thalias olhou para o anel duplo na palma da mão de Thrawn. Era feito
de um metal prateado, com uma série de arcos curvos em relevo na base.
Um agrupamento do que parecia ser pequenas cobras surgiu do centro dos
arcos, flanqueado por duas cobras muito maiores que se curvavam para
cima e ao redor, cruzando-se uma vez e terminando com suas cabeças e
bocas abertas apontadas desafiadoramente para cima.
Ela ainda estava estudando os anéis quando as luzes ao redor deles se
apagaram abruptamente.
— O que...? Oh, — ela acrescentou tardiamente. — Controles remotos.
— Uingali reforçando a ilusão para qualquer observador Nikardun, —
disse Thrawn enquanto acendia a sua própria luz. — Venha.
Ele se virou e caminhou em direção à escotilha.
— Já estamos voltando? — Thalias perguntou enquanto se apressava
para acompanhá-lo.
— Temos tudo o que o Supremo General Ba’kif nos enviou para
encontrar, — disse Thrawn. — Os refugiados assassinados eram Paccosh,
do sistema Rapacc, os seus opressores são chamados de Nikardun, e o líder
Nikardun é o General Yiv, o Benevolente. — Ele pareceu considerar. —
Além disso, talvez alguns fatos adicionais que Ba’kif não esperava.
— Tal como?
Thrawn ficou em silêncio por mais alguns passos.
— Localizamos os Paccosh em parte porque a nave dos refugiados veio
desta direção geral. Nós também presumimos que os Nikardun os seguiram,
ou de alguma outra forma anteciparam a chegada deles na Ascendência,
então ordenaram o ataque a Csilla a fim de desviar a nossa atenção da
destruição dos Paccosh.
Thalias acenou com a cabeça.
— Isso faz sentido.
— Mas isso leva a outra questão, — disse Thrawn. — Como os
Nikardun souberam montar a sua emboscada naquele local específico?
— Bem... — Thalias fez uma pausa, tentando pensar a respeito. —
Sabemos que as duas naves Paccian encontraram-se no sistema de quatro
estrelas antes que uma nave se dirigisse para a Ascendência. Talvez o
capitão tenha decidido que nós éramos a melhor opção para conseguir
ajuda, especialmente com uma das duas naves incapaz de continuar. Não sei
como eles sabiam onde nós estávamos, no entanto.
— Muitos dos alienígenas aqui sabem sobre nós, ou pelo menos têm uma
ideia geral de onde estamos, — disse Thrawn. — Embora a nossa reputação
frequentemente preceda qualquer conhecimento real. Você notará que os
Paccosh não pareciam reconhecer que éramos Chiss. Mas você perdeu o
ponto crítico da minha pergunta. A nave de refugiados deixou o hiperespaço
muito mais distante no sistema do que o necessário. Longe o suficiente para
que eles precisassem de várias horas de viagem espacial normal antes de
chegarem perto o suficiente para iniciar a comunicação. — Ele fez uma
pausa. — E longe o suficiente para que, quando a sua matança fosse
detectada, não haveria chance de que qualquer uma das naves patrulha
pudesse responder a tempo.
Thalias soltou uma maldição quando de repente ficou claro.
— A única maneira dos Nikardun estarem esperando pela nave é se o
navegador dos refugiados os trouxesse deliberadamente do hiperespaço
para lá. — Ela franziu o cenho. — Eles tinham um navegador, não é?
— Suponho que sim, — respondeu Thrawn. — Presumivelmente um
Guia do Vazio, como o da segunda nave. Observe também o fato de que não
encontramos tal corpo a bordo da primeira nave.
Ele parou de novo, claramente esperando que Thalias acompanhasse o
seu caminho lógico.
— Os Nikardun o levou com eles? — ela ofereceu.
— De fato, — concordou Thrawn. — Ele estava morto ou vivo?
Thalias mordeu o lábio. Como ela deveria saber disso?
Por falar nisso, por que Thrawn estava mesmo passando por esse quebra-
cabeça lógico com ela, especialmente desta forma? Era como as aulas de
deveres escolares que ela teve que assistir como uma sky-walker
ocasionalmente relutante, ou as mesmas aulas que agora estava tendo que
dar à Che'ri ainda mais relutante.
— Os Paccosh a bordo da outra nave morreram muito mais tarde do que
aqueles que foram atacados na Ascendência, — ele informou.
Thalias assentiu com a cabeça quando finalmente viu para onde estava
indo. Especialmente porque o segundo grupo foi asfixiado em vez de ser
assassinado como o primeiro.
— Ele estava morto, — ela respondeu. — Se ele estivesse vivo, teria dito
aos Nikardun onde a outra nave estava e teriam se deslocado e os
massacrado também, em vez de deixá-los morrer por conta própria.
— Excelente, — disse Thrawn. — Também percebemos que foram os
Paccosh, não os Guias do Vazio, que escolheram o sistema de quatro
estrelas como seu ponto de encontro.
— Certo, — Thalias disse, franzindo a testa. — Como isso nos ajuda?
— Isso pode não ajudar, — concedeu Thrawn. — Mas às vezes os
pequenos pedaços de conhecimento retornam de maneiras inesperadas. —
Ele gesticulou à frente. — De qualquer forma, acredito que aprendemos
tudo o que viemos aprender aqui. Um retorno furtivo a Falcão de
Primavera está agora em ordem, seguido por uma saída, esperançosamente,
desimpedida do sistema.
— Os Nikardun estarão observando, — Thalias avisou.
— Concordo, — disse Thrawn. — Mas depois da incursão da Vigilante,
espero que os Nikardun tenham puxado as suas linhas de sentinela para
mais perto do sistema interno. A nossa fuga deve ser simples, assim como o
nosso encontro com a Vigilante para resgatar a nossa sky-walker.
— E então de volta à Ascendência?
Thrawn olhou para o anel duplo na sua mão.
— Não agora, — ele respondeu. — Não, acho que iremos a um saguão
da Guilda de Navegadores e contrataremos um navegador.
Thalias franziu a testa.
— Você já disse que pegaremos a Che'ri.
— No caso de precisarmos dela, — disse Thrawn. — Mas o Paccosh
indicou que pode haver mais naves Nikardun chegando em um futuro
próximo. Há algo que quero fazer antes que isso aconteça.
— Ah, — Thalias disse cuidadosamente. A menos que a frota tivesse
mudado as regras, desde que ela foi uma sky-walker, um capitão que
quisesse expandir o escopo de uma missão deveria primeiro obter
autorização.
Mas isso realmente não era da conta dela.
— Você está procurando por um Guia do Vazio?
— Não, — respondeu Thrawn. Ele tocou o anel uma última vez, então o
colocou cuidadosamente no bolso. — Não, acho que há alguém que será
muito mais útil para nós.
— Cruzador diplomático Chiss chegando, — disse o despachante dos
Rastreadores, Prack, acima do burburinho da conversa que enchia o salão
da Guilda dos Navegadores. — Quem quer?
As conversas foram interrompidas como se uma porta se fechasse e
todos fizessem a sua melhor imitação de estar em outro lugar.
Incluindo Qilori de Uandualon. Ele se sentou imóvel em seu banco, com
os seus ombros curvados, ainda segurando a alça da sua caneca. Chiss.
Que sorte patética de estar de plantão quando um Chiss aparece.
— Qilori, onde você está? — o despachante continuou. — Vamos, Qilori,
eu sei que você está aqui.
— Ele está ali, — alguém duas mesas adiante disse prestativamente.
Qilori lançou ao outro navegador um olhar furioso.
— Sim, estou aqui, — ele rosnou.
— Bom pra você, — disse o despachante. — Pegue o seu fone de ouvido,
coloque a faixa para cima e deslize para baixo. Sua vez de ir pra caixa
quente.
— Sim, — Qilori rosnou de novo, as suas winglets das bochechas
estalando contra os lados da sua cabeça, com nojo, enquanto ele se
levantava e cruzava a sala até o despachante. Os outros Rastreadores
queriam zombar da sua tarefa suja, ele sabia, ele certamente fazia a sua
parte na zombaria quando a situação era trocada.
Mas nenhum deles ousou. Prack não hesitava em mudar a designação
no último segundo se alguém no topo da sua lista de reclamações
chamasse a sua atenção.
— Então, para onde eles estão indo? — ele perguntou.
— Bardram Scoft, — respondeu o despachante.
— O que eles estão indo fazer lá?
— Não sei; não me importo. Portão de embarque cinco; em quinze
minutos. — Ele deu a Qilori um sorriso malicioso. — Divirta-se.
Quinze minutos depois, com a sua bolsa de viagem pendurada no
ombro, Qilori observou o portão de embarque se abrir e um par de peles-
azuis de uniforme preto sair.
— Você é o nosso Rastreador? — um deles perguntou na linguagem
comercial Minnisiat.
Pelo menos esse bando não esperava que todos os outros no Caos
falassem Cheunh.
— Sou, — disse Qilori, acenando com a mão sobre a faixa de
identificação. — Eu sou Qilori de Uandualon. Eu sou um Classe Cinco...
— Sim, tudo bem, — interrompeu o pele-azul. — Vamos. Estamos com
pressa.
Ele se virou e voltou pelo portão. Qilori o seguiu, silenciosamente
amaldiçoando Prack por deixar cair esta tarefa sobre ele.
Ninguém ali gostava dos Chiss. Pelo menos, ninguém que Qilori
conheceu que tivesse trabalhado com eles gostava deles.
Não era apenas que se considerassem melhores do que todos os
outros. Afinal, a maioria das espécies tinha essa ilusão. Não, isso era
porque os Chiss pareciam pensar que não haviam mais ninguém ali para
se sentirem superiores. Tinham um ponto cego estranho e enfurecedor no
que diz respeito ao resto do Caos, como se todas as outras espécies
fossem inteiramente compostas de animais particularmente inteligentes ou
então tivessem sido trazidos à existência apenas para o benefício da
Ascendência.
Eles quase não viam ninguém. Eles certamente não se importavam com
ninguém.
A ponte era praticamente a mesma de todas as outras naves mercantes
e cruzadores diplomáticos dos Chiss que Qilori tinha visto: pequena e
eficiente, com leme, navegação, defesa e consoles de comunicação. O
capitão estava sentado em uma cadeira atrás do leme e dos consoles de
navegação, com outros Chiss nelas, exceto a posição de navegação.
Esse assento, é claro, era de Qilori.
— Rastreador, — disse o capitão, assentindo com a cabeça em saudação.
— Assim que você tomar o seu lugar, partiremos.
As winglets da bochecha de Qilori se achataram quando se sentou e
flexionou os dedos sobre os controles.
Certo. Divirta-se.


A viagem transcorreu sem intercorrências. No comando do capitão, Qilori
colocou o seu fone de ouvido de privação sensorial e entrou em seu
transe, deixando a Grande Presença sussurrar dentro e ao redor e através
dele.
Como de costume, a Grande Presença foi avarenta com a Sua sabedoria
e percepções, tornando a viagem um pouco mais lenta do que Qilori
gostaria. Felizmente, o espaço nesta parte do Caos era relativamente
harmonioso, com apenas algumas das anomalias que tornavam
navegadores como os Rastreadores necessários para viagens
interestelares de longo alcance. Eles chegaram a Bardram Scoft alguns
minutos antes do cronograma proposto pelo capitão, e em muito menos
tempo do que uma viagem salto em salto teria levado. Em resumo, Qilori
decidiu enquanto tirava o fone de ouvido, ele merecia o seu pagamento.
Ele piscou para afastar as teias de aranha pós-transe, flexionando a
rigidez dos seus dedos. O planeta apareceu grande na janela quando a
nave entrou em órbita. A ponte estava praticamente vazia, apenas com
Qilori e um piloto ainda lá.
— Onde está todo mundo? — ele perguntou.
— Preparando o embaixador para a cerimônia de boas-vindas, — disse o
piloto. — A cultura Scoftic exige que o oficial militar de mais alta patente
acompanhe o embaixador, e pode ser que haja outros protocolos a serem
observados.
— Talvez? — Qilori perguntou, franzindo a testa enquanto examinava o
céu. Havia muitas naves lá fora, mais do que ele já tinha visto em um
mundo atrasado como este. — Achei que vocês, Chiss, gostassem de estar
preparados para tudo com antecedência.
— Nós gostamos, — disse o piloto. — O governo de Scoftic mudou
novamente, e com ele os protocolos. Nosso embaixador deve reaprendê-
los.
— Ah, — disse Qilori. Então era isso. Um novo governo, e todos próximos
enviaram emissários para oferecer os seus melhores votos e avaliar o
recém-chegado. — Não sabia que o antigo Governador tinha estado
adoentado.
— Não estava, — disse o piloto. — Ele foi assassinado. Que nave é aquela?
— O que? — Qilori perguntou, os seus winglets tremulando de surpresa.
Assassinado? — E todo mundo está bem com isso?
— Não é inédito entre os Scofti, — respondeu o piloto calmamente. —
Aquela nave. Que nação ela representa?
Qilori espiou pela janela de exibição, ainda lutando com a casualidade
de tudo isso.
— Acho que é uma Lioaoin .
— É um novo design?
— Eu não sei. Como eu deveria saber?
— Você é um navegador, — respondeu o Chiss. — Você vê muitas naves,
de muitas nações.
— Sim, mas eu vejo principalmente apenas o interior, — Qilori explicou,
franzindo a testa. — Por que o interesse repentino?
— Essa embarcação mostra muitas das mesmas características de um
grupo de naves piratas que têm atacado cargueiros nos limites externos da
Ascendência Chiss.
— Sério? — Qilori perguntou, tentando soar surpreso. Correram rumores
sombrios entre os vários grupos de navegadores de que o regime de
Lioaoin se voltara para a pirataria para sustentar a sua economia
decadente. A maioria das histórias veio dos Guias do Vazio, que
trabalhavam mais naquela região em particular, mas ele ouviu alguns dos
seus companheiros Rastreadores falando sobre isso também.
Ele não poderia dizer isso ao piloto, é claro. As regras de
confidencialidade e neutralidade dos Navegadores da Guilda eram
inquebráveis. — Parece bastante improvável.
— Você não acredita que um grupo pirata compraria as naves deles de
um fabricante local?
— Oh, — Qilori disse, sentindo uma leve sensação de alívio. Então os
Chiss nem pensavam que os Lioaoi estavam oficialmente envolvidos. —
Não, entendo o que você quer dizer. Suponho que seja possível.
— Sim, — disse o piloto. — Você já viajou para o espaço Lioaoin?
— Uma ou duas vezes, sim.
— Você poderia encontrar o caminho até lá de novo?
— Da Ascendência Chiss? Claro. Eu poderia encontrar o meu caminho
para qualquer sistema que você quisesse. Isso é o que os navegadores
fazem.
— O Regime de Lioaoin servirá por enquanto, — disse o piloto. —
Suponha que eu quisesse me aproximar por uma direção diferente da
Ascendência? Digamos, daqui de Bardram Scoft?
— Estamos indo para lá?
O piloto olhou para fora do visor por outro momento.
— Ainda não, — ele respondeu, a sua voz pensativa. — Talvez mais tarde.
Qual o seu nome?
— Qilori de Uandualon, — Qilori disse, franzindo a testa. Para onde o
Chiss estava indo com essa linha de questionamento?
— Você normalmente é encontrado na estação da Guilda dos
Navegadores, onde o contratamos?
— Eu me movo muito entre as várias estações da guilda, — respondeu
Qilori. — Obviamente. Mas o Terminal Quatro Quarenta e Sete é a minha
estação base oficial.
— Bom, — disse o Chiss. — Talvez possamos trabalhar juntos no futuro.
— Isso seria maravilhoso, — disse Qilori, estudando o perfil do Chiss.
Poucos deles se preocuparam em aprender o seu nome, muito menos
querer saber como encontrá-lo. Poucos ainda se preocupariam em estudar
o design da nave de outras espécies.
Quem era esse Chiss, afinal?
— E o seu nome? — ele perguntou. — No caso de você pedir
especificamente por mim?
— Comandante Junior Thrawn, — respondeu o Chiss suavemente. — E
sim. Com certeza eu vou pedir por você.
Q ilori nunca esperou que o Chiss chamado Thrawn escurecesse o seu
céu novamente. Certamente esperava que não. Mas ainda assim, aqui estava
ele, de volta ao Terminal da Guilda, perguntando especificamente por Qilori
de Uandualon.
E um capitão sênior agora, para começar. Qilori não sabia muito sobre as
patentes militares e cronogramas de promoção dos Chiss, mas tinha a nítida
impressão de que Thrawn era mais jovem do que a maioria dos Chiss que
tinha alcançado esse posto.
Considerando o que aconteceu em Kinoss alguns anos atrás, ele supôs
que não deveria estar muito surpreso.
— É bom ver você de novo, Qilori de Uandualon, — disse Thrawn
enquanto Qilori era conduzido para a ponte.
— Obrigado, — Qilori disse, olhando ao redor. Nunca tinha estado em
uma nave de guerra Chiss antes, e a diferença entre esta e os seus cargueiros
usuais e os seus designados como cruzador diplomático era como a
diferença do doce para o azedo. Painéis de armas, painéis de defesa, painéis
de situação, vários monitores, uma guarnição completa de peles-azuis com
uniformes pretos...
— Você está familiarizado com o sistema Rapacc? — Perguntou
Thrawn.
Qilori desviou a sua atenção das luzes e mostradores, lutando para
manter as winglets de suas bochechas paradas. Rapacc. Esse era um dos
lugares que Yiv, o Benevolente tinha sob bloqueio, não era?
Sim, ele tinha certeza disso. Qilori não sabia o plano final de Yiv, se o
Benevolente anexaria diretamente o sistema ou deixaria os Paccosh como
tributários. Mas de qualquer forma, os Nikardun certamente já estavam lá.
O que a Grande Presença de Nome Thrawn queria em Rapacc?
— Rastreador? — Thrawn solicitou.
Abruptamente, Qilori lembrou que uma pergunta havia sido feita.
— Sim, eu conheço o sistema, — ele respondeu, novamente tentando
manter as suas winglets firmes. — Difícil de entrar. Nada muito interessante
depois que você faz.
— Você poderia se surpreender, — disse Thrawn. — De qualquer forma,
esse é o nosso destino. — Ele apontou para a estação do navegador. — À
sua conveniência.
Não havia nada a fazer. Regras da Guilda à parte, Qilori não poderia
dizer a Thrawn que os Nikardun ficariam tão felizes em cortar uma nave de
guerra Chiss em pedaços, quanto fariam com qualquer outro intruso
indesejado. Além de todas as outras considerações, um aviso como esse
poderia levar Thrawn a se perguntar como Qilori sabia tanto sobre Yiv e os
Nikardun, e onde aprendeu isso.
Então Qilori levaria os Chiss para Rapacc conforme ordenado. E pediria
para a Grande Presença que o supervisor Nikardun do sistema levasse
algum tempo para puxar o valioso e totalmente inocente Rastreador dos
destroços antes de ordenar a destruição final da nave.
Ele esperaria muito por isso, muito mesmo.

A ponte estava quieta quando Samakro entrou, com apenas o comando,


leme, armas primárias e estações de defesa primárias ocupadas. Além disso,
é claro, o estranho Rastreador sentado na estação de navegação e os dois
guardas armados com charric em cada lado da escotilha mantendo um olhar
atento sobre ele.
A Comandante Intermediária Elod’al’vumic estava sentada na cadeira de
comando, os dedos dela batendo silenciosamente e sem descanso no apoio
de braço enquanto ela olhava através da janela para o céu ondulante do
hiperespaço. Ela olhou para cima quando Samakro chegou ao lado dela.
— Capitão Intermediário, — ela o cumprimentou.
— Comandante intermediária, — Samakro a cumprimentou por sua vez.
— Algo a relatar?
— O Rastreador saiu do seu transe novamente uma hora antes, fez uma
pausa de dez minutos e voltou a usar o fone de ouvido, — respondeu Dalvu.
— Ele disse que outro turno de três horas deve nos levar a Rapacc. Nós
fizemos uma leitura de localização enquanto estávamos no espaço normal, e
parecia que estávamos na posição certa.
— Presumo que você relatou tudo isso ao capitão?
Os ombros de Dalvu deram uma pequena contração.
— Eu mandei a mensagem pra ele. Se ele percebeu ou não, é algo que
você teria que perguntar a ele.
Samakro sentiu os seus olhos se estreitarem. Um comentário
desrespeitoso que conseguiu não ultrapassar os limites e se tornar algo
acionável.
Dalvu não era do tipo de dar essas opiniões por conta própria, muito
menos ter a audácia de expressá-las. Aparentemente, Kharill estava
compartilhando o descontentamento dele em relação à nova estrutura de
comando com os seus colegas oficiais.
— Acredito que você encontrará o Capitão Thrawn no comando da
situação, — ele disse. — Mantenha as coisas como estão por mais uma
hora, então comece a colocar a Falcão de Primavera em situação de
combate. Vou nos querer em plena situação de batalha...
— Situação de combate? — Dalvu o interrompeu, arregalando os olhos.
— Nós estamos indo para o combate?
— Eu vou nos querer com os postos de batalha completos em trinta
minutos antes de chegarmos a Rapacc, — Samakro concluiu.
— Mas combate?
— Provavelmente, — respondeu Samakro. — Por que, você achou que
nós tínhamos algum outro motivo para voltar para Rapacc?
Os lábios de Dalvu se curvaram em uma quase carranca.
— Eu presumi que o Capitão Thrawn esqueceu algo e nós íamos voltar
para buscar.
Samakro olhou para ela, contando baixinho cinco segundos de silêncio.
A carranca de Dalvu desapareceu após os primeiros dois segundos, e no
quinto ela estava começando a parecer claramente desconfortável.
— Eu sugiro que você mantenha qualquer pensamento depreciativo
sobre o capitão para si mesma, — Samakro disse calmamente. — O estado
mental dele não é da sua conta, nem a aptidão dele para comandar, nem a
autoridade dele para dar ordens a bordo desta nave. Está claro, Comandante
Intermediária?
— Sim, senhor, — respondeu Dalvu em um tom mais moderado. —
Mas... estamos autorizados a lutar contra essas pessoas?
— Estamos sempre autorizados a nos defender, — Samakro a lembrou.
— E dada a reação das naves de bloqueio na nossa última incursão, suspeito
que não teremos que esperar muito nesse sentido.
— Sim, senhor — murmurou Dalvu, baixando o olhar.
Samakro apertou os lábios, o seu aborrecimento com ela relutantemente
desaparecendo. Infelizmente, ela tinha razão. Eles foram bem na sua última
tentativa no sistema; mas daquela vez eles tinham um Nightdragon
aguardando de reserva. Agora eram apenas eles.
— Você não estava a bordo da Falcão de Primavera quando Thrawn era
o primeiro no comando, estava?
— Não, senhor, — respondeu Dalvu. — Mas eu ouvi histórias da sua...
imprudência.
— Melhor deixar isso de lado, — aconselhou Samakro. — Só porque
Thrawn não expõe as suas táticas com antecedência para que todos vejam,
não significa que ele não as tenha. O que quer que ele tenha planejado para
hoje, ele nos levará a superar.
Ele respirou fundo e olhou novamente para fora da janela.
— Confie em mim.

Já era tempo.
O disco cintilante da Grande Presença apareceu nos olhos cegos de
Qilori. O estrondo ondulante ecoou em seus ouvidos bloqueados.
Alcançando cegamente a alavanca do hiperpropulsor à sua direita, tirou a
barra de travamento e envolveu a alavanca com os dedos. Esperou até que o
disco enchesse a sua visão, então delicadamente empurrou a alavanca para
frente. Esperou mais um momento, saboreando a experiência uma última
vez, então desligou a parte de bloqueio de som do seu fone de ouvido.
A Grande Presença desapareceu quando um zumbido baixo de vozes de
Chiss encheu os seus ouvidos. Tirou o fone de ouvido, piscando enquanto
os seus olhos se ajustavam à luz silenciosa da ponte e espiava pela janela.
Eles haviam chegado.
Casualmente, olhou ao seu redor. Todas as estações estavam ocupadas,
mas nenhum dos Chiss parecia estar olhando para ele. Mantendo seus
movimentos pequenos, ele alcançou uma das bolsas de armazenamento
embutidas em sua faixa de identificação e acionou o seu comunicador. Ele
passou os últimos três períodos de descanso gravando uma mensagem para
as naves Nikardun à espreita lá fora e, em seguida, descobrindo como
conectar-se ao transmissor de curto alcance da nave.
Uma voz aguda do Chiss na estação do sensor cortou o zumbido de
conversa. Qilori correu os olhos rapidamente pelos monitores, encontrou a
tela tática...
Sentiu as winglets da sua bochecha vibrarem. Três naves navegavam em
direção a Falcão de Primavera, uma de estibordo e as outras duas por trás.
As marcações no visor estavam todas em escrita Cheunh ilegível, mas sabia
que as naves tinham que ser Nikardun.
A suas winglets vibraram com mais força. Se os atacantes tivessem
recebido a sua mensagem, e se o comandante do bloqueio decidisse que
valia a pena salvar um Rastreador, poderiam pegar leve com a sua presa,
pelo menos até que tivessem tirado a maior parte de vida dela.
Se o comandante não estivesse se sentindo tão caridoso, Qilori tinha
visto a sua última aproximação estelar.
O convés deu um solavanco repentino. Qilori estremeceu em resposta,
esperando ver um brilho de fogo laser ou uma parede de chamas de um
míssil através da parede da ponte. Mas nada. Olhou para a tela tática
novamente, franzindo a testa.
E tenso. O choque não foi um ataque Nikardun, mas o recuo foi de uma
nave separando-se do flanco da Falcão de Primavera. Mesmo enquanto
observava, a nave se dirigiu ao sistema interno e ao planeta Rapacc em uma
aceleração incrivelmente alta.
Cerrou os dentes. Se Thrawn esperava que quem estava lá escapasse, já
havia perdido a sua aposta. Os dois perseguidores da popa desviaram,
acelerando por sua vez enquanto perseguiam a nave de transporte. Qilori
não conseguia ler as marcações nas curvas de velocidade por interceptação,
mas não tinha dúvidas de que os dois Nikardun pegariam a nave muito
antes dela alcançar Rapacc ou mesmo a segurança relativa de um dos
aglomerados de asteroides. Eles a pegariam e, com uma rajada de fogo laser
ou a torção mais delicada de um raio trator, eles a destruiriam ou
capturariam.
Na tela tática, viu que a Falcão de Primavera, com a sua missão
aparentemente cumprida, estava agora se afastando do sistema interno e da
nave de transporte em fuga. Tentando, sem dúvida, se livrar da coleção de
detritos em órbita do sistema e chegar a um ponto seguro de salto no
hiperespaço antes que o seu perseguidor remanescente pudesse entrar no
alcance de combate. Qilori olhou para a tela tática, notando que o Nikardun
havia aumentado a sua própria velocidade.
Ele franziu a testa. O perseguidor restante. A última das três naves
Nikardun que estavam paradas no ponto de entrada da Falcão de
Primavera, e pronta para entrar na batalha.
Um ponto que Thrawn havia especificado deliberadamente entre o
punhado de vetores seguros disponíveis. Foi simplesmente má sorte que os
levou a um ponto onde três Nikardun estavam esperando?
Talvez. Talvez se simplesmente não soubesse o suficiente sobre o
sistema.
Mas, nesse caso, por que não saiu do hiperespaço muito mais longe e fez
pelo menos um rápido reconhecimento antes de comprometer a si mesmo e
a sua nave com esse vetor? Pelo menos então poderia ter encontrado um
caminho ou rota que daria a sua nave uma chance melhor de chegar a algum
lugar antes de ser destruída.
Um calafrio percorreu as suas costas. Não, Thrawn não poderia ser tão
míope. Não o Thrawn cujas táticas de batalha Qilori tivera o azar de ver em
primeira mão.
O que deixava apenas uma outra opção. Thrawn havia chegado neste
vetor em particular porque queria que os Nikardun o atacassem.
Qilori olhou pra frente e pra trás entre as bancadas de telas, tentando
entender tudo isso. A Falcão de Primavera era apenas uma finta, uma
distração para deixar o verdadeiro intruso entrar no sistema Rapacc sem
impedimentos? Poderia haver alguém lá fora seguindo para os aglomerados
de asteroides, talvez, movendo-se furtivamente na esperança de que, com a
atenção dos Nikardun focada aqui, eles não fossem localizados até que
fosse tarde demais?
Mas não conseguia ver nada parecido em nenhuma das telas. Nenhuma
outra nave, nenhum outro vetor, nenhuma indicação de qualquer outra coisa
no sistema. Certamente os Chiss teriam as suas próprias embarcações
marcadas, mesmo que fossem furtivas e indetectáveis para os Nikardun.
Não teriam eles?
A nave patrulha Nikardun em perseguição aumentou a velocidade. Qilori
observou nervosamente quando ela finalmente atingiu o alcance de tiro...
Abruptamente, como se Thrawn acabasse de notar a ameaça surgindo a
estibordo, a Falcão de Primavera deu uma guinada brusca para longe do
seu atacante. A nave perseguidora abriu fogo com os seus lasers de
espectro, e um grande pedaço de destroços se desprendeu do flanco da nave
Chiss e caiu pra trás. A Falcão de Primavera mudou de direção, apenas
ligeiramente, o Nikardun ajustando o seu próprio vetor para corresponder.
E de repente Qilori percebeu o que estava acontecendo. O objeto caindo
atrás da Falcão de Primavera não eram os destroços da batalha do ataque
Nikardun, como ele pensava. Era, na verdade, outra das naves de transporte
da nave Chiss.
E o Nikardun, agora disparando em direção a Falcão de Primavera em
alta velocidade, estava prestes a bater direto nela.
O primeiro pensamento horrível de Qilori foi que o transporte espacial
iria se chocar contra o visor de grandes dimensões da ponte que marcava
todas as naves de combate de Yiv. Mas o capitão Nikardun avistou o
obstáculo a tempo de girar a nave para o lado.
Infelizmente, não houve tempo para girar o suficiente. O transporte
espacial perdeu a janela ao chocar contra o agrupamento de armas de
bombordo, destruindo aquele grupo de lasers e lançadores de mísseis e
fazendo a nave girar.
Um segundo depois, a paisagem estelar fora da janela da Falcão de
Primavera girava loucamente enquanto a nave Chiss fazia a sua própria
rotação. Qilori agarrou seus apoios de braço, lutando contra a vertigem,
enquanto o movimento da Falcão de Primavera trouxe a popa do tombado
Nikardun à vista. Houve um brilho múltiplo de fogo laser, e o brilho
amarelo ardente dos bicos do propulsor do Nikardun chamejou uma vez e
depois desapareceu quando os motores danificados atrás dos bicos
desligaram. Qilori prendeu a respiração, esperando pela salva de tiros que
transformaria a nave indefesa em pó.
A salva não veio. Em vez disso, a Falcão de Primavera desacelerou,
esperando o impulso dos Nikardun para trazê-la mais perto. A nave Chiss
moveu-se pra cima e pra baixo, estabelecendo-se acima da crista dorsal do
sensor do Nikardun, fora da linha dos aglomerados de armas restantes do
flanco. Na tela tática, as linhas verdes de dois feixes de trator surgiram,
conectando as duas naves. O círculo nebuloso de uma rede Incapacitadora
saiu do casco da Falcão de Primavera entre os projetores de raio trator e
envolveu a embarcação Nikardun, enviando uma carga de alta voltagem
pelo casco e eliminando a possibilidade de que a tripulação pudesse ativar
um sistema de destruição.
E quando a Falcão de Primavera se voltou em direção ao hiperespaço,
todas as peças finalmente se encaixaram no padrão deles.
A nave em fuga, funcionando em automático, Qilori percebeu agora,
tinha sido realmente uma distração. Mas não para a segunda nave Chiss.
Isto era só o Thrawn, e os trouxe para aquele local específico porque queria
que os Nikardun o perseguissem. Essa coisa toda nunca foi sobre morte,
destruição, infiltração, ou mesmo apenas entregar uma mensagem a Yiv.
Thrawn simplesmente entrou na esperança de capturar uma nave Nikardun.
E ele fez isso.
— Rastreador? — A voz de Thrawn veio bem atrás dele.
Qilori estremeceu.
— Sim Capitão? — ele gerenciou.
— Estaremos viajando para um sistema próximo para entregar o nosso
prêmio, — disse Thrawn. Disse isso tão casualmente também, como se eles
tivessem acabado de pegar um pedido de mantimentos na loja da esquina.
— Depois disso, voltaremos ao Terminal Quatro Quarenta e Sete. Você vai
precisar de um tempo de descanso antes de partirmos?
— Não, não por enquanto, — respondeu Qilori. Thrawn pode não
parecer ansioso por deixar esta vizinhança pra trás, mas Qilori com certeza,
como a Grande Presença estava.
— Ótimo, — disse Thrawn. — Acredito que você achou o exercício
interessante?
Com esforço, Qilori espalmou as suas winglets contra as bochechas.
— Sim, capitão, — ele respondeu. — Muito interessante mesmo.

Não era fácil nem mesmo para um Rastreador requisitar uma nave para o
seu uso pessoal. Mas Qilori estava no Terminal tempo suficiente para
acumular uma coleção de favores devidos.
O mais importante, tinha uma coleção de material de chantagem contra
várias pessoas importantes. Entre os favores e as ameaças, logo se viu
fugindo da estação, com destino ao sistema Primea, capital do Combinado
Vak.
Trinta e cinco horas depois, ele estava lá.
Primea estava no estágio inicial de uma conquista Nikardun, o que
significava que Yiv ainda estava cumprimentando e se reunindo com líderes
planetários, falando sobre os benefícios de se juntar ao Destino Nikardun e
deixando as suas naves de guerra em órbita fornecerem um aviso silencioso
do que aconteceria se eles se recusassem. Qilori deu seu nome e a urgência
da sua missão ao primeiro porteiro, ao segundo porteiro e ao terceiro. Seis
horas após a sua chegada, ele foi finalmente conduzido à sala do trono de
Yiv a bordo do Couraçado de Batalha Imortal.
— Ah, Qilori! — Yiv chamou, com a sua alegre voz estrondosa ecoando
na quietude opressora da sala do trono. Dobrados sobre os ombros como
dragonas vivas estavam os fios fungóides das estranhas criaturas que ele
assumiu como simbiontes. Sua mandíbula fendida estava aberta no que
passava por um sorriso para um Nikardun, mas que Qilori sempre achou
que parecia mais um predador se preparando para atacar.
Pelo menos ele estava de bom humor, Qilori pensou com uma pontada de
alívio. As conversas com os Vaks devem estar indo bem.
— Venha. Diga-me quais notícias você traz dos lábios da Grande
Presença.
Qilori fez uma careta enquanto caminhava na manopla entre as duas
linhas de soldados Nikardun vigilantes. Yiv estava zombando dele, é claro,
como zombava ou rejeitava a todos os que não acreditavam apenas na
divindade do próprio Yiv. Mas agora o famoso ego do Benevolente não era
tão preocupante quanto o seu temperamento um pouco menos famoso.
Qilori nunca trouxera más notícias a Yiv antes. Não tinha ideia de como
esses mensageiros eram tratados.
— Trago notícias de Rapacc, sua Benevolência, — ele disse, parando
entre o último par de guardas na manopla e caindo pra frente para deitar de
bruços no convés frio aos pés de Yiv. — Notícias e um aviso.
— Essa notícia já foi dada, — disse Yiv, com o seu jeito jovial anterior
desaparecendo como o orvalho da manhã sob dois sóis. — Você acha que
vai perder o meu tempo com uma história que já conheço?
— De jeito nenhum, sua Benevolência, — Qilori respondeu, com as suas
costas coçando com os olhos e as armas que sem dúvida estavam
direcionadas nelas. — Já esperava que você soubesse que uma de suas
fragatas de bloqueio foi capturada. O que eu vim aqui para acrescentar a
essa história é o nome do responsável.
— Você era o navegador nessa nave?
— Sim, sua benevolência. Ele pediu especificamente por mim.
Por um longo momento, Yiv permaneceu em silêncio. Qilori manteve a
sua posição, tentando ignorar a sensação arrepiante ondulando por sua pele.
— Levante-se, Rastreador — disse Yiv por fim. — Levante-se e conte-
me tudo.
Com uma sensação de alívio, Qilori ficou de pé. Algo bateu em seus
ombros com um golpe curto, mas forte; apressadamente, ele caiu de
joelhos.
— O Chiss veio e me contratou...
— O nome dele, Qilori, — Yiv disse, sua voz suave e mortal. — Eu já
sei que a nave era Chiss. Eu quero o nome dele.
As winglets de Qilori vibraram.
— Thrawn. Capitão Sênior Thrawn.
— Seu nome completo.
As winglets endureceram em pânico.
— Eu não sei, — ele respirou. — Eu nunca o ouvi.
— E você não se preocupou em aprender pra mim?
— Sinto muito, — respondeu Qilori, olhando para os pés de Yiv, sem
ousar levantar os olhos para aquele rosto jovial e implacável. Ele iria morrer
hoje, ele sabia com uma sensação sombria de sua frágil mortalidade. A
Grande Presença o esperava.
Ele seria absorvido e perdido para sempre? Ou ele seria considerado
digno de cavalgar as cristas do hiperespaço, guiando futuros Rastreadores
através do Caos?
Por um longo momento, a sala ficou em silêncio.
— Você o encontrará de novo, — disse Yiv por fim. — Quando o fizer,
obterá para mim o nome completo dele.
— Claro, sua Benevolência, claro, — Qilori disse rapidamente, temendo
a esperança cantando de repente através dele. Misericórdia? De Yiv, o
Benevolente?
Não, claro que não. Yiv não sentiu misericórdia. Qilori era simplesmente
uma ferramenta que ainda valia a pena manter.
Para o momento.
— Volte para a sua estação, — disse Yiv. — Guie as suas naves. Faça o
seu trabalho. Viva sua vidinha patética. E me traga o nome dele.
— Eu irei, — Qilori prometeu. — Enquanto a respiração permanecer em
mim, eu nunca vou deixar de servi-lo.
— Exatamente, — disse Yiv, uma pitada de seu humor habitual
finalmente aparecendo na escuridão. — Enquanto a respiração permanecer
em você.
O General Ba’kif terminou de ler a proposta e ergueu os olhos do seu
questis.
— Você está falando sério, Comandante Júnior, — ele disse
categoricamente.
— Muito sério, General, — confirmou o Comandante Júnior Thrawn. —
Estou convencido de que o governo Lioaoin está conectado aos piratas
que tem atacado os nossos transportes em Schesa e Pesfavrinos nos
últimos meses.
— E você acha que este Rastreador sabe disso?
— Qilori, — respondeu Thrawn. — Sim, ele sabe, ou pelo menos suspeita.
— Seria difícil manter um segredo como esse da Guilda de
Navegadores, — concordou Ba’kif, estudando novamente os números. Um
salto em salto do espaço Lioaoin para os mundos da Ascendência afetados
certamente seria mais seguro para aqueles com intenções criminosas, sem
a necessidade de envolver testemunhas externas. Mas tal viagem levaria
pelo menos três semanas de viagem em cada sentido. Nessas
circunstâncias, era razoável que os piratas optassem por velocidade e
eficiência, contando com a confidencialidade da guilda para manter o seu
segredo. — Você tem certeza de que as naves são as mesmas?
— Os designs são diferentes o suficiente para impedir conexões óbvias,
— respondeu Thrawn. — Mas existem semelhanças notáveis que vão além
da mera funcionalidade.
Ba’kif assentiu. Ele havia tido algumas conversas com a Capitã
Intermediária Ziara sobre as teorias de arte e táticas de Thrawn, e eles
relutantemente concluíram que nenhum deles tinha qualquer centelha de
visão ou gênio, ou insanidade, necessários para fazer as conexões que
Thrawn parecia fazer para compreender intuitivamente.
Mas só porque não podiam ver, não significava que ele estava errado.
— Suponha que você esteja certo, — ele disse. — Além disso, assuma que
você pode provar isso. O que fazer então?
Uma carranca enrugou a testa de Thrawn.
— Eles atacaram as naves da Ascendência, — ele respondeu, como se
esperasse uma armadilha oculta nas palavras de Ba’kif. — Nós distribuímos
punições.
— E se os próprios Lioaoi não estiverem envolvidos? — Perguntou Ba’kif.
— E se os piratas simplesmente compraram ou alugaram naves Lioaoin?
— Eu não estava sugerindo que atacássemos o Regime de Lioaoin ou os
mundos, — respondeu Thrawn. — Apenas os piratas.
— Se você puder distingui-los dos inocentes, — Ba’kif avisou. — Temos
poucos dados sobre o design atual das naves Lioaoin. Por falar nisso, os
Lioaoi e os piratas poderiam ter comprado a mesma nave de um terceiro.
— Entendo, — disse Thrawn. — Mas acredito que poderei deixar claro
quais naves são inimigas e quais são amigas.
— Vou me contentar com quais são as inimigas e quais são as neutras, —
disse Ba’kif amargamente. — A Ascendência mal reconheceu a existência
de outros lá fora, muito menos mostrou qualquer interesse em fazer
amizade com qualquer um deles.
— Inimigos e neutros, então, — Thrawn emendou. — Se não conseguir
fazer uma distinção clara, não irei tomar nenhuma providência.
Por um momento, Ba’kif olhou pra ele. O homem era inteligente o
suficiente, e Ba'kif tinha visto as suas habilidades estratégicas e táticas.
A questão era se talvez tivesse um pouco de confiança demais em si
mesmo. Se tivesse, e se essa confiança o fizesse ultrapassar os limites,
alguma operação no futuro poderia explodir na sua cara. Possivelmente a
mesma operação que estava propondo agora.
Mas esse grupo específico de piratas estava se tornando mais do que
apenas um incômodo. Eles precisavam ser tratados antes que alguém
tivesse a ideia de que a Ascendência poderia ser atacada impunemente.
Se Thrawn achou que tinha encontrado a alça de que precisavam, valia a
pena tentar.
— Muito bem, Comandante Júnior, — ele disse. — De quantas naves você
precisa?
— Apenas duas, senhor. — Thrawn considerou. — Não. Na verdade, seria
melhor se eu tivesse três.


A sensação da Grande Presença desapareceu e Qilori removeu o seu fone
de ouvido para descobrir que haviam chegado. O mundo central do
Regime de Lioaoin se estendia diante deles, verde, azul e branco, cercado
por um enxame de cargueiros, mensageiros, estações de ancoragem e
reparos e naves patrulha militares vigilantes.
Com o canto do olho, ele viu Thrawn se inclinar pra frente.
— Bem? — Qilori perguntou com cuidado.
Por alguns segundos, Thrawn ficou em silêncio. Então ele assentiu com
a cabeça.
— Sim, — ele disse. — Estas são as naves.
Qilori estremeceu, as winglets da sua bochecha enrijeceram.
— Você tem certeza?
— Muita certeza, — respondeu Thrawn. — O design das embarcações de
patrulha é semelhante o suficiente aos das naves piratas para não deixar
dúvidas.
— Entendo, — disse Qilori. Na verdade, não entendia, pra ele, as naves-
patrulha não se pareciam em nada com as que os corsários de Lioaoin
usavam.
Mas o que ele pensava não importava. Thrawn estava convencido, e se
informasse à Ascendência, provavelmente haveria uma resposta altamente
letal. E era igualmente provável que mais do que alguns Rastreadores
ficassem no meio.
Se Thrawn poderia realmente transmitir essa informação a alguém
importante, é claro, era a questão crucial. O seu cargueiro já estava
profundo o suficiente no poço gravitacional do planeta que o hiperdrive
era inútil, e o seu curso atual os estava levando cada vez mais fundo. Se
Thrawn desviasse agora e voltasse para o espaço profundo, eles poderiam
estar longe antes que alguém começasse a se perguntar por que um
cargueiro Chiss repentinamente decidiu que não queria fazer negócios
com os Lioaoi, depois de tudo.
Mas Qilori não tinha muita esperança de que Thrawn fosse inteligente o
suficiente para simplesmente parar e sair correndo.
Novamente, ele estava certo.
— Preciso olhar mais de perto, — disse Thrawn, pegando os controles do
leme e mergulhando mais fundo no poço gravitacional em direção a um
par de naves patrulha flutuando ao lado de uma das docas de reparo. —
Suspeito que a nave dentro daquela estação seja uma das que
recentemente atacou o sistema Massoss.
— Esta é uma má ideia, — Qilori avisou, com os seus winglets
pressionando firmemente contra as suas bochechas. — Se o Regime de
Lioaoin estiver envolvido com os piratas, você corre o risco de provocar
um enorme ninho de ferrão.
— Você está dizendo que o regime está envolvido? — Thrawn perguntou
friamente, virando aqueles olhos vermelhos brilhantes para Qilori.
Qilori continuou olhando, amaldiçoando-se por dizer até mesmo isso. A
primeira coisa que todo grupo de navegação aprendia quando se juntava
à Guilda dos Navegadores foi que era proibido falar sobre um cliente para
o outro. A atividade criminosa mais hedionda precisava ser tão protegida
de exposição quanto a mais inocente passagem de cargueiro ou exercício
militar.
Mas agora, as violações do protocolo eram a menor das preocupações
de Qilori. Pouco antes deles chegarem ali, bem quando seu transe estava
aumentando, ele sentiu através da Grande Presença que havia outros
companheiros Rastreadores por perto. Se eles estivessem a bordo de
algum dos corsários, e se algum desses corsários estivesse preparado para
o voo, eles poderiam seguir Qilori sem esforço pelo hiperespaço, não
importando quantas travessuras ou recursões Thrawn tentasse.
E nenhum dos corsários provavelmente se importaria se silenciar um
Chiss problemático também exigisse a morte de um Rastreador inocente.
— Não sei se o regime faz parte disso, — ele disse. — Apenas confie em
mim quando digo que este não é um lugar seguro para se estar.
Thrawn não estava ouvindo. Ele estava olhando para as naves e as
docas, os seus olhos brilhantes se estreitaram ligeiramente.
— Falo sério, — disse Qilori, tentando uma última vez. — Se eles
suspeitarem que você está caçando piratas...
— Você acha que eles apenas suspeitam? — Thrawn ecoou. Ele inclinou a
cabeça. — Sim; questão anotada. Vamos remover todas as dúvidas
remanescentes. — Ele apertou o comunicador...
E de repente foi como se ele tivesse perdido os sentidos.
— Alerta! — Thrawn chamou. — Eu encontrei os piratas. Repito: eu os
encontrei. Saiam daqui e voltem para relatar!
Qilori engasgou. O que em...?
— Thrawn...?
Thrawn desligou o comunicador.
— Pronto, — ele respondeu, sua voz e expressão de volta à sua frieza
usual. — Agora eles sabem com certeza.
— O que nas profundezas você fez? — Qilori disse em uma voz
estrangulada. — Você acabou de pintar uma marca de morte em nós. Eles
virão atrás de nós...
— Lá vão eles, — disse Thrawn, apontando para um ponto na tela
principal.
Qilori olhou para a tela a tempo de ver uma nave tremeluzir e
desaparecer no hiperespaço.
— A minha segunda nave, — identificou Thrawn. — Um dos meus colegas
está a bordo, com um dos seus navegando de volta para a Ascendência. —
Ele virou o manche do leme e o cargueiro se curvou suavemente para
longe do planeta. — E agora, como você sugere, é hora de sair.
— Sim, vamos, — murmurou Qilori, afundando em sua cadeira enquanto
Thrawn colocava os propulsores em potência máxima. As naves de
patrulha estavam começando a se mover, e quando Qilori olhou para as
baías de ancoragem de órbita alta, ele viu três corsários emergirem, seus
próprios propulsores em chamas enquanto se dirigiam para ele e Thrawn,
na esperança de interceptá-los antes que pudessem escapar para o
hiperespaço.
Ou Thrawn também os viu ou então antecipou a resposta. Ele já estava
nisso, mudando o curso do cargueiro para um vetor que o deslizaria além
da armadilha potencial.
Mas isso não faria bem a ele. Os corsários estavam em movimento e, se
houvesse Rastreador a bordo, não havia nada que Thrawn pudesse fazer
para impedi-los de segui-lo de volta ao espaço dos Chiss. Eles o pegariam,
junto com a nave reserva tão inteligente que já havia partido, e as naves
Lioaoin continuariam a atacar e saquear todos na região.
Talvez os corsários tentassem resgatar Qilori e o outro Rastreador antes
de destruir as naves Chiss. Provavelmente não.
Mas, neste ponto, tudo o que ele podia fazer era ter esperança.
— Para onde estamos indo? — ele perguntou enquanto se aproximavam
da borda do poço de gravidade.
— Kinoss, — respondeu Thrawn. — É o sistema mais próximo, e deve
haver mensageiros rápidos lá que podem levar a nossa mensagem para
Csilla e Naporar.
— Tudo bem, — Qilori disse, colocando as mãos nos controles. Talvez um
dos dois cargueiros Chiss pudesse pelo menos enviar uma mensagem
antes que os corsários obstruíssem as suas transmissões e os destruíssem.
Provavelmente não.


O transe desta vez foi um dos mais difíceis que Qilori já experimentou. No
topo das complexidades do curso usual estava uma malha sobreposta de
imagens sombrias e perturbadoras, visões de naves perseguidoras
guiadas por outros Rastreadores. Ele quase perdeu o caminho mais vezes
do que gostaria de se lembrar, e duas vezes foi forçado a retornar ao
espaço normal para recuperar a sua conexão com a Grande Presença.
Thrawn não disse nada durante esses rearranjos. Provavelmente
sonhando com a glória por acabar com a ameaça dos piratas, ou
presumindo que a gagueira do curso impediria qualquer perseguição.
O outro cargueiro Chiss já havia chegado quando eles finalmente
alcançaram o sistema Kinoss. Qilori podia ver os propulsores dele à
distância à frente, conduzindo a nave em direção ao planeta. Mesmo
quando Qilori terminou de sair do seu transe, Thrawn assumiu os controles
e virou para segui-lo.
Futilidade. Mesmo antes que os propulsores estivessem com potência
total, quatro corsários Lioaoin apareceram no visor de popa.
— Ah, — disse Thrawn, ainda com aquela calma enlouquecedora. —
Nossos convidados chegaram.
— Estou tão surpreso, — murmurou Qilori.
— Duvido disso, — disse Thrawn. — Eu fiz alguns estudos sobre os
Rastreadores depois do nosso primeiro encontro. Seus colegas podem
rastreá-lo através do hiperespaço, não é?
Qilori lançou-lhe um olhar assustado. Era para ser um segredo profundo
e sombrio.
— Isso... não. Não é verdade.
— Eu acho que é. — Thrawn gesticulou para a tela da popa. — O estilo
Rastreador ficou evidente no último ataque pirata. Eu esperava que você e
eu chegássemos ao mundo central de Lioaoin antes que aqueles
navegadores fossem devolvidos às suas bases.
— Você queria que eles nos seguissem?
— Claro, — respondeu Thrawn, como se fosse óbvio. — Com quaisquer
outros navegadores haveria incerteza quanto ao ponto de emergência
deles, se de fato eles pudessem nos seguir. Com os Rastreadores a bordo,
eu poderia ter certeza de que os piratas chegariam exatamente onde eu os
queria.
— Você quer dizer bem em cima de nós? — Qilori respondeu. Ele olhou
novamente para a tela da popa.
E sentiu as suas winglets ficarem rígidas. Onde antes haviam quatro
naves atrás deles, agora eram cinco. Os quatro corsários Lioaoin que já
tinha visto... e uma nave de guerra Chiss.
— Capitão Intermediária Ziara, aqui é o Comandante Júnior Thrawn, —
Thrawn chamou em direção ao comunicador. — Eu acredito que os seus
alvos esperam por você.
— Certamente, Comandante, — uma suave voz feminina respondeu. — Eu
sugiro que você continue no seu curso atual.
— Deve dar a você a melhor visão da destruição deles.
—I nteressante, — comentou o Supremo General Ba’kif enquanto
colocava o seu questis de lado. Tinha lido o relatório duas vezes, Ar’alani
notou enquanto observava os olhos dele se moverem pra frente e pra trás ao
longo do texto, a primeira vez que ela o viu fazer isso. Ou estava tentando
reunir o máximo de informações que podia ou então estava protelando
enquanto tentava descobrir o que dizer e fazer a respeito.
— Você percebe, é claro, que roubar a nave de outra pessoa, em
qualquer circunstância, é uma violação grave dos regulamentos.
— As naves Nikardun nos atacaram, senhor, — disse Thrawn. —
Entendi que os regulamentos permitem autodefesa.
— Com certeza, — disse Ba’kif. — E se você tivesse transformado a
maldita coisa em pó, ninguém teria pensado duas vezes. Mas capturá-la? —
Ele balançou sua cabeça. — E você, Almirante. Eu sei que você e Thrawn
têm uma longa história, mas estou um pouco surpreso que você concordou
em fazer parte disso.
— Na verdade, General, fiz questão de refrescar a minha memória sobre
os regulamentos antes de aceitar a proposta do Capitão Thrawn, — explicou
Ar’alani, cruzando os dedos mentalmente. — Não há nada que diga
especificamente que capturar a nave de um atacante é uma violação.
— Acho que você descobrirá que isso se enquadra no título geral de
ataques preventivos, — disse Ba’kif. — Que é definitivamente como certos
Aristocratas irão interpretar assim que ouvirem sobre isso. Alguns deles
podem até exigir que a nave seja devolvida.
— Sem a sua tripulação? — perguntou Thrawn. — Isso pode ser um
pouco estranho.
Ar’alani sentiu a sua garganta apertar. Mais do que apenas um pouco
estranho, considerando que a tripulação Nikardun se foi porque eles
cometeram suicídio em massa minutos antes dos grupos de abordagem dos
Chiss violarem as escotilhas. Por um tempo, ela preferiu esperar que tivesse
sido pelo menos uma combinação de assassinato e suicídio, talvez com os
oficiais sob ordens de massacrar os seus guerreiros antes de tirar as suas
próprias vidas. Isso teria indicado que apenas alguns dos Nikardun eram tão
fanáticos. Mas a equipe médica concluiu que todas as mortes foram auto
infligidas.
Que tipo de compulsão e domínio esse Yiv, o Benevolente exercia sobre
eles para que eles fossem voluntariamente a tais extremos violentos?
— É verdade, — Ba’kif concedeu. — Bem. Até que os síndicos decidam
escrever detalhes específicos na lei, suponho que podemos tratá-la como
uma área cinzenta. — Ele tocou no questis. — Nesse ínterim, que tipo de
ninho infernal de nighthunter você acabou de derrubar?
— Um ninho de nighthunter que eu acredito que logo estará nos
caçando, — respondeu Thrawn sombriamente. — Eles sabem claramente
sobre a Ascendência. Eles também se sentem confiantes o suficiente em
suas próprias forças para abater uma nave de refugiados bem na nossa
porta. E... — ele gesticulou para o questis, — eles já estão se mudando para
a nossa vizinhança.
Ba’kif bufou, olhando de volta para o questis, como se os dados nele
pudessem mudar repentinamente para algo menos inquietante.
— Você tem certeza de que eles tiveram contato com o Regime de
Lioaoin? — ele perguntou. — Eu olhei todos os indicadores que você
marcou e eu confesso que não consigo ver o que você acha que encontrou.
— Está aí, senhor, — respondeu Thrawn. — É sutil, mas estão lá.
— O que nós não sabemos, — Ar'alani acrescentou, — é se isso é uma
evidência de que eles estiveram pessoalmente no próprio mundo coração de
Lioaoin ou se eles acabaram por aprender alguma arte e influências
artísticas de alguém de Lioaoi em algum momento.
— É por isso que nós precisamos ir pessoalmente ao mundo coração, —
esclareceu Thrawn. — Eu preciso examinar a situação local, e não posso
fazer isso a partir da análise da transmissão ou mesmo de relatórios de
investigadores de terceiros.
— Você sabe o que a Sindicura dirá sobre qualquer um indo para o
Regime de Lioaoin, — advertiu Ba’kif. — Especialmente vocês dois.
— É por isso que nós queríamos manter isto em segredo, — apontou
Ar’alani. — E a Frota Expansionista tem um bom grau de flexibilidade em
suas funções.
— Da qual eu não estou mais no comando direto, — Ba'kif a lembrou,
olhando com uma estranha espécie de melancolia para o seu novo escritório
em Csilla.
Ar’alani poderia simpatizar. Este escritório era maior do que o antigo
escritório dele na Frota de Defesa Expansionista, em Naporar, como
convinha à sua posição recém-exaltada como o principal general da
Ascendência.
Mas o escritório ficava em Csilla, o que significava que não estava
apenas sob a superfície congelada do planeta, mas também dentro da
distância de uma cuspida a favor do vento da Sindicura e do resto dos
centros governamentais da Ascendência.
E só porque supostamente os Aristocratas não deveriam interferir nos
assuntos militares, não significava que eram agradáveis de se estar por
perto.
— Mas você está no comando geral do pessoal da frota, — observou
Thrawn. — Uma diretiva sua certamente seria reconhecida e executada.
— A Falcão de Primavera está passando por reparos no casco, mas nós
poderíamos levar a Vigilante, — apontou Ar’alani. — Thrawn poderia subir
a bordo como um oficial ou mesmo apenas como passageiro e dar uma
olhada rápida e discreta.
Ba’kif bufou.
— Você sabe o que certos síndicos pensam da sua definição de discreto.
— Ele olhou para o monitor da sua mesa e deu uma pequena bufada. — E
por pura coincidência, ou talvez não, dois desses síndicos acabaram de
chegar no interior do meu escritório.
O primeiro impulso de Ar’alani foi instar o general a não deixá-los
entrar. Mas seria um gesto inútil. Claramente, alguém tinha visto ela e
Thrawn indo ali; com a mesma clareza, os dois síndicos não iriam embora
só porque o general supremo da Força de Defesa lhes disse isso.
Políticas oficiais de separação de funções ou não, ingerência ou não, o
confronto pelo qual os síndicos estavam obviamente ali iria acontecer.
Talvez fosse melhor esclarecer agora.
Aparentemente, Ba’kif chegou à mesma conclusão. Ele bateu em uma
tecla e a porta se abriu.
— Bem-vindos, Síndicos, — ele disse rapidamente enquanto os três
oficiais se levantavam. — Como posso servi-los?
Ar’alani se virou para os recém-chegados. Mitth’urf’ianico, um dos
síndicos da família de Thrawn, liderou o caminho. Esse era o procedimento
padrão sempre que a família queria entregar uma mensagem aos militares a
respeito de um dos seus, sem puxar nada da teia emaranhada da política
interfamiliar.
Caminhando logo atrás dele estava Irizi’stal’mustro, um dos síndicos da
antiga família de Ar’alani.
Ela sentiu seus olhos se estreitarem. Esse não era o procedimento padrão.
Thurfian pode estar ali para falar sobre Thrawn em nome da Mitth, mas ela
não fazia mais parte da família Irizi, o que significava que Zistalmu não
tinha motivo para falar sobre ela com Ba'kif.
Mas havia um subtexto ainda mais interessante sobre tudo isso. Dada a
intensa rivalidade entre a Irizi e a Mitth, os dois síndicos dessas famílias
que queriam ver Ba'kif sobre assuntos militares gerais normalmente teriam
combinado de vir um de cada vez, não juntos.
Ou era esse o ponto? Thurfian e Zistalmu poderiam ter trabalhado nesta
reunião conjunta para destacar uma oposição de alto nível às atividades
recentes de Thrawn, uma resistência que suplantava a política familiar?
— Bom dia, General, — disse Zistalmu, inclinando a cabeça para Ba'kif.
— Almirante; Capitão Sênior, — acrescentou ele, fazendo os mesmos
gestos para Ar’alani e Thrawn. — Estamos interrompendo algo importante?
— Eu estava discutindo uma missão futura com dois dos melhores
oficiais da Frota Expansionista, — respondeu Ba’kif.
— Sério, — disse Thurfian com um entusiasmo fingido que não
enganaria uma criança. — Dada a presença do Capitão Thrawn, nós
podemos assumir que esta missão está conectada ao relatório que a frota
enviou à Sindicura três dias atrás?
Ar’alani reprimiu uma maldição. Normalmente, os relatórios da frota
podiam permanecer nos questises dos síndicos por dias ou semanas sem
serem lidos por alguém, exceto por seus assessores e o Aristocrata de
escalão inferior. No momento, isso era especialmente verdadeiro para
qualquer relatório que não se conectasse à investigação do ataque a Csilla.
Aparentemente, pelo menos para esses dois, o nome de Thrawn recebeu
o mesmo nível de atenção.
— Enviamos vários relatórios naquele dia, — respondeu Ba’kif. — A
qual especificamente você está se referindo?
— Você sabe perfeitamente qual deles, — respondeu Zistalmu, os seus
olhos se voltando para Thrawn. — A intrusão não autorizada em um
sistema alienígena e o subsequente ataque a naves alienígenas nesse
sistema.
— Em primeiro lugar, a missão da Falcão de Primavera no sistema
Rapacc não era desautorizada, — esclareceu Ba’kif. — Como você sabe,
houve um ataque na extremidade do sistema Dioya...
— Um ataque contra alienígenas, — interrompeu Zistalmu. — Enquanto
isso, a questão do ataque a Csilla, um ataque lançado contra cidadãos reais
Chiss, ainda não foi resolvida.
— Espero que você não esteja sugerindo que a frota é incapaz de lidar
com mais de uma investigação ao mesmo tempo, — contrapôs Ba’kif,
pondo dureza na voz.
— De jeito nenhum, — disse Zistalmu. — Mas se a investigação fosse o
objetivo, eu diria que o ataque do Capitão Thrawn em Rapacc foi muito
além das suas ordens e mandato. No entanto, não vejo nenhuma indicação
de que um tribunal foi instalado ou mesmo agendado.
— A Falcão de Primavera foi atacada, — justificou Ba’kif. — As
ordens permanentes permitem-lhe o direito de defesa.
— Dentro de limites muito estreitos e bem delineados, — acrescentou
Thurfian. — Mas isso é passado e é um assunto para um tribunal. Nossa
maior preocupação é com o futuro. Então, eu pergunto novamente: esta
missão proposta está relacionada ao ataque em Rapacc? — Ele lançou um
olhar acusador para Thrawn. — O tempo não é tão longo, nem a memória
tão curta, que esquecemos o seu fiasco em Lioaoin.
— Eu não esquecerei também, — disse Thrawn calmamente.
Silenciosamente, mas Ar’alani podia ouvir o embaraço oculto e a dor na
voz dele.
— Espero que você não esteja aqui apenas para esfregar velhas feridas,
— ela acrescentou, na esperança de atrair um pouco do ataque de Zistalmu
em sua direção.
Foi uma perda de esforço. Thurfian meramente lançou a ela um olhar
breve e ilegível, então voltou a sua atenção para o seu alvo principal.
— Como eu já disse, nós estamos olhando para o futuro, não para o
passado, — ele disse. — Sabemos que você afirma ter encontrado pinturas
ou esculturas de Lioaoin, ou algo do gênero, naquela nave apreendida
ilegalmente. Eu acredito, Supremo General, que você não está pensando
seriamente em deixar o Capitão Thrawn em qualquer lugar perto do Regime
de Lioaoin.
— Por que não? — Perguntou Ba’kif. — Os Lioaoi certamente têm a sua
cota de culpa pelo que aconteceu naquela época.
— Então você o está enviando para o coração do mundo, — Zistalmu
disse, lançando as palavras como um groundlion. — Você está louco?
— Acredito que os Nikardun se mudaram para o regime de Lioaoin, —
respondeu Thrawn. — Precisamos saber se os Lioaoi foram completamente
subjugados ou se ainda permanecem contra os seus possíveis
conquistadores.
— Nós não precisamos saber de nada disso, — retrucou Thurfian. — O
que acontece fora das nossas fronteiras não é da nossa conta. Como pensei
ter ficado claro para você na primeira vez que você se intrometeu nos
assuntos daquela região.
— E quando os Nikardun chegar na Ascendência? — Perguntou Thrawn.
— Se os Nikardun chegarem na Ascendência, — Thurfian disparou.
— Exatamente, — Zistalmu apoiou. — Realmente, Capitão Thrawn.
Alguém com a sua alardeada experiência tática pode certamente ver que, se
fôssemos um alvo tão atraente, eles já teriam se movido contra nós. Parece
óbvio para mim que as histórias contadas sobre nós no Caos os avisaram.
— A menos que estejam esperando até que tenham força suficiente para
nos derrotar, — disse Ba’kif.
— Tudo bem, — disse Zistalmu. — Vamos examinar essa possibilidade,
certo? Você afirma que os Nikardun estão subjugando outras espécies e
criando um império. Correto?
— Sim, nós vimos as evidências de tal atividade, — respondeu Ba’kif.
— E controlar uma espécie conquistada requer força e presença de
armas, não é?
Ar’alani sentiu um gosto amargo na boca. Ela podia ver onde Zistalmu
estava indo com isso.
Assim como Ba’kif também
— Pode exigir menos do que você imagina, — respondeu o general. —
Se o planeta estiver suficientemente subjugado, algumas naves de
monitoramento e um pequeno contingente terrestre poderiam facilmente ser
suficientes.
— Especialmente se eles utilizarem um sistema de reféns ou extorsão, —
acrescentou Ar’alani.
— A questão que permanece é que, conforme eles se movem em nossa
direção, eles continuam sangrando naves e tropas, — disse Zistalmu. —
Portanto, quanto mais eles esperam, menos provável que sejam uma
ameaça.
Ba’kif balançou a cabeça.
— Nem sempre funciona assim.
Mas era um argumento perdedor, Ar’alani podia ver pelas expressões
nos rostos dos síndicos. Pode ser um argumento verdadeiro, mas também
era um argumento perdedor.
— No entanto, essa também é uma conversa para outro dia, — disse
Thurfian. — Como a nave do Capitão Thrawn ainda está passando por
reparos e a Almirante Ar’alani está prestes a partir em missão diplomática,
parece que ninguém viajará para o regime de Lioaoin.
— Desculpe-me? — Perguntou Ba’kif, lançando um olhar para Ar’alani.
— Que missão diplomática é esta?
— A Ascendência está enviando um novo embaixador para Urch, a
capital de Urchiv-ki, — respondeu Thurfian. — Como a Vigilante é uma
das melhores naves de guerra da Frota Expansionista, e como o seu
comandante é um dos melhores oficiais da frota — ele inclinou a cabeça
para Ar'alani — foi decidido que a nave e o comandante seriam anfitriões
do Embaixador Boadil'par'gasoi.
— Entendo, — disse Ba’kif, com o seu tom ficando gelado. — E quando
deveríamos ser informados dessa decisão?
— Você está sendo informado agora, General, — respondeu Zistalmu
uniformemente. — a Vigilante partirá em três dias.
Ba’kif olhou para Ar’alani.
— Você pode estar pronta assim tão rápido?
— Nós podemos, — respondeu Ar’alani, tentando manter a própria
irritação longe da sua voz. A Sindicura não deveria fazer acrobacias como
essa.
Por outro lado, talvez eles tenham perdido um ângulo. Os reparos da
Falcão de Primavera deveriam levar mais duas semanas, e Zistalmu estava
claramente esperando que Thrawn ficasse fora de serviço por esse tempo.
Mas muitos dos danos da nave foram cosméticos, e como capitão da Falcão
de Primavera, Thrawn poderia declarar a nave pronta para voar sem que
estes reparos específicos fossem concluídos. Se o fizesse, quando a
Vigilante partisse para Urch, ele poderia estar quase pronto para tirar a
Falcão de Primavera do estaleiro e escapar para uma visita sub-reptícia ao
Regime de Lioaoin.
— Infelizmente, porém, a Sky-walker Ab’begh foi transferida, —
continuou Zistalmu. — No entanto, como a Falcão de Primavera não irá a
lugar nenhum por pelo menos algumas semanas, a Sky-walker Che'ri e a
Cuidadora Thalias foram transferidas para o seu comando.
— Assim como o Capitão Thrawn, — acrescentou Thurfian. — Ele
serviu a você uma vez, e tenho certeza de que as suas contribuições serão
igualmente bem-vindas desta vez.
— Eu imagino que ele vai receber de bom grado a chance de visitar
Urch, — disse Zistalmu com um sorrisinho condescendente. — Eu entendo
que as galerias de arte deles são o orgulho do povo Urchiv-ki.
Ar’alani suprimiu um suspiro. Então, eles não perderam uma aposta,
afinal.
— Tenho certeza que sim, — ela disse. — Terei a honra de tê-lo a bordo.

Com uma inspiração repentina, as mãos de Che'ri se contraíram uma última


vez contra os controles; e enquanto Thalias olhava para fora da janela, ela
viu as chamas das estrelas desaparecerem em um fundo estrelado e no
semicírculo azul e branco diretamente à frente.
Eles chegaram a Urch.
Thalias fez uma careta para o planeta. Grande coisa.
Olhou furtivamente para Thrawn, de pé com o Embaixador Ilparg atrás
da cadeira de comando de Ar’alani. O próprio Thrawn estava imóvel e
calmo; Ilparg, em contraste, estava abrindo e fechando as mãos e
balançando ligeiramente para a frente e para trás sobre os calcanhares.
Claramente ansioso para chegar ao novo posto diplomático e pouco
paciente com o tempo extra que a Vigilante levou para chegar aqui.
Thalias deu um passo para trás de Che'ri, esfregando suavemente os
músculos tensos dos ombros da garota e enviando um olhar furioso na
direção do embaixador rabugento. Che'ri teve que fazer uma pequena curva
adicional através da seção final do Caos, levando ao sistema Urch, e o
desvio inesperado atrasou a Vigilante várias horas. Pela experiência de
Thalias, esse tipo de coisa acontecia com bastante frequência, e nem
Ar’alani nem Thrawn culparam Che’ri nem um pouco pelo atraso. Nem
qualquer outra pessoa razoável.
Ilparg, infelizmente, não se enquadrava nessa categoria. Ele estava
claramente acostumado com os parâmetros de viagem mais bem definidos
dentro da Ascendência e aparentemente nunca entendeu que o termo Caos
não era simplesmente a ideia aleatória de alguém de um bom nome.
Isso o tornava um idiota. O que o tornava um tolo desprezível era que ele
não tinha vergonha de expressar as suas opiniões e críticas dentro do
alcance dos ouvidos de Che'ri. Na noite anterior, Thalias precisou de duas
horas para acalmá-la, um bom jantar, um banho quente, e cada uma do seu
limitado repertório de canções de ninar para fazer Che'ri dormir.
— E qual é exatamente o atraso agora? — Ilparg resmungou.
— Estamos esperando o controlador Urchiv-ki nos dar permissão para
lançar o seu transporte espacial, — explicou Ar’alani.
— Sim, entendo, — disse Ilparg irritado. — Não seria melhor se eu
estivesse realmente no transporte espacial quando essa permissão vier?
— Paciência, embaixador, — respondeu Thrawn.
Thalias estremeceu. De todos os confortos que Thrawn poderia ter
oferecido, paciência era a menos provável de levá-lo a qualquer lugar.
— Tenho toda a paciência de que preciso, Capitão Sênior, — disse Ilparg
acidamente, olhando para Thrawn. — O que é necessário aqui são
resultados. Ação e resultados. Já que eles não parecem ter nos notado, uma
segunda chamada parece ser indicada...
— Lá, — disse Thrawn, apontando para um ponto na tela visual da popa.
— Você vê?
— Sim, — respondeu Ar’alani. — Você tem certeza que esta é Lioaoin?
Thalias sentiu a sua respiração ficar presa na garganta. Algo estava
acontecendo lá fora. Ela percebeu pelas expressões nos rostos de Ar’alani e
Thrawn, e pela tensão correspondente em seus tons. Algo estava
acontecendo e isto não era bom.
— Não, não cem por cento, — respondeu Thrawn. — O design da nave
deles mudou desde a última vez que as vimos. Mas existem semelhanças
suficientes que eu acho que é provável.
— Do que você está falando? — Ilparg exigiu. — O que o Lioaoi tem a
ver com qualquer coisa? Aqui é Urch... — ele lançou um olhar para Che’ri
— ...a menos que a nossa navegadora nos tenha perdido de novo.
Thalias respirou fundo. Já era o bastante.
— Desculpe me, Embaixador...
— Aqui é o Planetário e Controle Espacial de Urch, — uma voz
alienígena irrompeu do alto-falante da ponte, seu Taarja mutilado quase
irreconhecível. — A nave Chiss não tem permissão para lançar o transporte
espacial. Repito: a nave Chiss não irá liberar o transporte espacial. O
Embaixador Chiss não é bem-vindo a Urchiv-ki, nem a seus planetas ou
espaço.
— Isso é impossível, — Ilparg gaguejou. — Um tratado foi endossado, a
Sindicura o aprovou. — Ele se ergueu em toda a sua altura. — Almirante
Ar’alani, ligue de volta, — ele ordenou. — Diga a ele que você deseja falar
com um membro sênior da Dimensão da Torre...
— Quieto, — interrompeu Ar’alani, com o seu rosto voltado para a tela
tática.
— Por favor, não se dirija a mim nesse...
— Eu disse quieto, — repetiu Ar’alani. Ela não tinha levantado a voz,
mas de repente um calafrio desceu pelas costas de Thalias.
Ilparg também sentiu claramente a ameaça em sua voz. Ele abriu a boca
para falar, pareceu pensar melhor e ficou em silêncio.
— O que você acha? — Perguntou Thrawn.
— Eu conto oito naves visíveis, — respondeu Ar’alani. — A Lioaoin,
seis prováveis Urchiv... e aquela.
— A fragata Nikardun, — disse Thrawn.
— Isso é o que eu estava pensando, — Ar’alani concordou, com a sua
voz ficando um pouco mais sombria. — Essa janela ridiculamente grande é
uma revelação mortal. A questão é se os Urchiv-ki foram completamente
conquistados ou se ainda estão na mesma fase de interdição que os Paccosh.
— Eu acho que é a última, — disse Thrawn. — Mas em um nível
prático, contanto que estejam dispostos a fazer a vontade do General Yiv,
sua situação exata é irrelevante.
— Verdade, — disse Ar’alani. — Ainda assim, se eles estão planejando
nos destruir, certamente estão demorando muito para fazer isso.
— Destruir-nos? — Ilparg engasgou.
— Não há muita pressa, — respondeu Thrawn, ignorando a explosão do
embaixador. — Já estamos muito profundamente no poço de gravidade para
uma fuga rápida, e o padrão de rede deles está se encaixando perfeitamente
atrás de nós.
— Pessoalmente, acho que eles querem uma vingança espelhada, —
acrescentou a Capitã Sênior Wutroow.
— Pensamento interessante, — disse Ar’alani. — Eles são bastante
ambiciosos.
— O que é uma vingança espelhada? — Che'ri sussurrou, olhando para
Thalias.
Thalias balançou a cabeça.
— Eu não sei.
— É um contra-ataque de um lado que corresponde exatamente a um
golpe anterior pelo outro, — respondeu Thrawn, olhando para elas. —
Neste caso, a capitã Wutroow está sugerindo que os Nikardun têm
esperança de capturar a Vigilante da mesma forma que capturamos uma das
suas naves de patrulha.
Os músculos dos ombros de Che'ri ficaram duros sob os dedos de
Thalias.
— Não, — ela respirou. — Eles... não.
— Não se preocupe, eles não vão, — disse Ar’alani. Ela hesitou por um
momento, então se levantou da cadeira de comando e foi até a estação de
navegação de Che'ri. — Você teve problemas para entrar neste sistema,
Sky-walker Che'ri, — ela disse em voz baixa.
— Sinto muito, — Che'ri respirou. — Foi só...
— Sim, sim, eu sei, — disse Ar’alani, uma espécie de calmante distraído
à deriva na tensão através de sua voz. — Eu não estou culpando você... esta
parte do Caos é particularmente desagradável de navegar. A minha pergunta
é: apenas quão solidamente nós estamos bloqueados?
— Em outras palavras, — acrescentou Thrawn, chegando ao lado de
Ar’alani, — existem vetores de saída em particular que nos tirariam com
mais rapidez e facilidade do que qualquer uma das outras rotas?
— Só pense com calma, Che'ri, — disse Thalias. — Estar certa é melhor
do que ser rápida.
Ela sentiu Che'ri respirar fundo, observou as mãos da garota se moverem
hesitantemente pelos controles e pequenos visores de seu painel.
— Por ali, — ela respondeu, movendo o dedo para uma linha a cerca de
trinta graus da direção atual daVigilante.
— Não é o caminho pelo qual entramos, — observou Ar’alani.
— Porque nós teríamos que contornar ao redor ainda mais, — explicou
Che'ri, com alguma suplica na sua voz. — E havia alguns grandes
asteroides no caminho. O Embaixador Ilparg já estava com raiva de mim
pelo tempo que estava demorando...
— Está tudo bem, Che’ri, está tudo bem, — disse Ar’alani. Desta vez, o
calmante soou mais genuíno. — Só precisamos sair daqui, de preferência o
mais rápido e mais longe do que eles possam nos seguir facilmente. Não
importa se isso nos tira do caminho para voltar à Ascendência. Leme, você
tem o vetor?
— Sim, senhora, — confirmou o piloto.
— Um problema, — disse Wutroow. — Vamos ter que angular para fora
para chegar lá. Se fizermos isso, iremos direto para a rede deles.
Ar’alani franziu os lábios.
— Não necessariamente.
— Não vamos necessariamente entrar na rede deles? — Wutroow
perguntou, franzindo a testa.
— Não precisamos necessariamente angular para fora, — corrigiu
Ar’alani. Puxando o seu questis, ela rabiscou brevemente nele. — Thrawn?
— ela perguntou, entregando-o a ele.
Thrawn olhou para o questis.
— A Vigilante não foi realmente projetado para esse tipo de manobra, —
ele avisou enquanto entregava o dispositivo a Wutroow. — Mas acho que
ele pode lidar com o esforço.
— Que esforço? — Ilparg resmungou, uma camada de suspeita
revestindo o medo em sua voz. — O que você está propondo?
— Não se preocupe com isso, — aconselhou Wutroow, digitando no
questis. Com o canto do olho, Thalias viu a imagem e os dados aparecerem
em um das telas do leme. — Comandante Intermediário Octrimo?
— Estou vendo, senhora, — respondeu o piloto, hesitante. — Você tem
certeza disso?
— Eles querem levar a Vigilante intacta, — Ar’alani o lembrou. — De
uma forma ou de outra, isso garante que isso não aconteça. Execute.
— Sim, senhora. — Visivelmente se preparando, Octrimo teclou no seu
painel.
E com um rugido súbito abafado enquanto os propulsores funcionavam
com potência total, a Vigilante saltou pra frente.
Visando direto para o planeta à frente deles.
Ilparg deu um grito estranho.
— Almirante! — ele baliu. — O que você está fazendo?
— Mudança de curso um, — disse Ar’alani sobre o barulho. — Três,
dois, um.
Fora da janela, a Urch moveu-se para a esquerda enquanto a Vigilante
mudava o seu vetor. Pelo menos, Thalias pensou vagamente através do
latejar agonizante do sangue em sua cabeça, eles estavam agora se dirigindo
para a borda do planeta, em vez de diretamente para o seu centro. Assim, o
acidente retumbante demoraria um pouco mais para acontecer.
— Naves Urchiv se movendo em perseguição, — Wutroow gritou da
estação de sensores. — A Lioaoin hesitando. Nikardun... Aumentando a
potência; parece que vai tentar nos isolar.
— Aumente a velocidade em cinco por cento, — ordenou Ar’alani. —
Mudança de curso dois: Três, dois, um.
O planeta se moveu um pouco mais para o lado, e agora parecia que
iriam cortar só no limite da atmosfera. Thalias tentou se lembrar se ela já
tinha ouvido falar de um Nightdragon Chiss correndo em alta velocidade
pela atmosfera de um planeta, mas não conseguia.
— Naves Urchiv ganhando velocidade, — anunciou Wutroow. — Mas, a
menos que tenham muito mais em reserva, não há como eles nos pegar.
Ah... eles descobriram isso. Recuando.
— Algum sinal de nave de interceptação na superfície ou atrás do disco?
— Perguntou Ar’alani.
— Nada detectável, — respondeu Wutroow. — Neste ponto...
Ela parou quando a Vigilante deu uma guinada repentina.
— Entrando na atmosfera, Almirante, — comunicou Octrimo. —
Cortando mais profundamente; temperatura do casco começando a subir.
Nenhum perigo ainda.
Mas haveria, Thalias sabia. As suas aulas de física eram apenas uma
vaga memória, mas se lembrava o suficiente para saber que haviam boas
razões pelas quais as naves não se moviam através das atmosferas
planetárias nesta velocidade.
— E quanto à Nikardun? — Perguntou Ar’alani.
— Um pouco confuso... A turbulência está interferindo nos sensores, —
respondeu Wutroow. — Mas acho que está ficando pra trás também.
As batidas estavam ficando mais fortes. Thalias sabia que deveria
encontrar um assento e o cinto de segurança, mas podia sentir o medo de
Che'ri e não queria abandonar a garota. Ela quase podia ouvir a Vigilante
gemendo sob o estresse, o calor e a pressão pouco familiares.
Imaginação, é claro. Mas ela ainda podia ouvir a agonia da nave...
— Última mudança de curso, — disse Ar’alani abruptamente na
cacofonia silenciosa. — Sky-walker, prepare-se.
— Eu estou pronta, — disse Che'ri, com a voz trêmula.
— Mudança de curso: Três, dois, um.
Octrimo acionou o seu painel e a Vigilante se afastou do planeta uma
última vez. A espancamento começou a diminuir.
E de repente a nebulosidade ao redor das estrelas se dissipou e o gemido
desapareceu. Eles estavam novamente no bem-vindo vácuo do espaço,
dirigindo exatamente ao longo do vetor que Che'ri os havia apontado. Os
segundos se passaram, a Vigilante dirigindo cada vez mais forte em direção
às estrelas distantes.
— Liberado para o hiperespaço, — anunciou Octrimo.
— Sky-walker? — Ar’alani chamou.
— Pronta, — Che'ri gritou de volta. — Até onde você quer ir?
— Tanto quanto você puder nos levar sem se estressar, — respondeu
Ar’alani. — Preparada... vai.
As estrelas brilharam e então desapareceram no redemoinho do
hiperespaço, e eles estavam mais uma vez seguros.
— Você pode soltar agora, — disse Thrawn.
Thalias piscou, só então percebendo que em algum lugar ao longo do
tempo de sua pegada sobre os ombros de Che'ri havia se transferido para
um aperto nas costas da cadeira da menina. Com esforço, desbloqueou os
seus dedos e deu um passo pra trás.
— Conseguimos, — ela disse.
— Nós conseguimos, — concordou Thrawn. — Nós, da frota, gostamos
de nos ver como heróis. Frequentemente, porém, os verdadeiros heróis são
aqueles que projetam e constroem as naves de guerra que levamos para a
batalha.
— Não deveria haver nenhuma batalha, — Ilparg rosnou. Com o perigo
passado, ele estava rapidamente voltando à sua pomposidade normal. —
Qual foi o significado de tudo isso?
— Os Nikardun estão atacando outros mundos... — Thrawn começou.
— O significado? — Ar’alani o interrompeu. — O significado,
Embaixador, é que se tratava de uma armadilha. Alguém queria capturar
uma nave Chiss, e eles o convidaram para ir a Urch para que isso
acontecesse. — Ela sorriu, apenas ligeiramente. — Você era a isca.
— Eu não sou isca, — insistiu Ilparg. — Não para ninguém. Não para os
Urchiv-ki, não para estes... como você os chamou?
— Nikardun, — Thrawn forneceu.
— E não para os Nikardun, — Ilparg cuspiu.
— E os Lioaoi? — Perguntou Ar’alani.
Ilparg franziu a testa para ela.
— O que os Lioaoi têm a ver com isso?
— Uma das suas naves estava aqui, — Ar’alani respondeu. — E
certamente não fizeram ou disseram nada para manter os Urchiv-ki longe de
nós.
— Na verdade, parecia que faziam parte da rede que os Urchiv-ki
estavam montando atrás de nós, — acrescentou Wutroow.
— Oh, eles estavam, estavam? — Ilparg perguntou, olhando para o
redemoinho do hiperespaço fora da janela.
— Certamente pareceu-me assim, — respondeu Wutroow.
— Talvez devêssemos passar pelo mundo coração de Lioaoin antes de
retornarmos à Ascendência, — sugeriu Ar’alani. — Fale com eles, talvez
pedir uma explicação.
Ilparg voltou os olhos frios para ela.
— Você acha que devemos fazer isso, não é?
Ar’alani ergueu a mão.
— Eu apenas ofereci a sugestão.
— E é uma excelente sugestão, — disse Ilparg. — Só que não pretendo
pedir uma explicação. Pretendo exigir uma.
Ele apontou dramaticamente em direção ao redemoinho do hiperespaço.
— Ao mundo coração de Lioaoin, Almirante Ar’alani. Na sua melhor
velocidade possível. — Ele manteve a pose por mais um momento, então
deu uma volta igualmente dramática e saiu da ponte.
— Interessante, — murmurou Thrawn. — Suponho que foi de
propósito?
— Você queria ver o mundo coração, — respondeu Ar’alani. — Agora
nós vamos.
— Anote, Capitão Sênior, — acrescentou Wutroow. — Você pode
perguntar, sugerir e mostrar por que as suas ideias fazem sentido. Mas
quando políticos estão envolvidos... — ela acenou em direção à janela em
uma imitação da postura anterior de Ilparg — ...é assim que se faz.
M ais uma vez, as chamas das estrelas desapareceram e a Vigilante
estava de volta ao espaço normal.
— O Mundo coração de Lioaoin marcando vinte graus de bombordo,
doze nadir, — anunciou Octrimo do leme. — Chegamos precisamente no
alvo, como as Sky-walkers dos Chiss sempre fazem.
— Entendido, — disse Ar’alani, suprimindo um sorriso no último
comentário definitivamente fora do padrão. Toda a tripulação da ponte
fervilhava silenciosamente com os comentários depreciativos de Ilparg
sobre a navegação de Che'ri em Urch, oficiais da frota e guerreiros
prezavam por suas sky-walkers, mas a maioria deles mantinha os seus
sentimentos para si mesmos. Octrimo, que era o oficial do leme tinha
naturalmente trabalhado mais próximo com a garota, aparentemente decidiu
arriscar uma reprimenda a fim de lançar uma pequena crítica ao
embaixador.
A sua atitude protetora provavelmente não foi ferida pelo fato de que a
sua família, Droc, era forte rival da própria família de Ilparg, a Boadil.
Não que Ilparg provavelmente tenha notado o comentário. Ele estava de
pé ao lado da cadeira de comando de Ar'alani, com os seus olhos no planeta
distante, a sua mente claramente em outro lugar além da ponte da Vigilante.
Ar’alani olhou de volta para o planeta e as naves que se agrupavam em
torno dele, o breve momento de diversão desaparecendo. A maioria das
embarcações era, sem dúvida, Lioaoin: cargueiros, naves patrulha, duas
estações de reparo tipo estaleiros doca-azul de órbita baixa, então
possivelmente uma ou duas naves de guerra. Os registros antigos sugeriam
que havia pelo menos um estaleiro doca-negra em uma órbita muito mais
alta, levantando a possibilidade de outra nave de guerra na área, embora se
estivesse passando por reparos provavelmente poderia ser ignorada.
A questão era se havia alguma nave Nikardun misturada, para ficar de
olho nos nativos.
— Varredura completa, — gritou o Comandante Sênior Obbic’lia’nuf da
estação de sensores. — Nenhuma correspondência com a nave Nikardun
que vimos em Urch.
O que não provava nada, Ar’alani sabia. Com exceção das janelas
superdimensionadas e da localização particular dos conjuntos de armas
principais, nenhuma das naves Nikardun que ela e Thrawn encontraram
parecia exatamente com qualquer uma das outras. Certamente Yiv não
parecia combinar com qualquer tipo de silhueta padrão.
— O controle de tráfego está nos saudando, Almirante, — disse
Wutroow.
— Não se preocupem com eles, — disse Ilparg antes que Ar’alani
pudesse responder. — Consiga-me alguém do Gabinete Diplomático do
Regime. Se eles tiveram alguma coisa a ver com aquele negócio em Urch,
eu quero resolver aqui e agora.
— Um momento, Embaixador, — disse Ar’alani, olhando por cima do
ombro para a escotilha da ponte. Aparentemente, Thrawn estava atrasado.
— Estamos esperando a chegada do Capitão Thrawn.
— Para que precisamos dele?
Porque é ele quem pode nos dizer se há naves Nikardun por aí, a
resposta óbvia passou pela mente de Ar’alani. Porque ele tem um talento
tático que será crucial se essa coisa explodir. Porque ele tem um histórico
em situações de combate pelas quais a maioria dos Comodoros e
Almirantes Chiss dariam o seu primogênito sanguíneo.
Mas ela tinha mais tato do que o Comandante Octrimo. Ela também não
tinha nenhuma rivalidade familiar para lidar.
— Porque eu o quero aqui, e eu sou a Almirante, — ela respondeu em
vez disso.
Ilparg fez um pequeno barulho de bufar.
— Tudo bem, — ele disse. — Mas é melhor ele não demorar.
A escotilha se abriu e Thrawn pisou na ponte.
— Minhas desculpas, Almirante, — ele disse enquanto passava por
Ar’alani e Ilparg. — Desculpe, Embaixador. Meus estudos demoraram mais
do que o esperado.
— Que estudos eram esses, Capitão Sênior? — Ilparg perguntou
desconfiado.
— Dados táticos, — acrescentou Ar’alani.
— Dados táticos? — Ilparg repetiu com desdém. — É assim que a Frota
Expansionista chama arte hoje em dia?
Ar’alani cerrou os dentes.
— A primeira regra da estratégia é conhecer o seu inimigo, Embaixador,
— ela respondeu. — Isso inclui as suas táticas de batalha; mas também a
sua história, a sua filosofia e, sim, às vezes até a sua arte.
— Eu aceito os dois primeiros, — Ilparg disse, com o desdém ainda em
sua voz. — A terceira tem pouco ou nenhum valor. No entanto, agora que o
Capitão Sênior Thrawn nos agraciou com a sua presença, talvez você esteja
bem o suficiente para entrar em contato com o gabinete diplomático
conforme solicitei?
— Certamente, Embaixador, — respondeu Wutroow, dando um passo
para o lado de Ilparg e habilmente afastando-o de Ar’alani e Thrawn. —
Podemos saudá-los melhor na estação de comunicação. Por aqui, por favor.
— Obrigado por tentar, — disse Thrawn baixinho ao se aproximar de
Ar’alani.
— Não se preocupe com isso, — aconselhou Ar’alani. — Às vezes é
bom ter os seus talentos subestimados. — No entanto não quando a sua
carreira está sendo avaliada, ela acrescentou silenciosamente para si
mesma. — O que você achou?
— Os nossos arquivos de arte Lioaoi são extremamente limitados, —
respondeu Thrawn. — Mas eles devem ser adequados às nossas
necessidades.
— Fico feliz em ouvir isso. — Ar’alani acenou em direção à janela. —
Aí está a sua tela. Pinte-me alguma coisa.
Por um momento, Thrawn ficou em silêncio, com os seus olhos
rastreando a cena à frente deles. Ar'alani mudou a sua atenção entre ele e a
tela tática, perguntando-se quando os Lioaoi iriam agir. Se os Nikardun
estivessem ali, este grupo já deve ter ouvido sobre o incidente em Urch.
Será que os Urchiv-ki não conseguiram identificar a Vigilante antes que
escapasse do seu cerco? Impossível. Eles não poderiam ter pelo menos uma
tríade de comunicações em todo o planeta capital Urchiv-ki capaz de
transmitir uma mensagem até aqui? Ainda mais improvável.
Então, o que os Nikardun estavam esperando?
A menos que a coisa toda fosse apenas produto de paranoia e
imaginação. As nações alienígenas ali estavam sempre lutando entre si;
Ar'alani sabia disso muito bem. Se os Nikardun fossem apenas alguma
espécie pequena, os Chiss não teriam se cruzado, e as batalhas deles eram
puramente locais...
— Aqueles nove caças, — disse Thrawn, apontando para um grupo de
pequenas naves que estavam contornando o disco planetário. — As
embarcações em si são uma variante do design Lioaoin, mas a sua formação
e o padrão de voo não são típicos.
— Talvez tenham atualizado as suas táticas desde a última vez que você
os viu, — sugeriu Ar’alani.
— Não, — disse Thrawn lentamente. — Lioaoi gosta de formações
verticais. A arte deles mostra isso claramente. Eles normalmente colocariam
nove naves como essas em uma cunha de três níveis. Esta formação é plana
e muito mais espalhada.
Ar’alani assentiu com a cabeça. Essa definitivamente não era uma
formação de cunha empilhada.
— Parece que também foi projetada para uma manobra de pinça.
— De fato, — disse Thrawn. — Ataque, não defesa. Novamente, ao
contrário da predisposição usual de Lioaoin. Mas não é apenas a formação.
Os pilotos parecem... hesitantes, de alguma forma. Como se essa formação
fosse nova para eles.
— Talvez eles sejam novos recrutas.
— Todos os nove deles? — Thrawn balançou a cabeça. — Não. Essas
são canhoneiras de uma pessoa. Os Lioaoi nunca colocariam tantos pilotos
inexperientes sozinhos sem uma nave e uma tripulação mais experiente por
perto para o caso de problemas. Certamente não tão profundamente no poço
gravitacional.
— Concordo que é assim que faziam as coisas antes, — disse Ar’alani.
— Mas as frotas mudam de doutrina o tempo todo. Talvez não tão
drasticamente, mas eles se ajustam e se adaptam a novas tecnologias ou
situações.
— Aqui é o Comando Orbital de Lioaoin, — uma voz veio pelo alto-
falante.
Ar’alani piscou. Estava tão focada nas naves distantes e na análise de
Thrawn que quase se esqueceu do propósito ostensivo de estar aqui.
— Aqui é o Embaixador Boadil’par’gasoi da Ascendência Chiss, —
Ilparg respondeu com toda a dignidade e arrogância que Ar’alani esperava
do corpo diplomático em geral e Ilparg em particular. — Gostaria de falar
com alguém do gabinete diplomático sobre o tratamento agressivo que nós
recebemos há alguns dias na capital dos Urchiv-ki, Urch.
— O que o faz pensar que o Regime de Lioaoin tem algo a ver com os
Urchiv-ki? — a voz voltou.
— Havia uma nave de Lioaoin presente quando os Urchiv-ki tentaram
capturar a nossa nave, — respondeu Ilparg.
Ar’alani soltou um suspiro. Que droga Ilparg pensava que estava
fazendo? Entregar informações como essa, especialmente sem receber nada
em troca, era o cúmulo da tolice.
— Embaixador...
— Não, deixe-o continuar, — interrompeu Thrawn, fechando uma mão
de advertência sobre o braço dela. — Vamos ver a reação deles a quem
somos.
Ar’alani fez uma careta. Sim, esse seria o plano de Thrawn, dar uma
cutucada nos Lioaoi e ver como reagiam. Tudo bem e bom, desde que a
reação não fosse jogar tudo o que tinham nos intrusos.
Ainda assim, a Vigilante era um Nightdragon totalmente armado, e eles
ainda não estavam muito envolvidos no poço gravitacional do mundo
coração. Não importava o que os Lioaoi tivessem, Ar’alani não tinha
dúvidas de que poderia abatê-los com danos mínimos à nave. Ao lado de
um dos estaleiros, ela viu algo se mover entrando na janela...
E sentiu seus olhos se arregalarem.
— Uh-oh, — alguém do outro lado da ponte exclamou.
As mãos de Ar’alani se fecharam involuntariamente em punhos
apertados. Era uma nave de guerra.
Uma enorme nave de guerra, classe Encouraçado de Batalha pelo
menos, metade do tamanho da Vigilante. Os seus flancos estavam cheios de
agrupamentos de armas, linhas angulares marcavam as seções de blindagem
pesada, padrões de nódulos bem espaçados proclamavam a existência de
uma forte barreira eletrostática.
E a janela da ponte excessivamente grande, a janela arrogantemente,
convidativa e excessivamente grande, marcava-o como uma Nikardun.
— Almirante? — Wutroow perguntou, uma pitada de urgência na sua
voz.
Ar’alani olhou para a nave de guerra Nikardun, notando particularmente
os vetores e as posições das naves ao seu redor, então deu à tela tática um
olhar longo e cuidadoso.
— Mantenha o curso, — ela ordenou a Octrimo. — Eles não estão
fazendo nenhum movimento ameaçador.
— Isso pode mudar a qualquer minuto, — advertiu Wutroow.
— Não, — disse Thrawn. — Eles poderiam passar para o modo de
ataque, mas levaria mais do que apenas um minuto.
— Concordo, — disse Ar’alani. — À sua distância e orientação,
qualquer movimento seria bem telegrafado.
Wutroow pareceu se preparar.
— Sim, senhora.
— O gabinete diplomático não entende do que você está falando, — uma
voz diferente de Lioaoin veio do alto-falante. — Mas nós damos as boas-
vindas à amizade e respeito mútuo da Ascendência Chiss. Você quer se
aproximar, Embaixador, para que possamos ter uma conversa? Ou devemos
enviar um transporte para você?
Ilparg olhou de volta para Ar’alani.
— Almirante? — ele perguntou.
— Bem, nós definitivamente não estamos nos aproximando, —
respondeu Ar’alani. — E, dadas as circunstâncias, não vamos deixar você
entrar também.
— Então, nós estamos só de saída?
— Por que não? — Respondeu Ar’alani. — Nós conseguimos o que nós
queríamos.
Ilparg franziu a testa.
— O que exatamente nós conseguimos?
— A presença de uma nave Nikardun, — respondeu Thrawn.
— Que não agiu contra nós, — rebateu Ilparg.
— E o fato de que os Lioaoi não querem falar sobre Urch, —
acrescentou Ar’alani.
Ilparg bufou.
— Acredito que isso é o que é conhecido como informação negativa.
— Ainda assim é informação, — disse Ar’alani. — Independentemente
disso, é tudo o que vamos conseguir. Então ofereça as suas desculpas, diga
as suas despedidas, sinta-se à vontade para traduzir isso em linguagem
diplomática, e nós voltaremos ao nosso caminho.
— Um momento, Almirante — disse Thrawn, pensativo. — Com a sua
permissão, eu gostaria de fazer um experimento adicional. Essas nove
canhoneiras parecem estranhamente interessadas em nós.
Ar’alani voltou a sua atenção para o grupo de pequenos caças que
haviam notado anteriormente. A formação da pinça se abriu um pouco,
mas, fora isso, nada parecia ter mudado.
Sentiu seus olhos se estreitarem quando viu a que Thrawn estava se
referindo. A formação havia se aberto porque as canhoneiras haviam
suspendido a manobra em que estavam no meio e agora estavam à deriva,
os seus propulsores silenciosos, os efeitos das marés do campo
gravitacional planetário lentamente separando-as.
— No mínimo, eles estão interessados em entrar em ação a qualquer
momento, — ela disse. — E em qualquer direção.
— Exatamente, — disse Thrawn. — E eu não vejo outra razão além da
Vigilante para que eles de repente fiquem tão atentos.
Ar’alani coçou a sua bochecha. O Encouraçado de Batalha Nikardun não
fez nenhum movimento, mas os caças estavam em posição de prontidão.
Alguém protegendo as apostas deles?
Ou era algo mais interessante? Era uma indicação de que havia duas
cadeias de comando diferentes operando?
De qualquer forma, valia a pena explorar mais.
— Eu acredito que tudo o que você tem em mente não envolverá o
disparo de armas?
— De jeito nenhum — Thrawn assegurou. — Eu simplesmente gostaria
de dizer a eles que eu estou aqui.
— O que você espera conseguir com isso?
— Não sei. É por isso que é um experimento.
Ela lhe deu o seu melhor olhar de paciência tensa. Mas os palpites de
Thrawn geralmente valiam a pena perseguir.
— Muito bem. Leme, esteja pronto para virar e nos tirar daqui.
— Quão rápido? — Octrimo perguntou.
— Com sorte, não muito, — respondeu Ar’alani. — Parece que estão
tentando se fingir de inocentes e seria bom deixá-los pensando que nós
compramos a atuação deles. Mas quero velocidade e potência de reserva, se
precisarmos. Sky-walker Che’ri?
— Estou pronta, — respondeu Che'ri. A sua voz tremia um pouco, mas
as palavras eram firmes o suficiente.
Ar’alani gesticulou para Thrawn.
— Pronto?
— Sim, — ele respondeu, dando um passo mais para perto da cadeira de
comando dela. — Observe as canhoneiras.
Ela assentiu e apertou o botão de comunicação.
— Vai.
— Aqui é o Capitão Sênior Thrawn, supervisor do Embaixador Ilparg,
— disse Thrawn. — Obrigado pelo seu interesse, mas o embaixador não se
sente preparado neste momento para uma conversa diplomática plena. A
Ascendência Chiss entrará em comunicação no futuro com vocês sobre este
assunto.
O Lioaoin deu algum tipo de resposta prolixa, mas quase sempre sem
sentido. Mas Ar’alani não estava realmente ouvindo. Sete das nove
canhoneiras que Thrawn lhe disse para observar ativaram os seus
propulsores ao ouvirem o nome dele, saindo da formação com a proa
girando em direção a Vigilante.
Mas eles mal haviam começado a sua manobra quando abruptamente
diminuíram o ritmo, mantendo as suas novas posições por mais um
momento antes de voltarem às posições junto com as duas canhoneiras que
não haviam deixado as suas órbitas. A coisa toda levou apenas cinco
segundos, com todas as nove naves de volta à formação antes mesmo de
Thrawn terminar a sua declaração.
A metade do cérebro dela que estava monitorando a conversa reconheceu
que tudo havia acabado. Ela apertou o botão de comunicação novamente e
acenou com a cabeça para Octrimo.
— Leve-nos para fora, leme, — ela ordenou. — Agradável, fácil e
calmo. Sky-walker, fique pronta.
Ela voltou a sua atenção para o Encouraçado de Batalha, perguntando-se
se o seu capitão iria agora decidir abandonar a sua própria atuação inocente.
Mas o Nikardun continuou a sua órbita tranquila enquanto a Vigilante se
virava e se dirigia de volta para fora do poço gravitacional. Che'ri se
inclinou sobre o seu painel de controle e, com uma explosão de estrelas,
eles estavam de volta à segurança do hiperespaço.
Wutroow atravessou a ponte para o lado de Ar’alani.
— Então, o que exatamente aprendemos? — ela perguntou.
— Você não estava observando as canhoneiras? — Perguntou Ar’alani.
— Você e Thrawn as estavam observando. Achei que alguém deveria
ficar de olho no Encouraçado.
— Sim. Bem pensado. — Ar’alani olhou para Thrawn. — Sua ideia,
Capitão Sênior. Vá em frente e coloque tudo pra fora.
— Sete das nove canhoneiras reagiram ao meu nome começando a se
mover em nossa direção, — respondeu Thrawn a Wutroow. — Isso sugere
que sou conhecido pelos Nikardun e que existe algum tipo de ordem em
relação a mim. Mas um momento depois, todas as sete voltaram à sua
formação.
— Então, quem quer que estivesse comandando os caças estava pronto
para atacar e vingar o insulto horrível que você fez em Rapacc, — disse
Wutroow lentamente. — Apenas alguém mais alto na cadeia de comando
anulou a ordem.
— É assim que eu li, — Ar’alani confirmou. — O que implica
imediatamente no que eu disse antes. Mesmo sob provocação, mesmo com
ordens permanentes, eles estão se esforçando muito para fingir que não são
uma ameaça para nós.
— Um questionamento, — disse Wutroow, levantando um dedo. — Eu
pensei que tínhamos decidido que as canhoneiras eram dos Lioaoin. Por que
elas se importariam com Thrawn? Quero dizer, além do óbvio?
— Não é mais tão óbvio, — respondeu Ar’alani. — Certamente, depois
de todos esses anos, não pode haver nenhuma ordem permanente a respeito
dele. Pelo menos não dos Lioaoi.
— Suponho que não, — disse Wutroow. — Então…?
— Então, estávamos errados antes, — respondeu Ar’alani, sentindo uma
sensação de pavor crescente. — Achamos que os Lioaoi poderiam estar
aprendendo novas táticas de batalha. Eles estão, mas eles as estão
aprendendo sob a supervisão dos Nikardun.
— Os Lioaoi nas canhoneiras conheciam as ordens Nikardun a meu
respeito, — disse Thrawn. — Os sete pilotos que reagiram o fizeram rápido
demais para que fosse de outra forma. Ordens permanentes detalhadas desse
tipo não são normalmente compartilhadas com os povos subjugados. Além
disso, os canhões das naves estavam armados, os seus lasers giratórios para
a frente eram visíveis, assim como as suas portas de mísseis. Sabemos pelos
Paccosh que os Nikardun removem as armas dos seus povos conquistados.
— O que sugere fortemente que os Lioaoi não são súditos da Nikardun,
— disse Ar’alani baixinho, olhando para o redemoinho turbulento do
hiperespaço. — Eles são aliados.
Por um momento, nenhum deles falou. Então Wutroow soltou um
suspiro.
— Ótimo, — ela disse. — E agora?
— Precisamos de mais informações, — respondeu Thrawn. —
Almirante, você pode desviar a Vigilante para Solitair antes de retornar para
a Ascendência?
— Absolutamente não, — disse Ilparg com firmeza, caminhando até
eles. — Primeiro o Regime de Lioaoin; agora você quer ir para a Unidade
Garwian? De quantas maneiras você está tentando se meter em problemas?
— Ele voltou o seu olhar para Thrawn. — Nem pense você. De quantas
maneiras você está tentando me causar problemas? Já fui muito longe do
meu mandato.
— A sua posição e mandato não são as questões aqui, Embaixador, —
respondeu Ar’alani, estudando o rosto de Thrawn. — A Vigilante é a minha
nave e vai para onde eu o ordenar. Se eu decidir que há dados a serem
coletados, sou obrigada a seguir para consegui-los.
— Não, se a Sindicura declarar as suas decisões impróprias, — advertiu
Ilparg.
— Se isso acontecer, que assim seja, — disse Ar’alani. — Mas mesmo
os síndicos têm autoridade limitada sobre um oficial sênior da frota.
— Os problemas devem ser mínimos para qualquer um de vocês, —
disse Thrawn. — Posso pegar um transporte espacial enquanto a Vigilante
retorna à Ascendência. Isso deve adicionar apenas algumas horas ao seu
tempo de viagem.
— Você não quer que o esperemos? — Ar’alani perguntou, carrancuda.
— E se os Garwians não quiserem falar com você?
— Acredito que eles irão, — respondeu Thrawn. — Se me permite pedir
um favor, Almirante, eu gostaria de pegar o seu escritório emprestado por
uma ou duas horas.
— É claro, — disse Ar’alani. — Leve o tempo que precisar. Cuidadora
Thalias, tire a Sky-walker Che'ri da Terceira Visão assim que for
conveniente e seguro. Ela deve então nos redirecionar para o planeta capital
de Garwian, Solitair.
— Sim, Almirante, — disse Thalias. Ela não perdeu uma palavra da
discussão, Ar’alani percebeu, mas não mostrou nenhuma inclinação para
questionar a decisão. — Vai demorar mais alguns minutos antes que Che'ri
possa ser perturbada.
— No seu próprio tempo e julgamento, Cuidadora, — Ar’alani
assegurou-lhe. — Capitão Thrawn, o meu escritório é seu.
Thrawn balançou a cabeça.
— Inaceitável, — ele declarou. — Completamente inaceitável.
Os anos de Ziara na Frota de Defesa Expansionista aprimoraram a sua
capacidade de se encolher por dentro, sem permitir que a emoção que a
acompanhava transparecesse no seu rosto ou postura. No entanto, desta
vez era uma coisa muito próxima. Um comandante júnior, mesmo aquele
que acabara de receber elogios impressionantes, nunca falava com um
oficial sênior dessa maneira. Seria uma boa ideia se Ba'kif o colocasse no
seu lugar.
Felizmente para Thrawn, Ba’kif tinha um nível de paciência acima da
média. 
— Preciso detalhar pra você os protocolos sobre ataques preventivos? —
ele perguntou, com a sua voz calma.
— Não, senhor, — respondeu Thrawn. Pelo menos, Ziara pensou, ele
conseguiu um senhor desta vez. — Eu simplesmente não vejo como isso se
aplica neste caso. As naves eram do design de Lioaoin, usavam as docas
de Lioaoin e elas nos perseguiram desde o mundo coração do regime.
Parece indiscutível que os piratas estão, de fato, sob controle e supervisão
direta de Lioaoin.
— É claro que isso é discutível, — disse Ba’kif. — O regime contestou isso
categoricamente.
— Eles estão mentindo.
— Talvez, — disse Ba’kif. — Mas temos apenas o que temos: as evidências
circunstanciais e uma negação oficial.
— Então, nós permitimos que eles sigam o seu caminho ilesos? — Thrawn
persistiu.
— O que você quer que nós façamos? — Perguntou Ba’kif. — Lançar uma
frota de guerra em grande escala para descer sobre o mundo coração e
destruir todas as instalações governamentais e militares que pudermos
encontrar?
Os lábios de Thrawn se comprimiram brevemente.
— Não seria necessária uma frota inteira, — ele limitou.
— Você está fugindo do assunto, — disse Ba’kif. — Deixe-me deixar isso
mais claro. Você destruiria propriedades e condenaria pessoas à morte
pelas possíveis ações, as possíveis ações, do governo deles?
— E quanto ao nosso povo? — Thrawn rebateu. — Nós também sofremos
perdas de bens e vidas.
— Aqueles que infligiram essas perdas foram mortos ou punidos.
— Aqueles que fizeram as verdadeiras ações, talvez. Não aqueles que os
enviaram.
— Novamente, você não tem provas.
Os olhos de Thrawn se voltaram para Ziara.
— Então deixe-me obtê-las, — ele ofereceu. — Deixe-me ir ao regime
como um comerciante ou diplomata e encontrar um caminho para os
arquivos deles. Ordens oficiais, ou talvez uma linha clara de distribuição de
pilhagem...
— Chega, — rebateu Ba’kif, com a sua paciência finalmente se
esgotando. — Entenda isso, Comandante, e entenda isso claramente. A
Ascendência não ataca outros sistemas a menos que tenhamos evidências
claras de que eles nos atacaram primeiro. Não atacamos militarmente,
diplomaticamente, subversivamente, clandestinamente ou
psicologicamente. Aqueles que não nos atacam não serão atacados por
nós. Está claro?
— Muito claro, General — respondeu Thrawn, a voz tão rígida quanto a
sua postura.
— Ótimo, — disse Ba’kif. Ele respirou fundo. — Agora, o outro item que eu
queria discutir com vocês dois. — Ele olhou para Ziara e depois se voltou
para Thrawn. — Por seu excelente desempenho no planejamento e
execução da missão, Comandante Junior Thrawn, você foi promovido a
comandante sênior.
Um toque de surpresa cruzou a expressão de Thrawn.
— Duas patentes, senhor?
— Duas patentes. — Ba'kif bufou um pouco. — Sim eu sei. Mas o seu
sucesso contra os piratas o mantém nas alturas no momento, e a
Ascendência estima os seus heróis. E, claro, você é um Mitth.
O rosto de Thrawn pareceu cair um pouco.
— Sim. Obrigado, senhor.
Ba’kif inclinou a cabeça e se virou para Ziara. 
— E você, Capitã Intermediária Ziara, pelo presente também é
promovida a capitã sênior.
— Obrigada, senhor — disse Ziara, o seu peito parecendo fechar em
torno do seu coração. Capitão sênior. Mais uma promoção e ela alcançaria
o Comodoro.
O posto onde tudo mudava.
— Parabéns a vocês dois, — disse Ba’kif. — Vocês podem pegar as suas
novas insígnias e identidades com o contramestre. Você está dispensado,
Thrawn. Ziara, mais um momento do seu tempo.
Ele esperou em silêncio até que Thrawn saísse da sala.
— Sua avaliação, Capitã Sênior? — ele perguntou, apontando para a
porta fechada.
— Ele é brilhante, senhor, — respondeu Ziara. — Excelente estrategista e
tático.
— E a astúcia política dele?
— De pobre a inexistente.
— Concordo, — disse Ba’kif. — Ele vai precisar de uma mão firme, tanto
para guiá-lo quanto para impedi-lo de agarrar continuamente o lado
errado do bastão de fogo.
Ziara reprimiu um estremecimento.
— Eu preciso adivinhar, senhor?
— Não, — respondeu Ba’kif, com um sorriso tenso. — Estou colocando-o a
bordo com você como o seu terceiro oficial. — Ele olhou para o seu questis.
— A sua nova nave será o cruzador de patrulha Parala.
— Sim, senhor — disse Ziara, sentindo-se endireitar um pouco mais. Os
cruzadores de patrulha normalmente viajavam muito além dos limites
Entendidos da Ascendência, reunindo informações e observando possíveis
ameaças. Uma tarefa interessante e altamente cobiçada. — Obrigada,
senhor.
— Você mereceu isso, — disse Ba’kif. — Sei que você fará o que for
necessário para a defesa e proteção da Ascendência. — Ele se colocou em
posição de sentido. — Dispensada, Capitã Sênior. E boa sorte.
Ela esperava que Thrawn já tivesse partido. Em vez disso, ela o
encontrou esperando por ela fora do escritório do general.
— Algum problema? — ele perguntou.
— Não, — ela respondeu. — Eu estou comandando a Parala e você é o
meu novo terceiro oficial.
Novamente, um breve olhar de surpresa.
— Sério?
— Sério, — ela respondeu, começando a seguir pelo corredor. — O
contramestre é por aqui.
Ele caminhou ao lado dela.
— Parabéns, — ele disse enquanto caminhavam. — A Parala tem fama de
ser uma excelente nave.
— Foi o que ouvi dizer, — disse Ziara. — A propósito, parabéns para você
também, por falar nisso. Duas patentes ao mesmo tempo é quase inédito.
— Foi o que me disseram, — disse Thrawn, com a voz distante. — Embora,
é claro, o que é dado também pode ser tirado.
Ziara se inclinou pra frente para olhar o rosto dele.
— Algo errado?
Ele olhou de soslaio para ela, então se virou para frente novamente.
— O Regime de Lioaoin não entrou na pirataria simplesmente porque
estava entediado, — ele respondeu. — Eles claramente têm um sério
problema financeiro.
— Você está sugerindo que façamos uma coleta?
Ele lançou lhe outro olhar, este com uma ponta de aborrecimento.
— Eles não vão tentar de novo com a Ascendência, — ele respondeu. —
Mas o problema permanece, assim como o remédio que eles escolheram.
Assim que se reagruparem e substituírem as naves que você destruiu, eles
estarão de volta, atacando os mercadores de outros sistemas. O que
acontecerá com esses sistemas?
Ziara encolheu os ombros.
— Eles terão que lidar com os Lioaoi por conta própria.
— E se não forem fortes o suficiente para fazer isso? — Thrawn persistiu. —
Devemos apenas sentar e vê-los sofrer?
Ziara o olhou diretamente nos olhos.
— Sim.
Por um momento, eles se olharam. Thrawn se virou primeiro.
— Porque nós não interferimos nos assuntos dos outros.
— Você prefere que a Ascendência se torne guardiã de todo o Caos? —
Perguntou Ziara. — Porque é para aí que esse caminho nos levaria.
Resgataríamos um, depois outro, depois um terceiro, até que finalmente
ficássemos sozinhos como baluarte contra milhares de agressores
diferentes. É isso que acha que nós devemos fazer?
— Não, claro que não, — ele respondeu. — Mas tem que haver um meio
termo.
Por alguns passos, eles caminharam em silêncio.
— Se ajudar, eu entendo o que você está dizendo, — disse Ziara por fim.
— É o seguinte. Quando você subir para governar a Aristocracia e a
Ascendência, eu vou ajudá-lo a encontrar uma solução.
Thrawn bufou um pouco.
— Não há necessidade de ser sarcástica.
— Quem disse que isso foi sarcasmo? — Perguntou Ziara. — A Mitth é uma
família importante e, como o General Ba’kif disse, você está em alta na
avaliação deles. A questão é que a não intervenção é o protocolo da
Ascendência no momento. A menos ou até que isso mude, aceitamos as
nossas ordens e cumprimos as nossas obrigações. — Ela o segurou pelo
braço, fazendo-o parar repentinamente, e olhou fixamente para o rosto
dele. — E isso é tudo o que fazemos. Entendido?
Um pequeno sorriso tocou os lábios dele.
— Claro, Capitã Sênior Ziara.
— E não se preocupe se a influência da sua família foi o que te fez saltar
essas patentes, — ela continuou. — Não negue isso, eu vi em seu rosto.
Tenho certeza que a conexão da Mitth não doeu, mas o Conselho não faz
as coisas só porque algum síndico quer. Se o fizessem, eu teria saltado três
patentes.
— E você teria merecido, — disse Thrawn.
Ziara começou a sorrir. O sorriso desapareceu quando percebeu que
ele estava falando sério.
— Não.
— Discordo. — Thrawn pareceu considerar isso. — Respeitosamente
discordo, — ele emendou. — Você certamente será almirante pleno algum
dia. O Conselho pode muito bem promovê-la agora e economizar algum
tempo.
— Agradeço a sua confiança, — Ziara disse, virando-se e começando a
andar novamente. — Mas eu estou contente em seguir o caminho lento e
constante.
Almirante. Na verdade, a palavra soava bem. Desde que, é claro, ela
fosse tão boa quanto Thrawn parecia pensar.
E contanto que, enquanto servisse sob o comando dela, ele não fizesse
nada para arruinar as chances dela para sempre.
A escotilha para o escritório da Almirante Ar’alani se abriu. Estava se
preparando-se e imaginando o que significava essa convocação repentina,
Thalias entrou.
— Você queria me ver, Capitão Sênior? — ela disse.
— Sim, — respondeu Thrawn. — Entre, por favor. Quero te mostrar
algo.
Thalias deu mais um passo à frente, ouvindo a escotilha se fechando
atrás dela, e olhou em volta. Dada a reputação de Thrawn, ou talvez a sua
notoriedade, com obras de arte, esperava encontrar o escritório cheio de
hologramas de esculturas e pinturas Garwian. Para a sua leve surpresa, ela o
encontrou cercado por um mapa tridimensional cheio de estrelas e rotas de
estrelas.
— Aqui está a Ascendência, — ele disse, acenando com o dedo por um
aglomerado familiar de estrelas fora do centro do mapa. — Aqui está o
Regime de Lioaoin, — ele apontou para um grupo muito menor de estrelas
no zênite norte da Ascendência. — Aqui está Rapacc, — Ele moveu o dedo
um pouco para leste. — Aqui está Urch, — um pouco mais a leste nadir e
um pouco ao sul. — E aqui estão os mundos Paataatus. — Ele mudou o seu
dedo uma última vez para um ponto na fronteira sudeste zênite da
Ascendência. — O que você vê?
— Os três primeiros estão ao norte e nordeste de nós, — respondeu
Thalias, perguntando-se por que trouxe os Paataatus. Estavam longe de
todos os outros que havia mencionado e, além disso, já haviam sido
tratados.
— De fato, — disse Thrawn. — Três nações diferentes sob ataque ou
cerco dos Nikardun, todas as três nas margens da Ascendência.
Thalias torceu o nariz. Eles não eram tão próximos, realmente.
Certamente não perto o suficiente para ser uma ameaça.
— Até agora, nenhuma das conquistas dos Nikardun está invadindo
diretamente a Ascendência, — disse Thrawn, como se tivesse lido a sua
mente e a sua objeção silenciosa. — Mas o padrão é preocupante. Se Yiv
tem como alvo nós, esta é a maneira ideal para começar.
— Tudo bem, — Thalias disse cautelosamente. — Mas se eles atacarem,
não podemos lidar com eles como fizemos com os Paataatus?
— Interessante que você mencionou os Paataatus, — respondeu Thrawn.
— A arte e toda a cultura deles implicam fortemente que a derrota que a
Almirante Ar’alani entregou a eles deveria ter acabado com qualquer
resistência a nós para o resto desta geração. No entanto, relatórios de
Naporar indicam que eles podem estar se rearmando para outro ataque.
Sugiro que eles também podem estar sob a influência e controle de Yiv.
Thalias olhou para o mapa novamente. E se isso fosse verdade, não eram
mais apenas os Nikardun trabalhando o seu caminho através do Caos, com a
Ascendência no seu caminho puramente por coincidência. Se eles também
conquistaram ou subornaram os Paataatus, havia uma boa chance de que
estivessem deliberadamente cercando os Chiss. Era como se Yiv estivesse
levantando todo o Caos contra eles.
— O que podemos fazer?
— Como disse para a almirante, precisamos de mais informações, —
respondeu Thrawn. — Passei a última hora estudando o mapa, e há quatro
outras nações em particular acredito que a situação atual possa ser
revelador. Espero poder persuadir os Garwians a me levar a uma delas sob
um pretexto adequado.
— Isso parece... extremamente perigoso, — disse Thalias.
— Perigoso, talvez, — disse Thrawn. — Mas não extremamente. Os
Garwians... vamos apenas dizer que eles me devem por eventos passados.
Thalias fez uma careta. Tinha ouvido um pouco sobre esses eventos, e
não foram contados como estando entre os melhores momentos da
Ascendência.
— Você esclareceu isso com a Almirante?
— Eu esclareci. — Thrawn sorriu levemente. — Não posso dizer que
esteja entusiasmada com o plano, mas está disposta a segui-lo.
Em outras palavras, feliz ou não com o plano, Ar'alani estava disposta a
enfiar o pescoço sob a lâmina ao lado do de Thrawn.
— Entendo. Presumo que estou aqui porque você quer algo de mim
também?
— Muito bom, — respondeu Thrawn. — Sim, gostaria que você me
acompanhasse nesta expedição.
Thalias tinha meio que adivinhado que era onde essa conversa acabaria.
Sua mente voltou ao seu acordo com o Síndico Thurfian.
— Como uma observadora adicional, suponho?
— Sim. — Ele fez uma pausa. — E como refém da minha família.
Thalias sentiu seus olhos se arregalarem.
— Como a sua... o quê?
— Refém da minha família, — repetiu Thrawn.
— O que é isso?
Thrawn franziu os lábios.
— Em certas circunstâncias, a rivalidade entre as famílias Chiss é forte o
suficiente para que concordem em trocar reféns. Um membro de cada lado é
reassociado como um adotado por mérito, e essa pessoa serve sob outro
membro da família como servo e refém. Caso as hostilidades ocorram entre
as famílias, os reféns sabem que serão mortos imediatamente.
Thalias olhou para ele.
— Nunca ouvi falar disso.
— Claro que não. — Thrawn deu a ela um pequeno sorriso. — Porque
eu acabei de inventar.
Ela balançou a cabeça.
— Tudo bem, eu estou perdida.
— É muito simples, — disse Thrawn calmamente. — Espero que os
Nikardun saibam muito sobre a cultura da Ascendência e os Chiss. Para
derrotar um inimigo, você deve conhecê-los, e eles são claramente
conquistadores experientes. — Ele parou, uma expressão de expectativa em
seu rosto.
Thalias fez uma careta. Brincando de professor, assim como tinha feito
na estação de mineração dos Paccosh, esperando que ela dê a resposta certa.
Mas pelo menos desta vez a resposta era óbvia.
— Então, se eles descobrirem de repente que há algo que não sabem
sobre nós, algo realmente importante, eles poderiam decidir que precisam
repensar toda a sua estratégia?
— Exatamente, — respondeu Thrawn. — Na melhor das hipóteses, pode
fazer com que Yiv abandone os seus planos contra nós. Na pior das
hipóteses, isso deve nos dar algum tempo.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— A questão é se você deseja e é capaz de desempenhar esse papel.
A resposta óbvia, sim, subiu rapidamente na garganta de Thalias. Mas
mesmo quando abriu a boca para dizer a palavra, percebeu que isso não era
tão fácil.
Não fazia ideia de como uma refém falava, se comportava e pensava.
Provavelmente haveria alguma hesitação, algum medo baixo, mas
constante, por sua vida, possivelmente um certo grau de ansiedade em
agradar aquele que tinha a sua vida em suas mãos. Ela poderia fazer tudo
isso de uma forma crível?
Mais do que isso, ir com Thrawn significaria deixar Che'ri sozinha a
bordo da Vigilante. Certamente, a garota poderia lidar com uma viagem de
volta à Ascendência por conta própria, não era como se Ar’alani não
pudesse designar um de seus oficiais para cuidar da sua sky-walker por
alguns dias.
Mas Che'ri havia perdido muitas outras cuidadoras ao longo do seu
tempo na frota. Veria a partida de Thalias como mais um abandono, não
importa quão boa ou necessária seja a causa? Thalias poderia explicar a
situação antes dela partir, mas isso não significava necessariamente que
Che'ri ouviria ou entenderia. Onde exatamente estava o verdadeiro dever e
compromisso de Thalias?
Ela olhou para o mapa, para os aglomerados de estrelas inimigas se
fechando em torno da Ascendência. De repente, as suas próprias incertezas,
conforto e respeito próprio não pareciam mais tão importantes. Quanto a
Che'ri, Thalias só podia fazer o seu melhor para explicar para a garota.
— Não sei como ser refém, — ela disse, voltando-se para Thrawn. —
Mas estou pronta para aprender.
Thrawn inclinou a cabeça para ela.
— Obrigado, — ele disse. Aproximando-se da mesa, ele tocou uma
tecla. — Almirante, aqui é Thrawn. A Cuidadora Thalias concordou em me
acompanhar. Você pode informar a Sky-walker Che'ri e tomar as
providências para que alguém assuma os cuidados dela quando chegarmos a
Solitair?
— Eu mesmo gostaria de contar a ela, — Thalias acrescentou. — Pode
ser mais fácil vindo de mim.
— Isso é razoável, — disse Ar’alani. — Você tem alguém que você
recomendaria para tomar o seu lugar?
Thalias hesitou. A maior parte do seu tempo a bordo da Vigilante havia
sido passada com Che'ri ou na ponte. Quem ela conhecia bem o suficiente
para confiar tal responsabilidade?
Especialmente porque precisava ser alguém de estatura e respeito senão a
garota veria isso como Thalias a entregando para a primeira pessoa que ela
encontrasse no corredor.
Na verdade, havia apenas uma pessoa que se encaixava em ambos os
critérios.
— Sim, — ela evitou. — Eu posso pensar um pouco mais sobre isso?
— É claro, — respondeu Ar’alani. — Che'ri deve terminar esta viagem
em meia hora. Quero você na ponte nesse momento com a sua
recomendação.
— Sim, Almirante.
— Eu te vejo então. Ar’alani desligando.
Thrawn desligou.
— Você sabe a quem vai pedir para cuidar dela? — ele perguntou
enquanto Thalias se dirigia para a escotilha.
— Sim, — ela respondeu por cima do ombro. — Mas não tenho certeza
se a Almirante vai aprovar.

A almirante, Ar’alani pensou amargamente, não aprovou muito.


Mas concordou que Thalias poderia escolher a cuidadora de Che'ri, e
estava obrigada por honra pessoal a cumprir essa promessa.
Além disso, os argumentos e raciocínios de Thalias faziam sentido.
Che'ri estava enrolada em uma das cadeiras enormes, bem onde Ar'alani
a deixara, quando o sinal e as instruções de Thrawn finalmente chegaram da
superfície.
— Estou de volta, — ela anunciou alegremente enquanto cruzava a suíte
em direção à garota. — Você conseguiu dormir um pouco? Está com fome?
— Eu estou bem, — respondeu Che'ri, sua voz suave e cansada.
Ar’alani franziu a testa, estudando o rosto da garota. Quando tinha a
idade de Che'ri, ela se lembrava de uma tendência de ser dramática quando
queria alguma coisa, ou sentia que estava sendo tratada injustamente, ou
apenas sentia que queria receber alguma atenção. Mas havia algo na
expressão de Che'ri que lhe dizia que nenhuma dessas era o caso ali.
— Você está chateada porque Thalias a deixou?
O lábio de Che'ri se contraiu, o suficiente para mostrar que Ar'alani
havia acertado o alvo.
— Ela disse que tinha que ir, — ela murmurou. — Ela não me disse o
motivo.
Ar’alani assentiu com a cabeça.
— Sim, isso sempre me deixava louca também.
Che'ri olhou pra cima, carrancuda.
— Você era uma sky-walker?
— Não, mas já tive dez anos, — respondeu Ar’alani. — Os adultos
estavam sempre sussurrando e guardando segredos. Eu odiava isso. Mas às
vezes é necessário.
Che'ri baixou o olhar.
— Ela está indo para o perigo, não é? O Capitão Thrawn a está levando,
e eles estão indo para o perigo.
— Oh, há perigo em todos os lugares, — respondeu Ar’alani, tentando
soar casual. — Isto não é grande coisa.
Isso era, ela percebeu tarde demais, exatamente a coisa errada a se dizer.
De repente, sem aviso, os olhos de Che'ri se encheram de lágrimas e ela
enterrou o rosto nas mãos.
— Ela vai morrer, — ela engasgou entre soluços que sacudiram todo o
seu corpo. — Ela vai morrer.
— Não, não, — Ar’alani protestou, apressando-se e ajoelhando-se em
um joelho ao lado da garota assustada. — Não, ela vai ficar bem. Thrawn
está lá também, e não deixará nada de ruim acontecer com ela.
— É minha culpa, — Che'ri gemeu. — É minha culpa. Eu gritei com ela.
Eu gritei com ela, e agora ela vai morrer!
— Calma, calma, — Ar’alani tranquilizou. — Está bem. Quando você
gritou com ela?
Mas, mesmo enquanto fazia a pergunta, a resposta óbvia surgiu na sua
mente. A longa despedida e as explicações ocorridas na privacidade da suíte
da sky-walker. A maneira e a postura de Thalias enquanto ela e Thrawn se
dirigiam ao transporte espacial, uma maneira que Ar'alani notou na época
parecia incomumente moderada, mesmo dada a gravidade da missão que se
aproximava. A recusa de Che'ri em sair de seu quarto de dormir quando
Ar'alani veio pela primeira vez à suíte para ver como estava depois que o
transporte saiu.
Ar’alani havia deixado de lado os sentimentos tanto da sky-walker
quanto da cuidadora. Aparentemente, no entanto, as despedidas delas foram
muito mais ardentes do que ela percebeu.
E agora a menina havia superado a sua raiva e caiu na outra direção para
o medo, a depressão e a culpa.
— Está tudo bem, — disse Ar’alani novamente. — As pessoas gritam
umas com as outras o tempo todo. Isso não significa que elas não se
importem umas com as outras.
— Mas eu disse a ela que a odiava, — soluçou Che'ri.
— Ela não vai morrer, — disse Ar'alani com firmeza, descansando
cuidadosamente a mão no ombro de Che'ri. — Dizer algo não faz com que
isso aconteça.
— Eu não queria gritar. — Che'ri fungou, o choro diminuindo um pouco
quando ela baixou as mãos. — Só queria alguns marcadores gráficos. Para
poder desenhar. Mas disse que não tinha nenhum, e não poderia conseguir
nenhum antes de ir embora, e eu disse que Ab’begh tinha e que ela era uma
momish terrível... — Ela cobriu o rosto novamente, e os soluços
recomeçaram.
Ar’alani deu um tapinha no ombro dela suavemente, sentindo-se como
um recruta novo em sua primeira missão de treinamento. Ela preferia travar
uma batalha contra vários inimigos em qualquer dia do que tentar acalmar
uma criança apavorada.
— Ouça-me, — ela disse, estremecendo com o tom de comando da sua
voz. — Ouça-me, — ela tentou novamente, desta vez tentando ser gentil. —
Isso não é como nos livros ou vídeos. Isto é a vida real. Só porque alguém
sai em uma missão logo depois de uma briga, não significa que vai morrer.
Che'ri não respondeu. Mas Ar’alani achou que ela estava chorando um
pouco menos.
— Vou te dizer uma coisa, — ela disse. — Vou preparar um banho
quente para você, Thalias disse que você gosta disso, e enquanto você
estiver de molho, farei o que você quiser comer. Como isso parece?
— Tudo bem, — respondeu Che'ri.
— Tudo bem, — repetiu Ar’alani. — Vou preparar o banho enquanto
você escolhe o que quer.
Che'ri assentiu.
— Almirante Ar’alani... Thalias disse que você fez muitas coisas com o
Capitão Thrawn.
— Tive a minha cota de experiência com ele, — disse Ar’alani, sorrindo
ironicamente. — E Thalias está certa. Estar com Thrawn é um dos lugares
mais seguros que pode estar.
— Você pode me contar sobre algumas das histórias? — Che'ri
perguntou hesitante. — Ela me deu algumas, mas são todas oficiais e
rígidas e eu... não leio muito bem. Thalias gosta de ler, mas eu não posso...
— Sem aviso, os soluços angustiantes voltaram.
Ar’alani fechou os olhos e deixou escapar um suspiro silencioso. Esta
seria uma longa, longa noite.

Os Garwians foram razoavelmente rápidos em permitir que a nave


pousasse. Foram igualmente rápidos em ordenar que ela partisse, citando
preocupações de segurança sobre uma óbvia nave Chiss parada no chão e
prometendo que os peticionários seriam vistos rapidamente.
Mas enquanto Thalias e Thrawn continuavam esperando na antessala do
escritório de segurança, ela começou a se perguntar se haviam mudado de
ideia. Certamente ninguém na Unidade parecia estar ansioso ou mesmo
disposto a falar com eles.
Thrawn havia dito que os Garwians lhe deviam um favor. Mas, pela
forma como as pessoas que se movimentavam no escritório pareciam estar
evitando contato visual, Thalias estava tendo sérias dúvidas sobre a
profundidade dessa gratidão.
Também estava tendo dúvidas sobre a maquiagem espessa e parecida
com gesso que Thrawn decidiu que deveria ser uma parte adequada da sua
aparência. Ela entendeu a lógica de tornar a situação de uma refém da
família instantaneamente aparente para os transeuntes, mas com muito do
seu rosto aparentemente coberto por saliências ;texturizadas e platôs, mal
conseguia formar qualquer expressão.
O que, mais uma vez, pode ser parte do propósito dessa maquiagem.
Reféns como sem individualidade, ou algo assim. Ainda assim, enquanto
ela ficava lá sentada em silêncio e sem expressão, sentindo o peso extra do
gesso pressionando o seu pescoço e ombros, ela não podia deixar de se
perguntar quais seriam os efeitos a longo prazo do material em sua pele.
Finalmente, quatro horas após a chegada deles, um dos Garwians
finalmente parou na frente deles.
— O Soberano da Segunda Defesa Frangelic da verá vocês agora, — ele
disse em Minnisiat. — Siga-me por favor.
O Garwian sentado atrás da mesa quando eles foram introduzidos era
mais jovem do que Thalias esperava para o que parecia ser um cargo tão
prestigioso. Ele ficou sentado imóvel e em silêncio enquanto eles
caminhavam até as duas cadeiras de frente para a mesa e se sentavam.
Olhando por cima do ombro de Thalias, o aliem acenou para o guia deles, e
ela ouviu a porta fechar atrás deles.
— Vejo que você ascendeu na sua profissão, Soberano da Segunda
Defesa, — disse Thrawn calmamente. — Parabéns.
— Como você fez da mesma forma, Capitão Thrawn, — Frangelic disse,
inclinando a cabeça. — E a sua companheira?
— A minha refém, — corrigiu Thrawn.
Frangelic pareceu recuar na sua cadeira.
— Desde quando os Chiss mantêm reféns?
— Desde muito antes de conquistarmos as estrelas, — respondeu
Thrawn. — Às vezes é invocado como uma questão de segurança entre as
famílias. Raramente falamos sobre isso abertamente com estranhos, mas,
como ela está aqui, você deve entrar na minha confiança. Eu acredito que
você vai manter isso como um assunto privado?
— Claro. Ela tem um nome?
Thrawn olhou para Thalias, como se estivesse tentando se lembrar.
— Thalias.
— Thalias, — Frangelic a cumprimentou gravemente. Ele a estudou por
um momento, os seus olhos parecendo traçar algumas das espirais e
saliências da maquiagem em volta do rosto dela, então voltou a sua atenção
para Thrawn. — Deixe-me ser claro desde o início. Os Rulerise encontram
em uma sessão especial, há mais de uma hora, e me informaram que os
sentimentos deles são mistos em relação ao seu retorno a Solitair. Eles
sentem a sua última interação com o povo Garwian... A palavra traição não
foi realmente falada, mas os pensamentos e atitudes tendiam nessa direção.
— Lembro-me das coisas de forma diferente, — disse Thrawn. — Mas
isso é passado. Agora mesmo, tanto a Ascendência quanto a Unidade
enfrentam um futuro incerto e perigoso. Trago uma proposta que visa
resolver os dois problemas.
— Interessante. — Frangelic olhou para ele. — Continue.
— Acredito que ambos enfrentamos um novo inimigo chamado
Nikardun, — disse Thrawn. Teclando no seu questis, ele o entregou por
cima da mesa. — Nós sabemos de três, possivelmente quatro, nações na
região que foram conquistadas discretamente ou estão atualmente sob
cerco.
— Nós conhecemos essas nações, — disse Frangelic, estudando o
questis. — Bem como duas outras que parecem ter mudado drasticamente
seus governos e suas atitudes em relação aos estrangeiros.
— Então você concorda que há uma ameaça?
— Nós concordamos que algo mudou, — respondeu Frangelic. — Os
Ruleri estão divididos quanto se as mudanças constituem ou não uma
ameaça.
— O que você acha?
Frangelic hesitou.
— Acho que a situação precisa ser mais estudada, — ele respondeu. —
Presumo que a sua proposta seja nesse sentido?
— E é, — respondeu Thrawn. — Você vê uma lista de quatro nações que
eu acredito que possam conter informações úteis. Qualquer Nikardun nessas
áreas saberia instantaneamente da presença de um Chiss, o que me impede
de investigar de qualquer maneira oficial. A minha esperança, portanto, é
que eu possa viajar desconhecido e não identificado para uma dessas nações
a bordo de uma nave Garwian.
A mandíbula de Frangelic se abriu, revelando brevemente fileiras de
dentes afiados antes dos seus lábios se fecharem sobre eles, escondendo-os
da vista. A versão Garwian de um sorriso, Thalias se lembrou de ter lido.
— Acho difícil acreditar que um Chiss a bordo de uma das nossas naves
pudesse realmente não ser Entendido, — ele disse. — No entanto, por
acaso, os Ruleri têm uma missão diplomática partindo em dois dias para um
destes na sua lista: os Vak, no mundo natal de Primea.
— Isso seria perfeito, — disse Thrawn. — Você pode me colocar a
bordo?
— Eu posso tentar. — Os olhos de Frangelic se voltaram para Thalias.
— E a sua refém também, eu presumo?
— Claro. Embora a partir de agora, por favor, se refira a ela apenas como
minha companheira, especialmente em público.
— Claro. — Frangelic olhou de volta para o questis. — Os Ruleri nunca
vão deixar você viajar sem uma escolta de segurança, — ele continuou,
como se estivesse falando para ele mesmo. — Infelizmente, nenhum dos
meus subordinados vai entender você ou os seus métodos. — Ele olhou
para cima e deu outro sorriso. — Nem vão se lembrar de você como eu. —
Ele hesitou, então empurrou o questis de volta para Thrawn. — Então, se
você for para Primea, então, por conseguinte eu devo, também. Vou falar
com o enviado que comanda a missão e tomar as providências.
— Obrigado, — disse Thrawn. — Você precisará explicar a presença de
um Chiss a bordo de uma missão Garwian. Proponho que você me
identifique como um especialista em arte interestelar que os seus
acadêmicos convidaram a participar para estudar as obras de arte Vak.
— Parece um pouco rebuscado, — Frangelic disse duvidosamente.
— De jeito nenhum, — disse Thrawn. — Existem teorias no mundo
acadêmico de que os Vaks e Garwians estiveram em contato de vinte a
trinta mil anos atrás. Encontrar indícios de tal contato, talvez em estilos
artísticos ou assuntos sobrepostos, ajudaria a confirmar essas teorias e,
possivelmente, permitiria aos historiadores rastrear o caminho da viagem no
hiperespaço através desta parte do Caos.
— Interessante, — disse Frangelic. — Isso é real ou você apenas
inventou?
— As teorias são completamente reais, — Thrawn assegurou a ele. —
Um tanto obscuras e muito debatidas, mas alguém em Primea será capaz de
localizar os registros delas se investigações forem feitas.
— Espero que você esteja certo, — disse Frangelic. — Muito bem. Eu
farei com que o meu ajudante encontre alojamento para você, então tratarei
de conseguir passagem para nós na nave diplomática.
— Obrigado, — disse Thrawn, levantando-se. — Eu vou precisar enviar
os detalhes para a Almirante Ar'alani antes que ela possa tirar a Vigilante de
órbita. Oh, e eu posso também pedir a você que leve um contêiner de
remessa de tamanho médio a bordo da nave?
— Um contêiner de remessa? — Frangelic ecoou, a sua voz
repentinamente suspeita. — Quanto você pretende levar com você?
— Na verdade, muito pouco, — garantiu Thrawn. — O contêiner é para
o nosso retorno.
— Muito bem, — Frangelic disse, ainda soando desconfiado. — Talvez
você explique melhor antes da nossa partida.
— Ou durante a viagem, — disse Thrawn. — Veremos qual funciona
melhor.
— Veremos, — disse Frangelic. — Enquanto isso, envie a sua
mensagem à sua almirante. O mais rápido possível, — ele acrescentou, seu
tom ficando um pouco frágil. — Os Ruleri são perfeitamente capazes de
ignorar pessoas e coisas que são desagradáveis para eles, mas não seria
sábio testar o ponto de ruptura dessa habilidade.
— Entendo, — disse Thrawn. — Assim que eu tiver os detalhes da
missão, a Vigilante irá embora. Enquanto isso, companheira, venha.
Enquanto eu falo com a almirante, você pode ir para os nossos aposentos e
preparar o nosso jantar.
Depois de todos os meses dela bordo da Parala, Ziara desenvolveu uma
sensibilidade a cada nuance e movimento sutil da sua nave, dos seus
motores e a sua sensação geral.
O que estava acontecendo agora era tão pouco sutil quanto parecia.
Ela estava cinco passos atrás da Capitã Intermediária Roscuquando ela
e a primeira oficial se aproximaram da ponte. Roscu chegou primeiro e
mergulhou pela escotilha:
— Thrawn, o que droga você está fazendo? — ela rosnou, a sua voz
ecoando no corredor.
Carrancuda, Ziara a seguiu pela escotilha. E assim começou mais um dia
maravilhoso a bordo da Parala.
Mas desta vez ficou imediatamente claro que não era apenas Roscu
agredindo verbalmente um oficial mais jovem de uma família rival. A
tripulação da ponte durante a noite estava sentada rigidamente em seus
postos enquanto Thrawn se postava atrás da sky-walker e do piloto, as
mãos cruzadas atrás das costas, o redemoinho do hiperespaço passando
ao redor da janela. Uma rápida varredura visual dos painéis de status
mostrou que ele colocou as armas e a barreira eletrostática da nave em
total prontidão, apenas um passo abaixo da posição de batalha.
— Eu te fiz uma pergunta, Comandante Sênior — disse Roscu, enquanto
caminhava na direção dele.
— Como você disse, Capitã Intermediária, — Ziara chamou com firmeza.
— Situação, Comandante Sênior?
— Recebemos um pedido de socorro urgente dos Garwian, do mundo
colônia Stivic, — respondeu Thrawn. — O Oficial de Segurança Frangelic
disse que eles estão sob ataque. — Ele meio que se virou para lançar um
olhar significativo para Ziara. — Por piratas.
— Você conhece o protocolo — disse Ziara enquanto passava pela
carrancuda Roscu em direção a Thrawn, com o estômago apertando. Era
dolorosamente óbvio o que Thrawn suspeitava.
E ele provavelmente estava certo. Os mundos Garwian eram centros de
comércio para várias espécies locais, e Stivic em particular estava ao
alcance de ataque fácil do Regime de Lioaoin.
Ela parou ao lado dele.
— Você sabe que não podemos fazer isso, — ela disse, mantendo a voz
baixa. — Os protocolos proíbem intervenção.
— Espero que a ação direta não seja necessária.
Ziara olhou pra baixo para a menina de nove anos na cadeira da sky-
walker, as suas mãos se movendo quase que por conta própria enquanto
ela e a sua Terceira Visão guiavam a Parala através dos caminhos tortuosos
do hiperespaço.
— Um blefe?
— Talvez nem mesmo isso, — respondeu Thrawn. — O súbito
aparecimento de uma nave de guerra Chiss pode ser o suficiente para
assustá-los.
— E se não for?
Seus lábios se comprimiram.
— Então não faremos nada.
— Isso mesmo, — disse Ziara. Ela ergueu a voz. — Toda a tripulação:
estações de batalha. Ponte, prepare-se para sair do hiperespaço.
Dez segundos depois, o céu mudou, as chamas das estrelas entraram
em colapso e eles tinham chegado.
À beira de uma batalha terrível.
Ziara sentiu um nó se formar na boca do estômago. Duas naves de
patrulha Garwian estavam enfrentando corajosamente três atacantes
maiores, tentando mantê-los longe da grande estação central-mercante
em órbita. Perto dali, um quarto atacante e um pequeno cargueiro
vagavam juntos, presos em uma trava-doca, os piratas presumivelmente
ocupados saqueando as suas presas. Um punhado de outras naves
mercantes se dirigia freneticamente para a segurança do hiperespaço.
— O Oficial de Segurança Frangelic reconhece a nossa chegada, —
relatou o oficial de comunicação. — Ele pede ajuda.
Ziara suspirou. Mas não havia nada a fazer.
— Não responda, — ela ordenou. — Repito: não responda.
— Uma pena, — comentou Roscu, vindo por trás de Ziara e Thrawn. —
Havia alguns cafés agradáveis naquela central. Posso lembrar ao capitão
que não há razão para estarmos aqui?
— Anotado, — respondeu Ziara. — Faça uma verificação na barreira
eletrostática. Quero estar pronta caso sejamos atacados.
Roscu ficou em silêncio por um momento, apenas o tempo suficiente
para mostrar o seu descontentamento e suspeita, apenas curto o suficiente
para evitar uma acusação de insubordinação.
— Sim, Capitã Sênior, — ela disse. Afastando-se, ela seguiu para a
estação de defesa.
— Ela está certa, — Ziara disse. — Esta é uma situação militar entre dois
grupos de alienígenas. Acontece o tempo todo aqui. Não há nada para
nos envolvermos. — Ela assentiu com a cabeça em direção à janela. —
Quanto à sua ameaça percebida, não tenho certeza se os invasores nos
notaram.
— Eles perceberam, — apontou Thrawn. — Dois dos três atacantes se
reposicionaram para permitir uma rápida retirada, e o que estava travado
ao cargueiro começou uma rotação lenta para alinhar as suas baterias
principais conosco. — Ele balançou a cabeça lentamente. — Eu posso
vencê-los, Ziara. Posso acabar com todos os quatro, agora mesmo, sem
nenhum dano sério a Parala.
— Sério é um termo altamente relativo, — apontou Ziara. — Mesmo se
puder, não temos nenhuma justificativa. O território de Chiss não foi
invadido e nós não fomos atacados.
— Se nos aproximarmos, podemos ser.
— A provocação deliberada também não é permitida.
Novamente, Thrawn balançou a cabeça.
— Posso ver isso tudo, — ele disse, a sua voz tensa. — As suas táticas, os
seus padrões, as suas fraquezas. Eu poderia te dizer bem aqui, agora,
como vencê-los.
— Mesmo com probabilidade de quatro pra um?
— As probabilidades não importam, — respondeu Thrawn. — Tenho
estudado a arte de Lioaoin desde o nosso primeiro encontro com os
piratas. Conheço as suas tácticas e os seus padrões de batalha. Sei como
eles utilizam as suas armas e defesas, e como se aproveitam dos erros de
um inimigo.
Ele se virou e Ziara ficou impressionada com a intensidade da sua
expressão.
— Nenhum dano, — ele disse suavemente. — Sem danos.
Ziara desviou o olhar para olhar novamente para fora da janela.
Nenhum dano... exceto a ruína da carreira dele. E dela, se ela lhe desse
permissão.
Pessoas estavam lutando e morrendo lá fora. Verdade, eles eram
alienígenas, mas os mercadores Chiss negociavam com eles e os
consideravam pessoas bastante razoáveis. Mesmo os Garwians que não
morressem hoje, aqueles na estação central, por exemplo, teriam as suas
vidas irrevogavelmente mudadas. A Parala poderia interromper essa
destruição, possivelmente garantir que os Lioaoi nunca mais retornassem.
À custa da carreira dela.
Ainda não era tarde demais, ela sabia. Se o resto da tripulação da ponte
pudesse ser persuadida a ficar quieta...
Mas é claro que não iriam. Não com a política familiar e rivalidades
colorindo tudo o que faziam.
A menos que não houvesse nada para eles conversar.
— Você disse que poderia me dizer como derrotá-los, — ela murmurou,
ainda olhando para a batalha. — Você poderia contar para qualquer um?
Com o canto do olho, ela viu a mudança sutil na postura dele.
— Sim, — ele respondeu. — Devo lembrar à capitã que os lasers variáveis
não foram verificados recentemente pela calibração.
— Eu acredito que você está certo, — ela disse. Não que os lasers
variáveis de baixa potência, que coletaram dados de distância e
velocidade durante o combate, tenham saído de calibração em primeiro
lugar.
— Solicito permissão para ir para ao comando secundário e executar
uma verificação.
Ziara engoliu em seco. A carreira dela...
— Permissão concedida, — ela disse. — Enquanto você estiver lá, é melhor
certificar-se de que todos os outros sistemas estejam igualmente prontos
para a batalha.
— Sim Capitã. — Com um sussurro de ar deslocado, ele se virou e se
dirigiu para a escotilha.
Roscu voltou para o lado de Ziara.
— Tirando-o da ponte, espero? — ela perguntou.
— Eu o enviei para verificar os sistemas de sensores de armas, —
respondeu Ziara.
Roscu bufou. 
— E você não acha que ele ficará tentado a usá-los? Porque eu não o
colocaria lá pelo passado dele.
— O Comandante Sênior Thrawn entende os protocolos.
— Ele entende? — Roscu rebateu. — Não teria respondido ao pedido de
socorro de um estrangeiro se estivesse encarregada do oficial de convés.
Atrevo-me a dizer que nem você, Capitã.
— Talvez não, — disse Ziara. — Por outro lado, se a batalha tivesse
acabado quando chegamos, estávamos autorizados a prestar ajuda
humanitária.
— Mas a batalha não acabou. — Roscu fez uma pausa e Ziara pôde sentir
o seu olhar. — Presumo que ele renunciou ao cargo de oficial de convés
quando deixou a ponte?
Em outras palavras, com Ziara agora de volta ao comando, por que a
Parala ainda estava ali?
— Esses piratas parecem fazer parte do mesmo grupo que eu me envolvi
no ano passado em Kinoss, — ela explicou a Roscu. — Quero assistir ao
ataque deles, ver se eles inventaram alguma nova arma ou tática da qual
devemos estar cientes.
— Mas não vamos intervir? — Roscu pressionou.
— Você sente necessidade de citar os protocolos para mim? — Ziara
perguntou suavemente.
— Não, claro que não, — respondeu Roscu, seu tom mais moderado. —
Minhas desculpas, Capitã.
— Capitã? — o oficial de operações chamou do seu posto. — Estou
recebendo atividade nos lasers variáveis.
— Está tudo bem, — respondeu Ziara. — Estou tendo a calibração
verificada.
— Entendido, — disse o oficial, parecendo perplexo. — Você também
ordenou que as frequências fossem moduladas?
— Moduladas como? — Roscu perguntou, carrancuda.
— Apenas modulada, — respondeu o outro. — Não consigo ver nenhum
padrão específico.
— Ele provavelmente os está conduzindo em toda a sua extensão, —
disse Ziara, concentrando-se na batalha. As naves de patrulha Garwian
estavam saindo das suas posições de permaneça-e-lute, mudando para
uma espécie de movimento de flanco em saca-rolhas contra os três piratas.
Os piratas se viraram em resposta, agitando-se pra cima e pra baixo para
usar as suas armas.
Só que foram longe demais, super-compensando e expondo os seus
lados ventrais aos Garwians. Os defensores abriram fogo, rajadas rápidas e
precisas de rajadas de laser de espectro nas barrigas expostas dos
atacantes...
— Múltiplos impactos! — O Comandante Sênior Ocpior gritou da estação
de sensores. — Lançadores de armas ventrais dos piratas violados.
Ventilando para o espaço...
E de repente as duas naves piratas alvejadas explodiram em rajadas de
fogo enquanto seus bancos de mísseis explodiam.
O terceiro atacante, que estava começando a sua própria curva, sacudiu
violentamente enquanto tentava se livrar dos destroços em alta
velocidade. Ele tinha conseguido evitar o pior disso, quando uma das
naves Garwian mergulhou dentro das suas defesas e desferiu uma salva
devastadora. O Garwian mal deixou isso claro antes do seu alvo sofrer a
sua própria explosão paralisante.
Roscu murmurou algo baixinho.
— Eu serei amaldiçoada, — ela disse. — Isso foi... como droga eles
conseguiram isso?
— Piratas se desengatando, — relatou Ocpior. — Aumentando os seus
hiperdrives.
— Entendido, — disse Ziara. As três naves aleijadas estavam se voltando
em direção ao espaço profundo, tentando fugir antes que os Garwians
pressionassem ainda mais o ataque deles. O quarto pirata entendeu a
dica, libertando o cargueiro que estava saqueando e correndo para salvar
a sua vida.
Essa quarta nave chegou à segurança do hiperespaço. Nenhum dos
seus companheiros o fez.
Ziara respirou fundo. 
— E agora, eu acredito, que nós podemos partir. Leme, defina o curso de
volta para o nosso circuito de patrulha.
Ela se virou para Roscu.
— Acredito que você esteja aliviada, Capitã Intermediária Roscu? — ela
acrescentou.
Roscu ainda estava olhando para os restos da batalha, com uma
expressão de descrença em seu rosto.
— Aliviada, capitã? — ela perguntou mecanicamente.
— Aqueles cafés que você mencionou, — respondeu Ziara. — Parece que
eles ainda estão no negócio.
T halias nunca tinha estado em uma nave alienígena antes. Nenhuma
surpresa real, a maior parte das viagens as quais fez fora da Ascendência foi
enquanto era uma sky-walker, e a Sindicura não estava disposta a deixar um
recurso tão valioso se perder para longe do controle dos Chiss.
Mas tinha estado em naves que hospedaram alienígenas da Guilda dos
Navegadores, geralmente embarcações diplomáticas ou militares que
queriam manter a ilusão de que os Chiss não tinham navegadores próprios,
mas também não queriam ficar à mercê desses alienígenas se as viagens
rápidas fossem necessárias.
Perguntou a um dos oficiais superiores uma vez o que aconteceria se a
sky-walker regular tivesse que assumir a navegação e o navegador
alienígena descobrisse o segredo da Ascendência. A resposta era vaga, mas
havia uma frieza nos olhos do oficial que a impediu de perguntar
novamente.
Mas só porque os alienígenas não podiam vê-la, não significa que não
tinha permissão para vê-los. Na maioria dessas viagens, o comandante da
nave ficava feliz em deixá-la assistir em uma das telas de visualização de
monitoração da ponte, apenas para ver como os outros navegadores faziam
as coisas.
Nunca era tão emocionante quanto esperava. Quase sempre os
navegadores ficavam sentados ali, às vezes com os olhos fechados, às vezes
com os olhos bem abertos, às vezes mexendo nos controles quando algo se
aproximava e a nave precisava evitar. Passou muito tempo antes que
percebesse que o seu próprio desempenho como sky-walker era
provavelmente tão enfadonho de assistir quanto o deles.
Mas ali, em uma nave Garwian, com a sua identidade e situação anterior
sem interesse pra ninguém, poderia ter a chance de realmente observar o
navegador de perto. Talvez ver se sobrou o suficiente da sua Terceira Visão
para sentir o que ele ou ela estava realmente fazendo.
Isso era extremamente improvável, é claro. Na verdade, as chances eram
praticamente zero. A Terceira Visão sempre deixava uma sky-walker aos
quatorze ou quinze anos, e esses anos estavam longe no passado de Thalias.
Ainda assim, até onde sabia, ninguém jamais havia tentado colocar uma
ex-sky-walker ao lado de um navegador alienígena trabalhando. Só isso já
fazia valer a pena tentar. Como Thrawn uma vez disse a ela, informações
negativas ainda eram informações.
A tripulação noturna da ponte revelou-se ainda menor do que o
equivalente a bordo das naves Chiss: apenas três Garwians, mais, é claro, o
navegador. Uma das Garwians, provavelmente a oficial responsável, ergueu
os olhos quando Thalias entrou pela escotilha.
— O que você está fazendo aqui, Chiss? — ela desafiou.
— Sou a companheira do Mestre Artístico Svorno, — Thalias
respondeu, curvando-se e mantendo os ombros curvados. Ela e Thrawn
haviam discutido o quanto queriam divulgar a sua suposta identidade de
refém: muito pouco e os Nikardun não poderiam ouvir sobre isso, muito
menos o fato de ser supostamente um segredo cultural dos Chiss, o qual
poderia começar a ser desvendado. A decisão deles foi que se identificasse
como companheira, mas ao mesmo tempo apresentasse a postura e a
maneira de alguém cuja vida estava nas mãos de outra.
Um papel que estava se provando perturbadoramente fácil de se
estabelecer.
— Ele me pediu para anotar e memorizar as tatuagens artísticas no rosto
do nosso navegador.
— O seu mestre está mal informado, — a Garwian disse asperamente. —
São os navegadores do Vetor Um que têm tatuagens. Nós voamos hoje com
um Rastreador.
— Eles não têm tatuagens? — Thalias perguntou, franzindo a testa. —
Você tem certeza?
A oficial acenou em direção à figura no assento do navegador.
— Veja por si mesma.
Escondendo um sorriso, Thalias foi até o painel, focando na figura
enquanto se estendia com todos os seus sentidos. Sentiu o cheiro de algo
picante, de alguma forma, nenhum material o qual tinha lido sobre os
Rastreadores mencionou que tinham um odor característico, mas não havia
mais nada. Ela continuou chegando bem por atrás dele. Nada ainda.
Informação negativa. Mesmo assim, valeu a pena tentar. Contornou a
lateral da cadeira, lembrando que deveria confirmar que os Rastreadores
não tatuavam os seus rostos...
Foi tudo o que pôde fazer para não ofegar de surpresa e horror. O
alienígena sentado ali, com os contornos faciais, o formato das winglets das
bochechas, o padrão de fluxo das cerdas acima dos seus olhos, já tinha visto
isso antes. Na verdade...
— Eu disse a você, — disse a Garwian, com o seu tom numa mistura de
satisfação e desprezo.
Thalias assentiu com a cabeça, procurando por sua voz enquanto dava
uma última olhada dolorosamente cuidadosa. Não havia dúvida.
— Você estava certa, — ela concordou. Ela se afastou da cadeira e
curvou-se novamente para a Garwian. — Minhas desculpas pela intrusão.
Thrawn estava na seção de estudos da suíte quando ela voltou.
— Temos problemas, — ela disse sem preâmbulos.
Ele largou o seu questis, com os seus olhos fixos nela.
— Explique.
— Você se lembra daquele Rastreador que você contratou para o ataque
da Falcão de Primavera em Rapacc? — Thalias perguntou.
— Claro. Qilori de Uandualon.
— Certo, — Thalias disse. — Ele está na ponte agora.
Thrawn ergueu uma sobrancelha.
— Ele está lá, agora.
— Isso é tudo? — Thalias exigiu. — Ele está lá, agora? Parece-me que
uma situação como esta exige uma resposta mais forte do que apenas ele
está lá, agora.
— O que você sugere que façamos? — Thrawn perguntou calmamente.
— Pedir a Frangelic para parar a nave para que possamos descer? Exortá-lo
a prender Qilori no minuto em que deixarmos o hiperespaço, possivelmente
resultando em um boicote à Unidade Garwian por toda a Guilda dos
Navegadores?
— Não, claro que não, — Thalias grunhiu. Odiava quando as pessoas
iam imediatamente para os piores cenários. — E se ele nos ver? Ou melhor,
e se ele te ver? E se os Nikardun estiverem em Primea? Porque eles já estão
atrás do seu sangue. Uma palavra casual ou lapso da língua de Qilori, e
estaremos correndo para salvar as nossas vidas.
— Talvez, — respondeu Thrawn, com os seus olhos se estreitando em
pensamento. — Por outro lado…
— Por outro lado, o quê?
— Não é o tom certo para uma refém se dirigir ao seu mestre, — disse
Thrawn.
— Vou manter isso em mente. Por outro lado, o quê?
— Nosso objetivo é reunir informações sobre os Nikardun e os seus
planos, — respondeu Thrawn lentamente, com os olhos ainda semicerrados.
— Nós os estimulamos em Rapacc e em Urch. Talvez seja hora de fazer o
mesmo em Primea.
— Isso parece perigoso, — Thalias avisou. — E se Frangelic não
concordar?
— Eu não estava planejando contar a ele.
Thalias sentiu o seu lábio torcer.
— Foi isso o que eu pensei.
— Não se preocupe, — acalmou Thrawn. — Se fizermos certo, nada
disso terá reflexo negativo nos Garwians.
— Ótimo, — Thalias disse pesadamente. Ela poderia apreciar a
consideração de Thrawn por seus anfitriões.
Mas, para ser honesta, não era com os Garwians que ela estava
preocupada.

Qilori sempre odiou recepções estrangeiras. As recepções diplomáticas


eram ainda piores. As vozes e sons estranhos, os rostos e tipos de corpos
estranhos e muitas vezes nojentos, os odores estranhos, especialmente os
odores alienígenas, tudo isso somado à perda de uma noite, um dia ou,
ocasionalmente, uma semana inteira torturante. Ao todo, preferia muito
mais ter ficado em órbita na nave Garwian.
Mas Yiv estava ali e ordenou que Qilori descesse para entregar um
relatório em primeira mão sobre a situação na parte do Caos de Qilori. E
então Qilori estava ali também, sofrendo com os odores alienígenas,
observando e esperando a sua vez à distância enquanto o Benevolente
realizava o jovial corte em um canto com alguns diplomatas alienígenas. Se
Yiv terminasse o seu debriefing rápido o suficiente, talvez pudesse
convencer o piloto do transporte espacial Garwian a levá-lo de volta à nave
enquanto o resto da delegação falava ou bebia até ficar estúpido ou fazia
qualquer outra coisa que tivesse para fazer ali.
— A sua maquiagem está desarrumada, — uma voz severa veio baixinho
atrás dele. — Uma refém de família precisa manter o decoro adequado. Vá
para outro lugar e conserte.
Uma voz familiar, de alguma forma. Franzindo a testa, Qilori se virou.
Um par de Chiss, um homem e uma mulher, estava a alguns metros atrás.
O homem era alto, com um comportamento altivo e manto de trajes formais
completo dos Chiss drapeado sobre os ombros, enquanto a mulher era mais
baixa, vestida com uma roupa bem menos elaborada, com algum tipo de
maquiagem grossa e texturizada espalhada em seu rosto. Os seus ombros
estavam arredondados, os seus olhos baixos, a sua expressão como a de um
animal de estimação favorito que acaba de levar um tapa. Qilori observou
enquanto ela fazia uma reverência e escapulia por entre a multidão de
dignitários conversando.
Qilori olhou de volta para o homem, se perguntando quem era a mulher
para ele e por que ela reagiu tão fortemente à sua repreensão. Seu rosto,
agora de perfil, parecia tão vagamente familiar quanto a sua voz.
Ele sentiu as suas winglets ficarem rígidas. O rosto... A voz...
Era Thrawn.
O Chiss se afastou, mas nos primeiros segundos Qilori ficou preso no
lugar. Disseram a ele que havia dois Chiss a bordo da nave Garwian que
havia sido contratado para navegar, mas eles deveriam ser algum tipo
acadêmico enfadonho e a sua companheira, ou serva ou algo parecido.
Só que não era. Era Thrawn. Thrawn em traje civil, operando sob um
nome falso. E isso só poderia significar uma coisa.
Um grande e gordo bônus.
O seu primeiro impulso foi ir direto para o Benevolente, interromper a
conversa que estava tendo e dar-lhe as novidades. Mas o bom senso e a
cautela intervieram. Mesmo se Yiv não o chicoteasse por pura insolência,
quebrar o protocolo dessa forma chamaria atenção indesejada. Melhor, e
mais seguro, esperar até que o Benevolente tivesse um momento livre.
E enquanto esperava por aquele momento...
Thrawn estava parado perto da seção agridoce do arranjo de alimentos,
examinando as diferentes ofertas, quando Qilori o alcançou.
— Eu ficaria longe do kiki, — ele avisou, apontando para uma mistura
de meias-luas vermelhas, laranjas e azuis pálido. — É necessário um
determinado conjunto de sucos digestivos para digeri-lo adequadamente.
— Interessante, — disse Thrawn, olhando mais de perto para a tigela. —
Estranho que os nossos anfitriões incluíssem um prato tão especializado.
— Talvez, — disse Qilori. — Mas você ficaria surpreso com quantas
pessoas negociarão com prazer um minuto de sabor delicioso por uma hora
de desconforto gástrico. Acredito que você estava a bordo da minha nave.
— Sua nave? — Thrawn franziu a testa e, em seguida, a sua expressão
clareou. — Ah... você quer dizer que era o navegador do Enviado Proslis.
Eu sou o Mestre Artístico Svorno, curador-chefe da Coleção de Arte
Nunech.
— Prazer em conhecê-lo, — disse Qilori, perguntando-se brevemente se
deveria dar o seu próprio nome ou, em vez disso, dar algo fictício.
Nenhum, ele decidiu. Mesmo que Thrawn não reconhecesse o rosto de
Qilori, poderia se lembrar do seu nome, e um nome falso seria muito fácil
de expor. — O que o traz a Primea?
— A esperança de finalmente pôr de lado a teoria absurda de que os
Vaks e Garwians tinham uma relação comercial na Era Midoriana, —
respondeu Thrawn. — Foi proposto há oitenta anos por aquele professor
idiota... — Ele se interrompeu. — Mas é claro que você não está
interessado nessas coisas.
— Temo que a história e a teoria artística estejam muito acima da minha
inteligência, — Qilori disse educadamente com um lampejo de diversão
cínica. Thrawn podia mudar o seu nome e brincar de se fantasiar o quanto
quisesse, mas nunca se faria passar por um verdadeiro acadêmico até que
reconhecesse que essas pessoas adoravam tagarelar sobre as suas
especialidades, quer o público quisesse ou não. — Mas tenho certeza de que
os registros Vak terão tudo o que você está procurando. Posso oferecer
alguma recomendação?
— Já falei com todos aqueles de que preciso, — disse Thrawn, esticando
o pescoço e olhando em volta. — Também estou familiarizado com a
maioria das espécies aqui. Poucos delas têm arte que seja digna desse nome.
— Ele ergueu um dedo. — Eu não tinha visto um desses antes. Você os
conhece?
Qilori sentiu as suas winglets enrijecerem. Thrawn estava apontando
diretamente para Yiv.
— Eu acredito que eles se chamam Nikardun.
— Sério, — disse Thrawn. — Eu ouvi algumas histórias vagas e
ridículas sobre eles. Suponho que você não conseguiria me fazer passar por
aquela multidão?
— Eu poderia, — Qilori respondeu cuidadosamente. Seria realmente tão
fácil assim? — Acredito que os Rastreadores já tiveram alguns negócios
com eles. Se quiser esperar aqui, vou ver se ele está aberto a uma conversa.
— Tudo bem, mas seja rápido, — disse Thrawn. — Tenho reuniões cedo
ao acordar e não posso ficar aqui por muito mais tempo.
— Claro. — Esperando que todos mudassem os seus horários em torno
do dele. Isso era mais como um verdadeiro acadêmico sênior.
Yiv estava rindo de alguma piada quando Qilori o alcançou. Os olhos do
Benevolente se voltaram pra ele, a ondulação dos seus simbiontes nos
ombros avisando o recém-chegado a esperar a sua vez. Qilori deu mais um
passo à frente, esperou até que Yiv parasse para respirar e pigarreou.
— Ele está aqui, — ele disse calmamente.
— Quem está aqui? — um dos Vaks gargalhou, provocando outro coro
de risadas. Ou Qilori involuntariamente forneceu uma piada extra para a
piada atual ou então o grupo estava tão bêbado que estava pronto para rir de
qualquer coisa.
Mas todo o humor havia desaparecido do rosto de Yiv.
— Ele está aqui? — ele perguntou.
Qilori assentiu.
De repente, Yiv explodiu numa risada, o som repentino levando todos os
outros ao silêncio.
— Um momento de despedida, meus bons amigos, — ele disse com uma
alegria que não se estendia aos olhos. — Devo me despedir de todos por
alguns momentos. Sugiro que vocês aproveitem a luxuosa vitrine de jantar
fornecida por nossos anfitriões.
Qilori esperou até que a multidão se dissipasse. Então, ao pequeno gesto
de Yiv, ele se aproximou da cadeira do Benevolente.
— Thrawn? — Yiv perguntou, em um tom de advertência de que era
melhor Qilori não tê-lo interrompido por nada menos importante.
— Sim, sua Benevolência, — confirmou Qilori. — Ele está a meia
distância atrás de mim, vestido com trajes formais Chiss. — Ele ousou uma
contração sorridente das suas winglets. — Ele está viajando como um
especialista em arte sob o nome de Svorno. Ele também ouviu falar dos
Nikardun e gostaria muito de conhecer um.
— Ele faria isso agora, — disse Yiv, os seus simbiontes se acomodando
no padrão de dragonas. — Não vamos desapontá-lo, então. Por favor; traga-
o aqui.
— Sim, sua Benevolência.
Qilori se virou e refez os seus passos até onde Thrawn estava esperando.
— Venha comigo, — ele disse. — O General Yiv, o Benevolente, verá
você agora.
— General Yiv — disse Thrawn, carrancudo. — Um tipo militar. Então.
É improvável que saiba alguma coisa sobre a arte da sua espécie, então.
— Eu realmente não sei, — disse Qilori, sentindo uma tensão repentina
em suas winglets. Certamente Thrawn não iria desistir da reunião agora?
As consequências de tal desprezo flagrante poderiam ser catastróficas, e não
apenas para Thrawn e os Chiss. — Mas ele poderia. Você nunca sabe que
fragmentos de conhecimento os militares guardam. Você deveria pelo
menos tomar um momento e perguntar a ele.
Thrawn considerou, então deu de ombros.
— Oh muito bem. Até porque eu não posso me retirar adequadamente
para os meus aposentos até que a minha... companheira... volte.
— Sim, quero dizer... eu tenho certeza de que você achará o general
interessante, — disse Qilori. Companheira... mas ele não tinha chamado a
mulher de refém antes?
Mas isso não fazia sentido. Que tipo de refém viajava abertamente com o
seu captor? Aliás, desde quando a cultura Chiss lidava com reféns?
— Venha comigo.
Yiv estava esperando em silêncio enquanto o Rastreador e o Chiss se
aproximavam, com um meio sorriso no rosto e um olhar fixo nos olhos.
— Sua Benevolência, apresento o Mestre Artístico Svorno da
Ascendência Chiss. Mestre Svorno, General Yiv, o Benevolente do Destino
Nikardun.
— General — disse Thrawn, inclinando a cabeça em saudação. —
Entendo que você é um militar.
— Isso mesmo, Mestre de Arte, — disse Yiv. — Entendo que você não
é.
Uma sugestão de sorriso tocou os lábios de Thrawn.
— De fato, — ele disse. — Uma vergonha. Os militares raramente se
interessam por arte. — Ele se virou e apontou para um grande pano
decorado pendurado do teto até perto do chão. — Aquela tapeçaria ali, por
exemplo. Aposto que você nem mesmo a percebeu.
— Claro que sim, — disse Yiv. — Ela fica pendurada entre a mesa de
bebidas mais fortes e a entrada privativa do escritório do premier.
— Realmente, — disse Thrawn, olhando para trás, para a tapeçaria e a
porta despretensiosa ao lado dela. — Como você sabe que é a porta privada
do primeiro-ministro?
— Porque estive no escritório dele, é claro, — respondeu Yiv. — Ele e
eu tivemos muitas conversas longas e interessantes juntos. Você teria a
bondade de me trazer uma bebida?
Thrawn meio que virou na outra direção, onde um garçom estava
passando, e habilmente tirou um dos copos esculpidos de sua bandeja.
— E o primeiro-ministro convidou você para entrar por aquela porta? —
ele perguntou.
— Não, eu sempre fui trazido pela entrada pública do outro lado, —
respondeu Yiv. — Mas tenho uma habilidade com arquitetura, e era óbvio
onde a porta que marcava a entrada privada saía aqui para a grande câmara
de assembleia.
— Suponho que posso entender o desejo do primeiro-ministro de uma
fuga rápida do tédio desses eventos. — Thrawn cheirou a bebida, deu um
passo à frente e a ofereceu a Yiv. — Espero que seja do seu agrado.
— Tenho certeza que sim, — disse o Benevolente. Ele segurou o copo
até o ombro esquerdo, observando com interesse casual enquanto uma das
gavinhas do simbionte escorregava e provava o líquido. — Sim, imagino
que o primeiro-ministro possa ocasionalmente desejar alternar entre eventos
públicos e privados. Eu pessoalmente acho mais interessante que a
passagem entre os dois quartos seja muito longa.
— O que você quer dizer com muito longa?
— Mais longo do que deveria ser dado ao projeto da área, — respondeu
Yiv. — Espero que você não esteja ofendido com o meu bichinho de
estimação?
— De jeito nenhum — Thrawn garantiu. — Um detector de veneno, eu
presumo?
— Venenos e outros inconvenientes, — respondeu Yiv. Ele puxou o copo
da gavinha, observou por um momento enquanto ele continuava a ondular,
então tomou um gole da bebida. — Eles são mais rápidos e precisos do que
a maioria dos testes inorgânicos para essas coisas. Eles também fornecem
um tópico interessante para conversa quando todos os outros ficam para
trás.
— Interessante que você diga eles. — Disse Thrawn. — Eu diria que o
termo correto era isso.
Yiv deu uma risadinha.
— Viu? Já ofereceu oportunidade para discussão. Por que você acha que
o primeiro-ministro precisa de uma passagem tão longa?
— Tenho certeza de que eu não sei, — respondeu Thrawn. — Talvez
uma porta oculta construída na parede do corredor leve a quartos adicionais
ou a um santuário. Ou talvez o espaço extra seja para uma estação de
guarda para evitar que outras pessoas usem o atalho. Diga-me, o que você
vê no desenho da tapeçaria?
— Eu não sou um especialista, — protestou Yiv suavemente.
— Você perguntou o que eu pensava sobre as idas e vindas particulares
do primeiro-ministro, — Thrawn lembrou a ele. — Então me parece justo
me satisfazer em contrapartida.
Yiv deu outro gole e estudou o pano.
— Padrão simétrico, — ele disse. — Cores contrastantes. Diferentes
conjuntos de cores contrastantes, tornando-se mais brilhantes e tendendo ao
vermelho e ao azul à medida que fluem de cima a baixo. A franja na borda
esquerda parece mais curta do que a franja correspondente na direita.
— Mais curtos, e os fios também são um pouco mais grossos do que os
da direita, — acrescentou Thrawn.
— Eles São? Eu não posso dizer desta distância.
— Eu os estudei antes de um ponto de vista melhor.
— Ah, — disse Yiv. — O próprio dependurado é claramente antigo, o
que provavelmente explica a inexperiência de seu design e construção.
— É certamente antigo, — disse Thrawn. — Mas eu diria que as
irregularidades do projeto são deliberadas. Foi claramente criado por dois
tecelões diferentes trabalhando em coordenação e contraste. Isso sugere que
os Vaks honram ambos os aspectos, trabalhando pela unidade e, ao mesmo
tempo, celebrando a diferença e a singularidade.
— Eu diria que é uma avaliação justa, — disse Yiv. — Interessante. E
você determinou isso apenas estudando um único dependurado?
— Não, — respondeu Thrawn. — Há muitas outras obras de arte aqui.
Tudo isso exibe e define o ethos cultural dos Vaks. O que você vê aqui?
— Vejo o que todos os seres veem nos outros, — respondeu Yiv. —
Oportunidade. Para você, a oportunidade de adicionar o seu conhecimento
de arte. Pra mim, a oportunidade de fazer novos amigos dentro do mar
agitado da vida que constitui o Caos.
— E se os Vaks não desejarem ser amigos dos Nikardun?
O sorriso do Benevolente desapareceu.
— Consideraríamos tal rejeição um insulto.
— Um insulto que precisaria ser vingado?
— Para lidar com isso, — Yiv corrigiu. — Vingado é uma palavra muito
selvagem. As suas habilidades de observação são impressionantes.
— Algumas coisas são óbvias, — disse Thrawn. — As gavinhas do seu
simbionte, por exemplo, com o grupo interno mais fino do que o externo.
Presumo, pelo movimento rítmico delas, que as internas experimentam o ar
da mesma forma que as gavinhas externas provam a sua comida e bebida?
— De fato — disse Yiv, o seu sorriso se alargando mesmo quando seus
olhos esfriaram um pouco. — Poucas pessoas compreenderam esse fato e
distinção. Nenhum percebeu isso tão rapidamente.
Houve um movimento no limite da visão de Qilori, e ele virou-se para
ver a mulher Chiss passar por ele. Thrawn olhou para cima enquanto ela
caminhava para o seu lado, olhando de perto para o rosto dela.
— Melhor, — ele disse. — Mas não perfeito. — Você levantará uma
hora mais cedo amanhã de manhã e praticará.
Ela fez uma reverência.
— Sim, meu senhor, — ela disse suavemente.
— E esta é? — Yiv perguntou, apontando para ela.
— Uma pessoa sem importância, — respondeu Thrawn. — Agora que
ela finalmente voltou, é hora de me retirar para dormir. Obrigado pelo seu
tempo, General Yiv. Talvez tenhamos a oportunidade de retomar esta
conversa em outro momento.
— De fato, Mestre Artístico Svorno, — disse Yiv, inclinando a cabeça.
— Vou esperar por isso.
Ele observou em silêncio enquanto os dois Chiss abriam caminho através
da multidão. Então ele novamente acenou para Qilori.
— Então foi esse quem roubou a minha nave em Rapacc, — ele disse,
com a voz pensativa. — Interessante.
— Ele é mais competente do que parece, — observou Qilori,
estremecendo um pouco. Toda a conversa parecia sem sentido. Se Yiv
culpasse Qilori por desperdiçar o tempo...
— Você acha que aquela exibição mostrou incompetência? — o
Benevolente disse com desprezo, ainda observando o Chiss. — Você acha
que só porque não havia vozes altas ou armas disparadas que não entramos
em combate?
— Mas... — Qilori olhou para Thrawn enquanto ele desaparecia por uma
arcada.
— Confie em mim, Rastreador — disse Yiv, com a sua voz sombria, os
seus simbiontes ondulando em uma agitação silenciosa. — Eu entendo essa
pessoa agora, e ela é tão perigosa quanto você me disse. Você foi sábio em
trazê-lo à minha atenção e, em seguida, à minha presença.
— Obrigado, sua Benevolência, — disse Qilori. Ele ainda não tinha ideia
do que tinha acontecido, mas se Yiv estava satisfeito, certamente ele não
iria discutir o ponto. — O que você vai fazer com ele?
Yiv tomou um gole da sua bebida.
— As opções são três: levá-lo quando ele sair deste evento, levá-lo em
outro momento durante a sua estada em Primea, ou levá-lo quando o
enviado Garwian partir para o seu retorno a Solitair. Todos os três
apresentam dificuldades e perigos, sendo que o menos importante é a minha
relutância em agir abertamente contra os Vaks ou os Garwians neste
momento.
— Ou os Chiss, — Qilori avisou.
— Os Chiss são irrelevantes, — disse Yiv com desdém. — Eles só se
movem depois de serem atacados.
— A captura ou o assassinato de um oficial sênior pode se qualificar.
— Somente se o oficial em questão for de patente, comodoro ou
superior, — disse Yiv.
— Sério? — Qilori perguntou, carrancudo. — Eu não sabia disso.
— Não estou surpreso, — disse Yiv. — Não é um assunto sobre o qual
falem abertamente.
— Presumivelmente, eles não falam em viajar com reféns, — observou
Qilori. — Mas ela parece ser uma.
o Benevolente bufou novamente.
— Você está imaginando coisas.
— Estou? — Qilori rebateu. — Eu o ouvi dizer a ela para ir arrumar a
maquiagem, que uma refém da família precisa manter o decoro.
Yiv acenou com a mão.
— Um blefe transparente, projetado para me fazer pensar que há coisas
sobre os Chiss que não sabemos. Obviamente, foi falado para o seu
benefício.
— Ele não sabia que eu podia ouvi-lo.
— Foi um blefe, — Yiv insistiu.
Mas houve alguma hesitação na voz do Benevolente naquele momento.
Thrawn certamente poderia estar jogando com ele, assim como ele tinha
dito.
Mas se ele não estivesse, se os Chiss realmente tivessem uma cultura de
reféns escondida, poderia haver outras coisas mais cruciais sobre eles que
também eram desconhecidas.
— Então o que você vai fazer?
Yiv voltou um olhar gelado para ele.
— Você se tornou meu confidente? — ele perguntou. — Ou foi elevado
ao posto de comandante tático pelo Destino?
— Peço perdão à sua Benevolência, — respondeu Qilori, encolhendo-se.
— Só pergunto porque a decisão de tomá-lo durante a partida dos Garwians
pode exigir algum nível de consciência ou participação da minha parte.
Yiv o olhou pensativo.
— Uma boa observação, — ele concedeu. — Muito bem, Rastreador. A
menos que eu decida de outra forma, o plano será interceptar a nave
Garwian sob algum pretexto quando ela deixar Primea. — Os seus olhos se
fixaram nos de Qilori. — Você vai se certificar de que eles não escapem
para o hiperespaço antes que as minhas naves se envolvam.
— Sim, meu lorde, — Qilori disse, com o seu coração batendo
dolorosamente. Para um Rastreador fazer parte de tal operação era uma
grande violação de todas as regras e diretrizes do código da Guilda dos
Navegadores. Se isto viesse à tona, não apenas ele estaria terminado como
um Rastreador, mas dependendo do resultado da operação, ele poderia
muito bem se encontrar nas correntes do carrasco.
Mas ele não teve escolha. As suas negociações contínuas e muito
privadas com Yiv já o haviam colocado perigosamente além do limite. Se o
Benevolente decidisse que o seu Rastreador domesticado não era mais útil,
Qilori voltaria a se encontrar no curto caminho para a destruição.
E certamente tirar Thrawn do caminho seria uma coisa boa. Os Nikardun
eram, em última análise, imparáveis, e quanto menos morte e destruição
eles deixassem em seu rastro, melhor para todos.
Sim, decidiu Qilori. O que quer que Yiv quisesse que ele fizesse,
certamente poderia lidar com isso.
A r’alani raramente soube que o general Ba’kif ficou zangado. Pelo
menos, ela raramente soube que ele ficou com raiva dela.
Ele estava mais do que compensando isso agora.
— Que droga você estava pensando? — ele retrucou, olhando como se
estivesse tentando derretê-la em escombro apenas com o brilho do olhar e
força de vontade. — Permitir que uma sky-walker fosse separada da sua
cuidadora é ruim o suficiente; na verdade, a engenharia dessa separação
leva as coisas a um nível inteiramente novo de ilegalidade.
— Não importa, — o Síndico Zistalmu grunhiu, fazendo o seu melhor
para ajudar nos esforços de Ba'kif para iniciar o fogo. Em contraste com o
general, Ar’alani estava bastante familiarizada com a raiva de Zistalmu. —
Esses são assuntos militares menores, e não é por isso que Síndico Thurfian
e eu estamos aqui. O que queremos saber é como você pode permitir que o
Capitão Sênior Thrawn se inserisse, de novo, na política Garwian.
— De fato, — Thurfian apoiou. Ao contrário do calor que irradiava dos
outros dois interrogadores de Ar’alani, o seu tom e rosto eram a casca
congelada de Csilla. — A Aristocracia de alguma forma não foi clara?
— O Capitão Thrawn não estava se inserindo na política, — respondeu
Ar’alani, mantendo a voz serena. Ela nunca encontrou muito crédito no
velho ditado que diz que palavras suaves erodem as duras, mas certamente
não queria deixar Ba'kif ou Zistalmu mais furiosos do que já estavam.
Especialmente com Zistalmu a um nanosegundo de exigir que toda a
Sindicura se reunisse para considerar as acusações contra ela. Ao contrário
da sua primeira oficial, Ar’alani não tinha um canal para o tipo de intrigas
familiares que poderiam fornecer a ela um contra-ataque ou uma estratégia
de saída.
— Realmente, — disse Zistalmu, a sua voz carregada de sarcasmo. —
Ele viaja a bordo de uma nave diplomática Garwian, na companhia de um
enviado Garwian, para um mundo com o qual não temos laços políticos; e
isso não tem nada a ver com política? Os Garwians converteram o seu
corpo diplomático em um clube de tricô?
— A missão era de reconhecimento, — esclareceu Ar’alani. — O
Capitão Thrawn está tentando determinar onde mais os Nikardun podem ter
se estabelecido...
— E esses Nikardun atacaram a Ascendência? — Thurfian interrompeu.
— Eles mostraram alguma indicação de que poderiam atacar a
Ascendência?
— Eles destruíram uma nave de refugiados dentro de um de nossos
sistemas.
— É o que você afirma, — disse Zistalmu. — A Sindicura ainda não viu
evidências sólidas de que os Nikardun são os responsáveis.
— Tudo isso é irrelevante de qualquer maneira, — disse Thurfian. — Se
não houve ataque e nem ataque iminente, não é um assunto militar,
portanto, como o Síndico Zistalmu já afirmou, é político. — Ele voltou o
seu olhar para Ba'kif. — A menos que você esteja preparada para alegar que
o General Ba’kif autorizou pessoalmente esta missão.
— Nem um pouco, — disse Ar’alani rapidamente. Essa tática, pelo
menos, ela conhecia: Zistalmu lançando a sua rede na esperança de atingir o
máximo de pessoas que pudesse. Ela e Thrawn já estavam emaranhados na
rede, e não tinha intenção de permitir que Ba'kif fosse arrastado ao lado
deles. — Mas, como eu tenho certeza de que você está ciente, Síndico, às
vezes surgem situações em que os eventos acontecem muito rapidamente
para consultar os superiores.
— Uma afirmação interessante, — disse Thurfian, a temperatura em sua
voz caindo mais alguns graus. — Diga-me, Solitair perdeu então todas as
suas tríades? A Ascendência perdeu todas as suas tríades? Uma nave no
espaço profundo pode ter apenas uma comunicação unilateral, mas assim
que Thrawn pousou em Solitair, essa desculpa desapareceu. Se ele não se
reportou a Csilla ou Naporar e pediu ordens, foi porque ele optou por não
fazê-lo.
— Ou porque os Garwians optaram por não deixá-lo, — disse Ba’kif.
Ele ainda estava com raiva, Ar’alani sabia, mas ele podia ver os dois
síndicos abrindo caminho para dentro dos assuntos militares, e ele
claramente não tinha intenção de ceder qualquer parte desse território. — A
Sindicura está certa em questionar as decisões do Capitão Thrawn...
— Em questioná-las? — Zistalmu disparou.
— ...mas essa discussão pode esperar até que ele retorne e seja capaz de
se defender adequadamente, — continuou Ba’kif. — A questão imediata é
como retirá-lo com segurança do seu reconhecimento.
— Por que deveríamos? — Zistalmu exigiu. — As atividades dele são
totalmente sem autorização. Ele se meteu nisso. Ele pode sair sozinho.
— Tem certeza de que é isso que você deseja, Síndico? — Perguntou
Ba’kif.
— Por que não?
— Porque é de Thrawn que estamos falando, — esclareceu Thurfian
amargamente. — O general está sugerindo que pode haver consequências
políticas e diplomáticas piores se permitirmos que ele faça o que quer que
seja que está fazendo, do que se simplesmente entrarmos e retirá-lo.
— Bem, pelo menos não seria mais um constrangimento para nós, —
resmungou Zistalmu.
— Não tenha tanta certeza, — disse Thurfian, o seu olhar mudando para
Ar’alani. — Como exatamente você faria isso, Almirante?
— Sem rodeios, — respondeu Ar’alani. — Eu levaria a Vigilante ao
sistema Primea, os contactaria e combinaria para buscá-lo. Se eu sair
imediatamente, devo estar dentro do prazo que ele especificou.
— E se eles se recusarem a desistir dele?
— Por que eles fariam isso? — Perguntou Ba’kif. — Não temos
nenhuma disputa com os Vaks.
Ar’alani manteve a sua expressão firme. Isso era verdade... A menos que
os Vaks já estivessem sob o controle dos Nikardun. Nesse caso, a missão de
recolhimento simples que ela estava lançando poderia ficar muito feia
muito rápido.
— Isso não significa que eles não tenham uma desavença conosco, —
Zistalmu respondeu. — Principalmente se eles virem Thrawn como um
espião. Mas não se preocupe com eles. E se esses seus Nikardun assumiram
o controle?
— Já vimos que eles ainda não estão prontos para enfrentar a
Ascendência, — lembrou Ar’alani.
Thurfian bufou.
— Não há necessidade de nos enfrentar, pois poderiam simplesmente
vaporizar a nave Garwian com Thrawn a bordo e alegar que foi um
acidente.
— Mais uma razão para a Vigilante chegar lá antes que isso aconteça, —
disse Ba’kif severamente. — Se você nos der licença, precisamos colocar
essa missão em andamento.
— Claro, — disse Thurfian. — Assim que resolvermos o problema da
sky-walker da Vigilante.
Ar’alani fez uma careta. Ela esperava que eles já tivessem esquecido
disso.
— Eu prometi à cuidadora de Che'ri que eu cuidaria dela, — ela apontou.
— Eu não vejo razão para eu não poder continuar a fazer isso.
— Você não vê? — Thurfian perguntou. — A almirante e comandante de
uma fragata Nightdragon, e você acha que terá tempo para atender às
necessidades de uma criança também? — Ele balançou a sua cabeça. —
Não. Nós precisamos encontrar uma nova cuidadora antes que você possa
deixar Csilla.
— Temo que isso não seja possível, — apontou Ba’kif. — Todas as sky-
walkers e cuidadoras já estão comprometidas com outras naves.
— Deixe-me propor uma solução, — ofereceu Zistalmu. — A minha
esposa serviu como cuidadora por dois anos antes de nos casarmos. Seu
registro dessa época é muito bom. Restabeleça-a, e ela e eu podemos viajar
a bordo da Vigilante juntos.
— Thalias me escolheu, — disse Ar’alani com firmeza. — Como
cuidadora oficial de Che'ri, ela tem a autoridade final para mudar essa tarefa
enquanto estiver a bordo da minha nave.
— Mas ela não está a bordo da sua nave agora, está? — Zistalmu
rebateu.
— Ela estava quando me nomeou como sua substituta, — disse Ar’alani.
— Não tenho intenção de desistir desse mandato e você não tem autoridade
para tirá-lo de mim.
— Eu tenho toda a autoridade...
— Chega, — interrompeu Ba’kif. — Síndico Zistalmu, quão longe está a
sua esposa?
— Ela pode estar aqui em duas horas.
— Ligue pra ela agora, — ordenou Ba’kif. — Almirante, eu concordo
que os regulamentos apoiam a sua posição. Mas o Síndico Thurfian está
certo em nos lembrar de suas outras responsabilidades. Portanto, estou
decidindo que a esposa do Síndico Zistalmu compartilhará a função de
cuidadora com você e assumirá a posição principal sempre que você estiver
ocupada. Alguma pergunta?
Ar’alani reprimiu uma carranca. A última coisa que queria era uma
mulher estranha entrando de repente na vida de Che'ri; a garota já tinha
problemas suficientes para se socializar com outras pessoas sem atrapalhar
mais as coisas.
E ela absolutamente não queria um síndico na sua ponte, observando
cada movimento seu e, sem dúvida, reunindo munição para ser usada contra
ela em algum lugar no futuro. Ba’kif não conseguia ver que esta era mais
uma tentativa da Sindicura de se intrometer na esfera de autoridade da
frota?
— Sem perguntas, General, — ela respondeu rigidamente.
— Ótimo, — disse Ba’kif. — Obrigado por seu interesse e contribuição,
Síndicos. Síndico Zistalmu, você e a sua esposa irão se apresentar ao
transporte da Almirante Ar’alani em três horas para transporte imediato
para a Vigilante. Almirante, outro momento de seu tempo?
Ar’alani ficou onde estava, com os olhos fixos em Ba’kif, enquanto
Zistalmu e Thurfian passavam pela porta atrás dela. Ela esperou até que a
porta se fechasse...
— Não diga isso, — avisou Ba’kif antes que ela pudesse falar. — Não,
não é o ideal. Na verdade, está tão longe do ideal quanto poderia estar.
— Então por que concordou com isso?
— Porque eu tive escolha, — respondeu Ba’kif. — Porque se tivesse
tentado manter Zistalmu longe da Vigilante, ele teria nos amarrado em um
processo enrolado até que Thrawn morresse de velhice. — Ele fez uma
pausa. — E porque você não tem um mandato... porque Thalias não é, de
fato, uma cuidadora oficial.
Ar’alani sentiu seus olhos se estreitarem.
— Do que você está falando?
— Estou falando sobre o fato de ela ter passado a lábia para conseguir
embarcar na Falcão de Primavera, — respondeu Ba’kif. — Ela mesma já
foi uma sky-walker, o que tornava a lábia um pouco mais fácil, mas o fato é
que ela não tem credenciais oficiais.
— Mas ela é da Mitth, — disse Ar’alani, tentando entender. — Você está
me dizendo que alguém com as conexões e suspeitas de Thurfian não
percebeu isso?
— Pelo contrário, — respondeu Ba’kif sombriamente. — Ele
aparentemente apareceu no último minuto para ajudá-la a embarcar nessa
posição.
— Sério, — disse Ar’alani. — Qual foi o custo dessa assistência?
— Eu não sei, — respondeu Ba’kif. — Mas houve um custo, ou haverá
algum em algum momento. Com o Thurfian, isso é praticamente garantido.
O meu ponto é que tudo o que ele tinha que fazer era lançar isso na
conversa, e você estaria fora completamente. Mas ele não fez isso. A
questão é por quê?
— Possivelmente porque ele prefere que me envolva com a nossa sky-
walker a entregá-la completamente à esposa de um sindico Irizi.
— Normalmente, eu concordaria com você, — disse Ba’kif. — Mas
você certamente notou que, apesar das rivalidades de suas famílias, ele e
Zistalmu mostraram uma unidade notável em suas tentativas de tirar
Thrawn da frota, ou pelo menos de qualquer posição de influência. Eu não
acho que ele teria problemas com a esposa de Zistalmu estar no comando
completo.
— E, claro, deixar Thrawn abandonado em Primea seria uma solução
permanente para o problema considerado por deles.
— Exatamente, — disse Ba’kif. — Por outro lado, acho que ele não
denunciou você porque isso também teria tirado Thalias da Falcão de
Primavera quando ela voltar, e há algo que ele ainda quer que ela faça.
Provavelmente algo relacionado ao preço de colocá-la a bordo em primeiro
lugar.
Ele acenou com a mão em despedida.
— Mas isso pode esperar. Agora, precisamos tirar Thrawn de Primea
antes que a situação se torne difícil de lidar.
— Eu não me preocuparia com Thrawn, senhor, — disse Ar’alani. —
Ele está me esperando, é claro; mas se eu não aparecer, tenho certeza que
ele encontrará o seu próprio caminho pra casa.
— Não era com Thrawn que eu estava preocupado, — disse Ba’kif
asperamente. — É a Ascendência que pode acabar em uma situação da qual
não possamos sair.
— Entendi, senhor, — disse Ar’alani, estremecendo. — Eu tenho a
Wutroow trabalhando na preparação do voo. Estaremos prontos para ir
quando Zistalmu e a sua esposa chegarem.
— Ótimo, — disse Ba’kif. — E observe-o, Ar’alani. Observe-o bem de
perto. Eu conheço Zistalmu, e ele não entraria voluntariamente em um
possível perigo, a menos que achasse que há uma maneira de transformar
isso em vantagem pra ele e pra família dele.
— Não se preocupe, senhor, — Ar’alani assegurou-lhe. — Qualquer que
seja o jogo que esteja jogando, acho que descobrirá que as cartas dele não
são tão boas quanto pensa que são.

Havia uma maneira certa de fazer as coisas, Qilori esbravejou para si


mesmo enquanto corria em direção à ponte, e havia uma maneira errada.
Nesse caso, a maneira certa era manter o cronograma, fazer uma preparação
adequada da nave e garantir que o Capitão, a tripulação e principalmente o
navegador estivessem se movendo em um ritmo constante, mas relaxado. O
caminho errado era exatamente o oposto de todos esses.
Esse caminho errado era o que estava acontecendo agora.
— Rastreador? — alguém chamou no corredor à frente dele. —
Rastreador!
— Estou indo, — Qilori gritou de volta, praguejando baixinho. Todo o
plano de Yiv para eliminar Thrawn dependia da nave Garwian estar
exatamente onde deveria estar quando supostamente deveria estar lá. O
trabalho de Qilori era fazer isso acontecer até o final da emboscada da
Garwian.
Mas mesmo ele não era bom o suficiente para protelar um dia inteiro só
porque o enviado Garwiano de repente decidiu interromper as negociações
e voltar pra casa mais cedo.
Agora o que deveria fazer?
A ponte era o cenário típico de caos quando chegou. O capitão estava
gritando ordens, os oficiais e a tripulação lutavam para colocar os painéis
em funcionamento. Exceto em um canto...
Qilori sentiu as suas winglets se achatarem enquanto se dirigia para o
assento do navegador. No canto, o Garwian que ele ouviu os outros se
referirem apenas como Oficial Frangelic ficou em silêncio, assistindo a
comoção como um diretor supervisionando uma apresentação no palco.
— Aí está você, — o capitão rosnou enquanto Qilori se acomodava em
seu assento. — Quando você pode estar pronto?
Qilori olhou para os painéis de situação. Eles ainda estavam
profundamente dentro do poço gravitacional de Primea. Vários minutos
pelo menos para chegar longe o suficiente para que pudessem acessar o
hiperespaço, mais parecido com um quarto de hora se fizessem uma partida
mais calma. Se insistisse em uma verificação adicional da situação do
hiperdrive, dos motores e dos sistemas ambientais antes de partirem, isso
lhe daria um pouco mais de tempo.
As suas winglets enrijeceram de frustração. Um pouco mais de tempo,
mas não o suficiente. Se Yiv não tivesse visto o trabalho de preparação, o
Benevolente perderia todas as chances de capturar ou matar Thrawn.
Que foi, sem dúvida, o motivo da mudança repentina na programação.
Thrawn, o enviado, Frangelic, talvez todos os três juntos, decidiram
esgueirar Thrawn para longe de Primea antes que o Benevolente pudesse
lançar o seu ataque.
E então um movimento na tela da popa chamou a atenção de Qilori. A
nau capitânia de Yiv, a Imortal , apareceu no horizonte atrás deles, correndo
uma órbita inferior e casualmente se aproximando da nave Garwian.
Ele sentiu as suas winglets relaxarem um pouco. Então, Yiv não foi pego
cochilando, afinal. Perfeito. Agora Qilori poderia deixar os Garwians
saírem da gravidade bem em sua própria programação, então se certificar de
que não os levaria para o hiperespaço até que Yiv fizesse o seu
movimento...
— Oficial Frangelic? — o Garwian na estação de comunicações ligou.
— Os Vaks enviaram uma resposta à sua pergunta. Eles fizeram uma busca
completa nos escritórios diplomáticos e quartos de hóspedes, e nem o
Mestre Artístico Svorno, nem a sua companheira puderam ser encontrados.
— Diga a eles que eles devem estar enganados, — Frangelic disse
laconicamente. — Se não estão aqui, eles têm que estar lá.
As winglets de Qilori congelaram no lugar. Thrawn não estava a bordo?
Não, não poderia ser. Tinha que estar ali. Se ele não estava...
Então Yiv estava prestes a atacar uma nave Garwian e quase certamente
matar todos a bordo, por nada.
— Os Vaks estão muito insistentes, — disse o oficial de comunicação.
— Eles procuraram em todos os lugares que os Chiss pudessem estar. Não
há sinal ou rastro deles.
Qilori olhou para a tela e para o Encouraçado de Batalha Nikardun
chegando constantemente ao alcance de ataque. Precisava falar com Yiv, e
precisava fazer isso rápido.
Só que ele não podia. Com tantos Garwians circulando, não havia como
chegar a qualquer um dos painéis de comunicação sem ser visto. E sem
acesso à comunicação, ele não poderia falar com a Imortal.
Ou melhor, ele não podia falar com a Imortal.
— Oficial Frangelic? — ele chamou, voltando-se para o oficial. — Com
licença, mas me lembro do Mestre Artístico Svorno conversando
longamente com o General Yiv o Benevolente, na recepção, na nossa
primeira noite em Primea. Acredito que, entre outras coisas, eles discutiram
a arte e as exibições de arte Vak. Talvez o Benevolente tenha alguma ideia
para onde pode ter ido.
— Talvez, — Frangelic disse. — Comunicação, você ouviu?
— Sim, oficial Frangelic.
— Sinalize para o general Yiv, — Frangelic ordenou. — Faça a pergunta
a ele.
Qilori respirou fundo, com as suas winglets finalmente relaxaram.
Thrawn pode ter escapado da armadilha imediata de Yiv, mas tudo o que
realmente fez foi adiar o seu destino. Mesmo que os Vaks ainda não
estivessem sob o domínio total dos Nikardun, Yiv tinha forças suficientes
na região para isolar rapidamente Primea e manter os fugitivos no solo.
Mais cedo ou mais tarde, ele ou os Vaks os perseguiriam.
E realmente, por quanto tempo uma dupla de peles azuis poderia se
esconder entre um planeta cheio de alienígenas?
T halias sabia desde o início que o plano de Thrawn estava condenado. A
pele azul deles não era nada parecida com a pele âmbar claro e os cabelos
escuros da população nativa, para não falar do contraste entre os olhos
vermelhos brilhantes dos Chiss e os castanhos opacos dos Vaks. As capas
com capuz que muitas pessoas usavam tornariam as coisas menos óbvias,
mas Thalias não tinha ilusões se isso funcionaria bem a longo prazo.
Quantos moradores realmente usavam os capuzes, ela argumentou, em vez
de deixar o sol e a brisa passarem por seus rostos?
As respostas, ao que parece, eram praticamente todas elas..
— Você tem muita sorte de estar chovendo hoje, — ela disse enquanto
caminhava com Thrawn pela rua, a garoa batendo suavemente no topo dos
seus capuzes e pingando pela frente.
— Nem tanto, — ele respondeu. — Até agora sempre viajamos pela
cidade em veículos, onde os capuzes são desnecessários. Mas durante essas
viagens, observei que a maioria dos pedestres usava o capuz quase o tempo
todo, protegendo contra a chuva, mas também contra a luz do sol.
— Então, realmente o único perigo em que corríamos era se hoje
estivesse nublado?
Ele deu uma risadinha.
— Boa pergunta. Mas, mesmo assim, usar capuzes não seria tão raro a
ponto de chamar a atenção.
Thalias espiou além da borda do seu capuz para a lanchonete pela qual
estavam passando. Lá dentro, notou inquieta, que todos os Vaks haviam
colocado os seus capuzes pra trás.
— Tudo bem aqui fora, — ela disse. — Mas, eventualmente, teremos
que entrar em algum lugar. O que acontece depois?
— Vamos descobrir, — respondeu Thrawn. Pegando o braço dela, ele a
conduziu em direção a uma porta com uma placa desbotada acima dela. —
Entre aqui.
— O que é isso? — Thalias perguntou, olhando para a placa. Ela fez um
esforço para aprender o script Vak nos últimos dias, mas estava muito longe
de ser capaz de ler qualquer coisa.
— Com sorte, respostas, — respondeu Thrawn.
E então eles chegaram à porta e Thrawn a empurrou ao conduzir Thalias
pra dentro. Ela piscou, abaixou a cabeça bruscamente para sacudir um
pouco da água do seu capuz no tapete aos pés deles, e então olhou pra cima.
Para descobrir que estavam em uma galeria de arte.
Thrawn já estava caminhando lentamente para frente, a parte de trás do
capuz movendo-se ritmicamente enquanto ele virava a cabeça para frente e
para trás, estudando tudo ao seu redor. Thalias o seguiu mais devagar,
olhando disfarçadamente para o punhado de clientes Vak vagando entre os
cavaletes e pedestais ou olhando para as tapeçarias penduradas e pinturas
nas paredes. Todos eles tinham os seus próprios capuzes jogados para trás,
eles notariam que ela e Thrawn ainda estavam usando os deles? Mais
importante, eles se perguntariam por quê?
Uma voz áspera repetiu algumas palavras atrás deles. Aparentemente,
eles se perguntariam.
— Boa tarde, — disse Thrawn calmamente em Minnisiat, sem se virar.
— Temo que eu não entendo a sua língua. Você fala esta?
Thalias fez uma careta. Todos no local agora olhavam para os visitantes.
Tanto para passar despercebido.
— Falo, — a voz respondeu. — Quem é você? O que quer aqui?
— Vim ver a arte Vak e, assim, compreender o povo Vak, — respondeu
Thrawn. — Quanto a quem somos… — Ele fez uma pausa, tirou o capuz e
se virou. — Somos amigos.
Alguém fez uma espécie de som estrangulante. Dois ou três outros
cederam com palavras que soavam assustadas, e Thalias ouviu um único
sussurro de Chiss.
— Os Vak não têm amigos, — disse o primeiro Porta-voz. — Nem
agora. Nem nunca.
Thalias se virou, também puxando o capuz para trás. O Vak que havia
falado, uma mulher, Thalias provisoriamente a identificou pelo corte da sua
túnica folgada, tinha uma faixa larga em seu peito adornada com uma fileira
dupla de alfinetes de madeira entalhados. Esse adorno extra a marcava
como curadora da galeria?
— Certamente isso não é verdade, — disse Thrawn. — E quanto a Yiv, o
Benevolente? Ele afirma ser um amigo.
— As pessoas reivindicam muitas coisas, — disse a curadora. — Vocês,
também, agora afirmam ser amigos. No entanto, não vejo nenhuma
evidência disso.
— Você vê evidências em Yiv?
— Por que você pergunta? — a curadora rebateu. — Você busca semear
a discórdia entre os Vaks?
Thrawn balançou a cabeça.
— Busco informações. Os líderes do Combinado Vak parecem
impressionados com Yiv. Eles veem seu poder e imaginam que os Nikardun
são respeitados e honrados. Eles acreditam que se juntar a eles trará o
mesmo respeito aos Vaks.
Ele ergueu uma mão.
— Eu apenas desejo saber se as pessoas comuns acreditam da mesma
forma.
— O que você sabe sobre as pessoas comuns? — a curadora zombou.
— Só um pouco, — admitiu Thrawn. — Eu posso ver pelo que está
entrelaçado em sua arte, que os Vaks lutam pela unidade enquanto ainda
estão determinados a honrar o indivíduo. Essa é uma filosofia boa e
adequada. Mas procuro entender como isso afeta a vida do povo Vak.
— Então procure em outro lugar — disse a curadora. — Este é um local
de meditação e apreciação. Não serei arrastada para discussões com
estranhos sobre coisas pessoais dos Vaks.
— Entendo e me curvo aos seus desejos — disse Thrawn, pegando o
braço de Thalias. — Que o seu futuro seja de sol e paz.
Um minuto depois, os dois Chiss estavam de volta na chuva.
— O que quer que seja que você estava esperando alcançar, — disse
Thalias, — Não acho que funcionou.
— Como eu disse, eu esperava aprender mais sobre os Vaks, — disse
Thrawn. — E talvez, para os alertar para o fato de que, ao decidirem o seu
rumo contra os Nikardun, devem também incluir os Chiss nos seus cálculos.
Thalias deu uma pequena bufada.
— Não que a Sindicura vá levantar um dedo para ajudá-los. Suponho
que você também perceba que, se nós continuarmos andando pela cidade
dessa maneira, nós poderíamos muito bem ligar para Yiv e nos anunciar?
— Provavelmente haverá uma resposta, — concordou Thrawn. — Isso
também pode funcionar a nosso favor. Se os Nikardun forem
suficientemente duros em sua busca por nós, os Vaks podem ver menos
amizade e mais domínio na presença deles em Primea.
— Só se os líderes perceberem, — disse Thalias. — Duvido que as
pessoas que visitam galerias de arte tenham muito a dizer sobre os assuntos
do seu país.
Thrawn se inclinou para fora do capuz para lhe dar um olhar perplexo.
— Você não vê?
— Ver o que?
Ele se voltou para debaixo do capuz e ficou em silêncio por alguns
passos.
— Você me ouviu dizer à curadora da galeria que os Vaks buscam a
unidade e ainda honrar o indivíduo. Isso é verdade. O problema é que seus
líderes levaram essa filosofia longe demais. Eles passam muito tempo
ouvindo todos os pontos de vista, acredito que se referem a eles como
linhas de pensamento, assim têm dificuldade em chegar a decisões.
— Você não pode querer dizer todas as linhas de pensamento, — disse
Thalias. — Devem haver bilhões de Vaks. Todos podem não ser igualmente
importantes.
— Em teoria, sim, eles são, — disse Thrawn. — Na prática, é claro, o
número certamente deve ser limitado. Mas ainda deixa os Vaks com um
processo de decisão mais longo do que o da maioria das espécies. Essa
hesitação, ao reunir e pesar todas as opiniões, faz com que os líderes
pareçam fracos.
— Bem, eles não terão esse problema se deixarem os Nikardun entrar, —
disse Thalias severamente. — A única linha de pensamento que importará
será a de Yiv.
— De fato, — concordou Thrawn. — Tentaremos passar essa mensagem
a mais alguns cidadãos antes que a segurança de Yiv ou Vak nos rastreie.
Depois disso, ou antes, se parecer prudente, vamos nos retirar para o
esconderijo que montei há dois dias e esperar pela Almirante Ar’alani.
— Um lugar agradável e tranquilo e longe do espaçoporto, espero, —
disse Thalias. — A primeira coisa que Yiv provavelmente vai assumir é que
vamos tentar roubar uma nave.
— Certamente ele vai, — Thrawn concordou.
— Então, para onde estamos indo?
Thrawn se inclinou para a frente, dando a ela um sorriso ao redor do
capuz pingando.
— Para o espaçoporto, — ele disse. — Para roubar uma nave.

Thalias tinha imaginado um movimento furtivo através da área do armazém


que preenchia o terreno fora da cerca de segurança do espaçoporto, ou então
uma corrida louca pela mesma pista de obstáculos. Ambos os cenários
mentais correram para um espaço em branco enquanto tentava imaginar
como iriam passar pela própria cerca.
No final das contas, não foi nem a corrida nem o furtivo. Em vez disso,
foi em uma caixa.
Não qualquer caixa. Uma caixa, um grande engradado, na verdade, com
uma dúzia de outras perto de um dos portões de entrada. Thrawn deu uma
olhada cuidadosa ao redor quando chegaram, então abriu um dos painéis
laterais e conduziu Thalias para dentro.
Pelo tamanho, ela reconheceu que a caixa teria espaço suficiente para
acomodar confortavelmente os dois. O que não esperava eram os assentos,
os suprimentos de comida e água, e até mesmo os banheiros rústicos, mas
úteis, embora potencialmente estranhos.
— Minhas desculpas pelas acomodações, — disse Thrawn enquanto os
fechava. Não havia lâmpada, mas fendas cuidadosamente ocultas em todas
as quatro paredes permitiam a entrada de ar e luz. — Não tinha certeza de
quão rápido poderíamos chegar aqui, ou se teríamos que desviar ou esperar
mais das patrulhas, então especifiquei a nossa coleta para depois de
amanhã.
— Tudo bem, — disse Thalias, olhando ao redor. — É melhor do que ser
prisioneira em uma nave Nikardun.
— Ou flutuando morto no espaço.
Thalias estremeceu.
— Definitivamente supera isso. Você acha que é isso que Yiv estava
planejando?
Thrawn encolheu os ombros.
— Ele certamente tem muita confiança. Isso sugere que ele gostaria de
me interrogar antes da minha morte. Por outro lado, nós capturamos uma de
suas naves, e os Nikardun podem ter um código estrito sobre vingança. Eu
preciso de mais informações antes de determinar isso.
— Errar por excesso de cautela funciona para mim, — disse Thalias. —
Como você encontrou esta caixa, afinal?
— Não encontrei, eu a fiz, — respondeu Thrawn. — Melhor ainda, o
Soberano de Defesa Frangelic e eu a fizemos. Você deve se lembrar que
pedi a ele para trazer um contêiner de embarque conosco?
— Ah, — Thalias respondeu, lembrando agora. — Você disse que o
usaríamos na viagem de volta.
— E nós vamos, — disse Thrawn. — Ele e eu o montamos em nossa
jornada para Primea, e assim que aprendemos os protocolos de envio dos
Vaks, nós o rotulamos para transferência.
— Então você já fez esse tipo de coisa antes?
Thrawn sorriu.
— Não. Mas parecia ser bastante simples.
Se funcionar, pensou Thalias.
— Então, para onde estamos sendo enviados?
— Estamos apenas entrando no cercado, — disse Thrawn. — A nave
para a qual devemos ser entregues ainda não está aqui, mas assim que
chegar, ela precisará fazer um giro rápido. O procedimento Vak padrão
nessas condições é reunir todos os contêineres de carga perto da área de
desembarque designada para que o carregamento possa ocorrer mais
rapidamente.
— Muito bem, — disse Thalias, franzindo a testa. — Então, nós estamos
indo para algum mundo alienígena?
— De jeito nenhum — Thrawn assegurou. — Assim que passarmos pela
segurança, escolheremos o nosso momento e embarcaremos em um dos
caças sentinelas alinhados logo após a cerca. Eles são projetados para
patrulhas de longo alcance, então deve haver bastante espaço a bordo onde
podemos esperar pela almirante.
— E então, o quê, nós voamos e a encontramos?
— Basicamente, — respondeu Thrawn. — Embora possa haver uma ou
duas complicações ao longo do caminho.
— Por exemplo, se outra pessoa vier a bordo e quiser pilotar no seu
lugar?
— Se isso acontecer, vamos convidá-los a sair.
— Eles querendo ou não sair?
— Não se preocupe, não vamos machucar ninguém, — ele garantiu a
ela. — A sua moderação nessas coisas fala bem de você.
— Eu simplesmente não gosto de bater em alguém no seu próprio
mundo, — murmurou Thalias. — Especialmente dada a política de não
intervenção da Ascendência.
— Na verdade, era nisso que eu estava pensando quando me referi à sua
moderação, — disse Thrawn. — Independentemente disso, não será um
problema. Eu tenho um pequeno aerossol de névoa de tava, mais do que o
suficiente para encher a cabine de um caça.
Thalias franziu a testa.
— Essa é a droga para sonambulismo?
Foi a vez de Thrawn franzir a testa.
— Quem a chama assim?
— As pessoas da minha antiga escola, — explicou Thalias, revirando os
olhos com a memória. — Alguns deles soltaram essa coisa na aula uma vez,
só para ver todos agindo como cérebros lunares babando. Horas de diversão
inofensiva, eu acho.
— O efeito raramente dura horas, — disse Thrawn. — Uma hora no
máximo. Mas é inofensivo.
— A menos que você esteja fazendo algo complicado, — disse Thalias.
— Tipo, digamos, pilotando um caça-sentinela?
— Vamos deixá-los fora e longe do caça muito antes que cheguem tão
longe, — prometeu Thrawn. — E tenho filtros de narina para nós, para que
não sejamos afetados.
— Prático, — Thalias disse, olhando-o de perto. — Você normalmente
carrega essas coisas com você?
— Sempre vale a pena tomar precauções ao enfrentar as incertezas, —
respondeu Thrawn. — Sabia que precisaríamos roubar uma nave, então
planejei de acordo. Não se preocupe, nós vamos superar isso.
— Certo, — disse Thalias. Pessoalmente, ela não estava se sentindo tão
confiante, mas estava disposta a confiar nele. — Posso tirar essa
maquiagem agora? Este material deve pesar meio quilo.
— É mais perto de um terço, na verdade, — corrigiu Thrawn. — E não,
é melhor você deixar assim. Sempre há uma chance de sermos descobertos
e você precisará continuar desempenhando o seu papel.
— Tudo bem, — Thalias disse relutantemente. Na verdade, além do
peso, estava começando a se acostumar com a pasta dura com contornos. O
que mais odiava era a ideia mais ampla que isto representava e o papel de
uma refém nervosa que tinha que desempenhar enquanto a usava. — Então;
outro dia e meio. Suponho que você não trouxe um baralho de cartas.
— Na verdade, sim, — disse Thrawn. — Mas pensei que poderíamos
conversar primeiro.
— Sobre?
— Sobre por que você pediu para vir a bordo da Falcão de Primavera.
Um sino de alerta disparou na parte de trás do cérebro de Thalias.
— Vim para cuidar de Che'ri, — ela disse com cautela.
— É por isso que você estava a bordo, — disse Thrawn. — Mas não foi
por isso que você pediu para vir. Um dos meus oficiais me informou que a
Mitth a enviou para investigar o meu desempenho como comandante da
Falcão de Primavera. Isso é verdade?
Thalias sentiu a sua mão se apertar em um punho.
— Presumo que tenha sido o Capitão Intermediário Samakro?
— Faz diferença de onde vêm as informações?
— Pode ser, — respondeu Thalias. — Ele deu uma razão para te dizer
isso?
— Não especificamente, — respondeu Thrawn. — Acredito que está
preocupado com a coesão na estrutura de comando se assuntos familiares
interferirem.
— Isso pode ser o que ele diz, — disse Thalias. — Mas eu acho que
espera alguma interferência daquela família.
— Com qual finalidade?
— Para quando a Mitth decidir que não quer que você comande a Falcão
de Primavera e que a Frota Expansionista o leve para outro lugar, —
respondeu Thalias. — Isso abriria o caminho para Samakro retomar o
comando.
— A sua análise contém várias falhas lógicas, — disse Thrawn. —
Primeiro, as Nove Famílias não ditam designações militares. Em segundo
lugar, o Capitão Intermediário Samakro não tem razão para desejar o
comando da Falcão de Primavera. Com a experiência dele e as
capacidades, ele certamente receberá uma nave de maior prestígio do que
um mero cruzador pesado.
— A Falcão de Primavera tem muito prestigio, — Thalias disse a ele.
— Talvez mais do que você imagina. Mas mesmo que não fosse isso, a
família Ufsa ainda iria o querer de volta ao comando. Isso foi tirado deles, e
eles são notórios por se ressentirem de qualquer coisa que veem como um
retrocesso político.
— Entendo, — disse Thrawn.
Thalias olhou atentamente para ele na luz fraca. Pela leve carranca ao
redor dos olhos dele estava claro que não via nada.
— Mas, para responder à sua pergunta, não, a Mitth não me enviou, —
ela disse, escolhendo as palavras com cuidado. — Na verdade, a família
lutou comigo o tempo todo. Eu tive a sorte de poder entrar na nave como
cuidadora, em vez de observadora da família.
— Interessante, — disse Thrawn. — Eles deram uma razão para não
querer você como observadora?
— Na verdade eles não disseram nada, de uma forma ou de outra, —
respondeu Thalias. — Eles continuaram jogando barreiras no meu caminho.
Novos formulários que eu precisei preencher de repente, novas pessoas que
tive de perseguir para aprovar o meu pedido, novas pessoas em Csilla ou
Naporar que precisaram ser informadas. Esse tipo de coisas.
— Talvez eles não pensassem que você era qualificada para observar, —
sugeriu Thrawn. — Ou talvez tenha havido interferência de outras famílias.
— Se haviam outras famílias envolvidas, eu nunca as vi, — disse Thalias
amargamente. — Quanto às qualificações, tenho todo o conjunto de olhos,
ouvidos e cérebro. O que mais eu preciso?
— Isso seria uma questão para a família, — respondeu Thrawn. — Mas
isso leva ainda a outra questão. Se não foi a família que iniciou a sua vinda,
foi você. Por quê?
Thalias se preparou. Esperava evitar essa pergunta completamente, mas
bem no fundo ela sabia que isso acabaria por surgir e daria um tapa na cara
dela.
Ela inventou algumas mentiras que soavam plausíveis e, por um
momento, ficou tentada a usar uma delas. Mas, sentada aqui, ouvindo a voz
ponderada dele, ela sabia que seria inútil.
— Vai soar estúpido, — ela avisou.
— Anotado. Continue.
Ela se preparou.
— Eu só queria ver você de novo, — ela disse. — Você mudou a minha
vida e eu... eu queria te ver de novo, só isso.
Ele franziu a testa para ela.
— Realmente. Como exatamente eu mudei a sua vida?
— Nós nos encontramos uma vez, — ela respondeu, sentindo-se ainda
mais ridícula. Claro que ele não se lembraria de uma interação tão pequena.
— Foi há muito tempo, quando eu estava terminando a minha última
viagem como uma sky-walker.
— Ah, sim — disse Thrawn, ainda carrancudo. — A bordo do Tomra,
quando eu era cadete.
— Isso mesmo, — disse Thalias, respirando um pouco mais fácil. Então
ele se lembrava dela. Isso aliviou pelo menos um pouco a estranheza que
ela estava sentindo. — Capitã Vorlip chegou, você falou...
— E ela me girou para ver se eu podia realmente sentir a nave como eu
afirmei.
— Sim, — disse Thalias. — E você a impressionou.
— Eu a impressionei?
— Claro, — respondeu Thalias. — Ela me disse depois que...
— Porque ela também enviou cinquenta marcas negativa para mim para
Taharim.
Thalias sentiu os seus olhos se arregalarem.
— Ela fez o quê? Por quê?
— Por intrusão não autorizada na área de comando do Tomra, —
respondeu Thrawn. — Eu fiquei três meses trabalhando para compensa-los.
— Mas… — Thalias estalou. — Mas ela ficou impressionada com você.
— Talvez como pessoa ela tenha ficado impressionada, — disse Thrawn.
— Talvez até como uma viajante do espaço. Mas, como oficial da
Ascendência Chiss, ela tinha o dever de fazer cumprir os regulamentos.
— Mas foi um disparate honesto.
— A intenção e as motivações são irrelevantes, — disse Thrawn. — O
julgamento pode se concentrar apenas nas ações.
— Imagino, — Thalias murmurou, o seu intestino se contorcendo dentro
dela. Portanto, a memória dele sobre ela estaria sempre ligada a um
episódio desagradável na sua carreira. Maravilha.
— Como exatamente o nosso encontro mudou a sua vida?
Thalias suspirou. A última coisa que ela queria era continuar falando
sobre isso. Mas decidiu dizer a verdade, e não havia como escapar agora.
— Você me deu esperança, — ela disse. As palavras soaram muito mais
tolas quando as disse em voz alta do que quando estavam apenas saltando
dentro de sua cabeça. — Quero dizer... eu tinha treze anos. Achei que a
minha vida havia acabado. Mas você me disse que eu encontraria um novo
caminho e que poderia escolher como as coisas funcionariam.
— Sim, — disse Thrawn, a sua voz pensativa. Não simpático, não
encorajador, nem mesmo realmente responsivo. Apenas pensativo.
Thalias havia pensado nesse momento por muito tempo. Ela se
perguntou o que ele diria, o que ela diria e se isso abriria novas perspectivas
para a sua vida e o seu futuro.
E agora nada. Ele estava pensativo. Apenas pensativo.
Fechou os olhos, desejando estar em qualquer outro lugar da galáxia. Ela
nunca, nunca deveria ter começado por esse caminho em primeiro lugar.
— Eu tinha uma irmã mais velha, — disse Thrawn, com a sua voz quase
suave demais pra ela ouvir. — Ela tinha cinco anos quando desapareceu. Os
meus pais nunca me disseram para onde ela foi.
Thalias abriu os olhos novamente. Ele ainda estava sentado lá na
escuridão, ainda parecendo pensativo.
Mas agora havia algo novo em seus olhos. Uma dor distante, bem
escondida, mas persistente.
— Quantos anos você tinha? — ela perguntou.
— Três, — respondeu Thrawn. — Por um longo tempo, achei que ela
tivesse morrido e que nunca mais a veria. Foi só quando cheguei ao posto
de oficial da ponte que finalmente fui informado sobre as sky-walkers e
percebi o que deve ter acontecido com ela. — Ele deu a ela um pequeno
sorriso, tingido com a mesma tristeza distante. — E eu ainda nunca vou vê-
la novamente.
— Você pode, — Thalias disse, movida por um desejo obscuro de
confortá-lo. — Tem que haver registros em algum lugar.
— Tenho certeza que sim, — disse Thrawn. — Mas a maioria das sky-
walkers deseja desaparecer na obscuridade depois de terminar o seu serviço,
e a Ascendência há muito tem a prática de honrar esses desejos. — Ele
ergueu uma mão. — Todos nós temos arrependimentos, contudo, assim
como temos esperanças que nunca serão cumpridas. A chave para uma vida
satisfatória é aceitar as coisas que não podem ser mudadas e fazer uma
diferença positiva com as que podem.
— Sim, — disse Thalias. Mas só porque algo não pode ser mudado, não
significa que uma pessoa não deveria martelar isso de qualquer maneira.
Segredos às vezes podem ser revelados e até mesmo o Thrawn poderia estar
errado.
— Nesse ínterim, temos tempo para descansar e pensar em nossa
estratégia futura, — continuou Thrawn, tirando um baralho de cartas do
bolso. — Você pode escolher o primeiro jogo.
—V ocê tem certeza, — disse Zistalmu, — de que sabe exatamente o
que deve fazer?
Ar’alani respirou fundo, puxando com ela toda a paciência que a sua
mente e corpo podiam reunir.
— Sim, Síndico, — ela disse. — Acho que nós já superamos isso muitas
vezes.
— Porque estou falando sério, — ele continuou, como se não a tivesse
ouvido. Ou, mais provavelmente, não acreditou nela. — Se os Garwians ou
os Vaks se recusarem a desistir dele, ou negarem saber qualquer coisa sobre
ele, daremos meia-volta e voltaremos pra casa.
— Entendo, — disse Ar’alani.
O que não quer dizer que concordasse com ele. Ou que tivesse qualquer
intenção de seguir uma ordem tão ridícula.
Desafiar um síndico da Aristocracia pode significar o fim da sua carreira,
é claro. Mas colocou a sua carreira em risco tantas vezes antes que estava
quase se tornando rotina.
O que não era rotina era por que Zistalmu e Thurfian pareciam tão
determinados a destruir a Thrawn. Vinha refletindo sobre essa questão
desde a sua partida da Ascendência, e não estava mais perto de descobrir
isso agora mais do que antes.
Talvez fosse hora dela fazer algo sobre isso.
Olhou para a estação do navegador. Che'ri estava sentada lá, a sua
respiração lenta e estável, profundamente na Terceira Visão enquanto os
guiava em direção a Primea. Em pé ao lado dela estava a esposa de
Zistalmu, que nunca havia oferecido a Ar’alani o seu nome pessoal, mas,
em vez disso, insistiu que todos a bordo a chamassem de Nana. Uma
afetação bastante irritante, na opinião de Ar’alani. Possivelmente porque a
mulher durou apenas dois anos como cuidadora.
Mas agora tudo o que importava era que no minuto seguinte nem ela
nem ninguém estava em posição de ouvir.
— Uma pergunta, Síndico, — disse Ar’alani quando Zistalmu começou
a se virar. — Para a minha própria curiosidade.
— Sim?
Ela voltou o seu olhar completamente para ele.
— Por que você e o Síndico Thurfian odeiam tanto Thrawn?
Ela esperava algum tipo de reação dele. Para a sua surpresa, a expressão
dele nem mesmo se contraiu.
— Já era tempo, — ele respondeu calmamente. — Esperava que você
trouxesse esse assunto desde que deixamos Csilla.
— Desculpe, eu tinha outras coisas em mente, — disse Ar’alani. —
Posso ter uma resposta?
— Primeiro, faça a pergunta correta, — esclareceu Zistalmu. — Nós não
odiamos Thrawn. Na verdade, ambos admiramos a habilidade militar dele.
Resistimos a ele porque é uma ameaça à Ascendência.
— Para a Ascendência? — Ar’alani rebateu. — Ou para a família Irizi?
Zistalmu balançou a cabeça.
— Você realmente não vê, não é? Nesse caso, não há motivo para
continuar esta conversa.
— Com licença, Síndico, mas há todos os motivos para continuar, —
disse Ar’alani. — Você está a bordo da Vigilante, sob a minha autoridade, e
é obrigado a responder a qualquer pergunta razoável e obedecer a qualquer
ordem razoável. A menos que você planeje invocar os segredos oficiais da
Sindicura, e eu irei levar isso adiante se você tentar isso, você vai me dizer
como Thrawn é uma ameaça à Ascendência.
Octrimo deu um aviso do leme.
— Saída em trinta segundos, Almirante.
— Entendido. — Ar’alani ergueu as sobrancelhas para Zistalmu. — Fale
rápido.
— Não há tempo para uma explicação adequada, — disse o síndico. —
Mas, realmente, você não precisa de uma. Você já viu o Thrawn e a carreira
dele o suficiente para entender. Do contrário, é porque você optou por não
fazê-lo.
Ar’alani balançou a cabeça.
— Não está bom o suficiente.
— É tudo o que você vai conseguir. — Zistalmu acenou com a cabeça
em direção à janela. — E estamos aqui.
Ar’alani se virou para ver o redemoinho do hiperespaço colapsar em
chamas estelares e depois em estrelas. Bem à frente estava um planeta semi
iluminado com dezenas de naves de todos os tamanhos entrando e saindo
ou simplesmente flutuando continuamente em suas órbitas.
— Primea, Almirante, — Octrimo anunciou.
— Eu li quarenta e sete naves visíveis, — acrescentou o Comandante
Sênior Biclian da estação de sensores. — Verificando as configurações de
qualquer coisa que pareça Garwian.
— Entendido, — disse Ar’alani. — Capitã Sênior Wutroow, envie um
sinal para o escritório diplomático planetário. Identifique-nos e diga a eles
que estamos tentando contactar o Mestre Artístico Svorno.
— Sim, Almirante, — disse Wutroow. Ela se inclinou sobre o ombro do
oficial de comunicação e começou a falar baixinho.
— Não estou recolhendo nada que se pareça com uma Garwian, —
relatou Biclian. — Talvez esteja do outro lado do planeta.
— Almirante, o Comando Central Primea reconhece, — Wutroow
retransmitiu. — Eles afirmam que a nave diplomática Garwian partiu três
dias atrás com todo o pessoal a bordo.
— Aí está, — disse Zistalmu energicamente. — Parece que Thrawn
conseguiu se libertar sem qualquer problema ou drama. Agora, se pudermos
dizer as nossas despedidas e voltar para a Ascendência...
— Capitã, por favor, peça esclarecimentos, — ordenou Ar’alani. —
Quero uma lista de todo o pessoal naquela nave. Também quero cópias de
todas as transmissões de e para a Garwian antes dele partir.
— O que faz você pensar que eles terão tudo isso disponível? —
Zistalmu exigiu. — Ou que eles irão dar a você se o tiverem?
— Capitã? — Ar’alani solicitou.
— Mensagem entregue, — Wutroow confirmou. — Esperando por uma
resposta.
— Temos movimento, — Biclian interrompeu. — Cinco pequenas naves
saindo da órbita na nossa direção, e mais oito naves de patrulha subindo da
superfície. Agora são nove vindo da superfície.
— Naves de patrulha? — Zistalmu perguntou, claramente confuso. — O
que eles estão fazendo?
— Você deveria ler os relatórios pós-ação da Força de Defesa com mais
atenção, Síndico, — respondeu Ar’alani, observando as pequenas naves se
reunindo entre a Vigilante e o planeta abaixo. — Os pequenos caças são
uma linha limítrofe, um aviso de que os defensores estão falando sério.
— Sim, eu entendi essa parte, — rosnou Zistalmu. — Estou me
perguntando por que acham que quatorze caças constituem qualquer tipo de
ameaça. Eles esperam nos assustar para longe?
— Claro que não, — respondeu Ar’alani. — Mas um par de asas de
caças não é tão provocativo quanto um grupo de naves de guerra de classe
completa seria. Isso torna mais fácil para ambos os lados recuarem, se
nenhum dos dois realmente quiser lutar. E se o intruso quiser lutar, não será
tanto uma perda para os defensores se os caças forem abatidos.
— Mas não vamos fazer isso, vamos? — Zistalmu perguntou, com a sua
voz sombria e ameaçadora.
— Não, a menos que sejamos atacados primeiro, — respondeu Ar’alani.
— Capitã? Alguma palavra sobre o meu pedido?
— O Comando Central diz que não têm essa informação, — relatou
Wutroow. — Dizem que vão me encaminhar para o serviço diplomático.
— Acredito que eles estão fazendo isso?
— É o que eles dizem. — Wutroow apontou para a tela tática. — Parece
que eles estão entrando em uma formação objetiva.
Ar’alani assentiu com a cabeça. Ou, pelo menos, treze das naves patrulha
estavam. O décimo quarto estava avançando, ignorando a postura mais
cautelosa dos seus companheiros.
— Octrimo, aquele caça no extremo estibordo parece estar à procura de
uma luta, — ela disse. — Comece a nos levar em direção a ele. Agradável e
fácil, não torne isso óbvio.
— Você acha que é ele? — Wutroow perguntou.
— Saberemos em um minuto, — respondeu Ar’alani, verificando a
distância. A nave patrulha estava quase no alcance agora. Mais alguns
segundos...
De repente, um clarão duplo de fogo laser foi disparado do caça
diretamente na Vigilante.
— Atingiu o agrupamento de armas ventrais de estibordo, — relatou
Biclian laconicamente. — Tiro de baixa potência, sem danos.
— Entendido, — disse Ar’alani.
Zistalmu respirou fundo.
— O que eles estão fazendo? Achei que você disse que eles não estavam
tentando ser provocativos.
— Os sensores de mira entraram no modo de registro rápido, — disse
Wutroow.
— Fogo laser modulado chegando... — Biclian começou.
— Obrigado, Comandante Sênior, — Ar’alani o interrompeu. Ela sabia o
que Thrawn estava planejando assim que abriu fogo contra o conjunto de
sensores e esperava que ela pudesse deslizar passando por Zistalmu sem
que percebesse.
Não teve essa sorte.
— Modulado como? — o síndico perguntou. — Almirante? O laser é
modulado como?
— Ainda não tenho certeza, Síndico, — Ar’alani se esquivou. —
Teremos que ver o que o computador faz com isso.
— Deixe-me adivinhar, — disse Zistalmu, os olhos estreitados com
suspeita. — Isso é o Thrawn, não é? E ele adaptou de alguma forma o laser
do caça para transmitir uma mensagem. É isso?
Ar’alani murmurou uma maldição silenciosa. Tanto para manter o
síndico no escuro por tempo suficiente para trazer Thrawn a bordo.
Tanto, também, para manter o método favorito de Thrawn para a
comunicação sub-reptícia em segredo. Até agora, apenas ela e Thrawn
sabiam como ele administrou a sua comunicação com os Garwians durante
o ataque dos piratas Lioaoin a Stivic anos atrás. Ele obviamente planejou
com antecedência aplicar o mesmo truque aqui, sabendo que Ar’alani o
reconheceria e seria capaz de extrair a mensagem.
O que não poderia ter previsto era Zistalmu se convidando para a missão.
A questão da possível interferência de Thrawn naquele incidente em
particular há muito foi esquecida. Mas bastou Zistalmu juntar as peças para
trazê-lo de volta à luz. E com Zistalmu e Thurfian em busca do sangue de
Thrawn, isso poderia ser um problema sério.
No momento, Ar’alani tinha assuntos mais urgentes para tratar. Duas das
naves de patrulha Vak haviam escapado da sua formação objetiva e
perseguiam a nave de Thrawn. Até agora, eles não haviam atirado, mas
alguém havia claramente descoberto que o caça renegado havia sido
confiscado e esperava detê-lo. Enquanto isso, a bombordo, as duas naves de
guerra Vak muito maiores surgiram em torno da borda planetária, movendo-
se continuamente em direção a Vigilante.
E então, ao redor do limite planetário para estibordo, uma nave muito
maior apareceu.
Uma nave de guerra Nikardun.
— Naves de guerra Vak se movendo em direção ao flanco de bombordo,
— disse Wutroow. — Distância de combate próximo em dois vírgula três
minutos. Naves de patrulha subindo objetivos defensivos; distância de
combate de noventa segundos.
— Imagem aparecendo, — relatou Biclian. — No Sensor Dois.
Ar’alani olhou para o visor especificado. Os dados que Thrawn estava
enviando pareciam ser um esquema de uma das naves de patrulha Vak.
Sorriu fortemente. Além disso, um esquema com todas as armas e
sistemas de sensores de mira marcados. Tudo que precisaria para tirar toda
a possibilidade de luta deles sem perda de vidas ou sérios danos às próprias
naves.
— Preparar lasers, — ela ordenou. — Alvo, sensores de armas das naves
de patrulha. Mire com muito cuidado, eu não quero nenhum dano
adicional.
— Só um momento, — Zistalmu interrompeu. — Você está louca? Você
não pode lançar um ataque sem provocação.
— Isto não é não sem provocação, — respondeu Wutroow. — Um deles
disparou contra nós, lembra-se?
— Isto foi o Thrawn.
— Assim você sugere, — Ar’alani disse uniformemente. — Até que isso
seja confirmado, partimos do pressuposto de que os Vaks nos atacaram.
Capitã Wutroow, escolha três naves de patrulha e dispare...
— Adie essa ordem, — disparou Zistalmu. — Eu proíbo qualquer ação.
Você vai se preparar para se retirar...
— Entrando! — Biclian disparou. — Quatro cruzadores pesados, vindo
do hiperespaço atrás de nós.
— Entendido, — disse Ar’alani, sentindo uma repentina sensação de
irrealidade enquanto olhava para a tela. Eles eram cruzadores pesados, sim,
dispostos em uma formação de combate em diamante.
Só que eles não eram naves Vak, ou mesmo Nikardun.
Eles eram Lioaoin.
— Rotação, giro, um oitenta, — ela ordenou. — Prepare lasers e esferas
nos novos alvos.
— A nau capitânia Lioaoin está sinalizando, Almirante, — disse o oficial
de comunicação. Ela tocou um interruptor...
— ...para o intruso, — uma voz de Lioaoin veio pelo alto-falante, o seu
Minnisiat claro e preciso. — Você está ameaçando a paz e a segurança do
Combinado Vak. Saia imediatamente ou será atacado.
— Almirante... — Zistalmu começou.
— Quieto. — Ar’alani o interrompeu enquanto batia em seu interruptor
de comunicação. — Aqui é a Almirante Ar’alani a bordo da nave Vigilant,
da Frota de Defesa Expansionista dos Chiss, — ela disse. — Nós não
queremos prejudicar Primea ou o Combinado. Um dos nossos desapareceu
e estamos aqui para perguntar sobre o seu paradeiro.
As palavras mal saíram da sua boca quando as quatro naves Lioaoi
abriram fogo.
— Levantar barreiras! — Wutroow esbravejou. — Alveje os lasers
inimigos.
— Prepare as esferas, — acrescentou Ar’alani, com o seu cérebro
girando enquanto ela tentava descobrir o que diabos estava acontecendo. O
que Lioaoi estava fazendo aqui em Primea, muito menos atacando uma
nave de guerra Chiss à vista?
E então, de repente, ela entendeu.
Malditos sejam os Nikardun, de qualquer maneira.
— Esferas: atire quando estiver pronto, — ela esbravejou. — Alveje
todas as naves Lioaoin; concentre-se nos conjuntos de armas.
— Lasers inimigos atingindo o casco, — Wutroow relatou, a sua voz
firme, mas controlada. — Barreiras difundindo cerca de oitenta por cento.
Esferas a caminho.
Ar’alani assentiu com a cabeça. Impactos de esfera de plasma o
suficiente, explosões de íons suficientes consumindo a eletrônica e a
capacidade dos atacantes de continuar lutando seria neutralizada.
Mas seriam necessários meia dúzia de tiros para desativar
suficientemente qualquer uma das naves, e haviam quatro delas para lidar. E
a Vigilante tinha apenas um número limitado de esferas disponíveis.
A menos que…
— Continue mirando nas armas, — ela ordenou, procurando nas telas. A
nave patrulha de Thrawn... lá estava ela, chegando rápido. Os dois caças
Vak que estavam em sua perseguição, ela notou, estavam recuando.
Aparentemente, não o queriam o suficiente para o atacar dentro de uma
zona de combate.
Perfeito.
— Octrimo, qual é o nosso melhor curso para sair daqui? — ela chamou.
— Espere, — protestou Zistalmu. — Agora, quando somos realmente
atacados... agora você quer correr?
— Cale a boca, — respondeu Ar’alani. — Octrimo?
— A melhor rota de saída é a bombordo, — relatou Octrimo. — Mas
esse vetor nos levará ao alcance do combate corpo a corpo tanto com o Três
quanto com o Quatro.
A nave Lioaoin designada como Quatro, observou Ar’alani, sendo a
mais distante a bombordo. É hora de apostar.
— Concentre o fogo de esfera na Três, — ela disse. — Octrimo, tire-nos
no seu vetor.
— Na Três? — Zistalmu acrescentou. — Mas a Quatro está mais perto...
— Se eu tiver que dizer novamente para você ficar quieto, farei com que
você seja removido da ponte, — advertiu Ar’alani.
Zistalmu cuspiu algo, mas ficou em silêncio.
O fogo laser das quatro naves Lioaoin estava aumentando enquanto a
Vigilante se dirigia para o espaço aberto à esquerda da formação Lioaoin.
As atacantes três e quatro começaram a se mover para o lado para bloquear
a fuga dos Chiss, embora os esforços de Três estivessem agora sendo
retardados pela cascata de esferas de plasma martelando em seu casco.
Mas com o fogo do flanco Um e Dois continuando a explodir no casco a
estibordo da Vigilante, mesmo apenas um único Lioaoin na frente da
Vigilante tornaria a fuga problemática. Provavelmente, o Lioaoi e os seus
mestres Nikardun sabiam disso e contavam com isso.
Infelizmente pra eles, todos se esqueceram de Thrawn.
A nave patrulha Vak passou disparada pela Vigilante com força total,
esquivando-se dos disparos de laser espalhados pelas naves Lioaoin,
avançando direto para a Atacante Quatro disparando os lasers. Ar’alani
prendeu a respiração, esperando a resposta dos Lioaoin, imaginando se ela e
Thrawn haviam lido a situação corretamente.
Eles tinham. Durante aqueles primeiros segundos cruciais, os Lioaoin
não responderam ao fogo, aparentemente tendo recebido ordens de atirar na
nave de guerra Chiss, mas evitar o combate com os Nikardun e as forças
Vak locais. Ela podia imaginar as ligações frenéticas do Lioaoi para Primea,
as questões correndo pela cadeia de comando, transferindo para a nave de
guerra Nikardun, as correções furiosas vindas do general no comando,
possivelmente indo diretamente para o Lioaoi, possivelmente tendo que ir
caminho inverso para não dar aos Chiss a confirmação de que os Nikardun
estavam envolvidos...
E quando a farsa finalmente se desenrolou, as naves de Lioaoin abriram
fogo tardiamente.
Mas era tarde demais. O ataque cirúrgico de Thrawn já havia destruído a
capacidade de combate da Quatro, atacando os locais de laser pesado da
nave e cegando os seus sensores de controle de fogo de mísseis. Por um
momento, as outras três Lioaoi continuaram a atirar, mas enquanto a
Vigilante se dirigia através da sombra da Quatro, as armas deles silenciaram
para que não acertassem o seu camarada. O caça de Thrawn terminou a sua
corrida e se voltou em direção a Vigilante...
E sacudiu de repente quando um tiro final de laser cortou os seus
propulsores traseiros.
— Nave patrulha atingida! — Wutroow estalou.
— Raio trator! — Ar’alani retrucou. — Traga-a aqui.
— Já está, — Wutroow confirmou. — Trator envolvido... travado...
trazendo-a para dentro.
— Esferas de estibordo: uma rajada final, — ordenou Ar’alani. —
Mantenha-os longe.
— Naves de guerra Vak subindo, — advertiu Biclian.
Mas era uma perda de esforço e todos sabiam disso. A Vigilante estaria
bem longe da gravidade de Primea em vinte segundos e teria Thrawn a
bordo em trinta. As únicas naves próximas o suficiente para detê-los eram
os cruzadores Lioaoin, e graças a ela e ao ataque combinado de Thrawn,
também estavam sem sorte.
— Sky-walker Che'ri, prepare-se, — ela chamou.
— Ela está pronta, — disse a esposa de Zistalmu.
Ar’alani fez uma careta.
— Sky-walker Che’ri? — ela perguntou incisivamente.
— Estou pronta, Almirante, — a voz da garota voltou. A confirmação
dela foi mais silenciosa e talvez um pouco mais hesitante do que a de Nana,
mas confirmou a Ar’alani que Che’ri estava, de fato, pronta.
Ar’alani tinha tido outras cuidadoras insistindo em falar por suas jovens
encarregadas em vez de deixá-las falar por si mesmas. Nunca gostou disso,
também.
— Bom, — ela disse. — Assim que confirmarmos que o Capitão
Thrawn está a bordo, iremos. Capitã Wutroow?
— Quase lá, — respondeu Wutroow. Houve um pequeno som de estalo
quando os estilhaços de um par de mísseis Lioaoin desintegrados
ricocheteou no casco da Vigilante perto da janela. Um ataque final,
desesperado e inútil. — A bordo, — Wutroow confirmou. — Rede de
colisão implantada... captura confirmada... fechamento da escotilha
externa... escotilha externa selada.
— Tudo bem, Che’ri, nós o pegamos, — disse Ar’alani. Uma longa
estrada, com uma labareda de fogo e barulho no final dela. Ela só podia
esperar que Thrawn tivesse encontrado tudo o que veio buscar ali. — Leve-
nos para casa.
— Quanto tempo mais? — Perguntou a Capitã Sênior Ziara.
— Dois minutos, — a resposta veio do leme tensa.
Ziara assentiu, estremecendo para si mesma. Dois minutos. Duas horas
desde a chamada de emergência de Thrawn, sem comunicação possível
no hiperespaço, e agora mais dois minutos. Dependendo de quão
profundo a nave de cruzeiro tinha ido no poço de gravidade planetária
quando Thrawn e a sua recém-designada nave de patrulha a alcançaram,
Ziara e a Parala poderiam chegar bem a tempo de se juntar a Thrawn para
assistir impotentes enquanto oito mil pessoas caíam para a morte em
chamas na espessa atmosfera planetária. 
— Raio trator pronto? — ela perguntou.
— Pronto e esperando, Capitã.
— Aguardando a saída, — o piloto anunciou. — Três dois um. — O
redemoinho do hiperespaço desapareceu...
E ali, a dez quilômetros à frente, o drama se estendia à frente deles.
Perdas de naves desse tipo eram raras hoje em dia, mas não menos
terríveis por tudo isso. A nave de cruzeiro, um cilindro compacto com um
par de asas largas em forma de D estendendo-se em lados opostos e
abrigando as suítes mais caras, estava nas profundezas da turbulenta
atmosfera superior do planeta gigante gasoso de três anéis pelo qual
havia passado. O seu rastro já era visível enquanto avançava através dos
gases tênues, o arrasto erodindo a sua velocidade orbital e ameaçando-a
com uma espiral mortal nas profundezas esmagadoras. Algumas centenas
de metros à sua frente, deixando uma esteira menor, estava a Boco,
esforçando-se ao máximo para estabilizar a nave de cruzeiro.
Esforçando-se e perdendo. Mesmo sem calcular os números, Ziara
percebeu que a simples diferença de massa entre as duas naves tornaria
impossível para o Boco puxar o cruzeiro. Na verdade, mesmo adicionar os
tratores da Parala à combinação pode não ser suficiente.
— Capitã Sênior Ziara, — a voz de Thrawn veio do alto-falante da ponte. —
Obrigado pela sua resposta imediata. Você se juntaria a mim na proa do
cruzeiro?
— A caminho, — Ziara disse, gesticulando a ordem para o leme. O visor
do sensor iluminou-se com os números relevantes...
Assim como temia.
— Mas não adianta nada, — ela acrescentou calmamente. — Mesmo
juntos, não podemos fazer isso funcionar. Os passageiros já partiram?
— Infelizmente, não, — respondeu Thrawn. — Quando os propulsores
falharam, o cruzeiro já estava muito profundo na radiação e nas bandas
magnéticas para lançar cápsulas de fuga.
— Eles ainda estão a bordo?
— Está tudo bem, — respondeu Thrawn. — Os passageiros e a tripulação
estão todos reunidos no cilindro central atrás de uma proteção adequada.
Ziara sibilou entre os dentes. Não foi isso o que quis dizer.
— Você conseguiu falar com mais alguém? — ela perguntou, com os seus
olhos percorrendo os números. Mais uma hora, e mesmo um Nightdragon
completo não seria capaz de rebocar o cruzeiro para a liberdade.
— Ninguém mais está vindo, — respondeu Thrawn. — Por favor, apresse-
se. O tempo é curto.
— Curto? — alguém murmurou. — Mais para inexistente.
— Basta nos colocar paralelamente a ele — disse Ziara, imaginando o que
Thrawn tinha em mente.
— Em posição, Capitã, — gritou o piloto.
— Tratores ativados, — acrescentou o oficial de armas. — A situação... não
é boa. O cruzeiro ainda está arrastando...
Um instante depois, ela se interrompeu com um suspiro assustado
quando a Parala se sacudiu violentamente. 
— A Boco desativou os seus tratores!
— Aumente o impulso, — Ziara ordenou, olhando para a tela. A Boco não
apenas havia desengatado os seus raios tratores, mas também havia se
afastado da Parala e estava fazendo uma curva fechada de volta ao
cruzeiro.
E quando o Boco se posicionou ao longo do cruzeiro, os seus lasers de
espectro dispararam, explodindo nos pontos de junção onde a asa luxuosa
a bombordo se conectava ao cilindro central.
— Capitã, ele os está atacando! — o oficial sensor gritou.
— Fique firme, — Ziara disse. — Prepare a energia de emergência para os
propulsores.
— Mas capitã...
— Eu disse para ficar firme — Ziara disparou. — Você não vê? Ele está
aliviando a nave.
As palavras mal saíram da sua boca quando a asa de bombordo se
soltou, a mudança repentina na massa do cruzeiro novamente enviando
um choque ao longo da linha do feixe trator para a Parala. A Boco já estava
se movendo para o outro lado do cruzeiro, explodindo os conectores da
asa de estibordo. Ziara assistia, preparando-se...
A asa quebrou e desapareceu na atmosfera abaixo.
— Energia de emergência! — Ziara ordenou. — Tire-nos daqui.
E quando a Parala vibrou e rangeu com o estresse adicional, o cruzeiro
finalmente começou a se mover para longe do planeta. Um momento
depois, houve outro solavanco menor quando a Boco voltou para o lado
de Ziara e adicionou os seus próprios tratores e propulsores ao esforço.
Lentamente, mas com firmeza, tiraram o cruzeiro da atmosfera e do poço
de gravidade.
Quinze minutos depois, a crise acabou.
— Obrigado pela sua ajuda, Capitã Sênior Ziara, — a voz de Thrawn veio
quando as duas naves finalmente desligaram os seus propulsores e
desengataram os seus tratores. — Sem você, o cruzeiro realmente teria se
perdido.
— E agradeço a você pelo seu pensamento rápido, — disse Ziara, de olho
no cruzeiro. As belas asas externas da nave se foram, com as suas suítes
extravagantes e, sem dúvida, as posses extravagantes dos ocupantes se
foram com elas. — No entanto, uma palavra de aviso. Se fosse você, não
esperaria muitos agradecimentos de mais ninguém.


— Você nunca esteve em Csilla, não é? — Ziara perguntou enquanto o
transporte espacial descia em direção à superfície azul-branca cintilante do
mundo natal dos Chiss.
— Não, — disse Thrawn, olhando pela janela. — Todo o meu treinamento
e instruções aconteceram no complexo da Frota Expansionista em
Naporar.
Ziara olhou para o perfil dele. Havia uma tensão em torno de seus olhos
e lábios.
— Você parece preocupado.
— Preocupado?
— O estado de ver grandes Nighthunters à espreita em seu futuro, —
respondeu Ziara. — Você sabe que não tem nada com o que se preocupar,
certo? Os proprietários do cruzeiro podem gritar o quanto quiserem, mas
o fato é que você salvou oito mil pessoas que, de outra forma, estariam
comprimidas como papinha agora.
— Imagino que qualquer coisa semelhante a uma papinha teria há muito
se dissipado em gavinhas de moléculas orgânicas fragmentadas dentro
das correntes atmosféricas.
— Oh, eu gostei dessa, — Ziara disse. — Tudo bem se eu pegar
emprestado?
— Você é bem-vinda. — Thrawn assentiu com a cabeça para o planeta. —
Não, só estava pensando. Já estive em apuros antes, mas nunca fui
chamado para uma audiência de nível tão alto.
— Porque todas as outras coisas questionáveis que você fez foram
essencialmente militares, — Ziara o lembrou. — Este é um assunto
essencialmente civil. O mais importante, é um assunto civil conectado a
uma das Nove Famílias. Isso coloca você no escâner de todos.
— Ainda assim, você sugere que não preciso me preocupar?
— Não, porque a lista de passageiros incluía Aristocratas de pelo menos
cinco das outras Nove Famílias, — Ziara explicou. — Quando o
ressentimento vem para o cutucão, as chances de cinco para um são uma
posição de batalha bastante muito decente.
— Espero que não chegue a esse ponto. — Thrawn assentiu com a cabeça
em direção à janela. — Aquela é Csaplar?
Ziara esticou o pescoço. Quase invisível na superfície sem traços
característicos estava o que parecia ser uma enorme cidade congelada no
gelo.
— Sim, — ela confirmou. — A Capital da Ascendência Chiss, e outrora a
pulverizadora da florescência da cultura e requinte. Estaremos pousando
no espaçoporto na extremidade sudoeste e pegando um vagão de túnel
para oeste, para a sede da frota. A propósito, você não verá aquele
complexo daqui de cima. ele é principalmente no subsolo.
— Sim, eu sei, — disse Thrawn. — Você diz que Csaplar já foi um centro de
cultura. Não é mais?
— Infelizmente, não, — Ziara respondeu. — Mas foi realmente maravilhosa
uma vez.
— Estranho, — disse Thrawn, parecendo um pouco confuso. — Eu pensava
que uma população de sete milhões de habitantes seria mais do que
suficiente para sustentar um governo e as artes.
— Alguém poderia pensar assim, — Ziara concordou, olhando
casualmente ao redor da nave. Exitem muitas pessoas. Mas haveria muito
tempo depois para lhe contar a verdade. — Mas não se preocupe. Tenho
certeza que encontraremos algo para fazer lá.
A audiência, como Ziara previra, foi curta e superficial. A família Boadil,
proprietária do cruzeiro condenado, enviou um representante que insistiu
ruidosamente para que Thrawn fosse punido, rebaixado ou possivelmente
expulso da Frota de Defesa Expansionista. Três das cinco famílias cujos
membros foram salvos da morte também estiveram representadas,
argumentando que Thrawn merecia promoção, não censura. No final, tudo
se equilibrou, e Thrawn acabou exatamente onde havia começado.
Com uma exceção crucial. Por alguma razão, por qualquer favor
obscuro político que alguém devia a outra pessoa, a nave patrulha de
Thrawn, o seu primeiro comando, foi tirado dele.
— Sinto muito, — Ziara lamentou enquanto ela e Thrawn seguiam no seu
vagão de túnel de volta para a cidade. — Nunca esperei que a frota fizesse
isso.
— Está tudo bem, — disse Thrawn. A sua voz estava calma, mas Ziara
podia ouvir a decepção por trás dela. — Considerando quantos milhões
custou à Boadil, nenhum de nós deveria se surpreender com a sua
vingança.
— Você não custou nada a ninguém, — Ziara rosnou. — Você não levou o
cruzeiro muito perto daquele planeta. Você não ignorou os engenheiros
que alertaram que os componentes eletrônicos estavam tendo problemas
com as torções do campo magnético. Você não empurrou os motores e
embaralhou os propulsores em primeiro lugar. Se eu fosse a Boadil, estaria
tentando pregar o capitão da nave no chão, não você.
Exceto que não iriam, ela sabia, sentindo a ponta aguda da amargura. A
Boadil era aliada política tanto da Ufsa quanto da sua própria família Irizi...
e o capitão do cruzeiro era da Ufsa. Thrawn era o único bode expiatório
disponível para a bagunça, então recebeu todo o impacto da raiva e
constrangimento da Boadil.
— Obrigado, — disse Thrawn. — Mas você não precisa ficar com raiva por
mim. Juntos, nos salvamos oito mil vidas. Isso é o que importa.
Ziara assentiu com a cabeça.
— Sim. Absolutamente.
— Então, — disse Thrawn, com o seu tom profissional novamente. — Sem
o meu comando, eu não tenho mais uma passagem conveniente para fora
de Csilla. Presumo que a frota notará isso e providenciará o meu transporte
para o próximo posto onde quer que seja que eles me designem.
— Felizmente, eles não precisarão se esforçar nesse sentido, — disse
Ziara. — Já fiz um pedido para que você seja transferido para a Parala como
um dos meus oficiais. Se for aprovado, você vai embora comigo.
— Obrigado, — disse Thrawn, inclinando a sua cabeça para ela. — Notei
uma série de hotéis agrupados em torno do espaçoporto. Eu posso ir lá
encontrar um alojamento enquanto aguardo as minhas novas ordens.
— Você poderia, — Ziara disse, franzindo os lábios pensativamente. O
pensamento que acabara de ocorrer a ela...
A família não ficaria feliz com isso, ela sabia. Mas agora realmente não
se importava. Thrawn tinha sido injustamente abandonado, e se não podia
consertar isso, poderia pelo menos mostrar a ele que não tinha sido
abandonado por toda a Ascendência.
— Mas tenho uma ideia melhor, — ela disse. — Nós temos pelo menos
alguns dias, mais provavelmente uma semana. Por que você não vem para
o domicílio Irizi comigo?
— Para o seu domicílio? — Thrawn ecoou. — Estranhos são permitidos? —
Um músculo em sua bochecha se contraiu. — Especialmente estranhos de
famílias rivais?
— Não sei e não me importo, — Ziara disse. — Eu sou sanguínea, e sou
uma membro honrada da frota que acabou de ajudar a salvar oito mil
vidas. Não sei até onde tudo isso vai me levar, mas prefiro descobrir. Você
quer descobrir comigo?
— Não sei, — respondeu Thrawn, hesitante. — Não quero que você tenha
problemas por minha causa.
— Não estou preocupada com isso, — Ziara disse. — Eu mencionei que o
meu avô era um colecionador de arte incrivelmente apaixonado?
Thrawn sorriu.
— Se não mencionei isso recentemente, Ziara, você tem um talento
especial para buscar e explorar as fraquezas dos seus oponentes. Muito
bem. Devemos mais uma vez mergulhar de cabeça no perigo?
— Nós devemos, — Ziara respondeu. — Além disso, acabamos de
sobreviver a um encontro com um planeta gigante gasoso nocivo. Sério, o
quão ruim a minha família poderia ser?


A área ao redor do espaçoporto de Csaplar era barulhenta e
movimentada, lotada de pessoas, hotéis, restaurantes e entretenimento de
todos os tipos. O domicílio Irizi ficava a cerca de trezentos quilômetros ao
nordeste, no outro lado da cidade. Ziara conseguiu para eles um vagão de
tubo subterrâneo expresso para duas pessoas e eles partiram.
Através da cidade. Não, como geralmente era feito, em torno dela.
Não deveria fazer isso, ela sabia. Thrawn não deveria saber a verdade
sobre a cidade capital da Ascendência, ninguém, exceto os síndicos sênior,
oficiais generais e os Patriarcas das Nove Famílias sabiam a verdade
completa, e haviam muitas rotas de carros de túnel que evitariam as
seções acima do solo inteiramente.
Mas, mais uma vez, não se importou. A frota e Aristocracia trataram
Thrawn de maneira vergonhosa, e a sua raiva persistente despertou um
senso de desafio peculiar, mas surpreendentemente delicioso.
Além disso, lembrou-se ao deixar o espaçoporto de passar pelos
prédios, parques e o labirinto de outros tubos subterrâneos, seria um
exercício tático interessante ver quanto tempo Thrawn levaria para
descobrir.
Não demorou muito, no fim das contas. Eles haviam cruzado um pouco
mais de um terço da extensa metrópole, e ela estava observando a
expressão dele de perto enquanto ele olhava para fora da janela, quando
os olhos dele se estreitaram de repente.
— Algo está errado, — ele disse.
— O que você quer dizer? — Perguntou Ziara.
— Não parece haver ninguém aqui, — Thrawn respondeu. — Não desde
que deixamos a área do espaçoporto.
— Claro que há — Ziara disse, apontando ao longo do caminho para
outro vagão de tubo paralelo ao deles à distância. — Você pode ver duas
pessoas ali.
— Eles são as exceções, — disse Thrawn. — Os outros carros que vimos
estavam vazios.
— Talvez estejam longe demais para você vê-los dentro, — Ziara disse,
sentindo-se culpada e surpresa com o quanto o jogo era divertido. — Você
pode ver que o exterior do carro tende a ser reflexivo.
— Não, — disse Thrawn. — Os carros vazios andam mais alto em seus
trilhos do que os cheios. Também passamos por três locais de conexão, e
não haviam carros ou passageiros esperando em qualquer um deles.
Ele se virou, fixando-a com um olhar tão intenso que ela reflexivamente
recuou um pouco.
— O que aconteceu com a nossa capital, Ziara?
— A mesma coisa que aconteceu com todo o planeta, — Ziara respondeu
calmamente. — Me desculpe, eu não deveria ter feito isso com você. Mas
você não deveria saber.
— Saber o que? Que o povo de Csilla se foi?
— Oh, eles não se foram, — ela respondeu. — Bem, sim, a maioria deles é
claro, mas o grande êxodo aconteceu há mais de mil anos. O que eles
ensinaram na escola sobre como as mudanças na emissão do sol e o lento
congelamento da superfície forçaram a população de Csilla para o subsolo
é em grande parte verdade. O que as histórias deixam de fora é que os
números que foram movidos para baixo estavam muito longe dos quatro
bilhões que viviam aqui na época.
— Para onde eles foram?
— Para outros planetas, — Ziara respondeu. — Principalmente Rentor,
Avidiche Sarvchi. A Sindicura e a sede da frota foram mantidas aqui, junto
com muitas das instalações de carga e mercantes. Algumas das famílias
mudaram os seus domicílios para mundos onde já tinham uma presença
forte, mas a maioria não queria deixar Csilla inteiramente.
— Eles também se mudaram para o subsolo?
— Certo, — Ziara respondeu. — O novo domicílio da minha família, bem,
novo há mil anos, fica em uma enorme caverna a cerca de dois
quilômetros abaixo da superfície. Ainda na mesma terra, claro. Os Irizi são
um pouco obsessivos com relação a território e história.
— Então, quantas pessoas realmente vivem em Csilla?
— Sessenta ou setenta milhões, — Ziara respondeu. — Embora todos os
registros oficiais apontem para o número de oito bilhões. — Ela acenou
para a cidade ao redor deles. — Todo o resto é apenas para exibição.
— Pra quem?
— Para os nossos visitantes, — ela respondeu. — Nossos parceiros
comerciais alienígenas. — Ela sentiu a sua garganta apertar. — Nossos
inimigos.
— Então, alguns continuam a viver na superfície para criar a ilusão, —
murmurou Thrawn. — A luz e o calor também são mantidos. Os vagões de
tubo continuam a viajar pelas cidades restantes, fingindo ser o tráfego de
uma população próspera. — Ele olhou para Ziara. — Presumo que do outro
lado, o nosso tubo descerá para um dos túneis?
Ela assentiu.
— Existem algumas centenas de pessoas em Csaplar em qualquer
momento. Elas são alternadas com frequência para que não tenham que
aturar as condições aqui por muito tempo. O resto da cidade, a cidade
real, está espalhada em cavernas, principalmente concentradas em torno
do complexo da Sindicura. Mais ilusão para os nossos visitantes
diplomáticos.
— E, claro, a maioria dos visitantes civis e mercadores ficam perto de um
dos espaçoporto, — disse Thrawn, assentindo. — A atividade lá e em torno
do complexo do governo disfarça o vazio do resto da cidade.
— Certo, — Ziara disse. — A sua próxima pergunta é provavelmente por
que tudo isso é um grande segredo.
— De jeito nenhum — Thrawn assegurou a ela. — Entendo as vantagens
estratégicas de manobrar um inimigo potencial para desperdiçar uma
grande quantidade de força no que é essencialmente uma concha vazia. —
Ele a olhou diretamente nos olhos. — A minha pergunta é por que você me
contou tudo isso. Certamente não sou sênior o suficiente para esse tipo de
informação secreta. Especialmente depois de hoje.
— Eu te disse porque você prospera com as informações, — Ziara
explicou. O seu desafio motivado pela raiva estava começando a
desaparecer, deixando um pouco do desconforto para trás. A lei era clara:
os oficiais da graduação atual de Thrawn não deveriam saber de nada
disso. — Quanto mais você sabe sobre uma situação, melhor você cria a
estratégia e as táticas necessárias para lidar com ela. De qualquer forma,
você será chamado para a reunião de alto nível em breve. — Ela sentiu os
seus lábios franzirem. — Quando isso acontecer, tente parecer surpreso.
— Eu irei, — ele prometeu. — Falando em surpresas, a sua família sabe
que você está trazendo um convidado?
Ziara balançou a cabeça.
— Não, mas não será um problema.
Thrawn ergueu ligeiramente as sobrancelhas.
— Você presume.
— Sim, — Ziara concedeu. — Eu presumo.
A lei era clara.
A Vigilante havia sido atacada por forças do Regime de Lioaoin. Os
atacantes se identificaram como tal, removendo qualquer dúvida se eles
poderiam ser piratas ou corsários ou algum outro grupo não oficial e não
autorizado. O Conselho de Hierarquia de Defesa tinha certos respostas
necessárias para tal situação, assim como a Aristocracia e a Sindicura. A lei
era clara.
O que não quer dizer que qualquer um desses grupos estivesse
entusiasmado com o desempenho das funções deles.
— Isso, — disse o segundo oficial Kharill, — é uma loucura.
Samakro olhou pela janela para o céu turbulento do hiperespaço.
Pessoalmente, não poderia concordar mais com a avaliação do seu
subordinado.
Mas Kharill era o seu subordinado, e Samakro era o primeiro oficial da
Falcão de Primavera, e parte do seu dever era reprimir conversas como
essa a bordo da sua nave.
— Os antigos filósofos concordariam com você, — ele disse. — Por
outro lado, muitos desses mesmos filósofos diriam que toda guerra é uma
loucura. Leve isso ao extremo lógico e todos estaremos sem emprego.
— Talvez, — disse Kharill. — Eu não posso dizer que me oporia a
alguns anos de paz.
— Isso pode depender da causa subjacente dessa paz, — disse Thrawn
atrás deles. — Bom dia senhores.
— Bom dia, Capitão Sênior, — disse Samakro, levantando-se
apressadamente da cadeira de comando e virando-se quando Thrawn passou
da escotilha para a ponte.
Para a sua leve surpresa, Thrawn acenou para que ele voltasse.
— Não vou assumir o seu comando, Capitão Intermediário, — ele disse.
— Só passei para verificar o nosso progresso.
— Nós estamos dentro do cronograma, senhor, — disse Samakro,
olhando para a estação do navegador. Che'ri estava sentada ereta em seu
assento, não mostrando nenhum dos sinais sutis de fadiga das sky-walkers,
o que exigiria um retorno ao espaço normal e um período de descanso.
Em contraste, Thalias, segurando a guarda atrás da garota, estava
cedendo onde estava, aparentemente à beira de adormecer.
Mas nesse caso, esteve com Thrawn no mundo natal Vak de Primea, uma
testemunha de tudo o que aconteceu lá. Isso a colocou sob os holofotes para
a mesma rodada cansativa de audiências e interrogatórios do Conselho e da
Sindicura, que Thrawn e Ar'alani haviam suportado. Dadas as
circunstâncias, Samakro ficou um pouco surpreso que a jovem estivesse de
pé.
— Excelente, — disse Thrawn. Com o canto do olho, Samakro viu o
outro olhar para Che'ri, fazer a sua própria avaliação visual da condição
dela e chegar à mesma conclusão. — Você percebe, é claro, que a paz tem
vários sabores diferentes.
— Senhor? — Samakro perguntou, franzindo a testa.
— Eu estava voltando ao tópico levantado pelo Comandante Sênior
Kharill, — respondeu Thrawn. — Se a Ascendência fosse conquistada e as
nossas cidades deixadas em ruínas, isso seria uma espécie de paz.
— Não era isso que eu estava sugerindo, senhor, — disse Kharill
rigidamente.
— Não esperava que fosse, — garantiu Thrawn. — Mas esse seria o
conceito de paz de um conquistador. Um conquistador diferente pode
preferir que os Chiss estejam sob o seu controle inquebrável, para obedecer
às suas ordens sem questionar. Pra ele, isso seria uma versão de paz.
— Eu quis dizer o tipo de paz em que ninguém está atirando em outra
pessoa, — disse Kharill.
— Esse é o tipo que a maioria das pessoas civilizadas deseja, — disse
Thrawn. — Mas como isso pode ser alcançado?
— Não sei, Capitão, — respondeu Kharill. — Não sou um filósofo.
Por um momento, Thrawn o olhou em silêncio. Então ele inclinou
ligeiramente a cabeça.
— Entendido. Vá verificar o suprimento de esferas de plasma. Suspeito
que as usaremos muito nas próximas horas.
— Sim, senhor. — Com claro alívio, Kharill cruzou a ponte em direção
ao posto de armas.
— Ele é um bom oficial, senhor, — Samakro disse calmamente.
— Eu sei, — disse Thrawn. — A sua principal falha é a falta de
curiosidade.
— Eu teria dito sem imaginação.
— Todos os seres possuem imaginação em vários graus, — disse
Thrawn. — Pode ser encorajado e nutrido, ou às vezes pode brilhar em
momentos de estresse. Mas a curiosidade é uma escolha. Alguns desejam
ter. Outros não. Como é a paz que desejava ser alcançada?
— Através do respeito mútuo e da boa vontade de todos os seres, é claro,
— respondeu Samakro, ousando um pequeno sorriso irônico.
Thrawn sorriu de volta.
— E como esse respeito pode ser alcançado?
O sorriso de Samakro desapareceu.
— Provando, sem sombra de dúvida, que a Ascendência pode e irá
responder a um ataque com força esmagadora.
— De fato, — disse Thrawn. — E é por isso que esta missão não é uma
loucura, mas em vez disso, vitalmente necessária.
— Sim, senhor, — disse Samakro. — Mas acredito que o Comandante
Kharill estava se referindo menos à filosofia do que à questão de por que só
as nossas duas naves foram enviadas.
— Você não acredita que a Falcão de Primavera e a Vigilante se provem
num combate justo para as defesas centrais do mundo coração de Lioaoin?
Samakro hesitou.
— Para ser honesto, senhor, não.
— Talvez uma compreensão mais completa da situação possa ajudar, —
explicou Thrawn. — Há quatro grupos diferentes em jogo, cada um com os
seus próprios interesses e agenda. Primeiro são os Nikardun, que queriam
capturar ou destruir a Almirante Ar'alani em Primea, mas não queriam que a
vingança da Ascendência caísse sobre eles ou sobre o Combinado Vak. O
General Yiv chamou, portanto, uma força do Regime de Lioaoin para fazer
o ataque e assumir esse risco.
— Pensei que essa ligação não tinha sido estabelecida.
— Se não, você precisa acreditar que os Lioaoi viajaram até Primea para
atacar uma nave de guerra Chiss que nem sabiam que estava chegando.
Samakro fez uma careta.
— Sim, entendo o seu ponto.
— Portanto, Yiv alcançou o primeiro dos seus objetivos, embora
correndo o risco de sacrificar a força dos seus aliados de Lioaoin, — disse
Thrawn. — O segundo objetivo, agora que voltou a nossa raiva para os
Lioaoi, é avaliar a vontade da Ascendência de desferir uma represália. Isso
o ajudará a revisar os seus planos, se necessário, enquanto espera a sua
guerra final contra nós.
— O que significa que enviar só duas naves não foi uma boa jogada por
parte do Conselho, — concluiu Samakro. — Isso vai nos fazer parecer
fracos ou indecisos.
— Yiv pode de fato interpretar dessa maneira, — concordou Thrawn. —
Mas também poderia interpretar como confiança suprema, de que duas
naves de guerra Chiss são consideradas adequadas para entregar a
mensagem necessária. Acrescente a isso o interesse de Lioaoin em manter
os danos ao regime deles ao mínimo.
— Com o que não nos importamos.
— Talvez não, — disse Thrawn. — Ainda assim, se conseguirmos
encontrar um equilíbrio entre maximizar a nossa mensagem e minimizar
nossos danos, os Lioaoi podem se lembrar dessa restrição no futuro.
— Supondo que eles apenas não voltem as naves que nós não destruímos
contra nós, — advertiu Samakro.
— Mais uma razão para derrotar Yiv e remover o seu domínio da região
o mais rápido possível, — disse Thrawn severamente. — Certamente os
Lioaoi não se moveriam contra nós sem a pressão dos Nikardun.
— Mas a Sindicura deve primeiro reconhecer a ameaça, — ressaltou
Samakro. Embora, para ser honesto, ele também não estava totalmente
convencido disso. Era um longo caminho entre devorar filhotes de whisker
como o Regime de Lioaoin e se envolver com o nighthunter que era a
Ascendência Chiss. — De qualquer forma, atingir esses dois objetivos
exige que façamos alguns danos sem sermos arremessados do céu.
— É isso aí, — concordou Thrawn. — Mas a almirante acredita que
podemos encontrar o equilíbrio necessário.
— Um momento, — disse Samakro, franzindo a testa. — Você está
dizendo que a Almirante Ar’alani pediu apenas duas naves? Achei que
fosse decisão dos síndicos.
— Eles ficaram felizes em concordar com isso, — respondeu Thrawn. —
Mas não, foi da almirante.
— Estou feliz que ela esteja confiante, — murmurou Samakro.
— Ela está. — Thrawn inclinou a cabeça. — Há outra razão para levar
apenas uma pequena força, porém, uma razão tática. O que você acha que
pode ser?
— Não faço ideia.
— Pense, — pediu Thrawn. — Você tem o conhecimento e a visão.
Aplique-os ao problema.
Samakro reprimiu uma careta. Isso foi o que ele recebeu por sugerir que
Kharill não tinha imaginação.
Ainda assim, era uma pergunta intrigante. Duas naves Chiss... um
número desconhecido de oponentes... um motivo tático...
— Certamente será mais fácil avaliar a tática Lioaoin quando só têm
duas das nossas para atirar, — comentou, ganhando tempo enquanto tentava
pensar. Duas naves Chiss...
— Exatamente, — disse Thrawn, inclinando a cabeça. — Muito bem,
Capitão Intermediário.
Samakro piscou.
— Era só isso?
— Claro, — respondeu Thrawn. — Tudo se resume a minimizar
variáveis. Seria ainda mais fácil se trouxéssemos apenas uma nave, mas não
achamos que o Conselho aceitaria isso.
— Mas você disse que a Sindicura foi toda a favor?
O olhar de Thrawn se afastou.
— Alguns dos síndicos estavam relutantes em lançar qualquer ataque,
acreditando que Ar’alani e eu provocamos deliberadamente o incidente de
Primea. Outros, tenho certeza, acreditam que duas naves serão suficientes.
Outros…
— Outros? — Samakro perguntou.
Thrawn encolheu os ombros.
— Suspeito que um pequeno número esteja esperando que Ar’alani e eu
sejamos mortos na batalha, eliminando assim qualquer embaraço futuro que
possamos trazer à Ascendência.
Samakro olhou pra ele.
— Isso é…
— Paranoico? — Thrawn ofereceu.
— Eu ia dizer ultrajante, — respondeu Samakro. — Se a frota tiver um
problema com você ou com a Almirante Ar'alani, o Conselho pode
disciplinar ou rebaixar vocês. Não é função da Sindicura se intrometer
nessas decisões.
— Mas é função deles fazer o que é melhor para a Ascendência, —
explicou Thrawn. — Às vezes, obrigações e restrições se sobrepõem.
— Bem, se eles estão esperando que nos enrolemos e morramos para a
conveniência deles, vão ficar desapontados, — disse Samakro com firmeza.
— Esta é a Falcão de Primavera. Não perdemos batalhas. Pra ninguém.
Garanto.
— Espero mais uma vez provar isso, — disse Thrawn. — Vou deixar a
ponte com você agora, Capitão Intermediário. Avise-me se a nossa sky-
walker precisar de uma pausa para descanso. Caso contrário, voltarei antes
do nosso encontro com a Vigilante. — Com um aceno final, ele se virou e
refez os seus passos até a escotilha.
Samakro ficou olhando para a escotilha por um longo momento depois
que saiu, com o seu sangue queimando dentro dele. Ele não gostava
especialmente de Thrawn. Certamente não gostava do jeito que patinava até
no limite da linha e ocasionalmente passava direto por ela. Às vezes,
deixava o caos e as bagunças pra trás que outras pessoas tinham que limpar,
e Samakro também odiava isso.
Mas também não tinha nenhum interesse na Aristocracia, os síndicos ou
qualquer outra pessoa de fora da cadeia de comando da frota interferindo
em assuntos militares. A Falcão de Primavera e a Vigilante iriam para o
mundo coração de Lioaoin conforme ordenado, eles entregariam a
mensagem da Ascendência e retornariam. As duas naves.
E com sorte, voltariam cobertos de honra. Porque também era assim que
a Falcão de Primavera fazia as coisas.
Garantido.

As duas naves alcançaram o sistema de encontro, um salto em salto fácil até


o mundo coração de Lioaoin. Lá, os comandantes e os seus oficiais sêniores
se reuniram a bordo da Vigilante para as instruções e consultas finais.
Samakro se perguntou se Ar’alani ou Thrawn mencionariam o objetivo
particular deles de entregar a mensagem dos Chiss com o menor dano
possível aos Lioaoi. Mas nenhum deles o fez.
Provavelmente tudo bem, ele decidiu. Essa coisa toda estava emaranhada
o suficiente sem arrastar nenhuma complicação de última hora.
A conferência terminou e os oficiais da Falcão de Primavera voltaram
para a nave deles. Che'ri e a sky-walker da Vigilante foram retiradas de suas
respectivas pontes e abrigadas em suas suítes, longe do perigo imediato.
Ar’alani deu a ordem e as naves entraram no hiperespaço para o salto final.
E então estavam lá.
— Relatórios de situação, — Thrawn chamou calmamente da sua cadeira
de comando.
— Todos os sistemas prontos, — disse Samakro, andando de um lado
para o outro atrás do leme, armas, defesa e estações de sensores. —
Contando doze naves de guerra de médio porte Lioaoin em órbita baixa.
A Vigilante está se movendo para dentro.
— Tenente Comandante Azmordi, mantenha-nos em formação —
ordenou Thrawn. — Vamos ver quanto tempo eles levam para nos notar.
— Quatro das naves de guerra saindo da órbita, — relatou Dalvu da
estação de sensores, seus dedos batendo nas teclas. — Contando seis... não;
contando todas as doze.
— Não demorou muito, aparentemente, — disse Thrawn em tom de
conversa.
— Você acha que tinham a consciência pesada, — comentou Samakro,
tentando manter a voz firme. Duas naves de guerra daquele tamanho seriam
triviais para a Vigilante e a Falcão de Primavera controlar. Quatro seriam
razoáveis. Seis seria um exagero.
Doze…
— Eles estão tentando nos assustar, — disse Thrawn, como se tivesse
percebido as preocupações repentinas de Samakro. Ou, mais
provavelmente, percebeu as preocupações de toda a tripulação da ponte. —
Não se preocupe, eles não estão vindo atrás de nós.
— Certamente parece que sim, — contrapôs Dalvu baixinho.
— Cuidado com o seu tom, Comandante Intermediária, — Samakro a
advertiu baixinho. — O capitão sênior sabe do que está falando.
— Talvez você deva explicar a ela por que não enviarão mais do que
quatro naves contra nós, — convidou Thrawn.
Samakro franziu a testa, olhando as naves. O que Thrawn estava vendo
que ele não estava?
Ele sorriu de repente. Não era nada o que o seu comandante estava
vendo, mas uma simples lógica tática.
— Porque os Chiss têm uma reputação, — ele disse. — O Alto Comando
Lioaoin sabe tudo sobre nós e não vai acreditar que a Ascendência enviou
apenas duas naves para esbofeteá-los pelo ataque em Primea. Vão assumir
que somos uma distração ou parte de uma força de cerco maior. De
qualquer forma, vão querer manter o grosso da sua força por perto para
proteção.
— Exatamente, — disse Thrawn. — Fique atento para quatro das naves
que continuarem em nossa direção, enquanto o resto se desdobra num
padrão de alta órbita defensivo.
Uma luz piscou no console de comunicação.
— A almirante os está saudando, — relatou Samakro.
Thrawn assentiu.
— Vamos ouvir o que ela tem a dizer.
O oficial de comunicação tocou em um botão.
— Aqui é a Almirante Ar’alani, da Frota de Defesa Expansionista Chiss,
comandando a Vigilante, — a voz clara de Ar’alani veio pelo alto-falante da
ponte. — Forças do Regime de Lioaoin atacaram com conhecimento de
causa e com preconceito uma nave da Ascendência Chiss. Vocês têm
alguma explicação a oferecer antes de julgarmos?
Silêncio.
— Repito, — disse Ar’alani, depois repetiu a mensagem.
— Os Nikardun estão aqui, — disse Thrawn calmamente.
— Não estou recebendo naves que não sejam as de Lioaoin, — disse
Dalvu.
— Então, eles estão na superfície ou a bordo das naves Lioaoin, — disse
Thrawn. — Mas o regime certamente tentaria desculpar as suas ações em
Primea se eles não tivessem medo de represálias dos seus aliados.
Samakro se lembrou do que Thrawn havia dito sobre os Nikardun
sacrificarem os Lioaoi para se manterem e os Vaks fora da zona-alvo dos
Chiss.
— Então os Nikardun só os deixaram caminhar para o massacre? — ele
perguntou. — Não fala muito sobre o valor deles para os Nikardun.
— É mais provável que indique um valor maior que o General Yiv
atribui ao Combinado Vak, — disse Thrawn. — Vejo que temos quatro
naves se aproximando.
Samakro olhou para o perfil de Dalvu e percebeu o olhar azedo no rosto
dela. Thrawn informou o número exato da resposta de Lioaoin e, por algum
motivo, a demonstração casual de competência dele a irritou.
— Confirmado, Capitão Sênior, — ela disse relutantemente.
Thrawn tocou em um botão na sua cadeira de comando.
— Almirante, acredito que os nossos oponentes estão a caminho.
— Concordo, Capitão Sênior, — a voz de Ar’alani voltou. — Pronto
para utilizar a sonda.
— Falcão de Primavera está pronta, — Thrawn confirmou. — Envie à
vontade.
Samakro esticou o pescoço para olhar para fora da janela da Vigilante,
correndo próximo à proa de bombordo da Falcão de Primavera. Houve um
lampejo de fogo do propulsor, e a sonda disparou para longe da nave maior.
— Sonda a caminho, — ele confirmou a Thrawn.
— Entendido.
Samakro observou enquanto o objeto acelerava em direção às quatro
naves Lioaoin, as quais agora haviam se posicionado em uma formação de
diamante vertical. Todo esse cenário era, pelo menos na superfície,
exatamente o mesmo truque que Thrawn tinha usado em Rapacc para
preparar a captura da nave patrulha Nikardun pela Falcão de Primavera. A
sonda, na verdade apenas uma das naves da Vigilante, estava jogando a isca,
dando aos Lioaoi algo em que se concentrar enquanto a verdadeira ameaça
estava em outro lugar.
Pelo menos, era isso que Thrawn e Ar’alani esperavam que eles vissem.
A questão agora era quanto do incidente Rapacc, os Nikardun
compartilharam com os seus aliados.
E, ainda mais importante, se também compartilhavam quaisquer
contramedidas que inventassem para quaisquer usos futuros do estratagema.
Aparentemente, a resposta para ambas as respostas foi sim.
— A sonda está vacilando, — anunciou Dalvu. — a Vigilante parece
estar perdendo o controle.
— Aumentando a interferência na comunicação, — Samakro confirmou,
examinando as telas de comunicação. — Lioaoi está tentando bloquear o
sinal de controle da Vigilante. Para bloquear e substituir.
Samakro olhou para a tela tática. O vetor original da sonda tinha sido na
direção à nave ventral na formação Lioaoin. Agora estava oscilando pra
frente e pra trás enquanto a Vigilante e os Lioaoi lutavam pelo controle.
Os Lioaoi venceram. Com uma onda final de deslizamento, a sonda se
estabeleceu em um novo vetor, que a levaria inofensivamente pelo centro da
formação Lioaoin e de lá desapareceria nos anos-luz vazios do Caos.
— Pelo menos agora sabemos que podem aprender, — comentou
Samakro.
— De fato, — concordou Thrawn. — E como você vê, Capitão
Intermediário, isso pode ser uma coisa boa ou ruim.
— Sim, senhor, — disse Samakro. A sonda estava quase chegando às
naves Lioaoin, movendo-se firmemente agora sob o controle dos seus novos
mestres. Ela entrou no espaço aberto no centro da formação...
— Dispare, — disse Thrawn.
Na distância atual, Samakro sabia, certamente que contra naves de guerra
equipadas com barreiras eletrostáticas, um ataque de laser de espectro seria
não apenas inútil, mas risível. Mas as naves de guerra não eram o alvo de
Thrawn. Em vez disso, os lasers da Falcão de Primavera lançaram um tiro
de energia no pequeno transporte espacial desprotegido.
E quando o casco se estilhaçou, os quatro mísseis de violação que
haviam sido embalados a bordo dispararam, um na direção de cada uma das
naves de guerra Lioaoin.
Os Lioaoi viram o ataque chegando, é claro, e mesmo de tão perto
tiveram tempo suficiente para responder. Mas, com uma nave amiga
diretamente atrás de cada míssil que se aproximava, nenhuma das naves de
guerra poderia lançar o nível de contramedidas necessárias para neutralizar
totalmente o ataque. Alguns disparos de laser foram lançados
provisoriamente e um dos mísseis foi atingido e se desintegrou. Mas a
explosão apenas liberou os globos de ácido da ogiva, deixando o fluido
mortal continuar em direção ao seu alvo. Um segundo depois, enquanto as
naves de guerra tentavam em vão sair do caminho do perigo, os mísseis
acertaram.
O dano físico real foi provavelmente mínimo. Até mesmo o ácido
incrivelmente forte com o qual os violadores estavam carregados só podia
penetrar profundamente no casco de uma nave de guerra, e a propagação
lateral do conteúdo de um único míssil era muito grande. Eletrônicos,
sensores e sistemas de armas seriam danificados, mas esses danos seriam
bastante localizados.
Mas o efeito psicológico mais do que compensou. Todas as quatro naves
Lioaoin balançaram violentamente, quebrando a formação. Um segundo
depois, o momento de pânico instintivo pareceu diminuir, e os capitães
começaram a girar sistematicamente para longe das naves Chiss, tentando
colocar seus novos pontos de vulnerabilidade fora do alcance dos lasers
inimigos.
Cada um deles conseguiu dar um giro de quarenta graus quando os lasers
da Vigilante dispararam.
E a segunda nave de transporte..., sombria, silenciosa, fria e quase
indetectável, a segunda nave que havia sido rebocada invisivelmente atrás
da primeira, despedaçou-se e enviou a sua própria carga de mísseis
invasores para as naves de guerra Lioaoin cambaleantes.
— Regime de Lioaoin, ainda estou esperando por essa explicação, — a
voz de Ar’alani veio pelo alto-falante. — Talvez você deva começar com
um pedido de desculpas, e partiremos daí.
— Naves Lioaoin retrocedendo, — relatou Dalvu. — Duas outras naves
saindo da órbita de defesa.
— Almirante? — Perguntou Thrawn.
— Aparentemente, eles ainda não estão prontos para ceder, — disse
Ar’alani, com a voz gélida. — Bem. Estamos aqui para entregar uma
mensagem. Vamos entregá-la.
— Entendido, — disse Thrawn. — Falcão de Primavera: Prepare-se
para a batalha.

Houve um baque duplo suave de algum lugar próximo. Che'ri, estava


sentada em sua cadeira fingindo desenhar, deu um balanço violento.
— O que foi isso? — ela sussurrou.
— Está tudo bem, — respondeu Thalias do sofá em frente à cadeira de
Che'ri, onde estava fingindo ler. — Provavelmente apenas alguns estilhaços
perdidos de um míssil que os nossos lasers destruíram.
— E quanto ao ácido? — Che'ri perguntou, olhando para o canto
superior da suíte.
— Não há nenhum, — respondeu Thalias, ordenando severamente que o
seu próprio coração se acalmasse. — Somos os únicos que usam mísseis
violadores com ácido. Todo mundo usa explosivos. Uma vez que os nossos
lasers os destroem ou detonam, não há nada que continue vindo na nossa
direção. — Houve outra série de pancadas, seis delas desta vez. — Exceto
talvez algumas pequenas sobras de míssil, — ela emendou.
— O que acontece se as peças atravessarem?
— Elas não vão, — Thalias garantiu a ela. — A barreira eletrostática
pode retardá-las um pouco, mas o mais importante é que a Falcão de
Primavera tem uma armadura realmente boa e espessa.
— Tudo bem, — disse Che'ri. Mas estava claro pela sua expressão
ansiosa que ela não estava realmente satisfeita. — Como é que ninguém
mais usa ácido?
— Eu não sei, — respondeu Thalias. — Suponho que isto não seja tão
impressionante quanto os explosivos. Provavelmente é mais difícil de fazer
os mísseis funcionarem também.
— Como nós fazemos?
— Porque quando funciona, funciona muito bem, — respondeu Thalias,
sentindo uma pontada de simpatia. Quando tinha a idade de Che'ri, os
oficiais e as cuidadoras nunca respondiam às suas perguntas sobre coisas
como essa. Só mais tarde soube que foram proibidos de falar com as sky-
walkers sobre esses detalhes.
Provavelmente ainda estavam, na verdade, isto que significava que
Thalias provavelmente teria problemas se alguém descobrisse sobre isso.
Mas conseguia se lembrar de ter ficado apavorada durante as batalhas das
suas naves, enquanto se sentava sozinha com a sua cuidadora e se
perguntava o que estava acontecendo.
Saber como as armas da nave funcionavam pode não ser muito
reconfortante. Mas, novamente, pode.
— Se o míssil chegar perto o suficiente antes que os lasers do inimigo o
atinjam, o ácido continuará como um grande globo, — ela continuou. — É
muito difícil derrubar uma bola de líquido. Barreiras eletrostáticas também
não podem fazer muito para desacelerar isso, então, quando ela atinge,
começa a corroer o metal do casco.
— Então, isso abre o casco para o espaço?
— Não, a menos que o casco seja muito fino ou já tenha sido danificado,
— respondeu Thalias. — Mas pode destruir quaisquer sensores ou sistemas
de controle de incêndio e corroer quaisquer links de comunicação que
cruzem a área. Melhor ainda, do nosso ponto de vista, ele escurece o metal
do casco e cria poços, os quais deixam o metal embaixo absorver o próximo
lote de fogo laser de espectro que colocamos lá.
— E isso abre o casco para o espaço?
— É absolutamente possível, — respondeu Thalias. — Não vai destruir a
nave inteira, é claro, você viu quantas anteparas de emergência a Falcão de
Primavera tem nas passagens. Mas isto é um aviso à nave inimiga de que
temos a vantagem.
Houve outro clique duplo, mais longe desta vez.
— O que acontece se um desses pedaços de peças atingir a janela? —
Perguntou Che'ri.
— Provavelmente nada, — respondeu Thalias. — As defesas pontuais ao
redor da ponte são muito boas, e há escudos de tiros que podem ser
levantados se virem algo grande chegando. E o material da janela em si é
muito forte e espesso.
— Quero dizer, é bom poder ver do lado de fora quando estamos voando
para algum lugar, — refletiu Che'ri. — Mas sempre me preocupo se
encontraremos alguma coisa.
— É um risco, — reconheceu Thalias. — Mas as janelas não são apenas
porque gostamos de olhar para as estrelas. Os sensores e os componentes
eletrônicos podem ser danificados, perturbados ou confundidos de várias
maneiras. Os oficiais da ponte precisam ser capazes de realmente ver o que
está acontecendo lá fora. Existem também algumas áreas de observação de
triangulação onde outros guerreiros podem ajudar a apontar e focar os
nossos ataques.
— Acho que faz sentido. — Che'ri olhou atentamente para ela. — Como
é que ninguém nunca me disse isso antes?
— Eles não deveriam, — admitiu Thalias. — Na verdade, há muitas
coisas que não devem contar às sky-walkers.
— Sim. — Che'ri fez uma careta. — Eles me tratam como uma... — Ela
se interrompeu.
— Como uma criança? — Sugeriu Thalias.
— Eu não sou uma criança, — disse Che'ri. — Tenho quase dez anos.
O primeiro reflexo de Thalias foi apontar que dez anos de idade estava
bem dentro da definição de infância. O seu segundo reflexo foi tentar o tipo
de calmante ali, tem os barulhos que as suas cuidadoras tantas vezes lhe
davam.
Mas quando olhou nos olhos da garota, em todo aquele medo e incerteza,
percebeu que nenhuma abordagem seria boa. As duas eram muito mais
parecidas do que Thalias tinha percebido até agora, e pra ela a única coisa
que poderia aliviar o medo era o conhecimento.
— Eu sei, — ela disse, assentindo com a cabeça em reconhecimento
tácito da avaliação de Che'ri de si mesma. — Mais do que isso, você passou
por mais pressão e estresse nos últimos três anos do que a maioria dos Chiss
enfrentará em toda a sua vida.
Os olhos de Che'ri se desviaram.
— Está tudo bem, — ela murmurou.
— Está tudo bem, e vai ficar tudo bem, porque você é forte, — disse
Thalias. — Você é uma sky-walker, e a Terceira Visão parece vir com uma
robustez mental especial.
— Eu não sei, — disse Che'ri, com os olhos focados em algo a anos-luz
de distância que só ela podia ver. — Não me sinto muito resistente.
— Bem, você é, — Thalias disse. — Confie em mim. E por qualquer
coisa que valha a pena, a maioria das coisas que não te contam, também não
contam a ninguém fora do serviço militar. A maior parte do que acabei de
dizer eu tive que desenterrar por conta própria depois que eu saí.
— Você teve problemas?
— Na verdade não. Mas recebi alguns avisos, contudo. — Thalias fingiu
franzir o nariz como se estivesse pensando. — Embora eu suponha que
possa ter colocado outras pessoas em apuros.
Isso lhe rendeu um pequeno sorriso hesitante.
— Será que eles merecem?
— Gosto de pensar que a galáxia funciona em equilíbrio, — respondeu
Thalias. — Aqueles que merecem problemas, conseguem, e aqueles que
não merecem, não.
— Você realmente acha que funciona assim?
Thalias soltou um suspiro.
— Nem de perto, — ela admitiu. — Infelizmente. Você ouviu isso?
— Não. — Disse Che'ri ao olhar pra cima, carrancuda.
— Exatamente, — Thalias disse, sentindo uma pequena sensação de
alívio. — Não houve mais baques de estilhaços. Acho que a batalha acabou.
— Espero que sim, — disse Che'ri, apurando os ouvidos. — Eu odeio
batalhas.
— Assim como todo mundo, — disse Thalias. — Bem. Provavelmente
haverá um pouco de conversa agora, e o Capitão Thrawn deixará os Lioaoi
saberem que ele poderia ter achatado todo o planeta deles se ele quisesse, e
então um pouco mais de conversa. Em algum lugar ao longo disso, seremos
chamadas de volta à ponte, e você nos iniciará no caminho para casa.
— Espero que sim, — disse Che'ri, um arrepio percorrendo-a.
— Confie em mim, — disse Thalias. — Então, isso nos deixa apenas
duas perguntas.
— Quais? — disse Che'ri ao franzir a testa.
— O que você quer para o jantar, — respondeu Thalias, — E se você
quer comer agora ou esperar até o seu primeiro intervalo.
O dever de recrutamento, refletiu o Aristocrata Zistalmu enquanto
esperava pelo visitante, era uma das tarefas mais tediosas que um membro
da família poderia receber. Tediosa e geralmente frustrante. Na maioria
das vezes, o recrutador nem sabia por que aquela pessoa em particular foi
escolhida.
Nesse caso, pelo menos, Zistalmu sabia exatamente por que
Mitth’raw’nuru tinha sido escolhido. E se perguntou se a família Irizi tinha
ficado completamente louca.
A esperada batida veio à porta, precisamente na hora especificada.
— Entre, — disse Zistalmu.
O painel deslizou abrindo-se.
— Comandante Sênior Mitth’raw’nuru, apresentando-se conforme
solicitado, — disse o seu visitante formalmente ao entrar na sala.
— Comandante Sênior Thrawn, — disse Zistalmu, acenando com a
cabeça e gesticulando para a cadeira na frente dele. — Eu sou o Aristocrata
Irizi’stal’mustro.
— Aristocrata Zistalmu, — disse Thrawn, assentindo com a cabeça em
resposta enquanto se sentava na cadeira indicada. — Fiquei surpreso ao
receber o seu convite.
— Sim, — disse Zistalmu, mantendo a voz neutra. — Soube que você
visitou brevemente o domicílio da família Irizi há algumas semanas.
— Sim, — disse Thrawn. — Não me lembro de ter visto você lá.
— Infelizmente, a pressão das atividades na Sindicura me impediu de
estar no evento, — disse Zistalmu. — Você conquistou um grande nome, por
si mesmo, nos últimos anos.
— Às vezes, esse nome é anexado a uma maldição.
Pelo menos reconheceu quanto polarizada a sua carreira e ele estavam.
Zistalmu não tinha certeza se o homem era tão autoconsciente.
— Às vezes as pessoas não apreciam os seus talentos e habilidades, —
ele disse. — Entendo que você teve alguns problemas com certos membros
da família Mitth.
Os olhos de Thrawn se estreitaram ligeiramente.
— Eu entendi que a família ainda me apoia.
— Talvez, — disse Zistalmu, o gosto amargo do ressentimento na sua
boca. Por que a família Irizi queria este homem estava além da
compreensão dele, e por que tinham atrelado a ele o recrutamento era
ainda mais obscuro. Mas havia recebido o trabalho e não havia nada que
pudesse fazer a não ser ir até o fim. — Eu simplesmente observo que
aqueles que sentem que as suas façanhas refletem mal na família não
relutam em dizer isso.
— Lamento que não gostem, — disse Thrawn. — Ao mesmo tempo, tenho
que cumprir as minhas obrigações com a Frota de Defesa Expansionista da
melhor maneira possível.
— Não discordo, — disse Zistalmu. — Mas pedi a você para vir aqui para
lhe garantir que, quer a Mitth reconheça ou não a sua dedicação, a família
Irizi certamente reconhece.
— Obrigado, — disse Thrawn, inclinando a cabeça. — Embora devido às
tensões entre as nossas duas famílias, duvido que o seu apoio ajude a
minha posição.
— Acredito que a família Irizi estava pensando em ajudar a sua posição
de forma mais direta.
Uma carranca enrugou a testa de Thrawn.
— Como?
Mentalmente, Zistalmu balançou a cabeça. No campo militar, Thrawn
havia demonstrado um bom grau de percepção e habilidade tática. Mas
na esfera política, poderia muito bem ter despencado diretamente do céu.
— Eu estou sugerindo que você se desligue da Mitth, — ele respondeu, —
e aceite uma posição na Irizi.
— Uma posição como adotado por mérito?
— De jeito nenhum, — respondeu Zistalmu, preparando-se. Essa era a
parte mais odiosa de toda a oferta. — Isso pode ser bom o bastante para a
Mitth, mas não para a Irizi. Estamos preparados para oferecer a você a
posição de Surgido-na-provação.
— Isso é... muito interessante, — disse Thrawn, claramente surpreso. —
Eu... isso é extremamente generoso.
— Não é mais do que você merece, — disse Zistalmu. Isso chamou a
atenção dele, certo. Um adotado por mérito trazido por meio do serviço
militar automaticamente perdia o relacionamento quando o serviço
terminava. Um Surgido-na-provação não apenas mantinha a conexão, mas
se fosse considerado digno poderia avançar para a posição de posição
distante, onde a sua linhagem seria posteriormente incorporada à da
família. — E, é claro, chegar a essa posição significa que você não precisará
passar pelas Provações por conta própria. O seu serviço exemplar
aparentemente foi considerado um substituto adequado.
— Estou humildemente honrado, — disse Thrawn. — Não tenho certeza de
como o meu desligamento da Mitth beneficiaria a Irizi.
— Isso serviria de várias maneiras, — disse Zistalmu. — A nossa presença
geral nas forças armadas, bem, isso é uma questão política. Nada com que
você precise se preocupar. Digamos apenas que nós sempre podemos
usar outro oficial militar diferenciado de alto escalão, e a Irizi acredita que
você é a melhor escolha.
— Entendo — disse Thrawn, assentindo com a cabeça lentamente, com a
testa franzida em pensamento.
Zistalmu prendeu a respiração. Se funcionasse, se Thrawn aceitasse a
oferta, então estaria encerrado. A Irizi o teria, e a Mitth não.
Se a Irizi iria algum dia se arrepender disso, claro, era outra questão.
Mas isto era problema deles. Tudo o que Zistalmu precisava focar era em
como um recrutamento bem-sucedido aqui e agora, concordasse ele ou
não, aumentaria o seu próprio nome e prestígio dentro da família.
— Agradeço o seu interesse, — disse Thrawn. — Mas não posso tomar
uma decisão sem pensar mais.
— Pense o quanto quiser, — disse Zistalmu, mantendo o rosto neutro,
lutando para equilibrar a mistura de aborrecimento, arrependimento e
alívio. Thrawn era realmente um idiota que não conseguia ver o quão
imensamente valioso esse movimento seria? — Apenas tenha em mente
que se você demorar muito, algum outro oficial em ascensão pode chamar
a atenção da família.
— Entendo, — disse Thrawn. — Obrigado pelo seu tempo e pela sua
oferta. — Ele se levantou para ir embora, então fez uma pausa. — O seu
comentário sobre oficiais de alta patente de destaque. Ocorreu-me que
você já tem um na sua família: a Capitã Sênior Ziara.
— Sim, nós temos, — disse Zistalmu com tristeza. — Mas não, temo, não
por muito mais tempo.


— Capitã Sênior Irizi’ar’alani, — entoou o Supremo Almirante Ja’fosk. — Dê
um passo adiante.
Era isso. Preparando-se, tentando manter a respiração estável, Ziara
avançou para o centro do círculo iluminado com holofotes, de frente para
Ja'fosk e os outros dois oficiais sêniores.
— Diga o seu nome, — disse Ja’fosk no mesmo tom do dobre de finados.
— Capitã Sênior Irizi’ar’alani, — disse Ziara. Ele estava tentando ser
intimidante, ela se perguntou, ou isso era apenas um efeito colateral da
voz ultra formal dele?
— Essa pessoa não existe mais, — disse Ja’fosk. — Esse nome não existe
mais. Você não é mais da Irizi. Você não pertence mais a nenhuma família.
Ziara sustentou o olhar dele, com um nó no estômago. Sabia que esse
momento estava chegando desde a semana passada, e o antecipou por
muito tempo. Mas mesmo com toda aquela preparação mental, foi um
momento inesperadamente emocionante. Ao contrário de muitos Irizi, ela
nasceu dentro da família, sem desafios de mérito, reassociação ou
Provações para passar. Era uma filha de sangue puro, com todos os
privilégios e honra que essa posição conferia.
Mas não mais.
— A Ascendência é a sua família, — Ja’fosk continuou. — A Ascendência é
a sua casa. A Ascendência é o seu futuro.
— A Ascendência é a sua vida.
Ziara tinha ouvido essas palavras muitas vezes durante a semana
anterior, enquanto praticava para a cerimônia. Mas não até este momento,
ao ouvi-los falados na voz estrondosa de Ja'fosk, elas pareciam reais. A
Ascendência é a sua vida.
Mas, sério, não tinha sido sempre assim? Uma vez que tomou a decisão
de se juntar à Força de Defesa, não havia efetivamente entregado o seu
futuro para o bem maior do seu povo?
E tendo oferecido a sua vida, foi uma perda tão grande oferecer
também os seus laços com a sua família?
— A Capitã Sênior Irizi’ar’alani não existe mais, — disse Ja’fosk. Ele
alcançou a mesa atrás dele e pegou uma caixa plana. — Em seu lugar — ele
segurou a caixa na direção dela — agora está a Comodora Ar'alani.
Preparando-se, Ziara deu um passo à frente e pegou a caixa. Através da
tampa transparente, viu que era seu novo uniforme de Comodoro, branco
brilhante em vez do preto o qual usou ao longo de toda a sua carreira. Os
pinos de insígnia já estavam colocados no colarinho e, onde no emblema
de ombro tinha estado o símbolo da família Irizi, estava agora o símbolo
de vários círculos da Ascendência Chiss.
— Você aceita esse uniforme e essa nova vida? — Ja’fosk perguntou.
Ziara respirou fundo. Não; não Ziara. Não mais.
— Sim, — disse Ar’alani.
Ja'fosk baixou a cabeça... e ao fazer isso, Ar'alani pensou que detectou
um pequeno sorriso ligeiramente agridoce.
Lembrando-se, talvez, de quando ele próprio ocupara o lugar dela. E
havia perdido a sua própria família.


A festa de celebração da promoção de Ar’alani estava terminando, e as
multidões de simpatizantes haviam diminuído para poucos, quando
Thrawn finalmente apareceu.
— Parabéns, Comodora, — ele disse, inclinando a sua cabeça para ela. —
Você se lembra que eu disse que você estaria aqui um dia.
— Na verdade, pelo que me lembro, você sugeriu que um dia eu fosse
ser almirante, — Ar’alani o lembrou. — Eu ainda tenho um longo caminho a
percorrer.
— Você vai conseguir, — disse Thrawn. — Entendo que você foi designada
para a Destrama e a Força de Piquete Seis.
— Sim, — confirmou Ar’alani. — Eu também solicitei que você fosse o meu
primeiro oficial.
— Sério, — disse Thrawn, claramente surpreso. — Pensei que as suas
obrigações de babá haviam acabado.
— Você acha que estava a bordo da Parala porque o General Ba’kif
queria que eu cuidasse de você?
— Acho que era mais uma questão de querer que você se certificasse de
que eu não perdia o controle. — Thrawn fez uma pausa. — De novo.
— Pode ter havido um pouco disso, — admitiu Ar’alani. — Mas isso não é
realmente relevante. Eu pedi você porque você é um bom oficial. — Ela
sorriu fracamente. — Também suspeito que haverá uma promoção para
você em algum lugar ao longo do caminho.
— Obrigado, — disse Thrawn. — Vou tentar não fazer você se arrepender
da sua decisão. — Ele hesitou. — Eu preciso de um conselho, Comodora, se
tiver um momento de sobra.
— Pra você, sei que não posso perder os momentos, — ela disse, olhando
por cima do ombro dele. Nenhum dos outros convidados estava perto o
suficiente para ouvir. — E quando formos só nós dois, pode ser só Thrawn e
Ar’alani.
Ele deu uma espécie de sorriso hesitante.
— Obrigado. Isso é... estou honrado.
Ela sorriu de volta.
— Então. O que você precisa?
— Eu fui recentemente abordado por um Irizi, — ele disse, baixando um
pouco a sua voz. — Ele disse que alguns Mitth estão descontentes comigo,
e podem tentar que eu seja disponibilizado.
O primeiro instinto de Ar’alani foi desviar a conversa para outro lugar. A
política familiar sempre foi um assunto delicado.
Mas não tinha nenhuma política familiar. Não mais.
— Qual era o nome dele?
— Aristocrata Irizi’stal’mustro.
Ar’alani assentiu com a cabeça.
— Zistalmu. Nunca o encontrei, mas eu o conheço. Deixe-me adivinhar:
achou que você deveria pedir para se juntar à Irizi?
— Na verdade, o tom e fraseado dele sugeriam que a reassociação já
estava certa, — respondeu Thrawn. — Certamente não houve menção a
entrevistas ou outras barreiras à minha aceitação. Ele também sugeriu que
eu seria um Surgido-na-provação, em vez de um adotado por mérito.
— Interessante, — disse Ar’alani. — Você diz que tudo isso foi sugerido,
mas não declarado abertamente?
— Não houve nenhum convite formal, se é isso que você quer dizer.
— Isto é. — Ar’alani franziu os lábios, seu olhar vagando pela sala. Os dois
Irizi que estiveram aqui antes já se foram, com apenas algumas das famílias
menores ainda representadas. — Certo, aqui está a história relevante. A Irizi
sempre foi forte apoiadora dos militares, principalmente da Força de
Defesa. Eles gostam de ter familiares nos escalões superiores, acham que
isso lhes dá mais prestígio, o que é, obviamente, uma das moedas entre os
Aristocratas.
— Prestígio é uma moeda?
— De certa forma, — respondeu Ar’alani. — Há muitos fatores que
influenciam a posição e o poder de uma família. Alguns deles são
financeiros ou históricos; outros são mais nebulosos, como prestígio e
reputação.
— Entendo, — disse Thrawn, embora Ar’alani tivesse certeza, pela
expressão dele, de que não. — O que isso tem a ver com a Mitth e eu?
— Geralmente, a Mitth está em uma posição mais forte do que a Irizi,
pelo menos no momento, — respondeu Ar’alani. — Nos últimos anos, a
Mitth também tentou diminuir o poderio militar Irizi recrutando cadetes e
oficiais promissores.
— Como eu?
— Muito provavelmente, — respondeu Ar’alani. — Estava claro desde o
começo da Academia que você tinha uma carreira forte pela frente. A
questão é que, talvez um pouco tardiamente, a Irizi reconheceu o seu
potencial e espera roubar você da Mitth.
— Você acha que ele estava certo sobre a Mitth querer me reassociar?
Ar’alani balançou a cabeça.
— Impossível dizer. Não tenho um sentimento pela política e estrutura
da Mitth da mesma forma que tenho com a Irizi. Acho que se você puder
evitar fazer qualquer coisa... polêmica... no futuro, você ficará bem. Os
adotados por mérito estão sempre em provação até que se provem. Mas
assim que o fizerem e depois de passarem nas Provações, eles terão uma
situação muito mais segura. E, claro, se e quando você for elevado a uma
posição distante, você será amplamente intocável.
— Entendo, — disse Thrawn. — No entanto, se os Irizi têm uma
mentalidade mais militar, eles não seriam uma família melhor para mim?
Ar’alani hesitou. Sem família. Sem família.
— Com toda a honestidade, nunca me senti confortável com a forma
como a Irizi domina o pessoal da Força de Defesa. Sei que devemos
ignorar a identidade familiar enquanto servimos, mas todos nós vimos
rivalidades transbordando em conversas e até mesmo em atribuições de
dever.
— Então, você recomendaria que eu ficasse com a Mitth?
— Essa é uma decisão que você deve tomar por si mesmo, — respondeu
Ar’alani. — Ser sanguínea da Irizi foi muito bom para a minha carreira, e a
família fez o mesmo por muitos outros. Mas o que foi bom pra mim pode
não ser bom pra você.
— Entendo, — disse Thrawn. — Obrigado. Tenho uma dívida com você.
— De nada. — Ar’alani ousou sorrir. — E não só uma, você sabe. Gosto de
pensar que contribuí com a minha pequena parte para mantê-lo na
academia por causa daquela acusação de trapaça.
— A sua contribuição foi muito maior do que você talvez se lembre, —
Thrawn assegurou-lhe. — E a sua ajuda não se limitou ao passado distante.
Nunca agradeci adequadamente pelo seu apoio após o incidente em
Stivic.
— O meu apoio foi completamente desnecessário, — disse Ar’alani,
olhando-o diretamente nos olhos. — Os Garwians declararam oficialmente
que foi o Oficial de Segurança Frangelic quem detectou a fraqueza das
táticas dos piratas e encontrou uma maneira de explorá-la. Pela maneira
como estavam dizendo maravilhas sobre ele, provavelmente já foi
promovido a essa altura.
— E ele merece todos os elogios que recebeu.
— Concordo. — Ar’alani inclinou a cabeça. — Só por curiosidade, eu
pesquisei isso depois e não consegui encontrar uma maneira óbvia de
conectar um comunicador a um laser de alcance.
— Não há, — disse Thrawn. — Mas há um ponto onde um questis pode ser
conectado para download e análise de dados.
— E conexões como essa geralmente podem funcionar em qualquer
direção, — disse Ar’alani, assentindo. — Então você amarrou o seu questis à
opção de modulação de frequência do laser e usou a opção de voz para
texto?
— Apenas texto, — respondeu Thrawn. — Se houvesse uma investigação
depois, ter uma gravação de voz restringiria a busca um pouco demais.
Ar’alani acenou com a cabeça novamente.
— Os Garwians devem isso a você. Espero que percebam isso.
— Não o fiz isso pela gratidão deles, — Thrawn disse, parecendo um
pouco surpreendido que Ar'alani até pensasse nisso nesses termos. — Fi-lo
pelo bem do povo deles, e por todos aqueles que de outra forma teriam
enfrentado esses mesmos atacantes.
— Um objetivo nobre, — disse Ar’alani. — Gostaria que a Ascendência
apreciasse mais isso.
Thrawn sorriu.
— Nem o fiz por nossa gratidão.
— De fato. — Mais uma vez, Ar’alani olhou por cima do ombro. Ainda
havia seis pessoas ali, mas estavam absortas em conversas entre elas e
nunca sentiriam a falta dela. — É o seguinte. Vamos para um lugar um
pouco mais calmo e você pode me pagar uma bebida para comemorar.
Ela tocou no braço dele.
— E enquanto bebemos, — ela disse, — você pode me dizer todos os
outros objetivos que tem e pelos quais a Ascendência fingirá não ser grata.
O contramestre do estaleiro balançou a cabeça enquanto corria para o
final da lista.
— Eu não sei o que há com vocês, — ele disse. — É a segunda vez em
dois meses. Vocês deliberadamente correm para o meio das suas batalhas?
— Claro que não, — Samakro disse rigidamente. — Não é culpa da
Falcão de Primavera se o Conselho e a Aristocracia continuam nos
enviando para o Caos para lutar contra as pessoas.
— Não é culpa deles se você não vence as batalhas mais rápido, também,
— rebateu o contramestre, meio se virando para espiar pela janela a Falcão
de Primavera flutuando nas proximidades, a silhueta contra o disco branco-
azulado da superfície congelada de Csilla preenchendo metade do céu.
— Ganhamos rápido o suficiente, — garantiu Samakro. — E não vamos
exagerar no drama, vamos? Não há tantos danos.
— Você não acha? — o contramestre disse amargamente. — Bem,
suponho que é por isso que você está lá fora correndo para dentro das salvas
de mísseis e eu estou aqui remontando a sua nave. — Ele ergueu um dedo.
— Juntas de sensores precisando de substituição: sete. Placas do casco
precisando de substituição: oitenta e duas. Lasers de espectro precisando de
reparo ou reforma: cinco. E que bobagem é essa sobre adicionar um tanque
extra de fluido de esfera de plasma?
— Nós usamos muito as esferas de plasma.
— E onde exatamente o Capitão Sênior Thrawn sugere que eu coloque
isso? — o contramestre respondeu. — Nos aposentos dele? Os seus
aposentos?
— Não faço ideia, — disse Samakro. — É por isso que você está aqui
realizando milagres de manutenção e nós estamos lá fora fazendo as
pessoas se arrependerem de ter se envolvido com a Ascendência Chiss.
— Seria preciso um milagre, — resmungou o contramestre, olhando
novamente para o questis. Ainda assim, ele parecia satisfeito com o
pequeno elogio de Samakro. — O mínimo que poderia fazer é vir pedir
esses milagres pessoalmente.
— Ele está em conferência com o General Ba’kif agora.
O contramestre fungou.
— Sem dúvida planejando a sua próxima incursão em problemas. Bem.
Vou começar com o resto disso e ver se consigo encontrar espaço suficiente
em algum lugar impossível para este tanque de plasma que ele quer.
— Se há alguém que pode fazer isso, esse só pode ser você, — Samakro
assegurou-lhe. — De quanto de tempo estamos falando?
— Pelo menos seis semanas, talvez sete, — disse o contramestre. — Se
eu receber um pedido de urgência do Ba’kif ou do Supremo Almirante
Ja’fosk, talvez possa cortar uma semana.
— Bem, vá em frente e comece, e eu verei como conseguir esse pedido
de urgência, — disse Samakro. — Obrigado.
— Agradeça-me não destruindo a sua nave da próxima vez.
— O quê, e fazer o Conselho se perguntar se ainda precisam de pessoas
como você? — Samakro perguntou suavemente.
— Adoraria ver o Conselho tentar pôr a mão deles neste trabalho, —
disse o contramestre. — A Ascendência nunca mais voaria. Vai lá, saia
daqui... tenho trabalho a fazer.
Quinze minutos depois, Samakro estava em um transporte espacial indo
para a superfície.
Um nó forte no seu estômago.
Você deliberadamente corre para o meio das suas batalhas? Perguntou o
contramestre. Samakro dispensou o sarcasmo... mas no fundo do seu
coração ele não tinha tanta certeza. Houveram pelo menos duas vezes
durante a escaramuça de Lioaoin, talvez três, quando Thrawn levou a
Falcão de Primavera muito mais fundo na zona de fogo inimigo do que
deveria. Quase todos os danos que o contramestre reclamou vieram dessas
ataques em particular.
Thrawn estava tentando reunir informações adicionais sobre as novas
táticas Lioaoin, quanto gostaria de solicitar? Ou era possível que ele
estivesse começando a perder o julgamento e o discernimento tático que
haviam elevado o seu nome a tal proeminência?
Thrawn havia insinuado que havia iniciado a sua reunião atual com
Ba’kif. Mas talvez fosse o contrário. Talvez Ba’kif tenha notado o mesmo
subtexto preocupante nos relatórios pós-ação e estava tendo algumas das
mesmas dúvidas de Samakro. Talvez tenha chamado Thrawn para descobrir
o que estava acontecendo.
E se o general decidisse que Thrawn não era mais capaz de comandar a
Falcão de Primavera...
Samakro respirou fundo. Pare com isso, ele ordenou a si mesmo. Mesmo
que Thrawn fosse dispensado do comando, isso não significava
necessariamente que Samakro seria reconduzido a ele. A Falcão de
Primavera ainda tinha um nome importante, e a família Ufsa não era a
única que adoraria ter um deles no comando.
Ainda assim, era um pensamento interessante.

— Um pensamento interessante, — disse o general Ba’kif, franzindo os


lábios. — A questão é se esse pensamento é perigosamente inspirado ou
apenas criminosamente insano.
— Não vejo por que qualquer adjetivo precise ser anexado, senhor, —
contrapôs Thrawn, com a sua voz carregando a sua mistura usual de
respeito e confiança. — A pequena nave de reconhecimento que eu estou
propondo...
— Você não vê? — Ba’kif interrompeu.
— Não, senhor — respondeu Thrawn calmamente. — Uma nave de
reconhecimento poderia facilmente deslizar três de nós, passando por
quaisquer sentinelas ou vigias que o General Yiv possa ter colocado ao
longo do caminho. Os dados que coletamos não só nos dariam uma ideia
melhor de quão grande é o assim chamado Destino de Nikardun, mas
também oferece dicas de como aqueles por trás da linha de batalha de Yiv
estão sendo mantidos e controlados.
— Com qual finalidade?
— Existem várias possibilidades, — disse Thrawn. — Podemos ser
capazes de fomentar a revolta entre alguns deles
— Ação preventiva, — Ba’kif interrompeu novamente. — Nunca
passará pela Sindicura.
— ...ou possivelmente alugar bases ou depósitos de abastecimento
deles...
— Mais ações preventivas.
— ...ou, se houver povos não conquistados espalhados entre eles,
poderemos aprender como foram capazes de resistir aos Nikardun.
Ba’kif franziu a testa, pensativo. Essa última poderia ser bastante
instrutiva. Melhor ainda, uma missão direta de coleta de dados não geraria
tanta indignação entre os Aristocratas quanto as outras sugestões de
Thrawn.
Mas mesmo aí, a coisa toda estava nadando em risco e incerteza.
— Independência e resistência são uma combinação difícil de manter, —
ele destacou. — Qualquer conquistador meio competente jamais permitiria
isso.
— A menos que Yiv não esteja ciente da situação, — disse Thrawn. —
Na verdade, como você sugere, essa é provavelmente a única maneira em
que tal situação poderia continuar.
— Portanto, independência, resistência e sigilo absoluto, — disse Ba’kif.
— As probabilidades contra a existência desses aliados teóricos estão
ficando cada vez maiores. Você precisa de mais alguma coisa deles?
Proficiência em armas pequenas, talvez?
— Não, nada mais, — respondeu Thrawn. Ou ele não percebeu o
sarcasmo de Ba’kif ou decidiu ignorá-lo. — Nós podemos encontrar uma
maneira de trabalhar com quaisquer outras habilidades que eles possam
possuir. O foco principal agora deve ser encontrá-los.
— Se eles existirem.
— Se eles existirem, — concedeu Thrawn. — De qualquer forma, eu já
falei com a Cuidadora Thalias e a Sky-walker Che'ri, e ambas indicaram
que gostariam de ir comigo.
— Você falou de assuntos confidenciais para pessoal não autorizado? —
Ba'kif perguntou, ouvindo o seu tom ficar ameaçador.
— As sky-walkers e as suas cuidadoras sabem muitas coisas que até
mesmo oficiais Sêniores às vezes não sabem, — respondeu Thrawn. —
Dito isso, não, não ofereci nenhuma informação restrita. Eu simplesmente
coloquei a questão se elas iriam me acompanhar em uma viagem de longa
distância com destino e propósito não especificados.
Por alguns segundos, Ba’kif olhou pra ele, pesando nas opções,
considerando as possibilidades, avaliando os riscos. Nada sobre esse
esquema maluco o enchia de confiança.
Mas se a informação que Thrawn e Ar’alani trouxeram sobre a
infiltração silenciosa dos Nikardun fosse ainda que parcialmente precisa,
algo tinha que ser feito. E quanto mais rápido, melhor.
— Existem membros da Sindicura que consideram você um laser
desestabilizado, — ele disse, empurrando o questis de volta para Thrawn.
— Há momentos em que estou inclinado a concordar com eles.
— Os Nikardun são uma ameaça séria, General, — disse Thrawn
calmamente. — Possivelmente a mais séria que a Ascendência enfrentou na
história recente. O General Yiv é competente e carismático, com a
habilidade de conquistar e alistar aqueles em seu caminho.
— E se nós encontrarmos esses aliados em potencial que você espera?
Como você propõe uma aliança a uma Sindicura que recusou todos esses
envolvimentos por séculos?
— Vamos primeiro encontrá-los, — respondeu Thrawn. — Nós
lidaremos com a Aristocracia se e quando for necessário.
Ba’kif suspirou. Laser desestabilizado...
— Você tem certeza de que não fará falta?
Thrawn assentiu.
— O Capitão Intermediário Samakro está supervisionando os reparos da
Falcão de Primavera. Ela necessitará de reparos suficientes para mantê-la
no estaleiro por pelo menos seis semanas.
— Como você conseguiu tanto dano? — Ba’kif ergueu a mão. — Deixa
pra lá. Tudo bem, vou designar uma nave de reconhecimento para você e
prepará-la. Mas nem uma palavra para Thalias ou Che'ri sobre a sua missão
real até que você esteja a caminho. Entendido?
— Entendido.
— Uma consideração final, então, — disse Ba’kif, colocando todo o
peso da sua longa carreira na sua voz. — Você não está apenas se colocando
em risco, mas também arriscando a vida de duas mulheres, uma delas uma
sky-walker imensamente valiosa. Se tudo der errado, você está preparado
para ter a morte delas em sua consciência?
— Estou ciente do perigo, — respondeu Thrawn. — Eu nunca iria querer
o peso de tais memórias e arrependimentos. Mas estou mais preparado para
ver as mortes delas por meio de minha ação do que estou para colocar toda
a Ascendência no mesmo risco por minha inação.
Ba’kif assentiu. Pensava que a resposta de Thrawn seria algo assim. E,
infelizmente, teve que concordar com ele.
— A nave estará pronta no momento em que recolher as suas
companheiras de viagem e os seus suprimentos, — ele disse. — A suas
ordens serão enviadas, mas seladas. Ninguém saberá sobre a sua missão,
exceto eu.
— Obrigado, senhor — disse Thrawn, levantando-se. — Obrigado
também por não adicionar o fardo extra de um lembrete de que a sua
carreira também está em jogo.
— Você se preocupa com a sua sky-walker e a Ascendência, — rosnou
Ba’kif. — Eu vou me preocupar com a minha carreira. Agora saia daqui. E
que a sorte do guerreiro sorria para os seus esforços.

— Eu me pergunto sobre o que eles estão falando, — murmurou Che'ri,


levantando os olhos do seu questis e da imagem que estava desenhando.
Esticou o pescoço em direção à porta fechada do escritório do General
Ba'kif, no meio do corredor movimentado, como se mover a cabeça alguns
centímetros mais perto pudesse magicamente dar a capacidade de ver ou
ouvir através dela.
— Não sei, — disse Thalias, resistindo ao impulso de lembrar à garota
que já havia feito o mesmo comentário de meia pergunta duas vezes e que a
resposta não mudaria até que Thrawn saísse pela porta.
Mas o assunto da conversa não ouvida não era difícil de adivinhar. A
vaga pergunta de Thrawn sobre se ela e Che'ri estariam dispostas a ir com
ele em uma missão especial teria sido intrigante o suficiente, mesmo se não
tivesse sido imediatamente seguida por este encontro com Ba'kif. Mas a
reunião foi em seguida, e a única conclusão razoável era que os dois
estavam discutindo os detalhes daquela missão.
— Eles estão vindo, — disse Che'ri de repente.
Thalias olhou para a porta ainda fechada, sentindo um toque de memória
agridoce. Quando tinha a idade de Che'ri, ela era capaz de fazer o mesmo
truque, usando a Terceira Visão para saber com alguns segundos de
antecedência quando algo estava para acontecer. A maioria das pessoas,
pelo menos aquelas que sabiam o que eram as sky-walkers, levavam a coisa
toda com calma. Mas houveram alguns outros que nunca se acostumaram
com isso. Surpreendê-los era metade da diversão de fazer o truque.
A porta se abriu e Thrawn apareceu. Ba'kif o seguiu, mas parou na porta
e, por um momento, os dois homens mantiveram um trecho final de
conversa inaudível. Thrawn acenou com a cabeça finalmente e começou a
descer o corredor em direção a Thalias e Che'ri...
— Boa tarde, Cuidadora Thalias.
Thalias se virou. Síndico Thurfian estava ali, sorrindo o sorriso que tinha
visto nele muitas vezes. O olhar nunca era genuinamente amigável e quase
sempre era o prelúdio de más notícias.
— Boa tarde, Síndico, — ela respondeu. — O que posso fazer para
você?
— Eu me pergunto se você teria disponibilidade para vir ao meu
escritório por alguns minutos, — disse Thurfian. — Há um assunto que eu
gostaria de discutir com você.
Thalias sentiu o seu estômago apertar. Não... Agora não. De todas as
vezes as quais poderia ter escolhido.
— Sinto muito, mas o meu comandante está a caminho, — ela disse,
mantendo o tom neutro enquanto acenava de volta para Thrawn. — Tenho
certeza de que ele tem algumas obrigações oficiais para nós.
— Eu tenho muita certeza de que não tem, — disse Thurfian, ainda
sorrindo. — Aparentemente, você se esqueceu de que a sua nave foi para o
estaleiro para alguns reparos bastante extensos. A menos que o General
Ba’kif tenha desenterrado uma nave sobressalente, o Capitão Sênior
Thrawn possivelmente não precisará de você.
— Você pode se surpreender com a engenhosidade do Capitão Thrawn,
— disse Thalias, sentindo o suor acumular sob o seu colarinho. Até agora,
estava tudo bem. O pior momento possível, então é claro que ele o
escolheu. — De qualquer forma, estou sob o comando dele, não seu.
— Bem, vamos perguntar a ele, então, vamos? — Thurfian passou o seu
olhar sobre o ombro de Thalias. — Capitão Sênior Thrawn, — ele disse,
com a sua voz segurando a mesma falsa alegria do seu sorriso. — Preciso
pedir a sua cuidadora emprestada por uma hora ou algo assim. Certamente
você não tem objeções?
— Nenhuma, — respondeu Thrawn, com os seus olhos passando
rapidamente para Thalias. — Presumo que você não precisará de Che'ri
também?
Uma sugestão de carranca tocou o rosto de Thurfian.
— Não, eu só preciso de Thalias. Por que eu precisaria de Che'ri?
— Não sei, — respondeu Thrawn. — É por isso que eu perguntei. Estou
feliz que você não precise dela, pois ela está um pouco atrasada nos
estudos. Espero que o cronograma de reparos da Falcão de Primavera dê a
ela tempo para recuperar o atraso.
A carranca de Thurfian desapareceu.
— Ah. Claro.
— Eu deveria estar lá para ajudá-la, — Thalias disse obstinadamente,
tentando pensar. Se ela não conseguisse encontrar uma maneira de sair
dessa...
— Isso não vai demorar muito, — prometeu Thurfian. — Até mais tarde,
Capitão Thrawn.
— Até mais tarde, — respondeu Thrawn.
O complexo da Sindicura ficava a cerca de cem quilômetros da sede da
frota, uma curta viagem de vinte minutos em um vagão de túnel. Nem
Thalias nem Thurfian falaram durante a viagem, lembrando-se da meia
dúzia de outros oficiais e dos Aristocratas no carro que poderiam ouvir
qualquer conversa.
Estavam quase no fim da sua jornada quando Thalias finalmente bolou
um plano.
Não é um bom plano. Provavelmente até mesmo desesperado. Mas era
tudo o que tinha.
Levou dois minutos na privacidade do banheiro para colocar as coisas
em movimento. Dois minutos de tempo e muito mais coragem do que
pensava que possuía. Mas então estava feito, e estava comprometida, e só
podia torcer para não ter trazido a ruína completa sobre si mesma.
Eles chegaram e, ainda em silêncio, Thurfian acompanhou-a pelos
corredores do poder da Ascendência até o seu escritório.
— Tudo bem, estou aqui, — ela disse enquanto Thurfian a conduzia até
o escritório dele e indicava uma cadeira. — O que é isso tudo?
— Oh, por favor, — Thurfian protestou suavemente. Fechando a porta,
ele circulou atrás dela e se sentou em sua mesa. — Não finja que você não
sabe do que se trata. Você me prometeu um relatório. É hora de entregar.
Ele ativou o questis e empurrou-o sobre a mesa para ela.
— Diga-me tudo o que você sabe, tudo o que você aprendeu, tudo, sobre
o Capitão Sênior Thrawn.

Por um longo minuto, a jovem apenas ficou sentada ali, o rosto rígido, o
corpo estranhamente imóvel. Procurando, sem dúvida, uma saída da
armadilha.
A armadilha na qual havia pisado de livre vontade, é claro. Era essa
promessa, ou Thurfian teria se virado, voltado para o escritório de pessoal e
cancelado a nomeação dela como cuidadora da sky-walker da Falcão de
Primavera. Com uma ameaça como aquela pairando sobre ela, ela não tinha
outra escolha senão concordar.
Mas não foi de boa vontade. Nem de longe. Mesmo agora, quando olhou
para a expressão e postura corporal dela, ficou claro que esperava sair do
negócio.
Que pena. As esperanças dela não importavam, nem a sua reticência.
Tudo o que importava era que Thrawn estava tramando algo novo e
Thurfian estava ficando cansado das travessuras dele. Precisava de uma
alavanca que pudesse usar contra o rebelde, e o conhecimento detalhado de
Thalias das outras atividades recentes de Thrawn era essa alavanca.
— Vamos, vamos... nós não temos o dia todo, — ele disse no silêncio
tenso. — Quanto mais cedo você terminar, mais cedo poderá voltar a
bajular o seu grande herói.
— Achei que isso iria esperar até que toda a campanha acabasse, —
disse Thalias, sem fazer nenhum movimento em direção ao questis.
— Eu nunca dei a você nenhum tipo de prazo, — Thurfian a lembrou. —
O negócio era muito claro: eu colocaria você a bordo da Falcão de
Primavera e você seria a minha espiã.
Thalias estremeceu visivelmente com a palavra. Thurfian também não se
importava com isso.
— Tudo o que você precisa saber sobre o Capitão Sênior Thrawn está
nos registros oficiais, — ela disse. — Depois de lê-los, eu posso responder
a qualquer outra pergunta que você tenha.
— Eu os tenho lido, — rebateu Thurfian. — E você está protelando.
— Não estou protelando, — Thalias disse, se levantando. — Acontece
apenas que tenho um compromisso em outro lugar. Se você me der
licença...
— Sente-se, — disse Thurfian, colocando toda a frieza da superfície de
Csilla em sua voz. — Você não quer falar sobre Thrawn? Tudo bem. Vamos
falar sobre a sua família.
— Você não quer dizer nossa família?
— Quero dizer, a sua família original, — disse Thurfian. — A família
que a gerou e que manteve a sua lealdade antes de você ser tirada deles para
se tornar uma sky-walker.
Thalias parou, parada no meio do caminho entre a sua cadeira e a porta,
todo um jogo de emoções passando pelo seu rosto. Não tinha nenhuma
lembrança daqueles anos, Thurfian sabia, o que tornava esta a alavanca
adicional ideal para usar contra ela.
— O que tem eles? — ela perguntou finalmente.
Thurfian escondeu um sorriso. Estava tentando parecer calma e
desinteressada, mas os músculos tensos da sua garganta e bochechas
denunciavam seu repentino interesse e incerteza.
— Achei que você gostaria de saber sobre a situação atual deles, — ele
respondeu. — E como você talvez pudesse ajudá-los. — Ele fez uma pausa,
esperando que ela respondesse.
Mas ela permaneceu em silêncio. Uma personagem fria, com certeza,
que não seria facilmente influenciada. Mas Thurfian tinha muita
experiência em manipular essas pessoas.
— Eles não estão em boa situação, sabe, — ele continuou. — A família
sempre foi pobre, mas a recente mudança nos preços de certos minerais os
pressionou de maneira particularmente forte. A família Mitth tem muitos
recursos, alguns dos quais podem ser direcionados para eles.
— Eu nem mesmo me lembro deles.
— Claro que não, — disse Thurfian. — Você era muito jovem quando
foi levada. Mas isso realmente importa? Eles são o seu povo. O seu sangue.
— A Mitth é o meu povo agora.
— Possivelmente. — Thurfian deu de ombros. — Talvez não.
Os olhos de Thalias se estreitaram.
— O que isso deveria significar? Eu sou um membro pleno da Mitth.
— Não, — disse Thurfian. — Você é uma adotada por mérito e
relativamente nova nisso. Você tem um longo caminho pela frente antes que
a sua posição seja outra coisa senão precária.
Thalias olhou para o questis.
— Você está sugerindo que a minha posição com a Mitth depende da
minha traição de Thrawn?
— Traição? Claro que não, — Thurfian disse, colocando um pouco de
indignação justa na sua voz. — Thrawn é um membro da nossa família —
pelo menos por enquanto, ele se lembrou em silêncio — E falar sobre ele
não se qualifica como traição. Pelo contrário, não relatar quaisquer
atividades questionáveis é onde residiria a traição.
— Então vamos simplificar, — disse Thalias. — Eu nunca o vi fazer
nada questionável, ilegal ou antiético. Certamente nunca o vi fazer nada
contra a Mitth. Isso é bom o bastante?
Thurfian deu um suspiro teatral.
— Você me decepcionou, Thalias. Esperava que você tivesse um futuro
com a Mitth. Mas se nós não podemos nem mesmo confiar em você para
nos ajudar a vigiar um perigo potencial para a família, não vejo como
podemos mantê-la conosco. Mas a decisão é sua. Eu mesmo posso vigiar o
Thrawn.
Ele ergueu as sobrancelhas ligeiramente.
— Começando com o que ele está fazendo agora. Percebi que estava
conversando com o General Ba’kif novamente, então esse é provavelmente
o melhor lugar para começar. Talvez eu demore uma ou duas horas para
examinar isso antes de começar o seu procedimento de reassociação.
Thalias tentou esconder a sua reação. Mas não adiantou. A ameaça
improvisada dele de reassociação com a sua antiga família tinha
funcionado. Ele daria a ela a próxima hora para considerar como seria a
vida sem a Mitth, e então ele iniciaria o procedimento.
Abruptamente, ela puxou o seu próprio questis e olhou para ele.
— Tudo bem, — ela disse. — Você ganhou.
Mais uma vez, Thurfian escondeu o seu sorriso de triunfo. Realmente, às
vezes era fácil demais.
— Excelente, — ele disse, gesticulando pra ela voltar para a cadeira. —
Embora, ao pensar melhor, me pergunto se seria melhor voltar primeiro
para a nossa conversa com o General Ba'kif. Você pode começar o seu
relatório ao longo do caminho.
— Você está certo, nós estamos saindo, — concordou Thalias. — Mas
não para a sede da frota. — Ela ergueu o seu questis. — Em vez disso, você
deve me levar para o domicílio da Mitth.
A sensação de triunfo de Thurfian desapareceu.
— O que? — ele perguntou com cuidado.
— Você mesmo disse, — ela respondeu. — Eu não tenho uma posição
estável com a família. Então, tomei providências para remediar isso.
— Como? — ele perguntou, com o seu sangue gelando de repente. Se
ela denunciasse o seu interesse em Thrawn para as pessoas erradas...
Não, não poderia ser isso. Ela não poderia saber o suficiente sobre a teia
labiríntica tecida em torno das camadas superiores da família.
— Se você acha que há alguém mais alto do que eu, você pode apelar
para...
— Não vou recorrer, — ela interrompeu. — Eu vou fazer as Provações.
Ele olhou para ela.
— As Provações?
— Os adotados por mérito podem pedir a qualquer momento para
participar das Provações, — Thalias respondeu. — Se eles forem bem-
sucedidos, eles se tornarão Surgido-na-provação.
— Por favor, não me dê sermões sobre as políticas da minha própria
família, — disse Thurfian rigidamente. — E isso ocorre só se eles tiverem
sucesso. Do contrário, eles perdem até mesmo o status de adotado por
mérito.
— Estou ciente disso, — disse Thalias. Havia um leve tremor em sua
voz, mas a sua mandíbula estava firme. — Mas você ia me expulsar da
família de qualquer maneira. — Ela ergueu o questis novamente. — Eu fiz
uma petição ao Escritório do Patriarca, e a petição foi aceita.
— Tudo bem, — disse Thurfian entre os dentes cerrados. Amaldiçoo
essa mulher, de qualquer maneira. — Vou lhe dar as instruções sobre como
chegar ao domicílio...
— O Escritório do Patriarca solicitou que você me acompanhasse.
Thurfian soltou uma maldição. A espiral final dos seus planos. Ela o
superou completamente.
Ela ... ou Thrawn.
Ele poderia ter antecipado esse confronto? Certamente Thalias não
poderia ter bolado um esquema tão perigoso sozinha. E se fosse Thrawn,
como ele a persuadiu a arriscar todo o futuro dela com a Mitth por ele?
Apenas mais uma razão pela qual este homem precisava ser derrubado.
— Claro, — ele disse, levantando-se. — Eu não perderia isso nem por
todas as riquezas da Ascendência.

Che'ri nunca foi boa em ler rostos de adultos. Mas, mesmo assim, não teve
problemas em ver que Thrawn estava surpreso e preocupado enquanto
guardava o seu questis.
— Há algo de errado? — ela perguntou ansiosamente.
Ele hesitou um momento antes de responder.
— Parece que a Cuidadora Thalias não se juntará a nós, — ele
respondeu.
— Oh, — disse Che'ri, olhando para além dele, para a pequena nave para
onde ele os trouxe. As últimas caixas de suprimentos estavam sendo
levadas a bordo pelos estivadores, e ele disse que partiriam assim que
Thalias chegasse.
Só que agora eles não estavam mais esperando?
— Então, o que nós vamos fazer?
Thrawn se virou para olhar a nave.
— Esta missão é de vital importância, Che'ri, — ele respondeu
calmamente. — Thalias não disse muito... suponho que não estava livre
para falar abertamente... mas ficou claro que estaria ocupada pelo menos
nos próximos dias.
— Então, nós não vamos? — Che'ri perguntou, ainda lutando para ler a
expressão dele.
— Isso depende de você. — Ele se virou para olhar pra ela. — Você está
disposta a ir comigo, só nós dois, para as profundezas do Caos?
Por um momento, a boca, a língua e o cérebro de Che'ri pareceram
congelar. Uma sky-walker nunca ia a lugar nenhum sem uma nave cheia de
pessoas ao seu redor. Essa foi a primeira regra e promessa que ela recebeu
quando começou o seu treinamento. Garotas como ela eram raras demais
para se arriscar a algo menos do que uma nave de guerra completa ou um
cruzador diplomático. O que Thrawn estava pedindo nunca foi feito.
Jamais.
Mas ele disse que era importante. Seria importante o suficiente para
quebrar todas as regras regulares?
— Nós podemos fazer isso? — ela perguntou hesitante.
Ele deu de ombros, um pequeno sorriso tocando os seus lábios.
— Fisicamente e taticamente, é claro que sim, — ele respondeu. — Eu
posso voar, você pode navegar, e a nave em si está bem armada para nos
livrar de qualquer problema em que provavelmente nos encontremos.
— Quis dizer que nós vamos ter problemas.
— Você, não, — ele disse. — As sky-walkers são efetivamente
intocáveis por qualquer punição. Você pode levar uma bronca, mas isso
seria tudo. — Ele fez uma pausa. — Se isso faz diferença, Thalias não
sugeriu que esperássemos por ela ou que abandonássemos a missão
completamente.
— Se eu não for, o que acontece?
— Então eu abandono a missão, — respondeu Thrawn. — O que levaria
dias sob o controle de uma sky-walker exigiria semanas ou meses de
viagem salto por salto. Eu não posso gastar meses. — Os seus lábios se
comprimiram. — Nem, eu temo, a Ascendência.
Este jogo, pelo menos, Che'ri conhecia muito bem. Um adulto faria
ameaças vagas ou promessas mais vagas, com grandes coisas acontecendo
de qualquer maneira se ela não trabalhasse por uma hora extra, pulasse um
de seus dias de descanso ou fizesse o que quer que eles quisessem.
Mas enquanto olhava para o rosto de Thrawn, teve a estranha sensação
de que ele não estava jogando. Na verdade, não tinha nem mesmo certeza se
ele sabia como jogar assim.
E se Thalias realmente esperava que fosse...
— Tudo bem, — ela disse. — Você pode...? Deixa pra lá.
— O que?
— Só queria saber se você poderia me dar mais alguns marcadores
gráficos coloridos, só isso, — respondeu Che'ri, sentindo o seu rosto
aquecer de vergonha. De todas as coisas estúpidas para pedir...
— De fato, — disse Thrawn, — já há duas caixas novas a bordo. E
quatro pastas de folhas de arte a serem desenhadas.
Che'ri piscou.
— Oh, — ela disse. — Eu estou... obrigada.
— De nada. — Thrawn gesticulou em direção à nave. — Podemos ir?

— Você está preocupada, — disse Thrawn no silêncio da ponte da nave de


reconhecimento.
Che'ri não respondeu, os seus olhos focados nas estrelas brilhantes
brilhando através da canopi, com a sua mente agitada com a pura injustiça
disso.
As sky-walkers não voavam sozinhas. Nunca. Ela sempre teve uma
momish por perto, alguém pra cuidar dela, preparar as suas refeições e
confortá-la quando acordasse de um pesadelo. Sempre.
Thalias não estava ali. Che'ri esperava que corresse no último momento e
exigisse que Thrawn a levasse com eles.
Mas a escotilha foi selada e o controlador deu permissão para o
lançamento, e Thrawn os tirou do azul frio da atmosfera de Csilla para o
negro mais frio do espaço.
Só os dois. Sem oficiais. Sem guerreiros.
Sem momish.
Che'ri nem sempre se deu bem com as suas cuidadoras. Algumas delas,
ela realmente, realmente não gostava. Agora estava desejando que mesmo
uma das desagradáveis estivesse ali.
— Eles nunca entenderam você, não é? — Thrawn disse em seu silêncio.
Che'ri fez uma careta. Como se soubesse alguma coisa sobre isso.
— Você quer mais do que aquilo que recebeu, — ele continuou. — Você
não sabe o que vai fazer quando não for mais uma sky-walker, e isso a
incomoda.
— Eu sei o que acontece, — zombou Che'ri. — Eles me disseram. Eu
serei adotada por uma família.
— É isso que você vai ser, — disse Thrawn. — Não é isso que você vai
fazer. Você gostaria de voar, não é?
Che'ri franziu a testa.
— Como você soube disso?
— As imagens que você desenhou com os marcadores que a sua
cuidadora lhe deu, — respondeu Thrawn. — Você gosta de desenhar
pássaros e borboletas.
— Eles são bonitos, — disse Che'ri rigidamente. — Muitas crianças
desenham borboletas.
— Você também desenha paisagens e vistas marinhas como sendo vistas
de cima, — Thrawn continuou calmamente. — Não são muitas da sua idade
que fazem isso.
— Eu sou uma sky-walker, — murmurou Che'ri. Thalias não tinha nada
que mostrar a Thrawn as suas imagens. — Eu vejo coisas do céu o tempo
todo.
— Na verdade, você não vê. — Thrawn fez uma pausa e tocou uma tecla
em seu painel de controle.
E de repente todas as luzes e chaves do seu painel apagaram e o painel
na frente de Che'ri se iluminou.
Ela recuou. O que em nome...?
— Há duas empunhaduras à sua frente, — Thrawn respondeu. — Pegue
uma em cada mão.
— O que? — Che'ri perguntou, olhando entorpecida para as
empunhaduras e luzes brilhantes.
— Eu vou te ensinar a voar, — explicou Thrawn a ela. — Esta é a sua
primeira lição.
— Você não entende, — disse Che'ri, ouvindo o medo e a súplica em sua
voz. — Eu tenho pesadelos com isso.
— Pesadelos sobre voar?
— Sobre cair, — respondeu Che'ri, com o coração disparado. — Caindo,
sendo levada pelo vento, me afogando...
— Você sabe nadar?
— Não, — Che'ri respondeu. — Talvez um pouco.
— Exatamente, — disse Thrawn. — É o medo que está causando esses
pesadelos. Medo e desamparo.
Um toque de aborrecimento cresceu acima do pânico borbulhante.
Primeiro Thalias e agora Thrawn. Todos achavam que sabiam mais sobre os
seus pesadelos do que ela?
— Você se sente impotente na água, então sonha em se afogar. Você se
sente impotente no ar, então sonha em cair. — Ele apontou para as
empunhaduras. — Vamos tirar um pouco desse desamparo.
Che'ri olhou pra ele. Ele não estava brincando, ela percebeu. Estava
falando sério. Ela olhou para as empunhaduras, tentando decidir o que
fazer.
— Pegue elas.
De repente, ela percebeu outra coisa. Ele não estava mandando. Estava
oferecendo.
E ela realmente sempre quis voar.
Cerrando a mandíbula, sufocando o medo, estendeu a mão e
cuidadosamente fechou as mãos em torno dos controles.
— Ótimo, — disse Thrawn. — Mova a da direita para a sua esquerda, só
um pouco.
— Para bombordo, — Che'ri corrigiu. Ela conhecia esta, de qualquer
maneira.
— Para bombordo — concordou Thrawn com um sorriso. — Vê como
as posições das estrelas mudaram?
Che'ri assentiu. A nave deles virou um pouco para a esquerda, da mesma
forma que moveu o controle.
— Sim.
— A tela logo acima... Ali... mostra o ângulo preciso da sua curva.
Agora mova a mesma alavanca um pouco pra frente.
Desta vez, a mudança nas estrelas mostrou que o nariz da nave havia
caído um pouco.
— Não estamos saindo do curso?
— Vai ser fácil voltar, — Thrawn garantiu a ela. — Agora, o controle da
esquerda controla os propulsores. No momento, está definida em seu nível
mais delicado, de modo que um pequeno movimento se traduz em um
pequeno aumento ou diminuição no impulso. Girar o controle mudará isso;
não vamos nos preocupar com isso agora. Leve-o pra frente... só um
pouco... e observe como a nossa velocidade muda naquela tela... Aquela ali.
Quando terminaram a aula, meia hora depois, a cabeça de Che'ri estava
girando. Mas foi um tipo de rotação estranhamente excitante. Mal notou
qualquer tensão nas próximas horas enquanto usava a Terceira Visão para
guiar a nave em direção à borda do Caos.
Quando terminou de navegar naquele dia, depois de jantarem juntos, se
perguntou se ele lhe daria outra lição.
E naquela noite, pela primeira vez que conseguia se lembrar, teve um
sonho sobre voar que não era um pesadelo.
T hrawn disse a Che'ri que havia um arco de sistemas a uma curta
distância nas regiões do Espaço Menor fora do Caos que deveria ser
promissor. Até agora, porém, o arco acabou sendo um fiasco.
Um dos mundos parecia interessante, mas além de uma força de patrulha
local, não parecia ter qualquer presença militar. Os próximos três mundos
foram apenas esparsamente estabelecidos, embora um deles fosse pelo
menos civilizado o suficiente para ter um transmissor de tríade de longo
alcance.
Mas o quinto mundo...
— O que são aqueles? — Che'ri perguntou, olhando para os pequenos
objetos voando pra frente e pra trás na tela do sensor de longo alcance.
Pareciam naves, mísseis ou caças, mas não pareciam ser grandes o
suficiente até para um piloto, quanto mais para um ou dois passageiros.
— Acredito que são naves de combate robóticas, — respondeu Thrawn,
os seus olhos se estreitaram em concentração enquanto olhava para a tela.
— Alimentadas e operadas por inteligências artificiais chamadas droides.
— Eles dirigem as suas naves de guerra com máquinas?
— Algumas delas, sim, — Thrawn respondeu. — Na verdade, se os
relatos forem verdadeiros, um lado da guerra massiva que está ocorrendo no
Espaço Menor está em grande parte sendo travado por esses droides.
Che'ri pensou sobre isso.
— Parece meio estúpido, — ela disse. — E se alguém entrar nos
controles e desligá-los? Ou entrar na fábrica e alterar toda a programação?
— Ou se a programação pretendida deles deixa erros e pontos cegos que
podem ser explorados, — Thrawn acrescentou. — O desejo de minimizar as
mortes de guerreiros é inútil se a guerra for perdida. Aumente o foco no
Sensor Quatro, por favor.
Che'ri assentiu com a cabeça e acionou o controle correto, uma pequena
parte de seu cérebro notando com satisfação o quão confortável se sentia na
cabine nos últimos dias. Thrawn acabou se revelando um professor muito
melhor do que esperava.
Ou talvez ela fosse apenas uma ótima aprendiz.
— O que você vê lá? — Perguntou Thrawn.
Che'ri franziu a testa. Havia algo estranho no centro da tela que tinha
acabado de ajustar: perfeitamente redondo e emitindo uma assinatura de
energia forte, mas estranha.
— Não sei, — ela respondeu. — Eu nunca vi nada assim antes.
— Eu já, — disse Thrawn, pensativo. — Mas o escudo de energia que eu
vi estava a bordo de uma nave. Este parece estar protegendo um edifício.
— É um escudo? — Perguntou Che'ri. Agora que mencionou, tinha o
formato dos escudos dos guerreiros dos velhos tempos dos quais ela tinha
visto fotos. — Isso é como as nossas barreiras eletrostáticas?
— A mesma função de proteção, mas muito mais forte e versátil, —
respondeu Thrawn. — A Ascendência se beneficiaria muito dessa
tecnologia.
Che'ri olhou de lado pra ele. Ele não estava pensando em tentar descer lá,
estava? Não com todas aquelas coisas de robô zumbindo por lá.
Ele parecia sentir o olhar dela e os medos repentinos dela.
— Não se preocupe, não vamos atacar por conta própria, — ele garantiu.
— Embora com um complemento completo de iscas a bordo, passar pela
rede de sentinela deles seria trivial. Ainda assim, uma força aérea implica
uma força terrestre semelhante, e você e eu, não estamos equipados para
lidar com esse grau de oposição.
— Tudo bem, — disse Che'ri com cautela. Ele ainda tinha aquele olhar
intenso em seus olhos. — Então... o que vamos fazer?
— A nossa missão sempre foi encontrar aliados, — Thrawn respondeu,
avançando e manipulando um dos controles do sensor. — Mas talvez não
precisemos de um exército inteiro deles.
— De quantas pessoas precisamos?
Ele apontou para uma das outras telas.
— Vamos começar com um.
Che'ri piscou surpresa. Centrado no visor estava outra nave, quase do
mesmo tamanho que a deles. Ela estava flutuando sombria, silenciosa e com
baixa potência, e claramente observando as mesmas naves robôs zumbindo
que ela e Thrawn estavam.
— Quem é aquela?
— Não faço ideia, — respondeu Thrawn. — Mas a aparência e o perfil
de energia não combinam com nenhuma das outras naves que vimos desde
que saímos do Caos.
— Também não se parecem com as naves de robôs, — ofereceu Che'ri.
— Excelente observação, — disse Thrawn, e Che'ri sentiu o seu rosto
aquecer de satisfação com o elogio. — É possível que o piloto seja uma
nave de reconhecimento do lado oposto da guerra. Se for assim, podemos
ter encontrado um aliado... Ali!
Che'ri enrijeceu. O perfil de energia da outra nave mudou
repentinamente. Mesmo quando abriu a boca para perguntar o que estava
acontecendo, a nave girou alguns graus e, com um piscar, desapareceu no
hiperespaço.
— Rápido, agora, — disse Thrawn, e o painel de Che'ri escureceu
quando ele assumiu o controle. — Prepare-se para a Terceira Visão.
— Nós vamos atrás dela?
— Na verdade, espero chegar à frente dela, — Thrawn respondeu,
ligando os propulsores e o hiperdriver. — O primeiro mundo que visitamos
foi o mais populoso e, portanto, o lugar mais provável para enviar uma
mensagem ou se encontrar com aliados.
— Um dos mundos mais vazios não seria melhor pra isso?
— Em teoria, sim, — Thrawn respondeu. — Mas um olheiro iria querer
evitar chamar mais atenção do que o necessário. Quanto menos habitantes,
mais escrutínio é automaticamente atribuído aos estranhos.
— Certo, — disse Che'ri, fazendo uma careta enquanto ela ativava o
painel do navegador. Quando eles estivessem prontos, a outra nave teria
uma boa vantagem de minutos sobre eles. Como Thrawn pensou que
poderia chegar à frente dela?
— Vai ficar tudo bem se chegarmos em segundo lugar, — explicou
Thrawn. — Mas mesmo com a vantagem, não tenho dúvidas de que nós
chegaremos primeiro. É improvável que uma nave daquele tamanho tenha
um sistema de hiperdrive e navegação igual ao de uma nave Chiss e uma
Sky-walker Chiss.
Che'ri encurvou os ombros assim que segurou os controles. Droga, certo.
Eles eram Chiss e não iam perder uma corrida. Para ninguém.
— Estou pronta, — ela disse. — Diga-me quando.

O primeiro pensamento de Che'ri quando ela saiu do seu transe da Terceira


Visão foi que ela havia perdido. A outra nave estava longe de ser vista: nem
se aproximando do planeta, nem em órbita ao redor dele. Ela suspirou,
pressionando a mão na cabeça latejante. Ela tentou tanto, mas...
— Lá, — disse Thrawn.
Che'ri sentiu os seus olhos se arregalarem, a sua dor de cabeça
imediatamente esquecida. Ele estava certo. A nave que eles viram
observando a nave-robô acabara de emergir do hiperespaço.
— O que nós fazemos agora?
— Vamos ver se eles têm interesse em conversar. — Ele apertou o botão
de comunicação. — Nave não identificada, aqui é o Capitão Sênior
Mitth’raw’nuruodo da Ascendência Chiss, — ele disse em Minnisiat. —
Você consegue me entender?
Silêncio. Thrawn repetiu a saudação em Taarja, depois em Meese Caulfe
depois em Sy Bisti. Che'ri estava tentando se lembrar se havia mais línguas
comerciais que ela já tinha ouvido falar quando houve um sinal de resposta
do comunicador.
— Olá, Capitão Sênior Mitth’raw’nuruodo, — uma voz de mulher veio
em Meese Caulf. — O que eu posso fazer para você?
— É considerado cortês uma parte de uma conversa oferecer seu nome à
outra, — disse Thrawn.
— Você acha que vamos ter uma conversa?
— Parece que estamos fazendo isso, — apontou Thrawn.
Houve uma pequena pausa. A outra nave, observou Che'ri, estava indo
em direção ao planeta, sem qualquer indício de que a piloto pudesse estar
interessada em olhar mais de perto o visitante Chiss.
— Me chame de Duja, — disse a mulher. — Minha vez. A Ascendência
Chiss favorece a República ou os Separatistas?
— Nenhum dos dois, — disse Thrawn. — Nós não tomamos partido
nesta guerra de vocês.
— Então eu não vejo razão para falar com você. Sem ofensa, — disse
Duja. — Você não viu uma nave Nubiana pousar recentemente, viu?
— Com o que ela se parece?
— Metal prateado brilhante, — respondeu Duja. — Curvas suaves, sem
ângulos, cápsulas de motor duplo.
— Nós não vimos isso.
— A conversa acabou, então, — disse Duja. — Foi bom falar com você.
— Houve outro sinal quando ela desligou a conexão.
Che'ri olhou para Thrawn, esperando que ele ligasse de volta para Duja e
tentasse persuadi-la, talvez se oferecer para trabalharem juntos. Mas para a
sua surpresa, ele simplesmente desligou o comunicador.
— Você está apenas deixando ela ir? — ela perguntou.
— Ela não é uma guerreira, — respondeu Thrawn, a sua voz pensativa.
— Uma batedora, talvez uma espiã, claramente alguém com treinamento.
Mas não uma guerreira.
— Como você sabe que ela teve treinamento?
— A nave dela está armada, — ele respondeu, — e enquanto falávamos,
ela girou ligeiramente para que as armas pudessem ser utilizadas mais
rapidamente, se necessário.
— Oh, — disse Che'ri. Ela não tinha visto nada disso. — O que vamos
fazer?
— Esperamos, — ele respondeu. — Como eu disse, ela é uma batedora
ou uma espiã. Mais cedo ou mais tarde, um guerreiro virá.

O guerreiro que Che'ri e Thrawn estavam esperando, ao que parecia, não


estava com muita pressa.
Thrawn e Che'ri estavam esperando há três dias quando a nave prateada
de que Duja havia falado apareceu. Ela desapareceu entre as árvores a uma
distância razoável de um assentamento construído em torno de um grupo de
pedras pretas ou torres de madeira. Poucas horas depois, a nave de Duja
levantou-se da floresta e partiu, perseguida breve e inutilmente por algumas
naves de patrulha do planeta. Che'ri esperou que a Nubiana a seguisse, mas
a grande nave prateada permaneceu escondida.
E então, novamente, nada. Thrawn passou os dias estudando todas as
informações que pôde encontrar do planeta, o qual Che'ri aprendeu que era
chamado de Batuu , e dando a Che'ri mais exercícios de pilotagem com o
painel de controle no modo simulador. Che’ri, por sua vez, repassou os
exercícios indefinidamente. Thrawn não tinha realmente dito isso, mas ela
tinha uma forte suspeita de que, quando o guerreiro esperado chegasse,
Thrawn estaria deixando a nave de reconhecimento em suas mãos. Quando
isso acontecesse, ela estava determinada a não o decepcionar.
E então, mesmo quando Che'ri estava intimamente prestes a perder as
esperanças, ele estava lá.

— Nave não identificada, aqui é o General Anakin Skywalker, da República


Galáctica, — disse o piloto pelo alto-falante da nave de reconhecimento, as
palavras em Meese Caulf um pouco distorcidas, mas principalmente
corretas. — Está invadindo equipamentos e interferindo em uma missão da
República. Eu ordeno que você se retire e se identifique.
— Eu o saúdo, — disse Thrawn por sua vez. — Você disse que o seu
nome era General Skywalker?
— Disse. Por que, você já ouviu falar de mim?
Thrawn chamou a atenção de Che'ri quando tocou no botão MUDO.
— Coincidência interessante, — ele comentou.
Che'ri assentiu. O piloto tinha falado a palavra como se isto fosse o nome
dele, mas provavelmente ele apenas confundiu a linguagem.
Thrawn reativou o som.
— Não, não mesmo, — ele respondeu. — Fiquei apenas surpreso.
Deixe-me assegurar-lhe que não pretendo prejudicar você ou o seu
equipamento. Eu só queria dar uma olhada mais de perto neste dispositivo
interessante.
— Fico feliz em ouvir isso, — disse o piloto. —Você já olhou. Recue
conforme solicitado.
Thrawn franziu os lábios pensativamente. Então, muito deliberadamente,
recuou a nave afastando-se do anel que eles tinham se aproximado para
examinar.
— Posso perguntar o que traz um enviado da República a essa parte do
espaço? — ele perguntou.
— E posso perguntar que interesse você tem nisso? — o piloto contra-
atacou. — Você pode seguir o seu caminho a qualquer momento.
— Meu caminho?
— Para continuar a sua jornada. Para ir aonde quer que você estava indo
antes de parar para dar uma olhada no meu anel de hiperdrive.
Novamente, Thrawn tocou em MUDO.
— Uma opinião?
Che'ri piscou. Ele estava pedindo a opinião dela sobre isso? A opinião
dela? — Eu não sei nada sobre coisas assim.
— Você é uma Chiss, — Thrawn lembrou a ela. — Como tal, você tem
instintos e julgamento, talvez mais do que você imagina. Você acha que ele
será um bom aliado?
Che'ri franziu o nariz. Ela nunca conheceu essa pessoa. Ela mal o ouviu
falar.
No entanto, ela podia sentir confiança nele, força e compromisso. —
Sim, — ela respondeu. — Eu acho.
Thrawn assentiu com a cabeça e ativou o som do comunicador. — Sim,
eu poderia continuar no meu caminho, — ele concordou. — Mas seria mais
útil para mim ajudá-lo em sua busca.
— Eu já te disse que estava em uma missão da República. Não é uma
busca.
— Sim, eu lembro das suas palavras, — assegurou Thrawn. — Mas acho
difícil acreditar que uma República em guerra enviaria um homem sozinho
em uma nave de caça em uma missão solo. Acho mais provável que você
viaje em uma missão pessoal.
— Estou em uma missão, — insistiu o piloto. — Ordenado diretamente
pelo próprio Supremo Chanceler Palpatine. E eu não tenho tempo para isso.
— De acordo, — disse Thrawn. — Talvez fosse melhor se eu
simplesmente lhe mostrar a localização da nave que você procura.
Houve uma pequena pausa.
— Explique-se, — o piloto disse calmamente.
— Eu sei onde a nave Nubiana pousou, — Thrawn relatou a ele. — Eu
sei que o piloto está perdido.
— Então você interceptou uma transmissão privada?
— Eu tenho as minhas próprias fontes de informação. Como você, eu
busco informações, sobre esse e outros assuntos. Assim como você,
também estou sozinho, sem os recursos para investigar com êxito. Talvez
em aliança com um General da República possamos encontrar as respostas
que nós dois procuramos.
— Oferta interessante. Você disse que somos apenas nós dois?
— Sim, — respondeu Thrawn. Ele olhou para Che'ri. — Além do meu
piloto e do seu droide, é claro.
— Você não mencionou o piloto.
— Você também não mencionou o seu droide. Como nenhum dos dois se
juntará a nós em nossa investigação, achei que eles não entrariam na
discussão.
— Erredois geralmente vem comigo nas missões.
— De verdade? — Thrawn perguntou, erguendo uma sobrancelha. —
Interessante. Eu não sabia que as máquinas de navegação tinham outros
usos. Nós temos uma aliança?
O piloto hesitou. Che’ri fez um gesto e Thrawn tocou no MUDO. — O
piloto da outra nave está desaparecido?
— Eu não sei ao certo, — respondeu Thrawn. — Mas a falta de
atividade sugere que pode ser o caso. — Ele encolheu os ombros
ligeiramente. — Além disso, o General Skywalker claramente se preocupa
com ele ou ela. Aumentar o nível de urgência deve ajudá-lo a se decidir.
— Então, quais respostas você está procurando? — Skywalker disse.
Thrawn tocou na tecla.
— Desejo entender melhor esse conflito em que você está envolvido.
Desejo respostas de certo e errado, de ordem e caos, de força e fraqueza, de
propósito e reação. — Mais uma vez, Thrawn olhou para Che’ri; e então, de
repente, ele se endireitou um pouco na cadeira. — Você pediu a minha
identidade. Agora estou pronto para lhe dar. Sou o Comandante
Mitth᾽raw᾽nuruodo, oficial da Frota de Defesa de Expansão, servo da
Supremacia Chiss. Em nome do meu povo, peço a sua ajuda para aprender
sobre esta guerra antes que ela espalhe o seu desastre sobre os nossos
mundos.
Che'ri franziu a testa. Comandante? Pensava que ele era um capitão
sênior. Tinha sido rebaixado?
Provavelmente não. O mais provável é que ele estava apenas
minimizando a sua posição por algum motivo, talvez para que o General
Skywalker não se sentisse ameaçado pela experiência militar mais extensa
de Thrawn. Certamente Skywalker soava muito mais jovem do que Thrawn.
— Entendo, — disse Skywalker. — Muito bem. Em nome do Chanceler
Palpatine e da República Galáctica, aceito a sua oferta.
— Excelente, — disse Thrawn. — Talvez você comece me contando a
verdadeira história da sua busca.
— Eu achei que você já sabia. Sobre a nave de Padmé.
— A Nubiana? — Thrawn encolheu os ombros. — O design e o sistema
de propulsão eram diferentes de tudo que eu já vi nesta região. A sua nave
exibe características semelhantes. Era lógico que um visitante estrangeiro
estivesse procurando o outro.
— Ah. Você está certo, a Nubiana é uma das nossas. Ela estava levando
uma Embaixatriz da República que veio aqui para coletar informações de
um informante. Quando ela perdeu o contato conosco, fui enviado para
procurá-la.
Che'ri franziu a testa. Era Duja a informante de quem Skywalker estava
falando? Nesse caso, eles não deveriam dizer a ele que já havia deixado
Batuu?
— Entendo, — disse Thrawn. — Este informante era confiável?
— Sim.
— Você tem certeza disso?
— A embaixadora tinha.
— Então a traição é improvável. A informante entrou em contato com
você?
— Não.
— Nesse caso, os cenários mais prováveis são de acidente ou de captura.
Precisamos viajar para a superfície para determinar qual foi o caso.
— É para onde eu estava indo quando você invadiu ali, — Skywalker
disse. — Você disse que sabia onde estava a nave dela?
— Eu posso lhe enviar a localização, — respondeu Thrawn. — Mas
pode ser mais conveniente você vir a bordo primeiro. Eu tenho um
transporte para dois passageiros no qual podemos viajar juntos.
— Obrigado, mas eu vou com a minha própria nave. Como eu disse,
podemos precisar do Erredois lá embaixo.
— Muito bem, — disse Thrawn. — Eu vou te guiar.
— Tudo bem. Assim que você estiver pronto.
— Farei os preparativos de uma vez, — disse Thrawn. — Uma opinião
adicional. Os nomes Chiss são difíceis para muitas espécies pronunciarem
corretamente. Eu sugiro que você me chame pelo meu nome principal:
Thrawn.
— Parece bom para mim, Mitth’raw’nuruodo. Eu acho que posso aceitar
com isso.
— Mitth’raw’nuruodo.
— Foi o que eu disse: Mitth’raw’nuruodo.
— É pronunciado Mitth’raw’nuruodo.
— Sim. Mitth’raw’nuruodo.
— Mitth’raw’nuruodo.
Foi tudo o que Che'ri pôde fazer para não cair na gargalhada. Ela podia
ouvir a diferença tão bem quanto Thrawn. Mas Skywalker claramente não
entendeu.
Mas pelo menos ele não era teimoso o suficiente para continuar dando
murro na parede.
— Tudo bem, — ele rosnou. — Thrawn.

— Obrigado. Thrawn. Facilitará as coisas. Meu transporte está pronto.


Vamos partir.
Ele desligou o comunicador e começou a se desatar.
— Você vai ficar bem aqui, sozinha? — ele perguntou, olhando
atentamente para Che'ri.
Engoliu em seco. Ela tinha escolha?
Na verdade, sim, percebeu de repente, tinha sim. Claramente, Thrawn
estava disposto a desistir do acordo que tinha acabado de fazer se Che'ri lhe
pedisse para ficar.
Mas vieram até ali em busca de aliados contra os Nikardun. Skywalker
poderia ser a melhor esperança deles nisso.
Ela endireitou os ombros.
— Estou bem, — ela respondeu. — Me diga o que fazer.
— Volte para o sistema com o escudo de energia, — ele disse. — Fique
bem longe das naves robôs. Quando eu sinalizar, você deve descer ao local
com o escudo de energia, usando iscas para manter os robôs longe do seu
curso.
— Tudo bem, — disse Che'ri. Ela só usou as iscas em simulações, mas
parecia muito fácil. — Quantas eu devo usar?
— Tantas quantas você precisar, — ele respondeu. — Na verdade, você
pode muito bem usar a todas. Se isso funcionar como espero que funcione,
estaremos voltando direto para a Ascendência, sem qualquer necessidade de
enfrentar outras ameaças potenciais.
— Tudo bem. — Ela respirou fundo. — Você vai ficar bem?
— Claro, — ele disse, sorrindo com confiança. — Estarei armado e
tenho plena confiança de que o General Skywalker será um aliado
poderoso. — Ele olhou para fora do canopi. — Mas acredito que também
vou colocar o meu uniforme de combate. Só por precaução.
M esmo usando um dos vagões de túnel expressos ultrarrápidos
reservados para uso das Nove Famílias, a viagem para o domicílio da Mitth
levou quase quatro horas. Durante esse tempo, Thalias e Thurfian falaram
só uma vez, no meio da viagem, quando Thurfian perguntou se queria
alguma coisa para comer. Ela não queria, não porque não estivesse com um
pouco de fome, mas porque não queria se sentir grata a ele. O resto da
viagem foi feita em silêncio.
Thalias nunca tinha estado na vasta caverna que abrigava o domicílio em
Csilla da família Mitth. Mas tinha visto fotos e olhado em mapas, e quando
se aproximaram do ponto de verificação final, estava totalmente preparada
para ver o local ancestral da sua família adotada.
Estava errada. Completamente e profundamente errada.
A caverna era maior do que esperava. Muito maior. Grande o suficiente
para que houvesse nuvens de verdade flutuando pelo céu, um azul
panorâmico que estaria preparada ao jurar que era um céu real acima de
uma superfície planetária real. Espreitando por trás das nuvens estava o
disco brilhante de um sol o qual também juraria ser real. Em ambos os lados
dos trilhos do vagão de túnel, havia lagos alimentados por riachos, o da
direita grande o suficiente para que o vento leve que soprava nos pomares e
jardins fosse capaz de criar pequenas ondas em sua superfície.
Uma dúzia de edifícios agrupados em torno dos lagos ou aninhados sob a
floresta que se estendia além do lago à esquerda. Algumas das estruturas
eram claramente galpões de equipamentos, outras pareciam ser casas, estas
últimas grandes o suficiente para acomodar duas ou três famílias com
conforto. À distância, perto da extremidade oposta da caverna, estava uma
cadeia de montanhas envolta em névoa. Se estavam embutidas na parede ou
eram independentes, não sabia dizer.
E no centro da caverna, erguendo-se majestosamente do gramado e dos
arcos do jardim que a cercava, havia uma mansão.
Era enorme, pelo menos oito andares, com alas laterais que se estendiam
por algumas centenas de metros. Parecia vagamente com uma das antigas
fortalezas que tinham sido comuns nos dias antes dos Chiss aprenderem a
viajar pelas estrelas, mas o projeto era um pouco mais moderno e não tinha
os agrupamentos de armas eriçados que tornavam essas estruturas antigas
tão intimidantes. O exterior era todo de pedra estampada, vidro e aço
polido, com pequenas torres de observação em ângulo nos cantos e um
telhado de mosaico assimétrico que brilhava à luz do sol artificial.
— Presumo que esta seja a primeira vez que você vem aqui? — Thurfian
perguntou.
Thalias encontrou a sua voz.
— Sim, — ela respondeu. — Todos os meus outros relacionamentos com
a família foram no complexo deles em Avidich. As fotos não fazem justiça
a este lugar.
— Claro que não, — concordou Thurfian. — Imagens totalmente
precisas e de granulação fina podem conter pistas sobre a localização
precisa do domicílio. Certamente não podemos permitir isso.
— Pensei que esta era a antiga terra da família Mitth.
— E é, — enfatizou Thurfian. — Mas aquela terra cobre mais de seis mil
quilômetros quadrados e inclui muitas outras cavernas como esta, todas
com acesso por vagões de tubo. Acredite em mim: ninguém chega no
domicílio da Mitth sem a permissão da família Mitth. Esta é sua última
chance de mudar de ideia sobre as Provações.
— Thalias se preparou. — Estou pronta.
— Talvez. Vamos descobrir, não vamos?
O carro parou a cem metros da frente da casa, ao lado de um grande
mosaico incrustado no chão.
— A sua primeira Provação, — informou Thurfian enquanto o canopi
deslizava para trás. — Encontre o seu caminho. Se você tiver sucesso, será
convidada a entrar. Se você falhar, volte para o carro e você será levada de
volta ao espaçoporto. — Ele desceu, caminhando ao longo da borda do
mosaico e se dirigiu para a mansão.
Cautelosamente, Thalias saiu do carro, franzindo a testa para o mosaico.
Ele parecia familiar...
E então entendeu. A coisa toda era um mapa estilizado da Ascendência.
Encontre o seu caminho, tinha dito Thurfian. Isso significava que deveria
rastrear as suas esperanças para o futuro?
Não, claro que não, ela percebeu de repente. Toda a existência deste
domicílio foi um grande gesto para a história da família Mitth. Ela não
deveria traçar o futuro dela; ela deveria traçar o caminho que a trouxe aqui.
Ela respirou fundo. Ela mal se lembrava da sua vida antes do Corpo de
Sky-walkers, mas sabia que tinha nascido na Estação Colonial Camco. Isso
era... Ali. Caminhando cautelosamente pelo mapa, certificando-se de não
tocar em nenhum outro planeta ao longo do caminho, ela pisou na marca de
Camco.
Por um momento, nada aconteceu. Estava se perguntando se precisava se
inclinar e tocá-lo com a sua mão quando a área ao redor do planeta se
iluminou brevemente com um brilho verde.
Soltou um suspiro de alívio quando o brilho desapareceu. Certo. De lá,
viajou para o complexo da Frota Expansionista em Naporar, onde recebeu o
seu treinamento de sky-walker. Novamente tomando cuidado para não tocar
em nenhum dos outros planetas, caminhou até Naporar e subiu nele.
Novamente, foi recompensada por um brilho verde. Próximo...
Congelou. Em seguida, foi uma série de viagens fora da Ascendência em
seu papel como uma sky-walker, guiando naves militares e diplomáticas
para mundos e nações alienígenas.
Só que nenhum desses mundos estava no mapa. Deveria ir para qualquer
sistema Chiss que estivesse mais próximo deles?
Não, isso não pode estar certo. O mosaico era uma projeção plana de
uma região tridimensional do espaço e não havia como saber a partir daqui
qual planeta Chiss estava mais próximo de uma determinada nação
alienígena. Mas então o que ela deveria fazer?
Olhou para a casa. História... mas a história da Ascendência.
Olhou de volta para o mapa. A última viagem que fez como sky-walker,
aquela em que conheceu Thrawn, foi de Rentor a Naporar. Atravessou para
Rentor e pisou cautelosamente nele.
Para seu alívio, o mosaico novamente brilhou verde ao redor dos seus
pés. Atravessou para Naporar e foi novamente recompensada.
Tudo certo. Em seguida, foi uma viagem a Avidich para se encontrar
com o Aristocrata Mitth, que a trouxe para a família. Em seguida, foi para
Jamiron para a sua educação formal...
Houve mais três mundos depois disso, e cada brilho verde trouxe de
volta memórias de imagens, sons e aromas os quais quase tinha esquecido.
Quando pisou em Csilla, foi quase como se tivesse realmente revisitado
esses lugares.
O chão novamente brilhou verde.
— Bem-vindo, Mitth’ali’astov, — uma voz desencarnada ergueu-se do
mosaico. — Prossiga para a antiga casa para começar a sua próxima
Provação.
Thalias respirou fundo.
— Eu obedeço, — ela confirmou. Caminhando pelo mosaico, sua mente
ainda girando com memórias, ela pisou na grama macia e se dirigiu para a
casa.

Houveram muitas Provações.


As primeiras quatro ou cinco eram relativamente fáceis: testes escritos
envolvendo conhecimentos gerais, lógica, resolução de problemas e história
da Ascendência. Era como estar na escola de novo e, embora Thalias
tivesse sido apenas uma aluna mediana, sempre amou aprender. Passou por
eles com relativa facilidade, se perguntando se o resto das Provações seria
tão simples.
Não eram.
Em seguida, veio um teste para ver se conseguia atravessar um canal de
água de três metros de largura sem se molhar, usando apenas tábuas de dois
metros e meio de comprimento cada. Depois disso, ela teve que escalar uma
árvore de casca lisa para alcançar uma linha de visão que revelaria a
resposta a um antigo enigma Mitth. Outro enigma familiar exigia que ela
encontrasse um padrão sutil nos arcos de flores que cercam a mansão.
Mais de uma vez, enquanto trabalhava nos quebra-cabeças, ela se
perguntou se essas Provações haviam sido planejadas desde que o domicílio
foi transferido para baixo da superfície de Csilla ou se eles são anteriores a
essa época. Se fosse o último, significava que tudo o que uma vez existiu lá
foi duplicado em detalhes meticulosos.
De alguma forma, esse grau de compromisso não a surpreendeu.
Presumiu que as Provações terminariam com o pôr do sol artificial da
caverna. Novamente, estava errada. Um curto intervalo de sono de seis
horas, e voltou para outra bateria de testes escritos e mais alguns problemas
de lógica na área externa.
Durante todo o tempo, desde o momento em que Thurfian a deixou no
mapa do mosaico, não tinha visto outro ser vivo. Todas as suas instruções
vieram através da mesma voz desencarnada a qual ouviu quando chegou
pela primeira vez, enquanto as suas refeições e o quarto estavam a
esperando quando chegou aos locais designados.
Finalmente, as duas horas depois da sua pequena refeição do meio-dia,
foi enviada para a Provação final: escalar o topo da montanha o qual tinha
visto se erguendo atrás da mansão.
No início, não parecia muito desafiador. Havia uma trilha claramente
marcada, a inclinação inicial era de apenas alguns graus e os frequentes
aglomerados e fileiras de árvores prometiam muita sombra contra a luz do
sol escaldante. Fazendo uma aposta particular consigo mesma de que
voltaria a tempo para um jantar mais cedo, ela começou.
A bela encosta pouco inclinada não durou muito além da primeira linha
de árvores. Felizmente, à medida que a montanha ficava mais íngreme, o
caminho mudou para um arranjo quase horizontal do tipo ziguezague que a
colocaria em ângulo ao longo da encosta da montanha, em vez de
diretamente para cima.
Uma subida menos rigorosa, mas agora também consideravelmente mais
longa. Revisando mentalmente a sua estimativa de quanto tempo isso
levaria, ela continuou.
Estava no caminho há talvez uma hora, e tinha feito a terceira curva em
zigue-zague, quando começou a ver pontas altas saindo do chão ao lado do
caminho. Haviam seis no primeiro grupo, uma delas com cerca de um
metro de altura e cinco centímetros de diâmetro, as outras cinco a metade
ou a um terço dessa altura e proporcionalmente mais finas. Thalias as
estudou enquanto passava, perguntando-se se isso seria a pista para outro
quebra-cabeça. A ponta mais alta parecia ter uma superfície texturizada ou
entalhada, e por um momento considerou deixar o caminho para olhar mais
de perto.
Mas, embora as suas ordens não dissessem que não podia olhar para as
pontas, também não disseram especificamente que podia. Nesse estágio
final das Provações, decidiu, seria melhor errar por excesso de cautela.
A menos que isso fosse um teste de iniciativa?
Thalias fez uma careta. Jogos mentais dentro de jogos mentais.
Ainda assim, podia ver através das árvores que havia mais grupos de
pontas encosta acima da sua posição atual. Continuaria e esperaria por
algum padrão que, com sorte, indicaria como exatamente deveria passar por
este jogo.
Presumiu que o aglomerado que viu através das árvores seria o próximo.
Para a sua leve surpresa, encontrou uma trilha de pontas muito mais curtas
ao longo do caminho imediatamente após o primeiro grupo. Algumas das
pontas pareciam estar sozinhas, enquanto outras formavam pequenos
grupos. Normalmente havia uma ponta um pouco mais alta no centro,
embora nenhuma delas tivesse a altura ou a textura elaborada da primeira
que tinha encontrado. Franzindo a testa para cada ponta enquanto passava,
procurando o padrão ainda evasivo que sabia que deveria estar lá, ela
continuou.
Dois ziguezagues depois, os grupos de pontas reapareceram de repente
como uma vingança. Outra ponta alta, ainda mais longa e mais
elaboradamente esculpida do que a primeira, estava afastada quinze metros
do caminho em um pequeno montículo. Aninhadas em torno dele estavam
pelo menos cinquenta outras pontas, novamente de alturas variadas,
novamente sem padrão de tamanho ou posicionamento que pudesse ver.
Daquele ponto em diante, as pontas nunca mais foram embora. Altas,
baixas, ocasionalmente enormes, estavam por toda parte, afastadas do
caminho ou correndo bem ao lado dele.
Mais dois ziguezagues, decidiu enquanto mais uma vez mudava de
direção. Mais dois ziguezagues e, se não tivesse encontrado um padrão até
então, iria dar uma olhada mais de perto.
— Impressionantes, não são?
Thalias estremeceu, quase torcendo o tornozelo enquanto se virava em
direção à voz. Dez metros atrás da última curva do caminho, sob os galhos
de um grupo de árvores que se agitavam suavemente, havia um banco de
madeira entalhado. Sentado em uma extremidade estava um homem velho,
a sua pele pálida com a idade, os seus olhos extraordinariamente brilhantes
enquanto olhava para fora das sombras. As suas mãos estavam cruzadas à
sua frente, apoiada no topo de uma bengala tão elaboradamente esculpida
quanto qualquer uma das pontas que Thalias tinha visto.
— Sim, elas são, — ela respondeu, o seu coração batendo um pouco
mais rápido. A primeira pessoa que viu desde que Thurfian desapareceu…
Ele poderia ter lido a sua mente.
— Não, eu não faço parte das Provações, — ele disse com um sorriso
divertido e um tanto conspiratório. — Eles nem mesmo sabem que eu estou
aqui. Provavelmente estão arrancando os cabelos deles procurando por
mim. Mas queria falar com você em particular, e essa me pareceu a melhor
maneira de fazer isso.
— Estou aqui há dois dias, — Thalias o lembrou, tentando obter uma
visão clara através da luz refletida nas folhas das árvores. Já tinha visto
aquele rosto em algum lugar antes.
— Oh, eu sei, — ele confirmou — Tenho observado você. Mas embora
possa parecer que você estava sozinha, nunca esteve. Não até que eles
mandaram você aqui. — Ele acenou com a mão em torno dele. — Além
disso, há um sentido tão rico da história Mitth nesta montanha. É o melhor
lugar para discutir o futuro da nossa família. — A mão dele acenando parou
no grupo de pontas que Thalias vinha estudando e estendeu um dedo para
apontar para a maior. — O que você acha?
— Eu... não sei, — Thalias ficou paralisada. Ele parecia tão familiar. —
É bastante impressionante. Mas eu não…
— Impressionante? — O velho bufou. — Não. Ele era um apresentador
que sempre colocava a sua própria glória acima da família. Em algum
ponto, você percebe, que trazer Surgidos-na-provação ali e transformá-los
em primos reflete menos as necessidades da família e mais sobre
impressionar aqueles que estão deslumbrados com meros números.
— Sim, é claro, — Thalias concordou, um choque elétrico passando por
ela quando ela percebeu o que estava olhando. Alguém de sangue Mitth, um
síndico, Conselheiro ou algum outro Aristocrata de nível superior, foi
homenageado aqui. A grande ponta, cercada pelos memoriais daqueles que
ele trouxe de outras famílias para a Mitth.
E com uma segunda sacudida ela finalmente reconheceu o velho à sua
frente.
— Você é Mitth’oor’akiord, — ela respirou. — Você é o Patriarca.
— Muito bem, — disse Thooraki. — Você prestou atenção à linha de
simulações ao longo do grande corredor. Impressionante. — Ele encolheu
os ombros. — Infelizmente, esse nível de habilidade de observação não tem
nada a ver com as Provações, ou você teria apenas ganho pontos extras.
— Obrigada, Vossa Reverência, disse Thalias. — Mas, honestamente,
não acho que você seja o tipo que fica deslumbrado com meros números.
— Muito bem, minha querida Thalias, — disse o Patriarca, com o seu
sorriso se alargando. — Certamente não. Procuro qualidade e inteligência.
— Ele inclinou a cabeça ligeiramente. — Falando nisso, fui chamado
quando você estava começando o desafio do canal de água e não tive a
chance de revisar as gravações. Você faria a gentileza de me esclarecer
quanto à sua solução?
— Não foi tão difícil, — disse Thalias. — O canal tem apenas cerca de
um metro de profundidade, então peguei duas placas, coloquei as suas
extremidades juntas no meio do canal, empurrei uma placa para o lado
oposto e abaixei a outra para o meu lado. Com as duas anguladas contra as
bordas do canal, coloquei outra placa horizontalmente sobre elas.
— Não acredito que isso a livraria da água, — apontou o Patriarca.
— Não, Vossa Reverência, não livrou, — Thalias concordou. — Então,
eu adicionei mais duas placas anguladas, essas colocadas no centro da placa
horizontal, e coloquei uma placa horizontal final sobre elas.
— Muito bom, — elogiou o Patriarca. — Lembro-me de um Surgido-na-
Provação que começou como você fez, mas depois simplesmente colocou
mais tábuas na primeira horizontal até que a pilha estivesse acima do nível
da água.
Thalias sentiu o seu lábio se contrair. Focada em ângulos e engenharia,
essa solução nem havia ocorrido a ela.
— Igualmente eficaz, mas não tão elegante, — acrescentou o Patriarca.
— Sempre gostei de elegância, e os seus registros durante os seus anos
como sky-walker sugeriam que você tinha esse estado de espírito. Na
verdade, foi por isso que eu tomei a decisão de trazê-la para nós.
— Você me trouxe para a Mitth? Você mesmo?
— Por que não? — ele questionou. — Cuidar da família também
significa cuidar daqueles que farão a família mais forte.
— Estou honrada, — Thalias agradeceu, sentindo uma súbita sensação
sufocante das suas próprias deficiências e inadequações. — Eu só espero
um dia ser capaz de viver de acordo com a sua confiança em mim.
— Algum dia? — Ele deu outro bufo. — Realmente, criança. Você já
retribuiu a minha confiança muitas vezes. Mesmo agora, você fica de
guarda entre a minha maior conquista e aqueles determinados a destruí-la.
— Não entendo… — Ela se interrompeu. — Você quer dizer... Thrawn?
O Patriarca assentiu.
— Outro que eu escolhi pessoalmente para se juntar a nós.
— Sério, — Thalias disse, franzindo a testa. — Achei que foi o General
Ba’kif quem apontou a Mitth para ele.
— E quem você acha que o apontou para Ba’kif? — o Patriarca rebateu.
— Ah, sim. Labaki, esse era o nome dele na época, Labaki e eu nos
conhecemos há muito tempo. Fui eu quem lhe disse sobre Thrawn e o
encorajei a apontar para aquele tolo do Thurfian para ficar de olho nele.
Ele suspirou.
— Eu vi grandeza nele, Thalias, — ele disse, seus olhos e voz ficando
distantes. — Grandeza, habilidade e lealdade. Ele será a minha coroação, o
bastão memorial que um dia estará ao lado do meu. — Ele bateu em sua
bengala enquanto o seu olhar nublava. — Se ele sobreviver.
— Eu o vi em batalha, Vossa Reverência, — Thalias assegurou-lhe. —
Ele vai sobreviver.
— Você acha que eu temo a perda dele na guerra? — O Patriarca
balançou a cabeça. — Não. Guardo algo imprevisto ou incontrolável, ele
nunca provará mais do que uma derrota temporária. Não, Thalias, a ameaça
para ele vem de dentro da Ascendência. Possivelmente de dentro da própria
família em si. — Ele acenou para ela. — Venha. Sente-se ao meu lado, se
você quiser. Temo que me reste pouco tempo.
Cuidadosamente, incerta, Thalias caminhou pela grama e se acomodou
no banco ao lado dele.
— O que eu posso fazer por você? — ela perguntou.
— Você já está fazendo isso, — ele garantiu a ela. — Você está me
ouvindo, como poucos outros na família fazem hoje em dia. O mais
importante, você está cuidando de Thrawn, trabalhando com ele como uma
aliada e assistente Inabalável. Protegendo-o contra os inimigos dele.
Ele acenou para a montanha.
— A transferência da liderança de um Patriarca para o outro deve ocorrer
sem problemas. Normalmente sim. Mas às vezes desmente essa promessa.
Enquanto nós conversamos, há vários que estão preparando os seus desafios
e argumentos, manobrando para o momento em que a minha bengala será
entregue aos historiadores e entalhadores para a versão que ficará no solo
do domicílio. Alguns desses veem Thrawn como um trunfo para a Mitth.
Outros não veem nada além de ameaça e perigo. — Ele balançou sua
cabeça. — Se um dos últimos ascender à Cadeira do Patriarca… — Ele
deixou a frase inacabada.
— Não entendo isso, — disse Thalias. — Ele é um guerreiro magnífico.
Como podem ver perigo nele?
— O perigo é que ele se supere ou leve a Mitth para alguma aventura
que nos deixe politicamente vulneráveis. Se isso acontecer, os nossos rivais
certamente tirarão vantagem da nossa fraqueza momentânea. Esses
contendores em particular para o Trono do Patriarca prefeririam trocar
qualquer glória potencial que Thrawn pudesse trazer para a família pela
garantia de que ele não traria o mesmo grau de infâmia.
Thalias assentiu com a cabeça.
— Buscando um caminho estável sem riscos.
— O que é tolice, — comentou o Patriarca, com a sua boca torcendo
com desprezo. — O caminho cauteloso apenas garante uma queda lenta
para a irrelevância. A Mitth deve assumir riscos, calculados e bem
planejados, mas riscos mesmo assim, se quisermos manter a nossa posição
entre as Famílias Regentes.
Por um momento, o único som foi o farfalhar do vento entre as árvores.
— O que nós podemos fazer? — Thalias perguntou finalmente.
— Sinceramente, não sei, — reconheceu o Patriarca. — Fiz tudo que
podia. Mesmo enquanto minha vida se estende em direção ao seu fim, da
mesma forma o meu poder e autoridade diminuem. — Ele sorriu
tristemente. — Não me olhe assim, criança. É assim que deveria ser, e como
deve ser. As rédeas do comando devem ser cuidadosamente reunidas para
serem entregues ao meu sucessor sem qualquer tipo de atraso ou incerteza,
para que as outras famílias não se aventurem a explorar tal confusão em
nosso detrimento.
— Entendo, — Thalias concordou, tremendo. Tinha visto como a
política influenciava os relacionamentos, mesmo entre os guerreiros
profissionais das naves de guerra da frota. Deve ser muito mais virulento na
Sindicura. — Diga-me como protegê-lo.
— Ele tem amigos, — o Patriarca informou. — Aliados. Ele pode não
saber como juntá-los ao seu lado quando necessário. Essa será a sua tarefa.
— Ele balançou a cabeça. — Sabia desde o início que a política não era o
forte dele. Mas nunca percebi o quão cego ele era para aqueles ventos
inconstantes.
— E farei o meu melhor, — garantiu Thalias. — Supondo que ainda
estarei na Mitth no final do dia.
— Se ainda estará na família? — o Patriarca ecoou, franzindo a testa
para ela. — Do que você está falando, criança? Claro que você está na
família. Sua jornada pelas Provações pode não ter mostrado o brilho, mas
era mais do que adequada. Você é oficialmente uma Surgida-na-Provação
agora, Thalias, a apenas um passo de avançar para a posição distante.
— Obrigada, — Thalias agradeceu, inclinando a cabeça para ele quando
uma onda de alívio a invadiu.
— Mas apenas se você não for relatada como aparentemente tendo caído
da montanha, — disse o Patriarca, um pouco de seu humor anterior
aparecendo na escuridão de seus avisos. — É melhor você continuar até o
topo. Estude os cajados enquanto escala. Observe o padrão e o fluxo da
história da família. Medite nas vidas e triunfos da Mitth.
— E em suas falhas ocasionais?
O Patriarca assentiu com a cabeça, o humor desaparecendo novamente.
— Especialmente as suas falhas, — ele disse calmamente. — Observe
atentamente as lacunas no registro memorial, as assimetrias onde os
esforços de um síndico ou do Aristocrata foram interrompidos. O fracasso
pode ser um professor duro, mas competente.
— Mas só quando aqueles que o observam aprendem com ele.
— De fato. — O Patriarca estendeu a mão e apertou a mão dela. —
Obrigado por falar comigo, Thalias, Surgida-na-Provação da Mitth. E cuide
do seu comandante. Eu não posso ajudar, mas sinto que ele detém a chave
para o futuro da Ascendência, seja esse futuro triunfo ou a destruição final.
— Eu vou cuidar dele, — Thalias prometeu. — Com a minha própria
vida ou morte, vou cuidar dele.

O sol já havia se posto, mas ainda havia um brilho no céu a oeste quando
Thalias finalmente emergiu do caminho. Thurfian claramente estivera
observando e, enquanto caminhava em direção à mansão, ele apareceu pela
porta e a indicou um vagão de túnel que esperava perto do mapa em
mosaico.
— Mudança de planos, — ele chamou quando ela chegou ao alcance da
voz. — Preciso voltar à Sindicura, e o Patriarca disse que eu deveria levar
você comigo.
— Há algum problema? — Thalias perguntou.
— Nenhum que eu saiba, — disse Thurfian. — Mas a Almirante Ar'alani
enviou uma mensagem pedindo que você retornasse a Vigilante o mais
rápido possível. — Ele deu a ela um olhar suspeito. — Também observei
que, enquanto estava convenientemente distraído, Thrawn conseguiu
escapar.
— Essa certamente não era a minha intenção, — disse Thalias, sabendo
muito bem que não o estava enganando nem um pouco. — Mas já que você
mencionou as Provações, quando eu saberei se eu passei neles?
— Você pensa muito como uma colegial, — respondeu Thurfian
amargamente. — As Provações não são um ensaio para ser corrigido e
devolvido após a aula. — O lábio dele torceu. — Sim, você passou. Você
agora é uma Surgida-na-Provação da Mitth. Parabéns. Entre.
— Obrigada, — Thalias murmurou.
Ela se sentou de lado em seu assento enquanto eles saíam, observando a
mansão, a montanha e o domicílio desaparecendo na distância atrás deles,
até que a parede do túnel a bloqueou abruptamente da sua vista. Nunca
sonhou que realmente encontraria o Patriarca da sua família adotada, muito
menos que teria uma longa e séria conversa só com ele. Ela manteria aquele
encontro, e as suas promessas pra ele, trancadas em seu coração.
E mesmo quando um novo capítulo da sua vida estava começando, no
entanto agora uma era na vida da família Mitth chegava ao fim.
Certa vez, foi dito, que a Marcha do Silêncio no Salão de Convocação tinha
sido usada pelos líderes das Famílias Regentes para providenciar a
censura, prisão ou execução dos seus inimigos. A sua construção e
acústica eram tais que uma conversa poderia realisticamente conter não
mais do que quatro ou cinco pessoas, sem que as pessoas no limite
externo fossem capazes de ouvir o que estava sendo dito no centro.
Mas isso acontecera há milhares de anos. Agora, com o esclarecimento
que veio da maturidade política, a Marcha havia se tornado um ponto de
encontro para Porta-vozes e síndicos que desejavam discutir questões
políticas sem que um deles tivesse que mostrar a fraqueza inerente ao se
reunir no escritório de outro.
Enquanto o Conselheiro Thurfian observava o Conselheiro Zistalmu se
aproximando do outro lado da Marcha, ele se perguntou se a Irizi
apreciaria a ironia da proposta que estava prestes a apresentar.
O caminho de Zistalmu foi por necessidade um tanto sinuoso enquanto
cuidadosamente contornava os outros grupos de conversação a distâncias
calculadas para evitar escuta não intencional. Finalmente, alcançou
Thurfian e deu um passo para o lado dele. 
— Aristocrata Thurfian, — ele disse, assentindo.
— Aristocrata Zistalmu, — Thurfian retribuiu a saudação. — Deixe-me ir
direto ao ponto. Entendo que a Irizi abordou o Comandante Sênior
Mitth’raw’nuru sobre ele se separar da Mitth e se juntar à sua família.
Um lampejo de surpresa e suspeita tocou a expressão geralmente
ilegível de Zistalmu.
— Eu tive a impressão de que tais ofertas eram confidenciais até e a
menos que fossem finalizadas.
— Foi por acaso que ouvi, — explicou Thurfian. — Também entendo que
recusou a sua oferta.
— Não oficialmente, — corrigiu Zistalmu. — A oferta permanece aberta.
— Não, ele a recusou, — disse Thurfian. — Você viu os registros de
Thrawn. Ele não hesita quando vê uma vantagem tática. Se ele ainda não
aceitou até agora, a resposta é não.
— Possivelmente. — Zistalmu olhou pra ele. — Suponho que você não me
convidou para vir aqui simplesmente para se gabar da nossa tentativa
fracassada.
— De jeito nenhum, — disse Thurfian. — Eu convidei você aqui para ver se
você tinha algum interesse em derrubá-lo.
A expressão ilegível manteve-se firme desta vez. Mas Thurfian percebeu
que estava bem perto.
— Eu não entendo.
— É bastante simples, — disse Thurfian. Zistalmu poderia causar imensos
problemas pra ele, ele sabia, se repetisse qualquer uma dessas coisas para
um dos Conselheiros ou síndicos da Mitth. Mas Thurfian tinha uma boa
noção dos objetivos e da política de Zistalmu e tinha certeza de que isso
não aconteceria. — Também vi o registro de Thrawn. Ele tem potencial para
fazer grandes coisas a serviço da frota; mas também tem um potencial
igual de trazer ruína para a Mitth e, possivelmente, para toda a
Ascendência.
Zistalmu o favoreceu com um sorriso zombeteiro.
— Levar ruína à Mitth não parece tão ruim. — O sorriso desapareceu. —
Mas a Ascendência é outra questão.
— Então você concorda comigo?
— Não sei como você deu esse salto a partir de um simples comentário a
favor da Ascendência, — disse Zistalmu. — Mas, se estivermos sendo
honestos... sim, vejo o mesmo potencial tanto para glória quanto para o
desastre.
— Embora o resto da Irizi aparentemente não veja isso.
Zistalmu acenou com a mão.
— A oferta de recrutamento foi a tentativa deles de roubar Thrawn da
Mitth. Duvido que algum deles se importou em olhar profundamente no
registro dele para ver o que você e eu estamos vendo. Então, o que
exatamente você está propondo?
— Nesse ponto, nada além de vigilância, — respondeu Thurfian, sentindo
uma ligeira diminuição da tensão. — Isso deve ser fácil de fazer, visto que
as nossas duas famílias já tinham nos designado para cuidar dos assuntos
militares. Nós simplesmente continuamos com esse procedimento, apenas
com o objetivo de coordenar a nossa resposta se virmos algo perigoso em
andamento.
— Não vai ser fácil, — Zistalmu avisou, os seus olhos se estreitaram em
pensamento. — Por alguma razão, parece ter feito aliados ferrenhos do
General Ba’kif e da Comodora Ar’alani. Essas são pessoas poderosas e
influentes.
— Concordo, — disse Thurfian. — Provavelmente Ba’kif é intocável, mas
Ar’alani já foi da Irizi. Ela ainda poderia ser receptiva à pressão.
— Duvido, — disse Zistalmu amargamente. — Falei com ela uma ou duas
vezes desde a promoção dela, e está muito empenhada em manter a sua
nova situação de não familiar.
— Então nos concentramos em Thrawn, — disse Thurfian. — E, talvez, em
alguns dos seus aliados menos graduados.
— Você saberia mais sobre isso do que eu, — disse Zistalmu. — Muito
bem. Vamos observar, esperar e ver. — Ele olhou ao redor. — E, claro, nós
não falaremos sobre isso com ninguém.
— Com certeza, — concordou Thurfian. — Obrigado, Aristocrata. Com
sorte, nós nunca seremos chamados a agir. Mas e se formos...?
— Então nós agimos. — Zistalmu gesticulou em torno do corredor. —
Espero que tenha notado a ironia da nossa discussão, dada a famosa
história da Marcha do Silêncio.
— Sim, — disse Thurfian. — Voltaremos a nos falar, Aristocrata.
— Certamente nós vamos. — Com um aceno de cabeça, Zistalmu se virou
e se afastou na direção do seu escritório.
E, quando Thurfian se virou na outra direção, um pensamento tardio lhe
ocorreu. A história da Marcha fala de alguns dos Aristocratas sendo
acusados por crimes ocasionalmente tão sombrios como traição. A
questão era se o Thrawn seria objeto de qualquer acusação futura deste
tipo, ou se seria Thurfian e Zistalmu.
Só o tempo poderia dizer.
T hrawn e Che’ri estavam ausentes há quase cinco semanas e, a cada dia
que passava, Thalias sentia a sua alma morrer um pouco mais. Sabia que
deveria ter estado lá com eles, enfrentando os mesmos perigos que estavam
enfrentando. O fato de que a sua artimanha da Provação tirou Thurfian do
caminho, não contava realmente como sendo útil para a missão deles.
A ordem do Patriarca para vigiar Thrawn apenas acrescentou aquela
torção extra da facada ao seu sentimento de culpa.
Ela, portanto, sentiu uma enorme sensação de alívio quando Ar'alani
finalmente ligou para informá-la de que a nave de reconhecimento havia
entrado no sistema Csilla, mas que estava se mantendo longe da capital por
enquanto e que uma nave estava a caminho para trazer Thalias para a
Vigilante.
Descobriu-se que o retorno silencioso e sem aviso dos viajantes foi
apenas a primeira das surpresas.
— Isso pode mudar tudo, — disse Ar’alani.
Thalias assentiu com a cabeça, pensamentos e possibilidades girando na
sua mente enquanto olhava para o questis dela e os detalhes do escudo de
energia da República que Thrawn e Che'ri trouxeram de volta com eles. Em
um lugar tranquilo no fundo da sua mente, se encontrou mais surpresa com
o fato de Thrawn e Ar'alani confiarem nela o suficiente para compartilhar o
segredo deles.
Mas então se lembrou que Che'ri sabia de tudo também, e as sky-walkers
e as suas cuidadoras passavam muito tempo juntas. Os dois oficiais
provavelmente haviam decidido que Thalias poderia muito bem ouvir toda
a história antes, em vez de ouvir aos poucos a história de uma criança de
nove anos.
— Isso está a anos-luz além das barreiras eletrostáticas que temos usado,
— continuou Ar’alani. — Teremos que repensar as nossas táticas, nossa
gama de frota, todo o equilíbrio de poder. Tudo.
— Mas a nossa vantagem é apenas temporária, — advertiu Thrawn. —
Mesmo se pudermos fazer a engenharia reversa daquele que trouxemos...
— Nós podemos, — insistiu Ar’alani. — Vamos fazer isso.
— Mesmo se nós pudermos, — continuou Thrawn, — nenhuma
tecnologia permanece exclusiva por muito tempo. Assim que for conhecida
a sua existência, outros desenvolverão a sua própria versão. Ou
simplesmente vão roubá-la.
— Não de nós, — assegurou Ar’alani, torcendo os lábios. — Mas
conseguir um da República deve ser bastante fácil. — Ela bateu no questis
pensativamente. — Porém a verdadeira questão é por que Yiv ainda não
recebeu algo assim. Você disse que havia algum grupo de alienígenas
envolvido com os Separatistas, não disse?
— Sim, mas não há motivo para pensar que estão necessariamente
associados aos Nikardun, — apontou Thrawn. — Mesmo que estejam,
podem ter as mesmas preocupações que nós. Se mostrarem ao Caos que
esse escudo existe, a Ascendência e todos os outros logo terão um.
— Então, eles estão pensando em usar isso como uma surpresa em
algum lugar no futuro?
— Assim como nós, — acrescentou Thrawn. — Mas, ao contrário deles,
não podemos esperar. Temos que usá-lo agora, e contra Yiv, antes que saiba
que nós o temos.
— Embora ele já pode saber, — advertiu Ar’alani. — Parece que você e
esse General Skywalker fizeram uma bagunça bem barulhenta lá. Ela
balançou a cabeça. — Skywalker. Coincidência bizarra.
— Entendo que isto não seja um nome incomum em partes do Espaço
Menor, ponderou Thrawn. — Mas você está absolutamente correta. Não há
como os incidentes em Batuu e Mokivj ficarem encobertos por muito
tempo.
Thalias estremeceu. Batalhas, interrogatórios, destruição em larga escala
em escala planetária. Incidentes.
— Tudo bem, — concordou Ar’alani, deixando o questis de lado. —
Você obviamente tem um plano. Vamos ouvi-lo.
Thrawn fez uma pausa, como se reunisse os seus pensamentos, e Thalias
aproveitou o momento para dar a Che'ri um olhar furtivo. A menina a
cumprimentou primeiro com abraços e lágrimas, alguns de alegria e outros
de simples tensão liberada. Nesse sentido, ainda era muito a garotinha que
havia deixado a Ascendência para esta aventura.
Mas quando Thalias a olhava agora, podia ver que a jornada havia
acrescentado mais do que algumas semanas de idade a ela. Não exatamente
no sentido de envelhecimento, com o estresse ou o peso extra que poderia
ter sido imposto a ela por semanas de perigo, medo ou exaustão. Em vez
disso, era como se uma nova camada de maturidade e confiança se
instalasse no rosto da criança.
— Em primeiro lugar, nós sabemos que Yiv não está pronto para
enfrentar a Ascendência, — apontou Thrawn. — Isso ficou mais claro
depois da nossa primeira visita ao mundo coração de Lioaoin. Cercado por
seus aliados, enfrentando um inimigo que queria muito capturar ou matar...
— Você? — Ar’alani sugeriu.
— Eu, — confirmou Thrawn. — Mesmo assim, ele deteve o fogo e nos
deixou partir em paz.
— Pode ter sido simplesmente uma questão de tempo e lugar, — disse
Ar’alani. — Mas vamos supor que você esteja certo. Continue.
— Também sabemos que Yiv ainda está trabalhando para colocar os
Vaks sob o seu controle, — disse Thrawn. — Essa cautela é evidenciada
pelo fato de que, novamente com as forças Vak presumivelmente
disponíveis pra ele, trouxe naves de guerra Lioaoin para lidar com a luta
quando você veio para extrair Thalias e eu de Primea
— Concordo, — aquiesceu Ar’alani. — E dada a sua leitura da paixão
de Vak por explorar todas as linhas de pensamento, pode ser mais difícil do
que esperava fazer com que toda a liderança, sem falar em todo o planeta, o
seguisse.
— Exatamente, — concordou Thrawn. — E aí está a nossa
oportunidade. Se pudermos atrair alguns dos Vaks para o nosso lado e
mostrar aos outros que as intenções de Yiv não são elevá-los com prestígio,
mas apenas usá-los para lutar e morrer nas batalhas dele, podemos abrir
uma barreira entre eles. Se isso não interromper o plano dele
completamente, deve pelo menos nos dar tempo suficiente para convencer a
Sindicura de que os Nikardun são uma ameaça que precisa ser enfrentada.
— Com licença, — Che'ri falou hesitantemente, levantando a mão pela
metade.
Thrawn e Ar’alani olharam para ela.
— Sim? — indagou Thrawn a convidando a prosseguir.
— E se ele simplesmente deixar Primea e for para outro lugar? — a
garota perguntou. — Há muitos outros alienígenas na área.
— Ele poderia fazer isso, sim, — respondeu Thrawn. — Mas dedicou
muito tempo e esforço para conquistar os Vaks. Eu não acho que vai desistir
sem uma persuasão séria.
— Não são apenas os Vaks em si, contudo, — acrescentou Ar’alani. —
Primea é um centro de diplomacia e comércio para toda aquela região, um
lugar onde pessoas de todas as outras espécies alienígenas que você
mencionou vão para conversar e fazer negócios. Se Yiv conseguir que os
líderes Vak o endossem, ou pelo menos deixá-lo ficar por perto e encontrar
visitantes, ele terá vetores em todas essas outras nações.
— Nós já vimos que ele gosta de uma mistura de conquista pela força e
conquista pela persuasão, — explicou Thrawn. — Até mesmo o seu título,
General Yiv, o Benevolente, tenta ter as duas coisas. Não, acho que se
tentarmos tirá-lo de Primea, escolherá ficar e lutar.
— Ou trazer a luta até nós, — advertiu Ar’alani. — Mesmo que este não
seja o momento da preferência dele, pode decidir que precisa atingir a
Ascendência.
— Ele não fará isso diretamente, — disse Thrawn. — É mais provável
que ele envie os Paataatus contra nós novamente.
— E assim é melhor como?
— Melhor pra ele porque não desperdiça as suas próprias forças, —
respondeu Thrawn. — Melhor pra nós porque já sabemos como vencê-los.
— Bem, você sabe como vencê-los, — murmurou Ar’alani. — Às vezes,
não tenho tanta certeza sobre ninguém.
— Nós podemos vencê-los, — Thrawn garantiu a ela. — Mas não, a
batalha crucial será em Primea. Se pudermos demonstrar a fraqueza de Yiv
e a sua traição na frente dos Vaks, eles podem reconsiderar a escolha de
aliados deles.
— Parece uma hipótese remota, — disse Ar’alani. — Mas, salvo
qualquer tipo de intervenção direta, acho que é tudo o que temos. Então,
como faremos isso?
Thrawn pareceu se preparar.
— Nós convidamos os Vaks para nos ajudar.
E enquanto ele traçava o seu plano, Thalias descobriu que ainda tinha
mais uma surpresa a oferecer.

— Você desaprova, — disse Thrawn.


Ar'alani olhou para ele, a sua cabeça ainda girando com a ideia que ele
apresentou a ela e às duas mulheres mais jovens.
— Claro que desaprovo, — ela disse. — A coisa toda é totalmente ilegal
em pelo menos três direções. Sem mencionar que é loucura.
— Concordo, — considerou Thrawn. — A questão é: você está disposta
a continuar com isso?
— Tenho escolha?
— Claro, — respondeu Thrawn. — Se você não quer fazer parte disso,
diga agora, e faremos isso sozinhos.
— Como? — Ar’alani questionou. — Se Yiv se comportar da maneira
que espera, vocês três vão acabar sozinhos contra toda a força dele em
Primea.
— Os Vaks virão em nosso auxílio.
— Se a mensagem chegar a eles e eles não decidirem ignorá-la.
— Há claramente linhas de pensamento de desconfiança em relação a
Yiv, — disse Thrawn. — A mensagem oferecerá outra linha de pensamento,
que espero que a cultura deles exija que eles pelo menos considerem. E se li
o Yiv corretamente, logo deve se encontrar em problemas mais graves do
que espera.
— Se você o leu corretamente, — disse Ar’alani, apoiando-se na palavra
crítica. — Vamos, Thrawn, isso é loucura. Até mesmo pra você.
— Você vê uma alternativa? — Thrawn rebateu. — Não podemos
simplesmente sentar e deixar os Nikardun se aproximarem ao nosso redor,
reunindo aliados e aguardando o momento até que o Caos se feche ao nosso
redor e estejamos sozinhos contra eles. Yiv tem que ser interrompido, e esta
é a melhor hora e lugar para agirmos.
— Novamente, e se você estiver errado? — Perguntou Ar’alani. — E se
tudo o que você está lendo em Yiv e nos Vaks estiver errado? Você já se
enganou antes, você sabe.
Não foi a coisa mais diplomática que ela poderia ter dito, ela percebeu, e
imediatamente se arrependeu disso quando um lampejo da velha dor cruzou
o rosto dele.
— Sinto muito, — ela se desculpou.
— Não, você está certa, — ele disse. — O meu fracasso com os
Garwians... mas isso é diferente. Isso é guerra, não política.
— Que são apenas os dois lados da mesma moeda, — disse Ar’alani. —
Você nunca entendeu ou foi capaz de lidar com isso.
— Eu sei, — disse Thrawn. — É por isso que precisamos virar esta
moeda em particular para o lado da guerra.
Ar’alani suspirou. Ele tinha errado uma vez, espetacularmente errado, e
isso custou muito a ele. Mas não adiantava discutir sobre isso.
Além disso, ele estava certo. Yiv e os Nikardun tinham que ser
desafiados, e fazer isso em um sistema no qual o inimigo queria manter era
a melhor chance deles.
— Não tenho certeza se os técnicos já terminaram com o caça Vak que
trouxemos de Primea, mas Ba’kif provavelmente pode convencer Ja’fosk a
nos deixar devolvê-lo. Você tem certeza de que Che’ri pode pilotá-lo?
— Com certeza absoluta, — garantiu Thrawn. — Ela provou ser muito
hábil em pilotar a nossa nave de reconhecimento, e o caça tem parâmetros
semelhantes. Só vou precisar renomear alguns dos controles e treiná-la em
um ou dois exercícios e estará pronta.
— Suponho que você não vai deixar Ba’kif ou Ja’fosk saberem dessa
parte do plano?
— Eu não sou tão louco, — respondeu Thrawn com um pequeno sorriso.
— Mas eles vão descobrir eventualmente, — disse Ar’alani. — Você já
pensou no que eles farão com você depois?
Um músculo na garganta de Thrawn se contraiu.
— Se eliminamos Yiv como uma ameaça, não importa o que façam
comigo. — Ele inclinou a cabeça. — A minha verdadeira preocupação é
com você. O que vão fazer com você quando tudo for descoberto.
— Eu sou uma almirante, — Ar’alani o lembrou. — Não é tão fácil para
se livrarem de mim.
— Eles ainda vão tentar.
— Apenas se falharmos. Se tivermos sucesso... Ela encolheu os ombros.
— Mas o futuro está fora das nossas mãos. Vamos continuar com o
presente. Então. A primeira tarefa: recuperar o caça Vak dos técnicos e
prepará-lo para voar. A segunda tarefa: ensinar Che’ri como voar nele. A
terceira tarefa: iniciar a customização que você deseja na nave. Quarta
tarefa: elaborar a mensagem que você deseja entregar aos Vaks. Quinta
tarefa: preparar o escudo da República para o nosso ataque surpresa. Sexta
tarefa: deixar a minha frota pronta para partir.
— Essa pode ser a sétima, — interveio Thrawn. — A sexta tarefa é
provavelmente conseguir que Ba’kif e Ja’fosk assinem isso.
— Estava pensando em esperar até depois que Che’ri e Thalias tivessem
partido, — disse Ar’alani. — Não vai ser uma conversa agradável e será
mais seguro se for tarde demais para chamar de volta o caça. Oitava tarefa...
— Ela se preparou. — Esperar que tudo dê certo.
— E espero que a minha avaliação do General Yiv esteja correta.
— Certo, — disse Ar’alani. — Vamos realmente esperar isso.

— Eles estão nos chamando, — anunciou Che'ri. — Essa luz, bem aí.
— Eu vi, — disse Thalias, a sua cabeça latejando com uma tensão que
não tinha nada a ver com o peso extra da crosta dura da maquiagem, mais
uma vez criando as cristas de marcação de reféns e planaltos rasos no seu
rosto. Com os Nikardun e os Vaks aqui, todo o sistema Primea era território
inimigo.
E ela e Che'ri estavam sozinhas no meio disso.
Olhou pra garota, inclinando-se um pouco sobre o painel de controle do
caça, os olhos delas se estreitavam em concentração. Pelo menos metade da
expressão dela estava coberta pela mesma maquiagem que Thalias estava
usando, mas não parecia haver qualquer tensão ali. Ela estava sentindo
algum dos escrúpulos de Thalias?
— Você está terrivelmente calma, — Thalias disse.
— E eu não deveria estar? — Che'ri perguntou, lançando um olhar
perplexo para Thalias. — Está tudo sob controle, certo?
— Bem ... claro, eu acho que sim, — Thalias respondeu. — Eu só…
— Você confia nele, não é? — Che'ri pressionou.
— Sim, acho que sim.
— Porque nós duas o vimos fazer coisas incríveis, — Che’ri continuou,
ainda carrancuda. — Pegando aquele gerador de escudo, tirando você de
Primea, batalhas e outras coisas. Você também viu tudo isso, certo?
— Certo, — Thalias concordou. — Só que dessa vez…
— Não há diferença, realmente, — interrompeu Che'ri. — Está tudo sob
controle.
— Claro que há uma diferença. — Discordou Thalias. — Todas as outras
vezes, Thrawn estava aqui conosco. Se algo desse errado, ele poderia se
adaptar ou bolar um novo plano. — Ela acenou com a mão em torno do
painel de comando apertado. — Aqui... Che’ri, nós estamos por nossa
conta.
— Mas ele nos deu as nossas instruções, — rebateu Che'ri. — Sabemos
o que devemos fazer.
— Eu sei disso, — disse Thalias. — Só estou dizendo que não é a
mesma coisa.
— Oh, — Che'ri disse, a parte do seu rosto que Thalias podia ver
clareando de repente. — Não é que você não confie em Thrawn. Você não
confia em si mesma.
— Claro que não, — Thalias disse, ouvindo o tom de amargura em sua
voz. Ela estava ciente dessa sensação nebulosa desde que Thrawn propôs
este plano pela primeira vez. Mas até agora ela nunca ousou pensar nessas
palavras. Agora, com elas a céu aberto, ela sentiu um peso repentino de
medo, dúvida e inadequação. — Por que eu deveria? O que eu já fiz para
fazer com que ele... para fazer qualquer um, pensar que poderia confiar em
mim com algo tão grande?
— Bem, você está aqui, — respondeu Che'ri. — Isso deve significar que
ele confia em você.
— Eu perguntei por um motivo.
— Nós nem sempre temos motivos, — disse Che'ri com seriedade. — O
que quer que ele veja em você, era tudo o que ele precisava. Ele confia em
você. — Ela fez uma pausa. — Eu também, se isso ajuda em alguma coisa.
Thalias respirou fundo, olhando nos olhos de Che'ri. A maturidade
desenvolvida que ela vira na garota ao voltar para bordo da Vigilante ainda
estava lá, e por um momento Thalias notou a ironia de uma criança de nove
anos confortando um adulto.
— Sabe, quando eu tinha a sua idade, lembro-me de ter pavor do meu
futuro, — ela disse. — Era tudo tão grande e desconhecido, e eu não fazia
ideia de qual seria o meu lugar nele.
— Eu também costumava me sentir assim, — disse Che'ri. — Agora não
mais.
— O que por si só já é uma loucura, — disse Thalias. — O futuro que
você está enfrentando, aliás, o futuro que você e eu enfrentamos hoje, é
muito menos seguro do que qualquer coisa que poderia ter sonhado.
— Você acabou de dizer isso, — disse Che'ri. — Sonhos. Eu nunca
soube com o que sonhar. Quero dizer, era só uma sky-walker. Não sabia se
havia algo mais que eu poderia fazer.
Ela apontou para o painel de controle à sua frente.
— Mas então Thrawn me ensinou a voar. Em apenas algumas semanas,
ele me ensinou a voar. — Ela sorriu, com o seu rosto todo radiante de
felicidade e realização. — Se u posso fazer isso, posso fazer qualquer coisa.
Você entende agora?
— Sim, — concordou Thalias. — E eu estou feliz por você. — Ela
respirou fundo novamente, desejando que a tensão fosse embora. Um
guerreiro talentoso como Thrawn; uma piloto talentosa como Che’ri. Com
eles confiando nela, como isso poderia dar errado? — Você disse que os
Vaks nos saudaram. Nós precisamos enviar uma mensagem de volta?
— Quando você estiver pronta, — Che’ri respondeu, apontando para o
microfone. — O seu discurso está pronto?
— Tenho o discurso de Thrawn pronto, — disse Thalias, forçando um
pequeno sorriso. — É bom o bastante?
— É bom o bastante. — Che'ri tocou em um botão. — Você está
conectada.
Thalias se preparou. Era agora.
— Saudações ao povo de Primea, — ela disse em Minnisiat. — Eu sou
Thalias, companheira do Capitão Sênior Thrawn, da Ascendência Chiss. Na
fuga dele do seu mundo, há algum tempo, ele inadvertidamente levou esta
nave de caça com ele. Ela foi reparada e a minha piloto e eu estamos aqui
para devolvê-la.
— Você roubou do Combinado Vak, — uma voz áspera veio no mesmo
idioma. — O que a faz pensar que não será punida por seu crime?
— Eu imploraria ao Combinado para aceitar a minha visita e o retorno
da espaçonave como um gesto de boa vontade, — respondeu Thalias. —
Tenho certeza de que posso explicar a partir da linha de pensamento de
Thrawn as razões por trás das ações dele.
Houve uma pausa.
— Nunca há um motivo válido para um roubo, — disse o Vak. Mas aos
ouvidos de Thalias ele parecia um pouco incerto.
Exatamente como Thrawn previra que seria.
— Eu voltaria a implorar a sua indulgência, — ela disse. — Trago uma
explicação escrita e uma abertura de paz e reconciliação do capitão sênior.
Você me permitirá pousar e levá-las ao seu líder militar?
Outra pausa.
— Você pode pousar, — disse o Vak. — Eu ativei um farol de navegação
para guiá-la.
— Che'ri? — Thalias murmurou.
A garota assentiu com a cabeça.
— Já o vi. Mudando de curso agora.
— Obrigada, — agradeceu Thalias. — Vou levar o documento comigo.
Recebi a ordem de colocá-lo diretamente nas mãos do seu líder militar. Eu
imploro que você me permita cumprir o meu dever.
— Pouse primeiro, — disse o Vak. — Depois que nós tivermos
examinado a nave e avaliarmos os danos, nós veremos sobre o seu
documento.
— Obrigada, — agradeceu Thalias. — Estaremos ansiosas para vê-lo em
breve.
Houve um clique quando o Vak desligou a transmissão.
— Até agora, tudo bem, — Thalias disse, tentando soar casual.
— Vai funcionar, — assegurou-lhe Che'ri enquanto o caça descia em
direção às luzes de uma cidade bem abaixo. — Thrawn conta com isso. Nós
temos que fazer isso.
Thalias assentiu com a cabeça. Ela ainda não tinha certeza sobre si
mesma, mas ela estava confiante nas habilidades de Thrawn.
Porque, realmente, quando ele se enganou?
Isso era uma grande honra, Ar’alani tinha se assegurado, quando um
governo estrangeiro convidava um oficial militar Chiss para viajar ao
mundo deles. O fato de que o chefe de segurança Frangelic ter dito
especificamente que o Ruleri estaria presente acrescentou uma camada
ainda mais profunda à honra.
E então, enquanto ela e Thrawn saíam da nave e caminhavam até o
aglomerado de Garwians à espera, esforçou-se ao máximo para não ser
dominada pela mistura de cem odores estranhos girando em torno dela
como uma névoa matinal. Isso era espesso o suficiente, e intenso o
suficiente, que quase se virou e voltou para a nave e a segurança olfativa
da Destrama.
Para a sua surpresa, porém, quando a cerimônia de saudação terminou
e ela e Thrawn foram conduzidos a um carro terrestre que os esperava, o
seu nariz e os seus pulmões já estavam começando a se adaptar. Enquanto
se dirigiam a cidade em direção ao centro de segurança planetário, os
cheiros diminuíram ainda mais, e quando o carro parou e Frangelic os
conduziu para a rua, o aroma havia se tornado neutro, chegando até
mesmo a algo agradável.
Embora fosse possível que a mistura simplesmente tivesse mudado ao
longo do caminho. Certamente, o grande pátio circular que se estendia
diante deles, lotado de pedestres, tinha muitos pontos onde nuvens de
fumaça marcavam as cozinhas de lareira, e ela sempre gostou desses
aromas.
— Este não pode ser o centro de segurança, — ela comentou enquanto
Frangelic fechava a porta do carro atrás deles.
— O centro está lá, — ele disse, apontando para um prédio de pedra
branca do outro lado do pátio. — Mas como você pode ver, os veículos
teriam dificuldade para manobrar no Mercado dos Criadores no fim de
semana.
— Nós não poderíamos ter voado? — Perguntou Thrawn.
— Poderíamos, — Frangelic concordou. — Mas o Mercado dos Criadores é
uma das melhores representações da cultura Garwiana, e esperava
compartilhar isso com vocês.
Thrawn olhou para Ar’alani.
— Comodora?
Ar’alani encolheu os ombros, farejando quando uma mudança na brisa
trouxe outro sabor na fumaça. Os banquetes de feriados à lareira tinham
sido uma das refeições favoritas da sua família quando estava crescendo.
— Por que não? — ela respondeu. — Nos guie, Chefe de Segurança.
— Obrigado. Por aqui.
Frangelic partiu em direção à beira do pátio. Estava lotado de pessoas,
como Ar’alani já havia notado, mas aquelas em volta rapidamente notaram
os rostos estranhos e saíram do caminho deles. Alguns deles se curvaram
em direção a Frangelic quando os recém-chegados se aproximaram, e o
primeiro pensamento de Ar’alani foi que o gesto era de subserviência ou
mesmo medo ao ver o uniforme dele. Mas Frangelic invariavelmente
curvava-se de volta e ela acabou concluindo que o gesto era simplesmente
uma forma de respeito entre os cidadãos.
— Você pode ver que as cabines são dispostas para fora em círculos
concêntricos, — explicou Frangelic enquanto se aproximavam do grupo
mais externo. — As mais externas são reservadas para quem precisa de
mais espaço para as suas mercadorias e equipamentos, enquanto as
menores, em direção ao centro, são para aquelas com mostradores mais
compactos.
— Você disse criadores, — disse Thrawn. — O que eles criam?
— Qualquer coisa que você quiser, — respondeu Frangelic. — Há um
homem aqui que faz utensílios de cozinha exclusivos para pessoas cuja
paixão é cozinhar. Ali está uma mulher que cria fantasias e trajes históricos
para festas de recordação. Você pode sentir os aromas das fogueiras para
cozinhar para aqueles que desejam uma preparação de comida específica
ou uma camada única de tempero ou molho.
— Parece bastante ineficiente, — disse Ar’alani.
— Oh, nós temos os mesmos itens produzidos em massa como em todos
os outros mundos para o uso diário, — Frangelic garantiu a ela. — Estes são
para quem quer o incomum e o único. Se você pode definir ou descrever o
que deseja, alguém aqui fará isso para você. Aqui, ou em milhares de
outros Mercados de Criadores por toda a Unidade.
— Você falou de festas de recordação, — disse Thrawn. — O que são estas
festas?
— Ah, — Frangelic disse, mudando de direção. — Esse é, creio eu, um
aspecto cultural em que a Unidade se destaca entre todos os outros povos.
Aqueles que frequentam essas festas usam roupas elaboradas, utilizando
características de roupas ao longo da história Garwiana, tecidas e fundidas
de maneiras sutis e únicas. O objetivo de cada participante é criar a fusão
mais bonita e complexa, enquanto ao mesmo tempo detecta e identifica
as características nas roupas dos outros participantes. Deixe-me te mostrar.
Ele os guiou até uma mesa comprida e uma mulher trabalhando em
uma máquina de costura de aparência antiga. De cada lado dela havia
pilhas organizadas de tecido, linha e instrumentos de costura, enquanto as
prateleiras atrás dela continham dezenas de amostras de tecido, couro,
seda e alguns materiais que Ar’alani não conseguiu identificar.
— Esta é Dama Mimott, uma das nossas mestras estilistas, — apresentou
Frangelic, cumprimentando-a com a cabeça. — Dama Mimott, os nossos
convidados gostariam de saber sobre o seu trabalho.
A mulher olhou para Ar’alani e Thrawn de uma forma que Ar’alani não
pôde deixar de identificar como suspeita.
— Você não está por acaso participando da festa dos Kimbples na na
próxima metade da primavera, não é? — ela perguntou.
— Sério, Mimott, — Frangelic censurou, com um tom de repreensão em
seu tom. — Você não está sugerindo que os nossos convidados de honra
trapaceariam, está?
Por um momento, a mulher apenas olhou pra ele. Então a mandíbula
dela se abriu em um sorriso.
— Os seus convidados de honra, certamente não, — ela disse. — Você,
por outro lado... — Ela inclinou a cabeça para o lado, as pontas dos dedos
tocando a bochecha dela.
— Garanto a você, Mimott, se por acaso for convidado para a festa dos
Kimbples, eu recusarei gentilmente. — Ele apontou dois dedos para o pano
em que ela estava trabalhando. — Talvez você nos explique a sua arte.
— Com prazer. — A mulher estendeu o pano. — Este tecido é obviamente
moderno, mas tem o mesmo design e textura daquele usado na décima
segunda era. O estilo de costura é do século XIV, a coloração de
tingimento particular foi usada pela primeira vez no século XVII e o estilo
de borda é do XVIII. — Ela tocou na máquina. — A máquina em si é uma
antiguidade restaurada do século XV.
— Tudo isso para uma única peça de roupa? — Perguntou Ar’alani.
— Tudo isso apenas para a camada inferior, — Mimott corrigiu com outro
sorriso. — Haverá também duas camadas externas, além de uma
bandagem de ombro, luvas e um chapéu.
— E tudo para uma única festa, — disse Frangelic. — Embora a roupa que
faz mais sucesso em confundir os foliões seja exposta para ser admirada
por toda a cidade.
— Se uma roupa for projetada corretamente, também pode ser
facilmente transformada em outra roupa formal, — acrescentou Mimott. —
Às vezes até nas roupas do dia a dia. Você tem outras perguntas?
— Não, — respondeu Ar’alani. — Obrigada por nos mostrar o seu
trabalho. É muito impressionante.
— Estou honrada, — agradeceu Mimott. — Que o seu dia seja aquecido
com a luz do sol.
Frangelic gesticulou e eles se afastaram.
— O que você achou? — ele perguntou.
— Belo trabalho, — comentou Ar’alani. — A minha tia gostava de projetos
de costura ocasionais quando eu estava crescendo, mas nada tão
elaborado.
— Temos orgulho do nosso trabalho artesanal, — disse Frangelic. — Mas
vejo que o tempo está ficando curto. Talvez mais tarde possa mostrar a
você mais dos artesãos. — Ele acelerou o passo, a multidão novamente se
abrindo para deixá-los passar.
Thrawn aproximou-se do lado de Ar’alani.
— Algum problema? — ele perguntou baixinho.
— Um problema? — Ela balançou a cabeça. — Não. É que... Eu nunca vi
alienígenas como pessoas antes. Não como os Chiss são pessoas. Sempre
pensei neles como algo inferior, algo mais próximo, talvez, de animais
altamente inteligentes. Alguns amigáveis, alguns inofensivos, alguns
perigosos. — Olhou pra ele. — Suponho que você sempre os viu como são?
— Você quer dizer como pessoas? — Thrawn balançou a cabeça. — Na
verdade não. Eu vejo as pessoas, certamente. Mas as suas personalidades
raramente está no topo dos meus pensamentos.
— Então, como você os vê?
Seus olhos varreram a multidão, e Ar’alani pensou ter visto uma pitada
tanto de consideração quanto de tristeza no rosto dele.
— Como possíveis aliados. Possíveis inimigos.
— Recursos.


O grupo estava quase chegando ao centro de segurança planetário de
Solitair quando o barulho de alarmes de emergência de repente encheu o
ar sobre o Mercado dos Criadores.
— O que é isso? — Ar’alani gritou por cima do barulho.
— Solitair está sob ataque! — Frangelic estalou, saindo em uma corrida
mortal. — Rápido!
Os alarmes haviam sido silenciados no momento em que os três
alcançaram a sala de situação subterrânea embaixo do prédio.
— Chefe de Segurança Frangelic, se apresentando para as ordens, —
Frangelic gritou enquanto corriam em direção a um pequeno grupo de
Garwianos parados em frente a uma grande parede de exibição. Os três
Ruleri, observou Ar’alani, também estavam presentes, conversando juntos
de um lado para o outro, em um conjunto menor de monitores. As telas
eram, é claro, rotuladas com a escrita Garwiana, o que as tornava ilegíveis
para ela.
Mas não havia como errar o motivo do alarme. A tela principal mostrava
as duas naves de Lioaoin chegando em direção ao planeta. Mesmo
enquanto Ar’alani observava, alcançaram o alcance de tiro e a mais
próxima das plataformas de defesa em órbita de Solitair abriu fogo com
lasers e mísseis.
— Chefe de Segurança, — um dos oficiais cumprimentou Frangelic,
tenso, quando Ar’alani e os outros se aproximaram deles. De perto, ela
agora o reconhecia como um general que estivera em uma de suas
reuniões anteriores, embora não conseguisse lembrar o nome dele. —
Comodora Ar’alani; Comandante Sênior Thrawn. — Ele gesticulou para as
telas. — Como vocês podem ver, as conversas silenciosas que tínhamos
imaginado entre os nossos dois povos foram violentamente interrompidas.
— De fato, — Frangelic disse severamente.
— Nós temíamos que isso acontecesse, — continuou o general. — Com as
nossas forças fora defendendo os nossos cinco mundos externos, os Lioaoi
escolheram este momento para um ataque surpresa. Você nos ajudou uma
vez, Comodora Ar’alani. Você também pode nos ajudar a repelir essa nova
agressão?
Ar’alani balançou a cabeça, sentindo uma sensação de impotência. A
mulher lá em cima no Mercado dos Criadores, costurando diligentemente
as suas roupas históricas...
— Sinto muito, General, mas não podemos, — ela respondeu. — Por todo
o protocolo padrão, nós nem deveríamos estar na sua sala de situação.
— Vocês são nossos convidados e como convidados devem ser
protegidos, — disse o general. — Se os invasores conseguirem adentrar,
você poderá correr o mesmo perigo que os nossos próprios cidadãos
indefesos.
— Há pouca probabilidade disso, — Thrawn lhe assegurou. — As suas
plataformas de defesa devem ser mais do que adequadas para protegê-lo
de duas naves de guerra.
— E se houver mais aguardando à espreita? — Frangelic rebateu. —
Qualquer coisa que você puder nos dizer sobre os nossos atacantes pode
significar a diferença entre sobrevivência e destruição total. Por favor.
Por um momento, Thrawn observou as telas em silêncio. Ar’alani podia
ver os olhos dele indo e voltando: observando, avaliando, calculando. Se
houvesse algo mais lá, alguma fraqueza que os Garwianos pudessem
explorar, ele iria descobrir.
— Então? — o general solicitou.
— Eu vejo duas fraquezas adicionais, — respondeu Thrawn. — Mas a
Comodora Ar’alani está certa. Isso é algo de que a Ascendência deve se
afastar.
— Você nos ajudou uma vez, — disse Frangelic. — A situação aqui não é
ainda mais terrível?
Thrawn olhou para Ar’alani. E de volta ao general.
— Os Lioaoi têm certos pontos cegos táticos, — ele disse. — O primeiro...
— Só um minuto, — Ar’alani o interrompeu. Os oficiais Garwianos, todos
eles, estavam olhando para Thrawn. Nenhum estava observando os
monitores. Nenhum estava dirigindo as suas defesas.
Mas então, por que fariam isso? As naves Lioaoin estavam bem
afastadas da plataforma de defesa, sem avançar, o esforço deles
aparentemente sendo feito para se defenderem da barragem Garwiana.
— Por favor, — pediu Frangelic, voltando a sua atenção para Ar’alani. —
Por favor, não atrapalhe a sobrevivência de Garwian.
— É isso que estou fazendo? — Perguntou Ar’alani. Puxando o seu
comunicador, ela ligou para a Destrama.
Silêncio. Sem nenhuma resposta. Silêncio.
E agora todos os oficiais Garwianos estavam a olhando.
— Comandante Thrawn, por favor entre em contato com o Destrama, —
ela pediu. — Parece haver um problema com o meu comunicador.
— E há, — disse Thrawn, com a voz e o rosto repentinamente
endurecidos. Ele também ouviu o silêncio do seu comunicador. — General,
por gentileza levante a sua interferência
— Não há interferência, — disse Frangelic rapidamente. — Na nossa
profundidade...
— Por favor, tire o seu bloqueio, — repetiu Thrawn.
Nem a sua voz nem o seu rosto mudaram. Mesmo assim, um arrepio
repentino percorreu as costas de Ar’alani. Silenciosamente, o general se
virou e fez um gesto para um dos oficiais nos consoles. Este então tocou
em um par de interruptores...
— ...pedindo os termos para a rendição do Regime de Lioaoin, — uma
voz tensa veio do comunicador de Ar’alani. — Os Garwianos estão os
ignorando. Comodora, você pode me ouvir?
— Sim, Comandante, — disse Ar’alani. — Agora eu posso, de qualquer
maneira. Aguarde as ordens.
Ela silenciou o comunicador.
— Bom, — ela disse ao general, colocando o máximo de gelo que pôde
em sua voz. — Você afirma que está sendo invadido por piratas e nos leva a
dobrar os nossos protocolos para ajudar. Então, depois que os Lioaoi
perderem um número crítico de naves, você lança um ataque contra... o
quê? Um antigo rival? Um novo concorrente para contratos comerciais ou
de fabricação?
— Você fala como se os Lioaoi fossem inocentes, — disse o general altivo.
— De modo nenhum. Você se lembra de eu ter falado antes de nossos
cinco mundos externos? Antes eram seis. — A sua boca se abriu em um
sorriso. — Agora serão seis novamente.
— Ou possivelmente sete? — Perguntou Ar’alani.
— Possivelmente, — o general concordou. — Há um deles em que
estamos mais interessados.
Ele olhou para Thrawn.
— Mais informações sobre as fraquezas dos nossos inimigos teriam sido
úteis. Mas não importa. A sua ajuda anterior a esse respeito foi suficiente e
muito apreciada.
Thrawn sustentou o seu olhar por outro momento. Então,
deliberadamente, ele se voltou para Ar’alani.
— Comodora, peça permissão para ordenar a Destrama que abra fogo
nas plataformas de defesa Garwian.
Uma agitação desconfortável percorreu os alienígenas.
— Uma sugestão tentadora, Comandante, — disse Ar’alani. — Mas temo
que os protocolos proíbam tal ação. Por mais justificada que seja.
— General, os Lioaoi estão se separando, — gritou alguém.
— Convocados para defender os seus mundos, sem dúvida, — disse o
general. — Um gesto fútil, mas pelo menos não haverá dúvidas de qual de
nós ganhou este dia. — Ele inclinou a cabeça para Ar’alani. — Presumo que
você deseje partir o mais rápido possível?
— Oh, nós vamos partir, tudo bem, — respondeu Ar’alani. — E você deve
esperar com todas as suas forças que nunca mais voltemos. Porque se o
fizermos... vamos apenas dizer que as percepções do capitão Thrawn em
relação aos pontos cegos táticos não se limitam às do Lioaoi.
Ela deu um passo à frente e teve a pequena e inútil satisfação de ver o
general dar um passo apressado para trás.
— Lembrem-se disso. Todos vocês.
H
caça.
avia dez guardas esperando quando Thalias e Che'ri emergiram do

— Eu saúdo os guerreiros do Combinado Vak, — Thalias falou, dando


uma rápida olhada nos uniformes deles. Eles tinham um padrão semelhante
aos uniformes que vira na recepção diplomática que ela e Thrawn
compareceram, mas eram de natureza mais simples e mais utilitária. Não
era uma recepção formal então, estava mais para uma situação militar séria.
— Trago desculpas do Capitão Sênior Thrawn e ofereço uma recompensa
pelas ações dele.
— Você disse que tinha uma mensagem, — disse um dos soldados. —
Deixe-me ficar com ela.
— Fui instruída a entregá-la diretamente nas mãos do líder militar do
Combinado, — comunicou Thalias. — Fico feliz em esperar por essa
chegada ou em viajar para onde ele ou ela gostaria de me encontrar.
— Sem dúvida que você ficará, — disse o soldado. — Mas eu vou ficar
com ela, — Ele estendeu a sua mão, todas as cinco garras apontadas para
cima. — Entregue-a agora.
Thalias hesitou. Mas não havia nada que pudesse fazer. De qualquer
forma, Thrawn a avisou que isso provavelmente aconteceria. Puxando o
envelope, ela o entregou a ele.
— Presumo que os seus líderes vão querer nos questionar sobre as
circunstâncias que levaram a esta ocorrência infeliz, — ela disse enquanto
colocava o envelope em um bolso lateral da jaqueta dele. — Estou à sua
total disposição e conveniência.
— Isso não será necessário, — disse o soldado. — Nós temos um
navegador e uma nave esperando para levá-la de volta à Ascendência Chiss.
Ele chegou agora.
Thalias franziu a testa.
— Ninguém quer falar conosco?
O soldado não respondeu. Em vez disso, fez uma saudação de mão
aberta, gesticulou para os seus companheiros, e todo o grupo deles marchou
para fora da plataforma de desembarque e desapareceu por uma das portas.
— Nós ainda estamos no plano? — Perguntou Che'ri.
Thalias hesitou. Elas estavam, mas havia certas partes que Thrawn e
Ar’alani decidiram esconder da menina.
— Vamos descobrir, — ela disse evasivamente.
— Ah... Thalias da Ascendência Chiss, — disse uma voz alegre por trás
delas.
Thalias se virou, sentindo o seu estômago embrulhar quando ela viu a
criatura familiar caminhando em direção a elas, com um largo sorriso no
rosto.
— Você não vai se lembrar de mim, — ele disse, — Mas nós nos
conhecemos...
— Você é Qilori de Uandualon, — ela interrompeu. — Você estava com
o General Yiv na recepção.
— Ah... você se lembra, — disse Qilori. — Excelente. Venha comigo...
A nave para o nosso transporte está bem aqui.
Poucos minutos depois, estavam no compartimento de passageiros da
nave espacial, dirigindo-se pela atmosfera cada vez mais rarefeita em
direção às fileiras de naves na órbita de Primea.
— É um lugar movimentado, Primea, — Qilori comentou, olhando pela
janela. — Estou tão feliz por nunca ter que assumir o controle de uma nave
até que estejamos bem fora do poço gravitacional e prontos para o
hiperespaço. Você deve ter tido um tempo interessante para passar por tudo
isso.
— Che'ri teve, — disse Thalias, olhando ao redor do compartimento
vazio. — Ela foi a piloto. Onde estão os outros passageiros?
— Oh, eles já estão a bordo do transporte, — respondeu Qilori. — Você
foi um acréscimo tardio, cortesia do governo do Combinado. Eles devem
estar satisfeitos por ter o caça deles de volta.
— Nunca foi a nossa intenção ficar com ele, — disse Thalias. — Qual é
o nosso transporte?
— Você o verá em um minuto, respondeu Qilori. — Está... Alí, ele está
entrando na nossa visão.
— Thalias? — Che'ri perguntou, a sua voz incerta. — Isso não parece
um transporte pra mim.
— Se por transporte você quer dizer alguma coisa para ir daqui para ali,
é claro que é um transporte, — disse Qilori. — Se você quer dizer
transporte civil, infelizmente, não é isso que estamos usando hoje.
Ele apontou pra janela.
— Aquele, minhas nobres reféns Chiss, é a Imortal, um Encouraçado de
Batalha e a nau capitânia do General Yiv, o Benevolente, do Destino
Nikardun.
Thalias olhou para ele, medindo mentalmente a distância entre eles. Os
dois estavam atados com cintos de segurança, mas se ela se libertasse
rápido o suficiente...
— Por favor, não, — disse Qilori. — o Benevolente gostaria muito que
você estivesse em boas condições quando a entregar para o Thrawn.
— Ele vai nos devolver ao Thrawn? — Che'ri perguntou esperançosa.
— É claro, — disse Qilori. — Ele enviará uma mensagem para Thrawn,
Thrawn virá, eles se encontrarão na ponte daquela nave de guerra, e Yiv vai
entregá-las em troca dele.
— E então, é claro, Yiv o matará.

Traição.
Essa era realmente a única palavra pra isso, Thurfian pensou
amargamente enquanto se apressava em direção ao Salão de Convocação
para a reunião de emergência da Sindicura. Traição.
E depois de todas as precauções que tinha tomado, as reuniões e
comparação de anotações com Zistalmu, a leitura cuidadosa de cada
fragmento de dados de cada uma das missões e atividades de Thrawn...
depois de tudo isso, ainda tinha sido pego completamente de surpresa.
Costumava assistir enquanto o guerreiro arrogante patinava até a linha e
ocasionalmente a ultrapassava. Mas nada o havia preparado para assistir
Thrawn dar um salto voador sobre aquela linha.
Eles o pegaram. Desta vez, por todos os males do Caos, eles o pegaram.
Mas a que custo? Que custo terrível, terrível?
O Salão de Convocação estava lotado quando Thurfian chegou e, ao se
dirigir para a seção da Mitth, ele fez uma rápida contagem de cabeças. Os
Porta-vozes de todas as Nove Famílias estavam presentes, assim como a
maioria dos síndicos de nível superior. Uma dúzia de outras famílias
menores estavam representadas, principalmente aquelas com laços estreitos
com uma das Nove ou aspirações de um dia se juntar a elas no governo da
Ascendência. A sala zumbia com uma conversa tranquila enquanto aqueles
que só tinham ouvido parte da situação eram inteirados pelos outros.
Sentados à mesa das testemunhas, um bolsão de silêncio em meio à
tempestade verbal, estavam o Supremo General Ba’kif, o Supremo
Almirante Ja’fosk, a Almirante Ar’alani e Thrawn.
Thurfian acabara de se sentar na cadeira quando Ja'fosk se levantou.
Instantaneamente, o estrondo desapareceu.
— Porta-vozes e Síndicos da Ascendência, — disse Ja’fosk, lançando
um rápido e avaliador olhar ao redor da câmara. — Recebi uma transmissão
do General Yiv, do Destino Nikardun. — Ele ergueu sua missão. — Cito:
— ' Tenho em minha posse as duas reféns da família do Capitão Sênior
Thrawn, as quais ele enviou a Primea com uma oferta ao Combinado Vak
de união e traição contra os povos pacíficos do Destino Nikardun. Se ele
deseja que as fêmeas sejam libertadas ilesas, ele viajará sozinho para as
coordenadas anexadas, em um cargueiro desarmado, com o equivalente a
duzentos mil Univers. ' — Ja’fosk baixou o questis. — As coordenadas
fornecidas indicam uma órbita alta sobre Primea.
O protocolo usual era um dos Porta-vozes dar a primeira resposta ou
fazer a primeira pergunta. Mas Thurfian não estava muito interessado em
protocolo no momento. Mais do que isso, precisava ter certeza de que toda
a câmara estava totalmente aterrorizada.
— Deixando de lado por enquanto a questão de por que Yiv acha que os
Chiss têm algo como reféns de família, — ele disse, levantando-se, —
gostaria de saber quem são essas duas mulheres. — Ele ergueu as
sobrancelhas. — Ou são ambas mulheres ou se uma delas é uma menina?
— Uma delas é uma mulher, — respondeu Ja’fosk, a sua voz sob
controle cuidadoso. — O nome dela é Mitth’ali’astov. A outra é de fato uma
menina, Che'ri. — Um músculo em sua bochecha se contraiu. — Uma de
nossas sky-walkers.
Uma onda de descrença e indignação percorreu a Aristocracia reunida.
Aparentemente, a maioria deles não tinha ouvido a história toda.
— Eu presumo que Yiv não tem conhecimento da situação dela? —
Thurfian perguntou.
— Acreditamos que sim, — disse Ja’fosk. — Certamente não há
indicação de que ele saiba até mesmo sobre o programa Sky-walker, muito
menos que tenha quaisquer detalhes.
— Presumo que também não haja indicação de que ele não o tenha, —
disse o Porta-voz da Plikh com severidade. — Eu gostaria de saber
exatamente como o Capitão Sênior Thrawn cometeu tal asneira a ponto de
colocar uma de nossas sky-walkers nas mãos do inimigo.
— Os Nikardun não são nossos inimigos, — Ja'fosk o lembrou. —
Quanto ao raciocínio do Capitão Thrawn neste assunto... — Ele olhou para
Thrawn.
— Certamente nunca tive a intenção de colocar nenhuma delas em risco,
— assegurou Thrawn. — A missão delas era devolver o caça Vak que eu
havia pego emprestado e levar um aviso para a liderança de Primea sobre as
atividades de Yiv entre outras espécies na região. Thalias deveria entregar a
mensagem, em seguida, tomar um transporte de passageiros para a estação
espacial dos Navegadores do Terminal Quatro Quarenta e Sete, onde seriam
trazidas de volta para a Ascendência.
— E por que uma sky-walker estava a bordo?
— Che'ri poderia pilotar o caça. Thalias não.
Thurfian sentiu seu lábio torcer. Mentiroso. Thrawn claramente sabia ou
pelo menos suspeitava o que Yiv faria se Thalias e Che'ri estivessem ao seu
alcance. Essa coisa toda parecia uma abordagem disfarçada para fazer a
Sindicura ordenar um ataque retaliatório.
E se o clima na câmara era nesse sentido, estava prestes a conseguir. Se
havia um recurso que a Ascendência guardava com ciúme insano, eram as
suas sky-walkers.
— Essa conversa não acabou, — advertiu o Porta-voz da Irizi. —
Queremos os detalhes desta situação, todos os detalhes, em algum momento
no futuro. Se erros ou enganos forem encontrados, a Sindicura determinará
as consequências apropriadas.
— Entendido, — disse Ja’fosk. — Por enquanto, a velocidade é
essencial. Devemos usar todos os meios necessários para recuperar as duas
mulheres.
— Eu presumo, — Zistalmu falou asperamente, — que isso significa um
ataque militar.
— Contra aqueles que, como o Supremo Almirante Ja'fosk já admitiu,
não são nossos inimigos, — acrescentou Thurfian.
— Eles pegaram uma sky-walker, — disse Thrawn. — Acredito que esse
ato por si só constitui um ataque à Ascendência.
— Mesmo quando eles não estão cientes deste crime?
— Eles pegaram uma Skywalker, — repetiu Thrawn.
Thurfian pegou o olhar de Zistalmu do outro lado da câmara, viu o seu
mesmo cinismo refletido na expressão do Irizi. Sim, isso tinha sido
combinado de antemão, certo. Ja’fosk e Ba’kif podiam não saber de todo o
plano em andamento, mas Thrawn e Ar’alani certamente sabiam.
Haveria um ajuste de contas para isso no final da linha, prometeu
Thurfian a si mesmo. Mas, por enquanto, isso teria que esperar. Yiv tinha
uma sky-walker, e era muito claro que a Aristocracia viraria o Caos de
cabeça para baixo se necessário para trazê-la de volta.
Mesmo assim, se tivessem sorte, se tivessem muita sorte, Thrawn
poderia finalmente ter superado a si mesmo. Nesse caso, Thurfian se
juntaria com alegria e cheio de sinceridade ao elogio da família Mitth para o
seu herói caído.

— Acho que a coisa que eu mais sentirei falta em Thrawn, — Yiv


comentou casualmente da sua cadeira de comando na ponte, — é a maneira
como ele sempre parecia capaz de ler o seu oponente e planejar de acordo.
Isto forçava o outro a ficar alerta e a aprender a antecipar por sua vez.
Thalias ficou em silêncio, concentrando-se na tarefa de não coçar os
braços, apesar da sensação de coceira das vestes disformes que o Nikardun
deu a ela e a Che'ri para vestir. Suspeitava que fossem trajes de prisioneiro e
que fossem deliberadamente projetados para serem desconfortáveis, mas
estaria condenada se desse a Yiv essa satisfação.
— Este recipiente cilíndrico, por exemplo, — Yiv continuou, puxando o
pequeno cilindro plano que tinha sido escondido dentro da fivela do cinto
de Thalias. — É difícil dizer sem abri-lo, mas a análise espectral profunda
sugere que é algum tipo de soporífero. Possivelmente letal?
— Não é letal, — disse Thalias. — É uma droga para sonambulismo
chamada tava. É a droga que o meu mestre usou na tripulação do caça Vak
quando ele a confiscou.
— E por acaso você tinha outro lote com você?
— Ele gosta de ter planos alternativos, — ela disse. — Eu acho que ele
colocou o cilindro no meu cinto para que tivesse um extra se ele precisasse.
— Você não sabia que estava lá?
Thalias encolheu os ombros.
— Não. Mas teria importado se eu soubesse? Enquanto nós
permanecermos reféns da família, nosso mestre nos possuirá. Coração, alma
e vida. Ele pode fazer o que quiser com todas as três.
— Eu chamaria isso de bárbaro, — disse Yiv, os estranhos tentáculos em
seus ombros balançando um pouco mais forte do que o normal, — se não
fosse basicamente o mesmo arranjo que exijo dos meus próprios povos
conquistados. Talvez ele e eu sejamos ainda mais parecidos do que eu
pensava. Ele lhe disse qual era a mensagem que ele mandou você entregar?
Thalias balançou a cabeça.
— Não.
— Foi muito interessante, — disse Yiv, colocando o cilindro de tava no
braço da sua cadeira e puxando o envelope que Thalias dera ao soldado Vak
na plataforma de pouso. — Ele está oferecendo uma aliança com a
Ascendência Chiss em troca de permissão para vir a Primea e me desafiar.
— Ele bufou e colocou o envelope ao lado do cilindro. — Também
terrivelmente ingênuo. Ele realmente acha que os Vaks poderiam tomar uma
decisão como essa sem estudar cada aspecto e cada nuance?
— Meu mestre é muito bom em ler culturas, — respondeu Thalias.
— Realmente, — disse Yiv. — Quando você retornar a Csilla, deverá
consultar a história de suas relações com os Garwians e Lioaoi. A história
real, não a versão disponível para o público.
— Por quê? — Thalias perguntou. — O que há de diferente nisso?
— Oh, longe de mim estragar a surpresa, — respondeu Yiv alegremente.
— Mas ouvi toda a verdade dos Lioaoi. Digamos apenas que o seu mestre
não é tão bom quanto pensa. — Ele considerou. — Não que isso importe
neste caso, porque ninguém no Combinado jamais lerá a oferta dele. A carta
que os Vaks realmente receberam foi apenas um pedido de desculpas e uma
esperança sincera de que isso não azedasse a visão do Combinado sobre os
Chiss. Conteúdo que, ouso dizer, eles não precisarão debater sem parar.
Thalias olhou para Che'ri. A garota estava tentando manter uma boa
aparência, mas Thalias podia ver que o golpe um-dois de Yiv com o
cilindro de tava e a sua nota substituta a deixaram abalada.
Yiv também tinha visto isso.
— Parece que chateei a sua companheira refém, — ele disse com
preocupação fingida. — Ou talvez ela simplesmente não seja tão boa em
esconder os seus sentimentos quanto você.
— Nós somos reféns, — disse Thalias. — Nossos sentimentos também
estão à mercê do nosso mestre e da família dele.
— Sem dúvida ela aprenderia com a idade e prática, — disse Yiv. —
Bem, talvez o seu próximo mestre continue o seu treinamento. Você
gostaria de se retirar para uma área de descanso um pouco? Quero você
aqui comigo quando Thrawn chegar, tenho certeza que vai querer vê-la, mas
isso levará mais algumas horas.
— Ou vários dias mais, — disse Thalias. — Primea é um longo caminho
desde a Ascendência por meio de viagens salto em salto.
— Sem problemas, — disse Yiv com outro sorriso largo. — Ele
certamente desejará contratar um navegador para um encontro tão
importante. E esse navegador, o meu navegador, provavelmente já está
vindo a bordo do cargueiro dele. Algumas horas, talvez menos, e tudo
estará acabado.

— Estou feliz por você estar disponível para esta jornada, — disse Thrawn,
entregando a Qilori uma caneca fumegante.
— Assim como eu, — Qilori disse, fungando em aprovação. Folha de
Chá de Galara, a sua bebida favorita. — Eu tinha acabado de voltar ao
Terminal e estava examinando a lista de possíveis trabalhos quando a sua
mensagem chegou.
— Estou feliz que você estava disposto a esperar pela minha chegada.
— Fiquei feliz em fazer isso, — disse Qilori. — Para começar, as
viagens com você nunca são entediantes. Por outro lado... — Ele ergueu a
sua caneca.
— A folha de chá?
— Sim, — disse Qilori. — Muitos poucos empregadores de Rastreador
se lembram das preferências do seu navegador. Um grande número nem se
preocupa em aprender os nossos nomes.
— Parecia apropriado, — disse Thrawn. — Já que esta será
provavelmente a nossa última viagem juntos.
— Sério? — perguntou Qilori, franzindo o cenho para o Chiss sobre a
borda da caneca. — Como assim?
— Estou indo para Primea para resgatar as minhas duas reféns do
General Yiv, — respondeu Thrawn. — Não espero que a troca termine bem.
— Oh, — Qilori disse, tentando a mistura certa de surpresa e
preocupação. — Certamente você não está esperando traição? Yiv, o
Benevolente, sempre me pareceu justo e honrado em suas relações com os
outros. Ao menos quando a outra parte também foi honrada. Você não está
planejando nenhum truque, está?
— Ele queria que eu fosse sozinho em um cargueiro desarmado. —
Thrawn acenou com a mão em torno deles. — Você vê mais alguém? Ou
alguma arma?
— Bem, certamente não daqui, — Qilori disse com um encolher de
ombros. Embora considerando que havia feito uma inspeção visual
completa no casco do cargueiro antes de subir a bordo, e tinha passado seu
último período de descanso verificando secretamente por controles de
armas, ele estava consideravelmente mais certo do que o seu comentário
improvisado parecia.
Ainda assim, havia algo estranho na forma do cargueiro, algo que
chamou a sua atenção enquanto girava em torno dele antes. Não era nada
extraordinariamente fora do comum para esta classe de nave, e não
conseguia nem codificar o que era diferente. No entanto, horas depois, isso
ainda o incomodava.
— Você pode, portanto, afirmar que segui as instruções dele, — disse
Thrawn.
— Nesse caso, você não deve ter nada a temer, — disse Qilori.
— Talvez, — disse Thrawn. — Você está pronto para o segmento final?
— Estou, — Qilori respondeu, tomando um último gole de sua folha de
chá e colocando a caneca de lado. Thrawn estava certo: seria a última
viagem deles juntos. Qilori teria que agradecer ao Benevolente mais tarde
por deixá-lo estar presente para assistir a morte do Chiss arrogante e
assassino de Rastreador. — Mais meia hora e estaremos lá.
— Ótimo — disse Thrawn, acomodando-se na cadeira. — Vamos acabar
com isso, Qilori de Uandualon. De uma forma ou de outra.
I ntuição. No final, Ar’alani meditou, era isso que se resumia. Seguia-se a
análise, depois a extrapolação e o contra movimento. Era isso que fazia uma
campanha militar ser bem-sucedida. Mas tudo começava com uma intuição.
E se a intuição estava errada, o resto desabava como uma ponte de gelo
sobre uma fogueira.
Thrawn afirmou compreender Yiv. Ele alegou compreender os Vaks.
Mas também pensava que entendia os Lioaoi e os Garwians. A falha dele
lá havia despertado velhas animosidades e conflitos políticos, matado um
bando de alienígenas e colocado a Ascendência no meio com sujeira nas
mãos. Se estivesse errado desta vez, haveriam mais mortes.
Só que desta vez, muitos dos mortos seriam Chiss.
Houve um movimento à sua esquerda, e ela olhou pra cima para ver
Wutroow parar ao lado da cadeira de comando.
— Saída em cinco minutos, — relatou a primeiro oficial da Vigilante. —
Todos os sistemas e estações estão prontos.
— Obrigada, capitã sênior, — disse Ar’alani. — Algo mais?
Wutroow franziu os lábios.
— Espero que você perceba, Almirante, que estamos pisando em ovos
estilhaçados aqui. Temos apenas a suposição do Capitão Sênior Thrawn de
que os Vaks não foram completamente para o lado dos Nikardun. Se
tiverem ido, vamos acabar lutando contra os dois. E, a menos que os Vaks
nos ataquem diretamente, não temos autorização para atirar neles.
— E fica pior, — advertiu Ar’alani, lembrando-se dos caças Lioaoi que
ela e Thrawn tinham visto no mundo coração de Lioaoin. — Se os Vaks se
juntaram a Yiv, pode já haver tripulações Nikardun a bordo das naves de
guerra Vak. Não saberemos com certeza quem é quem até que eles abram
fogo.
— E até então, eles podem manobrar o quanto quiserem, jogar como
bloqueadores para as naves Nikardun ou até mesmo lançar as suas armas
contra nós, — disse Wutroow sombriamente. — Até que realmente
dispararem, não podemos fazer nada legalmente.
— Bem, talvez tenhamos sorte e os Vaks declarem guerra assim que nos
virem chegando a eles, — disse Ar’alani. — Isso tornaria as coisas mais
fáceis.
— Sim, senhora. — Wutroow hesitou. — Este escudo de energia da
República que Thrawn trouxe da beira do Caos. É tão bom, mesmo?
— Não sei, — admitiu Ar’alani. — Eu estive lá para alguns dos testes
quando estavam descobrindo como conectá-lo aos sistemas de energia
Chiss, e parecia bastante impressionante. Mas quão forte é, e quanto tempo
vai durar sob fogo constante... — ela balançou a cabeça. — Nenhuma ideia.
Acho que vamos descobrir.
— Suponho que sim. — Wutroow soltou um suspiro. — Com a sua
permissão, Almirante, acho que vou fazer as equipes de armas fazerem uma
verificação final do sistema. Imagino que você tenha feito arranjos para
tirar a sky-walker Ab’begh da ponte assim que chegarmos a Primea?
— Designei dois guerreiros para levá-la de volta para a suíte, — disse
Ar’alani. — Vão ficar lá com ela e a sua cuidadora até o fim da batalha.
— Boa ideia, — disse Wutroow. — Thrawn perder a sua sky-walker já
foi ruim o suficiente. Se fôssemos abordados e perdêssemos a nossa
também, nunca ouviríamos o fim disso.
Ar’alani teve que sorrir.
— E se essa é a única coisa com a qual precisa se preocupar hoje, Capitã
Sênior, a sua vida deve estar indo muito bem.
— Obrigada, Almirante, — disse Wutroow inocentemente. — Faço o
meu melhor. Com a sua permissão, vou começar a checar as armas.

Com uma exortação final da Grande Presença e uma contração final dos
dedos de Qilori, eles chegaram.
— Bem, — Thrawn comentou enquanto Qilori tirava o seu fone de
ouvido de privação sensorial. — Vejo que o General Yiv tem uma surpresa
final pra nós.
Qilori piscou a umidade em volta de seus olhos. A trinta quilômetros da
proa do cargueiro estava uma formação de quatro enormes Encouraçados de
Batalha.
— Por que, ele disse que viria desarmado também? — ele perguntou,
tentando manter o nervosismo súbito fora de sua voz. Havia muito
equipamento militar lá fora, quase metade da força que os Nikardun tinham
na região.
Presumiu que Yiv ficaria contente em só trazer a Imortal para o
encontro. Aparentemente, o Benevolente decidiu errar por excesso de
cautela.
— Não, é claro que presumi que traria naves extras, — respondeu
Thrawn. — Estava me referindo ao fato de que essas não são as
coordenadas que enviou em sua mensagem.
— Elas não são? — Qilori perguntou, fingindo surpresa. Essas eram as
coordenadas que Yiv havia dado a ele, mas é claro que Thrawn não deveria
saber disso. — Não entendo. Estas são as que você baixou para o
computador da nave antes de deixarmos o Terminal.
— Então, alguém as trocou depois que as entreguei ao despachante. —
Thrawn apontou para a esquerda, onde o planeta Primea era um pequeno
ponto à distância. — Deveríamos sair em uma órbita planetária alta.
Aparentemente, o general quer realizar a nossa transação em uma parte
menos visível do sistema.
Ele alcançou o painel de controle e apertou o botão de comunicação.
— General Yiv, aqui é o Capitão Sênior Thrawn. Acredito que as minhas
companheiras estão incólumes?
A tela de comunicação iluminou-se. Yiv estava sentado na sua cadeira de
comando, com os seus ombros simbiontes balançando no seu ritmo
enervante de costume. Ajoelhadas no convés à sua frente estavam as suas
duas prisioneiras. Uma delas era a mulher que Qilori vira na recepção
diplomática em Primea, onde Thrawn e Yiv se conheceram, a mulher que
ele ouviu Thrawn se referir como refém da família. A outra era muito mais
jovem, possivelmente nem mesmo na adolescência, ambas usando a mesma
maquiagem grotesca. O que quer que fosse essa coisa de refém que os Chiss
estavam usando, aparentemente começava muito jovem.
— Veja por si mesmo a forma das suas reféns, Capitão — respondeu Yiv,
apoiando-se na palavra enquanto acenava casualmente para elas. — Você
tem o resgate?
— Sim, — disse Thrawn. — O dinheiro está em um pod de
equipamentos, pronto para ser enviado para a sua nave assim que as minhas
companheiras estiverem em uma nave auxiliar. As duas naves vão cruzar o
vazio ao mesmo tempo, é claro.
— Temo que você tenha entendido mal, Capitão, — disse Yiv, e Qilori
estremeceu com a malícia presunçosa em seu tom. — O dinheiro não é o
resgate. Você é o resgate.
— Entendo, — disse Thrawn calmamente. Se ficou surpreso com a
traição repentina, isso não transpareceu em seu rosto ou voz. — Você
planeja atirar em mim a partir daí?
— Você roubou uma das minhas naves e matou uma das minhas
tripulações, — respondeu Yiv, sem a presunção. — Por isso, você ganhou
automaticamente a morte nas minhas mãos. Eu preferiria trazê-lo a bordo
da Imortal para que possa assistir você morrer, mas se insiste, certamente
posso fazer isso daqui.
— Eu não insisto nisso, — assegurou Thrawn. — Desejo apenas
verificar os parâmetros do nosso acordo alterado. Devo presumir que, uma
vez que desde o local da nossa reunião foi alterado, todo o resto das
disposições originais não estão mais em vigor?
— Provavelmente, — Yiv respondeu, a presunção de volta. Com a
sentença de morte agora pronunciada com a aspereza adequada, o
Benevolente estava se acomodando para se divertir assistindo seu inimigo
se contorcer. — Há alguma disposição em particular que você gostaria de
rever?
— Em primeiro lugar, gostaria de elogiá-lo por sua intuição ao mover a
reunião para este local, — respondeu Thrawn. — Presumo que você sentiu
que a órbita de Primea seria um local muito público? Especialmente porque
você não quer que os Vaks vejam quanta força militar você tem na área?
— Isso não seria uma surpresa, — Yiv o assegurou. — Eles já tinham
visto essas naves e muitas mais. É incrível como a presença de
Encouraçados de Batalha podem suavizar uma rodada de negociações.
— Talvez no geral, — disse Thrawn. — Talvez não com um povo como
os Vaks. Você também foi sábio o suficiente para permanecer dentro do
sistema Primea em vez de nos mudar para outro lugar. Dessa forma, você
pode calcular e executar uma jornada de salto até o planeta em poucos
minutos.
— Não prevejo nenhum motivo para me apressar até lá, — disse Yiv.
Uma sugestão de cautela havia se infiltrado em sua voz, Qilori notou com
alguma apreensão. Se havia alguém que deveria estar preocupado com a sua
situação, era Thrawn. Por que estava tendo uma conversa casual sobre
assuntos irrelevantes? — Você está esperando que a liderança do
Combinado de repente precise de uma conversa comigo?
— Não necessariamente, — respondeu Thrawn. — Você perguntou qual
parte do nosso acordo eu queria revisar.
— E?
— Apenas uma cláusula, — respondeu Thrawn. — A parte sobre eu vir
para Primea sozinho.

O redemoinho do hiperespaço transformou-se em erupções estelares, depois


em estrelas e a Falcão de Primavera chegou.
— Dalvu: varredura do sensor, — ordenou Samakro, fazendo uma rápida
verificação visual por conta própria. Havia muito tráfego lá fora, naves de
todos os tamanhos e estilos entrando ou saindo ou apenas orbitando Primea
enquanto aguardavam a sua vez. Não era surpresa para um centro de
comércio e contato diplomático, mas isto tornava muito mais difícil
identificar o inimigo.
Ou talvez até mesmo impossível se a análise de Thrawn dos parâmetros
de naves Nikardun se mostrassem inadequados para o trabalho. Se a força-
tarefa não pudesse identificar as naves de Yiv no enxame, a missão estaria
terminada antes mesmo de começar.
Deixando Thrawn para enfrentar Yiv sozinho.
— A Vigilante chegou, Capitão Intermediário, — Dalvu anunciou.
— Entendido, — disse Samakro, olhando para o Nightdragon que
acabara de aparecer à distância na frente da Falcão de Primavera. Enquanto
observava, o resto da força de Ar’alani surgiu do hiperespaço, os
cruzadores, destroieres e barcos com mísseis movendo-se rapidamente em
formação de rastreamento ao redor dela quando chegaram. — Kharill, já
temos o sinal dela?
— Vindo online agora, senhor — confirmou Kharill. — Abra a
comunicação com Primea e todo o resto da força. — Houve um clique
duplo...
— Comando Central de Primea l, aqui é a Almirante Ar’alani da Frota
de Defesa Expansionista Chiss, — identificou-se Ar’alani. — Posso
presumir que você recebeu a mensagem do meu colega, Capitão Sênior
Thrawn?
— Aqui é o Comando, — uma voz oficial respondeu prontamente. —
Nós recebemos.
— E você já considerou isso?
— Sim, — respondeu o Vak. — Nós aguardamos a sua confirmação das
identidades e localizações das embarcações Nikardun.
— Entendido, — disse Ar’alani. — Nossos oficiais estão coletando esses
dados agora.
— Dalvu? — Samakro perguntou. — Contagem de segundos.
— Mas assim é a filtragem, — Kharil acrescentou.
— Concordo, — disse Samakro, lutando contra a sua impaciência. As
naves Nikardun em órbita estavam sem dúvida agora mesmo relatando a
Yiv que uma frota Chiss havia chegado e estavam solicitando ordens.
Quanto mais demorasse a análise do sensor, maior a probabilidade de Yiv
ordenar um ataque e os Nikardun darem o primeiro tiro.
Normalmente, isso seria uma coisa boa, a desculpa de que os Chiss
precisavam para atirar de volta. Nesse caso, porém, esse tipo de divisão
política seria menos do que inútil.
Mas tinham que ter cuidado. Deixar um Nikardun deslizar sem ser
identificado abaixo do limite do sensor já seria ruim o suficiente. Alvejar
inadvertidamente uma nave inocente seria pior. Os segundos passaram...
— Identifiquei-as, senhor — disse Dalvu com clara satisfação. — Eu
tenho trinta e duas naves, variando em tamanho de destroieres a
embarcações com mísseis.
— Consegui a lista da Vigilante, — acrescentou o oficial de
comunicação. — E também as análises da Picanço Cinza e da Sussurro do
Vento.
— Todas as quatro são iguais, — anunciou Dalvu. — Repito:
confirmação de identificação completa de trinta e duas naves inimigas.
Destacando o padrão... bem, bem. — Ela tocou uma tecla e as naves
Nikardun marcadas surgiram na tela tática.
— Você consideraria isso? — Kharill disse com surpresa fingida. —
Diria que é uma formação de bloqueio.
— Assim parece, — Samakro concordou. Implantado dessa forma,
provavelmente, a fim de evitar que alguém se desvie do fluxo regular de
tráfego e acidentalmente tropece no confronto de Yiv com Thrawn, para
onde quer que Yiv o tenha movido.
Mas é claro, os Vaks não sabiam que este era o motivo.
— A Vigilante está enviando o perfil para o Comando em Primea, —
relatou Kharill.
— Bom, — disse Samakro. — Vamos ver se eles chegam à mesma
conclusão.
— É melhor se apressarem, — advertiu Kharill. — Possivelmente Yiv
não pode estar esperando intimidar um sistema como este sem muito mais
poder de fogo por perto. Prefiro que tenhamos a chance de tirar os seus
para-choques antes que os seus brutamontes cheguem aqui.
— Almirante Ar’alani, aqui é o Comando, — respondeu a voz Vak. —
Presumo, pelo padrão, que somos objeto de um bloqueio Nikardun?
— Sim, eu diria que sim, Comando, — confirmou Ar’alani. — Você vai
segurar as suas naves de defesa enquanto nós as tiramos da área?
— Essa pergunta também foi feita pelo Capitão Thrawn, — respondeu o
Comando. — A resposta está decidida. Vamos recuar.
— Obrigada, — disse Ar’alani. — Força-tarefa, vocês têm os seus alvos.
Ataquem à vontade.
— Vocês ouviram a almirante, — Samakro ordenou, batendo as travas de
identificação nas duas naves Nikardun mais próximas. — Vamos começar
com essas duas. Azmordi, faça-nos avançar... velocidade de flanco.

— Não, — disse Yiv, com os olhos ligeiramente focados para o lado. A


presunção havia desaparecido completamente da sua voz, substituída por
absoluta descrença e uma raiva crescente, os tentáculos de seus simbiontes
acenando inquietamente. — Não é possível. Você simplesmente não é
importante o suficiente para que os Chiss enviem uma frota de guerra para
resgatá-lo.
— Você acha que essa demonstração de poder dos Chiss é por minha
causa, — disse Thrawn. — É muito mais provável que o próprio
Combinado Vak tenha pedido ajuda para a Ascendência.
— Absurdo sobre absurdo, — zombou Yiv. — Os idiotas nunca
tomariam uma decisão assim. Eles não estão nem perto de ter todas as
linhas de pensamento de que precisam, muito menos de ter considerado
todas elas.
— Você os entendeu mal, General, — explicou Thrawn. — Isso vai
provar a sua ruína. Você gostaria de saber o que estava na mensagem que
enviei?
— Eu sei o que estava na mensagem, — retrucou Yiv. — Eu a peguei da
sua refém.
— E substituiu por algo muito mais inócuo, — observou Thrawn. —
Claro que você fez isso. O que você falhou em perceber é que eu deixei
outra mensagem no computador do caça. Você gostaria de ouvir o que eu
disse?
A atenção de Yiv se voltou para o comunicador, do que quer que ele
estivesse olhando, um terrível fogo ardendo em seus olhos.
— Diga-me, — ele convidou suavemente.
— ‘Para o Comando Primea, aqui é o Capitão Sênior Thrawn,’ —
começou Thrawn. — ‘A minha companheira Thalias entregou uma
mensagem ao seu representante, uma cópia da qual é reproduzida abaixo.
Se for a mesma mensagem que você já recebeu, então está tudo bem, e você
pode considerar a minha oferta quando quiser.’
— 'No entanto, se vocês não receberam, de fato, esta mesma mensagem
da mão da minha companheira, podemos concluir que alguns dos seus
oficiais e tropas conspiraram com o General Yiv para ocultar a minha
mensagem de vocês. Se for esse o caso, exorto-os a considerarem a minha
oferta com toda a rapidez necessária. Para ajudar na sua decisão, incluo
também dados de outros sistemas que fizeram negócios com os Nikardun,
bem como informações sobre uma nave cheia de refugiados que ele
assassinou. Eu ou os meus representantes iremos para Primea em um futuro
próximo para discutir o assunto com vocês.'
Thrawn parou e, por um longo momento, Yiv apenas olhou para ele em
silêncio.
— Absurdo, — ele disse por fim. — Os Vaks não vão se mover tão
rapidamente. Eles não podem. Eles consideram todas as linhas de
pensamento. Todas as linhas de pensamento.
Thrawn balançou a cabeça.
— Não. O que eles consideram...
— Maldição! — Yiv o interrompeu, com o seu olhar indo e voltando
para os mostradores fora da vista ao seu redor. — Não! Eles não podem
estar. Os Vaks... — ele rosnou outra coisa e, de repente, a imagem ficou em
branco.
— O que está acontecendo? — Qilori perguntou, as winglets da sua
bochecha tremendo. Três minutos atrás, o Benevolente tinha tudo
completamente sob controle. O que Diabos estava acontecendo lá fora?
— Suponho que a Almirante Ar’alani encerrou as negociações dela, —
respondeu Thrawn, com a voz glacialmente calma, — e que os Vaks deram
permissão para ela atirar nas naves de bloqueio Nikardun.
— As naves de bloqueio? Mas... — Qilori estrangulou o protesto
reflexivo. É claro que um mero mercenário Rastreador não saberia que os
planos atuais de Yiv para Primea não incluíam um bloqueio. — Existe um
bloqueio?
— Presumivelmente, só para evitar que alguém se intrometa na nossa
conversa, — disse Thrawn, um tanto secamente. — Mas é claro que os
Vaks não sabem disso. Eles veem apenas que, ao impor a sua vontade ao
comércio de Primea, Yiv negou-lhes importantes linhas de pensamento.
Ele se virou para Qilori, uma intensidade estranha e desconcertante
naqueles olhos vermelhos brilhantes.
— Diga-me, Rastreador. Você acha que Yiv vai ficar quieto e assistir a
sua frota em Primea ser destruída?
— Não sei, — respondeu Qilori, desamparado. O que ele deveria dizer?
— Imagino que depende se ele pode se dar ao luxo de perder as naves.
— Você fez a pergunta errada, — disse Thrawn. — Claro que pode se
permitir perder as naves. A verdadeira questão é se pode permitir que os
Vaks o vejam se curvar à vontade dos Chiss e se encolher perante o poderio
Chiss.
— Certamente todas as naves em Primea são naves menores, — disse
Qilori. — Não é nenhuma desgraça perder naves de guerra pequenas para as
grandes.
— E se houver naves maiores disponíveis e o comandante delas se
recusar a arriscá-las.
— Talvez os Vaks não saibam que ele tem naves maiores.
— Claro que eles sabem, — Thrawn repreendeu. — Ele até disse que
eles já sabiam.
Qilori silenciosamente amaldiçoou a si mesmo. Foi uma coisa estúpida,
estúpida de se dizer.
— Eu só quis dizer...
— Mas esses são só os detalhes da folha de análises, — interrompeu
Thrawn. — A resposta é, não, ele não pode permitir que Primea veja a sua
fraqueza. — Ele acenou com a cabeça em direção à janela. — Como você
vê.
— Como eu vejo? — Qilori repetiu, seguindo o olhar de Thrawn. Os
quatro Encouraçados de Batalha Nikardun posicionados contra eles...
Tornou-se apenas um. A Imortal ainda estava lá, com o seu incrível
armamento ainda voltado para o cargueiro de Thrawn. Mas os outros três
Encouraçados de Batalha foram embora.
— Isso deve tornar a batalha um pouco mais desafiadora, — comentou
Thrawn, tocando no botão de comunicação. — Desde que a Almirante
Ar’alani já não tenha bagunçado muito as naves de bloqueio Nikardun.
General, você ainda está aí?
— Eu estou aqui, Thrawn. — Abruptamente, a tela se iluminou
novamente com o rosto de Yiv.
Só que esse não era o rosto alegre, persuasivo e charmoso, de amigo de
todas as pessoas, que o Benevolente gostava de mostrar nas suas conquistas.
Não era nem mesmo o rosto silenciosamente ameaçador que Qilori tinha
visto em muitas ocasiões, um rosto que nunca deixava de enviar palpitações
pelas winglets das bochechas, mesmo quando a ameaça não era dirigida a
ele.
Esse rosto era algo novo. Esse rosto era puro ódio.
— O seu povo vai morrer por isso, — disse o Nikardun. — Não só você.
Não apenas a sua frota lamentável. Todos os Chiss. A Ascendência morrerá,
despedaçada como grão, triturada como pedra, queimada como grama seca.
Até o último filhote morrerá... e você morrerá aqui e agora, com a certeza
de que você e somente você foi a raiz e a causa da destruição deles.
— Tudo porque custei a dua posição em Primea? — Thrawn perguntou,
com a sua voz e rosto tão calmos quanto os de Yiv eram malévolos. —
Convenhamos, General. Você só precisa se afastar e começar de novo. — O
seu rosto endureceu. — Mas sugiro que escolha uma parte diferente do
Caos para a sua próxima tentativa. Esta região não aceitará mais os seus
sorrisos e promessas.
— Quão pouco você sabe, Chiss.
— Então me esclareça, — convidou Thrawn. — Diga-me a quem você
serve ou quem o segue. Se há mais para saber além dos Nikardun, estou
mais do que disposto a ouvir.
A boca de Yiv se abriu em um sorriso tão amargamente raivoso quanto o
seu olhar estava.
— Então você ficará para sempre pensando enquanto eu o envio para o
seu túmulo. — Deliberadamente, olhou para as duas mulheres ajoelhadas na
frente dele. — Mas antes de você deixar esta vida, eu vou mostrar
exatamente o que planejei para toda a sua espécie.

A Falcão de Primavera tinha acabado de enviar a sua terceira nave de


patrulha Nikardun em pedaços para o esquecimento quando os três
Encouraçados de Batalha repentinamente apareceram.
— E os brutamontes chegaram, — anunciou Kharill calmamente. —
Belo micro salto, ou o que quer que tenham feito.
— Parece um salto dentro do sistema, — disse Azmordi do leme. —
Mais curto e fácil do que até mesmo um micro.
— Além disso, não deixa um retrocesso suficiente para mostrar de onde
veio, — acrescentou Dalvu sombriamente. — Se eles vieram de Yiv, ainda
não sabemos onde ele está.
O que significava que não poderiam ir para ajudar Thrawn se precisasse
deles, Samakro sabia. A vida de Thrawn estava em suas próprias mãos
agora. Se tivesse calculado mal qualquer aspecto do plano, se tropeçasse em
qualquer uma das etapas, provavelmente morreria lá fora. O mesmo
aconteceria com muitos dos Chiss.
E a Falcão de Primavera precisaria de um novo capitão.
Pare com isso! Samakro ordenou a si mesmo. Thrawn era o seu
comandante, o mestre legítimo desta nave, e o trabalho de Samakro era
cumprir o seu dever para com Ar’alani e a Ascendência e devolver a Falcão
de Primavera ao seu mestre da melhor forma que pudesse.
O que de repente era uma proposta mais desafiadora do que trinta
segundos atrás.
— Ordens, Almirante? — ele perguntou.
— Vamos separá-los, — respondeu Ar’alani. — Picanço Cinza,
Sussurro do Vento, Ferroada Voadora : Peguem aquela a estibordo. Vou
pegar aquela a bombordo. Falcão de Primavera, você se move para aquela
no meio. Não se envolva totalmente, apenas mantenha-a ocupada. Todos os
outros, tomem cuidado e continuem com os seus ataques às naves de
patrulha.
— Entendido, — disse Samakro. Então, a Falcão de Primavera, está
sozinha contra um Encouraçado de Batalha? Formidável.
— Pelo menos ela não espera que a destruamos de uma vez, — disse
Kharill secamente. — Suponho que não tenha ideia de como manteremos
algo desse tamanho ocupado?
Samakro sorriu.
— Na verdade, — ele respondeu. — Eu sei.
M as antes de você deixar esta vida, Yiv disse em uma voz que enviou
um novo arrepio pela pele de Che'ri, eu vou te mostrar exatamente o que eu
planejei para toda a sua espécie.
Estava falando sobre ela, ela sabia. Ela e Thalias. Thrawn havia
prometido que nenhum mal aconteceria a qualquer uma delas, e Che'ri
manteve essa esperança durante toda essa coisa.
Mas agora a dúvida estava começando a mastigar as pontas dessa
esperança. Thrawn ainda parecia confiante... mas ele estava lá fora,
sozinho, e Che'ri e Thalias estavam ali, cercadas pelos Nikardun.
E, no entanto, de alguma forma, parecia que Thrawn ainda estava no
controle. A Almirante Ar'alani e uma frota de naves de guerra Chiss
estavam no planeta, e fizeram algo que deixou Yiv tão zangado ou
assustado que enviou as suas outras três grandes naves para detê-los. Isso
tinha que fazer parte do plano, não era?
Olhou de soslaio para Yiv, estremecendo. Ela estava errada. Ele não
estava com medo, nem um pouco. Ele estava apenas com raiva. Zangado,
cheio de ódio e confiante.
Os outros Nikardun na ponte estavam conversando em um idioma que
Che'ri não entendia. Com cuidado, tentando não atrair a atenção de Yiv, ela
se inclinou um pouco mais perto de Thalias.
— Você sabe o que eles estão dizendo? — ela sussurrou.
Thalias balançou a cabeça.
— É o idioma deles, — ela sussurrou de volta. — É apenas quando
falam conosco ou com Thrawn que usam Minnisiat ou...
De repente, alguém deu um grito sem palavras.
Che'ri recuou, o seu coração acelerando. O grito veio de trás dela, do
próprio Yiv. Ele a ouviu falando com Thalias, e agora iria machucá-la.
Outro grito sem palavras, e com o canto do olho viu a mão dele golpeando
sobre a cabeça dela em um dos outros Nikardun. O outro deu uma resposta
que parecia nervosa e tocou em um botão no painel de controle dele...
— Encouraçado de Batalha Nikardun, aqui é a nave de guerra Falcão de
Primavera da Frota de Defesa Expansionista Chiss, — uma voz calma de
Chiss veio pelo alto-falante em Minnisiat.
Che'ri franziu a testa. Aquele era o Capitão Intermediário Samakro? Por
que estava falando com uma das naves Nikardun?
— Acho que você deve saber que somos a nave pessoal do Capitão
Thrawn, — continuou Samakro. — Como tal, é apenas um esporte para
mim oferecer a você a chance de se render antes de destruí-lo.
Yiv deu outro grito e novamente apontou um dedo. O mesmo Nikardun
deu um aceno brusco com a cabeça e desligou apressadamente a
transmissão.
Agitado. Apressado. Como se estivesse com medo?
Cuidadosamente, ela olhou de volta para Thalias. A mulher mais velha
estava perfeitamente imóvel, mas havia um pequeno sorriso irônico no
canto da sua boca. Che'ri franziu a testa.
E então, ela entendeu. Os Nikardun na ponte da Imortal estavam com
medo, tudo bem. Mas não tinham medo de Thrawn. Eles estavam com
medo do seu próprio líder. O que quer que Samakro estivesse tentando fazer
com aquela transmissão, deixou Yiv ainda mais furioso do que antes.
O que pode não ser bom, Che'ri percebeu com um novo arrepio. As
histórias sobre Thrawn falam sobre ocasiões em que deliberadamente
deixou um inimigo com raiva para impedi-lo de pensar direito. Mas, neste
caso, Yiv tinha ela e Thalias como reféns, e já havia ameaçado machucá-las.
Deixá-lo com raiva pode apenas fazer com que as machuque mais cedo.
— Esse é um bom conselho, General, — disse a voz de Thrawn pelo
alto-falante. — Esteja ciente de que se você continuar no seu caminho atual,
eu estou totalmente preparado para destruí-lo.
— O seu cargueiro contra um Encouraçado de Batalha? — Yiv disse
com desdém. — A sua tolice só se compara à sua arrogância. Ambas
iluminarão o seu caminho para a destruição. Faça o que fizer agora, você
morre. Você e todos os Chiss vão morrer.
— Então ponha um fim nisso, — convidou Thrawn. — Venha e me
pegue.
Che'ri podia sentir a sua respiração vindo em goles rápidos e superficiais.
Mais uma vez, podia sentir que tudo isso fazia parte do plano de Thrawn.
Novamente, não fazia ideia do que poderia ser.
Mas, novamente, Thalias estava sorrindo.

Novamente, Qilori não fazia a menor ideia do que Thrawn estava fazendo.
Mas o pequeno sorriso no rosto do Chiss o gelou direto até os ossos.
Estava tramando algo. Sentado ali, sem fazer nenhum movimento para
avançar ou recuar, convidando Yiv para vir e pegá-lo... mas não havia
nenhum fim possível para essa artimanha, exceto a destruição total de
Thrawn.
E então, de repente, ele entendeu.
Yiv estava focado em Thrawn. Completa e obsessivamente em Thrawn.
Nada iria distraí-lo desse foco.
O que deixou a Imortal completamente aberta a um ataque pela
retaguarda.
Qilori sentiu as suas winglets tremendo. Nunca imaginou que poderia
precisar se comunicar clandestinamente com o Benevolente nesta viagem e,
por isso, nunca grampeou o sistema de comunicação do cargueiro. Como
poderia o avisar de que Thrawn o estava incitando dali para impedi-lo de
antecipar o ataque que viria de uma direção completamente inesperada?
— Rastreador Qilori.
Qilori estremeceu.
— Sim?
— Você parece chateado, — disse Thrawn. — Você possivelmente está
pensando que tenho outra força preparada, esperando o momento adequado
para lançar o seu ataque?
As winglets de Qilori aplainaram. Como Diabos ele fez isso?
— Não faço ideia de uma maneira ou de outra, — ele disse
diplomaticamente.
— Mas você sabe como isso poderia ser feito, não é? — Thrawn
persistiu. — Mesmo considerando as coordenadas alteradas que você
substituiu pelas da mensagem original de Yiv.
— Eu não... — Ele parou quando Thrawn voltou aqueles olhos
vermelhos brilhantes para ele. — Isso não é da minha conta.
— Vamos, Rastreador, não seja tão modesto, — disse Thrawn. — Você e
eu entendemos, mesmo que muitas das vítimas de Yiv não entendam. Por
muito tempo, ele tem usado a capacidade dos Rastreadores de se localizar
através do hiperespaço para coordenar os ataques dele.
— Não, claro que não, — Qilori protestou reflexivamente. — A
cooperação direta com uma força militar seria uma violação flagrante das
regras da Guilda dos Navegadores.
— E provavelmente levaria a guilda a expulsar os Rastreadores da sua
organização?
Qilori engoliu em seco.
— Isso pode acontecer, — ele admitiu.
— Não apenas poderia, — disse Thrawn. — Você prefere, então, que eu
guarde esse conhecimento pra mim?
Qilori olhou para ele.
— Claro, — ele grunhiu. — Qual é o seu preço?
Thrawn se voltou para a janela.
— O preço, — ele respondeu, — é você esquecer tudo o que vir a partir
de agora.
— Tudo bem, — disse Qilori.
Era uma promessa bastante simples, ele disse a si mesmo. Yiv
provavelmente também gostaria que esquecesse dos eventos de hoje, e ele
tinha uma longa história de obediência às ordens do Benevolente.
— E quanto ao seu medo anterior, — continuou Thrawn, — não há
necessidade de eu lançar qualquer ataque. A batalha pelo Combinado Vak
está ocorrendo em Primea e deixou Yiv com apenas duas opções. Uma: ele
pode ficar aqui e tentar me destruir, dando a impressão de que está se
escondendo da batalha. Segunda: ele pode sair para reforçar as suas forças
e, assim, parecer que está fugindo de mim. — Ele gesticulou em direção a
Imortal. — Mesmo agora, ele tenta decidir qual desses cenários prejudicará
menos a reputação dele.
— Será interessante ver para que lado ele vai, — murmurou Qilori.
E realmente, não havia dúvida de que Thrawn guardaria para si aquele
conhecimento potencialmente devastador sobre os Rastreadores. Uma vez
que ele estaria morto.

Outra barragem de laser de espectro explodiu no casco da Falcão de


Primavera, derrubando mais três seções da barreira eletrostática e abrindo
algumas ranhuras novas no metal. O mínimo, pensou Samakro distante,
enquanto gritava ordens, Ar’alani não poderia alegar que ele não obedeceu
às ordens dela.
A Falcão de Primavera estava mantendo o Encouraçado de Batalha
ocupado, sem dúvida.
— Cuidado, Falcão de Primavera, você tem duas canhoneiras angulando
do lado ventral a bombordo, — uma das outras naves Chiss disparou em
advertência.
— Vamos lá — disse Kharill, e houve um baque duplo quando um par de
esferas de plasma disparou em direção às canhoneiras atacantes.
— Mantenha-nos em movimento, — disse Samakro, olhando para a tela
tática. As duas Nikardun estavam tentando desviar dos caminhos das
esferas de plasma.
Mas era tarde demais. Ambas as canhoneiras queimaram quando as
esferas as atingiram, espalhando gás quente ionizado através dos seus
sensores e linhas de controle externas e enviando picos de alta voltagem nas
partes mais profundas sob o metal do casco. Houveram vários tremores
quando os sistemas de energia sobrecarregaram ou foram desviados, e um
segundo depois as duas Nikardun estavam paradas, temporariamente
mortas.
— Azmordi, gire-nos, — ele ordenou ao leme. — Coloque-nos atrás
delas. Use-as como escudos.
— Pelo que quer que isso nos ajude, — advertiu Kharill em voz baixa.
Samakro fez uma careta. Isso não os ajudaria muito, infelizmente.
Tentou se esquivar, correr, fintar e golpear direto dos pés à cabeça, e
enquanto ele estava desgastando o Encouraçado Nikardun, a Falcão de
Primavera estava se desgastando ainda mais rápido. Mesmo as frequentes
surtidas de atiradores de alguns dos outros Chiss não foram suficientes para
desviar o capitão Nikardun da sua perseguição obstinada.
Yiv não queria apenas Thrawn morto. Aparentemente queria que tudo,
que fosse associado a ele, também fosse destruído.
Mais duas salvas patinaram pelo casco da Falcão de Primavera antes
que Azmordi os colocasse na zona protegida atrás das duas canhoneiras
desativadas.
— Certo, nós temos um pouco de espaço para respirar, — disse Kharill.
— Alguma ideia do que fazer com isso?
Samakro considerou. Eles ainda estavam a uma boa distância do
Encouraçado de Batalha, e era por isso que ainda não haviam sido
completamente destruídos. Mas o vetor em que estavam atualmente os
estava levando para mais perto do seu atacante do que antes.
Isso não seria uma coisa particularmente boa, uma vez que os seus
companheiros de batalha Nikardun colocassem os seus sistemas online
novamente. Mas por enquanto...
Ele olhou para a tela tática e fez um cálculo rápido da distância.
Insignificante, mas pode funcionar.
— Quantos violadores ainda nos restam? — ele perguntou, olhando além
do limite das naves desativadas para o encouraçado e a sua janela da ponte
zombeteiramente grande.
— Três, — disse Kharill.
— Prepare-os, — Samakro ordenou. — Vamos dar a eles mais alguns
segundos, chegar o mais perto que pudermos e, em seguida, explodir os três
direto na janela do Encouraçado.
— Sim, senhor, — disse Kharill, um pouco incerto. — Você sabe que já
tentamos isso, certo?
— De muito mais longe, — Samakro o lembrou. — Se nos
aproximarmos o suficiente, o Encouraçado pode explodi-los o quanto
quiser, mas o ácido ainda não terá tempo de se dissipar antes de chegar à
janela.
— Vale a pena tentar, — Kharill concordou. — Certo; violadores
preparados. Em posição.
Samakro contou os segundos para si mesmo, tentando avaliar o momento
certo para atirar. Muito cedo e estariam desperdiçando os seus últimos
violadores em uma tentativa inútil; tarde demais, e arriscariam que as duas
canhoneiras ao lado deles se recuperassem e adicionassem a sua própria
catástrofe à mistura atual da Falcão de Primavera.
— Preparar para atirar: três, dois, um.
Com um leve choque triplo, os três mísseis violadores foram disparados,
passando rapidamente pelas canhoneiras a caminho do Encouraçado de
Batalha.
Eles mal haviam passado pelos cascos das canhoneiras quando seis
lasers de espectro dispararam do Encouraçado, pegando os violadores e
explodindo-os em pedaços.
Mais cedo do que Samakro esperava. Mas com os violadores, a
destruição dos próprios mísseis não era a última palavra. As massas de
ácido liberadas ainda estavam em movimento, os tentáculos ainda girando e
girando enquanto o seu impulso inicial continuava a levá-los em direção ao
alvo. A menos que o Encouraçado pudesse sair do caminho, e o ácido já
estava perto demais pra isso, seria atingido. Samakro prendeu a respiração...
E então, quase no último momento, uma das naves de patrulha Nikardun
disparou pela lateral, freando forte para se colocar diretamente no caminho
dos três globos de ácido que se aproximavam.
— Não é grande o suficiente, — murmurou Kharill, esperançoso. — Não
pode bloquear todos os três. — As palavras mal tinham saído da sua boca
quando o Encouraçado novamente abriu fogo.
Só que desta vez, o alvo era a nave de patrulha Nikardun na frente dele.
Mesmo quando Samakro sentiu seu queixo cair em descrença, a nave
explodiu, espalhando destroços em todas as direções.
E a nuvem de detritos, infelizmente, era grande o suficiente para
bloquear todos os três globos de ácido.
— Maldição — Kharill praguejou. — Esses caras são loucos.
— Falcão de Primavera, qual é a sua situação? — A voz de Ar’alani
veio pelo alto-falante.
— Ainda estamos aqui, Almirante, — respondeu Samakro. — Mas não
recusaríamos qualquer ajuda oportuna que você quisesse oferecer.
— Ajuda oportuna, então, — disse Ar’alani severamente. — Esperava
que não tivéssemos que fazer isso, mas que assim seja. Você se lembra da
manobra que Thrawn usou contra os Paataatus quando assumiu o comando
da Falcão de Primavera pela primeira vez?
Samakro olhou para Kharill e encontrou o outro olhando para ele com
uma expressão azeda. Ambos se lembravam, tudo bem.
— Sim, senhora, — disse Samakro. — Quando?
— Mantenha-se atrás das canhoneiras que você travou por mais alguns
segundos, então saia e gire em direção à órbita baixa. Eu te direi quando
desligar tudo.
— Entendido, — disse Samakro, imaginando no que isso deveria
resultar. O Encouraçado de Batalha já havia mostrado que estava disposto a
ir a qualquer lugar e sacrificar qualquer pessoa, incluindo o seu próprio
povo, a fim de manter a pressão sobre a Falcão de Primavera. — Azmordi,
prepare-se... vá. — Com uma torção violenta, a Falcão de Primavera se
afastou das canhoneiras e disparou pelo campo de batalha em direção ao
planeta abaixo. — Prepare-se para desligar tudo. — Ele contou três
segundos...
— Vai, — ordenou Ar’alani.
— Entendido, — disse Samakro. Do outro lado da ponte, os seus oficiais
desligaram os seus sistemas, as suas placas escureceram e a fraca
iluminação de emergência se acendeu.
E com isso, a Falcão de Primavera tinha se tornado quase tão indefeso
quanto era possível para uma nave de guerra.
Embora por enquanto, pelo menos, a sua destruição iminente seria
adiada um pouco. As linhas de fogo do Encouraçado de Batalha estavam
atualmente bloqueadas por uma batalha ocorrendo entre duas naves Chiss e
um Destroier Nikardun. Mais alguns segundos, porém, e o vetor da Falcão
de Primavera o levaria para a visão limpa.
— Capitão? — Kharill solicitou.
— Não sei, — disse Samakro. — Vamos ver o que a almirante tem em
mente.
Eles não tiveram que esperar muito.
— Nave de patrulha Vak, temos uma nave com falha crítica de suporte
de vida, — disse Ar’alani. — Nenhuma de nossas naves está perto o
suficiente para oferecer assistência. Alguma das suas naves pode prestar
ajuda?
— Nave de guerra Chiss, nós não somos combatentes, — respondeu uma
voz de Vak. — Não podemos interferir na sua guerra.
Samakro sentiu seu lábio torcer. Sua guerra? Os Chiss estavam tentando
defender o mundo natal Vak, pelo amor de Deus. De onde saiu essa sua
guerra?
— Eu sei e aceito isso, — disse Ar’alani, aparentemente não querendo
entrar na política da situação. — Mas, dadas as circunstâncias, certamente
você pode oferecer ajuda humanitária?
— Nós vamos, — disse o Vak com relutância. — Naves de guerra
Nikardun, duas naves de patrulha estão se movendo para prestar ajuda
humanitária. Não atire nelas. Repito, não atire nelas.
— Confirmo isso, comandante Nikardun, — acrescentou Ar’alani. — As
naves Vak não estão entrando em combate, apenas prestando ajuda
humanitária. Não atire, repito, não atire nelas.
À frente, logo na proa a estibordo da Falcão de Primavera, duas naves
patrulha Vak estavam em movimento, indo em direção à nave supostamente
danificada.
— Então, continuamos a fingir de mortos? — Perguntou Kharill. — De
alguma forma, eu não consigo ver os Nikardun parados e educadamente nos
deixando nos recuperar antes de tentar pisar em nós novamente.
— Presumo que Ar’alani tenha um plano...
Um instante depois, o céu iluminou-se quando uma das duas naves Vak
se desintegrou em uma chama de disparo laser dos Nikardun.
— Nikardun! — Ar'alani gritou novamente. — Não ataque! Não ataque!
Ela poderia muito bem ter economizado o fôlego. Houve uma segunda
rajada de laser e a outra nave de patrulha também se foi.
— Nikardun, aqueles não eram combatentes, — Ar’alani se posicionou.
— Talvez eles não fossem antes, — disse Kharill, um tom estranho em
sua voz. — Mas eu acredito que agora eles são.
Samakro franziu a testa. Estava certo. Ao redor deles, as naves de
patrulha Vak, que vinham se mantendo cuidadosamente longe da zona de
combate, de repente começaram a se mover. Em grupos de três e quatro,
elas estavam convergindo para o Encouraçado de Batalha, com os seus
mísseis disparando em direção à enorme nave, com os seus lasers brilhando
contra as barreiras eletrostáticas dele e cavando em seu casco.
— Lição de hoje, — Kharill continuou. — Não fique tão focado em um
inimigo a ponto de acabar criando outro. Pronto para voltar à vida?
— Não voltamos, — disse Samakro. — Ar’alani disse que estávamos à
beira do desastre. Não pareceria muito bom se nós de repente mostrássemos
que não estávamos.
— Sim, eu duvido que os Vaks ficariam felizes em saber que foram
traídos por um lado e manipulados pelo outro, — Kharill concordou. —
Então…?
— Nós sentamos, — disse Samakro. — Tente evitar quaisquer ataques
óbvios.
— E assista ao show.

— Qual é o plano dele? — Yiv gritou, inclinando-se para dar um tapa na


nuca de Thalias. — Qual é o plano dele?
— Eu não sei, — disse Thalias.
— Ele traz as naves de guerra Chiss para me atacar, — rosnou Yiv como
se ela não tivesse falado. — Ele incita os Vaks a conspirar com eles contra
mim. Qual é o propósito dele? Qual é o objetivo dele?
Ele se abaixou e cravou os dedos no cabelo dela, girando a cabeça dela
para encará-lo.
— Qual é o plano dele?
— Eu não... — Thalias estremeceu quando a mão dele deu um tapa em
seu rosto, conseguiu se virar apenas o suficiente para receber o golpe em
sua orelha em vez da sua bochecha. A concussão enviou uma pontada de
dor e tontura por toda a sua cabeça.
— Não há necessidade disso, General, — disse a voz calma de Thrawn
pelo alto-falante da ponte. — Meu plano é colocá-lo em uma caixa. E assim
você está.
— Eu posso destruir você sempre que eu quiser, — Yiv esbravejou.
— Assim que você se mover para dentro do alcance das armas, —
corrigiu Thrawn. — Uma posição que notei que você não parece tão
ansioso para alcançar.
— Você gostaria de ver a sua morte chegando mais rapidamente? — Yiv
respondeu. — Leme: Aumente a velocidade.
— Eu pensei que você queria me levar a bordo da Imortal para que você
pudesse me matar.
— Você mesmo me convidou para ir buscá-lo, — disse Yiv. — Se
decida.
— Isso não importa, — disse Thrawn. — Já é tarde demais. Você passou
muito tempo aqui para que os Vaks e o seu próprio povo concluam que você
não deseja se juntar à batalha por Primea. A partir de agora será visto como
uma tentativa de fugir de mim. De qualquer forma, a sua reputação está
permanentemente manchada.
— Só se sobrar alguma testemunha para contar uma história que não seja
a minha, — disse Yiv.
— Curiosamente, eu pensei o mesmo, — disse Thrawn. — Você tem
apenas um movimento restante, apenas uma maneira de salvar o seu nome e
posição. Você chegará ao alcance do raio trator e trará a minha nave a
bordo. Eu vou desembarcar, você vai transferir as minhas companheiras
para bordo, e elas vão embora em paz.
Yiv deu um bufo de desprezo.
— Um longo caminho a percorrer, Chiss, apenas para me levar onde eu
planejava ir em primeiro lugar. Pensando bem, talvez seja igualmente
satisfatório destruí-lo onde você está sentado.
— E quanto às minhas companheiras?
— Eu disse que as usaria para mostrar o que pretendo para toda a espécie
dos Chiss, — respondeu Yiv. — Você está certo, seria mais impressionante
se você estivesse a bordo para assistir ao desmembramento delas em vez de
assistir do seu cargueiro.
Che'ri deu um pequeno gemido. Está tudo bem, Thalias pensou
urgentemente em sua direção. Está tudo bem. Espere um pouco mais.
— Muito bem, General, — Thrawn disse calmamente. — Se você
escolheu me enfrentar, que seja. Aguardo o seu raio trator.
Por um momento, Yiv permaneceu em silêncio. Testando as palavras de
Thrawn em busca de falhas ou traição, sem dúvida.
Mas não iria encontrar nenhuma, Thalias sabia. Mais importante,
Thrawn distorceu a situação em que Yiv estava com raiva e frustrado, e
onde a vingança era a coisa mais importante na sua mente. A chance de
trazer Thrawn vivo a bordo e matá-lo pessoalmente afastaria quaisquer
outras considerações.
Yiv esbravejou uma ordem. Na tela principal, uma linha azul nebulosa
apareceu, conectando as imagens da Imortal e do cargueiro de Thrawn.
Alguns números mudaram e o cargueiro começou a avançar.
E estava na hora.
Thalias olhou de lado, captando o olhar de Che'ri.
— Não há mais reféns, — ela murmurou. Voltando-se para a frente,
observando o cargueiro se movendo em direção à nave de guerra Nikardun,
ela levou as mãos ao seu rosto e cravou os dedos nas bordas da maquiagem
de refém.
Por um momento, o material grosso resistiu. Thalias continuou nisso,
mudando o seu aperto para usar as unhas como garras, notando com o canto
do olho que Che'ri estava fazendo o mesmo. Abruptamente, a crosta dura
cedeu, quebrando e se desfazendo em pequenos pedaços e deixando marcas
latejantes na pele pra trás.
E com uma breve onda de frio e umidade, a névoa de tava comprimida
que havia sido escondida dentro das cristas e platôs jateou para o ar.
O primeiro impulso de Thalias foi prender a respiração. Mas isso
realmente não adiantou. A névoa vazou instantaneamente indo para dentro
das suas narinas, o cheiro de mel inicial rapidamente mudando para algo
mais parecido com açúcar queimado quando a droga começou a brincar
com os seus sentidos. Quando o aroma mudou novamente, desta vez para o
de couro fresco, podia ouvir a súbita onda de conversa ao seu redor ficando
mais lenta, o tom das vozes alienígenas se aprofundando. A própria ponte
começou a escurecer mesmo quando, paradoxalmente, as luzes indicadoras
e as estrelas fora da janela pareciam ficar mais brilhantes.
E ela podia sentir a sua mente desvanecendo.
Não era como a sensação de cair no sono, com pensamentos e memórias
perdidas à deriva enquanto deslizava para a escuridão. Isso era mais rápido
e completo, embotando a sua razão e a sua autoconsciência ao mesmo
tempo em que obscurecia os seus pensamentos. E mesmo assim, apesar de
tudo, era capaz de se segurar o suficiente para ver se tudo estava
funcionando exatamente da maneira que Thrawn dissera que funcionaria.
A ponte era grande e a quantidade de névoa que os técnicos conseguiram
embalar dentro da maquiagem era limitada. Mas mesmo uma pequena
quantidade da droga para sonambulismo era suficiente para causar confusão
e desorientação, e isso era tudo de que Thrawn precisava. Enquanto a névoa
se assentava em torno da tripulação da ponte, Thalias viu, tanto nas telas
quanto na janela, que o cargueiro de Thrawn estava girando, libertando-se
do feixe trator. Um segundo depois, o cargueiro saltou pra frente, dirigindo
em plena aceleração em direção à ponte da Imortal.
Os Nikardun não estavam muito desamparados, é claro. Mesmo
enquanto Thrawn acelerava em direção a eles, Yiv deu uma ordem
ligeiramente arrastada, e os lasers de espectro do Encouraçado de Batalha
explodiram em direção a esta ameaça repentinamente caindo sobre eles. A
mira deles era hesitante e muitos dos tiros dispararam inofensivamente no
espaço. No entanto, as defesas da ponte da Imortal eram fortes e os
Nikardun só ligeiramente prejudicados, e muitos dos tiros acertaram direto
e certeiro.
Mas uma saraivada que teria demolido rapidamente uma barreira
eletrostática e a nave azarada atrás dela simplesmente se espalhou pelo
escudo de energia da República que Thrawn e Che'ri trouxeram de Mokivj.
O cargueiro se aproximou... mais perto... os disparos de laser defensivos se
intensificaram...
E então, no que parecia ser o último segundo, a corrida louca vacilou
enquanto o cargueiro diminuía ligeiramente. Um instante depois disso, todo
o Encouraçado estremeceu quando o cargueiro se chocou contra a janela de
grandes dimensões, esmagando os consoles dianteiros e afastando os
membros da tripulação do seu caminho. Através da desorientação
sonhadora de Thalias, sentiu o súbito fluxo de ar através da janela quebrada,
então sentiu o fluxo ser cortado quando o nariz do cargueiro personalizado
que Thrawn instalou se selou precisamente na abertura, vedando através da
ponte do vácuo.
Che'ri disse algo que parecia estranhamente urgente. Thalias olhou,
descobrindo para a sua surpresa que a garota estava meio de pé e segurando
o braço direito de Yiv, arrastando pra baixo a arma que segurava naquela
mão. Yiv estava tentando se libertar, ao mesmo tempo que algemava Che'ri
ao redor da cabeça e dos ombros. Um momento de pensamento convenceu
Thalias de que não deveria estar fazendo isso, e ela colocou os seus
próprios braços em volta do braço que estava batendo na garota. Tinha uma
vaga sensação de que havia algo mais que deveria fazer, mas não conseguia
se lembrar o que era.
E então, de repente, Thrawn estava lá, arrancando a arma de Yiv da mão
dele e envolvendo uma máscara de respiração em torno do rosto de Thalias.
— Você está bem? — ele perguntou, a sua voz distorcida pela sua
própria máscara.
— Hum-mm, — Thalias disse brilhantemente enquanto Yiv deu uma
espécie de estocada indiferente. Thrawn evitou o ataque facilmente,
enviando o Nikardun para pousar pesadamente de quatro no convés.
Thrawn deu a ele um forte esguicho de um recipiente de tava que ele
trouxe, fazendo com que os simbiontes de Yiv se contorcessem
freneticamente, depois se virou para Che'ri. Quando fez a mesma pergunta
que fizera a Thalias e colocou a máscara de respiração na garota, a cabeça
de Thalias estava começando a clarear. — Biblioteca de dados? — Thrawn
perguntou enquanto puxava os braços de Yiv para trás e prendia os pulsos.
— Acho que é aquele console ali, — respondeu Thalias, maravilhada
com a rapidez e a completa recuperação da sua mente do gás. — Ele
também mantém uma espécie de questis em um compartimento no braço
esquerdo da sua cadeira.
— Excelente, — disse Thrawn. — Você pega o questis dele. Eu vou
colocar Yiv a bordo do cargueiro e ver o que posso copiar antes que o resto
da tripulação atravesse a porta da ponte.
— Não vamos destruir a nave dele?
— Nunca tive a intenção de destruir a nave dele, — respondeu Thrawn.
Abaixando-se, pegou um dos braços de Yiv e alavancou o Nikardun
inconsciente pra fora do convés. — Tudo que eu preciso fazer é destruí-lo.
— E quanto a eles? — Thalias persistiu, apontando para os membros da
tripulação Nikardun se contorcendo ou resmungando no convés. — Depois
de tirar o cargueiro da janela, todos eles não morrerão?
O rosto do Thrawn endureceu.
— Como Yiv já tinha dito, — ele a lembrou calmamente — Sem
testemunhas.
Era, Ar’alani sabia, necessário que ela e Thrawn conversassem sobre o que
acontecera em Solitair. Mas conseguiu encontrar as desculpas suficientes
para adiar até que estivessem quase em casa.
Finalmente, não poderia adiar isso mais.
— Eu deveria ter percebido, — disse Thrawn, com os olhos fixos em um
canto, que de qualquer jeito não tinha nada de notável, do escritório de
Ar’alani. — Deveria ter visto os sinais.
— Não, — disse Ar’alani. — Eu deveria ter. Mas não você.
— Porque você é mais experiente?
— Porque você não entende de política, — respondeu Ar’alani. — Política,
disputa por posição, rixas, rancores, balanceamento de contabilidade, são
coisas sobre as quais você nunca teve um controle sólido.
— Mas porque não? — Perguntou Thrawn. — Eu não discordo; mas é tudo
estratégia e tática. Apenas uma forma diferente de guerra. Por que eu não
consigo ler?
— Porque as técnicas de guerra são relativamente diretas, — respondeu
Ar’alani. — Você identifica o objetivo, reúne aliados e recursos, elabora uma
estratégia e derrota o inimigo. Mas na política, aliados e objetivos mudam
constantemente. A menos que você possa antecipar essas mudanças, não
pode se preparar pra elas.
— As alianças também podem mudar na guerra.
— Mas leva tempo para mover naves e exércitos e reconfigurar as linhas
de batalha, — contrapôs Ar’alani. — Você tem tempo para se adaptar à nova
paisagem. Na política, tudo é feito com palavras e partes de escrita. Meia
hora de conversa, menos do que isso se houver suborno envolvido, e tudo
mudou.
— Entendo. — Thrawn respirou fundo. — Então preciso estudar essa forma
de combate. Estuda-la e domina-la.
— Isso seria útil, — disse Ar’alani.
Só que ele nunca iria dominar isso, ela sabia. Assim como alguns eram
surdos para a música, Thrawn era surdo para as nuances e intrincadas
danças egoístas que constituíam o mundo da política.
Só podia esperar que ele e os supervisores dele fossem astutos o
suficiente para mantê-lo na arena militar. Lá, e somente lá, ele seria de
valor genuíno e duradouro para a Ascendência.


Thurfian teve que engolir muitos goles amargos durante os seus anos
lidando com a política da Ascendência. Mas esse gole era absolutamente
o pior de todos.
— Um Surgido-na-provação, — ele disse ao homem que o encarava no
painel de comunicação. — Depois do fiasco com os Lioaoi e os Garwians,
você o está tornando um Surgido-na-provação?
— Não temos escolha, — respondeu o Porta-voz Thistrian pesadamente.
— Os da Irizi estão fazendo propostas sérias pra ele.
— Eles já tentaram isso, — informou Thurfian. — Ele recusou.
— Nunca oficialmente, — contrapôs o Porta-voz. — E essa oferta era
apenas para torná-lo um Surgido-na-provação. Agora eu entendo que eles
estão se preparando para oferecer a ele uma posição distante.
Thurfian sentiu os seus olhos se arregalarem.
— Uma posição distante? Isso é um absurdo.
— Talvez sim. Talvez não. E até mesmo o Thrawn não é cego o suficiente
para perder as vantagens políticas que isso lhe daria. Tudo o que podemos
fazer é esperar que prefira trocar ser Surgido-na-provação na Mitth a uma
posição distante na Irizi.
— Eles estão blefando, — insistiu Thurfian. — Estão tentando nos
manobrar para atraí-lo e amarrá-lo mais perto da família. Quanto mais
perto ele estiver, maiores serão as consequências políticas quando
cometer o seu próximo grande erro.
— Talvez ele não vá.
— Não vai cometer um erro? — Thurfian bufou. — Você não acredita nisso
mais do que eu. O homem é uma ameaça. Dê a ele tempo suficiente e se
queimará. E talvez a Mitth junto com ele.
— Ou talvez faça algo que eleve a Ascendência a alturas nunca antes
alcançadas.
Thurfian olhou para ele.
— Você está brincando certo? Para alturas nunca alançadas?
— Pode acontecer, — disse o Porta-voz com tristeza. — E se isso acontecer,
não podemos correr o risco de que a glória brilhe na Irizi em vez de nós.
— Com todo o devido respeito, Porta-voz, não haverá nenhuma glória, —
disse Thurfian. — Certamente o Conselho não está olhando pra tudo isso
com olhos brilhantes. Eles já o rebaixaram a comandante intermediário.
— Mas eles também deram a ele outra nave, — ponderou Thistrian.
Pela segunda vez em menos de um minuto, Thurfian sentiu os seus
olhos se arregalarem.
— Eles fizeram o quê?
— Um cruzador pesado de categoria completa desta vez, também, a
Falcão de Primavera, — confirmou o Porta-voz. — Além disso, fala-se em dar
a ele o seu próprio grupo de combate, a Força de Piquete Dois.
Thurfian olhou para o Porta-voz, um calafrio percorrendo-o.
— Quem está fazendo isso? — ele perguntou, a sua garganta apertada. —
Alguém está queimando capital político sério aqui. Quem?
— Não sei, — disse o Porta-voz pesadamente. — Do lado da frota, o
melhor palpite é que seja o General Ba’kif ou possivelmente o Almirante
Ja’fosk. Do lado Mitth... — Ele balançou a cabeça. — Tem que ser alguém
próximo ao Patriarca.
— Poderia ser o próprio Patriarca?
— Eu hesitaria em colocar esse nome nisso, — disse o Porta-voz. — Mas
também não descartaria esse pensamento imediatamente. Certamente, a
vida e a carreira de Thrawn foram encantadas desde o início.
— Isso ainda é uma loucura, — disse Thurfian. — Os fracassos e
embaraços dele ainda superam os sucessos.
— Eu tenderia a concordar, — admitiu o Porta-voz. — Mas há loucura, e
então há loucura. Eu olhei para a tarefa atual do Piquete Dois e descobri
que eles estão trabalhando em uma zona de patrulha a uma boa distância
do limite leste do zênite da Ascendência. Isso o colocaria bem longe do
centro da política da Ascendência.
Thurfian repassou isso em sua mente. Dada a inaptidão política de
Thrawn, essa não seria a pior missão que eles poderiam dar a ele.
— E também fica do outro lado da Ascendência em relação aos Lioaoi e
Garwians.
— Outra vantagem, na minha opinião, — concordou o Porta-voz. —
Principalmente o que está lá perto são pequenas nações, grupos de
sistemas únicos, espaço vazio e piratas.
— Ótimo, — disse Thurfian amargamente. — Mais piratas.
— Mas naquele lado da Ascendência, as únicas nações grandes o
suficiente para sustentar um grupo pirata são os Paataatus, — destacou o
Porta-voz. — Isso significa menos potencial para complicações políticas se
ele for caçar. Além disso, já demonstrou que pode vencer os Paataatus se
precisar, e sabem disso.
— Imagino, — admitiu Thurfian. — O Conselho ainda poderia tê-lo
enviado pra lá sem lhe dar uma nave.
— Talvez, — disse o Porta-voz. — Ainda assim, a Falcão de Primavera não é
um grande prêmio. Não há glória para se ter lá, apenas as pressões e
responsabilidades do comando. Considerando todas as coisas, poderia ter
sido pior.
— Sério? — questionou Thurfian. Comandante de um cruzador e Surgido-
na-provação da Mitth. Se pudesse ter sido pior, ele mal conseguia ver
como.
Mas isso não acabou. Quase não. Se Thrawn rejeitasse a Irizi
novamente, e se o Porta-voz Thistrian estivesse certo ao dizer que essa era
uma conclusão precipitada, isso colocaria o Aristocrata Zistalmu ainda
mais solidamente ao lado de Thurfian. Juntos, eles continuariam com os
seus esforços para descarrilar a carreira de Thrawn antes que fizesse algo
de que a Ascendência jamais pudesse se recuperar.
E enquanto eram só os dois agora, Thurfian não tinha dúvidas de que
mais Aristocratas se juntariam a eles nos dias e anos que viriam. Se havia
um amor que todos compartilhavam, acima e além de toda política familiar
e disputas, era o amor pela Ascendência.
— Veja o lado bom, Thurfian, — disse o Porta-voz colocando os seus
pensamentos. — O que quer que Thrawn faça a seguir, pelo menos será
divertido de assistir.
— Tenho certeza que sim, — concordou Thurfian severamente. — Só
espero que todos vivamos para isso.
—E les não estão felizes com você, você sabe, — Thalias avisou
enquanto colocava o prato de triângulos yapel aquecidos na frente de Che'ri.
Era hora do jantar, o que deveria significar uma refeição devidamente
balanceada, mas Che'ri queria yapels e Thalias decidiu que uma refeição de
comida rápida não a mataria. Deus sabia que a garota tinha ganhado alguma
indulgência. — Eu falei com a Almirante Ar’alani antes dela entrar na
audiência. Ela disse que alguns dos Aristocratas querem apresentar
acusações contra você por colocar uma sky-walker em risco.
— Eu sei, — disse Thrawn. — Mas esse sentimento não vai a lugar
nenhum. Como já disse a eles, enviei você e Che'ri a Primea para devolver
o caça Vak e entregar uma mensagem, esperando que você retornasse a
Csilla no próximo transporte disponível. Foi a decisão de Yiv que colocou
vocês em risco.
Thalias acenou com a cabeça. Isso era verdade, até onde isso ia.
Mas neste ponto isso quase não importava. A Aristocracia poderia estar
tão furiosa quanto quisessem, mas a demonstração de gratidão dos Vaks
puxou o ímpeto da esperança de que pudessem infligir qualquer punição
real.
Isso, e o fato de Thrawn ter entregue Yiv vivo para interrogatório.
Thalias não fazia ideia do que o Conselho e a Aristocracia aprenderam com
ele e com os arquivos de dados que retiraram da Imortal, pois Yiv tinha
parecido a Thalias que era o tipo de pessoa que amava exibir o seu próprio
brilho, mesmo que a única pessoa permitida a ver e apreciar esse brilho
fosse ele mesmo. Não tinha dúvidas de que os registros da autoindulgência
dele incluíam os seus planos precisos para a Ascendência.
— Pelo menos você está melhorando na política, — ela disse. — Entre a
Aristocracia e os Vaks, você está aprendendo a jogar.
Thrawn balançou a cabeça.
— Não. Ar’alani e o General Ba’kif estão cuidando dos negócios com os
Aristocratas. Quanto aos Vaks, isso nunca foi estritamente sobre política.
— Eu ainda não entendo essa parte, — disse Che'ri com a boca cheia de
comida. — Todo mundo disse que querem ver todos os lados das coisas.
Mas então simplesmente ficaram do nosso lado e atacaram os Nikardun
quando nós pedimos.
— Na verdade, a solução também veio da Almirante, — explicou
Thrawn. — No último momento, ela viu algo que não tinha visto.
Thalias se endireitou um pouco mais.
— Você perdeu alguma coisa?
— Eu perdi muitas coisas, — ele respondeu. — E eu tive parte nisso, é
claro. Os Vaks querem ver todos os vários pontos de vista, todas as
diferentes linhas de pensamento, exatamente como todo mundo diz. Mas
essas linhas de pensamento não recebem o mesmo peso.
Thalias se lembrou da obra de arte que ela e Thrawn tinham visto na
galeria de arte em Primea.
— Mas você disse que a arte deles mostrava essa coisa de toda a linha de
pensamento, — ela objetou.
— Verdade, — concordou Thrawn. — Mas se todas as linhas tivessem o
mesmo peso, a arte deles seria um rabisco de confusão, sem direção ou
foco.
— Então eles decidem de quais linhas de pensamento gostam mais? —
Perguntou Che'ri.
— Quais gostam, mas o mais importante, em quais eles confiam. Não há
realmente nada de surpreendente nisso. Não importa o que as pessoas
digam, elas sempre fazem julgamentos de valor das informações e opiniões
que recebem. Não poderiam funcionar de outra forma.
— Entendo, — disse Che'ri, animando-se. — Quando você mostrou a
eles que Yiv havia roubado a sua mensagem para eles, que ele mentiu,
parou de ser alguém em quem eles podiam confiar.
— Exatamente, — concordou Thrawn. — Pior ainda, do ponto de vista
deles, assim que isso aconteceu, tudo o que disse tornou-se suspeito.
— Então, todas as suas promessas e negociações foram direto pelo ralo,
— completou Thalias.
— Correto, — disse Thrawn.
— Então, o que foi que a Almirante Ar’alani viu? — Thalias perguntou.
— Ela estava examinando a história dos Vak e viu algo estranho, —
respondeu Thrawn. — Apesar de todo o desprezo que os seus vizinhos lhes
deram ao longo dos anos, alegando que não podiam tomar uma decisão,
todos esses vizinhos foram muito cuidadosos em seus confrontos para
nunca matar um Vak em combate.
Thalias olhou para Che'ri e viu sua própria surpresa refletida no rosto da
garota.
— Sério?
— Sério, — respondeu Thrawn. — Porque sabiam a mesma coisa que
Ar’alani percebeu. Os Vaks valorizam as linhas de pensamento de todos...
mas quando alguém é morto, as suas linhas de pensamento desaparecem
para sempre. Isso rouba todas as informações do Combinado e ameaça a
cultura.
— Portanto, um ataque a qualquer indivíduo é um ataque a toda a
sociedade, — completou Thalias, assentindo.
— Exatamente, — disse Thrawn. — Se Yiv percebeu ou não isso, o
comandante do Encouraçado de Batalha que tinha a tarefa de destruir a
Falcão de Primavera aparentemente não se importava com tais sutilezas.
Ar’alani foi capaz de induzi-lo a atirar em duas naves Vak não-combatentes,
matando as suas tripulações e despertando aquela fúria cultural. Nesse
ponto, todo o resto das linhas de pensamento desapareceu de repente, com
apenas uma remanescente.
— Aquela onde eles se unem para proteger o seu mundo e o seu povo,
— murmurou Thalias.
— E com o plano de coordenação de batalha que já havia dado a eles,
não houve falhas ou falsos começos. Eles e as naves de guerra de Ar’alani
rapidamente e com eficiência juntaram forças contra os Nikardun.
— E ela percebeu tudo isso só de ler a história? — perguntou Che'ri.
— Isso e a maneira como ela olha para o universo, — disse Thrawn com
um sorriso estranhamente triste. — Onde eu vejo os não-Chiss como ativos,
ela os vê como pessoas.
Thalias olhou pra Che'ri. Muitas pessoas também viam as sky-walkers
apenas como ativos, também.
— Isso faz dela uma boa comandante.
— De fato, é verdade, — concordou Thrawn. — Certamente uma
comandante melhor do que eu.
— Talvez sim, talvez não, — disse Thalias. — Diferente não significa
necessariamente melhor ou pior. Diferente apenas significa diferente.
— Era o seu plano de batalha, certo? — Che’ri interveio. — Ela os
colocou do nosso lado, mas foram vocês dois juntos que venceram a luta.
— Junto com os guerreiros da frota de ataque dela, — disse Thrawn. —
Os seus oficiais a seguem com confiança, até mesmo com ansiedade. Os
meus me seguem porque são bons guerreiros Chiss.
— Então mude, — Thalias sugeriu. — Aprenda como ela faz isso.
— Não tenho certeza se posso.
— Não tinha certeza se poderia voar, — disse Che'ri. — Você me
ensinou como.
— E você tem me ensinado como observar e pensar, — acrescentou
Thalias. — Quanto à confiança, se você acha que Che’ri e eu colocamos as
nossas cabeças na armadilha de Yiv só porque somos boas guerreiras Chiss,
você realmente não entende as pessoas. Ou pelo menos não nos entendende.
— E que demore muito para que qualquer uma de vocês seja forçada a
confiar novamente, — disse Thrawn. — A Ascendência deve muito a
vocês, Sky-walker Che'ri e Thalias, Surgida-na-provação da Mitth.
— Você é uma Surgida-na-provação? — Che'ri disse, sorrindo com
prazer. — Uau! Isso é ótimo!
— Obrigada, — disse Thalias, piscando para o Thrawn. — Não sabia
que eles haviam anunciado isso ainda.
— Uma heroína, a estrela brilhante da Mitth? — Thrawn sorriu. —
Confie em mim. Se pudessem ter anunciado você como uma posição
distante, eles o fariam. Mas essa hora vai chegar.
— Talvez, — Thalias disse.
— Claro que vão, — disse Che'ri. — Nós somos heroínas. O capitão
Thrawn acabou de dizer isso.
— Você é realmente. — Thrawn se levantou. — E agora eu preciso
voltar para o estaleiro. A Falcão de Primavera vai precisar de reparos
extensos, e me disseram que o contramestre gostaria que estivesse lá
pessoalmente para ouvir o seu relatório.
— Obrigada por ter vindo, — disse Thalias. — Che'ri e eu queríamos
saber como tudo acabou, mas ninguém teve tempo de falar conosco.
— De nada, — disse Thrawn. — Espero que você possa se juntar a nós a
bordo da Falcão de Primavera novamente em um futuro próximo.
— Se tivermos algo a dizer sobre isso, nós o faremos, — Thalias
prometeu.
Embora isso presumisse, é claro, que ela teria permissão para continuar
como cuidadora de Che'ri. Agora, isso era tudo menos certo.
— Então tome cuidado, — ele disse. Assentindo pra cada uma delas, ele
se virou e caminhou pela escotilha.
Thalias o observou partir, as palavras do Patriarca ecoando em sua
mente: E cuide do seu comandante. Eu não posso ajudar, mas sinto que ele
detém a chave para o futuro da Ascendência, seja esse futuro triunfo ou a
destruição final.
— Thalias?
Thalias se virou para ver Che'ri franzindo a testa para um yapel que ela
pegou.
— Sim?
Che'ri olhou para o lanche por outro momento, então o colocou de volta
no prato.
— Terminei com isso, — ela disse. — Posso comer comida de verdade
agora?
— Você certamente pode, — Thalias disse, sorrindo. — O que
exatamente você gostaria?

O transe terminou abruptamente, e com um sobressalto Qilori se viu


arrancado da Grande Presença.
Piscou abrindo os olhos. Ainda estava na ponte da sua nave atual,
aninhado em um assento de navegador configurado.
Mas as luzes e mostradores que deveriam mostrar a posição e a situação
estavam em branco. De alguma forma, a energia dos sistemas de voo e
navegação foi desligada.
E ao tirar o fone de ouvido, ele viu, para a sua surpresa, que a ponte
estava deserta.
— Olá? — ele chamou timidamente.
Sem resposta.
— Olá? — ele repetiu, olhando para a janela de exibição enquanto
procurava por suas alças. A nave estava flutuando morta no espaço, bem no
meio do nada, sem estrelas ou planetas próximos que ele pudesse ver. O que
droga tinha acontecido? — Tem alguém aí?
— Saudações, Qilori de Uandualon, — uma voz culta veio do alto-
falante da ponte. — Perdoe a interrupção em nossa jornada, mas eu gostaria
de falar com você em particular.
— Claro, — Qilori conseguiu dizer, as suas winglets vibrando com mais
força desde o grande confronto de Thrawn com o Benevolente, dois meses
atrás. — Sim. Eu... posso perguntar o seu nome?
— Não pode, — a voz disse calmamente. — Conte-me sobre Yiv o
Benevolente.
Qilori sentiu as suas winglets se contraírem. Ele pensou, esperava, que
tudo isso finalmente tivesse passado. Claramente, não tinha.
— Eu... não sei o que você quer dizer.
— Ele desapareceu, — disse a voz. — Um boato diz que ele foi morto
em combate. Outro diz que desertou para os Chiss ou outro grupo. Outro
diz que abandonou as suas forças e foi viver com luxo, tranquilo, nos
confins do Caos. O que você diz?
Qilori pressionou as suas winglets contra as suas bochechas, tentando
fazer com que parassem de se mover. Thrawn havia avisado que qualquer
palavra dele sobre o assunto do destino de Yiv terminaria com Qilori sendo
expulso dos Rastreadores e os Rastreadores sendo expulsos da Guilda dos
Navegadores.
— Eu não…
— Você vê onde você está? — a voz interrompeu. — Estamos entre
sistemas estelares, a anos-luz de qualquer lugar. Se você saísse agora, o seu
corpo flutuaria para sempre no vazio, sem ninguém saber o que aconteceu
com você. Você prefere isso a responder à minha pergunta?
— Não, — Qilori sussurrou. — Yiv foi... capturado. Ele foi levado pelos
Chiss. Pelo Capitão Sênior Thrawn.
— E o Destino Nikardun?
Qilori acenou com a mão desamparadamente.
— Yiv era o Destino Nikardun, — ele disse. — Ele era o líder
indiscutível. Quando desapareceu... não havia mais ninguém que pudesse
tomar o seu lugar. Ninguém que pudesse continuar os relacionamentos que
construiu com governos estrangeiros. A incerteza sobre o que tinha
acontecido com ele, por si só congelou os planos e os pensamentos de
todos. E quando os Vaks começaram a descrever para todos na região como
as suas naves acabaram com as deles ... — Ele balançou a cabeça. — Tudo
desmoronou. Alguns dos seus chefes ainda falam em reiniciar o caminho de
conquista dele, mas ninguém acredita mais nisso. Mesmo se eles tentarem,
acabarão lutando entre si.
— E o mapa de Yiv para essa estrada de conquista?
Qilori suspirou.
— Os Chiss pegaram Yiv. Eles provavelmente pegaram o mapa e todo o
resto também.
Por um momento, a voz ficou em silêncio. — Você tinha um futuro
brilhante pela frente. Você deseja que isso seja retomado?
— Já disse a você que os Nikardun estão acabados.
Houve um pequeno bufo.
— Os Nikardun eram tolos. Idiotas violentos e destrutivos. Úteis à sua
maneira, mas sempre soubemos que iriam quebrar como uma onda do
oceano se encontrassem uma barreira de mar muito firme.
— Você era o mestre do Benevolente então? — Qilori perguntou.
Um instante depois, ele lamentou sua impulsividade. Estava claro que
estava ali para responder a perguntas, não para fazer perguntas. O vazio
profundo e frio do espaço...
— Você supõe, então, que só pode haver uma mente militar que vê os
Chiss como o principal obstáculo ao domínio sobre o Caos? — a voz veio.
Para alívio de Qilori, parecia haver mais diversão sombria do que raiva no
tom. — Não, Qilori de Uandualon. Se estivéssemos guiando os esforços de
Yiv, em vez de apenas observá-los, teria sido muito mais bem-sucedido.
— É claro, — disse Qilori, abaixando a cabeça. — Peço desculpas por
qualquer ofensa.
— Nenhuma foi notada. — De qualquer forma, o ataque frontal falhou,
como muitos de nós previram que aconteceria. Claramente, algo mais sutil
será necessário.
Qilori apurou os ouvidos.
— Você está indo contra os Chiss?
— Você desaprova?
— Nem um pouco, — Qilori o assegurou. — Eles tiraram a minha vida
de mim. Se a sua oferta de um futuro brilhante inclui vingança contra os
Chiss, pode contar comigo.
— Excelente.
De repente, os mostradores e controles voltaram à vida. Qilori respirou
fundo, observando enquanto as auto verificações eram apagadas,
observando enquanto o visor de localização se calibrava. A sua avaliação
anterior estava correta: estavam quase no meio do nada.
— Você pode continuar a nossa jornada, — a voz continuou. —
Voltaremos a conversar mais tarde.
— Sim, — disse Qilori. — Eu posso... se não posso saber o seu nome,
você pode pelo menos me dizer como chamá-lo?
— Jixtus, — disse a voz. — Você pode me chamar de Jixtus. Anote bem
esse nome, Qilori de Uandualon.
— Este é o nome daquele que vai finalmente destruir completamente a
Ascendência Chiss.
STAR WARS / THRAWN - ASCENDÊNCIA (LIVRO I: CAOS
CRESCENTE)
TÍTULO ORIGINAL: Star Wars / Thrawn - Ascendancy (Book I: Chaos Rising)

COPIDESQUE: TRADUTORES DOS WHILLS

REVISÃO: TRADUTORES DOS WHILLS

DIAGRAMAÇÃO: TRADUTORES DOS WHILLS

ILUSTRAÇÃO: Elizabeth A. D. Eno

GERENTE EDITORIAL: TRADUTORES DOS WHILLS

DIREÇÃO EDITORIAL: TRADUTORES DOS WHILLS

VERSÃO ELETRÔNICA: TRADUTORES DOS WHILLS

ASSISTENTES EDITORIAIS: TRADUTORES DOS WHILLS

COPYRIGHT © & TM 2020 LUCASFILM LTD.


COPYRIGHT ©TRADUTORES DOS WHILLS, 2021
(EDIÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA PARA O BRASIL)
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
PROIBIDA A REPRODUÇÃO, NO TODO OU EM PARTE, ATRAVÉS DE QUAISQUER MEIOS.

THRAWN - ASCENDÊNCIA (LIVRO I: CAOS CRESCENTE) É UM LIVRO DE FICÇÃO. TODOS OS PERSONAGENS,


LUGARES E ACONTECIMENTOS SÃO FICCIONAIS.

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


F93r Zahn, Timothy
THRAWN - ASCENDÊNCIA (LIVRO I: CAOS CRESCENTE) [recurso eletrônico] / Timothy
Zahn ; traduzido por RED SKULL MYTHOSAUR
448 p. : 1.0 MB.

Tradução de: Thrawn - Ascendancy (Book I: Chaos Rising)


ISBN: 978-05-93-15-76-95 (Ebook)

1. Literatura norte-americana. 2. Ficção científica. I. DOS WHILLS, TRADUTORES CF. II.


Título.

2020-274 CDD 813.0876


CDU 821.111(73)-3

ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO:

Literatura : Ficção Norte-Americana 813.0876


Literatura norte-americana : Ficção 821.111(73)-3

tradutoresdoswhills.wordpress.com
SOBRE O AUTOR

TIMOTHY ZAHN é autor de mais de sessenta romances, mais de


cem contos e novelas e cinco coleções de contos de ficção. Em
1984, ganhou o Prêmio Hugo de melhor novela. Zahn é mais
conhecido por seus romances de Star Wars (Thrawn, Thrawn:
Alianças, Thrawn: Traição, Herdeiro do Império, Ascenção da
Força Sombria, O Último Comando, Fantasmas do Passado,
Visão do Futuro, Survivor's Quest, Outbound Flight, Allegiance,
Escolhas de Um e Scoundrels), com mais de oito milhões de
cópias de seus livros impressos. Outros livros incluem
StarCraft: Evolution, a série Cobra, a série Quadrail e a série
jovem adulto Dragonback. Zahn tem bacharelado em física pela
Universidade Estadual de Michigan e um mestrado pela
Universidade de Illinois. Ele mora com a sua família na costa do
Oregon.

FaceBook.com/TimothyZahn
Star Wars: Guardiões dos Whills
Baixe agora e leia

No mundo do deserto de Jedha, na Cidade Santa, os amigos Baze e


Chirrut costumavam ser Guardiões das colinas, que cuidavam do
Templo de Kyber e dos devotos peregrinos que adoravam lá. Então
o Império veio e assumiu o planeta. O templo foi destruído e as
pessoas espalhadas. Agora, Baze e Chirrut fazem o que podem
para resistir ao Império e proteger as pessoas de Jedha, mas nunca
parece ser suficiente. Então um homem chamado Saw Gerrera
chega, com uma milícia de seus próprios e grandes planos para
derrubar o Império. Parece ser a maneira perfeita para Baze e
Chirrut fazer uma diferença real e ajudar as pessoas de Jedha a
viver melhores vidas. Mas isso vai custar caro?

Baixe agora e leia


STAR WARS: Episódio VIII: Os Últimos Jedi
(Movie StoryBook)
Baixe agora e leia

Um livro de imagens ilustrado que reconta o filme Star Wars: Os


Últimos Jedi.

Baixe agora e leia


Chewie e a Garota Corajosa
Baixe agora e leia

Um WoCertoiee é o melhor amigo de uma menina! Quando


Chewbacca conhece a jovem Zarro na Orla Exterior, ele não tem
escolha a não ser deixar de lado sua própria missão para ajudá-la a
resgatar seu pai de uma mina perigosa. Essa incrível Aventura foi
baseada na HQ do Chewbacca… (FAIXA ETÁRIA: 6 a 8 anos)

Baixe agora e leia


Star Wars: AhsCertoa
Baixe agora e leia

Esse é o Terceiro Ebook dos Tradutores dos Whills com uma


aventura emocionante sobre uma heroína corajosa das Séries de
TV Clone Wars e Rebels: AhsCertoa Tano! Os fãs há muito tempo
se perguntam o que aconteceu com AhsCertoa depois que ela
deixou a Ordem Jedi perto do fim das Guerras Clônicas, e antes
dela reaparecer como a misteriosa operadora rebelde Fulcro em
Rebels. Finalmente, sua história começará a ser contada. Seguindo
suas experiências com os Jedi e a devastação da Ordem 66,
AhsCertoa não tem certeza de que possa fazer parte de um todo
maior de novo. Mas seu desejo de combater os males do Império e
proteger aqueles que precisam disso e levará a Bail Organa e a
Aliança Rebelde….

Baixe agora e leia


Star Wars: Kenobi Exílio
Baixe agora e leia

A República foi destruída, e agora a galáxia é governada pelos


terríveis Sith. Obi-Wan Kenobi, o grande cavaleiro Jedi, perdeu
tudo… menos a esperança. Após os terríveis acontecimentos que
deram fim à República, coube ao grande mestre Jedi Obi-Wan
Kenobi manter a sanidade na missão de proteger aquele que pode
ser a última esperança da resistência ao Império. Vivendo entre
fazendeiros no remoto e desértico planeta Tatooine, nos confins da
galáxia, o que Obi-Wan mais deseja é manter-se no completo
anonimato e, para isso, evita o contato com os moradores locais. No
entanto, todos esses esforços podem ser em vão quando o “Velho
Ben”, como o cavaleiro passa a ser conhecido, se vê envolvido na
luta pela sobrevivência dos habitantes por uma Grande Seca e por
causa de um chefe do crime e do povo da areia. Se com o Novo
Cânone pudéssemos encontrar todos os materiais disponíveis aos
anos de Exílio de Obi-Wan Kenobi em um só Lugar? Após o Livro
Kenobi se tornar Legend, os fãs ficaram sem saber o que aconteceu
com o Velho Ben nesse tempo de reclusão. Então os Tradutores dos
Whills também se fizeram essa pergunta e resolveram fazer esse
trabalho de compilação dos Contos, Ebooks, Séries Animadas e
HQs, em um só Ebook Especial e Canônico para todos os Fãs!!

Baixe agora e leia


Star Wars: DoCertoan: O Jedi Perdido
Baixe agora e leia

Esse é o Quarto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma


aventura emocionante sobre um Vilão dos Filmes e da Série de TV
Clone Wars: Conde DoCertoan! Mergulhe na história do sinistro
Conde DoCertoan no roteiro original da emocionante produção de
áudio de Star Wars! Darth Tyranus. Conde de Serenno. Líder dos
Separatistas. Um sabre vermelho, desembainhado no escuro. Mas
quem era ele antes de se tornar a mão direita dos Sith? Quando
DoCertoan corteja uma nova aprendiz, a verdade oculta do passado
do Lorde Sith começa a aparecer. A vida de DoCertoan começou
como um privilégio, nascido dentro das muralhas pedregosas da
propriedade de sua família. Mas logo, suas habilidades Jedi são
reconhecidas, e ele é levado de sua casa para ser treinado nos
caminhos da Força pelo lendário Mestre Yoda. Enquanto ele afia
seu poder, DoCertoan sobe na hierarquia, fazendo amizade com
Jedi Sifo-Dyas e levando um Padawan, o promissor Qui-Gon Jinn, e
tenta esquecer a vida que ele levou uma vez. Mas ele se vê atraído
por um estranho fascínio pela mestra Jedi Lene Kostana, e pela
missão que ela empreende para a Ordem: encontrar e estudar
relíquias antigas dos Sith, em preparação para o eventual retorno
dos inimigos mais mortais que os Jedi já enfrentaram. Preso entre o
mundo dos Jedi, as responsabilidades antigas de sua casa perdida
e o poder sedutor das relíquias, DoCertoan luta para permanecer na
luz, mesmo quando começa a cair na escuridão.

Baixe agora e leia


Star Wars: Discípulo Sombrio
Baixe agora e leia

Esse é o Quinto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma


aventura emocionante sobre um Vilões e Heróis dos Filmes e da
Série de TV Clone Wars! Baseado em episódios não produzidos de
Star Wars: The Clone Wars, este novo romance apresenta Asajj
Ventress, a ex-aprendiz Sith que se tornou um caçadora de
recompensas e uma das maiores anti-heróis da galáxia de Star
Wars. Na guerra pelo controle da galáxia entre os exércitos do lado
negro e da República, o ex-Mestre Jedi se tornou cruel. O Lorde Sith
Conde DoCertoan se tornou cada vez mais brutal em suas táticas.
Apesar dos poderes dos Jedi e das proezas militares de seu
exército de clones, o grande número de mortes está cobrando um
preço terrível. E quando DoCertoan ordena o massacre de uma
flotilha de refugiados indefesos, o Conselho Jedi sente que não tem
escolha a não ser tomar medidas drásticas: atacar o homem
responsável por tantas atrocidades de guerra, o próprio Conde
DoCertoan. Mas o DoCertoan sempre evasivo é uma presa perigosa
para o caçador mais hábil. Portanto, o Conselho toma a decisão
ousada de trazer tanto os lados do poder da Força de suportar, —
juntar o ousado Cavaleiro Quinlan Vos com a infame acólita Sith
Asajj Ventress. Embora a desconfiança dos Jedi pela astuta
assassina que uma vez serviu ao lado de DoCertoan ainda seja
profunda, o ódio de Ventress por seu antigo mestre é mais profundo.
Ela está mais do que disposta a emprestar seus copiosos talentos
como caçadora de recompensas, e assassina, na busca de
Vos.Juntos, Ventress e Vos são as melhores esperanças para
eliminar a DoCertoan, — desde que os sentimentos emergentes
entre eles não comprometam a sua missão. Mas Ventress está
determinada a ter sua vingança e, finalmente, deixar de lado seu
passado sombrio de Sith. Equilibrando as emoções complicadas
que sente por Vos com a fúria de seu espírito guerreiro, ela resolve
reivindicar a vitória em todas as frentes, uma promessa que será
impiedosamente testada por seu inimigo mortal… e sua própria
dúvida.

Baixe agora e leia


Star Wars: Episódio IX: A Ascensão do Skywalker:
Edição Expandida

Baixe agora e leia

Leia o épico capítulo final da saga Skywalker com a novelização


oficial de Star Wars: A Ascensão Skywalker, incluindo cenas
ampliadas e conteúdo adicional não visto nos cinemas! A
Resistência renasceu. Mas, embora Rey e seus companheiros
heróis estejam de volta à luta, a guerra contra a Primeira Ordem,
agora liderada pelo líder supremo Kylo Ren, está longe de terminar.
Assim como a faísca da rebelião está reacendendo, um sinal
misterioso é transmitido por toda a galáxia, com uma mensagem
assustadora: o Imperador Palpatine, há muito pensado derrotado e
destruído, está de volta dos mortos. O antigo Senhor dos Sith
realmente voltou? Kylo Ren corta uma faixa de destruição pelas
estrelas, determinado a descobrir qualquer desafio ao seu controle
sobre a Primeira Ordem e seu destino para governar a galáxia — e
esmagá-la completamente. Enquanto isso, para descobrir a
verdade, Rey, Finn, Poe e a Resistência devem embarcar na
aventura mais perigosa que já enfrentaram. Apresentando cenas
totalmente novas, adaptadas de material nunca visto, cenas
excluídas e informações dos cineastas, a história que começou em
Star Wars: O Despertar da Força e continuou em Star Wars: Os
Últimos Jedi chega a uma conclusão surpreendente.

Baixe agora e leia


Star Wars: Os Segredos Dos Jedi

Baixe agora e leia

Descubra o mundo dos Jedi de Star Wars através desta experiência


de leitura divertida e totalmente interativa. Star Wars: Jediografia é o
melhor guia do universo Jedi para o universo dos Jedi,
transportando jovens leitores para uma galáxia muito distante,
através de recursos interativos, fatos fascinantes e ideias cativantes.
Com ilustrações originais emocionantes e incríveis recursos
especiais, como elevar as abas, texturas e muito mais, Star Wars:
Jediografia garante a emoção das legiões de jovens fãs da saga.

Baixe agora e leia


Star Wars:Thrawn: Alianças

Baixe agora e leia

Palavras sinistras em qualquer circunstância, mas ainda mais


quando proferidas pelo Imperador Palpatine. Em Batuu, nos limites
das Regiões Desconhecidas, uma ameaça ao Império está se
enraizando. Com a sua existência pouco mais que um vislumbre, as
suas consequências ainda desconhecidas. Mas é preocupante o
suficiente para o líder imperial justificar a investigação de seus
agentes mais poderosos: o impiedoso agente Lorde Darth Vader e o
brilhante estrategista grão almirante Thrawn. Rivais ferozes a favor
do Imperador e adversários francos nos assuntos imperiais,
incluindo o projeto Estrela da Morte, o par formidável parece
parceiros improváveis para uma missão tão crucial. Mas o
Imperador sabe que não é a primeira vez que Vader e Thrawn
juntam forças. E há mais por trás de seu comando real do que
qualquer um dos suspeitos. No que parece uma vida atrás, o
general Anakin Skywalker da República Galáctica e o comandante
Mitth’raw’nuruodo, oficial da Ascensão do Chiss, cruzaram o
caminho pela primeira vez. Um em uma busca pessoal
desesperada, o outro com motivos desconhecidos... e não
divulgados. Mas, diante de uma série de perigos em um mundo
longínquo, eles forjaram uma aliança desconfortável, — nem
remotamente cientes do que seus futuros reservavam. Agora,
reunidos mais uma vez, eles se veem novamente ligados ao planeta
onde lutaram lado a lado. Lá eles serão duplamente desafiados, —
por uma prova de sua lealdade ao Império... e um inimigo que
ameaça até seu poder combinado.

Baixe agora e leia


Star Wars: Legado da Força: Traição

Baixe agora e leia

Esta é a era do legado de Luke Skywalker: o Mestre Jedi unificou a


Ordem em um grupo coeso de poderosos Cavaleiros Jedi. Mas
enquanto a nova era começa, os interesses planetários ameaçam
atrapalhar esse momento de relativa paz, e Luke é atormentado
com visões de uma escuridão que se aproxima. O mal está
ressurgindo “das melhores intenções” e parece que o legado dos
Skywalkers pode dar um ciclo completo.A honra e o dever colidirão
com a amizade e os laços de sangue, à medida que os Skywalker e
o clã Solo se encontrarem em lados opostos de um conflito
explosivo com repercussões potencialmente devastadoras para
ambas as famílias, para a ordem Jedi e para toda a galáxia. Quando
uma missão para descobrir uma fábrica ilegal de mísseis no planeta
Aduman termina em uma emboscada violenta, da qual a Cavaleira
Jedi Jacen Solo e o seu protegido e primo, Ben Skywalker, escapam
por pouco com as suas vidas; é a evidência mais alarmante ainda
que desencadeia uma discussão política. A agitação está
ameaçando inflamar-se em total Rebelião. Os governos de vários
mundos estão se irritando com os rígidos regulamentos da Aliança
Galáctica, e os esforços diplomáticos para garantir o cumprimento
estão falhando. Temendo o pior, a Aliança prepara uma
demonstração preventiva de poder militar, numa tentativa de trazer
os mundos renegados para a frente antes que uma revolta entre em
erupção. O alvo modelado para esse exercício: o planeta Corellia,
conhecido pela independência impetuosa e pelo espírito renegado
que fizeram de seu filho favorito, Han Solo, uma lenda. Algo como
um trapaceiro, Jacen é, no entanto, obrigado como Jedi a ficar com
seu tio, o Mestre Jedi Luke Skywalkers, ao lado da Aliança
Galáctica. Mas quando os Corellianos de guerra lançam um contra-
ataque, a demonstração de força da Aliança, e uma missão secreta
para desativar a crucial Estação Central de Corellia; dão lugar a
uma escaramuça armada. Quando a fumaça baixa, as linhas de
batalha são traçadas. Agora, o espectro da guerra em grande escala
aparece entre um grupo crescente de planetas desafiadores e a
Aliança Galáctica, que alguns temem estar se tornando um novo
Império. E, enquanto os dois lados lutam para encontrar uma
solução diplomática, atos misteriosos de traição e sabotagem
ameaçam condenar os esforços de paz a todo momento.
Determinado a erradicar os que estão por trás do caos, Jacen segue
uma trilha de pistas enigmáticas para um encontro sombrio com as
mais chocantes revelações… enquanto Luke se depara com algo
ainda mais preocupante: visões de sonho de uma figura sombria
cujo poder da Força e crueldade lembram a ele de Darth Vader, um
inimigo letal que ataca como um espírito sombrio em uma missão de
destruição. Um agente do mal que, se as visões de Luke
acontecerem, trará uma dor incalculável ao Mestre Jedi e a toda a
galáxia.

Baixe agora e leia


Star Wars: Battlefront II: Esquadrão Inferno

Baixe agora e leia

Após o humilhante roubo dos planos da Estrela da Morte e a


destruição da estação de batalha, o Império está na defensiva. Mas
não por muito. Em retaliação, os soldados imperiais de elite do
Esquadrão Inferno foram chamados para a missão crucial de se
infiltrar e eliminar os guerrilheiros, a facção rebelde que já foi
liderada pelo famoso lutador pela liberdade da República, Saw
Gerrera. Após a morte de seu líder, os guerrilheiros continuaram seu
legado extremista, determinados a frustrar o Império, não importa o
custo. Agora o Esquadrão Inferno deve provar seu status como o
melhor dos melhores e derrubar os Partisans de dentro. Mas a
crescente ameaça de serem descobertos no meio de seu inimigo
transforma uma operação já perigosa em um teste ácido de fazer ou
morrer que eles não ousam falhar. Para proteger e preservar o
Império, até onde irá o Esquadrão Inferno.. . e quão longe deles?

Baixe agora e leia


Star Wars: Catalisador: Um Romance de Rogue One

Baixe agora e leia

A guerra está destruindo a galáxia. Durante anos, a República e os


Separatistas lutaram entre as estrelas, cada um construindo uma
tecnologia cada vez mais mortal na tentativa de vencer a guerra.
Como membro do projeto secreto da Estrela da Morte do Chanceler
Palpatine, Orson Krennic está determinado a desenvolver uma
super arma antes que os inimigos da República possam. E um velho
amigo de Krennic, o brilhante cientista Galen Erso, poderia ser a
chave para a tentativa de vencer a guerra. Como membro do projeto
secreto da Estrela da Morte do Chanceler Palpatine, Orson Krennic
está determinado a desenvolver uma super arma antes que os
inimigos da República possam. E um velho amigo de Krennic, o
brilhante cientista Galen Erso, poderia ser a chave. A pesquisa
focada na energia de Galen chamou a atenção de Krennic e de seus
inimigos, tornando o cientista um peão crucial no conflito galáctico.
Mas depois que Krennic resgata Galen, sua esposa, Lyra, e sua
filha Jyn, de sequestradores separatistas, a família Erso está
profundamente em dívida com Krennic. Krennic então oferece a
Galen uma oportunidade extraordinária: continuar seus estudos
científicos com todos os recursos totalmente à sua disposição.
Enquanto Galen e Lyra acreditam que sua pesquisa energética será
usada puramente de maneiras altruístas, Krennic tem outros planos
que finalmente tornarão a Estrela da Morte uma realidade. Presos
no aperto cada vez maior de seus benfeitores, os Ersos precisam
desembaraçar a teia de decepção de Krennic para salvar a si
mesmos e à própria galáxia.

Baixe agora e leia


Star Wars: Ascensão Rebelde

Baixe agora e leia

Quando Jyn Erso tinha cinco anos, sua mãe foi assassinada e seu
pai foi tirado dela para servir ao Império. Mas, apesar da perda de
seus pais, ela não está completamente sozinha, — Saw Gerrera, um
homem disposto a ir a todos os extremos necessários para resistir à
tirania imperial, acolhe-a como sua e dá a ela não apenas um lar,
mas todas as habilidades e os recursos de que ela precisa para se
tornar uma rebelde.Jyn se dedica à causa e ao homem. Mas lutar ao
lado de Saw e seu povo traz consigo o perigo e a questão de quão
longe Jyn está disposta a ir como um dos soldados de Saw. Quando
ela enfrenta uma traição impensável que destrói seu mundo, Jyn
terá que se recompor e descobrir no que ela realmente acredita… e
em quem ela pode realmente confiar.

Baixe agora e leia


Star Wars: A Alta República: A Luz dos Jedi

Baixe agora e leia

Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo


da Ameaça Fantasma. .. Os Jedi iluminaram o caminho para a
galáxia na Alta República. É uma era de ouro. Os intrépidos
batedores do hiperespaço expandem o alcance da República para
as estrelas mais distantes, mundos prosperam sob a liderança
benevolente do Senado e a paz reina, reforçada pela sabedoria e
força da renomada ordem de usuários da Força conhecidos como
Jedi. Com os Jedi no auge de seu poder, os cidadãos livres da
galáxia estão confiantes em sua habilidade de resistir a qualquer
tempestade. Mas mesmo a luz mais brilhante pode lançar uma
sombra, e algumas tempestades desafiam qualquer preparação.
Quando uma catástrofe chocante no hiperespaço despedaça uma
nave, a enxurrada de estilhaços que emergem do desastre ameaça
todo o sistema. Assim que o pedido de ajuda sai, os Jedi correm
para o local. O escopo do surgimento, no entanto, é o suficiente
para levar até os Jedi ao seu limite. Enquanto o céu se abre e a
destruição cai sobre a aliança pacífica que ajudaram a construir, os
Jedi devem confiar na Força para vê-los em um dia em que um
único erro pode custar bilhões de vidas. Mesmo enquanto os Jedi
lutam bravamente contra a calamidade, algo verdadeiramente
mortal cresce além dos limites da República. O desastre do
hiperespaço é muito mais sinistro do que os Jedi poderiam
suspeitar. Uma ameaça se esconde na escuridão, longe da era da
luz, e guarda um segredo.

Baixe agora e leia


Star Wars: A Alta República: O Grande Resgate Jedi

Baixe agora e leia

Conheça os nobres e sábios Jedi da Alta República!Quando um


desastre acontece no hiperespaço, colocando o povo de Hetzal
Prime em grave perigo, apenas os Jedi da Alta República podem
salvar o dia! Esse eBook é a forma mais incrível de introduzir as
crianças nessa nova Era da Alta República, pois reconta a história
do Ebook Luz dos Jedi de forma simples e didática para as crianças.
(FAIXA ETÁRIA: 5 a 8 anos)

Baixe agora e leia


Star Wars: A Alta República: Na Escuridão

Baixe agora e leia

Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo


da Ameaça Fantasma... Os Jedi iluminaram o caminho para a
galáxia na Alta República. Padawan Reath Silas está sendo enviado
da cosmopolita capital galáctica de Coruscant para a fronteira
subdesenvolvida, e ele não poderia estar menos feliz com isso. Ele
prefere ficar no Templo Jedi, estudando os arquivos. Mas quando a
nave em que ele está viajando é arrancada do hiperespaço em um
desastre que abrange toda a galáxia, Reath se encontra no centro
da ação. Os Jedi e seus companheiros de viagem encontram refúgio
no que parece ser uma estação espacial abandonada. Mas então
coisas estranhas começaram a acontecer, levando os Jedi a
investigar a verdade por trás da estação misteriosa, uma verdade
que pode terminar em tragédia...

Baixe agora e leia


Star Wars: A Alta República: Um Teste de Coragem

Baixe agora e leia

Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo


da Ameaça Fantasma... Vernestra Rwoh é mais nova Cavaleira Jedi
com dezesseis anos, mas a sua primeira missão de verdade parece
muito com ser babá. Ela foi encarregada de supervisionar a
aspirante a inventora Avon Starros, de 12 anos, em um cruzador
rumo à inauguração de uma nova estação espacial maravilhosa
chamada Farol Estelar. Mas logo em sua jornada, bombas explodem
a bordo do cruzador. Enquanto o Jedi adulto tenta salvar a nave,
Vernestra, Avon, o droide J-6 de Avon, um Padawan Jedi e o filho
de um embaixador conseguem chegar a uma nave de fuga, mas as
comunicações acabam e os suprimentos são poucos. Eles decidem
pousar em uma lua próxima, que oferece abrigo, mas não muito
mais. E sem o conhecimento deles, o perigo se esconde na selva…

Baixe agora e leia


Star Wars: A Alta República: Corrida para Torre
Crashpoint

Baixe agora e leia

Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo


da Ameaça Fantasma... Padawan Ram Jomaram quer cuidar das
suas atividades em paz, mas o droide V-18 vem trazer notícias
sobre a queda das comunicações. Contudo osoutros Jedi estão
resolvendo outros problemas e ele é o único disponível para
resolver a situação.

Baixe agora e leia


Star Wars: Velha República: Enganados

Baixe agora e leia

“Nossa hora chegou. Durante trezentos anos nos preparamos;


ficamos mais fortes enquanto você descansava em seu berço de
poder... Agora sua República cairá.”Um guerreiro Sith para rivalizar
com o mais sinistro dos Lordes Sombrios da Ordem, Darth Malgus
derrubou o Templo Jedi em Coruscant em um ataque brutal que
chocou a galáxia. Mas se a guerra o coroasse como o mais sombrio
dos heróis Sith, a paz o transformará em algo muito mais hediondo,
algo que Malgus nunca gostaria de ser, mas não pode parar de se
tornar, assim como ele não pode impedir a Jedi desobediente de se
aproximar rapidamente. O nome dela é Aryn Leneer - e o único
Cavaleiro Jedi que Malgus matou na batalha feroz pelo Templo Jedi
era seu Mestre. Agora ela vai descobrir o que aconteceu com ele,
mesmo que isso signifique quebrar todas as regras da Ordem.

Baixe agora e leia


Star Wars: Thrawn: Traição

Baixe agora e leia

Essa foi a promessa que o Grão Almirante Thrawn fez ao Imperador


Palpatine em seu primeiro encontro. Desde então, Thrawn tem sido
um dos instrumentos mais eficazes do Império, perseguindo os seus
inimigos até os limites da galáxia conhecida. Mas por mais que
Thrawn tenha se tornado uma arma afiada, o Imperador sonha com
algo muito mais destrutivo. Agora, enquanto o programa TIE
Defender de Thrawn é interrompido em favor do projeto
ultrassecreto conhecido apenas como Estrelinha, do Diretor Krennic,
ele percebe que o equilíbrio de poder no Império é medido por mais
do que apenas perspicácia militar ou eficiência tática. Mesmo o
maior intelecto dificilmente pode competir com o poder de aniquilar
planetas inteiros. Enquanto Thrawn trabalha para garantir o seu
lugar na hierarquia Imperial, seu ex-protegido Eli Vanto retorna com
um terrível aviso sobre o mundo natal de Thrawn. O domínio da
estratégia de Thrawn deve guiá-lo através de uma escolha
impossível: dever para com a Ascendência Chiss ou a fidelidade
para com o Império que ele jurou servir. Mesmo que a escolha certa
signifique cometer traição.

Baixe agora e leia


Star Wars: Mestre e Aprendiz

Baixe agora e leia

Um Jedi deve ser um guerreiro destemido, um guardião da justiça e


um erudito nos caminhos da Força. Mas talvez o dever mais
essencial de um Jedi seja transmitir o que aprenderam. Mestre Yoda
treinou DoCertoan o qual treinou Qui-Gon Jinn; e agora Qui-Gon
tem um Padawan próprio. Mas enquanto Qui-Gon enfrentou todos
os tipos de ameaças e perigos como um Jedi, nada o assustou tanto
quanto a ideia de falhar com seu aprendiz. Obi-Wan Kenobi tem
profundo respeito por seu Mestre, mas luta para entendê-lo. Por que
Qui-Gon deve tantas vezes desconsiderar as leis que obrigam os
Jedi? Por que Qui-Gon é atraído por antigas profecias Jedi em vez
de preocupações mais práticas? E por que Obi-Wan não disse que
Qui-Gon está considerando um convite para se juntar ao Conselho
Jedi - sabendo que isso significaria o fim de sua parceria? A
resposta simples o assusta: Obi-Wan falhou com seu Mestre.
Quando Jedi Rael Aveross, outro ex-aluno de DoCertoan, solicita
sua ajuda em uma disputa política, Jinn e Kenobi viajam para a
Corte Real de Pijal para o que pode ser sua missão final juntos. O
que deveria ser uma tarefa simples rapidamente se torna
obscurecido por engano e por visões de desastre violento que
tomam conta da mente de Qui-Gon. Conforme a fé de Qui-Gon na
profecia cresce, a fé de Obi-Wan nele é testada - assim como surge
uma ameaça que exigirá que o Mestre e o Aprendiz se unam como
nunca antes, ou se dividam para sempre.

Baixe agora e leia


Star Wars: Legado da Força: Linhagens de Sangue

Baixe agora e leia

Uma nova era de aventuras emocionantes e revelações chocantes


continua a se desenrolar, à medida que a lendária saga Star Wars
avança em um novo território surpreendente. A guerra civil se
aproxima enquanto a incipiente Aliança Galáctica enfrenta um
número crescente de mundos rebeldes... e a guerra que se
aproxima está separando as famílias Skywalker e Solo. Han e Leia
retornam ao mundo natal de Han, Corellia, o coração da resistência.
Os seus filhos, Jacen e Jaina, são soldados na campanha da
Aliança Galáctica para esmagar os insurgentes. Jacen, agora um
mestre completo da Força, tem os seus próprios planos para trazer
ordem à galáxia. Guiado por sua mentora Sith, Lumiya, e com o filho
de Luke, Ben, ao seu lado, Jacen embarca no mesmo caminho que
o seu avô Darth Vader fez uma vez. E enquanto Han e Leia
assistem o seu único filho homem se tornar um estranho, um
assassino secreto emaranha o casal com um nome temido do
passado de Han: Boba Fett. Na nova ordem galáctica, amigos e
inimigos não são mais o que parecem...

Baixe agora e leia


Star Wars: A Sombra da Rainha

Baixe agora e leia

Quando Padmé Naberrie, Rainha Amidala de Naboo, deixa sua


posição, ela é convidada pela rainha recém-eleita para se tornar a
representante de Naboo no Senado Galáctico. Padmé não tem
certeza sobre assumir a nova função, mas não pode recusar o
pedido para servir seu povo. Junto com suas servas mais leais,
Padmé deve descobrir como navegar nas águas traiçoeiras da
política e forjar uma nova identidade além da sombra da rainha.

Baixe agora e leia


Star Wars: Amanhecer dos Jedi - No vazio

Baixe agora e leia

No planeta Tython, a antiga ordem Je'daii foi fundada. E aos pés de


seus sábios Mestres, Lanoree Brock aprendeu os mistérios e
métodos da Força, e encontrou seu chamado como um de seus
discípulos mais poderosos. Mas tão fortemente quanto a Força fluiu
dentro de Lanoree e seus pais, ela permaneceu ausente em seu
irmão, que passou a desprezar e evitar os Je'daii, e cujo
treinamento em seus métodos antigos terminou em tragédia. Agora,
de sua vida solitária como um Patrulheira mantendo a ordem em
toda a galáxia, Lanoree foi convocada pelo Conselho Je'daii em
uma questão de extrema urgência. O líder de um culto fanático,
obcecado em viajar além dos limites do espaço conhecido, está
empenhado em abrir um portal cósmico usando a temida matéria
escura como chave - arriscando uma reação cataclísmica que
consumirá todo o sistema estelar. Porém, mais chocante para
Lanoree do que até mesmo a perspectiva de aniquilação galáctica
total, é a decisão de seus Mestres Je'daii de incumbi-la da missão
de evitá-la. Até que uma revelação surpreendente deixa claro por
que ela foi escolhida: o louco brilhante e perigoso que ela deve
rastrear e parar a qualquer custo é o irmão cuja morte ela lamentou
por muito tempo, e cuja vida ela deve temer agora.

Baixe agora e leia

You might also like