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Fernando Gaginni, A Trajetória Dos Fundos de Investimento No Brasil e A Respectiva Evolução Regulamentar
Fernando Gaginni, A Trajetória Dos Fundos de Investimento No Brasil e A Respectiva Evolução Regulamentar
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A trajetória dos fundos de investimento no Brasil e a respectiva evolução regulamentar
Fernando Schwarz Gaggini
que para alguns fundos inexiste possibilidade de escolha, tal como ocorre para os
investimento); (ii) o investimento realizado via fundos permite também ao cotista ter fundos de investimento imobiliário e fundos de investimento em participações (que
acesso a produtos mais sofisticados que, muitas vezes, seriam inacessíveis individual- devem adotar a forma de fundo em condomínio fechado 3), ao passo que para outras
mente; (iii) destaca-se também que, via fundos, o cotista "terceiriza" a gestão de seus modalidades se admite alternativa, tal como ocorre na Instrução CVM n. 555, que
recursos a entidade profissional do mercado, detentora de maior expertise e conhe- abrange tanto fundos em condomínio aberto quanto fechados\ bem como quanto
cimento, para desempenhar a função; (iv) também se pode apontar como ponto de aos fundos de investimento em direitos creditórios, dado que a Instrução CVM n.
atratividade a pouca burocracia, no que envolve tributação e declaração de recursos 356 os admite também como abertos ou fechados 5•
perante o fisco (em especial quando se tratam de fundos com imposto retido na fonte, No entanto, embora possuam tais atrativos, outros pontos existem que podem
em que podemos citar, como exemplo, o diferencial entre o investimento em fundos ser considerados desvantagens dos fundos em relação a modalidades diversas que
de ações quando comparados ao investimento direto em ações, que demanda maiores com eles competem no mercado financeiro. Algumas delas seriam: (i) dado que ad-
cuidados quanto a recolhimento de tributos e declaração de operações); (v) e, ainda, ca- ministração dos recursos é realizada por entidades profissionais, em contrapartida
racterística muito importante da indústria dos fundos de investimento é a liquidez que tal situação impõe custos ao fundo, mediante a cobrança de taxas de administração e
propiciam aos catistas. Dado que liquidez, nesse contexto, pode ser entendida como o eventualmente de performance (desempenho) ou outras; (ii) a delegação da adminis-
grau de facilidade em converter a cota em dinheiro, pode-se afirmar que os fundos de tração também impõe um limite estratégico ao cotista, que possui posição passiva,
investimento possuem interessantes (e diferentes) estruturas a esse respeito. dado que não pode escolher os ativos a serem adquiridos pelo fundo; em realidade,
Isso porque, podemos encontrar os fundos "abertos" e os fundos "fechados".
sua escolha estratégica de investimentos se limita, de forma genérica, à escolha pelo
Em matéria de liquidez, os fundos abertos se mostram como mecanismos que facili-
fundo em que deseja aplicar, e consequentemente à sua respectiva política de inves-
tam ao extremo o resgate de recursos pelos cotistas. Essa lógica se justifica pois, nesse
timento; (iii) terceira desvantagem que pode ser apontada envolve alguns aspectos
caso, as cotas não são revendidas em mercado, mas as negociações se dão diretamente
tributários que se mostram menos vantajosos aos catistas que em modalidades alter-
entre fundo e cotista, tanto para realização do investimento quanto do resgate (que
nativas de aplicação financeira: a título de exemplo, muitos fundos de investimento
pode ocorrer a qualquer tempo, observadas as disposições constantes do regulamen-
se submetem ao sistema de tributação denominado "come-cotas", gerando uma an-
to). Em razão disso, nesses casos tais fundos abertos possuem um capital instável, eis
tecipação do recolhimento de tributos, o que inexiste em outras modalidades con-
que entradas e saídas de recursos são ocorrências constantes e reiteradas.
correntes, tal como o CDB (Certificado de Depósito Bancário), em se pensando em
Logo, nessa situação inexiste um mercado secundário de cotas, destinado a re-
fundos destinados a investimentos mais conservadores, como os referenciados ou de
venda e negociação. Tal característica, se por um lado assegura ampla liquidez ao
renda fixa; o mesmo se dá quanto ao investimento direto em ações, que possui alguns
cotistas (caracterizando aspecto positivo ao investidor), por outro gera considerável
benefícios tributários para negociações mensais até determinado valor 6 •
incerteza quanto aos recursos disponíveis ao fundo, que em momentos de stress pode
se ver na iminência de honrar volumosos resgates, o que pode impactar consideravel-
mente nas estratégias de investimento.
3 Em relação aos fundos de investimento imobiliário, dispõe o art. 2° da Lei n. 8.668/93: ''Art. 2° O
Já os fundos fechados, em matéria de negociação de cotas e liquidez, possuem F11ndo será constit11ído sob a forma de condomínio fechado, proibido o resgate de q11otas, com prazo
uma dinâmica bem diferente, se assemelhando bastante à situação, por exemplo, das de d11ração deter111inado 011 indeterminado". Quanto aos fundos de investimento em participação,
companhias abertas. Isso porque, nessa hipótese, o fundo realiza a captação de recur- dispõe a Instrução CVM n. 578: "Art. 5° O FIP, constituído sob a forma de condomínio fechado,
sos mediante a oferta de cotas aos investidores, mas não permite o constante resgate é uma comunhão de recursos destinada à aquisição de ações, bônus de subscrição, debêntures
simples, outros títulos e valores mobiliários conversíveis ou permutáveis em ações de emissão
direto das cotas, tal como em relação aos fundos abertos. Portanto, diante da impos- de companhias, abertas ou fechadas, bem como títulos e valores mobiliários representativos de
sibilidade de resgate a qualquer tempo perante o fundo2, cabe ao cotista, para con- participação em sociedades limitadas, que deve participar do processo decisório da sociedade
verter suas cotas em dinheiro, revender a terceiros, o que pode dificultar tal objetivo. investida, com efetiva influência na definição de sua política estratégica e na sua gestão".
Assim, se as cotas forem comercializadas em mercado organizado, maior a probabili- 4 Nesse sentido, o artigo 4° da Instrução CVM n. 555: ''Art. 4° O fundo pode ser constit11ído sob a
dade de negociação, mas ainda assim sujeito à existência de investidores interessados forma de condomínio aberto, em q11e os catistas pode111 solicitar o resgate de s11as cotas confor111e
em adquirir o ativo. Portanto, existe uma maior incerteza quanto à negociação de tais estabelecido em se11 reg11lmnc11to, 011 fechado, em q11c as cotas somente são resgatadas ao término do
prazo de d11ração do f11ndo".
ativos, e ampla variação quanto à sua liquidez. Por fim, note-se que a adoção de tais
5 Vide Instrução CVM n. 356: ''Art. 3° Os f11ndos reg11lados por esta instrnção teriio as seg11intes
estruturas de negociação varia conforme cada tipo de fundo, tendo, como exemplo,
características: I - serão constit11ídos na forma de condomínio aberto ou fechado;[... ]".
6 Embora, pela diversidade de regras tributárias em relação aos fundos, também existem casos em
que a tributação de fundos, para o cotista, é mais vantajosa, como se dá atualmente em relação
2 Dado que o resgate, para fundos em condomínio fechado, se dá ao término do fundo.
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A trajetória dos fundos de investimento no Brnsil e a respectiva evolução regulmnentar
Fernando Schwarz Gaggini
que para alguns fundos inexiste possibilidade de escolha, tal como ocorre para os
investimento); (ii) o investimento realizado via fundos permite também ao cotista ter fundos de investimento imobiliário e fundos de investimento em participações (que
acesso a produtos mais sofisticados que, muitas vezes, seriam inacessíveis individual- devem adotar a forma de fundo em condomínio fechado 3), ao passo que para outras
mente; (iii) destaca-se também que, via fundos, o catista "terceiriza" a gestão de seus modalidades se admite alternativa, tal como ocorre na Instrução CVM n. 555, que
recursos a entidade profissional do mercado, detentora de maior expertise e conhe- abrange tanto fundos em condomínio aberto quanto fechados4, bem como quanto
cimento, para desempenhar a função; (iv) também se pode apontar como ponto de aos fundos de investimento em direitos creditórios, dado que a Instrução CVM n.
atratividade a pouca burocracia, no que envolve tributação e declaração de recursos 356 os admite também como abertos ou fechados 5•
perante o fisco (em especial quando se tratam de fundos com imposto retido na fonte, No entanto, embora possuam tais atrativos, outros pontos existem que podem
em que podemos citar, como exemplo, o diferencial entre o investimento em fundos ser considerados desvantagens dos fundos em relação a modalidades diversas que
de ações quando comparados ao investimento direto em ações, que demanda maiores com eles competem no mercado financeiro. Algumas delas seriam: (i) dado que ad-
cuidados quanto a recolhimento de tributos e declaração de operações); (v) e, ainda, ca- ministração dos recursos é realizada por entidades profissionais, em contrapartida
racterística muito importante da indústria dos fundos de investimento é a liquidez que tal situação impõe custos ao fundo, mediante a cobrança de taxas de administração e
propiciam aos catistas. Dado que liquidez, nesse contexto, pode ser entendida como o eventualmente de performance (desempenho) ou outras; (ii) a delegação da adminis-
grau de facilidade em converter a cota em dinheiro, pode-se afirmar que os fundos de tração também impõe um limite estratégico ao cotista, que possui posição passiva,
investimento possuem interessantes (e diferentes) estruturas a esse respeito. dado que não pode escolher os ativos a serem adquiridos pelo fundo; em realidade,
Isso porque, podemos encontrar os fundos "abertos" e os fundos "fechados".
sua escolha estratégica de investimentos se limita, de forma genérica, à escolha pelo
Em matéria de liquidez, os fundos abertos se mostram como mecanismos que facili-
fundo em que deseja aplicar, e consequentemente à sua respectiva política de inves-
tam ao extremo o resgate de recursos pelos cotistas. Essa lógica se justifica pois, nesse
timento; (iii) terceira desvantagem que pode ser apontada envolve alguns aspectos
caso, as cotas não são revendidas em mercado, mas as negociações se dão diretamente
tributários que se mostram menos vantajosos aos catistas que em modalidades alter-
entre fundo e catista, tanto para realização do investimento quanto do resgate (que
nativas de aplicação financeira: a título de exemplo, muitos fundos de investimento
pode ocorrer a qualquer tempo, observadas as disposições constantes do regulamen-
se submetem ao sistema de tributação denominado "come-cotas", gerando uma an-
to). Em razão disso, nesses casos tais fundos abertos possuem um capital instável, eis
tecipação do recolhimento de tributos, o que inexiste em outras modalidades con-
que entradas e saídas de recursos são ocorrências constantes e reiteradas.
correntes, tal como o CDB (Certificado de Depósito Bancário), em se pensando em
Logo, nessa situação inexiste um mercado secundário de cotas, destinado a re-
fundos destinados a investimentos mais conservadores, como os referenciados ou de
venda e negociação. Tal característica, se por um lado assegura ampla liquidez ao
renda fixa; o mesmo se dá quanto ao investimento direto em ações, que possui alguns
catistas (caracterizando aspecto positivo ao investidor), por outro gera considerável
benefícios tributários para negociações mensais até determinado valor 6 •
incerteza quanto aos recursos disponíveis ao fundo, que em momentos de stress pode
se ver na iminência de honrar volumosos resgates, o que pode impactar consideravel-
mente nas estratégias de investimento.
3 Em relação aos fundos de investimento imobiliário, dispõe o art. 2° da Lei n. 8.668/93: "Art. 2° O
Já os fundos fechados, em matéria de negociação de cotas e liquidez, possuem Fundo será constituído sob a forma de condomínio fechado, proibido o resgate de quotas, com prazo
uma dinâmica bem diferente, se assemelhando bastante à situação, por exemplo, das de duração determinado 011 indeterminado". Quanto aos fundos de investimento em participação,
companhias abertas. Isso porque, nessa hipótese, o fundo realiza a captação de recur- dispõe a Instrução CVM n. 578: "Art. 5° O FIP, constituído sob a forma de condomínio fechado,
sos mediante a oferta de cotas aos investidores, mas não permite o constante resgate é uma comunhão de recursos destinada à aquisição de ações, bônus de subscrição, debêntures
simples, outros títulos e valores mobiliários conversíveis ou permutáveis em ações de emissão
direto das cotas, tal como em relação aos fundos abertos. Portanto, diante da impos- de companhias, abertas ou fechadas, bem como títulos e valores mobiliários representativos de
sibilidade de resgate a qualquer tempo perante o fundo2, cabe ao catista, para con- participação em sociedades limitadas, que deve participar do processo decisôrio da sociedade
verter suas cotas em dinheiro, revender a terceiros, o que pode dificultar tal objetivo. investida, com efetiva influência na definição de sua política estratégica e na sua gestão".
Assim, se as cotas forem comercializadas em mercado organizado, maior a probabili- 4 Nesse sentido, o artigo 4° da Instrução CVM n. 555: "Art. 4° O fundo pode ser constituído sob a
dade de negociação, mas ainda assim sujeito à existência de investidores interessados for111a de condo111ínio aberto, em que os catistas pode111 solicitar o resgate de suas cotas conforme
em adquirir o ativo. Portanto, existe uma maior incerteza quanto à negociação de tais estabelecido em seu regulamento, oi1 fechado, em que as cotas so111ente são resgatadas ao término do
prazo de duração do fundo".
ativos, e ampla variação quanto à sua liquidez. Por fim, note-se que a adoção de tais
5 Vide Instrução CVM n. 356: "Art. 3° Os fundos regulados por esta instrução terão as seg11ú1tes
estruturas de negociação varia conforme cada tipo de fundo, tendo, como exemplo,
características: I - serão constituídos na forma de condomínio aberto 011 fechado; [... ]".
6 Embora, pela diversidade de regras tributárias em relação aos fundos, também existem casos em
que a tributação de fundos, para o cotista, é mais vantajosa, como se dá atualmente em relação
2 Dado que o resgate, para fundos em condomínio fechado, se dá ao término do fundo.
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A trajetória dos fundos de investimento 110 Brasil e a respectiva evolução regulamentar
Fernando Schwarz Gaggini
2.4. O episódio da "marcação a mercado" Apesar das discussões surgidas após a Medida Provisória n. 1.637/98, quanto a
possível extensão da competência da CVM em relação aos fundos de investimento,
Nova ocorrência que viria a afetar bruscamente o setor de fundos de inves- o fato é que, na prática, iniciou-se o século XXI com o mesmo cenário de duplicida-
timento ocorreu no ano de 2002, quando do episódio que ficou conhecido como a de regulatória. Nesse contexto, e utilizando de uma terminologia genérica, o Banco
"crise da marcação a mercado". Central mantinha-se regulando o setor de fundos de renda fixa (tendo por norma
principal, à época, a Circular n. 2.616/95), ao passo que a CVM regulava os fundos
de renda variável (tendo por norma principal, à época, a Instrução CVM n. 302/99).
Mas eis que, a par da modificação já constante da referida medida provisória,
reguladores trataram de expressar esta autonomia patri111onial de forma exaustiva, visa11do com isto a plena definição quanto à questão da competência só se daria através de nova le-
niio permitir que eventuais prejuízos obtidos pelos fundos venham a afetar a estabilidade Ji11anceim gislação, que eliminaria qualquer dúvida a respeito. Assim, com o advento da Lei
das instituições administradoras, e nem possibilitar a ocorrê11cia de fenô111eno inverso, ou seja, que n. 10.303, de 31 de outubro de 2001, se promoveu substancial reforma na legislação
uma administradora que esteja com proble111as financeiros utilize o patrimônio do Jimdo de forma
ilícita 011 fra11d11le11ta 1w defesa de seus i11teresses, prejudicando os catistas". ln GAGGINI, Fernando
societária e do mercado de valores mobiliários, e a questão da competência foi escla-
Schwarz. F1111dos de investi111e11to no direito brasileiro. São Paulo: Leud, 2001, p. 50. recida. Isto porque, a Lei n. 10.303 alterou o rol de valores mobiliários constantes da
11 Nesse sentido, tome-se como exemplo o artigo de José Eduardo Carneiro Queiroz, datado de 1999, Lei n. 6.385/76, e inseriu menção expressa às cotas, no inciso V do artigo 2°, contem-
em que sustentava entendimento de que as cotas de fundos estariam enquadradas como valores plando "as cotas de fundos de investimento em valores mobiliários ou de clubes de
mobiliários, em decorrência do texto da Medida Provisória n. 1.637/98, passando a competência investimento em quaisquer ativos". Dessa forma, norma expressa passava a listar as
sobre tal matéria integralmente para a CVM. Nesse sentido: "A partir da c/assíjirnçüo dos co11tratos cotas de fundos como valores mobiliários, deixando evidente a competência da CVM
de i11vesti111ento como valores mobiliários, resta claro que ativos como as quotas dos fundos de
investi111e11to ji11anceiro e os derivativos ta111bé111 se encaixa111 nessa dejiniçüo. Co1110 resultado da para regular integralmente o referido setor.
alteraçüo do conceito de vnlor mobiliário, a CVM teve a sua competência alargada para uma série de Embora a Lei n. 10.303 seja de outubro de 2001, seguiu-se o prazo de vacatio lc-
segmentos do Mercado de Capitais que antes ou estavam rnjeilos à Jiscalizaçâo do BACEN, 011 não gis, e em sequência um trâmite de transição entre os órgãos, sendo que, durante o ano
se submetiam a ne11h11111 órgilo regulador, como é o exemplo dos chamados contratos de boi gordo, de 2002, Banco Central e CVM estipularam providências para efetivar as mudanças
motivadores dessa inovação legislativa". ln QUEIROZ, José Eduardo Carneiro. O Conceito de Valor
Mobiliário e a Competência da Comissão de Valores Mobiliários e do Banco Central do Brasil. estabelecidas na nova legislação, publicando decisões conjuntas, criando grupos de
ln: MOSQUERA, Roberto Quiroga (coord.). Aspectos atuais do direito do mercado financeiro e de trabalho para estabelecer procedimentos etc.
capitais. São Paulo: Dialética, 1999, p. 134.
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A trnjetórin dos fundos de investimento no Brnsil e n respectiva evolução regulnmentnr
Fernando Schwnrz Gnggini
12 Cabendo observar que, nesse período, o setor de fundos de investimento vivenciou nova grande
crise, em 2008, decorrente dos efeitos da chamada "crise do subprime", surgida no mercado norte- 15 Em linhas gerais, além da caracterização do fundo e de sua competência regulatória, o Código Civil
americano e que afetou diversos outros países. Tal crise, embora não tenha sido específica do setor também apresentou algumas disposições a respeito do regulamento, dispôs sobre a responsabilidade
de fundos, acabou tendo considerável impacto no setor. E novo cenário desafiador se apresenta dos fundos, cotistas e prestadores de serviço, regulou a possibilidade de insolvência do fundo, entre
agora, em 2020, diante das consequências da pandemia do Coronavírns. outros aspectos que não serão tratados aqui, pois fogem ao escopo deste trabalho, de oferecer uma
visão panorâmica sobre o setor de fundos de investimento no Brasil.
13 Com a ressalva de que, embora seja a Instrução n. 555 a norma principal relativa a fundos de investimento,
ela convive com outras normas da própria CVM destinadas a regular tipos específicos de fundos. 16 h t t ps: // ww w. a n bi 111 a. c o 111. b r / p t_ br/ noticias/ i n d u s t ri a-de-fundos- a Ie anca- r-5-t ri Ih oe s- d e-
patrimonio-liquido.h tm
14 GAGGINI, Fernando Schwarz. Fllndos de investimento 110 direito brasileiro. São Paulo: Leud, 2001, p. 53.
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Daniel Walter Maeda Bernardo
Alexandre Pi11/zeiro dos Santos
Com efeito, não há dúvida de que, notadamente em se tratando desse tipo de Swing Pricing e Side Pocket: a importância
assunto, 0 grau de equilíbrio na regulação setorial está diretamente ligado ao grau de
prevenção ou minimização de chances de dissabor no âmbito de eventuais conflitos de mecanismos regulatórios para evitar
apreciados, em última análise, pelo Poder Judiciário.
a transferência de riqueza entre cotistas
4. Conclusão
de fundos de investimento no Brasil
A luz do abordado nas linhas precedentes, resta claro que a mens legís e a pró-
pria letra da LLE no que diz respeito a fundos de investimento, além do histórico da Alexandre Costa Rangel 1
regulação de tais veículos de investimento, evidenciam que a regulamentação a ser Carla Saback Dau 2
oportunamente editada pela CVM no particular é elemento necessário à aplicação
segura e plena das novas regras legais em tela, inclusive para manutenção da integri- SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. Swing Pricing; 3. Side Pocket; 4. Conclusão;
dade do mercado de capitais e da confiabilidade desse relevante segmento do sistema 5. Bibliografia.
financeiro nacional aos olhos da sociedade em geral e, em especial, de investidores
ou prestadores de serviços interessados naqueles veículos e nas suas potencialidades.
Com efeito, os pontos destacados ao longo do presente artigo evidenciam que
a regulamentação acima referida (juntamente com o empenho e o engajamento dos
1. Introdução
atores privados e regulados interessados nas oportunas preparação e adaptação dos
Com a crise decorrente da pandemia do COVID-19, segundo o Boletim de Fun-
arranjos contratuais que sejam necessários ou úteis) é condição indispensável para
dos de Investimentos divulgado pela Associação Brasileira das Entidades dos Merca-
que os avanços trazidos pela LLE e de há muito desejados sejam plenamente efetivos.
dos Financeiro e de Capitais ("Anbima"), a indústria brasileira de fundos encerrou 0
primeiro semestre de 2020 com resgates líquidos de R$ 16,2 bilhões, observado que,
5. Bibliografia especificamente com relação aos fundos de renda fixa, os resgates líquidos alcança-
ram R$ 95,2 bilhões3 •
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Edital de Audiência Pública SDM O cenário econômico brasileiro atual é emblemático. A taxa básica de juros se
nº 08/20, Disponível em: <http://conteudo.cvm.gov.br/audiencias_publicas/ap_ mantém em patamares historicamente baixos e os fundos de investimento aumen-
tam a realização de aplicações em ativos ilíquidos. Em situações de crise financeira,
sdm/2020/sdm0820.html>. Acesso em 06/01/2021.
como a recentemente provocada pelo novo coronavírus, tornam-se ainda mais rele-
GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito pressuposto. 2. ed. São Paulo: Ma- vantes os mecanismos regulatórios que não apenas permitam uma eficiente gestão
do risco de liquidez pelos administradores fiduciários e gestores de recursos, mas
lheiros, 1998.
também impeçam a transferência indevida de riqueza, garantindo um tratamento
KLEN, Tobias Pereira. Responsabilidade civil dos fundos de investimento e de seus admi- equitativo entre os catistas.
nistradores. JOTA, 09 mar. 2020. Disponível em: <https://www.jota.info/paywall?redirect_
to=//www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/responsabilidade-civil-dos-fundos-de-inves-
timento-e-de-seus-administradores-09032020>. Acesso em 19/10/2020.
Advogado. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro - UERJ. Diretor da Comissão de Valores Mobiliários.
A?vogada. Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio.
Pos-_graduada cm Direito Societário e Mercado de Capitais pelo Instituto Brasileiro de Mercado de
Capitais - IBMEC. Sócia de Saback Dau & Bokel Advogados.
~isp~nível em: <https://www.anbima.corn.br/pt_br/informar/relatorios/fundos-de-investimen to/
oletim-de-fundos-de-investimentos/acoes-lideram-a-entrada-liquida-de-recu rsos-no-semestre-
c-rcnda-fixa-a-saida 8A2A B2B 1732BCCEE0 1732EF 12BA F.488C.htm>
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