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A trajetória dos fundos de investimento no

Brasil e a respectiva evolução regulamentar

Fernando Schwarz Gaggini1

SUMARIO: 1. Os fundos de investimento: aspectos gerais; 2. Desenvolvimento


no Brasil e o panorama regulatório; 2.1. Origens no Brasil; 2.2. O desenvolvi-
mento da indústria nos anos 1990 e pós Plano Real; 2.3. As alterações no con-
ceito de valor mobiliário e o impacto regulatório na indústria de fundos; 2.4. O
episódio da "marcação a mercado"; 2.5. A centralização regulatória pela CVM;
2.6. A recente disciplina no Código Civil; 3. Considerações finais; 4. Bibliografia.

1. Os fundos de investimento: aspectos gerais

Dos primeiros vestígios ao momento atual, já se contam aproximadamente sete


décadas de existência, no Brasil, da figura dos fundos de investimento. Eles repre-
sentam relevante instrumento de investimento coletivo, agregando recursos de uma
ampla diversidade de investidores e, como resultado de tal engenharia, tornaram-se
importantes figuras no cenário econômico, por movimentar elevado montante de
recursos, caracterizando uma das modalídades mais tradicionais para o público in-
vestidor, alcançando desde o pequeno aplicador ao investidor qualificado.
As razões que levaram ao êxito de tal indústria são várias. De início, cabe mencio-
nar que os fundos de investimento viabilizam um processo de substituição de títulos.
Desta forma, os diversos ativos adquiridos pelo fundo são, na ótica do investidor, subs-
tituídos por cotas, correspondentes a frações ideais do patrimônio do fundo. Logo, o
investimento em cotas de um fundo representa, portanto, um investimento indireto em
uma fração da totalidade de ativos integrantes da carteira de investimentos do fundo.
Deste modo, tal estrutura apresenta uma série de atrativos ao investidor/cotista,
dentre os quais podemos apontar: (i) a diversificação de investimentos decorrente do
processo de substituição de títulos, dado que os diversos ativos pertencentes ao fundo
se substituem pela cota, viabilizando um investimento indireto múltiplo, que seria de
considerável complexidade para ser realizado de forma direta e individual (pois envol-
veria diversas operações e custos mais elevados); ademais, a diversificação, já natural
nos fundos de investimento, pode ser multiplicada através do investimento em fundos
de fundos (fundos que aplicam, de forma diversificada, em cotas de outros fundos de

Advogado e professor universitário. Pós-Graduado em Direito Mobiliário (Mercado de Capitais)


pela Faculdade de Direito da USP. Mestre em Direito Comercial pela Faculdade de Díreito da USP.
Contato: fernando.schwarz@uol.com.br.

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A trajetória dos fundos de investimento no Brasil e a respectiva evolução regulamentar
Fernando Schwarz Gaggini

que para alguns fundos inexiste possibilidade de escolha, tal como ocorre para os
investimento); (ii) o investimento realizado via fundos permite também ao cotista ter fundos de investimento imobiliário e fundos de investimento em participações (que
acesso a produtos mais sofisticados que, muitas vezes, seriam inacessíveis individual- devem adotar a forma de fundo em condomínio fechado 3), ao passo que para outras
mente; (iii) destaca-se também que, via fundos, o cotista "terceiriza" a gestão de seus modalidades se admite alternativa, tal como ocorre na Instrução CVM n. 555, que
recursos a entidade profissional do mercado, detentora de maior expertise e conhe- abrange tanto fundos em condomínio aberto quanto fechados\ bem como quanto
cimento, para desempenhar a função; (iv) também se pode apontar como ponto de aos fundos de investimento em direitos creditórios, dado que a Instrução CVM n.
atratividade a pouca burocracia, no que envolve tributação e declaração de recursos 356 os admite também como abertos ou fechados 5•
perante o fisco (em especial quando se tratam de fundos com imposto retido na fonte, No entanto, embora possuam tais atrativos, outros pontos existem que podem
em que podemos citar, como exemplo, o diferencial entre o investimento em fundos ser considerados desvantagens dos fundos em relação a modalidades diversas que
de ações quando comparados ao investimento direto em ações, que demanda maiores com eles competem no mercado financeiro. Algumas delas seriam: (i) dado que ad-
cuidados quanto a recolhimento de tributos e declaração de operações); (v) e, ainda, ca- ministração dos recursos é realizada por entidades profissionais, em contrapartida
racterística muito importante da indústria dos fundos de investimento é a liquidez que tal situação impõe custos ao fundo, mediante a cobrança de taxas de administração e
propiciam aos catistas. Dado que liquidez, nesse contexto, pode ser entendida como o eventualmente de performance (desempenho) ou outras; (ii) a delegação da adminis-
grau de facilidade em converter a cota em dinheiro, pode-se afirmar que os fundos de tração também impõe um limite estratégico ao cotista, que possui posição passiva,
investimento possuem interessantes (e diferentes) estruturas a esse respeito. dado que não pode escolher os ativos a serem adquiridos pelo fundo; em realidade,
Isso porque, podemos encontrar os fundos "abertos" e os fundos "fechados".
sua escolha estratégica de investimentos se limita, de forma genérica, à escolha pelo
Em matéria de liquidez, os fundos abertos se mostram como mecanismos que facili-
fundo em que deseja aplicar, e consequentemente à sua respectiva política de inves-
tam ao extremo o resgate de recursos pelos cotistas. Essa lógica se justifica pois, nesse
timento; (iii) terceira desvantagem que pode ser apontada envolve alguns aspectos
caso, as cotas não são revendidas em mercado, mas as negociações se dão diretamente
tributários que se mostram menos vantajosos aos catistas que em modalidades alter-
entre fundo e cotista, tanto para realização do investimento quanto do resgate (que
nativas de aplicação financeira: a título de exemplo, muitos fundos de investimento
pode ocorrer a qualquer tempo, observadas as disposições constantes do regulamen-
se submetem ao sistema de tributação denominado "come-cotas", gerando uma an-
to). Em razão disso, nesses casos tais fundos abertos possuem um capital instável, eis
tecipação do recolhimento de tributos, o que inexiste em outras modalidades con-
que entradas e saídas de recursos são ocorrências constantes e reiteradas.
correntes, tal como o CDB (Certificado de Depósito Bancário), em se pensando em
Logo, nessa situação inexiste um mercado secundário de cotas, destinado a re-
fundos destinados a investimentos mais conservadores, como os referenciados ou de
venda e negociação. Tal característica, se por um lado assegura ampla liquidez ao
renda fixa; o mesmo se dá quanto ao investimento direto em ações, que possui alguns
cotistas (caracterizando aspecto positivo ao investidor), por outro gera considerável
benefícios tributários para negociações mensais até determinado valor 6 •
incerteza quanto aos recursos disponíveis ao fundo, que em momentos de stress pode
se ver na iminência de honrar volumosos resgates, o que pode impactar consideravel-
mente nas estratégias de investimento.
3 Em relação aos fundos de investimento imobiliário, dispõe o art. 2° da Lei n. 8.668/93: ''Art. 2° O
Já os fundos fechados, em matéria de negociação de cotas e liquidez, possuem F11ndo será constit11ído sob a forma de condomínio fechado, proibido o resgate de q11otas, com prazo
uma dinâmica bem diferente, se assemelhando bastante à situação, por exemplo, das de d11ração deter111inado 011 indeterminado". Quanto aos fundos de investimento em participação,
companhias abertas. Isso porque, nessa hipótese, o fundo realiza a captação de recur- dispõe a Instrução CVM n. 578: "Art. 5° O FIP, constituído sob a forma de condomínio fechado,
sos mediante a oferta de cotas aos investidores, mas não permite o constante resgate é uma comunhão de recursos destinada à aquisição de ações, bônus de subscrição, debêntures
simples, outros títulos e valores mobiliários conversíveis ou permutáveis em ações de emissão
direto das cotas, tal como em relação aos fundos abertos. Portanto, diante da impos- de companhias, abertas ou fechadas, bem como títulos e valores mobiliários representativos de
sibilidade de resgate a qualquer tempo perante o fundo2, cabe ao cotista, para con- participação em sociedades limitadas, que deve participar do processo decisório da sociedade
verter suas cotas em dinheiro, revender a terceiros, o que pode dificultar tal objetivo. investida, com efetiva influência na definição de sua política estratégica e na sua gestão".
Assim, se as cotas forem comercializadas em mercado organizado, maior a probabili- 4 Nesse sentido, o artigo 4° da Instrução CVM n. 555: ''Art. 4° O fundo pode ser constit11ído sob a
dade de negociação, mas ainda assim sujeito à existência de investidores interessados forma de condomínio aberto, em q11e os catistas pode111 solicitar o resgate de s11as cotas confor111e
em adquirir o ativo. Portanto, existe uma maior incerteza quanto à negociação de tais estabelecido em se11 reg11lmnc11to, 011 fechado, em q11c as cotas somente são resgatadas ao término do
prazo de d11ração do f11ndo".
ativos, e ampla variação quanto à sua liquidez. Por fim, note-se que a adoção de tais
5 Vide Instrução CVM n. 356: ''Art. 3° Os f11ndos reg11lados por esta instrnção teriio as seg11intes
estruturas de negociação varia conforme cada tipo de fundo, tendo, como exemplo,
características: I - serão constit11ídos na forma de condomínio aberto ou fechado;[... ]".
6 Embora, pela diversidade de regras tributárias em relação aos fundos, também existem casos em
que a tributação de fundos, para o cotista, é mais vantajosa, como se dá atualmente em relação
2 Dado que o resgate, para fundos em condomínio fechado, se dá ao término do fundo.

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A trajetória dos fundos de investimento no Brnsil e a respectiva evolução regulmnentar
Fernando Schwarz Gaggini

que para alguns fundos inexiste possibilidade de escolha, tal como ocorre para os
investimento); (ii) o investimento realizado via fundos permite também ao cotista ter fundos de investimento imobiliário e fundos de investimento em participações (que
acesso a produtos mais sofisticados que, muitas vezes, seriam inacessíveis individual- devem adotar a forma de fundo em condomínio fechado 3), ao passo que para outras
mente; (iii) destaca-se também que, via fundos, o catista "terceiriza" a gestão de seus modalidades se admite alternativa, tal como ocorre na Instrução CVM n. 555, que
recursos a entidade profissional do mercado, detentora de maior expertise e conhe- abrange tanto fundos em condomínio aberto quanto fechados4, bem como quanto
cimento, para desempenhar a função; (iv) também se pode apontar como ponto de aos fundos de investimento em direitos creditórios, dado que a Instrução CVM n.
atratividade a pouca burocracia, no que envolve tributação e declaração de recursos 356 os admite também como abertos ou fechados 5•
perante o fisco (em especial quando se tratam de fundos com imposto retido na fonte, No entanto, embora possuam tais atrativos, outros pontos existem que podem
em que podemos citar, como exemplo, o diferencial entre o investimento em fundos ser considerados desvantagens dos fundos em relação a modalidades diversas que
de ações quando comparados ao investimento direto em ações, que demanda maiores com eles competem no mercado financeiro. Algumas delas seriam: (i) dado que ad-
cuidados quanto a recolhimento de tributos e declaração de operações); (v) e, ainda, ca- ministração dos recursos é realizada por entidades profissionais, em contrapartida
racterística muito importante da indústria dos fundos de investimento é a liquidez que tal situação impõe custos ao fundo, mediante a cobrança de taxas de administração e
propiciam aos catistas. Dado que liquidez, nesse contexto, pode ser entendida como o eventualmente de performance (desempenho) ou outras; (ii) a delegação da adminis-
grau de facilidade em converter a cota em dinheiro, pode-se afirmar que os fundos de tração também impõe um limite estratégico ao cotista, que possui posição passiva,
investimento possuem interessantes (e diferentes) estruturas a esse respeito. dado que não pode escolher os ativos a serem adquiridos pelo fundo; em realidade,
Isso porque, podemos encontrar os fundos "abertos" e os fundos "fechados".
sua escolha estratégica de investimentos se limita, de forma genérica, à escolha pelo
Em matéria de liquidez, os fundos abertos se mostram como mecanismos que facili-
fundo em que deseja aplicar, e consequentemente à sua respectiva política de inves-
tam ao extremo o resgate de recursos pelos cotistas. Essa lógica se justifica pois, nesse
timento; (iii) terceira desvantagem que pode ser apontada envolve alguns aspectos
caso, as cotas não são revendidas em mercado, mas as negociações se dão diretamente
tributários que se mostram menos vantajosos aos catistas que em modalidades alter-
entre fundo e catista, tanto para realização do investimento quanto do resgate (que
nativas de aplicação financeira: a título de exemplo, muitos fundos de investimento
pode ocorrer a qualquer tempo, observadas as disposições constantes do regulamen-
se submetem ao sistema de tributação denominado "come-cotas", gerando uma an-
to). Em razão disso, nesses casos tais fundos abertos possuem um capital instável, eis
tecipação do recolhimento de tributos, o que inexiste em outras modalidades con-
que entradas e saídas de recursos são ocorrências constantes e reiteradas.
correntes, tal como o CDB (Certificado de Depósito Bancário), em se pensando em
Logo, nessa situação inexiste um mercado secundário de cotas, destinado a re-
fundos destinados a investimentos mais conservadores, como os referenciados ou de
venda e negociação. Tal característica, se por um lado assegura ampla liquidez ao
renda fixa; o mesmo se dá quanto ao investimento direto em ações, que possui alguns
catistas (caracterizando aspecto positivo ao investidor), por outro gera considerável
benefícios tributários para negociações mensais até determinado valor 6 •
incerteza quanto aos recursos disponíveis ao fundo, que em momentos de stress pode
se ver na iminência de honrar volumosos resgates, o que pode impactar consideravel-
mente nas estratégias de investimento.
3 Em relação aos fundos de investimento imobiliário, dispõe o art. 2° da Lei n. 8.668/93: "Art. 2° O
Já os fundos fechados, em matéria de negociação de cotas e liquidez, possuem Fundo será constituído sob a forma de condomínio fechado, proibido o resgate de quotas, com prazo
uma dinâmica bem diferente, se assemelhando bastante à situação, por exemplo, das de duração determinado 011 indeterminado". Quanto aos fundos de investimento em participação,
companhias abertas. Isso porque, nessa hipótese, o fundo realiza a captação de recur- dispõe a Instrução CVM n. 578: "Art. 5° O FIP, constituído sob a forma de condomínio fechado,
sos mediante a oferta de cotas aos investidores, mas não permite o constante resgate é uma comunhão de recursos destinada à aquisição de ações, bônus de subscrição, debêntures
simples, outros títulos e valores mobiliários conversíveis ou permutáveis em ações de emissão
direto das cotas, tal como em relação aos fundos abertos. Portanto, diante da impos- de companhias, abertas ou fechadas, bem como títulos e valores mobiliários representativos de
sibilidade de resgate a qualquer tempo perante o fundo2, cabe ao catista, para con- participação em sociedades limitadas, que deve participar do processo decisôrio da sociedade
verter suas cotas em dinheiro, revender a terceiros, o que pode dificultar tal objetivo. investida, com efetiva influência na definição de sua política estratégica e na sua gestão".
Assim, se as cotas forem comercializadas em mercado organizado, maior a probabili- 4 Nesse sentido, o artigo 4° da Instrução CVM n. 555: "Art. 4° O fundo pode ser constituído sob a
dade de negociação, mas ainda assim sujeito à existência de investidores interessados for111a de condo111ínio aberto, em que os catistas pode111 solicitar o resgate de suas cotas conforme
em adquirir o ativo. Portanto, existe uma maior incerteza quanto à negociação de tais estabelecido em seu regulamento, oi1 fechado, em que as cotas so111ente são resgatadas ao término do
prazo de duração do fundo".
ativos, e ampla variação quanto à sua liquidez. Por fim, note-se que a adoção de tais
5 Vide Instrução CVM n. 356: "Art. 3° Os fundos regulados por esta instrução terão as seg11ú1tes
estruturas de negociação varia conforme cada tipo de fundo, tendo, como exemplo,
características: I - serão constituídos na forma de condomínio aberto 011 fechado; [... ]".
6 Embora, pela diversidade de regras tributárias em relação aos fundos, também existem casos em
que a tributação de fundos, para o cotista, é mais vantajosa, como se dá atualmente em relação
2 Dado que o resgate, para fundos em condomínio fechado, se dá ao término do fundo.

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Fernando Schwarz Gaggini

2.2. O desenvolvimento da indústria


A par da existência de tais aspectos "negativos", podemos afirmar que os pontos
atrativos se destacaram e levaram a um amplo crescimento da indústria de fundos no nos anos 1990 e pós Plano Real
Brasil, tornando-se categoria de ampla relevância econômica.
Ademais, aspecto de grande vantagem usufruída pelos fundos, no campo tri- A década de 1990, no Brasil, mostrou-se bastante relevante para o setor de fun-
butário, é o tratamento fiscal da carteira do fundo. Isso porque, a isenção de imposto dos de investimento, por diferentes razões. No plano regulatório, logo no início da
de renda quanto aos rendimentos e ganhos auferidos pelas carteiras dos fundos lhes década o Conselho Monetário Nacional estabeleceu uma competência concorrente
trouxe diferencial competitivo considerável, que os torna estratégicos, especialmente entre O Banco Central e a CVM8, de modo que o setor de fundos passaria a vivenciar
em comparativo a sociedades de investimento (que seriam potenciais concorrentes uma duplicidade regulatória, que perduraria pelo resto da década.
diretos em matéria de investimento coletivo, mas que, por serem pessoas jurídicas, No aspecto econômico, a década se iniciou com o Brasil vivenciando um ce-
possuem tratamento distinto). A somatória de tais aspectos, portanto, levou a uma nário de inflação descontrolada, inóspito aos investimentos, e logo no início do ano
ampla adesão, pelo mercado, da figura dos fundos. de 1990, o Plano Collor, que dentre suas medidas impôs um bloqueio a diversas apli-
cações financeiras (no episódio que ficou conhecido como "confisco da poupança"),
representou duro golpe ao setor de investimentos no Brasil, trazendo enorme insegu-
2. Desenvolvimento no Brasil e o panorama regulatório rança jurídica para os investidores.
Passados alguns anos, as mudanças políticas levaram a que, em 1994, fosse cria-
do o Plano Real, propondo uma ampla reforma econômica, bem como inserindo uma
2.1. Origens no Brasil nova moeda, o Real. O período pós Plano Real gerou uma mudança substancial na
economia brasileira. A maior estabilidade conquistada, bem como o controle infla-
A indústria de fundos de investimento tem suas origens na Inglaterra, em me- cionário, após anos de inflação disparada, levou a uma mudança no comportamento
ados do século XIX. No Brasil, por sua vez, as primeiras notícias da existência de da população, bem como dos investidores. O temor inflacionário foi, pouco a pouco,
fundos datam da metade do século XX, sendo que o caso mais famoso é o do fundo perdendo espaço na mente da população, e a busca por novas modalidades de inves-
Crescinco, constituído na década de 1950. timento se tornou tendência no mercado.
Ao final da referida década, a Portaria n. 309/1959, do Ministério da Fazenda, pre- Nesse novo contexto, a indústria de fundos de investimento encontrou cenário
viu a constituição de fundos em conta de participação ou em condomínio. Ainda nesse propício a seu desenvolvimento. A título de exemplo, em um intervalo de cinco anos,
estágio inicial, conforme observado por Eizirik, Gaal, Parente e Henriques, tais atividades após a criação do Plano Real, o salto de crescimento no setor foi notável. Conforme
eram disciplinadas por normas da SUMOC - Superintendência da Moeda e do Crédito?. observamos em obra anterior 9, se ao final de 1994 os fundos possuíam patrimônio de
Em 1965, a Lei n. 4.728 disciplinou, em dois artigos (49 e 50), as sociedades de quarenta e oito bilhões de reais, em 1999, já alcançavam patrimônio de cento e seten-
investimento e os fundos de investimento. Relembre-se que, embora sejam ambas es- ta e cinco bilhões de reais, distribuídos em aproximados 2600 fundos.
pécies de entidades de investimento coletivo, as sociedades de investimento adotam Ademais, além do crescimento, o período pós Plano Real, na segunda metade
forma societária, ao passo que os fundos, conforme previsão já constante daquela da década, também ajudou a aprimorar as regras relacionadas ao setor. As suces-
norma, adotam característica condominial (sendo que o início do artigo 50 fala em sivas crises econômicas ocorridas em 1997 ("crise asiática - tigres asiáticos"), 1998
"fundos em condomínios de títulos ou valores mobiliários"). Em matéria de órgãos ("Rússia") e 1999 ("Brasil e o episódio da desvalorização cambial"), que atingiram
reguladores, note-se que, sendo referida lei de 1965, já se encontrava na esfera regula- consideravelmente o Brasil, ensinaram, entre outros aspectos, sobre a necessidade de
tória do Banco Central do Brasil e do Conselho Monetário Nacional, criados, ambos, aumento de transparência quanto ao risco do investimento em fundos, bem como
no ano anterior pela Lei n. 4.595/64. Cabe lembrar, ainda, que o surgimento da CVM sobre a importância da segregação patrimonial entre fundos e administradores 10 •
se daria somente em 1976, pela Lei n. 6.385, absorvendo algumas funções até então
cabíveis ao Banco Central e relacionadas ao mercado de valores mobiliários. Embora,
8 Conforme observado por Florinda Figueiredo Borges, tal decisão se deu através da Resolução CMN
em matéria de fundos de investimento, a atuação do Banco Central se estenderia n. 1.787, de 1991. (BORGES, Florinda Figueiredo. Os fundos de investimento - reflexões sobre a
ainda por muito tempo após, indo até o início do século XXI. natureza jurídica. ln: FRANÇA, Erasmo Valladão Azevedo e Novaes (coord.). Direito societário
co11temporâ11eo I. São Paulo: Quartier Latin, 2009, p. 52).
9 GAGGINI, Fernando Schwarz. Fundos de investimento 110 direito brasileiro. São Paulo: Leud, 2001, p. 23.
aos fundos de investimento imobiliário, em que os rendimentos pagos aos cotistas são isentos, em
oposição ao aluguel direto de imóveis, que se submete a tributação. 10 Conforme observamos em obra anterior: "Após a desvalorização cambial ocorrida no início de 1999
no Brasil, que revelo11 alguns problemas na relação entre fundos e se11s administradores, os órgãos
7 EIZIRIK, Nelson; GAAL, Ariadna B; PARENTE, Flávia; HENRIQUES, Marcus de Freitas. Mercado
de capitais - regime jurídico. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p.77.
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A trnjctórin dos fundos de investimento no Brnsil e n respcctivn evolução regulmnentnr
Fernnndo Schwnrz Gnggini

No caso, em maio de 2002, decisão conjunta dos órgãos reguladores determi-


2.3. As alterações no conceito de valor mobiliário nou aos fundos de investimento modificar a sua sistemática de precificação dos ati-
e o impacto regulatório na indústria de fundos vos, adotando a prática denominada marcação a mercado. Não obstante a decisão
tenha justificativa técnica, visando maior transparência (para representar a realidade
Com o objetivo de incluir alguns tipos de ativos financeiros no rol de valores mo- dos preços dos ativos no mercado e evitar distorções nas negociações de cotas) e re-
biliários, e por consequência submeter seus emissores à regulação da CVM, em 1998, dução de risco sistêmico, seu impacto prático acarretou em mudanças abruptas de
a Medida Provisória n. 1.637 promoveu considerável alteração no conceito jurídico de valor das cotas dos fundos (mesmo nos mais conservadores, em razão de disparida-
valor mobiliário. Abandonando a técnica de listagem pontual de valores mobiliários, des entre o valor de mercado dos ativos e o valor até então contabilizado), assustando
constante do texto original da Lei n. 6.385/76, a referida medida provisória inseriu em investidores e, por consequência, gerando grande desgaste à imagem do setor.
nossa legislação conceito mais aberto, caracterizando a figura do contrato de investi- Tal cenário foi ainda mais complicado em razão de ter ocorrido em conturbado
mento coletivo. Tal texto deu margem a discussões se as cotas de fundos de investimen- ano eleitoral, com as consequentes dúvidas e incertezas quanto ao futuro econômico
to (matéria objeto, à época, de dúplice regulação por Banco Central e CVM) passariam e político no Brasil.
a ser caracterizadas como valores mobiliários, o que levaria a impactos regulatórios Como decorrência dessa crise, o setor de fundos de investimento vivenciou
consideráveis, por aumento da competência da CVM 11 • No entanto, no aspecto prático, grande movimento de retirada de recursos pelos investidores, que se prolongou ao
apesar da criação de um novo conceito pela referida medida provisória, e dos debates longo dos meses que se seguiram, sendo os recursos transferidos para outros ativos
decorrentes, no que tange à regulação dos fundos nada mudaria até o início da próxima concorrentes, como poupança e CDB, entre outros, sendo que somente tempos de-
década, mantida a duplicidade regulatória exercida por Banco Central e CVM. De fato, pois o setor viria a se recuperar plenamente de tal episódio.
somente em 2001 nova mudança legislativa viria a aclarar a questão da competência na
matéria de fundos, em aspecto que será tratado mais à frente. 2.5. A centralização regulatória pela CVM

2.4. O episódio da "marcação a mercado" Apesar das discussões surgidas após a Medida Provisória n. 1.637/98, quanto a
possível extensão da competência da CVM em relação aos fundos de investimento,
Nova ocorrência que viria a afetar bruscamente o setor de fundos de inves- o fato é que, na prática, iniciou-se o século XXI com o mesmo cenário de duplicida-
timento ocorreu no ano de 2002, quando do episódio que ficou conhecido como a de regulatória. Nesse contexto, e utilizando de uma terminologia genérica, o Banco
"crise da marcação a mercado". Central mantinha-se regulando o setor de fundos de renda fixa (tendo por norma
principal, à época, a Circular n. 2.616/95), ao passo que a CVM regulava os fundos
de renda variável (tendo por norma principal, à época, a Instrução CVM n. 302/99).
Mas eis que, a par da modificação já constante da referida medida provisória,
reguladores trataram de expressar esta autonomia patri111onial de forma exaustiva, visa11do com isto a plena definição quanto à questão da competência só se daria através de nova le-
niio permitir que eventuais prejuízos obtidos pelos fundos venham a afetar a estabilidade Ji11anceim gislação, que eliminaria qualquer dúvida a respeito. Assim, com o advento da Lei
das instituições administradoras, e nem possibilitar a ocorrê11cia de fenô111eno inverso, ou seja, que n. 10.303, de 31 de outubro de 2001, se promoveu substancial reforma na legislação
uma administradora que esteja com proble111as financeiros utilize o patrimônio do Jimdo de forma
ilícita 011 fra11d11le11ta 1w defesa de seus i11teresses, prejudicando os catistas". ln GAGGINI, Fernando
societária e do mercado de valores mobiliários, e a questão da competência foi escla-
Schwarz. F1111dos de investi111e11to no direito brasileiro. São Paulo: Leud, 2001, p. 50. recida. Isto porque, a Lei n. 10.303 alterou o rol de valores mobiliários constantes da
11 Nesse sentido, tome-se como exemplo o artigo de José Eduardo Carneiro Queiroz, datado de 1999, Lei n. 6.385/76, e inseriu menção expressa às cotas, no inciso V do artigo 2°, contem-
em que sustentava entendimento de que as cotas de fundos estariam enquadradas como valores plando "as cotas de fundos de investimento em valores mobiliários ou de clubes de
mobiliários, em decorrência do texto da Medida Provisória n. 1.637/98, passando a competência investimento em quaisquer ativos". Dessa forma, norma expressa passava a listar as
sobre tal matéria integralmente para a CVM. Nesse sentido: "A partir da c/assíjirnçüo dos co11tratos cotas de fundos como valores mobiliários, deixando evidente a competência da CVM
de i11vesti111ento como valores mobiliários, resta claro que ativos como as quotas dos fundos de
investi111e11to ji11anceiro e os derivativos ta111bé111 se encaixa111 nessa dejiniçüo. Co1110 resultado da para regular integralmente o referido setor.
alteraçüo do conceito de vnlor mobiliário, a CVM teve a sua competência alargada para uma série de Embora a Lei n. 10.303 seja de outubro de 2001, seguiu-se o prazo de vacatio lc-
segmentos do Mercado de Capitais que antes ou estavam rnjeilos à Jiscalizaçâo do BACEN, 011 não gis, e em sequência um trâmite de transição entre os órgãos, sendo que, durante o ano
se submetiam a ne11h11111 órgilo regulador, como é o exemplo dos chamados contratos de boi gordo, de 2002, Banco Central e CVM estipularam providências para efetivar as mudanças
motivadores dessa inovação legislativa". ln QUEIROZ, José Eduardo Carneiro. O Conceito de Valor
Mobiliário e a Competência da Comissão de Valores Mobiliários e do Banco Central do Brasil. estabelecidas na nova legislação, publicando decisões conjuntas, criando grupos de
ln: MOSQUERA, Roberto Quiroga (coord.). Aspectos atuais do direito do mercado financeiro e de trabalho para estabelecer procedimentos etc.
capitais. São Paulo: Dialética, 1999, p. 134.

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A trnjetórin dos fundos de investimento no Brnsil e n respectiva evolução regulnmentnr
Fernando Schwnrz Gnggini

Ainda, em consonância ao cenário regulatório instituído pela Lei n. 10.303, o


E assim, finalmente a CVM foi assumindo a disciplina integral do setor, recep- parágrafo 2° do artigo 1.368-C afirma competir à Comissão de Valores Mobiliários
cionando os fundos anteriormente regulados pelo Banco Central. Através da Ins- disciplinar tal matéria, sendo ainda que estabelece que o registro do regulamento do
trução CVM n. 409, de 2004, criou a norma principal que disciplinaria o setor de fundo junto à CVM é condição suficiente para garantir a sua publicidade e a oponi-
fundos a partir de então, englobando tanto os antigos fundos que já estavam sob sua bilidade de efeitos em relação a terceiros15 •
disciplina, quanto outros, tais como fundos de renda fixa, cambial, dívida externa, Assim, com a inserção de tais regras no Código Civil, os fundos de investimen-
multimercado etc., não obstante a existência de outras normas da própria CVM para to ganharam uma base legal mais sólida, com consequente aumento da segurança
disciplinar tipos específicos de fundos não abrangidos por tal normativo. jurídica para o setor.
Passada uma década 12 , a Instrução CVM n. 409 veio a ser sucedida pela Instru-
ção CVM n. 555, de 2014 (com entrada em vigor em 2015), que assumiu a posição de
norma principal da matéria, sendo atualmente a regra de referência, em nível infra 3. Considerações finais
legal, para disciplinar a constituição, a administração, o funcionamento e a divulga-
ção de informações dos fundos de investimentü1 3• A disciplina da matéria no Código Civil, ainda que tardia, evidencia a grande
relevância dos fundos de investimento no cenário econômico nacional.
2.6. A recente disciplina no Código Civil Trata-se de setor que observou exponencial crescimento, tanto do ponto de vis-
ta de importância no mercado, como em expansão de produtos, com graus diversos
Após décadas de esparsas menções em lei a respeito da figura dos fundos, as- de sofisticação e complexidade.
pecto que gerava potenciais discussões e dúvidas, dado que a maioria das normas O crescimento de sua participação, no mercado, se observa pelo aumento da
relacionadas eram em nível infra legal, em 2019 a Lei da Liberdade Econômica (Lei indústria ao longo de 20 anos: de um patrimônio de cento e setenta e cinco bilhões de
n. 13.874) inseriu, no Código Civil, capítulo próprio destinado a tratar da figura dos reais, no final do século XX (1999), alcançou, em 2019, a marca de cinco trilhões de
fundos de investimento (artigos 1.368-C a 1.368-F), e assim estabelecer, em nível de reais, o que, segundo informações divulgadas pela ANBIMA, colocaria o Brasil em
lei, algumas regras e características aplicáveis ao instituto. 10° lugar dentre as maiores indústrias de fundos de investimento do planeta 16 •
A lacuna legal anteriormente existente deu margem a várias dúvidas e debates. Quanto aos produtos disponíveis, nota-se que o setor se sofisticou, e diversos
Dentre tais debates, destaquem-se as constantes discussões a respeito da natureza dos fundos inovadores passaram a conviver com as figuras mais tradicionais, todos hoje
fundos, existindo corrente de entendimento que defendia se tratarem de sociedades, sob a disciplina da CVM, conforme o cenário regulatório instituído no início do sé-
em contraposição a corrente diversa que defendia a teoria condominial, além de ou- culo, e reafirmado pela recente disciplina da matéria no Código Civil.
tras proposições existentes. A esse respeito, inclusive, afirmamos, em obra anterior14, Assim, convivem hoje, sob a regulação da CVM, tanto as espécies de fundos
que o fundo seria "uma forma de condomínio de natureza especial, com regras pró- tradicionais, como os fundos de renda fixa, fundos de ações, fundos cambiais e fun-
prias e específicas, distintas das descritas no Código Cívil". Sobre esse tema, agora, dos multimercados, regulados pela Instrução CVM n. 555, como também espécies
o Código Civil, em seu artigo 1.368-C, passou a estabelecer expressamente que "o mais sofisticadas, e possuidoras de regulamentação específica, como os fundos de in-
fundo de investimento é uma comunhão de recursos, constituído sob a forma de vestimento em direitos creditórios, fundos de investimento em participações, fundos
condomínio de natureza especial, destinado à aplicação em ativos financeiros, bens e de investimento em empresas emergentes e fundos de investimento imobiliário, entre
direitos de qualquer natureza", bem como, por sua natureza especial, dispôs o pará- outros mais que integram o setor.
grafo primeiro do referido artigo determinação de que não se aplicam aos fundos as
disposições constantes do próprio código em relação ao condomínio em geral.

12 Cabendo observar que, nesse período, o setor de fundos de investimento vivenciou nova grande
crise, em 2008, decorrente dos efeitos da chamada "crise do subprime", surgida no mercado norte- 15 Em linhas gerais, além da caracterização do fundo e de sua competência regulatória, o Código Civil
americano e que afetou diversos outros países. Tal crise, embora não tenha sido específica do setor também apresentou algumas disposições a respeito do regulamento, dispôs sobre a responsabilidade
de fundos, acabou tendo considerável impacto no setor. E novo cenário desafiador se apresenta dos fundos, cotistas e prestadores de serviço, regulou a possibilidade de insolvência do fundo, entre
agora, em 2020, diante das consequências da pandemia do Coronavírns. outros aspectos que não serão tratados aqui, pois fogem ao escopo deste trabalho, de oferecer uma
visão panorâmica sobre o setor de fundos de investimento no Brasil.
13 Com a ressalva de que, embora seja a Instrução n. 555 a norma principal relativa a fundos de investimento,
ela convive com outras normas da própria CVM destinadas a regular tipos específicos de fundos. 16 h t t ps: // ww w. a n bi 111 a. c o 111. b r / p t_ br/ noticias/ i n d u s t ri a-de-fundos- a Ie anca- r-5-t ri Ih oe s- d e-
patrimonio-liquido.h tm
14 GAGGINI, Fernando Schwarz. Fllndos de investimento 110 direito brasileiro. São Paulo: Leud, 2001, p. 53.

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Daniel Walter Maeda Bernardo
Alexandre Pi11/zeiro dos Santos

Com efeito, não há dúvida de que, notadamente em se tratando desse tipo de Swing Pricing e Side Pocket: a importância
assunto, 0 grau de equilíbrio na regulação setorial está diretamente ligado ao grau de
prevenção ou minimização de chances de dissabor no âmbito de eventuais conflitos de mecanismos regulatórios para evitar
apreciados, em última análise, pelo Poder Judiciário.
a transferência de riqueza entre cotistas
4. Conclusão
de fundos de investimento no Brasil
A luz do abordado nas linhas precedentes, resta claro que a mens legís e a pró-
pria letra da LLE no que diz respeito a fundos de investimento, além do histórico da Alexandre Costa Rangel 1
regulação de tais veículos de investimento, evidenciam que a regulamentação a ser Carla Saback Dau 2
oportunamente editada pela CVM no particular é elemento necessário à aplicação
segura e plena das novas regras legais em tela, inclusive para manutenção da integri- SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. Swing Pricing; 3. Side Pocket; 4. Conclusão;
dade do mercado de capitais e da confiabilidade desse relevante segmento do sistema 5. Bibliografia.
financeiro nacional aos olhos da sociedade em geral e, em especial, de investidores
ou prestadores de serviços interessados naqueles veículos e nas suas potencialidades.
Com efeito, os pontos destacados ao longo do presente artigo evidenciam que
a regulamentação acima referida (juntamente com o empenho e o engajamento dos
1. Introdução
atores privados e regulados interessados nas oportunas preparação e adaptação dos
Com a crise decorrente da pandemia do COVID-19, segundo o Boletim de Fun-
arranjos contratuais que sejam necessários ou úteis) é condição indispensável para
dos de Investimentos divulgado pela Associação Brasileira das Entidades dos Merca-
que os avanços trazidos pela LLE e de há muito desejados sejam plenamente efetivos.
dos Financeiro e de Capitais ("Anbima"), a indústria brasileira de fundos encerrou 0
primeiro semestre de 2020 com resgates líquidos de R$ 16,2 bilhões, observado que,
5. Bibliografia especificamente com relação aos fundos de renda fixa, os resgates líquidos alcança-
ram R$ 95,2 bilhões3 •
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Edital de Audiência Pública SDM O cenário econômico brasileiro atual é emblemático. A taxa básica de juros se
nº 08/20, Disponível em: <http://conteudo.cvm.gov.br/audiencias_publicas/ap_ mantém em patamares historicamente baixos e os fundos de investimento aumen-
tam a realização de aplicações em ativos ilíquidos. Em situações de crise financeira,
sdm/2020/sdm0820.html>. Acesso em 06/01/2021.
como a recentemente provocada pelo novo coronavírus, tornam-se ainda mais rele-
GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito pressuposto. 2. ed. São Paulo: Ma- vantes os mecanismos regulatórios que não apenas permitam uma eficiente gestão
do risco de liquidez pelos administradores fiduciários e gestores de recursos, mas
lheiros, 1998.
também impeçam a transferência indevida de riqueza, garantindo um tratamento
KLEN, Tobias Pereira. Responsabilidade civil dos fundos de investimento e de seus admi- equitativo entre os catistas.
nistradores. JOTA, 09 mar. 2020. Disponível em: <https://www.jota.info/paywall?redirect_
to=//www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/responsabilidade-civil-dos-fundos-de-inves-
timento-e-de-seus-administradores-09032020>. Acesso em 19/10/2020.
Advogado. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro - UERJ. Diretor da Comissão de Valores Mobiliários.
A?vogada. Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio.
Pos-_graduada cm Direito Societário e Mercado de Capitais pelo Instituto Brasileiro de Mercado de
Capitais - IBMEC. Sócia de Saback Dau & Bokel Advogados.
~isp~nível em: <https://www.anbima.corn.br/pt_br/informar/relatorios/fundos-de-investimen to/
oletim-de-fundos-de-investimentos/acoes-lideram-a-entrada-liquida-de-recu rsos-no-semestre-
c-rcnda-fixa-a-saida 8A2A B2B 1732BCCEE0 1732EF 12BA F.488C.htm>

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