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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE TUCURUÍ


FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA

SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS DA CORRENTE DE


INRUSH NO TRANSFORMADOR DE POTÊNCIA

ANDRÉ VEIGA PINHEIRO

TUCURUÍ - PARÁ
NOVEMBRO– 2014
ANDRÉ VEIGA PINHEIRO

SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS DA CORRENTE DE


INRUSH NO TRANSFORMADOR DE POTÊNCIA

Trabalho de Conclusão de Curso de


graduação apresentada ao colegiado da
Faculdade de Engenharia Elétrica do
Campus Universitário de Tucuruí da
Universidade Federal do Pará como requisito
final de avaliação para obtenção do título de
Engenheiro Eletricista.

Orientador: Prof. Dr. Ewerton Ramos


Granhen

TUCURUÍ - PARÁ
NOVEMBRO – 2014
ANDRÉ VEIGA PINHEIRO

SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS DA CORRENTE DE


INRUSH NO TRANSFORMADOR DE POTÊNCIA

Trabalho de Conclusão de Curso de graduação apresentada ao colegiado da


Faculdade de Engenharia Elétrica do Campus Universitário de Tucuruí da
Universidade Federal do Pará como requisito final de avaliação para obtenção do
título de Engenheiro Eletricista.

Orientador: Prof. Dr. Ewerton Ramos Granhen

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________
Prof. Dr. Ewerton Ramos Granhen
Universidade Federal do Pará – Campus Tucuruí

_____________________________________________________
Prof. Eng. Janilson Leão de Souza
Universidade Federal do Pará – Campus Tucuruí

_____________________________________________________
Eng. Eletricista Mauro Machado da Silva
Coordenador da Unidade de Gestão Energética Municipal (UGEM)
Prefeitura de Tucuruí

TUCURUÍ - PARÁ
NOVEMBRO– 2014
Dedico este trabalho:

Dedico este trabalho à minha mãe Ana


Maria, não estaria aqui sem a determinação e força
de uma mulher que sempre me motivou, apoiou
onde colocou a felicidade dos seus filhos sempre
em primeiro lugar muito obrigado minha amada
mãe, onde a senhora estiver sinta-se orgulhosa do
seu filho a quem sempre lhe amou e sentirá
saudades eternas, essa conquista é sua.
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer a ajuda de Deus onde
sempre abriu as portas para mim, a minha família
meus irmãos a minha cunhada a minha querida
sobrinha e principalmente meus pais José Pinheiro
que fez o seu melhor para me criar e minha
adorada mãe Ana Maria que sempre me amou de
todas as formas possíveis me apoiou me incentivou
me ajudou , agradeço muito a minha namorada
Michele Hevelin e que sempre ficou ao meu lado
em todos os momentos nesses anos, aos meus
velhos amigos, que sempre me deram força nesse
tempo de dificuldade, aos novos amigos que
conheci na turma de engenharia elétrica 2010
UFPA especialmente a Otacílio Filho que me
ajudou muito na conclusão deste trabalho a alguns
professores que tiveram uma dedicação no ensino
ao meu orientador Ewerton Grahen pelo seu apoio
e recomendações.
“Que os vossos esforços desafiem as
impossibilidades, lembrai-vos de que as
grandes coisas do homem foram
conquistadas do que parecia impossível.”

Charles Chaplin
RESUMO
Este trabalho estuda um efeito transitório no transformador a corrente de
inrush, que surgem no instante de energização e renergização. É mostrado de forma
literária o surgimento e os efeitos dessa corrente nos transformadores de potência e
seus métodos para sua redução.
Foi realizado um estudo computacional através do software ATP, simulando
um transformador real de 15 MVA, as simulações da corrente de inrush foram feitas
de forma didática ao desenvolvimento do trabalho buscando assim um maior
entendimento sobre o fenômeno envolvido, utilizou-se os parâmetros reais do
transformador de potência usado na subestação da usina hidrelétrica de Tucuruí.
Feita a simulação da corrente de inrush foi analisado os resultados obtidos e
comparados com os resultados reais do book de ensaios realizados pelo fabricante,
é obtida a representação da segunda harmônica em relação a primeira, e é usado o
método de inserir um resistor de pré-inserção para reduzir a corrente de inrush.

Palavras chave: Transformador, Inrush, ATP.


ABSTRACT
This work studies a transient effect on the transformer inrush current, that
arise in the moment of energizing and reenergizing. Is shown of literary form the
emergence and the effects of current in power transformers and its methods for its
reduction.

A computational study was conducted through the ATP software,


simulating a real 15 MVA transformer, the inrush current simulations was made so
the development of didactic work seeking a greater understanding of the phenomena
involved, we used the actual parameters of the power transformer used in substation
of the Tucuruí hydropower complex. Made the inrush current simulation was
analyzed the results obtained and compared with the actual results of the book
testing performed by the manufacturer, is obtained the representation of second
harmonic in the first relation, and is used the method to insert a pre-insertion resistor
to reduce inrush current.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1- Sistema de potência da geração ao consumo residencial [1] ............................... 14
Figura 2.1 – Transformador de potência ............................................................................................. 18
Figura 2.2 - Transformador Ideal [4] .................................................................................................... 19
Figura 2.3 - Transformador Real ............................................................................................................ 22
Figura 2.4 - Vista esquemática dos fluxos mútuo e disperso de um transformador [4] ... 24
Figura 2.5 - (a) Ondas de tensão, fluxo e corrente de excitação de um transformador; (b)
Laço de histerese do material do núcleo correspondente [4] ..................................................... 25
Figura 2.6 - Circuito equivalente para o ensaio de curto-circuito: (a) Circuito equivalente
completo; (b) Circuito simplificado [7] ................................................................................................ 27
Figura 2.7 - Circuito equivalente para o ensaio de circuito aberto: (a) Circuito
equivalente completo; (b) Circuito simplificado [7] ....................................................................... 29
Figura 2.8 - Curva de histerese idealizada de um material ferromagnético [8] ................... 31
Figura 3.1 - Fluxo no transformador no período transitório ....................................................... 34
Figura 3.2 - Comportamento de indução magnética no momento do chaveamento com
tensão nula e sem magnetismo residual, adaptado de [13] ......................................................... 36
Figura 3.3 - Corrente a vazio em relação a indução magnética adaptado de [13] ............... 37
Figura 3.4 - Forma de onda de corrente inrush [13] ....................................................................... 37
Figura 3.5 - Comportamento da indução magnética no momento do chaveamento com
tensão nula e magnetismo residual com polaridade oposta ao fluxo magnético adaptado
de [13] ............................................................................................................................................................... 38
Figura 3.6 - Comportamento da indução magnética no momento do chaveamento
adaptado de [13] ........................................................................................................................................... 39
Figura 3.7 - Comportamento da indução magnética para o momento em que a condição
de fluxo densidade magnética é igual ao magnetismo residual adaptado de [13] .............. 39
Figura 3.8 - Condição para tensão máxima sem magnetismo residual adaptado [13] ...... 40
Figura 3.9 - Comportamento da indução magnética no momento do chaveamento com
tensão máxima e com máximo magnetismo residual com polaridade oposta ao fluxo
magnético adaptado de [13] ..................................................................................................................... 41
Figura 3.10 - Comportamento da indução magnética no momento do chaveamento com
tensão máxima e com máximo magnetismo residual de mesma polaridade que o fluxo
magnético adaptado de [13] ..................................................................................................................... 41
Figura 3.11 – Corrente de inrush ao energizar um transformador de 20 kVA sem o banco
de resistores em série [13]........................................................................................................................ 43
Figura 3.12 – Corrente de inrush ao energizar um transformador de 20 kVA com o banco
de resistores em série [13]........................................................................................................................ 43
Figura 4.1 – Circuito com ligação direta .............................................................................................. 55
Figura 4.2 – Dados da fonte trifásica ..................................................................................................... 56
Figura 4.3 – Dados inseridos no transformador no ATP ............................................................... 57
Figura 4.4 – Dados de entrada da curva de saturação do transformador ............................... 57
Figura 4.5 - Curva de Saturação do transformador gerada no ATP .......................................... 58
Figura 4.6 – Tensão de entrada no transformador .......................................................................... 58
Figura 4.7- Tensão de saída no transformador ................................................................................. 59
Figura 4.8 – Corrente de linha no enrolamento primário do transformador ........................ 60
Figura 4.9 – Circuito com chaveamento para simular inrush ...................................................... 60
Figura 4.10 – Corrente inrush no transformador ............................................................................. 61
Figura 4.11 – Ensaio real da corrente de inrush realizado pelo do fabricante...................... 62
Figura 4.12 – Ensaio real da corrente de inrush de forma detalhada ....................................... 62
Figura 4.13 – Amplitude das harmônicas da corrente de inrush ............................................... 63
Figura 4.14 – Tensão de saída após a corrente de inrush.............................................................. 63
Figura 4.15 – Circuito com resistor de pré-inserção ....................................................................... 64
Figura 4.16- Corrente de inrush após o resistor de pré-inserção .............................................. 65
Figura 4.17 – Tensão no secundário após o resistor de pré-inserção ...................................... 65
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 - Níveis das Correntes Harmônicas em Relação a Fundamental .......................... 42
Tabela 4.1 - Dados de entrada do transformador ............................................................................ 46
Tabela 4.2 – Dados estimados do transformador............................................................................. 50
Tabela 4.3 – Característica de Magnetização[14] ............................................................................. 52
Tabela 4.4 – Parâmetros de Ensaios do Transformador ............................................................... 53
Tabela 4.5 – Parâmetros Encontrados com os Dados de Ensaio ................................................ 54
Tabela 4.6 – Curva Magnética de Saturação (I x Φ) ......................................................................... 54
Tabela 4.7 – Dados de Entrada do Transformador .......................................................................... 56
SUMÁRIO

SUMÁRIO ......................................................................................................................................................... 12
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 14
1.1. Contextualização .............................................................................................................................. 14

1.2. Apresentação do TCC ...................................................................................................................... 16

2. TRANSFORMADORES ......................................................................................................................... 17
2.1. Introdução ...................................................................................................................................... 17

2.2. Transformador Ideal ....................................................................................................................... 19

2.3. Caso Real.............................................................................................................................................. 21

2.3.1. Resistência de Enrolamentos ................................................................................................... 23

2.3.2. Reatância de Dispersão .............................................................................................................. 23

2.3.3. Corrente de excitação ................................................................................................................ 24

2.3.4. Perdas ............................................................................................................................................... 25

2.4. Ensaio de Curto- Circuito e de Circuito Aberto..................................................................... 26

2.4.1. Ensaio de Curto-Circuito ............................................................................................................ 26

2.4.2. Ensaio Circuito Aberto................................................................................................................ 28

2.5. Histerese Magnética ........................................................................................................................ 30

3. CORRENTE DE INRUSH ..................................................................................................................... 32


3.1. Introdução........................................................................................................................................... 32

3.2. Surgimento de Inrush Fenômeno Físico .................................................................................. 32

3.3. Principais Efeitos e Fatores que Influíam a duração de inrush ...................................... 34

3.4. Tipos de Chaveamento ................................................................................................................... 35

3.4.1. Chaveamento com Tensão Nula sem Magnetismo residual ......................................... 36

3.4.2. Chaveamento com Tensão Nula e com Máximo Magnetismo Residual de


Polaridade oposta ao Fluxo Magnético Sob Condições de Tensão Normais ..................... 37

3.4.3. Chaveamento com Tensão Nula e com Máximo Magnetismo Residual de Mesma
Polaridade que Fluxo Magnético Sob Condições de Tensão Normais.................................. 38

3.4.4. Chaveamento com Tensão Máxima sem Magnetismo Residual ................................. 39


3.4.5. Chaveamento com Tensão Máxima e com Máximo Magnetismo Residual de
Polaridade Oposta ao Fluxo Magnético Sob Condições de Tensão Normais ..................... 40

3.4.6. Chaveamento com Tensão Máxima e com Magnetismo Residual de Mesma


Polaridade que o Fluxo Magnético Sob Condições de Tensão Normais .............................. 41

3.5. Sympathetic Inrush........................................................................................................................... 41

3.6. Métodos Para Redução de Inrush............................................................................................... 43

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES .......................................................................................................... 45


4.1 Metodologia ......................................................................................................................................... 45

4.2. Modelamento Matemático para Simulação ............................................................................ 45

4.2.1. Curva de Saturação ...................................................................................................................... 50

4.3. Simulação do Transformador ...................................................................................................... 53

4.4. Redução de Inrush............................................................................................................................ 64

5. CONSIDERAÇÕES E PERSPECTIVAS ............................................................................................. 66


5.1. Perspectivas ....................................................................................................................................... 66

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................ 68


14

1. INTRODUÇÃO

1.1. Contextualização
A cada vez mais o Brasil vai interligando o sistema elétrico de potência, onde
esse sistema engloba um conjunto de equipamentos que operam de maneira
coordenada com a finalidade de gerar, transmitir e distribuir energia elétrica aos
consumidores atendendo a determinados padrões de confiabilidade, disponibilidade,
qualidade, segurança e custos [1]. Os transformadores de potência ganham um
destaque nesse sistema como mostra a figura 1.1.

Figura 1.1- Sistema de potência da geração ao consumo residencial [1]


Como podemos analisar a figura 1.1 o transformador está em três partes
desse sistema na geração, transmissão e distribuição.
Deve-se observar, entretanto, que o transformador opera sob condições
adversas. Campos elétricos elevados, temperatura de trabalho elevada, exposição
15

direta ao ambiente (poeira, água de chuva, poluição, etc..) são algumas condições a
que o transformador está submetido constantemente. Além destas, algumas
situações eventuais solicitam enormemente a resistência do transformador como,
por exemplo, descargas atmosféricas, correntes de curto-circuito e sobretensões de
manobra.
Dado a importância desse equipamento alguns fatores foram determinantes
para o seu progresso onde podemos listar alguns [2]:
 O desenvolvimento da chapa magnética com silício, com isso o aparecimento
da chapa de cristais orientados que permitiu a redução de dimensões, do
preço, do peso e o aumento do rendimento;
 A utilização do óleo como isolante e refrigerante permitiu o aumento das
tensões admissíveis para um dado Intervalo e a transmissão de calor
desenvolvido em funcionamento;
 O desenvolvimento de matérias isolantes sólidos e gasosos, onde as tensões
que podem ser isolados tenham aumentado progressivamente.

Quando o transformador está em condições de manobra (desligamento e


religamento na rede elétrica), ocasiona um fenômeno transiente chamado de
corrente de inrush. O efeito inrush que será abordado neste trabalho causa grandes
transtornos nos equipamentos elétricos da rede e também nos operadores ao
analisarem este fenômeno.
A corrente de inrush pode superar a corrente nominal do transformador de
potência em até dezenas de vezes, onde pode ser confundido com a corrente de
curto-circuito dado o tamanho da sua magnitude. Para o estudo desse efeito
transitório são realizados por duas formas distintas, realização de ensaios práticos e
pela forma que será abordada nesta monografia onde será utilizada simulação e
análise de seu desempenho eletromagnético, empregando-se da utilização de
modelos matemáticos inserido em programas computacionais como EMTP, PSIM,
MIcrotran e o ATP (Alternative Transients Program) que será usado neste trabalho.
16

1.2. Apresentação do TCC


Distribuído em 6 capítulos, esse trabalho de conclusão de curso inicia
apresentando uma pequena análise do sistema elétrico de potência brasileiro
mostrando a importância do transformador nesse sistema. Então se desenvolve a
modelagem matemática consolidando a viabilidade da emulação da corrente de
inrush nos transformadores, apresentam-se os resultados simulados que ratifica a
proposição matemática.
No Capítulo 1, apresenta-se a contextualização, onde se analisa a
importância do transformador no sistema de energia elétrico brasileiro e a
importância do seu estudo para evitar danos, relacionando a corrente de inrush
como um problema a ser estudado.
No Capítulo 2, é apresentado transformador sua características de
funcionamento sua modelagem matemática, como uma análise em seus parâmetros
em diversos modo de funcionamento como transformador real, ideal e circuito aberto
e fechado, complementando com a histerese magnética existente no núcleo
magnético do transformador.
No Capítulo 3, é abordada a corrente de inrush suas características como
ela atua no transformador, como esse fenômeno transitório é iniciado a sua
modelagem matemática e a amplitude de pico dessa corrente, fatores que
influenciam o aumento dessa amplitude, tipos de chaveamento que podem diminuir
ou aumentar esse fenômeno e alguns métodos para reduzir a inrush.
No Capítulo 4, desenvolvem-se as simulações e modelagem matemática
para as situações a serem desenvolvidas fazendo a comparação com os valores dos
parâmetros reais de ensaios e buscando analisar os resultados obtidos na simulação
com o aplicativo ATP.
No Capítulo 5, as conclusões do trabalham são expostas ao passo que são
feitas consideração e sugestões para trabalhos futuros.
17

2. TRANSFORMADORES

2.1. Introdução

Transformadores de potência são essenciais para sistema de energia


elétrico, possuem um alto valor comercial e um grande custo benefício. Fazer o
estudo sobre suas principais características torna-se indispensável, visando prevenir
perdas e dar uma maior duração em sua vida útil.
A International Eletrotechinal Comission (IEC) define o transformador de
potência como um equipamento estático, com dois ou mais enrolamentos, que, por
indução eletromagnética, converte um sistema de tensão e corrente alternadas em
outro sistema, sendo este, geralmente, de tensão e corrente diferentes do sistema
original, mantida a frequência. A referida norma ainda especifica que tal conversão
visa à transmissão da potência elétrica (Norma Internacional IEC 60076 de 2008) [3].
Essencialmente, um transformador consiste em dois ou mais enrolamentos
acoplados por meio de um fluxo magnético comum. Se um desses enrolamentos, o
primário, for conectado a uma fonte de tensão alternada, então será produzido um
fluxo alternado cuja amplitude dependerá da tensão do primário, da frequência da
tensão aplicada e do números de espiras. O fluxo comum estabelece um enlace com
o outro enrolamento secundário, induzido neste uma tensão cujo valor depende do
número de espiras do secundário, assim como a magnitude do fluxo comum e da
frequência [4].
O transformador de potência recebe vários nomes dependendo da sua
utilização no sistema elétrico, um transformador conectado na saída de um gerador,
onde eleva sua tensão é chamado de transformador elevador. Quando um
transformador está localizado no final de uma linha de transmissão e reduz a tensão
denomina-se transformador abaixador ou de subestação. Já quando um
transformador reduz a tensão para uso final e residencial é chamado de
transformador de distribuição. Existem vários outros tipos de transformadores como
os transformadores de corrente e de potencial, porém não serão estudados nesta
monografia onde o foco será o transformador de potência. A figura 2.1 visualizamos
um transformador de potência e suas principais partes constituintes:
18

Figura 2.1 – Transformador de potência [2]

As partes principais de um transformador são listadas a seguir:

1. Núcleo;
2. Os enrolamentos primários e secundários;
3. Tanque principal;
4. Tanque de expansão de óleo;
5. Buchas;
6. Comutador sob carga;
7. Acionamento de comutadores;
8. Radiadores/Trocadores de calor;
9. Painel de controle;
10. Secador de ar;
11. Termômetros.
19

2.2. Transformador Ideal


Consideramos um transformador com um enrolamento primário de N1
espiras e um secundário de N2 espiras, como mostrado na figura 2.1. Observe que a
corrente do secundário produz uma FMM (força magneto motriz) de sentido oposto
ao criado por uma corrente positiva no primário. Vamos idealizar as propriedades
desse transformador supondo que as resistências dos enrolamentos são
desprezíveis que todo o fluxo está confinado ao núcleo enlaçando ambos os
enrolamentos (isto é, o fluxo disperso é considerado desprezível), que não há
perdas no núcleo, e que a permeabilidade do núcleo é tão alta que uma FMM de
excitação insignificante é requerida para criar o fluxo [4]. Um transformador que
segue essas características é chamado de transformador ideal, onde na prática
todas essas propriedades não são conseguidas completamente.

Figura 2.2 - Transformador Ideal [4]


O transformador mostrado na figura 2.1 tem N1 voltas na espira primária e
N2 voltas na espira secundária. A relação entre a tensão v1 aplicado no lado primário
do transformador e v2 aplicado no lado secundário será igual:
v1 (t ) N1
  2.1
v 2 (t ) N 2

Aonde α é a relação de espiras no transformador:

N1
 2.2
N2

A relação de corrente i1 que flui do lado primário do transformador e i2 que sai do


lado secundário será:

N1i1 (t )  N 2 i2 (t ) 2.3.a
20

ou

i1 (t ) 1
 2.3.b
i2 (t ) 

As equações fasoriais são:

V1
 2.4
V2

I1 1
 2.5
I2 

Rearranjando a equação 2.3.a e substituindo na equação 2.1temos então:

N1 i (t )
  2 2.6
N2 i1 (t )

Se as equações 2.1 e 2.6 forem escritas de forma fasorial, tem-se que:

N1 N
V1  V2 e I 1  1  I 2 2.7
N2 N2

então:
2
V1  N1  V
    2   2 Z 2 2.8
I1  N 2  I2

onde Z2 é a impedância no lado secundário do transformador, essa impedância pode


ser substituída por Z1 conectada ao lado primário sem que haja alteração no circuito.
Este procedimento consiste em referir a impedância ao outro lado do transformador.
Assim, a impedância da carga Z1 referida ao lado primário é calculada [5]:
2
Z1 V1 I 2  N1 
     Z1   2 Z 2 2.9
Z 2 I 1 V2  N 2 

Nas equações fasoriais acima nota-se que a potência instantânea do


primário é igual à potência instantânea de saída do secundário. Isso porque
desconsideramos os mecanismos dissipativos e de armazenamento de energia,
condição necessária para analisarmos o transformador ideal.
21

2.3. Caso Real


O tópico acima foi mostrado o transformador ideal, entretanto esse tipo de
transformador não pode ser produzido já que temos que levar em consideração as
perdas ocasionadas em condição de carga, que podem ser causadas por vários
motivos como no fluxo inerente ao tipo de material utilizados na sua construção ao
projeto a ser utilizado. Embora o estudo dos transformadores no caso ideal seja
válido, pois ele tem as mesmas características de um transformador real.
Um modelo mais completo de um transformador deve levar em consideração
os efeitos das resistências dos enrolamentos, dos fluxos dispersos e das correntes
finitas de excitação devidas à permeabilidade finita não-linear do núcleo. Em alguns
casos, mesmo a capacitâncias dos enrolamentos apresentam efeitos importantes,
notadamente em problemas o comportamento do transformador em frequências
acima da faixa de áudio, ou durante condições transitórias com variações muito
rápidas, como as encontradas em transformadores de sistema de potência,
resultante de surtos de tensão causados por descargas atmosféricas ou transitórios
de manobra [4].
Um transformador real, de núcleo de ferro, carregado é representado na
figura 2.2. Embora hermeticamente acoplado pelo núcleo de ferro, uma pequena
porção de fluxo disperso é produzido nos enrolamentos primário e secundário, Φd1(t)
e Φd2(t), respectivamente, além do fluxo mútuo, Φm(t).
O fluxo disperso primário, Φd1(t), produz uma reatância indutiva primária X1,
o fluxo disperso secundário, Φd2(t), produz uma reatância indutiva no secundário, X2.
Além disto, os enrolamentos primário e secundário são constituídos de condutores
de cobre, que têm certa resistência. A resistência interna do enrolamento primário é
r1 e a do secundário r2 [6].
22

R1 jX1 R2 jX2
M

CA L1 L2 CARGA

Figura 2.3 - Transformador Real

O fluxo resultante Φ1(t) concatenado com o enrolamento primário pode ser


definido como:
Φ1(t) = Φm(t) + Φd1(t) 2.10

e para Φ2(t):

Φ2(t) = Φm(t) + Φd2(t) 2.11

As resistências e reatâncias do enrolamento produzem quedas tanto no


primário como no secundário, no interior do transformador, porém para uma melhor
representação é conveniente mostrá-la externamente, podemos dizer que a
impedância primária e secundária do transformador respectivamente são:
Z1  r1  jX L1 2.12

Z 2  r2  jX L 2 2.13

As FEM (força eletromotriz) induzidas primária e secundária podem ser


avaliadas a partir da relação fundamental:
E1  4,44 fN 1 Bm A  10 8 V 2.14

E 2  4,44 fN 2 Bm A  10 8 V 2.15

Mas, desde que é relativamente difícil avaliar Bm, a máxima densidade de


fluxo permissível no transformador a partir de mediações de tensão e corrente, as
relações que se seguem [6]. As FEM induzidas primária e secundária podem ser
calculadas:
23

E1  V1  ( I 1 Z1 )  V1  I 1 (r1  jX L1 ) 2.16

E2  V2  ( I 2 Z 2 )  V2  I 2 (r2  jX L 2 ) 2.17

2.3.1. Resistência de Enrolamentos

As resistências elétricas dos condutores constituintes dos enrolamentos


primário e secundário do transformador, representadas por R1 e R2,respectivamente,
na figura 2.3, influenciam no funcionamento do equipamento por causa de dois
efeitos: perda de energia por efeito Joule e queda de tensão.
A fim de diminuir as perdas por efeito Joule, também chamadas de perdas
no cobre, as resistências dos enrolamentos primário e secundário são minimizadas
através de uma escolha adequada, a seção de condutores que constituem os
enrolamentos. O enrolamento de alta tensão que, teoricamente, possui menor
corrente, apresenta muitas espiras com uma bitola inferior à do enrolamento de
baixa tensão. Já o de baixa tensão é enrolado com poucas espiras de um condutor
com maior bitola em relação ao primário.

2.3.2. Reatância de Dispersão

O fluxo total que concatena o enrolamento primário pode ser dividido em


duas componentes: o fluxo mutuo resultante, confinado essencialmente ao núcleo
de ferro e produzido pelo efeito combinado das correntes de primário. Essas
componentes estão identificadas no transformador esquemático mostrado na figura
2.4.
No enrolamento primário, o fluxo disperso induz uma tensão que soma
àquela produzida pelo fluxo mútuo. Com a maior parte do caminho do fluxo disperso
está no ar, esse fluxo e a tensão induzida por ele variam linearmente com a corrente
I1 de primário. Portanto, pode ser representada por uma indutância de dispersão do
primário L1 (igual ao fluxo de dispersão, concatenado com o primário, por unidade
de corrente de primário) A correspondente de dispersão de primário X1 é dado por
[4]:
X 1  2fL1 2.18
24

Fluxo mútuo resultante,

. x . x

1 1 2 2

Fluxo disperso do Fluxo disperso do


primário secundário

Figura 2.4 - Vista esquemática dos fluxos mútuo e disperso de um transformador [4]

Quando um transformador alimenta uma carga surge uma corrente I2 no


secundário deste. Esta corrente gera uma FMM no núcleo que é contrabalançada
pela FMM igual e oposta gerada pela corrente primária de reação. Este efeito faz
com que o fluxo mútuo no núcleo não sofra alteração importante. No entanto, a
corrente secundária produz um fluxo disperso que percorre um caminho no ar
enlaçando apenas o enrolamento secundário. E, assim como o fluxo disperso que
ocorre no primário, o fluxo disperso do secundário varia linearmente com a corrente
I2 do secundário. Seu efeito pode ser representado por uma indutância de dispersão
do secundário L2 relacionada com a reatância de dispersão de secundário X2 por:
X 2  2fL 2 2.16

2.3.3. Corrente de excitação


A corrente de excitação de um transformador é a corrente drenada da fonte
conectada ao seu primário quando o secundário encontra-se em aberto. Para o
transformador ideal, considera-se a corrente de excitação como sendo nula.
O fluxo magnético que aparece no núcleo de um transformador quando se
aplica tensão a um dos seus enrolamentos é produzido através de uma corrente de
excitação Iɸ que aparece no enrolamento energizado. Em transformadores de
potência, as formas de onda da tensão aplicada e do fluxo magnético resultante são
praticamente senoidais, porém a forma de onda da corrente de excitação é diferente
25

de uma senóide devido às propriedades magnéticas não-lineares do núcleo do


transformador. A figura 2.5 mostra estas formas de onda juntamente com o laço de
histerese correspondente do material que compõe o núcleo.
φ
φ
e φ’

φ"
φ’ φ"
φ’ φ’

φ' φ'
i“ φ
i' φ
i' iφ

(a) (b)

Figura 2.5 - (a) Ondas de tensão, fluxo e corrente de excitação de um transformador; (b)
Laço de histerese do material do núcleo correspondente [4]
Essa corrente de excitação Iɸ, é composta por uma componente fundamental
e uma série de harmônicas ímpares. A componente fundamental pode ser
decomposta em duas componentes, uma em fase com a força eletromotriz E1 a
outra atrasada 90° em relação à FEM. A componente em fase é responsável pela
potência absorvida no núcleo, pelas perdas por histerese e correntes parasitas. É
referida como sendo a componente de perdas no núcleo da corrente de excitação.
Quando a componente de perdas no núcleo é subtraída da corrente de excitação, o
resultado é a chamada corrente de magnetização [4].

2.3.4. Perdas
Ao se considerar transformadores reais, devem ser inseridos nos cálculos as
perdas decorrentes de sua operação. As perdas são traduzidas em "escoamentos
de potência", que fazem com que a potência de saída do transformador seja
diferente da potência de entrada.
Basicamente, existem quatro tipos de perdas importantes nos transformadores de
potência:
Perdas no Cobre: é decorrente do efeito Joule que ocorre nos condutores dos
enrolamentos do transformador ao serem percorridos pela corrente elétrica. É
26

proporcional ao quadrado da corrente do enrolamento. Sua redução pode ser


conseguida utilizando-se condutores compostos nos enrolamentos;

Correntes de Foucault: são também conhecidas como correntes parasitas.


Estas correntes circulam no interior do núcleo do transformador quando este é
submetido a um fluxo variante no tempo, provocando perdas por efeito Joule. Esta
perda é proporcional ao quadrado da tensão aplicada no transformador, e pode ser
reduzida laminando-se o núcleo do transformador;

Perda por histerese: está associada à reorganização dos momentos


magnéticos atômicos do material ferromagnético que compõe o núcleo do
transformador. Cada vez que o ciclo de histerese é percorrido, uma parcela de
energia é gasta para que estes momentos magnéticos sejam realinhados. Para
reduzir este tipo de perda, recomenda-se utilizar materiais com características
ferromagnéticas apropriadas, de elevada permeância magnética, e;

Fluxo de dispersão: os fluxos magnéticos que concatenam com apenas um


enrolamento e cujas trajetórias são definidas majoritariamente através do ar são
denominados fluxo de dispersão. Estes fluxos traduzem-se em uma indutância
própria para ambas as bobinas, e seus efeitos são representados pela adição
de uma reatância indutiva de dispersão em série com cada um dos
enrolamentos [7].

2.4. Ensaio de Curto- Circuito e de Circuito Aberto


Os ensaios de curto-circuito e de circuito aberto permitem a determinação de
resistências e reatâncias do circuito equivalente do transformador com uma
aproximação bastante satisfatória.

2.4.1. Ensaio de Curto-Circuito


O ensaio de curto-circuito pode ser usado para encontrar a impedância em
série resistência equivalente mais reatância equivalente Req + jXeq. Embora seja
arbitrária a escolha de qual enrolamento usar para o curto-circuito, para simplificar o
curto-circuito será aplicado no secundário e a tensão no primário. Neste tipo de
ensaio, por conveniência o lado de alta tensão é tomado usualmente como primário.
Como a impedância em série é relativamente baixa de um transformador típico, uma
27

tensão da ordem de 10 a 15% ou menos do valor nominal, aplicada ao primário


resultará na corrente nominal.
A figura 2.6 mostra o circuito equivalente, com a impedância do secundário
do transformador referida ao lado primário, e um curto-circuito aplicado ao
secundário. A impedância de curto-circuito Zcc, olhando para o primário sob essas
condições é [2]:
Z  ( R2  jX 2 )
Z cc  R1  jX 1  2.17
Z   R2  jX 2

Como a impedância Zⱷ do ramo de excitação é muito menor do que a


impedância de dispersão do secundário, a impedância de curto-circuito pode se
aproximado por:
Zcc  R1  jX 1  R2  jX 2  Req  jX eq 2.18

I1 I2

R1 jX1 R2 jX2
Isc

CA
Rm jXm
Vsc

(a)

R1 jX1 R2 jX2
Isc

Zeq
CA

Vsc

(b)
Figura 2.6 - Circuito equivalente para o ensaio de curto-circuito: (a) Circuito
equivalente completo; (b) Circuito simplificado [7]
28

Sendo assim, em um transformador em ensaio de curto-circuito,


praticamente toda potência fornecida está sendo perdida por efeito Joule em ambos
os enrolamentos, ou seja, as perdas no núcleo podem ser desprezadas.
Baseando nos valores eficazes da tensão Vcc, da corrente Icc e da potência
Pcc, as reatâncias equivalentes do lado primário podem ser obtidas a partir de:
Vcc
Z eq  Z cc  2.19
I cc

Pcc
Req  Rcc  2.20
I 2 cc

X eq  X cc   R 2 cc
2
Z cc 2.21

As equações 2.19, 2.20 e 2.21 determinam os valores da resistência do


enrolamento equivalente (Req) e da reatância de dispersão equivalente (Xeq), porém
em alguns estudos são necessários os valores individuais desses parâmetros para
cada enrolamento, já expressos em por unidade. Esses valores, para a análise em
questão, podem ser obtidos supondo que R1 = R2 = 0,5Req e X1 = X2 = 0,5Xeq, com
todos os valores referidos ao mesmo lado [4].

2.4.2. Ensaio Circuito Aberto


O ensaio em circuito aberto ou vazio possibilita a determinação das perdas
no núcleo, corrente a vazio, relação de transformação e os parâmetros da
impedância de magnetização (Rm e Xm). Este ensaio consiste em aplicar-se a tensão
nominal ao lado de baixa tensão e deixar o lado de alta tensão em aberto. A
alimentação pelo lado de baixa tensão é tomada por conveniência para garantir a
segurança de quem opera os instrumentos de medição e, também, para facilitar na
escolha de instrumentos compatíveis com os níveis de tensão, corrente e potência
medida nesse ensaio.
A alimentação do transformador no ensaio em vazio é feita através da
utilização da tensão nominal de operação. Esse fato garante que a reatância de
magnetização opere com níveis de fluxo bem parecidos com os que ocorrem em
condições normais de operação. Vale ressaltar aqui que, se o transformador for
utilizado em níveis de tensão diferentes da nominal, o ensaio deve ser feito para tais
níveis de tensão e não para o nível de tensão nominal.
29

A figura 2.7 mostra o circuito equivalente, com a impedância de dispersão


do primário, e o secundário em aberto. A impedância de circuito aberto Zca vista no
primário sob essas condições é:
Rc ( jX m )
Z ca  R1  jX 1  Z  R1  jX 1 2.22
Rc  jX m

Como é comum ignorar a impedância de dissipação no primário, e aproximar


a impedância de circuito aberto como sendo igual a impedância de magnetização
temo que:
Rc ( jX m )
Z ca  Z   2.23
Rc  jX m

I1

R1 jX1 R2 jX2
Ica

Rm jXm
CA Eca Eca
Vsc

(a)

Ica

Rm jXm
CA

Vsc Vca

(b)

Figura 2.7 - Circuito equivalente para o ensaio de circuito aberto: (a)


Circuito equivalente completo; (b) Circuito simplificado [7]
30

Baseando nos valores eficazes da tensão Vca, da corrente Ica e da potência


Pca, as reatâncias equivalentes do lado primário podem ser obtidas a partir de:
Vca2
Rm  2.24
Pca

Vca
Z  2.25
I ca

1
Xm  2.26
2
 1  2
    1 
Z  R 
    m

Como a corrente que circula no primário do transformador durante este


ensaio é bem pequena, pode-se desprezar a queda de tensão neste enrolamento e,
portanto, a relação de transformação pode ser obtida com boa aproximação pela
leitura direta das tensões nos terminais dos enrolamentos primário e secundário.

2.5. Histerese Magnética


O núcleo do transformador possuem materiais ferromagnéticos e exibem
uma complexa relação entre a magnetização B e a intensidade H aplicado a estes
materiais, figura 2.8, além de depender do valor H, o valor de B depende do modo
pelo qual esse valor foi atingido. Isso tem como implicação uma relação não trivial
entre B e H. À medida que o material ferromagnético é sujeito a um campo cada vez
maior, a densidade do fluxo B, aumentar até o material alcançar a saturação (trecho
ab na figura 2.8) observe-se que embora o campo H seja nulo (no ponto c), a
densidade de fluxo B não é (ela tem valor igual Br). À media que se diminui H
gradualmente, B varia ao longo de bc (para um dado valor de H, o valor de B será
maior, que no trecho ab, quando H diminuir do que quando aumentar). Diz-se que B
se atrasa em relação à H. Esta característica dos materiais ferromagnéticos
conhecido como histerese magnética.
Para o laço de histerese mostrado na figura 2.8 duas definições de
grandezas são muito importantes. A primeira é a Remanência (Br) que é a
densidade residual de fluxo, obtida para o campo aplicado nulo, após a remoção do
campo externo, o seu valor máximo é conhecido como retentividade. O valor de
31

pode ser tomado no laço de histerese com interseção do laço com o eixo de fluxo
(ponto c figura 2.8) [8].

Figura 2.8 - Curva de histerese idealizada de um material ferromagnético [8]


Materiais que apresentam alto valor de Br (materiais retentivos) são
empregados na confecção de imãs permanentes. Estas estruturas são usadas para
criar um campo magnético estável em uma determinada região do espaço.
A intensidade do campo magnético aplicado para reduzir à magnetização
desse material a zero depois que o material atingiu a saturação é denominada de
coercividade (Hc). Em outras palavras, o ciclo de histerese magnética mostra o
quanto o material se magnetiza sob influência de um campo magnético quanto de
magnetização permanece nele na ausência do campo externo.
Os materiais magnéticos destinados às máquinas elétricas AC geralmente
são submetidos a fluxos variáveis e por isto devem ter área pequena no ciclo de
histerese a fim de reduzir as perdas de histerese. O valor do campo coercivo de um
material ferromagnético, Hc, pode ser determinado através da análise gráfica simples
do laço de histerese. Portanto, quanto mais largo e mais alto for o ciclo de histerese
maior será a dificuldade de o material desmagnetizar (alta coercividade) e maior
será a magnetização que ele retém (alta remanência), depois de ser submetido a um
campo magnético externo.
32

3. CORRENTE DE INRUSH

3.1. Introdução
Quando um transformador é desenergizado, certa quantidade de fluxo
residual permanece no núcleo devido as propriedades do material do núcleo
chamado de indução remanente. O fluxo residual remanente pode apresentar 50 a
90% do fluxo máximo de funcionamento da máquina dependendo do tipo de núcleo
de aço-silício a ser empregado [9].
Ao fazer o religamento do transformador o fluxo remanente ficará na
máquina, para que o transformador apresente as características de tensão e
corrente nominais será necessário um aumento acima do valor de pico do fluxo
magnético do núcleo, quando este fenômeno ocorre a corrente inicial será maior
que, a corrente a vazio e até mesmo que a corrente nominal do transformador tal
acontecimento é chamado de corrente transitória de magnetização (inrush).
A corrente de inrush pode apresentar um valor de pico inicial que pode
superar até 20 vezes o valor de pico da corrente nominal, possui uma duração de
vários ciclos e um amplo espectro de harmônico que inclui componentes de ordem
par, predominante de segunda harmônica. Sua ocorrência acontecerá nas seguintes
situações: energização do transformador, ocorrência de falta externa, tensão de
restabelecimento após a eliminação da falta externa, mudança no tipo de falta
durante uma contingência; como falta fase-terra, para falta fase-fase-terra, ou ao
paralelar um transformador já energizado com outro [10].

3.2. Surgimento de Inrush Fenômeno Físico


Ao aplicar uma tensão analógica ao enrolamento primário do transformador
e estando o secundário em aberto, tem-se pela segunda lei de Kirchhoff, que:
di0 d
v1  r1i0  l1  N1 3.1
dt dt

onde:

ri i 0 = é a queda de tensão nas resistências do primário;

di 0
l1 = a queda de tensão devido ao fluxo de dispersão do enrolamento primário;
dt
33

d
N1 = representa a FCEM (força contra eletromotriz) induzida no primário.
dt

Para a solução da equação diferencial 3.1, aparece um problema


fundamental que é a relação existente entre o fluxo Φ e a corrente a vazio i0, que
nada mais seria que a relação não-linear dada pelo ciclo de histerese.
Devido a essa não linearidade, torna-se necessária alguma aproximação
para a obtenção de i0 a partir da equação 3.1. A solução desejada consistirá em
duas partes fundamentais a solução complementar que representa o termo
transitório e a solução particular que representa o regime permanente de operação.
O termo transitório presente na solução complementar é responsável pela corrente
transitória de magnetização (corrente de inrush), constatada pela primeira vez por
Fleming em 1892.
Então, analisando a equação 3.1 e considerando como primeira
aproximação que seus dois primeiros termos podem ser desprezados e que, no
instante inicial do processo de energização, a tensão da fonte passa por um valor,
em que é um ângulo qualquer cujo propósito é definir o valor da tensão da fonte no
instante, t = 0 tem-se que:
d
v1  V1m sen(t   )  N 1 3.2
dt

Integrando-se a equação 3.2 temos:

  0  m cos   m cost    3.3

onde que:

0 = fluxo residual no instante t = 0

m = V1m N1

É interessante observar que o termo (  0   m cos  ), para os casos reais,

apresentará amortecimento. Assim, depois de encerrado o transitório da


energização, o fluxo no núcleo será dado apenas pela parcela  m cost    . A

variação do fluxo mútuo logo após a energização do transformador é mostrada na


figura 3.1 [11].
34


m cos 
0

 m cos(t )

Figura 3.1 - Fluxo no transformador no período transitório

3.3. Principais Efeitos e Fatores que Influíam a duração de inrush


Os principais efeitos da corrente de inrush nos transformadores são:
 Atuação indevida de fusíveis e relés de proteção;
 Afundamentos temporários de tensão, com deterioração da qualidade de
energia;
 Solicitações de natureza eletromecânica e térmica no transformador e nos
demais componentes do sistema, o que incorre em redução de vida útil;
 Sobretensões causadas por fenômenos de ressonância harmônica em
sistemas que contêm filtros elétricos (sistemas industriais e linhas de
transmissão em corrente contínua).

A corrente de inrush circula apenas no enrolamento primário. Assim, deve-se


tomar certas precauções com as proteções diferenciais e proteção de terra do
primário, pois poderá haver desligamento indevido na energização. A forma de onda
e duração dessa corrente depende de vários fatores [12]. Tais como:
Tamanho do transformador: quanto menor o transformador, maior a corrente
inrush em múltiplos da corrente nominal. Quanto à duração, quanto maior o
transformador, mais tempo irá durar a corrente inrush;

Impedância do sistema atrás do transformador: quanto maior a potência de


curto-circuito do sistema que fica atrás do transformador maior poderá ser a
corrente inrush. A duração poderá aumentar se a potência de curto-circuito for
baixa;

Das propriedades magnéticas do material do núcleo: quanto pior a


qualidade da chapa utilizada para a confecção do núcleo, mais severa será a
corrente de magnetização do transformador. Os transformadores atuais são
35

projetados com chapas de aço silício laminado com grão orientado cujas
densidades de fluxo variam entre 1.5 a 1.75 Tesla. Quando os transformadores
são projetados com estas densidades de fluxo a corrente inrush é menor;
Do fluxo remanescente no núcleo: ao desenergizar o transformador, um fluxo
remanescente permanece no núcleo. Ao reenergizar o transformador, se
houver a combinação mais desfavorável da fase da tensão com o fluxo
remanescente, as densidades de fluxo podem atingir valores de 2xB Máx +Br, em
que BMáx é a densidade de fluxo máxima e Br é a densidade de fluxo residual.
As densidades de fluxo residuais podem ser da ordem de 1.3 a 1.7 Tesla;

Valor instantâneo da tensão quando o transformador é energizado: na


energização, o transformador é quase que “puramente indutivo”. Num circuito
“puramente” indutivo, a corrente está atrasada de 90º da tensão. Isso significa
que, quando a tensão está passando por zero, a corrente está no seu valor
máximo. Assim, chavear o transformador com a tensão passando por zero é a
condição mais adversa em termos de valor da corrente inrush;

Forma como o transformador é energizado: o valor da corrente inrush


depende da área de seção entre o núcleo e o enrolamento que está sendo
energizado, de forma que valores maiores são obtidos quando o enrolamento
interno (de menor diâmetro) é energizado primeiro. Por questões de isolação,
os enrolamentos de menor tensão são normalmente projetados para serem
internos e os de maior tensão para serem externos. Com esta filosofia, se os
transformadores são abaixadores, a ordem de grandeza das correntes de
magnetização é entre cinco a dez vezes a corrente nominal. Se os
transformadores são elevadores, a ordem de grandeza das correntes de
magnetização varia entre dez a 25 vezes a corrente nominal [12].

3.4. Tipos de Chaveamento


Como já vimos, dependendo do valor da tensão que é energizado o
transformador varia sua corrente. O valor inicial da corrente feita na ausência de
carga no transformador, no instante de comutação em é principalmente determinada
pelo ponto da onda de tensão em que ocorre a mudança, mas é também, em parte,
dependente da magnitude e da polaridade do resíduo magnético que pode ser
36

deixado no núcleo após a interrupção anteriormente. Há seis condições considerar,


a saber: existem seis tipos de chaveamentos [13].

3.4.1. Chaveamento com Tensão Nula sem Magnetismo residual

Sob condições normais de operação, o fluxo magnético no núcleo está


defasado 90º em reação a tensão, assim, o fluxo atingirá seu valor máximo quando a
senoide da tensão passar por zero. Devido a esta defasagem, o fluxo tende a variar
entre os extremos, máximo em uma direção e o outro máximo na direção oposta, a
fim de produzir meio ciclo de onda da força eletromotriz no enrolamento. Portanto, o
fluxo magnético máximo.
No instante do chaveamento, considerado que não há fluxo magnético
residual no núcleo, o fluxo parte de zero e tem de atingir um valor que corresponda
aproximadamente ao dobro da densidade de fluxo magnético para manter o nível de
tensão durante o primeiro meio ciclo. As formas de onda dessa condição de
chaveamento são apresentadas na figura 3.2, percebe-se que a taxa de mudança de
fluxo (sobre a qual a magnitude das tensões induzidas depende) é praticamente a
mesma, ao longo de cada ciclo, como a densidade de fluxo que normalmente está
colocado simetricamente ao eixo zero, e que corresponde às condições de trabalho
estáveis [13].
BM

BN
Bt

NORMAL
BN

NORMAL
BN

Figura 3.2 - Comportamento de indução magnética no momento do chaveamento com


tensão nula e sem magnetismo residual, adaptado de [13]

As linhas pontilhadas, senoide e exponencial, representam a densidade de


fluxo nominal (Bn) e a componente transiente (B), respectivamente.

Pode-se explicar a razão pelo surgimento desta corrente de inrush ao


analisar novamente a curva B-H da figura 3.3 [13]. Para uma indução duas vezes
37

maior que a indução nominal da máquina, a corrente aumenta fora de proporção em


relação à corrente de operação.

BM

DOBRO DA
NORMAL
BM
NORMAL
BM

IMAX

CORRENTE A VAZIO NORMAL

LIMITIE DO VALOR DA CORRENTE DE INRUSH

Figura 3.3 - Corrente a vazio em relação a indução magnética adaptado de [13]


A figura 3.4 ilustra a forma da onda de corrente de inrush. Pode-se
considerar esta forma de onda como a superposição de duas curvas, a primeira é a
corrente nominal sem carga do transformador, com amplitude constante, e a
segunda é a componente transiente, sob a forma de uma exponencial, que surge no
chaveamento devido à saturação do núcleo.

Figura 3.4 - Forma de onda de corrente inrush [13]

3.4.2. Chaveamento com Tensão Nula e com Máximo Magnetismo


Residual de Polaridade oposta ao Fluxo Magnético Sob Condições de
Tensão Normais
Nessa condição de chaveamento o fluxo não parte de zero e sim do valor
correspondente à quantidade de magnitude residual remanente no núcleo. Neste
caso a polaridade do magnetismo residual é oposta ao sentido que o fluxo
magnético tende a tomar, dessa forma, o fluxo terá que variar o equivalente a
38

aproximadamente três vezes a indução nominal, o que resulta no surgimento de


uma corrente de inrush com amplitude de tempo de decaimento ainda maior que no
caso 3.4.1, porém com a mesma forma de onda [13].

A figura 3.5 apresenta o comportamento da indução versus tempo para caso


descrito.

BM

Bt
BN
NORMAL
BN

NORMAL
BN

Figura 3.5 - Comportamento da indução magnética no momento do chaveamento


com tensão nula e magnetismo residual com polaridade oposta ao fluxo
magnético adaptado de [13]
3.4.3. Chaveamento com Tensão Nula e com Máximo Magnetismo
Residual de Mesma Polaridade que Fluxo Magnético Sob Condições
de Tensão Normais
Ao contrário do item 3.4.2 onde a polaridade era oposta ao fluxo magnético,
agora a polaridade e o fluxo estão no mesmo sentido, obtém-se uma diminuição dos
valores máximos iniciais do fluxo, e consequentemente uma redução na indução
magnética inicial e também na corrente de inrush. A figura 3.6 apresenta este caso,
onde se percebe que a amplitude da indução magnética varia pouco durante os
primeiros ciclos.
39

MAGNETISMO
RESIDUAL
IGUAL A
METADE DO
NOMINAL

Figura 3.6 - Comportamento da indução magnética no momento do chaveamento


adaptado de [13]
Se o valor do magnetismo residual corresponder ao máximo fluxo de
densidade magnética o fluxo seguirá seu curso norma e a corrente de inrush será
evitada a figura 3.7 ilustra esse comportamento.

MAGNETISMO RESIDUAL
IGUAL AO NOMINAL

Figura 3.7 - Comportamento da indução magnética para o momento em que a condição


de fluxo densidade magnética é igual ao magnetismo residual adaptado de [13]

Pode-se perceber que a forma de onda da indução apresentada na figura


3.7 mantém seus valores de amplitude máxima constantes nos dois sentidos.

3.4.4. Chaveamento com Tensão Máxima sem Magnetismo Residual


Nesse caso no momento do chaveamento, o fluxo partirá de zero não
havendo magnetismo residual isso porque existe uma defasagem de indução em
relação à tensão de 90º, o fluxo atingirá seu valor máximo em uma direção, passará
40

pelo zero novamente, atingirá seu valor na outra direção e voltará para zero, tendo a
onda simétrica em relação ao eixo do tempo.
Dessa forma, a corrente a vazio não excede sua amplitude nominal no
momento do chaveamento e, portanto, não apresenta o fenômeno de amplitude
conhecido como corrente de inrush.

MAGNETISMO
RESIDUAL
IGUAL A
METADE DO
NOMINAL

Figura 3.8 - Condição para tensão máxima sem magnetismo residual adaptado [13]

Novamente as linhas pontilhadas, senoide e exponencial, representam a


densidade de fluxo nominal (Bn) e a componente transiente (B), respectivamente.

3.4.5. Chaveamento com Tensão Máxima e com Máximo Magnetismo


Residual de Polaridade Oposta ao Fluxo Magnético Sob Condições
de Tensão Normais
Neste caso haverá a componente transiente da corrente e da indução devido
ao magnetismo residual no núcleo. Portanto a forma de onda do fluxo será
assimétrica em relação ao eixo do tempo para os primeiros ciclos e para o caso em
que a indução remanente tem o mesmo módulo que a indução nominal, a variação
de fluxo magnético corresponderá a duas vezes o módulo da indução nominal. Este
caso é apresentado na figura 3.9.
41

NORMAL

BM

MAGNETISMO
RESIDUAL
IGUAL AO NORMAL
NOMINAL
BM
BM
BM
BM BT

BM

Figura 3.9 - Comportamento da indução magnética no momento do chaveamento com


tensão máxima e com máximo magnetismo residual com polaridade oposta ao fluxo
magnético adaptado de [13]

3.4.6. Chaveamento com Tensão Máxima e com Magnetismo Residual


de Mesma Polaridade que o Fluxo Magnético Sob Condições de
Tensão Normais
Este caso é parecido com o 3.4.5, onde o fluxo é assimétrico ao eixo do
tempo. Podem-se diferenciar estes dois casos em questão pelo fato da onda de
indução e corrente de cada caso estar disposta em lados opostos do eixo do tempo.
A figura 3.10 apresenta as formas de onda da indução nominal, da indução
incremental e da superposição destas duas ondas, assim como a forma da tensão
que está defasada 90º em relação a indução magnética [13].

BM

BM
BT

BM NORMAL

BM

NORMAL

BN BM
V

Figura 3.10 - Comportamento da indução magnética no momento do chaveamento com


tensão máxima e com máximo magnetismo residual de mesma polaridade que o fluxo
magnético adaptado de [13]

3.5. Sympathetic Inrush

Quando um banco de transformadores é colocado em paralelo com outro já


energizado, pode ocorrer a chamada sympathetic inrush. A componente DC da
42

corrente de inrush do banco em energização encontrará uma rota de fuga para o


outro banco, já energizado. Esta componente DC deverá saturar o núcleo, criando
uma aparente corrente de inrush. A magnitude desta corrente depende do valor da
impedância relativa do transformador perante o resto do sistema. A sympathetic
inrush será sempre menor que a corrente de inrush incial.
Levando em consideração o descrito nas seções anteriores, faz-se, então,
necessário prover à proteção diferencial a habilidade de distinção entre uma
condição de energização e a de falta propriamente dita. Um dos métodos utilizados
é baseado na restrição por componentes harmônicas. É sabido que a corrente de
magnetização é rica em 12 componentes harmônicas, sendo mais expressiva a de
2ª ordem. Desta forma, conclui-se que a corrente diferencial no instante da
energização também será rica em componentes de 2ª harmônico. Esta característica
deve ser levada em conta no ato de ajuste dos relés, impedindo que estes disparem
a proteção em situações de magnetização do transformador.
Devido ao grande problema que representa a corrente de inrush, alguns
métodos são necessários para distingui-la de faltas internas. Esses métodos
incluem:
 Um relé diferencial com sensibilidade reduzida para a forma de onda
da corrente de inrush;
 Uma restrição de harmônicas, ou uma unidade supervisora, usada em
conjunto com o relé diferencial, e;
 Tirar de operação o relé diferencial durante a energização do
transformador.
Tabela 3.1 - Níveis das Correntes Harmônicas em Relação a Fundamental

Corrente de inrush
Harmônicas % em relação fundamental
2ª Harmônica 63%
3ª Harmônica 26,8%
4ª Harmônica 5,1%
5ª Harmônica 4,1%
6ª Harmônica 3,7%
7ª Harmônica 2,4%
43

3.6. Métodos Para Redução de Inrush


Inicialmente, sistemas de controle que realizavam a proteção dos
transformadores de potência utilizavam um banco de resistores e contatos auxiliares
com a finalidade de, ao conectar esse banco de resistores em série com o
transformador no momento da manobra, reduzir o módulo da corrente inrush. Este
tipo de método atualmente não é mais empregado, mas para fins acadêmicos serve
como exemplo de como reduzir o impacto da corrente de inrush em transformadores.
As figuras 3.11 e 3.12 apresentam o impacto da inserção de resistores em série com
o transformador no momento do chaveamento [13].

Figura 3.11 – Corrente de inrush ao energizar um transformador de 20 kVA sem o banco


de resistores em série [13]

Figura 3.12 – Corrente de inrush ao energizar um transformador de 20 kVA com o banco


de resistores em série [13]
Observa-se que com o banco de resistores durante a manobra, resistores
este que em queda de tensão de 5% da tensão de alimentação a vazio, o pico da
corrente inrush reduz a constante de tempo diminui drasticamente, estabilizando o
sistema muito rapidamente quando comparado ao chaveamento sem o banco de
resistores.
Outro motivo importante para reduzir a corrente de inrush são os esforços
mecânicos sofridos pelos enrolamentos no momento da manobra. Estes esforços
44

comprimem e estendem os condutores uns contra os outros e o isolamento entre


estes condutores individualmente pode sofrer avarias, assim como o enrolamento
como um todo pode se desalinhar ou criar pontos com buracos entre condutores e
até mesmo ter condutores adjacentes esmagados.
Após inúmeras operações de chaveamento, pode haver um grande risco de
falha do isolamento entre espiras dos enrolamentos. Por causa dos efeitos
indesejados da corrente de inrush para o sistema de potência no qual o
transformador está inserido, algumas medidas para reduzir este fenômeno podem
ser tomadas:
 Pré-inserção de resistores em série;
 Fechamento síncrono de disjuntores;
 Inserção de capacitor;
 Inserção de pré-resistor mais inserção de capacitor;
 Uso de uma carga auxiliar;
 Uso de uma carga auxiliar mais inserção de capacitor;
 Uso de uma carga auxiliar mais inserção de capacitor mais de pré-
resistor.
Deve-se mencionar que estes métodos citados não eliminam o efeito da
corrente de inrush, mas o reduzem consideravelmente. O problema encontrado para
alguns destes métodos e o custo para aplicação em campo.
45

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Metodologia
Estudar e compreender a corrente de inrush é um desafio á tempos aos
operadores, como já dito existem duas maneiras de estudarmos este fenômeno de
maneiras prática em ensaios, onde tem a finalidade de determinar os parâmetros
fundamentais para sua operação adequada no sistema elétrico ao qual se apresenta
conectado e prever qual será seu comportamento, em uma situação adversa que
possa ocorrer quando o sistema elétrico está operando, porém este método se torna
inviável a essa monografia devido aos fatos logísticos para fazer tamanha
experiência, usando-se assim a segunda opção que é por meio computacional
através de softwares que medem o efeito transitório no sistema como o ATP
(Alternative Transients Program).
O programa ATP permite a simulação de transitórios eletromagnéticos em
redes polifásicas, com configurações arbitrárias, por um método que utiliza a matriz
de admitância de barras. A formulação matemática é baseada no método das
características (método de Bergeron) para elementos com parâmetros distribuídos e
na regra de integração trapezoidal para parâmetros concentrados. Durante a
solução são utilizadas técnicas de esparsidade e de fatorização triangular otimizada
de matrizes. Como um programa digital não permite obter uma solução contínua no
tempo são calculados valores a intervalos de tempo discretos. O programa permite a
representação de não-linearidades, elementos com parâmetros concentrados,
elementos com parâmetros distribuídos, chaves, transformadores, reatores, (etc...).
De uma forma geral, são considerados parâmetros em componentes de fase
e em sequência zero e positiva, dependendo do modelo.

4.2. Modelamento Matemático para Simulação


Modelagem de transformador apresenta grande importância devido ao seu
alto uso tanto em sistemas de transmissão de energia quanto em sistemas de
distribuição, por isso a necessidade da utilização da simulação computacional.
Antes de começarmos a fazer a modelagem de um transformador para o
ATP, precisamos saber algumas informações básicas sobre transformador, para o
melhor entendimento da modelagem matemática.
46

Para começar fazer as simulações no ATP é necessário ter em mãos alguns


parâmetros do transformador como:
 Ica: Corrente a vazio [A];
 Φ0: Fluxo [Wb-espira] em regime permanente;
 Rmag: Resistência de magnetização em [Ω];
 R1: Resistência no enrolamento primário em [ohm];
 L1: Indutância no enrolamento primário em [mH];
 Vnp: Tensão em [kV] aplicada sobre o enrolamento primário;
 R2: Resistência no enrolamento secundário em [Ω];
 L2: Indutância no enrolamento secundário em [mH];
 Vns: Tensão em [kV] aplicada sobre o enrolamento secundário.

No entanto, nem todos esses parâmetros são colocados diretamente na


placa de identificação dos transformadores, sendo assim utilizam-se algumas
equações matemáticas para obtê-los. Para encontrarmos essas estimativas dos
parâmetros precisamos de alguns dados de entrada que geralmente está na placa
do transformador, que são [14]:

Tabela 4.1 - Dados de entrada do transformador

Sigla Definição Unidade


S3ø Potência monofásica aparente VA
Vnp Tensão sobre o enrolamento primário V
Vns Tensão sobre o enrolamento secundário V
f Frequência da rede Hz
Z% Impedância percentual %
R% Resistência percentual %
Ica Corrente a vazio A

Com os dados da tabela 4.1 podemos encontrar os demais parâmetros do


transformador:
47

Corrente nominal no primário e secundário (Ip e Is)

A corrente nominal do primário e do secundário (Correntes de linha) se


obtém a partir da potência aparente do transformador e da sua respectiva tensão
nominal (tensão de linha).
Corrente nominal do primário e secundário são mostradas respectivamente:

S1
I np  [A] 4.1
Vnp

S1
I ns  [A] 4.2
Vns

Potência a vazio (Pca)

A potência a vazio (perdas no núcleo) pode ser estimada sob a seguinte


equação:
Pca  Vrp  cos  0 4.3

assumindo que cos 0  0,2

Impedância do primário e secundário (Z1 e Z2)

A impedância de curto-circuito é geralmente expressa em percentagem,


devida o fato de que no ensaio de curto-circuito aplicamos uma porcentagem da
tensão nominal, assim a impedância de curto-circuito tem como valores de base a
tensão e a potência nominal do enrolamento. Para determinarmos o valor das
impedâncias primária e secundária, devemos trabalhar com a impedância de curto-
circuito (Zcc) em p.u. (por unidade), entretanto temos este valor sob a forma de
porcentagem, sendo assim dividimos Zcc por 100 e obtemos o respectivo valor em
p.u.
Z real Z cc Z real
p.u    4.4
Z base 100 Z base

O processo de aplicação do sistema p.u. consta em dividir todos os


elementos de uma janela de dados de M amostras, por seu maior elemento em valor
absoluto. Quando esse processo ocorre numa janela de dados de impedância, esse
elemento é denominado de impedância de base (Zb). Portanto:
V2
Zb  [ ] 4.5
S
48

Logo, a impedância é dada pela tensão nominal do lado de alta tensão ou


baixa tensão, a potência do transformador e a impedância de curto-circuito (dado em
p.u):
Vn2 Z cc
Z real  Z b  Z pu  ZT   4.6
S 100

Através do ensaio de curto-circuito, podemos determinar a impedância do


lado de alta tensão, sendo que esse ensaio consiste em curto-circuitar o lado de
baixa tensão (secundário) do transformador, aplicando-se uma pequena tensão no
lado de alta (primário), tensão essa denominada de tensão de curto-circuito. Com
base nessa tensão e na corrente de curto-circuito, é possível então determinar a
impedância interna, do lado de alta tensão, do transformador. O ensaio de curto-
circuito marca essencialmente as perdas no cobre, ou seja, a potência
correspondente às perdas nas resistências primaria e secundária, referente ao lado
primário (lado de alta tensão).
Como já vimos na equação 2.9 que:
Z1
2   Z1   2  Z 2
Z2

Logo a impedância do primário é:

Z T  Z1  Z1  Z T  2Z1

2
Z T Vrp Z cc
Z1    [ ] 4.7
2 S1 2  100

Impedância no secundário:

Z1
Z2  [ ] 4.8
2

Resistência do primário e secundário (R1 e R2)

A resistência do primário e do secundário pode ser estimada a partir do valor


de R%. Assim, tem-se que respectivamente resistência primária e segundaria são:

2
R% R% Vrp
R1   Zb   [] 4.9
2  100 2  100 S1
49

R% R% Vrs2
R2   Zb   [] 4.10
2  100 2  100 S1

Potência de curto-circuito (Pcc)

A potência de curto-circuito (perdas no cobre) pode ser estimada baseada


nos valores de R1 e R2, sob a seguinte equação:
Pcc  Rs  I np
2
 R2  I ns2 4.11

Reatância do primário e secundário (X1 e X2)

As reatâncias (X1 e X2) é calculada com base dos valores obtidos das
resistências e impedâncias:

X 1  Z12  R12 [] 4.12

X 2  Z 22  R22 [] 4.13

Indutância do primário e secundário (L1 e L2)

A indutância (L1 e L2), é calculada com base nos valores das reatâncias:
pois:
X  wL

Logo:

X1
L1   1000 4.14
w

X2
L2   1000 4.15
w

onde: w  2f  2  60  377


Multiplica-se a impedância por 1000 para a unidades já fiquem em mH pois é como
se aceita no ATP.
Resistência de magnetização (Rm)

A resistência de magnetização Rm (perdas no ferro) é obtida com a tensão


nominal do lado no qual é realizada a energização do transformador e a potência a
vazio. O ramo de magnetização representa as perdas no ferro.
V2
Rm  4.16
Pca
50

Fluxo de magnetização (Φ0)

O fluxo concatenado no ramo magnetizante em regime permanente pode ser


definido pela seguinte expressão:
V
0  [Wb  espira] 4.17
4,44  f

Lembra-se que esses são valores estimados e que podem divergir dos
valores medidos em ensaios dos fabricantes dos transformadores, pois os
transformadores de potência são feitos vários testes em condições diferentes, no
entanto as estimativas ficaram próximas dos valores reais.
Tabela 4.2 – Dados estimados do transformador

Sigla Definição Unidade


Inp(linha) Corrente nominal do primário A
Ins(linha) Corrente nominal do secundário A
Pca Potência a vazio W
Z1 Impedância Ω
Z2 Impedância percentual Ω
R1 Resistência percentual Ω
R2 Corrente a vazio Ω
Pcc Potência de curto-circuito W
X1 Reatância do primário Ω
X2 Reatância do secundário Ω
L1 Indutância do primário mH
L2 Indutância secundária mH
Rmag Resistência de magnetização Ω
Φ0 Fluxo no ramo magnetizante Wb-espira

4.2.1. Curva de Saturação


A inserção da característica de saturação nos modelos de transformadores é
extremamente importante para análise de alguns eventos no sistema elétrico,
sobretudo, aqueles relacionados a transitórios elétricos.
É importante ressaltar que a própria determinação de curva de histerese de
um transformador é bastante complexa, seja por medições ou por cálculos, não
51

havendo nenhuma informação disponível sobre o comportamento transitório desta


característica que possa ser utilizada de forma confiável em estudos de transitórios.
Estes problemas são de certa forma reduzida na sua importância porque a relação
entre o fluxo e a frequência é uma relação inversamente proporcional e, portanto, o
efeito da saturação perde a sua importância à medida que a frequência aumenta.

A representação de transformadores no programa ATP através de modelos


elétricos equivalentes possibilita a representação dos mais variados tipos de
transformadores, desde os mais simples até as configurações mais complexas para
os mesmos, constituídos de unidades trifásicas do tipo núcleo envolvido ou
envolvente, de três ou cinco colunas, com dois ou mais enrolamentos por fase.
Outra característica bastante interessante que também é oferecida pelo aplicativo, é
a possibilidade de representação da curva de saturação do equipamento.
A curva de saturação pode ser representada por B (magnetização) x H
(intensidade), V (tensão) x I (corrente) ou I (corrente) x Φ (fluxo), o ATP pode
trabalhar com as duas ultimas opções. Neste caso será usado o (I x Φ) Estes pares
de pontos representativos da curva de saturação do transformador devem ser
fornecidas pelo fabricante, ou obtidas em laboratório através de ensaio experimental.
Caso nenhumas destas possibilidades sejam viáveis, uma terceira opção para a
obtenção da curva de saturação do transformador consiste em um método de
cálculo analítico através dos dados obtidos das tabelas 4.1 e 4.2. Além dessas
informações é preciso possuir a informação referente à curva (H x B) do tipo de
material magnético utilizado na construção do núcleo do equipamento. Essa
informação é essencial, logo os transformadores possuem chapas diferentes e a
utilização de uma chapa com valores bem diferentes das do transformador,
acarretará erros no programa, após algumas análises de tentativa e erro foi
escolhida a chapa de aço-silício da fornecedora Acesita, nesse caso o motivo da
escolha foi porque a maioria dos transformadores no Brasil são construídos com
esse tipo de chapa. A curva de material magnético que será utilizada como base
para os cálculos será a curva (B x H) extraída da chapa de aço-silício de grãos
orientados da Acesita tipo E-05 de 0,3 mm e de 1,6 Tesla. A tabela 4.3 mostra os
valores de (H x B).
52

Tabela 4.3 – Característica de Magnetização[14]

H [oersted] B [gauss]
0,106 2000
0,1875 5000
0,30 14000
0,455 15200
0,96 16000
2,00 17000
7,20 18000
18,00 18600
100,00 19800
200,00 20280
500,00 20970
1000,00 21430

Com os dados da tabela 4.1, 4.2 e 4.3 pode-se finalmente obter os valores da
curva (I x Φ) no ATP sendo que tomamos como referência o par 0,96 x 16000 onde
representam o joelho da curva de saturação ele é ponto no plano fluxo-corrente
onde o segmento com saturação intercepta o segmento linear [14].

Os valores (I x Φ) são obtidos pelas seguintes equações:

Bi
i   0 4.18
Bn

Onde:

 Φi - Fluxo magnetizante do transformador referente ao ponto da curva


que se quer calcular;
 Bi - Valor de B no ponto da curva de magnetização que se quer
calcular o fluxo magnetizante;
 Bn - É o valor do ponto B referente ao joelho da curva;

 Φ0 - Fluxo magnetizante do transformador referente ao joelho da curva


de magnetização.
53

Logo:

Hi
Ii   I ca 4.19
Hn

Onde:

 Ii - Corrente do ponto da curva de magnetização que se quer calcular;


 H i - Valor de H no ponto da curva de magnetização que se quer
calcular corrente;
 H n - É o valor do ponto H referente ao joelho da curva;

 Ica – Corrente de magnetização a vazio.

4.3. Simulação do Transformador


Com a metodologia apresentada fica-se apto a fazer as simulações, o
transformador usado para as simulações é um transformador real da fabricante
TRAFO, usado na subestação da usina hidrelétrica de Tucuruí como abaixador as
informações de seus parâmetros foram retiradas diretamente do seu book de
ensaios realizado pela fabricante como pode ser mostrado na tabela 4.4:

Tabela 4.4 – Parâmetros de Ensaios do Transformador

Sigla Valor Unidade


S3ø 15 MVA
Vnp 69 kV
Vns 13,8 kV
R1 2,075 Ω
R2 0,020 Ω
Pcc 79486,09 W
Pca 12276 W
Z% 10,23 %
Inp 125,51 A
Ins 625,55 A
Ica 0,697 A
Ligação DY --

Usando as equações do item 4.4 podemos encontrar os parâmetros


restantes para a simulação inseridos na tabela 4.5.
54

Tabela 4.5 – Parâmetros Encontrados com os Dados de Ensaio

Sigla Valor Unidade


Z1 46,69 Ω
Z2 1,94 Ω
X1 48,64 Ω
X2 1,93 Ω
L1 129,04 mH
L2 5,11 mH
Rmag 387829,91 Ω
Φ0 259 Wb-espira

Com a primeira parte de dados coletados já é possível fazer a curva de


magnetização do transformador, utilizando as equações do item 4.2.1 chega-se a
seguinte tabela:
Tabela 4.6 – Curva Magnética de Saturação (I x Φ)

I [A] Φ [Wb-espira]
0.0769 32,37
0.1301 80,93
0.2178 226,65
0.33 246,05
0.697 259
1.45 275,18
5.22 291,13
13.06 301,51
72.6 320,51
145.2 328,28
363.02 339,45
726.04 346,89

Com todos os dados coletados é montado o circuito no software ATP, a


representação inicial de circuito conta com uma fonte trifásica conectada
diretamente no transformador que está configurado para operar com ligação
triangulo-estrela, como mostra a figura 4.1:
55

Vnp_A Vns_A

MEDIDOR DE CORRENTE
Vnp_B Vns_B

Vnp_C Vns_C

Vs

Figura 4.1 – Circuito com ligação direta


A fonte do circuito apresenta as seguintes especificações uma tensão 69kV
de linha, sendo que essa tensão vai ser lido pelo programa com uma tensão de fase
pois a fonte é estrela logo será dividido por raiz de três, com uma frequência de
60Hz que é o padrão nacional. Optou-se por um ângulo de disparo igual a 0º porque
desta forma observa-se em duas fases do transformador o mesmo valor máximo de
inrush, porém com sinais opostos. Isto é possível porque há uma defasagem de 120º
entre cada fase do gerador e também do transformador, então se a onda da tensão
A, por exemplo, estiver em 0º no momento do chaveamento as outras fases, B e C,
estarão em +120º e -120º em relação a A.
Sabe-se que a onda da indução magnética está em 90º defasada em
relação à onda da tensão. Quando a onda da tensão da fase A atingir seu valor
máximo, a indução estará em seu valor nominal de operação, o que significa que o
núcleo do transformador não irá saturar caso não haja magnetismo remanente. Já
as fases B e C apresentarão a corrente de inrush, visto que no momento do
chaveamento o valor da tensão será diferente de zero e o valor da indução no
núcleo também será, o que acarreta o surgimento da corrente de inrush, mesmo não
havendo magnetismo residual.
56

Figura 4.2 – Dados da fonte trifásica

Observa-se na figura 4.2 que o valor da amplitude é de 56338,26V, já que no


ATP deve ser inserido o valor de pico, ou seja:
69000
Vs   2  56338,26V 4.20
3

Sendo assim os dados do transformador são preenchidos na seguinte forma


como mostra a tabela 4.7 e a figura 4.3:

Tabela 4.7 – Dados de Entrada do Transformador

Sigla Valor Unidade


Ica 0,697 A
Φ0 259 Wb-espira
Rmag 387829,91 Ω
R1 2,075 Ω
L1 129,04 mH
Vrp 69 kV
R2 0,020 Ω
L2 5,11 mH
Vsp 7967,43 kV
57

Observe que o valor de Vns é igual a 7967,43V isso acontece porque na


saída do transformador está em estrela devido a sua configuração de funcionamento
triângulo-estrela, sendo necessário dividir por raiz de três sua tensão anterior de
13,8kV.

Figura 4.3 – Dados inseridos no transformador no ATP

Figura 4.4 – Dados de entrada da curva de saturação do transformador


58

Figura 4.5 - Curva de Saturação do transformador gerada no ATP


Para essa primeira simulação optou-se utilizar o circuito sem chaves como
mostrada anteriormente na figura 4.1 não havendo então a corrente de inrush, pois é
necessário ver se a simulação estará de acordo com os valores esperados de
ensaios para então poder prosseguir as simulações.
60 56330V
[kV]

40

20

-20

-40

-60
0 10 20 30 40 [ms] 50
v:Vnp_A
(file simutccalplha0.pl4; x-var t) v:X0001A v:Vnp_B v:X0001C
v:X0001B v:Vnp_C

Figura 4.6 – Tensão de entrada no transformador


59

14,0

[kV] 11265V

8,8

3,6

-1,6

-6,8

-12,0
0 10 20 30 40 [ms] 50
(file simutccalplha0.pl4; x-var t) v:XX0005
v:Vns_A v:XX0004
v:Vns_B v:XX0003
v:Vns_C

Figura 4.7- Tensão de saída no transformador


Como pode verificar a tensão de entrada no transformador teve um pico de
56330V, valor bem próximo do esperado que era de 56338V, já no enrolamento
secundário alcançou um pico de 11265V onde a tensão eficaz é de 7967V
satisfazendo assim as tensões primária e secundária.
A corrente a vazio do transformador é mostrada na figura 4.8, essa corrente
é responsável pela energização do mesmo. O valor de pico da corrente de linha foi
de 1,07A então sua corrente de fase é de 0,617A, valor bem próximo do medido em
ensaios do fabricante que é 0,697A.
60

1,20
1,07A
[A]

0,68

0,16

-0,36

-0,88

-1,40
0 10 20 30 40 [ms] 50
(file simutccalplha0.pl4; x-var t) c:X0002A-X0001A c:X0002B-X0001B c:X0002C-X0001C

Figura 4.8 – Corrente de linha no enrolamento primário do transformador


Feito a primeira simulação são encontrados os valores esperados de acordo
com os testes realizados, estando assim apto a continuar com as simulações
confiando nos novos resultados que virão a seguir. Para simular a corrente de inrush
no transformador é necessário modificar o circuito da figura 4.1 inserindo uma chave
seccionadora trifásica em série com a fonte, simulando assim um disjuntor no
sistema, para essa chave foi escolhido um tempo de fechamento de 0,1 segundos
para todas as fases do transformador e o de abertura de 10 segundos apenas para
garantir o regime permanente da corrente, como pode ser visto na figura 4.9.

Vnp_A Vns_A

MEDIDOR DE CORRENTE
Vnp_B Vns_B

Vnp_C Vns_C
CHAVE SECCIONADORA

Vs

Figura 4.9 – Circuito com chaveamento para simular inrush


61

1500

[A] 1204,6A

1000

500

-500

-1000

-1500
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 [s] 1,0
(file simu_inrush.pl4; x-var t) c:X0002A-X0001A c:X0002B-X0001B c:X0002C-X0001C

Figura 4.10 – Corrente inrush no transformador


Observa-se que o valor de pico dessa corrente foi de 1204,6A superando
varias vezes a corrente nominal no primário desse transformador que é de 125,51A,
ou seja, 9,59 vezes maior que a corrente nominal o período do fenômeno até seu
amortecimento é de aproximadamente 0,9 segundos, logo após ocorre o a extinção
do fenômeno, a corrente de inrush, principalmente nas fases B e C isso porque a
fase está no ângulo de disparo em 0º fazendo com que B e C estejam em uma
defasagem de +120º e -120º.
Com a corrente simulada faz-se a comparação com o ensaio realizado pelo
fabricante, visto na figura 4.11 onde se pode analisar uma amplitude de inrush bem
próximo da simulada na ordem 1204A.
62

Figura 4.11 – Ensaio real da corrente de inrush realizado pelo do fabricante

CH1 Shunt 499.513 mOhm Amostragem 120ms/s Categoria 1.95 kVpp Disparo Escravo

1.204kA
1.0kA

500A

2 us 4 us 6 us

-500A

-1.0kA
-1.269kA

-1.5kA

-2.0kA

Figura 4.12 – Ensaio real da corrente de inrush de forma detalhada


63

MC's PlotXY - Fourier chart(s). Copying date: 23/10/2014


File simu_inrush.pl4 Variable c:X0002C-X0001C [peak]
Initial Time: 0,48 Final Time: 0,5

150
137,3A
[A]

100
94,17A

50

-50

-100
0 5 10 15 20 25 30
harmonic order
200

100 Figura 4.13 – Amplitude das harmônicas da corrente de inrush


0
A componente de segunda harmônica apresenta um maior nível em relação
-100

às
-200 demais. A relação da segunda para primeira harmônica é de 68,58%, próximo à
0 5 10 15 20 25 30
harmonic order
relação mostrada na tabela 3.1, caracterizando a corrente de inrush no sistema,
essa harmônica é usado para ajustar o relé de proteção para fazer a diferenciação
entre a inrush e corrente de curto-circuito.

11265V

v:Vns_A v:Vns_B v:Vns_C

Figura 4.14 – Tensão de saída após a corrente de inrush


Plotando a tensão de saída após a corrente de inrush observa-se que a
amplitude continua a mesma, porém a forma de onda apresenta pequenas
deformações isso ocorre principalmente por causa da saturação do núcleo devido às
64

elevadas correntes de inrush. Estas deformações acontecem até que as correntes


de energização atingem valores menores que os picos máximos.

4.4. Redução de Inrush


Como já visto existem alguns métodos para redução de inrush, entre eles a
técnica do resistor de pré-inserção, essa técnica consiste em inserir um resistor em
série com a fonte geradora e que depois de um tempo esse resistor será curto-
circuitado com uma chave como mostra a figura 4.15.
Vnp_A Vns_A
CHAVE SECCIONADORA EM PARALELO COM RESISTOR

MEDIDOR DE CORRENTE
Vnp_B Vns_B

Vs Vnp_C Vns_C

CHAVE SECCIONADORA

Figura 4.15 – Circuito com resistor de pré-inserção


O cálculo para inserir esse resistor é feito da seguinte forma:
V pf
R 4.19
Inp

39837,16
R  317,40
125,51

V pf - Tensão do primário por fase.


65

120
107,9A
[A]

80

40

-40

-80

-120
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 [s] 0,5
(file simutcc_resistorpreinserido.pl4; x-var t) c:X0002A-X0001A c:X0002B-X0001B c:X0002C-X0001C

Figura 4.16- Corrente de inrush após o resistor de pré-inserção

12

[kV]

-4

-8

-12
0,00 0,04 0,08 0,12 0,16 [s] 0,20
(file simutcc_resistorpreinserido.pl4; x-var t) v:XX0006
v:Vns_A v:XX0005
v:Vns_B v:XX0004
v:Vns_C

Figura 4.17 – Tensão no secundário após o resistor de pré-inserção


Após inserir o resistor pré-inserção a corrente de inrush que era incialmente
1204,6A reduziu para 107,9A, junto com seu tempo de amortecimento onde se
encontrava próximo há 0,9 segundos passou para apenas 0,117 segundos. A tensão
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no secundário também houve uma mudança na sua forma de onda, porém se


estabiliza bem rapidamente entrando em sincronia com a corrente.

5. CONSIDERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Nas simulações feitas no software ATP o transformador apresentou
resultados com valores bem próximos ao real, mostrando a eficácia do simulador. Na
simulação sem o efeito de inrush o valor da corrente e a forma da sua onda ficaram
dentro do esperado, quando comparados om ensaio realizado pelo fabricante, após
obtenção dos valores do transformador foi possível plotar a curva característica de
magnetização um parâmetro importante para simulações de transitórios.
Como esperado a amplitude simulada da corrente de inrush resultou um
valor muito maior que a corrente nominal no seu lado primário, em torno de 9,59
vezes maior entrando de acordo segundo Claudio Mardegan no seu artigo Proteção
e Seletividade, onde cita que os transformadores abaixadores a óleo acima de
1MVA tem em média sua corrente de inrush 8 vezes a corrente nominal [10].
Comparado ao valor obtido em ensaio do fabricante e o valor da inrush simulado
ambas obtiveram o mesmo parâmetro como pode ser visto na figura 4.11.
As amplitudes das correntes simuladas e medidas em ensaios deram o
mesmo valor 1204A, ou seja, mais uma vez pode ser visto a eficácia desta
simulação. A relação da segunda harmônica foi apresentada quando o fenômeno
transitório acontece, essa componente é fundamental para que tome medidas
necessária de se evitar desligamento pois a segunda harmônica que diferencia a
corrente de inrush em relação a de curto-circuito.
O método de inserir um pré-resistor em série com a fonte mostrou-se bem
eficaz na redução da inrush, o valor da sua amplitude e seu tempo de duração
diminuiu consideravelmente, lembrando que o tempo de duração do fenômeno
depende da construção do seu transformador e de seu tamanho.

5.1. Perspectivas
Como trabalhos futuros tem-se a pretensão de fazer algumas simulações
extras usando o mesmo transformador como:
 Simular os demais tipos de chaveamentos apresentado no item 3.4
fazendo suas análises e comparando com os resultados auais;
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 Mostrar em simulações outros métodos para redução da corrente de


inrush, tais como apresentados no item 3.6;
 Realizar o experimento em um transformador de pequeno porte com
auxílio de um osciloscópio mostrando o efeito transitório da corrente
de inrush e curto-circuito e fazendo comparação com um
transformador de potência de grande porte simulado.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] <http://www.redeinteligente.com/2009/08/11/rede-inteligente-por-que-como-
quem-quando-onde/> Acesso em: 30 out. 2014.

[2] < http://www.lorencinibrasil.com.br/blog/caracteristicas-construtivas-dos-


transformadores-de-potencia/ > Acesso em: 18 nov. 2014

[3] Norma internacional IEC 60076 de 2008

[4] A. E. FITZGERALD, CHARLES KINGSLAY JR., e STEPHEN UMANS D.


Máquinas Elétricas. 6ª. ed. Porto Alegre : Bookman, 2006.

[5] STEPHEN J. CHAPMAN. Electric Machinery Fundamentals. 2ª ed. Nova Iorque:


McGraw Hill,2001.

[6] IRWIN L. KOSOW. Máquinas Elétricas e transformadores. 9ª ed. São Paulo:


Globo, 1993.

[7] DANIEL S. NOGUEIRA E DIEGO P. ALVES. Tranformadores de Potência-Teoria


e Aplicação Tópicos Essenciais. Rio de Janeiro :Escola Politecnica da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, 2009.

[8] ARTUR S. CARRICO, ANDRÉ S. W. T. SILVA, ANA L. DANTAS, Efeitos de


Rugosidade sobre a Coercividade e Deslocamento da Histerese, XXI ENCONTRO
DE FÍSICOS DO NORTE E NORDESTE, 2004.

[9] J. H. HARLOW. ELETRIC POWER TRANSFORMER ENGENEERING (2ª ED.)


Boca Raton,CRC Press, 2006.

[10] FRANCISCO C.F .GUERRA, LEANDRO L. ARAÚJO, LUYDI D.C MEDEIROS.


Correntes Transitórias de Magnetização em Transformadores de Potência - UFCG,
2010

[11] JOÃO R. COGO, JOSÉ P. G. ABREU, JOSÉ C. OLIVEIRA. Transformadores -


Teorias e Ensaios. 1ª ed. São Paulo: Edgard Blucher LTDA, 1984.

[12] CLAUDIO MARDEGAN. PROTEÇÃO E SELETIVIDADE - Proteção dos


Transformadores - parte 1-CAP. 10. São Paulo : O Setor Elétrico, 2010.

[13] HEATHCOTE, M. The J & P Transformer Book. 13ª. ed. Elsevier, Oxford, 2007.

[14] ALEX REIS, ARNALDO ROSENTINO JR., DANIEL CAIXETA, FABRICIO


SANTILIO, GUILHERME CUNHA , ISAQUE GONDIM, JOÃO BARBOSA JR.,
PAULO REZENDE, THIAGO SILVA. Curso de ATPDraw, Faculdade de Engenharia
Elétrica, Cuso de Pós Graduação - Universidade Federal de Uberlandia, 2012.

[15] GUSTAVO V. RAFO. Análise da Corrente de inrush em Transformadores de


Potência, UFRGS, Porto Alegre, 2010.

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