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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE PSICOLOGIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

KAREN CRISTINA PAULA CARNEIRO DA SILVA

Resenha: A Função do Orgasmo (Introdução)

Niterói, RJ
2022
KAREN CRISTINA PAULA CARNEIRO DA SILVA

Resenha: A Função do Orgasmo (Introdução)

Resenha apresentada como requisito para a obtenção


de nota parcial da disciplina Psicologia Clínica II,
pelo Curso de Psicologia da Universidade Federal
Fluminense, ministrada pela professora Cristina Mair
Barros Rauter.

Niterói, RJ
2022
Wilhelm Reich, psicanalista austríaco, seguiu uma linha convergente à de Sigmund
Freud ao afirmar que a neurose é uma consequência da repressão sexual, na qual desencadeia
diversas problemáticas não somente individuais como também coletivas e até políticas.
Contudo, Reich formula sua própria teoria ao, em 1927, publicar seu livro “A Função do
Orgasmo”, no qual desenvolve sua tese, no mínimo polêmica, sobre a sexualidade, abordando
desde o âmbito psíquico até o biológico, sociológico e fisiológico. Como seu livro é extenso e
repleto de significações, foquemos somente na parte da Introdução dele, visto que possui
diversos conceitos marcantes de sua obra.
É indubitável que a temática da sexualidade na época de Reich era um tabu, visto que
era relacionada a obscenidades e promiscuidades por grande parte de doutrinas religiosas. Dessa
forma, era possível ter um controle sobre esses corpos docilizados e reprimidos como uma
prática de adestramento social. Ademais, hodiernamente essa repressão sexual ainda persiste
na sociedade, que, de acordo com Reich, gera malefícios como instituições e governos
patriarcais e autoritários, tal qual pode-se relacionar à situação ocorrente no Brasil como em
diversos outros países atualmente.
Como essa repressão sexual seria a responsável por governos com ideais fascistas, é
esperado que sua teoria não seja bem aceita e que haja uma tentativa de silenciamento de Reich
por adeptos à ideais autoritários, visto que ele estaria divulgando a causa e a possível solução
para essa problemática.
Outrossim, a “família tradicional brasileira”, conservadora, corrobora para que a questão
do autoritarismo seja aceita sem oposições por grande parte da sociedade, visto que é comum
de a criança conviver com um pai igualmente rígido e autoritário, enquanto a mãe tem que se
comportar passivamente. Nesse contexto, a família, portanto, possui a capacidade de mudar o
rumo dessa linha de pensamento. Ao parar de repreender a sexualidade de seu filho, e ensiná-
lo a respeito da educação sexual, já auxiliaria no desenvolvimento de uma visão mais ampla
acerca da sexualidade, desfazendo, um pouco, essa couraça caracterológica.
No entanto, como a sociedade capitalista prioriza lucros em detrimento de valores, é
constantemente circulado nas redes mídias pornográficas, nas quais são permitidas e
comercializadas na sociedade, o que ocasiona, portanto, um conflito: por que o ato sexual é
considerado errado se a pornografia é assentida?
Ao decorrer da introdução do livro, torna-se compreensível que, quando ocorre a
inibição de algo natural da humanidade, como o orgasmo, cria-se um grau de acumulação de
uma energia que pretendia ser naturalmente liberada. Reich, portanto, explica que:
As enfermidades psíquicas são o resultado de uma perturbação da capacidade natural
de amar. No caso da impotência orgástica, de que sofre a esmagadora maioria, ocorre
um bloqueio da energia biológica, e esse bloqueio se torna a fonte de ações irracionais.
A condição essencial para curar perturbações psíquicas é o restabelecimento da
capacidade natural de amar. Depende tanto de condições sociais quanto de condições
psíquicas. (REICH, 1975, p. 10)

Há, por conseguinte, uma retenção de energia, na qual gera uma couraça do caráter, que
é uma defesa psíquica inconsciente, na qual deixa o sujeito tensionado.
Destarte, para uma teoria ser socialmente validada, é necessário o embasamento
científico, haja vista as fortes raízes do racionalismo na nossa sociedade. Logo, Reich nomeou
de “economia sexual” seu campo científico, que visava investigar acerca dessa energia
biopsíquica, descobrindo, assim, a energia do “orgônio”.
Entretanto, como mencionado anteriormente, a aceitação de sua teoria não é fácil e é um
processo lento, devido aos pré-conceitos acerca da sexualidade humana. Reich propõe que
encontremos um meio de autorregular a sexualidade, e não ser regulado por algum fator externo.
Desse modo, como a política se baseia em esperança e/ou no medo, é na sexualidade que se
pode se encontrar forças e potência para enfrentá-la.
Além disso, para se livrar do encouraçamento do caráter, Reich menciona
conclusivamente que é necessário liberar esse bloqueio, esse enrijecimento do corpo. O sujeito,
portanto, deve desacumular essa energia presa em si. Logo, sua terapia constituía no objetivo
de auxiliar o indivíduo a liberar essa carga energética, dissolvendo, assim, as couraças de seu
corpo, que, diferente da concepção de libido de Freud, só poderia ser liberada através do alcance
do orgasmo.
Reich criou, portanto, a vegetoterapia, uma técnica psicoterápica no mínimo
revolucionária, na qual se baseava em aspectos e intervenções corporais, fugindo das propostas
de Freud, em que tradicionalmente focavam principalmente em diálogos. Como essa técnica
era um modelo completamente inovador e que causa receio à primeira vista, não seria uma
surpresa se os indivíduos achassem um procedimento invasivo, visto que não estavam mais
sentados em um divã de costas para seu psicanalista, estreitando, portanto, a relação entre
médico e paciente.
Entretanto, Reich acredita que não seja tão simples quanto parece se libertar de sua
couraça, pois existe um patriarcado enraizado tanto no corpo do indivíduo quanto no corpo da
sociedade, no qual não é fácil de se desfazer. Vale ressaltar que ele não acreditava em uma
dualidade entre corpo e mente, e sim, numa unidade funcional entre ambos.
Em suma, a obra “A Função do Orgasmo” (introdução), é um material rico em conceitos
e teorias não convencionais, por conseguinte, é preciso lê-lo de mente aberta para que haja uma
devida absorção de sua tese. O autor é literal no título ao mostrar ao leitor qual seria a função
do orgasmo e é intrigante o fato da perspectiva de Reich ainda permanecer atual, haja vista as
problemáticas contemporâneas que podem ser relacionadas ao livro.
Wilhelm Reich, portanto, é um autor transdisciplinar, no qual transita entre aspectos
políticos, sociais, fisiológicos e biológicos com uma fluidez notável e ideais tanto quanto
radicais, como quando ele menciona que sua terapia e invenções seriam capazes de curar até o
câncer, o que não foi eficazmente comprovado. É um autor, contudo, indispensável tanto na
Psicologia como em outras áreas do conhecimento, mesmo se não houver concordância do leitor
em suas teses, pois até para ter um ponto de vista negativo acerca de uma teoria, é necessário
entendê-la primeiramente.

REFERÊNCIA

REICH, W. A função do orgasmo. 9ª ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1975.

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