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Filosofia 11º ano

Betty Fernandes
2020/2021
Índice

-Realidade ou Realidades?........................................................................................................................................................5
-O que é necessário para ter conhecimento?...........................................................................................................................5
-Conhecimento…………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………..5
-Tipos de conhecimentos…………………………………………………………………………………………………………………………………………….……..5
-A definição tradicional de conhecimento: em que condições há conhecimento proposicional………….………………………………6
-Conhecimento Proporcional……………………………………………………………………………………………………………………………………………...6
-Condição necessária e suficiente……………………………………………………………………………………………………………………………………….7
-Definir conhecimento como sendo uma crença é condição suficiente?.................................................................................7
-Basta haver crenças para que se possa falar em conhecimento?...........................................................................................7
-Será que se pode conhecer coisas falsas?...............................................................................................................................7
-Mas quando é que se deve considerar que uma crença se encontra justificada?..................................................................8
-Justificações………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………8
-Exercício da página Página 143 Manual…………………………………………………………………………………………………………………………….8
-A critica de Gettier…………………………………………………………………………………………………………………….………………………………………9
-Critica à definição tradicional de conhecimento…………………………………………………………..……………………………………………………9
-Conclusões a partir do contraexemplo de Gettier……………………………………………………….…………………………………………………..10
-Modelos explicativos do conhecimento……………………………………………………………………………………………………………..……………10
-Argumento cético…………………………………………………………………………………………………………………………………………………………...11
-Conhecimento hipotético condicional………………………………………………………………………………………………………………………….….11
-Será o argumento cético um argumento sólido?..................................................................................................................11
-Argumento da Regressão infinita…………………………………………………….………………………………………………………………………………11
-A possibilidade do conhecimento e o problema da justificação……………………………………………………………………………………….12
-Perguntas e Respostas do possível teste………………………………………………………………………………………………………………………….12
-Duvida Sética x Dúvida cartesiana………………………………………………..……………………………………………………………………….…………15

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1º Período: 1º teste

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-Todos nós praticamos o conhecimento.  Sai de si;
-O conhecimento é influenciado por fatores:  Está fora de si;
económicos, sociais e políticos.  Regressa a si.

Realidade ou Realidades?
Vivemos todos na mesma realidade, mas, no
entanto, essa realidade é diferente de individuo
para individuo, uma vez que temos visões
diferentes, logo não se pode dizer Realidade, mas
sim Realidades.

-Cada individuo constrói a sua realidade, através


de diversos fatores.

Conhecimento- apreensão da realidade (mental),


construção da realidade.

O que é necessário para ter conhecimento?


Para que haja conhecimento precisamos de 2
Representar o objeto é também, em certa medida,
realidades que descrevem o fenómeno do
construí-lo.
conhecimento:
 Sujeito (S) Sem um destes, não há -O conhecimento de uma criança tem a ver com a
 Objeto (O) conhecimento manipulação/ interação que a criança faz com os
objetos.
Sujeito (S) Objeto (O)
-O modo como interagi-mos com o objeto
São realidades distintas,
condiciona o conhecimento.
separadas/transcendentes.
Correlação-Dependem um do outro -Na perspetiva do sujeito, são possíveis ter tipos de
Função: conhecer Função: ser conhecido conhecimento.

-Ato: descrição do conhecimento tal como


acontece. Como nem todos os objetos são do mesmo tipo, há
-A função do sujeito e do objeto só são iguais se diversos tipos de conhecimento.
houver conhecimento interpessoal (entre 2 Tipos de conhecimentos:
pessoas).
 Saber Fazer / conhecimento prático
(conhecimento por aptidão ou saber) –
Consiste na capacidade ou aptidão para
fazer algo; é um conhecimento prático, ex:
Saber cozinhar.
-O objeto do conhecimento é uma
atividade (andar de bike);
-Ex: “Maria sabe nadar” - Diz respeito a algo
que Maria sabe fazer, à sua capacidade de
realizar uma tarefa. Quando dizemos que
Fases do sujeito:

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Maria sabe nadar, referimo-nos a uma atividade  Saber qual o tipo de conhecimento presente e saber
em que ela revela aptidões. explicar e descrever esse conhecimento.

 Saber que (conhecimento


proporcional) – Consiste em saber que Conhecimento Proporcional
certas proposições ou pensamentos
são verdadeiros, ex: 2+2=4; O seu
objeto são proposições verdadeiras.
-O saber que também se designa
como conhecimento factual, podendo
ser expresso com outras locuções: sei
onde, sei...
-“Portugal é um país Europeu”-
proposição verdadeira;
-“Maria sabe que a ponte Vasco da
Gama é extensa”- o objeto do
conhecimento não é a ponte Vasco da
Gama, mas o que se sabe acerca dela.
O objeto do conhecimento é a
proposição “ A ponte Vasco da Gama
é extensa”. Esta proposição é
verdadeira, logo, constitui
conhecimento. Só haverá
conhecimento proposicional se este
partir de proposições verdadeiras. -Entre o sujeito e o objeto estabelece-se uma crença
(não tem nada a ver com fé).
 Conhecimento por contacto/ Saber de –
A crença é uma condição necessária do
Consiste na experiência direta de objetos
conhecimento, mas as crenças podem ser verdadeiras
(conhecimento direto a alguma realidade),
ou falsas.
factos ou pessoas. O seu objeto são lugares,
pessoas e coisas. O conhecimento implica que acreditemos na
 , ex: conhecer Paris. veracidade da proposição.
-É este o tipo de conhecimento direto que
-Acreditamos naquilo que sabemos.
temos quando conhecemos uma pessoa,
cidade…
-Exige a presença física face ao sujeito e objeto; Teoria do CVJ- o conhecimento é uma Crença,
-Refere-se a pessoas, realidades e localidades. Verdadeira, Justificada.
- “Maria conhece a Torre de Belém” - Refere-se
a um objeto concreto que Maria visitou e  Todo o conhecimento tem que ser uma crença:
observou diretamente em Belém. A este Saber algo prossupõe que acredite nisso. Só
conhecimento designamos conhecimento por podemos conhecer uma proposição se
contacto por que é necessário que Maria visite acreditarmos no que ela anuncia. A crença é uma
a Torre de Belém. É um saber imediato e direto. condição necessária ao conhecimento;
Não conhece a Torre de Belém se nunca lá tiver -O conhecimento é uma crença: eu acredito
ido. naquilo que conheço- há uma correspondência
entre a realidade e a proposição.

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 Todo o conhecimento tem que ser uma crença Condição necessária e suficiente
verdadeira: (Ex do futebol) A sua
crença era falsa porque não correspondia a uma Condição necessária- são necessárias, mas não são
descrição correta da realidade. Por isso não basta suficientes para definir um objeto;
acreditar para conhecer. Aquilo em que Condição suficiente- é imprescindível (indispensável)
acreditamos tem que ser verdade, ou seja, para descrever um objeto; é suficiente; basta por si
corresponder a uma descrição correta de factos. só.
Se a crença numa dada proposição fosse suficiente
para ter conhecimento, então as crenças falsas
seriam conhecimento. Ora, só podemos conhecer
o que é verdadeiro (conhecer é acreditar que uma
proposição é verdadeira, sem verdade não há
conhecimento).
 Só há conhecimento se a crença verdadeira for
justificada: um palpite feliz que se revela correto
não é conhecimento. João pode até dizer que
acertou o euro milhões porque viu os números
chave nos seus sonhos, mas, apesar do
Cada um deles, por si só, são condições
conhecimento ser crença verdadeira justificada,
necessárias, mas se as reunirmos todas, são
nem todas as justificações servem. Sem
condições suficientes para definir “Homem”.
justificação, é possível que as nossas crenças
sejam verdadeiras, mas não sabemos realmente
que são verdadeiras. - Logo, a crença verdadeira
Definir conhecimento como sendo uma crença é
não pode ser um palpite/opinião. Tem de haver
condição suficiente?
boas razões e evidências a favor da verdade da
crença. Basta haver crenças para que se possa falar em
conhecimento?
O conhecimento é crença verdadeira justificada Evidentemente que não.
(sustentada por boas razões). Um lado objetivo, um lado que não depende do
sujeito e que é a verdade mesma daquilo em que se
S sabe que P se e só se S tem uma crença verdadeira
acredita.
justificada de que P.
-Assim, ex: eu acreditar que a Terra é plana, só
Definir- trabalhar sobre 2 conceitos. depende de mim, uma vez que já foi provado o
contrário.
Conceito: Homem
As crenças podem, portanto, ser verdadeiras ou
 Extensão- vemos quem pertence, ex: Rafael, falsas, mas só as crenças verdadeiras é que
César, Rubén; constituem conhecimento.
 Compreensão/definição: características pra
Será que se pode conhecer coisas falsas?
diferenciar um conjunto/conceito de outro.
Não. O que acontece é que as pessoas que conhecem
coisas falsas, estão enganadas, dado que pensam
coisas que na realidade não conhecem.

-Para definir conhecimento procuramos uma


condição suficiente.

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Haver crença é uma condição necessária para que Por isso, tomando o conceito de justificação num
haja conhecimento, não suficiente. sentido fraco, considera-se que uma crença se
encontra justificada quando há boas razões para
É preciso, também, que a crença seja verdadeira.
acreditar na sua veracidade (o que nos leva a
-Não chega ter crença para ter conhecimento. acreditar na crença).
Crença é apenas condição necessária.
Logo, haver crença e que esta seja verdadeira, são Elevamos o grau de conhecimento, pois
condições necessárias, mas não suficientes para diminuímos o grau de exigência.
que haja conhecimento. Deve notar-se que para uma crença se encontrar
A estas 2 condições, há que acrescentar 1 terceira: a justificada tem de haver boas razões a favor da
justificação (razões que nos levam a acreditar na sua veracidade, isso não significa que eu tenha
veracidade da crença). de conhecer ou saber explicar corretamente as
razões.
Para haver conhecimento, não basta ter uma
crença verdadeira, é preciso que a verdade dessa
crença esteja justificada. Segundo a teoria do CVJ, para que haja
A justificação constitui a 3º condição necessária conhecimento é necessário que se verifique:
para que haja conhecimento.  Crença;
 Verdade;
 Justificação.
-O conhecimento não são previsões.
Há conhecimento sempre que nos encontramos Página 143 Manual
perante crenças que forem também “É verdade que Joanesburgo é a capital da África do
simultaneamente verdadeiras e justificadas. Sul, mas não acredito nisso” - nesta afirmação,
denota-se algo de errado. Há uma contradição, pois
não faz sentido dizer que esta proposição é
Mas quando é que se deve considerar que uma verdadeira e em simultâneo dizer que não
crença se encontra justificada? acreditamos.
A justificação num sentido forte, só se
Nem tudo o que acreditamos pode ser considerado
considerariam justificadas as crenças cuja verdade
conhecimento. Pois, o conhecimento é uma crença
se apoiasse em razões absolutamente certas e
verdadeira justificada, ou seja, para que se
infalíveis.
considere conhecimento, o sujeito tem que
acreditar, sim, mas não lhe basta apenas acreditar.
Essa crença tem que ser verdadeira e não pode ser
Crenças fiáveis- ver as justificações que a tornam
uma simples opinião/palpite/crença falsa, tem de
verdadeira.
haver boas razões e evidências a favor da verdade
da crença. Só assim se pode considerar
Justificações:
conhecimento.
 Razoáveis;
 Fortes- limitamos imenso o conhecimento, pois
Dizer que a verdade é condição necessária do
não admitem controvérsia, são absolutamente
conhecimento significa que nunca poderemos
certas.
conhecer proposições se estas forem falsas.

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A crença não é condição suficiente do Segundo esta definição, ter uma crença verdadeira
conhecimento pois se assim fosse, qualquer crença justificada é condição suficiente para que haja
seria verdadeira, no entanto, existem crenças que conhecimento.
são falsas.
-Gettier arranja um contraexemplo que prova que
“João acredita que Londres é a capital de Itália. Por podemos ter uma crença verdadeira justificada e
que razão não se pode dizer que possui mesmo assim não ter conhecimento.
conhecimento?”
A crença é uma condição necessária para o Exemplo:
conhecimento, na medida em que não faz sentido Maria sai de casa e vê o relógio a marcar 8h (hora
dizer que a proposição é verdadeira e de saída de casa para a escola).
simultaneamente não acreditar na verdade da  Tem uma crença: viu o relógio a marcar 8h;
proposição. Porém, isto não é suficiente uma vez  A crença é verdadeira: são realmente 8h;
que estas podem ser verdadeiras ou falsas.  Tem justificação: ao longo de 12 anos o
A verdade exige a crença, mas a crença não relógio nunca falhou.
implica a verdade e neste caso, o João tem uma Parece que Maria tem conhecimento.
crença falsa e, portanto, possui uma crença que
não corresponde a qualquer tipo de Contraexemplo:
conhecimento pois Londres é a capital da A mãe de Maria não deu corda ao relógio e este
Inglaterra e não de Itália. parou nas 8h e Maria olhou para o relógio e por
--- sorte a hora marcada coincidia.

-As crenças podem ser verdadeiras e falsas, uma vez


que são subjetivas. Afinal Maria tinha uma crença que era verdadeira
e tinha justificação, mas, porém, ela pensava que
A critica de Gettier tinha conhecimento e não tinha, pois foi um mero
acaso. – Não é conhecimento porque a crença é
-Mostrou contraexemplos – situações em que verdadeira por mera coincidência.
temos um exemplo que vai contra a definição.
A justificação não estava correta.
Contraexemplos- exemplos em que um único caso -Não teve conhecimento, teve sorte.
particular refuta uma tese ou teoria previamente
aceite. Gettier sugeriu 2 contraexemplos que pretendem
mostrar que podemos ter uma CVJ sem que a
Gettier provou que a CVJ não é suficiente para crença seja conhecimento.
haver conhecimento. Ex do futebol- “Dinis acredita Logo, a crença não é condição suficiente para o
em algo verdadeiro, sem saber que realmente é conhecimento.
verdadeiro”
-Gettier ataca as justificações, utilizando
Critica à definição tradicional de conhecimento: contraexemplos- muitas vezes temos uma CVJ e
Definição tradicional- há conhecimento desde que não há conhecimento.
estejam satisfeitos cumulativamente 3 condições:
 1º A proposição P é verdadeira;  Dar contraexemplos do Gettier
 2º O sujeito A acredita que P é verdade;
 3ºO sujeito A tem uma justificação para a sua
crença em P.

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 As 3 condições da definição tradicional de
conhecimento não são suficientes para
assegurar que estamos na posse de
conhecimentos verdadeiros;
 Conhecer uma verdade, a ignorar os seus
verdadeiros motivos/explicações pode iludir
o sujeito no ato de conhecer;
 Devemos assumir uma postura critica
constante quando justificamos as nossas
crenças.

Deve notar-se que, ao criticar a definição


tripartida do conhecimento (CVJ), Gettier não cai
no ceticismo, ou seja, não defende que o
conhecimento não é possível.
-As justificações fracas colocam em causa o Unicamente argumenta que a definição
conhecimento, mas não deitam todo o tradicional não estabelece as condições
conhecimento fora. suficientes para haver conhecimento.

Os contraexemplos colocam em causa o CVJ, Céticos- defendem que a justificação de uma


admitindo que estas nem sempre são condições crença envolve sempre outra crença que a
suficientes para que haja conhecimento, pois, em suporte, sendo o processo de justificação
alguns casos, são apenas condições necessárias interminável; nenhuma crença se pode justificar
para que haja conhecimento. a si própria.
Regressão infinita da justificação: A crença 1
-Gettier coloca em coloca me causa o CVJ pelas tem que ser justificada pela crença 2, esta por
justificações fracas. outra e assim indefinidamente.

-O nosso conhecimento não se apoia em razões Argumento cético de regressão infinita- por
infalíveis pois estas vão se alternado por vários mais fortes que sejam as nossas crenças, por
motivos, adquirindo, assim, novos melhor que nos pareçam as nossas crenças, as
conhecimentos sem ter conhecimentos justificações são sempre insuficientes.
absolutos. Mas crenças insuficientemente justificadas não
são conhecimentos.
-Nós vamos apenas diminuindo a margem de erro,
Concluem assim, que não chegamos
mas nunca temos conhecimentos absolutos. O nosso
verdadeiramente a conhecer o que quer que
conhecimento apoia-se em boas razões que o
seja, chamam-se a estes filósofos de céticos.
justificam.
O ceticismo é a posição segundo a qual o
conhecimento não é possível.
Conclusões a partir do contraexemplo de Gettier:
 É possível acreditar em verdades plenamente
Os céticos defendem que não temos
justificadas pelo sujeito sem que se esteja na
justificações absolutas.
posse de verdadeiro conhecimento.
Os céticos mantêm a própria duvida, as crenças
nunca estão devidamente justificadas.

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Argumento cético: Quando a 2º premissa é verdadeira a conclusão é verdadeira.
Se há conhecimento, então as nossas crenças Se o argumento for sólido temos que aceitar a sua conclusão.
estão justificadas.
Argumento da Regressão infinita- argumento que mantêm a
Mas as nossas crenças não estão dúvida.
verdadeiramente justificadas.
Logo não há conhecimento.
Argumento cético da regressão infinita formula-se do
Conhecimento hipotético condicional: seguinte modo:
Todas as nossas crenças são justificadas com outras crenças;
Se A então B. se todas as nossas crenças são justificadas com outras
Afirmar o antecedente implica afirmar o crenças, então há uma regressão infinita; se há uma
consequente. regressão finita, não estão justificadas, então não há
 Antecedente- “Se A”; conhecimento.
 Consequente- “então B”.
Usa-se este argumento para justificar a verdade da 2º
premissa; é onde atacamos os céticos.
Não há uma justificação que justifique todas as outras
justificações.

Dá-se uma regressão infinita sempre que se inicia um


processo de recuo que não tem fim. Se a justificação das
nossas crenças é infinita, sempre a partir de outras crenças,
então, nunca no podemos dar como satisfeitos, as
justificações que damos precisam elas mesmo de ser
justificadas, e assim o processo de justificação continua até
Este argumento é válido/correto. ao infinito.
Olhemos para as premissas (proposições) a ver
se são verdadeiras (olhamos para o que é dito)
pois a validade diz-nos que o argumento é
valido.
 “Se há conhecimento, então as nossas crenças
estão justificadas” - verdade, pois sempre que
temos CVJ temos crenças justificadas.
 “Mas, as nossas crenças não estão justificadas” –
Falso, nem todas.

Será o argumento cético um argumento sólido?

1º premissa- parece indiscutível, pois não parece


possível haver conhecimento sem justificação;

Mas a 2º premissa não parece tão


evidentemente verdadeira, e isto porque não é
obvio que as nossas crenças, ou pelo menos,
algumas não estejam justificadas.
Se o cético pretende que o seu argumento seja
sólido, então deverá defender a sua 2º
premissa.

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-Explique a diferença entre saber fazer, conhecimento por
Respostas importantes: contacto e saber que. Dê exemplos.
Para que haja conhecimento é necesssário 2 realidades que
-O conhecimento baseado em juízos refere-se ao Saber que descrevem o fenómeno do conhecimento: o sujeito e o
(B); objeto.
O Objeto é aquele que é conhecido, porém, como nem todos
-Segundo a definição tradicional do conhecimento uma crença os objetos são do mesmo tipo, há diversos tipos de
verdadeira por si só não constitui conhecimento (A); conhecimento: o conhecimento de saber fazer, o
conhecimento por contacto e o conhecimento de saber que.
-João sabe que chove se está a nevar. De acordo com a noção  O conhecimento de saber fazer é um conhecimento prático,
tradicional do conhecimento; esta proposição é uma crença, que consiste na capacidade ou aptidão para fazer algo, sendo
mas não é um conhecimento (B); o seu objeto de conhecimento, uma atividade.
Por exemplo saber cozinhar. Quando dizemos que alguém
sabe cozinhar estamos a referir-nos a uma aptidão do sujeito.
-A definição tripartida do conhecimento evita que o  O conhecimento por contacto é o tipo de conhecimento que
conhecimento seja obra da sorte ou do acaso. Esta tese é consiste na experiência direta do sujeito a objetos, factos ou
verdadeira porque rejeita que um palpite correto seja pessoas. Sendo o seu objeto lugares, pessoas e coisas.
conhecimento (A); Um exemplo deste tipo de conhecimento é dizer que “Maria
conhece a Torre de Belém”, pois refere-se a um objeto
-Analise as afirmações seguintes sobre a definição tradicional concreto que Maria visitou e observou diretamente em
de conhecimento. Selecione, de seguida, a alternativa correta: Belém.
1. Pode haver conhecimento sem crença;  Já o conhecimento de saber que, também designado por
2. Podemos conhecer uma determinada proposição sem que conhecimento preposicional, é o tipo de conhecimento que
esta seja verdadeira; consiste em saber que certas proposições ou pensamentos
3. Não pode haver conhecimento sem justificação do que são verdadeiros, logo o seu objeto são proposições
acreditamos ser verdadeiro; verdadeiras. Como por exemplo: “Portugal é um país
4. A crença e conhecimento não são a mesma coisa. Europeu”.
Opção A)
“Assim como a esquerda não tem sentido nem significa nada a
Analise as afirmações sobre a posição critica de Gettier acerca não ser por contraposição à direita, e a direita não significa
da teoria tripartida do conhecimento proposicional. Selecione, nada a não ser por contraposição à esquerda, (…) do mesmo
de seguida, a alternativa correta: modo, o sujeito no conhecimento , não tem sentido a não ser
1. Podemos deduzir uma crença verdadeira e justificada de por contraposição a objeto, e objeto não tem sentido senão
uma crença justificada, mas falsa; por contraposição a sujeito. A relação é, pois, uma correlação.
2. Uma crença verdadeira pode ser justificada de forma
-Explique em que condições, na perspetiva de Platão, se pode
acidental; afirmar que um sujeito conhece uma proposição.
3. É possível que um sujeito tenha uma crença verdadeira e
essa crença não seja conhecimento; Na perspetiva de Platão pode afirmar-se que o sujeito conhece
4. São as nossas crenças que tornam uma proposição uma proposição, quando o seu conhecimento é uma crença
verdadeira ou falsa; verdadeira justificada.
Opção C) Ou seja, quando o sujeito acredita na proposição que
corresponde a uma descrição correta da realidade, e que esta
-O ceticismo é a teoria segundo a qual: Nunca podemos simultaneamente apresenta boas razões que a justifiquem e
justificar as nossas crenças, mesmo que possam ser que nos levem a acreditar na sua veracidade.
verdadeiras. (A)
-Considere o exemplo seguinte, originalmente apresentado por
-Qual a definição de conhecimento presente no texto? Bertrand Russel.
A definição de conhecimento presente no texto é a de que este
é uma crença verdadeira justificada (Teoria do CVJ). Que nos “O relógio da igreja da tua terra é bastante fiável e costumas
diz que para que haja conhecimento é necessário que confiar nele para saber as horas. Esta manhã, quando para a
acreditemos na proposição (crença) e que esta seja verdadeira, escola olhaste para o relógio e viste que ele marcava
não podendo ser um mero palpite, pois tem que haver boas exatamente 8h20m.
razões (justificações) e evidências a favor da sua veracidade. Por isso, formaste a crença que eram 8h20m. O facto de o
relógio ter sido fiável no passado justifica a tua crença.
Contudo, sem que o soubesses, o relógio tinha avariado no dia

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anterior exatamente quando marcava 8h20. Assim, tens uma
crença justificada, mas terás um conhecimento?”

-A apresentação deste contraexemplo permite demonstrar o


quê em relação à definição tradicional de conhecimento?
Com a apresentação deste contraexemplo, Bertrand Russel
permite demonstrar que ter uma crença verdadeira justificada
não é suficiente para haver conhecimento.

-Responde à questão formulada no texto.


Não, não nos basta ter uma crença justificada para ter
conhecimento.
Nem tudo o que acreditamos e que tem razões razoáveis para
acreditar na veracidade da proposição constitui conhecimento.
Pois, como pudemos ver, através do exemplo, nós tínhamos
uma crença que era verdadeira e tinha justificação, mas,
porém não tínhamos conhecimento pois foi um mero acaso.

Logo, não é possível ter conhecimento quando a crença é


verdadeira justificada por mera coincidência.

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1º Período: 2º teste

14
Dúvida Cética x Dúvida cartesiana Já a duvida de Descartes caracteriza-se como sendo uma
DUVIDA CARTESIANA (duvida metódica) , uma vez que esta
René Descartes e David Hume- pensaram que o problema é provisória.
central da teoria do conhecimento era o da
justificação/fundamentação.
O projeto de Descartes: garantir que o nosso
Perguntar como o conhecimento é possível e como deve ser conhecimento é constituído por verdades indubitáveis
fundamentado são 2 questões estreitamente ligadas.
O “sistema dos conhecimentos estabelecidos” apresenta graves
Descartes e Hume: deficiências:
 Se não houver fundamento para o que julgamos ser  A base do sistema não é sólida e firme;
verdadeiro, não haverá conhecimento.  Os supostos conhecimentos não estão bem
 Não ignoram o ceticismo- declara que o conhecimento organizados.
não é possível, porque, mesmo que haja crenças
verdadeiras, não as podemos fundamentar e justificar. Descartes leva muito a sério a preocupação com a solidez e
firmeza dos conhecimentos.
Modelos explicativos do conhecimento: são posições  A SOLIDEZ e FIRMEZA significa que só pode ser
contrárias. fundamentado o que garantir absolutamente que o que
 Racionalismo (René Descartes) - a origem do acreditamos ser verdadeiro, é verdadeiro.
conhecimento é a razão/pensamento;
 Empirismo  Fragilidade da base: o “sistema dos conhecimentos
estabelecidos” fundou-se na ideia de inspiração aristotélica e
medieval de que todo o conhecimento começa com a
experiência, baseando-se nos sentidos, e estes enganam-
Racionalismo- Descartes nos com alguma frequência.
Assim, é, segundo Descartes, impossível considerar
Descartes nasceu em França e recebeu influências jesuítas. absolutamente firme e seguro esse sistema que se baseia no
Apercebendo-se de todo o pensamento do seu tempo que não é fiável (os sentidos).
colocou tudo em dúvida, citando que: “Não é possível
conhecer-se absolutamente nada”. Descartes não nega que algumas das crenças desse sistema
sejam verdadeiras. O problema é a justificação/
Procurou uma crença de pudesse ser um fundamento de fundamentação: a experiência dada por falível, não pode dar
todas as outras crenças e que não precisasse essa crença de às nossas crenças/opiniões a garantia de serem absolutamente
ser justificada, conseguindo justificar todas as outras verdadeiras. Por isso, se queremos dar uma garantia absoluta
crenças. e que os nossos conhecimentos são opiniões verdadeiras,
Defendeu que só através da razão era possível chegar à devemos encontrar outra base/principio que não a
verdade. experiência.
Parte da dúvida e sai da dúvida (através do seu método)
Toma a dúvida como sendo o caminho para alcançar a  Desorganização: prende-se ao facto de o “sistema dos
verdade. conhecimentos estabelecidos” não ser solido nem firme.
Se a experiência não é fiável, não pode ser a base, tratando-
A ideia de que o conhecimento é constituído por crenças se de um falso princípio. Logo, um sistema fundado na
verdadeiras justificadas está presente na filosofia de experiência está desorganizado porque considera-se
Descartes. alicerce/ fundamento o que não pode sustentar/garantir
que o nosso conhecimento é constituído por verdades.
O que defendem os racionalistas?
Os racionalistas defendem que na origem do conhecimento Resumindo:
está a razão/pensamento- Princípio. Fazendo com que o conhecimento dependa da experiência:
 impede que haja uma justificação firme e segura das
DÚVIDA CÉTICA: é uma dúvida permanente, os céticos não verdades que descobrimos (O conhecimento não recebe
saem da dúvida, permanecendo eternamente nela. uma justificação adequada).
 impede que os conhecimentos sejam organizados e
ordenados de forma racional.
Logo, é necessário a constituição de um novo sistema de
conhecimentos

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Página 151 do Manual Descartes propõem a construção de um novo sistema de saber,
que deverá ser absolutamente seguro, inabalável e eterno.
1.Em que consiste o projeto de Descartes no que diz Para isso tal sistema deverá apoiar-se em bases, em
respeito ao conhecimento? fundamentos ou em princípios absolutamente primeiros.
R: No que diz respeito ao conhecimento, o projeto de
Estes princípios básicos do conhecimento, e por isso, Descartes
Descartes procura uma profunda reforma do
é um filosofo racionalista, serão constituídos por proposições a
conhecimento humano. Para tal, ele considera que
priori, puramente racionalistas e autoevidentes.
devemos justificar as nossas crenças de forma a que
possamos garantir sem margem de dúvida, a sua Proposições priori- antes de (através do pensamento)
verdade. Ao procurar essa verdade indubitável Proposições a priori- posteriores (depois do pensamento)
pretende combater o pessimismo em relação ao
conhecimento resultante do ceticismo.
Duvida metódica:
2. O que leva Descartes a propor-se realizar este
projeto?  Só aceita como verdadeiras as opiniões de que não
R: Descartes propõem-se a realizar este projeto pelo haja a mínima razão para duvidar. – Descartes não
facto de o conhecimento no seu tempo basear-se em aceita nada que o que coloque em dúvida.
bases que não garantem a veracidade (a experiência/
 A dúvida metódica é hiperbólica (exagerada), ou seja,
sentidos) e por estar construído de uma forma
é orientada por 2 decisões:
desorganizada. Ele considera que o conhecimento
 Considera falsa qualquer opinião/crença em
exigirá uma base firme, pelo que, então essa base deve
que detetarmos a mínima fragilidade, isto é,
ser uma verdade que não suscite a menor duvida. Essa
sobre a qual possamos ter uma razão para
base deve justificar todas as outras que derivam dela e
duvidar, por mais ténue que seja;
não precisa de ser justificada. Temos, portanto, que
 Considerar que qualquer faculdade/sentido/
encontrar uma base que seja fundamento do
experiência que usamos para conhecer não
conhecimento, que pretendemos que seja firme,
merece confiança se alguma vez nos tiver
seguro e bem organizado. Será a verdade a partir da
enganado ou se tivermos alguma razão para
qual eremos encontrar outras verdades que delas
suspeitar de que nos pode enganar- coloca em
dependem necessariamente.
causa os sentidos/experiencias.

Descartes não aceita nada que não seja garantido


Dúvida metódica
O CARACTER HIPERBÓLICO da dúvida metódica está
A procura do conhecimento sólido e firme coloca em causa o intimamente ligado ao que exige a 1ª regra do método
todo o conhecimento anterior que se baseava em Aristóteles. cartesiano: que se separe radicalmente o verdadeiro do falso,
considerando verdadeiro somente o que é indubitável.
Ou seja, o que me enganar alguma vez não merece a mínima
Esta BASE INDUBITÁVEL do conhecimento será uma verdade confiança e o que suscitar a mais leve duvida será declarado
de que dependerão todas as outras e que por sua vez, não falso. Assim, terei a certeza de que, quando descobrir uma
dependerá de nenhuma. Assegura a sua verdade e a crença de que não possa duvidar, estarei de posse de uma
verdade das que dela derivam. verdade inquestionável.

A vontade de conhecimento absolutamente seguro conduz Duvida: única forma para chegara uma verdade inevitável.
Descartes a somente aceitar como verdade o que é
impossível ser falso. Características da Dúvida:
 Voluntária: Descartes decide voluntariamente duvidar,
A base do sistema terá de ser uma verdade indubitável- pois colocando tudo em dúvida;
um sistema de conhecimentos composto por verdades  Provisória: ponto de partida para chegar a uma
firmes implica que não só a 1ª ou básica verdade tem de ser verdade/certeza ilimitada, mas quando chegamos lá, a
indubitável, como também as outras. dúvida deixa de ter razão para continua a existir;

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 Metódica: apresenta-se como um método para se chegar  Enumeração: devemos fazer sempre revisões e
a uma certeza inevitável. enumerações gerais, a fim de manter a ordem do
pensamento e para certificar que nada, por omissão, ficou de
O que é a dúvida cartesiana? fora.
É um instrumento de procura de uma verdade
absolutamente indubitável; A evidência é a regra mais importante.
É um método de investigar a verdade separando É a regra que estará presente no conhecimento dos primeiros
princípios do saber.
totalmente o verdadeiro do falso.
Descartes apresenta um sistema dedutivo rigoroso em que
Descartes para encontrar uma verdade inevitável vai dedicar-
todo o conhecimento acercado do mundo e do homem é
se a tentar provar que todas as opiniões que recebeu são
lógica e necessariamente concluído pela razão a partir de
falsas. - Coloca me duvida todo o conhecimento que recebeu
certas ideias e princípios evidentes.
até ao momento.
Para isso vai avaliar a firmeza ou solidez das bases em que -Raciocínio por Analogia- raciocínio por comparação.
assentam as opiniões/crenças que lhe foram transmitidas
e que considerou verdadeiras. Se as bases em que as Racionalistas
crenças se assentam forem duvidosas, terá razões Privilegiando a razão como instrumento de conhecimento;
suficientes para julgar como inaceitáveis as opniões que O único critério de verdade que aceita;
É a evidência, clareza e distinção com que as ideias se
nelas se apoiam.
apresentam à razão.
Só aceita como conhecimento autêntico, as ideias inatas, e
Fundamentos/ Principios do saber que Descartes isso, em virtude da sua pureza racional;
questiona:
 A crença de que a experiencia é a fonte dos Nunca podemos conhecer através da experiência/ sentidos,
nossos conhecimentos, isto é, de que o pois eles são enganosos.
conhecimento começa com a experiencia e de Defende que só há conhecimento através da razão.
que podemos confiar nos sentidos;
 A crença da existência de um mundo físico; São 3 os tipos de ideias de Descartes:
 A crença de que o nosso entendimento não se  Ideias adventícias- vêm diretamente do exterior através
engana ou não pode estar enganada quando dos sentidos. Os sentidos são enganadores. Descartes não
reconhece a este tipo de ideias nenhum valor de verdade.
descobre verdades.
 Ideias inatas- nascem connosco, com a nossa razão, de
cuja estrutura fazem parte. São puramente racionais,
Tenta combater o ceticismo colocando-se numa posição de pelo que, livres de toda a contaminação sensível, são as
desengano e contruindo assim um sistema. únicas que são evidentes, claras e distintas, pelo que só a
“Mergulhado” no ceticismo, alimenta o projeto de construir elas Descartes reconhece valor de verdade e só elas
um novo sistema de saber, mas um sistema de saber, assente constituem autêntico conhecimento.
em fundamentos sólidos.  Ideias factícias- são ficções da nossa imaginação, isto é,
são ideias construídas pela imaginação, mas a partir dos
dados dos sentidos. Também a estas, Descartes não
O método cartesiano é constituído por 4 regras. reconhece qualquer valor de verdade.

 Evidências: Descartes propõe, seja qual for o assunto a A dúvida cética é diferente da dúvida cartesiana.
estudar, que só devemos aceitar por verdadeiro o que for Que razões Descartes aponta para duvidar?
evidente, isto é, aquilo que parece à sua razão de uma forma
de tal modo clara e distinta, que não haja qualquer motivo Considerando como sempre enganador aquilo que nos engana.
para o pôr em dúvida.
 Análise: sempre que se depare um problema complexo,
devemos dividi-lo em partes mais simples, tantas quantas Níveis da aplicação da dúvida
forem necessárias para melhor resolver.
 Síntese: devemos seguir o nosso pensamento de acordo Recusando tudo o que possa suscitar incerteza;
com uma ordem que é do mais simples para o mais A dúvida é um instrumento da razão na busca da verdade;
complexo.  A dúvida procura impedir a razão de considerar verdadeiros
conhecimentos que não merecem esse nome.

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Itinerário metafísico de Descartes:
 1ºNivel: duvida em relação aos sentidos. cogito, Deus e Mundo
A dúvida vai aplicar-se em 1º lugar às informações dos
sentidos e como estes nos enganam algumas vezes. Ao Com o ARGUMENTO DO GÉNIO MALIGNO/ DEUS
aplicar o PRINCÍPIO HIPERBÓLICO DA DÚVIDA concluímos ENGANADOR, Descartes dá à dúvida uma dimensão radical e
que só devemos considerar como sempre enganador aquilo metafísica que ela até aí não tinha.
que nos engana algumas vezes, então os sentidos não Com esse argumento leva a dúvida às próprias evidências
merecem qualquer confiança. Assim, Descartes rejeita um matemáticas, pondo em causa o nosso conhecimento.
dos fundamentos principais do saber tradicional: a crença O GÉNIO MALIGNO coloca em causa a Matemática com
em que o conhecimento começa com a experiência, com método inevitável.
as informações dos sentidos.
Os sentidos não merecem confiança. “Nada disto existe, é Deus que nos faz querer que existe.”
“Quem me garante que não é um Deus maligno que faz com
 2º Nível: duvida dos objetos. que eu pense que tenho pés e mãos, quando na verdade não
Descartes vai pôr em causa outro dos fundamentos tenho?”
essenciais do saber tradicional: a convicção ou a crença
imediata na existência das realidades físicas visíveis. Para Deus me enganar eu tenho que existir.
Descartes considera que se não existe uma maneira clara
de diferenciar o sonho da realidade, não podemos
desconfiar de que os acontecimentos e as coisas que Omnisciente- sabe tudo.
julgamos reais não são mais do que figurantes de um Descartes duvida de tudo, até da sua existência, até concluir que
sonho. para que Deus o consiga enganar é preciso que ele exista-
Vira a dúvida contra a realidade exterior, colocando em PRINCíPIO PENSO LOGO EXISTO.
causa que há um mundo exterior a nós.

Descartes rejeita o mundo físico- “ se calhar nada disto Cogito (pensar)


existe”.
Com o ARGUMENTO DO GÉNIO MALIGNO, Descartes leva a
 3ºNivel: dúvida do conhecimento matemático. dúvida ao ponto mais extremo da realidade.
O facto de Deus ser omnipotente (tem o poder máximo) e Mas precisamente nesta altura, no momento em que tudo é
de nos ter criado leva-nos a suspeitar de que Deus, ao incerto, em que a dúvida é mais absoluta e extrema, Descartes
criar o nosso entendimento, ao “depositar” nele as encontra a 1º certeza, uma certeza absolutamente segura e
“verdades matemáticas”, pode tê-lo criado “virado do inabalável: a sua EXISTÊNCIA COMO SERE PENSANTE.
avesso” sem disso nos informar. Ou seja, o nosso Efetivamente, apercebendo-se que a dúvida e duvidar é
entendimento pode estar radicalmente pervertido, pensar, Descartes verifica que não poderia duvidar, nem
tomando como verdadeiro o que é falso e vice-versa. poderia pensar se não existisse.
Esta certeza, “EU PENSO, LOGO EXISTO”, é de tal modo segura
“Os princípios matemáticos se calhar não são infalíveis”, que dela nem o mais cético pode duvidar.
pois pode haver um Deus enganoso que o q uer fazer Ele resiste inclusivamente do argumento devastador do génio
acreditar. maligno. De facto, supondo que o génio maligno existe e
engana, aquele só o poderá enganar se ele existir.
Descartes vira a duvida contra ele próprio: “Afinal eu não
existo”. É quando Descartes cai no poço do ceticismo que encontra o
Motivos: 1ºPrincipio.
- Os sentidos são enganadores;
-Não temos o critério para diferenciar os sonhos da “Penso logo existo”- “Logito, ergo sun”.
realidade.
-Existência de um génio maligno/ Deus enganador. Descartes utiliza o pensamento matemático, mas como sei que
EU PENSO, LOGO EXISTO É VERDADE? É uma consequência.

Mas quem é que garante a Descartes que esta proposição “eu


penso, logo existo” é verdade? Ele responde que é o facto de
ele ver clara e sucintamente que para pensar tem de existir.

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É o critério da evidencia, que havia já constituído com a 1º Descartes entra num ciclo vicioso: tudo o que aparece com
regra do seu método. clareza e distinção é verdadeiro- quem garante, isto é, Deus.
De facto, no “eu penso, logo existo”, ele encontra não só a 1º Com a hipótese do génio maligno não dá para construir a
certeza, como o critério de todas as certezas. ciência pois coloca tudo em causa, nada existia.
Descobre a existência como condição do pensamento, e vai
fazer desta proposição inabalável, o ponto de partida absoluto
da sua filosofia.
Com efeito, refere que Arquimedes para promover a Terra
inteira do seu lugar, pedia apenas um ponto que fosse firme e
imóvel: por isso devo esperar grandes coisas, se descobrir
mesmo um mínimo que seja certo e inabalável.
Ora, esse mínimo certo e inabalável, o filósofo encontra-o no
“eu penso, logo existo”.

A partir de agora vai considerar que todas as proposições que Descartes só sabe que existe como ser pensante.
lhe aparecerem com o mesmo grau de evidencia com que lhe
aparece o “eu penso, logo existo” são tão verdadeiras como
ela. As características da 1º Verdade indubitável
Deve notar-se que ao instituir o “eu penso, logo existo” como
partida e 1º princípio da sua filosofia, Descartes assume-a 1. Como 1º crença que resiste à dúvida, será o 1º princípio do
como uma filosofia da subjetividade. novo sistema dos conhecimentos- ela surge da dúvida,
Á medida que se certifica da existência de Deus e do mundo resulta do próprio ato de duvidar, ou seja, é resultado da
como realidades autónomas e exteriores à sua consciência, dúvida.
Descartes evolui para a posição de realismo. Nenhum conhecimento é anterior a este porque o
descobrimos no momento em que temos dúvidas sobre
“Eu penso, logo existo”: tudo (objetos sensíveis e inteligíveis). Como primeira
- Princípio que não precisa de ser justificado, mas que verdade indubitável, vai ser a partir dela que a reconstrução
justifica todas as outras crenças; do saber se vai fazer.
-Só nos confirma que nós existimos, não que outros existam,
logo Descartes só sabe que ele existe, à sua volta não sabe 2. É a afirmação da existência do eu como substância
mais nada. pensante.
-Como duvidar é um ato do pensamento, o sujeito descobre a
Deus sua existência como sujeito pensante.

Se no momento da dúvida Descartes nada poderia afirmar, 3. É uma verdade autoevidente porque é conhecida pela
agora tem por garantir a verdade da sua existência, mas razão sem ser justificada por uma verdade anterior.
apenas como sujeito pensante, portanto ainda não é certo -Que o “eu” exista como substância pensante é uma verdade
que tenha corpo. autoevidente que não se baseia em nenhuma outra verdade.
Mas para além disso, descartes nada mais pode afirmar, nem
sequer a verdade das evidencias matemáticas, dado que a 4. É uma verdade puramente racional conhecida por intuição
hipótese do génio maligno pode faze-lo tornar por verdadeiro (intuição racional e existencial).
o que é ilusório e falso. -Corresponde à descoberta da existência do “eu” no ato de
É preciso eliminar a hipótese do génio maligno. pensar e à descoberta da sua essência nesse mesmo ato.
Nesta altura a construção da ciência é ainda mais -O “eu” existe como ser pensante. É puramente racional
impossível. Descartes vai ter de encontrar um fundamento porque foi descoberta pela razão, independentemente de
que garanta não só a verdade das evidencias, como ainda, qualquer contributo da experiência.
que garanta o caracter representativo do nosso -É descoberta por intuição. Não é deduzida de um
conhecimento, isto é, que garanta a correspondência entre a conhecimento anterior mais geral do tipo “tudo o que pensa
ordem dos maus pensamentos e a ordem da realidade. Quer existe”.
dizer, que me garanta que proposições como o “triângulo
tem 3 ângulos” e “as arvores que estou a ver existem”, não 5. É uma verdade inata (nasce connosco).
sejam verdadeiras apenas no seu pensamento, mas que se -O “eu penso, logo existo” ou a experiência do eu
refiram a realidades efetivamente existentes fora do seu pensante é uma verdade que não deriva ou depende da
pensamento. experiência, dos sentidos.

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-Apresenta-se à razão como verdade de que ela não pode  Prova deontológica- a ideia de Deus é a ideia de um ser
duvidar. perfeito. Ora por definição, o ser perfeito possui todas as
-Está no nosso espírito sempre (ao nascer) e, mesmo, que não perfeições, como a existência é uma perfeição, o ser
tenhamos desde logo consciência dele, a nossa razão perfeito existe necessariamente. Seria contraditório pensar-
descobre-a quando há atenção a si e não às coisas exteriores. se num ser perfeito a quem faltasse a perfeição da existência.

6. É um modelo e um critério de verdade. Se Deus possui todos os poderes e é perfeito, logicamente


O cogito é um modelo e um critério de verdade porque só é existe.
verdadeiro o que apreendemos com clareza e distinção. Serão
verdadeiras todas as ideias que forem tão claras e distintas Estabelecida a existência de Deus, a hipótese do génio maligno,
como este 1º conhecimento. que levava a dúvida às próprias evidencias matemáticas e
-É claro e distinto que a razão, independentemente dos impossibilitava a constituição de todo o conhecimento científico,
sentidos, considera impossível ser falso. é afastada.
É que Deus, porque é perfeito, é bom (a bondade é uma
Para fundamentar a ciência, Descartes precisa de uma ponte perfeição) e, sendo bom, não me engana nem permite que
que lhe permita a saída e a passagem da ordem dos outro sere, e eventualmente o génio maligno, engane as
pensamentos ou das representações, para a ordem dos seres minhas ideias claras e distintas.
realmente existentes fora do pensamento. Essa ponte será Assim, são garantidas por Deus, que estas são necessariamente
Deus e a verdade divina. verdadeiras.

Deus é bondoso, não deixa que ninguém me engane.


Descartes chega a Deus por ideias claras e distintas, mas só
Sou um ser imperfeito que
depois de chegar a Deus, que é o próprio Deus que nos prova
tem em mente a perfeição,
que as ideias claras e distintas são verdadeiras- Garante que é
por isso duvido.
possível o conhecimento.

Através das 2 provas, Descartes chegou à conclusão que


Deus existe.
Descartes: Através da dúvida chegámos a um princípio inevitável
-As ideias claras e distintas são verdadeiras- como se garante “penso, logo existo”, que resulta do génio maligno.
se temos a hipótese do génio maligno que nos pode enganar?
-Só sabe que ele existe, não sabe mais nada; Quem me garante que as ideias são verdadeiras?
-Do génio maligno surge o “eu penso, logo existo” e o génio
maligno não consegue provar que eu não exista, pois se ele me Ainda não desistiu da Hipótese do génio maligno.
consegue enganar é por que eu existo.
-A prova da existência de Deus garante o fim do génio Quando chega ao princípio de Deus ser bondoso, então não me
maligno. engana nem me deixa enganar, garante que todas as ideias
claras e distintas são verdadeiras.
Provas da Existência de Deus
Estabelecida a existência de Deus, a hipótese do génio maligno,
Descartes vai ter, de provar a existência de Deus. que levava a dúvida as próprias evidencias matemáticas, é
Uma 1º Prova, baseada na ideia de causalidade: dissipada.
Descartes analisa todos os seus pensamentos ou ideias e,
nessa análise, descobre existir na sua mente uma ideia da qual, Com da duvida, Descartes desconstrói o próprio conhecimento,
ele, que é um ser imperfeito, não pode ser a causa. pois duvida de tudo.
Trata-se da ideia de perfeição. Quando chega a Deus, Deus garante que todas as ideias claras e
distintas são verdadeiras, tendo um princípio que lhe garante e
Qual a causa da ideia? constrói o conhecimento.
Porque não pode ter origem num ser imperfeito, nem pode Descartes parte então para a reconstrução do conhecimento.
ter vindo do nada, é forçoso que a sua causa seja um ser tão
perfeito quanto a ideia, e o ser perfeito é Deus, logo, Deus Se Deus me garante a verdade das ideias claras e distintas,
existe necessariamente. quem vou culpabilizar pelos erros humanos? Deus é o
Provas da existência de Deus: culpado ou eu que sou humano?
 Princípio de causalidade- causas iguais a mim;

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Conhecimento Humano

Será que Deus, enquanto garante da verdade das nossas


ideias claras e distintas, também é responsável pelos
nossos erros?

No conhecimento humano intervém 2 faculdades:


 Entendimento- forma ideias;
 Vontade- associa ideias para formar juízos;

A função da vontade consiste em associar ideias para


formar juízos. Se a vontade se continuar a afirmar apenas
aquilo que o entendimento concebe de forma evidente, isto
é, clara e distinta, não há lugar para o erro.
Ultrapassando-se os limites do entendimento e formula-se
sobre ideias confusas e obscuras e o erro introduz-se.
O erro é, pois, um ato livre da vontade humana.

“ERRAR É HUMANO”

O ERRO
 Ato livre da vontade humana;
 É consequência da própria liberdade humana.
 Está na vontade, na capacidade de associar ideias para
formar juízos. Se a vontade não respeitar os limites do
entendimento, corremos o erro de errar no
conhecimento.
 O erro está na vontade humana, nós somos os
culpabilizados.

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