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O SUPRA-ORGANICO NA GEOGRAFIA CULTURAL AMERICANA* James S. Duncan Intropucdo Em 1963, Harold Brookfield apontou que os geégrafos culturais “taramente procuravam explicagées em assuntos como comportamento humano, aticudes e crengas, organizagao social e caracter{sticas € inter- relagdes de grupos humanos".! Extraordinariamente, a situagio pouco mudou nos iltimos quinze anos. Este artigo examina o modo de explica- 40 na geografia cultural que reifica a conceito de cultura, atribuindo-lhe status ontoldgico € poder causativo. No proceso, 0 status ontoldgico eli- mina os problemas relatives as questGes da psicologia social e organizagio social acima relacionadas. Deve-se acrescentar que a reificagio é uma falé- cia através da qual construtos mentais ou abstragées sao entendidos como tendo substancia, isto ¢, existéncia independente ¢ eficdcia causal.? Trata- se de um problema difundido em toda a geografia e na ciéncia social em eral.3 Portanto, os argumentos apresentados tém implicagdes para além. do assunto imediato deste ensaio. Quase todas as mais importantes teorias sobre o homem ea sociedade Podem ser classificadas como holisticas ou individualistas, dependendo da ree * Traduzide por Beatriz Juagaba ¢ Matia Facé. Publicado originalmente como “The “Superorganic in American Cultural Geography”, Annals of the Association of American, ‘Geographers, 70 (2), 1980, pp. 181-198. Os editores agradecer 4 Association of American Geographers a aurorizagio para traduzir para a lingua porsuguesa ¢ publicar este artigo. 4 INTRODUCAO A GEOGRAFIA CULTURAL natureza de suas solugdes para os “problemas de ordem” na sociedade. A explicagéo holistica verstes individualista permanece como ponto de importante controvérsia na cigncia social4 Embora freqientemente nao explicite a questio em seus trabalhos, a maiorla dos clentistas sociais estd muito engajada nesta controvérsia. Na geografia cultural e na antropolo- gia, a forma de holismo em rorno da qual a controvérsia estd centralizada é conhecida como supra-organica. ‘A teoria da cultura enquanto entidade supra-organica foi esbocada pelos antropdlogos Alfred Krocber e Robert Lowie durante os primeiros 25 anos do século XX, sendo, posteriormente, elaborada por Leslie White. ‘A cultura era vista como uma entidade acima do homem, néo redutivel as ages dos individuos ¢ misteriosamente respondendo a leis préprias. Além a cultural, disso, foi essa visio de cultura que passou a dominar a geogr: Esta perspectiva fai adotada especificamente por Carl Sauer ao se associar a Kroeber e Lowie em Berkeley nas décadas de 1920 e 1930, sendo poste- riormente transmitida para scus alunos. Embora muitos alunos da “Escola de Berkeley” de Sauer freqiiente- mente citem a definicéo de cultura de Kroeber e no a tenham nem rejei- tado ou substituido, nao se pode ter absoluta certeza sobre at¢ que ponto adotam tal definigao. Wilbur Zelinsky, entretanto, é excepcionalmente explicito no seu uso da teoria. Se outros geégrafos culturais nao apéiam esta tese, eles podem, contudo, ser acusados por citarem-na e aparentarem apoiéla sem qualificagio. De fato, a ambigtiidade com a qual muitos geé- grafos culturais abordam a questio da natureza supra-orginica da cultura revela um fracasso no entendimento das implicagées dessa posi¢ao. Isso pode ter sido exacerbado na importante introdugao de Wagner ¢ Mikesell & geografia cultural, na qual descreveram que “o geégrafo cultural nao estd (isto no deve estar) preocupado em explicar as din micas internas da cultura.”> Wagner, desde entéo, retraiu-se dessa posigéo, bem coma Mikesell, que recentemente escreveu:6 “A maior parte dos gedgrafos tem adotado uma atitude de ‘laissez-faire frente aos significados da cultura, tal- vez devido & crenga errénea de que uma concordincia a respeito dessa questo jé tenha sido alcangada pelos antropdlogos.” Os geégrafos nao tém s6 freqiientemente ignorade a variedade de defi- nigées alternarivas de cultura que podem ser obtidas da ancropologia, mas, ao accitarem o conceit supra-orginico de cultura, escolheram inadverti- @ SUPRA-ORGANICO NA GEOGRAFIA CULTURAL AMERICANA 65 damente uma teoria que vem sendo amplamente contestada e, hé muito tempo, rejeitada pela grande maioria dos.antropélogos. Enquanto esta, por sis6, nfo é uma razZo para que os geégrafos, a exemplo dos antropélogos, também rejeitem a teoria, ¢ surpreendente constatar que nao se tenha ten- tado defender a posigio diante de tais criticas. A falta de interesse em tela- ¢foa debates tedricos fora da geografia pode ser o resultado de “se conside~ tara disciplina como uma iniciativa autnoma alheia as ciéncias sociais © naturais”.? De qualquer forma, Mikesell exigiu, recentemente, que os geé- grafos retificassem a situacao, dando “maior atengao pata o modo pelo qual eles desejam empregar 0 conceita de cultura”. Este artigo tenta oferecer uma modesta contribuigio para este esforgo, ao examinar 0 conceito de cultura empregado por varios geégrafos culturais importantes, & luz de debates em andamento sobre a nogio fora da geografia. A SEPARACAO ENTRE INDIVIDUO E SOCIEDADE ‘Arualmente, no pensamento popular ¢ nfio-académico, a distingao ‘entre 6 individuo ¢ a sociedade ¢ virtualmente aceita como dada. Isto nao foi sempre assim. Conforme Erich Fromm, entre outros, sugeriu, na Europa medieval, “uma pessoa era idéntica ao seu papel na sociedade: era um camponés, um artesdo, um cavaleiro; e no um individuo que viesse a ter esta ou aquela ocupasao”.!9 Raymond Williams comenta que a distin- ‘gio feita entre individuo e sociedade (ou cultura) estd assentada na lingua inglesa. Essa distingao, ele argumenta, ganhou popularidade em um momento histérico especifico e agora se estabeleceu em nossas mentes como absoluta.11 A maioria das teorias nas ciéncias sociais, hoje em dia apéia-se na Suposigio de que os individuos sio atom{sticos e, portanto, independentes uns dos outros. Isso nao resolve o problema acerca da ordem que se encon- tana sociedade, a nao ser que essa ordem seja imposta por uma forca externa incognoscivel. Conforme mencionado acima, ha duas solugdes Mais importantes para esse problema: uma individualista ¢ outra holistica. A discordancia entre seguidores das duas posigGes é a seguinte: devemos Considerar os eventos sociais de larga escala como mera agregagio das aces, ‘atitudes ¢ circunstincias dos individuos que participam destes eventos ou 66 INTRODUGAQ A GEOGRAFIA CULTURAL so sensiveis a seus resultados, como deve ser o caso, ou os eventos devem ser explicados em termos de “seu préprio nivel de andlise auténomo € nao os seus macroscépico?” Seriam, citando Dray, “conjuntos soci elementos humanos [que] sio os verdadeiros individuos histéricos?!2 Individualistas como J.W.N. Watkins alegam que os individuos € que sio as forgas ativas, enquanto holistas como Maurice Mandelbaum alegam que conjuntos sociais € que devem ser estudados.!3 Ambas as posigdes aceitam que ¢ razodvel argumentar que as explicagdes devem ser funda- mentalmente organizadas em termos de conjuntos sociais ¢ nao de agen- tes humanos individuais ou, por outro lado, que as explicagées “profun- das” devem ser tracadas em termos de individuos ¢ nunca de conjuntos sociais. A suposigéo é a de que ou 0s individuos logicamente antecedem conjuntos sociais maiores ou vice-versa.!4 Aquelas forgas externas que foram invocadas para mediagao entre os individuos atomisticos incluem Deus, a cultura, as leis, os contratos sociais, os monarcas absolutos, as normas, os valores e a mio invisivel do mercado. Individualistas, como Hobbes, consideravam os individuos como portadores de interesses, predatérios, incapazes de cooperar sem transferir suas forgas individuais para um soberano absoluto. A solucao de Locke é semelhante, porém mais atenuada. Suas forgas externas so as ins- tituigdes, leis e principios. Os holistas acreditam que eventos de larga escala, como 0 declinio de nagées, so auténomos e amplamente independentes dos individuos que deles participam. A ordem, portanto, ¢ alcangada na medida em que essas configuragées de larga escala “resolvem-se por si préprias” ou “procuram seu equilfbrio”, Uma das mais importantes afirmagoes modernas da posicio. holistica foi feita por Hegel, Seu conceito de Geist (espirito) é talvez 0 obje- to transcendental essencial do qual sio derivadas subseqiientes “solugdes” holisticas tal como a “consciéncia coletiva” de Durkheim, a “sociedade” de Parsons ou 0 “supra-orginico” de Kroeber.!5 A sociologia de Durkheim é um exemple classico de holismo transcendental. Ele via a sociedade sué generis como irredutivel aos individuos, Ele estabelece um elo légico critico entre o idealismo hegeliano e a antropologia cultural, porque seu trabalho representa uma transmutagao indireta das noges hegelianas para a ciéncia social.16 Sempre que eu utilizar o termo holismo estarci considerando a perspectiva filasdfica relativamente forte do holismo “transcendental”, no © SUPRA-ORGANICO NA GEQGRAFIA CULTURAL AMERICANA oF qual 0 todo, e nao as partes individuais, é a forga ativa determinante.!? Os individuos s4o agentes passivos dessa forca: sua aparente atividade é atri- bufda aos seus papéis como a causa “eficiente” em oposigao & causa “for- mal”, Essa distingao aristovélica ¢ crucial para o entendimento de qualquer forma de holismo transcendental porque, por detrés de toda descrigio das agoes de individuos, esta a suposicao de que estes individuos so meros agentes que cumprem tarefas determinadas por uma causa formal trans- cendental, isto ¢, a sociedade, a cultura e Deus. Leitores nao-atentos, bem como autores de trabalhos relevantes, nem sempre podem lembrar-se das implicagées légicas de tal ponto de vista, especialmente quando inseridas no contexto da descrigao empirica. O SUPRA-ORGANICO NA ANTROPOLOGIA AMERICANA: KROEBER E WHITE Alfred Kroeber desenvolveu a sua tese da autonomia da cultura em um artigo seminal intitulado “The Supetorganic”. Este trabalho marcou 0 inicio do determinismo cultural na antropologia americana, uma perspec- tiva que sé comecou a perder o seu vigor nos anos 1950.18 Para Kroeber, a tmudanga do individual para o social e cultural nao constitui um “elo numa corrente, nem um passo em um caminho, mas um salto para um outro plano”.19 Fle concebeu a realidade como sendo composta por alguns niveis, comegando com 9 inorganico na base, seguide pelo organico que, Por sua vez, ¢ coberto por um nivel psicoldgico ou biofisico e, finalmente, ‘Soroado pelo nivel social ou cultural.20 Embora cada um destes niveis este- Ja conectado com os niveis imediatamente acima e abaixo, “constituiu-se numa drea de investigacéo distinta e separada, com os seus préprios fatos speciais ¢ explicacio causal.”2! Nao se poderia transferir a explicaggo em um dado nivel para outro. Kroeber e Lowie preocuparam-se muito com a relagio do individuo Ao meio social supra-orginico.2? Isto foi, em parte, uma tentativa para dis- Unguir a antropologia da psicologia e, mais tarde, da sociologia, focalizan- do a cultura como sendo um nivel independente da realidad. Ao clevar a Itura a um nivel supra-humano, o antropélogo ndo tinka mais necessi- dos individuos e, portanto, nao precisava dos processos psicolégicos, tea h incite 68 INTRODUGAO A GEOGRAFIA CULTURAL ‘A visio de cultura de Kroeber como uma coisa sui generis foi comparcilha- da por Lowie®, para quem: a culture éalgo sui generis que sé pode ser explicada em seus priprios ter ‘nos (..) O etndlogo (..) ind explicar wm dado fato cultenal, snindo-o a um outro grupo de fatos culrirais ou demonstrando algum oxero faso cul- sural a partir do qual aquele fro foi desenvolvido, Em “The Superorganic”, Kroeber primeiro volta-se para a questio da relagao do individual com o nivel sociocultural. “M il individuos nao fazem uma sociedade. Eles sio uma base potencial de uma sociedade: mas nao sdo, eles mesmos, que a causam.”24 Na verdade, € o nivel sociocultu- ral que faz com que os homens se comportem da maneira com que se comportam.2$ “Quando uma maré permanece de uma mesma forma por cinqlienta anos, os homens flutuam nela, ou nadam com dificuldade atra- vés da correnteza; aqueles que enfrentam vasto curso d’égua condenam a simesmos, a priori, a futilidade da proeza.”26 E vai além: “O efeito con- creto de cada pessoa sobre a civilizagio € determinado pela prépria civili- zagio."27 Kroeber argumenta que ndo precisamos nos preocupar com 0 individuo, porque ele é um mero agente das forgas culeurais, um mensa- geiro levando informagao através das geragGes ¢ de lugar para lugar. O cédigo de valores foi central para a nogio de supra-orginico de Kroeber ¢, similarmente, para Durkheim e Talcott Parsons na sociologia, Os valores permitiram ao supra-orginico atuar, tomar o controle das men- tes humanas e forcé-las a conformar-se com sua vontade. O cédigo de valores ¢ considerado como 0 equivalente supra-organico do cédigo gené- tico, Enquanto os organismos inferiotes sto controlados internamente, 0 homem é controlado externamente por valores.28 Kroeber ¢ White, getalmente, concordavam sobre o conceito de supra- orginico, embora cles discordassem sobre outras questBes como a concep- ‘ao materialista do mundo de White, na qual a tecnologia era uma forga determinante.2? White acreditava que o homem deve ser levado em consi- deracao quando examinamos a origem da cultura. Isto feito, a cultura deve ser explicada sem referéncia ao homem, individual ou coletivamente. “O homem € necess4rio para a existéncia ¢ o funcionamento do proceso cul- rural, mas ele nfo ¢ necessirio para uma explicagao de suas variages,”30 O SUPRA-ORGANICO NA GEOGRAFIA CULTURAL AMERICANA 6 Segundo White, a cultura originou-se e est passando por um processo continuo de melhoria devido & “habilidade neuroldgica do homem para criarsimbolos”. A partit do momento em que a cultura se desenvolveu, ela tornou-se extra-somatica, obedecendo as leis de seu novo desenvolvimen- to, completamente independence das leis que regem scus mensageiros humanos. A cultura gera suas proprias formas, independentemente dos homens, ¢ aqueles que nao forem titeis para seus propdsitos so descarta- dos.3! Esta evolugao gradual da cultura é baseada nos fluxos de energia que sio capturados ¢ postos cm agio pela sociedade através da tecnologia © conceito de simbolo tem um papel importante na teoria da cultura de White.32 Os termos “simbolo” ou “simbélico”, ele acredita, podem ser usados para se referir 20 comportamento humano ¢ aos processes psicolé- a ser considerados em um contexto extra-somético, em relagdo direta com ‘outros simbolos, sem a mediagao dos individuos, o que ele alega ser um + entretanto, isto ¢ esfera da psicologia. Os simbolos também podem proceso cultural, Intimeros gedgrafos, conforme veremos, referem-se a esta tiltima utilizagio do termo “simbolo”. White talvez seja ainda mais assertivo que Kroeber ao afirmar a natu- reza supta-orginica da culrura:3$ “Se 0 comportamento das pessoas é determinado pela cultura, o que determina a cultura? A resposta € que cla propria se determina, A cultura pode ser considerada como um proceso sui generis.” White afirma que a cultura se torna vidvel através de mensageiros humanos, mas “devemos consideré-la separadamente de seus mensageiros humanos quando estudamos a sua estrutura ¢ os seus processos” 54 Assim come Durkheim, Kroeber, Lowie ¢ outros holistas transcendentais, ele actedita que a cultura nao pode ser reduzida ao individuo. Através desses autores, este ponto de vista vem exercendo uma grande, apesar de decres- €ente, influéncia na antropologia cultural americana e, por extensio, na Seografia cultural americana. QO SUPRA-ORGANICO NA GEOGRAFIA CULTURAL AMERICANA Muitos geégrafos culturais famosos referem-se a0 conceito de cultura de Krocber ¢ White. Desde que ambos os antropéloges se tornaram 70 INTRODUCAO A GEOGRAFIA CULTURAL conhecidos como expoentes méximos de uma teoria supra-orginica da cultura, pode-se supor que os gedgrafos em questao concordam com esta teoria. Nem todos estes gedgrafos podem ter consciéncia de todas as impli- cages da posigao extremada de Kroeber. Contudo, seus trabalhos incor- poram a forma do argumento supra-orginico, que elimina muitas varié- veis criticas de natureza sociopsicoldgica « socioorganizacional, devido a propriedades causais ativas atribufdas & cultura pela teoria.35 Carl Sauer foi a figura hegeménica na geografia cultural americana. Os principais temas deste campo, a saber, a ecologia cultural, a difusio de artefatos e idéias ¢ a percepsio cultural da paisagem, estiveram presentes em seu trabalho. Sauer reconheceu sua “divida intelectual” para com os geégra- fos culturais alemes do final do século XIX e inicio do século XX, especial- mente Ratzel, Schliiter ¢ Hann.36 Sauer considerava Ratzel, acima de todos ‘os outros, como o pai da geografia cultural.3? Ratzel, por sua vez, foi pro- fundamente influenciado por Hebert Spencer, um expoente da teoria supra-organica e quem, na verdade, criou o termo “supra-orginico”.8 Sauer foi também igualmente influenciado pelas idéias correntes da antropologia americana. Durante seus primeiros anos em Berkeley, estabeleceu fortes vin- culos com o Departamento de Antropologia ¢, em particular, com A.L. Krocber ¢ RH. Lowic.3? Na verdade, foi Lowic quem 0 apresentou ao tra- balho de Ratzel.4¢ A partir disso, Sauer assimilou a teoria da cultura que viria a permear todo o seu ensino e pesquisa posteriores.4! Sauer menciona a importancia para ele dos antropdlogos de Berkeley em seu “The Morpho- logy of Landscape”, em que aprova a obra Anthropology de Krocber.42 Outras evidéncias da influéncia da antropologia Aroeberiana em Sauer resi- dem no fato de que os temas da reconstrucao histérica, érea cultural ¢ difu- sdo que Sauer introduziu na geografia americana dos anos 20, foram os mes- mos que Boas ¢ seus diseipulos, Kroeber, Wissler, Lowie, Goldnweiser, Her- sokovits ¢ Spier, vinham trabalhando desde o primeiro momento em que Boas se tornou interessado em tais tépicos, no final da década de 1890.43 Emboraa influéncia dominante da concepsao de cultura em Sauer foi indubitavelmente a de Kroeber, é interessante notar que ele também se refere favoravelmente a Spengler, outro supra-organicista, em “The Morphology of Landscape”.44 E dificil precisar aré que ponto Sauer comunicou sua nogao de culeu- ra aos seus alunos. Spencer sugere que, nos anos 30, Sauer estimulou seus “O SUPRA-ORGANICO NA GEOGRAFIA CULTURAL AMERICANA 7 alunos a se familiarizarem com o conceito de cultura. Parsons afirma que “todo mundo fez cursos com Kroeber e Robert Lowie”, ¢ Kniffen relata: “Eu recebi muito de Kroeber, Fiz mais cursos em antropologia do que em " geografia.”45 Entretanco, Sopher sugeriu que, durante o final dos anos 40 einfcio dos 50, os alunos de pés-graduagao de geografia em Berkeley nio ‘eram obrigados a ler Kroeber ou outros tedricos culturais, pois se supunha _ que eles simplesmente “sabiam o que era cultura”.46 Talvez isso indique que Sauer tenha utilizado o conceito de cultura dos antropélogos durante " 9s primeiros anos em Berkeley , incitando seus alunos a fazerem 0 mesmo, mas que, posteriormente, uma definigio aceitavel de cultura jé havia sido estabelecida e, portanto, maiores exploragées em torno do conceito nfo se ‘tornaram mais necessirias.4? Embora nem todos os geégrafos culturais se refiram diretamente ao trabalho de antropSlogos, alguns o fazem. Zelinsky, por exemplo, faz referéncia ao The Nature of Culture de Kroeber; The Science of Culture de White e The Evolution of Civilization de Quigley.48 Zelinsky diz que ele supse:4? seguindo os passos de Alfred Kroeber e com algumas reservas mentais, e aquelas de Leslie White... que a cultura é, em grande parte, um sistema Auténomo, virtualmente ‘supra-orgénico” que funciona e se expande a partir de sua propria logica interna € um supasto conjunto de leis... ‘assim o fizz com um grande grau de liberdade do controle comunitério ow do individuo, _ Wagner ¢ Mikesell sugerem, na introdugio & Geognafia cultural, que os eitores interessados em dedicar-se aos conceitos de cultura devem procu- tar ler The Science of Culture de White; Culture: A Critical Review of Concepis and Definitions de Kroeber ¢ Kluckhohn; e The Nature of Culture de Kroeber 50 Wagner e Mikesell citam também The Science of Culture de White, em razio da nogéo de simbolo que, como mencionade acima, Sxerceu um papel crucial no seu determinismo cultural.5! Demais autores, fomo Broek e Webb, indicam a seus leitores Anthropology de Kroeber e The Science of Culture de Whive.52 Carter refere-se a Kroeber assim como Spencer, quc nio s6 se refere a Kroeber ea White, como também a Culture nd History: Prolegomena to the Comparative Study of Civilizations de 153 Deve-se ressaltar que Bagby é um supra-organicista que recorre 72 INTRODUGAO A GEOGRAFIA CULTURAL constantemente a Kroeber, a quem dedica seu livro. E importante acres- centar que tais geégrafos n3o discutem outras teorias da cultura, AS PREMISSAS DO SUPRA-ORGANICO A Cultura como Externa aos Individuos Kroeber e White apresentaram distincdes entre a biologia, da qual a psicologia era considerada parte, ¢ o supra-orginico, que se baseia em fatos sociais ou culturais que transcendem o individu e, a0 mesmo tempo, moldam suas ages. Intimeros geégrafos culturais fizeram semelhantes afirmagées. De acordo com Sauer, a geografia humana esta somente volta~ da ao nivel supra-orginico de investigagao: “A geografia humana, entio, diferentemente da psicologia e da histéria, é uma ciéncia que ndo tem nada a ver com os individuos, somente com as instituig5es humanas ou culturas.”54 De modo similar, Zelinsky afirma:55 Estamos descrevenda a cultuna e néo os individuos que nela participam. Obviamente, a cultura ndo pode existir sem os corpos e as mentes que lhe dio vida: mas cultura & também algo desses participantes e para além deles. A sua totalidade é distintamente maior que a soma de suds petrtes, uma vez que ela é de natureza supra-orginica e supra-individual, uma entidade com uma estrutura, um conjunto de processos e fmpeto préprio, embora claramente suscetfvel aos eventos histbricos e condigées socivecond- micas. Apesar da visio de Zelinsky de que a cultura é algo separado dos indi- viduos, ela precisa dos individuos para se realizar.56 Conforme foi mencio- nado acima, isto segue o uso feito por Kroeber e White da distingao aris- rot¢lica entre causas formais ¢ eficientes de um evento. Os homens, atuan- do como causas cficientes, sao descritos como “meros agentes”, “porta- dores” ou “mensageiros” da cultura.37 A causa formal — a cultura — © SUPRA-ORGANICO NA GEOGRAFIA CULTURAL AMERICANA ee] rorna-se, portanto, reificada. Ela tem o poder de fazer as coisas.58 Zelinsky afirma que:5? a processo cultural é wma das porcas grandes cassas primdrias que dizo for- ma itquelas diferencas de lugar para lugar, de féndmenos sob ou perto da superficie da Terra que nds gedgnafos estudamos, ¢... esta poderasa, quase soberana forga primordial deve dividir 0 estrelato em nossa pesquisa e pedagogia, junto com os agentes geomorfoligicos, processos climéticos ¢ bioligicos e a operagido clas leis econdmicas. Em The Cultural Geography of the United States, Zelinsky escreve que '“o poder exercido sobre as mentes de scus participantes por um sistema ‘cultural é dificil de se exagerar”.6 Ele enfatiza a autonomia da cultura, ale- -gando que ela evolui a partir da “teagao entre elementos culturais recente- "mente justapostos”,¢! Ele também afirma que? Sorgas culturais que nao pademos ainda identificar tém estado arivas, sele- cionando membros da comunidade com potencial em termos de caracte- risticas socioeconémicas ¢ preferéncias para dreas especificas e ambientes. Sauer também faz alusio ao poder da cultura de fazer as coisas, apon- tando em “The Morphology of Landscape” que “a cultura € 0 agente, a area natural é 0 meio, ¢ a paisagem cultural, o resultado. Zelinsky afitma que hi seis princfpios em geografia cultural que "s4o, “fo minimo, implicitamente aceitos por nossos companheiras” (outros gedgrafos culturais) © O primeiro destes seis princtpios € 0 de que “a cul- _tura € um fator genético primordial, juntamente com 0 fisico e 0 bioldgi- £0, na determinagao do cariter dos lugares”.65 Sem diivida, Zelinsky acre- que seus companheiros geégrafos culturais aceitam implicitamente. ‘Seno explicitamente, que a cultura é uma entidade supra-organica. Spencer e Thomas acrescentam um aspecto evolutivo para este argu- Mento ao declararem que a cultura tem se fortalecido ao longo dos milé- “Rios, tornando-se, agora, uma forga controladora: | O peso progressiva individual da cultura... aumentou... com forga total Na medida em que nos aproximamos da eva moderna, podemos notar que | | 74 INTRODUGAO A GEOGRAFIA CULTURAL «a culeura tem uma forga e importincia quase que & parte das pesoas da sociedade que possuem ama determinada cultura... As venes, parece que a dindrnien culteral americana controla os antericanet, como. na tendPncia direcionada a uma automagio maior, gostemos ou nio disso, George Carter parece adotar uma postura cultural dererminista quan- do escreve que 7 Temas estudado muitos exemplos de culturas em atividade. Assim sendo, nat Califernic, os indios, 0s mexicanos, os espanhdis ¢ os americanos, nes ta ordem, atuaratm no mesmo ambiente, cada ur deles escolhendo o seu modo de vida, dentre uma variedade de possibilidades que existiam, com base em suas percepeées cultunalmente determinadas, Entretanto, Carter deixa um fio de esperanga para 0 individuo, Ao falar de um poderoso e eficaz inspetor real na Coldmbia, no século XVIII, ele declara: “Aqui nés encontramos o papel do individuo incomum ¢ vemos que, dentro de uma cultura, ainda hd espaco para o exercicio da vontade individual’”.68 Evidentemente, na opiniio de Carter, somente 0 individuo mais poderoso e “incomum” tem a capacidade de exercer sua vontade individual. O resto de nds ¢, supostamente, nas palavras de Krocber, arrastado pela maré cultural. Mikesell, em seu recente discurso presidencial na Associa’ American Geographers, declarou que a andlise critica de Brookfield sobre a geografia cultural deve ser levada em consideragio ¢ que os gedgrafos culturais devem tentar lidar nfo somente com a “cultura marerial e modo de vida”, mas também com “as engrenagens da sociedade ¢ as razées para ‘© comportamento humane”. Contudo, Brookfield, neste caso em parti- n of cular, adotande um posicionamente individualistico, argumenta que se os ‘ged grafos tém que estudar processos e nao simplesmente descrever padres, eles devem estudar 0 comportamento de pequenos grupos de individuos em uma microescala. A visio de que a explicacéo fundamental deve serem termos de individuos nao é compativel com a abordagem supra-orginica para a explicagio, Desse moda, a sugestio de Mikesell pode ser ainda mais radical do que aparenta 4 primeira vista, uma vez que pode implicar 0 abandono da visio supra-orginica.70 a = 7 $ © SUPRA-ORGANICO NA GEOGRAFIA CULTURAL AMERICANA 75 CRITICAS AS PREMISSAS SUPRA-ORGANICAS A nocio de que hé niveis distintos de tealidade, 0 orginico (ou psico- Jégico) © o supra-orginico (ou cultural), tem sido criticada por apresentar dificuldades metodoldgicas. Em 1917, no mesmo ano em que Kroeber propés sua nosio de supra-orginico, Edward Sapir escreveu uma resposta denominada “Do we need a superorganic"? Ele contestou a nogao de niveis, argumentando que o método através do qual os niveis culturais e psicolé- gicos sio identificados € “essencialmente arbitrdrio”. Nao estd claro como se decide que comportamentos sao explicados em nivel individual e outros em n{vel supra-orginico.7! Outro problema relacionade reside na seguin- fe questo: uma vez que se tenha dividido a tealidade em “niveis’ cientifi- cos estanques, completos ¢ auténomes em si préprios”, como se pode junté-los novamente?”? Outros tém atacado a nogio de nfveis auténomos, argumentando que nao hd individuo alheio & cultura e que, portanto, todo o conceito de niveis é invalido.73 Opler resume essa objegio afirman- do que “a verdade ¢ que nenhum ser humano é um mero organisme, a nao ser que ele seja um embrido ou um imbecil”.74 Em suma, a visio de que a realidade é dividida em niveis auténomos nao s6 parece ser metodologica- mente nfio-demonstrével, como implica, desnecessariamente, um modelo desfavordvel do homem. Neste sentido, portanto, muitos antropdlogas tém abandonado esta concepeao.75 A teificaao da cultura tem sido eriticada come mistica, um resquicio do romantismo idealista alemio do século XIX.76 Franz Boas, o proprio professor de Kroeber, que acreditava firmemente no empirismo, criticou 0 supra-orginico, dizendo que “parece-me desnecessario considerar a cultu- fa como uma entidade mistica que existe fora da sociedade, alheia a seus Mensageiros individuais e movendo-se por sua propria forga’,77 Edward Sapir concordou com a critica de Boas, argumentando que “nao & 0 con- ceito de cultura que é sutilmente equivocado, mas sim 0 docus metafisico Para o qual ela é designada”.78 Bidney ¢ outros autores também apresentam crfticas a esta visio de Sultura como sendo “metafisica” e como sendo “um tipo de Sina que, em Rome da Ciéncia Social, tem sobrepujado a Providéncia metafisica”. Criticos mais atuais referem-se ao conceito come “animismo”, “mitolo- ‘Bla’, como algo que “agora pode ser sustentado pela ideologia e pela fé, 76 INTRODUGAO A GEOGRAFIA CULTURAL mas nao por uma ciéncia séria’,79 Geertz diz. que “a imagem favorita dos etndgrafos romanticos [¢] uma unidade supra-organica desordenada, onde, dentro de sua abrangéncia coletiva, o individuo simplesmente desa- parece em uma nuvem de harmonia mistica”.# Dado que a existéncia do supra-orginico nao pode ser nem provada nem refutada, entdo se torna, simplesmente, uma questo de fé. Além do mais, isso envolve a tejeigao da renga do senso comum na importincia das ages de individuos reais, de carne © 0550, Talvez, hoje, & luz do fracasso assumido pelos fildsofos positivistas da ciéneia em sustentar seu objetivo de livrar a ciéncia de toda a “metafisica”, definida por eles um tanto imprecisamente como aquilo que nao € obser- ‘ydvel ou testavel, nfio se deva descartar tao impensadamente a afirmagao de que a cultura possa ser uma “entidade redrica” leg{tima, cuja existéncia deve set inferida, uma vez que nfo pode ser observada.*! Embora os antro- pélogos acima citados possam nao ter sido cautelosos 0 suficiente ma for- mulagao de suas criticas, eles estio essencialmente corretos. H4 muitas teorias cientificas cujas relag6es com dados empiricos so tio superficial- mente especificadas que devem ser abandonadas. Na ciéncia fisiea, o éter juminffero é um exemplo; na sociologia, a “consciéncia coletiva” de Durkheim, os “padrées varidveis” de Talcott Parsons ¢ a “cultura” de Kroeber sfo exemplos de conceitos impossiveis de serem ligados direta ou indiretamente a dados emp{ricos, com vistas a demonstrat sua existéncia enquanto agentes causais auténomos.82 ‘Com base no principio da parciménia, ou Ockham’s razor, uma dis- tingGo que acrescente bagagem supérflua ao nosso conjunto de conceitos deve ser eliminada. © conceito de nfveis autOnomos parece ser um exem- plo de um tipo de conceito desnecessdrio. A reificagao da cultura pode ser criticada, portanto, com base no argumento de que hd pouca evidéncia empirica para apoiat até mesmo inferéncia de um nivel autnome, trans- cendente. Pressupor tal nivel, enquanto nao prové-lo de nenhum ganho em forga analitica, gera problemas metodolégicos sérios. ‘A tentativa de Kroeber de substanciar a sua teoria com uma série de estudos empiricos falhou.®3 Apesar de ter observado tendéncias recorren- tes na moda feminina durante 0 periodo de 300 anos, nio foi capaz de demonstrar que este padrao poderia ser explicado pelo supra-organico,4 Em scu estudo, The Configurations of Culture Growth, cle juntou dados de 0 SUPRA-ORGANICO NA GEOGRAFIA CULTURAL AMERICANA. Ww sociedades tao variadas como as da Mesopotamia, India, Japao, China, Grécia, Roma e restante da Europa, demonstrando que tais sociedades tinham “caracterfsticas comuns de crescimento” de elementos culturais como a escultura, pintura, teatro, literatura, filosofia e ciéncia.®® Ele ten- tou demonstrar que as sociedades desenvolvem configuragées culturais jrregularmente e que tais coisas, como os talentos, se concentram durante certos periodos de crescimento da cultura. Entretanto, Kroeber nao con- seguir demonstrar uma uniformidade nos padrées que poderia ter confe- ido maior peso & sua nogio de supra-orgiinico, Ele foi obrigado a admitir que:86 “Ao rever o terreno percorrido, eu gostaria de dizer, de inicio, que nao vejo nenhuma evidéncia de nenhuma lei verdadeira nos fenémenos tratados: nada ciclico, regularmente repetitivo ou necessirio...” Leslie White, uma outra figura importante do supra-orginico, tam- bém nio foi capaz de aplicar sua teoria em seus trabalhos empiricos, Gonforme aponta Wolf, ele usou a sua nogio de cultura como supra- ‘orginica somente em suas afirmag6es programdticas, Sua pesquisa subs- tantiva consistia em descrigées detalhadas das cribos indigenas do Sudoeste.!? Sua teoria nunca veio dar suporte ao seu trabalho empitico, uma vez que sua nogo de cultura no é operacional, Esta grave limitacao poderia ter sido ignotada, caso o conceito de cultura demonstrasse ter poder analftico suficiente para justificar as, até entao nado comprovadas, Suposigdes contidas na teoria, O supra-orginico implica uma visio de homem como relativamente Passivo ¢ impotente. Se o individuo é considerado atomistico e isolado, entio as forgas aglutinadoras entre os homens devem ser externas eles. Os supra-organicistas nao entendem que “a cultura ¢ 0 trabalho da humanida- de; temos a impressdo de que ela € auténoma 56 porque é anénima”, 88 E possivel encontrarmos freqiientemente efeitos imprevisiveis de 4¢Ses, conseqiiéncias que, por vezes, estio em oposigao direta as intengdes de um individuo que, por sua vez, pode ter sido instrumento dessas ages. Entretanto, como Joachim Israel ja disse:89 4 existéncia de tais efeitos autonomos ndo implica a existéncia de um "objetivo", no sentido de fattores ndo-humanos, que se assemetham a coisas, operanda independentemente da agao humana, Bles implicam sho- Jomente falta de visio, inteligincia e morivagio humanas, 78 INTRODUCAO A GEOGRAFIA CULTURAL Na medida em que os gedgrafos culturais consideram que a cultura seja uma forga deverminante, outros tipos de explicagao no parecem ser necessdrios. Por isso, muitas quest6es importantes sao excluidas. Existe pouca ou nenhuma tentativa de acharmos evidéncia empirica de processos através dos quais os padrées culturais sio gerados. De acordo com Freilich, “go abordar a cultura come um pracesso supra-orginico, nao é necessério lidar com as complexidades das decisdes humanas. O animal humano recebeu uma cultura, enxerga a realidade através dos ‘olhos’ de sua cultura eage de acordo com a mesma’’9 Os individuos que fazem escolhas, inte- ragem, negociam e impéem restrigGes uns aos outros sfo, desta forma, ignorados em grande parte. Quando as instituigées so vistas como produ- tos da cultura, muitas vezes se esquece o fato de que elas sio o resultado da intera¢io social e, freqiientemente, representam os interesses de alguns grupos em oposigae a outros. ‘A conseqiiéncia mais séria de se atribuir um poder causal & cultura é 0 fato de que ela torna obscuras muitas quest6es importantes relativas & ori- gem, transmissdo e diferenciacao de virias “caracterfsticas culturais” den- tro de uma populagio. Ha uma falta surpreendente de muitas espécies de varidveis explanatérias, empregadas em outros subcampos da geografia em outras ciéncias sociais. Por exemplo, hd pouca ou nenhuma discussio a respeito da estratificagao social, de interesses politicos de grupos especi- ficos e dos conflicos que surgem de seus interesses opostos. Da mesma for- ma, hd pouca discussao sobre as politicas do governo e de outras institui- s6es, ou sobre 08 efeitos das organizagSes empresatiais ¢ das instituigses financeiras sobre a paisagem. Muitos desses itens sao vistos como “dados", como earacteristicas culturais de um povo, nao analisadas sob qualquer prisma ou usadas como explicagdes. Diz-se que a cultura, a qual presumi- velmente inclui os fatores acima, produz tais efeitos sobre a paisagem. Dessa forma, freqiientemente, nao se dé a devida atengio as interagoes dos homens ou das instituigées. Deve-se observar, entretanto, que Wagner aponta para esta lacuma e sugere que, no futuro, os geégrafos culturais jam seus estudos para as instituigdes nas quais um dado comportamento ‘ocorre.! Em suma, 0 mundo descrito pelos geégrafos culturais € um mundo no qual 0 individuo esté em grande parte ausente, onde o consen- so prevalece, onde os desvios stio ignorados. E um mundo intocado pelos conflites interculturais. Assim, a ndo-intencional conseqiténcia da teoria 0 SUPRA-ORGANICO NA GEOGRAFIA CULTURAL AMERICANA 79 sapra-orginica tem sido desencorajar a investigagio de importantes ques- Ges relativas & interacao social, atribuinde explicagSes a uma entidade transcendental. ‘A INTERNALIZAGAO DA CULTURA Sob a égide do supra-orginico, valores ou normas tipicas s40 postula- des como 0 mecanismo através do qual um objeto transcendental se tra- duz.em uma forma que pode ser internalizada por individuos. Estes valo- "res revelam o que Kroeber ¢ Benedict rotularam de “padrées de uma deter- minada culcura”. Para Kroeber, a cultura est4 fundamentada em padrées inconscientes.%? Alguns gedgrafos adotaram essa suposi¢ao baseada nos padrées. Spencer diz que “os padrées da cultura... etiam normas, estilos fou configuracées de grupo” 93 Thomas usa urna variedade de termos para esses padres, tais como “configuragio”, “forcas dominantes”, “percep¢io de destino”, “génio de uma cultura” e “tema cultural”.24 © termo “confi- puracio” é0 preferido por Zelinsky, segundo o qual:95 “A maioria das nor- mas, limites ou possibilidades de agao humana, dessa forma, é estabeleci- da tanto pela configuragio da cultura, quanto pelos dados bioldgicos ou pela natureza do Aabitat fisico.” PAbesar de alzuns get grafosculturais terem enfattzado o papel das vale Tes ou configuragSes culturais na determinagao do comportamento, o ged- tafo que dedicou mais atengao a estes aspectos foi Zelinsky.9S A configura- ‘$40 americana, na qual Zelinksy estd interessado, consiste de quatro “temas” Br etloses” principais, idencificados por cle. Estes valores si0:"(1) um indie vidualismo intenso, quase andrquico, (2) alta valorizagio da mobilidade eda mudanca, (3) uma visio mecanicista do mundo e (4) um perfeccionismo mMéssiinico”.97 Seguindo as idéias de Kroeber, Kluckhohn e Taleott Parsons, Zelinksy argumenta que esses valores se internalizam e fazem com que as Pessoas se comportem de uma certa maneira especifica, Edessa maneira que cultura produz 0 comportamento. Como exemplo, Zelinsky nos diz que ‘@ tema da mobilidade ¢ mudanga produziu a mitsica do jazz.98 Zelinsky alega que a internalizagGo dos valores cria um tipo modal de ‘Personalidade, que pode também ser chamado de “cardter nacional”. O r acredita que a visio de mundo mecanicista explica o faro de que os 80 INTRODUCAO A GEOGRAFIA CULTURAL americanos preférem a “eficiéncia,” a “limpeza,” e “aquilo que é grande”, além de explicar seu “padrao de personalidade fortemente extrovertido”.® Zelinsky vai além quando alega que este padrao de valor transforma as pes- soas em entidades quase-méquinas, que necessitam ser mantidas como verdadciras méquinas:1% As pressées dentro do ambiente cultural tendem a moldar as pessoas em unidades flextveis, ajustdveis, alegres, conformdveis para operarem tanto na esfera social quanto na esfera econémica. Se & para uma midguina tra- balbar bem, suas partes devem ser lavadas, estar sem poeina, cuidadosa- mente limpas e polidas; e, por essa razéo, entre outras, observamos um interesse obsessive na limpeza pessoal. O livro de Zelinsky, The Cultural Geography of the United States, con- tém muitas referéncias 4 “personalidade ¢ ao comportamento cultural do homem americano”, & “psique cultural americana”, e “alma cultural ame- ricana”.101 De forma semelhante, Sauer se utiliza de tipos regionais de cardter em “The Personality of Mexico”. Ele identifica dois tipos de caré- ter modais no México, alegando que, no norte, os homens “nascem para se arriscarem”, enquanto que, no sul, o carter os predispde para “o traba- Tho paciente e perseverante’ A utilizagao de tais tipos ideais de normas, valores ou de tipos de per sonalidade modais pode ser questionada, jé que hé dois pontos em jogo. ‘Um tema ver com a utilidade de generalizagoes extremamente abrangen- tes, tais como a “psique cultural americana” ou a personalidade do México setentrional, para serem usadas como objetivos descritivos. Este ponto nao totalmente claro, ji que envolve questdes de escala e depende dos propé- sitos de quem usa tais generalizagoes descritivas, © uso que Sauer faz do tipo de personalidade modal deveria ser ques- tionado somente em razio de sua extrema generalidade, Pode-se, com ratio, perguntar se hé algum valor nas tentativas de reduair o cardter de milh6es de pessoas a alguns poucos traces. Além disso, Sauer ndo mostra evidéncias para sua alegagao de que uma proporcéo significativa da popu- lagéo do norte da México “nasceu para se arriscar”. Alguns antrop6logos levantaram questées acerca da “preciso cientifica de caracterizagies espe- cificas e dos métodos de obrencio das mesmas”. 0 SUPRA-ORGANICO NA GEOGRAFIA CULTURAL AMERICANA 81 Tal abordagem tem sido acusada de se caracterizar por seletividade desnecessiria ¢ de negligéncia de dados, considerados inconsistentes, nos ‘casos em que esses séo pertinentes a0 problema enfocado.103 O ambiente de aprendizagem dos individuos freqiientemente difere um do outro, em todas as saciedades, exceto as menores ¢ mais primiti- vyas.!04 Qual a proporgéo de americanos representada pelos quatro valores de Zelinsky? Eles se aplicam igualmente aos membros de todos os grupos &tnicos ¢ niveis de renda? Como aqueles que nfo estiio representados con- seguiram escapar & pressio cultural? Talver de maior importancia seja a questéo de como os valores surgem © sio mantidos. Esta questao nao € considerada problemética por este método determinista de explicagio. Geertz o caracteriza como “um modo, um arquétipo, uma idéia platénica ou uma forma aristorélica, de acordo com a qual homens verdadeites... s40 reflexos, distorgGes, aproximag6es”.!95 Geertz alega que tal abordagem Jeva a transformagio dos detalhes vivos em esteredtipos mortos € que, a0 fim de tudo, obscurece mais do que revela.196 O segundo ponto tem a ver com o papel de tipos ideais na explicagio. Apesar de controverso, este é um ponto mais claro, Os tipos ideais podem ser usados em explicagdes como modelos ou esquemas heuristicos, ou seja, como instrumentos na explicacio. H4 uma tendéncia, entretanto, e 0 traba- Iho de Zelinsky ilustra isso de forma clara, de se esquecer que estes so cons- trutos mentais do cientista social, que sio abstrag6es da realidade e, como tal, no deveriam set interpretados realisticamente, isto ¢, como coisas reais que existem no mundo, que causam eventos ou que podem ser sujeitos a leis empiticas.197 Um tipo ideal é um modelo e, como tal, pode sugerir hipéte- S€s ou pode auxiliar na explicagao por analogia. Pode ser julgado, entretan- To, por sua utilidade como numa abordagem instrumentalista e nfo porsua veracidade na explicacao, como setia o caso num argumento realista.108 O uso que Zelinsky faz de tipos ideais ¢ configuragdes da cultura em explicagées causais é obviamente inaceitével porque implica tratar um Conceito instrumental de mado realista. Zelinsky alega que os tragos tipi- 0s ideais, tais como a visio de mundo mecanicista, levam as pessoas a Serem eficientes, limpas e extrovertidas. O cardter de verdade atribuido aos | Hpos ideais e seu papel na tradugao do supra-organico, em comportamen- £0 por parte de pessoas que so essencialmente agentes passivos da cultura, ito mais questiondvel do que o mero uso de algumas poucas caracte- 82 INTRODUGAO A GEOGRAFIA CULTURAL risticas de tipo ideal para descrever uma nagao inteira. Este ultimo uso sé pode ser criticado por ter utilidade questionavel, enquanto interpretacao dos padrées tipicos ideais como coisas auténomas ¢ transcendentes, que fazem as pessoas se comportarem de modo especifico, caracteriza uma ma utilizagia do conceito. Zelinsky compartilha com a escola da personalidade cultural da antro- pologia o erro de considerar valores ¢ normas tipicos ideais, presumivel- mente derivados da observacio casual do comportamento de cettos gru- pos dentro da cultura e usé-los para explicar 0 comportamento, Ao criar um tipo ideal a partir de observagdes empiticas e depois usé-los pata expli- car observagbes semelhantes, produz-se uma tautologia. Isto é, a0 mesmo tempo uma forma circular grosseira de reificagio e, certamente, uma uti- lizagao errénea de tipos ideais. A PREMISSA DA HOMOGENEIDADE Por tris de grande parte do trabalho desenvolvido pelos gedgrafos cul- turais est4 pressuposta a idéia de homogeneidade dentro de uma cultura. Os gedgrafos culturais tém optado por fazer pesquisa em Areas rurais rela- tivamente primitivas, para distinguir uma maior homogeneidade. A maior parte do trabalho de Sauer foi realizada nas regides rurais do México, ou nos “confins mais longinquos da temporalidade humana”, para que uma suposiggo de homogencidade fosse feita, ou tivesse que ser feita devido & escassez de dados. De forma semelhante, o estudo de Wagner sobre Nicoya ¢ o de Mikesell, North Morroco, foram sobre dreas rurais,109 Aschmann sugere que, para se ensinar geografia cultural em campo, & melhor direcionar 0 estudo para uma 4tea primitiva e isolada.!10 Alguns geégrafos culturais que estudaram sociedades complexas, como as dos Estados Unidos, também assumem a homogeneidade. Zelinsky alega que existe uma “cultura nacional unificada’ e que “existe um grau surpreendente de uniformidade relativa entre as varias regides € segmentos sociais do pais”.111 No pasado, muitos antropélogos culturais cambém assumiram a homogeneidade ¢ foram criticados por isso. Os criticos dessa posigao ale- gam que até mesmo nas sociedades primitivas existe menos homogeneida- O SUPRA-ORGANICO NA GEOGRAFIA CULTURAL AMERICANA 83 de do que se acredira.!12 Wallace diz. que na idéia de comportamento uni- Kforme est implicite 0 conceito de cultura. 13 Benner acredita que essa isto surgiu porque a cultura se identificava com uma “unidade tribal, holistica, que, entio, se pressupunha estar presente em rodas os grupos humanos”.!14 Durante os anos 30, foi essa visio de comportamento homo- géneo dentro de uma cultura integrada que levou os antropélogos a pen- sarem na mudanga como algo infreqiiente, consistindo de forgas externas a cultura. Durante essa época, portanto, a difusio gozava de grande popu- Jaridade, como uma explicagao para a mudanga, ¢ 0s conflitos de interesse indo eram enfatizados. 115 Recentemente, Wagner enfocou 0 assunto em relagéo ao trabalho dos gedgrafos culturais:!16 Se imprecisao e obscuridade sto falas na historia da cultura, afirmo que essas duas caracteristicas podem também permear os estudos culturais, Nossos objetos sto, via de regra, ou indivtduos que, aeredita-se, pensam ou se comportam virtualmente da mesma forma, como na abengoada comu- nidade pequena, ou sia povos e nagdes, que, de forma semelbante, s20 con- siderados homogineos. Na melhor das hipdteses, derivdmos nossa persond- Tidade « cardter, através de regides como 0 “Sul”. (...) Fazendo-se grandes agregdcGes, pode-se falar de cultunas naciondis. O maior atributo de um conceito tie amplo é a sua inutilidade, ‘Wagner prossepue sugerindo que os gedgrafos culturais abandonem a suposicgo de homogencidade ¢ concentrem sua atensGo sobre a escala da instituisfo que, segundo ele, € @ nfvel critico nas complexas sociedades Modernas. O autor termina seu artigo declarando que “passou a era em que se faziam agregagdes cruas de dados”. Sugere ainda que os geégrafos tém que se distanciar dessa “posigio mecanicista e agregativa de menor sofisticacao”.117 Quando a cultura é definida come a forga ativa e o indi- viduo como recipiente passivo, a homogencidade serd assumida, porque os individuos serao paginas em branco sobre as quais 0 padrio cultural serd Impresso, Portanto, um ataque 4 suposigo da existéncia de homogeneida- de atinge o cerne da teoria supra-orginica da cultura, ad INTRODUCAO A GEOGRAFIA CULTURAL HABITO: O MECANISMO PARA A INTERNALIZAGAG DA CULTURA ‘A tiltima grande suposigao assaciada a conceito supra-orginico de cultura é 0 condicionamento pavloviano. Os antropélogos do inicio do século XX sugeriram essa idéia como .o mecanismo através do qual os valo- res culturais tornam-se internalizados pelos individuos. Essa posigao foi adotada de forma consciente, ou, mais provavelmente, no consciente, pelos gedgrafos culturais, que se referem ao conceito como comportamen- to habitual. De acordo com Wax, “a falha trigica na abordagem (de Boas) & antro- pologia cultural reside no fato de que ele adotava uma psicologia mec&ni- ca simplista”.118 No capitulo intitulado “Stability and Culture” de sua Anthropology and Modern Life, Boas enfatiaa que as ages humanas pode- riam ser explicadas através do habito que deriva de condicionamento nas primeiras fases da vida.1!9 © autor adotou a posicio behaviorista que advoga que o hibito deve ser construfdo no por meia do pensamento, amas da atividade. O pensamento relativo 4 atividade habitual era normal- mente visto como racionalizagao pés-factual. A visio de Boas foi passada a seus alunos Lowie e Kroeber, de modo. que, como destaca Voget:120 Os novos deterministas histérico-cultunais baseavam-se no bebaviorismo para prover a esteio psicoldgico dos processos de insergiio do homem nd cul- ura, As evidéneias de condicionamento apresentadas por Pavlov foram aceitas casualmente como sendo bastante congruentes com o processo cul- tural, enquanto as interpretagoes freudianas que enfocavarn as reagaes da individuo diante dos processos culturais, de uma forma geral, foram seve- ramente rechapadas ow ignoradas, Assim sendo, durante a primeira metade do século XX, foi dissemina- 1 de cultura baseada na criagdo inconsciente de padrdes que da uma vi: moldavam as motivagtes dos individuos.12! Enfatizou-se a importincia dos hébitos motores em detrimento dos processos intelectuais ¢ reafir- mou-se a existéncia do vinculo emocional do individu com a tradigao.122 O homem era visto n4o como um agente com atuago deliberada, mas sim como se fosse impulsionado por “estados afetivos” 123 O discurso de Sauer na Association of American Geographers, em 1941, foi um pronunciamento (0 SUPRA-ORGANICO NA GEOGRAFIA CULTURAL AMERICANA 85 ide sua posiggo sobre a geografia cultural. Ele se referiu.ao habito como um gjnénimo de cultura, afirmando que “podemos reescrever a antiga defini- ao da relagio humana com 0 meio ambiente como a relagio do hal para com 0 Aabitai"."4 Muitos outros também adotaram a nogio de cul- fura como comportamento habitual, enfatizando o fato de que esse com- portamento habitual é aprendido, Sauer afirma que “cultura a atividade aprendida e convencional de um grupo que ocupa uma determinada res” 125 Afora Sauer, Wagner ¢ Mikesell, Wagner e Zelinsky definem cul- tura como um comportamento habitual aprendido elaboram suas defi- higGes em termos muito semelhantes.!26 Enquanto a nogio de condicionamento cultural esté implicita na obra esses gedgrafos culturais que aceitam a nogao da primazia da agao habi- tual, alguns gedgrafos sdo bem explicitos ao optarem pela adocio da teoria do condicionamento. Zelinsky, por exemplo, nos remete & definigio de cultura, proposta por Kroeber ¢ Kluckhohn, como “elementos cont nantes” da acio.127 Ele actescenta que “cada grupo cultural tem em io- comum tm conjunto de tragos... que ¢ adquirido, geralmente de forma inconsciente, durante os primeiros meses e anos da infancia’.128 Ele com- pleta afirmando que os americanos estéo “condicionados a aceitar o indi- Yidualismo”, que so caracterizados pela “conformidade do cordeiro”, que tém “idéias, geralmente inconscientes, em relagao a um modo aproptiado dese construir uma morada”, que “tefletem as nogées primordiais da mor- fologia doméstica”.129 Além disso, Zelinsky nos informa que os habitantes da Nova Inglaterra tm uma “predisposiggo cultural contra a violéncia pes- soal” ¢, finalmente, de que a formagao da cultura ¢ em sua grande parte:!30 negociada nos obscuros niveis subterraneos da consciéncia, como uma série de alreracies extremamente graduais e sutis no modo de pensar e sentir, e v0 impulso cm resposta a alteragées bdsicas na estrutura sociaecondmica e nos padrées ecolégicos. _ Como jé vimos, a utilizagio do condicionamento cultural por Ze- Tinsky € paralela aquela dos supra-organicistas na antropologia, no sé pela Snfase dada & aco habitual aprendida, como também ao inconsciente, Tendo em vista que alguns geégrafos culturais voltaram sua atengio a ses como os Estados Unidos, a suposigo de que hd padrées comporta- 86 INTRODUGAO A GEOGRAFIA CULTURAL mentais habituais uniformes para todos os habitantes se tornou claramen- te insustentdvel. A partir dai, a atengao voltou-se para os papéis desempe- nhados pelos individuos. Em suas anotagées de um seminério oferecido por Sauer em 1963, Newcomb cita Sauer quando este diz que “numa supercultura complexa, observamos diferentes paptis e statm”.131 A nogio de papéis permite que se conceba a idéia de agio em termos de comporta- mento habitual numa sociedade altamente segmentada. Por esse método, podem-se transferir as pressuposigdes de ago habitual ¢ de homogenei- dade de uma sociedade simples para uma sociedade complexa, Na teoria dos papéis, a nogao de que as pessoas agem de acordo com os ditames de sua cultura é de tal modo refinada que seus comportamen- tos, em ver de serem prescritos por uma cultura como um todo, so pres- eritos por seus papéis dentro dela. Ha pequena diferenca entre essas pers- pectivas, jd que ambas se apdiam na cultura como o objeto transcendental preponderante ¢ na teoria do condicionamento. Elas estio préximas, pelo menos neste aspecto, 4 sociologia estrutural-funcionalista de Talcott Parsons. Para o supra-organicista, o homem €, geralmente, uma criatura nao-inventiva. Normalmente, sua criatividade é vista como se confinada & criagio inicial da cultura, e, a partir disso, seu comportamento pode ser amplamente explicado pelo condicionamento a habitos. ‘A imagem do homem como um objeto influenciado condicionado por uma forga externa ¢ baseada no que Wrong denomina “concepgio supersocializada do homem'’.|32 Sem diivida, a.agao habitual e inconscien- te € apenas um aspecto do comportamento humano; outras aspectas sdo a escolha individual ¢ a criatividade. Entretanto, essa escolha nao € votal- mente irrestrita, Ela ¢ restringida nao por misteriosas forgas sobre- humanas, mas por condigées econémicas ¢ sociais especificdveis. Essas condigGes niio sio auténomas, mas analisiveis no ambito da atividade individual ou de grupo. Tais limitagées devem ser encaradas como proble- miticas, isto é, devem ser investigadas. Antropélogos e gedgrafos culturais tendem a superestimar o comportamento condicionado, produzindo, assim, 0 que foi criticade como sendo uma visio empobrecida do homem. A teoria supra-orginica de Kroeber foi rotulada por Bidney como anti- humanista, enquanto Freilich sugere @ mesmo ao afirmar que Kroeber considera a cultura come se o homem nfo existisse.193 R. Wagner argu- menta que modelos antropoligicos reificados como esses tornam eferiva “a Q SUPRA-ORGANICO NA GEOGRAFIA CULTURAL AMERICANA 87 metamorfizagio da vida em cultura” e, de tal forma, geram um curto- eircuito na potencialidade criativa do significado ¢ empobrecem a expe- titneia social.!34 Jacques Ellul condena o anti-humanismo em tais mode- Jos estruturais que “decididamente consideram.... [o homem] ao mesmo tempo em que o reduz a um sistema ¢ a uma interagao de forgas”.139 PARA UM CONCEITO NAO-REJFICADO DE CULTURA ‘Apés 1940, aptoximadamente, desenvelveu-se um consenso crescen- te na antopologia cultural americana de que os individuos nao eram "meramente autématos condicionados.136 Na verdade, como destaca " Keesing, a atengéo voltou-se para.a questo de como os individuos, intera- - gindo com outros através de instituig6es, criam, mantém e, por sua vez, so modificados por seu ambiente. 13? Enfatizou-se progressivamente a maneira como os individuos exercem a escolha, como séo estrategistas que manipulam os contextos nos quais se acham inseridos.138 Esse ¢ um con- ceito bem diferente de homem, que enfatiza a consciéncia, o interesse pes- soal, valores e expectativas diferenciados ¢ 0 papel dos individuos no pro- cesso de mudanga.139 Diversos antropélogos perceberam recentemente a necessidade de uma abordagem que possibilite o entendimento da relagao entre a cultura € 0 individuo, na qual a cultura constitui um contexte para, ¢ no um determinante de escolhas. Focalizam-se nao sé a liberdade como também a testrigio, 0 comportamento consciente e inconsciente ¢ a manipulagio Consciente das crengas incontestiveis de alguns individuos por outros.!4° Poderfamos dizer que as pessoas permitem que as prescrigées culturais ditem seu comportamento porque elas as véem como abstragées, nde por Setem realmente autonomas.'4! Por exemplo, no caso de um dos “quatro valores” de Zelinsky, 0 individualismo pode ter um impacto no comparta- Mento dos ameticanos nao por set parte de qualquer mecanismo pelo qual lima cultura supra-orginica determina 0 comportamento, mas porque Mititos americanos acreditam que o individualismo ¢ uma caracteristica americana e, portanto, agem de acorde com essa crenga,!42 © que se denominou “culvura” pode ser reduzido a interagdo entre as as. As interagdes de um individuo com outros modelam a natureza 88 INTRODUGAO A GEOGRAFIA CULTURAL do seu ser. Portanto, esse individuo é, em parte, um produto desse contex- to, bem como um produror ¢ um sustentador desse contexto, Tudo isso vem a propésito para simplesmente dizer que enquanto as criangas, por exemplo, sio socializadas por seus pais, professores e amigos, no sentido de aceitar um conjunto de valores, que por sua vez pode ser pasado para seus filhos, muitas criangas, & medida que crescem e sfio expostas a outras idéias, podem rejeitar — e freqilentemente o fazem — as idéias que lhes foram passadas na infincia. Em outras palavras, os individuos sio mais auténomos do que 0 individuo completamente socializado, postulado pelos gedgrafos culturais. Dentro dos limites das abrigagGes sociais ¢ insti- tucionais, o individuo procura e escolhe em meio a uma profusio de opges oferecidas pelos varios mundos sociais com os quais ele esta fami- liarizado. O termo “cultura” poderia ser poupado se nfo fosse tratado por si pré- prio como uma varidvel explanatéria e, sim, usado para expressar contex- tos para ago ou conjuntos de acordos entre pessoas em varios niveis de agregagao. Tais contextos podem, na verdade, parecer como coisas em si prdprias, proporcionando assim a natureza do mundo. Em qualquer socie- dade nao ha um tinice contexte e, sim, uma série de contextos em uma variedade de escalas. Individuos ¢ grupos distintos, dependendo de seu acesso 20 poder € a outros recursos que eles tenham, séo diferencialmente capazes de organizar ¢ modificar esses diferentes contextos. Alguns provo- cam um impacto sobre o cantexto imediato de sua vizinhanga, enquanco os ricos e poderosos podem deixar sua marca em nivel nacional.!43 Esses contextos freqiientemente se originam no passado distante, fazendo com que paregam remotos para as pessoas que agora os aceitam, muitas vezes sem contest4-los, como regras para a ado. No entanto, isso nao ¢ evidén- cia para a autonomia de processos de larga escalas simplesmente reflete a opacidade de interagdes complicadas e a alienagao de homem em relacao 4s suas criag6es coletivas. De acordo com Clifford Geertz, talvez o melhor porta-vor dessa nova viséo de cultura, a cultura nao é 144 “um poder, algo que se pode, de maneira causal, ser atribuido a eventos sociais, comparta- mentos, instituicdes ou processos: € um contexto, algo dentre o qual eles podem ser inteligentemente... descritos”. Poder-se-ia sugerir que a cultura, em vez de ser vista como uma pode- rosa forga auténoma, devesse set considerada como um conjunto de tradi- ‘0 SUPRA-ORGANICO NA GEOGRAFIA CULTURAL AMERICANA 89 ges ¢ crengas que podem orientar a agio, especialmente quando definidas pelos proprios agentes como modos de comportamento “naturais” ou Szorretos”. Devem-se focalizar as interagées complexas, que possam ser mais ou menos organizadas ou formalizadas, entre individuos ¢ grupos que produzem essas regras visando ao comportamento dentro de um cer- to contexto cultural. Conciusdo Em resumo, podem-se caracterizar os varios erras associados ao uso da teoria supra-orginica da cultura como sendo de natureza ontoldgica ow empirica. Minha posigio € a de que a separagio do individuo da cultura é um erro ontolégico. E um caso de antropomorfisme — de reificar um cons- truto mental ¢ atribuir-lhe autodiregao e poder sobre os homens — que ¢ puramente ficticio. Ademais, isso envolve a rejeigio de modos de pensar do senso comum, sem ganhar poder analitico, A suposicao de homogencidade dentro de uma cultura é uma generalizasio empirica que nao parece ser jus- tificivel em termos de expansto do progresso tedrico. O uso do homem genético e de tipos de personalidades modais como mecanismos causais mais um caso de reificagdo. Um problema ainda maior esté no fato de que cles impossibilitam a pesquisa de importantes questies. Além disso, a teoria pavloviana de condicionamento mostrou-se inadequada para explicar dados de pesquisa empiticos, Talvez mais esclarecedor do que esas criticas espect- ficas seja o fato de que na perspectiva geral sobre a cultura néo ven sendo adotado nenhum questionamento, quer dizer, com raras excegies, os ged- grafos culturais parecem estar indiferentes &s controvérsias na antropologia sobre essa teoria. Poderfamos acrescentar que esse fracasso tia defesa do. uso de uma teoria obsoleta é geral e nfo estd restrito 4 geografia cultural. Uma questio importante persiste: que valor, se algum, tem a nogio de cultura para a geografia? A presente critica no nega que haja valor no uso do termo cultura; no entanto, ela de fato rejeita a atribuigao de status onto- Isgico ausSnomo 2o conceito. Ela sugere que a cultura definida como uma entidade supra-orginica nao € apenas inconvincente como uma varidvel xplanatéria, mas também sc torna um obstaculo para a explicagio por ‘ocultar diversas relagées sociais, econdmicas ¢ politicas problematicas. 90 INTRODUCAO A GEOGRAFIA CULTURAL ‘As erfticas a0 supra-orginico se aplicam aos trabalhos empfricos na geografia cultural, bem como as afirmagdes programiticas, Grande parte da pesquisa empirica de Sauer deve merecer a atengo e as elogios que recebeu; entretanto, como uma escola saueriana ou geografia cultural de Berkeley, é desnecessariamente limitada nas questdes que pode abordare, mais importante, no Ambito das variéveis explanatérias com as quais ela pode lidar. Por eliminar de forma explicita a discussio a respeito do indi- viduo e por lidar apenas com o efeito material do homem em geral, 0 homem genético, ou @ conjunto de todos os homens de uma regiao, deparaese com duas opgées apenas. Pode-se negar a explica¢o como meta e se decidir pela “descrigao”, que é, de certa maneira, diferente da explica- gio, ou deve-se depender de um conjunte maior como a cultura, como uma varidvel explanatéria. No entanto, a distingio entre explicagao © des- crigdo nfo é de forma alguma clara. Por um lado, como Sauer corretamen- te postulou, a descrigao histérica pode set explicagéo. Por outro lado, uma mera seqliéncia de eventos néo é necessariamente explicagio, especialmen- te quando os fatores mais importantes sio omitidos. Ao negar-se a consi- derar a a¢ao do individuo como uma preocupagao legitima dos gedgrafos, deve-se ou reificar o homem, transformando-o num ideal (i.¢., homem genérico), reificar a cultura, ou rejeitar a explicacdo como uma meta, Poder 0 conceito de cultura ser preservado? Nem todos os gedgrafos culturais tratam consistentemente a cultura como uma entidade supra- orginica. Ela ¢ freqiientemente usada como um termo abrangente para expressar 0 modo de vida das pessoas. Esse fato em si pode nao causar nenhum problema. Qualquer tentativa de se preservar a cultura como um conceito explanatério, por defini-la dessa forma, ainda que despojada de um status ontolégico independente, fracassa. E tautolégico explicar qual- quer coisa sobre um grupo de pessoas por meio de referéncia a uma nogio que supostamente cobre todas as caracteristicas do grupo, incluindo-se, por definigao, aquilo que deve ser explicado. Tal definigo de cultura pode ser Gtil apenas para caracterizar o comportamento numa ampla escala compa- tativa através das “culturas mundials”. Isso, no entanto, pode envalver os problemas mencionados acima, como aqueles com tipos ideais nacionais. A rejeicdo de uma nosio reificada de cultura pode implicar uma certa convergéncia entre a geografia cultural e a geografia social, Se a cultura no for mais vista como um objeto auténomo, que requer um nivel de 0 SUPRA-ORGANICO NA GEOGRAFIA CULTURAL AMERICANA 1 jnvestigagio auro-suficiente, ¢ sim como o contexto para interagio social, entio a distingio entre geografia social e geografia cultural cai por terra, Em ver de estudar uma “coisa” chamada cultura, a pesquisa estaria focali- gada em individuos e grupos a medida que eles interagem com seu ambi- ente fisico em varios contextos sociais ¢ institucionais cm uma varicdade de escalas, A énfase na explicagio social, psicoldgica e ocasionalmente politica, encontrada na geografia social, valorizaria a paisagem, seja como artefito ou como estética, enfatizada pela geografia cultural. io homem-terra, embora forte na geografia cultural, ¢ atual- mente fraca na geografia social, devido & preocupagao central com aspec- tos espaciais de problemas urbanos. Uma fusao dessas duas subdteas da geografia seria mutuamente benéfica se a definigio tradicional dos gedgra- fos culturais de geografia como o estudo da relacéo entre o “homem’” ¢ 0 meio ambiente fosse mais enfatizada na geografia social. © “homem”, é claro, nesse caso nao é a homem gendrico desincorporado da geografia cultural ortedoxa, ¢ sim individuos e grupos de individuos em relagdo a especificas paisagens sécio-historicas. Sou grato a Warren Bourgeois (Departamento de Filosofia, Universida- de de British Columbia), Clifford Geertz, Insticuto de Estudos Avangados, Princeton, Elihu Gerson, Pragmatica Systems, San Francisco, John Ro- bertson, Departamento de Filosofia, Universidade de Syracuse, Anselm Strauss, Departamento de Sociologia, Universidade da Califérnia, San Fran- cisco, e 20s seguintes gedgrafos: John Agnew; Nancy Duncan, Cole Harris, David Ley, Donald Meinig, Milton Newton, David Robinson, Marwyn Samuels, David Sopher, e Philip Wagner por seus tteis comentarios das ver- shes iniciais deste artigo. Agradeso também ao Canada Council por me for- Necer uma bolsa de estudo que me permitiu completar este estudo. Notas 1 H.C. Brookfield, “Questions on the Human Frontiers of Geography”. Economic Geography, vol. 40 (1964), pp. 283-303; referéncia na p. 283. 2?P. Berger ¢ S. Pullberg, “Reification and the Sociological Critique of Consciousness”. History and Theory, vol. 4 (1964-65), pp. 196-211. 92 INTRODUGAO A GEOGRAFIA CULTURAL 3 Para uma discussio do problema na geografia cultural, ver M.B, Newton, Jr, ¢ L. Pulliam-Di Napoli, “Log Houses as Public Occasions: A Historical Theory”. Annals, Association of American Geographers, vol. 67 (1977), pp. 360- 83, Para uma discussie do problema em outras reas da geografia, ver R.D. Sack, “Geography, Geometry and Explanation”. Annals, Association of American Geographers, vol. 62 (1972). pp. 61-78; R.D. Sack, “A Concept of Physical Space in Geography” Geographical Analysis, vol. 5 (1973), pp.16-34; ¢ R.D. Sack, “The Spatial Separatist Theme in Geography”. Economic Geography, vol. 50 (1974), pp. 1-19. Sobre a reificagao na ciéncia social, ver D.C. Phillips, Holistic ‘Thought in Social Science (Stanford: Stanford University Press, 1976). 4 Para uma discussio geral sobre holismo e individualismo, ver J. O. Neill, ed., Modes of Individualism and Collectivism (London: Heinemann, 1973). Uma das mais conhecidas criticas sobre holismo é a de Karl Popper, The Paverty of Historicism (London: Routledge, 1946). Para uma discussio mais recente acerca do holismo na geografia, ver J.S, Duncan, “Holistic Explanation in Human Geography: The Case of the Culture Concept”. Manuscrito ainda nao publicado, 1979. 5 PL. Wagner ¢ M.W, Mikesell, eds. Readings in Cultural Geography (Chicago: University of Chicago Press, 1962), p. 5. 6 M.W. Mikesell, “Tradition and Innovation in Cultural Geography”. Annals of the Association of American Geographers, vol. 68 (1978), pp. 1-16; refe- réncia na p. 12. 7 Mikesell, op. cif., nota 6, p. 10, 8 Mikesell, op. cit,, nota 6, p. 13. 9.C, Mortis, The Discovery of the Individual 1050-1200 (New York: Harper & Row, 1972), p. 2. 10R, Willians, The Long Revolution (New York: Harper & Row, 1966), p75. 1 Willians, op.cit,, nota 10, pp. 72-100. 12.W. Dray, “Holism and Individualism in History and Social Science”, in P. Edwards, ed., Encyclopedia of Philosophy (New York: Macmillan, 1967), vols. 3-4, pp. 53-58; referencia na p. 53. 13 J.W.N. Watkins, “Ideal Types and Historical Explanations”, i H. Beigh and M. Brodheck, eds., Readings in the Philosophy of Science (New York: Appleton Century Crofts, 1953), pp. 723-743; ¢ M. Mandelbaum, “Societal Facts” British Journal of Sociology, vol. 6 (1955), pp. 305-317. 14E.M. Gerson, “On Quality af Life”. American Sociological Review, vol. 41 (1976), pp. 793-806, “Q SUPRA-ORGANICO NA GEOGRAFIA CULTURAL AMERICANA. 93 15 Transcendentalismo ¢ utilizado aqui no sentido hegeliano, referindo-se a ‘uma entidade tal como Geist, a qual transcende (no sentido de ser maior que 0 “determinante de) as partes individuais que se apresentam como uma mera mani- festagio do Geist 16 Eu nfo quero sugerir que Durkheim conscientemente tentou aplicar as ‘jdéias de Hegel para o estudo da sociedade, somente que sua nogio de saciedade "como uma coisa sui generis continha teores hegelianos ¢ teve o efeito de modelar "grande parte da ciéncia social americana ao modelo hegeliano. 1? Para uma discussio a respeito dos conccitos do homem ativo versus passi- ‘yo, ver M, Hollis, Models of Man (Cambridge University Press, 1977). 18 ALL, Kroeber, “The Superorganic”, in The Nature of Culture (Chicago: ‘University of Chicago Press, 1952), pp. 22-51, Kroeber fez uso do terme “supra- ‘onginico” que vem do determinista social do sécula XIX, Herbert Spencer. Ver HL Spencer, The Principles of Sociology (Chicago: University of Chicago Press, 1967) ¢ P.W. Voget, A History of Ethnology (New York: Holt. Rinchart ¢ Winston, 1975), p. 365 19 Kroeber, op. cit, nota 18, p. 49. 20 Mais tarde, Kroeber realmente fez. uma distingao entre os nfveis cultural e social, embora considere ambos supra-orginicos; ver A.L. Kroeber e T. Parsons, “The Concepts of Culture and of Social System”. American Sociological Review, vol. 23 (1958), pp. 582-583. 21 Voget, op. cif., nota 18, p, 364. 22 FW, Voget. “Man and Culture: An Essay in Changing Anthropological | Interpretation”, in R. Darnell. Ed., Readings én the History of Anthropology (New York; Harper and Row, 1974), pp. 343-363; refertncia na p. 350; A.L. Kroeber, “The Eighteen Professions,” é2 P. Bohannan e M. Glazer, eds., High Points in Anthropotogy (New York: Knopf, 1973), pp. 102-106; Krocber, op. cit. nota 18; €RH. Lowie. Culture and Evhnology (New York: Boni and Liveright, 1917). 8 Lowic, op. cit. nota 22, pp. 17, 66. 4 Kroeber, op. cit., nota 18, p. 41. 25 AL, Kroeber, “On the Principle of Order in Civilizations as Excmplified by Changes in Fashion”. American Anthropologist, vol. 21 (1919), pp. 235-263, 26 Krocher, op. cit, nota 25, p. 261. 27 Kroeber, op. cit, nota 18, p. 48. a 78 E.R, Wolf, Anthropology (Englewood Cliffs, N.J.: Prentice Hall, 1964), P43. #9 Eu devo a Clifford Geertz (comunicagées pessoais) por ter ressaltado que toeber, diferentemente de White, tinha consciéncia das dificuldades que envol- 24 INTRODUGAO A GEOGRAFIA CULTURAL viam a posigao supra-orginiea, Em alguns de seus escritos, ele demonstra incerte- za quanto a forga do determinismo cultural. Deve-se dizer que mesmo no final da sua carreira Krocber manteve a opiniio de que a cultura era sui generis. Ver: Kroeber ¢ Parsons, op.cis, nova 20; A.L. Kroeber, “The Personality of Anthropology”, in E.A. Hammel ¢ WS. Simmons, eds., Aan Makes Sense (Boston: Litcle Brown, 1970), pp. 41-45. Para as ligagdes entre Krocber e White, ver: JH. Steward, Alfred Kroeber (New York: Columbia University Press, 1973), p. 48; A.L, Krocher ¢ C. Kluckhohn, Cultere: A Critical Review of Concepts and Definitions (Cambridge, Mass.: Peabody Museum, 1952), vol. 47, p. 28; LA. White, The Science of Culture: A Srudy of Man and Civilization (New York: Grove Press, 1944), p. 90; D. Hymes, Reinuensing Anshropology (New York: Random House, 1969), pp. 186-189; R.L. Bee, Patterns and Processes: An Introduction to Anchropological Strategies for the Study of Socia-Cultural Change (New Yorks: Free Press, 1974), p. 122; and M. Harris, The Rise of Anthropological Theory (New York: Crowell, 1968), p. 332. 30 LA. White, “Culturology”, in D.L. Sills, ed., International Encyclopedia of the Social Sciences (New York: Macmillan, 1968), vol. 3, pp. 547-551; refe- réncia na p. 549. 31 L.A. White, “The Concept of Culture”. American Anthropologist, vol, 61 (1959), pp. 227-251 LA White, The Concept of Cultural System (New York: Columbia Press, 1975); pp. 3-4; e White, op. cit, nota 30, p. 548. White, ap. cit, nota 30, p. $48. 3M White, op. cit, nota 32, p. 5. 35 Alguns gedgrafos humanos parecem ter um conceito holfstico da cultura, que pode nio ter suas origens na teoria supra-orginica de Kroeber. Alguns real- mente inguem Kroeber ¢ White, referindo-se 4s suas teorias em particular. Aqui é dada arengSo somente a estes iitimos geégrafos. 36 C,O, Saucr, “Recent Developments in Cultural Geography”, in E.C. Hayes, ed., Recent Developments in the Social Sciences (Philadelphia: Lippin- cott, 1927), pp. 154-212; C.O, Sauer, “Friedrich Ratzel (1844-1904)”, Evey- clopedia of the Social Sciences, vol. 13 (1931), pp. 120-121; C.O. Sauer, “Culcural Geography”, Encyclopedia of the Social Sciences, vol. 6 (1931), pp. 621-624; C.O. Sauer, “The Fourth Dimension of Geography”. Annats of the Association of American Geographers, vol. 64 (1974), pp. 182-192; e C.O. Sauer, Sixteenth Century North America: The Land and the People as Seen by the Europeans (Berkeley: University of California Press, 1971). 47 Sauer, op. cit, nota 36, “Ratzcl”, C.O. Sauer, “The Formative Years of Ratzel in The United States”. Annals of the Association of American Geographers, SUPRA-ORGANICO NA GEOGRAFIA CULTURAL AMERICANA 95 ‘vol, 61 (1971), pp. 245-254, referéneia na p. 253; ¢ Sauer, op. cit, nota 36, “fourth Dimension”, p. 190. 48 P.E. James, All Passible Worlds: A History of Geographical Ideas (India napolis: idyssey Press, 1972), p. 223. 39 J.E. Spencer, “The Evolution of the Discipline of Geography in the Twentieth Century”, in Geographical Perspectives, vol. 33 (1974), pp. 20-36; " ceferéncia na p. 26; ]-E. Spencer, “What's in a Name? — The Berkeley School", Historical Geography Newsletter, vol. 5 (1976), pp. 7-11; referéncia na p. 9s J. Leighly, “Carl Orewin Sauer, 1889-1975". Annab of the Association of American "Geographers, vol. 66 (1976), pp. 337-348: referencia na p. 341: J. Parsons. “Carl Ornwin Sauer”, The Geographical Review, vol. 66 (1976), pp. 83-89; ¢ J. Parsons. The Later Sauer Years". Anna of the Association of American Geographers, vol. 69 (1979), pp. 9-155 referéncias nas pp. 11, 13. 4 Sauer, op. cit, nota 36, “Fourth Dimension”, p. 192. 41 Leighly, op. cir, nota 39, pp. 339-340. #2 Sauer, op. cis, nota 36, “Fourth Dimension”, p. 192.3 C.O. Sauer, “The Morphology of Landscape”, Jn. Leighly, ed. Land and Life: A Selection from the Writings of Carl Ortwin Saxer (Berkeley: University af California Press, 1963), pp. 315-350; referéncia na p. 349. 49 Bee, op, cit, nota 29, pp. 67-93. 44 Sauer, op. cit, nota 42, pp. 327-328. 4 JE, Spencer, “Carl Sauer: Memories about a Teacher”, The California Geographer, vol. 15 (1975), pp. 83-86; referencia na p. 85; Parsons, op. cit. nota 39 “Later Years”, p. 13; F.B. Kniffen, “The Geographer’s Craft — I: Why Folk Housing”. Annalt of the Asociation of American Geographers, vol. 69 (1979), pp. 459-63; referéncia na p. 62; Trindell escteve que “a segunda geracio de gedgrafos sulturais americanas foi treinada nas escolas de Sauer ¢ Kroeber, em Berkeley”. R.T. Trindell. “Franz Boas and American Geography”. The Professional Geographer, vol. 21 (1969), pp. 328-332, referencia na p. 331. 46D. Sopher, por comunicagies pessoais. 47 Esta atitude desprovida de critica frente ao conceito de cultura foi aponta- da por Mikesell, ap. cir, nota G, pp. 12-13; M. Mikesell, “Cultural Geography”, in Progress in Human Geography, vol. 1 (1977), pp- 460-464; referencia na P: 460; ¢ por P. Wagner, através de comunicagbes pessoais 48 W. Zelinsky, The Cultural Geography of the United States (Englewood Cliffs, N.J.: Prentice Hall, 1973), pp. 3. 68; White, ap. cit, nota 29; C. Quigley. The Evalusion of Civilizations(New York: MacMillan, 1961); e A-L. Kroeber, The Nature of Culeure (Chicago: University of Chicago Press, 1952).

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