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JÓ SOFRIMENTO, FÉ E ADORAÇÃO

Nesta unidade, estudaremos o livro de Jó, um texto que revela


ensinamentos de Deus difíceis de serem compreendidos. Essa
dificuldade está relacionada ao fato de muitos cristãos acharem que o
Eterno não permite que os justos sofram e que sejam atacados por
Satanás, o que não aconteceu com Jó. Tendo essa realidade em mente,
estudaremos o sofrimento, suas causas e seus resultados, e os
métodos que Deus usa para auxiliar o homem e para ser glorificado em
meio às crises. No estudo do tema, veremos que o conceito dos amigos
de Jó sobre o sofri mento era equivocado, pois nem sempre os
vendavais que surgem na vida dos servos de Deus são resultados de
pecado.

Um outro tema a ser estudado será a Teologia de Jó, o qual nos


revelará o profundo conhecimento que o patriarca tinha sobre o
Altíssimo, o que o levou a permanecer inabalável em sua fé,
preparando-o para o encontro com Deus e, consequentemente, para a
superação da crise. Essa superação se deu após o Todo-Poderoso
revelar a Jó. por meio de 71 perguntas, a grandiosidade da sua vontade,
as profundezas do seu conhecimento e a infinitude do seu poder, o que
nos leva a aceitar que o Eterno também utiliza o sofrimento dos justos
para revelar a sua glória e a sua sabedoria.

O último tema a ser estudado, nesta unidade, será o método que Deus
utiliza para restaurar seus servos: a oração e o perdão. Através dessas
duas armas espirituais (Jó orou e perdoou os que o acusavam de
pecado), Jó recebeu a bênção divina e, como resultado, foi totalmente
curado, teve uma nova família, sua vida financeira e social foram
restauradas, e viveu mais 140 anos.

CAPÍTULO 1

O Livro de Jó
O livro de Jó apresenta o sofrimento de um homem temente a Deus
que, mesmo sendo integro, foi assolado por um plano diabólico que o
fez perder não só seus bens materiais e sua família, como também sua
saúde. Esse plano, apesar de lhe ter causado extremo sofri mento, não
impediu que o servo de Deus deixasse de adorá-lo. Essa história
fantástica deve ser estudada com profunda devoção, em oração e
dedicação, para que o estudante possa compreendê-la e,
consequentemente, fortalecer sua fé. A falta dessas ações poderá fazer
com que o leitor se torne um crítico de Deus, e até mesmo um cético,
por não entender e não aceitar - que um homem como Jó, que era reto
e respeitado em sua sociedade, por ações de justiça e de misericórdia
para com os pobres, experimentasse tamanho sofrimento. Isso tem
levantado diversos questionamentos sobre o Altíssimo, sobre suas
ações e sobre o sofrimento humano. Um desses questionamentos é:
"Como pode um Deus onipotente permitir que Satanás toque em seu
servo fiel?" Todos os questionamentos levantados sobre o Eterno e
suas ações são respondidos pelo Senhor, nos capítulos 38 a 41, através
da sua revelação a Jó. Nessa revelação, Deus exalta Sua sabedoria,
revela Sua ação diante dos dilemas do homem e mostra a razão de Ele
permitir o sofrimento aos justos, e mostra segredos que não
encontramos em nenhum outro livro da Bíblia, como, por exemplo, a
intimidade que Ele tem com sua criação.

Em Jó encontramos diversos pensamentos sobre o sofrimento. Um


desses pensamentos é dos amigos de Jó - Elifaz, Bildade e Zofar -, que
defendem a tese de que o sofrimento de Jó é resultado de seus
pecados. Em oposição a esse pensamento está a ideia do patriarca, o
personagem principal, aquele que credita seu sofrimento à ação divina.
Um outro pensamento sobre o sofrimento é o de Satanás, que, por sua
vez, defende a tese de que o sofrimento leva o homem a blasfemar
contra Deus, e, no final do livro, temos a posição do Senhor, que credita
o sofrimento à sua permissão soberana.

O Título, a Data e a Autoria de Jó


O texto de Jó tem sido alvo de calorosos debates teológicos. Para
alguns estudiosos da Bíblia, a falta de registro genealógico sobre Jó
indica que ele não existiu e que esse nome foi utilizado somente para
dar título ao livro. Esse pensamento tira a historicidade do livro,
tornando-o uma novela romântica, por isso ele é rejeitado por muitos
teólogos que defendem o caráter histórico do livro e de Jó. Quem de
fende que Jó é um personagem histórico se baseia em Ez. 14.14, 18.
20, passagens nas quais o próprio Deus dá testemunho da existência
de Jó: "[...] ainda que estivessem no meio dela estes três homens: Noé,
Daniel e Jó, eles pela sua justiça livrariam apenas a sua alma, diz o
Senhor Deus". Observemos que Deus incluiu Jó entre os personagens
da história do Velho Testamento, Noé e Daniel. Um outro texto utilizado
para provar a historicidade de Jó é Tiago (5.11): "Como sabeis, temos
por bem-aventurados os que perseveraram. Ouvistes da paciência de
Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu [...]" Como podemos perceber,
Tiago utilizou o exemplo de Jó para aconselhar seus leitores sobre a
paciência.

A Data dos Acontecimentos em Jó

Não há consenso entre os historiadores a respeito da data dos


acontecimentos em Jó. O pensamento mais aceito afirma que os
aconteci mentos em Jó se deram no período patriarcal (2000 a 1700
a.C.), época em que viveram os patriarcas de Israel: Abraão, Isaque e
Jacó. De acordo com esse pensamento, o fato de Jó oferecer sacrifícios
para cada um de seus filhos, de madrugada (Jó. 1.5), indica que ele
agia como um sacerdote familiar, o que era comum no tempo dos
patriarcas. Porém, para alguns historiadores, os acontecimentos em Jó
se deram após 586 a.C. (ano da queda de Jerusalém pelo rei da
Babilônia), durante o cativeiro babilónico, época em que o povo judeu foi
levado para a Babilônia, permanecendo lá por 70 anos. Já outros
pensam que se deu no tempo do Rei Salomão. Porém, a avançada
idade de Jó enfraquece essas teorias, pois remonta a épocas muito
distantes, o que fortalece o pensamento de que Jó viveu no período
patriarcal (Jó. 42.16).
Local dos Acontecimentos e a Autoria do Livro

Jó viveu em Uz dos caldeus (Jó 1.1), cidade ao sul de Edon e à


noroeste do deserto da Arábia (Lm. 4:21), de acordo com alguns
geógrafos. A falta de registros de sua história fez com que a autoria do
livro fosse considerada anônima pela maioria dos teólogos. Porém, esse
vácuo histórico fez com que diversos estudiosos atribuíssem a autoria
do livro ao próprio Jó, ao rei Salomão, a Neemias, a Esdras e a Moisés.
De acordo com Mesquita (1975), Moisés seria a pessoa mais bem
preparada para escrever tal obra, pois ele viveu próximo a Edon durante
40 anos, tempo suficiente para que escrevesse uma obra do porte de
Jó.

A Natureza do Livro

O texto de Jó é considerado pela tradição judaica e pela maioria dos


teólogos como um livro de Sabedoria, por apresentar grandiosas lições
para a vida do homem. Nesta obra espetacular e dramática, a qual é
composta por diálogos entre Jó e seus amigos, são reveladas centenas
de qualidades divinas que auxiliam o justo diante do sofrimento. Tal vez
seja por isso que Lutero o tenha considerado como o mais sublime de
todos os textos da Bíblia. Apesar de sua importância, essa narrativa,
que circulou durante séculos sob a forma de tradições orais de
fragmentos históricos, só foi redigida em meados dos séculos V ou IV
a.C.

Jó, um Grande Conflito Teológico

O livro de Jó é, na maioria das vezes, incompreendido por se tratar de


um relato sobre o sofrimento de um justo. Essa incompreensão é
causada porque muitos cristãos defendem o pensamento de que Deus
jamais permitirá que Satanás toque nos justos, e, quando eles leem
(J61.8-12), questionam a razão de o Eterno ter permitido que o Diabo
tocasse em Jó. Neste texto, vemos que, após Deus dar testemunho da
fidelidade de Jó, Satanás lhe disse: "Porventura Jó debalde teme a
Deus? Acaso não o cercaste com sebe, a ele, a sua casa e a tudo
quanto tem?... Estende, porém a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto
tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face!" (J61.8-11). Em
resposta, Deus autorizou o Diabo a pôr em prática seus planos: "Disse o
Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está em teu poder,
somente contra ele não estendas a tua mão" (16 1.12).

Quando observamos a vida de Jó, vemos que ele era integro, pois foi o
próprio Deus quem deu esse testemunho a Satanás: "Perguntou ainda o
Senhor a Satanás: Observaste a meu servo Jó? Porque ninguém há na
terra semelhante a ele, homem integro e reto, temente a Deus, e que se
desvia do mal." (Jó 1.8). No entanto, sua integridade não o protegeu das
duas investidas de Satanás. Na primeira, Jó perdeu todo o seu rebanho
para os saqueadores que mataram seus servos, fogo do céu destruiu
suas ovelhas e todos os filhos de Jó morreram num furacão (Jó 1.13-
19). Na segunda, Satanás "feriu a Jó de tumores malignos, desde a
planta do pé até o alto da cabeça" (Jó 2.7). Como resultado do seu
sofrimento, ele foi acusado de pecado e desprezado pelos seus amigos,
familiares e empregados. Tudo isso - as ações de Deus, Satanás e o
sofrimento de Jó - leva muitos a perguntarem:

1. Se Deus é Onipotente, por que Ele não interfere para eliminar o


sofrimento que sobrevém aos justos de maneira ilógica e irracional?

2. Se o anjo do Senhor protege os servos de Deus (Sl. 34.7), por que


Ele não protegeu a Jó?

3. Se Deus revela aos seus servos as suas ações futuras (Am. 3.7). por
que Ele não avisou a Jó sobre a tragédia, para que ele pudesse se
preparar?

4. Seria necessário Deus provar a Satanás que Jó era fiel, já que Ele é
onisciente?

5. O justo - como Jó - merece ser castigado, humilhado e isolado?

Esses questionamentos podem levar o cristão ao desespero espiritual


se eles não forem respondidos, ou se forem mal respondidos. Porém,
para cada um deles há uma resposta divina e teológica, as quais serão
analisadas ao longo deste livro, especialmente no capítulo 05 da unida
de I: A Soberania Divina, quando estudaremos, minuciosamente, do
capítulo 38 ao 42 de Jó.

Os Objetivos do Livro

Quando estudamos o livro de Jó, descobrimos três grandes objetivos. O


primeiro deles é responder ao problema do mal, que é um dos temas
mais difíceis para a Teologia, para a Filosofia e para o ser humano em
geral. Sua presença na humanidade leva ao seguinte questionamento:
Quem criou o mal? Por que Deus o permitiu? Para alguns estudiosos da
Bíblia, Deus, sendo Onipotente, é o responsável direto pelo mal, pois
ele poderia impedi-lo e não o fez antes da fundação do mundo, época
em que o mal surgiu, resultado da rebelião de Satanás. Outros
estudiosos vão além, ao afirmarem que o bem e o mal convivem
eternamente, um em oposição ao outro. Porém, nenhum desses pensa
mentos tem respaldo bíblico. O livro de Jó responde a esse problema e
apresenta, sem rodeios, interesses opostos no universo e como seus
autores (Deus e Satanás) agem para a concretização desses
interesses: Satanás age com o mal, com o sofrimento, e Deus, por sua
vez, atua com sua sabedoria, com seu poder e com o bem. Jó mostra-
nos que Deus permite o mal, porém tem o poder de anulá-lo e fazer com
que o bem prevaleça no final.

Um outro objetivo do livro é analisar as profundezas da fé de um ser


humano. Comprovamos isso na maneira como a história foi escrita, de
forma a demonstrar a ação e a reação de Jó diante do sofrimento e das
críticas de seus amigos: Elifaz, Bildade e Zofar. A cada acusação de
seus amigos, Jó responde imediatamente, mostrando sua inocência e fé
em Deus. Vemos, com essa estrutura (acusação, questionamento,
resposta), que o autor está observando as reações de fé de Jó e sua
maneira de agir diante do sofrimento. Em seus discursos, Jó refuta seus
amigos por acusá-lo de pecado, questiona a Deus sobre as razões de
seu sofrimento e também demonstra uma fé inabalável, a qual o levou a
adorar a Deus pelo seu sofrimento. Essa fé será analisada,
detalhadamente, no capítulo IV da unidade I: A Celebração da Palavra,
do Louvor e da Fé.

O terceiro e maior objetivo de Jó é sondar os mistérios e as reações de


Deus diante do mal. Por isso o autor apresentou as ações do Eterno,
como, por exemplo, seu silêncio diante do sofrimento de Jó. Esse
silêncio fez com que Jó expressasse seus sentimentos, e isso enriquece
o livro, pois somente assim podemos compreender como Deus age
quando é questionado pelos seus servos; com benevolência, poder e
sabedoria. Essa maneira do Criador tratar os justos, quando esses se
desesperam, revela uma característica impar do Senhor: a psicologia de
Deus diante das crises humanas. Ao invés de criticar Jó por ter
desejado a morte, o Altíssimo revela os seus segredos para o patriarca,
e, nos capítulos 38 ao 41, revela sua onipotência, onisciência,
onipresença e sabedoria em 71 perguntas que Ele fez a Jó. (Ver
capítulo 05 da unidade I: A Soberania Divina).

Além desses três objetivos principais, há os objetivos secundários,


como, por exemplo, analisar as causas do sofrimento e discutir o difícil
viver da fé. Para muitos, esse viver da fé imuniza os servos de Deus
contra os sofrimentos, porém o livro de Jó nos mostra que Jó cria em
Deus e era extremamente fiel a Ele, contudo sua fé e fidelidade não
protegeram seu rebanho, não impediram que seus filhos morressem e
nem o preservaram da enfermidade. Isso desfaz um erro de muitos
pregadores, que afirmam que o sofrimento é resultado da falta de fé.
Nesta linha de pensamento, observamos que o livro de Jó apresenta o
teste máximo da fidelidade e explora os limites da lealdade. Nesse
limite, Jó desejou a morte, mas permaneceu fiel ao seu Deus.

Os Questionamentos de Jó

Jó, em meio ao sofrimento, fez três grandes questionamentos


existenciais: Por que nasceu? Por que não morreu logo após o parto? e
Por que Deus o mantinha vivo? No primeiro questionamento, registrado
em (Jó 3.1-10), o patriarca, motivado pela sua dor, amaldiçoa o dia do
seu nascimento como forma de mostrar o seu descontentamento por ter
vindo ao mundo para sofrer. Como ele não podia modificar essa
realidade, questionou o motivo de sua sobrevivência após o parto (Jó
3.11-19), pois se ele morresse seria uma solução para o seu sofrimento
futuro. Diante da realidade de se manter vivo, o servo de Deus indagou
por que o Eterno ainda o mantinha nesse estado, (Jó 3.20-26). Neste
último questionamento, percebe-se seu grande sofrimento e seu desejo
de morte, um desejo muito comum a todo e qualquer ser humano
envolvido pela tristeza, pelo desespero e pela frustração.

CAPÍTULO 2

A Casa do Oleiro

Muitos cristãos defendem o pensamento de que o sofrimento na vida do


justo é resultado de pecado. Essa ideologia tem deixado muitos crentes
piedosos em crise espiritual, pois eles não conseguem compreender a
causa de seus sofrimentos. Para auxiliar esses crentes em suas
dúvidas, propusemo-nos a analisar, neste capítulo, as causas do sofri
mento de Jó, a visão desse servo de Deus e de seus amigos sobre esse
assunto, a influência desse sofrimento na vida dos justos e o posiciona
mento da Teologia sobre esse sofrimento.

A Fidelidade e a Prosperidade de Jó

O sofrimento de Jó, que ultrapassou os limites da compreensão


humana, causou diversos questionamentos a respeito das razões desse
acontecimento, os quais surgiram, principalmente, por se tratar de um
homem que não só apresentava qualidades morais, espirituais e sociais,
como também era um fiel servo de Deus, uma condição que pode ser
verificada no primeiro versículo de seu livro. O próprio Deus testificou
essas mesmas qualidades do patriarca a Satanás e foi além ao afirmar
que não havia, na época, ninguém semelhante àquele servo (Jó 1.8;
2.3). Além dessas qualidades, o escritor apresenta as qualidades
familiares de Jó: ele tinha 10 filhos (7 homens e 3 mulheres) e era um
pai intercessor (Jó 1.2.4.5). Esse servo de Deus também era conhecido
pela sua prosperidade era o homem mais rico do oriente e tinha sete mil
ovelhas, três mil camelôs, quinhentas juntas de bois e quinhentas
jumentas, e um grande número de servos (Jó 1.3). A dimensão dessa
riqueza era tão grande que o próprio patriarca afirmou que o seu
caminho era regado com leite (16 29.6). As qualidades pessoais de 16
também são exaltadas no livro, que o apresenta como sábio, a ponto de
até os príncipes se calarem para ouvi-lo (Jó 29.9-12), e misericordioso,
a ponto de cuidar dos pobres, dos órfãos, das viúvas e dos viajantes (16
29.12-16; 31. 16-21.32).

A justiça de Jó também é louvada no livro, que afirma que ele se cobria


de retidão e justiça (Jó 29.14), e o mostra como um juiz que examinava
as causas dos estrangeiros e punia os perversos (Jó 29.16 17). Essa
justiça fazia com que Jó respeitasse os direitos de seus trabalhadores
(Jó 31.13-15). Por causa dessas qualidades, o patriarca era respeitado
pelos jovens e pelos velhos, e vivia como rei entre o seu povo (16
29.7.8, 25).

O Sofrimento de Jó

Pra muitos, homem com as qualidades de Jó jamais sofreria, pois teria a


proteção divina Porém, o livro de Jó montra non que ele experimentou
um sofrimento inimaginável, cuja casa estava no mundo dos espíritos,
onde encontramos o diálogo entre Deus e Satanás Nesse diálogo o
Altíssimo fez a seguinte pergunta a seu arqui-inimigo "Observas-te a
meu servo Jó? Não Há ninguém na terra semelhante a ele, homem
Integro e reto, que teme a Deus e se desvia do mal" (Jó 1.8) Em
resposta a esse testemunho, Satanás replicou que Jó só servia ao
Criador porque Ele o tinha abençoado e apresentou ao Eterno um plano
que provaria que Jó não era tão fiel como parecia: "Mas estende a mão,
e toca-lhe em tudo o que tem, ele certamente blasfemará de ti na tua
face! Deus, então respondeu ao Diabo "Muito bem, tudo o que ele tem
está no teu poder, mas somente contra ele não estendas a mão" (Jó
1.9-12)
Nesse diálogo, extraímos três verdades: a primeira é que Satanás
observa os servos de Deus para achar falhas neles a segunda é que
Deus é sabedor de todos os atos do Diabo e a terceira é que o Senhor
as vezes, permite que o pai da mentira toque em seus servos mais fiéis
Essa atitude divina leva muitos a questionarem a Todo-Poderoso, pois é
racionalmente inaceitável que Ele não proteja seus servos do ataque
de seu pior adversário. Em resposta a essas pessoas, dizemos que a
vontade de Deus, muitas vezes, só é entendida no final de determina
das situações, e é exatamente isso que vai acontecer com Jó, no final
do livro, nos capítulos 38 ao 42, nos quais encontraremos o
posicionamento de Deus sobre o que acontecera com Jó. Nesses
capítulos, Jó recebe uma nova revelação de Deus e tem seus
questionamentos respondidos pelo próprio Deus. (Ver capítulo 05 da
unidade 1: A Soberania Divina).

O sofrimento de Jó se deu em duas etapas. A primeira está registra da


em Jó 1.13-22, tempos depois do primeiro diálogo de Satanás com
Deus. Nessa fase, a tragédia de Jó aconteceu em quatro locais
diferentes. Em um deles, os sabeus saquearam as jumentas e os bois
de Jó e mataram seus servos, só restando um, que levou a notícia a Jó.
Em outro local, fogo caiu do céu e matou as ovelhas de Jó e seus
servos, só restando um desses servos para levar-lhe a notícia. Em outro
local, os caldeus saquearam seus camelos e mataram seus servos, só
deixando um desses servos, o qual lhe levou a notícia. E, por fim, a pior
tragédia de Jó se deu com seus filhos que estavam festejando: um
vento derrubou a casa em que estavam matando todos eles. Só um
servo de Jó escapou dessa última tragédia, para levar a notícia ao
patriarca.

O que nos chama a atenção é que todas essas desgraças que


sobrevieram a Jó se deram quase que na mesma hora; porém, o que
nos impressiona ainda mais é o fato de o Diabo preservar, em cada um
desses acontecimentos, um servo de Jó, o qual levava a notícia da
tragédia para o patriarca. Apesar de os servos estarem em locais
diferentes, eles chegaram a Jó quase ao mesmo tempo, um após o
outro, para noticiar suas perdas (Jó 1.13-19). Isso mostra toda
crueldade do Diabo, que queria surpreender o patriarca, e, com todas
essas notícias, ao mesmo tempo, queria desestabilizá-lo emocional e
espiritualmente, com o objetivo de levá-lo a blasfemar contra Deus. Por
isso Jó não teve como avaliar a situação, pois o mundo desabara sobre
sua cabeça, e a única coisa que ele fez foi raspá-la (sinal de
humilhação), rasgar suas vestes (sinal de desespero total) e se lançar
em terra (ele literalmente se jogou). Vemos, com isso, que Jó estava
desnorteado, um fator que pode levar qualquer ser humano a blasfemar
contra Deus. Porém, em vez de tomar essa atitude, Jó frustrou os
planos de Satanás ao adorar o Altíssimo e a não culpalo pelo seu
sofrimento (Jó 1.20-22).

Vendo que sua primeira investida não surtira efeito, Satanás foi, pela
segunda vez, à presença de Deus, que testemunhou, novamente, sobre
a integridade de Jó, e acrescentou: "Ele ainda conserva a sua
integridade, embora me incitasses contra ele, para o consumir sem
causa Satanás, então, respondeu ao Senhor: "Pele por pele! Tudo o
que o homem tem dará pela sua vida. Mas estende a tua mão, e toca-
lhe nos ossos e na carne, e ele certamente blasfemará de ti na tua
face!" (Jó 2.3-6). Em resposta, Deus permitiu que Satanás tocasse em
Jó, porém novamente proibiu-lhe tirar a vida de seu servo. Começou
aqui a segunda etapa do sofrimento de Jó.

Nessa segunda etapa, Satanás feriu a Jó com chagas malignas, "desde


planta do pé até o alto da cabeça" (Jó 2.7). Como resultado, Jó tomou
um caco de telha para se coçar e ficou irreconhecível. Uns pensam que
essa enfermidade era lepra, outros afirmam que era doença de fogo
generalizada e há o grupo que defende ser essa doença elefantíase.
Porém, não podemos afirmar, com certeza, que tipo de doença Jó
sofreu, só sabemos que seus sintomas o deixaram com tumores por
todo o corpo (Jó 2.7), e sua pele ficou em constante erupção (Jó 7.5).
Ele perdeu o apetite, o que o fez emagrecer (Jó 19.20). Além desses
sintomas, Jó passou a sofrer de febre constante (Jó 30.30), de pontadas
nos ossos (Jó 30.17) de insónia (Jó 30.17). Quando conseguia dormir,
tinha pesadelos (Jó 7.13,14)? Seu hálito passou a ser fétido (Jó 19.17);
foi desprezado (Jó 19.18); sua pele descamava (Jó 30.30); sua visão
falhou (Jó 17.7) e sua dor era mui grande (Jó 2.13). Todo esse
sofrimento fazia com que o patriarca chorasse constantemente (Jó
16.16,20).

Além dos sintomas físicos, Jó também teve sua parte psicológica


abalada. Ele experimentou angústia no espírito e na alma, e
experimentou uma depressão profunda (Jó 7.11, 16; 10.01; 30.16). Jó
também enfrentou o desprezo social. Em lugar de apoio dos amigos, ele
tornou se motivo de zombaria e de provérbio entre o povo, e foi
desprezado pelos seus familiares e servos (Jó 16.20; 17.2,6; 30.1,9).
Diante de todo esse sofrimento, podemos afirmar que Jó experimentou
o cúmulo da perda; o mais alto grau das dores física e emocional; o
ápice do desprezo social.

O SOFRIMENTO DE JÓ

1) Tumores - Jó 2.7.
2) Tumores por todo o corpo -Jó 7.5
3) Depressão Jó 7.16; 30.16.
4) Falta de apetite Jó 19.20.
5) Febre constante Jó 30.30.
6) Pele descamada escura Jó 30.30.
7) Desprezo - Jó 19.18.
8) Angústia no espírito e na alma Jó 7.11; 10.1
9) Insónia Jó 7.4.
10) Pontada nos ossos Jó 30.17
11) Pesadelos Jó 7.13,14.
12) Mau Hálito Jó 19.17
13) Problema na visão Jó 17.07.
14) Dor constante Jó 2.13

Visões Sobre as Causas do Sofrimento em Jó

Um dos pontos intrigantes do livro de Jó é o qual trata sobre a causa do


sofrimento do justo, que é representado pelo patriarca, que para muitos,
por ser justo, não merecia sofrer. Para outros, seria injustiça da parte de
Deus, com toda a raça humana, imuniza-lo contra o sofrimento, já que
ele também era um ser humano. Esses dois pontos de vista juntam-se
no livro a outras perspectivas sobre o sofrimento, a saber: a perspectiva
dos amigos de Jó, que o acusaram de pecado, e ao pensamento do
próprio patriarca, que defendia sua inocência.

O DESPREZO SOCIAL DE JO

Em lugar de amigos, ele teve zombadores 36 16.20; 37.2

Ele tornou-se provérbio entre povo - 16 17.86 30.1,5

Foi desprezado pelos seus familiares e servos. 16 19.14-16.

Das perspectivas sobre o sofrimento, a que chama mais atenção no


livro é a dos três amigos de Jó: Elifaz, Bildade e Zofar. Eles combinaram
irem juntos para condoer-se de Jó e consola-lo (Jó 2.11). Quando eles
avistaram o servo de Deus, de longe, ficaram chocados com o que
viram, pois "não o reconheceram; erguendo a voz, choraram, rasgaram
o seu manto e lançaram pó ao ar sobre a cabeça. Então, se assentaram
com ele (Jó) na terra, sete dias e sete noites. Nenhum lhe disse palavra
alguma, pois viram que a dor era muito grande" (Jó 2.12,13). Esse
silêncio nos mostra que os três amigos não tinham palavras de consolo
para o patriarca, tampouco tinham visto, durante a vida, algo tão terrível
acontecer a um justo, tão grande era o sofrimento do seu amigo. Talvez,
por isso, quando eles começaram a falar a Jó, tentaram desvendar a
causa de tão grande perda, e, nessa tentativa, acusaram Jó de pecado.
perda, e, nessa tentativa, acusaram Jó de pecado.

O primeiro a dirigir-se a Jó foi Elifaz. Em seu primeiro discurso, ele não


acusou diretamente Jó de pecado, porém enfatizou que o sofrimento
não atinge aos retos e aos inocentes, mas somente aos ímpios (Jó
4.7,8). Para ele, o sofrimento é a correção divina (Jó 5.17,18). Em seu
segundo discurso, ele não apresentou uma resposta ao sofrimento de
Jó, muito pelo contrário, falou sobre o sofrimento dos perversos (Jó
15.20-35). Em seu terceiro e último discurso, Elifaz afirma que O
sofrimento de Jó era Deus entrando em juízo com ele (Jó 22.3ss), pois
estava distante de Deus (Jó 22.21).

O segundo a dirigir-se a Jó foi Bildade, que, em seu primeiro discurso,


mostrou que não compreendera as causas do sofrimento de Jó e
mostrou falta de conhecimento sobre o que aconteceu no mundo
espiritual, envolvendo seu amigo sofredor. Essa falta de conhecimento o
levou a dizer, sem piedade, que os filhos de Jó morreram porque
estavam em pecado (Jó 8.4). Em seu segundo discurso, não querendo
caracterizar Jó como um homem justo e não tendo coragem de chamá-
lo de ímpio, fez um discurso sobre as consequências do pecado na vida
dos ímpios: sua luz se apagará (18:5, 6); será assombrado (18:11):
perderá a propriedade (18:14): será frustrado (18:7); será perseguido
(18:11); perderá sua habitação (18:15); será preso por amaldiçoado;
tornar-se-á miserável, não terá posteridade (18:17, 19); a calamidade
virá sobre eles (18.12.13). Em seu terceiro discurso, Bildade enfatizou a
perfeição e a soberania de Deus e a impureza dos homens, que, para
ele, são como vermes (Jó 25.6). Esse último discurso de Bildade chocou
Jó que perguntou: "Para quem proferiste palavras? E de quem é o
espirito que saiu de ti?" (Jó 26.4). Observamos, com isso, que os
amigos de Jó, a cada discurso, ao invés de auxiliarem o patriarca,
aprofundavam seu sofrimento psicológico.

O terceiro a se dirigir a Jó foi Zofar, que também não entendera o


sofrimento como permissão divina, inclusive para os seus servos. Em
seu primeiro discurso, ele foi enfático ao acusar Jó de pecados ocultos e
que, por isso, Deus estava trazendo à memória suas falhas (11.4-6.14).
Em sua segunda fala, ele não chama Jó de ímpio, porém não diz que
ele é justo, mas mostra as consequências que sobrevirão à vida dos
perversos (20.5-29).

Com seus discursos, percebemos que os amigos de Jó mais


prejudicaram que auxiliaram o patriarca. Vemos, também, que eles
tinham uma visão romancista do viver com Deus. De acordo com essa
visão, quem é fiel a Deus não sofre, pois, todos os males são fruto do
pecado. A insensibilidade deles, ao pedirem explicação a Jó sobre seus
pecados, deixou-o torturado psicologicamente, a ponto de clamar:
"Compadecei-vos de mim, amigos meus..." (19.21). Nesse embate, ele
chegou a gritar: "Calai-vos na minha presença, e falarei: venha sobre
mim o que vier" (Jó 13.13). O sofrimento que eles causaram ao
patriarca levou Jó a dizer que eles o quebrantaram e o humilharam por
dez vezes (Jó 19.1-3); por isso, e ao final de cada discurso, ele tentava
se justificar, e questionava Deus sobre a razão de seu sofrimento. Seus
três amigos não entenderam essas interrogações e o acusavam, ainda
mais de ele querer justificar-se diante de Deus. Na realidade, o
questionava o silêncio de Deus, Ele queria apenas conversar com o seu
Deus (6 23.3), e para mostrar que eles não estavam corretos ao afirmar
que s sofrimento só sobrevém ao ímpio, e que o justo tem garantia de
prosperidade, ele apresenta a prosperidade e o sucesso que os ímpios
obterá na terra, mesmo oprimindo o pobre (Jó 21.7-16.29-32, 24.18-22).
Nesta tentativa de refutação, Jó chamou os seus amigos de mentirosos
e os comparou a médicos inúteis, afirmando que eles o estavam
perseguindo com palavras vás (Jó 19.22; 27.12) e que, em suas
respostas, havia falsidade (Jó 21.34).

A Perspectiva de Jó Sobre o Seu Sofrimento

Jó, em parte alguma de seus discursos, aceitou os argumentos de seus


amigos que o acusavam de pecado. Ele também não aceitava que o
seu sofrimento era obra do acaso. Para ele, Deus era o responsável
direto pelo seu sofrimento. Ele baseava sua tese no seu conhecimento
sobre o domínio de Deus. Para Jó, ninguém poderia causar dano aos
servos de Deus se este não permitisse tal ação. Sua visão sobre Deus o
levara a afirmar, em seu desespero, que Deus o cercara por todos os
lados, e que o Todo-Poderoso o atingira com suas flechas (Jó 6.4). Para
o patriarca, Deus não o permitia respirar (Jó 9.18).

Essas afirmações de Jó levaram muitos a afirmar, erroneamente, que


ele pecou contra Deus. Porém, está escrito que "Jó não pecou nem
atribuiu a Deus falta alguma" (Jó 1.22). Os seus questionamentos não
significavam que ele estava acusando Deus de erro ou de injustiça,
apenas que ele estava reconhecendo que Deus estava envolvido em
seu sofrimento e, direta ou indiretamente, permitindo-o. Quando ele
questionava o Altíssimo, ele não estava desafiando a soberania divina,
mas apresentando diversos objetivos. Um deles era mostrar a Deus sua
insignificância perante Ele (J6.7.12,14, 17-21; 10.8,9), na tentativa de
levar o Todo-Poderoso a anular seu sofrimento. Um outro objetivo de
seus questionamentos era o de saber a razão de tão grande sofrimento
(Jó 10.1. 3). Jó ainda queria, com seus questionamentos, atingir a
misericórdia divina para sua situação e tocar na sensibilidade do Pai
Eterno, e para isso falou ao Senhor que ele (Jó) era obra de Suas mãos
(Jó 10.3-14).
Nos questionamentos de Jó, encontramos seu maior desejo: audiência
com o Todo-Poderoso - "Mas eu desejo falar ao Todo-poderoso, e
quero defender-me perante Deus" (Jó 13:3). Em determinado momento,
ele
questionou a falta de um árbitro entre ele e Deus para resolver sua
situação (9:33-35), por isso insistiu em se encontrar com o Senhor para
se defender e a Ele pedir misericórdia.

É interessante notarmos que, em todo o livro, não encontramos


nenhuma reprovação divina a Jó pelos seus questionamentos.
Aprendemos, com isso, que Deus aceita ser questionado e que nosso
relacionamento com Ele não deve se basear, somente, em seu
senhorio, mas também no fato de Ele ser pai, um grande psicólogo e
nosso amigo. Se o Todo-Poderoso não acusou Jó de ter pecado com os
seus questionamentos, quem somos nós para acusa-lo?

A Visão Teológica Sobre o Sofrimento

Uma das grandes indagações que as pessoas fazem a Deus é sobre a


razão de Ele ter permitido o sofrimento, e muitas delas culpam o Eterno
por isso. Porém, elas precisam saber que, após o pecado de Adão e
Eva, o sofrimento tornou-se uma realidade na vida do homem e trouxe
consequências trágicas para a humanidade: os espinhos e abrolhos, o
trabalho árduo do homem, as dores de parto (Gn.3.17-20), e a morte. a
maior consequência do pecado. Comprovamos isso em Rm 6.23, que
diz: "O Salário do pecado é a morte...".
Depois da Queda, o sofrimento passou a fazer parte da vida de todos os
mortais, e por isso ele deve ser analisado sob diversos aspectos:
teológico, social, econômico, entre outros. Por esta análise, observamos
que há diversos tipos de sofrimentos: consecutivo, punitivo, corretivo,
instrutivo e redentivo. Ao estudarmos cada um deles, veremos que Deus
os utiliza, muitas vezes, para corrigir o homem, e que cada um deles
tem causas e objetivos específicos.

O sofrimento consecutivo, por exemplo, é resultado dos erros do próprio


homem. Um exemplo disso são as enfermidades causadas pelo vício,
pela ingestão de alto teor de e até mesmo pelas más ações dos
homens, como, por exemplo, a mentira, a calúnia e a desobediência às
leis humanas e divinas. O sofrimento consecutivo está na lei da
semeadura (Gl. 6.7,8): "... Tudo o que o homem semear, isso também
ceifará. O que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; o que
semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna". Já o sofrimento
corretivo pode ser a ação de Deus para levar o homem a deixar suas
más ações. Provérbios 3.11,12 diz: "Filho meu, não rejeites a disciplina
do Senhor, nem te enojes da sua repreensão. Porque o Senhor corrige
aquele a quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem".
Hebreus 12.5,6 também confirma que o sofrimento corretivo é resultado
do amor de Deus, e tem como objetivo levar o homem a deixar seus
erros. Um outro tipo de sofrimento, o punitivo, é aplicado por Deus ao
homem, quando esse não quer deixar a impiedade e a perversidade.
Um exemplo desse sofrimento é o cativeiro babilónico, período de 70
anos no qual o povo judeu ficou cativo na Babilônia por ter seguido a
impiedade e ter desobedecido Deus. Um outro exemplo desse
sofrimento nós encontramos em Ex 14, no qual está registrada a
destruição dos egípcios no mar vermelho. Isso aconteceu porque Faraó
fora perverso com o povo de Israel, e, como consequência, Deus
destruiu seu exército.

Há, ainda, os sofrimentos instrutivos e redentivo. O sofrimento instrutivo


é assim chamado porque não acontece como resultado de erros do
homem ou da ira de Deus, mas porque ele é permitido pelo Altíssimo,
com o objetivo de nos ensinar verdades do Senhor. Através dele, Deus
revela facetas do seu caráter, do seu poder e da sua sabedoria. Um
exemplo desse sofrimento é encontrado em Marcos 4.35-40, no qual
observamos os discípulos em meio a uma tempestade e como Jesus a
acalmou. Essa ação de Cristo deixou os discípulos surpresos, pois não
sabiam que Jesus podia acalmar uma tempestade. Vemos,.com isso,
que o Mestre utilizou um sofrimento (a tempestade) para ensinar algo
aos discípulos (sua capacidade de acalmar tempestades). O sofrimento
redentivo, por sua vez, tem por objetivo beneficiar alguém. O maior
exemplo desse tipo de sofrimento é a morte de Cristo que nos salvou.
Um outro exemplo nós encontramos nas
perseguições causadas pela pregação da Palavra. Aqui os pregadores
sofrem para salvar vidas do pecado, e isso é um sofrimento redentivo.

OS TIPOS DE SOFRIMENTOS:

CONSECUTIVO

PUNITIVO

CORRETIVO

INSTRUTIVO

REDENTIVO

Diante dessas verdades, podemos afirmar que os amigos de Jó


cometeram o erro de muitos crentes ao longo dos milénios, o de atribuir
o sofrimento dos cristãos aos pecados que eles cometeram. Esse erro
ficou provado no final do livro, quando Deus, irado com os amigos de
Jó, ordenou que fossem pedir perdão ao seu servo (Jó 42.7-8). Não
queremos dizer, com isso, que o pecado não gera sofrimento, muito
pelo contrário, a maioria dos sofrimentos é resultado dos pecados e dos
erros humanos; porém, nem todo sofrimento é resultado do pecado, o
qual pode ter como causa, por exemplo, uma situação econômica difícil
no país, que gera o desemprego e, como consequência, o sofrimento.
Não poderíamos, também, esquecer-nos da vontade de Deus, que per
mite o sofrimento aos justos, com o objetivo de instruí-los, aperfeiçoa-
los e corrigi-los.
CAPÍTULO 3

A Guerra Espiritual

Neste capítulo, abordaremos a realidade da batalha espiritual entre os


reinos de Deus e de Satanás entre o bem e o mal Nessa batalha,
veremos que o ser humano é o objetivo desses reinos que lutam para
conquistá-los, e até para destrui-lo, como é o caso de satanás.
Analisaremos, também, as táticas utilizadas por Deus e por satanás
nessa guerra, especialmente no episódio que envolveu Jó.

A Realidade da Batalha Espiritual

O livro de Jó apresenta, de forma explicita, um tema que deve ser


valorizado e estudado por todos os cristãos a batalha espiritual Essa
batalha começou a centenas e talvez (a Bíblia não diz a época exata)
milhares de anos antes da existência do homem, quando Lúcifer, o
Querubim ungido, levantou-se contra Deus. Ele seduziu uma parte
dos anjos e. juntamente com esses anjos, foi expulso dos céus
(Ezequiel 28.11 17: Isaias. 14.12-14). Inconformado com a frustração
de seus planos. Satanás voltou-se contra o homem, e, no Jardim do
Éden, o levou a pecar contra o Todo-Poderoso (Gn. 3). Em resposta à
investida de Satanás, o Altíssimo colocou em prática o seu plano de
redenção, plano esse que já estava pronto antes da fundação do
mundo (Ap. 13.8). Esse plano foi profetizado logo após a queda do 3,
e nessa profecia
estava o anúncio do nascimento de Cristo e a derrota, agora na terra.
de Satanás e a restauração do homem caído (Gin 3, 14, 15)

Após a queda do homem, a terra tornou-se um palco de guerra


espiritual. De um lado, Deus decidiu restaurar o homem e usá-lo contra
os interesses de satanás. Do outro, o Diabo passou a lutar para utilizar
o homem contra os interesses divinos, impedindo, dessa forma, sua
restauração, como o homem é um ser racional, ele tem o poder de
escolha. Se ele escolher as trevas (fazer a vontade de Satanás), o
Senhor continuará amando-o e lutando para consultá-lo Se ele escolher
a Verdade de Deus, a reação do pai da mentira será de oposição e
vingança. Por essa razão, muitos justos sofrem porque o Diabo se
levanta contra eles, para que desistam de Deus. Era exatamente isso
que satanás queria de ló, que, por sua vez, estava alheio a essa trama
e, por diversas vezes, demonstrou se surpreso com acontecimentos
que lhe sobrevieram. De fato, Jó estava entre esses dois reinos o de
Deus e o de Satanás. Sem dúvida, ele era alvo de todas as atenções
dos anjos e dos demônios, de Deus e do Diabo, e dos seres humanos.
Todos estavam na expectativa da reação de ló, e a prova disso é que a
escritor revela a reação desse herói da fé diante do seu sofrimento, e
chama a atenção para as suas primeiras palavras, logo após receber a
notícia de que seus rebanhos tinham sido roubados e de que todos
seus filhos haviam morrido:
"Então Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a sua cabeça e
lançando-se em terra, adorou e disse: Nu sai do ventre da minha mãe,
e nu tornarei para lá. O Senhor o deu e o Senhor o tomou, bendito seja
o nome do Senhor (16 1 20,211.

Quando essa atitude de Jó é analisada à luz da batalha espiritual entre


Deus e Satanás, esse livro ganha um novo significado. Ele foi escrito,
como já dissemos, no período dos patriarcas, antes da Lei de Moisés,
no êxodo, no período dos patriarcas. Sendo isso verdade, ele é o
primeiro livro da Bíblia a discutir o problema do mal e do sofrimento
humano, e mostra que, em época remota, um homem, mesmo sem leis
religiosas promulgadas, decidiu, mesmo sob pressão, ser fiel ao seu
Deus. Essa atitude de Jó colocou por terra toda a trama de Satanás
posta em prática no Jardim do Éden: o desejo de corromper toda a raça
humana. Isso deixou provado que Deus sempre terá, na terra, pessoas
fiéis a Ele.

Satanás e o Sofrimento em Jó

O nome Satanás, no hebraico, significa "adversário". Este nome é o


mais apropriado para o contexto de Jó, pois ele se apresenta não
somente como inimigo de Deus, mas também de seu servo Jó. Por esta
razão, o escritor utilizou-se somente desse nome para referir-se ao
Diabo, que é o principal responsável pelo sofrimento
de Jó. Isso é muito importante destacar, pois Deus não preparou as
estratégias para que Jó fosse afligido, Ele deu a permissão ao Diabo,
que, por sua vez, foi o executor desse plano.

Sendo Satanás o autor e o executor do sofrimento de Jó, o que ele


objetivava com esse sofrimento? No primeiro diálogo entre os seres
espirituais, após o testemunho divino sobre a fidelidade de Jó, Satanás
disse a Deus que Jó só o servia porque era abençoado por Deus. Em
continuação disse: "Mas estende a tua mão e toca-lhe em tudo o que
tem, e ele certamente blasfemará de ti na tua face!" (Jó 1.11).
Observemos Satanás enfatizou o verbo blasfemar, palavra repetida no
segundo diálogo entre os dois oponentes espirituais. Após a primeira
investida, não conseguindo com que Jó blasfemasse contra Deus,
Satanás disse ao Todo Poderoso: "Mas estende a tua mão e toca-lhe
nos ossos e na sua carne, e ele certamente blasfemará de ti na tua
face!" (Jó 2.5). Vemos, com isso, que o principal objetivo de Satanás
era levar Jó, por meio de seu sofrimento (e de todos os justos), não
somente a criticar a Deus, mas a blasfemar contra ele, ou seja, a dizer
palavras injuriosas contra o Santo dos Santos. Diante desta verdade, a
melhor coisa que o cristão deve fazer, quando se encontrar em
desespero, é se calar para não pecar com as palavras (o que é a
vontade do Diabo) e fazer o que Jó fez: adorar (Jó 1.20,21).
A Bíblia, em outras passagens, mostra que estamos certos ao afirmar
que o maior objetivo de Satanás, com o sofrimento, é levar o homem a
blasfemar contra Deus. Encontramos, em Apocalipse, por exemplo, que
o último governante mundial (a besta) utilizará seu governo, no poder de
Satanás, para blasfemar contra Deus em todo o mundo: "Foi-lhe dada
(à besta) uma boca para proferir arrogância e blasfémias... e abriu a sua
boca em blasfémia contra Deus, para blasfemar do seu nome, e do seu
tabernáculo e dos que habitam no céu" (Ap.
13.5,6).

Essa ação do Diabo, de levar o homem a blasfemar contra seu Criador,


tem como objetivo final atingir o próprio Deus, pois, como ele não pode
enfrentar o Altíssimo diretamente, usa os homens para macularem a
imagem do seu Criador. Por essa razão, a principal ação da maioria
das pessoas que estão em sofrimento é se levantar contra o Eterno,
seja por meio de perguntas ou de críticas. Isso é ação do pai da
mentira, que não se contenta em somente levantar a humanidade
contra Deus, ele também cria sistemas que, por meio de elaborados
estudos, levantam se contra o Todo-Poderoso. Exemplos desses
sistemas são o Satanismo e o Ateísmo. Ao contrário do arqui-inimigo de
Deus, O Espírito Santo nos leva a louvar e a agradecer a Deus,
independentemente da situação ou do grau de sofrimento. Resta-nos
apenas decidir de que
lado nós estamos: se do lado da crítica e das blasfémias, ou do lado do
agradecimento e do louvor.

As Estratégias de Satanás (Jó 1:13-22)

Para que Satanás consiga fazer com que o homem blasfeme contra
Deus, ele utiliza estratégias cruéis e inimagináveis aos humanos. Esses
métodos são revelados no livro de Jó e, com certeza, é um prêmio
divino para os homens, pois, por esse conhecimento, eles poderão se
preparar contra os ataques do Diabo. Os principais métodos que ele
utiliza para massacrar o homem (especialmente os justos) são:
imprevisibilidade, surpresa, sofrimento cumulativo, ataque ao bem mais
precioso do homem e notícias devastadoras. Todos esses métodos
foram utilizados contra Jó. O primeiro deles foi a surpresa, a qual vemos
em Jó 1.13, que diz: "Certo dia, quando os filhos e as filhas de Jó
comiam e bebiam..." É dessa forma que começa o relato da desgraça
que sobreveio a Jó, e esse "certo dia" indica que o Diabo levou um
tempo entre a permissão que recebera de Deus e a execução de seu
plano contra Jó, e que a execução desse plano foi numa época
inesperada. Ele também fez com que tudo acontecesse ao mesmo
tempo e com já vimos, lutou para que Jó recebesse as notícias de sua
desgraça uma após a outra. Estratégias como esta acontecem com
muitos cristãos que, sem esperar, veem-se em meio a problemas que
aparecem um após o outro. Quando isso
acontecer, podemos ter a certeza de que o Diabo está por trás desses
acontecimentos, com o objetivo de nos desestabilizar emocional e
espiritualmente, para que critiquemos a Deus.

Deus e o Sofrimento em Jó

Um dos pontos mais polémicos no livro de Jó é a maneira como Deus


agiu. Em primeiro lugar, Ele permitiu que o seu maior inimigo atingisse o
seu servo fiel e íntegro. Depois, Ele se calou diante do sofrimento de
seu servo, a ponto de levá-lo a querer saber a razão não só do seu
sofrimento, mas também o que Deus pensava dele e por que o
Altíssimo agia daquela maneira. O que Jó não sabia é que a permissão
divina e o silêncio do Altíssimo são estratégias que o Eterno utiliza, na
batalha espiritual, para executar o seu plano de uma forma que ninguém
conhece. Ele mesmo falou que os seus pensamentos e os seus planos
são melhores que os nossos e superiores a eles (Is. 55.9).
Com esta afirmação, o Senhor quer dizer que nós jamais
compreenderemos à sua maneira de agir e de pensar. Por isso, todos
erram ao criticar Deus, quando Ele permite que os problemas
aconteçam, pois não compreenderam o Seu propósito diante dessa
permissão.
O LIVRO DE JÓ TRATA, PRINCIPALMENTE, DO LOUVOR A DEUS
EM MEIO AO SOFRIMENTO DO JUSTO!

A Perfeição do Plano de Deus

Como já falamos, na batalha contra o reino das trevas. Deus utiliza


planos incompreensíveis aos homens e aos demônios. Sua permissão,
para que Satanás tocasse em Jó, num primeiro momento pareceu bom
para o Diabo, pois ele enxergou uma oportunidade para ver o nome de
Deus ser blasfemado. Para muitos homens, essa permissão pareceu
injusta e uma loucura sem precedente. Porém, ao permitir que Satanás
tocasse em seu servo, Deus estava, na realidade, entregando nas mãos
do Diabo sua derrota. Isso fica claro em todo o livro, pois, ao invés de
ser blasfemado, Deus foi louvado por Jó, o justo sofredor.

Algumas perguntas são feitas por muitos que estudam Jó e se


baseiam no fato de Deus não ter refutado o argumento de Satanás,
que em dúvida a fidelidade de Jó ao afirmar que ele só servia o
Senhor por colocou que era abençoado pelos céus, e que se ele
sofresse, levantar-se-ia contra o Altíssimo em blasfémia (Jó 1. 9- 11;
2.4,5): Deus precisaria permitir o sofrimento de Jó para que Ele fosse
Louvado? Se Jó já era fiel, por que não livrá-lo do sofrimento? Deus
precisaria provar a
Satanás que Jó era fiel, se Ele mesmo dera testemunho da fidelidade
de seu servo?

As pessoas que fazem esses questionamentos precisam compreender


que Deus não deve satisfação a Satanás, muito menos da fidelidade de
seus servos.
Elas necessitam entender, também, que o sofrimento de Jó deve ser
analisado do ponto de vista do reino dos céus, cujo plano não é o de
impedir que o homem sofra, mas utilizar o sofrimento como ferramenta
para crescimento espiritual e aperfeiçoamento do caráter, e como palco
para a revelação do poder de Deus.

Um outro ponto que precisa ser levado em consideração, ao


respondermos os questionamentos aqui apresentados, é o que estava
em jogo no capítulo primeiro de Jó: O louvor a Deus. Se Jó adorava ao
Eterno só porque era abençoado por Ele, então o Senhor não era capaz
de obter um louvor sincero de seus servos. Para provar que Ele era
louva do pelo que é e não pelo que tem a oferecer, o Altíssimo permitiu
que Jó sofresse, o que de outra maneira não seria possível. Quando
analisamos isso do ponto de vista da época do acontecimento e da
escritura do livro, essa realidade tem um significado muito especial, pois
não havia no mundo nenhum relato histórico de um ser humano fiel a
Deus em meio ao sofrimento e ao desprezo social.
Do ponto de vista da guerra espiritual, o Diabo perdeu e Deus venceu.
Isso ficou registrado em forma de livro para todas as gerações
posteriores e, no mundo espiritual, os demônios e os anjos ficaram
sabendo que Deus é o único ser que consegue ser louvado em meio à
desgraça humana. Encontramos, portanto, em Jó, a perfeição do louvor
e da adoração que, começando no capítulo primeiro, com o gesto de Jó
(Jó 1, 20,21), atinge seu ápice nos capítulos 38-41, quando Deus revela
a Jó toda a sua grandeza e todo o seu poder.
Baseando-nos nisso, podemos dizer que um dos primeiros livros da
Bíblia a ser escrito não só trata do sofrimento do justo, mas também do
louvor a Deus em meio ao sofrimento do justo.

CAPÍTULO 4

A Celebração da Palavra, do Louvor e da Fé

Neste capítulo, abordaremos, mais especificamente, as reações de Jó,


por meio do seu conhecimento sobre Deus e através do seu louvor e da
sua fé. Veremos a importância do conhecimento sobre o Eterno para o
fortalecimento da fé, e como essa fé, baseada no Altíssimo, pode nos
levar a uma adoração sincera e teologicamente profunda.

A Teologia de Jó

Jó tinha um conhecimento profundo sobre Deus, e foi esse conheci


mento que o fez permanecer inabalável na fé diante do sofrimento, das
críticas, da solidão. Em seus discursos, ele nos mostra a sua comunhão
com o Senhor, a tal ponto de ter suas orações respondidas. Por isso ele
fez questão de dizer: "Eu sou motivo de riso para os meus amigos; eu,
que invocava a Deus, e ele me respondia...." (Jó12.4).

Essa comunhão que o patriarca tinha com Deus o fez - mesmo sem
livros sagrados escritos em sua época - conhecer a sabedoria e o poder
do Senhor. Essas qualidades são expressas, de maneira magnífica, no
capítulo 9 do livro, no qual Jó afirma que Deus "é sábio de coração, e
poderoso em forças" (v.4). Nos versículos 5-9 desse mesmo capítulo, Jó
apresenta o domínio do Altíssimo sobre a natureza, ao dizer:
Ele é o que transporta as montanhas, sem que o sintam... Ele fala ao sol,
e ele não sai; sela a luz das estrelas. Ele sozinho estende os céus, e
anda sobre as ondas do mar...

A VITÓRIA DE JÓ RESULTOU DE TRÊS PILARES:

1. Seu conhecimento sobre Deus, resultado da sua comunhão com


o Altíssimo.

2. Sua fé no Todo-Poderoso, resultado do seu conhecimento sobre


o Senhor.

3. Sua adoração que faz sua história ser considerada como o triunfo
do louvor.

No versículo 10 do capítulo 9, encontramos a maior afirmação que Jó fez


sobre Deus: "Ele faz coisas grandes, que não se podem esquadrinhar, e
maravilhas tais que não se podem contar". Com essa declaração, Jó
estava enfatizando que o Todo-Poderoso é incompreensível, inatingível,
inalcançável e inacessível. Talvez seja por isso que muitos estudiosos
desse livro não compreenderam a ação de Deus em Jó. Eles se
esqueceram de que Jeová não pode ser manipulado e dirigido pelo
teólogo, assim como o são os produtos de laboratórios.

O capítulo 12 também mostra a Teologia de Jó. No verso 13, ele afirma


que "com Deus está a sabedoria e a força...", e reconhece, no versículo
14, que é impossível modificar as decisões de Deus: "O que Ele derruba,
não se pode reedificar..." Do versículo 15 até o versículo 23 do referido
capítulo, ele enfatiza a grandiosidade de Iavé, e isso com o objetivo de
mostrar para os seus amigos, que utilizavam o conhecimento de Deus
para humilha-lo, que ele também conhecia o Senhor.

Diante do exposto, podemos afirmar que erram os que dizem que Jó não
conhecia a Deus. Essas pessoas se baseiam na afirmação de Jó depois
que Deus se revelou para ele, restituindo-lhe a saúde e sua riqueza: "Eu
te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem" (Jó 42.5). Na
realidade, Jó não estava dizendo que não conhecia a Deus, apenas que
seu conhecimento se ampliará com sua revelação. Isso é verdade, pois,
como vimos, os capítulos 9 e 12 nos mostram que ele conhecia o Todo-
Poderoso.

A Fé de Jó

A fé é definida na Bíblia como "a certeza das coisas que se esperam, e a


prova das coisas que não se veem" (Hb. 11.1). Sem ela, é impossível ao
homem se aproximar de Deus e agrada-lo: "Ora, sem fé é impossível
agra dar a Deus, porque é necessário que aquele que se aproxima de
Deus creia que Ele existe, e que é galardoador dos que o buscam" (Hb.
11.6). Ela é tão importante para o relacionamento com o Todo-Poderoso,
que ele fez questão de declarar a Habacuque, o profeta: "O justo pela
sua fé viverá" (Hc.2.4). Essa afirmação divina foi repetida por Paulo, em
Romanos 1.17, e mostra a grandiosidade desse tema: "Pois nele (no
evangelho) se descobre a justiça de Deus, de fé em fé, como está
escrito: O justo viverá da fé. Vemos, com isso, que de nada adianta
devoção e ativismo religioso sem fé, pois é essa fé que nos faz
permanecer firmes, assim como Jó, diante das vicissitudes da vida.

Alguns confundem fé com sentimentos. Quando se sentem bem, louvam


a Deus, agradecem, participam dos cultos e até dão testemunhos.
Porém, quando esse sentimento de bem-estar e alegria desaparece,
entram em depressão e ficam desgostosos com Deus, com a Igreja, com
o ministério. Isso acontece porque os sentimentos são voláteis, relativos,
dependem das circunstâncias e do estado de espírito das pessoas. A fé,
por sua vez, independe desses sentimentos e está presente (no espírito,
não nos sentimentos), mesmo quando as situações não vão bem. Vemos
isso com Jó que, mesmo desesperado, triste, amargurado e em
depressão, não deixou de confiar em seu Deus. Isso nos leva a afirmar
que a fé não anula a tristeza e os problemas, mas é o combustível
espiritual que nos fará perseverar rumo à vitória. Foi essa fé que levou
Jó a fazer a seguinte afirmação: "Ainda que ele (Deus) me mate, contudo
nele esperarei; os meus caminhos defenderei diante dele" (Jó 13.15).
Logo após essa afirmação, Jó demonstrou a certeza de que o Senhor o
justificaria: "Já pus em ordem a minha causa, e sei que serei achado
justo" (Jó 13.18). O ápice de sua fé se dá em Jó 19.25-27:

Eu sei que o meu Redentor vive e que por fim se levantará sobre a terra.
E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne, verei a
Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, com meus próprios olhos, eu, e não
outros.
Nessa declaração, Jó mostra seu conhecimento sobre Deus e a
confiança inabalável de que ele sairia vitorioso daquela situação.
Somente quem tem uma fé inabalável pode, em meio às perdas
importantes, fazer afirmações como essas. Essa fé condiz com a de Hb.
11.1, pois é o firme fundamento, ou seja, a certeza que somente é
percebida por aqueles que têm comunhão com Deus (1Co. 2.14). Por
isso, os amigos de Jó não compreendiam suas convicções, pois não
conheciam o Altíssimo como o patriarca o conhecia.

A Fé e o Conhecimento Sobre Deus

Alguns afirmam que precisamos crer para compreender. Quem pensa


assim está defendendo a irracionalidade da fé e contradizendo as
Sagradas Escrituras, que afirmam: "De sorte que a fé vem pelo ouvir, e o
ouvir pela palavra de Deus" (Rm. 10.17). Em resposta a essa nossa
afirmação, alguém poderá afirmar que há ações de Deus que nós temos
que crer, primeiro, para poder compreende-las. Porém, eles precisam
saber que toda ação de fé, ainda que não seja explicada pela razão, está
baseada no conhecimento do poder de Deus e da sua fidelidade. Sem
esse conhecimento é impossível acontecer atos de fé.

Um outro texto bíblico que nos incentiva a conhecer Deus é Oséias 6.3,
que diz: "Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor". Esse
conhecimento só é possível por meio do estudo da Palavra de Deus e
através da vivência com o Senhor no dia-a-dia, quando Ele mostrará o
seu cuidado, a sua fidelidade e o seu poder para conosco. Podemos
afirmar, portanto, que, quanto mais conhecemos a Deus, mais cremos
nele, e quanto maior é a nossa fé, mais desejo teremos de conhece-lo
Portanto, fé e conhecimento espiritual são interdependentes, e isso
estava presente na vida de Jó, pois o seu conhecimento sobre Deus o
levou a fazer declarações que exaltavam a perfeição do Todo-Poderoso.

O Louvor em Jó

O capítulo 01 de Jó pode ser comparado à cortina de um palco, pois ele


se abre para apresentar, no início do livro, segredos que até aquela
época não eram do conhecimento dos mortais (e até hoje não o são de
muitos cristãos): o conhecimento que Deus e Satanás têm dos seres
humanos (eles conheciam Jó nos mínimos detalhes); a batalha espiritual
e a comunicação no mundo espiritual entre o Todo-Poderoso e o Diabo;
as estratégias que Satanás usa para fazer o justo sofrer e seus objetivos
com esse sofrimento. No final do capítulo, é-nos revelado um dos
maiores segredos: A vitória pelo louvor (Jó 1.20-22). Não sabemos quem
ensinou a Jó que ele deveria adorar, pois não havia a Bíblia em sua
época, mas uma coisa é certa: sua adoração - mesmo sem uma teologia
formada sobre o louvor - abriu a porta para o ensino do louvor em toda a
Bíblia Sagrada, ensino esse que está presente no Pentateuco, nos livros
históricos e tem o seu ápice nos livros poéticos, especialmente em
Salmos, o livro dos louvores. Esse tema se torna mais significativo
quando estudamos, na Bíblia Sagrada, a fonte, os objetivos e a essência
teológica do louvor.

As Fontes e os Objetivos do

Antes de Jesus subir ao céu, falou sobre a vinda do Espírito Santo e a


respeito do que Ele realizaria com a Igreja. Uma dessas realizações era
a de glorifica-lo: "Ele me glorificará..." (Jo 16.14). Isso nos mostra que o
Espírito Santo não só é a fonte do louvor a Jesus, como também o que
nos impulsiona a louva-lo. Por isso a Bíblia afirma que ninguém exalta a
Jesus sem a ajuda do Espírito Santo (1Co. 12.3). Uma outra fonte do
louvor é a Bíblia Sagrada, pela qual aprendemos a louvar e, através da
qual, somos incentivados a adorar a Deus em espírito e em verdade (Jo
4.24). Nela aprendemos que Deus gosta de ser louvado com
instrumentos e com danças, pois isso expressa a alegria do seu povo
(Sl. 150). Todos os seres vivos e toda a natureza devem adorar o
Altíssimo (Sl. 148; 150.6), e devemos louva-lo durante toda a nossa
existência (Sl. 146. 2).

A Bíblia nos apresenta, também, os objetivos do louvor, que são o


adorar, o engrandecer e o enaltecer a Deus, atos que não resultam da
intelectualidade, mas de uma ação que nasce no espírito e se baseia na
verdade de Deus (Jó 4.24). Essa adoração se baseia na essência de
Deus (o que Ele é) e não naquilo que podemos receber dEle em troca do
nosso louvor. Foi exatamente isso que Jó fez: adorou sem querer nada
em troca, e em seu louvor reconheceu o direito do Altíssimo de realizar
sua vontade.

A Teologia do Louvor

O louvor bibliocêntrico exalta a essência do Altíssimo e suas


características. Jó sabia dessa verdade, por isso sua história está repleta
de revelações sobre o Todo-Poderoso, pois o louvor que emanava de
seus lábios era centrado na essência e naquilo que Deus tem de mais
sublime. afirmar, com isso, que o louvor tem um conteúdo, uma Teologia,
e deve expressar algo de Deus, e para que isso seja possível é
necessário que o adorador conheça o Senhor, seus atos, suas
qualidades. Isso é resultado do estudo sobre Deus na Bíblia Sagrada,
pois é por meio dela que conhecemos as características e os atos
divinos, e esse conhecimento sublimará a nossa adoração a Deus.

Em toda a Bíblia Sagrada encontramos ações e características de Deus,


as quais podem ser utilizadas em nosso louvor. Porém, o livro que mais
nos auxilia nessa área é o livro de Salmos. Em seus salmos nós
encontramos as razões do louvor, seu direcionamento e sua Teologia. O
Salmo 23, por exemplo, informa-nos que o Senhor é o nosso grande
pastor, e com isso o salmista louva o Criador pelo seu cuidado. O Salmo
93 exalta o reinado e o domínio do Todo-Poderoso, e o Salmo 100 nos
convida a adorar o Altíssimo com júbilo, e nos apresenta as razões para
essa adoração: Ele é Deus e nos fez povo seu; Ele é bom, o seu amor é
eterno e a sua fidelidade não tem fim. Essa característica do louvor, em
Salmos - a de expressar características divinas - está presente no livro
de Jó, e isso é impressionante e admirador, pois Salmos foi escrito
milhares de anos depois, mostrando que o maestro do louvor (O Espírito
Santo) sempre esteve atuante, levando seu povo a adorar a Deus.

As características do louvor de Salmos estão presentes em Jó, nos seus


42 capítulos. Porém, destacaremos o capítulo nove, pois encontramos
nele um dos mais profundos conteúdos teológicos para o louvor em toda
a Bíblia. Os versículos 2 e 3 enaltecem a perfeição das ações divina, de
forma que os mortais não podem se justificar diante dele, e se Ele fizer
aos homens mil perguntas, eles não serão capazes de responder uma
sequer. No verso 4, Jó engrandece a sabedoria e a força de Deus, e
tudo isso em meio à opressão psicológica de seus amigos. No versículo
5, ao afirmar que "Ele é o que transporta as montanhas", Jó exalta a
capacidade de remover obstáculos. No versículo 6, Deus é engrandecido
como o único que tem domínio sobre toda a terra, e no verso 8, o Criador
é apresentado como auto-suficiente: "Ele sozinho estende os céus e
anda sobre as ondas do mar". Quando chegamos ao versículo 10,
encontramos o ápice do louvor ao Senhor, pois afirma que é impossível
o homem compreender e acompanhar Deus em suas ações e em seu
raciocínio. O próprio Senhor deixou isso claro em Isaías 55:8,9,
mostrando, assim, que há uma distância meteórica entre os nossos
pensamentos e os pensamentos do "Eu Sou".

Observamos, nessas afirmações de adoração, que o louvor de Jó é


Teocêntrico, ou seja, gira em torno de Deus, e, para que o louvor
alcance essa dimensão, é necessário que aqueles que se dispõem a
louvar o Rei dos reis valorizem a Bíblia como base para o louvor e
busquem a unção e a direção do Espírito Santo, pois somente ele pode
aperfeiçoar o nosso louvor, e que saibam que se toda adoração deve
declarar os feitos e a grandiosidade do Altíssimo, fora disso ela perde o
significado e a eficácia.

O LOUVOR VERDADEIRO TEM:

FONTES: A Palavra de Deus e o Espírito Santo.

OBJETIVOS: Enaltecer o Altíssimo apresentando suas ações.

TEOLOGIA: A mensagem do louvor deve declarar os feitos e a


grandiosidade do Eterno…

O Louvor em Espírito e em Verdade

Em João 4, ao falar com a mulher samaritana, Jesus lhe disse: "Mas vem
a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai
em espirito e em verdade, pois o Pai procura a tais que assim o adorem.
Deus Espirito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e
em verdade" (vs. 23-24). Encontramos, neste texto, o valor que o Pai dá
ao seu louvor, a tal ponto de se empenhar em procurar pessoas
dispostas a engrandecê-lo. As características que Ele requer desses
adoradores é que eles O exaltem em espírito e em verdade. Isto significa
que o louvor autêntico nasce do íntimo e independe de incentivos
externos, como, por exemplo, música, ritmo, dança etc. Essas ações
apenas expressam a cultura humana e o júbilo dos crentes em Cristo, e
são importantes para o louvor congregacional, mas elas não são a
essência do louvor. Com isto, queremos dizer que o louvor deve existir
todos os dias, o dia todo, em todos os locais, tenha música ou não, pois
ele se expressa nos atos dos justos, quando esses perdoam o irmão,
rejeitam o pecado, auxiliam o caído, rejeitam falar mal de outrem e falam
sobre as características de Deus para as pessoas.

Foi exatamente isso que aconteceu com Jó: adorou a Deus, mesmo sem
instrumento e sem estar na congregação. Uma outra característica que o
Pai procura nos seus adoradores é a verdade, que vem do grego
Aletheia, significando aquilo que é autêntico e claro. Isto indica que o
louvor a Deus deve ser puro e sincero. Neste caso, podemos afirmar que
se não houver essas características, os hinos nas Igrejas não passam de
meras músicas que não sensibilizam o Altíssimo.

Diante das verdades aqui apresentadas, podemos concluir que, em Jó,


encontramos riquezas teológicas sobre a fé, o louvor e o conhecimento
de Deus, o que, sem o sofrimento de Jó, seriam informações que, para o
estudante de Teologia, não teriam o valor que hoje é dado a elas. Assim,
é importante que todo estudante da Bíblia olhe o livro de Jó não somente
sob o ponto de vista do sofrimento, mas com o objetivo de entender
como o Pai das luzes é apresentado nesse livro. O entendimento só se
tornará claro se analisarmos, minuciosamente, as ações e reações de Jó
diante da crise e das críticas.

CAPÍTULO 5

A Soberania Divina

Neste capítulo, analisaremos os capítulos 38 a 42 de Jó, nos quais estão


registrados o encontro entre Deus e seu servo, e a vitória de Jó. Na
análise, comentaremos sobre o resultado do sofrimento na vida do justo e
estudaremos o significado teológico das perguntas que o Cria dor fez a Jó
antes de restaurar sua saúde e seus bens, e abordaremos a
grandiosidade do Altíssimo, a qual nos é revelada nesses capítulos.

Os Segredos do Encontro com Deus

O maior desejo de Jó era se encontrar com Deus para fazer-lhe algumas


perguntas sobre a razão de tamanho sofrimento (Jó 9.33 a 10.2; 13.3).
Esse encontro fora profetizado pelo próprio patriarca, em Jó 19.25-27:

Eu sei que o meu Redentor vive e que por fim se levantará sobre a terra.
E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne, verei a
Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, com meus próprios olhos, eu, e não
outros.
Isso aconteceu da forma mais inesperada possível: o Senhor respondeu
a Jó do meio de um redemoinho (Jó 38.1). Num primeiro momento, ao
levantar os olhos, ele poderia imaginar o pior, mas o relato sobre esse
momento mostra segredos de Deus, os quais surpreendem mais sábios
dos crentes.

O primeiro segredo está na ação de Deus ao ir até seu servo. Isto revela
algo interessantíssimo sobre o Criador. Ele é o ser mais humilde do
universo (Is.57:15). Esta é uma das maiores revelações do Altíssimo,
pois, mesmo sendo o Todo-Poderoso, Ele tem a humildade de trocar o
trono da sua glória para se encontrar com um homem moribundo. Um
outro ponto a ser destacado no texto sobre o Senhor é o fato de Ele ter
escolhido um redemoinho para se revelar ao seu servo (fenómeno da
natureza que geralmente traz destruição, o que menos servo de Deus
precisava naquele momento, pois já sofrera escárnio, solidão, desprezo e
perdas). Isto nos mostra que as manifestações de Deus não estão em
conformidade com os nossos padrões, pensamentos, costumes e nossas
culturas. Por isso, precisamos entender que não podemos exigir que
Deus atue de acordo com os nossos padrões e não julgá-Lo de acordo
com os nossos pontos de vista, pois Ele transcende o ser humano em
sua forma de agir, e por isso o homem natural não compreender as
coisas do Espirito, pois lhe parecem loucura (1Co.2.14). Quando veio a
Jó, em meio à tempestade (16-40.6) Ele estava querendo mostrar que
trabalha na destruição e dela faz surgir ordem. Um exemplo disso está
em Gn. 1.1,2, quando revela que o Espírito Santo se movia na face do
abismo (a terra que não tinha ordem), e o resultado desse mover foi a
criação que conhecemos hoje. Um outro texto que reforça essa verdade é
Naum 1.3. O qual mostra que o Eterno tem caminhos especiais em meio
à destruição.

Uma outra surpresa que o Senhor dá a Jó (e a todos que leem livro) é o


fato de Deus não responder a nenhum dos questionamentos de Jó, mas,
em vez disso, fazer-lhe 71 perguntas. Isto deixa claro que o Altíssimo
nem sempre responde aos questionamentos que dirigimos a Ele, pois seu
compromisso não é com nossas perguntas, mas com a revelação de sua
Glória e do Seu poder, e foi exatamente isso que aconteceu nesse
encontro, pois, nas perguntas feitas, encontramos revelações sobre o
Todo-Poderoso que não se encontram em nenhuma outra parte das
Escrituras Sagradas. O objetivo dessas perguntas não foi, como muitos
pensam, criticar ou repreender Jó - ele sofrera demais criticado -, mas
revelar mistérios de Deus que Jó desconhecia, como, por exemplo, seu
profundo e elevado conhecimento da terra, dos animais, a total
dependência, que a criação tem do seu cuidado. Nesses
questionamentos, o Altíssimo enfatiza a sua presença em toda a terra e
em todo o universo, Ele revela que onde há uma erva, ali Ele está com
seu cuidado, com isso, Jeová mostrava ao seu servo que ele dependia,
diariamente, do seu cuidado.

O Caráter Teológico das Perguntas Feitas por Deus a Jó

Como já comentamos, as 71 perguntas revelam grandiosidades do


Criador. Na primeira, em Jó 38.2, Deus pergunta: "Quem é esse que
escurece conselho com palavras sem conhecimento?". Essa pergunta
tem uma profundeza inimaginável para a maioria dos cristãos, pois revela
a vontade e o controle do Senhor diante de tudo o que acontecera com
Jó. A palavra conselho é traduzida, em algumas versões da Bíblia para
desígnio, com o significado de "intento", "propósito", "plano", "projeto"
(dicionário O Globo). Uma outra palavra que poderia nos ajudar no
entendimento de pensamento divino é Decreto, que, no Velho
Testamento, significa "inclinação, vontade, beneplácito, sentar-se junto
para deliberação (conselho)". Ela aparece em Isaías. 53.10 e em Jr.
23.18,22 A palavra beneplácito (sinônimo de decreto) significa "aprovação
Consentimento". Estas palavras estão de acordo com a mensagem que
Deus queria passar para seu servo, porém a palavra "conselho é mais
indicada para a situação, pois significa "corpo deliberativo superior,
tribunal; reunião ou assembleia de ministros: reunião de pessoas que
deliberam sobre determinado assunto" (Dicionário O Globo). Dane do
significado em questão, podemos concluir que o Altíssimo estava dizendo
a Jó, que tudo o que acontecera com ele tinha sido aprovado
previamente, pelo conselho celestial e que nada fugira dos planos
divinos. Com a primeira pergunta, Deus estava defendendo a sua
autoridade e sua sabedoria nas decisões sobre os acontecimentos.

Conciliando Jó 38.2 com Jó 1

No capítulo 01 de Jó. vimos que quem apresentou o plano para a


desgraça de Jó foi Satanás. Já, no capítulo 38, Deus diz ao seu servo e
tudo foi realizado pela sua vontade, e isso gera dúvidas na mente de
muitos cristãos, pois eles querem saber quem de fato foi o responsável
pelo plano a Altíssimo ou o Diabo. Essa dúvida é solucionada ao
estudarmos a Onisciência, palavra derivada do latim, ominis (todo) e
scire), que é aquela qualidade da natureza do Eterno, que o permite
conhecer todas as coisas. Em sua pré-ciência (conhecimento
antecipado), o Criador sabe de tudo o que acontecerá, e através da sua
vontade pode aprovar ou não determinado acontecimento.

Não queremos defender, aqui, o determinismo histórico, doutrina que


afirma que o Senhor já determinou tudo o que aconteceria. Este
pensamento é erróneo, pois não leva em consideração o livre arbítrio do
homem. O que desejamos afirmar é que Deus, ao saber das investidas
de Satanás, aprovou antecipadamente o plano em seu conselho. A razão
dessa aprovação é que o Senhor viu a necessidade de um justo que o
louvasse em meio à crise, pois isso O exaltaria e colocaria por terra a
dúvida no mundo espiritual: a de que Ele comprava o louvor dos homens
com bênçãos materiais (Jó 1.9-12).

NO LIVRO DE JÓ APRENDEMOS QUE:

Deus não age de acordo com os padrões humanos.

O Altíssimo não se compromete a responder as nossas perguntas.

O Eterno é o único capaz de ser louvado no sofrimento.

O Senhor aprova até o sofrimento se esse resultar em seu louvor.

Deus Reina na Terra

Em Jó 38.3, o Senhor convida seu servo a responder as perguntas que


se seguiriam: "Agora cinge os teus lombos, como homem. Perguntar-te-ti,
e tu me responderás". A partir desse momento, o que houve, na
realidade, foi uma tempestade de 71 perguntas que não foram
respondidas pelo servo de Deus. Elas se dividem em grupos com temas
específicos e já têm uma resposta natural, pois ninguém, exceto o próprio
Deus, poderia responde-las.

No capítulo 38, versículos 4-7, Deus convida Jó a falar sobre o passado


eterno, desafiando sua memória e inteligência. Com isso, mostra-lhe que
o homem é nada, é finito. No referido texto, o Senhor se apresenta como
o engenheiro arquiteto da terra, pois mediu e conferiu as medidas do
nosso planeta. Por isso Ele conhece a terra milímetro por milímetro. Nos
versos 6 e 7, o Eterno revela algo tremendo: os anjos O acompanhavam
com louvor, no espaço sideral, enquanto Ele lançava os fundamentos da
terra. A mensagem latente na passagem é a seguinte: Jó, enquanto você
não consegue controlar os acontecimentos que sobrevieram sobre você,
Eu controlo a terra na qual você habita. Quem é mais poderoso: eu ou
você?

No capítulo 38:8-11, o Senhor fala sobre os limites que Ele colocou no


mar e que, por isso, ele não invade a porção seca da terra, e, nos
versículos 12-15, Ele pergunta: "Já deste ordens à manhã, ou mostraste à
alva o seu lugar...?" Com isso, o Altíssimo mostra todo o controle que tem
sobre a criação. O que Ele queria, na verdade, era mostrar a Jó que há
uma "mão invisível" por trás de tudo que acontece na natureza.

Logo em seguida, nos versículos 16-24, o Eterno se revela como o único


ser no universo que tem um relacionamento total com suas criaturas e um
conhecimento minucioso a respeito delas. Ele conhece os mananciais do
mar, as portas da morte, a largura da terra, a morada da luz e das trevas,
os depósitos da neve e da saraiva e o caminho do relâmpago. Nesse
texto, começa perguntando: "Entraste nos mananciais do mar, ou
passeastes nos recessos das profundezas?". No versículo 21, o Altíssimo
afirma ao seu servo: "De certo tu o conheces, pois então tu já eras
nascido, e grande é o número dos teus dias". Com isso ele quis mostrar a
limitação de Jó diante de sua infinitude.

Ainda no capítulo 38:25-27, o Criador revela que tem objetivos


específicos em sua criação com a chuva. Isso nos revela que nada, na
terra, existe sem propósito. Nos versículos 28-30, ao perguntar sobre
quem era o pai da chuva e das gotas de orvalho, o Senhor se apresenta
como o gerador da vida na terra, e, nos versículos 31 a 35, Ele enfatiza
seu controle sobre a criação. Para isso, utilizou-se dos seguintes verbos:

poder: "podes atar as cadeias do Sete-estrelo?" (v.31); saber: "sabes as


ordenanças dos céus?" (v.33); ordenar: "Ordenas aos relâmpagos que
saiam e te digam: Eis-nos aqui?" (v.35). Ele ainda utilizou, nesse texto, os
verbos atar, soltar, produzir, guiar, estabelecer, erguer a voz, cobrir-se e
ordenar. Com isso o Senhor reafirmava, de maneira muito enfática, o seu
poder controlador que transcende a compreensão humana, a tal ponto de
os relâmpagos, que têm poder de carbonizar um ser humano, irem à sua
presença e dizerem "eis-nos aqui". Essa verdade enfatiza a participação
total de Deus nos fenômenos da natureza, e derruba por terra o
pensamento deísta que defende a não-participação do Eterno nos
acontecimentos na terra. Neste mesmo capítulo, a fonte da sabedoria e
do conhecimento não ficou fora das perguntas divinas, pois, no capítulo
38:36-37, o Altíssimo pergunta: "Quem pôs a sabedoria no íntimo ou deu
entendimento à mente?". Neste texto, podemos afirmar que Deus é a
fonte da intelectualidade e, com isso, podemos combater as teorias que
excluem o Senhor da criação, pois é impossível a intelectualidade vir de
algo que não tem inteligência, como os gases de onde veio a terra, de
acordo com essas teorias.

NAS 71 PERGUNTAS QUE DEUS FEZ A JÓ, ELE REVELA:

1) SUAS DECISÕES SOBRE O QUE ACONTECERÁ AOS JUSTOS

2) O SEU PODER SOBRE A CRIAÇÃO

3) A SABEDORIA REVELADA EM SUAS CRIATURAS

4) SEU PROPÓSITO COM O SOFRIMENTO

5) SUA TRANSCENDENCIA E INFINITUDE

6) A INTIMIDADE COM SUAS CRIATURAS

7)SEU CONTROLE SOBRE AS SITUAÇÕES ADVERSAS

As últimas perguntas do capítulo 38 estão nos versículos 39-41, nos


quais Deus questiona: "Caças a presa para a leoa e satisfazes a fome
dos filhos dos leões...? Quem prepara aos corvos o seu alimento, quando
os seus pintainhos gritam a Deus e andam vagueando, por não terem o
que comer?" Esses questionamentos chamam a atenção para a provisão
divina às criaturas da terra e mostram que o Todo-Poderoso, além de
criar, conhecer minuciosamente e controlar sua criação, cuida dela e
alimenta os animais.

No capítulo 39 do livro, Deus, por meio de 17 perguntas, enfatiza sua


intimidade total com sua criatura e seu cuidado com os animais, a ponto
de preparar morada para cada um deles. Nesse capítulo, o Eterno dá a
entender que analisa cada ação de suas criaturas, inclusive o parto das
cabras monteses (v. 1). Um dos pontos altos desse capítulo está nos
versículos de 13 a 27, nos quais o Senhor fala da inteligência e da
capacidade que ele deu aos animais. Ele afirma, por exemplo, que privou
a avestruz de entendimento (v. 17) e fala da inteligência do gavião (v.26)
em seu voo. Vemos, portanto, que não há criatura na natureza que não
tenha algo do Todo-Poderoso. Isto nos leva a afirmar que ao que os
cientistas chamam de instinto animal, a Bíblia chama de inteligência
divina em cada criatura. Por causa dela, o elefante consegue encontrar
água, no deserto, com suas patas; o condor voa por entre as árvores, a
centenas de quilómetros por hora, fazendo manobras que nenhum avião
do mundo seria capaz de fazer, e as abelhas conseguem informar a
direção de uma fonte de néctar para seus pares. Tudo isso, há milhares
de anos antes de Cristo, já estava revelado no livro de Jó.

Jó Reconhece sua Insignificância

O capítulo 40 de Jó começa com a pergunta de número 53, e nela Deus


reafirma sua superioridade diante dos mortais: "Quem contende com o
Todo-poderoso, o ensinará? Quem assim argui a Deus, responda a estas
coisas" (v. 2). Após este questionamento, há um parêntese na fala do
Altíssimo, pois Jó, pela primeira vez, se dirige ao Senhor, e, em sua fala,
confessa sua insignificância diante da grandeza do seu Criador, e,
mesmo tendo sido considerado justo, reconhece que é indigno diante do
Eterno: "Eu sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha
boca. Uma vez falei, mas não replicarei; duas vezes, porém não
prosseguirei" (vs. 4,5). Essa ação de Jó nos mostra que, diante da
santidade de Deus, o crente mais fiel se sentirá indigno, pois, ao ver a
perfeição do Eterno, suas falhas se tornarão evidente. Foi exatamente
isso que aconteceu com Isaías ao se declarar impuro depois de ver o
Senhor dos Exércitos assentado sobre seu trono (Isaias, 6). Isso está em
conformidade com a Bíblia, pois ela afirma que nossos atos de justiça são
como trapos de imundícia (Isaias. 64.6).
Após a fala de Jó, o Senhor pontua sua justiça (40.8) e, nos próximos
sete versículos, com o objetivo de mostrar a pequenez humana, o
Altíssimo desafia seu servo a agir como se fosse Deus, e não homem, e
convida-o a adornar-se de glória e honra, a humilhar os soberbos da
terra, a trovejar com voz de Deus: "Então, também eu confessarei a teu
respeito que a tua mão direita te dá vitória". (40.14).
No capítulo 41, o Senhor desafia Jó, na pergunta de número 58, a pescar,
com anzol, o leviatã, um monstro marinho temível por todos os homens,
porque causava destruição por onde passava. Nesse capítulo,
encontramos a pergunta de número 68, que pode ser considerada como
a principal pergunta que Deus fez a Jó. Por meio dela, o Altíssimo revela
sua grandiosidade e majestade, seu poder e domínio, e se apresenta
como o único Deus no universo: "Quem, pois, é capaz de erguer-se
contra mim? Quem primeiro me deu, para que eu haja de retribuir-lhe?
Tudo o que está debaixo do céu é meu" (41.10,11).

ATRAVÉS DO SOFRIMENTO, O JUSTO PODE TER UMA VISÃO


AMPLIADA SOBRE DEUS.

Resultados do Encontro com Deus

Nos capítulos 38 a 41, o Senhor atingiu seu objetivo: mostrar a todos toda
a sua capacidade em controlar situações e todo o seu poder para
executar seus decretos e realizar sua vontade (conselhos), e, no capitulo
42. Ele restaura ao seu servo tudo o que ele perdera. Esse capitulo
revela, de maneira singular, o resultado do encontro que o patriarca teve
com Deus, e quais foram suas reações após as revelações que recebera
do Eterno. No versículo 2, o patriarca reconhece e declara que o Todo-
poderoso tem propósitos com os justos, e que seus planos serão
realizados, independentemente da situação: "Eu sei que tudo podes:
nenhum dos teus planos pode ser impedido!". Logo após esta declaração,
o servo de Deus se refere a uma pergunta feita por Deus: "Quem é
aquele, perguntaste, que sem conhecimento encobre o conselho?", e, em
continuidade, ele diz: certamente falei do que não entendia, coisas
maravilhosas demais para mim, e que eu não compreendia" (v.3).
Percebemos, neste versículo, que Jó estava atento aos questionamentos
divinos e que eles ampliaram sua visão sobre o Criador, a ponto de ele
dizer ao Todo-poderoso: "Com os ouvidos eu ouvira falar de ti, mas agora
os meus olhos te veem" (Jó 42.5). Com isso, ele não queria dizer que não
conhecia Deus antes do sofrimento, mas que a revelação que ele
recebera do Eterno, na adversidade, era muito superior ao seu
conhecimento anterior.

Essa ação do patriarca nos mostra que, diante da majestade do


Altíssimo, a ação natural do homem é se humilhar, pois, a prepotência
dos homens é anulada diante do poder do Eterno. Podemos perceber,
também, com as declarações de Jó, que o sofrimento do justo o levará a
uma visão ampliada sobre o seu Deus. Neste sentido, o sofrimento do
patriarca era instrutivo e não punitivo, como queriam afirmar seus amigos.
Por esta razão eles, obrigados pelo Senhor, humilharam-se e pediram
perdão a Jó pelas palavras que disseram contra ele. Caso contrário,
seriam castigados (Jó 42. 7-8).

DIANTE DA REVELAÇÃO DE DEUS DESCOBRIMOS:

A NOSSA INSIGNIFICÂNCIA DIANTE DA GRANDEZA DE DEUS.

QUE O NOSSO CONHECIMENTO SOBRE DEUS É PEQUENO DIANTE


DE SUA INFINITUDE.

QUE O PERDÃO É O CAMINHO PARA A VITÓRIA.

A Restauração de Jó

Após as perguntas e o reconhecimento de Jó sobre sua pequenez, Deus


lhe restaurou tudo o que ele perdera. Essa restauração se deu de uma
forma inimaginável: no momento em que Jó orava pelos seus amigos que
vieram, ordenados pelo Senhor, pedir perdão ao patriarca: "Mudou o
Senhor a sorte de Jó, quando este orava pelos seus amigos..." (Jó 42.10).
Vemos aqui a grandeza de espírito do servo do Senhor que, em vez de
criticar Elifaz, Bildade e Zofar pelas amarguras que lhe causaram,
intercedeu por eles. Um outro ponto importante que vemos, nessa
passagem, é que o perdão é o caminho traçado pelo Eterno para a
restauração. Sem esta atitude é impossível que a benção do Altíssimo
venha até nós e que sejamos perdoados por Deus (Mt. 6.12).

Depois que Jó perdoou a seus amigos, a Bíblia revela-nos que Deus lhe
restituiu tudo em dobro (Jó 42.10) e lhe restaurou o convívio social (seus
amigos vieram visitá-lo e trouxeram-lhe presentes - 42.11), e o seu estado
foi muitíssimo melhor que o primeiro, pois obteve quatorze mil ovelhas e
seis mil camelos (42.12), teve seu convívio familiar restaurado e gerou as
filhas mais bonitas de toda sua terra (42.13-15). "Depois disto viveu Jó
cento e quarenta anos: viu a seus filhos, e aos filhos de seus filhos" (Jó
42.16).

Concluímos, com tudo o que foi exposto, que quando lemos o livro de Jó,
sob o ponto de vista do louvor ao Eterno e de sua grandiosidade,
aprendemos diversas coisas. Uma delas é que não devemos vivenciar as
circunstâncias da nossa vida, mas sim os objetivos delas. Dessa forma,
teremos uma vida dirigida por propósitos e não seremos infiéis a Deus
diante das crises. Um outro aprendizado que temos é que, quando o
Altíssimo nos revela sua grandeza, todos os nossos questionamentos
perdem o significado. Foi exatamente isso que aconteceu com Jó: ele
deixou de lado todos os seus questionamentos e passou a louvar o
Criador pela sua grandeza. Aprendemos, também, que, quando o Todo
poderoso mostra ao homem quem Ele é, o efeito destruidor do sofrimento
é substituído pela sua presença restauradora.

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