Mito Fundador e Sociedade Autoritária - Marilena Chaui

Como se constrói uma sociedade autoritária?

“Como explicar que sociedades inteiras se submetem a um tirano? Só porque ele tem o
poder das armas? Ele tem um corpo físico igual ao de toda a população. Como ele governa
um país inteiro? Quem deu a ele milhares de olhos com o qual nos espiona, milhares de
ouvidos com os quais nos ouvem, milhares de mãos com as quais ele nos enforca? Fomos
nós que demos a ele esse poder, que não é bélico (de armas), nem contratual, mas é um
poder simbólico. Derrubar o tirano não significa que tenhamos que lutar com ele. Significa
não dar a ele àquilo que ele precisa para estar no poder: nosso corpo, nossas ações e
nossos pensamentos.”

Qual o mito fundador do Brasil?

“E digo fundador e não formador, pois quando os historiadores falam em formação,
referem-se não só a determinações econômicas, sociais e políticas que produzem o
acontecimento histórico, como também pensam em transformação e, portanto, na
continuidade ou na descontinuidade dos acontecimentos percebidos como processos
temporais. Numa palavra, o registro da formação é a história propriamente dita, aí incluídas
suas representações. O mito impõe um vínculo interno com o passado como origem isto é
com o passado que não se assa nunca que se conserva pretendente presente e por isso
mesmo não permite o trabalho da diferença temporal e da compreensão do presente
enquanto tal. um passado imaginário tido como instante originário que se mantém Vivo e
presente no curso do tempo fora da história.” Estas definições de mito fundador foram
retiradas do livro da filósofa brasileira Marilena Chauí. A autora toma mito não apenas no
sentido etimológico de narração pública de feitos lendários da comunidade mas também no
sentido antropológico, no qual essa narrativa é a solução imaginária para tensões conflitos e
contradições que não encontram caminhos para serem resolvidos no nível da realidade
como também na acepção psicanalítica como impulso à repetição de algo imaginário que
cria um bloqueio à percepção da realidade.