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Trabalho de História
Trabalho de História
No domínio das novas fontes de energia, o petróleo teve aplicação industrial a partir da
segunda metade do século XIX, mas não conseguiu destronar o carvão.
No que refere à eletricidade, apesar do seu uso ser ainda limitado na segunda metade do
século XIX, foi ganhando aplicação na iluminação pública e privada, na tração e nos
transportes, e tornou-se num dos setores de grande dinamismo na segunda fase da Revolução
Industrial.
O domínio dos transportes, a partir de meados do século XIX, sofreu uma profunda
transformação, traduzida na conquista do espaço, em velocidade, beneficiando quer do
aperfeiçoamento da máquina a vapor, quer da aplicação da energia elétrica.
O desenvolvimento da locomotiva contribuiu para que, na segunda metade do século XIX, o
comboio se tornasse um importante meio de transporte. O comboio acabou por acelerar a
industrialização, já que a construção de redes de caminho de ferro difundiu-se pela Europa e
pelos Estados Unidos da América, impulsionando a indústria metalúrgica e, sobretudo,a
siderúrgica. O aço permitiu aumentar a resistência dos carris e a capacidade dos vagões, e
acelerou a construção de pontes e de túneis que levaram o caminho de ferro e o comboio a
atravessar vales e montanhas. O caminho de ferro aproximou mercados e consumidores e
promoveu lucros avultados; atraiu grandes investimentos de capitais e contribuiu para o
desenvolvimento da economia. As redes ferroviárias atingiram uma extensão significativa em
pouco menos de meio século.
Em termos económicos, o seu impacto traduziu-se: pela baixa dos preços dos fretes; pela
multiplicação dos contactos e das trocas económicas, sociais e culturais; pela facilidade de
abastecimentos dos mercados nacionais e mundial; por uma nova geografia económica do
mundo; pela criação de novas profissões e pela mobilização de mão de obra.
A geografia da industrialização
A Grã-Bretanha, desde os finais do século XVIII até à década de 1880, assumiu-se como uma
potência industrial hegemónica a nível mundial. Beneficiou também das dificuldades
experimentadas pelos seus mais diretos concorrentes do continente europeu, a França e a
Alemanha. A realização da Exposição Universal de 1851, no Palácio de Cristal, em Londres,
mostrou ao mundo a incontestável superioridade inglesa no domínio da tecnologia industrial,
exibindo com orgulho as suas realizações.
O impacto em Inglaterra, a partir de 1870, da segunda fase da Revolução Industrial dinamizou
a construção dos caminhos de ferro, que imprimiram um novo impulso ao desenvolvimento
industrial. A construção naval continuou a afirmar-se como determinante na sua supremacia.
Assim, durante este período, a Inglaterra procurou acompanhar os novos setores da siderurgia
e da química. A prática do comércio livre favoreceu a colocação dos produtos ingleses, mais
baratos, e, como tal, mais concorrenciais, no mercado externo, e tornou a Inglaterra numa
potência comercial mundial.
A hegemonia industrial inglesa começou a ficar fragilizada, a partir da década de 80, à medida
que a Alemanha e os Estados Unidos iniciaram o seu processo de industrialização de novas
técnicas e na aposta em novos setores produtivos, contribuiu para evidenciar que a indústria
britânica estava obsoleta. As suas máquinas estavam ultrapassadas, estava atrasada na
indústria química e no setor elétrico, e os empresários resistiam às inovações e tinham
dificuldade em se adaptar às exigências do mercado.
França
O mercado nacional unificado formou-se tardiamente, devido, em parte, à instabilidade política;
as desigualdades na distribuição do rendimento eram acentuadas; a população crescia a um
ritmo baixo, havendo dificuldade em encontrar mão de obra para a indústria, num país onde a
agricultura tradicional detinha ainda um papel fundamental.
A industrialização fez-se, a partir das décadas de 1830-40, a par do desenvolvimento dos
caminhos de ferro e, a partir de 1851, assistiu-se a um crescimento industrial mais acelerado. A
indústria têxtil constitui-se como um dos setores de arranque, a sua produção cresceu
significativamente entre 1870 e 1914. A falta de carvão na França levou a que a indústria
siderúrgica se desenvolvesse mais tardiamente. No setor automóvel, desenvolveram-se as
fábricas Peugeot e Renault. A indústria francesa centrou a sua produção nos artigos de luxo
como forma de poder rivalizar no mercado mundial com a Alemanha e a Inglaterra.
Alemanha
A criação do Zollverein, uma união aduaneira entre os Estados alemães contribuiu para o
arranque do desenvolvimento industrial na Alemanha. O desenvolvimento industrial alemão
assentou na indústria pesada, pois possuía recursos naturais em abundância que abasteciam
as indústrias em crescimento. Assistiu-se a um forte impulso industrial nas zonas da Renânia e
da Vestefália, da Alsácia e da Lorena, regiões mineiras, o que fez da Alemanha um dos maiores
produtores mundiais de ferro e de aço. Esta indústria beneficiou também da introdução de
novas técnicas na siderurgia e da construção de altos-fornos, pelo que o seu crescimento foi
significativo. A Alemanha afirmou-se também no setor da indústria química e, a partir de 1870,
tornou-se o país líder neste setor, ultrapassando a Inglaterra e a França, tanto em produção,
como na inovação tecnológica. O desenvolvimento da indústria germânica beneficiou também
da concentração industrial, que permitiu promover a sua competitividade , e da forte
concentração de capitais que impulsionaram a industrialização.
A expansão da industrialização ocorreu com ritmos diferentes, nos diversos países eurpeus,
nos EUA e no Japão.
A industrialização desenvolveu-se no contexto do capitalismo, um sistema económico
caracterizado pela procura do lucro máximo. Os produtos circulavam livremente no mercado
que se tornou mundial, devido ao avanço da industrialização.
No mercado eram fixados e oscilavam de acordo com a oferta e a procura. Criou-se um
verdadeiro mercado mundial: as matérias-primas, os artigos, os serviços, o dinheiro, o capital
investido e as pessoas moviam-se em todas as direções, sem ter em conta fronteiras políticas.
Os negociantes dos países mais industrializados, e que dominavam o comércio mundial,
acompanhavam os preços através de informações telegráficas, compravam onde era mais
barato e vendiam onde podiam obter mais lucro. O mercado estabelecia a competição entre
regiões distantes.
De acordo com os princípios do liberaliismo económico, o mercado livre, determinava os preços
e as condições de troca. Do ponto de vista económico, o liberalismo defendia que eram os
compradores e os vendedores que, através da sua ação individual, determinavam o preço e a
quantidade dos bens a produzir.
Na segunda metade do século XIX através das dinâmicas capitalistas e da livre concorrência,
acreditava-se que era o mercado que se autorregulava. Através do equilíbrio da livre oferta e da
livre procura, determinava-se o que produzir, com vista a reduzir custos e a fazer frente à
concorrência, e para quem produzir. Considerava-se os consumidores e a constituição de
mercados livres, nacionaise internacionais, onde se vendiam e compravam os produtos.
O desenvolvimento industrial generalizado à Europa, aos EUA e ao Japão levou a que
houvesse uma maior circulação de matérias-primas, de mão de obra, de mercadorias e a de
capitais. O mercado, sujeito a esse jogo de oferta e de procura, oscilava entre fases de
expansão e de crise. No entender dos defensores do liberalismo económico, crentes da
autorregulação, as crises serviam como mecanismo naturais, autorreguladores de mercados
desajustados, isto é, marcados pelo desequilíbrio entre a oferta e a procura. As crises
afirmavam-se na prática económica com um elemento que ajustava os interesses dos
produtores e dos consumidores, constituindo-se assim como um regulador automático do
funcionamento do mercado.
Os ciclos económicos foram organizados em três categorias distintas, de acordo com a sua
duração:
• ciclo curto, também definifo como ciclo de Kitchim, com uma duração de três a cinco
anos;
• ciclo médio ou de Juglar, com uma duração de seis a 11 anos, também conhecido
como "ciclo maior"; neste ciclo identificavam-se quatro fases distintas: recuperação,
expansão, depressão e contração;
• ciclo de ondas largas ou de Kondratieff, de tendência longas, marcado por períodos
de expansão e de regressão.
A atividade económica sofreu também variações durante períodos alargados de tempo (trends)
que podiam ser no sentido de crescimento ou no sentido de retração.
Unidade 2
A sociedade industrial urbana
A explosão populacional
O século XIX ficou marcado por fluxos migratórios, quer no interior dos países, quer entre
Estados diferentes ou até entre continentes. As correntes migratórias do século XIX foram de
dois tipos:
- migrações internas, quando se realizavam no interior do próprio país;
- emigração, realizada de um país para outro.
Migrações internas foram favorecidas:
- pelo desenvolvimento industrial em ligação com o crescimento urbano;
- pelas oportunidades de trabalho nas minas, na indústria, na construção civil, no comércio e no
serviço doméstico;
- as migrações internas podiam ser também sazonais, de acordo com o calendário agrícola.
Foram vários os fatores que contribuíram para a emigração:
- as crises económicas cíclicas;
- o desenvolvimento de novos países com os EUA, o Brasil, a Argentina, ou os domínios
coloniais;
- o desenvolvimento das vias férreas e as melhorias técnicas nos transportes, sobretudo no
comboio e no barco a vapor;
- os motivos políticos (vagas revolucionárias) provocaram instabilidade e favoreceram a
emigração (polacos, franceses, alemães);
- a intolerância religiosa levou a que povos perseguidos se refugiassem noutras religiões.
No que se refere à emigração, em termos geográficos e temporais, ocorreram duas grandes
vagas:
- a primeira, entre 1846 e 1880, composta maioritariamente por ingleses, irlandeses, alemães e
escandinavos;
- a segunda, entre 1880 e 1914, constituída por italianos, espanhóis, russos, húngaros, polacos
e outros povos eslavos, num total de 20 milhões de europeus.
A emigração portuguesa aumentou desde a segunda metade do século XIX, até ao ano de
1900.
Fora da Europa, os chineses e os indianos deslocaram-se para a Malásia, Birmânia e Cuba.
A emigração contribuiu para acelarar o dinamismo económico dos países de destino e de
origem (no regresso investiam nos seus países)
Unidade e diversidade da sociedade oitocentista
Foram vários os fatores que fizeram proliferar o setor terciário e as classes médias:
- a especialização dos serviços; a divisão do trabalho, nas diversas áreas económicas, nos
serviços dos escritórios das empresas industriais, dos bancos e do comércio, a complexificação
e burocratização do Estado levaram à criação de novas profissões;
- o desenvolvumento dos cuidados de saúde e do ensino;
- o setor terciário exigiu a constituição de um corpo de empregados, com diversas funções e
categorias que não pertencia nem à alta burguesia nem ao operariado.
Este grupo diversificado formava as classes médias, onde se enquadravam:
- os elementos da média e pequena burguesia, de profissões liberais ligadas às àreas do
comércio, da banca, dos serviços e da administração;
- constituíam um grupo de heterogéneo, com uma fraca consciência de classe e com interesses
muito variados.
Até cerca de 18880, a maioria das classes médias não tiveram um papel político marcante; o
alargamento do direito de voto e do sufrágio universal masculino permitiu-lhes um maior
destaque.
A burguesia do século XIX pautava-se por valores definidos, cultivados e transmitidos no seio
familiar:
- o valor do trabalho e do mérito; a poupança e a virtude; a defesa da propriedade individual e
da livre iniciativa, como forma de permitir alcançar a riqueza;
- os valores da honestidade, da respeitabilidade e da solidariedade; o apoio a obras sociais
através da filantropia; o gosto pelo luxo e pela ostentação contrastava com os valores de
poupança, da sobriedade e simplicidade de espírito burguês;
- para a burguesia, a sua vida de sucesso e de prosperidade era reflexo da sua conduta moral
e fruto dos valores pelos quais se guiava; o seu lugar na sociedade era a prova do seu mérito,
da sua competência, do seu trabalho e do seu espírito de iniciativa;
- o êxito individual assentava na ideia de que o homem se fazia a si próprio (self-made man).
Na família burguesa, os papéis eram rigidamente definidos:
- o homem era o chefe de família, o marido e o pai, o garante da independência económica;
nele residia a autoridade, sendo-lhe devida obdiência. A sua vida dividia-se entre a empresa, o
clube e a família;
- a mulher era a dona de casa, a mãe e a esposa, a quem cabia zelar pelo bem-estar do marido
e da educação dos filhos; cuidava da gestão da casa e dos criados; era-lhe atribuído um
estatuto legal de dependência e de menoridade face ao homem; à mulher cabia organizar as
receções e os eventos sociais da família. fazendo a ligação entre a vida privada e a vida social
pública;
- os filhos eram educados segundo os valores da poupança, da disciplina e do valor do esforço.
A casa burguesa, ampla e sumptuosa, era o local por excelência de concretização da vida
burguesa:
- local confortável, com objetos decorativos, demonstrava a riqueza e o nível de sucesso
alcançado;
- o espaço privado expressava a individualidade do homem de negócios e do chfe de família;
- o gosto burguês procurava a beleza através dos objetos, do mobiliário e da decoração da
casa; eram verdadeiros palácios e palacetes; tinham grandes bibliotecas e ostentavam obras
de arte, contrabalançavam o poder do dinheiro com a dimensão cultural.
A alta burguesia frequentava as estâncias de férias e viajava com frequência; ia ao teatro, à
ópera e às corridas de cavalos; organizava bailes e grandes receções.
As classes médias eram heterogéneas e sem clara consciência de classe. Partilhavam um
conjunto de valores inspirados nos da alta burguesia:
- o conservadorismo e a austeridade moral; o trabalho, o estudo e o conhecimento; o respeito
pelas hierarquias e as convenções socialmente estabelecidas;
- prezavam a ordem e a harmonia social; cultivavam a poupança;
- no domínio público, as classes atribuíam grande importância à reputação e à opinião dos
outros;
- demonstravam sobriedade e respeitabilidade nos atos, no vestuário e no comportamento em
público;
- dispondo de rendimentos modestos, limitavam a vida pública às cerimónias em família, que
eram momentos de grande significado.