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ANÁLISE DE EMPRESAS DO SETOR TÊXTIL DE PEQUENO PORTE E SEU

FORNECIMENTO DE MATÉRIA-PRIMA: UM ESTUDO DE CASO

Dr. Cesar Augusto Della Piazza; Francisco Carlos de Menezes Junior; Gildo Samuel
Pereira; Maira dos Santos de Oliveira; Marcelo Quesada Peres; Nicole Assunção
Costa; Silvana Silva de Morais; Luis Fernando Quintino, Wesley Barbosa.
Faculdade Carlos Drummond de Andrade - FCDA
della_piazza@yahoo.com.br

RESUMO: Com as questões ambientais em evidência torna-se imprescindível que


as empresas repensem seus processos, para reduzir os desperdícios com os
insumos introduzidos na produção. A presente pesquisa tem por objetivo mostrar
como as empresas do setor têxtil de pequeno porte vêm sido afetadas com o
fornecimento de matéria-prima, para isso trazemos um estudo de caso realizado em
uma malharia no segmento de tricô, na qual à empresa utilizou uma estratégia
interna para se adaptar as exigências do mercado. A empresa possui diversos
produtos e o estudo foi realizado com base em um dos produtos. A estratégia
adotada fez com que diminuíssem os atrasos com entrega do produto para o cliente
e uma redução de 14% no valor de cada kg de produto adquirido.

Palavras chave: Indústria têxtil, matéria-prima, redução de desperdícios.

1. INTRODUÇÃO

A competitividade faz parte do cotidiano dos diversos segmentos da indústria


e não seria diferente no setor têxtil, esse segmento no Brasil vem buscando várias
estratégias para continuar concorrendo diante de uma grande parcela dos produtos
asiáticos que querem conquistar esse mercado, nesse contexto às empresas
internas estão se reestruturando com preços, qualidade, redução de desperdícios
gerados no processo, rapidez e qualificação de colaboradores. Na indústria têxtil os
processos iniciam-se nas fibras depois fiação, beneficiamento dos fios, tecelagem,
beneficiamento de tecidos, tingimento, estamparia e acabamento (SANTOS;
GOUVINHA, 2013). O consumo brasileiro de fibras naturais é maior que o de fibras
sintéticas e artificiais e esse baixo consumo tem causado deterioração nos
segmentos de fios e linhas que são as matérias-primas muito utilizadas nas
tecelagens (COSTA; ROCHA, 2009).
Segundo dados do (SINDITÊXTIL-CE; 2012), o Brasil é o quinto maior
produtor mundial de produtos têxteis, também é o quarto maior em vestuário,
também é o único produtor de fibras de viscose de toda a América. Nesta pesquisa
abordaremos uma questão muito importante no que tange a compra de matéria-
prima, apresentando um estudo de caso realizado em uma malharia de tricô, o
estudo foi desenvolvido com base em uma das matérias-primas o fio de viscose
tinto.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Funcionamento da cadeia têxtil de matéria- prima

Segundo dados da (ABDI, 2008) a indústria têxtil em um modo abrangente é


formada por diversos segmentos, onde são interligados entre si, pois ao término de
cada processo seu produto acabado passa a ser matéria-prima para o processo
seguinte, onde fibras têxteis passam a serem transformadas em fios e fios em
tecidos e assim por diante, ou seja, o fluxo têxtil se inicia com o recebimento da
matéria prima fibras têxteis, sendo transformadas em fios e filamentos nas fábricas
de fiação, em seguida são direcionados para as tecelagens onde são
confeccionados os tecidos planos ou encaminhados para as malharias onde são
produzidos os tecidos de malhas conforme mostra a figura a seguir.

Figura 1 - Estrutura da cadeia produtiva têxtil

Fonte: Elaborada pelos autores

Essas peças passam pelo processo de beneficiamento que são operações


que proporcionam ao tecido conforto, durabilidade e características especificas para
finalmente chegar à confecção fazendo o corte e costura podendo tomar a forma de
vestuário, produtos para o lar, revestimentos e componentes para o interior de
automóveis e outros, posteriormente no cliente final.
3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

A empresa estudada é de pequeno porte, situa-se no Bom Retiro região


central de São Paulo, é uma malharia e o seu produto principal são peças em tricô
para o vestuário nacional. Com um histórico de 20 anos de atuação. Passou a
buscar novos métodos e estratégias para se manter no mercado, começou então a
produzir para as grifes, atendendo hoje as 15 maiores grifes do Brasil dentro dos
mais rígidos padrões de qualidade. Atualmente a empresa utiliza diversas matérias-
primas em seus tecimentos de malha retilínea de tricô, sendo os principais fios
puros.

3.1 Dificuldades encontradas

Boa parte da matéria-prima utilizada nas tecelagens no Brasil é importada,


os fornecedores que importam esse material trabalham com quantidades de vendas
e possuem suas cartelas padrões sendo a mesma válida para todas as estações do
ano com poucas opções de cores, sendo no máximo 10. Dessa forma a empresa
tem um lote mínimo de compra ou tem que comprar além do necessário, gerando
estoques. Para os fios de poliésteres tinto em massa alguns fornecedores o mínimo
para comprar são de 300kg por cor outros são a partir de 25kg, demais produtos a
mesma situação e tem-se apenas de um a três fornecedores para cada produto,
essa situação só não é válida para a viscose.
São diversos fornecedores no mercado brasileiro para o fio da viscose cru
sem tingimento e também se tem diversas tinturarias para esse material, para todas
as tinturarias a quantidade mínima para tingir são 100kg, apenas uma empresa no
mercado trabalha com a venda do produto já tinto, sua cartela é ampla com cerca de
30 cores, onde a quantidade mínima de compra são 100kg devido ao tingimento,
cada kg custa R$33,00 e o prazo de entrega de 25 a 30 dias úteis, gerando com
isso um atraso na entrega do produto para o cliente final de 5 a 10 dias. Era desse
fornecedor que a empresa comprava sua viscose.
A empresa estudada produz para um mercado específico que são grifes de
alto padrão, as quais fazem diversos desenvolvimentos com uma média de 3 cores
por modelo e em poucas quantidades. Sendo assim, no final de cada estação a
empresa tinha que tingir diversos lotes com cores diferenciadas, sobrando no seu
estoque de 02 a 30kg de fios de algumas cores, material este que é muito difícil de
ser reaproveitado para outras criações, visto que as cores e tendências variam a
cada estação, o material que sobrava era vendido no mercado por cerca de R$ 8,00
kg, pois os estoques não suportavam tantos restos de materiais, então a viscose
passou então a ser o material mais problemático do processo.

3.2 Demanda dos produtos análise final

A empresa fez um levantamento no período de janeiro a abril durante a


estação de inverno para saber qual produto tinha maior demanda como mostra na
tabela 1, é possível notar que a viscose durante o inverno foi o produto que teve
maior demanda, note também que os preços dos produtos também mudam isso se
dá devido às variações cambiais, já que partes dessas matérias-primas são
importadas.
Tabela 1: Compras de inverno

Fonte: Elaborada pelos autores

Após avaliar que a viscose era o produto que tinha maior demanda e por ser
o produto com mais variedades de cores a empresa fez um levantamento das cores
que foram utilizadas de viscose durante a estação de inverno, conforme pode ser
observado na tabela 2, poucas cores se repetem e de cada cor a empresa teve que
tingir uma barca de 100kg, ou seja, tingiu 2500kg e sua necessidade era apenas
2184kg. Se somado todas as sobras do estoque dá um total de 316 kg o valor total
dessas sobras são de R$ 10.257,00 essas sobras conforme foi mencionado
anteriormente são muito difíceis de serem reutilizadas por conta das variações das
tendências, então elas eram vendidas por R$ 8,00 dessa forma a empresa teve uma
venda dos 316 kg por R$ 2.528,00 e um prejuízo de R$ 7.729,00.

Tabela 2: Cores utilizadas no inverno e sobra de cores

Fonte: Elaborada pelos autores

Foi realizado também junto ao setor de compras quais as quantidades de


fornecedores que a empresa tinha para cada produto, bem como as quantidades
mínimas para comprar, os resultados se encontram na tabela 3. Em relação à
entrega o prazo de até 3 dias dos produtos, sendo poliéster, acetato, rayon e acrílico
é valido quando o fornecedor tem o produto no estoque, quando não há material o
prazo são de 60 dias para entrega do produto, devido a importação. Observe
também que o produto mais abundante é a viscose em estado cru por haver
diversos fornecedores no mercado.

Tabela 3: Quantidade de fornecedores por produto

Fonte: Elaborada pelos autores


A partir de todas as informações que foram levantadas, a empresa
encarregou ao setor de desenvolvimento de produto a realizar a pesquisa de quais
cores seriam tendências para o verão 2015/2016. Após ser feita a análise a empresa
criou sua própria cartela de cores de viscose contendo apenas 8 cores conforme a
tabela 4. A cada estação será feito um estudo de cores para a criação de uma nova
cartela. Essa cartela será apresentada para todos os clientes.

Tabela 4: Cores utilizadas na estação

Fonte: Elaborada pelos autores

O material passou a ser comprado não mais tinto e sim em estado cru para
tingimento, ficando no estoque e conforme forem sendo realizados os pedidos, o
próximo passo é encaminhar para o PCP fazer a programação de tingimento, as
cores serão tintas conforme a demanda, para não gerar desperdícios excessivos..
Os tempos entre a compra da viscose e o tingimento são de 15 dias, metade
do tempo gasto com o antigo fornecedor, eliminando com isso o atraso da entrega
para o cliente devido a falta de material, agora quando ocorre um atraso são cerca
de 1 a 2 dias, não mais por conta do material, mas por alguma outra anomalia. O
preço do fio de viscose cru já incluindo o frete são R$14,00 kg. Para tingir são R$
10,00 kg já incluindo o frete de retirada e entrega. Saindo o valor total de R$24,00
kg. Comparando com o antigo fornecedor a empresa reduziu R$9,00 em cada os kg,
ou seja, uma redução de 14% com o material conforme mostra na tabela a seguir.

Tabela 5: Comparação de preços

Fonte: Elaborada pelos autores

Conforme mostra a tabela 6, na estação de verão a empresa passou a tingir


conforme sua cartela de cores e devido à redução do número de cores da cartela
algumas cores passaram a ter maior demanda. Para a estação de verão foi
necessário tingir 2000 kg e sua necessidade foi de 1960 kg. O valor da quantidade
que sobrou foi de R$ 960,00 com o repasse das sobras de 40 kg o valor foi de R$
320,00 e o prejuízo de R$ 640,00.

Tabela 6: Cores utilizadas no verão e sobras

Fonte: Elaborada pelos autores

Com a nova estratégia a empresa obteve na estação de verão uma redução


de R$ 30.992,00 se comparado à estação de inverno, conforme mostra a tabela 7,
os desperdícios também diminuíram na estação de inverno foram 316 kg no verão
caiu para 40 kg. Vale ressaltar que estamos falando apenas de um tipo de matéria-
prima.
Tabela 7: comparação dos gastos entre as duas estações

Fonte: Elaborada pelos autores

4. CONCLUSÃO

As empresas devem melhorar seu desempenho adotando tecnologias,


estratégias de produção, para competir com mais eficiência diminuindo as
importações aumentando o crescimento no setor. Com a implantação da estratégia e
os resultados alcançados ficou perceptível a vantagem competitiva que a empresa
conseguiu, visto que é um problema que as concorrentes também vêm enfrentando.
Conforme mostra na tabela 5 são 14% de redução, um número bem considerável
em cada kg do material, outra vantagem foi a redução no led time de entrega dos
produtos e também uma quantidade maior de fornecedores para o mesmo produto,
não precisando mais depender apenas de um. Foi observada que a mudança
demorou um tempo para ocorrer por ter sido reduzida à quantidade de
colaboradores, a maioria estavam sobrecarregados de serviços não havendo
pessoas o suficiente para analisar a situação e buscar solução, ocasionando o
prolongamento do problema.

5. REFERÊNCIAS

ABDI, AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL. Panorama


setorial – têxtil e confecção. Série Cadernos da Indústria ABDI .Brasília, 2008.
Disponível em <www.abdi.org.br> Acesso em 13 de setembro de 2015.

ABIT, ASSOCIAÇÃO BRASILIRA DA INDÚSTRIA TÊXTIL E CONFECÇÃO. Câmara


da indústria e comércio de Caxias do Sul. Caxias do Sul-RS 29 de outubro de
2014. Disponível em <www.abit.org.br> Acesso em 26 de agosto de 2015.

CLEMENTINO, M. L.M. A evolução da indústria têxtil no contexto da afirmação


do imperialismo americano. 2012. Disponível em: <www.ub.edu.br >Acesso em 13
de setembro de 2015.

CAUCHICK MIGUEL, Paulo A. Uma reflexão sobre metodologia de pesquisa na


gestão de operações. 2005. Disponível em: <www.simpoi.fgvsp.br> Acesso em 16
de setembro de 2015.

COSTA, A. C. R.; ROCHA, E. R. P. Panorama da cadeia produtiva têxtil e de


confecções e a questão da inovação. 2009. Disponível em <www.bndes.gov.br>
Acesso em 25 de agosto de 2015.

MONTEIRO, Filha D.C.M; CORRÊA, A. Complexo Têxtil 2002. Disponível em


<www.bndes.gov.br> Acesso em 13 de setembro de 2015.

SANTOS, C. M. de C.; GOUVINHAS, R. P. Diagnóstico do processo produtivo do


setor de uma estamparia rotativa em uma indústria têxtil da Grande Natal.
2013. Disponível em <www.abepro.org.br> Acesso em 25 de agosto de 2015.

SINDITÊXTIL CE, Sindicato do Setor Têxtil do Ceará. Setor Têxtil e de confecção


das matérias-primas ao varejo, situação atual perspectivas e agenda de
prioridades. Fortaleza-CE, 14 de setembro de 2012.

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