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Ano 5 • Número 2 • 2017 ISSN: 2318-3675

Opinião do especialista Destaque


Tratamento emergente para as Multimorbidade e manifestações
uveítes não infecciosas extra-articulares na artrite
reumatoide se associam a pior
desfecho clínico

Revisão clínica
Atualização Revisando estratégias de tratamento
na artrite idiopática juvenil
científica
A genética e o risco de
desenvolver espondiloartrites Especial
A estratégia treat to target
na artrite psoriásica
Sumário

Opinião do especialista
Tratamento emergente para as
uveítes não infecciosas
Dr. Francisco Assis de Andrade
4
Destaque
Multimorbidade e manifestações extra-articulares na
artrite reumatoide se associam a pior desfecho clínico
Dr. Ivanio Pereira

9
Revisão clínica
Revisando estratégias de tratamento
na artrite idiopática juvenil
Profa. Dra. Marcia Bandeira
13
Especial
A estratégia treat to target na artrite psoriásica
Dr. Morton Scheinberg

21
Atualização científica
A genética e o risco de desenvolver espondiloartrites
Profa. Dra. Claudia Diniz Lopes Marques

25

Editor Científico: Dr. Ivanio Pereira - CRM-SC 5.081.


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Editorial

Caros colegas reumatologistas,

Iniciamos mais um ano com a revista Reuminds e, para não perdermos o padrão conquistado
nos últimos anos, preparamos um primeiro fascículo excelente. Entre os temas escolhidos
temos um artigo que aborda as novas opções de tratamento nas uveítes não infecciosas, outro
sobre treat to target em artrite psoriásica, e uma revisão sobre genética nas espondiloartrites.
Para finalizar este fascículo ainda há mais dois artigos que valem a pena conferir, um sobre uma
revisão de tratamento da artrite idiopática juvenil e outro sobre comorbidades.

Estou certo que vocês também gostarão desta boa leitura.

Dr. Ivanio Pereira


CRM-SC 5.081.
Professor Doutor de Reumatologia da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul);
Chefe do Núcleo de Reumatologia do Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal
de Santa Cartarina (UFSC).
Opinião do especialista
Dr. Francisco Assis
de Andrade
CRM-RJ 52-57540-8.
Disciplina de Oftalmologia do Centro
de Estudos e Pesquisas Oculistas
Associados (Cepoa), Rio de Janeiro;
Mestre em Doenças Autoimunes Sistêmicas
– Universidade de Barcelona Espanha;
Doutorando em Ciências Médicas –
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Tratamento emergente para


as uveítes não infecciosas
Introdução dos casos evoluam para a cegueira são totalmente diferentes do que em
em países ocidentais.4,5 casos de uveítes não infecciosas.7
As doenças autoimunes ou au-
toinflamatórias oculares podem exis- A incidência e a prevalência va- Os sinais e sintomas mais co-
tir como uma manifestação oftalmo- riam de acordo com sua distribuição muns das uveítes são a diminuição
lógica primária ou estar relacionadas geográfica. Homens e mulheres são da acuidade visual, a dor ocular, a
com uma doença sistêmica definida afetados, de uma forma geral, igual- vermelhidão, a fotofobia e as mos-
em, aproximadamente, 50% dos pa- mente, e a doença pode surgir em cas volantes. A vermelhidão e a dor
cientes que apresentam uveítes.1 qualquer idade, sendo mais comum ocular são, geralmente, observadas
em indivíduos entre 20 e 59 anos em olhos com inflamação aguda
A classificação anatômica é ex-
anterior, mas podem não ser proe-
tremamente útil na diferenciação de idade. As uveítes na infância são
minentes em olhos cronicamente
da camada vascular do olho ou da menos comuns, mas podem causar
inflamados ou naqueles em que a
úvea em suas partes anterior (íris perda da visão em casos severos e de
inflamação está confinada apenas
e corpo ciliar), intermediária (pars longo tempo de duração.6
no segmento posterior. Com cro-
plana e humor vítreo), posterior Os pacientes com uveíte devem nicidade e gravidade variáveis, a
(retina e coroide) e pan-uveíte (Fi- ser avaliados criteriosamente, para uveíte pode causar complicações e
gura 1).2 ser estabelecido um diagnóstico afas- manifestar catarata, glaucoma, cera-
Em relação à incidência, acomete tando as de origens infecciosas, neu- topatia em faixa, hifema, hemorra-
de 17 a 52 casos por 100.000 habi- rológicas primárias ou de neoplasias gia vítrea, edema macular cistoide,
tantes-ano3 e estima-se que 10 a 15 malignas, nas quais os tratamentos descolamento de retina, isquemia

4
As uveítes não
Zônula Vítreo infecciosas podem
estar associadas
Corpo ciliar
Íris Coroide com doenças
Câmara
anterior
Retina
sistêmicas como
Artéria
Pupila as espondiloartrites
Córnea
Cristalino
relacionadas
Nervo
Filme lacrimal óptico ao HLA-B27, a
doença inflamatória
Esclera
Veia
intestinal, artrite
idiopática juvenil,
Músculo extraocular
doença de Behçet
Adaptada de Andrade FA et al., 2016.2
Figura 1. Imagem esquemática de um corte coronal de um olho e sarcoidose
humano descrevendo a túnica fibrótica/anterior (córnea e esclera), a
túnica vascular/intermediária (íris, corpo ciliar e coroide) e a túnica
neurossensorial/posteior (retina) (reproduzida com autorização).

retiniana, atrofia óptica, dor ocular sistêmicas como as espondiloartrites


crônica e cegueira.8 relacionadas ao HLA-B27, a doença
As uveítes não infecciosas são inflamatória intestinal, artrite idio-
um grupo de doenças caracterizadas pática juvenil, doença de Behçet e
pela inflamação intraocular imuno- sarcoidose.11
mediada, envolvendo mediadores
químicos que resultam em dilata- Tratamento
ção vascular (congestão ou injeção convencional das
dos vasos da conjuntiva), aumento uveítes não infecciosas
da permeabilidade vascular (flare) e Para as uveítes não infecciosas,
quimiotaxia com células no humor o controle da inflamação é a chave
aquoso e vítreo. A citocina pró-in- para o sucesso do tratamento. Ge-
flamatória, fator de necrose tumo- ralmente se utiliza uma abordagem
ral-alfa (TNF-α), desempenha um escalonada no tratamento que inclui
papel fundamental na inflamação, corticoides locais, sistêmicos e imu-
apresentando-se aumentada em ní- nossupressores.12
vel sérico e no humor aquoso.9,10 Os corticoides tópicos são ge-
As uveítes não infecciosas po- ralmente o tratamento de escolha
dem estar associadas com doenças inicial para a uveíte anterior, mas

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A terapia biológica não são eficazes para a inflamação
do segmento posterior. A terapêu-
preconiza-se o início do uso dos
imunomoduladores.13
pode ser uma tica local inclui injeções periocu- Os medicamentos imunomo-
lares, intravítreas e de implantes
alternativa para de corticoides e pode ser utilizada
duladores sistêmicos utilizados para
condições inflamatórias oculares in-
pacientes com em pacientes com inflamação do cluem os agentes imunossupressores
segmento posterior, especialmente convencionais e os modificadores
resposta inadequada naqueles com envolvimento mo- da resposta biológica. Exemplos de
ou intolerância nocular. As terapias tópicas e locais
aumentam o risco de glaucoma e
agentes imunossupressores sistêmi-
cos convencionais utilizados para
à imunoterapia catarata. Os corticoides sistêmicos as uveítes e seus mecanismos de
são, frequentemente, o pilar da tera-
convencional e pia para uveítes posteriores e, em par-
ação estão listados na tabela 1. Es-
ses agentes incluem antimetabólitos,
nos casos de ticular, quando a uveíte afeta ambos inibidores da sinalização de células T
os olhos. Mesmo sendo o principal e agentes alquilantes.14 Uma vez que
manifestação grave da suporte, os efeitos adversos res- podem, potencialmente, causar efei-
doença com risco de tringem seu uso a longo prazo nas
formas intermediárias, posteriores
tos secundários graves, os pacientes
devem ser monitorados de perto por
baixa visual irreversível ou pan-uveíticas e, nesses casos, profissionais experientes.

Tabela 1. Agentes imunossupressores sistêmicos convencionais utilizados para as uveítes e seus mecanismos de ação

Imunossupressores sistêmicos
Uveítes não infecciosas
Medicamento Mecanismo de ação Dosagem Início da ação
Antimetabólitos

7,5-25 mg/semana
Metotrexato Inibe a di-hidrofolato redutase 2-12 semanas
VO, SC, IM

Azatioprina Inibe o metabolismo das purinas 1-4 mg/kg/dia VO 4-12 semanas

Inibe a inosina monofosfato 500-1.500 mg VO,


Micofenolato de mofetila 2-12 semanas
desidrogenase 2x/dia

Inibe a di-hidro-orotato 100 mg VO (3 dias)


Leflunomida 2 semanas
desidrogenase 20 mg VO (manutenção)

Sulfassalazina (SSZ) Inibe a síntese de prostaglandinas 3-4 g/dia 4-12 semanas

Inibidores de células T

Ciclosporina Inibe as células T 2,5-10 mg/kg/dia VO 2-6 semanas

Tacrolimo Inibe as células T 0,15-0,3 mg/kg/dia VO


Agentes alquilantes

Clorambucila Inibe o ácido nucleico 0,1-0,2 mg/kg/dia 4-12 semanas

Ciclofosfamida Inibe o ácido nucleico 2-3 mg/kg/dia 2-8 semanas

Adaptada de Jabs DA et al., 2000.13


VO: via oral; SC: subcutâneo; IM: intramuscular.

6
Terapia biológica nas senvolvidos e aprovados para tratar
No ensaio
uveítes não infecciosas doenças inflamatórias sistêmicas (ar-
Os modificadores da resposta
trite idiopática juvenil, espondilite multicêntrico,
anquilosante, psoríase, artrite psoriá-
biológica, ou agentes biológicos, são
sica, doença inflamatória intestinal e duplo-cego,
medicações relativamente novas e uti-
lizadas para o tratamento das uveítes
artrite reumatoide) ou para prevenir a
rejeição nos transplantes de órgãos.16
randomizado
não infecciosas. Define-se um medica-
mento biológico como uma medica-
Os biológicos mais estudados e controlado
são os anti-TNF-α e na tabela 2 são
ção que é fabricada através da tecno-
citados exemplos, estrutura química, VISUAL I, o
logia do DNA recombinante e que é
desenhada para ser eficaz baseada na
indicação e via de administração.
adalimumabe
compreensão molecular da patogê- Recentemente, o adalimumabe
nese da doença. Os agentes biológi- recebeu a aprovação da US Food and reduziu o risco
Drug Administration (FDA) para
cos incluem anticorpos monoclonais
tratar as uveítes não infecciosas (in- de falência ao
(quiméricos e humanizados), proteína
solúvel de fusão ao receptor, citocinas
termediária, posterior e pan-uveíte).
Os ensaios clínicos VISUAL I e
tratamento em
próprias (interferons) e antagonistas
naturais de citocinas. A terapia bio-
VISUAL II utilizaram 80 mg como 50% comparado
dose inicial, seguidos de 40 mg na
lógica pode ser uma alternativa para
semana 1 e depois 40 mg a cada 14 ao placebo nos
pacientes com resposta inadequada ou
intolerância à imunoterapia conven-
dias, comparando-se ao grupo pla-
cebo. Todos os pacientes receberam
pacientes com
cional e nos casos de manifestação gra-
ve da doença com risco de baixa visual
uma dose padronizada de 60 mg/dia doença ativa
de prednisona no início do ensaio,
irreversível.15 após a qual foi seguido um crono-
Os agentes biológicos foram de- grama de redução gradativa.

Tabela 2. Exemplo dos biológicos mais estudados com estrutura química, indicação e via de administração

Biológicos (anti-TNF-α)

Via de
Medicamento Estrutura química Indicação
administração

Adalimumabe Anticorpo monoclonal humano AR, AP, EpA, DII, AIJ, HS, PsO e uveítes SC

Infliximabe Anticorpo monoclonal quimérico AR, EA, PsO, AP, DII EV

Golimumabe Anticorpo monoclonal humano AR, AP, EA SC

Anticorpo humanizado conjugado


Certolizumabe pegol AR, AP, EpA, DII SC
ao polietilenogligol (PEG)

Etanercepte Proteína de fusão ao receptor AR, AIJ, AP, EpA, PsO SC

AR: artrite reumatoide; AP: artrite psoriásica; EpA: espondiloartrite axial; DII: doença inflamatória intestinal; AIJ: artrite idiopática juvenil;
SC: subcutânea; EV: endovenosa; EA: espondilite anquilosante; HS: hidradenite supurativa; PsO: psoríase.17-21

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Discussão zado e controlado VISUAL I, o ada- O adalimumabe foi bem tolera-
Os achados mostraram que o ada- limumabe reduziu o risco de falência do nessas populações e seu perfil de
limumabe reduziu, significativamente, ao tratamento em 50% comparado segurança manteve-se como o co-
o risco de reativação uveítica ou perda ao placebo nos pacientes com doen- nhecido em outras indicações. Em
da acuidade visual em comparação ao ça ativa. Tanto no VISUAL I (doença conclusão, é uma opção terapêutica
placebo. Os resultados de eficácia, do ativa) quanto no VISUAL II (doença eficaz e segura para pacientes com
presente ensaio, estavam de acordo inativa) o adalimumabe reduziu o ris- uveíte não infecciosa, incluindo
com os estudos anteriores. No ensaio co de falha e aumentou o tempo até a aqueles com doença refratária a tra-
multicêntrico, duplo-cego, randomi- falha do tratamento.22,23 tamentos anteriores.22,23

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8
Destaque
Dr. Ivanio Pereira
CRM-SC 5.081.
Professor Doutor em Reumatologia da
Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul);
Chefe do Serviço de Reumatologia do Hospital
Universitário Polydoro Ernani de São Thiago da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Multimorbidade e
manifestações
extra-articulares na artrite
reumatoide se associam
a pior desfecho clínico

A
tualmente se tem assistido incluindo amiloidose, serosite, es- maior solicitação de tomografia
a uma mudança da gravi- clerite, nódulos reumatoides, sín- computadorizada de tórax e provas
dade dos pacientes com drome de Felty e vasculite.1 A única de função pulmonar em pacientes
artrite reumatoide (AR), manifestação extra-articular da AR com expressão subclínica de com-
com menor necessidade de interna- que a incidência não está reduzindo prometimento pulmonar.2-4
ção hospitalar, menor necessidade é o envolvimento pulmonar, porém A mudança da expressão e da
de cirurgias de colocação de próte- discute-se que isso possa ser devido gravidade dos pacientes com AR
ses articulares, e menor ocorrência a maior chance de reconhecimento pode estar associada à otimização
de manifestações extra-articulares, dessa complicação atualmente, pela do tratamento desses pacientes,

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A mudança da com a utilização das drogas mo-
dificadoras do curso da doença
Outras neoplasias, como linfoma
e neoplasias de pele do tipo não
expressão e da (DMCD) biológicas e mudanças melanoma, são mais frequentes.
na estratégia de tratamento, com Por outro lado, câncer de cólon e
gravidade dos maiores precocidade e agressivi- mama são menos frequentes nessa
pacientes com AR dade, e troca mais frequente das
medicações, buscando, sempre que
população.9
É importante observar que a
pode estar associada possível, a remissão clínica.1 utilização das DMCD biológicas da
Além das manifestações extra- classe antifator de necrose tumoral
à otimização do -articulares, os pacientes com AR (anti-TNF) não determina aumen-
tratamento desses apresentam cerca de 1,6 vez mais to da chance de se ter câncer, em
comparação aos pacientes com AR
chance de terem doenças associa-
pacientes, com a das, ou comorbidades, como hiper- em uso de DMCD convencional
tensão arterial sistêmica, diabetes sintético.10-12
utilização das drogas melito (DM) tipo 2, dislipidemia, Quando se avaliam os pacientes
modificadoras do osteoporose e eventos cardiovas- com AR, utilizam-se três medidas
culares. Acredita-se que algumas de avaliação de atividade de doença
curso da doença comorbidades que ocorrem em pa- distintas: os desfechos clínicos rela-
cientes com AR sejam devidas a fa- tados pelo paciente, corresponden-
(DMCD) biológicas tores de risco comuns às diferentes tes à sigla PRO (do inglês patient
e mudanças na condições, o que inclui tabagismo, reported outcomes), os desfechos ob-
servados pelo médico e os parâme-
obesidade e estilo de vida seden-
estratégia de tário. Assim, cerca de dois terços tros laboratoriais que indicam ativi-
dos pacientes com AR têm outras dade de doença, como a velocidade
tratamento, com doenças concomitantes, e esse risco de hemossedimentação (VHS) e a
maiores precocidade é maior naqueles com maior idade, proteína C reativa (PCR). O PRO
constitui-se de informações oriun-
maior tempo de duração da doença
e agressividade, e e maior atividade.5 das dos pacientes, sem interferência
de terceiros, sobre seu estado de
troca mais frequente “Multimorbidade” é um ter-
mo definido como a existência de saúde, suas capacidades funcionais

das medicações, duas ou mais doenças crônicas no


físicas e psicológicas. Algumas fer-
ramentas são utilizadas para quali-
mesmo indivíduo, o que ocorre em
buscando, sempre cerca de 25% da população geral.6
ficar e quantificar esses desfechos,
como o health assessment question-
que possível, a Em pacientes com AR a multimor-
bidade é um forte preditor de mor-
naire disability index (HAQ-DI),
ou questionário de avaliação de saú-
remissão clínica talidade.7,8
de, o 12-item short-form health sur-
As principais causas de morte vey (SF-12), o short-form 6 dimen-
nos pacientes com AR são doenças sions (SF-6D), a avaliação global
cardiovasculares, seguidas por neo- do paciente, escala analógica visual
plasias, infecções e doença pulmo- (EAV) de dor, fadiga, atividade de
nar.7 doença, saúde em geral e tempo de
A AR se associa a maior inci- rigidez matinal. Estudos demons-
dência de alguns tipos de câncer, tram que a presença de multimor-
especialmente aqueles relacionados bidades em pacientes com AR in-
ao tabagismo, como o de pulmão. terfere nos desfechos relatados pelo

10
paciente (PRO), especialmente na
avaliação global da doença pelo pa-
do número maior de comorbida-
des com maior valor do DAS28.19
As principais
ciente, sendo que um estudo mos- O registro americano Consortium of causas de morte
trou aumento desse escore de forma Rheumatology Researchers of North
linear de acordo com o número de America (CORRONA) avaliou
nos pacientes com
doenças associadas.13,14 Outros estu-
dos confirmam o impacto negativo
1.548 pacientes com AR que inicia- AR são doenças
ram DMCD biológica e mantiveram
da presença de multimorbidade
seu uso por pelo menos 53 meses. cardiovasculares,
na AR em desfechos importantes,
como qualidade de vida relaciona-
Foi visto que o número crescente de
seguidas por
comorbidades se associou a menor
do à saúde (health-related quality of
life – HRQoL) e função física, in- melhora do clinical disease activity neoplasias,
index (CDAI) e menor chance de se
dependente da presença de menor
alcançar remissão clínica.20
infecções e doença
atividade da doença, ou mesmo re-
missão clínica.14-17 Diante da associação das mul- pulmonar
Um importante estudo multicên- timorbidades em AR com piores
trico que avaliou a presença de comor- desfechos clínicos relatados pelo
bidades em pacientes com AR, chama- paciente, parâmetros laborato-
do COMORA (COMOrbidities in riais, DAS28 e CDAI, torna-se
Rheumatoid Arthritis), mostrou que essencial identificar a presença de
as comorbidades se associam a parâ- comorbidades em AR, tratá-las de
metros de atividade da doença, como a forma adequada e não restringir
contagem de articulações com edema, o tratamento apenas ao quadro
VHS e escore de atividade da doença articular.21 É importante ver que o
em 28 articulações (DAS28). Foram
tratamento da AR pode ter impacto
avaliados 3.920 pacientes com ida-
positivo na comorbidade. Um estu-
de média de 56,27 ± 13,03 anos,
do do registro britânico do uso de
sendo 81,65% do sexo feminino,
biológicos mostrou que o uso de
com duração média da doença
de 7,08 anos e DAS28 de 3,74 ± anti-TNF em pacientes com AR
1,55. Os pacientes com DM tipo reduz a chance de infarto do mio-
2 apresentaram maior contagem cárdio, especialmente naqueles pa-
de articulações com edema e dor, cientes responsivos.22
pior avaliação global pelo paciente Em relação às comorbidades,
e também pelo médico. Da mesma estudos demonstram que pacien-
forma, pacientes com dislipidemia, tes com AR têm sido subtratados
DM tipo 2, hiperlipidemia, doen- no que tange as multimorbidades,
ça cardíaca isquêmica e obesidade e que reumatologistas ficam mais
apresentavam maior DAS28.18 Esse
focados em prescrever os fármacos
estudo está em acordo com outro
antirreumáticos.23
de Tiippana-Kinnunen e colabora-
dores, que num seguimento de 15 Assim, estratégias de tratamento
anos observou que o número de individualizadas devem ser imple-
comorbidades em pacientes com mentadas em pacientes com AR na
AR aumenta ao longo dos anos, e presença de multimorbidades ou de
existe uma associação da presença manifestações extra-articulares.

Ano 5 • Número 2 • 2017 11


Referências
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12
Revisão clínica
Profa. Dra. Marcia Bandeira
CRM-PR 14.162.
Professora de Pediatria da Universidade
Federal do Paraná (UFPR);
Chefe das Residências de Pediatria
e Reumatologia Pediátrica do
Hospital Pequeno Príncipe.

Revisando estratégias
de tratamento na artrite
idiopática juvenil

Introdução (ILAR), com o objetivo de resolver A artrite idiopática juvenil é


o problema da heterogeneidade na a causa mais comum de artrite
A artrite idiopática juvenil (AIJ)
nomenclatura e critérios entre a Eu- crônica na infância, afetando entre
é um grupo heterogêneo de doenças
ropa e a América do Norte.1 1:1.000-1:2.000 crianças.2 Essa con-
que engloba todas as formas de ar-
dição é caracterizada por processo
trite crônica (com duração maior do Os pacientes podem ser classi-
inflamatório articular que além das
que seis semanas) de etiologia des- ficados em sete categorias, levando alterações locais pode levar a longo
conhecida que começam antes dos em consideração o número de arti- prazo a déficit de crescimento, inca-
16 anos de idade, sendo, portanto, culações afetadas durante o início e pacidade e diminuição da qualidade
um diagnóstico de exclusão. A clas- o curso da doença, bem como a pre- de vida, tanto dos pacientes afetados
sificação atualmente utilizada é uma sença de manifestações extra-articu- quanto dos familiares.
proposta da International League lares apresentadas nos primeiros seis Durante muito tempo existia um
of Associations for Rheumatology meses de doença (Tabela 1).1 paradigma na reumatologia de que

Ano 5 • Número 2 • 2017 13


Os pacientes podem
Tabela 1. Características dos tipos de AIJ
ser classificados
em sete categorias,
levando em Frequência Idade de início Sexo

consideração
o número de Artrite sistêmica 4%-17% Toda infância F=M

articulações
afetadas durante Poliartrite FR + 2%-7% Pré-adolescência e F >> M
adolescência
o início e o curso
da doença, bem
Poliartrite FR - 11%-28% Bifásico: 2-4 anos e F >> M
como a presença 6-12 anos

de manifestações
extra-articulares Oligoartrite 27%-56% Pico entre 2 e 4 anos F >>> M

apresentadas nos
primeiros seis Artrite relacionada a entesite 3%-11% Pré-adolescência e M >> F
adolescência
meses de doença1

Artrite psoriásica 2%-11% Bifásico: 2-4 anos e F>M


9-11 anos

Artrite indiferenciada 11%-22%

Adaptada de Ravelli A et al., 2007.1


FR: Fator reumatoide.
80% das crianças com AIJ chegariam > 1,5, e 43,3% tinham doença clinica-
à idade adulta em total remissão, mente ativa.
contudo um estudo conduzido por Diante desses dados, a tera-
Pachmann e Hall3 em 2002 mostrou pêutica da AIJ sofreu grandes
que 42,9% dos adultos com AIJ apre- mudanças na última década, do
sentavam limitações funcionais graves, tratamento tradicional com uso de
medidas através do health assessment anti-inflamatórios não hormonais,
questionnaire (HAQ) com pontuação corticoides, até a introdução de

14
metotrexato e tratamento precoce
com outras drogas modificadoras
tratamento tornar a remissão clínica
uma meta realista para uma proporção
Mesmo com essas
de doença (DMARDs).4 substancial de pacientes.3 medidas, cerca de
Mesmo com essas medidas, cer-
ca de 30% dos pacientes mantêm
A definição de remissão clínica
foi proposta por Wallace et al.7 em
30% dos pacientes
doença ativa, seja por resistência, 2004 e é definida por: mantêm doença
seja por intolerância às DMARDs
convencionais sintéticas, e têm se 1. Nenhuma articulação com artrite ativa.
ativa, seja por
beneficiado do uso de agentes bio- resistência, seja
lógicos, que têm potencial para me- 2. Ausência de febre, rash, serosite,
lhorar a evolução e o prognóstico da esplenomegalia ou adenomegalia
generalizada atribuíveis à AIJ.
por intolerância
doença, além da qualidade de vida
dessas crianças.5
às DMARDs
3. Ausência de uveíte ativa, psoríase ou
Um dos grandes avanços na entesite (a ser definida). convencionais
condução da criança com AIJ foi a
criação de um índice para avaliar a 4. VHS ou PCR normais (se ambos forem sintéticas, e têm
testados, ambos devem ser normais).
resposta ao tratamento. Atualmen- se beneficiado do
te utilizamos o critério pediátrico
validado pelo American College of
5. Avaliação global pelo médico indicando
melhor escore possível (de acordo com uso de agentes
a escala a ser utilizada) para doença
Rheumatology (ACR), conhecido
como ACR Pediatric, no qual seis pa-
inativa. biológicos, que
râmetros são avaliados:6 (1) número têm potencial para
de articulações ativas; (2) número de • Remissão clínica com medicação.
articulações com limitação de movi- O critério para remissão clínica melhorar a evolução
mento; (3) avaliação global do médi- deve ser alcançado por um mí-
nimo de seis meses contínuos
e o prognóstico da
co; (4) avaliação global do paciente ou
dos pais; (5) children’s health assessment enquanto recebendo medicação doença, além da
questionnaire (CHAQ); (6) provas de para ser considerada remissão clí-
atividade inflamatória (velocidade de nica com medicação. qualidade de vida
hemossedimentação [VHS] ou proteí- • Remissão clínica sem medicação.
na C reativa [PCR]). Para preencher os O critério para remissão clínica
critérios ACR Pediatric 30, 50, 70 ou deve ser alcançado por um mí-
90, deve haver melhora de 30%, 50%, nimo de 12 meses contínuos en-
70% ou 90%, respectivamente, em quanto sem qualquer medicação
pelo menos três dos seis parâmetros. antiartrítica para ser considerada
Além disso, para preencher esses crité- remissão clínica sem medicação.
rios, pode haver piora de apenas um Enquanto os objetivos finais no
desses parâmetros em > 30%, porém controle do paciente adulto com ar-
para o reumatologista pediátrico esse trite reumatoide são prevenir ou con-
critério sempre pareceu insuficiente e, trolar dano articular, prevenir a perda
com o advento de novas terapias para de função e diminuir a dor, na AIJ
a AIJ, em especial a introdução de esses objetivos são particularmente
medicamentos biológicos, aumentou importantes, pois a taxa de progres-
significativamente o potencial para o são e o início do comprometimento

Ano 5 • Número 2 • 2017 15


A abordagem funcional podem ser rápidos e o tra- Corticoides
tamento destina-se a induzir remissão As injeções de corticoide intra-
da criança com com a menor toxicidade de medica- -articular (CIA) são amplamente
AIJ é baseada mentos com a esperança de induzir
uma remissão permanente.8
utilizadas no tratamento de crianças
com AIJ, particularmente naquelas
em uma equipe A abordagem da criança com AIJ com oligoartrite, para induzir alívio
rápido de sintomas inflamatórios e
multidisciplinar, é baseada em uma equipe multidis-
para melhora funcional, bem como
ciplinar, composta de um pediatra
composta de reumatologista, oftalmologista, ci-
para evitar a necessidade de terapia
sistêmica regular.11
um pediatra rurgião ortopédico, enfermeiro es-
A estratégia de realização de múl-
pecialista, fisioterapeuta, terapeuta
reumatologista, ocupacional e psicólogo.3 As inter-
tiplas injeções de CIA é utilizada por
alguns reumatologistas pediátricos
oftalmologista, venções não farmacológicas e far-
em crianças com AIJ poliarticular
macológicas, que tanto auxiliam para induzir remissão imediata da
cirurgião ortopédico, o tratamento de pacientes com sinovite, ao mesmo tempo em que
enfermeiro AIJ, são baseadas na apresentação
clínica, na atividade da doença e na
inicia a terapia com drogas modi-
ficadoras da doença (DMARDs)
especialista, classificação da artrite. convencionais sintéticas ou um
agente biológico.11,12
fisioterapeuta, Triancinolona-hexacetonida(TH)
Anti-inflamatórios
terapeuta ocupacional não esteroides é a medicação de escolha na AIJ e,
embora não haja diretrizes estabe-
e psicólogo Anti-inflamatórios não esteroides lecidas para essa prática, a maioria
(AINEs) têm sido tradicionalmente dos reumatologistas limitará a fre-
o principal tratamento para todas as quência de reinjeções a três vezes
formas de AIJ. No entanto, seu uso por ano. Alterações cutâneas atróficas
como monoterapia por mais de dois subcutâneas no local da injeção,
meses é desencorajado se a artrite calcificações periarticulares, sinovite
ainda estiver ativa.9 Os AINEs não induzida por cristal e artrite séptica são
são modificadores da doença, mas complicações potenciais dos CIA.13
apenas medicamentos sintomáticos. A administração de corticoides
Apenas alguns AINEs são aprova- sistêmicos é restrita principalmen-
dos para uso em crianças: os mais te ao manejo das manifestações
comuns são naproxeno, ibuprofeno extra-articulares da artrite sistê-
mica (febre alta que não responde
e indometacina. Eles são geralmen-
aos AINEs, anemia grave, miocar-
te mais bem tolerados por crianças
dite ou pericardite e síndrome de
do que por adultos. A experiência
ativação macrofágica).11 Uma dose
com os inibidores da ciclo-oxigenase elevada de “metilprednisolona” in-
(COX)-2 em crianças é escassa.9,10 travenosa de pulso (10-30 mg/kg/
Meloxicam, um inibidor de COX-1 dia até um máximo de 1 g/dia em
e COX-2, provou ser eficaz e seguro 1-3 dias consecutivos) é eficaz no
em um estudo controlado.8 controle dessas características, mas

16
o efeito é frequentemente de curta ou intolerantes ao MTX.19 Estudos
duração. Pode ser considerado um de extensão a longo prazo da coor-
curso curto de prednisona em bai- te original do ensaio e de vários
xas doses (por exemplo, 0,5 mg/kg/ registros nacionais confirmaram
dia) para poliartrite grave refratária a posteriormente o benefício clínico
outras terapias ou enquanto aguarda sustentado e o perfil de segurança
o efeito terapêutico completo de um aceitável da droga.20 O etanercepte
agente de segunda linha ou biológi- na AIJ demonstrou melhorar a ca-
co recentemente iniciado.14 pacidade funcional e a qualidade de
vida, a velocidade de crescimento e
o estado ósseo e reduzir a progressão
DMARDs convencionais
do dano articular radiográfico.21,22
sintéticas
A quiescência completa da doença
O metotrexato (MTX) é atual-
pode ser alcançada em metade dos
mente o único fármaco aprovado
pacientes.23
adequado para o tratamento “de
O infliximabe, um inibidor de
primeira linha” da AIJ poliarticular,
TNF-α quimérico, não conseguiu
para o qual existem provas científi-
mostrar uma diferença estatistica-
cas de eficácia. O tempo de ação do
mente significativa no seu desfe-
MTX é esperado aos três meses de
cho primário aos três meses num
tratamento e a dose varia de 10 a 15
ensaio controlado com placebo.24
mg/m2/semana.15 Se a resposta ao
No entanto, após um ano a respos-
tratamento for insuficiente, a dose
ta ao infliximabe foi comparável
pode ser aumentada até 20 mg/m2/
à observada com etanercepte. Pa-
semana ou 0,5 mg/kg/semana, res-
radoxalmente, apesar da eficácia se-
pectivamente.4 Em caso de limita-
melhante, os pacientes tratados com
ção significativa da atividade física
3 mg/kg de infliximabe tiveram uma
devido à dor ou à rigidez, corticoi-
maior frequência de eventos adversos
des orais em dose baixa podem ser
graves e autoanticorpos do que aque-
usados ​​para “pontes terapêuticas”.1
les que receberam 6 mg/kg. O infli-
A leflunomida pode ter eficácia
ximabe não é aprovado para uso
e segurança semelhantes às do MTX
em AIJ no Brasil.25,26
e é uma opção alternativa em caso
A eficácia do adalimumabe,
de intolerância.16 No entanto, a ex-
um agente anti-TNF humano re-
periência com este medicamento na
combinante, foi estabelecida num
artrite da infância ainda é limitada.17
ensaio controlado incluindo doen-
tes com AIJ de curso poliarticular
DMARDs biológicas que eram MTX naive, ou expostos
O etanercepte foi o primeiro previamente a MTX, com 94%
agente biológico registrado para uso dos doentes tratados com MTX
em AIJ.18 Sua eficácia em uma do- respondendo na semana 16, de
sagem de 0,8 mg/kg por semana foi acordo com ACR Pedi30, versus
demonstrada em um estudo con- 74% que não receberam MTX
trolado em 69 pacientes refratários concomitante.27

Ano 5 • Número 2 • 2017 17


O adalimumabe é aprovado foi testada em um estudo com 190 sistêmica ativa as citocinas pró-
no Brasil para o tratamento da AIJ pacientes com AIJ poliarticular com -inflamatórias que desempenham
poliarticular, a partir dos 2 anos uma resposta inadequada ou intole- um papel patogênico principal são
de idade, e da artrite relacionada a rância a pelo menos uma DMARD.31 IL-614,35 e IL-1,36 em vez de TNF-α.
entesite, a partir dos 6 anos de idade. Durante o tratamento duplo-cego, fo- Respostas excelentes de pacientes
A dose para ambos subtipos de AIJ ram observadas recidivas da artrite em com o subtipo sistêmico de AIJ ao
é 24 mg/m2, em associação com 53% dos pacientes em placebo versus antagonista do receptor de IL-1
MTX ou em monoterapia para os 20% dos doentes tratados com abata- anacinra têm sido observadas em
pacientes intolerantes ou naqueles cepte (p = 0,0003). Verificou-se que a diferentes estudos.14,35,36 Apesar da
que o uso de MTX é inapropriado.28 eficácia do fármaco era duradoura na eficácia do fármaco no equivalente
Um ensaio clínico com um se- fase de extensão aberta a longo prazo adulto de AIJ sistêmica (doença de
gundo inibidor de TNF humano do ensaio e também foi observada em Still), o anacinra ainda não foi re-
recombinante, golimumabe,29 em doentes que inicialmente não eram gistrado no Brasil para o tratamen-
173 crianças com artrite poliarticu- respondedores.31 O abatacepte tem to da AIJ sistêmica.
lar ativa, apesar da terapêutica com aprovação regulatória no Brasil para Um ensaio duplo-cego, con-
MTX durante pelo menos três me- doentes com AIJ poliarticular com trolado por placebo e canaquinu-
ses, mostrou uma resposta rápida à idade superior a 6 anos à dosagem de mabe, um anticorpo monoclonal
medicação após 16 semanas de tra- 10 mg/kg por via intravenosa na se- contra IL-1β, em crianças com AIJ
tamento aberto, resultando na obten- mana 0,2 e 4 e após a cada 28 dias.32 sistêmica e características sistêmicas
ção de uma resposta ACR Pediatric e Um ensaio controlado randomi- ativas, foi concluído e mostrou boa
o estado de doença inativa em 87,3% zado sobre o inibidor do receptor eficácia e segurança do fármaco.37
e 36,1% dos pacientes, respecti- de IL-6 tocilizumabe em AIJ de O canaquinumabe foi aprovado no
vamente. No entanto, não foram curso poliarticular33 incluiu 188 pa- Brasil para o tratamento da AIJ sis-
observadas diferenças significati- cientes colocados em tocilizumabe a têmica ativa em crianças com idade
vas entre os braços de droga ativa 12 mg/kg se peso menor que 30 kg igual ou superior a 2 anos. A dose
e placebo da semana 16 à 48 entre ou 8 mg/kg se peso maior que recomendada de canaquinumabe
os respondedores ao golimumabe 30 kg. Na segunda parte do estudo, para pacientes com AIJ sistêmica com
na fase aberta, e o objetivo primá- 163 pacientes foram continuados peso copóreo ≥ 7,5 kg é 4 mg/kg (até
rio do ensaio não foi cumprido. O com tocilizumabe ou mudaram para o máximo de 300 mg) administrados
perfil de segurança foi aceitável e as placebo. Reativação da doença ocor- a cada quatro semanas através de in-
injeções foram bem toleradas. Esse reu em 48,1% dos pacientes em pla- jeção subcutânea.38
medicamento ainda não foi aprova- cebo versus 25,6% em tocilizumabe Uma vantagem potencial de ca-
do para uso em AIJ no Brasil.30 (p = 0,0024). Ao final da segunda naquinumabe sobre anacinra, que
O abatacepte é uma proteína parte, 64,6% e 45,1% dos pacien- tem uma meia-vida curta e requer
de fusão solúvel, que compreende tes que receberam tocilizumabe ti- uma injeção diária, é uma meia-vida
a porção extracelular de CTLA4 veram respostas ACR Pedi70 e 90, mais longa, o que permite a admi-
humana e um fragmento da região respectivamente. A infecção foi o nistração em intervalos mais longos
Fc de uma IgG1 humana. A ligação evento adverso grave mais comum (a cada quatro semanas e semanal-
entre o abatacepte e as moléculas (4,9/100 doentes/ano).33
mente, respectivamente).38,39 Uma
CD80/86 evita a sua interação com O tocilizumabe está aprovado no análise retrospectiva de 46 pacien-
o receptor CD28 e, por conseguinte, Brasil para o tratamento da AIJ po- tes que receberam anacinra como
bloqueia o segundo sinal necessário liarticular e da AIJ sistêmica, ambas a terapia de primeira linha levou à
para a ativação das células T.31 partir de 2 anos de idade.34 conclusão de que a introdução da
A eficácia do abatacepte na AIJ Há evidências de que na AIJ terapia anti-IL-1 no início da AIJ

18
sistêmica pode ajudar a prevenir a cilizumabe em pacientes com AIJ articulações afetadas como AIJ po-
artrite refratária.40 Em um estudo refratária sistêmica. Esses achados liarticular ou oligoarticular. A pso-
de coorte prospectivo de 20 pa- foram confirmados em um estudo ríase na própria infância raramente
cientes com AIJ sistêmica de novo duplo-cego controlado de tocilizu- é uma indicação para imunossupres-
aparecimento, foram observadas mabe versus placebo, realizado no sores sistêmicos ou inibidores de
respostas excelentes em quase todos Japão, em pacientes com ou sem TNF. No entanto, pode-se esperar
os pacientes dentro de três meses de manifestações sistêmicas, que mos- uma resposta bem dada das mani-
anacinra como terapia de primeira traram no final da fase duplo-cego festações cutâneas ao MTX, assim
linha. Na maioria dos pacientes que de 12 semanas uma resposta ACR como aos inibidores do TNF.48
responderam, o tratamento pode- Pedi30 mais ausência de febre em
ria ser interrompido em um ano, 85% dos pacientes tratados com to-
mantendo-se a remissão durante o cilizumabe e em 24% dos pacientes Perspectiva futura
seguimento.41 com placebo (p < 0,001).44 A realização de estudos clínicos
Com base nessas observações, bem Estudos anedóticos relataram a em pacientes pediátricos permite o
como em dados de estudos com ani- eficácia do rituximabe, um anticor- progresso no tratamento de crianças
mais, um modelo bifásico de AIJ sis- po monoclonal quimérico humani- com doenças reumáticas e permite
têmica tem sido teorizado. Especula-se zado ao antígeno CD20 dos linfó- ao reumatologista pediátrico tratar a
que o tratamento precoce com pro- citos B, na AIJ sistêmica resistente grande maioria dos seus pacientes de
dutos biológicos pode aproveitar essa severa.45,46 No entanto, até agora as acordo com orientações baseadas em
“janela de oportunidade”, na qual a informações sobre o uso desse agente evidências.
fisiopatologia da doença pode ser alte- são muito limitadas.47 As metas de tratamento devem
rada para prevenir a artrite crônica.42 Uma vez que até agora não exis- incluir a remissão total da doença
Estudos de fase 2 e fase 343 tem ensaios controlados com produ- com o funcionamento físico ideal,
mostraram respostas clínicas im- tos biológicos realizados em doentes que permite às crianças levarem
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bloqueador de receptor de IL-6 to- tratada de acordo com o número de turais articulares.

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20
Especial
Dr. Morton Scheinberg
CRM-SP 14.155.
Clínico e Reumatologista do Hospital
Israelita Albert Einstein;
Diretor do Centro de Pesquisas Clínicas
do Hospital da Associação de Assistência
à Criança Deficiente (AACD);
ph.D. Boston University;
Livre-Docente da Universidade de São Paulo (USP);
Master of the American College of Rheumatology.

A estratégia treat to target


na artrite psoriásica

N
a última década, a estraté- vos de se obter de forma mais eficaz Em 2011, a European League
gia treat to target (T2T), a remissão clínica; ou, quando esta Against Rheumatism (EULAR) de-
ou tratamento ao alvo, tem não for possível, a baixa atividade de senvolveu um grupo de trabalho
sido utilizada como nova doença. Recentemente, a estratégia para avaliar a literatura da estratégia
arma para o tratamento de diversas T2T foi proposta para ser utilizada T2T nas espondiloartrites, incluindo
doenças crônicas. Por exemplo, foi em pacientes portadores de lúpus AP, e os resultados foram variáveis, o
proposta para acompanhamento eritematoso sistêmico, uma con- que levou a EULAR a publicar re-
de pacientes com diabetes melito dição autoimune que, apesar dos comendações para o tratamento de
recebendo insulina diariamente.1 progressos obtidos em sobrevida nos espondiloartrites, incluindo AP, em
A estratégia T2T permite tanto vi- últimos 50 anos, ainda traz consigo que, semelhante à AR, os conceitos
sitas médicas quanto mudança de um risco aumentado de morte quan- de minimal disease activity (MDA) e
tratamentos mais frequentes, com do comparado ao risco da população remissão foram desenvolvidos.5 Um
o objetivo de alcançar a remissão da geral.4 A difusão do método T2T na dos aspectos que diferencia a estraté-
doença de forma mais rápida. 2,3 AR levou os reumatologistas a pro- gia T2T na AR daquela da AP é que
Nas doenças autoimunes, o mé- curar determinar sua possível aplica- na AR o alvo a ser avaliado como res-
todo T2T foi inicialmente proposto ção em outras artrites inflamatórias, posta terapêutica centra na contagem
para ser utilizado em pacientes com sendo a artrite psoriásica (AP) uma de juntas, o disease activity score 28
artrite reumatoide (AR) com objeti- dessas enfermidades. (DAS28). Na AR, esse escore é utili-

Ano 5 • Número 2 • 2017 21


A difusão do zado como principal métrica, embora
existam outras medidas de avaliação.6
avaliados mensalmente apresentaram
melhores resultados em termos de ar-
método T2T Nos artigos usados como referência da trite, pele e avaliações de qualidade de
estratégia T2T na AP, alguns aspectos vida. No acompanhamento radiológi-
na AR levou os não foram bem dimensionados, entre co, pelo menos no período avaliado,
reumatologistas a eles a ausência de um alvo absoluto
como remissão ou MDA em vez de
não foram observadas diferenças entre
os dois grupos (Figura 1).8
procurar determinar redução parcial do número de articu- O estudo TICOPA mostrou be-
lações acometidas. Outra dificulda- nefício no programa T2T em AP
sua possível de com a estratégia T2T em AP é a inicial, semelhante ao demonstrado
ausência de métricas específicas para
aplicação em outros domínios da doença, como é o
por outros estudos em outras artri-
tes inflamatórias. No entanto, nesse
outras artrites caso da pele, da entesite, da dactilite e estudo pacientes com oligoartrite e
da doença na coluna vertebral.5,6 poliartrite foram agrupados, o mes-
inflamatórias, sendo No ano de 2009, foi desenvolvido mo em relação a outras manifestações
a artrite psoriásica o conceito MDA, pelo qual cinco de
sete critérios previamente definidos
não articulares, implicando ser neces-
sário um tempo mais prolongado de
(AP) uma dessas necessitam ser preenchidos. Doença acompanhamento. Outros critérios
em menos uma articulação, inchaço de atividade têm sido propostos em
enfermidades também em menos uma articulação, AP, classificando remissão, baixa,
resultado de presença de atividade no moderada e elevada atividade, mas
psoriasis area severity index (PASI) de 1 ainda precisam ser validados. O di-
ou menor, escala visual de dor abaixo sease activity index for psoriatic arth-
de 15, atividade global de doença abai- ritis (DAPSA) e o modified composite
xo de 20, health assessment questionnaire psoriatic disease activity index (mCP-
(HAQ) abaixo de 0,5, menos do que DAI) levam em consideração que
uma entese dolorosa. A presença ou remissão na AP deve incluir outros
a ausência de dactilite estaria re- domínios além das articulações.8
presentada na avaliação articular.
Em estudos de investigação clínica
foi sugerida a inclusão da physician Conclusões
global assessment (PGA), mas ainda A AP é uma enfermidade com
não se definiu se como critério a ser características heterogêneas, com
incluído ou se para eventualmente graus de atividade inflamatória va-
substituir o PASI.7,8 riáveis. Ao se propor a estratégia
A introdução de MDA na AP foi T2T na AP, nem sempre o grau de
inicialmente feita em um estudo no concordância entre especialistas se-
qual se procurou determinar se os re- ria de cem por cento. A EULAR e o
sultados da terapêutica estariam me- Group for Research and Assesment
lhorando o prognóstico. O estudo of Psoriaisis and Psoriatic Arthritis
TICOPA (TIght COntrol of Psoriatic (GRAPPA) divulgaram recomen-
Arthritis) avaliou 206 pacientes com dações e o possível espaço de cada
doença inicial (menos que seis meses) medicamento. As disease-modifying
e randomizados na razão de 1:1 entre antirheumatic drugs (DMARDs) in-
avaliação mensal ou a cada três meses, cluem metotrexato, leflunomida e
em um estudo de um ano. Pacientes sulfassalazina e, dentre os biológicos,

22
A O estudo TICOPA
mostrou benefício no
programa T2T em AP
inicial, semelhante
ao demonstrado
por outros estudos
em outras artrites
inflamatórias

Figura 1. (A e B) Alterações radiológicas com presença de sacroileíte, e forma avançada


de AP com destruição articular. Arquivo do autor.

há o inibidor da IL-17, inibidores do tico de pacientes portadores de AP,


fator de necrose tumoral (anti-TNF) no entretanto, o tempo que uma
e novos fármacos sintéticos, como é consulta formal deve durar poderá se
o caso do apremilaste e de inibidores prolongar. Assim, na ausência de cál-
da Janus kinase (JAK). Existem dis- culos informatizados, a rotina na prá-
cordâncias nas recomendações quan- tica clínica ainda será um desafio a ser
to à realização da estratégia T2T, se perseguido. Deve-se considerar ainda
realizada por dermatologistas ou reu- a perspectiva de mudança da estratégia
matologistas.9 No momento atual, a T2T com o advento de novos fárma-
exemplo do que acontece na AR, a cos sintéticos, novos alvos terapêuticos
estratégia T2T melhora o prognós- e biossimilares.10,11

Ano 5 • Número 2 • 2017 23


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24
Atualização científica
Profa. Dra. Claudia
Diniz Lopes Marques
CRM-PE 10.979.
Doutora em Saúde Publica pelo Centro
de Pesquisas Aggeu Magalhães, da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) - PE;
Professora Adjunta de Reumatologia da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE);
Membro da Comissão de Espondiloartrites da
Sociedade Brasileira de Reumatologia (2016-2018).

A genética e o risco
de desenvolver
espondiloartrites
Introdução lhante, agregação familiar e associa- casianos, sendo um reflexo direto
O termo espondiloartrite (EpA) ção com a positividade do human da prevalência de positividade do
leukocyte antigen subtipo B*2701- HLA-B27 nas diversas popula-
é utilizado para descrever um gru-
2759 (HLA-B27).1 ções.3,4 Embora a etiologia das EpAs
po de doenças inflamatórias que
apresentam características clínicas O grupo das EpAs é composto ainda não seja totalmente conheci-
comuns como comprometimento pela espondilite anquilosante (EA), da, acredita-se que seja o resultado
inflamatório axial (espondilite e pela artrite psoriásica (APso), pela da associação entre fatores genéticos,
sacroileíte), artrite periférica oli- artrite reativa (ARe), pela artrite/ imunológicos e ambientais. Os estu-
goarticular, dactilite, entesite e ma- espondilite enteropática (relacio- dos genéticos epidemiológicos que
nifestações extra-articulares (uveí- nada com a doença inflamatória documentaram a elevada agregação
te, doença inflamatória intestinal e intestinal) e pela EpA indiferen- familiar dessas doenças forneceram
psoríase). Além dessas manifestações ciada.2 evidências bastante convincentes so-
clínicas, as EpAs compartilham ou- A prevalência das EpAs varia bre a base genética das EpAs.5
tras características: patogênese seme- de 0,2% a 1,6% em adultos cau- Desde a descoberta da associa-

Ano 5 • Número 2 • 2017 25


A prevalência das ção dos genes do sistema HLA com
a EA, no início da década de 1970,
cie humana, os genes do complexo
MHC recebem o nome de sistema
EpAs varia de 0,2% observam-se vários avanços na com- HLA, e têm como principal função
preensão da base genética das EpAs, a apresentação de peptídeos antigê-
a 1,6% em adultos incluindo a identificação de outros nicos para as células T.6
caucasianos, sendo marcadores que também conferem Esses genes têm sido agrupados
suscetibilidade para a doença. O em classes, que se diferenciam pela
um reflexo direto objetivo deste artigo é fazer uma região de localização no cromosso-
da prevalência revisão sobre os principais aspectos mo 6, didaticamente subdividas em
classes I, II e III. Os genes que com-
genéticos nas EpAs.6
de positividade põem as moléculas HLA da classe I
estão situados na porção telomérica
do HLA-B27 Complexo MHC do cromossomo 6, sendo classifica-
– sistema HLA
nas diversas O complexo maior de histo-
dos como HLA-A, HLA-B e HLA-
-C. Os genes de HLA de classe II es-
populações compatilbilidade (MHC, do inglês tão situados na porção centromérica,
major histocompatibility complex) é subdivididos em três regiões maiores:
um conjunto de genes, localizado DR, DQ e DP (Figura 1).1 Os genes
no braço curto do cromossomo 6, de classe III, embora situados dentro
responsável pelo controle da respos- do MHC, não codificam moléculas
ta imune e associado com a susceti- de histocompatilbilidade.6,7
bilidade a várias doenças. Na espé- A principal função do HLA de

Cromossomos 6

Braço longo Braço curto

Centromérico Telomérico
Região
HLA

DP DQ DR C4 C2 HSP TNF B C A

Classe II Classe III Classe I

Figura 1. Representação esquemática do complexo HLA.6,7

26
classe I é transportar os fragmentos Associação das A predisposição
proteicos processados no interior da espondiloartrites
célula, conhecidos como peptídeos, com o HLA-B27 para EA não é
até sua superfície, onde são apresen-
tados às células T CD8 positivas,
A associação entre o HLA-B27 apenas determinada
e as EpAs foi descrita pela primeira
desencadeando uma resposta imune vez em 1973 e desde então é con- geneticamente,
efetora específica.7
As cadeias pesadas do HLA-B27
siderada como um exemplo clássico
e comprovado de associação entre
havendo a influência
são sintetizadas no retículo endo- uma doença humana e um gene de fatores ambientais
plasmático (RE), formando com- HLA.9,10
plexos heterotrímicos com a beta- Atualmente são conhecidos mais
(como uma infecção
-microglobulina (b2m) e peptídeos de cem subtipos de HLA-B27, po- bacteriana) ou de
intracelulares. A formação do com- rém nem todos apresentam o mesmo
plexo facilita o dobramento correto grau de associação com as EpAs. Os
respostas imunes
do MHC, bem como a ligação com subtipos B27:02, 04 e 05 são forte- específicas
a b2m e o processamento do antíge- mente associados com EA, enquanto
no (Figura 2).8 os B27:07 e 03 são associados com

Peptídeo
Domínio α1

Domínio α2

β2microglobulina

Domínio α3

Posição da membrana celular

Figura 2. Estrutura molecular do HLA-B27.8

Ano 5 • Número 2 • 2017 27


Populações com uma menor prevalência em algumas
populações.11,12 Outros alelos HLA-
Brasil, não se conhece a exata pre-
valência do HLA-B27 na população
um percentual -B, como o HLA-B60, B39, B38 e geral.4 No entanto, a frequência de
B40, também têm sido associados positividade em pacientes com EA e
elevado de com a EA.13-15 APso é semelhante àquela de outros
positividade para o O HLA-B27 é o fator genético locais. Um estudo recente realizado
mais importante nas EpAs, sendo em São Paulo demonstrou uma po-
HLA-B27 positivo, observado em mais de 90% dos pa- sitividade de 83% em pacientes com

como no Alaska cientes com EA e em até 50% dos EA, 33% em pacientes com APso e
2,7% em pessoas sem a doença.18
pacientes com outros tipos de EpA.
ou na Noruega, No entanto, menos de 5% dos indi- Diversas hipóteses foram le-
víduos com HLA-B27 positivo na vantadas na tentativa de explicar o
apresentam a população geral desenvolvem EpA. papel do HLA-B27 no desenvol-
prevalência mais Estudos com gêmeos monozigóti- vimento das EpAs. A primeira de-
cos demonstraram uma concordân- las ficou conhecida como teoria
elevada da doença cia de 63% comparada com uma do peptídeo artritogênico, em
concordância em dizigóticos de que a apresentação de peptídeos
27%.16 Mesmo em gêmeos dizigóti- bacterianos artritogênicos pelo
cos concordantes para o HLA-B27, sistema HLA de classe I a células
a concordância para EA foi de ape- T CD8 ativaria células T citotóxi-
nas 27%, enfatizando a importân- cas, levando a uma reação cruzada
cia de outros genes. Esses dados subsequente com peptídeos pró-
indicam que a predisposição para prios. 19 No entanto, essa teoria foi
EA não é apenas determinada ge- questionada quando dois estudos
neticamente, havendo a influência demonstraram que, mesmo na
de fatores ambientais (como uma ausência de linfócitos CD8, ratos
infecção bacteriana) ou de respostas transgênicos HLA-B27-positivos
imunes específicas.17 ainda conseguiam desenvolver ar-
A distribuição geográfica da EA trite. 20,21
reflete claramente a associação do Em seguida, outras duas teo-
HLA-B27 com a doença. Popula- rias alternativas, independentes da
ções com um percentual elevado de apresentação do antígeno, foram
positividade para o HLA-B27 posi- propostas: a dimerização não ca-
tivo, como no Alaska ou na Norue- nônica do HLA22 e a resposta ao
ga, apresentam a prevalência mais HLA-B27 mal dobrado.23,24 Na
elevada da doença. Em países da primeira, a dimerização das molé-
América do Norte, da Europa e na culas HLA-B27, que forma pontes
China, onde as taxas de positividade de dissulfeto na superfície celular,
do HLA-B27 são semelhantes, tam- reconhecidas por receptores espe-
bém existe uma prevalência seme- cíficos em linfócitos natural killer
lhante de EA. Populações com baixa (NK) ou linfócitos T, levaria a uma
frequência de HLA-B27 (como os ativação celular e a uma produção
japoneses, por exemplo) apresentam de mediadores pró-inflamatórios.
as menores prevalências de EA.4 No A segunda hipótese foi baseada na

28
tendência de o HLA-B27 mal se levantaram a possibilidade de que Nos últimos anos, estudos de associa-
dobrar e acumular-se dentro do a presença do HLA-B27 levaria a ção genômica ampla (GWAS, do in-
RE. A resposta a uma proteína mal uma alteração do microbioma in- glês genome-wide association studies)
dobrada leva à ativação de nuclear testinal ou da resposta inflamatória, confirmaram a natureza poligênica
factor kappa B (NF-kB), com au- o que foi demonstrado em modelos da EA e identificaram vários outros
mento da produção de citocinas animais transgênicos para HLA- genes potenciais.28-30
pró-inflamatórias, especialmente a -B27.25-27 O número de associações gené-
interleucina (IL)-23.23 ticas significantes com a EA descrito
Mais recentemente, diversos em 2011 pelo Wellcome Trust Case
estudos demonstraram inflamação
Outras associações Control Consortium (WTCCC)
subclínica gastrointestinal, aguda e A importância do HLA-B27 nas chegou a 14.28 No entanto, em
crônica, em aproximadamente me- EpAs é evidente, mas estudos genéti- 2012, foram descritas novas asso-
tade dos pacientes com EA. Esses cos recentes demonstram o envolvi- ciações, e o número hoje ultrapassa
achados, em associação com a bem mento de outros genes no desenvol- 40 loci.31 Algumas das associações
estabelecida relação entre doença vimento não só da EA, mas também genéticas mais importantes estão
inflamatória intestinal (DII) e EA, da psoríase e da doença de Crohn. descritas no quadro 1.

Quadro 1. Principais associações genéticas com as EpAs

Risco
Gene Função relativo p*
(OR)

Codifica a enzima aminopeptidase-1, do retículo endoplasmático, responsável pela 4,4 × 10-45


ERAP-1
clivagem das proteínas em peptídeos a serem apresentados pelo HLA de classe I aos 1,29
(ARTS1)
linfócitos T CD8.

Codifica o receptor da IL-23, citocina pró-inflamatória, presente em várias células do 1,62 2,0 × 10-27
IL23R 
sistema imune, incluindo na de linfócitos T NK, monócitos e células dendríticas.

3,4 × 10-13
IL6R Codifica o receptor da IL-6. 1,14

Codifica a proteína Runt-related transcription factor 3, da família dos fatores de


transcrição. Apresenta papel importante na formação de várias vias relacionadas 1,5 2,6 × 10-15
RUNX3  ao sistema imune, influenciando vários tipos de células que podem estar envolvidas
na patogênese da EA, como células NK e células T regulatórias, mas parecem estar
particularmente envolvidas na diferenciação e no desenvolvimento de células T CD8.

Codifica uma proteína adaptadora que se liga à TBK1 (tumor necrosis factor family 1,14 6,0 × 10-15
TBKBP1 member-associated NF-kB activator binding kinase 1 binding protein), também
conhecida como SINTBAD.

*Associação genômica ampla significativa: p < 5 × 10-8.31

Ano 5 • Número 2 • 2017 29


O desafio agora Inicialmente foram identificados
polimorfismos de nucleotídeo único
indivíduos que expressam HLA-
-B27, o que corrobora ainda mais
será a identificação (SNP, do inglês single nucleotide poly- essa teoria. 32
morphism) em dois genes associados
de variantes com a EA: o endoplasmic reticulum
A via da IL-23 tem sido im-
plicada na psoríase e na DII, duas
genéticas envolvidas aminopeptidase 1 (ERAP 1) e recep- condições que apresentam grande
tor da interleucina 23 (IL-23R).30 associação com EA. Múltiplas in-
nas diferentes Estudos subsequentes confirmaram terações (hits) genéticas da via IL-
manifestações esses achados, colocando o ERAP1
como a segunda mais forte associa-
23 (IL-23R, STAT3, JAK2, TYK2,
IL12B, IL12RB2, IL23 e IL7R)
clínicas, o que ção com a EA depois do HLA-B27 apresentam variabilidades seme-
(p > 10-27).28,29 lhantes na EA, na psoríase e na DII,
poderia predizer A enzima ERAP1, residente do demonstrando a relevância pato-
a evolução da RE, participa da etapa final da via lógica desses polimorfismos nessas
de processamento do antígeno, doenças.33
doença com quebrando o resíduo N-terminal
respeito à gravidade, de proteínas, para gerar peptídeos Considerações finais
com o tamanho ideal de carre- As pesquisas no campo da as-
à atividade e a gamento no complexo MHC de sociação entre a genética e as EpAs
outros aspectos da classe I. Essa quebra é importante
para a geração de vários epítopos
tem evoluído consideravelmente
nos últimos anos, permitindo um
doença, como idade antigênicos in vivo e influencia a melhor entendimento da etiopato-
criação do repertório de peptídeos
dos sintomas ou antigênicos. Uma vez que as fun-
genia da doença, reconhecendo, até
mesmo, o envolvimento de outros
episódios de uveíte ções da ERAP1 e do HLA-B27 se genes não MHC. O desafio ago-
encontram no RE nos estágios fi- ra será a identificação de variantes
nais da via de processamento do genéticas envolvidas nas diferentes
antígeno, é razoável postular que manifestações clínicas, o que pode-
o mecanismo da doença ou a pa- ria predizer a evolução da doença
togenicidade resultaria de defeitos com respeito à gravidade, à ativi-
ou variações na função dessas mo- dade e a outros aspectos da doença,
léculas. Curiosamente, o ERAP1 como idade dos sintomas ou episó-
é apenas associado com EA em dios de uveíte.

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Ano 5 • Número 2 • 2017 31


Múltiplas

d
Múltiplos Múltiplas
escolhas levam a 1
pacientes 2 possibilidades
d

Múltiplas
necessidades

d
Artrite
Artrite
Artrite Artrite
Artrite
Artrite Espondilite
Espondilite
Espondilite Doença
Doença
Doença Psoríase
Psoríase
Psoríase Artrite
Artrite
Artrite
Artrite reumatoide
Artrite reumatoide
reumatoide Artrite psoriásica
Artrite Espondilite
Espondilite
psoriásica
psoriásica anquilosante
anquilosante Doença de
Doença
anquilosante deCrohn
de Crohn
Crohn Psoríase em
Psoríase emplacas
em placas Artriteidiopática
placasArtrite idiopáticajuvenil
idiopática juvenil
juvenil
reumatoide
reumatoide psoriásica
psoriásica anquilosante
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Crohn emplacas
em placas idiopáticajuvenil
idiopática juvenil
2003
2003
2003 2006
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2008 2011
2011

APROVAÇÃO
APROVAÇÃO
APROVAÇÃO DADA
DA
Retocolite
Retocolite
Retocolite Doença
Doença
Doença dede
de Crohn
Crohn
Crohn Espondiloartrite
Espondiloartrite
Espondiloartrite Axial
Axial
Axial
APROVAÇÃO
APROVAÇÃO AMPLIAÇÃO
DADAAMPLIAÇÃO
AMPLIAÇÃO DADA
DA INDICAÇÃO:
INDICAÇÃO:
INDICAÇÃO:
Hidradenite
Hidradenite
Hidradenite Uveíte
Uveíte
Uveíte nãonão
não infecciosa
infecciosa
infecciosa Artrite
Artrite
Artrite relacionada
relacionada
relacionada
Retocoliteulcerativa
Retocolite ulcerativa
Doença
ulcerativa
Doença dede Crohn
Crohn acima
acima
acimade 66Espondiloartrite
Espondiloartrite
de
de 6anos
anos
anos Axial
Axial AMPLIAÇÃO
AMPLIAÇÃO DADA INDICAÇÃO:Artrite idiopática
INDICAÇÃO:Artrite Hidradenite
Artriteidiopática
idiopática Uveíte
Uveíte
Hidradenite supurativa
supurativa
supurativa não
não infecciosa
infecciosa intermediária,
intermediária,
intermediária,Artriterelacionada
Artrite relacionadaààentesite
àentesite
entesite
ulcerativa
ulcerativa acima
acima dede
6 6 anos
anos Artrite idiopática
Artrite idiopática juvenil
juvenil
juvenil acima
acima
acima de 2supurativa
2supurativa
dede anos
2anos
anos intermediária,
intermediária, posterior
posterior
posterior
posterior
posterior ou ou pan-uveíte
oupan-uveíte
pan-uveíte à à entesite
entesite acima
acima
acima de
dede 6anos
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juvenil acima
acima dede 2 anos
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2017

Contraindicações/Precauções: Assim como observado com outros antagonistas de TNF, foram relatados casos de tuberculose
associados ao Humira® (adalimumabe). A administração concomitante de antagonistas de TNF e abatacepte tem sido associada a
aumento do risco de infecções, incluindo infecções sérias, quando comparada a antagonistas de TNF isolado.
HUMIRA® (adalimumabe) – MS: 1.9860.0003. Apresentações: 40 mg em frasco-ampola de 0,8 mL (USO PEDIÁTRICO ACIMA DE 02 ANOS), 40 mg em seringa de 0,8 mL e 40 mg em caneta de 0,8 mL (USO ADULTO E PEDIÁTRICO ACIMA DE 06 ANOS). Indicações: Artrite Reumatoide,
Artrite Psoriásica, Espondilite Anquilosante, Espondiloartrite Axial Não Radiográfica (Espondiloartrite Axial sem Evidência Radiográfica de EA), Doença de Crohn, Colite Ulcerativa ou Retocolite Ulcerativa, Psoríase em Placas, Hidradenite Supurativa, Uveíte Não Infecciosa Intermediária, Posterior
ouPan-uveíte, Artrite Idiopática Juvenil Poliarticular e Artrite relacionada à Entesite. Contraindicações: pacientes com conhecida hipersensibilidade ao adalimumabe ou quaisquer componentes da fórmula do produto. Advertências e Precauções: Infecções: foram relatadas infecções graves
devido a bactérias, micobactérias, fungos, vírus, parasitas ou outras infecções oportunistas.Pacientes que desenvolvem uma infecção fúngica grave são também advertidos a interromper o uso de bloqueadores de TNF até que a infecção seja controlada. O tratamento com HUMIRA®
(adalimumabe) não deve ser iniciado ou continuado em pacientes com infecções ativas, até que as infecções estejam controladas.Recomenda-se cautela ao uso em pacientes com histórico de infecções de repetição ou com doença de base que possa predispor o paciente a infecções.
Tuberculose: foram relatados casos de tuberculose incluindo reativação e nova manifestação de tuberculose pulmonar e extrapulmonar (disseminada). Antes de iniciar o tratamento todos os pacientes devem ser avaliados quanto à presença de tuberculose ativa ou inativa (latente). Se a
tuberculose ativa fordiagnosticada, o tratamento com HUMIRA® (adalimumabe) não deve ser iniciado. Se for diagnosticada tuberculose latente, o tratamento apropriado deve ser iniciado com profilaxia antituberculose. Reativação da Hepatite B: o uso de inibidores de TNF foi associado à reativação
do vírus da hepatite B (HBV) em pacientes portadores crônicos deste vírus podendo ser fatal. Deve-se ter cautela ao administrar inibidores de TNF em pacientes portadores do vírus da hepatite B. Eventos neurológicos: com exacerbação de sintomas e/ou evidência radiológica de doença
desmielinizante, deve-se ter cautela ao considerar o uso de HUMIRA® (adalimumabe) em pacientes com doenças desmielinizantes do sistema nervoso periférico ou central, de início recente ou pré-existentes. A descontinução do tratamento com HUMIRA® (adalimumabe) deve ser considerada
na ocorrência de alguma destas desordens. Malignidades: foi observado maior número de casos de linfoma entre os pacientes que receberam antagonistas de TNF. Malignidades, algumas fatais, foram relatadas entre crianças e adolescentes que foram tratados com agentes bloqueadores de
TNF. A maioria dos pacientes estava tomando concomitantemente imunossupressores. Casos muito raros de linfoma hepatoesplênico de células T, foram identificados empacientes recebendo adalimumabe. O risco potencial com a combinação de azatioprina ou6-mercaptopurina e HUMIRA®
(adalimumabe) deve ser cuidadosamente considerado. Alergia: durante estudos clínicos, reações alérgicas graves foram relatadas incluindo reação anafilática. Se uma reação anafilática ou outra reação alérgica grave ocorrer, aadministração de HUMIRA® (adalimumabe) deve ser interrompida
imediatamente e deve-se iniciar o tratamento apropriado. Eventos hematológicos: raros relatos de pancitopenia, incluindo anemia aplástica. A descontinuação da terapia deve ser considerada em pacientes com anormalidades hematológicas significativas confirmadas. Insuficiência cardíaca
congestiva: casos de piora da ICC também foram relatados. Processos autoimunes: pode ocorrer a formação de anticorpos autoimunes. Se um paciente desenvolver sintomas que sugiram Síndrome lúpus-símile, o tratamento deve ser descontinuado. Uso em idosos: a frequência de infecções
graves entre pacientes com mais de 65 anos de idade tratados com HUMIRA® (adalimumabe) foi maior do que para os sujeitos com menos de 65 anos de idade. Deve-se ter cautela quando do tratamento de pacientes idosos.Uso na gravidez: este medicamento só deve ser usado durante a
gravidez quando, na opinião do médico, os benefícios potenciais claramente justificarem os possíveis riscos ao feto. Mulheres em idade reprodutiva devem ser advertidas a não engravidar durante o tratamento com HUMIRA® (adalimumabe). A administração de vacinas vivas em recém-nascidos
expostos ao adalimumabe no útero não é recomendada por 05 meses após a última injeção de adalimumabe da mãe durante a gravidez. Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica ou do cirurgião-dentista. Uso na lactação:
recomenda-se decidir entre descontinuar o tratamento com HUMIRA® (adalimumabe) ou interromper o aleitamento, levando em conta a importância do medicamento para a mãe. O aleitamento não é recomendado por pelo menos 05 meses após a última administração de HUMIRA®
PMMS: 5752 - 1200057969 HUM - Reuminds 1Ed 2017

(adalimumabe). Interações Medicamentosas: metotrexato: não há necessidade de ajuste de doses de nenhum dos dois medicamentos. Outras: o uso concomitante de HUMIRA® (adalimumabe) e outros DMARDs (por exemplo, anacinra e abatacepte) não é recomendado. Vacinas vivas não
devem ser administradas concomitantemente a HUMIRA® (adalimumabe). Não foram observadas interações com DMARDs (sulfassalazina, hidroxicloroquina, leflunomida e ouro parenteral), glicocorticoides, salicilatos, anti-inflamatórios não esteroidais ou analgésicos. Reações Adversas:
infecções no trato respiratório, leucopenia, anemia, aumento de lipídeos, dor de cabeça, dor abdominal, náusea, vômito, elevação de enzimas hepáticas, rash, dor músculo-esquelética, reação no local da injeção, infecções, neoplasia benigna, câncer de pele não-melanoma, trombocitopenia,
leucocitose, hipersensibilidade e alergia, urticária, insuficiência renal, alterações da coagulação e distúrbios hemorrágicos, teste para autoanticorpos positivo, linfoma, neoplasia de órgãos sólidos, melanoma, púrpura trombocitopênica idiopática, arritmia, insuficiência cardíaca congestiva, oclusão
arterial vascular, tromboflebite,aneurisma aórtico, doença pulmonar obstrutiva crônica, pneumopatia intersticial,pneumonite, pancreatite, aumento da bilirrubina, esteatose hepática, rabdomiólise, lúpus eritematoso sistêmico, pancitopenia, esclerose múltipla, parada cardíaca, cicatrização
prejudicada. Reações adversas de pós-comercialização: diverticulite, linfoma hepatoesplênico de células T, leucemia, carcinoma de células de Merkel (carcinoma neuroendócrino cutâneo), anafilaxia, sarcoidose, doenças desmielinizantes, acidente vascular cerebral, embolismo pulmonar,
derrame pleural, fibrose pulmonar, perfuração intestinal, reativação da hepatite B, insuficiência hepática, hepatite, vasculite cutânea, Síndrome de Stevens-Johnson, angioedema, novo aparecimento ou piora da psoríase, eritema multiforme, alopecia, Síndrome lúpus-símile, infarto do miocárdio,
febre. Posologia: ADULTOS: Artrite Reumatoide, Artrite Psoriásica, Espondilite Anquilosante, Espondiloartrite Axial Não Radiográfica: a dose para pacientes adultos é de 40 mg, administrados em dose única por via subcutânea, a cada 14 dias. Doença de Crohn: início do tratamento - Semana
0: 160 mg por via subcutânea; Semana 2: 80 mg; Manutenção do tratamento: a partir da Semana 4, 40 mg a cada 14 dias. Colite Ulcerativa ou Retocolite Ulcerativa: início do tratamento - Semana 0: 160 mg por via subcutânea; Semana 2: 80 mg; Manutenção do tratamento: 40 mg a cada
14 dias. Psoríase: a dose para pacientes adultos é de 80 mg administrada por via subcutânea, seguida de 40 mg em semanas alternadas, uma semana após a dose inicial. Uma terapêutica continuada para além de 16 semanas, deve ser cuidadosamente reconsiderada em pacientes que não
responderam dentro deste período de tempo. Após 16 semanas de tratamento, os pacientes que não apresentem uma resposta adequada podem se beneficiar de um aumento da frequência de dose para 40 mg por semana. Hidradenite Supurativa: 160 mg inicialmente, no Dia 1, seguida de
80 mg duas semanas depois, no Dia 15 (administrado em duas injeções de 40 mg em um dia). Duas semanas depois (Dia 29) continuar com uma dose de 40 mg por semana. Uveíte Não Infecciosa intermediária, posterior oupan-uveíte: 80 mg inicialmente, seguida de 40 mg em semanas
alternadas, começando na semana seguinte à dose incial. PEDIÁTRICOS: Artrite Idiopática Juvenil Poliarticular: para pacientes entre 02 e 12 anos a dose é de 24 mg/m2 de ASC, até uma dose única máxima de 20 mg para pacientes com idade entre 02 a < 04 anos e 40 mg para pacientes
entre 04 e 12 anos, por via subcutânea a cada 14 dias. Para pacientes com idade superior a 13 anos a dose é de 40 mg, administrados em dose única por via subcutânea, a cada 14 dias. Artrite relacionada à Entesite: para pacientes acima de 06 anos a dose é de 24 mg/m2 de ASC até um
máximo de 40 mg administrados em dose única a cada 14 dias. Doença de Crohn: para pacientes pediátricos com 06 anos ou mais e com peso corporal menor que 40 kg, a dose inicial (Dia 01) é 80 mg por via subcutânea (duas injeções de 40 mg em um dia), seguidas por 40 mg após duas
semanas (Dia 15). A dose de manutenção (Dia 29) para doença de Crohn ativa com intensidade grave é de 20 mg, a cada 14 dias e para doença de Crohn ativa com intensidade moderada é de 10 mg, a cada 14 dias. Para pacientes pediátricos com 06 anos ou mais e com peso corporal
maior ou igual à 40 kg, a dose inicial (Dia 01) é 160 mg (quatro injeções de 40 mg em um dia ou duas injeções por dia por dois dias consecutivos), seguidas por 80 mg após duas semanas (Dia 15). A dose de manutenção (Dia 29) para doença de Crohn ativa com intensidade grave é de 40
mg, a cada 14 dias e para doença de Crohn ativa com intensidade moderada é de 20 mg, a cada 14 dias. O paciente pediátrico com doença de Crohn, cuja posologia for ≥ 40 mg de adalimumabe deve utilizar a apresentação em seringas preenchidas ou caneta. VENDA SOB PRESCRIÇÃO
MÉDICA. Importado por: AbbVie Farmacêutica Ltda - Av. Guido Caloi, 1935, 1º andar, Bloco C- São Paulo - SP - CNPJ: 15.800.545/0001-50. AbbVie Line: 0800 022 2843. BU57.
Referências: 1. Bula do produto HUMIRA® (adalimumabe). 2. HUMIRA [Summary of Product Characteristics]. AbbVie Ltd; September 2016.

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