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“BRUTA

SACUDIDELA NAS
ARTES NACIONAIS”
1917 - A exposição de Anita Malfatti, em que ela
apresenta o cubismo, desprezando a
perspectiva convencional e representando os objetivos
com formas geométricas. Monteiro
Lobato fez críticas virulentas a essa exposição, em seu
artigo “Paranoia ou mistificação?”, o
que levou artistas e intelectuais a se unirem em defesa da
pintora. Esses artistas e
intelectuais são os mesmos que iriam organizar a Semana
de Arte Moderna em 1922
ARTE, 1º. Ano
A exposição
Modernismo – Semana de de
Arte Anita Malfatti,
Moderna no Brasil em 1917, recém chegada dos
Estados Unidos e da Europa, foi outro marco para o Modernismo
brasileiro. As obras da pintora, então afinadas com as tendências
vanguardistas do exterior, chocaram grande parte do público, causando
violentas reações da crítica conservadora .

Imagem: A boba/ Anita Mafaltti/ Museu de arte contemporânea da Imagem: O homem amarelo / Anita Mafaltti / Ilustração do
universidade de São Paulo / Copyright - Elizabeth Cecília Malfatti colega Mario de Andrade / Instituto de Estudos Brasileiros da
USP/ Copyright - Elizabeth Cecília Malfatti.
ARTE, 1º. Ano
Dessa
Modernismo polêmica,
– Semana o artigo de
Monteiro Lobato para o
de Arte Moderna no Brasil
jornal O Estado de São Paulo, intitulado: “A propósito da
Exposição Malfatti”, publicado na seção “Artes e Artistas” da
edição de 20 de dezembro de 1917, foi a reação mais
contundente dos espíritos conservadores.

Bandeira de Mello / Copyright - Elizabeth Cecília Malfatti.


Imagem: O farol / Anita Mafaltti / Col. Chateaubriand
Imagem: Monteiro Lobato/ "Nosso Século"
(1980) da Editora Abril / Public Domain
ARTE, 1º. Ano
Modernismo – Semana de Arte Moderna no Brasil
No artigo
publicado
nesse jornal,
Monteiro
Lobato, preso
a princípios
estéticos
conservadores,
afirma que
“todas as artes
são regidas por
princípios
imutáveis, leis
fundamentais
que não
dependem do
tempo nem da
latitude” .

Imagem: Meu irmão Alexandre/ Anita Mafaltti / Copyright - Elizabeth Cecília Malfatti
http://www.fapesp.br/publicacoes/anita/apresentacao.html#
A propósito da exposição Malfatti –
20 de dezembro de 1917 (fragmento)

Há duas espécies de artistas. Uma composta


dos que veem normalmente as coisas e em
consequência disso fazem arte pura, guardados os
eternos ritmos da vida, e adotados, para a
concretização das emoções estéticas, os processos
clássicos dos grandes mestres. (...)
A outra espécie é formada dos que veem
anormalmente a natureza e a interpretaram à luz
de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de
escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos
da cultura excessiva. (...)
Sejamos sinceros: futurismo, cubismo,
impressionismo e tutti quanti não passam de
outros tantos ramos da arte caricatural. (...).

Monteiro Lobato
ARTE, 1º. Ano
Desde a exposição de Malfatti, havia dado tempo para que os
Modernismo – Semana de Arte Moderna no Brasil
artistas de pensamentos semelhantes se agrupassem. Em 1920, por
exemplo, Oswald de Andrade já falava de amplas manifestações de
ruptura, com debates abertos. Essa divisão entre os defensores de uma
estética conservadora e os de uma renovadora prevaleceu por muito
tempo e atingiu seu clímax na Semana de Arte Moderna.

/ Pinacoteca do Estado de São Paulo / Foto tirada por


Imagem: Musa Impassível / Victor Brecheret

Leandro Lanzoni / Wikimedia Commons

Imagem: Musa Impassível / Victor Brecheret / Pinacoteca do Estado


de São Paulo / Foto tirada por Gabriel de Andrade Fernandes /
http://www.flickr.com/photos/gaf/2530424140/
O evento aconteceu na semana de
11 a 18 de fevereiro de 1922, no
Teatro Municipal de São Paulo,
que ficou aberto para o público
durante todos esses dias com uma
exposição de telas, esculturas,
esboços arquitetônicos,...
A SemanaARTE,de Arte Moderna de 22,
1º. Ano
Modernismo
realizada no Teatro– Semana de Arte Moderna
Municipal de no Brasil
São Paulo, contou com a
participação de escritores, artistas
plásticos, arquitetos e músicos.

Inserida nas festividades de


comemoração do centenário da
independência do Brasil, em 1922,
a Semana de Arte Moderna
apresenta-se como a primeira
manifestação coletiva pública na
história cultural brasileira a favor de
um espírito novo e moderno em
oposição à cultura e à arte de teor
conservador, predominantes no
país desde o século XIX (1). Imagem: Cartaz da Semana de Arte Moderna de 1922 / Di
Cavalcanti / Acervo do Instituto de Estudos Brasileiros - USP -
Arquivo Anita Malfatti / http://www.arquitetonico.ufsc.br/wp-
content/uploads/semana-de-arte-moderna-de-1922.jpg
ARTE, 1º. Ano
Modernismo – Semana de Arte Moderna no Brasil

São Paulo dos anos 20 era a cidade que melhor apresentava


condições para a realização de tal evento. Tratava-se de uma próspera
cidade, que recebia grande número de imigrantes europeus e
modernizava-se rapidamente, com a implantação de indústrias e
reurbanização. Era, enfim, uma cidade favorável a ser transformada num
centro cultural da época, abrigando vários jovens artistas.

Imagem: Caio Guimarães/ Teatro Municipal de São Paulo/ Creative


Imagem: Guilherme Gaensly / Vale do Anhangabaú / Public Domain
Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 2.0 Generic
ARTE, 1º. Ano
Esse era o ano em que o país
Modernismo – Semana de Arte Moderna no Brasil
comemorava o primeiro
centenário da Independência e

http://www.moedasdobrasil.com.
Imagem: Moeda de 500 reis /
Coleção Eduardo Rezende/
os jovens modernistas

br/series.asp?s=19
pretendiam redescobrir o Brasil,
libertando-o das amarras que o
prendiam aos padrões
Imagem: Eliseu Visconti / Selo comemorativo do estrangeiros. Seria, então, um
1º centenario da independência /
http://www.eliseuvisconti.com.br/Catalogo/Tecni movimento pela
ca/2/Aquarelas.aspx
independência artística do
Brasil.

Os jovens modernistas da
Semana negavam, antes de
mais nada, o academicismo
nas artes. A essa altura,
estavam já influenciados
esteticamente por tendências e
movimentos como o Cubismo, o
Expressionismo e diversas
ramificações pós-
impressionistas.
Imagem: Autor Desconhecido / Vista do portal de acesso ao Parque de
diversões no centenário da independência. / Museu da imagem e do som /
http://www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/ad_mlr_ctr.htm
ARTE, 1º. Ano
Modernismo – Semana de Arte Moderna no Brasil

13/02/22- Segunda-feira
Casa cheia, abertura oficial
do evento.
Espalhadas pelo saguão do
Teatro Municipal de São
Paulo, várias pinturas e
esculturas provocam
reações de espanto e
repúdio por parte do público.
O espetáculo tem início com
a confusa conferência de
Graça Aranha, intitulada "A
emoção estética da Arte
Moderna".
Tudo transcorreu em certa
calma neste dia (18).

Imagem: Programa da semana de arte moderna de1922 / Autor


Desconhecido / http://www.febf.uerj.br/pesquisa/semana_22.html
ARTE, 1º. Ano Enfunando os papos,
Modernismo – Semana de Arte Moderna no Brasil Saem da penumbra, Urra o sapo-boi:
Aos pulos, os sapos. - "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
A luz os deslumbra. - "Não foi!" - "Foi!" - "Não
15/02/22 -Quarta-feira foi!".
Em ronco que aterra,
Guiomar Novais era para ser a grande atração da noite. Berra o sapo-boi: Brada em um assomo
- "Meu pai foi à guerra!" O sapo-tanoeiro:
Contra a vontade dos demais artistas modernistas, - "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". - A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
aproveitou um intervalo do espetáculo para tocar alguns O sapo-tanoeiro,
clássicos consagrados, iniciativa aplaudida pelo público. Parnasiano aguado, Ou bem de estatuário.
Diz: - "Meu cancioneiro Tudo quanto é belo,
Mas a "atração" dessa noite foi a palestra de Menotti del É bem martelado. Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".
Picchia sobre a arte estética. Vede como primo
Em comer os hiatos! Outros, sapos-pipas
Menotti apresenta os novos escritores dos novos tempos Que arte! E nunca rimo (Um mal em si cabe),
e surgem vaias e barulhos diversos (miados, latidos, Os termos cognatos. Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" -
grunhidos…) que se alternam e confundem com O meu verso é bom "Sabe!".
Frumento sem joio.
aplausos. Quando Ronald de Carvalho lê o poema Faço rimas com Longe dessa grita,
intitulado ”Os Sapos”, de Manuel Bandeira (poema Consoantes de apoio. Lá onde mais densa
A noite infinita
criticando abertamente o parnasianismo e seus Vai por cinquüenta anos Veste a sombra imensa;
Que lhes dei a norma:
adeptos). O público faz coro atrapalhando a leitura do Reduzi sem danos Lá, fugido ao mundo,
texto. A fôrmas a forma. Sem glória, sem fé,
No perau profundo
A noite acaba em algazarra (19). Clame a saparia E solitário, é
Em críticas céticas:
Não há mais poesia, Que soluças tu,
Mas há artes poéticas..." Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...
ARTE, 1º. Ano
Modernismo – Semana de Arte Moderna
no Brasil
17/02/22 - Sexta-feira

O dia mais tranquilo da semana,


apresentações musicais de Villa-
Lobos, com participação de vários
músicos.

O público em número reduzido,


portava-se com mais respeito, até
que Villa-Lobos entra de casaca,
mas com um pé calçado com um
sapato, e outro com chinelo; o
público interpreta a atitude como
futurista e desrespeitosa e vaia o
artista impiedosamente. Mais
tarde, o maestro explicaria que
não se tratava de modismo e,
sim, de um calo inflamado (20).

Imagem: Cartaz da Semana de Arte Moderna / Autor Desconhecido /


http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Arte-moderna-8.jpg
13/02/22- Segunda-feira

Casa cheia, abertura oficial


do evento.

Espalhadas pelo saguão do


Teatro Municipal de São
Paulo, várias pinturas e
esculturas provocam
reações de espanto e
repúdio por parte do
público.

O espetáculo tem início com


a confusa conferência de
Graça Aranha, intitulada "A
emoção estética da Arte
Moderna".

Tudo transcorreu em certa


Imagem: Programa da semana de arte moderna de1922 / Autor
calma neste dia. Desconhecido / http://www.febf.uerj.br/pesquisa/semana_22.html
No dia 17, foram reafirmados os 3
objetivos fundamentais do
Modernismo:
1. Reivindicar o direito permanente à pesquisa estética, à
atualização da arte brasileira, à estabilização de uma
consciência criadora nacional;

2. Reagir contra o “helenismo” de Coelho Neto, contra o


purismo de Rui Barbosa, contra o academicismo de uma
maneira geral;

3. Substituir o pieguismo literário de métrica rígida e


sentimentos catalogados pela linguagem coloquial, pela
livre expressão, pela valorização da realidade nacional,
pela exaltação da psique moderna.

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