You are on page 1of 10
UMG UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Reitor Ronaldo Tadéu Pena Vice-Reitors: Heloisa Maria Murgel S EDITORA DA UEMG. Diretor: Wander Melo Miranda Vice-Direto na Coser ‘CONSHLO EDITORIAL, Wander Melo Miranda (presidente) Carlos Anténio Leite Brandi José Francisca Soares Juarez Rocha Guimaraes Maria das Gragas Santa Barbara Maria Helena Damasceno ¢ Silva Megale Paulo Sérgio Lacerda Beirto Silvana Coser Huco AcHuGaR PLANETAS SEN BOCA ESCRTOS EFNEROS SOBRE ART, CULTURA UTERTUR Tradugao rst Nasconento A NACAO ENTRE.( ESQUECIMENTO E AMENORA PARA LWA NARA DEMOCRATICA DA NACHO » recordar esti a redensiio Shem Tov inscrito no monumento em tusto judaico, na cidade de Me (Pensamento de B homenagem as vitimas do He A MUDANGA DAS REGRAS DE JOGO memoria e pela necessi t6ria nacional. Desafio que, por sua vez, ¢ de ato, supoe passar pela consideragio do tema da nado Uruguaia. Um Gesafio, vale a pena dizer, que nio implica exclusivamente um toriogrifico. Na verdade, mais que uma problematica historiogedfica tratar- ico; um tema no qual estio envolvidos, e sobre o qual deve ¢ podem opinar, todos os cidadaos. Em certo sentido, esse desafio nao s6 diz respeito aos Luruguios. Algo similar pode ser observado no resto do Ocidente, nos miiltiplo: nas reivindicagdes | Ans MesmMos cuestionamentos 20s sistemas representativos e inclusive, em niveis nao nacionais, nos mesmos tionamentos a propria noglo de representacto (enqual delegacio), Os conflitos, os debates, os enfrentamentos nao explicam, entre outras razes, porque as regras do jogo da reflexd politico-cultural tm mudado e continuam mudando neste de século em que estamos vivendo. No entanto, 6, precisament a mudanca dessas regras de jogo que explica o desalio que t Conflitos criam em nosso pensamento. Em relagio a nosso pais, pode-se afirmar que operada nas regras do jogo foi fundamental. A ditadura, ness sentido, provocou uma modi central na reflexio de sobre nosso pais. Especialmente, se partimos do modo que § Pensa € se pensou sobre a democracia ¢ © proprio pais antes depois da ditadura seqiiéncia “democracia-ditadura organizou a historia recente de noss ota-se que o que se efetuou foi uma mudanca ou t isto substancial no imagind @ a ditadura n0 horizonte do possivel. Antes da décad de 1970 idade de que no Uruguai ocorresse uma ditadura nag ia parte d 's que agora integram o Mercosul, ruguai (inclusive e apesar da “ditabrandal de Terra) integrava o imaginario nacional como um traco quas essencial e contribuia para 0 orgulho com que os uruguaios se maginavam, 2 propria experiéncia da ditadlura passou a fazer parte la nossa trdi¢do, do acervo da nc A ditadura complicou a auto-imagem do uruguaios nascidos na vida cidada antes de 1973 e, ao mesmé tempo, estabeleceu uma diferenca substancial para com aqueled outros cidackios uruguaios que cresceram durante ou apés ditadura. A auto-imagem desses tiltimos é radicalmente distints ara eles, a ditaclura no € ou nao foi um terremoto que abalou 0s fundamentos do imaginério nacional que os formou; pa eles, a ditadura é um dado da realidade, mais ainda, um dad da hist6ria, ca Gnica hist6ria que viveram. A possibilidade d ditadura, que antes nao cabia no horizonte ideolégi imaginario nacional, para esses novos o foi, desde o inicio, algo que perten do hipoteticamente possivel, Se tivemos ditadura, se faz parte AAs regras do jogo mudaram. Se tivemos ditadura, Shira, de nosea meméns, 2 dksdura modiiou a is exatamente, cou o imagindrio nacional vigente até 1973. Essa mudanga das egras do jogo, é claro, ndo éexclusivamente Algo semelhante aconteceu no Chile, pais com uma bastante similares ou proximas as a ditadura também modificou outro t6ria como detentora de um arraigado civilismo. democritico — outro de nosso fexcepcionalidade de nosso uc no ea desc pelos uogvais, mas tambm por quem eserevia ou estucava sobre nosso pase sobre 0 conjunto da ‘América Latina, Excepcionalidade reais, qualidades socials caracterstico aan imbém modificou ess sup. ‘excepcionalidade e nos congregou nas descrigoes regionals — tipo Benfeitor, da des € revisoes hist6ricas «lucac2o € o surgimento de reivindicagdes e revisdes Be determinedos grupos ou minorlas Cnicas nao tm feito mais do que complicar © discurso da excepcionalidade. danas da regras do jogo mio se produzim s6 pel ago da auto-imagem, ov do horizonte do possivel troduido pela dsdur. Durante o periodo que se casei 10" -restaurago", que cobre as décadas de Se rasta oc mudangas vinculadas jormacdo foi materializada na dda e, de certo modo, io do muro berlinense da conta, yolitica, da modificagao de um rem dos jovens alemacs Além da queda — melhor seria dizer da demolicto — do Mu de Berlim, mudaram aspectos centrais de nossa vida cotidia novos objetos, novos artefatos foram acrescentados a paisaget dlisria: agora temos fax, correio eletrOnico, secretirias eletrOnict automadticas, difusdes simultineas, videoclipes, cd-ro1 ete. E, com a vi I, também mucaram ou entail m crise os € 08 conceitos basicos da chama democracia “ociden decadéncia ou crise dos partidos p mentos populares. E wento de ie também pode provocar entusiasmo transformagao generalizada s. De algum modo, todos nds — consciente oul jemente — estamos inseridos nese processo d mutagzio— imente todos nds, mas, acTescentou UE A expel € em especial, de seu discurso nacional auto nos fez sentir um profundo receio ¢ rejeigao a todo A perplexidade e o paradoxo de que fala Alfredo Bosi tém Wer, além ‘modo, uma reivindicagao acteristica do discurso da resisténcia, diante de um Jacionado a heterogeneidade, & ico ado, lo cultural, a fragmentacto, Sociedade, entre outra No aos projetos naciona amo-ros na mull, a heterogeeidade ena dest pla porque no parece ser possivel nente democritico, que contemple lade social, Uma heterogeneidade lagem, A maneira de Habermas, leo inacabado da modemidade. Jém & verdade que, juntamente com a resisténcia & Ielo © em defesa da heterogeneidade, descobrimos que jor € suspeito. Estamos presos nativo em relagio ao discurso , porque explicam globalmente, pois sto, € totalitirios. {sso determina que a tarefa que temos por diante 6 a necessidael de uma reformulac2o do nacional, uma reformulagio do “nés dessa diversidade; ou s ive, repensar a categoria de nago nesses tempo lizagdo que tém sido, ou sio chamados, tempos “pé nacionais", A categoria de nacio como lugar simbdlico de um né ndo uniforme, mas sim inclusivo e respeitoso da diversidade. © desafio levou alguns a repen & esquecer tradicoes. Ou melhor ainda, a reformular o cendrig twadicional/inercial da na © nao as tradicoes, € 0 que aparentemente organiza grande parte da reflexio co geral da nacao, mas do Uruguai, como se as transformagdes que descrevemos nao tivessem ocotrido, ou niio implicassem a necessidacle de recolocar muitos pressupostos. Nao todos, talvez ndo necess porque evi é do que 0 da teformulacio do nacional ¢ do “nés’, porque reformular a naglo © 0 n0s do relato que organiza ¢ narra a nacio é s6 uma parte do lesafio causado pela ruptura com a inércia, nércias que tradigao nico ¢ OS CENARIOS DA NACAO. O discurso de © sobre a nagio € representado em miltiplos Kenitios © é consticuido por miltiplos sujeitos pertencentes a ‘iltiplos dliscursos, A leitura global, homogénea ou unitéria a | Bspeito do discurso nacional parece e aparece, hoje, como algo “estiondvel e questionado. Embora o que domine, no Ambito Parega ser a consideragao da nagao, ou do nacional, uma espécie de censirioxprocesso onde muiltiplo 80 politico, ainda parece continuar sendo valido propor jturas em alguns casos essen 6 a je apostam fortemente na consideragto do tradicional carat jomogenco ca nagio. Tradicio discusiva da homogenekiade cional que, contudo, nao corre pari passu com a hist6ria do is, mas que teria sua data de batismo entre a reforma varel © primeiro “batllismo” e que alenta grande parte do discurso istoriogréfico nacional? ‘A imagem de um “cenario-processo” como ena e em todo caso, menos tributaria de uma cor leragao do nacional pena Nesse sentido, € possivel considerar que a uni ot 2 a Re eran eta cee oe eres eee eee feat aera ase Briss lonuras taiver se basele em uma eapécie de expago ou ma configuracto de um ido € “agenciado” por diversos Hore Proposa, se nao sila, pelo menos bastante pina 20 que propde Prase! lar da nacao, do nacionalismo rll de projetos que a conforma (© segundo press da nago como um rentes concepedes da nagio espanhoD)* zsuetose de ane de una mulpliidade de sets e roe 4 memoria € 0 esquecimento consensual pensaco por i a de uma nacao & ue todos os individuos tém n : ce tem esquecide muitas coisas” (traducao de Achugar para 0 espanhoD’ [Apesar do que foi proposto por Renan, 0 nticleo da questio ‘originar-se nio tanto no que “os individuos tém em comu © que foi proposto por Renan ¢ por Duara, ia afiemar que o elemento bisico sobre 0 qual se constréi tanto o discurso da nagio coma o discurso sobre a nagio — independentemente de qual seja a i, ou a formaczo esfera publica, ou privada; e 0 sujeito, ou a posicao (0 discursivo — € a posse de um patriménio comum inte da negociacao em tomo do esquecimento realizado, ou disposto a set realizado, por uma d Quais sto as condigdes necessirias para que e: ocorra? Pensamos, juntamente com Hannah Arendt € Claude Lefort, que “a existéncia de um espaco onde os seres humanos se reconhegam como iguais € 0 pré-requisito para a ap n mundo comum, de um mundo que no € um, mas que € 0 mesmno, pois est aberto a miltiplas perspectivas”. E, sobretudo, que exisie uma “ci 1" entre igualdade e vi como iguais. Preci i contemporineo em, ses inclu em sua ) dos diferentes como seu direito a direito a meméria e a0 esquecimento, PROBLEMAS DE UMA MEMORIA DEMOCRATICA ia — ou seja, 0 conjunto de cidadaos iguais € vi — reivindica seu direito & narrativa, reivindica seu de contar 0 conto, de contar a hist6ria, Uma hist6ria que nao é a histéria de ur indo a historia de outros, mas a historia mbém, que ha ce tantas hist6rias como sujeitos tam em uma determinada comunidade. Nao conta o conto s6 quem quer, mas quem sabe, A sabedoria nao faz, referéncia, nesse caso, a uma competéncia técnica, mas i 0 Felato, © que supoe, , um questionamento da hist6ria que um conta sobre 6 tGria que 0 Outro, 40 mesmo tempo que, resentar (no sentido de falar por) © Outro. Historiador vem de béstor, e histor quer dizer “aquele que “€aquele que escolhe”, aqui ist6ria; um poder outorgado, nao politico ou pela instituigao legit le onde, quem € quando possui o saber. Esse poder/sabér € um poder/saber escolher. E um poder Ie decide a tensio entre 0 esquecimento e a meméria. Nesse intido, vale a pena recordar gem do testamento utilizada 10 que seleciona e que ie lembra e que esquece. E suficiente recorter & wicional — tanto po para ver como todos, eles € nés, escolhemos, esquecem contar a historia,” sntativa de recontar a historia e como, nesse mesmo recor também, novamente, siléncios esqui Se contar a histor contar um conto, pressupde que ide quase Sbvia: nunca se conta tudo. E nao tudo, pois para poder contar uma hist6ria, aquele que nll tem que escolher quando comega € quando termina sua Hi uma espécie de Igica, de Do ponto de qaremenda. Nao para aquele que tenta narar sane consciente: & fenslo esquecimento-meméria implicia se ge 0 empreender, mas para quem tent historia coletiva, para quem se prop Perspectiva democritica da memoria * {ima meméria democritica que tentasse contat a puUguti ou da dliadura, ou da resturacte, cea, conjunto da a, Bacon, devesia contar a historia como, we histori muiltipla e, por isso mesmo, contra io pocleria contar, por fas ta ns genera ou Uoa-presticoee dos oS referirmos 20 tipo de historiografia 8 sociais ou clos idos nos perspectiva sttUigdes € asso estaria esquecendo os es staria esquecenda dos gays, dos deficientes, dios, dos mesticos. E, maluccendo daqueles grupos, atores, ou sujelton mesmo estou esquecendo neste moments Ho, se para have € necessirio record sociais, © Ou que esqueca os outros, gi Pee nea: cue seja inchisiva e que an mesmo temp mPlique uma ops3to: nao uma historia do Historia verdadeiramente *Republicana’s ou soja, uma demoeritica AParentemente, a democracia ch meméria absolut, a hint, elimina o:recontar @ conde, di ativa, a partir da palizacao cultural ou telematica ou informativa, a patti imeiro temos que resolver ubmersos, primeiro ter e ns tad Fa (ou, talvez, deva set no ambito ica, nao pode perm ritica, sobretudo quando, alé Ea ea eas ae #0, 6 uma memoria naci oe eee (© discurso nacionalista tem funcionado para a co wagens, disfarces, relatos € proc mesa en eg as usike aout Pees 4 Ss aga eee Nera cence os sujeito, 30 peor renee eed ee sass gl ny ssquece e encobre Be icwsia Mascara on waquiagem que esc 0$ rostos, oultras historias, outras meméri 440 legitimar um determinado discurso papel relatos planeja fundagdes, estabelece origens, escolhe representagoes, opta por linguas. Como afirma Geoffrey Bennington: “Na origem ‘de uma nagao encontramos a hist6ria ficcional acerca da origem da nagio.” Por isso mesmo, talvez 0 tinico caminho verdadeiramente democritico nao scja a postulacdo de uma origem tnica, de uma Unica semente milagrosa, de um “pai” todo-poderoso como fonte de toda hist6ria, nem tampouco a postulagio de um tipo de fatalidade que seja predestinadora da nagio, mas 4 postulacio do rizoma; a fundagao rizomatica da nagto, A fundagio, esclarecamos, nao datada de uma vez e para sempre €m um parto milagroso, mas a fundagao permanente. Talvez 0 paradoxo do disfarce democritico, ou das miltiplas faces, resolva- se na mascara negociada, discutidla. Em uma mascara sucessiva € reiteradamente negociada e discutida.” A determinacao da ou das origens, a configuragio de uma identidade em proceso, ou a narrativa de uma memoria democritica, implica reconhecer os mi nacional. Implica, além disso, a hist6ria como negociagao, a historia como produto da conversagao, um debate entre os idores da meméria nacional. A emergéncia de novos atores sociais permite supor a neces- Por esses mesmos atores, de reconstruit uma hist6ria propria esquecida pelo discurso da comunidade hegeménica. A mesma necessidade de alguns movimentos sociais ‘os dle apresentar ou inscrever suas raizes na histGria de ses os tem levado a procurar nomes, imagens ou figuras emblematicas que fundaram nacional, ou de forma continental, sua ago e seu discurso, Essas raizes hist6rico-discursivas supoem, ‘na maioria das vezes, um novo relato da histéria nacional, ou uma nova narrativa sobre 0 nacional, uma hist6ria rizomética €, pelo mesmo motivo, democritica. Novo relato que aparece, precisamente, quando 0 longo projeto da modetnidade pareceria estar em uma etapa de Forte questionamento, Esse novo relato 36 parece ser possivel de ser narrado, como diziamos, a partir de uma negociagio, Uma neg que, 20 mesmo tempo, implica a releitura, ou a andlise d nagio € do nacional, tanto por parte do setor académico 6 dos intelectuais, ou ativistas vinculados tradicionais, de fato, uma batalha por ocupar 2 posigio do que tem/possui a histéria, do que sabe e do que escolhe. Esse sujeito que sabe — ou se apresenta como sabendo — age construindo um relatos também, como jé vimos, inventando, descobrind as fontes Implica uma batalha e implica o desafio de transformar batalha 1 debate, debate em negociago, negociagzio em conversagito. E conversacio vem do latim conversari, que quer dizer versar sobre algo na companhia de alguém, Implica 0 desafio de transformara imposigao autoritiria resultante de toca batalha, na conversacio propria de toda negoc ca o abandono de reivindicagdes € principios? Nao. Implica o desafig de abandonar as regras do jogo vigentes que ceram vistas, de mod incontestivel, até bem pouco tempo. Imp! ‘um desalio e uma utopia. A utopia de tentar a transformacao do toritarismo, proprio do discurso nacional homogeneizador. desafio de construir os miltiplos cenérios da memsria nacional ‘como um lugar — retomando, de certa forma, o que foi afiemado por Duara — “onde diferentes concepcdes da nagao disputam € negociam entre si"; ou seja, para onde os miltiplos cendrios da memoria presentes na nagiio convergem. negociar 0 esquecimento? Negociar a narrativa impli © esquecimento no € um (no sentido de Gnico) nem atua de uma s6 maneira. Esse € 0 esquecimento inconsciente, 0 esquecimento escolhidlo, 0 esquecimento imposto, 0 esquecimento € © esquecimento exercido por uma de qual esquecimento fala em Qu’est ce que c'est une nation? E, embora nao pareca existitem diividas de que se trata do fesquecimento da comunidade, nao fica claro se esse € escolhido, iscuss2o, a presente batalha dos © esquecidos por exercer a memsria coletiva e construir um fespaco publico e privado democritico ¢ multicultural — tem hegemonii jos horizontes ideolégicos muitas vezes 0 impediam de ver ou ler a diferenca do Outro.” ‘Nese sentido, acredito pertinente discutiro tema da diferenca “entre o esquecimento escolhido/negociado © 0 esquecimento do presente discurso sobre e da nagao duglo do desafio que supde a ia ca © presente discurso, politicamente correto,

You might also like