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Seeger+Nettl Musica em Debate
Seeger+Nettl Musica em Debate
DISTINTAS?1
Anthony Seeger
É uma honra estar aqui no Rio de Janeiro com vocês, neste prédio da Escola de
Música da UFRJ, pois, no período em que eu era professor adjunto no PPGAS [NE:
conversando com Dulce Lamas, professora de Folclore. Achávamos que seria muito
Isso era difícil de fazer naquela época por vários motivos, entre eles, a falta de um corpo
quase trinta anos mais tarde, este quadro mudou muito. Aqui trabalham o professor
É também uma honra estar aqui ao lado de Bruno Nettl, que conheço há muitos
meu avô Charles Seeger. Nettl, no decorrer dos anos, sempre tem apoiado uma visão
outras épocas e receberam esta resposta). Bruno Nettl é um homem que tem uma visão
vasta e generosa do campo acadêmico na área de música. Infelizmente, não são todos
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IN ARAUJO, Samuel (Org.) ; PAZ, G. L. (Org.) ; CAMBRIA, Vincenzo (Org.) . Música em debate;
perspectivas interdisciplinares. 1. ed. Rio de Janeiro: Mauad, 2008. v. 1. 255p .
Penso que a questão importante para debater hoje, não é: o que é
resposta a esta questão vai determinar quais são os campos intelectuais importantes no
da época) e a única coisa que foi possível trazer para esses gabinetes foram gravações de
som. Existe uma falsa impressão, criada em parte pela mídia, de que música é somente
som. No entanto, a música não é apenas som. Música é também - como nos ensinou
Alan Merriam (1964) - a intenção de fazer sons, é a mobilização de grupos para fazer
musicólogos à pergunta “o que é música?”, foi que música é som. Isto é muito diferente,
diria que música é um dos processos sociais através dos quais as pessoas criam e
que, em certos momentos, vai ser utilizado junto a outros recursos sociais.
Hoje quem escreve sobre música? Quase todo mundo está escrevendo sobre
financeiras do Jornal do Brasil, uma longa reportagem sobre pirataria e música aqui no
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NE: A musicologia comparada tem vigência entre 1885 e meados do século XX aproximadamente.
muitos outros estudiosos, mas cada disciplina retém uma especificidade importante -
Uma disciplina é, até certo ponto, um diálogo. É uma conversa com pessoas
mortas e com pretensos ouvintes que ainda irão viver. Quando fazemos um trabalho
sobre a música - sobre os cantos dos Suiá, por exemplo (Seeger, 2004) - estamos
debatendo com Aristóteles, Rousseau, Marx e também com Bruno Nettl. Estamos,
questões debatidas. As questões que tenho sobre os cantos Suiá não são as mesmas
questões que pessoas que têm uma formação musicológica mais tradicional teriam.
Porque minhas questões têm uma preocupação com princípios e processos semelhantes,
que ocorrem tanto na música, como na cosmologia e na organização social. Esta é uma
questão sobre a vida social humana - não unicamente sobre sons. Não quero dizer que
os sons devem ser esquecidos - são tão importantes, precisamente pelo fato de que os
Suiá os acham importantes (Castro, 2002). Precisam de uma análise séria e profunda.
humana.
etnomusicologia nas instituições de ensino? Essa é uma pergunta que meu avô, Charles
deveria estar situada a musicologia? (Seeger, 1923). Deveria estar nos conservatórios de
música, porque lá todo mundo pensa sobre música? Ou deveria ser alocada nas
porque a musicologia usa a linguagem para falar e escrever sobre música, e assim tem
afinidades com os campos de pesquisa que usam a linguagem. Falar sobre a música, não
é a mesma coisa que fazer música. Entre essas duas coisas há uma brecha grande, sobre
a qual Charles Seeger escreveu durante cinco décadas. Já que se trata de uma disciplina
falada, a etnomusicologia deveria estar junto com outras disciplinas que usam, em suas
que as escolas de música, aqui no Rio, estão tão preocupadas com a produção de
etnomusicologia. É também possível que haja este apoio a uma filosofia que contemple
simultaneamente a investigação lingüística e prática - mas isso deve ser examinado com
cuidado em cada caso. Sempre haverá um conflito do seguinte tipo: vamos contratar
Exatamente por esse tipo de questão houve uma sessão numa reunião da Sociedade
música, exatamente porque não era possível resolver esse conflito entre maneiras de se
separação das unidades é que cada departamento pode fazer as escolhas que quiser sobre
a contratação dos professores, sobre os concursos para entrar no programa, sobre o que
melhorar. Agora, devo acrescentar que o perigo da divisão é que os alunos (mais que os
professores) vão esquecer que as outras maneiras de se tratar a música existem e devem
ser estudadas. Concordo com Bruno Nettl que sempre existe um perigo de isolamento e
redução de perspectivas em grupos de trabalho nas universidades. Contra isto tenho uma
receita essencial: leia muito, converse com colegas de outros departamentos, participe
desafio para alunos e professores. Os alunos têm que derrubar as muralhas de Berlim
burocráticas que existem entre o Museu Nacional e a Escola de Música, e entre a UFRJ
colaborar através de eventos tanto aqui, quanto na UNIRIO, quanto no Museu Nacional.
porque concordo com o que ele diz. Entretanto, tenho opiniões diversas das dele sobre
aqui no Rio de Janeiro surja uma formação institucional que crie uma nova geração de
futuro. Certamente estão começando bem agora, finalmente, trinta anos após minha
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bruno Nettl
Antes de mais nada, peço desculpas por não fazer minha palestra em português e
Brasil e espero voltar em outra oportunidade. Creio ser este debate, de fato, sobre o
pontos de vistas nacionais, regionais e muitos outros. Falarei aqui sob um ponto de vista
outros possíveis e que o que pode ser válido para os Estados Unidos pode não o ser para
atividade de ensino, e por fim sobre os espaços acadêmicos em que antevejo sua
capacidade de prosperar.
Há cerca de trinta anos atrás, nos Estados Unidos, teve lugar uma intensa
Não tentarei sumariar tal discussão, mas tão-somente apresentar uma dicotomia que
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ARAUJO, Samuel (Org.) ; PAZ, G. L. (Org.) ; CAMBRIA, Vincenzo (Org.) . Música em debate;
perspectivas interdisciplinares. 1. ed. Rio de Janeiro: Mauad, 2008. v. 1. 255p .
Tomando uma perspectiva histórica, o que se convencionou chamar musicologia
comparada teve seu começo na Alemanha, na Áustria e nos Estados Unidos de modo
culturais. Não compartilho dessa crítica, uma vez que a comparação proposta pela
houve também muitos debates sobre o tipo de pesquisa e requisitos necessários à sua
qualificação como área de estudos. Nos Estados Unidos, Alan Merriam (1964) entendia
relativista e o estudo antropológico de todas as músicas. Anthony Seeger, por seu turno,
propôs uma distinção entre uma antropologia da música e o que denominou
antropologia musical. Note-se que, embora o termo “comparação” não seja empregado
com destaque por nenhum dos estudiosos pós-1950, alguma perspectiva comparativa,
ainda que permeada por uma postura relativista (as músicas em comparação deverão ter
que tanto ocupou meus colegas na década de 1960. Talvez nenhum outro tenha se
empenhado tanto nesse debate quanto Alan Merriam. Lembro-me que fui convidado
inúmeras vezes por ele a falar a seus alunos, sendo freqüentemente perguntado sobre
minha própria definição do campo. Sempre que respondia que não a considerava tão
atenção. Mas isso refletia também uma tendência em avaliar a pesquisa categorizando o
campo, ou seja: se isso ou aquilo era ou não etnomusicologia. E dessa forma, estudiosos
tendiam a limitar o campo, até o ponto em que talvez somente seus próprios trabalhos
Minha visão a respeito dessas questões é de que meu trabalho se qualifica como
musicologia sistemática, o que nos remete, é claro à definição lograda pelo estudioso
vienense Guido Adler (1885). Tal definição me parece útil ainda hoje e eu citaria
Charles Seeger, discípulo de Adler e avô de Anthony Seeger aqui presente, como figura
exemplar dessa mesma tradição. O ponto principal sustentado por Adler é que todos nós
que fazemos pesquisa em música em todos os seus aspectos somos membros de uma
acredito que, ainda que pairem dúvidas em cada um deles sobre as conclusões alheias, é
possível ao menos entender seus métodos e pontos de vista em nível mais básico.
referências a estudos sistemáticos nas áreas em questão. Noto também que há maior
da arte, com vantagem para esta, descompasso esse que não parece tão acentuado no
que tange a seus correspondentes no estudo da música. Com isso quero dizer que os
lado de seus colegas que trabalham com aspectos históricos, enquanto que o espaço
destinado a antropólogos que trabalham com artes visuais ou literatura tem sido mais
sinto-me mais confortável no campo da musicologia, que abrange entre seus sub-
campos a etnomusicologia, que, por sua vez, desenvolve certos tipos de pesquisa que se
qualificariam como antropologia da música. Assim, eu diria que Anthony Seeger é uma
antropólogos. Posso entender, por exemplo, porque um estudo como Why Suyá sing? (o
livro Por que cantam os Suiá?; ver Seeger, 1987) é enquadrado como antropologia da
pode de fato se qualificar como tal? Se olharmos para os milhares e milhares de títulos
algo distintivo. Da mesma forma podemos dizer qualquer estudo que coloque em
dos EUA, onde assisti a uma sessão intitulada “O que os etnomusicólogos estão fazendo
histórica. Alguns alunos responderam com outra questão: onde mais ela se encaixaria?
Foram além: embora seu interesse fosse predominantemente histórico, teriam, segundo
Concluindo, e desculpando-me por ter falado por tanto tempo, devo confessar
que o tópico deste debate é algo sobre o que muito raramente me disponho a discutir,
preferindo aprender sobre a música dos Blackfoot, dos Suiá, do Rio de Janeiro ou de
Teerã, cuja compreensão passa por sua relação com a cultura em que é produzida e que
ela própria, música, ajuda a produzir. Assim direi apenas que a antropologia da música é
exercido mais impacto sobre outras disciplinas musicais que sobre a antropologia, nada
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BLUM, Stephen “European musical terminology and the music of África”. In.: Bruno
Nettl e Philip V. Bohlman, eds., Comparative musicology and anthropology of
music. Chicago: Chicago University Press. 1991, pp. 3-36.