Texto 06 - Saviani - A Lei Da Educação - Conclusão

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Copyright © 2016 by Editora Autores Associados Ltda. ‘Todos 0 direitos desta edigio reservados & Editora Autores Associados Ltda, Dados Internacionais de Catalogagio na Publicagio (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Saviani, Dermeval A lei da educacao: LDB : trajetéria, limites ¢ perspectivas / Dermeval Saviani. — 13, ed. rev, atual. € ampl. — Campinas, SP : Autores Asociados, 2016. — (Colegio educagao contemporanea) ISBN 978-85-7496-372-3 1. Brasil. Lei de diretrizes e bases da educagao nacional (1996) 2. Educacao e Estado - Brasil 3. Ensino - Legislacao - Brasil I. Titulo. II. Série. 16-06109 CDD-370.2681 Indice para catdlogo sistematico: 1. Brasil : Leis : Educacto 370.2681 2. Lei de Diretrizes ¢ Bases da Educacdo Nacional : Brasil 370.2681 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARA } musTecs DO CAMPOS DE ee fae 2 Tree 7a EDITORA AUTORES ASSOCIADOS LTDA. ‘Uma editors educativaaservigo da cultura brasileira Av Albino J.B. de Oliveira, 901 Barfo Geraldo | CEP 13084-008 Coord ato Campinas - SP " ‘Telefone: +55 (19) 3789-9000 ‘iain E-mail editora@autoresassociadoscom.br " Catélogo on-line: www autoresassociados.com.br ‘Maria Clarice Sampaio Villac ‘Constho Editorial "Prof Caemiro dos Rts Filho” Revisio Bernardete A, Gat ‘Maria Clarice Sampaio Vic Carlos Robert Jamil Cury Melisa Boras 120k Dermeva Sviani Mariana Rodrigues 18 0k Gilbert. de M, Jannuzs Maria Aparcida Monte Diagramaydo ¢ Componisae Walter. Garcia Vlad Camargo Maia 8. Zagria 12 0 Se eabdeorg br Diretor Executive 6 ww pa~ Aete-final ceineaebe Flévio Baldy dos Reis rica Bomburdi ee _4 Digitalizado com CamScanner | conclusao 0 contexto de implantagao da atual LOB e a estratégia da resisténcia ativa 1, Mais uma oportunidade perdida utra vez deixamos escapar a oportunidade de tracar as coordenadas € criar os mecanismos que viabilizassem a construgdo de um sis- tema nacional de educagao aberto, abrangente, s6lido e adequado as necessidades e aspiragdes da populacao brasileira em seu conjunto. O esbogo de um sistema nacional, tragado no “Manifesto dos Pioneiros da Educacao Nova” de 1932, enfrentou resisténcias expressas nas disputas em torno da elaboracao da Constituigao de 1934 e acabou inviabilizado com o advento do Estado Novo em 1937. Anova oportunidade aberta pela Constitui¢ao de 1946 e materializada no projeto de LDB que deu entrada no Congreso Nacional em 1948 se viu engolfada no conflito escola particular-escola publica e se deteve diante do avango dos setores privatistas. Desta vez, a circunstancia da elaboracao de uma nova LDB, propiciada pela Constituigdo de 1988, criou novas esperangas que resultaram frus- tradas pela ofensiva neoconservadora que logrou tornar-se politicamente hegemOnica a partir de 1990. A vista da trajetéria percorrida, transpusemos 0 limiar do século XXI sem termos conseguido realizar aquilo que a sociedade moderna se pos como tarefa dos séculos XIX e XX: a educagao ptiblica nacional € democratica. Como resultado, o déficit histérico em matéria de educagio foi se acumulando de forma a neutralizar os pequenos avangos obtidos. Assim Digitalizado com CamScanner | aleida educacdo | 298 | que, em 1890 a taxa de analfabetismo estava em torno de 85% e ao & populacao total (12.213.356 para uma populagio de 14 assist No inicio da década de 1990, quando o projeto da atual LDB paren discussao na Camara dos Deputados, pode-se considerar que houve bi progresso relativo, jé que aquela taxa caiu para cerca de 30% (Gide mente registram-se 21,6% em relagdo A populagao de idade igual ou superior a 7 anos, 0 que projeta uma taxa de 33,68% para a populacao total, tomando-se os dados do Censo de 1991). No entanto, se conside- rarmos a populagao total (146.825.475, conforme o mesmo Censo de 91), veremos que 33,68% correspondem a 49.458.776. Portanto, © mimero absoluto de analfabetos quadruplicou. Vé-se, pois, que 0 déficit em termos absolut mesmo quando o Estado detém a iniciativa de formular politicas edu- cacionais que, dentro dos parametros vigentes, visam equacionar 0 problema reduzindo as taxas relativas. A situagao acaba por se agravar, atingindo limites intolerdveis, num contexto em que 0 Estado busca demitir-se de suas responsabilidades transferindo-as para outras instin- cias, Com efeito, a orientagao neoliberal adotada pelo Governo Collor, pelo de Fernando Henrique Cardoso, ainda que parcialmente Ima, é agora retomada com forga no hhel ‘Temer. E essa orientagao politica ombinam um discurso que ‘4 dos investimentos mentais, desse los tende a aumentar prosseguida revertida nos Governos Lula e Dil governo interino ¢ ilegitimo de Micl caracteriza-se por politicas claudicantes: reconhece a importancia da educagao com a reduc -a e apelos A iniciativa privada e organizagoes nao governal Estado em matéria de educagao pur na 4re: como se a reponsabilidade do ser transferida para uma etérea “boa vontade publica” ‘A situacao descrita s6 poderia ser revertida com 4 clara determina- cdo do Estado de assumir a educagao como prioridade mimero 1, com srconsequente vontade politica de realizar as agbes concretas em que se expressa essa prioridade. Ilustremos o que foi dito com a questao orgamentaria. ‘A Constituigdo de 1988 determina que “a ‘Unido aplicard, anual mente, nunca menos de dezoito, ¢ 0s Estados, 0 Distrito Federal e 08 Municipios vinte e cinco por cento, no minimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferéncias, na manutengao Digitalizado com CamScanner | dermeval saviani | e desenvolvimento do ensino” (artigo 212). Frise-se: na manutengao e desenvolvimento do ¢ Nnsino. Ora, manter significa tanto, esse dispositivo sup nacional de ensino estives: isto é se todas as crianga: concluir com éxito o ensi garantir a continuidade do que ja existe. Por- Se o sistema ja instalado. Assim, se o sistema ‘se jé implantado e funcionando plenamente, 's pudessem nele ingressar ¢ permanecer até ino fundamental, entdo tratar-se-ia apenas de manté-lo funcionando e desenvolvé-lo, isto é, amplia-lo na medida das Novas necessidades postas pela sociedade. Quanto & manutengao, Portanto, os recursos ai alocados deveriam, por um lado, garantir a infraestrutura, elementos consumidos no processo de Por outro lado, deveriam garantir tamb as condi¢des de trabalho dos professore atuam no sistema. conservando-a e repondo os funcionamento do sistema; e, ém © pagamento dos saldrios se dos demais funcionarios que Quanto ao desenvolvimento, duas necessidades se impoem: a amplia- sa0 do sistema em decorréncia do eventual crescimento demogréfico; € a atualizacao do sistema pela incorporacao dos avancos tecnolégicos tanto em termos dos instrumentos ¢ métodos como aperfeigoamento dos agentes da educagao. Observa-se, pois, que o problema da manutencao e desenvolvimento do ensino estaria satisfatoriamente equacionado nos termos constitu- cionais, se o sistema ja estivesse implantado e funcionando plenamente como o fizeram os principais paises que instituiram os respectivos sistemas nacionais de ensino a partir do final do século XIX e inicio do século XX. Porque nés assim nao procedemos, o déficit hist6rico foi se acumulando, O nosso problema, portanto, consiste no fato de que o sistema nao est instalado. Sera necessario fazé-lo. Mas para isso os recursos orca- mentérios regulares ndo sao suficientes. Impe-se um plano emergencial gue permita investir macigamente na construsao do sistema, elevando-se substantivamente e em termos imediatos o percentual do PIB destinado a educa¢ao, o que implica 0 status de prioridade 1 ¢ a vontade politica de que se falou antes. Que isso ¢ possivel, o demonstram os paises que implantaram os seus sistemas, inclusive aqueles que o fizeram tardia- mente como sao os casos do Japao e da Coreia. Mas também o demonstra No que respeita ao 1297 Digitalizado com CamScanner aleida educagéo | 298 | o nosso préprio pals através de projetos de impacto que contaram com grandes investimentos ptiblicos em decorréncia da vontade politica de torna-los realidade. Esto nesse caso a construgao de Itaipu, as usinas nucleares de Angra dos Reis, 0 Sivam, 0 gasoduto proveniente da Bolivia co Progr (Programa de Estimulo a Reestruturagao ¢ ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional), conhecido como o Programa de Re- cuperagao dos Bancos. Por isso, em outra oportunidade levantei a ideia, a0 MEG, de se criar uma espécie de Proen (Pro- cional), através do qual seriam :zar a implantagao de nosso sis- grando-se, assim, universalizar sugerindo-a, inclusive, grama de Recuperagéo da Educagao Na captados recursos de monta para viabili tema de educagao em ambito nacional lo; o ensino fundamental, erradicando definitivamente 0 analfabetismo. O desfecho da tramitagao do projeto da LDB evidenciou, porém, que no Ambito da educagdo a vontade politica que acabou prevalecendo ‘m sentido contrério ao esforco necessério para se equacionar de um século e que, por oe cuja gravidade é con- operou ci um problema que vem se arrastando ha mais isso mesmo, jé néo pode mais ser escamotead sensualmente reconhecida. Consequentemente, também os conservadores, em razo de suas pretensdes 4 hegemonia, nao se podem furtar as proclamagoes da im- portancia e prioridade da educagao. Por isso, na tramitagao da LDB, os embates se deslocaram para questdes de filigrana juridica, tendo como carro-chefe a palavra “inconstitucionalidade”, A cada proposta que implicasse alguma transformagdo mais significativa, se contrapunha a “6 inconstitucional; nao pode. Essa iniciativa é privativa palavra magica: uutonomia dos Estados, do presidente da Reptblica’. Ou entao: “fere aa dos Municipios, ou da iniciativa privada’. Ora, houvesse efetiva vontade politica por parte dos setores hege- ménicos para se resolver 0 crénico problema da educagao nesse pais, tais dificuldades nao existiriam. Nessa hipétese, a maioria dos problemas sequer seriam levantados. E aqueles que o fossem estariam répida ¢ fa- cilmente resolvidos. Um exemplo: Digamos que, diante de determinado dispositivo, se constate claramente que, segundo a Constituigao, se trata, sem divida, de uma iniciativa privativa do presidente da Repiiblica. Entdo, chama-se o ministro da Educagao, pede-se a ele que formule um projeto ou a minuta de um decreto, o presidente o encaminha, € 0 Digitalizado com CamScanner | dermeval saviani | texto da LDB remete assunto para o disposto no ato de iniciativa do presidente da Reptiblica, Pronto, Esté resolvida a questo, Simples, facil, rapido, descomplicado, O problema, portanto, examina-lo no quadro da co: dangas estrutura deve ser posto em outros termos. Cabe rrelagao de forgas determinada pelas mu- S$ ¢ conjunturais que esto em curso no contexto atual. 2. 0 contexto de implantagao da LDB A conjuntura em que entrou em v até nossos dias, da sociedade, igor a atual LDB, e que se estende decorre de significativas transformagées da base material identificadas como uma nova Revolugio Industrial cuja fundamentacao fisico-cientifica se expressa na microeletronica tendo como resultado a automacao dos processos produtivos e a impregnacao do conjunto da vida social pela informatica, A reestruturagao produtiva exigida pela crise capitalista da déca- da de 1970 conduziu a substitui¢ao do fordismo pelo toyotismo. Se o fordismo operava com tecnologia pesada de base fixa langando mao de métodos tayloristas de racionalizacao do trabalho, 0 toyotismo opera com tecnologia leve e flexivel baseada na microeletrénica, recorrendo a trabalhadores polivalentes. Diferentemente da Primeira Revolugao Industrial, quando aconteceu atransferéncia de fungdes manuais para as maquinas, o que agora est4 ocorrendo é a transferéncia das proprias operagoes intelectuais para as méquinas. A Primeira Revolugao Industrial conduziu a uma crescente sim- plificagdo dos oficios, tendendo a supressao da qualificagao manual especifica. Por sua vez, na Revolugdo Microeletronica, ainda em curso, além das qualificagoes manuais especificas, também as qualificagdes intelectuais especificas tendem a desaparecer, 0 que traz como contra- partida a elevacao do patamar de qualificagao geral. ied - Com efeito, a introdugao da maquinaria, obra da Primeira Revolugio Industrial, ao dispensar a exigéncia de qualificagio especifica, fms um patamar minimo de qualificagao geral, equacionado no curricul 9 da oe isi ue os trabalhadores pudessem escola primaria, como requisito para que « aye 2 dutivo mecanizado, Mas, como assinalei se adequar ao processo pro | 299 a Digitalizado com CamScanner Jaleida educagio | 300 | em outro estudo (SAvIANI, 1994, p. 163-164), além de operar com as méquinas, era necessério realizar outras atividades como manutencio, reparos, ajustes das proprias maquinas, assim como 0 desenvolvimento de novos procedimentos laborais ¢ adaptagao a novas circunstancias. Isso levou a que subsistissem, ainda, no interior da produgio, tarefas certas qualificagées especificas, demandando um preparo fico obtido por meio da organizagao de cursos tema de ensino, tendo que exigiam intelectual também espect! profissionais no ambito das empresas ou do sis vomo referéncia o padrao escolar, mas determinados pelas necessidades do proceso produtivo. Portanto, sobre a base geral e comum da escola priméria, o sistema de ensino se bifurcou entre as escolas de formacao geral € as escolas tecnicas, Mas estas, nao estando diretamente ligadas a0 processo de tendiam a enfatizar as qualificacées gerais (intelectuais) em alificacdo especifica. Em contrapartida, os cursos pro- enfatizavam 0s aspectos yecificas (intelectuais produgao, detrimento da qu: fissionalizantes, diretamente ligados a produgao, operacionais vinculados ao exercicio de tarefas esp e manuais) no proceso produtivo. iE essa situagao que vem sendo revolucionada. Ao transferis para 3s agora de base eletr6nica, inclusive as operagées intelectuais méaquinas, dos cursos profissionalizantes. Esse especificas, dispensa-se a exigéncia é am dos motivos pelos quais 0 modelo de profissionalizagio da Lei 1. 5.692/1971 fracassou, enquanto instituigdes do tipo das *Escolas ‘Técnicas Federais”, por enfatizarem as qualificagdes intelectuais ger go, porém, com 0 trabalho produtivo, contém maior Pols em articulag dades desde que devidamente cial para responder a esas novas necessi reorientadas. Pode-se, pois, conjecturar que a revol lidades que, sendo desenvolvidas, conduziriam ao limiar da consumms do proceso de constituigdo da escola como forma principal, dominante ¢ generalizada de educagdo, Em consequéncia, aw versalizagdo de una escola unitéria que desenvolva ao maximo as potencialidades dos indive duos conduzindo-os ao desabrochar pleno de suas faculdades espirituas- “intelectuais, estaria deixando o terreno da utopia para se converter aunts exigéncia posta pelo proprio desenvolvimento dlo proceso produtive, tudo em curso alberga vistus= eto Digitalizado com CamScanner | dermeval saviani | Efetivamente, o gran de desenv condigdes da atual revolug tivel, uma vez, olvimento das forgas produtivas nas ‘io tecnoldgica torna essa possibilidade fac- que praticamente toda a produgao dos bens socialmente assa a poder ser feita por complexos automaticos, liberando 20 usufruto de uma ampla margem de tempo livre possi- bilitando-Ihe 0 cultivo do espirito,a criagao cultural, o desenvolvimento pleno de suas faculdades, necessirios p o homem par No entanto, para que esse grau de desenvolvimento atingido pelas forcas produtivas possa Produzir todos os seus frutos, ahumanidade, é necessario que se preencha uma con s40 coletiva de seus resultados. E isso € obstaculiz: sociais vigentes que, dificultando a generalizacao da na incorporagdo maciga das tecnologias avancadas, a universalizacao da escola unitéria. Sabe-se, com efeito, beneficiando toda digo: a apropria- ado pelas relagoes produgao baseada dificultam também que as relagoes sociais proprias da sociedade capitalista se baseiam na apropriacao privada dos meios de produgio e, consequentemente, dos produtos dai decorrentes. Assim, enquanto o capi- talismo socializou a produgao, ele manteve sob controle privado a apropria- a0. Nesse contexto, as revolugdes tecnolégicas se, por um lado, aumentam a capacidade de produgao humana, por outro lado, tém sido feitas sob 0 signo do aumento da produtividade, entendida como o incremento da margem de valorizagio do capital. Com isso, o desenvolvimento das forcas produtivas humanas, em lugar de beneficiar 0 conjunto da humanidade, redunda em beneficio daquela parcela que detém a propriedade dos meios de producao. O panorama atual é, pois, atravessado por esta contradicao: estdo ja disponiveis as condigbes tecnolégicas capazes de produit os bens necessérios para manter todos os homens num nivel de vida altamente confortavel; no entanto, 0 incremento da produtividade produz o efeito contrério, provocando a exclusao ¢ langando na miséria um numero cres- 1 por um reordenamento nas relag6es de classe beneficiando os detentores do capital rdename: ee em detrimento da forca de trabalho, para o que se foi instituindo, a nivel revolugo microeletronica, foram acompanhadas no plano so 1301 Digitalizado com CamScanner |aleidaeducapo | 302 | politico, uma nova relagdo Estado-sociedade traduzida na orientagao de- nominada neoliberal. Esse processo foi ganhando mai 1970 como resposta aos sinais de esgotament da grande expansao capitalista que se seguiu ao Guerra Mundial (HosssawM, 1995). Certamente nao terd sido por mera coincidéncia que os dois maiores protagonistas da corrente neoliberal, Friedrich von Hayek e Milton Fried man tenham sido agraciados com 0 Prémio Nobel de Economia respectivamente em 1974 € 1976.4 tendéncia uta foi sendo articulada e difundida por organismos internacio- dial, tendo sido assumida por alguns governos (Thatcher na Inglaterra ¢ Reagan nos Estados Unidos) ao longo da dé- cada de 1980, tornando-se hegeménica na década de 1990, favorecida chamado “socialismo real”. cipais desse novo quadro é g] dos Estados Nacionais, 0 que ‘déncia dominante se reproduza de forma semelhante .do especial aqueles dependentes dos grandes ntrolam as finangas, vale dizer, ior visibilidade a partir da década de to da “Idade de Ouro”, perfodo término da Segunda em pi nais, a testa o Banco Mun pelo desmoronamento do Uma das caracteristicas prin quente enfraquecimento lobaliza- go, com o conse faz com que a ten’ nos diferentes paises, de mo: centros produtores de tecnologia ¢ que co 0 fluxo de capitais. ‘Tomando como eixo o livre mercado, advoga-se a redugs0 do Estado através dos processos de privatizagao, desregulamentagao, redu¢ao da carga tributdria e extensao das leis de mercado mesmo para aquelas areas que tradicionalmente eram consideradas préprias da esfera publica e da alcada do Estado como a sade, a previdéncia social e a educagio. Eas possiveis resisténcias da populagao trabalhadora e das forcas politicas tla articuladas tendem a ser quebradas pelo crescente desemprego que repercute no enfraquecimento de suas organizagdes cujas liderangas se procura cooptar ou neutralizar. ‘A atual LDB foi implantada, pois, para os setores populares ¢ seus representantes pro} -lhes a correlagao de forgas claramente desfavoravel. Verificou-sey com efeito, um refluxo no ascendente proceso de org nas grandes ducacional n num contexto de dificuldades gressistas, sendo- aanizagao e mobilizagées que caracterizaram 0 campo & os anos de 1980. Como enfrentar essa situagao? Digitalizado com CamScanner | dermeval saviani | 3, Aestratégia da resisténcia ativa Avista dos clementos_dispostos e tendo presente o desfecho da tra- mitagao do projeto de LDB no Con, as forgas progressistas, vale dizer, viessem a assumir a di; tinica alternativa que ré Bresso Nacional, resultou invidvel que a comunidade educacional organizada, lanteira do processo de implantagio da nova LDB. E a estou foi o desenvolvimento de formas de resistencia. Tem-se constatado, entretanto, que as resisténcias as iniciativas de politica educacional, por parte do movimento critico e progressista, se revestido de um carater passivo. politica educacional, tendem a sur; suas criticas, tém Quando se anuncia uma medida de gir vozes discordantes que expressam formulam objecoes, alertam para os riscos e apontam as consequéncias negativas que poderio advir, caso a medida proposta ve- nha a ser efetivada. Sao, em geral, manifestagdes individuais que, embora em quantidade significativa e representativa de preocupagées ¢ anseios generalizados entre os profissionais que militam no campo educacional, acabam nao ultrapassando 0 ambito do exercicio do direito de discordar. Ora, esse procedimento podia surtir algum efeito pratico durante o Governo Collor, nao, porém, no caso de FHC. Isso porque no primeiro caso se tratava de um governo destituido de legitimidade, competéncia e sustentagao politica, razao pela qual, ocorrendo resisténcias, a iniciativa se inviabilizava. O Governo FHC, ao contrario, dispunha de legitimida- de, competéncia e base politica para fazer valer suas propostas. Diante de eventuais resisténcias contemporizava, alterava a tatica e, através de nova investida, acabava efetivando a sua proposta. Aos criticos s6 restava conviver com 0 fato consumado, tendo que se ajustar de algum modo anova situagao. Nesse novo contexto, a resisténcia passiva terminava por resultar inutil. Dai a necessidade de se passar a resisténcia ativa, Esta implica pelo menos duas condicdes: a primeira se refere a forma, isto é, a exigéncia de que a resistencia se manifeste nao apenas individualmente, mas através de organizagdes coletivas, galvanizando fortemente os que foram atingidos, de algum modo, pelas medidas anunciadas; a segunda diz respeito ao contetido, envolvendo, portanto, a formulagao de alternativas as medidas Propostas, sem o que seria dificil conseguir a mobil} {303 Digitalizado com CamScanner aleidaeducagio | 304) O relativo impasse em que desembocou 0 encaminhamento da LDB tema ver com a prevaléncia da resistencia passiva. A mobilizacao ante- rior se arrefeceu e a capacidade de resisténcia foi quebrada pela adocao da estratégia das reformas pontuais. A falta de alternativas a essa forma de encaminhamento da politica educacional, assim como ao seu contetido, imobilizou as chamadas “esquerdas”. Nesse contexto de crescente desemprego fazia todo 0 sentido que 08 sindicatos retomassem vigorosamente a luta pela redugao da jornada de trabalho. Ora, esse é um ponto que tem importantes consequéncias no ambito da educagao. Quando comentamos a Secao referente a educacao de jovens e adultos, salientamos a importancia das medidas incluidas no Substitutivo Jorge Hage, em especial a redugao da jornada de trabalho para viabilizar a frequéncia a escola. E observamos, diante da sua exclusao do texto aprovado, que medidas como essa nao tinham mesmo chance de figurar no texto legal nesses tempos neoliberais em que 0s direitos dos trabalhadores tendem a ser comprimidos, seno eliminados, jamais expandidos. No entanto, embora a redusao da jornada de trabalho contrarie a orientagao politica dominante, ela tem respaldo no desenvolvimento da produgdo que permite, pelo incremento tecnol6gico, uma maior produ- tividade em menor tempo de trabalho. A articulagao entre as organiza- cbes do Ambito educacional e as organizacdes operdrias em torno desse objetivo comum, é um exemplo de como se pode acionar a estratégia da resisténcia ativa. Além do mais, como se trata de pontos que a lei nao incluiu mas também nao proibiu, na esteira da luta pela redugao da jornada de trabalho é possivel reintroduzir as outras medidas cor- relatas como 0 direito a horas de estudo durante a jornada de trabalho, recepcao de programas de teleducagao no local de trabalho, oferta de trabalho em tempo parcial etc., no préprio processo de implantagao da LDB. E isso com base na Constituigao e no artigo quinto da mesma LDB que considera que 0 acesso ao ensino como direito ptiblico subjetivo abrange também os jovens e adultos devendo, em consequéncia, Ihes ser garantido pelo Estado. Varios outros exemplos poderiam ser mencionados para ilustrar como, através da resisténcia ativa, se poderia ocupar os espagos deixados pelas diversas lacunas ou omissdes do texto da lei. Digitalizado com CamScanner | dermeval saviani Entretanto, penso que a referida estratégia poderd ser desencadeada sobre a base das duas instancias consideradas centrais no projeto aprova~ do pela Camara porque através delas se garantiria a efetiva participacio da populagao organizada, em especial da comunidade educacional, nas decisdes relativas & politica educacional. Refiro-me ao Férum Nacional de Educagao ¢ ao Conselho Nacional de Educacao. No Primeiro Congresso Nacional de Educacao, realizado em Belo Horizonte entre 31 de julho e 3 de agosto de 1996, colocou-se como tema central a reuniao de subsidios para a elaboracao do Plano Nacional de Educagdo. Ocorreu-me, entao, sugerir que, a partir desse I Conep, se constituisse um Forum Nacional de Educago, com carter permanente eestruturado a base de comissées técnicas, com a tarefa de levar a cabo um diagnéstico consistente a partir do qual se pudesse formular metas a curto, médio longo prazo e delinear os meios e as agdes que permitissem viabilizd-las. A esse Forum caberia a tarefa nao apenas de formular uma proposta de plano mas também de acompanhar e avaliar a execucao do teferido Plano Nacional de Educagao. Nos termos do pardgrafo primeiro do artigo 87 da lei, foi atribuida a Unido a tarefa de encaminhar ao Congresso Nacional, no prazo de um ano, o Plano Nacional de Educagao para os dez anos seguintes. Ora, o resultado do trabalho do Forum, caso nao houvesse espaco para ser in- corporado em termos oficiais, se constituiria como proposta alternativa aquela do MEC, podendo ser eventualmente considerada pelo Congresso Nacional, permanecendo, de qualquer modo, como referéncia para a anilise e avaliagao da execucao ¢ possivel alteracao do plano que viesse a ser aprovado. E foi o que, de fato, aconteceu. No ja mencionado I Conep, assumiu-se a tarefa de construir, de forma democratica e coletiva, um projeto de Plano Nacional de Educagao em consonancia com as aspira- GOes da sociedade brasileira. E, no II Conep, que também se realizou em Belo Horizonte, entre 6 9 de novembro de 1997, foi aprovado 0 “Plano Nacional de Educacao: proposta da sociedade brasileira”, Foi esse projeto que, encabegado pelo deputado Ivan Valente, entéo do PT-SP, fi assinado Por mais de setenta parlamentares e por todos os Iideres partidarios da oposicao, deu entrada na Camara dos Deputados em 10 de fevereiro de 1998, antecipando-se ao projeto do governo que, certamente provocado Pela iniciativa da oposi¢ao, foi protocolado dois dias depois. Mas essa 1305 Digitalizado com CamScanner vo ae enc niciativa da apostydo s6 foi posstvel pela estratg acionads pelo movimento dos educadores, Kis como se pode acionar a estratégia da resisténcia at; 8ia da resistencia aig iva, Resiste. tendéncia dominante mas formulando ¢ apresentando Proposta alt ee : = emma. tsa que, pelo contetidoe pela forma de mobilzagio, permitesaa te iro embate com alguma chance de reverter a situagao, acumulando energia para o momento em que a cc tornar mais favordvel. A estratégia proposta parte da consideragao de que a mudanca da situagao esta exigindo alteragao nos conceitos que até entao orientavam as forgas de esquerda, com a consequente alteragao também nas formas de luta, O conceito de Estado est se “alargando”, quando se constata espaco, que vem sendo ocupado pelas chamadas organizagdes nao governamentais, ‘© mesmo acontecendo com o conceito de partido. Por isso talvez esteja na hora de retomarmos, de forma atenta as circunstancias em que vivemos, a metodologia gramsciana de anilise das situagdes, com os conceitos dai decorrentes como o de Estado ampliado, envolvendo a articulagao entre sociedade politica e sociedade civil, e o de partido, também ampliado, abarcando tanto o partido politico voltado mais diretamente para a socie- dade politica quanto o partido ideolégico que visa 4 hegemonia no seio da sociedade através dos organismos da sociedade civil. Em suma, hé transformagoes de cardter orginico que respondem as necessidades de desenvolvimento da humanidade, Contra essas io cabe resistir 0 que, aliés, seria reaciondrio, Tais transformagées se m2 nifestam, via de regra, na forma de crises de conjuntura cuja raiz reside nas contradicées da estrutura social vigente. Nesse quadro, eis como st configura a correlagdo de forgas: uma vez que os interesses dominantes Procuram conservar a estrutura de que sao beneficidrios, busca-s¢ ect que as contradi¢des da estrutura vigente venham a tona, interpretando-! a crise conjuntural como um acidente de percurso, um desvio que m0 °" pode como deve ser corrigido. Tais interesses caminham, pois, na dires4 de frear 0 proceso histérico, , Inversamente, os interesses dominados caminham na direfi aceleracao do processo hist6rico. E isto porque nao interes ba dominadas a manutengao da estrutura e sim a sua transformagios Seno imediatamente orrelacio de forcas se cao da 308 | — Digitalizado com CamScanner | dermeval saviani | am vista a construgao de um novo tipo de socied jade livre da domina- cio. Nessa perspectiva a cri crise de conjuntura é vista efetivamente como manifestagdo das contradigoes da estrutura que devem ser explicitadas esuperadas através da transformagao da prépria estrutura social. Beste 0 embate que se pds no proceso de tramitagio da LDB e no encaminhamento de sua implantagiio. Os que se identificam com a forma social atualmente existente procuram responder as questées postas pela implantacao da nova legislaco educacional na direcao da consolidacao do status quo, evitando mudangas ou incorporando aquelas inovacées queconcorram para esse objetivo. De outro lado, os que visam a transfor- macio da ordem existente, se empenham no encaminhamento das ques- toes educacionais em sintonia com as necessidades de transformacao. A Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 que “estabelece as dire- trizes e bases da educa¢ao nacional”, em vigor a partir de sua publicagio no Didrio Oficial da Unido de 23 de dezembro de 1996, embora nao tenha incorporado dispositivos que claramente apontem na diregao da necesséria transformagao da deficiente estrutura educacional brasileira, la, de si, nao impede que isso venha a ocorrer. A abertura de perspectivas para a efetivagao dessa possibilidade depende da nossa capacidade de forjar uma coesa vontade politica capaz de transpor os limites que marcam a conjuntura presente. Enquanto prevalecer na politica educacional a orientagao de carater neoliberal, a estratégia da resistencia ativa seré a nossa arma de luta. Com ela nos em- penharemos em construir uma nova relagao hegeménica que viabilize as transformagoes indispensdveis para adequar a educagao as necessida- des e aspiracdes da populagao brasileira. | 307 Digitalizado com CamScanner

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