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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA - UFRA
LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA

LUCINEIDE SANTOS DA SILVA


SHIRLENE MARIA NASCIMENTO MIRANDA

A IMPORTÂNCIA DO ATO DE CONTAR HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

CAPANEMA – PA
2015
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA - UFRA
LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA

LUCINEIDE SANTOS DA SILVA


SHIRLENE MARIA NASCIMENTO MIRANDA

A IMPORTÂNCIA DO ATO DE CONTAR HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apresentado ao


Curso de Pedagogia da Universidade Federal Rural da
Amazônia como requisito para obtenção do grau de
Licenciado Pleno em Pedagogia.
Orientadora: Profª MSc. Sônia Maria Fernandes dos Santos.

CAPANEMA-PA
2015
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LUCINEIDE SANTOS DA SILVA


SHIRLENE MARIA NASCIMENTO MIRANDA

A IMPORTÂNCIA DO ATO DE CONTAR HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de conclusão de curso (TCC), apresentado ao Curso de Pedagogia da


Universidade Federal Rural da Amazônia como requisito para obtenção do grau de
Licenciado Pleno em Pedagogia.

Data de aprovação: ___/_____/2015

Nota:________

Banca Examinadora:

_____________________________________
Prof.ª MSc. Sônia Maria Fernandes dos Santos
Orientadora

_____________________________________
Prof. Esp. Jefferson Luis da Silva Cardoso
Membro 1

_____________________________________
Profª MSc. Wanúbya do Nascimento Moraes Campelo
Membro 2
3

Dedicamos este trabalho a nossas famílias pelo


apoio e incentivo em todos os nossos projetos.
4

AGRADECIMENTOS

Às nossas famílias, filhos, que dispensaram os momentos de convívio para a


conquista deste curso.

Aos nossos colegas de turma, pela convivência e aprendizagem.

Aos nossos professores que se empenharam de forma profissional e amiga sempre


no intuito de oferecer o que tinham de melhor, nos ensinando como agir melhor
enquanto profissionais, eles são exemplos de mestres.

À nossa orientadora que se dispôs a nos ensinar e a mostrar como agirmos nas
mais diversas situações para que pudéssemos encerrar mais essa etapa em nossas
vidas, obrigada professora!
5

RESUMO

Este trabalho é fruto de inquietações de professores que trabalham com a educação


infantil e que se questionam, a cada dia, sobre o que fazer para melhorar o
rendimento de seus alunos na prática da leitura e, consequentemente, da escrita.
Seu objetivo é discutir sobre o ato de contar histórias para a construção do
imaginário infantil, bem como para o desenvolvimento da criança nos aspectos
psíquico, social, cultural e intelectual. O gênero oral, da contação de histórias, é o
método analisado como propulsor de outras habilidades dentro do ambiente escolar,
pois traz consigo, uma gama de referenciais que podem contribuir com pais, alunos
e escola de uma forma geral. Pois, antes de ser contada, a história deve ser
catalogada, de acordo com a idade/ano dos alunos, lida e relida pelo contador para
que em sua contação, esse consiga convencer o ouvinte de que aquilo que conta é
a pura verdade. A metodologia utilizada é pesquisa bibliográfica e experiências de
sala de aula. Após um levantamento do que é o oral e, logo, o que é literatura e
literatura infantil, faz-se uma síntese de como a contação de histórias está ligada à
prática da leitura. São citadas práticas de memórias de Machado (2004) e Freire
(1989), e em seguida é feita uma síntese sobre a importância de se contar histórias
com Silva (2009). Na sequência, é indicado uma das maneiras de se trabalhar com
esse gênero, com as orientações de Schneuwly e Doz (2004), sobre sequência
didática, um indicativo de como poderiam ser trabalhadas as contações e,
consequentemente, as leituras de textos literários.

Palavras-chave: Educação infantil; contação de histórias; textos literários; prática da


leitura.
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ABSTRACT

This work is the result of concerns of teachers working with the children's education
and that question, every day, on what to do to improve the performance of their
students in the practice of reading and hence writing. Your goal is to discuss the
storytelling to build the child's imagination, as well as for the development of the child
in the psychological aspects, social, cultural and intellectual. The oral genre of
storytelling, the method is analyzed as propellant other skills within the school
environment because it brings with it a range of benchmarks that can contribute to
parents, students and school in general. For, before being told, the story should be
cataloged according to age / year of students, read and reread the counter so that in
its telling, this can convince the listener that what counts is the truth. The
methodology used is literature and classroom experiences. After a survey of what is
oral and therefore what is literature and children's literature, it is an overview of how
the storytelling is linked to the practice of reading. Practices are cited ax memories
(2004) and Freire (1989), and then is made an overview of the importance of
storytelling to Silva (2009 ). Following one of the ways it is shown to work with this
genre, along the lines of Schneuwly and Doz (2004) on teaching sequence, indicative
of how storytelling could be worked and thus the readings of literary texts.

Keywords: Early childhood education; storytelling; literary texts; reading practice.


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................08

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................................13

2.1 O ato de contar história: Das narrativas orais a Literatura Infantil....13


2.2 A importância do ouvir, ler, contar histórias........................................15

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...............................................................24

4 DISCUSSÕES.........................................................................................................26

4.1 Contar e ouvir histórias como estratégia de ensino para a educação


infantil.............................................................................................................26

4.2 A arte de contar histórias e sua contribuição para o desenvolvimento


integral de crianças pequenas.................................................................... 30

4.3 O ato de contar histórias e a contribuição da família para o fomento à


leitura..............................................................................................................31

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................34

REFERÊNCIAIS BIBLIOGRÁFICAS

ANEXOS
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1 INTRODUÇÃO

Desde a infância escutamos histórias que, de certa forma, ficaram marcadas


em nossa memória, por causa das personagens, das suas atitudes, dos gestos de
heroísmo, beleza, pureza, sinceridade, rudez, etc. Recordamo-nos das histórias e de
quem as contou.
Isto significa que em nosso subconsciente ficam registradas milhares de
coisas que nos capacitam individualmente, socialmente e, por que não,
espiritualmente? Que marcam nossa trajetória de vida. Visto que, por muitos anos,
antes do surgimento da escrita, os valores e as crenças, os saberes e as
motivações, tudo, era transmitido oralmente. Hoje, tornou-se disciplina a literatura
em sala de aula. Contos, histórias, lendas, fábulas, todos esses e outros gêneros
fazem parte da nossa literatura, da literatura mundial.
Dessa forma, trazer esse conhecimento para a sala de aula e, principalmente,
para os alunos da educação infantil, poderá ajudá-los em suas aprendizagens, já
que eles não serão somente ouvintes, mas, participantes ativos de um processo
individual e coletivo de ensino-aprendizagem que surtirá efeitos positivos para seu
crescimento intelectual e social.
Desse modo, este trabalho vem contribuir para que essa disseminação de
literaturas continue e para que o ato de contar histórias não se perca com o passar
dos tempos, pois com o avanço da globalização e da informática, ouvir, parece que
ficou em último plano, pois as artes visuais crescem dentro e fora dos muros da
escola, disseminando a ideia de que só se pode acreditar naquilo que se vê. Dessa
forma, Machado (2004, p.27) ressalta que:

O contar histórias e trabalhar com elas como uma atividade em si possibilita


um contato com constelações de imagens internas que revela para quem
estuda ou lê a infinita variedade de imagens internas que temos dentro de
nós como configurações de experiências. (MACHADO, 2004, p. 27).

Assim, contar histórias traz para a sala de aula diversas possibilidades de


ganho para o aluno. O aluno se percebe sujeito ativo de um processo e do mundo
que começa no imaginário, ou no real dependendo do ponto de vista da história e,
consequentemente, passa a ser um continuador dessa prática.
9

Também, contar histórias pode ser um suporte didático para professores,


pais, que poderão se utilizar da prática de contar histórias para incentivar a produção
escrita e leitora dos discentes, já que muitos professores questionam sobre a falta
de metodologias para se trabalhar em sala de aula. Abramovich (1989, p.16) ressalta
que: “é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas
histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter
um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo”.
Na ação de ouvir alguém contando histórias se cria um imaginário surreal que
pode influenciar positivamente no (a)s aluno (a)s em sala de aula e levantar
questões como: comportamento; atenção; motivação, por meio das ações (atitudes)
das personagens. Para isso, o professor/contador, precisa conhecer sua clientela,
para que assim, possa selecionar as histórias que farão parte de um acervo cada
vez maior na vida de seus alunos, pois pode se tornar uma atividade constante se
for bem trabalhada.
Esta pesquisa se justifica por fornecer dados sobre a importância de se contar
histórias para a formação do imaginário infantil e, da necessidade de se
conscientizar os pais, professores e demais pessoas que trabalham com crianças
sobre a importância da literatura, que atrelada ao processo de aquisição da leitura e
ministrada de forma adequada, pode trazer à formação psíquica e moral delas
benefícios imensuráveis.
Fala-se que um dos grandes problemas dentro das escolas brasileiras é a
total desconsideração da linguagem que a criança já adquiriu e traz para a escola,
ou seja, a linguagem materna.
Destarte, a maioria delas é conduzida à escola para serem alfabetizadas
seguindo normas e padrões da língua padrão, o que acaba prejudicando a
velocidade e a compreensão de cada educando em relação à aquisição da
aprendizagem. Por isso, professor e família precisam em parceria despertar o
interesse do educando pelo estudo da arte de contar histórias e serem mediadores
da aquisição e do estímulo à leitura aos discentes.
Para nortear este estudo, foi formulada a seguinte pergunta: Que tipo de
contribuição o ato de contar histórias pode oferecer para a construção do imaginário
infantil, bem como para o desenvolvimento da criança nos aspectos psíquico, social,
cultural e intelectual?
10

Diante dessa problemática, faz-se necessário buscar respostas às seguintes


questões norteadoras: O ato de ouvir e contar histórias pode estimular a aquisição
da leitura de crianças na Educação Infantil e para o desenvolvimento de outras
habilidades e competências estabelecidas para esse nível de ensino? É possível,
pela arte da contação de histórias, a aprendizagem de inúmeras ações que
ajudariam o desenvolvimento cognitivo e motor de crianças da Educação Infantil? A
família pode também contribuir para o fomento do interesse da criança pela leitura?
A partir destas questões, elencamos, para este estudo, o seguinte objetivo
geral: analisar o ato de contar histórias para a construção do imaginário infantil, bem
como para o desenvolvimento da criança nos aspectos psíquico, social, cultural e
intelectual. E ainda, os específicos: investigar o ato de contar e ouvir histórias como
estratégia de ensino colaboradora no processo de estímulo à leitura na Educação
Infantil e demais habilidades e competências determinadas para esse nível de
ensino; verificar em que medida a arte de contar histórias contribui para a
aprendizagem de inúmeras ações que ajudariam o desenvolvimento cognitivo,
emocional e motor de crianças; discutir como a família contribui para o fomento do
interesse da criança pela leitura.
Acredita-se que se podem oferecer às crianças, além da contação de
histórias, outras práticas e oportunidades de se reconhecerem como partícipes de
seu próprio processo ensino-aprendizagem. Mas para que isso venha a acontecer é
necessário que o professor antes de tudo, analise alguns aspectos da formação do
leitor, tomando como base teorias a respeito de leitura, pois para Kleiman (1989, p.
13), “ler é uma atividade complexa, plural, multidirecionada e necessita do
engajamento de muitos fatores – memória, atenção, percepção e conhecimentos
linguísticos, que precisam se ativados quando se quer fazer sentido ao texto”.
Assim, munido desse conhecimento prévio o professor deve organizar-se e
selecionar seus próprios objetivos, pois é primordial em seu trabalho ser agente de
leitura, que antes de tudo seja leitor, pois quem lê faz comentários, fala com emoção
e entusiasmo sobre suas leituras.
Dessa forma é necessária a conscientização individual dos educadores, sobre
o ato de ler, não por ser preciso trabalhar com a leitura, mas ler por prazer, porque é
importante para sua vida individual, social e cultural, mas também do educando que
estará sob sua responsabilidade, pois se acredita que o professor é o espelho dos
seus alunos.
11

Ziraldo (1988, p. 27) diz que “a tônica da escola deveria ser a leitura, num
trabalho que fizesse do hábito de ler uma coisa tão importante quanto respirar”.
Nesse sentido a leitura se torna não só um passatempo, ou um recurso para se
ensinar, mas é a própria essência do leitor, pois esse não consegue viver sem a
leitura.
A contação de histórias nas séries iniciais é o primeiro passo para que o aluno
comece a experimentar o sabor dos diversos gêneros de leituras. A partir de uma
experimentação sólida, onde ele possa ser o protagonista dessa contação. Acontece
que muitas vezes o aluno não é alimentado como deveria com leituras próprias à
sua faixa etária e acaba se afastando da leitura, porque em sua iniciação passou por
situações traumáticas, como o bullying, muitas vezes porque não sabia ler como
deveria, ou sua fala é cortada ou ameaçada por alguém que possui um
conhecimento das palavras maior, mas não conhecimento de mundo.
Desse modo, observamos que os teóricos que embasam essa pesquisa
comparam a leitura sempre como algo imprescindível para a sobrevivência humana,
Machado (2002) compara a leitura a um prato de comida, não que deva ser
empurrada goela abaixo, mas que seja saboreada, escolhida, diversificada; Ziraldo
(1988) faz a comparação com o ar que respiramos e por essa ótica, não podemos
deixar de nos alimentar e muito menos de respirarmos esse conhecimento explícito
nos livros, porque na realidade a todo o momento nos deparamos com
acontecimentos que se apresentam de forma desafiadora a todos os seres humanos
e a leitura nos dá acima de tudo subsídios para que possamos viver com um mínimo
possível de dignidade.
Portanto, na tentativa de discutir a respeito do ato de contar histórias para a
construção do imaginário infantil, bem como para o desenvolvimento da criança nos
aspectos psíquico, social, cultural e intelectual, este estudo está assim estruturado:
Iniciamos a discussão do estudo apresentando um breve diálogo sobre o ato
de contar histórias - das narrativas orais à literatura infantil. Em seguida, dialogamos
a respeito da importância do ouvir, ler e contar histórias; posteriormente falamos a
respeito do papel da literatura infantil para o desenvolvimento do imaginário das
crianças; a justificativa desse trabalho, os objetivos geral e específicos, os
procedimentos metodológicos, e, por fim as discussões que norteiam este trabalho
bem como as considerações finais, síntese e recomendações a respeito do tema
abordado.
12

Esperamos que ao término dessa pesquisa consigamos atender ao que fora


proposto e consigamos acrescentar mais um ponto na discussão, a do inovar e se
reinventar, pois na tarefa tão árdua do ensinar é preciso saber como ensinar, o que,
e para quem se destina esse ensino. A contação de histórias como recurso é o
caminho norteador de vários outros caminhos e procuras por outros gêneros, já que
não é um produto acabado, mas um indicador de outros rumos. Quem terá que
decidir qual estrada seguir é o próprio professor.
13

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O ato de contar histórias: das narrativas orais à literatura infantil

Contar histórias é tão importante quanto ouvi-las, mas para isso é preciso
estar aberto a novas descobertas ou redescobertas e exige muito mais do contador,
pois esse terá de apresentar as histórias como se tivesse contando um fato, algo
verídico, para que quem está ouvindo possa interagir com o que está sendo narrado
e passe a acreditar no enunciado.
Na realidade é uma via de mão dupla, uma complementa a outra.
Dependendo do espaço em que se está contando a história e do público que se faz
presente, o contador precisa estar consciente do que vai contar, para quem vai
contar, de qual forma e com qual objetivo, pois estabelece-se um clima de união de
quem está contando com quem está ouvindo.
Ao contar histórias é possível iniciar um processo de preparação da criança
para vivenciar com mais segurança suas próprias dificuldades, e onde se pode criar
um mundo de encantamento, suspense, surpresa, emoção, no qual personagens
ganham vida e o enredo possa transformar tanto a realidade de quem está narrando
como a de quem está ouvindo.
Assim, a contação de histórias é uma grande aliada, também, na prática da
leitura em sala de aula, pois poderá estimular tanto professores quanto alunos,
envolvê-los numa temática nova, onde o lúdico, as intrigas, as fantasias, os enredos
poderão estimular os alunos a desenvolver essa prática cada vez mais e melhor.
Coelho (1998, p. 14) diz que:

A história é um alimento da imaginação da criança e precisa ser dosada


conforme sua estrutura cerebral. Sabemos que o leite é um alimento
indispensável ao crescimento sadio. No entanto, se oferecermos ao lactante
leite deteriorado ou em quantidade excessiva, poderão ocorrer vômitos,
diarreia e prejuízo à saúde. Feijão é excelente fonte de ferro, mas nem por
isso iremos dar feijão a um bebê, pois fará mal a ele. Esperamos que cresça
e seu organismo possa assimilar o alimento. A história também é assimilada
de acordo com o desenvolvimento da criança e por um sistema muito mais
delicado e especial. (COELHO, 1998, p. 14).

Desse modo, é necessário que o professor, ao contar histórias tenha


conhecimento de quem vai ouvi-las, para que assim, possa selecionar com cuidado
14

as leituras para alcançar seus objetivos e tenha um resultado positivo, pois, apesar
de, inicialmente, não ter sido criada com o direcionamento à criança, e sim aos
adultos, a literatura se tornou essencial nas aulas de leitura em todo o mundo.
Segundo Coelho (1991, p.99):

Já no século XVI, surge uma nova concepção da família, a criança teria um


valor social. A família burguesa viu a necessidade de ensinar boas maneiras
as crianças, utilizando a Literatura como manuais educativos a serem
seguidos. Assim, a criança era considerada um ser de menor importância
com sua educação direcionadas às questões religiosas e a modelos de
comportamento repassadas nos mosteiros, escolas da época.
(COELHO,1991, p. 99).

Segundo o exposto, não se via ou existia uma literatura voltada para as


crianças do Séc. XVI, uma preocupação com a instigação do imaginário, do
fantástico que existe nas narrativas populares, transmitidas de geração em geração
por meio da oralidade do povo.
Nesse sentido, a partir da oralidade houve a necessidade de se registrar as
informações e, consequentemente, a necessidade de traduzí-las e lê-las. Pois, na
era da escrita, quem tinha acesso a documentos e conhecimentos era quem
dominava a leitura e a escrita e desse modo excluíam-se os que não detinham tal
habilidade.
A Literatura Infantil, no decorrer de sua trajetória, atinge nosso imaginário, e
é um fator necessário para criarmos o prazer de ler, que hoje, apesar do uso das
tecnologias e dos recursos literários como suportes para o ensino da língua materna,
vem diminuindo, por isso, ela é um mecanismo necessário para se criar e/ou ampliar
sua utilização, onde se possam construir metodologias que contribuam para uma
nova prática em sala de aula.
Deve-se, portanto, rever os laços entre professores e obras literárias, os
alunos e a leitura, no sentido de que a escola, enquanto instituição secundária
promova incentivos capazes de colaborar para uma saudável relação escola-leitura-
família.
Esse fato ressalta a importância do ato de ler. Uma tarefa complexa que
requer esforços de todos os profissionais envolvidos e que orientem a criança nesta
aquisição, que se torna ainda mais complexo, quando não há estimulo à leitura das
mesmas. Para Cagliari (1996, p. 148-149),
15

O aluno muitas vezes não resolve problemas de matemática, não porque


não saiba matemática, mas porque não sabe ler o enunciado do problema
[...] Porque de fato ele não entende mesmo é o português que lê. Não foi
treinado para ler números, relações quantitativas, problemas de matemática
[...] Tudo o que se ensina na escola está diretamente ligado à leitura e
depende dela para se manter e se desenvolver (CAGLIARI, 1996, pp.148-
149).

Desse modo, o processo de aquisição da leitura é e deve assim ser entendido


como um processo natural e essencial que garanta a cidadania a cada ser humano.
Pois, segundo Machado (2002, p. 15),

Ninguém tem que ser obrigado a ler nada. Ler é um direito de cada cidadão,
não é um dever. É alimento de espírito. Igualzinho a comida. Todo mundo
deve ter a sua disposição e boa qualidade, variada, em quantidades que
saciem a fome. Mas é um absurdo impingir um prato cheio de comida pela
goela abaixo de qualquer pessoa. Mesmo que se ache que o enche aquele
prato é a iguaria mais deliciosa do mundo. (MACHADO, 2002, p. 15).

Na realidade, o que a autora exemplifica é que a leitura tem que ser


estimulada, e que o interesse deve ser pessoal, pois, a primeira impressão fica
marcada. Se o professor, que é quem está no comando da sala de aula apresentar
uma leitura como obrigação para o discente, este vai entender que ela só servirá
para prendê-lo, e dessa forma causará um afastamento quase irreversível do prazer
de ler.
O leitor deve tirar suas conclusões, experimentar as sensações que o texto
traz, no entanto a leitura precisa ser apresentada como algo essencial para o aluno,
assim como a comida, pois nesse caso ele tem a opção de escolher que prato quer
começar, pois as opções de leituras são infinitas.
A leitura, a partir desse entendimento não se encontra apenas dentro da
escola, mas está no dia a dia e é uma forma de descoberta individual, que
dificilmente duas pessoas a farão da mesma forma. Um texto lido por várias pessoas
ou até mesmo em ambientes diferentes pode gerar várias interpretações, por ser
baseado na estrutura de vida e no meio em que o leitor está inserido socialmente.

2.2 A importância do ouvir, ler e de contar histórias

Inicialmente para se falar sobre a importância do ouvir, ler e contar histórias é


preciso reconhecer como procede um contador. Por que ele é importante? O
contador de histórias conhece seu papel? Segundo Silva (2009, p.34),
16

Seu papel é levar o ouvinte a tornar-se leitor, por isso, além de


proporcionar-lhe um entretenimento na hora da contação, presta-lhe
também informações sobre o livro onde a história se encontra, o nome de
seu autor, a editora que o publicou. [...] O contador é antes de tudo um leitor
privilegiado, que cumpre seu papel ativo: faz leituras prévias, seleciona
textos, informa-se sobre o autor, observa a ilustração do livro, memoriza o
texto, interpreta suas intenções para transformá-las em modulações de voz
e gestos.

A partir desse entendimento sobre o papel do contador, fica mais fácil


compreendermos os personagens, as viagens a lugares distantes e tão próximos do
real, a sensação do lúdico presente no brincar das palavras de um poema, o carinho
da essência das histórias escutadas, lidas e contadas, ajudam as crianças, a
compreender o mundo interno e externo a elas. Ou seja, é o início de um processo
mágico, proporcionado pela alegria e pelo prazer da leitura de textos literários.
Assim, entende-se que oferecer uma história a uma criança é permitir,
despertar do imaginário para que as mais infinitas e profundas relações de
expressividade e sensações marquem, hoje e sempre, a memória deste ser repleto
de afetividade e tudo o que é capaz de lhe sugerir uma liberdade lúdica, uma vez
que nesta fase da vida, a maior essência está ligada às brincadeiras, aos sonhos e a
felicidade que significam a vivência de uma infância possibilitada por diferentes
leituras.
Apesar disso, há uma luta muito grande em diminuir a distância entre a
criança e o livro, pois os discentes estão rodeados de tecnologias: televisão,
videogames, e agora, pelas redes sociais, que exercem um papel importante no
desenvolvimento cultural desses.
Não obstante, esses atrativos da vida moderna estimulam de alguma maneira
a leitura, usados pelo professor na questão da aproximação do aluno com os textos
literários, e eles podem ser fortes aliados da escola, se utilizados e apresentados de
aos alunos da educação infantil de maneira correta, dando oportunidade a todos de
pensarem, refletirem suas atitudes e emoções, pois os textos literários são cheios de
fantasias e reúnem características necessárias e indispensáveis ao ser humano, que
vai além do papel pedagógico, mas é preciso que escola e sociedade se aliem para
que esse processo seja uma constante em suas vidas.
Machado (2002, pp.7-9) descreve suas recordações de infância ligadas ao
convívio literário que teve em sua vida e mantém na memória, sentimentos e
17

histórias que, com certeza, enriqueceram sua formação e contribuíram para que o
seu imaginário se ampliasse a partir das histórias que ouviu.

Não sei direito com que idade eu estava, mas era bem pequena. Mal tinha
altura bastante para poder apoiar o queixo em cima da escrivaninha de meu
pai. Diante dele sentado escrevendo, eu vinha pelo outro lado, levantava os
braços até a altura dos ombros, pousava as mãos por cima das outras no
tampo da mesa, erguia de leve o pescoço e apoiava a cabeça sobre elas. A
ideia era ficar embevecida, contemplando de frente o trabalho paterno. Bem
apaixonadinha por ele, como já explicava Freud, mas eu só descobriria
anos depois.
Só que meio do caminho tinha outras coisas. Bem diante dos meus olhos,
na beira da mesa. Uma pequena escultura de bronze, esverdeada e
pesada, numa base de pedra preta e bem lustrosa. Dois cavalos. Mas
exatamente, um cavalo esquelético seguido por um burrico roliço. Montado
no primeiro, e ainda mais magrelo, um tristonho cavaleiro de barbicha
segurava uma lança numa mão e um escudo no outro escarrapachado no
jumento, um gorducho risonho, de braço estendido para os altos, erguia o
chapéu como quem dá vivas.
Um dia perguntei quem eram.
- O da frente se chama Dom Quixote. O outro, Sancho Pança.
- Quem são eles?
- Ih, é uma história comprida... Um dia eu te conto.

A autora no trecho acima observa a presença de alguém fazendo algo


especial que estimulou em seu subconsciente o gosto pela leitura, esse alguém
trabalhava e ela observava. O professor pode fazer esse papel, de uma forma mais
direta, pois ele tem em suas mãos o material necessário, o livro.
Desse modo, não precisa forçar uma leitura obrigatória para que seus alunos
se tornem leitores brilhantes, mas estimular a observação de seus alunos a partir de
uma leitura que faz do manuseio do livro, da forma como conta a história e se tornar
a partir de seu trabalho o próximo exemplo a ser narrado em outros livros de autores
admirados pelos seus professores/exemplos.
As crianças estão iniciando o seu processo de desenvolvimento e em tudo
encontram referências, daí a importância do professor ser um leitor e contador de
histórias. Ele será o estímulo para essas crianças, assim como foi para Machado
que sabia da ocupação de seu pai, no momento, mas que guardava um tempinho
para lhe contar histórias e isso já a deixava contente:

[...] foi até a estante, pegou um livro grandalhão, sentou-se numa poltrona e
me mostrou. Lá estava várias figuras dos dois, em preto e branco.
- Outra hora eu te conto, agora vá brincar... mas eu sabia que depois ia ter
histórias. E isso já me deixava feliz. Não recordo bem o que pensei. Posso
ter me distraído com outras coisas. Posso ter lembrado a cantiga de roda
que dizia “Fui na Espanha/Buscar o meu chapéu/Azul e Branco/Da cor
18

daquele céu...Afinal, era lá que eu iria quando chegasse a hora de ouvir


história prometida. Não sei, há coisa que a memória da gente não guarda.
Mas nunca vou esquecer as aventuras de Dom Quixote que meu pai foi me
contando aos poucos, com suas próprias palavras, enquanto me mostrava
as ilustrações. (MACHADO, 2002, pp. 7-9).

Este relato de memória é capaz de elucidar questões que constituem o


universo infantil de uma criança privilegiada, a qual teve por perto pessoas com o
repertório literário que serviu não só como exemplo, mas acima de tudo, souberam
transmitir e se comprometer com a formação da criança enquanto leitora, sem
desconsiderar as oportunidades emotivas vivenciadas pela mesma a cada
oportunidade que lhe era disponibilizada.
Sobre sua memória, Machado descreve o ambiente em que vivia sua relação
afetiva com seu pai, a curiosidade e a maneira lúdica da vida aos olhos de uma
criança, percebe-se também o modo como a mesma faz relação com as coisas que
teve oportunidade de conhecer, como exemplo, sua geografia infantil (Santa Teresa,
Centro do Rio, Petrópolis, Argentina e imaginariamente a Espanha); e a importância,
uma vez que nos abre os olhos para as necessidades da criança em conhecer obras
de qualidades e quem sejam possíveis de se tornarem nítidas nas lembranças
infantis, obras estas que devem ser possibilitadas na família ou na escola
enriquecendo a formação literária do ser. Benjamim (1987, p. 227) diz que “a
memória das crianças é constituída também das lembranças das outras gerações”.
Dessa forma, existe inúmeros recursos que a literatura infantil oferece ao seu
deslumbramento na formação do leitor de textos literários. Abramovich, (1997, p.
10), tece comentários plenos de significação nesse sentido, ela, assim como,
Machado (2002), recorda sua iniciação à leitura: “meu primeiro contato com o
mundo mágico das histórias aconteceu quando era muito pequenina, ouvindo minha
mãe contar algo bonito todas as noites antes de eu adormecer, como se fosse um
ritual”. (ABRAMOVICH, 1997, p.10).
Portanto, o contar histórias deve ser enriquecido com a vivência que se
constrói entre o contador, a história, e a criança. Deve ser uma possibilidade em um
embalo de um momento aconchegante capaz de não simplesmente contar, mas
encantar, através do mundo mágico das narrativas, inspirar o fantasioso,
corresponder às expectativas do ouvinte atento as relações vivenciadas pela criança
ou não.
19

Assim, permite-se o brotar das emoções, o revelar de lugares, dos tempos,


das maneiras de ser e atuar conforme o enredo narrativo, o qual acima de qualquer
conhecimento didático, preocupado com a compreensão do mundo, se encontre
cheio de elementos atraentes ao procedimento da leitura prazerosa que, como diz
Abramovich (2006, p.17): “pois é, ouvir, sentir e enxergar com os olhos do
imaginário!”.
No entanto, vale lembrar as exigências que cada vez mais o contar histórias
requisita, visto que essa prática vem perdendo sua dimensão e, assim, seu
desfrutamento, devido aos veículos tecnológicos da contemporaneidade citados
anteriormente. Sobre esse fato ainda, as colocações de Nicolau e Dias, no livro
“Oficina de Sonho e Realidade na formação do Educador da Infância”, enfatizam
que:

Corremos aceleradamente contra o tempo e, apesar de estarmos


desfrutando de tantos meios de comunicação – com inúmeras informações
circulando rapidamente por intermédio da TV, do rádio, da internet, entre
outros -, parece que, infelizmente, não mais nos comunicamos. Deixamos
de ouvir o outro, de nos emocionar com suas histórias, de compartilhar
experiências e idéias. Perdemos a nossa voz, a palavra pulsante, corpórea
e significativa que brotava vida do interior. Com a criança não é diferente.
Ela “recebe” informações de diversas fontes e o tempo todo encontra-se
imersa nessa teia complexa de relações e, muitas vezes, é impossibilitada
de ouvir, expressar-se ou contar sobre suas experiências cotidianas e de
viver suas histórias. Estamos também deixando de olhá-la, de ouvir seu
apelo, sua voz e, até mesmo, de narrar-lhe nossas histórias. A palavra oral,
tão fundamental para o seu desenvolvimento e construção do ser
psicológico social e cultural, é infelizmente pouco explorada nas famílias,
nas escolas e nos vários lugares que ele frequenta. (NICOLAU E DIAS,
2003, p. 96).

Portanto, o contato com as narrativas desde cedo é fundamental para a


formação do leitor de textos literários, já que se devem apresentar para a criança
diversas oportunidades de leituras literárias, para que além de conhecer, possam
sentir entusiasmo e passem a exprimir seu gosto pela leitura, a partir das referências
que teve, ainda mais, deve facilitar o contato entre a criança e a leitura de textos
literários, no sentido de que, ela sinta a liberdade para explorar um universo, sem
que este seja, forçado ou obrigatório. De acordo com essa posição, Machado diz
que:

Ninguém tem que ser obrigado a ler nada. Ler é um direito de cada cidadão,
não é um dever. É alimento de espírito. Igualzinho a comida. Todo mundo
deve ter a sua disposição e boa qualidade, variada, em quantidades que
saciem a fome. Mas é um absurdo impingir um prato cheio de comida pela
20

goela abaixo de qualquer pessoa. Mesmo que se ache que o enche aquele
prato é a iguaria mais deliciosa do mundo. (Machado 2002, p. 15).

Assim, tanto para quem lê quanto pra quem escuta, a leitura é capaz de
propiciar muitas coisas que vão além do prazer das histórias, como também o
contato com o desconhecido, outros ambientes, outros tempos, relações
enriquecedoras que fazem dos personagens fictícios, uma brincadeira que vai além
de uma diversão descartável, mas que contribui para um jogo sedutor entre o leitor,
o texto e o ouvinte.
Machado (2002) faz considerações ao contato da leitura de clássicos desde
cedo, pois estes são constituídos, de todo esse aparato significativo na formação do
leitor, para isso, menciona a colocação de Stuner, sobre uma definição de clássicos.

Defino um clássico, na literatura, na música, na arte, na argumentação


filosóficas, como uma forma significante que nos “lê”. (...) mais do que livro
nos livros. Não há nada paradoxal nem místico nessa definição. Cada vez
que o enfrentamos o clássico nos questiona. Desafia nossos recursos da
consciência e do intelecto, da mente e do corpo (grande parte da resposta
estética primária, mesmo intelectual, é corpórea). O clássico fica nos
perguntando: Entendeu? Está imaginando de forma responsável? Está
preparado para agir baseado nessas questões, nas potencialidades de um
ser transformador e enriquecedor que eu estou colocando diante de você?
(MACHADO, 2002, p.23).

A contação de histórias é de fundamental importância para a formação da


criança enquanto leitor de textos literários, pois incluem uma literatura popular que
abarca as marcas culturais de gerações anteriores, fazendo uso de uma linguagem
literária, a qual admite o pacto do “faz de conta” que é proporcionado à medida que
a narrativa se desenrola e permite o mar de possibilidades imaginárias. Ou seja,
uma linguagem é poética, simbólica, e metafórica.
Desta forma, o contar histórias contribui não só com a riqueza cultural contida
nas narrativas, mas com a formação da criança enquanto ser, pois possui na sua
produção uma linguagem simbólica, de abordagem temática que trata dos anseios, e
mesmo dos medos do ser humano. Compondo assim, seu valor psicanalítico, e a
partir de então um grau de proximidade com o gosto da leitura. Quanto a esse
aspecto Machado entende a linguagem simbólica e a relação com as experiências
emocionais das crianças reconhecidas nos contos de fada:

Entendidas e aceitas em suas linguagens simbólicas, essas histórias de


fadas tradicionais se revela um precioso acervo de experiências
21

emocionais, de contatos com vidas diferentes e de reiteração da confiança


em si mesmo. No final, o pequenino se da bem e o fraco vence. Um depois
do outro, esses contos vão garantindo que o processo de amadurecimento
existe, que é possível ter esperança em dias melhores e confiar no futuro.
(MACHADO, 2002, p. 80).

Nesse contato, com os contos de fadas, a criança deve sentir-se livre para
compreendê-lo a seu modo, sem que o adulto venha interferir na magia, na
cativação que o conto foi capaz de revelar. A interpretação, que é uma forma de
leitura, apresenta-se de modo singular capaz para cada criança. “As interpretações
adultas por mais corretas que sejam roubam da criança a oportunidade de sentir que
ela, por sua própria conta, através de repetidas audições e de ruminar acerca da
história, enfrentou com êxito uma situação difícil”. (BETTELHEIM, 2000, p.13. Apud
ABRAMOVICH, 2006, p. 122).
Vale ressaltar que esse tipo de postura deve ser adotada sempre, seja na
visualização de um filme ou diante de uma peça teatral, respeitando a recepção
estética da arte literária do infante.
As narrativas devem ser bem aproveitadas pelo contador de histórias, o qual,
a fim de alcançar os seus objetivos enquanto mediador da leitura ou a oralização
espontânea da mesma, segue assim alguns cuidados importantes nessa tarefa de
amor, sendo estas:

Ao contar deve-se ter a consciência daquilo que se conta, ou seja, deve-se


conhecer antes a história, para que a sonoridade das palavras, das frases, o
ritmo flua de modo equilibrado, harmonioso, como um critério da arte de
contar que seja capaz de envolver com as diversas modalidades da voz
conforme a ação narrativa, valorizando cada momento, criando o clima de
envolvimento e construção e ações no imaginário das crianças inclusive
saber anunciar que a história acabou, sempre com o gostinho de “quero
mais”, aproveitando a oportunidade para estimular, assim, a iniciativa da
criança a uma leitura espontânea. (ABRAMOVICH, 2006, p.191).

Outro aspecto que deve ser considerado a respeito do contar história é saber
selecioná-las conforme a idade da criança, e a fase em que a mesma está inserida,
para que a proximidade e a relação com ela seja concretizada positivamente. O que
exige ainda mais de quem conta a história, o aproveitamento do texto em seus
aspectos anteriormente comentados.
Além do livro, existem ainda outros suportes narrativos como os textos por
imagem, filme, capazes de, também, contribuir nesse processo de formação do leitor
de textos literários. As histórias sem textos destacam-se por serem experiências do
22

olhar, que interpreta, que transforma o visual em oral, estimulando a criação, a


construção pelas crianças sobre um mundo que mexe com a inteligência através de
uma brincadeira propiciada pelas narrativas visuais.
Como diz Abramovich (2006, p. 3): “é tão bom saborear e detectar tanta coisa
que nos cerca usando este instrumento nosso tão primeiro, tão denotado de todo: a
visão. Talvez seja um jeito de não formar míopes mentais”.
Quanto aos textos imagéticos é necessário que haja uma reflexão acerca dos
estereótipos que contém na maioria dos textos infantis, afim de não pecar quanto a
preconceitos que podem ser repassados às crianças através das ilustrações
contidas neles.
Assim, segundo Abramovich (2006, p.99), “conduzir a criança a essa
observação e transformá-la conforme a sua realidade, pode ser uma boa maneira de
ampliar as referências da mesma sem limitar-se a tipologias preexistentes”.
Desse modo, é indiscutível a importância do ouvir, ler e contar histórias, pois
trazem para a vida do leitor e do ouvinte a possibilidade de viajar por um mundo
mágico, criando laços afetivos com o literário e ainda, a proximidade com as
narrativas permitem uma significação plena de emoções, em que se pode quebrar o
sair do estado de inércia e do silencio sepulcral, podendo abrir os seus próprios
espaços, dando liberdade a outras experiências em busca de múltiplas vozes de
leitura.
A literatura explora as virtualidades da linguagem verbal, assim como a
pintura utiliza as cores e a música combina os sons, com o propósito de expressar
que ela é um o conjunto das composições de uma língua, com preocupação
estética, é o conhecimento das belas-artes, o conjunto de trabalhos literários de um
país ou de uma época, bibliografias ou ainda, pode-se dizer que literatura
compreende, entre outras formas, a literatura de tradição oral, como os contos, as
lendas, os mitos, as fábulas, a poesia de cordel, o romance, o conto, a crônica,
literatura de vanguarda, em suma, literatura é a forma poética de, por escrito ou não,
todo processo histórico social do momento, com muitos efeitos especiais. Silva
(2009, p. 55) diz que:

Todos nós estamos acostumados à presença da literatura na escola. Por


isso, reivindicar um espaço para a literatura é desnecessário. [...] a relação
entre literatura e educação é tão antiga que se confunde com a ideia de
civilização. Antes mesmo de essas duas práticas serem denominadas e
adquirirem o sentido que possuem hoje [...] a literatura já era usada como
23

matéria de formação, ensino e aprendizagem em diferentes culturas.


(SILVA, 2009, p. 55).

Portanto, são as crianças que vão determinar se a literatura que estão


vivenciando pode ser classificada como literatura infantil ou não, pois, só serão
consideradas literatura infantil se lhes transmitir sentimentos de prazer, curiosidade
e utilidade.
Se é o leitor quem dá sentido ao texto, será a criança que ao ouví-las e,
posteriormente, reproduzí-las, lê-las, interpretá-las, amá-las é que, também irão
reconhecer que a literatura é importante para o seu crescimento enquanto cidadãos.
Freire (1989, p. 9), recordando sua infância diz:

No esforço de re-tomar a infância distante, a que já me referi, buscando a


compreensão do meu ato de ler o mundo particular em que me movia,
permitam-me repetir, re-crio, re-vivo, no texto que escrevo, a experiência
vivida no momento em que ainda não lia a palavra. E algo que me parece
importante, no contexto geral de que venho falando, emerge agora
insinuando a sua presença no corpo destas reflexões. Me refiro a meu
medo das almas penadas cuja presença entre nós era permanente objeto
das conversas dos mais velhos, no tempo de minha infância. (FREIRE,
1989, p. 9).

Assim, a contação de histórias pode exercer influência nas crianças no


sentido de que elas, podem resgatar sua memória vivida e no esforço de retomar o
que já viveu, repetir, recriar e escrever uma nova história, onde as possibilidades
possam se abrir na compreensão do ato de ler, como Freire fez. Benjamin (s.d) diz
que:

A memória não é um instrumento para a exploração do passado; é, antes, o


meio. É o meio onde se deu a vivência, assim como o solo é o meio no qual
as antigas cidades estão soterradas. Quem pretende se aproximar do
próprio passado soterrado deve agir como o homem que escava.
(BENJAMIN, s.d.)

Dessa forma, resgatar sua história é antes, enfrentar seus medos, suas
angústias, pois estão no tempo de mudar, de refletir sua prática e fazer diferente
agora, não deixando pra recordar de sua história só quando parecer que não tem
mais jeito. Dessa forma, contar histórias pode acender uma nova pessoa que esteve
adormecida e ajudar o aluno a refazer sua trajetória.
24

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O trabalho com o tema “A importância do ato de contar histórias na educação


infantil”, segue um método qualitativo, que Minayo (1996) define como:

Aquele capaz de incorporar a questão do significado e da intencionalidade


como inerentes aos atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas
últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, como
construções humanas significativas. (MINAYO, 1996, p.10)

Dessa forma, motivou à prática do escutar, do observar e principalmente no


agir, pois não basta conhecer e não atuar; não basta querer e não procurar e nem
saber e não falar, como diz o provérbio, a fé sem obras é morta.
Para fazer o levantamento do que se queria buscar neste trabalho,
inicialmente fez-se um planejamento, depois uma operacionalização e, por último, as
análises dos recursos e métodos utilizados.
O planejamento para este trabalho foi pensado levando em conta as
indagações recorrentes sobre os procedimentos em sala de aula, que motivam
professores no ato de ensinar com o uso da literatura, principalmente com os alunos
da educação infantil da Pré-escola, esses, na questão da assimilação e prática da
leitura em sala de aula.
Como motivar os alunos a partir da contação de histórias em sala de aula?
Muitos artigos falam da importância e de autores que concordam ou não com
determinada teoria. Este vem acrescentar a essas discussões, sugestões de como
pode ser trabalhada a contação de histórias no sentido de motivar a prática da
contação e, consequentemente, a prática da leitura de textos literários.
Utilizou-se para este trabalho, como referencial teórico e outras literaturas
pertinentes sobre o tema, além de discussão sobre as possibilidades de se trabalhar
com as histórias, que já fizeram parte e fazem parte da mente de muitos
adultos/criança e fará na mente das crianças que um dia serão adultos (realmente).
Assim, reiterando o que fora exposto neste trabalho, deseja-se que a partir
das contações de histórias, professores sintam-se mais motivados na prática da
leitura de textos literários e de outros gêneros e assim, motivem, também, cada
aluno de uma forma especial.
O ato de contar histórias é próprio do ser humano, e se o professor se
aproveitar dessa característica poderá transformar a contação em um
25

importantíssimo recurso em suas aulas para a formação do leitor. Inúmeras são as


possibilidades que o uso da contação de histórias propicia em sala de aula, pois
além delas divertirem, elas tingem outros objetivos: educar, instruir, socializar,
desenvolver a inteligência e a sensibilidade de quem lê e ouve.
Mainards (2008), exemplifica sete estratégias que o professor poderá utilizar
para que o aluno se aproprie das técnicas necessárias da contação de histórias:

1- Estudar a história – Não é preciso que o aluno memorize a história,


mas é necessário que a compreenda, que guarde as sequências dos fatos e
saiba como transmitir toda a emoção no momento exato, tornando-a
apaixonante;
2- Sentir a história – Essa deve despertar a sensibilidade de quem a
conta;
3- Ter domínio completo sobre o texto – O contador tem que estar
seguro sobre o que vai contar;
4- Acreditar na história – O contador tem que fazer o ouvinte acreditar
naquilo que está sendo contado, por mais irreal que pareça, tem que passar
credibilidade;
5- Olhar a plateia – O olhar do contador é um vínculo fundamental de
ligação entre o narrador eo público;
6- Falar com voz clara e agradável – Contar com naturalidade é contar
sem afetação, de forma clara, audível e agradável, sem se impostar a voz
ou falar em falsetes;
7- Ser comedido nos gestos – Se enxergar em gestos sem objetivos,
quando fizer um que seja necessário para melhor entender a história, tal
gesto não será notado. (MAINARDS, 2008, p. 9).

Desse modo, este trabalho propõe que se utilize da literatura infantil para o
desenvolvimento do sujeito no domínio da leitura e consequentemente da produção
e reprodução das mesmas numa metáfora onde basta o primeiro floco de neve rolar
na montanha para se virar uma avalanche. Não é uma mera pretenciosa ideia, pois
não é a primeira discussão sobre esse assunto, mas quando algo é discutido é
porque tem uma que de verdade implícito e pode ser mais um subsídio para o
trabalhado em sala de aula.
Ainda, no ato de contar e ouvir histórias como estratégia de ensino
colaboradora no processo de estímulo à leitura na Educação Infantil e nas demais
habilidades e competências determinadas para esse nível de ensino é verificada,
também, em que medida essa arte de contar histórias contribui para a aprendizagem
de uma forma geral e se ela pode ser um complemento para que a família possa
também contribuir, para o fomento do interesse da criança pela leitura.
26

4 DISCUSSÕES

4.1 Contar e ouvir histórias como estratégia de ensino para a educação infantil

Como foi escrito anteriormente, o ato de contar histórias é uma ação própria
do ser humano e o trabalho com gêneros, principalmente com um gênero do oral no
que se refere à contação de histórias, permite que os alunos, ao ouvir histórias,
melhorem na produção das habilidades de leitura e escrita e motive-os de acordo
com cada livro apresentado a repensar suas atitudes. Uma sugestão de atividade
para se trabalhar com esse gênero, não que ela seja a primeira abordagem sobre o
assunto, é a “Sequência didática”.
Além de somar com a prática pedagógica de muitos professores e técnicos
pedagógicos, Schneuwly e Dolz (2004, p. 97) dizem que: é uma estratégia adequada
para elaboração do processo de ensino-aprendizagem, pois compreende “um
conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de
um gênero textual oral ou escrito”. E ainda,

“O trabalho escolar será realizado, evidentemente, sobre gêneros que o


aluno não domina ou o faz de maneira insuficiente; sobre aqueles
dificilmente acessíveis, espontaneamente, pela maioria dos alunos; e sobre
gêneros públicos e não privados”. (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004, p. 89).

Os autores fazem uma síntese de uma ideia para trabalhar com os gêneros
que, direcionada à literatura, pode ser ponto chave para o convencimento do
professor que ainda sente-se inseguro.

Quanto mais precisa a definição das dimensões ensináveis de um gênero,


mais ela facilitará a apropriação deste como instrumento e possibilitará o
desenvolvimento de capacidades de linguagem diversas que a ele estão
associadas. O objeto de trabalho sendo, pelo menos em parte, descrito e
explicitado, torna-se acessível a todos nas práticas de linguagem de
aprendizagem. (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004, p. 89).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), que se baseiam em


concepções teóricas relativamente recentes, como na orientação advinda da
concepção interacional de linguagem, adotam os gêneros como objeto de
ensino/aprendizagem e o texto como unidade de ensino. Segundo os autores
suíços, para transformar os gêneros em objeto de ensino e instrumento de trabalho
27

para o desenvolvimento da linguagem, na escola, é preciso lançar mão de modelos


didáticos de gênero que, em seguida, contribuem para a elaboração de sequências
didáticas.
Sabe-se pois, que para a comunicação verbal ocorrer há a necessidade da
utilização de um determinado gênero textual, portanto um texto, assim, uma
comunicação verbal não acontece a não ser por intermédio de um texto oral ou
escrito. Falar do imaginário não requer texto escrito, mas se utiliza o texto oralmente,
onde estão toas as formas de enunciar o oral, as entonações, as pausas, entre
outras particularidades da linguagem oral.
Para Marcuschi (2002, p.22), “é impossível se comunicar verbalmente a não
ser por algum gênero, bem como, é impossível se comunicar verbalmente a não ser
por algum texto, ou seja, a comunicação verbal só é possível por algum gênero
textual”.
Portanto, o termo “sequência didática” refere-se à construção de oficinas de
ensino/aprendizagem, uma série de atividades e exercícios que seguem uma ordem
determinada, e tem como objetivo a supressão das dificuldades dos alunos. [...]
Preferencialmente, uma sequência deve ser realizada num espaço de tempo
relativamente curto e ter um ritmo adaptado às possibilidades de aprendizagem dos
alunos.
Um excelente método que poderá ser utilizado por todo professor, da
educação infantil com o gênero contação de histórias, onde pode ser trabalhado na
sequência. Para os autores suíços, Schneuwly e Dolz (2004, p.97), a sequência
didática é uma estratégia adequada para elaboração do processo de ensino-
aprendizagem, pois compreendem “um conjunto de atividades escolares
organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito”.
Antes de se elaborar uma sequência didática faze-se:
Plano de ação;
Mapeamento do conhecimento prévio do aluno;
Desenvolver atividades que proporcionem a ampliação do repertório dos
alunos;
E só depois então se organizar uma sequência didática que possuirá os
seguintes tópicos conforme o exemplo abaixo:
OBJETIVOS;
CONTEÚDOS;
28

MATERIAL NECESSÁRIO;
TEMPO ESTIMADO;
AVALIAÇÃO.

Assim, segue-se um modelo o esquema abaixo de sequência didática


desenvolvida por Schneuwly e Dolz (2004):

Figura 1. Sequência didática

Apresentação Produção Módulo Módulo Módulo Produção


da situação inicial 1 2 3 final

Fonte: Schneuwly e Dolz (2004, p.98)

Após uma apresentação inicial na qual é descrita de maneira detalhada a


tarefa de expressão oral ou escrita que os alunos deverão realizar, no caso a
contação de histórias, estes elaboram um primeiro texto inicial, oral ou escrito, que
corresponde ao gênero trabalhado. É a primeira produção.
Nesse caso é apresentada uma situação que visa mostrar tudo o que será
trabalhado na sequência, é a visão macro da sequência. Onde é preparada uma
produção inicial, que servirá para o professor analisar o nível de conhecimento oral e
escrito da turma, quem tem mais dificuldade, quem tem melhor desenvolvimento, no
caso é a primeira tentativa de realização do gênero contação de histórias que será
trabalhada nos módulos.
É importante que os alunos compreendam passo a passo o que eles irão
produzir, qual gênero será abordado; a quem se dirige a produção; que forma
assumiria a produção; quem participará da produção, ou seja, os alunos a partir de
uma sequência didática passam a fazer parte do próprio processo de aprendizagem,
o professor nessa situação passará a mediador da prática onde os próprios alunos
se motivarão e motivarão os demais a participarem.
29

Citaremos dois modelos de sequência didática que podem ajudar na


habilidade de discentes na educação infantil, aplicados em turmas que fazem parte
do Pacto pela educação, Brasil (2012).

1º Sequência Didática: “A reunião de ratos”


Tema: A reunião de ratos

Escola Municipal
Professoras: Lucineide Santos da Silva e Shirlene Maria Nascimento
Período: 5 dias

O trabalho de alfabetização e letramento, no Ciclo de Alfabetização, deverá


ser realizado com o objetivo de desenvolver os 5 eixos do conhecimento de
Língua Portuguesa.
1º - Compreensão e valorização da cultura escrita (letramento);
2º - Apropriação do Sistema de Escrita (alfabetização);
3º - Leitura (interpretação de textos);
4º - Produção de textos escritos;
5º - Desenvolvimento da Oralidade.

Objetivos: - Mostrar a importância da fábula:


- Despertar o interesse pela leitura:
- Fazer reflexão sobre a moral da fábula;

Passos:
1º) passo: Apresentar do trabalho e explicar sobre a importância da fábula;
2º) passo: Mostrar um cartaz com o texto da fábula. (A reunião de ratos);
3º) passo: Ler a fábula de forma clara e precisa;
4º) passo: Fazer uma reflexão com a moral da fábula;
5º) Passo: Atividade com palavra do tema “A reunião de ratos”, cortar em
tiras o verso da fábula e dar uma folha com a fábula “A reunião de ratos” em
branco para as crianças colarem as palavras do texto da fábula e letras
soltas para trabalhar o jogo do bate letra;
6º) Passo: Pedir às crianças para recontarem a história da fábula “A reunião
de ratos”.

2ª Sequência Didática: “O patinho feio”


Tema: O patinho feio

Escola Municipal
Professoras: Lucineide Santos da Silva e Shirlene Maria Nascimento
Miranda
Período: 5 dias

O trabalho de alfabetização e letramento, no Ciclo de Alfabetização, deverá


ser realizado com o objetivo de desenvolver os temas transversais
(Valores):
1º - Família;
2º - Bullying;
3º - Respeito ao próximo;

Objetivos: - Mostrar a importância da leitura:


- Despertar o interesse pela leitura:
- Fazer reflexão sobre a moral da fábula;
Passos:
1º) passo: Apresentar do trabalho e explicar sobre a importância da fábula;
2º) passo: Mostrar slide com as figuras em desenho animado do
30

personagem Patinho Feio;


3º) passo: Ler a fábula para os alunos de forma clara e precisa;
4º) passo: Fazer uma reflexão com a moral da fábula;
5º) Passo: Atividade com palavra do tema “O patinho Feio”, cortar em tiras o
verso da fábula e dar uma folha com a fábula “O Patinho Feio” em branco
para as crianças colarem as palavras do texto da fábula e letras soltas para
trabalhar o jogo do bate letra;
6º) Passo: Pedir às crianças para recontarem a história da fábula “O Patinho
Feio”.

Observa-se nas sequências acima que elas possuem simplesmente segundo


Schneuwly e Dolz (2004, p.97), “a finalidade de ajudar o aluno a dominar melhor um
gênero de texto, permitindo-lhe, assim, escrever ou falar de uma maneira mais
adequada numa dada situação de comunicação”.
Dessa forma, desenvolver uma sequência didática com o gênero textual/oral
contação de histórias, poderá favorecer, como visto nas propostas de sequências
acima a discussão sobre valores, o que faria do aluno participante ativo dessa
análise, pois oportuniza o discente a refletir sobre várias atitudes referentes ao
comportamento humano: valores, família, escola, comportamento, etc.
Empreendemos que o trabalho com sequência didática facilita tanto o trabalho do
professor quanto a compreensão do gênero apresentado, a participação do aluno
como ouvinte e como contador de histórias, a prática da leitura e desenvolvimento
do raciocínio por parte do aluno.

4.2 A arte de contar histórias e sua contribuição para o desenvolvimento


integral de crianças pequenas

A contação de histórias é enquanto gênero uma ferramenta de ensino e de


aprendizagem. O professor instiga a curiosidade do aluno contando histórias e
apresentando uma discussão sobre essa, fazendo com que os alunos dialoguem,
discutam, concordem, discordem, façam contribuições, ou seja, passe a produzir
outros textos, orais e escritos, que confrontem suas ideias e, desse modo, abrem
caminhos para outras instigantes leituras. Para Neder et al. (2007, p. 1.), “as
narrativas estimulam a criatividade, a oralidade, além de facilitar o aprendizado e
colaborar na formação da personalidade das crianças”.
Abramovich (2003, p.17) afirma que “ler histórias é suscitar o imaginário. É o
momento em que o mundo é descoberto com seus inúmeros conflitos e impasses,
bem como suas soluções”. Para Coelho (1997, p. 12),
31

[...] a história é importante alimento da imaginação. Permite a auto-


identificação, favorecendo a aceitação de situações desagradáveis, ajuda a
resolver conflitos, acenando com a esperança. Agrada a todos, de modo
geral, sem distinção de idade, de classe social, de circunstância de vida.
Descobrir isso e praticá-lo é uma forma de incorporar a arte à vida [...]
(COELHO, 1997, p. 12)

Entende-se, desse modo, que é grande a aceitação do trabalho com os


gêneros textuais no estímulo à leitura e consequentemente à escrita.
Assim, o professor tem em suas mãos uma infinidade de possibilidades para
fazer com que a criança desenvolva seus aspectos, físico, mental, emocional e
motora, além do desenvolvimento da linguagem, pois ao contar histórias com vistas
a formação de leitores é preciso que o texto narrado faça ressoar no interior do
ouvinte o despertar do interesse de ouvir atentamente, para que depois possa
reproduzi-lo.
Mas só a ação do professor não sortirá o efeito esperado nem o tempo
esperado se não houver a contrapartida da família, incentivando, também a leitura
em casa, ouvindo as leituras de seus filhos e fazendo com que ele sintam-se
motivados, possibilitando variedades de leituras, interagindo também nessa
contação de história.

4.3 O ato de contar histórias e a contribuição da família para o fomento à


leitura

A importância da família e do convívio familiar está descrito na ECA (Estatuto


da Criança e do Adolescente), que assegura a elas, por meio da Lei nº 8.069 de 13
de Julho de 1990 em seu artigo 4º, explicitando o dever da família dizendo que:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, a alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária. (ECA, 2005, p. 13).

Desse modo é importante que a escola e a família sejam aliadas nesse


processo que é essencial na formação do cidadão consciente de seus direitos e
deveres, pois quando a família é consciente de seu papel, torna o trabalho da escola
mais fácil, já que uma será a força da outra na educação de seus filhos. Segundo
32

Tiba (2002, p.183) “[...] quando a escola o pai e a mãe falam a mesma língua e têm
valores semelhantes, a criança aprende sem grandes conflitos e não joga a escola
contra os pais e vice-versa [...]”.
Rios e Zoé (2009) dizem ainda que:

É necessário, para promover uma relação construtiva entre escola e família


ter atenção quanto ao tipo de comunidade que a escola está servindo.
Conhecer a escolaridade e o nível socioeconômico das famílias ajuda a
planejar as intervenções propicias para a interação destas com a escola.
(RIOS; ZOÉ, 2009, p. 43)

Promover ações que propiciem a participação da família dentro da escola e


em que pais e alunos interajam num ambiente familiar, amigável, intenso é uma das
discussões que servem para uma abordagem maior.
A Família é a principal instituição que serve de apoio psicológico, moral,
intelectual, e onde o aluno passa a maior parte do seu tempo. Desse modo pode
acrescentar à vida do discente estímulo, o que falta por parte da família oferecer,
pois devido à falta de tempo e motivada pela vida corrida pelo trabalho, muitas vezes
tornam-se negligentes nesse acompanhamento.
Assim é imprescindível que haja um entrosamento entre família, escola,
aluno, professor e comunidade, para que resulte num trabalho completo. A família
ajuda a escola que incentiva o aluno para uma sociedade melhor, formada a partir
de valores como: respeito mútuo, solidariedade e união. Mas, se sabe que é um
caminho árduo, cheio de altos e baixos, pois vivemos numa sociedade que
apresenta uma vasta herança cultural, onde se possam levar sugestões que podem
ser discutidas por todos para o bem comum da sociedade escolar. Segundo o
Referencial Curricular para a Educação Infantil - RCNEI (1998, p. 75),

As crianças têm direito de ser criadas e educadas no seio de suas famílias.


O Estatuto da Criança e do Adolescente reafirma, em seus termos, que a
família é a primeira instituição social responsável pela efetivação dos
direitos básicos das crianças. Cabe, portanto, às instituições estabelecerem
um diálogo aberto com as famílias, considerando-as como parceiras e
interlocutoras no processo educativo infantil. (BRASIL, 1998, p. 75).

A contação de histórias pode facilitar essa união, quando em seu conteúdo


vasto, trabalha valores, não só com as crianças, mas com a família que se sentirá
motivada a ajudar, pois compreenderá como funciona o processo e qual importância
ele trará para a educação dos seus filhos. Além disso, permite uma aproximação
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maior das crianças com seus pais, pois se estes dedicarem um tempo do dia para
contar histórias a seus filhos terão a oportunidade de contribuir para o
desenvolvimento de aprendizagem das crianças, como também acompanhá-las nas
atividades escolares de maneira geral.
Ressalta-se que o ato de contar histórias,

[...] transporta-nos para o lugar do compartilhar, da voz que embala as


fantasias de criança, de ouvidos generosos emprestados para acolher as
narrativas fantásticas de contadores de histórias cumprindo o desígnio
ancestral de narrar o que ouviram de outros, no fio condutor da trama da
própria existência humana. [...] Especialmente na escola, as histórias
chegam com grande força, tendo em vista a importância destas para a
formação do leitor. Quanto mais cedo as crianças entram em contato com
as narrativas maiores são seus interesses pelas atividades de leitura e
escrita, ampliação da capacidade de imaginação, observação, vocabulário e
desenvolvimento pelo gosto literário. Professores adentram no universo das
histórias com a percepção que ao pronunciar “Era uma vez...” abrem as
portas para um mundo repleto de encantamento. É possível aprender
diferentes conhecimentos das mais diversificadas áreas, sentir e desvelar
os mais variados sentimentos... (COZZI; SANTOS, 2012, p. 8).

O gênero contação de histórias oferece, dessa forma, ao aluno a


oportunidade de descobrir os sentidos por meio de diferentes níveis de apreensão
das narrativas, por meio de infinitas camadas, sonora, lexical em diversas e
diferentes leituras e contações.
Para que essa prática realmente aconteça é necessário disponibilizar tempo,
pois ele é o elemento de todo o conhecimento. Cada aluno em seu tempo. Os
resultados mais prováveis de uma aprendizagem serão alcançados, pois essa é uma
forma de se trabalhar a leitura, e consequentemente a escrita. Como disse o filósofo,
há infinitas possibilidades de se trabalhar com os gêneros textuais.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho não teve a intenção de colocar o gênero contação de histórias


em uma categoria, mas mostrar que o trabalho com gêneros textuais e o que tem se
proposto para sua aplicação ao ensino da leitura na educação, as ideias, com o
propósito de inseri-los em práticas educativas, que seja de forma consciente e eficaz
no ambiente escolar como motivador de outras práticas pedagógicas, ajudando
professores e alunos a saírem de um comodismo, muitas vezes imposto.
A busca por novos métodos sempre será motivo de encontros e desencontros
entre educadores, assim, acredita-se que este trabalho alcançou seus objetivos:
Discutir a respeito do ato de contar histórias para a construção do imaginário infantil,
bem como para o desenvolvimento da criança nos aspectos psíquico, social, cultural
e intelectual.
Investigou o ato de contar e de ouvir histórias como estratégia de ensino
colaboradora no processo de estímulo à leitura na Educação Infantil e demais
habilidades e competências determinadas para esse nível de ensino; além de
verificar em que medida a arte de contar histórias contribui para a aprendizagem de
inúmeras ações que ajudariam o desenvolvimento cognitivo, emocional e motor de
crianças.
Enfim, discutiu à cerca de como a família pode também contribuir para o
fomento do interesse da criança pela leitura, e de como ela é importante para a vida
dos seus filhos. Desse modo pode-se inferir que a educação é um trabalho em
conjunto, que acontece a partir da interação que se cria dentro de um ambiente
preestabelecido entre os seus pares. A família, a escola e a sociedade podem
oferecer às crianças um futuro melhor se trabalharem unidas num propósito, de
fazer com que seus filhos sejam a continuação de uma sociedade que vive a
harmonia, em paz, respeitando uns aos outros e as diferenças de modo geral.
Portanto, a contação de histórias reacendeu em nós a chama de que estamos
no caminho certo e que olhar pra trás, também tem suas vantagens, pois somos
seres históricos, vindos de algum meio social e que agora somos capazes de
construir nossa história, reconstruindo a história de outras pessoas. Assim, formando
leitores competentes para construírem um gosto literário único e próprio.
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ANEXOS
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A reunião geral dos ratos

Uma vez os ratos, que viviam com medo de um gato, resolveram fazer uma reunião
para encontrar um jeito de acabar com aquele eterno transtorno. Muitos planos
foram discutidos e abandonados. No fim um rato jovem levantou-se e deu a ideia de
pendurar uma sineta no pescoço do gato; assim, sempre que o gato chegasse perto
eles ouviriam a sineta e poderiam fugir correndo. Todo mundo bateu palmas: o
problema estava resolvido. Vendo aquilo, um rato velho que tinha ficado o tempo
todo calado levantou-se de seu canto. O rato falou que o plano era muito inteligente,
que com toda certeza as preocupações deles tinham chegado ao fim. Só faltava
uma coisa: quem ia pendurar a sineta no pescoço do gato?

Moral: Inventar é uma coisa, fazer é outra


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