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Artigo Imigração Japonesa em São Paulo
Artigo Imigração Japonesa em São Paulo
INTRODUÇÃO
Co
mo já vimos, para o Brasil, assim como para os
demais Países do Ocidente, o grande País asiático
até o século XIX era a China da Dinastia Chin. É
compreensível que o Brasil tenha dado preferência
a este País para estabelecer relações diplomáticas,
já que havia interesse para receber imigrantes
destinados a lavoura de café e a potencialidade
demográfica da China já era conhecida para envio
de emigrantes (NINOMIYA:1996, p. 247)
1
Mestre em Serviço Social pela PUC-SP, Pós-graduado em História e Professor Substituto de História da
Universidade Federal de Roraima-UFRR;
Ou seja, num primeiro momento, o governo brasileiro optara pelos chineses ao
invés dos japoneses, e isto tem uma explicação plausível, pois neste momento, o Japão
estava passando por um gradativo processo de mudanças que perpassavam pelo crivo de
uma ampla reforma de cunho administrativa, afinal era de muita importância para o
governo japonês abolir definitivamente o modo de produção feudal que persistia há
séculos e construísse novas províncias que coadunassem com o desenvolvimento
tecnológico que refletia na chegada das industrias, assim como no engendramento de
empresas estatais e por fim com a estruturação do Estado sob o domínio da Dinastia
Meiji.
É importante ressaltar que os primeiros japoneses que aqui chegaram, foi fruto
de um processo de imigração adotado pelo governo japonês que buscava uma
conciliação entre o período de modernização do Japão, iniciada ainda durante a era
Meiji em 1866 e o agravamento das tensões sociais causadas principalmente pela
alternância das relações de produção vigentes que deixavam naquele momento de ser
utilizados por um campesinato manual e passava a se aproximar vertiginosamente de
técnicas modernizadas de agricultura deixando como consequência um alto índice de
camponeses desempregados por não dominarem estas novas técnicas no campo. Não
obstante, é deveras importante ressaltar que junto ao processo de modernização citado
A partir deste processo, uma das alternativas encontradas pelo governo japonês,
foi estabelecer um contrato com o Brasil, que influenciava a imigração de japoneses
para o nosso território, garantindo desta forma uma estabilidade social para o Japão e de
quebra, mão-de-obra para os grandes fazendeiros do Sul e do Sudeste brasileiro.
Assim, partindo deste pressuposto histórico-econômico-social, este artigo,
pretende discutir e contextualizar os interesses que estavam por trás do acordo de
imigração entre Brasil e Japão e o quanto isso influenciou, de certa forma, as relações
concomitantes entre nós brasileiros e o povo nipônico sob uma perspectiva social,
econômica e cultural.
transição e adaptação por conta do fim do escravismo agrícola que houvera sido
tardiamente se encerrado pela Lei Áurea de 18882, proporcionado uma legião de ex-
escravos ávidos por trabalho o que acabou inserindo-os numa demanda crescente de
mão-de-obra barata que mais tarde se deslocaria para indivíduos de outras
nacionalidades, dando início de forma asseverada ao processo imigratório em nossas
terras. Nesta toada, o ciclo do café se encontrava em ascensão eminente, sendo este
produto (o café) a principal commoditie brasileira. Neste aspecto, urge a necessidade
crescente de mão-de-obra apta ao trabalho nos campos e nas lavouras, principalmente
em São Paulo e no norte do Paraná e para suprir estas demandas necessárias, entra em
cena um novo personagem na história: os imigrantes transnacionais.
No caso especifico destes dois Estados, produtores de café, uma destas mãos-
de-obra que se disponibilizaram a vir trabalhar nas lavouras cafeeiras neste período
foram os japoneses. Neste contexto é mister salientar que
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A Lei Áurea (Lei Imperial número 3.353) foi assinada pela Princesa Isabel no dia 13 de maio de 1888.
A partir dessa data, a escravidão passou a ser considerada crime e quase 700 mil escravos foram
libertados no Brasil (grifo nosso).
Desterro, atual Florianópolis (SC), no dia 20 de dezembro,
permanecendo até 4 de fevereiro de 1804. Ali, os quatro japoneses
fizeram registros importantes da vida da população local e da
produção agrícola da época3.
Como se percebe a incursão nipônica no Brasil, quando de sua primeira
“visita“ oficial datada ainda no estupor do início do século XIX, por náufragos, já dera
aos japoneses uma primeira impressão do que os iria esperar quase um século depois de
sua vinda oficial as terras tupiniquins, apesar de que embora este contato inicial tenha
sido apenas um referencial ao que os japoneses iriam encontrar de fato quando aqui
chegam no século XX, pode-se dizer em suma que
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Site oficial da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo. Fonte: Museu Histórico da Imigração
Japonesa no Brasil
ARTIGO XI
Pode-se observar que o referido Tratado, foi o marco jurídico que instala a
chegada dos japoneses ao Brasil, dando-lhes garantias de liberdade e socorro jurídico
visando sua estadia de, em tese, uma forma mais segura ao estabelecer residência por
aqui.
Assim, em junho de 1905, Sugimura produziu um relatório, que mais tarde seria
enviado ao ministério, onde contava sobre sua viagem por São Paulo e detalhava quão
promissora era a possibilidade de se introduzir o imigrante japonês naquele estado.
Sugimura esperava que, ao ler o tal relatório, todo o país voltasse os olhos em direção à
América do Sul. Pode-se imaginar a motivação do ministro sabendo-se que o relatório
foi enviado em várias partes, cada qual em um navio diferente, pois o ministro temia
que ao enviar o relatório completo de uma só vez o atraso provocado pelo correio
marítimo fosse deveras grande.
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Legislação Informatizada - DECRETO Nº 2.489, DE 31 DE MARÇO DE 1897 - Publicação Original
Com a repercussão do relatório, a recém-fundada Companhia Imperial de
Colonização, não tardou em dirigir-se à Legação Brasileira no Japão e ao Ministério das
Relações Exteriores, e em dezembro do mesmo ano, se dirigiu para o Brasil e em 6 de
novembro de 1907, assina o contrato com o Ministério da Agricultura que a época era
comandado por Carlos Botelho5.
Consta-se que a primeira embarcação que deu início à imigração japonesa para o
Brasil partiu do Porto de Kobe, em abril de 1908. Durante um mês e vinte e dois dias
navegando dos mares da Ásia até o Oceano Atlântico, a tripulação do navio Kasato
Maru, trazia consigo a esperança e a perspectiva de uma vida prospera e longeva numa
terra inóspita para os mesmos.
5
Jorge Botelho, ocupou a pasta da Secretaria da Agricultura no governo de Jorge Tibiriçá, Presidente do
Estado de São Paulo de 1904 a 1908, que então compreendia também as de Comércio, Obras Públicas,
Viação, Navegação e Iluminação. Foi eleito senador por São Paulo em 1919, sendo reeleito em 1927.
Em meio a uma viagem exaustiva, os imigrantes japoneses desembarcam no
Porto de Santos no dia 17 de junho de 1908, trazendo 781 imigrantes de várias
províncias do Japão. Logo após o desembarque no Porto de Santos, os neófitos
imigrantes rumaram via estrada de ferro para a Hospedaria do Imigrante onde os
mesmos aguardaram quase dez dias para saberem de fato onde iriam se estabelecer.
No dia 27 de junho, logo pela manhã, os imigrantes são enviados para as primeiras
seis fazendas mais prosperas daquela época.
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Presidente do Centro de Pesquisas em Cultura Japonesa de Goiás (CPCJ-GO).
comunicação e também não se acostumavam com a comida brasileira.
Além disso, não conheciam direito o trabalho na lavoura, que era
pesado demais e as condições de moradia e saneamento eram por
demais precárias, não foram raras as epidemias entre a comunidade.
Outro problema foram as crises econômicas que fizeram com que
muitas das promessas de dinheiro fácil não fossem cumpridas gerando
revoltas entre os imigrantes. (TANAKA, 2014, p. 38).
Todo esse processo só veio a piorar com a entrada do Japão na Segunda Guerra
Mundial ao lado dos Países do Eixo, no caso a Alemanha nazista e a Itália fascista, uma
vez que por conta disso, o Brasil rompe as relações diplomáticas com o Japão em 1942,
colocando os japoneses imigrantes como inimigos e interrompendo o processo de
imigração entre o Japão e o Brasil que só é normalizada em 1953 com a retomada das
relações diplomáticas entre ambos. Desta forma
Assim sendo, a vinda dos imigrantes japoneses foi justificada não para se
juntarem ao Núcleos Coloniais existentes no Estado, mas para serem utilizados como
mão-de-obra barata para grandes cafeicultores.
CONCLUSÃO
Que essa mesma resiliência e capacidade de mutação social, seja o escopo para
outros povos que passam pelo drama da imigração impulsionada por guerras,
fenômenos naturais, sociais e políticos causados, em grande parte, pela incapacidade
dos indivíduos que detém o poder em racionalizar e humanizar as relações com seu
povo.
REFERÊNCIAS:
A.C. Fátima; ANBG. Meia volta ao mundo, imigração japonesa em Goiás. Goiânia:
ANBG, 2008.