DIG-FIS654 - PA3 - FISICA EXPERIMENTAL AII
Radioatividade natural
Instituto de Fı́sica, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
29 de novembro de 2022
I. Introdução
Em 1896, enquanto investigava se uma substância flu-
orescente emitia raios X quando exposta ao sol, o fı́sico
francês Antonie Henri Becquerel, descobriu a radioati-
vidade. Becquerel guardou uma pedra de urânio junto
a uma chapa fotográfica dentro de uma gaveta e após
alguns dias, ao abrir a gaveta, percebeu que as chapas
fotográficas haviam sido manchadas pela pedra. Diante
disso, ele supôs que a radiação não era um efeito da luz
e sim de alguns elementos como, por exemplo, o urânio.
Dois anos após a descoberta de Becquerel, Marie Curie
concluiu, enquanto estudava o fenômeno, que a emissão
de radiação era uma caracterı́stica do elemento e indepen-
dia das condições fı́sicas e quı́micas para ocorrerem e, a
partir desse momento, denominou-se o fenômeno como
radioatividade e os elementos como radioativos.
A descoberta da radioatividade natural por Becquerel
forneceu os primeiros indı́cios da existência do núcleo
atômico e grande parte do conhecimento da estrutura
nuclear que a ciência acumulou no último século é resul-
tado de estudos envolvendo nuclı́dios radioativos, isso é,
das transições dos núcleos entre estados quânticos mais
energéticos para menos energéticos. Dentre os mais de
3000 isótopos encontrados na natureza ou produzidos em
laboratório, somente 266 são estáveis e todos os outros,
que foram previstos teoricamente, mas ainda não foram
observados, são radioativos. A maioria dos decaimentos
acontece através de um ou dois dos seguintes modos: alfa,
beta e gama. A radioatividade é um fenômeno que deriva
do fato de alguns átomos, como é o caso do urânio, serem
instáveis e perderem constantemente partı́culas alfa, beta
ou gama. Nesta prática, somente os dois primeiros tipos
de radiação foram estudados.
As partı́culas alfa são compostas por dois prótons e
dois nêutrons e possuem a mesma estrutura que o núcleo
de um átomo de hélio. Por conta da grande massa e
da carga positiva, a radiação alfa possui um grande po-
der de ionização, porém, uma pequena capacidade de
penetrar na matéria graças à interação coulombiana. O pa-
pel, por exemplo, é uma barreira bastante eficiente contra
partı́culas alfa e uma única folha é capaz de bloquear a
passagem de partı́culas alfa praticamente por completo.
As partı́culas beta são elétrons (β− ) ou pósitrons (β+ )
de alta energia emitidos por núcleos atômicos no pro-
cesso denominado decaimento beta. Para a emissão de
uma partı́cula β− , um nêutron deve ser convertido em
um próton com a emissão de um elétron e de um antineu-
trino de elétron (n → p + e− + ν̄e ). Já no caso da partı́cula
β+ , é necessário que um próton seja convertido em um
nêutron emitindo um pósitron e um neutrino de elétron
(p → n + e+ + νe ). Nos dois casos, a partı́cula beta pos-
sui um poder de penetração 10 vezes maior do que as
partı́culas alfa e um poder de ionização 10 vezes menor.
No entanto, a radiação beta é completamente bloqueada
por uma chapa de alumı́nio.
II. Objetivos
• Investigar a radioatividade presente em minerais ra-
dioativos e os efeitos de blindagem dos diferentes
tipos de radiação.
III. Material
• Amostras de columbita e de areia monazı́dica;
• Contador Geiger-Müller com base metálica e su-
porte;
• Folhas de papel A4;
• Placas de diferentes materiais: alumı́nio, chumbo e
acrı́lico;
• Paquı́metro;
• Régua;
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• Luvas descartáveis.
IV. Procedimentos
O experimento consistiu em detectar a radioatividade
de minerais radioativos, como a areia monazı́dica e a co-
lumbita, utilizando um contador de radiação em relação
à distância e à absorção de alguns materiais. A prática
consistiu foi dividida em quatro partes:
Figura 1: Desenho esquemático de um contador Geiger-Müller.
PARTE A - Medida da Radiação de fundo
Utilizou-se um contador Geiger-Müller composto por
um cilindro, enchido de gás argônio sob baixa pressão, su-
jeito a uma tensão elétrica, onde a parede do tubo mantém-
se negativa em relação ao fio positivo ao longo do seu eixo.
O dispositivo tem como função detectar a radiação por
meio da ionização das partı́culas radioativas com determi-
nadas moléculas. A partir disso, os elétrons migram para
o fio e os ı́ons para a parede do cilindro por meio de um
campo elétrico. Assim, cada partı́cula radioativa captada
pelo detector gera um pulso de corrente, fazendo com que
o contador adicione uma unidade à contagem.
Por meio desse dispositivo, mediu-se a radiação ter-
restre e cósmica, conhecida como contagem de fundo.
Utilizou-se o tempo de medida de 60 segundos e realizou-
se um total de 5 medições, onde efetuou-se a média dos
valores registrados e o desvio padrão.
PARTE B - Atividade especı́fica de minerais
radioativos
Mediu-se a radiação dos minerais radioativos dispos-
tos no laboratório, a areia monazı́dica, concentrada de
minerais pesados, e a columbita, um óxido que detém
niobato e tantalato de ferro e manganês, onde a porcenta-
gem de nióbio é maior que a de tântalo. Utilizou-se uma
amostra de areia monazı́dica com uma massa m1 e outra
2
amostra com massa m2 tal que m2 > m1 , onde mediu-se
5 vezes durante 60 segundos para cada massa. Para a
amostra de columbita, a medição foi análoga.
PARTE C - Natureza da radiação
Estudou-se a proporção das radiações da columbita
de forma que a amostra fosse blindada por uma folha
A4, por uma chapa de alumı́nio e, finalmente, por uma
chapa de chumbo. Para cada blindagem sobre a amostra,
realizou-se 5 medições durante 60 segundos.
PARTE D - Blindagem de radiação
Estudou-se a blindagem de radiação por meio de pla-
cas de acrı́lico com 1mm de espessura. A blindagem por
radiação por um material possui a seguinte relação:
I = Io e−αd (1)
tal que I é a intensidade de radiação com blindagem e Io
sem a blindagem, α diz respeito ao coeficiente de absorção
e d a espessura da blindagem. Realizou-se 5 medições
durante 60 segundos para uma, duas, três e quatro placas
de acrı́lico sobrepostas uma à outra.
V. Resultados e discussão
Radiação de fundo
Na primeira parte da experimento mediu-se a radiação
de fundo, pois as médias desses valores foram usados pos-
teriormente para ajustar as outras medições. Os valores
obtidos estão tabelados abaixo:
Medição Contagem
1 55
2 52
3 68
4 68
5 63
Tabela 1: Valor das contagens medidas pelo contador Geiger-Müller
durante um minuto para a radiação de fundo.
Portanto, tem-se a média da radiação de fundo e seu
respectivo desvio padrão:
N f undo = (61 ± 7)contagens/minuto
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Areia monazı́tica Natureza da radiação

Nesta etapa, usou-se o medidor Geiger para uma
massa m1 = (3.1 ± 0.1) de areia monazı́tica. Considerando a contagem da radiação de fundo,
calculou-se a contribuição percentual de cada tipo de
Medição Contagem radiação na taxa total da columbita, conforme ilustrado
1 229 na figura a seguir:
2 228
3 207
4 239 Medição Papel Alumı́nio Chumbo
5 222 1 1492 527 197
2 1489 571 217
Tabela 2: Valor das contagens medidas pelo contador Geiger-Müller
durante um minuto para a areia monazı́tica.
3 1596 539 231
4 1482 598 197
5 1473 525 212
Assim, calculando a média e descontando o valor da
Tabela 4: Valor das contagens medidas pelo contador Geiger-Müller
radiação de fundo, tem-se:
durante um minuto para a columbita sob diferentes tipos de
blindagem.
Nareia = (164 ± 10)contagens/minuto
Com os dados da contagem e da massa da amostra de areia
monazı́tica, foi possı́vel calcular a atividade especı́fica, a
saber:
Sem considerar a contribuição devido à radiação gama,
A areia = (52.3 ± 0.4)contagens/grama a contribuição da radiação beta é maior que a contribuição
da radiação alfa, então espera-se que na amostra exista um
maior número de átomos que decaiam emitindo radiação
Columbita
beta do que átomos que decaiam emitindo radiação alfa.
Em seguida, repetiu-se os procedimentos anteriores Válido destacar que essa análise é mais profunda por
para uma amostra de um mineral de columbita: conta de que é preciso levar em consideração o tempo de
meia vida de cada um dos átomos envolvidos na série de
Medição Contagem decaimento do urânio presente na columbita.
1 1777
2 1773
3 1831
4 1700
5 1688

Tabela 3: Valor das contagens medidas pelo contador Geiger-Müller

durante um minuto para a comlubita.

Logo, a média:

Ncolumbita = (1692 ± 53)contagens/minuto

Enquanto a atividade especı́fica:

Acolumbita = (153.8 ± 0.7)contagens/grama

Vale ressaltar que a massa da columbita foi informada Figura 2: Contribuição percentual de cada tipo de radiação na taxa
no roteiro e equivalente à (11 ± 1) g. total da columbita.

3
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Blindagem de radiação Medição Contagem

1 274
2 256
Por fim, mediu-se as contagens para um pedra de 3 264
columbita protegida por uma placa de acrı́lico de 1mm. 4 240
As medições foram repetidas superpondo as placas de 5 268
acrı́licos, para assim ter diferentes espessuras de blinda-
gem. Os dados estão abaixo: Tabela 8: Valor das contagens medidas pelo contador Geiger-Müller
durante um minuto para 4 peças de acrı́lico.

Medição Contagem Finalmente, fazendo as médias desses valores e des-

1 867 contando a radiação de fundo, obteve-se a tabela abaixo,
2 927 que relaciona as contagens com a espessura da blindagem:
3 949
4 923
Espessura (mm) Contagem
5 867
1 906.0
Tabela 5: Valor das contagens medidas pelo contador Geiger-Müller 2 473.6
durante um minuto para uma peça de acrı́lico. 3 300.0
4 199.4

Tabela 9: Valor das contagens medidas pelo contador Geiger-Müller

em função da espessura da blindagem.

Medição Contagem Com esses dados montou-se os seguintes gráficos de

1 564 acordo com a equação 1:
2 519
3 530
4 526
5 534

Tabela 6: Valor das contagens medidas pelo contador Geiger-Müller

durante um minuto para 2 peças de acrı́lico.

Medição Contagem
1 365
2 347
3 348 Figura 3: Gráfico da contagem média em função da espessura do mate-
rial de blindagem.
4 358
5 387
O gráfico seguinte foi obtido linearizando a equação 1:
Tabela 7: Valor das contagens medidas pelo contador Geiger-Müller
durante um minuto para 3 peças de acrı́lico.
ln( I ) = ln( I0 ) − αd

4
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Figura 4: Gráfico linearizado da contagem média em função da espes-
sura do material de blindagem.
Portanto, com os parâmetros da reta obtida
determinou-se o fator de blindagem do acrı́lico:
α = (469 ± 30)1/m
VI. Conclusão
Infere-se, portanto, que foi possı́vel verificar de forma
satisfatória as propriedades de radiação das amostras es-
tudadas, como também foi possı́vel compreender como
a radiação pode ser dividida nas contribuições de cada
um dos seus tipos. Com a última parte do experimento,
compreendeu-se a importância da radioproteção para
aqueles que entram em contato com substâncias radio-
ativas.
Apesar do desvio do comportamento linear esperado,
o gráfico 4 permitiu estimar o valor do coeficiente de
absorção do acrı́lico de forma razoável. De maneira seme-
lhante, porém com apenas uma medida, os coeficientes
de absorção do papel, alumı́nio e chumbo também foram
calculados, esses puderam ser comparados com aquele e
o resultado foi satisfatório.
Referências
[1] Departamento de Fı́sica UFMG. Guia de Labo-
ratório Fı́sica Experimental AIII.