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Posse Quilombola – pags. 124 a 158.

Conceito:
A posse quilombola é uma posse étnica que surge a partir de uma determinada
forma de apossamento de uma área e seus recursos naturais por um agrupamento
descendente de negros cujos antepassados foram escravos, em que esta identidade é
elemento fundamental na garantia deste direito pelo legislador, e também é uma
modalidade de posse agroecológica porque há a apropriação familiar da terra ou dos
recursos naturais, dentro de um contexto comunitário.

Faz-se necessário delimitar duas linhas de análise:


1. Conceito de remanescentes de quilombos;
2. Regime da posse e regularização fundiária das terras de quilombos.

Alerta-se que o primeiro tema a destacar é que não devemos falar em população
tradicional quilombola, mas sim em comunidade ou povo quilombola, como a
denominação mais adequada aos remanescentes de quilombos.
O termo "comunidade ou povo quilombola" permite conceber-se mais claramente a
ideia de unidade cultural e histórica comum do povo negro.

A segunda linha fundamental da abordagem é sobre o regime da posse antecedendo


ao processo de regularização fundiária das comunidades de quilombos.
A regularização fundiária é um instituto próprio do direito positivo para a expressão do
domínio, e que é uma resposta incorporada pelas comunidades no processo de sua
luta, na defesa da sua terra, para a proteção de sua posse, que na verdade é o
elemento fundamental na compreensão do seu direito a terra.

A autodefinição ou autorreconhecimento é o ponto de crucial importância na


compreensão da teologia constitucional, pois quando o constituinte definiu que a
titulação se deve aos remanescentes de quilombos, não definiu que a titulação seja
aos remanescentes dos quilombos, ou seja, não é preciso, para que as áreas sejam
tituladas, que ali tenha sido um quilombo, até porque já se passaram mais de 100 anos
do fim da escravidão. Não seria razoável que o constituinte, exigisse que as
comunidades ficassem imóveis em um mesmo lugar, por mais de 100 anos, sendo
natural a mobilidade das comunidades, para exercer tal direito.
A eventual mobilidade física da comunidade não tem o condão de levar a perda da
sua história, pois permanecem remanescentes de quilombos.

É essencial compreender que qualquer homem que carrega a negritude no seu ser já é
um remanescente de quilombos, pois seus ancestrais tiveram a força para sobreviver
ao mais degradante mercado de seres humanos nunca antes existente.
Quilombo é o coletivo de mucambo que é a habitação propriamente dita, que com a
colocação do sufixo "ara", designativo de lugar, forma a palavra mocambuara
designativa de lugar, procedência, ou seja, quilombo é a unidade desta origem ao lar
comum, donde descende todo o povo negro, a Mãe África, representando a luta para
reconstruir o lar de origem, onde habitavam com liberdade, nestas terras brasileiras, e
não um mero Zungu, que é espécie de cortiço; moradia de vadios e desordeiros,
sempre usado em sentido pejorativo.

Na posse agroecológica existe o apossamento familiar, enquanto a área de uso comum


não tem um sentido pleno de mercadoria, pois se trata de uma área imobilizada, para
os fins que o grupo social lhe confere. Portanto, é adequado e correto o procedimento
da autodefinição como o critério fundamental e suficiente para o reconhecimento de
uma comunidade como remanescentes de quilombos.

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