You are on page 1of 44

TEORIA GERAL DO PROCESSO

Unidade II
5 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL

A ciência processual, galgada à uma ciência autônoma, deve se basear em preceitos (princípios)
fundamentais que dão forma e caráter aos sistemas processuais, ou melhor, são diretrizes gerais que
orientam a referida ciência processual.

Os sistemas processuais se apoiam em princípios gerais que se estendem a todos os ordenamentos


jurídicos processuais e em outros que são específicos a determinados sistemas.

Para melhor compreensão, o que são princípios?

Nos cabe trazer à baila a definição de princípios dada por Miguel Reale, a seguir transcrito:

“Princípios são, pois, verdades ou juízos fundamentais, que servem de


alicerce ou de garantia de certeza a um conjunto de juízos, ordenados em
um sistema de conceitos relativos a dada porção da realidade. Às vezes
também se denominam princípios certas proposições que, apesar de não
serem evidentes ou resultantes de evidências, são assumidas como fundantes
da validez de um sistema particular de conhecimentos, como seus
pressupostos necessários”1.

Feitas estas considerações, avançamos para estudarmos os princípios gerais constitucionais do


processo e os princípios informativos do procedimento processual.

5.1 Tutela Constitucional do Processo

O direito processual, como ramo do direito público, tem suas regras fundamentais traçadas pelo
direito constitucional, que fixa a estrutura dos órgãos jurisdicionais, a distribuição da justiça e a
efetividade do direito objetivo, que estabelece alguns princípios processuais, que são comuns a todos os
ramos do direito.

Alguns dos princípios gerais informadores comuns a todos os ramos do direito processual são
corolários dos princípios constitucionais processuais. Citamos alguns deles: o princípio do juiz natural,
da publicidade, etc.

1 REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 20. ed. São Paulo; Saraiva, 2002, p. 60.
55
Unidade II

O direito processual constitucional abrange:

• a tutela constitucional dos princípios fundamentais da organização judiciária, e

• a jurisdição constitucional.

A tutela constitucional dos princípios fundamentais da organização judiciária corresponde a normas


sobre os órgãos da jurisdição, sua competência e suas garantias. Esta é matéria atinente à teoria geral
do processo, e se configura pelo direito de acesso à justiça ou o direito de ação e de defesa, e pelo
direito ao processo ou das garantias do devido processo legal.

A jurisdição constitucional corresponde ao controle judiciário da constitucionalidade das leis,


garantidor das liberdades, como habeas corpus, mandado de segurança, mandado de injunção, habeas
data e ação popular.

Inicialmente, devemos considerar que a Constituição Federal em vigor assegura o direito de ação e do
processo, fundamentado no princípio da inafastabilidade da jurisdição, direito fundamental assegurado
na CF, art. 5º, XXXV, e CPC, art. 3º, que dispõe: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito”.

A Constituição Federal configura o direito processual como instrumento público de realização


da justiça.

Ante a relevância da matéria, dispõe sobre a competência privativa à União, para legislar sobre o
direito processual (CF, art. 22, I). E, confere competência concorrente à União, Estados, DF, para legislar
sobre procedimentos em matéria processual (CF, art. 24, XI).

A garantia do acesso à justiça consagra o direito de ação, ou o direito à prestação jurisdicional, e,


em contrapartida, o direito de defesa, ou direito à adequada resistência às pretensões adversárias, sendo
ambos os direitos exercidos no direito ao processo, com as garantias do devido processo legal.

Para dar efetivação a garantia do acesso à justiça, tem-se o seguinte:

• Processos judiciais informados pela conciliação e pelos princípios da oralidade e concentração (CF,
art. 98, I).

• Garantias da ação e da defesa dos direitos individuais violados.

• Valorização da função conciliatória extrajudicial do juiz de paz (CF, art. 98, II).

• Assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos (CF,
art. 5º, LXXIV).

56
TEORIA GERAL DO PROCESSO

• Atuação do Ministério Público, instituição permanente, essencial à função jurisdicional, incumbido


da defesa da ordem pública, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis (CF, art. 127).

• Atuação da Defensoria Pública, instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,


incumbido da orientação jurídica, da promoção dos direitos humanos e da defesa, em todos os
graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos
necessitados (CF, art. 134).

• Legitimação do Ministério Público e de associações, entidades sindicais, partidos políticos,


sindicatos para a defesa de interesses difusos e coletivos (CF, arts. 5º, XXI e LXX; 8º, III; 129, III
e § 1º; 232).

No tocante à garantia constitucional do devido processo legal, este desdobra-se em garantias


específicas para o processo em geral, a seguir:

• Acesso à justiça, como garantia de ação e de defesa (CF, art. 5º, XXXV).

• Juiz natural, imparcial e independente (CF, art. 5º, XXXVII e LIII).

• Contraditório e a ampla defesa (CF, art. 5º, LV).

• Igualdade processual (CF, art. 5º I).

• Publicidade e motivação das decisões judiciais (CF, arts. 5º, LX e 93, IX).

• Inadmissibilidade de provas ilícitas (CF, art. 5º, LVI).

Desdobram-se em garantias específicas para o processo penal, dentre outros, a seguir:

• Presunção da não culpabilidade do acusado (CF, art. 5º LVIII).

• Indenização pelo erro judiciário e pela prisão que supere os limites da condenação (CF, art. 5º, LXXV).

• Prisão só pode ser ordenada pela autoridade judiciária competente, salvo nas hipóteses do
flagrante e das transgressões e crimes propriamente militares (CF, art. 5º, LXI).

Diante do acima explicado, Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido
Rangel Dinamarco concluem que

“[...] a garantia do acesso à justiça, consagrando no plano constitucional o


próprio direito de ação (como direito à prestação jurisdicional) e o direito
de defesa (direito à adequado resistência às pretensões adversárias),

57
Unidade II

tem como conteúdo o direito ao processo, com as garantias do devido


processo legal”2.

Desse primado decorrem todos os demais princípios que asseguram a ordem jurídica justa e adequada
para o acesso ao direito e à realização do direito.

5.2 Princípios Constitucionais do Direito Processual

Os princípios constitucionais do processo são fundamentais como regras técnicas de conteúdo


necessários para a orientação e aplicação do direito.

Cássio Scarpinella Bueno explica os princípios constitucionais do direito processual civil, a seguir:

“Eles se ocupam especificamente com a conformação do próprio processo,


assim entendido o método de exercício da função jurisdicional. São eles que
fornecem as diretrizes mínimas, embora fundamentais, de como deve se
dar o próprio comportamento do Estado-juiz. Eles prescrevem, destarte, o
‘modo de ser’ (mais precisamente, de ‘dever-ser’) do processo na perspectiva
constitucional. É ela – e não as leis – que molda o ‘ser’ (ou melhor, o
dever‑ser) do Estado brasileiro”3.

Primeiramente, cabe ressaltar que, o Código de Processo Civil, no art. 1º, estabelece a subordinação
do Processo Civil à Constituição Federal, determinando que o processo civil seja ordenado, disciplinado
e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição Federal,
observando-se as disposições do CPC (filiação da lei ao texto constitucional).

Passamos a estudar os princípios constitucionais do processo.

5.2.1 Princípio do acesso à Justiça ou da inafastabilidade do controle jurisdicional

O princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, ou também chamado de princípio do acesso


à Justiça, é basilar na existência do Estado de Direito.

A indeclinabilidade da prestação jurisdicional é princípio básico que rege a jurisdição, que garante o
acesso à justiça para postular e defender os seus interesses, por meio de tutela específica.

É direito fundamental assegurado na CF, art. 5º, XXXV, que consagra que: “a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

2 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do
Processo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 93.
3 BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil – Volume único. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2019, p. 49.
58
TEORIA GERAL DO PROCESSO

Em subordinação e em obediência à norma constitucional, o Código de Processo Civil, no art. 3º,


dispõe que: “Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito”.

Da análise desses dois dispositivos legais convém ressaltar que, a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito, assegurando o direito à proteção judicial efetiva. Deve ser
conjugado com o princípio do devido processo legal e com o princípio do contraditório.

A acessibilidade ao Judiciário assegura o direito de ação e de defesa, ou melhor, o direito à proteção


judicial em sentido amplo. É um dos direitos fundamentais de qualquer pessoa para efetivação de seus
direitos, por meio da resposta do Poder Judiciário a seus requerimentos.

Além disso, o Estado deve garantir a aplicação de regras processuais justas e razoáveis para possibilitar
a demanda e a convicção do juiz, para fins de dizer o direito.

Como decorrência do acesso à justiça, Mauro Schiavi afirma que a insuficiência financeira não pode
restringir o acesso ao Poder Judiciário, visto que para o cidadão sem recursos financeiros ajuizar uma
ação judicial, cabe ao Estado assegurar um advogado gratuito, custeado pelo Estado, para promover a
competente ação. Daí decorre o artigo 5º, inciso LXXIV, da Constituição Federal que dispõe: “o Estado
prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”4.

O Código de Processo Civil, art. 3º, § único, prevê métodos alternativos de solução dos conflitos,
como a arbitragem, conciliação, mediação e outros métodos de solução consensual.

Os métodos alternativos de resolução de conflitos, como arbitragem, mediação e conciliação,


previstos em leis infraconstitucionais processuais civis e do trabalho não obsta o acesso ao Poder
Judiciário, sendo mais uma possibilidade de solução de conflitos de interesses, além da composição
heterocompositiva jurisdicional.

A Lei de Arbitragem permitiu aos conflitantes atribuir a solução a um árbitro, que proferirá sua
decisão com força de sentença, sem necessidade de posterior homologação do Poder Judiciário
(Lei nº 9.307/96, alterada pela Lei nº 13.129/2015).

A solução consensual dos conflitos deve ser promovida pelo Estado, devendo a conciliação, a
mediação e outras formas de solução consensual ser estimuladas por juízes, advogados, defensores
públicos e membros do Ministério Público.

5.2.2 Princípio do juiz natural

O processamento e o julgamento das causas devem se dar perante juiz investido do poder
jurisdicional, com competência devidamente indicada pela Constituição Federal, isto é, perante juiz
instituído e determinado com base em critérios gerais fixados com antecedência e não com vistas a
certas controvérsias em particular (CF, art. 5º, XXXVII e LIII).

4 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 15. ed. São Paulo: LTr, 2019, p. 98.
59
Unidade II

Em outras palavras, o juiz natural é aquele cuja competência é apurada de acordo com regras
previamente existentes no ordenamento jurídico, e que não pode ser modificada a posteriori.

Proíbe-se a criação de tribunais de exceção, ou seja, aqueles concebidos ad hoc, para o processamento
e julgamento de certo caso.

A Constituição Federal no artigo 5º., incisos LIII e XXXVII, rezam que:

“[...]

XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção;

[...]

LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade


competente;

[...]”

Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, explica que
o princípio do juiz natural

“[...] assegura que ninguém pode ser privado do julgamento por juiz
independente e imparcial, indicado pelas normas constitucionais e legais.
A Constituição proíbe os chamados ‘tribunais de exceção’, instituídos para o
julgamento de determinadas pessoas ou de crimes de determinada natureza,
sem previsão constitucional (art. 5º, inc. XXXVII)”5.

Para assegurar a atuação independente e imparcial dos juízes, devem ser observadas as
seguintes regras:

• Só são órgãos jurisdicionais os instituídos pela Constituição;

• Ninguém pode ser julgado por órgão constituído após a ocorrência do fato;

• Entre os juízes pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de competências que exclui qualquer
alternativa deferida à discriminariedade de quem quer que seja.

Para que seja respeitado o princípio do juiz natural, Marcus Vinicius Rios Gonçalves aponta
três requisitos:

5 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do
Processo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 164.
60
TEORIA GERAL DO PROCESSO

“a) o julgamento deve ser proferido por alguém investido de jurisdição;


b) o órgão julgador deve ser preexistente, sendo vedada a criação de juízos
ou tribunais de exceção, que são aqueles instituídos após o fato, com o
intuito específico de julgá-lo; c) a causa deve ser submetida a julgamento
pelo juiz competente, de acordo com as regras postas pela Constituição
Federal e pela lei”6.

Daí, é possível concluir que, não há escolha de juiz pela parte, para julgar o litígio que lhe foi posto
à solução, por meio do proferimento de uma sentença de mérito.

O Código de Processo Civil, no art. 43, institui a perpetutio jurisdictionis, uma vez que a competência
é determinada no momento do registro ou distribuição da petição inicial, nesta tramitando até o final,
sendo irrelevante as alterações supervenientes.

5.2.3 Princípio do devido processo legal ou due processo of law

Desse princípio derivam todos os demais. A Constituição Federal preserva a liberdade e os bens,
garantindo que o seu titular não os perca por atos não jurisdicionais do Estado. Além disso, o Judiciário
deve observar as garantias inerentes ao Estado de direito, bem como deve respeitar a lei, assegurando a
cada um o que é seu.

O devido processo legal formal refere-se à tutela processual, ao processo, às garantias que ele
deve respeitar e ao regramento legal que deve obedecer (refere-se ao arcabouço processual).

O devido processo legal substancial constitui autolimitação ao poder estatal, que não pode editar
normas que ofendam a razoabilidade e afrontem as bases do regime democrático.

Para quaisquer situações de ameaça ou lesão de direito deve a lei apresentar expressamente uma
forma de composição jurisdicional pertinente, indicando as condições mínimas para o desenvolvimento
do processo e atuação do Estado-juiz.

A Constituição Federal, art. 5º, inciso LIV dispõe que “ninguém será privado da liberdade ou de seus
bens sem o direito processo legal”. Desse princípio deriva todos os demais princípios.

Para a ocorrência do devido processo legal é indispensável a presença de três condições:

• Desenvolvimento do processo perante juiz imparcial e independente;

• Amplo acesso ao Judiciário;

• Preservação do contraditório.

6 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo Curso de Direito Processual. Vol. I. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 63.
61
Unidade II

Para o processo civil é o devido processo legal princípio informativo, com aspecto procedimental,
que abrange e incorpora todos os demais princípios, funcionando, juntamente com o contraditório,
ampla defesa e imparcialidade, como o sistema de garantias processuais básicas de uma sociedade
justa e democrática. Ninguém pode ser privado de sua liberdade ou de seus bens sem que tenha sido
submetido a um julgamento prolatado com base no pertinente instrumento estatal previsto em lei para
a solução daquele conflito específico de interesse.

No aspecto processual, devem ser respeitadas as garantias processuais e as exigências para uma
sentença justa. É a autolimitação do poder do Estado, uma vez que a Constituição Federal protege e
preserva a liberdade e os bens, colocando-os sob a guarda do Poder Judiciário, sendo que seus titulares
não pode deles ser privados por atos não jurisdicionais.

Conclui-se que, o princípio do devido processo legal constitui a base de todos os demais princípios.

5.2.4 Princípio do contraditório e da ampla defesa

A Constituição Federal de 1988 prevê o contraditório e ampla defesa num único dispositivo, aplicáveis
expressamente aos litigantes, em qualquer processo, judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
(CF, art. 5º, LV).

O art. 5º., inciso LV, da Constituição Federal dispõe que “aos litigantes, em processo judicial e
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios
e recursos a ela inerentes”.

O princípio do contraditório e da ampla defesa é garantia fundamental da justiça, prevista aos


litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral.

O juiz se coloca entre o autor e o réu no processo, que ao ouvir uma parte deve ouvir a outra,
concedendo a ambas as partes possibilidade igual de ampla defesa, de apresentar provas sobre as suas
alegações e de influir sobre o convencimento do juiz, sob pena de incorrer no cerceamento de defesa.

Vamos analisar e estudar cada uma deles separadamente.

5.2.4.1 Princípio do contraditório

O princípio do contraditório indica a atuação de uma garantia fundamental de justiça e mais relevante
do ordenamento processual, sendo inseparável da distribuição da justiça organizada, dos aspectos do
devido processo legal e inerente à própria noção de processo (CF, art. 5º, LIV).

O contraditório consiste na outorga efetiva de oportunidade de participação e colaboração ou


cooperação das partes ao longo de todo o processo na formação do convencimento do juiz, que
prolatará a sentença.

62
TEORIA GERAL DO PROCESSO

O juiz, por força de seu dever de imparcialidade, coloca-se entre as partes, mas possibilita através
do contraditório que uma das partes se manifeste contrariamente à pretensão (tese) deduzida pela
outra parte, podendo inclusive apresentar contraprova (antítese), isto é, oportunidade das partes de
manifestação a cada fato novo surgido no processo, influindo no convencimento do juiz (síntese).

Nessa linha de entendimento, podemos dizer que do contraditório resultam duas exigências, a seguir:

• Dar ciência aos réus, executados e interessados, da existência do processo e aos litigantes de tudo
o que nele se passa.

• Permitir-lhes que se manifestem, que apresentem suas razões de defesa.

Diante disso, diz-se que, em relação ao juiz, as partes são colaboradores necessários (não antagonistas),
sendo que cada um dos contendores age no processo tendo em vista o próprio interesse, mas a ação
combinada dos dois serve à justiça na eliminação do conflito ou controvérsia que os envolve.

Durante toda a relação jurídica e em todas as fases do processo, sempre que uma parte se manifestar,
deve-se abrir oportunidade à outra para contraditar.

Na prática, decorre do contraditório a necessidade de se dar ciência à cada parte dos atos praticados
pela outra no processo, por meio da citação, intimação e notificação.

A legislação brasileira não é uniforme no uso desses vocábulos. Nos processos civil e penal, citação
é ato pelo qual se dá ciência à parte da instauração de um processo, chamando-o a participar da
relação processual e exercer a sua defesa, sob pena de revelia (CPC, art. 238). O mesmo ato no processo
do trabalho e no mandado de segurança chama-se notificação, que não necessita ser pessoal e é
encaminhada pelo correio, com aviso de recebimento (CLT, art. 841 e § 1º; Lei nº 12.016/2009, art. 6º. § 2º).

Intimação é o ato pelo qual se dá ciência à parte de atos e termos praticados no curso do processo,
contendo também, eventualmente, comando de fazer ou deixar de fazer alguma coisa (CPC, art. 269).

O princípio do contraditório deve ser respeitado no processo de conhecimento, no de cumprimento


de sentença e no de execução.

Na fase de instrução, a prova produzida por uma parte deve ser dada oportunidade para a outra
parte se manifestar, como por exemplo, uma parte arrola testemunha, a outra tem a possibilidade
de conhecer o rol com antecedência, para poder preparar eventual contradita e formular perguntas,
no curso da audiência. Na prova pericial, as partes podem formular quesitos, acompanhar o perito e
apresentar pareceres por assistentes técnicos, por elas indicados.

Veda-se a decisão-surpresa. O juiz não reconhecerá a carência antes de dar às partes a oportunidade
de se manifestar.

63
Unidade II

Essa proposição está fundamentada no Código de Processo Civil, destacando-se os artigos 9º e 10º,
a seguir transcritos:

“Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja
previamente ouvida.

[...]

Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade
de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva
decidir de ofício”.

O descumprimento da determinação dos dispositivos processuais acima implicará a nulidade da


decisão por ofensa ao princípio do contraditório.

Como exemplo podemos citar: se a prescrição e a decadência for detectável de plano (CPC, art. 332,
§ 1º) e puder levar à improcedência liminar do pedido, o juiz, antes de julgar, deverá ouvir o autor (CPC,
art. 487, § único).

5.2.4.2 Princípio da ampla defesa

O princípio da ampla defesa consiste na possibilidade de utilização pelas partes de todos os meios e
recursos legais previstos para a defesa de seus interesses e direitos postos em juízo (CF, art. 5º, LV).

O processo atua mediante uma sequência de atos processuais formais previstos em lei, que confere e
garante igualdade às partes durante o transcorrer do processo, que se instaura perante o Judiciário, e para
possibilitar a produção de todos os meios de prova para a efetiva defesa dos seus interesses em litígio.

A violação desse princípio acarreta o cerceamento de defesa, como: indeferimento pelo juiz da
causa de prova relevante e pertinente, requerida pela parte no momento oportuno, e a supressão de
fases processuais.

No entanto, no processo de conhecimento e versando a ação sobre direitos disponíveis, a inércia da


parte em defender-se por meio da contestação, acarreta a revelia, que é a ausência de defesa, gerando
o efeito de fazer presumir verdadeiros os fatos narrados na petição inicial.

No processo civil, o contraditório e a ampla defesa é a concessão às partes da oportunidade de


resistir à pretensão formulada pelo adversário, quanto a interesses disponíveis e indisponíveis.

O réu pode optar por não se defender, gerando um ônus para ele. Se não se defender quanto ao
interesse disponível gera a revelia e aplicação da pena de confissão, quanto à matéria de fato, podendo
dispensar a produção de provas e promover o julgamento antecipado da lide. Se quanto ao interesse
indisponível, a falta de defesa não gera a presenção de veracidade.
64
TEORIA GERAL DO PROCESSO

Justifica-se o contraditório e a ampla defesa postergados no caso de liminar inaudita altera parte,
quando há risco iminente de prejuízo irreparável, ou em que o contraditório prévio pode colocar em
risco o provimento jurisdicional.

5.2.5 Princípio da igualdade

A igualdade perante a lei é premissa para a afirmação da igualdade perante o juiz, que dá origem ao
princípio da igualdade processual (CF, art. 5º, “caput” e inciso I; CPC, arts. 7º e 139, I).

O artigo 5º, “caput”, e inciso I, da Constituição Federal dispõem:

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo‑se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:

I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta


Constituição; [...]”.

As partes e os procuradores devem merecer tratamento igualitário, para que tenham as mesmas
oportunidades de fazer valer em juízo as suas razões.

No aspecto processual, devem as partes ter tratamento igualitário no que diz respeito aos exercícios
de direitos e faculdades processuais. É o que dispõe o CPC, artigos 7º e 139, I, a seguir transcritos:

“Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao


exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus,
aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar
pelo efetivo contraditório.

[...]

Art. 139 O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste


Código, incumbindo-lhe:

I - assegurar às partes igualdade de tratamento; [...]”.

No processo civil, legitimam-se normas e medidas destinadas a reequilibrar as partes e permitir


que litiguem e que exercitem a sua defesa em igualdade de condições. Sempre que alguma causa ou
circunstância exterior ao processo ponha uma delas em condições de superioridade ou de inferioridade
em face da outra, deve-se haver mecanismos para igualar e eliminar o desequilíbrio.

O princípio da igualdade é observado ao restituir a igualdade das partes a partir do assistencialismo


judiciário à parte mais fragilizada processualmente.
65
Unidade II

Citamos alguns exemplos de tratamento formalmente desigual em busca da isonomia, a seguir:

• Concessão da assistência jurídica gratuita à parte que não tem condições econômicas para
postular em juízo.

• Inversão do ônus da prova, ao estabelecer a igualdade entre o consumidor mais fragilizado e a


grande empresa, detentora de maiores facilidades processuais, especialmente probatórias.

• Prioridade nos juízos inferiores e nos tribunais às causas de interesse de pessoas com idade igual
ou superior a 60 anos ou portadora de doença grave (CPC, art. 1.048, I, c/c Lei 10.741/2003,
art. 71 – Estatuto do Idoso).

• Incidente de resolução de demandas repetitivas permite uma única solução suscitada em uma
multiplicidade de processos, afastando o ajuizamento de ações por litigantes com diferentes e
deficitárias condições.

• Prazos maiores concedidos ao Ministério Público e à Fazenda Pública para manifestar-se nos
autos, prazo em dobro para manifestarem-se, devido ao grande número de processos (CPC, arts. 180,
caput, e 183).

• Prazos em dobro concedidos à Defensoria Pública e àqueles que gozam do benefício da justiça
gratuita e que são patrocinados por entidades públicas, organizadas e mantidas pelo Estado
(Lei nº 1.060/50, art. 5º, § 5º).

• Remessa necessária. Benefício concedido à Fazenda Pública, quando for proferida sentença
em que esta é a parte sucumbente. Esta decisão só transita em julgado após reexaminada pela
instância superior.

Logo, ao contribuir para a paridade de condições de defesa às partes no processo, a partir da


equiparação das situações processuais a ambas, o juiz atua em favor da preservação do princípio
da imparcialidade e de forma efetiva para a garantia do pleno acesso à justiça.

5.2.6 Princípio da imparcialidade do juiz

Princípio da imparcialidade do juiz refere-se às causas que devem ser julgadas por juízes imparciais,
proferindo sentença de acordo com a formação de suas convicções por meio das provas produzidas
pelas partes e da aplicação da lei ao caso concreto, não admitindo-se em hipótese nenhuma que a
decisão venha a pender para alguma das partes.

O caráter de imparcialidade do juiz é inseparável do órgão da jurisdição. Embora não seja mencionado
pela Constituição Federal, mantém relação com os princípios do acesso à justiça e à igualdade, sendo
ainda pressuposto processual de validade, uma vez que é vedado tribunal de exceção (CF, art. 5º., “caput”
e incisos I, XXXV e XXXVII).

66
TEORIA GERAL DO PROCESSO

A imparcialidade do juiz é pressuposto para que a relação processual se instaure validamente,


garantida pelos princípios do juiz natural e da vedação de tribunais e juízos de exceção, como disposto
na Constituição Federal, art. 5º., XXXVII e LIII, a seguir transcritos:

“[...]

XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;

[...]

LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade


competente;

[...]”.

Para assegurar a imparcialidade no exercício da jurisdição, aos juízes são asseguradas garantias,
consistentes na vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios (CF, art. 95 e incisos) e
prescreve vedações referentes à atuação profissional para os mesmos (CF, art. 95, § único). Convém
transcrever os dispostos constitucionais citados, a seguir:

“Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:

I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos


de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação
do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença
judicial transitada em julgado;

II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma


do art. 93, VIII;

III - irredutibilidade de vencimentos, observado, quanto à remuneração, o


que dispõem os arts. 37, XI, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.

III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39,
§ 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I

Parágrafo único. Aos juízes é vedado:

I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo


uma de magistério;

II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;

III - dedicar-se à atividade político-partidária.


67
Unidade II

IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de


pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções
previstas em lei;

V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou,


antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por
aposentadoria ou exoneração.”

A incapacidade subjetiva, que se origina da suspeita da imparcialidade do juiz, afeta a


relação processual.

O Código de Processo Civil, nos artigos 144 e 145, estabelece limitações para o exercício das funções
do juiz, quando presentes as hipóteses de impedimento e suspeição que possam colocar em risco a
imparcialidade do juiz.

Além disso, mister se faz que o órgão jurisdicional tenha sido criado previamente aos fatos que
geraram a lide submetida ao seu crivo e com competência prevista da Constitucional.

A imparcialidade do juiz é uma garantia de justiça para as partes, sendo que estas têm o direito
de exigir um juiz imparcial e o Estado, que reservou para si o exercício da função jurisdicional, tem o
correspondente dever de agir com imparcialidade na solução das causas que lhe são submetidas.

5.2.7 Princípio da vedação da prova ilícita no processo

A Constituição Federal veda o uso da prova obtida ilicitamente nos processos judiciais, integrando
ao amplo conceito do devido processo legal (CF, art. 5º, LVI).

As regras que regulam e limitam a obtenção, a produção e a valoração das provas são direcionadas
ao Estado, com o intuito de proteger os direitos fundamentais do indivíduo (do próprio Estado, para que
não aja de forma abusiva e desmedida contra o indivíduo), muitas vezes atingidos pela persecução penal.

Esse princípio apresenta estreita conexão com outros direitos e garantias fundamentais, como:

• direito à intimidade e à privacidade (CF, art. 5º, X);

• direito à inviolabilidade do domicílio (CF, art. 5º, XI);

• sigilo de correspondência e das comunicações telefônicas (CF, art. 5º, XII);

• direito ao sigilo profissional (CF, art. 5º, XIII e XIV, “in fine”).

A obtenção de provas sem a observância das garantias previstas na Constituição ou em


contrariedade às normas fundamentais de procedimento configurará afronta ao princípio do devido
processo legal.
68
TEORIA GERAL DO PROCESSO

Cassio Scarpinella Bueno suscita que deste princípio surgem dois institutos distintos e igualmente
vedados, são eles o das “provas ilícitas” e o das “provas obtidas por meios ilícitos”, que assim define e
exemplifica ambos os institutos, a seguir:

“Prova ilícita é aquela que, em si mesma considerada, fere o ordenamento


jurídico. Assim, por exemplo, a tortura, expressamente proibida pelo inciso
III do art. 5º da CF. Prova obtida por meios ilícitos é aquela que, como
meio de prova, é admitida ou tolerada pelo sistema, mas cuja forma de
obtenção, de constituição, de formação, fere o ordenamento jurídico. Bem
ilustra a situação o desrespeito ao sigilo de correspondência ou a oitiva
de conversas telefônicas não autorizada nos termos da lei (art. 5º, XII, da
CF)”7. (grifamos)

Observação

Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero incluem no rol de direitos


fundamentais o direito à segurança jurídica no processo, apesar de não
estar prevista na Constituição Federal.

5.2.8 Princípio da presunção de inocência

É princípio basilar do Estado de Direito como garantia processual penal, que tutela da liberdade pessoal.

O Estado deve comprovar a culpabilidade do indivíduo.

A Constituição Federal, no art. 5º, inciso LVII, dispõe que: “ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

5.2.9 Princípio do duplo grau de jurisdição

A Constituição não prevê expressamente este princípio, mas incumbe-se de atribuir a competência
recursal a vários órgãos da jurisdição, referindo-se aos tribunais, órgãos de 2º grau (CF, arts. 102, II; 105,
II; 108, II; 93, III).

O princípio do duplo grau de jurisdição indica a possibilidade de revisão, por via de recurso, das
causas já julgadas pelo juiz de 1º grau (ou 1ª instância ou jurisdição inferior), por magistrados diferentes
e de nível superior (jurisdição superior). Toda decisão ou sentença judicial está sujeita a um reexame por
instância superior, provocado por recurso da parte possivelmente prejudicada com o ato judicial.

7 BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil – Volume único. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2019, p. 61.
69
Unidade II

O juiz, qualquer que seja a grau de jurisdição exercido, tem independência jurídica, pelo que não
está adstrito às decisões dos tribunais de 2º grau, julgando apenas em obediência ao direito e à sua
convicção jurídica.

O duplo grau de jurisdição é efetivado se e quando o vencido apresentar recurso contra a decisão
de 1º grau, exigindo nova provocação do órgão jurisdicional por parte de quem foi desfavorecido (parte
vencida) pela decisão.

Fundamentos que justificam o duplo grau de jurisdição:

• possibilidade da decisão de 1º grau ser injusta ou errada, o que permite a sua reforma em
grau de recurso;

• dar ao vencido uma oportunidade para reexame da sentença, com a qual não se conformou;

• tribunais de 2º grau são formados por juízes mais experientes e órgãos colegiados, oferecendo
maior segurança nas decisões;

• juiz de 1º grau se cerca de maiores cuidados no julgamento quando sabe que sua decisão poderá
ser revista pelo tribunal de jurisdição superior;

• controle interno dos atos judiciais sobre a legalidade e a justiça das decisões judiciárias.

A Constituição não prevê expressamente este princípio, mas incumbe-se de atribuir a competência
recursal a vários órgãos da jurisdição, referindo-se aos tribunais, órgãos de 2º grau (CF, arts. 102, II; 105,
II; 108, II; 93, III).

Assim, o princípio do duplo grau de jurisdição garante que toda decisão ou sentença judicial esteja
sujeita a um reexame por instância superior, provocado por recurso da parte possivelmente prejudicada
com o ato judicial.

Exceção ao duplo grau de jurisdição:

• Causas de competência originário do STF;

• Embargos infringentes, previstos na lei de execução fiscal, que cabem contra a sentença proferida
nos embagos de valor pequeno e que são julgados pelo mesmo juízo que prolatou a sentença;

• CPC, art. 1.013, § 3º, em que havendo apelação contra a sentença que julgou o processo extinto
sem resolução de mérito, o tribunal, encontrando nos autos todos os elementos necessários à sua
convicção, poderá promover o julgamento de mérito;

70
TEORIA GERAL DO PROCESSO

5.2.10 Princípio da publicidade

O princípio da publicidade constitui garantia do indivíduo no tocante ao exercício da jurisdição, vez


que permite que todos os cidadãos tenham acesso ao processo e conhecimento dos atos processuais
neste praticados, visando a fiscalização dos atos processuais por parte da sociedade, sob pena de nulidade
do processo (CF, arts. 5º, LX e 93, IX).

A exceção ao princípio se dá quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem que o


processo corra em segredo de justiça, possibilitando somente às partes e seus procuradores o acesso
ao processo.

A Constituição Federal nos artigos. 5º, inciso LX, e 93, incisos IX e X, dispõem que:

“Art. 5º [...]

[...]

LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a


defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

[...]

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá


sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:

[...]

IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos,


e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a
lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação;

X as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão


pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta
de seus membros;

[...]”. (grifamos)

Todos os atos praticados em juízo são dotados de publicidade, como forma de controle da atividade
jurisdicional pelas partes e garantia de lisura do procedimento.

71
Unidade II

O controle do andamento do processo, a presença do público em audiências e a possibilidade do


exame dos autos pelas partes, seus procuradores e qualquer do povo é requisito essencial para a validade
do ordenamento processual, afastando a suspeita decorrente de julgamentos secretos.

Este princípio se desdobra em dois aspectos:

• qualquer pessoa pode presenciar a realização dos atos processuais, examinar os autos e
obter certidão.

• os atos das partes e do juiz devem ser levados ao conhecimento da parte contrária.

Há exceções a este princípio quando o interesse social ou a defesa da intimidade assim o exigir,
conforme admissão da própria norma constitucional (CPC, art. 189; CPP, arts. 792 e 485 e parágrafos;
CLT, art. 770). Citamos algumas delas, a seguir:

• ações que correm em segredo de justiça;

• sigilo garantido aos jurados quando da votação dos quesitos em plenário visa justamente gerar a
isenção do julgamento e afastar pressões posteriores à absolvição ou condenação.

5.2.11 Princípio da motivação das decisões judiciais ou fundamentação das decisões

A Constituição exige dos órgãos da jurisdição a motivação explícita de todos os seus atos decisórios,
sob pena de nulidade.

A garantia da fundamentação das decisões assegura às partes o conhecimento das razões de


convencimento do juiz e as razões para a conclusão exarada em sua decisão, possibilitando a interposição
de recurso pela parte vencida, bem como a possibilidade do exercício do controle popular sobre o
exercício da função jurisdicional.

A Constituição Federal no artigo. 93, incisos IX e X, dispõem que:

“Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá


sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:

[...]

IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos,


e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo
a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação;

72
TEORIA GERAL DO PROCESSO

X as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em


sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta
de seus membros;

[...]”. (grifamos)

Logo, todas as decisões proferidas pelo Poder Judiciário devem ser fundamentadas, visando o
controle popular sobre o exercício da função jurisdicional, a aferição da imparcialidade do juiz e da
legalidade e justiça das decisões.

5.2.12 Princípio da celeridade processual ou da duração razoável do processo

Princípio consagrado pelo Pacto de São José da Costa Rica (1969), ratificado pelo Brasil.

A Emenda Constitucional nº 45/2004 inseriu o princípio da duração razoável do processo no rol das
garantias constitucionais voltado ao direito processual.

A Constituição Federal, no artigo 5º, inciso LXXVIII, dispõe que: “a todos, no âmbito judicial e
administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade
de sua tramitação”.

A duração razoável do processo é caracterizada por dois aspectos distintos:

• razoabilidade na duração do processo; e

• celeridade em sua tramitação.

Na busca da efetividade desse princípio, citam-se alguns exemplos, a seguir:

• Ampliação da tutela provisória.

• Solução concentrada nos casos de ações repetitivas.

• Súmulas vinculantes,

• Adoção de meios eletrônicos no processo.

• Redução de recursos.

O Código de Processo Civil, no artigo 4º, dispõe que as partes têm direito de obter a solução do
processo em prazo razoável.

73
Unidade II

Marcus Vinicius Rios Gonçalves explica o objetivo desse princípio, a seguir:

“A busca deve ser a da obtenção dos melhores resultados possíveis, com a


máxima economia de esforços, despesas e tempo. O princípio se imbrica
com o da efetividade do processo: afinal, a duração razoável é necessária
para que o processo seja eficiente”8.

O Código de Processo Civil, no artigo 1.048, dispõe sobre a prioridade na tramitação do processo
quando a parte tiver mais de 60 anos de idade ou for portador de doença grave.

5.3 Princípios informativos do procedimento

Além dos princípios constitucionais do processo, também devemos estudar os princípios


infraconstitucionais do direito processual civil, previstos no Código de Processo Civil de 2015, importantes
informativos como princípios gerais observáveis em todo o ordenamento jurídico, como regras técnicas
de conteúdo necessários para a orientação e aplicação do direito.

Princípio é uma proposição inicial que se coloca na base das ciências do direito processual civil,
direito processual penal e direito processual do trabalho, com o objetivo de informar e inspirar as normas
jurídicas que compõem o ramo do direito.

Lembrete

O Código de Processo Civil de 2015 tem como propósito disciplinar a


jurisdição civil e funcionar como a principal fonte do direito processual no
ordenamento jurídico brasileiro.

5.3.1 Princípio da inércia da jurisdição e o impulso oficial

Embora a iniciativa da abertura do processo seja da parte (princípio dispositivo), o seu impulso é
oficial (CPC, art. 2º).

O princípio do impulso oficial, também chamado de princípio inquisitivo, consiste na atuação do


juiz, uma vez instaurada a relação processual, de mover o procedimento de fase em fase até a solução
definitiva da causa, exaurindo a função jurisdicional, isto é, deve o juiz assegurar a continuidade dos
atos procedimentais e seu avanço em direção aos resultados esperados do processo.

O princípio da ação ou da demanda, também chamado de princípio dispositivo, corresponde à


atribuição da parte de instaurar a demanda, provocando o Poder Judiciário, para a prestação jurisdicional.

8 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo Curso de Direito Processual. Vol. I. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 68.
74
TEORIA GERAL DO PROCESSO

Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco explicam que
“[...] denomina-se ‘ação’ o direito (ou poder) de ativar os órgãos jurisdicionais, visando à satisfação de
uma pretensão. A jurisdição é inerte e, para sua movimentação, exige a provocação do interessado. É a
isto que se denomina princípios da ação: ‘nemo judex sine actore’”.9

Instaurado o processo, este não fica à mercê das partes, predominando o interesse público em ver o
desenvolvimento da relação processual e a sua conclusão no mais breve tempo, exaurindo-se o dever
estatal de prestar o serviço jurisdicional.

O instituto da preclusão está ligado ao princípio do impulso processual, e é eficaz instrumento para
a marcha processual. Preclusão é a perda de uma faculdade ou de um poder ou direito processual.

As preclusões se justificam pela regra segundo a qual a passagem de um ato processual para
outro supõe o encerramento do anterior, de tal forma que os atos já praticados permaneçam firmes e
inatacáveis, possibilitando o avanço do processo.

Considerando a meta do processo justo, Humberto Theodoro Júnior explica que os poderes
inquisitoriais dão efetividade a outras duas garantias fundamentais: “(i) a da efetividade da tutela
jurisdicional, sem a qual não ocorre o real acesso à justiça (CF, art. 5º,XXXV); e (ii) a da duração razoável
do processo, de cuja inobservância decorre inevitável denegação de justiça (CF, art. 5º, LXXVIII)”10.

5.3.2 Princípio da disponibilidade e da indisponibilidade

Este princípio tem origem no princípio dispositivo, sendo que Marcus Vinicius Rios Gonçalves
ensina que

“A compreensão adequada desse princípio exige que se perceba bem a


diferença entre a relação processual, de natureza pública, e a relação de
direito material que subjaz ao processo e que pode envolver interesses
públicos ou meramente privados”11.

Princípio da disponibilidade processual é o poder dispositivo, é a liberdade que as pessoas


têm de exercer ou não seus direitos, a possibilidade da parte apresentar ou não sua pretensão em
juízo, definindo os limites da demanda, bem como de apresentá-la da maneira que melhor lhes
aprouver, determinando as provas necessárias para a formação da convicção do juiz, e renunciar a
ela (desistir da ação) ou a certas situações processuais ou transigir.

9 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do
Processo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 93.
10 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 60. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2019, p. 70.
11 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 10. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2019, p. 83.
75
Unidade II

Princípio da indisponibilidade ou da obrigatoriedade é a base do processo penal, uma vez que o


Estado não tem só o direito, mas o dever de punir. E, nesse sentido, Antonio Carlos de Araújo Cintra,
Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco explicam que: “O crime é uma lesão irreparável ao
interesse coletivo e a pena é realmente reclamada, para a restauração da ordem jurídica restaurada”12.

No processo civil, este princípio decorre do direito indisponível, em que a falta de defesa da parte
não gera a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor, por prevalecer o interesse público
sobre o privado.

5.3.3 Princípio da oralidade

O novo Código de Processo Civil confere importância à oralidade no processo, visto que com
fundamento neste é possível prever o caráter cooperativo necessário entre as partes e o juiz, para a
condução do processo durante seu período de tramitação.

No entender de Humberto Theodoro Júnior13, a oralidade incentiva o contato pessoal, verbal e direto
das partes e exige o trato cooperativo entre elas no processo, transformando a cooperação entre as
partes em norma fundamental do processo justo, conforme dispõe o artigo 6º do CPC, a seguir: “Todos
os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de
mérito justa e efetiva”.

O princípio da oralidade está mais ligado ao procedimento. O processo oralizado tem a vantagem
de estabelecer o contato do julgador com as partes que se submeterão à sua decisão, possibilitando a
concentração dos atos processuais, visando um julgamento mais justo e com maior possibilidade de
pacificação social.

Hoje, é raro o procedimento oral, em sua forma pura, por se exigir que atos e termos do processo
sejam documentados. O que se adota é o procedimento misto, na combinação dos procedimentos escrito
e oral, como meio de expressão de atos relevantes para a formação do convencimento do juiz. Este é o
sistema brasileiro, tanto no processo civil como no processo penal, e também no processo do trabalho.

A Lei dos Juizados Especiais (Lei 9.099/95) estabelece novos critérios para um processo que adotou
muitas regras da oralidade, com diálogo direto entre as partes, as testemunhas e o juiz, acompanhada
da simplicidade, informalidade, celeridade, economia processual e gratuidade (art. 2º), mas também há
necessidade de documentação de atos processuais.

O processo do trabalho operou importantes modificações em direção a um processo simples,


acessível, rápido e econômico, permeado de verdadeira oralidade, de publicização (atribuição ao juiz de

12 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do
Processo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 69.
13 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 60. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2019, p. 62.
76
TEORIA GERAL DO PROCESSO

maior poder de direção e controle) e democratização (facilidade de admissão em juízo, quer a efetiva
igualdade das partes, mediante a observância da paridade de armas entre elas).

Quando se exige que as alegações ou provas orais sejam conservadas por escrito, fala-se no princípio
da documentação.

O princípio da oralidade é constituído por quatro subprincípios:

a) Princípio da imediação ou imediatidade

Por princípio da imediação ou imediatidade entende-se por este princípio que, só aquele que convive
com o procedimento, ouviu os relatórios das partes e tomou parte na produção das provas, está em
posição de assumir responsabilidade plena pela decisão.

Neste, exige o contato direto do juiz com as partes e as provas, a fim de que receba, sem intermediários,
o material de que se servirá para julgar.

A imediação não está necessariamente ligada à oralidade, mas historicamente os dois princípios
sempre andaram juntos.

b) Princípio da concentração dos atos processuais

Princípio da concentração dos atos processuais significa a reunião de atos em um mesmo momento
processual, qual seja, em uma audiência ou em poucas e próximas audiências, reunindo a instrução e
julgamento, todos encadeados e que possibilitam uma conclusão mais real e adequada aos fatos e ao
direito, em curto espaço de tempo.

c) Princípio da identidade física do juiz

Princípio da identidade física do juiz corresponde ao juiz que conduz a instrução do processo, que
deve coincidir com aquele juiz que irá julgar a causa, salvo casos excepcionais.

Apesar de não haver previsão no novo Código de Processo Civil, este princípio da identidade
física do juiz continua inserido no sistema processual, vez que prevê o princípio da oralidade,
atribuindo ao juiz a necessidade de uma atuação mais direta e próxima das partes na colheita
de provas e a avaliação das pertinentes, e a possibilidade de determinar provas de ofício e indeferir
as inúteis, visando o proferimento de uma sentença de mérito justa e efetiva.

d) Princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias

As decisões interlocutórias são aquelas que, sem findar o processo, resolvem questões controvertidas
no curso da relação processual, ou melhor, são decisões incidentais no curso do processo contra as quais
não cabe recurso de imediato, evitando a cissão do processo.

77
Unidade II

O princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutárias compreende na vedação de interposição


de recurso contra estas decisões de imediato, em consonância com o da oralidade e o da concentração
dos atos processuais.

As decisões interlocutórias são recorríveis quando do proferimento da sentença de mérito e se esta


tenha imposto uma condenação à parte em decorrência daquela decisão incidental interlocutório que
lhe foi desfavorável.

Este princípio tem como intuito manter a marcha processual e dar uma maior celeridade no processo.

5.3.4 Princípio da persuasão racional do juiz ou do livre convencimento do juiz

O princípio da persuasão racional do juiz ou do livre convencimento do juiz regula a apreciação e a


avaliação das provas existentes nos autos, indicando que o juiz deve formar livremente sua convicção.

Melhor esclarecendo, o juiz não é desvinculado da prova e dos elementos existentes nos autos, mas
a sua apreciação não depende de critérios legais, determinados a priori. O juiz só decide com base nos
elementos existentes no processo, mas os avalia segundo critérios críticos e racionais, observando as
regras legais porventura existentes e as regras de experiência, bem como apresentando qual a motivação
do seu convencimento (CPC, arts. 371, 374, IV, 375, 479 e 489, II; CF, art. 93, IX).

Este princípio está ligado aos princípios da oralidade e da motivação.

5.3.5 Princípio dos meios alternativos de composição de litígios: arbitragem,


conciliação e mediação

Os meios alternativos de composição de litígios introduzidos pelo Estado vêm promover a pacificação
social, combatendo a excessiva judicialização das lides, que em grande maioria podem ser solucionadas
pelas próprias partes por meio da conciliação, mediação ou por meio da arbitragem, em consenso das
partes e em substituição da justiça estatal, conforme previsto no CPC, artigo 3º, §§ 1º, 2º e 3º.

Importante frisar que, estes mecanismos de solução não conflitam com a garantia de acesso à
justiça, visto que “decorre da vontade negocial livremente manifestada em contrato sobre bens e direito
disponíveis”14.

Caso as partes consensualmente decidam por entregar a solução do litígio ao juízo ou ao tribunal
arbitral, cabe ser proferida uma sentença arbitral, cuja natureza é de título executivo judicial, igualmente
à sentença judicial (CPC, art. 515, VII; Lei nº 9.307/1996, art. 31).

A solução dos conflitos de interesse pelo método da conciliação e da mediação deve ser incentivada
pelos operadores do direito, em especial pelos advogados a seus clientes, uma vez que o Código de

14 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 60. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2019, p. 75.
78
TEORIA GERAL DO PROCESSO

Processo Civil de 2015 prevê a criação pelos tribunais dos Centros Judiciários de Solução Consensual de
Conflitos (CEJUSCs), aos quais compete a realização de sessões de conciliação e mediação, bem como
auxiliar, orientar e estimular a autocomposição, conforme disposto a partir do artigo 165 e seguintes.

5.3.6 Princípio da boa-fé e da lealdade processual

Para que o processo seja útil e eficaz à toda a sociedade, é indispensável que os atos sejam realizados
com boa fé e lealdade.

O princípio da boa-fé está previsto no artigo 5º do CPC: “Aquele que de qualquer forma participa do
processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé”.

É o princípio pelo qual as partes, mesmo estando em contenda judicial, devem tratar-se com
urbanidade e atuar com boa-fé.

Em sendo o processo essencialmente dialético, é reprovável que as partes desrespeitem o dever de


lealdade, que deve imperar entre elas, como por exemplo que faltem com a verdade e com o respeito
mútuo, que pratiquem atos inúteis e desnecessários, e que utilizem de artifícios fraudulentos.

Este princípio impõe a boa-fé e a lealdade a todos aqueles que atuam e/ou participam na condução
do processo, incluindo deveres de moralidade e probidade.

O processo é um instrumento posto à disposição das partes para:

• eliminação de seus conflitos;

• obtenção de resposta às suas pretensões;

• pacificação geral na sociedade; e

• atuação do direito.

A pena pela falta de urbanidade está prevista no CPC, art. 78, competindo ao juiz mandar riscar
eventuais expressões injuriosas dos autos.

O desrespeito ao dever de boa-fé e lealdade processual traduz-se em ilícito processual,


compreendendo o dolo e a fraude processuais, ao qual correspondem sanções processuais.

A violação da boa-fé por uma das partes litigantes possibilita a aplicação da pena de litigância de
má-fé, a qual tem caráter não só sancionatório como também de recomposição das perdas e danos
processuais geradas pelo infrator (CPC, arts. 79 a 81). Em sendo o processo instrumento público e de
interesse social, devem as partes expor os fatos em juízo conforme a verdade, deduzir defesas sempre
constituídas de fundamento, praticar somente os atos processuais necessários à sua defesa.

79
Unidade II

O CPC preocupa-se com a preservação do comportamento ético dos sujeitos do processo, partes
(autor e réu) e respectivos advogados, serventuários e auxiliares da justiça, membros do Ministério
Público e o próprio juiz, que estão sujeitos a sanções pela infração de preceitos éticos (CPC, arts. 77, 78,
143, 145, 155, 158, 164, 233 e seguintes., 774).

A jurisprudência tem interpretado com cautela essas disposições para evitar lesões ao princípio do
contraditório.

5.3.7 Princípio da cooperação ou da colaboração

O princípio da cooperação está previsto no artigo 6º do Código de Processo Civil: “Todos os sujeitos
do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito
justa e efetiva”.

Este princípio está interligado ao princípio da boa-fé e da lealdade processual, vez que as partes
devem colaborar para que o processo tenha uma evolução adequada.

Podem ser citados exemplos para a efetividade deste princípio, em que Cassio Scarpinella Bueno15
se refere a deveres:

• dever de esclarecimento: emenda da petição inicial pela parte, deve o juiz indicar com precisão o
que deve ser corrigido ou completado na petição (CPC, art. 321).

• dever de consulta: quando o juiz determina a prévia oitiva das partes antes de decidir, ainda que
seja de ofício (CPC, art. 10).

• dever de prevenção: quando o juiz busca suprir a ausência de pressupostos processuais e/ou
outros vícios que podem comprometer a prestação da tutela jurisdicional (CPC, arts. 139, IX, e
317), inclusive na fase de recurso (CPC, art. 932, § único).

• dever de auxílio: quando da inversão do ônus da prova (CPC, art. 373, §§ 1º e 2º).

E, ainda, cabe citar como exemplo para a concretude deste princípio, em fase de saneamento do
processo em causas complexas em matéria de fato ou de direito em que o juiz designa audiência para
que o referido saneamento seja realizado em cooperação com as partes (CPC, art. 357, § 3º).

Este princípio se aplica tanto na fase de conhecimento quanto na fase de cumprimento de sentença
e de execução.

15 BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil – Volume único. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2019, p. 113.
80
TEORIA GERAL DO PROCESSO

5.3.8 Princípio da economia e da instrumentalidade das formas

O processo é um instrumento a serviço do direito e da justiça, que utiliza um método para a resolução
de conflitos de interesses apresentados pelas partes ao Poder Judiciário. É por meio do processo que o
direito se materializa, que ao solucionar o conflito concede e impõe o direito à quem o tem.

O caráter publicista do processo impõe a produção de um resultado efetivo na solução de conflitos,


por meio de regras processuais absolutas.

No entanto, há uma flexibilidade quanto ao aproveitamento dos atos processuais, quando estes
apesar de não terem sido praticados na forma prescrita em lei atingiram a sua finalidade essencial, sem
causar prejuízo às partes, sob pena de nulidade do referido ato processual.

O princípio da instrumentalidade das formas visa a aproveitar os atos do processo inadequados à


ação exercida, conforme previsto nos artigos 188 e 277, ambos do Código de Processo Civil, a seguir:

“Art. 188. Os atos e termos processuais independem de forma determinada,


salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os
que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial.

[...]

Art. 277. Quando a lei prescrever determinada forma, o juiz considerará


válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade”. (grifamos)

5.3.9 Princípio dispositivo e princípio da livre investigação das provas – verdade formal
e verdade real

No princípio dispositivo toda a iniciativa do processo é atribuída às partes, quer quanto à sua
instauração, quer quanto ao seu desenvolvimento, produção de provas e às alegações em que se
fundamentará a decisão, jamais perdendo-se de vista a imparcialidade do juiz. O poder discricionário do
juiz está contido no âmbito da lei.

Cumpre ao autor, a iniciativa de aforar a demanda, indicar o pedido na petição inicial e os fundamentos
de fato em que se baseiam o pedido. E, cumpre ao juiz, ao preferir a sentença, não se afastar do pedido,
nem dos fatos descritos na inicial, sob pena de a sua sentença ser tida por extra petita e, portanto, nula.

Depois de proposta a ação e fixados os limites subjetivos e objetivos da lide, cabe ao juiz o
desenvolvimento do processo, a sua condução, dentro dos limites da ação proposta. O juiz tem poderes
para investigar os fatos narrados, determinando as provas que sejam necessárias para a formação do seu
convencimento (CPC, art. 370).

81
Unidade II

As regras do ônus da prova devem ser utilizadas excepcionalmente, quando esgotados as


possibilidades de aclaramento dos fatos. Logo, a aplicação do CPC, art. 373 deve ser suplementar à
do art. 370.

5.3.10 Princípio inquisitivo

O princípio inquisitivo consiste na atuação do juiz, uma vez instaurada a relação processual, de
impulsionar e de desenvolver regularmente a relação jurídico-processual até a sua solução definitiva.

No processo inquisitivo, onde as funções de acusar, defender e julgar encontram-se enfeixadas


em um único órgão, é o juiz que inicia de ofício o processo, que recolhe as provas e que, a final,
profere a decisão.

No processo acusatório, a parte deve requerer a instauração do processo. Prevaleceu em Roma


e em Atenas, sendo que corresponde a um processo penal de partes, em que acusador e acusado se
encontram em pé de igualdade, ou melhor, é um processo de ação, com as garantias da imparcialidade
do juiz, do contraditório e da publicidade.

No processo penal brasileiro adota-se o sistema acusatório, a ação é indisponível, incumbindo


obrigatoriamente ao Ministério Público o oferecimento de denúncia, desde que presentes indícios de
autoria e prova da materialidade do delito. Patente o interesse público (da sociedade) na provocação
da jurisdição.

No processo civil, o princípio inquisitivo excepcionalmente abrange os casos previstos no ordenamento


jurídico em que a atuação do juiz é imposta sem o prévio contraditório, como previsto no CPC, art. 9º,
parágrafo único, a seguir transcrito:

“Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja
previamente ouvida.

Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:

I - à tutela provisória de urgência;

II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III;

III - à decisão prevista no art. 701.”

Isso não significa que se dispense ou se elimine o contraditório.

5.3.11 Princípio da eventualidade ou da preclusão

O princípio da eventualidade ou da preclusão está relacionado ao direito de defesa.

82
TEORIA GERAL DO PROCESSO

Compete ao réu, na contestação, alegar todas as defesas contra o pedido do autor, sob pena de
preclusão, conforme previsto no CPC, art. 336, a seguir transcrito: “Incumbe ao réu alegar, na contestação,
toda a matéria de defesa, expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor e
especificando as provas que pretende produzir”.

Para esclarecer, cabe transcrever a explicação de Marcus Vinicius Rios Gonçalves, a seguir:

“[...] cumpre ao réu, na própria contestação, apresentar todas as razões


que possam levar ao desacolhimento do pedido, ainda que não sejam
compatíveis entre si. Pode, por exemplo, apresentar vários fundamentos de
defesa, em ordem sucessiva para, caso o juízo eventualmente não acolha
os primeiros, possa aceitar os últimos. Todas as razões de defesa devem,
em suma, estar concentradas na contestação, uma vez que o réu não terá
outra oportunidade de alegá-las. É preciso, porém, lembrar que as defesas
podem ser classificadas em duas categorias: as de ordem pública, que
poderiam ser conhecidas de ofício, e que não precluem, se não alegadas na
primeira oportunidade (objeções); e as que não são de ordem pública, e que
precluirão, se não alegadas (exceções)”16.

A omissão do réu em relação à sua defesa, gera a preclusão do direito de invocar, em fases posteriores
do processo, matéria de defesa não manifestada na contestação ou na oportunidade que lhe competir
manifestar-se.

Saiba mais

Ler Humberto Theodoro Júnior no seu livro, Curso de Direito Processual


Civil – Volume I. 60. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. Capítulo II, §§ 4º e 5º,
Princípios Informativos do Direito Processual e Normas Fundamentais do
Processo Civil, p. 43 e seguintes.

6 JURISDIÇÃO

Hoje, o Estado moderno desempenha uma importante função voltada no fortalecimento dos valores
humanos da personalidade, na conservação e desenvolvimento das condições da vida em sociedade. E,
este é chamado de Estado Social.

O Estado possui três funções distintas, conquanto harmônicas entre si, em que distribui o seu poder
soberano em três: Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário, e que lhe permite exercer as
funções legislativa, administrativa e jurisdicional.

16 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 10. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2019, p. 468.
83
Unidade II

6.1 Jurisdição: conceito e objetivos do Estado ao exercer a jurisdição

No exercício da função jurídica, o Estado regula as relações intersubjetivas por meio de duas ordens
de atividades distintas e harmônicas, como já escrito acima.

A primeira ordem de atividade refere-se ao exercício da função legislativa, por meio da qual o Estado
elabora as leis, de modo a estabelecer a ordem jurídica, fixando normas sobre as situações ou relações
que possivelmente se apresentarão no dia-a-dia entre os homens no convívio social.

O ordenamento jurídico que compreende o conjunto de leis, genéricas e abstratas, atribui aos
cidadãos direitos e obrigações que deverão prevalecer dentre os integrantes de um determinado grupo
social juridicamente organizado.

Esse ordenamento jurídico é de observância obrigatória e imperativa entre os membros da


coletividade, e tem por objetivo a paz social e o bem comum.

A segunda ordem de atividade jurídica refere-se à função jurisdicional, em que ao Estado, no


exercício da jurisdição, incumbe buscar a realização prática das normas em caso de conflito de interesses
entre pessoas, aplicando a norma pertinente ao caso concreto a fim de solucionar o litígio (processo de
conhecimento) e desenvolvendo medidas para a sua efetivação (processo de execução).

Nesse sentido, Moacyr Amaral Santos define jurisdição como

[...] uma das funções da soberania do Estado. Função de poder, do Poder


Judiciário. Consiste no poder de atuar o direito objetivo, que o próprio
Estado elaborou, compondo os conflitos de interesses e dessa forma
resguardando a ordem jurídica e a autoridade da lei. A função jurisdicional
é, assim, como que um prolongamento da função legislativa, e a pressupõe.
No exercício desta, o Estado formula as leis, que são regras gerais abstratas
reguladoras da conduta dos indivíduos, tutelares de seus interesses e que
regem a composição dos respectivos conflitos: no daquela, especializa as lei,
atuando-as em casos ocorrentes”17.

Jurisdição é um método heterocompositivo de solução de conflitos por uma fonte suprapartes, o


Estado-juiz, que decide com força obrigatória sobre os litigantes, que são submetidos à uma decisão
judicial (sentença judicial) proferida pelo Poder Judiciário.

Espécie heterocompositiva por que um terceiro, o juiz, alheio às partes conflitantes, soluciona o
conflito, impondo a solução de forma definitiva e obrigatória às partes.

17 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. Vol. I. 29. ed. São Paulo: Saraiva,
2012, p. 91.
84
TEORIA GERAL DO PROCESSO

No entender de Humberto Theodoro Júnior, jurisdição “é a função do Estado de declarar e realizar,


de forma prática, a vontade da lei diante de uma situação jurídica controvertida”18.

A jurisdição é a forma de solucionar os conflitos por meio da interveniência do Estado, gerando o


processo judicial. O Estado diz o direito no caso concreto submetido ao judiciário, impondo às partes a
solução do litígio.

Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, conceituam
jurisdição, a seguir:

“[...] é uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos
titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação
do conflito que os envolve, com justiça. Essa pacificação é feita mediante
a atuação da vontade do direito objetivo que rege o caso apresentando em
concreto para ser solucionado; e o Estado desempenha essa função sempre
mediante o processo, seja expressando imperativamente o preceito (através
de uma sentença de mérito), seja realizando no mundo das coisas o que o
preceito estabelece (através da execução focada).19”

O fim principal da jurisdição é a satisfação do interesse público do Estado na aplicação da norma


que disciplina o conflito apresentado no caso concreto, que lhe é posto à solução, e a composição dos
litígios das partes por órgãos investidos de poderes de jurisdição, conforme previsto em lei.

O Estado, no exercício da função jurisdicional, tem a incumbência da pacificação social e justa, ou


melhor dizendo, o objetivo de pacificar os conflitos de interesses surgidos nas relações sociais entre
pessoas, de modo a conferir ao interessado o direito de ação, que por meio do processo, o Estado
concede o direito à quem o tem, no caso concreto que lhe foi apresentado à solução.

Humberto Theodoto Júnior explica qual é a função da jurisdição,

“[...] que incumbe ao Poder Judiciário, e que vem a ser a missão pacificadora
do Estado, exercida diante das situações litigiosas. Por meio dela, o Estado dá
solução às lides ou litígios, que são os conflitos de interesse, caracterizados
por pretensões resistidas, tendo como objetivo imediato a aplicação da
lei ao caso concreto, e como missão mediata ‘restabelecer a paz entre os
particulares e, como isso, manter a da sociedade”20.

18 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 60. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 109.
19 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do
Processo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 155.
20 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 60. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 3.
85
Unidade II

Para o cumprimento dessa importante missão, o Estado se utiliza do processo, em se tratando de


conflitos de interesses relacionados ao direito civil, direito penal, direito do trabalho dentre outros,
exercerá a jurisdicional utilizando-se como instrumento o processo civil, o processo penal, o processo
do trabalho, respectivamente.

Cabe estudarmos o que Moacyr Amaral Santos ensina por objetivo do Estado no exercício do poder
judicional, a seguir:

[...] o objetivo do Estado, no exercício da função jurisdicional, é assegurar


a paz jurídica pela atuação da lei disciplinadora da relação jurídica em que
se controvertem as partes. [...] Em conclusão, a finalidade da jurisdição é
resguardar a ordem jurídica, o império da lei e, como consequência, proteger
aquele dos interesses em conflito que é tutelado pela lei, ou seja, amparar o
direito objetivo”21.

Diante do nosso estudo, podemos relacionar o objetivo da Jurisdição, a seguir:

• Aplicação do direito material ao caso concreto.

• Solução do conflito interindividual;

• Atingir os objetivos sociais.

• Realização do direito objetivo e a pacificação social.

Assim, no tocante aos objetivos sociais, a jurisdição visa garantir que o direito objetivo material seja
cumprido, que o ordenamento jurídico seja preservado em sua autoridade, e que a paz e a ordem na
sociedade sejam favorecidas pela imposição da vontade do Estado.

6.2 Características da jurisdição

A jurisdição é exercida com referência a uma lide que a parte interessada provoca o Estado, pedindo
um provimento a respeito.

O que é lide?

Moacyr Amaral Santos entende que lide é o mesmo que pretensão e explica que “[...] é o conflito
de interesses qualificado pela pretensão de um dos interessados e pela resistência do outro. Ou, mais
sinteticamente, lide é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida”22.

21 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. Vol. I. 29. ed. São Paulo: Saraiva,
2012, p. 92-93.
22 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. Vol. I. 29. ed. São Paulo: Saraiva,
2012, p. 31.
86
TEORIA GERAL DO PROCESSO

Conclui-se que, o exercício da jurisdição caracteriza-se pela existência de uma lide, que é levada ao
Poder Judiciário para solução.

Podemos citar como características da jurisdição, a seguir:

• Função do Estado exercida em uma situação de litígio (lide), em que a parte detentora de um
direito, pretende seja satisfeito pela parte contrária, provocando a jurisdicional para a solução
desse conflito.

• Os órgãos jurisdicionais devem ser provocados para o exercício da função jurisdicional, diante de
uma insatisfação da parte que motiva a instauração do processo. O titular de uma pretensão (civil,
penal, trabalhista, tributária, administrativa, etc.) requer junto ao Poder Judiciário um provimento
que satisfaça a sua pretensão contra outra pessoa.

• Trata-se de uma atividade substitutiva, no sentido de que o Estado, com a sua atuação coativa,
substitui a vontade dos indivíduos na solução dos conflitos de forma imparcial.

• Exerce uma atividade instrumental, como instrumento de atuação do direito material, isto é,
soluciona o conflito através da aplicação do direito material ao caso concreto.

• Exerce uma atividade declarativa ou executiva, já que declara a vontade concreta da lei ou executa
o comando estabelecido na sentença ou em outro título executivo reconhecido legalmente.

• É uma atividade desinteressada e provocada do Estado, isto é, a jurisdição é inerte, e para que
prevaleça a imparcialidade do juiz deve haver provocação por parte dos conflitantes e, uma vez
provocada, tem o dever de solucionar o conflito de forma imparcial.

• Soluciona o conflito por meio de uma decisão proferida, com força obrigatória e definitiva
(imutável), com os efeitos da coisa julgada.

Observação

Estas características têm origem nos princípios constitucionais do


processo e nos princípios informativos das decisões judiciais, dentre eles
citamos um a título de exemplificação, como o da inércia da jurisdição e o
impulso oficial estudada anteriormente no tópico 5.3.1 deste livro.

A jurisdição como poder estatal deve propiciar ao litigante, vítima de uma lesão ou de uma ameaça,
aquilo que o seu direito (lei) lhe assegura.

87
Unidade II

6.3 Princípios fundamentais da jurisdição

Há princípios fundamentais que informam a jurisdição e regem o seu exercício, com ou sem
expressão na própria lei, mas que devem observar e obedecer aos princípios constitucionais do processo
e os princípios informativos do procedimento, anteriormente estudados.

A Constituição Federal é fonte primária e principal da atribuição da atividade jurisdicional referente


aos diversos órgãos do Poder Judiciário, não podendo a lei infraconstitucional se contrapor àquela no
tocante à distribuição da competência dentre os diversos órgãos jurisdicionais ou criar juízos de exceção.

Na Constituição devem estar previstos os juízos e suas respectivas competências para julgar
determinadas causas, antes de se instalar o conflito a ser solucionado.

Lei infraconstitucional não poderá criar juízes ou tribunais de exceção para julgamento de certas
causas, ou prever estrutura diversa da prevista na Constitucional.

Lembrete

O princípio do juiz natural, imparcial e independente, é uma das


garantias constitucionais compreendidas no princípio do devido
processo legal, que já foi estudado dentre os princípios constitucionais
do processo no tópico 5.2.2.

Passamos a estudar os princípios fundamentais que informam a jurisdição, que são os seguintes:

a) Princípio da investidura:

A jurisdição só pode ser exercida por juízes investidos em cargos de magistratura, por ato oficial e
legítimo, e que encontram no efetivo exercício desses cargos.

Uma das funções do Estado é a jurisdição, que por ser uma pessoa jurídica, exerce a função
jurisdicional por meio da investidura de uma pessoa física na função de juiz, como um de seus órgãos,
após aprovada em concurso de provas e títulos ou outros meios para atuação nos Tribunais.

A ausência de investidura impossibilita o exercício da jurisdição, vez que corresponde a um dos


pressupostos processuais de existência válida do processo.

São nulos os atos processuais praticados por quem não tem legitimidade, incorrendo o seu autor no
crime de exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado (CP, art. 324).

88
TEORIA GERAL DO PROCESSO

Observação

Código Penal. “Art. 324 - Entrar no exercício de função pública


antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem
autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido,
substituído ou suspenso:

Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa”.

b) Princípio da improrrogabilidade:

Os limites da jurisdição são traçados pela Constituição, que define o poder jurisdicional para cada
justiça especial e, por exclusão, o da justiça comum.

Ao legislador ordinário não é permitido alterar ou reduzir ou ampliar referido poder jurisdicional.

c) Princípio da indeclinabilidade:

O órgão constitucional investido no poder de jurisdição não pode se recusar à prestação da tutela
jurisdicional, vez que é sua obrigação quando legitimamente provocado à solução do conflito.

Trata-se do dever legal do exercício da prestação jurisdicional do Estado, por meio do juiz investido
e competente para a solução do conflito apresentado, exceto na ocorrência de uma das hipóteses
de impedimento e suspeição, que poderá retirar a imparcialidade exigida para essa atuação (CPC,
arts. 144 e 145).

d) Princípio da indelegabilidade:

Cabe ao Poder Judiciário o exercício da função jurisdicional, não podendo delegar a outro Poder do
Estado, nem o juiz delegar as suas funções a outro órgão, sob pena de violação ao princípio constitucional
do juiz natural.

Humberto Theodoto Júnior explica que “não pode o juiz ou qualquer órgão jurisdicional delegar a
outros o exercício da função que a lei lhes conferiu, conservando-se sempre as causas sob o comando
e controle do juiz natural”23.

e) Princípio da aderência territorial:

A jurisdição é una e é exercida nos limites da soberania nacional ao território do país. Os juízes têm
autoridade nos limites territoriais do Estado brasileiro.

23 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 60. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2019, p. 120.
89
Unidade II

Moacyr Amaral Santos explica a aderência da jurisdição ao território, a seguir transcrito:

“A jurisdição pressupõe um território em que é exercida. Assim, o Supremo


Tribunal Federal tem jurisdição sobre todo o país. O mesmo se dá, nos
limites da sua competência, com o Superior Tribunal de Justiça. O Tribunal
de Justiça de cada Estado sobre o território desse Estado. O território de
cada Estado, por sua vez, se divide em circunscrição – comarcas, distritos -,
em cada uma delas exercendo jurisdição os respectivos juízes, ou juiz, desde
que legitimamente investidos. Os juízes exercem jurisdição nos limites
da circunscrição territorial que lhe é traçada pelas leis de organização
judiciária. O princípio, então, é este: a jurisdição não pode ser exercida fora
do território fixado ao juiz”24.

Logo, os juízes exercem a jurisdição nos limites do território nacional, e ainda, respeitados os limites
da sua competência.

f) Princípio da inércia:

A jurisdição é inerte, não age em conta própria, razão pela qual deve ser provocada por aquele que
tem um direito resistido e precisa levar o conflito a ser solucionado pelo Poder Judiciário, por meio da
atuação do juiz (CPC, art. 2º).

g) Princípio da unidade:

A jurisdição é uma das funções soberanas do Estado, é única e una, sendo distribuída a prestação
jurisdicional pela competência funcional entre vários órgãos judiciários e de acordo com a especialidade
de cada uma das justiças, com o objetivo de assegurar maior eficiência no seu desempenho.

Competência é a distribuição da jurisdição entre seus órgãos ou agentes nela investidos (juízes),
limitando a atuação da Jurisdição, para melhor administração da justiça. Competência é a medida ou
quantidade de jurisdição atribuída aos seus órgãos de exercício. Ela quantificará a parcela de exercício
de jurisdição atribuída a determinado órgão, em relação às pessoas, à matéria ou ao território.

6.4 Espécies de jurisdição

Como anteriormente estudado, o jurisdição é una, mas por razões didáticas podemos classificá-la
quanto à matéria, quanto à gradação dos órgãos juridicionais, quanto à origem, quanto ao objeto e quanto
aos limites de sua competência.

24 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. Vol. I. 29. ed. São Paulo: Saraiva,
2012, p. 96.
90
TEORIA GERAL DO PROCESSO

a) Quanto à matéria a jurisdição pode ser de ordem penal e civil

A jurisdição penal resolve lides de natureza penal, com pretensões punitivas, e tem como instrumento
o processo penal, disciplinado pelo Direito Processual Penal.

No sentido bastante amplo, as lides de natureza não penal são de jurisdição civil, que resolve conflitos
de natureza civil e tem como instrumento o processo civil, disciplinado pelo Direito Processual Civil.

Da jurisdição civil se origina categorias de lides de natureza especial, e pelo seus sujeitos, passam
a constituir jurisdições especiais, como a jurisdição trabalhista, a jurisdição eleitoral e a jurisdição
militar. Daí o aparecimento do Direito Processual Trabalho, Direito Processual Eleitoral e do Direito
Processual Militar.

O âmbito da jurisdição civil é residual, definida por exclusão. Portanto, o que não interessa à jurisdição
penal e às jurisdições especializadas, interessa à civil (CPC, art. 13).

b) Quando à gradação ou hierarquia dos órgãos jurisdicionais podem ser de inferior ou superior

Com base no princípio fundamental do duplo grau de jurisdição, as decisões proferidas por juízes
inferiores estão sujeitas ao reexame dos juízes superiores, pela interposição de recursos.

Daí temos, a primeira instância ou primeiro grau de jurisdição em que se origina (inicia) o processo
e a segunda instância ou instância superior de nível recursal que reexamina a decisão proferida na
instância de origem, podendo reformá-la ou mantê-la.

Cabe ressaltar que, no sistema brasileiro há mais que duas instâncias, como um terceiro grau do
Superior Tribunal de Justiça. E, na cúpula do Poder Judiciário encontra-se o Supremo Tribunal Federal.

c) Quanto à origem da jurisdição pode ser legal ou convencional

A jurisdição legal é a do Poder Judiciário, exercida por juízes e tribunais.

A jurisdição convencional é a arbitral, exercida por árbitro ou tribunal arbitral. As partes decidem
entregar a solução do conflito à arbitragem (Lei de Arbitragem nº 9.307/1996).

O vigente Código de Processo Civil instituiu os substitutivos da jurisdição, que são meios alternativos
à jurisdição de solução de conflitos, sem depender da sentença judicial, como os mecanismos da
conciliação, mediação e arbitragem, que igualmente têm por objetivo a pacificação social (art. 3º,
§§ 1º a 3º).

91
Unidade II

Saiba mais

A Lei de Arbitragem nº 9.307/1996 foi recentemente atualizada pela


Lei nº 13.129/2015, em consonância ao atual Código de Processo Civil, e
regulamenta a arbitragem.

d) Quanto ao objeto a jurisdição pode ser contenciosa e voluntária

O Código de Processo Civil estabelece que a jurisdição civil pode ser contenciosa ou voluntária (art. 719).

A jurisdição contenciosa se dedica a solucionar conflitos de interesses entre pessoas, que é


composto pelo provimento jurisdicional, visando a pacificação social.

Humberto Theodoto Júnior define jurisdição contenciosa como “a jurisdição propriamente dita,
isto é, aquela função que o Estado desempenha na pacificação ou composição dos litígios. Pressupõe
controvérsia entre as partes (lide), a ser solucionada pelo juiz”25.

Com a predominância na atuação administrativa, na jurisdição voluntária também chamada de


jurisdição graciosa ou administrativa, não há litígio a ser solucionado, porém trata-se de situação ou
negócio jurídico de ordem pública de interesse privado que necessita ser levada ao Poder Judiciário, para
determinação (homologação) ou observância das normas jurídicas para a realização ou constituição do
ato jurídico.

Citamos também a definição de jurisdição voluntária dada por Humberto Theodoto Júnior:

“[...] jurisdição voluntária, em que o juiz apenas realiza gestão pública em


torno de interesses privados [...]

[...]

O caráter predominante é de atividade negocial, em que a interferência


do juiz é de natureza constitutiva ou integrativa, com o objetivo de tornar
eficaz o negócio jurídico desejado pelos interessados”26.

Apresentamos um quadro de diferenças entre jurisdição contenciosa e voluntária para melhor


compreensão.

25 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 60. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2019, p. 117.
26 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 60. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019,
p. 117-118.
92
TEORIA GERAL DO PROCESSO

Quadro 2

Jurisdição contenciosa Jurisdição voluntária


A parte interessada detentora de um direito resistido A parte interessa detentora de um direito busca uma
(controvérsia), busca obter uma solução do conflito por determinação judicial que valha para ela mesma. Não há
meio de uma determinação judicial que obrigue a parte um direito resistido (não há controvérsia) por parte de
contrária. outra pessoa.
Não há conflito. Há uma situação ou negócio jurídico
de ordem pública de interesse privado, que requer
Há conflito (litígio, contrariedade) entre as partes, autora o conhecimento do judiciário, para determinadas
e ré, a ser solucionado pela jurisdição. providências. Pode haver uma questão conflituosa, mas
que não é posta diretamente em juízo para apreciação
judicial.
Há uma lide, um processo, envolvido em uma relação Não há lide, há um mero procedimento. Há um negócio
jurídica processual entre autor, réu e o juiz. jurídico processual envolvendo o juiz e os interessados.
A solução do conflito é conferida por meio da sentença, É possível uma sentença que beneficie as partes.
que favorece uma das partes em detrimento da outra.
Ocorrência de coisa julgada. Não produz coisa julgada.
Exemplos: ações de interdição, de nomeação de tutor, de
Exemplo: ação de indenização. alienação de bens de incapazes.

e) Quanto aos limites de sua competência a jurisdição pode ser comum ou especial

A Constituição Federal instituiu vários organismos judiciários, de âmbito federal e estadual, e


estabelece a cada um deles os limites da sua competência.

Considerando as regras de competência, as Justiças se distinguem entre as que exercem jurisdição


especial e as que exercem jurisdição comum. A jurisdição especial abrange a Justiça Militar
(CF, arts. 122 a 124), a Justiça Eleitoral (CF, arts. 118 a 121), a Justiça do Trabalho (CF, arts. 111 a 116) e
as Justiças Militares Estaduais (CF, arts. 125, § 3º), sendo que cada uma delas é competente para atuar
em ramos específicos do direito material, como pretensões penais oriundas de relações jurídicas em que
envolvem militares federais e estaduais, relações de trabalho, matéria relacionada com eleições políticas.

A jurisdição comum abrange a Justiça Federal (CF, arts. 106 a 110) e as Justiças Estaduais
(CF, arts. 125 a 126), cuja competência civil e penal se distingue quando a União for parte, autora ou ré,
ou interessada na causa, que será de competência da jurisdição federal, e os demais assuntos ficarão a
cargo da jurisdição comum, razão pela qual diz-se possuir competência residual.

6.5 Limites da jurisdição

Apesar de o escopo jurídico da jurisdição ser o direito, existem limitações internas de cada Estado,
que excluem a tutela jurisdicional em casos determinados, e também limitações internacionais, de
observância necessária a coexistência entre os Estados estrangeiros e dos critérios de conveniência
e viabilidade.

93
Unidade II

6.5.1 Limites internacionais

Os limites internacionais de jurisdição de um Estado são definidos por ele próprio, levando em conta
dois critérios de exclusão:

• Conveniência: exclusão de conflitos irrelevantes para o Estado, visto que objetiva a


convivência social.

• Viabilidade: exclusão de casos em que não é possível imposição autoritária de cumprimento


de sentença.

Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco citam os
motivos doutrinários que levam à observância dessas regras, a seguir: “[...] a) existência de outros Estados
soberanos; b) respeito a convenções internacionais; c) razões de interesse do próprio Estado”27.

O poder jurisdicional de cada Estado se limita ao território do país, podendo exercer a sua autoridade
judiciária nas causas que ali estejam tramitando.

De acordo com a legislação brasileira, os conflitos civis serão solucionados no Poder Judiciário do
nosso país quando, por exemplo, o réu for domiciliado no Brasil; ou quando a causas versar sobre
obrigações que deva ser cumprida no Brasil; ou quando a causa originar-se de fato ocorrido em território
nacional; ou quando a causa versar sobre imóvel ou os bens objeto do inventário estiverem situados no
Brasil (CPC, arts. 88 e 89).

O direito processual penal observa os limites impostos no direito penal, qual seja, o princípio da
territorialidade em que o juiz do Estado soluciona o litígio, impondo sanções punitivas.

No processo trabalhista, a jurisdição especial do trabalho soluciona conflitos no local de prestação


de serviços pelo empregado.

Quanto aos limites internacionais de caráter pessoal, em respeito à soberania de cada Estado,
estão imunes à jurisdição de um país, isto é, um Estado não tem jurisdição para processar e julgar
questões envolvendo

• Estados estrangeiros;

• Chefes de Estado estrangeiros; e

• Agentes diplomáticos.

27 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do
Processo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 176.
94
TEORIA GERAL DO PROCESSO

A imunidade também é estendida por tratados e convenções a organismos internacionais, como a


Organização das Nações Unidas (ONU), Organização Internacional do Trabalho (OIT), dentre outros.

A imunidade das pessoas físicas, como chefes de Estado e agentes diplomáticos que atuam em país
estrangeiros, se refere à jurisdição civil e penal, e tal garantia está prevista em convenções internacionais,
como Convenção sobre Funcionários Diplomáticos (Havana, 1928) e Conferência Internacional sobre
Relações Diplomáticas (Viena, 1961).

Convém mencionar que, que é relativizada a imunidade quanto à jurisdição trabalhista, ou melhor,
quanto à responsabilidade que as citadas pessoas físicas exercentes de cargos diplomáticos têm
com relação aos empregados e trabalhadores que contratam para prestação de serviços domésticos,
particulares e pessoais para si próprios e para suas respectivas famílias.

Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco citam
as hipóteses de cessação da imunidade com base nos direitos das gentes (hoje chamado de direito
internacional), a seguir:

“Cessa a imunidade, nos termos das regras de direito das gentes: a) quando
há renúncia válida a ela; b) quando o seu beneficiário é autor; c) quando se
trata de demanda fundada em direito real sobre imóvel situado no
país; d) quando se trata de ação referente à profissão liberal ou atividade
comercial do agente diplomático; e) quando o agente é nacional do país em
que é acreditado. A renúncia em direito processual penal é inadmissível, pois
corresponderia a uma espontânea submissão às normas de direito penal
material do país, o que não se admite”28.

6.5.2 Limites internos

No que se refere à jurisdição interna de cada Estado, se estende a toda a área dos direito substanciais
(direito material) (CF, art. 5º, XXXV, e CC, art. 189).

O princípio constitucional do acesso à Justiça tem garantido à jurisdição a apreciação pelo Poder
Judiciário de lesão ou ameaça a direito, com algumas exceções previstas em lei.

Lembrete

Cabe lembrar o já estudado princípio da inafastabilidade do controle


jurisdicional, ou também chamado de princípio do acesso à Justiça, é basilar
na existência do Estado de Direito.

28 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do
Processo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 177.
95
Unidade II

A indeclinabilidade da prestação jurisdicional é princípio básico que


rege a jurisdição, que garante o acesso à justiça para postular e defender os
seus interesses, por meio de tutela específica.

É direito fundamental assegurado na CF, art. 5º, XXXV, que consagra


que: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito”.

Resumo

A ciência processual, galgada à uma ciência autônoma, deve se


basear em preceitos (princípios) fundamentais que dão forma e caráter
aos sistemas processuais, ou melhor, são diretrizes gerais que orientam a
referida ciência processual.

Os sistemas processuais se apoiam em princípios gerais que se


estendem a todos os ordenamentos jurídicos processuais e em outros que
são específicos a determinados sistemas.

Os princípios constitucionais do processo são fundamentais como regras


técnicas de conteúdo necessários para a orientação e aplicação do direito.

Cabe ressaltar que, o Código de Processo Civil, no art. 1º, estabelece a


subordinação do Processo Civil à Constituição Federal, determinando que
o processo civil seja ordenado, disciplinado e interpretado conforme os
valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição Federal,
observando-se as disposições do CPC (filiação da lei ao texto constitucional).

Nesta unidade, são estudados os princípios constitucionais do processo,


a seguir:

• Princípio do acesso à Justiça ou da inafastabilidade do


controle jurisdicional.

• Princípio do juiz natural.

• Princípio do devido processo legal ou due processo of law.

• Princípio do contraditório e da ampla defesa.

• Princípio do contraditório.

• Princípio da ampla defesa.


96
TEORIA GERAL DO PROCESSO

• Princípio da igualdade.

• Princípio da imparcialidade do juiz.

• Princípio da vedação da prova ilícita no processo.

• Princípio da presunção de inocência.

• Princípio do duplo grau de jurisdição.

• Princípio da publicidade.

• Princípio da motivação das decisões judiciais ou fundamentação


das decisões.

• Princípio da celeridade processual ou da duração razoável do processo.

Além dos princípios constitucionais do processo, também são estudados


os princípios infraconstitucionais do direito processual civil, previstos no
Código de Processo Civil de 2015, importantes informativos como princípios
gerais observáveis em todo o ordenamento jurídico, como regras técnicas
de conteúdo necessários para a orientação e aplicação do direito.

Os princípios informativos do procedimento estudados são


os seguintes:

• Princípio da inércia da jurisdição e o impulso oficial.

• Princípio da disponibilidade e da indisponibilidade.

• Princípio da oralidade, constituído por quatro subprincípios:

— Princípio da imediação ou imediatidade.

— Princípio da concentração dos atos processuais.

— Princípio da identidade física do juiz.

• Princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias.

• Princípio da persuasão racional do juiz ou do livre convencimento


do juiz.

97
Unidade II

• Princípio dos meios alternativos de composição de litígios: arbitragem,


conciliação e mediação.

• Princípio da boa-fé e da lealdade processual.

• Princípio da cooperação ou da colaboração.

• Princípio da economia e da instrumentalidade das formas.

• Princípio dispositivo e princípio da livre investigação das provas –


verdade formal e verdade real.

• Princípio inquisitivo.

• Princípio da eventualidade ou da preclusão.

A jurisdição é exercida pelo Estado, incumbido de buscar a realização


prática das normas em caso de conflito de interesses entre pessoas,
aplicando a norma pertinente ao caso concreto a fim de solucionar o
litígio (processo de conhecimento) e desenvolvendo medidas para a sua
efetivação (processo de execução).

Apesar de una e única, a jurisdição sofre limitações internas de cada


Estado, que excluem a tutela jurisdicional em casos determinados, e também
limitações internacionais, de observância necessária a coexistência entre os
Estados estrangeiros e dos critérios de conveniência e viabilidade.

98

You might also like