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Unid 2
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Unidade II
5 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL
A ciência processual, galgada à uma ciência autônoma, deve se basear em preceitos (princípios)
fundamentais que dão forma e caráter aos sistemas processuais, ou melhor, são diretrizes gerais que
orientam a referida ciência processual.
Nos cabe trazer à baila a definição de princípios dada por Miguel Reale, a seguir transcrito:
O direito processual, como ramo do direito público, tem suas regras fundamentais traçadas pelo
direito constitucional, que fixa a estrutura dos órgãos jurisdicionais, a distribuição da justiça e a
efetividade do direito objetivo, que estabelece alguns princípios processuais, que são comuns a todos os
ramos do direito.
Alguns dos princípios gerais informadores comuns a todos os ramos do direito processual são
corolários dos princípios constitucionais processuais. Citamos alguns deles: o princípio do juiz natural,
da publicidade, etc.
1 REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 20. ed. São Paulo; Saraiva, 2002, p. 60.
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• a jurisdição constitucional.
Inicialmente, devemos considerar que a Constituição Federal em vigor assegura o direito de ação e do
processo, fundamentado no princípio da inafastabilidade da jurisdição, direito fundamental assegurado
na CF, art. 5º, XXXV, e CPC, art. 3º, que dispõe: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito”.
Ante a relevância da matéria, dispõe sobre a competência privativa à União, para legislar sobre o
direito processual (CF, art. 22, I). E, confere competência concorrente à União, Estados, DF, para legislar
sobre procedimentos em matéria processual (CF, art. 24, XI).
• Processos judiciais informados pela conciliação e pelos princípios da oralidade e concentração (CF,
art. 98, I).
• Valorização da função conciliatória extrajudicial do juiz de paz (CF, art. 98, II).
• Assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos (CF,
art. 5º, LXXIV).
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• Acesso à justiça, como garantia de ação e de defesa (CF, art. 5º, XXXV).
• Publicidade e motivação das decisões judiciais (CF, arts. 5º, LX e 93, IX).
• Indenização pelo erro judiciário e pela prisão que supere os limites da condenação (CF, art. 5º, LXXV).
• Prisão só pode ser ordenada pela autoridade judiciária competente, salvo nas hipóteses do
flagrante e das transgressões e crimes propriamente militares (CF, art. 5º, LXI).
Diante do acima explicado, Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido
Rangel Dinamarco concluem que
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Desse primado decorrem todos os demais princípios que asseguram a ordem jurídica justa e adequada
para o acesso ao direito e à realização do direito.
Cássio Scarpinella Bueno explica os princípios constitucionais do direito processual civil, a seguir:
Primeiramente, cabe ressaltar que, o Código de Processo Civil, no art. 1º, estabelece a subordinação
do Processo Civil à Constituição Federal, determinando que o processo civil seja ordenado, disciplinado
e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição Federal,
observando-se as disposições do CPC (filiação da lei ao texto constitucional).
A indeclinabilidade da prestação jurisdicional é princípio básico que rege a jurisdição, que garante o
acesso à justiça para postular e defender os seus interesses, por meio de tutela específica.
É direito fundamental assegurado na CF, art. 5º, XXXV, que consagra que: “a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
2 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do
Processo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 93.
3 BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil – Volume único. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2019, p. 49.
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TEORIA GERAL DO PROCESSO
Da análise desses dois dispositivos legais convém ressaltar que, a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito, assegurando o direito à proteção judicial efetiva. Deve ser
conjugado com o princípio do devido processo legal e com o princípio do contraditório.
Além disso, o Estado deve garantir a aplicação de regras processuais justas e razoáveis para possibilitar
a demanda e a convicção do juiz, para fins de dizer o direito.
Como decorrência do acesso à justiça, Mauro Schiavi afirma que a insuficiência financeira não pode
restringir o acesso ao Poder Judiciário, visto que para o cidadão sem recursos financeiros ajuizar uma
ação judicial, cabe ao Estado assegurar um advogado gratuito, custeado pelo Estado, para promover a
competente ação. Daí decorre o artigo 5º, inciso LXXIV, da Constituição Federal que dispõe: “o Estado
prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”4.
O Código de Processo Civil, art. 3º, § único, prevê métodos alternativos de solução dos conflitos,
como a arbitragem, conciliação, mediação e outros métodos de solução consensual.
A Lei de Arbitragem permitiu aos conflitantes atribuir a solução a um árbitro, que proferirá sua
decisão com força de sentença, sem necessidade de posterior homologação do Poder Judiciário
(Lei nº 9.307/96, alterada pela Lei nº 13.129/2015).
A solução consensual dos conflitos deve ser promovida pelo Estado, devendo a conciliação, a
mediação e outras formas de solução consensual ser estimuladas por juízes, advogados, defensores
públicos e membros do Ministério Público.
O processamento e o julgamento das causas devem se dar perante juiz investido do poder
jurisdicional, com competência devidamente indicada pela Constituição Federal, isto é, perante juiz
instituído e determinado com base em critérios gerais fixados com antecedência e não com vistas a
certas controvérsias em particular (CF, art. 5º, XXXVII e LIII).
4 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 15. ed. São Paulo: LTr, 2019, p. 98.
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Em outras palavras, o juiz natural é aquele cuja competência é apurada de acordo com regras
previamente existentes no ordenamento jurídico, e que não pode ser modificada a posteriori.
Proíbe-se a criação de tribunais de exceção, ou seja, aqueles concebidos ad hoc, para o processamento
e julgamento de certo caso.
“[...]
[...]
[...]”
Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, explica que
o princípio do juiz natural
“[...] assegura que ninguém pode ser privado do julgamento por juiz
independente e imparcial, indicado pelas normas constitucionais e legais.
A Constituição proíbe os chamados ‘tribunais de exceção’, instituídos para o
julgamento de determinadas pessoas ou de crimes de determinada natureza,
sem previsão constitucional (art. 5º, inc. XXXVII)”5.
Para assegurar a atuação independente e imparcial dos juízes, devem ser observadas as
seguintes regras:
• Ninguém pode ser julgado por órgão constituído após a ocorrência do fato;
• Entre os juízes pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de competências que exclui qualquer
alternativa deferida à discriminariedade de quem quer que seja.
Para que seja respeitado o princípio do juiz natural, Marcus Vinicius Rios Gonçalves aponta
três requisitos:
5 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do
Processo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 164.
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TEORIA GERAL DO PROCESSO
Daí, é possível concluir que, não há escolha de juiz pela parte, para julgar o litígio que lhe foi posto
à solução, por meio do proferimento de uma sentença de mérito.
O Código de Processo Civil, no art. 43, institui a perpetutio jurisdictionis, uma vez que a competência
é determinada no momento do registro ou distribuição da petição inicial, nesta tramitando até o final,
sendo irrelevante as alterações supervenientes.
Desse princípio derivam todos os demais. A Constituição Federal preserva a liberdade e os bens,
garantindo que o seu titular não os perca por atos não jurisdicionais do Estado. Além disso, o Judiciário
deve observar as garantias inerentes ao Estado de direito, bem como deve respeitar a lei, assegurando a
cada um o que é seu.
O devido processo legal formal refere-se à tutela processual, ao processo, às garantias que ele
deve respeitar e ao regramento legal que deve obedecer (refere-se ao arcabouço processual).
O devido processo legal substancial constitui autolimitação ao poder estatal, que não pode editar
normas que ofendam a razoabilidade e afrontem as bases do regime democrático.
Para quaisquer situações de ameaça ou lesão de direito deve a lei apresentar expressamente uma
forma de composição jurisdicional pertinente, indicando as condições mínimas para o desenvolvimento
do processo e atuação do Estado-juiz.
A Constituição Federal, art. 5º, inciso LIV dispõe que “ninguém será privado da liberdade ou de seus
bens sem o direito processo legal”. Desse princípio deriva todos os demais princípios.
• Preservação do contraditório.
6 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo Curso de Direito Processual. Vol. I. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 63.
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Para o processo civil é o devido processo legal princípio informativo, com aspecto procedimental,
que abrange e incorpora todos os demais princípios, funcionando, juntamente com o contraditório,
ampla defesa e imparcialidade, como o sistema de garantias processuais básicas de uma sociedade
justa e democrática. Ninguém pode ser privado de sua liberdade ou de seus bens sem que tenha sido
submetido a um julgamento prolatado com base no pertinente instrumento estatal previsto em lei para
a solução daquele conflito específico de interesse.
No aspecto processual, devem ser respeitadas as garantias processuais e as exigências para uma
sentença justa. É a autolimitação do poder do Estado, uma vez que a Constituição Federal protege e
preserva a liberdade e os bens, colocando-os sob a guarda do Poder Judiciário, sendo que seus titulares
não pode deles ser privados por atos não jurisdicionais.
Conclui-se que, o princípio do devido processo legal constitui a base de todos os demais princípios.
A Constituição Federal de 1988 prevê o contraditório e ampla defesa num único dispositivo, aplicáveis
expressamente aos litigantes, em qualquer processo, judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
(CF, art. 5º, LV).
O art. 5º., inciso LV, da Constituição Federal dispõe que “aos litigantes, em processo judicial e
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios
e recursos a ela inerentes”.
O juiz se coloca entre o autor e o réu no processo, que ao ouvir uma parte deve ouvir a outra,
concedendo a ambas as partes possibilidade igual de ampla defesa, de apresentar provas sobre as suas
alegações e de influir sobre o convencimento do juiz, sob pena de incorrer no cerceamento de defesa.
O princípio do contraditório indica a atuação de uma garantia fundamental de justiça e mais relevante
do ordenamento processual, sendo inseparável da distribuição da justiça organizada, dos aspectos do
devido processo legal e inerente à própria noção de processo (CF, art. 5º, LIV).
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TEORIA GERAL DO PROCESSO
O juiz, por força de seu dever de imparcialidade, coloca-se entre as partes, mas possibilita através
do contraditório que uma das partes se manifeste contrariamente à pretensão (tese) deduzida pela
outra parte, podendo inclusive apresentar contraprova (antítese), isto é, oportunidade das partes de
manifestação a cada fato novo surgido no processo, influindo no convencimento do juiz (síntese).
Nessa linha de entendimento, podemos dizer que do contraditório resultam duas exigências, a seguir:
• Dar ciência aos réus, executados e interessados, da existência do processo e aos litigantes de tudo
o que nele se passa.
Diante disso, diz-se que, em relação ao juiz, as partes são colaboradores necessários (não antagonistas),
sendo que cada um dos contendores age no processo tendo em vista o próprio interesse, mas a ação
combinada dos dois serve à justiça na eliminação do conflito ou controvérsia que os envolve.
Durante toda a relação jurídica e em todas as fases do processo, sempre que uma parte se manifestar,
deve-se abrir oportunidade à outra para contraditar.
Na prática, decorre do contraditório a necessidade de se dar ciência à cada parte dos atos praticados
pela outra no processo, por meio da citação, intimação e notificação.
A legislação brasileira não é uniforme no uso desses vocábulos. Nos processos civil e penal, citação
é ato pelo qual se dá ciência à parte da instauração de um processo, chamando-o a participar da
relação processual e exercer a sua defesa, sob pena de revelia (CPC, art. 238). O mesmo ato no processo
do trabalho e no mandado de segurança chama-se notificação, que não necessita ser pessoal e é
encaminhada pelo correio, com aviso de recebimento (CLT, art. 841 e § 1º; Lei nº 12.016/2009, art. 6º. § 2º).
Intimação é o ato pelo qual se dá ciência à parte de atos e termos praticados no curso do processo,
contendo também, eventualmente, comando de fazer ou deixar de fazer alguma coisa (CPC, art. 269).
Na fase de instrução, a prova produzida por uma parte deve ser dada oportunidade para a outra
parte se manifestar, como por exemplo, uma parte arrola testemunha, a outra tem a possibilidade
de conhecer o rol com antecedência, para poder preparar eventual contradita e formular perguntas,
no curso da audiência. Na prova pericial, as partes podem formular quesitos, acompanhar o perito e
apresentar pareceres por assistentes técnicos, por elas indicados.
Veda-se a decisão-surpresa. O juiz não reconhecerá a carência antes de dar às partes a oportunidade
de se manifestar.
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Unidade II
Essa proposição está fundamentada no Código de Processo Civil, destacando-se os artigos 9º e 10º,
a seguir transcritos:
“Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja
previamente ouvida.
[...]
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade
de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva
decidir de ofício”.
Como exemplo podemos citar: se a prescrição e a decadência for detectável de plano (CPC, art. 332,
§ 1º) e puder levar à improcedência liminar do pedido, o juiz, antes de julgar, deverá ouvir o autor (CPC,
art. 487, § único).
O princípio da ampla defesa consiste na possibilidade de utilização pelas partes de todos os meios e
recursos legais previstos para a defesa de seus interesses e direitos postos em juízo (CF, art. 5º, LV).
O processo atua mediante uma sequência de atos processuais formais previstos em lei, que confere e
garante igualdade às partes durante o transcorrer do processo, que se instaura perante o Judiciário, e para
possibilitar a produção de todos os meios de prova para a efetiva defesa dos seus interesses em litígio.
A violação desse princípio acarreta o cerceamento de defesa, como: indeferimento pelo juiz da
causa de prova relevante e pertinente, requerida pela parte no momento oportuno, e a supressão de
fases processuais.
O réu pode optar por não se defender, gerando um ônus para ele. Se não se defender quanto ao
interesse disponível gera a revelia e aplicação da pena de confissão, quanto à matéria de fato, podendo
dispensar a produção de provas e promover o julgamento antecipado da lide. Se quanto ao interesse
indisponível, a falta de defesa não gera a presenção de veracidade.
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Justifica-se o contraditório e a ampla defesa postergados no caso de liminar inaudita altera parte,
quando há risco iminente de prejuízo irreparável, ou em que o contraditório prévio pode colocar em
risco o provimento jurisdicional.
A igualdade perante a lei é premissa para a afirmação da igualdade perante o juiz, que dá origem ao
princípio da igualdade processual (CF, art. 5º, “caput” e inciso I; CPC, arts. 7º e 139, I).
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo‑se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:
As partes e os procuradores devem merecer tratamento igualitário, para que tenham as mesmas
oportunidades de fazer valer em juízo as suas razões.
No aspecto processual, devem as partes ter tratamento igualitário no que diz respeito aos exercícios
de direitos e faculdades processuais. É o que dispõe o CPC, artigos 7º e 139, I, a seguir transcritos:
[...]
• Concessão da assistência jurídica gratuita à parte que não tem condições econômicas para
postular em juízo.
• Prioridade nos juízos inferiores e nos tribunais às causas de interesse de pessoas com idade igual
ou superior a 60 anos ou portadora de doença grave (CPC, art. 1.048, I, c/c Lei 10.741/2003,
art. 71 – Estatuto do Idoso).
• Incidente de resolução de demandas repetitivas permite uma única solução suscitada em uma
multiplicidade de processos, afastando o ajuizamento de ações por litigantes com diferentes e
deficitárias condições.
• Prazos maiores concedidos ao Ministério Público e à Fazenda Pública para manifestar-se nos
autos, prazo em dobro para manifestarem-se, devido ao grande número de processos (CPC, arts. 180,
caput, e 183).
• Prazos em dobro concedidos à Defensoria Pública e àqueles que gozam do benefício da justiça
gratuita e que são patrocinados por entidades públicas, organizadas e mantidas pelo Estado
(Lei nº 1.060/50, art. 5º, § 5º).
• Remessa necessária. Benefício concedido à Fazenda Pública, quando for proferida sentença
em que esta é a parte sucumbente. Esta decisão só transita em julgado após reexaminada pela
instância superior.
Princípio da imparcialidade do juiz refere-se às causas que devem ser julgadas por juízes imparciais,
proferindo sentença de acordo com a formação de suas convicções por meio das provas produzidas
pelas partes e da aplicação da lei ao caso concreto, não admitindo-se em hipótese nenhuma que a
decisão venha a pender para alguma das partes.
O caráter de imparcialidade do juiz é inseparável do órgão da jurisdição. Embora não seja mencionado
pela Constituição Federal, mantém relação com os princípios do acesso à justiça e à igualdade, sendo
ainda pressuposto processual de validade, uma vez que é vedado tribunal de exceção (CF, art. 5º., “caput”
e incisos I, XXXV e XXXVII).
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TEORIA GERAL DO PROCESSO
“[...]
[...]
[...]”.
Para assegurar a imparcialidade no exercício da jurisdição, aos juízes são asseguradas garantias,
consistentes na vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios (CF, art. 95 e incisos) e
prescreve vedações referentes à atuação profissional para os mesmos (CF, art. 95, § único). Convém
transcrever os dispostos constitucionais citados, a seguir:
III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39,
§ 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I
O Código de Processo Civil, nos artigos 144 e 145, estabelece limitações para o exercício das funções
do juiz, quando presentes as hipóteses de impedimento e suspeição que possam colocar em risco a
imparcialidade do juiz.
Além disso, mister se faz que o órgão jurisdicional tenha sido criado previamente aos fatos que
geraram a lide submetida ao seu crivo e com competência prevista da Constitucional.
A imparcialidade do juiz é uma garantia de justiça para as partes, sendo que estas têm o direito
de exigir um juiz imparcial e o Estado, que reservou para si o exercício da função jurisdicional, tem o
correspondente dever de agir com imparcialidade na solução das causas que lhe são submetidas.
A Constituição Federal veda o uso da prova obtida ilicitamente nos processos judiciais, integrando
ao amplo conceito do devido processo legal (CF, art. 5º, LVI).
As regras que regulam e limitam a obtenção, a produção e a valoração das provas são direcionadas
ao Estado, com o intuito de proteger os direitos fundamentais do indivíduo (do próprio Estado, para que
não aja de forma abusiva e desmedida contra o indivíduo), muitas vezes atingidos pela persecução penal.
Esse princípio apresenta estreita conexão com outros direitos e garantias fundamentais, como:
• direito ao sigilo profissional (CF, art. 5º, XIII e XIV, “in fine”).
Cassio Scarpinella Bueno suscita que deste princípio surgem dois institutos distintos e igualmente
vedados, são eles o das “provas ilícitas” e o das “provas obtidas por meios ilícitos”, que assim define e
exemplifica ambos os institutos, a seguir:
Observação
É princípio basilar do Estado de Direito como garantia processual penal, que tutela da liberdade pessoal.
A Constituição Federal, no art. 5º, inciso LVII, dispõe que: “ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.
A Constituição não prevê expressamente este princípio, mas incumbe-se de atribuir a competência
recursal a vários órgãos da jurisdição, referindo-se aos tribunais, órgãos de 2º grau (CF, arts. 102, II; 105,
II; 108, II; 93, III).
O princípio do duplo grau de jurisdição indica a possibilidade de revisão, por via de recurso, das
causas já julgadas pelo juiz de 1º grau (ou 1ª instância ou jurisdição inferior), por magistrados diferentes
e de nível superior (jurisdição superior). Toda decisão ou sentença judicial está sujeita a um reexame por
instância superior, provocado por recurso da parte possivelmente prejudicada com o ato judicial.
7 BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil – Volume único. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2019, p. 61.
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Unidade II
O juiz, qualquer que seja a grau de jurisdição exercido, tem independência jurídica, pelo que não
está adstrito às decisões dos tribunais de 2º grau, julgando apenas em obediência ao direito e à sua
convicção jurídica.
O duplo grau de jurisdição é efetivado se e quando o vencido apresentar recurso contra a decisão
de 1º grau, exigindo nova provocação do órgão jurisdicional por parte de quem foi desfavorecido (parte
vencida) pela decisão.
• possibilidade da decisão de 1º grau ser injusta ou errada, o que permite a sua reforma em
grau de recurso;
• dar ao vencido uma oportunidade para reexame da sentença, com a qual não se conformou;
• tribunais de 2º grau são formados por juízes mais experientes e órgãos colegiados, oferecendo
maior segurança nas decisões;
• juiz de 1º grau se cerca de maiores cuidados no julgamento quando sabe que sua decisão poderá
ser revista pelo tribunal de jurisdição superior;
• controle interno dos atos judiciais sobre a legalidade e a justiça das decisões judiciárias.
A Constituição não prevê expressamente este princípio, mas incumbe-se de atribuir a competência
recursal a vários órgãos da jurisdição, referindo-se aos tribunais, órgãos de 2º grau (CF, arts. 102, II; 105,
II; 108, II; 93, III).
Assim, o princípio do duplo grau de jurisdição garante que toda decisão ou sentença judicial esteja
sujeita a um reexame por instância superior, provocado por recurso da parte possivelmente prejudicada
com o ato judicial.
• Embargos infringentes, previstos na lei de execução fiscal, que cabem contra a sentença proferida
nos embagos de valor pequeno e que são julgados pelo mesmo juízo que prolatou a sentença;
• CPC, art. 1.013, § 3º, em que havendo apelação contra a sentença que julgou o processo extinto
sem resolução de mérito, o tribunal, encontrando nos autos todos os elementos necessários à sua
convicção, poderá promover o julgamento de mérito;
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TEORIA GERAL DO PROCESSO
A Constituição Federal nos artigos. 5º, inciso LX, e 93, incisos IX e X, dispõem que:
“Art. 5º [...]
[...]
[...]
[...]
[...]”. (grifamos)
Todos os atos praticados em juízo são dotados de publicidade, como forma de controle da atividade
jurisdicional pelas partes e garantia de lisura do procedimento.
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Unidade II
• qualquer pessoa pode presenciar a realização dos atos processuais, examinar os autos e
obter certidão.
• os atos das partes e do juiz devem ser levados ao conhecimento da parte contrária.
Há exceções a este princípio quando o interesse social ou a defesa da intimidade assim o exigir,
conforme admissão da própria norma constitucional (CPC, art. 189; CPP, arts. 792 e 485 e parágrafos;
CLT, art. 770). Citamos algumas delas, a seguir:
• sigilo garantido aos jurados quando da votação dos quesitos em plenário visa justamente gerar a
isenção do julgamento e afastar pressões posteriores à absolvição ou condenação.
A Constituição exige dos órgãos da jurisdição a motivação explícita de todos os seus atos decisórios,
sob pena de nulidade.
[...]
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TEORIA GERAL DO PROCESSO
[...]”. (grifamos)
Logo, todas as decisões proferidas pelo Poder Judiciário devem ser fundamentadas, visando o
controle popular sobre o exercício da função jurisdicional, a aferição da imparcialidade do juiz e da
legalidade e justiça das decisões.
Princípio consagrado pelo Pacto de São José da Costa Rica (1969), ratificado pelo Brasil.
A Emenda Constitucional nº 45/2004 inseriu o princípio da duração razoável do processo no rol das
garantias constitucionais voltado ao direito processual.
A Constituição Federal, no artigo 5º, inciso LXXVIII, dispõe que: “a todos, no âmbito judicial e
administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade
de sua tramitação”.
• Súmulas vinculantes,
• Redução de recursos.
O Código de Processo Civil, no artigo 4º, dispõe que as partes têm direito de obter a solução do
processo em prazo razoável.
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O Código de Processo Civil, no artigo 1.048, dispõe sobre a prioridade na tramitação do processo
quando a parte tiver mais de 60 anos de idade ou for portador de doença grave.
Princípio é uma proposição inicial que se coloca na base das ciências do direito processual civil,
direito processual penal e direito processual do trabalho, com o objetivo de informar e inspirar as normas
jurídicas que compõem o ramo do direito.
Lembrete
Embora a iniciativa da abertura do processo seja da parte (princípio dispositivo), o seu impulso é
oficial (CPC, art. 2º).
8 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo Curso de Direito Processual. Vol. I. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 68.
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TEORIA GERAL DO PROCESSO
Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco explicam que
“[...] denomina-se ‘ação’ o direito (ou poder) de ativar os órgãos jurisdicionais, visando à satisfação de
uma pretensão. A jurisdição é inerte e, para sua movimentação, exige a provocação do interessado. É a
isto que se denomina princípios da ação: ‘nemo judex sine actore’”.9
Instaurado o processo, este não fica à mercê das partes, predominando o interesse público em ver o
desenvolvimento da relação processual e a sua conclusão no mais breve tempo, exaurindo-se o dever
estatal de prestar o serviço jurisdicional.
O instituto da preclusão está ligado ao princípio do impulso processual, e é eficaz instrumento para
a marcha processual. Preclusão é a perda de uma faculdade ou de um poder ou direito processual.
As preclusões se justificam pela regra segundo a qual a passagem de um ato processual para
outro supõe o encerramento do anterior, de tal forma que os atos já praticados permaneçam firmes e
inatacáveis, possibilitando o avanço do processo.
Considerando a meta do processo justo, Humberto Theodoro Júnior explica que os poderes
inquisitoriais dão efetividade a outras duas garantias fundamentais: “(i) a da efetividade da tutela
jurisdicional, sem a qual não ocorre o real acesso à justiça (CF, art. 5º,XXXV); e (ii) a da duração razoável
do processo, de cuja inobservância decorre inevitável denegação de justiça (CF, art. 5º, LXXVIII)”10.
Este princípio tem origem no princípio dispositivo, sendo que Marcus Vinicius Rios Gonçalves
ensina que
9 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do
Processo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 93.
10 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 60. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2019, p. 70.
11 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 10. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2019, p. 83.
75
Unidade II
No processo civil, este princípio decorre do direito indisponível, em que a falta de defesa da parte
não gera a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor, por prevalecer o interesse público
sobre o privado.
O novo Código de Processo Civil confere importância à oralidade no processo, visto que com
fundamento neste é possível prever o caráter cooperativo necessário entre as partes e o juiz, para a
condução do processo durante seu período de tramitação.
No entender de Humberto Theodoro Júnior13, a oralidade incentiva o contato pessoal, verbal e direto
das partes e exige o trato cooperativo entre elas no processo, transformando a cooperação entre as
partes em norma fundamental do processo justo, conforme dispõe o artigo 6º do CPC, a seguir: “Todos
os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de
mérito justa e efetiva”.
O princípio da oralidade está mais ligado ao procedimento. O processo oralizado tem a vantagem
de estabelecer o contato do julgador com as partes que se submeterão à sua decisão, possibilitando a
concentração dos atos processuais, visando um julgamento mais justo e com maior possibilidade de
pacificação social.
Hoje, é raro o procedimento oral, em sua forma pura, por se exigir que atos e termos do processo
sejam documentados. O que se adota é o procedimento misto, na combinação dos procedimentos escrito
e oral, como meio de expressão de atos relevantes para a formação do convencimento do juiz. Este é o
sistema brasileiro, tanto no processo civil como no processo penal, e também no processo do trabalho.
A Lei dos Juizados Especiais (Lei 9.099/95) estabelece novos critérios para um processo que adotou
muitas regras da oralidade, com diálogo direto entre as partes, as testemunhas e o juiz, acompanhada
da simplicidade, informalidade, celeridade, economia processual e gratuidade (art. 2º), mas também há
necessidade de documentação de atos processuais.
12 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do
Processo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 69.
13 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 60. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2019, p. 62.
76
TEORIA GERAL DO PROCESSO
maior poder de direção e controle) e democratização (facilidade de admissão em juízo, quer a efetiva
igualdade das partes, mediante a observância da paridade de armas entre elas).
Quando se exige que as alegações ou provas orais sejam conservadas por escrito, fala-se no princípio
da documentação.
Por princípio da imediação ou imediatidade entende-se por este princípio que, só aquele que convive
com o procedimento, ouviu os relatórios das partes e tomou parte na produção das provas, está em
posição de assumir responsabilidade plena pela decisão.
Neste, exige o contato direto do juiz com as partes e as provas, a fim de que receba, sem intermediários,
o material de que se servirá para julgar.
A imediação não está necessariamente ligada à oralidade, mas historicamente os dois princípios
sempre andaram juntos.
Princípio da concentração dos atos processuais significa a reunião de atos em um mesmo momento
processual, qual seja, em uma audiência ou em poucas e próximas audiências, reunindo a instrução e
julgamento, todos encadeados e que possibilitam uma conclusão mais real e adequada aos fatos e ao
direito, em curto espaço de tempo.
Princípio da identidade física do juiz corresponde ao juiz que conduz a instrução do processo, que
deve coincidir com aquele juiz que irá julgar a causa, salvo casos excepcionais.
Apesar de não haver previsão no novo Código de Processo Civil, este princípio da identidade
física do juiz continua inserido no sistema processual, vez que prevê o princípio da oralidade,
atribuindo ao juiz a necessidade de uma atuação mais direta e próxima das partes na colheita
de provas e a avaliação das pertinentes, e a possibilidade de determinar provas de ofício e indeferir
as inúteis, visando o proferimento de uma sentença de mérito justa e efetiva.
As decisões interlocutórias são aquelas que, sem findar o processo, resolvem questões controvertidas
no curso da relação processual, ou melhor, são decisões incidentais no curso do processo contra as quais
não cabe recurso de imediato, evitando a cissão do processo.
77
Unidade II
Este princípio tem como intuito manter a marcha processual e dar uma maior celeridade no processo.
Melhor esclarecendo, o juiz não é desvinculado da prova e dos elementos existentes nos autos, mas
a sua apreciação não depende de critérios legais, determinados a priori. O juiz só decide com base nos
elementos existentes no processo, mas os avalia segundo critérios críticos e racionais, observando as
regras legais porventura existentes e as regras de experiência, bem como apresentando qual a motivação
do seu convencimento (CPC, arts. 371, 374, IV, 375, 479 e 489, II; CF, art. 93, IX).
Os meios alternativos de composição de litígios introduzidos pelo Estado vêm promover a pacificação
social, combatendo a excessiva judicialização das lides, que em grande maioria podem ser solucionadas
pelas próprias partes por meio da conciliação, mediação ou por meio da arbitragem, em consenso das
partes e em substituição da justiça estatal, conforme previsto no CPC, artigo 3º, §§ 1º, 2º e 3º.
Importante frisar que, estes mecanismos de solução não conflitam com a garantia de acesso à
justiça, visto que “decorre da vontade negocial livremente manifestada em contrato sobre bens e direito
disponíveis”14.
Caso as partes consensualmente decidam por entregar a solução do litígio ao juízo ou ao tribunal
arbitral, cabe ser proferida uma sentença arbitral, cuja natureza é de título executivo judicial, igualmente
à sentença judicial (CPC, art. 515, VII; Lei nº 9.307/1996, art. 31).
A solução dos conflitos de interesse pelo método da conciliação e da mediação deve ser incentivada
pelos operadores do direito, em especial pelos advogados a seus clientes, uma vez que o Código de
14 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 60. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2019, p. 75.
78
TEORIA GERAL DO PROCESSO
Processo Civil de 2015 prevê a criação pelos tribunais dos Centros Judiciários de Solução Consensual de
Conflitos (CEJUSCs), aos quais compete a realização de sessões de conciliação e mediação, bem como
auxiliar, orientar e estimular a autocomposição, conforme disposto a partir do artigo 165 e seguintes.
Para que o processo seja útil e eficaz à toda a sociedade, é indispensável que os atos sejam realizados
com boa fé e lealdade.
O princípio da boa-fé está previsto no artigo 5º do CPC: “Aquele que de qualquer forma participa do
processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé”.
É o princípio pelo qual as partes, mesmo estando em contenda judicial, devem tratar-se com
urbanidade e atuar com boa-fé.
Este princípio impõe a boa-fé e a lealdade a todos aqueles que atuam e/ou participam na condução
do processo, incluindo deveres de moralidade e probidade.
• atuação do direito.
A pena pela falta de urbanidade está prevista no CPC, art. 78, competindo ao juiz mandar riscar
eventuais expressões injuriosas dos autos.
A violação da boa-fé por uma das partes litigantes possibilita a aplicação da pena de litigância de
má-fé, a qual tem caráter não só sancionatório como também de recomposição das perdas e danos
processuais geradas pelo infrator (CPC, arts. 79 a 81). Em sendo o processo instrumento público e de
interesse social, devem as partes expor os fatos em juízo conforme a verdade, deduzir defesas sempre
constituídas de fundamento, praticar somente os atos processuais necessários à sua defesa.
79
Unidade II
O CPC preocupa-se com a preservação do comportamento ético dos sujeitos do processo, partes
(autor e réu) e respectivos advogados, serventuários e auxiliares da justiça, membros do Ministério
Público e o próprio juiz, que estão sujeitos a sanções pela infração de preceitos éticos (CPC, arts. 77, 78,
143, 145, 155, 158, 164, 233 e seguintes., 774).
A jurisprudência tem interpretado com cautela essas disposições para evitar lesões ao princípio do
contraditório.
O princípio da cooperação está previsto no artigo 6º do Código de Processo Civil: “Todos os sujeitos
do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito
justa e efetiva”.
Este princípio está interligado ao princípio da boa-fé e da lealdade processual, vez que as partes
devem colaborar para que o processo tenha uma evolução adequada.
Podem ser citados exemplos para a efetividade deste princípio, em que Cassio Scarpinella Bueno15
se refere a deveres:
• dever de esclarecimento: emenda da petição inicial pela parte, deve o juiz indicar com precisão o
que deve ser corrigido ou completado na petição (CPC, art. 321).
• dever de consulta: quando o juiz determina a prévia oitiva das partes antes de decidir, ainda que
seja de ofício (CPC, art. 10).
• dever de prevenção: quando o juiz busca suprir a ausência de pressupostos processuais e/ou
outros vícios que podem comprometer a prestação da tutela jurisdicional (CPC, arts. 139, IX, e
317), inclusive na fase de recurso (CPC, art. 932, § único).
• dever de auxílio: quando da inversão do ônus da prova (CPC, art. 373, §§ 1º e 2º).
E, ainda, cabe citar como exemplo para a concretude deste princípio, em fase de saneamento do
processo em causas complexas em matéria de fato ou de direito em que o juiz designa audiência para
que o referido saneamento seja realizado em cooperação com as partes (CPC, art. 357, § 3º).
Este princípio se aplica tanto na fase de conhecimento quanto na fase de cumprimento de sentença
e de execução.
15 BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil – Volume único. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2019, p. 113.
80
TEORIA GERAL DO PROCESSO
O processo é um instrumento a serviço do direito e da justiça, que utiliza um método para a resolução
de conflitos de interesses apresentados pelas partes ao Poder Judiciário. É por meio do processo que o
direito se materializa, que ao solucionar o conflito concede e impõe o direito à quem o tem.
No entanto, há uma flexibilidade quanto ao aproveitamento dos atos processuais, quando estes
apesar de não terem sido praticados na forma prescrita em lei atingiram a sua finalidade essencial, sem
causar prejuízo às partes, sob pena de nulidade do referido ato processual.
[...]
5.3.9 Princípio dispositivo e princípio da livre investigação das provas – verdade formal
e verdade real
No princípio dispositivo toda a iniciativa do processo é atribuída às partes, quer quanto à sua
instauração, quer quanto ao seu desenvolvimento, produção de provas e às alegações em que se
fundamentará a decisão, jamais perdendo-se de vista a imparcialidade do juiz. O poder discricionário do
juiz está contido no âmbito da lei.
Cumpre ao autor, a iniciativa de aforar a demanda, indicar o pedido na petição inicial e os fundamentos
de fato em que se baseiam o pedido. E, cumpre ao juiz, ao preferir a sentença, não se afastar do pedido,
nem dos fatos descritos na inicial, sob pena de a sua sentença ser tida por extra petita e, portanto, nula.
Depois de proposta a ação e fixados os limites subjetivos e objetivos da lide, cabe ao juiz o
desenvolvimento do processo, a sua condução, dentro dos limites da ação proposta. O juiz tem poderes
para investigar os fatos narrados, determinando as provas que sejam necessárias para a formação do seu
convencimento (CPC, art. 370).
81
Unidade II
O princípio inquisitivo consiste na atuação do juiz, uma vez instaurada a relação processual, de
impulsionar e de desenvolver regularmente a relação jurídico-processual até a sua solução definitiva.
“Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja
previamente ouvida.
82
TEORIA GERAL DO PROCESSO
Compete ao réu, na contestação, alegar todas as defesas contra o pedido do autor, sob pena de
preclusão, conforme previsto no CPC, art. 336, a seguir transcrito: “Incumbe ao réu alegar, na contestação,
toda a matéria de defesa, expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor e
especificando as provas que pretende produzir”.
Para esclarecer, cabe transcrever a explicação de Marcus Vinicius Rios Gonçalves, a seguir:
A omissão do réu em relação à sua defesa, gera a preclusão do direito de invocar, em fases posteriores
do processo, matéria de defesa não manifestada na contestação ou na oportunidade que lhe competir
manifestar-se.
Saiba mais
6 JURISDIÇÃO
Hoje, o Estado moderno desempenha uma importante função voltada no fortalecimento dos valores
humanos da personalidade, na conservação e desenvolvimento das condições da vida em sociedade. E,
este é chamado de Estado Social.
O Estado possui três funções distintas, conquanto harmônicas entre si, em que distribui o seu poder
soberano em três: Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário, e que lhe permite exercer as
funções legislativa, administrativa e jurisdicional.
16 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 10. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2019, p. 468.
83
Unidade II
No exercício da função jurídica, o Estado regula as relações intersubjetivas por meio de duas ordens
de atividades distintas e harmônicas, como já escrito acima.
A primeira ordem de atividade refere-se ao exercício da função legislativa, por meio da qual o Estado
elabora as leis, de modo a estabelecer a ordem jurídica, fixando normas sobre as situações ou relações
que possivelmente se apresentarão no dia-a-dia entre os homens no convívio social.
O ordenamento jurídico que compreende o conjunto de leis, genéricas e abstratas, atribui aos
cidadãos direitos e obrigações que deverão prevalecer dentre os integrantes de um determinado grupo
social juridicamente organizado.
Espécie heterocompositiva por que um terceiro, o juiz, alheio às partes conflitantes, soluciona o
conflito, impondo a solução de forma definitiva e obrigatória às partes.
17 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. Vol. I. 29. ed. São Paulo: Saraiva,
2012, p. 91.
84
TEORIA GERAL DO PROCESSO
Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, conceituam
jurisdição, a seguir:
“[...] é uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos
titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação
do conflito que os envolve, com justiça. Essa pacificação é feita mediante
a atuação da vontade do direito objetivo que rege o caso apresentando em
concreto para ser solucionado; e o Estado desempenha essa função sempre
mediante o processo, seja expressando imperativamente o preceito (através
de uma sentença de mérito), seja realizando no mundo das coisas o que o
preceito estabelece (através da execução focada).19”
“[...] que incumbe ao Poder Judiciário, e que vem a ser a missão pacificadora
do Estado, exercida diante das situações litigiosas. Por meio dela, o Estado dá
solução às lides ou litígios, que são os conflitos de interesse, caracterizados
por pretensões resistidas, tendo como objetivo imediato a aplicação da
lei ao caso concreto, e como missão mediata ‘restabelecer a paz entre os
particulares e, como isso, manter a da sociedade”20.
18 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 60. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 109.
19 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do
Processo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 155.
20 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 60. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 3.
85
Unidade II
Cabe estudarmos o que Moacyr Amaral Santos ensina por objetivo do Estado no exercício do poder
judicional, a seguir:
Assim, no tocante aos objetivos sociais, a jurisdição visa garantir que o direito objetivo material seja
cumprido, que o ordenamento jurídico seja preservado em sua autoridade, e que a paz e a ordem na
sociedade sejam favorecidas pela imposição da vontade do Estado.
A jurisdição é exercida com referência a uma lide que a parte interessada provoca o Estado, pedindo
um provimento a respeito.
O que é lide?
Moacyr Amaral Santos entende que lide é o mesmo que pretensão e explica que “[...] é o conflito
de interesses qualificado pela pretensão de um dos interessados e pela resistência do outro. Ou, mais
sinteticamente, lide é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida”22.
21 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. Vol. I. 29. ed. São Paulo: Saraiva,
2012, p. 92-93.
22 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. Vol. I. 29. ed. São Paulo: Saraiva,
2012, p. 31.
86
TEORIA GERAL DO PROCESSO
Conclui-se que, o exercício da jurisdição caracteriza-se pela existência de uma lide, que é levada ao
Poder Judiciário para solução.
• Função do Estado exercida em uma situação de litígio (lide), em que a parte detentora de um
direito, pretende seja satisfeito pela parte contrária, provocando a jurisdicional para a solução
desse conflito.
• Os órgãos jurisdicionais devem ser provocados para o exercício da função jurisdicional, diante de
uma insatisfação da parte que motiva a instauração do processo. O titular de uma pretensão (civil,
penal, trabalhista, tributária, administrativa, etc.) requer junto ao Poder Judiciário um provimento
que satisfaça a sua pretensão contra outra pessoa.
• Trata-se de uma atividade substitutiva, no sentido de que o Estado, com a sua atuação coativa,
substitui a vontade dos indivíduos na solução dos conflitos de forma imparcial.
• Exerce uma atividade instrumental, como instrumento de atuação do direito material, isto é,
soluciona o conflito através da aplicação do direito material ao caso concreto.
• Exerce uma atividade declarativa ou executiva, já que declara a vontade concreta da lei ou executa
o comando estabelecido na sentença ou em outro título executivo reconhecido legalmente.
• É uma atividade desinteressada e provocada do Estado, isto é, a jurisdição é inerte, e para que
prevaleça a imparcialidade do juiz deve haver provocação por parte dos conflitantes e, uma vez
provocada, tem o dever de solucionar o conflito de forma imparcial.
• Soluciona o conflito por meio de uma decisão proferida, com força obrigatória e definitiva
(imutável), com os efeitos da coisa julgada.
Observação
A jurisdição como poder estatal deve propiciar ao litigante, vítima de uma lesão ou de uma ameaça,
aquilo que o seu direito (lei) lhe assegura.
87
Unidade II
Há princípios fundamentais que informam a jurisdição e regem o seu exercício, com ou sem
expressão na própria lei, mas que devem observar e obedecer aos princípios constitucionais do processo
e os princípios informativos do procedimento, anteriormente estudados.
Na Constituição devem estar previstos os juízos e suas respectivas competências para julgar
determinadas causas, antes de se instalar o conflito a ser solucionado.
Lei infraconstitucional não poderá criar juízes ou tribunais de exceção para julgamento de certas
causas, ou prever estrutura diversa da prevista na Constitucional.
Lembrete
Passamos a estudar os princípios fundamentais que informam a jurisdição, que são os seguintes:
a) Princípio da investidura:
A jurisdição só pode ser exercida por juízes investidos em cargos de magistratura, por ato oficial e
legítimo, e que encontram no efetivo exercício desses cargos.
Uma das funções do Estado é a jurisdição, que por ser uma pessoa jurídica, exerce a função
jurisdicional por meio da investidura de uma pessoa física na função de juiz, como um de seus órgãos,
após aprovada em concurso de provas e títulos ou outros meios para atuação nos Tribunais.
São nulos os atos processuais praticados por quem não tem legitimidade, incorrendo o seu autor no
crime de exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado (CP, art. 324).
88
TEORIA GERAL DO PROCESSO
Observação
b) Princípio da improrrogabilidade:
Os limites da jurisdição são traçados pela Constituição, que define o poder jurisdicional para cada
justiça especial e, por exclusão, o da justiça comum.
Ao legislador ordinário não é permitido alterar ou reduzir ou ampliar referido poder jurisdicional.
c) Princípio da indeclinabilidade:
O órgão constitucional investido no poder de jurisdição não pode se recusar à prestação da tutela
jurisdicional, vez que é sua obrigação quando legitimamente provocado à solução do conflito.
Trata-se do dever legal do exercício da prestação jurisdicional do Estado, por meio do juiz investido
e competente para a solução do conflito apresentado, exceto na ocorrência de uma das hipóteses
de impedimento e suspeição, que poderá retirar a imparcialidade exigida para essa atuação (CPC,
arts. 144 e 145).
d) Princípio da indelegabilidade:
Cabe ao Poder Judiciário o exercício da função jurisdicional, não podendo delegar a outro Poder do
Estado, nem o juiz delegar as suas funções a outro órgão, sob pena de violação ao princípio constitucional
do juiz natural.
Humberto Theodoto Júnior explica que “não pode o juiz ou qualquer órgão jurisdicional delegar a
outros o exercício da função que a lei lhes conferiu, conservando-se sempre as causas sob o comando
e controle do juiz natural”23.
A jurisdição é una e é exercida nos limites da soberania nacional ao território do país. Os juízes têm
autoridade nos limites territoriais do Estado brasileiro.
23 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 60. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2019, p. 120.
89
Unidade II
Logo, os juízes exercem a jurisdição nos limites do território nacional, e ainda, respeitados os limites
da sua competência.
f) Princípio da inércia:
A jurisdição é inerte, não age em conta própria, razão pela qual deve ser provocada por aquele que
tem um direito resistido e precisa levar o conflito a ser solucionado pelo Poder Judiciário, por meio da
atuação do juiz (CPC, art. 2º).
g) Princípio da unidade:
A jurisdição é uma das funções soberanas do Estado, é única e una, sendo distribuída a prestação
jurisdicional pela competência funcional entre vários órgãos judiciários e de acordo com a especialidade
de cada uma das justiças, com o objetivo de assegurar maior eficiência no seu desempenho.
Competência é a distribuição da jurisdição entre seus órgãos ou agentes nela investidos (juízes),
limitando a atuação da Jurisdição, para melhor administração da justiça. Competência é a medida ou
quantidade de jurisdição atribuída aos seus órgãos de exercício. Ela quantificará a parcela de exercício
de jurisdição atribuída a determinado órgão, em relação às pessoas, à matéria ou ao território.
Como anteriormente estudado, o jurisdição é una, mas por razões didáticas podemos classificá-la
quanto à matéria, quanto à gradação dos órgãos juridicionais, quanto à origem, quanto ao objeto e quanto
aos limites de sua competência.
24 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. Vol. I. 29. ed. São Paulo: Saraiva,
2012, p. 96.
90
TEORIA GERAL DO PROCESSO
A jurisdição penal resolve lides de natureza penal, com pretensões punitivas, e tem como instrumento
o processo penal, disciplinado pelo Direito Processual Penal.
No sentido bastante amplo, as lides de natureza não penal são de jurisdição civil, que resolve conflitos
de natureza civil e tem como instrumento o processo civil, disciplinado pelo Direito Processual Civil.
Da jurisdição civil se origina categorias de lides de natureza especial, e pelo seus sujeitos, passam
a constituir jurisdições especiais, como a jurisdição trabalhista, a jurisdição eleitoral e a jurisdição
militar. Daí o aparecimento do Direito Processual Trabalho, Direito Processual Eleitoral e do Direito
Processual Militar.
O âmbito da jurisdição civil é residual, definida por exclusão. Portanto, o que não interessa à jurisdição
penal e às jurisdições especializadas, interessa à civil (CPC, art. 13).
b) Quando à gradação ou hierarquia dos órgãos jurisdicionais podem ser de inferior ou superior
Com base no princípio fundamental do duplo grau de jurisdição, as decisões proferidas por juízes
inferiores estão sujeitas ao reexame dos juízes superiores, pela interposição de recursos.
Daí temos, a primeira instância ou primeiro grau de jurisdição em que se origina (inicia) o processo
e a segunda instância ou instância superior de nível recursal que reexamina a decisão proferida na
instância de origem, podendo reformá-la ou mantê-la.
Cabe ressaltar que, no sistema brasileiro há mais que duas instâncias, como um terceiro grau do
Superior Tribunal de Justiça. E, na cúpula do Poder Judiciário encontra-se o Supremo Tribunal Federal.
A jurisdição convencional é a arbitral, exercida por árbitro ou tribunal arbitral. As partes decidem
entregar a solução do conflito à arbitragem (Lei de Arbitragem nº 9.307/1996).
O vigente Código de Processo Civil instituiu os substitutivos da jurisdição, que são meios alternativos
à jurisdição de solução de conflitos, sem depender da sentença judicial, como os mecanismos da
conciliação, mediação e arbitragem, que igualmente têm por objetivo a pacificação social (art. 3º,
§§ 1º a 3º).
91
Unidade II
Saiba mais
O Código de Processo Civil estabelece que a jurisdição civil pode ser contenciosa ou voluntária (art. 719).
Humberto Theodoto Júnior define jurisdição contenciosa como “a jurisdição propriamente dita,
isto é, aquela função que o Estado desempenha na pacificação ou composição dos litígios. Pressupõe
controvérsia entre as partes (lide), a ser solucionada pelo juiz”25.
Citamos também a definição de jurisdição voluntária dada por Humberto Theodoto Júnior:
[...]
25 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 60. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2019, p. 117.
26 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 60. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019,
p. 117-118.
92
TEORIA GERAL DO PROCESSO
Quadro 2
e) Quanto aos limites de sua competência a jurisdição pode ser comum ou especial
A jurisdição comum abrange a Justiça Federal (CF, arts. 106 a 110) e as Justiças Estaduais
(CF, arts. 125 a 126), cuja competência civil e penal se distingue quando a União for parte, autora ou ré,
ou interessada na causa, que será de competência da jurisdição federal, e os demais assuntos ficarão a
cargo da jurisdição comum, razão pela qual diz-se possuir competência residual.
Apesar de o escopo jurídico da jurisdição ser o direito, existem limitações internas de cada Estado,
que excluem a tutela jurisdicional em casos determinados, e também limitações internacionais, de
observância necessária a coexistência entre os Estados estrangeiros e dos critérios de conveniência
e viabilidade.
93
Unidade II
Os limites internacionais de jurisdição de um Estado são definidos por ele próprio, levando em conta
dois critérios de exclusão:
Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco citam os
motivos doutrinários que levam à observância dessas regras, a seguir: “[...] a) existência de outros Estados
soberanos; b) respeito a convenções internacionais; c) razões de interesse do próprio Estado”27.
O poder jurisdicional de cada Estado se limita ao território do país, podendo exercer a sua autoridade
judiciária nas causas que ali estejam tramitando.
De acordo com a legislação brasileira, os conflitos civis serão solucionados no Poder Judiciário do
nosso país quando, por exemplo, o réu for domiciliado no Brasil; ou quando a causas versar sobre
obrigações que deva ser cumprida no Brasil; ou quando a causa originar-se de fato ocorrido em território
nacional; ou quando a causa versar sobre imóvel ou os bens objeto do inventário estiverem situados no
Brasil (CPC, arts. 88 e 89).
O direito processual penal observa os limites impostos no direito penal, qual seja, o princípio da
territorialidade em que o juiz do Estado soluciona o litígio, impondo sanções punitivas.
Quanto aos limites internacionais de caráter pessoal, em respeito à soberania de cada Estado,
estão imunes à jurisdição de um país, isto é, um Estado não tem jurisdição para processar e julgar
questões envolvendo
• Estados estrangeiros;
• Agentes diplomáticos.
27 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do
Processo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 176.
94
TEORIA GERAL DO PROCESSO
A imunidade das pessoas físicas, como chefes de Estado e agentes diplomáticos que atuam em país
estrangeiros, se refere à jurisdição civil e penal, e tal garantia está prevista em convenções internacionais,
como Convenção sobre Funcionários Diplomáticos (Havana, 1928) e Conferência Internacional sobre
Relações Diplomáticas (Viena, 1961).
Convém mencionar que, que é relativizada a imunidade quanto à jurisdição trabalhista, ou melhor,
quanto à responsabilidade que as citadas pessoas físicas exercentes de cargos diplomáticos têm
com relação aos empregados e trabalhadores que contratam para prestação de serviços domésticos,
particulares e pessoais para si próprios e para suas respectivas famílias.
Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco citam
as hipóteses de cessação da imunidade com base nos direitos das gentes (hoje chamado de direito
internacional), a seguir:
“Cessa a imunidade, nos termos das regras de direito das gentes: a) quando
há renúncia válida a ela; b) quando o seu beneficiário é autor; c) quando se
trata de demanda fundada em direito real sobre imóvel situado no
país; d) quando se trata de ação referente à profissão liberal ou atividade
comercial do agente diplomático; e) quando o agente é nacional do país em
que é acreditado. A renúncia em direito processual penal é inadmissível, pois
corresponderia a uma espontânea submissão às normas de direito penal
material do país, o que não se admite”28.
No que se refere à jurisdição interna de cada Estado, se estende a toda a área dos direito substanciais
(direito material) (CF, art. 5º, XXXV, e CC, art. 189).
O princípio constitucional do acesso à Justiça tem garantido à jurisdição a apreciação pelo Poder
Judiciário de lesão ou ameaça a direito, com algumas exceções previstas em lei.
Lembrete
28 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do
Processo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 177.
95
Unidade II
Resumo
• Princípio do contraditório.
• Princípio da igualdade.
• Princípio da publicidade.
97
Unidade II
• Princípio inquisitivo.
98