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iS Sy [6[e(— no Trab Volume ‘A Seguranca e a Satide no Trabalho constituem, cada vez mais, matérias cujos contetidos e principios-base devem integrar 0s eixos fundamentals do desenvolvimento empresarial, pela sua contribuicéo para o aumento da competitividade das empresas e da qualidade de vida no trabalho, por via, designadamente, da reducao dos acidentes de trabalho e da melhoria dos factores associados ao ambiente de trabalho. © éxito das actividades fundamentais a desenvolver no Ambito dos servicos de prevencdo, como, de resto, o sucesso de qualquer politica nacional de prevencao de riscos, depende, antes do mais, das competéncias e do contexto em que os profissionais vao desempenhar as suas func6es. S6 assim € possivel proceder ao incremento de sistemas emetodologias de prevencao que permitam obter niveis adequados de seguranca e satide no trabatho, tendo em atencao todos os factores de risco atendiveis e, por tal Via, contribuir para assegurar o indispensavel desenvolvi- mento sociale econémico, © presente volume corresponde a necessidade de sistematizacao de conhecimentos e técnicas no dominio da organizacao e gestao da prevencao ao nivel da empresa, servindo de instrumento de suporte a todos aqueles que desejem desenvolver competéncias neste dominio e, simultaneamente, de ponto de partida para o aprofun- damento de um vasto conjunto de temas que aqui s40 abordados. Ficha Técnica: Gestdo da Seguranca e Sade no Trabalho ~ Volume 1 Autor: Luis Conceicao Freitas = Editor: Edicdes Universitarias Luséfonas Design Gréfico: VLRF - Design Paginagso: Macau's Impressao: Tipocor Depésito Legal n®: 221767/05 ISBN: 972-8296-91-6 3* Edigdo Edigéio apoiada pelo IDICT ~ Instituto de Desenvolvimento e Inspeccéo das Condicdes de Trabalho. ‘Todos os direitos reservados ~ & proibida a reprodugo total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio, salvo com autorizacao por escrito do editor, da parte ou totalidade desta obra, (Os lugares onde trabalhamos bem so os lugares que mais amamos. Bruce Chatwin Anatomia da Errancia © trabalho era extenuante. Grenouille sentia os bracos como chumbo, tinha bolhas nas maos e dores nas costas quando & noite chegava a cambalear & sua cabana Patrick Stiskind O Perfume O trabalho é a explosio que ilumina o meu abismo Rimbaud lluminacdes NOTA DE APRESENTACAO 0 desenvolvimento das condigdes de seguranca e satide no trabalho depende, em larga medida, da capacidade que for evidenciada, em cada momento, no sentido de dinamizar os miltiplos vectores em que assenta o Sistema Nacional de Prevencio de Riscos Profissionais. A formacao e informacao dos actores ao nivel da empresa, sejam os empregadores e os trabalhadores e seus representantes ou os técnicos de seguranca e higiene do trabalho e os médicos e enfermeiros do trabalho, constitui uma prioridade para o éxito de qualquer politica nacional que sustente as acces a empreender, a diferentes niveis, para melhorar as condicées de trabalho e elevar o nivel de proteccdo de seguranca e satide dos trabalhadores. Num mundo em transformacao acelerada, decorrente de relevantes alteragdes econémicas e sociaisem funcdo das quais emergem novos riscos e novas prioridades de abordagem é fundamental que sejam reforcados os mecanismos para 0 efectivo desenvolvimento de uma cultura de seguranca nas empresas, assente em sistemas de prevencao que permitam melhorar, de forma sélida, a relacdo entre o homem e o trabalho, privilegiando as competéncias, a motivagao e a melhoria dos processos de trabalho. A prevencao de riscos , neste quadro, uma condigao fundamental para que os trabalhadores tenham uma vida digna em sociedade e as empresas alcancem sucesso entre os seus competidores. Trata-se de um conceito que abrange, de forma aberta, todas as valéncias que permitam eliminar ou reduzir uma multiplicidade de situagdes com incidéncia técnica, social, médica, psicolégica e econémica. A presente obra procede a uma abordagem dos diferentes conteudos e técnicas numa perspectiva holistica, que permita estruturar conhecimentos e promover intervenc6es de forma integrada, S6 com o reforco da capacidade de todos aqueles que devem participar na gestéo do sistema, € possivel garantir a sua consisténcia crescente e assegurar a promocao de niveis elevados de seguranca, satide e bem estar no trabalho. Luis Conceicéo Freitas iNDICE Nota de Apresentagac 1 ENQUADRAMENTO DA SST 1. Hist6ria e evolugao das condigées de trabalho, 1.1. Os primérdios.... 1.2.0 processo produtivo. A produgdo artesanal.. 1.3. A Revolucdo Industral... 11.4. As primeiras leis de proteccdo das con: 1.5. 0 Taylorismo. A organizacao cientifica do trabalho. 1.6. O Fordismo. 1.7. A criagio da OL. 118. A Escola de Relagdes Humanas. A gest3o da seguranca 1.9. A automatizacao industrial. 1.10. Os servicos de medicina do trabalho nas empresas nacionais. 1.11. Os circulos de qualidade. Os grupos semiauténomos.... 1.12, O modelo tripartido de gestao da prevencao. 1.13. Convengéo n® 155 da OL. e a nova formulagao global 1.14.A acco da Comunidade Europeia. A Directiva-Quadro 1.15. 0 Acordo Especifico de SHST e a Lei-Quadro.. 1.16. consolidagao de politicas e estruturas 1.17.0 desenvolvimento tecnolbgico e os novos modelos de producao.. 1.18. A globalizacdo e 0s novos riscos. 1.19. Novas exigéncias num mundo em transformacao acelerada 2.0 papel da O17. — Organizacao Interacional do Trabalho. 2.1.As Convengies da O1T 2.2.A Conwencao n® 155 sobre Seguranca e Saide dos Trabalhadores (1981). 3 3 15 16 19 21 22 23 23 25 27 28 30 31 32 33 33 34 7 38 40 40 42 3. A acgdo da OMS ~ Organizacdo Mundial de Satide. 3.1. Politicas no ambito da SST. 3.2. Principios e objectivos estratégicos. 3.3. Objectivos a atingir. 4. acco da Unido Europeia 4.1. nova abordagem 42. dimenséo econémica: directivas assentes no art 100° A. 4.3, seguranca dos produtos: requisitos essenciais.. 4.4.A dimensao social: directivas fundadas no art? 118° A. 4.4 articulagao entre politica econémica e social 5. A Directiva-Quadro.... 5.1. Principios gerais de prevencao. 6.A Lei-Quadro.... 7. 0 Sistema Nacional de Prevengao de Riscos Profissionai 7.1. Regulamentacao 7.2. Investigacao 7.3, Normalizacao .. 7.4. Informacao.. 7.5. Formagao 7.5.1. Formacao habilitante... 7.52. Formacéo qualificante.. 7.5.3. Formacao para a inova¢o organizacional e social. 7.6. Consulta e participacao, 7.6.1. Os direitos dos trabalhadores. 7.6.2. As obrigacées dos trabalhadore 7.6.3. As Comissées de SH’ peccao de trabalho, 7.7.1. Evolugao. 7.7.2. Miso e funcoes. 7.7.3, Poderes e deveres do inspector de trabalh 7.74. A inspeccao e 0s novos riscos. 7.7.5. As contraordenagées laborais. 7.8. Autoridade de saiide 79.4 certificacéo.. : 7.10, Servicos de prevencao de riscos e vgilancia da sadde 7.11. Licenciament 8. A prevencéo de riscos e a qualidade... ; 8.1.A qualidade total e a seguranca do trabalho 82.0 sistema de qualidade em SST. 9.0 SNPRP e os sistemas complementares.... 45 45 45 47 49 49 50 51 54 54 58 58 62 6 63 65 66 68 70 70 71 72 73 75 7 77 78 738 80 82 83 84 85 86 86 87 88 88 93 u A GESTAO DA PREVENCAO NA EMPRESA: SISTEMAS DE GESTAO E AVALIACAO DE RISCOS 1.0 contexto social e a organizagao interna da empresa 2.A envolvente sécio-econdmica ns. 2.1.A prevengao e as dreas estratégicas da empresa. 3. Os objectivos da gestdo da prevencai 4.A dimenso econémica da SST... 4.1.As consequéncias dos acidentes de trabalho. 4.1.1.4 expresso dos acidentes.. 4.2. Os custos dos acidentes de trabalho e doencas profissionais - Metodologia 4.3. Os custos indirectos 4.4. Os custos sécio-econémicos dos acidentes de trabalho. 4.5.A andlise custo/beneficio 4.5.1. Casos préticos de avaliagao do impacto de custos e medidas 5. A avaliagdo econémica dos acidentes de trabalho. 6.A SST como investimento ... 7. Sistema de gestdo da prevengio. 7.1. abordagem sistémica, 7.2. Politica de prevencao. 7.3. Pilares do sistema. 7.4.As directrizes praticas da OIT. 7.5.A utilizacao de sistemas de gestao da SST na Unido Europeia 7.6. Sistema normativo de gestéo. 7.7. Modelo de avaliacdo da SST na empresa. 8. A prevengao integrada, 8.1.A eliminacéo do risco na fase de projecto. 8.2. 0 licenciamento industrial. 8.3.0 plano de seguranga e satide em acti 8.3.1. Construca 8.3.2, Amianto.... 8.3.3, Industrias extractivas. 8.3.4, Radiacdes ionizantes. 8.4.A eliminacio do risco a0 nivel da seguranca intrinseca 8.5.A eliminacdo do risco a nivel dos métodos e processos de trabalho., lades com riscos especiais 9. A avaliacao de riscos. 9.1. dimensao do risco. 9.2. Conceitos essenciais.. 9.3.A identificacdo dos factores de risco e a avaliaco de riscos. 9.4, Parmetros da avaliagao de riscos.. 97 100 101 103 107 109 m 114 19 121 126 133 136 141 144 144 146 182 154 160 161 162 174 174 181 183, 183 185 186 187 188 190 194 194 196 199 204 eee ey See 9.5.Técnicas analiticas e operativas 9.6 Métodos e modelos. 9.6.2. Método de avaliacao simplificad 9.6.3, Anélise de seguranca na execugéo do trabalho (Job Safety Analysis). 9.64, Observacéo planeada de actividades... 9.6.5, APR — Anilise Preliminar de Riscos. 9.6.6. O método HAZOP vn 26.7. Método "O que aconteceria se. 9.68. Listas de verificag0 on. 9.6.9. Arvore de falhas.. 9.6.10. Arvore de acontecimentos. 9.6.11, Arvore de causas.. 9.6.12. O Modelo Mort — Management Oversight and Risk Tree. 96.13. 0 Método Fine. 9.6.14, Matriz de falhas... 9.6.15, Andlise do modo de falhas e efeitos. 9.6.16. Mapa de representagao de riscos.. 96.17. Mapa de riscos. 9.6.18. Carta de Riscos. 9.6.19, Métodos estatistico: 9.6.20. A anélise dos acidentes de trabalho. 9.6.20.1. Os factores de risco, 9.6.20.2. Objectivo... 96.20.3. 0 qué, como e quando analisar. 9.6.20.4, Como estudar os acidentes: modelos de anilise 9.6.20.5. Linhas de forca da andlise de acidentes.. 9.6.21. Inspeccées de seguranca. 9.6.22. O método SOBANE.... 9.6.23. Modelo dos dominds 9.6.24. Métodos gerais de condigses de trabalho. 9.6.25. Registo dos resultados da avaliacdo de riscos.. 205 206 207 215 223 228 232 234 236 236 239 243 245 249 251 253 2s7 259 264 264 264 266 268 270 274 22 284 288 291 294 305 31 323 325 327 332 Enquadramento da SST Ermer ces 1. HISTORIA E EVOLUGAO DAS CONDIGOES DE TRABALHO 1.1. OS PRIMORDIOS Pensa-se, frequentemente, que as preocupacGes respeitantes A seguranca e satide no trabalho s8o recentes. Contudo, os elementos de anélise disponiveis permitem afirmar que tais Preocupacdes remontam aos tempos em que o homem comecou a utilizar instrumentos para trabalhar. E se quisermos recuar um pouco mais constata-se que, hé quatro milhdes de anos, quando os homens viviam nas cavernas, ja deveriam proceder de acordo com regras de seguranca; caso contrério a espécie teria sido dizimada. Ao longo dos séculos, o hamem modelou-se e acomodou-se ao meio envolvente, adoptando, de forma continuada, os comportamentos em funcéo das situagées que ia encontrando. Ao evoluir, © homem criou necessidades, Hoje, sabe-se que foi o trabalho da pedra que criou a inteligéncia. A forma dos objectos e dos instrumentos evidencia que, mesmo nos primeiros tempos da humanidade, o desejo de assegurar a seguranca e o bem-estar jd se encontravam latentes. A introdugao progressiva do cobre e do estanho, e, posteriormente, a producao de ferro facilitaram 0 desenvolvimento de certos objectos, destinados prioritariamente a permitir a proteccao pessoal. Desde o fabrico de velas de barco, no qual eram utilizadas luvas de proteccio das mos, em folhas de palma entrancadas, para coser duas pecas de pele, até aos dedais, que inicialmente mais no eram sendo uma concha ou um osso céncavo, muitos sdo os exemplos da preocupacao do homem com a sua proteccao. Contrastando com este quadro, s6 muito mais tarde se constatou que o trabalho podia desencadear certas doencas especificas. © Cédigo de Hammurabi, elaborado entre 1792 1750 a.C., integra o primeiro repositério de Preceitos legais conhecido. Nele encontram-se arroladas medidas penais aplicaveis a responséveis por alguns tipos de acidentes, dentro da Idgica entao prevalecente de “olho por olho, dente por dente”. Assim, o construtor responsavel pelo colapso de uma edificacdo, com perda de vidas, seria condenado morte. Se um trabalhador perdesse um braco num acidente de trabalho, a sua chefia directa seria também amputado idéntico membro para compensar a perda sofrida pelo trabalhador. Independentemente do olhar a luz do qual hoje analisamos tais medidas, certo é que contribuiram para substituir a vinganca individual pela justica administrada pelo Estado. Hé, também, varias referéncias as condicdes de satide no trabalho em papiros egipcios, nos quais fisiatras descrevem sintomas especificos evidenciados por trabalhadores envolvidos na construcdo de pirdmides e na tecelagem, Aquele que é conhecido como o pai da medicina moderna, Hipécrates, nascido no ano 460 a.C. foi provavelmente o primeiro médico a por o enfoque no papel do trabalho, a par da alimentacao e do clima, na génese de algumas doencas. Foi ele que primeiro definiu o saturnismo como envenenamento pelo chumbo, na sequéncia do qual o trabalhador da extraccdo do metal, apresenta contraccées ao nivel do estémago e endurecimento do abdémen, seguidas de dores no joelho, culminando numa crise aguda: Plinio (23-79 d.c.) descreveu com grande rigor as condigdes de trabalho nas minas, colocando © enfoque nos agentes mais nocivos: 0 chumbo, 0 merctrio e as poeiras em geral. Simultaneamente, refere a utilizacdo, por alguns escravos, de mascaras feitas em tecido ou bexiga de carneiro, para diminuir a inalacéo de vapores e poeiras. Nao faltam referéncias nas civilizagdes grega e romana, a necessidade de assegurar condicées minimas de trabalho, em particular nas industrias extractivas ainda que, em Roma, 0 trabalho fosse considerado um castigo ou uma tortura (exercida no “tripalium’, banco de trés pés onde os escravos eram torturados que haveria de estar na origem da palavra “trabalho”) No século 1 da nossa era, os romanos difundiam regras de seguranca na abertura e escoramento das galerias, destinadas a el 08 acidentes de trabalho nas minas de Vipasca, em Aljustrel, conforme testemunho que nos foi deixado em tabuas entretanto descobertas, integrando principios especificos de prevencao de riscos. Figura 1.1 ~ Tébua romana das minas de Vipasca Na Idade Média, so conhecidos os estudos conduzidos, por Georgius Agricola (1494-1555) e Paracelsus (1493-1541) relacionados com as doencas emergentes das indiistrias extractivas. © primeiro descreve no livro “De Re Metallica” 0 processo de extracco e fundicao do ouro e da prata e dedica o ultimo capitulo aos acidentes de trabalho e as doencas mais comuns, das quais destaca a "asma dos mineiros” Paracelsus, por seu turno, descreve as numerosas observacées efectuadas em minas e aborda com detalhe as intoxicacdes pelo merctirio, Alguns autores apontam Bernardino Ramazzini, um professor italiano que em 1770 publicou 0 ivro “De Morbis Artificum Diatriba’, como o criador da medicina do trabalho. Naquela obra, 0 autor analisava a relacio entre doenca e pobreza e esbocava a existéncia de riscos provocados por produtos quimicos irritantes, pelo p6, os metais e outros agentes, derivados da observacéo de trabalhadores em 52 profissées diferentes. Ramazzini, que aconselhava os seus colegas a perguntar sempre aos pacientes qual a profissao exercida, afirmou que “o lucro acompanhado pela destruicéo da satide é um lucro sérdido”. Os seus estudos e trabalhos sobre a sistematizacdo das doencas profissionais, designadamente quanto a sua natureza e ao grau de relacdo com o trabalho e as medidas de protecco encorajaram, nna sequéncia, a adopcao de leis para a proteccdo no trabalho e a indemnizacio dos trabalhadores. ‘Morgagni (1682-1771) na sua obra" De sedibus et causis morborum per anatomen indagatis”, publicada em Veneza em 1761, inclui um conjunto nao dispiciendo de referéncias & morbilidade com origem laboral. O médico inglés Percival Pott (1713-1788) estudou a relacao entre o niimero de horas de trabalho e determinadas doencas, para além de analisar a especial vulnerabilidade dos jovens no trabalho. 0 autor de uma tese acerca do cancro do escroto nos limpa-chaminés. Charles Thackrah, publicou, em 1830, a primeira obra inglesa sobre doencas profissionais, com indmeras propostas para enfrentar os constrangimentos constatéveis nos locais de trabalho: “The Effects of the Principal Arts, Trades and Professions and of Civic States and Habits of Living on Health and Longevity”. 1.2. O PROCESSO PRODUTIVO. A PRODUGAO ARTESANAL processo produtivo, enquanto conjunto de factores que concorrem para um objectivo, sofreu alteraées significativas ao longo do processo de desenvolvimento industrial, as quais desencadearam, de igual modo, uma mutacao relevante na tipologia dos acidentes de trabalho e doencas profissionais Se anteriormente se considerava que os factores de producao existiam e funcionavam de forma relativamente auténoma, actualmente sabe-se que o trabalho é insepardvel dos demais factores de producdo. Esta interaccéo conduz a que qualquer alteracdo tem um impacte inequivoco no sistema de producéo. Antes da Revolucao Industrial a produco era predominantemente artesanal. Desde os séculos xe xil, com o surgimento da vida urbana, proliferava o trabalho artesanal, © homem, em geral com um sélido conhecimento do seu oficio, realizava as tarefas manuais por sua conta, por vezes auxiliado por familiares, e detinha uma grande margem de controlo sobre os riscos, laborando no ritmo mais adequado. A seguranca era *integrada” de forma empirica na realizacio dos trabalhos. Das regras da arte inerentes as diferentes artes e oficios constavam preocupacées, ainda que incipientes, de prevencao de riscos no desempenho de varias tarefas. Associados em grémios e com 0 impulso que 0 comércio adquiriu, gracas aos descobrimentos, nos séculos xv e xvi, 0s artesaos organizaram-se em nuicleos de manufactura, dando origem a novas formas de producao. Cees CE ou tices No principio, a forma e o método de trabalho da manufactura sao similares ao da oficina de artesio, mas com a entrada de novos trabalhadores para o mesmo espaco vio verificar-se algumas alteracdes na organizacao do trabalho. O artesao luta para conservar o seu estatuto, tentando vender por sua conta o produto do trabalho nos teares familiares, mas deixa, progressivamente, de poder lutar contra os mercadores-fabricantes que, com uma organizacéo distinta, conseguem dominar o mercado, o qual, na segunda metade do século xvii esté em continua expansao. rect OBJECTO “opeueeo materi prmas de produgao a transformar MEIOS E INSTRUMENTOS TRABALHO HUMANO ‘maquinas, instalagoes trabalho manual equipamentos ¢ intelectual Fig. 1.2 ~ Factores inerentes a0 processo produtivo Neste periodo, os danos para a satide tinham uma origem com prevaléncia infecciosa e efeitos mais alargados a populacao em geral. A quantidade de matérias primas ou substancias quimicas utilizadas na produgéo era reduzida; utilizava-se a quantidade necessaria & producao, sem preocupacio relevante sobre os efeitos colaterais para a satide. 1.3. A REVOLUGAO INDUSTRIAL © grande impacto nas condigées de trabalho ocorre no final do século xvii quando alguns sectores produtivos (vidraria, metais, etc.) comecam a exigir uma crescente concentracao de mio de obra, com a inerente diminuicao do peso do trabalho artesanal na estrutura econémica da sociedade, ‘Anova forma de organizagao de trabalho baseada na entrada do capital no processo produtivo, na propriedade das ferramentas e matérias primas (que passa a pertencer ao empresério), no controlo e venda da producao pelo proprietério do capital, no estabelecimento de hordrios de fai sy trabalho, na diviso do trabalho e nas escalas hordrias, acarreta uma nova concep¢do de trabalho fundada na produtividade, no liberalismo econémico, em novas técnicas e na submissio do trabalho a lei da oferta e da procura, A criagdo do chamado sistema fabril, que concentra um nimero cada vez maior de trabalhadores na mesma unidade de producao, utilizando maquinas cada vez mais complexas num ambiente de crescente divisdo de trabalho, é também acompanhada por profundas alteracdes sociais, decorrentes do estabelecimento duma maior disciplina, de mecanismos de controlo, da hierarquia, etc. Quando surge a fabrica de manufactura, o saber produtivo estava nas mos dos trabalhadores, artesdos qualificados exercendo 0 seu oficio sobre parte da producéo de um tipo distinto de objecto. Esta é uma primeira forma de divisao do trabalho. Nao menos importante é a exploracdo da mao de obra de mulheres e criancas que auferiam remuneracGes inferiores e constituiam uma fonte ilimitada de trabalho barato, aumentando de forma brutal 0 niimero de acidentes de trabalho por falta de experiéncia, de equipamento de proteccao adequado e, em geral, de condicées de trabalho elementares. Giorgio Mori, no seu livro " A Revolugao Industrial” descreve assim o ambiente laboral numa unidade produtiva: “As fiagdes de algodao sdo grandes edificios construidos com o intuito de albergar 0 maior niimero possivel de pessoas. Todo o espaco é pouco para a producao, de tal maneira que os tectos 80 0 mais baixo possivel, os locais est4o sobrelotados com maquinas que, além do mais, precisam de ser permanentemente oleadas. Devido a natureza intrinseca da produgio, ha muito pé de algodao no ar: aquecido por fricgdo e misturado com o éleo provoca um forte e desagradavel odor; e ha que ter presente que os operdrios trabalham dia e noite neste ambiente: em consequéncia, hd que utilizar muitas velas, sendo, assim dificil ventilar as instalagdes...” Outra descrigdo nao menos impressiva & a que consta da obra de Fernand Pelloutier, "A vida operaria em Franca” (1900), que evidencia as condiges de trabalho nas fabricas de agiicar: “Eis os homens que empurram nos carros de mao uma agoniante mistura de melaco e sangue. £ 0 acicar bruto, tal como vem das raspadeiras de beterraba, misturado com sangue de boi, (..) que deita um odor insuportavel. Tudo isto é lancado numa imensa caldeira onde o vapor dissolve e purifica esta mistura (...) As salas cheias de fumarada nauseabunda, onde trabalham 12 horas por dia, depressa thes causam males nas vias respiratérias.” (Os lugares de trabalho eram, pois simples estabelecimentos que albergavam uma determinada quantidade de operdrios, sem que a seleccao do local, 0 tipo de produto ou 0 processo de fabrico assumissem qualquer relevancia particular prévia, em matéria de condicdes de trabalho. Claro que as condicées higienico-ambientais constituiam uma importantissima fonte de doencas. E neste periodo que se constata de forma mais consistente que os trabalhadores sofrem doencas com caracteristicas distintas da demais populacdo, até porque estdo expostos a agentes nocivos que ndo esto presentes na natureza, por decorrerem de miiltiplos tratamentos industriais. Alguns autores defendem que este é o momento em que nasce verdadeiramente a medicina do trabalho, como consequéncia do crescimento do trabalho industrial. A revolugao industrial teve, pois, consequéncias profundas sobre a sociedade e a satide do homem nas empresas e nas minas. Instalaram-se novas relaces de producao, 8s quais corresponderam diferentes relacdes de trabalho, alterou-se profundamente a relacéo homem/instrumentos de trabalho/matérias-primas e, inerentemente, advieram novos riscos decorrentes de novas formas de energia, novas maquinas e ritmos de trabalho mais intensos. De facto, diferentemente do periodo pré-industrial, em que apenas se utilizava a energia humana e animal, agora sao utilizadas massivamente as maquinas alimentadas a vapor, ao mesmo tempo que aumenta substancialmente 0 uso da energia humana com o emprego intensivo de mulheres e criancas. As condicdes de vida nao sé se agravaram por forca da introdugéo da mao-de-obra feminina e infantil, como também a carga horéria aumentou, os locais de trabalho revelaram-se deficientes, verificando-se intimeros danos na satide por forca da fadiga fisica (na altura designada por fadiga industrial). Criangas (algumas com menos de 10 anos) trabalham nas industrias téxtil e de carvao, sujeitas, tal como os demais operérios, a hordrios que oscilavam entre as 12 e as 16 horas didrias. As mulheres submetidas aos trabalhos com a mesma carga fisica dos homens so remuneradas com salério inferior (metade dos homens e um quarto no caso das criancas). As maquinas representam um elevado investimento, o que desencadeia uma utilizacao mais do que intensiva. Segundo Fohlen, “o dia de trabalho comeca ao amanhecer e termina a noite”. Em Franca, os dias de trabalho em oficinas com maquinas eram de 14 horas. De acordo com 0 mesmo autor “contramestres € vigilantes estavam encarregados de assegurar a regularidade das diversas operacses, impedir que a atencao dos operarios abrandasse, de aplicar multas, por vezes mesmo de usar o chicote”. “As condicdes de trabalho em certas oficinas eram esgotantes: humidade permanente sem que fosse possivel arejar os locais, falta de aquecimento ou, pelo contrario, calor sufocante” (ibidem, Fohlen) Os trabalhadores deixaram de controlar os meios de producao tornando-se, por via de tal facto, impossivel controlar os riscos profissionais. A sinistralidade laboral agravou-se e surgiram novas doencas. A producao a vapor consistia em gerar calor mediante a combustdo de madeira, de carvao e, mais tarde, de petr6leo, dando posteriormente origem a energia mec&nica. De entre os principais riscos contavam-se os seguintes: ~incéndio ou explosao nas fases de producao de vapor e transformacéo do vapor em energia mecdnica; ~ doencas profissionais, como a surdez, associada ao ruido das caldeiras e a fuligem decorrente do fumo da combustéo, o qual estava na origem de tumores de varia ordem; ~ acidentes por ruptura das correias de transmisséo dos motores (das maquinas a vapor). © desenvolvimento da Revolucéo Industrial e 0 crescimento da sinistralidade laboral sao fenémenos paralelos. Segundo Bilbao, A. (1997) “a transformacio do processo de trabalho associada @ producao industrial, a mobilizacéo em larga escala de individuos e maquinas, foi acompanhada, em escala mais ampla, pelo acidente de trabalho”, Em harmonia com o modelo entao prevalecente, o Estado nao evidenciou qualquer intervencao na organizacao s6cio-econémica. Estamos no auge de um ciclo sécio-econémico marcado pelo liberalismo econémico extremo, a que corresponde uma dependéncia total do trabalhador da arbitrariedade do empregador, com um movimento sindical quase inexistente, face a interdicao de tais actividades, Barer at a at 1.4. AS PRIMEIRAS LEIS DE PROTECGAO DAS CONDICOES DE TRABALHO. A existéncia de paises mais industrializados permitiu desenvolver algumas leis sobre proteccSo no trabalho, designadamente em matéria de seguranca e satide e criar os primeiros sistemas de inspeccao. Os idelais da Revolucdo Francesa, consagrados na Declaraco dos Direitos do Homem e do Cidado, mar- cam profudamente uma nova era, sustentada nos principios da liberdade, da igualdade e da fratemnidade. Os Estados mais desenvolvidos déo-se conta da necessidade de iniciar uma actividade moderadora, obrigando & aplicacéo de disposicées regulamentares especificas nas empresas com maior risco de doenca ou acidente, surgindo, simultaneamente, as primeiras inspeccdes governamentais de fébricas. Robert Peel, um parlamentar britanico, consegue fazer aprovar, em 1802, a primeira lei para proteccdo dos trabalhadores, designada “Lei de Saiide e Moral dos Aprendizes”, na qual se estabelece o limite de 12 horas de trabalho, proibindo a maioria dos horérios nocturnos, para além de vincular os empregadores a lavar as paredes das fabricas duas vezes por ano e a ventilar as instalacdes. Em 1819 0 parlamento inglés estabelece a idade minima de 9 anos para as criancas poderem trabalhar na industria do algodao. Em 1825, na Alemanha, Bismark aprova a primeira lei sobre a indemnizacao dos trabalhadores em caso de acidente, independentemente de prova da existéncia de negligéncia. Os fundamentos desta lei alastram, de modo célere, aos outros paises industrializados. Em 1830 Robert Baker foi nomeado Inspector Médico de Fabricas na Gra-Bretanha,cabendo- lhe, através de visitas didrias aos locais de trabalho, estabelecer a ligaco entre 0 tipo de trabalho ea satide dos trabalhadores, dando origem ao primeiro corpo de inspeccéo conhecido (os visitors) Em 1833 é aprovada a primeira legislacao de reconhecida eficacia na proteccio do trabalhador: a Lei das Fabricas. Sob a influéncia desta legislagao e do movimento laboral “cartista" que reivindicava melhores salérios e condicées de trabalho, é dada uma atencao mais efectiva a0 eee trabalho de criancas nas fébricas, complementar da definida anteriormente, que proibia 0 trabalho nocturno &s criangas dos 9 aos 12 anos. E, também, criada, a inspeccao das manufacturas e 0 estabelecimento de sangdes em caso de nao aplicacdo da lei; o trabalho das criancas é reduzido para 48 horas por semana, ready, B.€ premiado em 1837 por um ensaio escrito para a Sociedade Médica de Nova York:“On the influence of trades, professions and occupations in the USA, in the production of the disease” Em Franca, Louis Villarmé publica em 1840 um estudo sobre o estado fisico e psiquico dos operdrios das manufacturas de algodao, la e seda, ao mesmo tempo que T. des Planches publicava um trabalho extenso sobre saturnismo, com base na observacao de mais de um milhar de casos. W. Chadwick publicou, em 1842, um estudo designado “As condicées sanitérias dos trabalhadores na Gré-Bretanha’, no qual demonstrava que a esperanca média de vida era de 43 anos, sendo de 30 anos nos comerciantes e de 22 anos nos trabalhadores. Por cada pessoa que morria de velhice ou morte violenta, faleciam 8 por doenca, médico francés Delpech, A. revelou, em 1856, uma situacdo clinica envolvendo 24 operérios de uma fabrica de borracha, que trabalhavam com bissulfureto de carbono como solvente. Os pacientes queixavam-se de insénias, pesadelos, irascibilidade, problemas sexuais e acessos de desespero, O solvente fazia alguns descontrolarem-se ao ponto de se atirarem pelas janelas da fabrica, Por conseguinte, o efeito txico dos solventes jé era conhecido & data e nao apenas devido a estas ocorréncias mas, também, através da experimentacao animal. 0 trabalho nas minas era considerado, uma armaditha mortal e certas industrias, como a fosforeira, usavam substdncias extraordinariamente téxicas, sem quaisquer medidas de prevencio das doencas profissionais. A pressao crescente para a melhoria das condigées de trabalho, atentos os efeitos negativos, comprovados por diversos estudos, reforca a necessidade de adopcio de medidas prioritérias para sectores sujeitos a riscos mais graves e trabalhadores mais vulnerdveis. © aumento do niimero de mortos e feridos graves devido aos acidentes e doencas provocadas pela introducao de novas maquinas e exposicdo a substncias téxicas, desencadeou o alargamento do ambito da legislacdo. Em 1855 é publicado em Portugal o Regulamento dos Estabelecimentos Insalubres Incémodos s0s, que procede a primeira aproximacao normativa a questao das condicées de trabalho. Em 1890, é promulgada uma lei, em Inglaterra, que faculta aos representantes legais dos trabalhadores a possibilidade de, em caso de morte por acidente, intentarem uma accéo judicial contra o proprietario da empresa, requerendo a competente indemnizacéo. Varios estados americanos adoptam, de imediato, o mesmo principio de responsabilizacio dos empregadores pelas mortes no trabalho, na sequéncia de uma intensa actividade dos sindicatos pela jornada de oito horas, em particular desde 1886, ano do massacre de Chicago. Em Franca, é aprovado um dos primeiros diplomas sobre seguranca e satide no trabalho, em 1892, ‘no qual também se fixa uma estrutura ptiblica articulada de inspeccao das condicées de trabalho, eP Podemos, assim, afirmar, sem grande margem de erro, que a seguranca sé comesou a ser encarada como matéria de anélise apés a primeira fase da revolucao industrial, quando se deu inicio a utilizagdo de formas mais poderosas de energia, num sistema econémico crescentemente submetido & concorréncia, com a utilizaco de mao-de-obra conjunta nas primeiras fabrica: desenvolvimento da seguranca esta, assim, directamente associado ao crescimento exponencial da tecnologia e da producao industrial. Face ao ntimero crescente de acidentes de trabalho, o regime de reparacdo desenvolve-se em alguns paises no final do século xr, visando estabelecer a responsabilidade do empregador neste dominio, od E 0 que acontece na Alemanha em 1884, a que se seguiram a Holanda, a Gra-Bretanha, a Itdlia, a Noruega, etc. Na Gra-Bretanha, 0 Factory and Workshop Act, de 1895, estabelece 0 principio da notificagao obrigatéria das doengas profissionais para o Inspector Chefe das Fabricas, para além da realizacao \culativa de exames periddicos aos trabalhadores expostos a alguns agentes particularmente nocivos (fésforo, chumbo, etc.) Este diploma antecedeu 0 Workman's Compensation Act de 1897, que definiu o contetido da indemnizacao a pagar pela incapacidade decorrente de acidente de trabalho. Na Franca é aprovado em 1898 um regime juridico que estabelece a responsabilidade automética e pessoal de empregador, inspirado na teoria do risco profissional, que estabelece 0 seguinte: “o empregador que recebe os lucros da empresa deve, de igual modo, assumir os riscos, entre os quais se encontra o de acidente de trabalho”, Atento 0 quadro descrito, é aprovada, no ultimo quartel do século x1x, um pouco por toda a Europa, uma legislacdo com forte contetido social que integra, designadamente, a generalizaco dos mecanismos de controlo da aplicacio das leis, consagrando algum papel regulador do Estado nas relagdes de trabalho. A legislacio laboral comeca a evidenciar uma tendéncia clara para a resolucao das principais questdes associadas a matérias salariais, duracdo do trabalho e, ainda que de forma muito incipiente, seguranga e satide do trabalho. Em Portugal € publicada legislacao sobre trabalho de mulheres e menores nas fabricas € oficinas (1891) sobre trabalho na construcdo civil (1895) e nas padarias (1899). 1.5. O TAYLORISMO. A ORGANIZAGAO CIENTIFICA DO TRABALHO Para responder ao consumo em massa, as méquinas tém de ser operadas por uma quantidade substancial de mao-de-obra mas j4 sem qualificagdo. O que abre 0 caminho ao sucesso do taylorismo e & organizacao cientifica do trabalho. © modelo taylorista defende a divisdo do trabalho até a sua unidade mais elementar— a tarefa, ‘o que conduz a separacdo entre a concepco e a execucdo, & parcelarizacao numa éptica produtivista. Contrariamente ao que havia sucedido no ambito do periodo anterior em que o operdrio conhecia a sua méquina, a pulverizacao taylorista acarretou como consequéncia natural a quebra de unidade no processo produtivo, a qual sé uma nova organizacao hierérquica permitiu mitigar. Tudo isto contribuiu para a concentracao técnica e econémica dos meios de produco, permitindo a fabricacdo de produtos de consumo massivo, em tempo reduzido. Aestrutura da empresa muda, o trabalho especializa-se, a hierarquia desenvolve-se. Poderemos sintetizar as inovacées do taylorismo nos seguintes aspectos: —consolidacdo do “saber produzir” como patriménio essencial a0 desenvolvimento do processo de planeamento. O trabalho e o trabalhador so estudados até aos pormenores mais infimos. Nasce a subdivisao e 0 estudo de tempos e métodos de trabalho e surgem a repeticao e a monotonia como principais caracteristicas do trabalho operario; — acréscimo da produtividade na decorréncia da intensidade do trabalho, a qual é directamente influenciada pelas posigdes e gestos do trabalhador na relacéo com as maquinas e ferramentas, por forma a que seja executada a maior quantidade de trabalho na menor quantidade de tempo; —em face do ntimero de acidentes de trabalho com incidéncia particular nas mulheres e criangas, séo estabelecidos limites as condicdes de emprego daqueles grupos especificos de trabalhadores. El eee ted Pee ced Nao obstante a organizacio cientifica do trabalho se encontrar centrada no objectivo de aumentar a produtividade, certo & que o estudo da relacdo entre o trabalho e o trabalhador que o executa constitui a primeira abordagem da interaccao entre a tarefa, a maquina e o trabalhador que, mais adiante, haveria de estar na origem da ergonomia, em conjunto com outros factores, © uso intensivo da forca de trabalho acarreta novas doencas e um crescente mal estar fisico psicolégico, que ajudam a consolidar uma nogao mais estruturada da seguranga e satide no trabalho, atento 0 desenvolvimento do controlo de conformidade, que arrastou consigo o controlo das condicées de trabalho em situacoes gravosas de exercicio funcional ou que atingiam os referidos grupos especiais de trabalhadores. Entre as principais doencas contam-se, nesta altura, a fadiga e os problemas posturais. E um periodo marcado por lutas sociais e ascengo de um movimento operdrio que reclama methoria das condicées ambientais e reducao da fadiga e movimentos initeis. Nao é, pois, de estranhar que a Seguranca de Trabalho seja considerada por Fayol, H. (1916) num tratado sobre a organizacio cientifica do trabalho, como uma fungéo essencial para garantir a proteccdo das pessoas (e instalagGes), a par das demais areas a considerar: administrativa, comercial, técnica, e contabilistica. As figuras do médico de trabalho e dos técnicos de seguranca surgem, neste contexto, com a miss8o de inuir os acidentes de trabalho e as doencas profissionais e, por tal via, aumentar a produtividade. 1.6. O FORDISMO. Henry Ford procedeu & adaptaco destes principios através de conceitos inerentes & programacao do trabalho e & sua execucao, As suas teorias implicaram o deslocamento para montante do estudo do trabalho e uma definicao mais minuciosa das tarefas por forma a assegurar uma laboracao assente na parcelizacao, tendencialmente isenta de desvios face @ concepcio. A planificaco exaustiva, associada ao desenvolvimento de mecanizacéo inerente as linhas de produ- @o criou meio favordvel para o surgimento das primeiras (ainda que incipientes) aproximacées & defini- o de prioridades, centradas no inicio do processo produtivo (desenho do equipamento e do produto). A reestruturagao produtiva desenvolvida através do fordismo assentou, pois, no incremento da producdo, da ocupacao e da produtividade do trabalho humano, através da rentabilizacao da forca de trabalho, por meio de alteraces no processo e na tecnologia (producdo em massa, producao de componentes intermutaveis, uso de tapete transportador e de linha mével de montage) Por outro lado passaram a existir instalacdes complexas, como é 0 caso das cadeias de monta- gem, fruto da introdugao de energia eléctrica em cada maquina. Esta inovacdo veio fazer aumentar 05 riscos de acidente, particularmente 05 riscos eléctricos, mantendo-se os caracteristicos do perio- do anterior. A utilizacdo de motores eléctricos provocou, também, uma alteracao substancial na organizacao do trabalho, consubstanciada no reforco da subordinacio 4 maquina, o uso intensivo de mao de obra e, com ele, a generalizacao dos riscos e a “consolidacao” da fadiga e do stresse. Na sequéncia das praticas iniciadas no taylorismo, consolidam-se os regulamentos de seguranca em algumas empresas, dirigidos para um conjunto de proibicoes e obrigacées a cumprir pelos trabalhadores, sem qualquer estrutura de participacao. Autilizagao crescente das novas formas de energia na produgdo acarretou, como consequéncia natural, 0 répido desenvolvimento de maquinas e equipamentos, os quais aumentaram as probabilidades de novos acidentes e doencas profissionais. De entre os novos riscos destacam-se, a titulo de exemplo, as vibragdes mecénicas e os riscos quimicos responsdveis por um nuimero assinalavel de doencas. Pate a tee ‘A Associagao Internacional para a Legislacdo Laboral criada em 1900, com sede em Basileia, reflecte a tendéncia para serem adoptadas medidas comuns, que sirvam os interesses dos aderentes. Assim, so aprovadas, em 1905, duas convencées internacionais por iniciativa da Associacéo, que haveria de estar na origem da O.LT., de grande importancia naquela data: proibigdo de utilizagdo de fésforo branco e a interdicao do trabalho nocturno as mulheres. Na sequéncia do final da | Guerra Mundial e do subsequente Tratado de Paz assinado em Versalhes, em 1919, € criada a O11.T. - Organizacéo Internacional do Trabalho, como instituicio intergovernamental de representacao tripartida, que torna possivel a criagéo de uma plataforma minima em matéria de condigées de trabalho. A Carta Consti prevé o desenvolvimento, nos paises aderentes, de servicos préprios de inspeccdo das condicdes de seguranca e higiene do trabalho. ‘A OL. cria, em 1921, um Servico de Prevengao de Acidentes de Trabalho, destinado a acompanhar a profunda alteracdo das condigdes de trabalho emergentes de novas técnicas industriais e subsequentes riscos de acidente ou doenca. A primeira Convencao fixa a jornada de 8 horas de trabalho e de 48 horas semanais. Em Portugal, o Decreto-Lei n° 5516, de 7 de Maio, estatui as 8 horas diérias para o operariado e o comércio. ‘A medida que o conhecimento dos efeitos das condig6es de trabalho sobre a satide e a seguranca se ia aperfeicoando, os responsdveis por algumas empresas com maior visdo estratégica introduziram os seus servigos médicos do trabalho, visando melhorar e proteger a satide e a seguranca e aumentar a produtividade. Entretanto, em Portugal havia sido aprovado, em 1891 o primeiro diploma integrando medidas especificas de SST, a nivel do trabalho de menores e mulheres, limitando a 10 o ntimero de horas de trabalho e proibindo alguns trabalhos penosos ou perigosos nos estabelecimentos industriais. ‘Alguns anos mais tarde surge a legislacdo sobre seguranca do trabalho nas instalacdes eléctricas (1901) e sobre o regime de durago do trabalho (1919 e 1934). © primeiro sistema de reparacao data de 1913, sendo completado pelo seguro social obrigatério contra desastres no trabalho em 1919, cabendo a responsabilidade pelos acidentes 20, empregador. E um perfodo marcado, desde o inicio do século xx, por um liberalismo moderado, que haveria de se projectar até cerca de 1945, consubstanciado por alguma intervencao do Estado, pelo inicio do reconhecimento do movimento sindical e pelo advento de uma nova legislacao social. S6 anos mais tarde e em funcao do trabalho de definicao de prioridades desenvolvido pela foi possivel esbater a perspectiva redutora que fazia centrar as politicas nacionais e as actividades & escala da empresa na mera reparaco dos acidentes de trabalho e doencas 1.7. A CRIACAO DA O.LT. ‘A seguranca no local de trabalho passa a ser entendida, ainda que lentamente, como um direito social, integrando, de forma gradual, o elenco das preocupacdes dos governos nacionais, dos empregadores e do movimento sindical. 1.8. A ESCOLA DE RELACOES HUMANAS. A GESTAO DA SEGURANCA Por volta dos anos 30 cresce nos EUA um movimento preocupado com os excessos racionaliza- dores da organizacao do trabalho, o qual, tendo como referéncia central Elton Mayo, ficaré conhecido Se cay Ge UMC ue como a Escola de Relagdes Humanas. As suas teses defendem que os trabalhadores so seres soc Cujas atitudes face as tarefas que desempenham e as exigéncias de eficdcia, rendimento, etc dependem, em boa medida, das relacdes psicoldgicas e sociais que mantém nos grupos de trabalho. Num momento posterior procedeu-se a realizagio de inquéritos que conferiam grande importancia a factores subjectivos. Os resultados evidenciaram a influéncia das relacGes exteriores & empresa nas relacées de trabalho dentro da fabrica. Com a importancia que as suas experiéncias passaram a atribuir aos grupos de trabalho na vida da fabrica, alteraram-se por completo as ideias vigentes sobre a autoridade, ficando demonstrado que por trés de uma estrutura formal, existia na organizacéo uma estrutura informal, o que permitia explicar intimeros fenémenos. Os trabalhadores sentem-se algo mais do que uma parte de uma organizagao técnica e as relacdes humanas tém um significado e um valor que ndo existe nas relages puramente hierarquicas. Considerou-se, na altura, que o individu nem sempre reage as condic6es fisicas que © rodeiam tal como sao, mas como efectivamente as percepciona, em funco das suas experiéncias laborais e extralaborais, o que, de acordo com as teses de Mayo significa que “as relacdes humanas estdo acima das modificacées fisicas defendidas pela organizacao cientifica’ As sugestdes da Escola de Relages Humanas permitiram comprovar que os trabalhadores integrados em grupos estaveis, que participam nas decisdes, apresentam maior produtividade do que aqueles que eram meros receptores das iniciativas da hierarquia. O que suscitou uma alteraco substantiva da filosofia da organizacao do trabalho, com impacte directo na redugio dos acidentes de trabalho e do absentismo por doenca. A gesto da seguranca passou por diferentes periodos no século xx. Petersen designa o primeiro Por "Era da Inspeccao”, uma vez que a maioria do tempo de trabalho técnico estava mobilizado Para a correccao de condi¢ées laborais muito diferentes. Nos EUA, e de acordo com o mesmo autor, Tegistou-se um decréscimo de 68% dos acidentes entre 1912 e 1933, A estes indicadores encontram-se intimamente ligados os esforcos para melhorar o ambiente fisico, fosse por os riscos serem grosseiros, fosse porque alguns empregadores compreenderam que as condicdes do local de trabalho estavam na origem de muitos dos acidentes. Foi nesta época que H.W. Heinrich publicou um livro ~ Industrial Accident Prevention - que haveria de marcar as décadas seguintes e facilitar avancos significativos nas politicas de gestdo da prevencao. Heinrich entendia que os actos inseguros contribufam para uma larga percentagem de acidentes (cerca de 85%) ficando os restantes (15%) a dever-se a condicées de inseguranca. Embora o seu trabalho nunca tenha sido completamente validado, os estudos que empreendeu condicionaram a segunda era, chamada de “Era do Acto Inseguro e das Condicées de Inseguranca” @ as que se haveriam de seguir. Tendo defendido que a maioria dos acidentes tinha origem na actividade dos trabalhadores, Heinrich tomou esta assercdo como ponto de partida para a abordagem que passou a defender: a formacao dos trabalhadores com vista a endogeneizacéo de habitos de seguranca e a énfase nas condicées de trabalho. Petersen designou a terceira era como da “Higiene Industrial”. A consolidacdo do conhecimento cientifico quanto a origem estritamente profissional de determinadas doencas havia arrastado a necessidade de, como vimos, alargar o ambito e a responsabilidade dos sistemas de reparacao. Em consequéncia, alguns gestores contrataram profissionais para efectuar estudos conducentes ao controlo e limitacao das doencas profissionais, Os técnicos passaram a concentrar eee Ud esforcos em trés dreas: a) inspeccao e melhoria das condi¢ées de trabalho; b) comportamento dos trabalhadores; c) melhoria das condicées ambientais de trabalho causadoras das doencas. A Segunda Guerra Mundial, que acarretou uma enorme procura de mao-de-obra para a indistria e as forcas armadas contribuiu, igualmente, para a consciencializacéo da necessidade de reduzir os acidentes de trabalho e as doencas profissionais. Nos E.U.A., 0 Walsh-Healy Public Contracts, uma lei de 1936 aprovada pelo Senado, estipulava que os trabalhos adjudicados pelo Governo as empresas industriais deveriam ser executados em condigdes que impedissem a existéncia de perigo para a seguranga e satide dos trabalhadores. Nesse ano é aprovado no nosso pais 0 novo regime juridico de reparacéo dos acidentes de trabalho e doengas profissionais, que haveria de vigorar até 1965. Em 1940, a Gré-Bretanha aprovou o Factories Order o qual, acompanhando alguma preocupacdo pelos efeitos do esforco que estava a ser desenvolvido para a guerra, a nivel das indUstrias pesadas, permitiu o incremento da prevencao de riscos profissionais. No rescaldo da guerra, comeca a desenvolver-se, nos anos seguintes, 0 modelo de desenvolvimento de estrutura de seguranca nas empresas, associadas produco, no que ¢ considerado o embrido da prevencdo integrada. Os primeiros servicos de medicina do trabalho obrigatérios num pais europeu emergem de legislacdo aprovada no pds-guerra, em 1946, em Franca, que consagra a prevencdo de incapacidades e a promogao da satide como objectivos essenciais, aos quais se junta o direito de o trabalhador ser colocado em posto de trabalho compativel com a sua fisiologia e capacidades, Na definigio da lei de 11 de Outubro, o empregador deveria organizar servicos médicos do trabalho para “evitar qualquer alteragdo da satide dos trabalhadores decorrente do trabalho”. Face ao grande impacto das maquinas no processo produtivo, alguns autores designaram a década de 50 como a “era do rufdo”. De acordo com Sarkus, D,. sé em 1951 a surdez profissional foi considerada, pela primeira vez, nos EUA, como conferindo direito a uma pensao, Atento o reconhecimento do sistema de reparacdo, 0 ruido passou a constituir uma das preocupacdes essenciais na abordagem do ambiente de trabalho. O final da década de 50 traz, ainda, outras inovagées a nivel de avanco cientifico no reconhet mento e avaliacao de riscos, do alargamento da andlise, ainda que rudimentar, aos factores psicolé- gicos (carga de trabalho, monotonia, etc.) e as questdes sociais, em funcao do desenvolvimento de relacdes de contetido diverso entre os agentes econémicos e sociais. © boom econémico e social do pés-guerra e o agravamento dos riscos provocaram um aumento significativo dos prémios de seguro. Na sequéncia, as empresas americanas iniciaram um processo de elaboracéo de métodos para quantificar os riscos, dando origem 4 Gestao de Riscos Em Portugal sé empresas de grande dimensdo associadas, em geral, a grandes grupos econémicos possuiam servicos médicos privativos, orientados mais para a cura individualizada dos diferentes desvios de satide do que para a promogao da satide e a eliminacao de limitacdes inerentes ao ambiente laboral. Em 1958 é publicado o Regulamento de Seguranca do Trabalho nas Obras de Construcio C e em 1959 um despacho do Ministro das Corporacdes que incentiva a criacdo de Comissées de Higiene e Seguranca do Trabalho. 1.9. A AUTOMATIZAGAO INDUSTRIAL. ‘A automatizacao de processos e a aplicagio crescente da informatizacao obrigam a uma reestruturacao do mundo do trabalho. O aumento da produtividade nao se traduziu na melhoria Scone das condiges de trabalho, tendo acarretado, ao invés, uma maior especializacdo e empobrecimento do trabalho. Por outro lado, comeca uma etapa da crise estrutural da economia mundial, geradora da instabilidade de emprego. Contrariamente ao modelo taylorista no qual o trabalho humano surge, em larga medida, como um complemento do sistema de maquinas, em torno do qual sao definidos os principios base, é na fabrica automatizada que se constata a necessidade de uma participacdo diversificada do trabalhador no processo e do seu envolvimento na gestdo do mesmo, através de técnicas como os irculos de qualidade. Entretanto, cresce a velocidade e a intensidade de execuco do trabalho, ao mesmo tempo que se reduzem os tempos mortos e aumenta o Ambito das responsabilidades. A alteracdo de maior vulto é a produgio de maquinas para o tratamento de informacao. A informatica permite automatizar os processos e substituir (ainda mais) 0 trabalho humano pelo das maquinas. As doencas por fadiga fisica comecam a diminuir, mas aumentam as causadas pela intensidade do trabalho e falta de pausas. ‘A automatizacao estende-se as fabricas e oficinas e em boa parte do trabalho humano passa a ser registada em cada segundo pelas maquinas. Nestas circunsténcias, 0 controlo do tempo e das pausas ¢ feito directamente pela maquina, o que conduz a novos danos para a satide, em particular a nivel psicolégico, em consequéncia do desfasamento do trabalhador com 0 tempo “rigido” da maquina, bem como a nivel das lesdes por esforcos repetitivos. Quanto a sinistralidade laboral mantém-se a forte prevaléncia de alguns riscos ( como, por exemplo, os riscos eléctricos) sendo constatvel, a nivel da satide, o inicio das primeiras doencas decorrentes da exposicdo intensiva a radiacées ionizantes, Os riscos profissionais so avaliados através dos métodos de anélise mais comuns, assentes nos controlos, visitas ou verificacées di das para as questdes materiais. © ambiente de trabalho também sofre transformagées assinalaveis que passam pela sua crescente dimensao artificial. As caracteristicas dos edificios alteram-se por razées de eficiéncia, permitindo a introducdo de novas tecnologias e a melhoria das condicées ambientais a nivel de iluminacao, temperatura, ventilacao, humidade, etc. Este enquadramento gera condicdes para o incremento, em particular na Europa do Norte e nos EUA, dos modelos de gestio da seguranca, nos termos dos quais os profissionais de SHT elaboram, semelhanca dos demais gestores, instrumentos de politica, planificagdo e definicao de responsabilidades. Simultaneamente comecam a ser utilizadas ferramentas de outras éreas de actividade, tais como 05 indicadores estatisticos, no controlo de qualidade e os métodos de recrutamento e seleccao de pessoal e técnicas associadas ao factor humano. Por forca do éxito dos modelos, o objectivo da gestao da seguranca foi-se alargando para novas reas de actividade, nomeadamente o controlo de danos na propriedade, a seguranca exterior ao local de trabalho e a seguranca da frota automével. ‘As acces conducentes & prevenco de riscos profissionais e promogao da satide ganham, por isso, importncia crescente, a medida que so integradas na filosofia da gestéo empresarial e que se vao adoptando novas formas organizativas e diferentes critérios de abordagem. £ 0 momento em que a perspectiva de desenvolvimento econémico e social, decorrente da constatacdo da aceleracdo tecnolégica e dos elevados custos da sinistralidade laboral, permite as primeiras aproximagées na vertente econémica, ou seja em que se estabelece um verdadeiro nexo de causalidade entre prevencao de riscos, 0 controlo de custos e a produtividade. Adquire-se, assim, consciéncia da conveniéncia em actuar na origem dos riscos, com vista a sua eliminaco ou reducdo, enfatizando a necessidade de equilibrio entre a tecnologia e os factores humanos e sociais como meio de evitar os acidentes de trabalho. Boel Coes Gracas ao incremento de novas técnicas preventivas os agentes nocivos podem, agora, ser eliminados de modo mais eficaz e a medicina do trabalho comeca a dispor de mecanismos mais sélidos para reduzir os efeitos sobre a satide dos diferentes contaminants. Este periodo, que se prolonga até 1970, é caracterizado por uma economia mista, tendo por referéncia 0 “new deal” de Keynes, a solidariedade social e os programas sociais. As relacdes humanas passam a ser enfatizadas, constituindo, em muitos casos, 0 barémetro da relacdo laboral, a0 mesmo tempo que é dada maior atencao as condicées de trabalho, Desenvolvem-se as comissdes paritérias, os conselhos de empresa e, em geral, a comunicacio, a informacao, a sensibilizacdo e a concertacao, E neste periodo que o sistema juridico de enquadramento regista algum aperfeicoamento, o Estado reforca os seus mecanismos de regulacao e controlo e surgem accdes estruturantes no dominio de prevengao. Local ‘Automatizagao de trabalho Manufacture da fébrica Objecto 2 Produtos Produtos do trabalho naturais artificiais Instrumentos Energia Energia do trabalho animal nuclear Modalidade Trabalho Divisao do trabalho ariesao do trabalho Fig. 1.3 ~ Trabalho e desenvolvimento industrial 1.10. OS SERVICOS DE MEDICINA DO TRABALHO NAS EMPRESAS NACIONAIS Ena década de 60 que se adquire alguma consciéncia de que a chamada prevencao correctiva nao é suficiente para fazer face ao avanco tecnolégico, havendo que intervir na fase de concep¢so e planificacao das instalacGes e locais de trabalho. Em 1962 é publicada em Portugal legislacdo relativa & prevencao médica da silicose, destinada a fixar condigdes de vigilincia médica especifica para os mineiros e trés anos depois, em 1965, 0 regime juridico de reparacao dos acidentes de trabalho e doencas profissionais, que substituiu 0 vigente desde 1919. —m 1967 so aprovados 0 Decreto-Lei n° 47.511, que estatui sobre a criacdo dos servicos de medicina do trabalho nas empresas ¢ 0 Decreto n? 47.512, que introduz um conjunto de normas

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