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Promiscuidade Judicial em Nova York
Promiscuidade Judicial em Nova York
www1.folha.uol.com.br/colunas/conrado-hubner-mendes/2022/11/promiscuidade-judicial-em-nova-york.shtml
Durante a última década se firmou na cultura do Brasil-colônia uma prática cuja jequice
vem pronta: encontros da elite econômica e magistocrática, em cidade estrangeira
glamourosa, na presença somente de brasileiros, sob o pretexto de se discutir tema
nacional. Fora do país fica suspensa a noção republicana de "conflito de interesses", que
busca regular interações entre estado, mercado e funções institucionais.
Tudo bem que a Proclamação da República, como evento histórico, não foi das coisas
mais republicanas. Mas a data ao menos ecoa um ideal, entre outras coisas, de separar
o público do privado, do decoro, da imparcialidade, do combate à falta de noção. Podiam
pelo menos combinar data menos irônica.
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Pesquise conexões dessas empresas com Bolsonaro, com PT, com centrão, com valores
constitucionais, com STF, com ministros do STF. Tem muita coisa. Cada patrocinador
tem interesses presentes e futuros no STF. Mas não é só isso. O evento emite sinal
grave sobre indiferença ética.
Terceiro, escancara como a riqueza tem absoluto privilégio sobre a pobreza na pauta do
STF. Se quiser entender como o STF trata a pobreza, conte as rejeições de habeas
corpus em defesa de miseráveis. Ou como julga políticas públicas que atendem aos
vulneráveis. Não houve ministro em encontro nacional da população de rua, semanas
atrás em Maceió. Apenas Cármen Lúcia é aguardada no da defensoria, nessa semana
em Goiânia. A riqueza o STF encontra em jantares em Nova York.
Quarto, juízes precisam proteger a corte, não jogar contra ela. Quanto mais permitem
individualizar o tribunal, desinstitucionalizá-lo e identificá-lo a pessoas particulares, mais
abrem espaço para o tipo de ataque desferido por Bolsonaro. Crise de legitimidade
passa a depender de um peteleco. Fazem o jogo de Bolsonaro.
Quinto, quem paga as despesas? Se for o Lide, está errado. Se for o orçamento do STF,
mais errado. Pagam do próprio bolso? Não resolveria. São remunerados? Se sim, temos
um problema enorme. Se não, o problema enorme continua.
Sexto, uma dica: o "all-white-male panel" já não pega bem nem no Harvard Club nem na
Harvard University. Nove homens brancos e uma mulher não fazem um ambiente
inclusivo. Ideologia de gênero?
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Na semana passada descrevi formas de Bolsonaro sair vitorioso após derrota eleitoral.
Naturalizar a promiscuidade é uma dessas formas. Quem prefere ser chaveirinho do
poder econômico se deslegitima perante os que questionam sua imparcialidade e sua
autoridade.
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