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OverlorD 15 A Divina

Meia-Elfa | 1
オーバーロード Ilustrado por so-bin
Aviso Legal:
A tradução de OVERLORD — para inglês e português — é feita e revisada de fã para fã,
não monetizem em cima da obra e não compactuem com quem o faz. Se quiserem e pu-
derem contribuir com o autor, comprem o livro ou ebook (japonês, inglês ou português)
em sua livraria de preferência.

Sobre:
A obra faz uso de muitos anglicismos, ainda mais por se basear em RPGS, então há mui-
tos termos em inglês e tentei preservar vários desses aspectos em alguns termos, nomes
de armas, itens, raças e coisas do tipo.
Claro, algumas coisas precisam de adaptação, outras é preciso generalizar. Dito isso,
pode não agradar aos adeptos do Dia do Saci em vez do Halloween. Estejam avisados.

Tentei remover o máximo possível de erros de português e concordância, mas, somos


apenas pessoas com boa vontade e não especialistas da língua portuguesa.
Quando encontrarem algum erro, sintam-se à vontade para entrarem em contato atra-
vés do e-mail disponível no blog :)

Créditos:
CRÉDITOS PT-BR:
ainzooalgown-br.blogspot.com
CRÉDITOS EN-US:
Hitori (não há links para sua persona)
REFERÊNCIA DE NOMES:
overlordmaruyama.wikia.com
IMAGENS:
-firedragon1x-

Atenção: Se baixou este arquivo de outro link que não o oficial do blog. Ou se tem muito
tempo que baixou e deixou guardado, que tal dar uma conferida no blog? Talvez esta seja
uma versão desatualizada :)

Revisão: 1.0 | Versão: 1.0


Sumário
Prólogo ..........................................................................................................................................................5
Capítulo 01: Para Tirar Férias Remuneradas ...................................................................... 16
Parte 1 .................................................................................................................................................................................................................... 17
Parte 2 .................................................................................................................................................................................................................... 44
Parte 3 .................................................................................................................................................................................................................... 74

Capítulo 02: Passeio ao Estilo Nazarick ................................................................................ 89


Parte 1 .................................................................................................................................................................................................................... 90
Parte 2 ..................................................................................................................................................................................................................105
Parte 3 ..................................................................................................................................................................................................................130

Capítulo 03: O Árduo Trabalho de Aura ........................................................................ 161


Parte 1 ..................................................................................................................................................................................................................162
Parte 2 ..................................................................................................................................................................................................................190
Parte 3 ..................................................................................................................................................................................................................214
Parte 4 ..................................................................................................................................................................................................................223

Interlúdio................................................................................................................................................ 230
Posfácio .................................................................................................................................................. 237
Ilustrações .............................................................................................................................................. 239
Glossário ................................................................................................................................................ 252
OverlorD
オーバーロード
-Volume 15-
A Divina Meia-Elfa -Parte 1-

Autor:

Maruyama Kugane
Ilustrador:

so-bin
Prólogo
líder da Teocracia — o Pontifex Maximus.

O Aqueles que detinham a maior autoridade em seus cultos — os Seis Car-


deais.

Os chefes do Judiciário, do Legislativo e do Executivo.

O Diretor do Instituto de Pesquisa, responsável pela pesquisa e desenvolvimento de


magia.

O Comandante-Chefe — também conhecido como o Grão-Marechal.

Estavam presentes os doze membros que compunham o corpo administrativo da Teo-


cracia Slane; reunido aqueles que tinham a mais alta autoridade em seu país, onde tra-
çavam os futuros passos de sua nação.

Não era espaçoso nem opulento, e nenhum dos presentes nutriam semblantes felizes.

Claro, diante das circunstâncias, poucas pessoas ficariam alegres. A assembleia era
composta de indivíduos que se consideravam confrades, estavam familiarizados o sufi-
ciente uns com os outros para permitir ocasionais brincadeiras bem-humoradas. Em ou-
tras palavras, outrora estariam com animosidade muito mais elevada, mas não neste
momento. O ar na sala parecia álgido.

“O Reino Feiticeiro deu início à sua invasão do Reino, ou talvez seja mais preciso dizer
que avançou o que começou há tempos. Que inimigo aterrorizante, Re-Estize ficou às
cegas por um mês inteiro. Nossos olhos e ouvidos lá, as Escrituras da Flor do Vento e da
Água Pura, foram completamente suprimidas. Se não fosse a Astróloga da Longinqui-
dade, poderíamos ter descoberto ainda mais tarde... É justo concluir que o destino do
Reino está selado. Não nos resta muito tempo, então devemos começar a recrutar aven-
tureiros o mais rápido possível.”

“Já começamos a recrutar de forma diligente.”

Respondeu o Cardeal da Terra, Raymond Zurg Laurencin.

“Não é uma pena deixar que o Reino Feiticeiro saqueie os itens mágicos de lá a bel-
[Amuleto da Imortalidade] [ A r m a d u r a Guardiã]
prazer? Especialmente os tesouros do Reino. O Amulet of Immortality, Guardian Armor,
[ M a n o p l a s d a Vitalidade]
Gauntlets of Vitality, e...”

O Diretor de Pesquisa disse enquanto contava com os dedos como se quisesse enfatizar
a importância do último item:
[ F i o d e Navalha]
“...A Razor Edge.”

Prólogo
6
“Não nesse caso, pois não há nada que possamos fazer a respeito. O número de pessoas
que podemos infiltrar é limitado. Mesmo nosso próprio povo dentro do Reino não será
capaz de sair vivo.”

“...Não tardará para o Reino Feiticeiro estar à nossa porta. Desde que o Capitão Guer-
reiro morreu em batalha, seu substituto, aquele chamado... Ungra..us? É aquele com os
itens agora, correto?”

O Grão-Marechal perguntou, ao que o Diretor de Pesquisa respondeu:

“Brain, eu presumo? Sim, se pudéssemos trazê-lo ao nosso rebanho junto com esses
itens, esse seria o cenário ideal. Não imagino ele como aqueles tipinhos suicidas, o que
acha? Ele pode ficar irritadiço a princípio, mas depois ficará grato a nós.”

“De acordo com nossa investigação, ele não é desses.”

Disse a Cardeal de Fogo, Berenice, uma das duas únicas mulheres dentro do corpo ad-
ministrativo.

“Vejo que ele está consideravelmente elevado em seu conceito.”

Disse a outra mulher, a chefe do Judiciário, com um sorriso.

“Certamente. Nós, cardeais, temos ele bem alto em nosso conceito, mas sabemos que
ele não é do tipo que aceitaria nosso convite. É por isso que ordenamos que não entras-
sem em contato com ele.”

“Então ele é como o Capitão Guerreiro... Mas, vamos considerar as coisas de outro ân-
gulo. Francamente, não dá para entender o que se passa na cabeça daqueles que se per-
mitem serem tão facilmente controlados por emoções tão irracionais.”

Alguns olharam para o chefe do Legislativo após os dizeres, então o orador sentiu a
necessidade de se retratar:

“Sinto muito, talvez tenha me expressado mal. Ainda assim, na minha opinião — le-
vando em consideração o futuro da humanidade, tal desrespeito imprudente pela vida é
um péssimo traço de personalidade. Manterei esse meu ponto de vista, independente-
mente de quem se oponha.”

“Não há falsos dizeres em tuas palavras.”

Pronunciou Dominic Ire Partouche, o Cardeal do Vento e uma das pessoas que olharam
antes:

“No entanto, assim como temos nossos limites morais, ele também tem os dele.”

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“Guelfi-sensei concorda?” O Diretor de Pesquisa perguntou, ainda relutante em aceitar.

Zinédine Delan Guelfi, o Cardeal da Água — um homem idoso cuja aparência era seme-
lhante à de um tronco ressequido — assentiu em confirmação.

“Se o senhor afirma, não mais questionarei a esse respeito.”

“Embora eu esteja feliz por tantos talentos terem vindo se juntar à nossa nação, qual é
a condição deles?”

Algumas equipes de aventureiros já haviam chegado à Teocracia. A maioria era de clas-


sificação Mythril ou superior, também usavam a inteligência da Escritura da Água Pura
para convidar pessoas comuns com potencial.

“Isso não é bo— ou melhor, não tem nada de bom.” Yvon Jasna Delacroix, o Cardeal da
Luz, entrou na conversa.

“Até conseguimos convencer eles a se unirem à gente, mas por terem abandonado mui-
tos nessa decisão que tomaram, acabou por deixar um espinho no coração deles— o que
quero dizer por isso é: são uns fracotes.”

Um dos participantes falou de uma forma que fez com que todos soubessem que a con-
versa não precisava ser tão formal. Todavia, em resposta, Yvon retrucou severamente:

“Sempre deve-se ser formal diante de teus chefes.”

Ao perceber seu erro, ele ficou envergonhado e prontamente se corrigiu com “Digo, teus
superiores”.

Era verdade que, se fosse uma reunião estritamente entre cardeais, mesmo Yvon se
permitiria ser informal de vez em quando. Isso só foi possível porque todos os seis eram
próximos.

“Como ia dizendo... achamos que devemos nos livrar desse ‘espinho’ o mais rápido pos-
sível.”

“Mas como?” indagou o chefe do Judiciário. Raymond respondeu:

“Bem, se o ‘espinho’ se instalou porque eles não puderam salvar as pessoas, então ele
pode ser curado salvando as pessoas. Vamos enviá-los para o Reino Dragonic. Façamos
[H o m e ns - B e s t a]
com que lutem contra os Beastmen de lá.”

“Oh, entendo,” aqueles ao redor dele disseram em voz alta.

Prólogo
8
A inteligência indicou que o Reino Dragonic se tornou diplomaticamente mais próximo
[Mortos-Vivos]
do Reino Feiticeiro, chegando até mesmo a comprar undeads de lá. Undeads assustado-
ramente poderosos.

Se permitissem que isso continuasse, a influência da Teocracia dentro do Reino Drago-


nic diminuiria, enquanto a do Reino Feiticeiro aumentaria ainda mais. Como medida pre-
ventiva, esta proposta poderia ser uma jogada brilhante. Ainda assim, os resmungos pre-
ocupados começaram a vir à tona.

“Se teletransportarmos esses aventureiros recém-recrutados para além de nossa vigi-


lância, eles podem vazar nossas operações secretas durante a guerra. Isso não exporia
nossas ações secretas ao Reino Feiticeiro? Não seria mais seguro mantê-los dentro de
nossas fronteiras por ora?”

“Ao meu ver não representa um grande problema. Eles conhecem a situação no Reino.
Eles sabem muito bem do que tiveram de abrir mão por causa dessa guerra. É imprová-
vel que pessoas assim trabalhem com uma nação tão cruel. Embora haja a possibilidade
de obterem as informações deles através de magia de controle da mente.”

“Não sejamos precipitados. Em contrapartida, não acha que seria um problema a mais
se o Reino Feiticeiro descobrisse que recrutamos magic casters capazes de usar magia
de teletransporte?”

“Correto, seria.”

“Sempre fingimos usar itens mágicos para teletransportar, mas alguns aventureiros po-
dem ter percebido nossa tramoia. Então, mesmo que seja imposto uma ordem de silêncio
a eles, quem sabe que tipo de informação poderia vazar? Talvez seja vantajoso guardar-
mos nossos segredos o máximo possível do Reino Feiticeiro.”

Zinédine Delan Guelfi, o Cardeal da Água, tossiu algumas vezes antes de falar.

“Ghum, perdão. Embora eu entenda seu modo de pensar, não acha que revelar uma
vantagem ao nosso oponente pode torná-lo mais cauteloso no que tange a agir de forma
imprudente? É o que penso.”

“Mesmo concordando com os dizeres do Sensei, a existência de alguém como o Tríade


Magic Caster torna, de certo modo, o uso da magia de teletransporte algo não tão secreto.”

“Hmm. Quantos mais saberiam de algo dessa importância? ‘Quais magias o grande
mago do Império é capaz’ é uma pergunta para a qual nem nós temos uma resposta de-
finitiva, esqueceu?”

“Alguém do calibre dele não mais se importa com informações relacionadas à magia de
teletransporte.”

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Idéias de todos os tipos foram apresentadas. O Pontifex Maximus sentiu que não seria
capaz de chegar a uma decisão se isso continuasse, então decidiu por uma votação sim-
ples. Assim, foi decidido que enviariam os aventureiros para fornecer suporte ao Reino
Dragonic.

Dito isso, os aventureiros recrutados eram iguais a mercenários aos olhos da Teocracia,
pois era difícil determinar a quem deviam suas lealdades. Os membros dessa reunião
pensaram que mesmo se os enviados escolhessem ficar no Reino Dragonic, isso não re-
presentaria problema algum. Afinal, resgatá-los do Reino não era para fortalecer a Teo-
cracia, mas sim para evitar a possibilidade de humanos fortes morrerem em vão.

“Se conseguirmos desenvolver a técnica para criar pergaminhos de magia do quinto


nível e além, até mesmo algo como magia de teletransporte se tornará facilmente dispo-
nível.”

“Infelizmente, embora estejamos trabalhando nisso por séculos, ainda não tivemos o
menor progresso.”

Até agora haviam aperfeiçoado os métodos de fabricação de pergaminhos de até 4º ní-


vel, mas isso era um segredo nacional. Essa era apenas uma das múltiplas técnicas se-
cretas que possuíam. Ao longo dos séculos desenvolveram essas técnicas para proteger
a fraca humanidade das raças de maior poder. Tais foram seus avanços, que até conse-
guiram replicar a poção de cura das lendas, conhecida como “Sangue de Deus”. Embora
ainda precisassem de mais pesquisas para melhorar sua relação custo-benefício, foi um
avanço sem igual.

“Ainda assim, por que o Rei Feiticeiro ordenaria tais massacres? Mesmo que os supri-
mentos a caminho do Reino Sacro tenham sido roubados, isso foi uma reação exagerada.
O que os militares pensam a respeito?”

“Primeiramente; incutir medo.”

O Grão-Marechal levantou um dedo. Várias cabeças acenaram em concordância.

“Segundo; no fim das contas, o Rei Feiticeiro é um undead.”

“‘Uma criatura que nutre profundo ódio pelos vivos, e que é controlado por esse ódio’ Tal-
vez alguns possam ter essa crença, mas eu discordo. Mesmo se presumirmos que ele
estava esperando um momento oportuno para ir à guerra, se levarmos em conta suas
ações anteriores, esse incidente parece que não se encaixa.”

“Em nome dos militares, digo que também somos da opinião de que é extremamente
improvável que suas motivações sejam tão simples.”

Prólogo
1 0
Disse o Grão-Marechal com uma expressão austera. Sussurros vieram de todos os can-
tos dizendo: “então diga isso sem fazer tanta pose” ou “parece que adora ficar copiando
o jeito do Raymond” ou que “ele não entende que há hora e lugar para esse tipo de coisa”.

E logo mais concluiu enquanto levantava seu terceiro dedo:

“Ghrum, e por fim o mais provável é: para criar uma área natural de geração de undeads,
como uma nova Planície Katze.”

“Faz sentido,” alguém murmurou.

A Teocracia Slane era um país que ostentava uma abundância de magic casters divinos,
então o mais alto escalão presente entendia completamente o que o Grão-Marechal que-
ria dizer.

O plano do Rei Feiticeiro era provavelmente expandir aquela terra profana infinita-
mente, para então absorver qualquer undead que lá surgisse para seu reino. Tal coisa
era normalmente impossível, mas o Rei Feiticeiro, sendo ele mesmo um dos undeads,
era uma exceção.

Eles ouviram que ele havia assumido o controle das Planícies Katze. Talvez ele tivesse
obtido algo de lá que o tenha motivado a fazer tal coisa.

“Se for isso mesmo, podemos antecipar o próximo movimento dele.”

“Mas o que lhe dá tanta certeza?”

“Isso servirá para criar uma fronteira entre suas terras profanas e o Estado do Conselho.
As terras profanas se tornarão uma barricada entre o Reino Feiticeiro e o Estado do Con-
selho. E então—”

“—Serão capazes de lidarem conosco sem se preocuparem...?”

Um silêncio desolador tomou conta. Todos os membros presentes achavam o Reino Fei-
ticeiro comparável ao seu próprio país, especialmente em termos de poder militar.

Todos tinham expressões amargas. Ninguém conseguia manter a compostura.

A reação foi compreensível, pois foram lembrados do relatório de inteligência que re-
ceberam sobre o Reino Feiticeiro durante sua reunião anterior. A batalha do Reino Fei-
ticeiro contra o Reino Re-Estize nas Planícies Katze mostrou seu poder inegavelmente
esmagador e malévolo.

O Reino Feiticeiro era extremamente complicado de se lidar, mesmo para o trunfo da


Teocracia, a Escritura Preta e seus membros Divinos. Além disso, o verdadeiro poder do

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Reino Feiticeiro ainda era um mistério. Quanto mais investigavam, mais pareciam olhar
para um abismo de profundidade e escuridão insondáveis.

“Não temos tropas o bastante para aguentar. O que nos restou se resume em formar
uma ampla aliança com o Estado do Conselho, huh...?”

“Ao que tudo indica, sim. Pois assim eles virão ao nosso resgate sempre que estivermos
em apuros!”

Todos sorriram sarcasticamente.

Reforços poderosos o suficiente para salvar a Teocracia nunca seriam enviados. Isso
não era segredo para ninguém.

Uma cooperação mútua era impossível para países com objetivos e ideais completa-
mente díspares. Algum reforço poderia ser esperado se uma aliança fosse formada, mas
[ S o b e r a d o Dr ag ão d e P l at i n a]
não havia como o Platinum Dragonlord em pessoa vir em seu auxílio.

Se a Teocracia ou o Estado do Conselho caíssem, então o Reino Feiticeiro viria a exercer


poder aterrador sobre a nação ainda de pé. Para evitar esse resultado, a jogada correta
seria conseguir uma cooperação absoluta, onde uniriam forças contra o Reino Feiticeiro.
Todavia, em um cenário hipotético, se a aliança invadisse e vencesse o Reino Feiticeiro,
o que aconteceria depois? Naturalmente, os dois países voltariam a se ver como inimigos
em potencial.

Não era difícil imaginar que depois dessa possível guerra, sobreviventes do antigo
Reino Feiticeiro iriam para uma das duas nações vitoriosas e, à medida que suas popu-
lações crescessem, não tardaria para entrarem em uma espécie de guerra fria.

Assim, nunca confiariam completamente um no outro, mesmo que uma aliança fosse
formada.

Idealmente, só deveriam considerar tal meio se isso significasse uma vitória completa
para a Teocracia.

Se a guerra eventualmente eclodisse entre a Teocracia e o Reino Feiticeiro, ambas as


nações seriam significativamente enfraquecidas. Assim, o Estado do Conselho seria o
único beneficiário.

A situação ideal seria que os três países se pressionassem mutuamente, mas isso exigi-
ria um equilíbrio de poder mais igualitário.

“Submeter-se ao Reino Feiticeiro não seria tão ruim. Poderíamos trabalhar nas sombras
por décadas, quiçá séculos, até fazê-los ruir de dentro para fora. Além de nos proporcio-
nar um melhor entendimento do que acontece em suas entranhas.”

Prólogo
1 2
“O Império também se tornou um vassalo, então não é totalmente inviável. Além disso,
a julgar pela forma como o Império foi tratado, não é uma opção tão ruim.”

“Caso façamos, acha mesmo que nosso povo aceitaria assim, facilmente?”

“Seria muito difícil. Um passo em falso e começamos uma guerra civil.”

“Nada que um carimbo a ferro quente não resolva.”

“Ei, isso é um pouco extremo demais. Deixemos como último recurso. Em primeiro lu-
gar, ao contrário de nós, os cidadãos não têm acesso a todas essas informações.”

“Acha que devemos tornar público tudo o que sabemos sobre o Reino Feiticeiro? Não
estamos mantendo em segredo precisamente porque sabemos os tipos de distúrbios que
algo assim causa?”

“Pare de dar desculpas. O Reino Feiticeiro também não teve que dedicar muito tempo
para pacificar e administrar seu povo após a fundação de sua capital? Portanto, levará
tempo para que possamos considerar tudo a nossa—”

“—Não, não podemos ter tanta certeza. Afinal, o Reino Feiticeiro destruiu várias cida-
des e vilarejos.”

A capital era populosa, por isso era irreal pensar que havia tido muitas mortes até as
coisas se acalmarem. No entanto, nada era impossível para o Reino Feiticeiro.

“Um undead, cheio de ódio pelos vivos, huh.”

“Baixamos a guarda porque não houve mortes desnecessárias em E-Rantel, lembram?”

“Avassalaram o Império, interferiram em assuntos dentro do Reino Sacro e do Reino


Dragonic, e agora fazem do Reino uma pedra em seu caminho. Nesse ritmo, não haverá
saída fácil para nós. ‘Submeta-se ou morra’, é o que nos resta? Eu sei que é clichê, mas
temos que fazer uma escolha. Se quisermos fazer um acordo com o Reino Feiticeiro, te-
remos que lidar com um de nossos problemas primeiro.”

“Mhm. Devemos lidar com aquele elfo decrépito e corrupto o mais rápido possível. Em-
bora nosso relacionamento futuro com o Reino Feiticeiro ainda não esteja claro, não po-
demos cogitar a possibilidade de duas guerras simultâneas.”

Um grande esforço já foi feito para exterminar o País Élfico, mesmo antes do Reino Fei-
ticeiro ser estabelecido. Foi graças a isso que os Elfos não tentaram estabelecer relações
amigáveis com o Reino Feiticeiro de antemão.

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“O confronto direto com o Reino Feiticeiro é o pior cenário, considerando seu poder
militar avassalador. Ainda assim, é nosso dever considerar sempre o pior cenário, assim,
traçamos o melhor plano possível diante dos fatos.”

“O Reino Feiticeiro provavelmente não intervirá enquanto estiver lidando com o Reino,
mas dependendo de como a situação evoluir, eles ainda podem fazer movimentos para
nos impedir. Posso ver diante dos meus olhos, eles agindo livremente porque terão
undeads surgindo naturalmente próximos à nossa fronteira. Devemos tomar medidas
cabíveis e nos prepararmos para essa possibilidade.”

“Concordo... além disso, temos que garantir que o futuro da humanidade seja preser-
vado, mesmo que se restrinja a poucos.”

Alguns deles assentiram com admiração.

“Deixe algumas pessoas irem em busca de terras seguras. Eles serão os restos de nossa
esperança, ou a epítome do nosso desespero, se assim posso dizer.”

Não havia nenhum país em que confiar fora da Teocracia, mas eles também não esta-
vam pedindo que se tornassem nômades.

A Teocracia tinha um abrigo fora de suas fronteiras. Não era um lugar de lendas, mas
um lugar que fôra habitado há 600 anos. Um santuário para a espécie humana, que até
então conhecia apenas o medo.

Era guardado por uma das Seis Escrituras, a Escritura do Pó.

“Se vamos evacuá-los, devemos começar os preparativos imediatamente. Quis serão os


escolhidos?”

“Não podemos ficar de braços cruzados. Nós obviamente ficaremos até o fim. Quanto
aos demais cidadãos, que tal fazê-los eleger um representante e fazer essa pessoa esco-
lher?”

“Discordo, Laurencin-sama deve ir com eles.”

“Eu?”

“No caso de sermos aniquilados, o senhor, como um ex-membro da Escritura Preta, de-
veria ser o único a proteger e ensinar aqueles que restaram, não concorda?”

“Há muito deixei de ser aquilo que já fui. Além disso, todos nós devemos ficar até o fim,
se algum de nós fugir, perderão a fé em nossa organização.”

“Mas—”

Prólogo
1 4
“Não—”

“Eu estava pensando—”

À medida que a discussão se acirrava, o Pontifex Maximus finalmente falou:

“Essa discussão é sem sentido. Por mais que tenha sua importância, não é hora para
isso.”

Ninguém se opôs.

“Concordo. Então, dando prosseguimento ao que é mais importante. Não vejo problema
em deixarmos que o povo élfico fuja, mas devemos usar tudo que temos para caçar e
perseguir aquele maldito Rei Elfo.”

O Pontifex Maximus havia se tornado uma pessoa completamente diferente, com ódio
palpável em seu rosto. Raymond concordou com a cabeça.

“Dê à Morte Certa a chance de escolher.”

“Mhm. Mesmo que o Platinum Dragonlord já desconfie que a criança dará as caras, é
improvável que ele a mate, dada a situação atual. Minha opinião pessoal é que o Rei Elfo
deve sofrer como nenhum outro jamais sofrera antes de ser executado. A felicidade da
criança vem em primeiro lugar. Conto com o empenho dos senhores!”

“Entendido.”

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1 5
Capítulo 01: Para Tirar Férias Remuneradas

Prólogo
1 6
Parte 1

pós terminar de ler o conteúdo do fichário robusto à sua frente, Ainz fo-

A lheou todas as páginas até chegar de volta à primeira; para enfim, dar o
seu carimbo pessoal. Após um momento de hesitação, ele pressionou-o
firmemente na área marcada para aprovação. Com isso, a matéria im-
pressa nesse fichário — do ponto de vista de Ainz, continha algum tipo de
solução de altíssimo nível para uma questão política — foi aprovada e Albedo poderia
iniciar o processo de seleção do pessoal adequado para despachar.

Ele entregou o fichário para Lumière, que estava em silêncio. Isso concluiu seus afaze-
res do dia. Ainz mudou sua linha de visão para o relógio.

Os ponteiros marcavam 10:30.

Ele começara a trabalhar às 10:00. Em outras palavras, apenas trinta minutos se passa-
ram. Este tinha sido o status quo ultimamente. Embora Ainz terminasse seus deveres
antes do meio-dia, hoje foi muito rápido. Um ex-escravo assalariado como Satoru nunca
experimentou começar sua jornada de trabalho tão tarde, mas isso não era via de regra.
Não era raro os empregados de megacorporações começarem a trabalhar tarde e, se-
gundo Ulbert, a existência de tal sistema de turnos era uma espécie de privilégio em si.

Portanto, a jornada trabalhista dos habitantes deste mundo (por exemplo, aldeões
como Enri e Nfirea), que começava e terminava com o nascer e o pôr do sol, era a norma
vigente.

Embora os habitantes das cidades desse mundo operassem de maneira semelhante,


eles tendiam a começar e terminar suas jornadas de trabalho mais tarde do que os al-
deões. O principal fator responsável por essa diferença no estilo de vida se dava ao
acesso à iluminação mágica. Em sua grande maioria, aqueles que tinham acesso a fontes
mágicas de luz eram nobres. Sendo assim, quanto mais tarde iniciassem sua rotina de
trabalho, mais tarde tendiam a prolongar sua carga horária noite adentro.

Com isso, poderia afirmar-se que todos em Nazarick começavam sua jornada traba-
lhista às 10:00? De forma alguma.

Nazarick havia se tornado a empresa abusiva entre as empresas abusivas.

Em primeiro lugar, as empregadas regulares eram divididas em turnos diurno e no-


turno e suas horas de trabalho eram longas. Os subordinados de Cocytus, que montavam
guarda no 9º Andar, operavam de maneira semelhante. Era difícil dizer quando eram os
intervalos, já que raramente tiravam tempo para descansar, lanchar e nem sequer uma
pausa para fumar.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


1 7
Mas mesmo assim, cerca de 90% dos operários com esse tipo de rotina não fizeram
nenhuma reclamação a respeito de sua condição trabalhista.

Como alguém que queria criar um ambiente de trabalho mais agradável, Ainz levou em
consideração as opiniões das empregadas regulares. Todavia, tudo o que conseguira
pensar depois de ouvir suas respostas foi: ...Qual o problema delas, hein? Não, talvez fosse
melhor dizer que a lealdade das mesmas era realmente inabalável.

Ainz tremeu na base quando disseram seriamente que era completamente normal tra-
balhar sem descanso quando em posse de itens para anular a fadiga.

E quanto aos outros 10% restantes, ao protesto que faziam era referente a estarem in-
satisfeitos com suas jornadas trabalhistas, pois queriam trabalhar ainda mais.

Essas conversas aconteceram não muito tempo atrás.

Talvez fosse apenas egoísmo, mas Ainz sempre quis fornecer a seus funcionários bene-
fícios generosos. Para esse fim, Ainz começou concentrando sua atenção nas emprega-
das regulares.

A principal razão foi porque seus níveis eram extremamente baixos. Sua aparência fe-
minina atraente também foi um fator importante. Embora Ainz não pretendesse ter al-
gum tipo de favoritismo, ele não pôde deixar de fazer comparações entre elas e os su-
bordinados de Cocytus.

Se fosse uma ordem direta de Ainz, não havia dúvida de que todos em Nazarick obede-
ceriam sem hesitar. Contudo, dado que sua ordem poderia abalar o moral, ele teve que
ser prudente ao dar suas instruções.

Então ele deu a seguinte desculpa:

No futuro, é possível que as empregadas regulares tenham que supervisionar empre-


gadas humanas. Quando esse dia chegasse, as empregadas regulares teriam que explicar
sua situação trabalhista para elas. Seria bom melhorar as condições de trabalho agora
para evitar o excesso de trabalho às futuras empregadas humanas.

Por meio desse método, mesmo que ainda gerasse protesto, ele poderia efetivamente
reduzir suas horas de trabalho e fornecer-lhes dias de férias adicionais.

Anteriormente, elas tiravam um dia de folga a cada 41 dias. Atualmente, esse número
havia dobrado.

Ainz sentia que nada havia mudado de fato, mas certamente havia resistência se ten-
tasse algo mais radical. Ou melhor, isso foi o que Ainz entendeu, então preferiu dar um
passo para trás. Consequentemente, ele não incorporou o sistema completo — licenças
pagas, férias, feriados, etc.

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


1 8
O que motivava Ainz a implementar esse sistema de férias, independentemente das ob-
jeções dos NPCs, talvez fosse algo mais relativo aos vestígios do que Satoru sonhava
quando ainda era um assalariado.

Então, Ainz acabou tropeçando em outra idéia.

Se quisesse mudar a mentalidade de todos em relação ao trabalho em Nazarick, então


Ainz, que estava no topo da pirâmide de comando, não poderia trabalhar sem parar. Ele
queria implantar o pensamento de que “Se nem mesmo meu superior trabalha tanto, creio
que não haverá problema se eu fizer o mesmo”. Seu plano consistia em convencê-las a
partir desse princípio.

Umas das razões era escusado dizer. Se um picareta sem talento como ele assumisse a
liderança por completo, Nazarick mergulharia em um caos absoluto.

Todavia, o tiro saiu pela culatra.

Pois os habitantes de Nazarick pensaram ser mais que justo que Ainz não trabalhasse
tanto.

O resultado foi o visto acima, cujo único dever de Ainz consistia em carimbar documen-
tos. Mas mesmo esse tipo de trabalho se tornava cada vez mais raro.

Ele deveria ter visto isso com bons olhos, pois, quanto menos assumisse as responsabi-
lidades, menos chances Nazarick tinha de ir para uma vala sem fundo. Ainda assim, Ainz
se sentia mal por sobrecarregar os outros.

Ahh...

Ele olhou de canto de olho para as duas empregadas, seus olhos brilhavam como cha-
mas. Eram as designadas para o turno de hoje. Se seus olhos se encontrassem, ele logo
seria indagado com: “Há algo em que eu possa ajudá-lo?”. Para evitar tal encontro, ele só
podia olhá-las assim.

Não precisam ficar sérias assim... Ah, só queria que relaxassem um pouco...Vocês deixam
a atmosfera tão tensa que tá me dando dor de estômago...

Quanto tempo faz desde que vi vocês sorrirem? Ainz não pôde deixar de se perguntar. Ele
suspirou mentalmente uma última vez antes de se virar para a empregada ao lado e per-
guntar:

“Erm... Lumière...”

“Sim, Ainz-sama?”

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1 9
“Só para confirmar, acabaram minhas tarefas por hoje?”

“Sim, Ainz-sama. Foram apenas essas.”

Ele perguntou à empregada de plantão que servia como secretária enquanto Albedo
estava fora.

Parecia que ninguém havia buscado uma audiência ou agendado negociações hoje.

Mesmo assim, ainda havia a chance de que surgisse algo em cima da hora, então ele não
podia baixar a guarda. Isso porque toda vez que Entoma transmitia um relatório emer-
gencial através de magias como 「Message」, sempre era algo sério o bastante para dar-
lhe cólicas estomacais ao seu inexistente sistema digestivo.

“Então é o caso...”

Ainz olhou para a outra mesa na sala.

Albedo insistiu que a mesa fosse colocada lá, mas ela não estava presente.

Normalmente, Albedo estaria trabalhando lado a lado com Ainz, porém ela estava bas-
tante ocupada já que fazia apenas alguns dias desde que a capital do Reino caíra. Ultima-
mente ela sempre era vista andando às pressas por Nazarick e também não era raro vê-
la indo resolver as coisas pessoalmente.

Ao questionar à empregada se Albedo estava bem, ele descobriu que ela estava bastante
aborrecida. Talvez se deva a estar trabalhando em demasia, ou porque não podia vê-lo
com tanta frequência.

Se for por ela não ter me visto ultimamente, não vejo problema algum em fazer uma visi-
tinha com mais frequência.

Se apenas isso bastasse para melhorar seu humor, ele não via motivos para recusar.

“......”

Se Ainz ficasse calado, ninguém mais falaria, assim, a sala ficou completamente silenci-
osa.

Verdade seja dita, Ainz preferia um ambiente de trabalho leve e descontraído, onde to-
dos fossem livres para se expressarem. Infelizmente, dado a tudo que aprendera ao
longo dos últimos anos, ele sabia que isso seria impossível.

Isso é bem solitário.

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


2 0
Tenho medo de passar o resto da minha vida sendo endeusado assim... Bem, quanto a isso
ainda não posso fazer nada, mas pelo menos mudar um pouco de ares eu posso.

Ainz costumava gastar seu tempo livre de muitas formas diferentes.

Prática de equitação. Fingir ler e entender artigos acadêmicos, informações de negócios


e literatura política. Nada disso grudava em sua mente, e o motivo era muito simples; ele
não se empolgava ao ponto de prestar atenção, apenas os folheava. Definitivamente não
era porque sua cabeça era oca. Ele também gostava de conduzir todos os tipos de expe-
rimentos com magia.

Recentemente, além de seu treinamento de combate com Cocytus, ele também estava
realizando sessões de treinamento especial com o Pandora’s Actor.

“Vejamos...” Ainz agiu como se estivesse murmurando para si, mas na verdade anunciou
intencionalmente para os ouvintes da sala.

Tudo já estava pré-arranjado.

Agora só restava colocar em prática seu plano para ajudar Aura e Mare a fazerem alguns
amiguinhos. Tudo o que havia feito fôra em preparação para a execução bem-sucedida
desse plano.

Quanto aos amigos que deveriam ter, sua primeira prioridade era achar Elfos Negros.
Os próximos na fila seriam raças relacionadas, como Elfos Puros. Embora ele tivesse uma
[Homens-L agarto]
boa compreensão do que esse mundo tinha a oferecer, ter Lizardmen ou Goblins como
os primeiros amigos dos gêmeos era algo que Ainz achava difícil de engolir.

Idealmente, eles deveriam começar com raças mais semelhantes.

Ainz olhou para Lumière.

“...Vou para o Sexto Andar, você irá me acompanhar.”

“Como desejar.”

Mesmo ela o seguindo sem que precisasse dizer uma só palavra, ele ainda achava que
era apropriado informar.

Ainz, junto com Lumière, se teletransportou para o 6º Andar com o poder de seu anel.

Ele poderia simplesmente ter ordenado que Lumière trouxesse diante de sua presença
quem ele desejava ver. Na verdade, isso teria sido o mais apropriado para o Supremo
Governante de Nazarick, mas ele optou por abrir mão de tais procedimentos para garan-
tir que essa tarefa fosse concluída perfeitamente. Como tal, seria melhor ir pessoalmente.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


2 1
Então, no lugar da imagem de alguém grosseiro, visitar pessoalmente traria uma ima-
gem mais respeitosa e amigável.

Ter o senhorio do lugar em pessoa poderia aplicar uma singela pressão, permitindo que
as coisas fossem mais suaves do que o normal.

Quem desejava ver eram as três Elfas que haviam sido trazidas para cá pelos Trabalha-
dores há tempos.

...Deveríamos ter extraído algumas informações delas quando foram postas no Sexto An-
dar... mas não fizemos naquela época.

Embora tenham-se passado anos desde então, as únicas informações coletadas daque-
las três resumiam-se a trivialidades. Elas não foram questionadas sobre o País Élfico ou
a respeito delas mesmas. Isso porque Ainz queria que pensassem nele como alguém to-
talmente contra a escravidão, como um undead muito complacente. Se ele as questio-
nasse sem parar sobre a localização de sua terra natal para obter informações sobre os
Elfos, elas poderiam ter a impressão de que foram poupadas por ele ter segundas inten-
ções.

Mas não seria o mesmo se as indagasse agora? Na verdade, não.

O estado atual de Nazarick em comparação a seus primórdios era tão díspar quanto a
noite e o dia.

A Grande Tumba de Nazarick já havia aceitado seres de várias origens. Se o Reino Fei-
ticeiro de Ainz Ooal Gown desejasse estabelecer contato diplomático com o País Élfico,
querer saber o máximo possível de antemão não seria estranho.

Agora eu tenho uma boa desculpa para perguntar tudo. Não parece que foram intimida-
das pelos gêmeos... O melhor cenário é se elas falarem abertamente o que pensam, mas não
posso dar um passo maior que a perna. Se eu tivesse imaginado isso naquela época, seria
tão mais fácil dar ordens agora...

À medida que esse pensamento ganhava forma, ele sentiu que não seria correto ter or-
denado que Aura e Mare fingissem bondade para com as Elfas. Claro, ele não teria que
pensar tanto se delegasse esse assunto a Demiurge ou Albedo.

Ele havia entendido por alto como as empregadas regulares e os subordinados de


Cocytus pensavam. Embora muitas vezes se diga que não se deve julgar um livro pela
capa, talvez Ainz não conseguisse entender seus modos de pensar por ele mesmo ser
uma pessoa comum.

Ainz e Lumière caminharam por um túnel escuro. Mais à frente, em sua saída, havia
uma gigantesca ponte levadiça de treliça por onde raios de luz solar eram vistos.

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


2 2
Mais à frente situava-se a arena circular do 6º Andar.

Embora o anel pudesse tê-los teletransportado direto para a residência dos gêmeos, ele
optou por não o fazer—

—Agindo como um conjunto de portas automáticas, a treliça rapidamente se ergueu.


Ainz se lembrou de seu primeiro dia nesse mundo, quando percorreu o mesmo caminho
para visitar os gêmeos. Seus olhos se encontraram com a diminuta silhueta ao longe.

“Bem-vindo, Ainz-sama!”

A voz jovial da garota cumprimentou-o energicamente.

“Hm. Vim resolver uns assuntos aqui. Aura — conto com você para me ajudar.”

A expansão do Reino Feiticeiro levou os Guardiões a serem designados a diversas tare-


fas extras. Mesmo que a maior parte da atividade tenha ocorrido fora de Nazarick, eles
sempre se certificaram de manter pelo menos de dois a três Guardiões de Andar — al-
guma combinação entre Albedo, Demiurge, Mare, Aura, Cocytus e Shalltear — dentro de
Nazarick, custe o que custasse.

Na maioria das vezes, isso significava que o trio Cocytus, Shalltear e Albedo seguravam
as pontas. No entanto, às vezes Cocytus tinha que atender os Lizardmen. Shalltear, por
sua vez, tinha que cuidar dos Dragões.

Nessas ocasiões, os outros tomavam seus lugares.

Isso não foi por ordem de Ainz.

De fato, Ainz havia pensado em nomear Cocytus como Chefe de Defesa e Shalltear como
Vice-Chefe, mas o tamanho das tarefas deles eram muito diferentes em comparação com
antes. Naquela época, ele acreditava que apenas uma pessoa bastava para supervisionar
Nazarick enquanto todos os outros trabalhassem fora.

Mas depois ficou deveras envergonhado por sugerir esse plano, que jogava toda a res-
ponsabilidade nas costas de uma única pessoa.

Como seu superior, ele estava com medo de atrapalhar os planos originais dos Guardi-
ões de Andar. Ainz ainda queria respeitar sua iniciativa.

De todo modo, Albedo e Demiurge possuíam intelectos muito maiores. Contanto que
aqueles dois estivessem de acordo, Ainz teria até vergonha de pensar o contrário. Com-
parado a um plebeu como ele, as idéias dos Guardiões sem dúvidas eram melhores.

“Ah! Pode deixar comigo, Ainz-sama! Em que posso te ajudar hoje?”

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


2 3
“—Hm.”

Diante do sorriso de Aura, Ainz adotou uma pose régia quando a respondeu. Para ser
honesto, ele não pretendia agir como o todo-poderoso a princípio, mas segundo a per-
sonalidade austera que ele havia construído, a maioria dos problemas em sua vida po-
deriam ser resolvidos com um simples “Hm”. Contudo, rodeado pelas incertezas relati-
vas a conseguir ou não realizar sua próxima tarefa, ele subconscientemente elevou o tom.

Pareceu ter surtido efeito, já que Aura imediatamente assumiu uma expressão mais sé-
ria.

Ele teve certeza de que ela entendera algo errado.

“Dro—”

Ele acidentalmente pensou em voz alta. Se lhe perguntassem o que estava errado, ele
não seria capaz de manter a encenação. Assim, Ainz escolheu acreditar em sua capaci-
dade de improvisar.

“...Primeiramente, estou aqui para visitar aquelas Elfas.”

“...Só pra confirmar, senhor. Quer ver as Elfas que a gente mantém em cativeiro?”

Desculpe, eu não deveria ter agido desse jeito estranho para mascarar meus erros... Ah,
que isso, não me olhe desse jeito tão sério, por favor, apenas sorria como sempre faz...

“...Correto. Eu gostaria de saber o que elas andam fazendo. Tenho algo em mente e pre-
ciso que elas sanem algumas de minhas dúvidas.”

“Entendido, senhor, vou buscar elas imediatamente.”

Ainz sabia que isso aconteceria, ou melhor, ele sabia que todos os habitantes de Naza-
rick teriam reagido da mesma maneira. Foi por isso que ele preparou uma resposta —
que na realidade era apenas uma desculpa esfarrapada.

“N-não. Não há necessidade, pois tenho dois objetivos a cumprir aqui.”

“...Então são dois? Ter considerado tanto apenas pra ter uma conversa com cativos...”

Era fácil dizer quais eram seus pensamentos apenas vendo o brilho em seu olhar, “Como
esperado de Ainz-sama.”

Não, é apenas o jeito que achei para contornar como você e o Mare reagem quando eu
peço algo.

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


2 4
Obviamente ele não poderia dizer em voz alta, então escolheu apenas desviar o olhar.

“O primeiro objetivo consiste em usar minha presença física para aplicar pressão men-
tal nelas. O segundo... não está diretamente relacionado às Elfas. Já que agora reinamos
sobre toda a Grande Floresta de Tob, trouxemos todos os tipos de criaturas para o Sexto
Andar. Sendo assim, eu gostaria de ver por mim mesmo o que mudou por aqui. Aura, se
possível, quero que me leve para onde as maiores mudanças ocorreram. Algum pro-
blema?”

Para resumir, Ainz tentou o seu melhor para evitar interferir nos Andares, já que eram
gerenciados diretamente pelos Guardiões; como resultado, ele não tinha visto pessoal-
mente o que tinha mudado.

Esse era seu modo de dizer que confiava neles. Se o trabalho de um subordinado fosse
feito corretamente, a interferência de seus superiores seria apenas um aborrecimento
sem sentido.

Como essa era uma oportunidade rara, Ainz queria passar para ver por si mesmo. O que
ele não tinha certeza era como Aura interpretaria o que ele acabara de dizer. O jeito de
Aura mudou de repente. Ele podia sentir um nível inimaginável de estresse emanando
dela.

“—Eu entendo. Senhor, ‘o primeiro’ foi sobre isso!”

Aura respondeu com uma expressão séria:

“Ainz-sama, não há necessidade de perguntar se ‘tem algum problema’! Ainz-sama, o


senhor é o Supremo Governante de Nazarick, não importa o que seja, o que o senhor
ordenar é a lei, nada que o senhor faça jamais será um problema!”

“Hã...? Erm, hm. Me sinto lisonjeado por dizer isso.”

“E disse que tá lisonjeado... Humm, eu acredito que onde ocorreram mais mudanças
foram nas Campinas, então é pra lá que vamos.”

“Campinas—”

Ainz procurou em suas memórias:

“—Onde levaram os monstros do tipo planta, não é?”

“Correto, senhor. Há também uma área segregada pra monstros do tipo planta não-in-
teligentes e uma área pra monstros inteligentes do tipo planta. Alguns dos quais se esta-
beleceram na vila que construímos há algum tempo e estão vivendo como humanos. Gos-
taria de visitar lá também?”

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2 5
A referida vila foi construída para que os humanos pudessem viver dentro de Nazarick
também. Caso encontrassem um Jogador, talvez fosse necessário demonstrar que Naza-
rick e os nativos desse mundo poderiam prosperar juntos. Foi por isso que a vila fôra
construída.

Algumas casinhas e uma fazenda eram vistas. Dada a escala, talvez não fosse um nome
muito adequado, mas tinha sido o termo adotado.

“Ainda se lembra? A Dryad chamada Pinison?”

“...Ah, creio que sim.”

Isso foi uma mentira.

Ele não conseguia se lembrar do rosto dela, apenas uma vaga lembrança. Comparado
com Pinison, a luta contra a enorme Árvore Maligna foi muito mais memorável. Pinison
era apenas uma gota de água naquele oceano de lembranças.

Verdade seja dita, Ainz era terrível em lembrar os rostos e nomes de terceiros. Ele era
do tipo que anotava secretamente suas primeiras impressões de uma pessoa em seu car-
tão de visita, isso se lhe dessem um.

“Ela agora é como uma chefa da vila.”

Ao questioná-la, Ainz descobriu que muitos dos monstros do tipo planta eram capri-
chosos, então o título de “Chefa” de Pinison era praticamente autonomeado. No entanto,
ela foi a primeira a chegar à Nazarick e também a que ajudou a formar conexões entre
os outros monstros do tipo planta. Para os forasteiros, ela tinha alguma posição e era
alguém que admiravam.

Havia monstros do tipo planta que eram mais fortes que Pinison, então poderia acon-
tecer alguma disputa pelo título. Como ela tinha o apoio de Aura e Mare, no entanto, não
houve grandes problemas até agora.

Os recém-chegados do tipo planta geralmente recebiam as “boas-vindas” de Aura e


Mare. O conteúdo dessa recepção implicava em uma demonstração das proezas de com-
bate dos gêmeos e de suas invocações até que os monstros forasteiros se submetessem.
A diferença de poder pairaria sobre suas cabeças toda vez que uma ordem fosse dada
pelos gêmeos e, como tal, eles se esforçariam para cumpri-la perfeitamente.
[Dragões do B o s q u e ]
Além disso, ao testemunhar os Woodland Dragons — invocações de itens de cash sob
serviço de Mare —, os monstros se perguntaram se Mare era ou não um deus.

Essa crença estava bem consolidada. Especialmente depois de ver que Mare poderia
conjurar uma tempestade e aumentar o valor nutricional da terra para níveis sem iguais.

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


2 6
“Mas, duvido que todos os monstros o vejam como um deus. Existem alguns que reco-
nhecem esses eventos como resultados de magia druídica, mas o reverenciam mesmo
assim... Como devo dizer...”

Aura soltou um “hmm” e imergiu em pensamentos.

Ainz podia entender por alto. Isso era praticamente o mesmo que Jogadores reverenci-
ando aqueles com equipamentos superiores como deuses, idols ou algo assim.

“—Hm, entendi o conceito. Enquanto tudo estiver sob seu controle, não haverá pro-
blema. Use qualquer método ou abordagem que lhe convir, mm... hmm, uhum. Enfim.”

Ainz lamentou sua péssima escolha de palavras. Dado o excelente trabalho que aqueles
dois haviam feito na administração do Andar, não havia necessidade de acrescentar seu
falatório sem sentido. A melhor resposta teria sido apenas dizer: “Fizeram muito bem!”

Ainz deu uma olhadela no rosto de Aura. Não parecia que seus dizeres estivessem afe-
tando-a, mas era difícil dizer seus pensamentos.

Não posso dizer coisas que desmoralizem meus subordinados, ahh, até li isso naqueles li-
vros sobre gestão de negócios, não...?

Ainz fez uma anotação mental para prestar atenção ao que fosse dizer. Além disso, ele
teria que prestar atenção ao tom de sua fala também.

“...Ah! Embora seja bom dar uma olhada na vila, vamos nos ater à Campina por ora. Afi-
nal, foi sua sugestão. Desculpa pelos inconvenientes, Aura.”

Aura imediatamente começou a acenar com os braços em pânico.

“P-por favor, não fale uma coisa dessas! Como eu disse, o senhor é o Supremo Gover-
nante de Nazarick! Sinta-se à vontade pra ir aonde quiser. Eu que fiz uma sugestão tola
e sinto muito por isso!”

“N-Não...”

Porque está se desculpando? Ou melhor, por que você anda agindo desse jeito hoje? Será
que foi porque pisei na bola quando cheguei? Será que ela pensou que eu tinha outros pla-
nos?

Enquanto Ainz ponderava, Aura continuou a divagar:

“Dentro de Nazarick— perdão, neste mundo inteiro não há onde Ainz-sama não tenha
permissão pra ir!”

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Bem, há muitos lugares onde eu não posso ir, pensou Ainz. Especialmente lugares de en-
trada exclusiva para mulheres.

Mesmo para esses lugares, Aura ainda poderia dizer: “Sinta-se à vontade pra entrar, não
tem problema”. Como seria uma situação extremamente vergonhosa de se ouvir, Ainz
preferiu ficar quieto.

Ele deu uma olhada em Lumière, cuja expressão facial dizia “Ela tem razão” enquanto
acenava a cabeça em resposta.

Estava ficando chato sempre ter que inventar desculpas diferentes.

Mas ele tinha que se certificar de não expor seus verdadeiros sentimentos. Então disse
gentilmente à Aura:

“Então devo pedir-lhe para mostrar o caminho.”

“Agora mesmo! Deixe comigo!”

Disse Aura enquanto batia pesadamente em seu peito, por fim completou com:

“Então... quanto ao transporte? Deseja alguma montaria?”

“Sim, se importaria de arrumar alguma?”

“De modo algum, só um momento!”

Aura olhou para trás e ergueu uma sobrancelha, parecendo pensativa.

Alguns segundos se passaram.

“Sei que existem muitos, mas chamei Fenn e Quadracile aqui, pois senti que seriam os
mais adequados. Isso é aceitável?”

“Não precisa da minha aprovação para tudo. Se você acredita que é aceitável, então não
vou discordar.”

“Beleza, muito obrigada, senhor. Poderia aguardar mais um momento enquanto pre-
paro eles?”

“Ah, conto com você.”

Ainz concluiu a conversa e começou a olhar ao redor da arena.

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


2 8
Caminhar pelo 5º e 6º Andar da Grande Tumba de Nazarick provocava um tipo dife-
rente de alegria em comparação com o 9º e o 10º. Embora extremamente raro, era pos-
sível ver a Aurora Boreal em algumas épocas do ano (em determinadas horas), naquela
partezinha do mundo feita inteiramente dentro do 5º Andar. Comparado a isso, a satis-
fação era muito mais atingível apenas por passear pelo 6º Andar.

Ainz sorriu. Seu estômago inexistente estava um pouco melhor.

♦♦♦

Pedindo licença, Aura se afastou de seu mestre e Lumière enquanto levava à mão ao seu
colar.

Os gêmeos usavam colares legacy-class que lhe permitiam a comunicação bidirecional.


Como itens, não eram particularmente fortes, mas os gêmeos ainda os usavam de ma-
neira bastante apropriada. Após serem equipados, seu efeito demorava dois dias para
ativar. Normalmente, itens com tais condições eram poderosos, mas esses eram uma ex-
ceção. Além disso, quem estivesse falando deveria segurar o colar, o que não era o ideal
durante lutas difíceis.

Com tantas limitações, sua maior vantagem era a capacidade de comunicação ilimitada.
Agora, se itens como esses eram úteis ao ponto de ocuparem um slot de equipamento
era um debate para o qual ainda não havia resposta.

“...Mare, o Ainz-sama veio visitar a gente.”

Um momento depois, a voz de Mare reverberou em sua mente.

『Eh, eh? A-Ainz-sama veio aqui pessoalmente? Aconteceu alguma coisa?』

“Não tá na cara? É uma inspeção surpresa, uma inspeção.”

『Eeeh?』

“Acho que o Ainz-sama veio ver se a gente e os Guardiões de Área estão gerenciando as
coisas do jeito certo. Embora hoje esteja inspecionando apenas as Campinas, a gente
precisa ter certeza de que os Guardiões de Área estão atentos.”

『Então acha que ele começou a inspeção do nosso Andar porque muitos estrangeiros
vieram para cá? Ou ele está fazendo em um por um?』

“—Ah, quem sabe.”

De repente, uma luz acendeu dentro da cabeça de Aura. Claro, poderia ser nada mais do
que um erro, mas ela pensou que Mare provavelmente tinha razão.

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“Ainz-sama me disse que veio aqui com dois objetivos, mas a gente sabe como o Ainz-
sama é, ele sempre tem mais coisas em mente. Sei lá, talvez botar pressão na gente tenha
sido um objetivo oculto.”

『Quê? Mesmo que o nosso trabalho fora de Nazarick esteja aumentando aos poucos,
ainda é importante garantir que os deveres mais importantes e básicos sejam atendidos
adequadamente, não é?』

Embora ainda estivesse confusa, ela tinha algumas pistas.

No passado, Shalltear e Cocytus costumavam observar o trabalho de Albedo e Demiurge


com inveja. Mas agora, todos eram enviados para trabalharem fora de Nazarick em uma
frequência cada vez maior. Eles demonstraram com primazia sua lealdade durante a
destruição do Reino por meio de seu poderio militar. Com isso, seu mestre deve ter no-
tado o clima festivo entre eles.

Independentemente dos deveres, Aura e Mare eram Guardiões de Andar de Nazarick.


Defesa, gestão e governança eram responsabilidades que sempre vinham com o Andar
que lhes era atribuído. Então, estaria seu mestre questionando-lhes se haviam esquecido
seus deveres originais em detrimento dos novos?

Se seu mestre expressasse preocupação com a ética de trabalho que aplicavam, eles
seriam uma vergonha para os Guardiões de Andar. Se os outros Guardiões de Andar,
especialmente a Supervisora Guardiã — Albedo —, ouvissem a respeito, eles certamente
seriam repreendidos. Então talvez fosse seu mestre dando-lhes uma colher de chá nesse
quesito.

“Talvez o Ainz-sama queira que digamos aos outros Guardiões o que anda acontecendo,
para que todos possamos estar mais alertas.”

『Faz todo sentido. Então isso poderia ser um quarto objetivo? Mas sinto que há algo
mais.』

Aura não sabia, muito menos Mare. O pensamento de que Demiurge e Albedo poderiam
saber algo os fez ficar cabisbaixos.

“Enfim, precisamos dar um jeito nisso.”

『...Eh? Em que seria?』

“Ah, foi mal, esqueci de te contar. Eu disse que são dois objetivos, lembra? A inspeção
foi o primeiro. O segundo é visitar aquelas Elfas que tão morando nos quartos vagos.”

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


3 0
『Ah, aquelas lá. Toda hora ficam falando realeza isso, realeza aquilo. Elas são tão incô-
modas, espero que o Ainz-sama leve-as embora.』

A voz de Mare mostrava antipatia sincera por elas.

Mare, cujo passatempo consistia em ficar embaixo de seu futon o dia todo, parecia ser
considerado por aquelas três como alguém incapaz de cuidar de si mesmo, e então elas
acabaram zelando muito mais por ele do que por Aura. Isso incluía pendurar o futon
para secar, ajudá-lo a se vestir e, às vezes, até tentar dar banho nele. Isso era um incô-
modo para Mare, mas como ele havia sido encarregado de seu bem-estar por ordens de
seu mestre, ele não podia simplesmente recusar suas demonstrações de cuidado.

“—Ah, Fenn e Quadracile tão chegando. Não sei quanto tempo vai demorar até a gente
chegar, mas esteja pronto, Mare.”

『Mhm, conte comigo.』

Aura desligou o elo mental e voltou para seu mestre.

♦♦♦

A Campina no 6º Andar de Nazarick era o lar de flores desabrochando de todas as cores.


Se algum invasor sobrevivente do inferno acima chegasse a ver isso, certamente come-
çaria a suspeitar da localização de mímicos de flores e outras armadilhas mortais. Toda-
via, nada do tipo estava presente.

Tinha toda a cara de ter várias armadilhas, mas a verdade era que não havia contrame-
didas contra invasores instaladas no local.

Em YGGDRASIL havia monstros do tipo planta e inseto capazes de imitar flores, mas
nenhum foi implantado aqui. Nenhum Guardião de Área foi designado para o local tam-
bém.

Em suma, era apenas uma bela campina sob o controle direto de Aura e Mare.

De fato, originalmente havia um plano para encher o local com armadilhas.

Os invasores que chegassem ao 6º Andar provavelmente não aceitariam o fato de uma


bela campina como essa estar imaculada. Assim, agiriam com cautela, permaneceriam à
distância e usariam ataques imbuídos com efeitos ígneos para queimar todo o lugar. Por-
tanto, na ocasião discutiram a possibilidade de plantar flores capazes de responder ao
fogo, flores essas que espalhariam veneno mortal ou paralisante. Mas esse plano foi re-
pensado devido à forte oposição das três mulheres da guilda. O resultado foi uma cam-
pina simples e despretensiosa.

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Era assim que Ainz se lembrava da Campina, mas parecia diferente agora.

Um total de doze botões de flores grandes o suficiente para engolir uma pessoa inteira
surgiram abruptamente. Pareciam bastante estranhos, ou melhor, pareciam um mau
presságio.

Ainz tentou lembrar o que eram.

Esse mundo era lar de muitas criaturas desconhecidas. Mas Ainz tinha certeza que um
monstro semelhante existia em YGGDRASIL.

E, rápido como uma estrela cadente, o nome surgiu em sua mente.

“Isto é um Alraune, correto?”

“Isso mesmo!”

Nenhum foi implantado em Nazarick ou convocado depois de chegarem a esse mundo,


então deveria se tratar de uma espécie forasteira trazida da Grande Floresta de Tob.

Algo semelhante a uma pá projetava-se do chão no centro da Campina. Era o item di-
[Restaura T e r r a ]
vine-class, “Earth Recover“.

Por ser uma arma dessa classe, tinha capacidade defensiva absurdamente alta, mas
quase zero de poder ofensivo. Isso porque a maioria dos dados foi usado para habilida-
des secundárias.
[Agulhas
Na Campina também havia bestas mágicas que pareciam coelhos angorá, os Spear
de Lança]
Needles. A maneira como estavam sentados alinhados na Campina enquanto mastiga-
vam cenouras gigantes adicionava um toque idílico ao lugar, quase um conto de fadas.
Ainda assim, eles provavelmente não estavam posicionados lá por uma questão de esté-
tica.

Ainz provavelmente nunca descobriria sem perguntar à Aura, mas certamente era para
fins de monitoramento.

Apesar de sua aparência, seu nível estava por volta de 60. Os Alraunes seriam facil-
mente aniquilados, caso surgisse a necessidade.

“Só pra constar, a cenoura que aquele filhote tá mastigando foi colhida nas fazendas. A
Pinison e outros monstros do tipo planta tão usando os poderes que tem pra fornecer
nutrientes à vontade, aí as cenouras comuns foram transformadas nessas cenouras
grandonas.”

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


3 2
“Não foi crescimento, mas sim transformação? É seguro para o consumo? Se bem que,
devido ao nível deles, traços de veneno não teriam nenhum efeito nos Spear Needles.”

“Não têm veneno. O Head Chef analisou e passou nos requisitos mínimos pra ser ingre-
diente culinário. Infelizmente, não dão buffs como os mantimentos que já temos em Na-
zarick — a única diferença é que são grandonas e mais doces.”

“É praticamente um super alimento, então? Os fazendeiros do Reino Feiticeiro pode-


riam cultivá-la?”

“Quem dera. Mesmo com a ajuda de monstros do tipo planta, ainda é difícil cultivar
muitas. Uma única cenoura daquela drena muitos nutrientes da terra, e olha que a gente
tá usando o poder do Earth Recover. Não que a terra viraria um deserto, sabe, mas sem
usar magia de recuperação, seria necessário deixar o solo descansando por um ano to-
dinho.”

Enquanto olhavam, o maior botão de flor se abriu gradualmente.


[S o b e r a n a Al r a u n e]
“Esta aqui é a Alraunelord, líder de todos os quatorze Alraunes que temos.”

Aura deu uma rápida introdução para o botão que se abrira.

“Quatorze?”

Depois de uma ligeira recontagem, Ainz perguntou:

“Não são... doze?”

“Sim, os outros dois tão escondidos na Campina, porque são filhotinhos. Devo fazer eles
aparecerem?”

“...Não, não precisa.”

Monstros nascidos dentro de Nazarick contariam como monstros de Nazarick? Que tipo
de desempenho poder-se-ia esperar deles? Perguntas surgiram uma após a outra. Antes
que pudesse indagar Aura, a flor desabrochou completamente.

Como esperado, um monstro de aparência feminina estava dentro. Parecia muito com
o que ele viu em YGGDRASIL. Mesmo com a alcunha de “Lord”, não havia nada de extra-
ordinário além de seu tamanho.

Seus cabelos e olhos eram da mesma cor de suas pétalas. Todo o corpo estava tão verde
quanto seu caule. Estava nua, mas sua pele parecia composta de pequenos brotos, pare-
cia bem estranho.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


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Seus olhos eram oblíquos e finos como uma linha. Sua expressão parecia bastante hostil,
beirando a raiva.

De repente, Ainz sentiu nostalgia, ao lembrar de uma garota do Reino Sacro com um
olhar semelhante.

Ainz era ruim em lembrar feições, mas aquele par de olhos o marcou profundamente.

O rosto do monstro se contorceu de maneira maldosa.

“Bom dia, Aura-sama. Mais uma vez a senhora trouxe diante de nós um lindo raio de sol.
Em nome das raças verdes, ofereço-lhe nossa gratidão.”

A voz soou cristalina, livre de hostilidade. Era correto dizer que havia muita reverência
em seu tom. Parecia que o “sorriso” de antes era de pura compaixão, mesmo que pare-
cesse estar tramando algo.

Os indivíduos ao lado da Alraunelord tinham muitas farfalhas em suas pétalas, mas ne-
nhum florescia. Parecia que não tinham intenção de desabrochar. No entanto, notava-se
olhadelas para Ainz, pois seus olhos não estavam completamente obscurecidos.

Como não conseguia entender o que suas ações significavam, era inapropriado chamar
isso de desrespeito. Talvez essa fosse a melhor maneira de mostrar respeito na cultura
Alraune.

“E...” os olhos da Alraunelord se voltaram para Ainz.

“Este é o governante da Grande Tumba de Nazarick. Além dessa floresta, toda essa área
também está sob seu domínio. O fundador do Reino Feiticeiro que acolhe todas as espé-
cies. O Rei dos Reis, o monarca absoluto, Sua Majestade Ainz Ooal Gown!”

Aura o apresentou com orgulho. Ainz sentiu que o rosto da Alraunelord se tornou mais
hediondo. As pétalas dos outros Alraunes tremeram enquanto escondiam seus rostos.
Eles estavam alarmados ou com medo? Ou talvez essa fosse outra maneira de mostrar
adoração?

Era impossível julgar as feições, mas Ainz pensou que era o último.

“É-é um deleite conhecê-lo, soberano dessas terras, governante do Reino Feiticeiro e, o


mais importante, mestre de Aura-sama e Mare-sama, Vossa Majestade Ainz Ooal Gown.”

A criatura abriu os braços como se fosse uma saudação:

“Me chamo Violet, é uma honra conhecê-lo.”

Pera aí, seu nome vem da cor do seu cabelo?

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


3 4
Pensou Ainz.

Um nome relativamente simples e direto, mas Ainz preferiu não dizer em voz alta. Não
era uma boa idéia tirar sarro do nome de alguém, ainda mais diante do mesmo.

“Hum, me lembrarei. A propósito, esse lugar está sob a jurisdição de Aura e Mare. Eu
não vou intervir muito, e dificilmente receberá ordens minhas, então apenas siga ordens
deles.”

Poderia haver confusão se os comandos emitidos por um gerente de departamento e o


CEO fossem misturados, Ainz teve experiência pessoal com isso. Como ele não sabia
como os gêmeos administravam os Alraunes, era melhor manter as coisas vagas.

Ele não sabia quais tarefas os Alraunes foram incumbidos, ou como estavam sendo tra-
tados. Então, não sabia o que dizer.

“Entendido, Vossa Majestade Rei Feiticeiro.”

Apesar de ter vindo de uma floresta, os modos dela são bastante decentes.

Elogiou Ainz os modos do monstro.

Quando essa fêmea foi treinada? Ela foi educada pelos gêmeos? Ou seria em outro lugar?

Ou talvez—

—Talvez o nuance tenha se perdido... Pode ser que ela esteja falando de maneira mais
alraunesca? Por exemplo, ela pode estar dizendo “Ainz é um brotão”.

Embora fosse ótimo que pudessem se comunicar normalmente, Ainz se perguntou se


essa desconexão poderia criar algum problema. Bem, não era como se ele realmente se
importasse em ser chamado de brotão.

Ainz olhou para a Campina.

Embora os Alraunes estivessem bloqueando sua visão, a cena não estava tão diferente
em comparação com o que era.

A expressão de Ainz mudou para um sorriso indiscernível. Claro, ninguém poderia ler
suas expressões para começo de conversa. Ele então balançou sua capa de uma maneira
elegante, mas apropriada, enquanto se virava. Diante dele estava Fenrir e Itzamna, Lu-
mière também estava presente.

Quando ele deu um passo à frente, Aura apareceu ao seu lado e perguntou:

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


3 5
“Pretende parar por aqui? Quer ver os outros Alraunes?”

“Não precisa, não há mais nada que me interesse por aqui. Eu vi o que queria ver. Vai
me levar para as Elfas agora?”

“É pra já!”

Respondeu Aura enquanto subia em cima de Fenrir juntamente com Ainz.

À medida que se aproximava de seu destino, ele podia ver entre os galhos a árvore um
tanto estranha que servia como residência de Aura e Mare.

Em poucos segundos, as árvores em seu caminho ficaram para trás, dando lugar a uma
vasta planície e, bem no centro, uma árvore gigante era vista. Sendo mais larga do que
alta, seu dossel exuberante projetava uma imensa sombra no chão.

Parados em frente a uma abertura no tronco da árvore estavam Mare e as três Elfas.

Estavam todos lá para receber Ainz.

Ele não tinha certeza de quando foram avisados por Aura. Se não fosse recente, pode-
riam estar há muito tempo esperando.

Isso foi devido a Ainz não agendar um horário com antecedência, então ficou bastante
envergonhado de si mesmo.

Para efeitos comparativos; digamos que um gerente de filial recebeu a notícia de que o
CEO da empresa principal estava para chegar no ponto de ônibus mais próximo, certa-
mente faria sentido estar o esperando para dar boas-vindas, caso não estivesse poderia
ser visto com indelicadeza. Porém, se o mesmo não especificasse horário, seria educado
por parte do CEO manter o gerente esperando-o por um dia inteiro?

Desse ponto de vista, Ainz era o culpado por não os informar com antecedência.

Ainz queria dizer a si mesmo que não teve culpa, mas uma vez que foi responsável por
tudo, ele realmente estava isento? Afinal, ele não tinha idéia de quanto tempo estavam
esperando sua chegada. Se tentasse se safar dizendo: “Vocês não precisavam me esperar”,
talvez magoasse seus sentimentos, pois não estaria dando valor ao empenho que tinham
tido.

Mare estava trajando sua roupa habitual. As Elfas, por outro lado, estavam vestidas com
roupas bastante simples. Ainz teria preferido se estivessem melhor vestidas, mas como
Aura e Mare decidiram, isso não era algo que ele poderia interferir.

Talvez seja o caso... Não importa, contanto que a Aura e elas estejam felizes com isso, não
vejo problema.

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


3 6
Mas há outro ponto... Lumière e as empregadas regulares podem não gostar desses uni-
formes de empregada.

As empregadas designadas para Ainz eram aparentemente mais orgulhosas do que suas
contrapartes. Portanto, caso fossem importar candidatas a empregadas domésticas,
mesmo que não fossem responsáveis diretamente por elas, empregadas regulares pode-
riam, por exemplo, serem informadas de tudo de errado que faziam. Isso segundo o re-
lato de Sebas a Ainz.

Embora as empregadas designadas para Aura e Mare pudessem não se encaixar nos
relatos de Sebas, ele não podia descartar completamente a possibilidade de desconten-
tamento por parte delas. Talvez se sentissem desconfortáveis cercadas por outras com
o mesmo uniforme que elas. Até onde elas sabiam, roupas de empregada eram equipa-
mentos de batalha.

Fenrir os trouxe para onde os quatro estavam.

“Agradeço por terem vindo nos recepcionar. Estou satisfeito com a lealdade de vocês.”

Ainz os cumprimentou enquanto ainda estava montado em Fenrir.

Embora provavelmente devesse ter ouvido o que Mare queria dizer, ele sentiu que agra-
decê-los primeiro possivelmente o colocaria em bons lençóis.

“Mu-muito obrigado!”

Mare sorriu e abaixou a cabeça. As Elfas seguiram o exemplo.

Isso é bom.

Ainz se deu um “toca aqui” mental, parabenizando-se por se comunicar bem.

Todos ali pareciam estar tensos tanto na postura quanto na expressão facial. Quando
sentiram o olhar de Ainz analisando-as, engoliram em seco.

Independentemente de quem olhasse, todas pareciam nervosas. A questão era se esta-


vam realmente com medo ou era outra coisa? Talvez fosse uma ansiedade por conside-
rar que qualquer movimento errado pudesse significar suas mortes e o nervosismo de
conhecer uma pessoa famosa em “carne” e osso.

Só por garantia, Ainz verificou se sua aura estava ativa. Como não demonstrou hostili-
dade ou intenção assassina, elas não deveriam temê-lo... correto?

Uma situação inesperadamente tensa. E eu achando que estava arrasando...

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


3 7
Quando alguém do calibre de Ainz exibia emoções fortes, aqueles ao seu redor se tor-
navam conscientes disso e ficavam sobrecarregados de medo. Em outras palavras, as
pessoas ao seu redor podiam estimar quais eram seus pensamentos. Para evitar isso,
Ainz procurou orientação de Cocytus, mas ainda não conseguia ler muito bem a intenção
hostil dos outros.

Ainz obrigou Cocytus, que detestava a idéia, a direcionar a intenção assassina para si e
acabou sentindo alguma pressão. No entanto, ele não tinha certeza se isso era a coisa
conhecida como intenção assassina. Talvez os undeads não fossem bons em sentir esse
tipo de coisa.

Os undeads eram completamente imunes a efeitos mentais, então talvez sentir a inten-
ção assassina pudesse ser contado como um tipo de efeito mental.

Todavia, Shalltear podia sentir normalmente essa sensação. Na ocasião, Cocytus disse:
“Talvez. Aqueles. Com. Grande. Habilidade. De. Guerreiro. Possam. Sentir. Melhor”. Ainz
pensou consigo mesmo que provavelmente deveria aprender a detectar essa sensação
como um de seus objetivos futuros. Ou talvez fosse apenas que Ainz seja muito bronco
para tamanha sensibilidade sensorial.

Opa — estou divagando de novo.

Mare começou a falar ao mesmo tempo em que Ainz começou a se recompor.

“H-mm, o-o senhor, Ainz-sama q-queria v-ver essas E-Elfas hoje, há algum problema?”

Embora Mare aparentasse mais tímido do que o normal, parece que ele já tinha ouvido
os detalhes de Aura. Isso facilitou as coisas.

Com um movimento exagerado, Ainz mudou sua linha de visão de Mare para as Elfas.
Por sua vez, elas encararam severamente seus pés, como se estivessem tentando escapar
de seu olhar. Estavam visivelmente abaladas.

Independentemente de como interpretasse, isso não parecia algo nascido apenas de


tensão.

É visível que estão com medo. Ainda estão de guarda alta, embora sejam subordinadas a
um par de crianças? Fala sério, após jurarem lealdade e viverem pacificamente aqui por
tanto tempo, teria sido ótimo se entendessem que esse undead aqui é diferente dos demais...
Bem, mas é pela minha aparência. Mesmo que suas mentes entendam, o mesmo não pode
ser dito de seus corações.

Nesse mundo, dizia-se que os undeads odiavam os vivos e eram considerados inimigos
de toda a vida. Portanto, era natural que elas estivessem em guarda e tremessem de
medo com um undead diante delas.

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


3 8
Talvez a reação delas fosse diferente se vivessem com Shalltear e se acostumassem com
os undeads, mas quase não havia essas criaturas no 6º Andar, então só restava aceitar
esse desenrolar de eventos.

—É como dizem, uma imagem vale mais que mil palavras.

Isso era especialmente válido em YGGDRASIL. Técnicas categorizadas como habilida-


des de jogador eram mais fáceis de entender vendo-as diretamente do que apenas ou-
vindo uma explicação verbal. Claro, também precisava-se praticar algumas vezes— não,
centenas de vezes para aprender.

“—Não há problema algum, Mare. Eu quero fazer uma... quero dizer, algumas perguntas
para essas três que estão atrás de você.”

As Elfas começaram a hiperventilar cada vez mais rápido.

Não havia a menor necessidade de terem tanto medo, Ainz queria dizer do fundo de seu
coração. Mas infelizmente, ele não podia simplesmente dizer todo contente “nada a te-
mer, galerinha”. Afinal, não podia sair do seu personagem de “Supremo Governante de
Nazarick, Ainz Ooal Gown”, contudo, seria problemático se elas não se sentissem à von-
tade.

“...Não há necessidade de estarem tão tensas. Eu não vim para lhes fazer mal.”

Ele queria continuar com “então fiquem à vontade”, mas parou depois de considerar
que ele mesmo não acreditaria se estivesse no lugar delas. Se um CEO convidasse ele e
outros funcionários para uma reunião informal, ele tinha sérias dúvidas que haveria al-
guém capaz de ignorar a hierarquia com tanta facilidade.

Haah. Que situação chata...

Embora soubesse que seria uma péssima jogada, de repente ele sentiu vontade de lan-
çar 「Dominate」. Isso porque não estava confiante de que poderia convencê-las ou
fazê-las se sentirem à vontade.

Isso porque se lembrariam dos dizeres e do que fizeram mesmo depois que a magia
terminasse. Além disso, o uso de magia de controle mental é considerado de teor bárbaro
em outros países.

Ele não sabia como as Elfas interpretariam, mas certamente não achariam agradável.

Na verdade, se algo assim fosse usado em alguém de Nazarick, até mesmo Ainz ficaria
possesso, esperando por uma oportunidade para matar seja lá quem o fez.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


3 9
Obviamente, Ainz não hesitaria em usar para reunir informações importantes. Ele es-
taria disposto a lançar 「Control Amnesia」 sem sequer hesitar.

Mas hoje não havia necessidade de ir tão longe. Não é como se ele tivesse certeza de
que fizeram algo ruim ou estavam escondendo informações.

—Zen...beru? Naquela época foi diferente. Se eu usar magia para obter informações que
eu posso obter apenas dialogando, isso levantaria dúvidas sobre as habilidades de Aura e
Mare.

Os gêmeos, ou melhor, todos na Grande Tumba de Nazarick nutriam lealdade eterna a


Ainz; todos acreditavam que tudo o que ele fizesse seria correto e isso, segundo Ainz, era
uma atitude deveras perigosa.

Justamente por isso, Ainz não queria dar a impressão de estar insatisfeito com o traba-
lho deles. Ele não conseguia pensar nas ramificações negativas que esse mal-entendido
poderia levar, até porque, não era como se estivesse insatisfeito com o trabalho deles.

E se fosse para usar magia de controle mental, ele deveria tê-lo feito muito tempo atrás.

Ele optou por não fazer quando foram capturadas porque queria torná-las aliadas de
pura e espontânea vontade — ele queria ser visto como seu salvador. Considerando que
investiu nelas a este ponto, usar magia de controle mental seria como jogar o trabalho
de anos no lixo.

“—Hum. Antes de tudo, creio que aqui não é bom para conversarmos. Vamos para outro
lugar.”

Como não estava confiante em abrir seus corações através das palavras, ele poderia
simplesmente usar um método diferente. Essencialmente, uma mudança de lugar se fa-
zia necessária.

“Nesse caso, melhor a gente entrar!”

“S-sim! Por favor, entre!”

“Aa—”

Ainz olhou para cima — em direção à gigantesca árvore.

Como pensaram que esse lugar seria adequado para isso?

Em certo sentido, era certo afirmar que ainda estavam no território dos Elfos, então
qual diferença seria conversar aqui fora ou lá dentro? Se entrassem, quem iria preparar
as bebidas? Seriam Aura e Mare? Ou talvez Lumière, já que ela estava presente?

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


4 0
Até que não é tão ruim. No final, a única diferença é se a conversa ocorreria em uma at-
mosfera harmoniosa ou tensa. Ou abrem a boca por boa vontade ou por pressão. Hmmm,
não posso perder muito tempo nisso. É estranho e olha que já pensei em tudo e simulei suas
perguntas e respostas... como fiz no Reino Dwarf e no Reino Sacro... Será que estou per-
dendo o jeito ultimamente?

Como foi convidado, ele deveria responder o mais rápido possível. Infelizmente, sem-
pre acabava pensando coisas demais em tais situações.

...Por falar nisso, nunca vi as empregadas regulares oferecendo bebidas aos convidados
sem que eu pedisse. N-não, acho que já fizeram isso... uma vez... talvez.

Não era que elas mesmas preparassem as bebidas. Outrora, quando Ainz as pediu, elas
imediatamente forneceram um leque de sabores. Então provavelmente estavam arma-
zenados em algum lugar nos aposentos de Ainz. As empregadas regulares estavam tra-
balhando com afinco todos os dias para tornarem-se empregadas perfeitas. Era difícil
pensar que esqueceriam ou seriam apenas insensíveis a tais necessidades.

Assim sendo, certamente pensavam que; como Ainz não bebia, os outros também não
deveriam. Era semelhante a como dificilmente um funcionário bebesse algo se o CEO não
o fizesse.

Segundo seu modo de agir, a maneira correta de etiqueta seria; prepararem bebidas
para Ainz — mesmo cientes de que ele não era capaz de beber — e, após oferecerem
para seu mestre, as forneceriam para os demais.

Espero que todos os convidados que já tive me desculpem por isso...

Ele decidiu que mais tarde conversaria com Pestonya a respeito, pois estava ficando
frustrado por estar desperdiçando tanto poder cerebral em coisas não relacionadas a
esta reunião.

Calma aí, não é nisso que eu deveria estar pensando. Eu deveria decidir o lugar para be-
bermos algo. Os gêmeos vão pensar que eu não gosto de tomar chá na casa deles se eu ficar
enrolando mais. Ai sim vai ser um pé no saco. Mas—!

Consternado, Ainz olhou ao redor.

“Ah!”

Ainz firmou seus ombros para não tremerem com o repentino chamado de Aura. Sua
mente também foi forçosamente limpa de pensamentos excessivos com esse susto.

“Ainz-sama, tá pensando em ter a conversa em outro lugar no Sexto Andar?”

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“Hum, mh. Correto. O clima está tão aprazível, então estava pensando que talvez devês-
semos fazer isso ao ar livre.”

“Já que é assim, vou fazer os preparativos. Tem uns guarda-sóis e uma mesa por aqui!
Lembro que eram as coisas que a Bukubukuchagama-sama usava quando tinha que con-
versar com os outros Seres Supremos! A gente pode usar. Há uma casa vazia na vila.
Além disso, eu ainda não te mostrei, mas há um gazebo aqui também, Ainz-sama!”

“Lembro-me de fazer isso com os outros.”

Ainz de repente se lembrou de quando se reunia com seus companheiros para jogar
conversa fora.

—Sinto que ando me lembrando deles cada vez menos ultimamente.

Talvez fosse porque ele parou de ver os resquícios de seus companheiros nos NPCs.
Poderia ser porque estava lentamente esquecendo seus ex-companheiros ou talvez ele
tenha começado a ver os NPCs cada vez mais como entidades próprias. Seria bom se
fosse o último caso, mas seria triste se fosse o primeiro.

Todas as melhores e mais agradáveis memórias de Suzuki Satoru tinham a ver com seus
ex-companheiros.

—Não é isso! Não são memórias passadas! A Ainz Ooal Gown ainda está aqui! Ainda
está viva!

Ainz soltou um suspiro enquanto seu coração queimava com emoções que não conse-
guia descrever. Em seguida, ele olhou para Aura e Mare.

...Ainda hoje em dia penso... como vocês se sentiram quando todos foram abandonando a
Guilda... Não, eles ainda eram NPCs naquela época. Se naquele momento eu... opa.

Ele balançou sua cabeça.

Seus pensamentos estavam muito dispersos hoje. Ele tinha que se certificar de que esse
plano fosse bem-sucedido.

Ainz olhou ao redor novamente, parecia que ninguém havia notado que algo estranho
tinha ocorrido com ele.

Provavelmente estavam pensando que estava refletindo a respeito da proposta de Aura.


Agora era um bom momento para selar de vez seus pensamentos.

“Bem... Não que esse Andar seja ruim, mas esta é uma ocasião tão rara, podemos muito
bem conversar em outro lugar. Talvez seja bom que vocês conheçam melhor as terras
onde habitam.”

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


4 2
Se quisesse contar com a boa vontade delas, seria melhor ir para um lugar onde esti-
vesse mais familiarizado, mas ele só queria sair daqui.

Nesse caso, onde mais ele poderia ir? Havia duas opções. Uma era E-Rantel. A outra era
o 9º Andar de Nazarick.

Daria uma boa impressão se as Elfas vissem as várias raças coexistindo em E-Rantel,
mas ele não podia garantir que tudo correria bem. Se algo violento ocorresse, ele as pro-
tegeria, desse modo ganharia mais confiança por parte delas. Entretanto, seria proble-
mático se alguém fizesse algo capaz de dar uma impressão negativa às Elfas. Por exem-
plo, se alguém fizesse uma ceninha de escândalo acusando o Rei Feiticeiro de ser a raiz
de todos os males.

Se fosse para manipular os resultados, talvez ele pudesse controlar alguns humanos e
fazê-los agir para que tudo ocorresse bem, mas isso só deixaria as Elfas desconfiadas.

Em suma, Ainz era uma fonte de medo em E-Rantel. Embora houvesse pessoas que o
admirasse, eram minoria. Infelizmente a proporção era algo como 70|30. Portanto, seria
uma má idéia se as deixasse ver que o povo o temia. Além disso, havia a possibilidade de
as Elfas interpretarem que as várias raças de E-Rantel foram levadas para lá para serem
escravas.

Pensando bem... melhor ir no Nono Andar. Nesse caso, em qual parte?

Deveria ser seus aposentos, assim ele aproveitaria e treinaria Lumière em fornecer re-
frescos?

Ainz ponderou.

Beber algo na sala do CEO ou beber algo em uma lanchonete. Qual deles o deixaria mais
à vontade se estivesse no lugar delas?

“Creio que sei de um lugar perfeito. Não vamos perder mais tempo. Iremos para o Nono
Andar. Existe um excelente refeitório lá. É bem melhor conversar almoçando — já almo-
çou, Mare?”

“N-não, ainda não”

“Vejo que cheguei em bom momento.”

Na verdade, Ainz também estava tentando conquistá-las enchendo seus estômagos.

Como demorou para chegar, ele estava preocupado que já tivessem terminado o almoço.
Por outro lado, como não foram informadas de antemão de sua chegada, elas sequer po-
deriam ter tido tempo de almoçar, afinal, não sabiam a hora exata em que ele chegaria.

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4 3
“Bom. Então vamos conversar enquanto almoçamos.”

Ainz olhou para as Elfas:

“O que me dizem?”

As Elfas começaram a entrar em pânico, tentando empurrar a resposta uma para a ou-
tra. A do meio acabou respondendo, mas foi mais por ter sido pressionada de ambos os
lados do que se prontificar voluntariamente como representante.

“S-sim. Se Aura-sama e Mare-sama não se incomodarem.”

Certamente não era algo que ele pudesse decidir sem perguntar aos gêmeos.

“Se não for problema, quero levá-las ao refeitório. O que acham? Eu quero que vocês
dois venham também, se possível.”

“Pra gente tá ótimo! Né, Mare?

“Uh, nn. Ah, não, digo, sim. Eu estou bem com isso, assim como a onee-chan disse.”

“Perfeito. Vejamos—”

Ainz olhou para as Elfas.

“Vou lançar 「Gate」.”

Parte 2

Primeiro retornaram à entrada do 6º Andar com 「Gate」. Então, Ainz enviou uma
「Message」 para Aureole abrir um portal para o 9º Andar. Naturalmente, o portão en-
tre o 8º e 9º Andar funcionava sem problemas. Se não fosse esse o caso, era altamente
provável que o sistema Ariadne fosse acionado.

Realmente não havia necessidade de pegar este caminho indireto. Embora ele não pu-
desse teletransportar todos para lá de uma vez devido ao limite de capacidade do Anel
de Ainz Ooal Gown, ele poderia ter feito a viagem duas vezes. Foi apenas a extrema cau-
tela de Ainz que o fez passar por todos esses problemas apenas para dar às Elfas a im-
pressão errada. O fato era que ele estava extremamente relutante em mostrar as habili-
dades do anel para as forasteiras.

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


4 4
Os subordinados de Cocytus, que estavam de guarda, curvaram suas cabeças profunda-
mente com a chegada de Ainz.

“—Obrigado por seu trabalho.”

Ainz deu-lhes uma rápida saudação magnânima, condizente com as gravitas de um go-
vernante.

Seguindo Aura e Lumière, as três Elfas saíram do portal e se agruparam. Elas ficaram
atônitas no momento em que viram os monstros se curvando para Ainz.

Não era como se os vassalos de Cocytus estivessem sendo hostis. Essa foi uma reação
natural, era o mesmo se uma pessoa normal passeasse por uma floresta e do nada visse
um tigre surgindo de um arbusto.

Uma das Elfas recuou um pouco.

Sua falta de ação diante da entrada estava incomodando Mare, que caminhava atrás
delas. Mesmo que ele tenha apenas a empurrado levemente (restringindo muito de sua
força), foi fatal para o senso de equilíbrio da Elfa já bastante tensa.

“Ai...” lamentou enquanto caía miseravelmente no chão. As outras Elfas ficaram pálidas,
embora imediatamente tentassem levantá-la, a Elfa caída teve problemas para se reer-
guer. Parecia que todas as forças tinham fugido de suas pernas.

“...Não tenha medo. Em Nazarick não há ninguém que ousaria lhes machucar.”

“S-sim...”

Dificilmente estavam duvidando das palavras de Ainz, mas mesmo assim, sua tensão
não diminuiu. As Elfas ao lado dela estavam balançando a cabeça rapidamente, seus ca-
belos eram jogados de um lado para o outro rapidamente devido à imensa velocidade
com que faziam. Quanto à Elfa ainda no chão, parecia que ela estava à beira das lágrimas.

Ainz poderia dizer com confiança que teria problemas se isso continuasse. Ele tinha que,
no mínimo, acalmar um pouco seus corações.

“...Vamos descansar um pouco antes de irmos para o refeitório... 「Gate」. Aura, pegue-
a.”

“Beleza!”

“N-não há necessidade de fazer algo assim, Aura-sama...”

“—Tá tudo bem, Relaxa aí. Vem cá.”

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


4 5
Aura rapidamente levantou a Elfa, ignorando suas súplicas, e a colocou sobre o ombro.
Em adendo, como ela usava uniforme de trabalho, não havia como espiar por debaixo de
sua saia.

O lugar conectado pelas extremidades escuras do「Gate」 era os aposentos de Ainz.

Em seu interior havia três empregadas curvadas com equipamento de limpeza.

“Vejo que estão fazendo um bom trabalho. Não vou demorar muito, vim apenas descan-
sar um pouco. Eu não me importo se continuarem com seu trabalho.”

As empregadas responderam afirmativamente e se curvaram novamente enquanto os


demais convidados saíam do 「Gate」.

Boquiabertas, as Elfas começaram a observar o ambiente, pareciam um bando de idio-


tas. Aparentemente acharam tudo ao seu redor bastante exótico, diferente da casa dos
gêmeos. Também pareciam menos tensas em comparação com antes, provavelmente
porque as empregadas regulares eram muito mais agradáveis do que os vassalos mons-
truosos de Cocytus.

“Aura. Deixe-a sentar naquela cadeira ali.”

Depois que Ainz apontou para a cadeira de Albedo, Aura rapidamente colocou a Elfa lá.
A mesa de Albedo estava impecável como sempre. A propósito, a mesa de Ainz também
estava impecável, embora em um sentido diferente da palavra.

“Mu-muito obrigada...”

Ainz tentou falar o mais gentilmente possível para a Elfa sentada e cabisbaixa:

“Não há de quê. Eu posso entender seu choque, mas como eu disse antes, pode relaxar.
Ninguém em Nazarick faria mal a você, então peço que fique menos tensa.”

Bem, não é como se essas palavras trouxessem alívio imediato e milagroso.

Ainz virou as costas para as Elfas, foi até uma das empregadas e deu uma ordem em
tom de voz bem compassivo:

“Em breve vamos ao refeitório. Certifique-se de que não encontraremos ninguém, ex-
ceto as empregadas durante nosso caminho até lá. Faça a mesma coisa no refeit...”

Refeitório, ele queria dizer, mas em vez disso:

“Ignore essa última parte. Não há nenhum problema com o refeitório sendo usado como
de costume. Em vez disso, seria melhor usarem-no como fazem normalmente.”

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


4 6
“Sim, irei imediatamente. Com sua licença.”

“Sinto muito por interromper seu trabalho, conto com você.”

“Não há o que desculpar, Ainz-sama.”

Ele a abordou porque era a empregada que estava mais perto, mas o modo como ela
olhava vitoriosa para suas colegas, deu a entender que ela pensava diferente. Suas cole-
gas franziram um pouco a testa com inveja tangível.

A empregada recém-ordenada deu meia-volta para suas colegas e saiu da sala a passos
largos.

Ainz podia sentir — o que deveria ser raro para alguém de sua raça — as outras em-
pregadas olhando fixamente para suas costas. Sem dúvida, seus olhos estavam cheios de
expectativa ansiando por qualquer ordem especial. Aliás, ele não conseguia perceber
nada de Lumière, provavelmente porque ser sua dama de companhia já denotava um
cargo especial por si só.

Parecia que ele estava pisando em ovos (obviamente as empregadas não tiveram inten-
ção de causar isso), Ainz se forçou a desviar o olhar das empregadas para as Elfas.

Ele confirmou que agora respiravam normalmente.

“Parece que não há mais problemas... vamos indo então.”

Ele não queria apressá-las, pois achava que seria forçoso, mas também não queria per-
der tempo demais aqui.

Depois que confirmou que a Elfa poderia andar novamente, Ainz assumiu a liderança e
saiu da sala. As empregadas foram sumariamente ignoradas, deixadas com olhares des-
gostosos para trás.

Enquanto estavam a caminho do refeitório, às vezes ele podia ouvir os suspiros de ad-
miração das Elfas atrás dele, dizendo “Incrível” e “Que lindo”.

Ainz queria se gabar, mas se conteve e continuou a avançar sem olhar para trás.

Eles finalmente chegaram ao refeitório sem encontrar nenhum outro NPC ao longo do
caminho. O trajeto demorou mais do que o normal por causa da lentidão das Elfas estu-
pefatas — também porque Ainz diminuía o passo enquanto passavam pelos lugares que
ele tinha orgulho especial. Resumindo, não houveram outros incidentes.

O refeitório de Nazarick foi criado com base nos refeitórios de empresas e escolas. Cu-
riosamente, nem a escola que frequentou ou a empresa que trabalhou tinha um lugar

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


4 7
assim, então ele não sabia se era uma representação acurada. Em contrapartida, seu am-
biente era um pouco diferente de um restaurante.

Esta foi a primeira visita de Ainz desde a época em que visitou todos os estabelecimen-
tos em Nazarick, logo depois que vieram parar nesse mundo, mas parecia que nada havia
mudado muito. Ele podia ouvir burburinhos das moças envolvidas em conversas anima-
das, assim como o som de talheres.

Provavelmente estava cheio de empregadas regulares e outros que também trabalha-


vam no 9º Andar. Talvez houvesse Guardiões de Área presentes. Era um pouco tarde
para o almoço, mas talvez devido ao sistema de turnos o local ainda estava animado. Se
pudessem ver as empregadas almoçando pacificamente, as Elfas deveriam entender que
tipo de lugar era aquele. Elas poderiam sentir-se deslocadas, mas ainda assim, essa at-
mosfera do dia a dia deve acalmá-las. Foi por isso que ele não ordenou que esvaziassem
o refeitório.

Mas no momento em que Ainz entrou, o clima mudou de repente.

Primeiramente, ficou em completo silêncio.

As vozes alegres de antes e os sons animados dos que se banqueteavam desapareceram


completamente. O clima ficou frígido, estava completamente inadequado para um refei-
tório.

Então — Todos encararam Ainz, seus olhos prestavam atenção, enquanto seus corpos
não moviam um músculo.

Era como se ele fosse um forasteiro.

Como se fosse um heteromorfo com carma negativo que acabou de entrar em Alfheim.

“—Não se importem conosco. Continuem com o seu almoço.”

Alguns aqui e ali, principalmente as empregadas regulares, começaram a comer nova-


mente ao ouvir o que Ainz disse, mas não havia indicação de que as animosidades retor-
nariam. Todos comeram em silêncio.

Ainz não queria interromper o almoço de ninguém. Ele começou a se sentir um pouco
isolado, mas, pensando bem, não era como se não pudesse entender como se sentiam.

Se um CEO que nunca tinha visitado até agora aparecesse de repente no refeitório, pro-
vavelmente seria assim. Suzuki Satoru faria o mesmo nessa situação. Quem sabe fosse
diferente se fosse uma microempresa, daquelas em que patrão e funcionário fossem
mais próximos.

No meu caso, é praticamente impossível...

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


4 8
Seria extremamente difícil mudar de repente sua imagem como o “admirável ditador
Ainz-sama” para o “Ainz-san amigão da vizinhança”.

Talvez se descobrissem que ele era um idiota, tal mudança poderia ser possível, mas ele
não conseguia se ver suportando o desprezo de todos (o que era improvável).

“Bem, vamos entrar.”

Virando-se para o trio, Ainz tentou observar discretamente as reações das Elfas.

Nem precisou de muito tempo para notar como seus ânimos haviam despencado. Algo
compreensível. Elas certamente notaram que antes havia um clima harmonioso no re-
feitório. Foi isso que ele quis dizer com “o súbito heteromorfo em Alfheim”.

Não havia como reverter, pelo menos ele não conseguia pensar em um modo.

Talvez se acostumem com o tempo, Ainz entrou no refeitório com pensamentos não tão
otimistas.

Ele não queria deixar as empregadas ainda mais tensas, então se aproximou de uma
mesa aleatória mais afastada e apontou para o assento em frente ao seu.

“Sentem-se.”

As Elfas começaram a se olhar com expressões perturbadas. Deu a entender que esta-
vam tentando decidir quem ficaria presa com o ônus de sentar diante de Ainz. Essa con-
clusão fez muito sentido.

“...Entendi. Talvez os costumes élficos sejam diferentes dos nossos, então vamos manter
a informalidade e não nos preocupemos com isso.”

Ele tentou jogar um verde, agindo como se interpretasse sua hesitação de forma dife-
rente. Não seria bom se hesitassem muito, ele também temia a reação dos gêmeos se elas
ficassem muito indecisas.

“Por favor, pode se sentar à minha frente.”

Ainz apontou para a Elfa de pé na parte de trás. Se bem lembrava-se, ela sempre ficava
mais atrás, então achava justo que ela fosse a escolhida para ficar de frente a ele.

Honestamente, Ainz não queria ser tratado como uma espécie de fardo. Dito isso, como
alguém que entendia seus sentimentos muito bem, ele decidiu ser prático.

Foi rápido depois disso.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


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Os assentos ao lado da Elfa escolhida foram imediatamente ocupados. Aura e Mare sen-
taram-se ao lado de Ainz.

Ele queria dizer muitas coisas sobre o fato de Lumière estar de pé atrás dele, mas deci-
diu ficar calado.

“Bem... esta é a minha primeira vez usando o refeitório, então me explique um pouco
sobre como funciona.”

Ainz perguntou à Lumière, pois, como uma empregada regular, ela certamente usou o
refeitório exatamente como suas colegas empregadas estavam fazendo agora.

“Vou pedir— já sei. Eu quero pedir bebidas, há algum tipo de cardápio?”

“Há bebidas gratuitas e um sistema de buffet. Há um self-service de bebidas e saladas


simples bem ali.”

Olhando para onde Lumière apontava, ele podia ver uma fileira de jarras que pareciam
conter as bebidas. Ao lado havia uma pilha de pratos.

“Também é possível selecionar pratos do cardápio.”

“Interessante...”

“Como o chef está na cozinha, acredito que ele irá preparar qualquer prato que o senhor
desejar, Ainz-sama.”

“Ele está aqui? Mas não há necessidade. Se houver um cardápio fixo de almoço, vamos
apenas selecionar os pratos de lá.”

Lumière entregou uma folha de papel.

Era um cardápio com inscrições em japonês. As Elfas provavelmente não seriam capa-
zes de ler isso. Sendo assim—

“...Já ouviram falar de Katsudon?”

As Elfas negaram.

“...Aura, Mare, o que essas Elfas costumam comer?”

“Apenas a comida normal, ué?”

“S-sim. N-na maioria das vezes, é o m-mesmo que o nosso.”

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


5 0
Nesse caso, os gêmeos nunca provaram katsudon? Não, eles geralmente recebiam suas
refeições pelo delivery interno e também podiam vir almoçar aqui quando quisessem.

“Você nunca comeu katsudon?”

“A gente já comeu. Provavelmente é só que elas não sabem o que é pelo nome.”

“Ah, então é isso...”

O cardápio não tinha nenhuma imagem anexada, então era lógico que não podiam fazer
uma associação entre aparência e nome.

Ainz queria pedir “a recomendação do chef”, mas temendo a situação em que lhe diriam
que tudo era recomendado, ele decidiu não o fazer.

“A propósito... isso me lembra de algo. Vocês costumam comer carne?”

Depois que viu as Elfas assentirem, Ainz selecionou um item do cardápio.

“Gostaria de bife de hambúrguer para todos.”

“Quanto aos molhos, há demi-glace, molho japonês e molho de creme de mostarda. O


senhor também pode selecionar arroz ou pão para acompanhar.”

“...Que tal pão e demi-glace?”

Ele sabia como era demi-glace e molho ao estilo japonês, mas se perguntou qual seria o
sabor do creme de mostarda.

O fato de não poder saboreá-los devido a seu corpo era lamentável.

“Quero!”

“E-eu também. O-o mesmo para m-mim.”

Seguindo as vozes enérgicas dos gêmeos, as Elfas também concordaram rapidamente.


Parecia que não havia objeções.

“Então, esse será o meu pedido.”

Ufa.

Ainz respirou fundo. Não parecia que Lumière iria à cozinha retransmitir o pedido, Ainz
se perguntou o porquê. Talvez alguém que estivesse trabalhando aqui viesse receber.

“Em relação às bebidas, Ainz-sama?”

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


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“—Oh. Me esqueci completamente. Cada um peça o que quiser. Todos concordam?”

“Sim. Então eu mesma terei a honra de escolher sua bebida, Ainz-sama. O que será?”

“Algo adequado— ah, melhor ainda, traga-me um café quente.”

“Como desejar.”

Os outros foram buscar suas bebidas com Aura liderando o bando.

Subitamente, a cozinha ficou barulhenta depois que Lumière entregou o pedido para
alguém.

Enquanto olhava na direção, alguém saiu da cozinha.

Havia um cutelo gigante pendurado em sua cintura e um imenso wok nas costas. Seu
torso estava nu, exibindo um corpanzil com uma imensa tatuagem em seu peito, onde
lia-se “Carne Fresca!!”. E, por fim, uma corrente de ouro no pescoço.

Embora seu rosto possa parecer o de um Orc, ele era um Ork, uma espécie semelhante
que estava muito mais próxima das feras selvagens.

Havia uma toque blanche branca em sua cabeça e um avental, também branco, em volta
da cintura.

Este homem era o Guardião de Área do refeitório e o supracitado Head Chef de Nazarick.

Shihoutu Tokitu.

Ele rapidamente correu para Ainz e genuflectiu assim que chegou.

Isso não vai sujar suas roupas? Foi a primeira coisa que Ainz pensou ao ver a cena.

“Ainz-sama! Seja muito bem-vindo!”

“Há quanto tempo, Shihoutu Tokitu. Fico feliz em ver que é o mesmo de sempre.”

“HAH!”

Embora Ainz tenha dito que não tenha mudado nada, a última vez que o encontrou foi
quando visitou todos os NPCs. Como fazia tanto tempo, ele não estava exatamente con-
fiante em perceber mudanças, isso se tivesse acontecido alguma.

“Parece que você andou emagrecendo, ou é impressão minha?”

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


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“Se Ainz-sama acha isso, então é a verdade!”

Não é para pensar assim!

Ainz engoliu suas palavras.

“Percebi a ausência do seu pedido, Ainz-sama... mas agora eu entendi tudo!”

Um sorriso másculo — embora ele não pudesse ter certeza, pois não entendia as ex-
pressões de bestas-feras — brotou no rosto de Shihoutu Tokitu.

Nada disso, você não entendeu foi nada, pensou.

Finalmente alguém tinha entendido as intenções de Ainz? Lamentavelmente, ele não


julgava ser o caso.

“Eu devo preparar um prato adequado para um Ser Supremo, para o Supremo Gover-
nante de Nazarick, Ainz-sama!”

Enquanto Ainz mentalmente murmurava “Lá vai ele inventar moda!”, Shihoutu Tokitu
levantou-se com vigor e gritou na direção da cozinha.

“A partir de agora é vai ou racha! Façam um prato adequado para o Ainz-sama! Declaro
que começou o festival de comida, e digo mais; não vai parar por pelo menos uma se-
mana!”

“Oooooh!” sons de admiração vieram das empregadas que ouviam atentas.

“Ei, volta aqui.”

“HAH!”

Shihoutu Tokitu voltou para Ainz e novamente genuflectiu.

Era difícil dizer isso para alguém berrando sem parar “Eu vou fazer isso! Vou fazer
aquilo!”. De modo geral, Ainz costumava concordar com os desejos dos NPCs, mas isso
já era abusar de seu bom senso.

“...Parece que houve um problema de comunicação. Apenas confirmando, você sabe que
eu não posso comer devido ao meu corpo, certo?”

“HAH! Então devemos fazer algo que possa ser apreciado pela visão e pelo olfato! É isso
que o senhor tem em mente, não é, Ainz-sama! Entendido!”

Ainz chamou a atenção de Shihoutu Tokitu enquanto ele tentava se levantar:

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


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“Ei, volta aqui.”

“HAH!”

“Não seja precipitado. Estou tentando dizer que não posso comer, então não desperdice
nenhum ingrediente”.

“O que está dizendo Ainz-sama!? Nenhum ingrediente usado para servi-lo poderia ser
considerado um desperdício! Mentiras eu não digo!”

Disse Shihoutu Tokitu enquanto levantava-se e olhava para o refeitório. Isso provocou
uma salva de palmas. Não apenas as empregadas, mas até mesmo Aura e Mare se junta-
ram ao coro. Em pânico, as Elfas rapidamente fizeram o mesmo.

Vocês não precisam imitar até isso...

Ainz resmungou internamente.

“Se me der licença, vou começar imediatamente!”

“Ei, volta aqui.”

“HAH!”

Ainz juntou toda a honestidade de seu ser e falou para o já genuflectido Shihoutu To-
kitu:

“Veja bem. Eu não vim aqui para comer. Eu vim para ter uma conversa agradável— en-
tendeu, uma conversa agradável. Eu sei que deseja me dar boas-vindas com o melhor de
suas aptidões culinárias, mas no momento não faço questão. Entende que eu apenas de-
sejo ter uma conversa calma com minhas convidadas?”

Ainz podia entender o porquê Shihoutu Tokitu estava tão fanaticamente motivado. Al-
guém como o governante de Nazarick, que raramente visitava o lugar, estava presente.
Ele provavelmente só queria dar as melhores boas-vindas possíveis, mas não era para
isso que viera.

“HAH! Então vou deixar todas as mesas reservadas para o senhor!”

“Ei, volta aqui.”

“HAH!”

“Não faça tempestade em um copo d’água. Vou repetir só mais uma vez, só vim aqui
para bater um papo. Não há necessidade de exageros, entendeu?”

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Ainz deu uma olhada rápida para os outros — especialmente as Elfas — e notou que
estavam apenas olhando para ele com expressões sérias.

As empregadas já estavam meio afastadas de seus assentos, preparadas para sair a


qualquer momento. Os gêmeos agiam como se isso fosse normal, enquanto as Elfas pa-
reciam estar com medo de que a situação saísse de controle. Mesmo que ele tenha sele-
cionado esse lugar especificamente porque não queria que as Elfas se sentissem assim—

“—Não é falsa modéstia, eu só vim aqui para isso. Continue o que estava fazendo an-
tes. Por favor, me trate como faria com qualquer outro hóspede.”

“HAH! Mas! Tratar um Ser Supremo como o senhor da mesma forma que os outros!?”

Ainz não poderia ser culpado por usar meios dissimulados. Ele limpou a garganta e mu-
dou seu tom para soar mais sério.

“—Shihoutu Tokitu.”

“HAH!”

“Estou dizendo que quero que esse lugar fique do mesmo jeito que estava quando entrei.
Se fez seus afazeres da forma correta, por que eu precisaria pedir algo a mais? Ou está
tentando fazer um prato especial porque tem algo a esconder?”

Shihoutu Tokitu engoliu em seco e fez uma expressão cheia de determinação (ou era o
que parecia para Ainz).

“Me permita a palavra, Ainz-sama! Seu humilde servo, a quem foi confiado esse local
pelo Ser Supremo Amanomahitotsu-sama, nunca fez uma única coisa que lhe causasse
vergonha!”

“Eu sei.”

Shihoutu Tokitu parecia intrigado com a resposta instantânea.

“Mesmo que eu não passe muito tempo aqui, posso ver que você é dedicado ao seu tra-
balho e é verdadeiramente leal àqueles que chama de Seres Supremos. Minhas palavras
foram bastante impensadas. Permita-me uma retratação, peço que me desculpe.”

Ainz inclinou a cabeça.

“HOH! Ainz-sama! Não faça isso, eu imploro! Um Ser Supremo como o senhor se cur-
vando para mim! Por favor, erga seu nobre rosto!”

Ainz lentamente levantou a cabeça e olhou diretamente para Shihoutu Tokitu.

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


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“Shihoutu Tokitu. Estou feliz que aceitou minhas desculpas. Mas eu quero que entenda.
Eu só quero ter uma conversa e dar uma olhada em como você e esse lugar são no dia a
dia. Apenas me trate como um convidado normal.”

Shihoutu Tokitu resmungou um pouco, mas ele aparentemente chegou a um acordo


consigo mesmo e assentiu.

“Entendido.”

“Ótimo, é assim que eu gosto. Pode chegar o dia em que convidaremos VIPs — pessoas
importantes de outros lugares — para Nazarick. Quando este dia chegar, você poderá
mostrar todo o seu talento culinário, estarei contando com você.”

“HAH! —M-mas o senhor se curvou para mim...”

“Meu arrependimento por duvidar de você me levou a fazer isso, mas também pode
considerar como meu pedido de desculpas ao Amanoma-san, que confiou a você esse
lugar.”

Shihoutu Tokitu deu um sorriso sem graça, uma expressão de derrota diante de tal ex-
plicação. Como se nada tivesse acontecido, ele imediatamente voltou à sua expressão
habitual. Claro, todos os ditames acima eram exatamente o que parecia do ponto de vista
de Ainz.

“—Nesse caso, Ainz-sama, com sua licença, eu vou voltar ao trabalho.”

Ainz observou as costas de Shihoutu Tokitu quando ele saiu e levantou a voz um pouco
para que alcançasse todos no refeitório.

“Desculpem-me pelo incômodo. Espero que todos voltem a almoçar sem se preocupar.”

Como se estivessem substituindo a presença de Shihoutu Tokitu, Aura e as outras vol-


taram para a mesa. Em algumas das mesas aqui e ali, as empregadas começaram a comer
novamente. Parecia que a atmosfera estava menos tensa agora. Aparentemente o inci-
dente com Shihoutu Tokitu ajudou a aliviar um pouco o clima.

Aura e companhia seguravam suas bebidas preferidas enquanto Lumière servia o café
de Ainz.

Ele podia sentir a fragrância rica do café, um cheiro misterioso com notas de algum tipo
de fruto silvestre.

YGGDRASIL nunca teve colaborações com marcas famosas, mas tinha muita variedade
de itens e alimentos. Os jogos normais provavelmente só colocariam um simples “grão
de café”, mas YGGDRASIL tinha muitas variedades. Cada uma também foi classificada de
forma diferente, com as de maior nota trazendo os melhores efeitos da comida.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


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Portanto, os grãos do inventário de Nazarick eram de boa qualidade e esse café deveria
estar delicioso.

Só o aroma já me diz que é um café de qualidade. Mas será que o gosto é frutado?

Enquanto melancólico por seu corpo não ser capaz de provar, Ainz esperou até que to-
dos tomassem seus lugares para falar.

“Bem, vamos conversar enquanto saboreamos nossas bebidas.”

Duas das Elfas tinham refrigerante de melão enquanto a outra tinha chá verde com gelo.
Seguindo as palavras de Ainz, elas tomaram um gole. A dupla do refrigerante de melão
piscou surpresa, levando as mãos à boca. Dada à reação, certamente acharam delicioso.

“Uau, que gostoso.”

“Tão doce.”

As duas rapidamente esvaziaram seus copos. Ainz estava contando que isso aconte-
cesse. Ele falou gentilmente com elas:

“—Que tal pegarem mais?”

“Podemos mesmo? Por favor, deixe-nos fazer isso.”

As duas imediatamente assentiram e se dirigiram à seção de bebidas. Praticamente an-


davam saltitantes.

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


5 8
“Fico feliz que elas gostaram.”

“Ah, sim.”

Ainz falou com a Elfa restante. Ela provavelmente também estava interessada em suas
bebidas, pois rapidamente terminou seu chá e se levantou. Em contrapartida, ambos os
gêmeos foram de refrigerante cola e pelas suas expressões, parecia algo corriqueiro para
eles.

Muitas coisas inesperadas aconteceram no caminho, mas ao que tudo indicava as Elfas
haviam se acalmado. Elas não pareciam mais duvidar de tudo o que ele dizia só por ser
um undead.

Não tem erro, coisas doces sempre acertam na mosca. Não há mulheres que odeiam coisas
doces. Uma mulher que pode resistir a coisas doces simplesmente não existe... É, Mocchi-
mochi-san, você estava certa o tempo todo. Eu pensei que era apenas uma desculpa para
ser tão gulosa...

Em sua mente, as outras duas integrantes femininas da Ainz Ooal Gown fizeram gestos
afirmativos — embora os Slimes não tivessem pescoço. E dada à maneira como as Elfas
agiram, isso contava como prova-mor de que sua antiga amiga tinha razão. Ainda assim,
ele ainda tinha suas suspeitas.

Finalmente chegou a hora. Eu passei por muitas simulações mentais, mas ainda não sei se
é a melhor hora para iniciar uma discussão sobre o Reino Élfico...

Ainz lembrou-se do que ouvira das Elfas quando se encontraram pela primeira vez.

Não havia um nome para o país dos Elfos que dizia estar localizado na grande floresta
do sul. Albedo supôs que era porque nunca tiveram a necessidade de abrir relações di-
plomáticas com outras raças, até porque todas as nações situavam-se bem longe de suas
fronteiras. Como não precisavam identificar sua terra como algo separado do resto, bas-
tava chamá-la país.

No entanto, parecia que depois de ser governada por tanto tempo por um rei, estava
sendo chamada de Reino Élfico. Segundo relatos, esse rei era muito forte. Quais eram
seus pontos fortes e suas classes era algo que não conseguiam descobrir. Nesse ponto,
as Elfas olharam para os gêmeos, provavelmente se indagando por que não sabiam.

Atualmente, o país dos Elfos estava envolvido em hostilidades com a Teocracia, além
disso, o povo élfico era vendido como escravo depois de serem capturados pela Teocra-
cia. Quando começou e o que motivou a guerra eram perguntas para as quais essas Elfas
não tinham respostas.

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Essa falta de informação foi porque lá não tinha um sistema de educação padronizado.
Além do mais, as Elfas também não tinham interesse em aprender sobre tais assuntos.
Embora depois de ouvir o que elas disseram, parecia que foram minimamente instruídas
sobre habilidades e conhecimentos mais importantes (principalmente no que tangia co-
nhecimento sobre monstros). Talvez sentissem que história e assuntos semelhantes não
eram úteis o suficiente para serem ensinados.

Quando indagadas sobre os Elfos Negros em seu país, elas responderam que, embora
nunca os tivessem visto, sabiam que existiam. Na verdade, Aura e Mare foram os primei-
ros que conheceram. Elfos Negros era possivelmente uma minoria no Reino Élfico, mas
não parecia que tinha ocorrido uma guerra racial entre Elfos. Dito isso, considerando a
falta de conhecimento desse trio, era perfeitamente possível que simplesmente não sou-
bessem disso. E que poderia desconsiderar tudo o que disseram.

Essa foi toda a informação que Ainz conseguiu obter naquele momento.

Ele tinha que se contentar com uma informação tão escassa só para que elas não sus-
peitassem. Mas agora ele tinha uma ótima desculpa para ser proativo em suas perguntas.
A paciência é uma virtude, como diz o ditado.

Bem, acho que eu devo dar às cartas. Será que começo dizendo que quero abrir relações
diplomáticas entre nossas nações? Ou que tal dizer que eu quero ir a uma aldeia de Elfos
Negros para encontrar amigos para Aura e Mare?

Elas estariam em guarda se a conversa fosse a respeito de algo a nível nacional. Era mais
fácil fazê-las falar se fosse um tema simples de simpatizar. Além disso, ele não precisaria
mentir, pois a segunda opção era o que o motivava. Ainz era do tipo que podia mentir
sem titubear, mas isso não significava que gostasse. Era só que ele não hesitaria se hou-
vesse algum benefício a ser obtido.

Também era melhor não mentir, pois poderiam descobrir a verdade mais tarde.

Esse seria o caminho mais fácil... mas não consigo imaginar como a Aura e o Mare vão
reagir se eu disser na frente deles.

Ele temia que se sentissem obrigados a fazer amigos. Ele mesmo sabia que a amizade
era algo que se formava gradualmente entre pessoas de interesses em comum. Algo ad-
vindo de uma obrigação simplesmente não seria verdadeiro. Ainz se lembrou de seus
amigos de YGGDRASIL — seus ex-companheiros de guilda. Amigos que fizera durante
encontros casuais e por meio de acasos do destino.

Só que ele não sabia se as crianças precisavam fazer amigos ou não. Ainz, ou mais pre-
cisamente, Suzuki Satoru não teve nenhum durante sua infância e, segundo ele mesmo,
isso não lhe causou nenhum problema.

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


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Ainz era desses, mas estava pensando em ajudá-los a fazer amigos porque Yamaiko cos-
tumava dizer há muito tempo. Ao mesmo tempo, ele também se lembrou de Ulbert res-
pondendo com “Isso é como aqueles sonhos impossíveis do pessoal que vive num mundo
diferente do nosso”, rindo sarcasticamente de suas palavras.

Ainz não sabia julgar qual lado tinha razão. De todo modo, não havia nada a perder por
ter amigos.

E se eu parar de pensar nisso em termos de fazerem amigos e dizer que se trata de conhe-
cerem Elfos Negros? Se fizerem amigos ou não, aí depende deles. Claro, ainda prefiro que
eles façam.

Porém, um fator a se levar em conta era a extrema disparidade de poder entre as duas
partes, isso não seria um obstáculo para o desenvolvimento de amizades? Todos eram
iguais em YGGDRASIL.

—Ainz franziu o cenho quando alguns de seus amigos vieram à mente, mas ele imedia-
tamente balançou a cabeça, limpando essas memórias.

Dificilmente teriam se tornado amigos se tivessem se conhecido no mundo real com


suas desigualdades sociais. Com esse pensamento, o primeiro passo consistia em abor-
dar os Elfos Negros no Reino Élfico em termos iguais. Elfos Negros do alto escalão do
Reino Feiticeiro se amigando com a minoria de Elfos Negros do Reino Élfico não seria
uma boa combinação.

Além de tentar esconder nosso status o máximo possível... hmm. Será que todos os pais
pensam isso? Eu me pergunto como Touch Me-san fazia isso, uma pena eu não ter pedido
mais detalhes.

Enquanto Ainz se preocupava com a conversa vindoura, as Elfas voltaram para seus
lugares. Todas traziam refrigerante de cola desta vez.

Droga, ainda não sei como abordar essas coisas... não posso ficar nessa de improvisar o
tempo todo.

Mas, não havia mais tempo. Enquanto os gêmeos estivessem aqui, ele só podia dizer
que se tratava de abrir relações diplomáticas. Se as coisas não corressem bem, ele pode-
ria abordar a idéia de fazer amigos como um tópico paralelo. Ou talvez pudesse moldar
as coisas até chegar no ponto que desejava, ligando o desejo de aprofundarem relacio-
namentos com os Elfos Negros como parte da diplomacia de baixo nível.

“Bem, então, vamos prosseguir para o tópico principal.”

As Elfas, que estavam bebendo suas bebidas como se fosse a última bebida de suas vidas,
de repente pararam.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


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“Estabeleci uma nação chamada Reino Feiticeiro. Meu plano é ter várias raças vivendo
[ A n ãos ]
em coexistência. Alguns humanos, Dwarfs, Goblins, Orcs e Lizardmen já se tornaram ci-
dadãos de nossa nação. Mesmo que os Elfos não aprovem esse tipo de reinado, quero
iniciar relações diplomáticas com seu país, bem como relações comerciais. Como tal, de-
sejo visitar sua nação. Vocês cooperariam conosco?”

Mesmo que fosse apenas uma desculpa agora, não era ruim ter relações diplomáticas e
comerciais com o Reino Élfico. No entanto, havia um problema crítico.

Ainz não poderia ir pessoalmente como emissário.

Participar das relações exteriores de outro país e fazer um tratado para abrir relações
diplomáticas era algo fora de suas capacidades. Embora tenha corrido bem com os
Dwarfs, ele duvidava que tivesse o mesmo sucesso novamente. Em vez disso, era mais
provável que terminasse o oposto do que pretendia.

Portanto, ele queria enviar pessoas aptas com diplomacia em seu lugar. Albedo era a
melhor escolha, mas ele não queria atribuir nenhum trabalho adicional a ela, pois estava
demasiadamente ocupada administrando os territórios que eram de propriedade de Re-
Estize.

Ela provavelmente diria “Eu dou conta” se ele ordenasse, e de certo modo ela realmente
conseguiria lidar com mais afazeres. Mas, isso denotaria muito mais esforço por parte
dela, e Ainz queria manter a boa saúde mental de seus subordinados.

Ainz ficaria extremamente feliz se a conversa rumasse para o tópico de fazer amizades
em vez de dar voltas e voltas em torno de algo secundário.

“Eh, Ah, Ainz Ooal Gown-sama? O que exatamente essa cooperação implica?”

Ainz deu de ombros ligeiramente em sua resposta cautelosa.

“Primeiro, quero que me diga alguns detalhes. Além disso, pode me chamar apenas de
‘Ainz’, tudo bem?”

“Responderemos tudo que sabemos—” Disse a Elfa com um olhar determinado:

“M-mas rogo que nos perdoe por não podermos nos referir a Vossa Majestade assim...”

Aura, Mare e as empregadas ao redor delas as espiavam secretamente com expressões


perplexas.

Se as Elfas o chamassem de “Ainz”, elas seriam informadas de que estavam sendo “ex-
cessivamente íntimas” e deveriam “entender sua posição”. Mas, se não o fizessem, seriam

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


6 2
informadas, “como ousam recusar a ordem de Ainz-sama?”. Elas provavelmente estavam
se sentindo em conflito porque sabiam da reação que as aguardava.

Ele não pretendia repreender as empregadas bisbilhoteiras. Não é como se elas estives-
sem fazendo isso por malícia ou simples curiosidade. Ele sabia que qualquer uma daria
tudo para poder estar de plantão ao lado dele durante essa conversa.

“...Oh, que pena. Então, voltando ao assunto; como é o seu país? Como lidam com mons-
tros vivendo naquela floresta?”

As Elfas tinham expressões confusas, como se tivesse recebido uma pergunta incomum.

“Mesmo vivendo na floresta, nossas casas ficam no topo das árvores, porque no chão é
perigoso.”

“Construímos nossas casas transformando árvores usando magia druídica.”

“As árvores adequadas para tal magia também são cultivadas usando meios mágicos.
Nós as chamamos de Árvores Élficas.”

Pelo o que acabara de descobrir, parecia que os Elfos podiam mudar a forma das árvo-
res usando a magia dos druidas. Como criar cavidades dentro das árvores ou moldar
pontes entre as árvores. Uma aldeia de Elfos era apenas um lugar onde dezenas dessas
estruturas estavam amontoadas.

Esse método de fazer coisas com árvores parecia estar no cerne da cultura élfica. Não
apenas casas ou móveis, eles também podiam criar armas e armaduras. Era possível fa-
zer com que as flechas de caça fossem duras como ferro.

Ainz queria que demonstrassem essa magia, pois era algo inexistente em YGGDRASIL.
Elas ficaram surpresas com esse pedido pois, do ponto de vista delas, a árvore em que
os gêmeos moravam era um exemplo perfeito de tal magia. Parecia que elas pensavam
que era uma Árvore Élfica mutante (porque parecia diferente) que só poderia ser trans-
formada por aqueles dois.

Além disso, como essa magia só pode ser usada em Árvores Élficas, não funcionava com
outras árvores. Como os Elfos viviam em tais condições, monstros que eram bons em
subir em árvores como cobras ou aranhas eram seus inimigos naturais. Embora fizessem
uma vigília noturna, esses monstros tendiam a ser bons em ocultação; então havia víti-
mas de vez em quando. Por outro lado, dificilmente eram atacados por monstros que
não podiam escalar.

Parecia que a capital élfica — o único lugar que os Elfos podiam chamar de cidade, pois
não eram uma raça populosa — era o único assentamento que fôra construído em um
lugar sem cobertura de floresta, na margem de um lago em forma de meia-lua. O “parecia”

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


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foi adicionado porque essas Elfas nunca visitaram a capital e só ouviram falar de tercei-
ros.

Eles puderam estabelecer a cidade em uma planície porque havia um monstro gigante
no lago que capturava e comia qualquer monstro de grande porte que chegasse nas pro-
ximidades.

Entendo... pensou Ainz.

Como a magia druídica também poderia fornecer água, viver nas árvores era vantajoso
para eles. Quanto aos monstros voadores, o dossel das Árvores Élficas atuava como um
escudo, assim como uma camuflagem.

Vivendo em tais circunstâncias, era natural que a maioria dos Elfos ganhasse habilida-
des druídicas ou de rangers. Em outras palavras, eles não poderiam sobreviver sem de-
senvolver tais habilidades.

Eu não sei como a seleção de profissões funciona nesse mundo, mas parece que sem pro-
fissões como a de fazendeiro, os Elfos são mais propensos a serem melhores lutadores do
que humanos.

Ele continuou, indagando sobre a expectativa de vida e a população dos Elfos.

Evidentemente, elas não estavam tão preocupadas com quanto tempo viveriam, visto
que não conheciam sua própria expectativa de vida. Parecia que os mais velhos tinham
mais de 300 anos. A propósito, essas Elfas nem sabiam sua própria idade. Era provável
que não tivessem o conceito de aniversário.

Talvez devido à longevidade, não davam à luz com tanta frequência como os humanos
e, portanto, suas populações eram muito menores. No entanto, após considerar as dife-
renças culturais, Ainz concluiu que o número de filhos que tinham não era pequeno.

Na lore de YGGDRASIL, a expectativa de vida de um Elfo era de mil anos... eles envelhecem
rapidamente nos primeiros dez anos e depois nos últimos dez anos, era isso? Não me lem-
bro bem dos detalhes exatos, mas acho que é algo assim. Ou me enganei? Além disso, se
supostamente dão à luz uma vez a cada década... se considerarmos duzentos anos como o
início da idade adulta e quatrocentos anos quando a infertilidade se instala... seria vinte
filhos? Vou procurar saber mais depois.

“Então— se eu fosse devolver vocês à sua antiga aldeia, para onde eu iria?”

As Elfas trocaram olhares.

É claro que não vão falar. Afinal, são informações importantes.

Depois de um tempo, uma das Elfas perguntou hesitante:

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


6 4
“Pe-perdão... Mas vamos ser mandadas para nossas casas?”

“...Como é?”

Percebendo sua estranha escolha de palavras, Ainz percebeu seu erro.

“...Ah, é mesmo. Esqueci que sua aldeia foi atacada pela Teocracia.”

Essas Elfas não eram soldadas, apenas pessoas que viviam na aldeia que foram captu-
radas durante o ataque da Teocracia. Do ponto de vista delas, seria doloroso voltar
àquele lugar. Além disso, sua segurança não podia ser garantida.

“Vamos fazer assim. Em vez de devolver à sua aldeia, levaremos vocês para um lugar
seguro. Tem algum lugar assim em mente? Uma aldeia com seus parentes ou, se não
houver, que tal a capital?”

“A capital...”

“Por favor, nos perdoe. Não conhecemos nenhum outro lugar a não ser os arredores da
nossa aldeia...”

“Não consigo imaginar qual outro lugar possa ser ...”

Essas Elfas não estavam familiarizadas com o que rodeava sua aldeia, mas isso não era
algo limitado a essas garotas. É o mesmo para os aldeões do Reino ou do Império.

As pessoas nesse mundo geralmente viviam suas vidas inteiras em seu local de nasci-
mento, especialmente se não fossem educados em alguma escola. Embora mal soubes-
sem dos arredores, as outras cidades em seu país poderiam ser terras estrangeiras para
eles.

Enquanto ponderava, as Elfas falaram novamente.

“Perdão... mas realmente vamos ter que sair daqui?”

“Isso é o que eu planejei fazer. Se vamos nos envolver em diplomacia com o Reino Élfico,
mantê-las poderia gerar insatisfação. Você entende, não é? Eu as mantive aqui até agora
como medida provisória, mas será difícil continuar fazendo isso. Porém, quero que sai-
bam que não sou cruel o suficiente para libertá-las em uma terra sob o controle da Teo-
cracia Slane. É por isso que eu perguntei se conheciam algum local seguro—”

Embora Ainz não pretendesse ser o emissário, devolver essas três com segurança pro-
vavelmente ajudaria na diplomacia.

Vendo que as Elfas queriam dizer algo, Ainz perguntou:

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


6 5
“Qual o problema?”

“É possível nos deixar continuar aqui?”

“...Hummm.”

Ainz moveu seu olhar para as bebidas na frente das Elfas. Não era possível que fosse
apenas por isso, certo?

“...Por quê? Eu posso entender se preferir não dizer, mas espero que diga se não for
pedir demais.”

“É que—”

A Elfa que os representava deu uma olhada rápida nos gêmeos.

“...Aura, Mare. Parece que suas bebidas estão quase acabando. Por que não vão pegar
um pouco mais?”

“Eh!?”

“Beleza! Já entendi, Ainz-sama— Vamos, Mare.”

Esplêndido!

Ainz admirou o raciocínio rápido de Aura.

Se estivesse no lugar de Aura, ele não teria entendido tão rapidamente a indireta de os
deixarem a sós. Ou talvez seus sentidos de “conversa de adultos” tenham feito com que
entendesse instantemente.

Alguém poderia raciocinar que Aura era melhor que Albedo ou Demiurge na leitura
subliminar. Ainz poderia imaginar Demiurge com um sorriso dizendo: “Então é sobre
isso, Ainz-sama”.

Aqueles dois entenderiam o completo oposto de minhas intenções... às vezes parece que
fazem de propósito. Calma aí, será que eles fazem de propósito?

“Eh, eh?”

Aura arrastou o ainda confuso Mare pelos braços. Ainz falou depois que estavam dis-
tantes o suficiente:

“Pode dizer agora?”

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


6 6
“S-sim.”

A Elfa respondeu, depois de confirmar que os gêmeos estavam longe o suficiente. A au-
dição de Elfos Negros era melhor do que o de um humano e, por ser uma ranger, a de
Aura era ainda mais aguçada nesse sentido. A Elfa diante dele sussurrou seus dizeres
com isso em mente, mas era altamente provável que Aura ainda pudesse ouvi-los.

“Já estamos acostumadas com nossa vida aqui, e não podemos voltar para nossa vida
de antes... Esse lugar... A casa de Aura-sama e Mare-sama é um paraíso.”

“Eh?”

Ainz inicialmente abaixou seu volume para combinar com o da Elfa, mas ele soltou sua
voz habitual com a súbita surpresa.

Por um momento pensou que estavam brincando, mas depois que viu as outras duas
concordando seriamente, ele entendeu que diziam isso do fundo do coração.

Primeiro, parecia que a qualidade da comida em Nazarick estava em um nível diferente.


Normalmente, Elfos comiam frutas, carnes e vegetais assados ou fervidos. A quantidade
de esmero que Nazarick colocava em cada refeição era completamente anormal.

As Elfas deram certeza de que não estavam confiantes de que poderiam se ajustar às
suas vidas anteriores depois de se acostumarem com a comida daqui. A propósito, a
pizza parecia ser o prato favorito delas.

Entendo... A diplomacia culinária não parece uma má idéia. Ser capaz de ter acesso a uma
cozinha tão requintada deve ser algo raro... Vocês são mesmo Elfas ou são Dwarfs disfar-
çados!?

As Elfas também tinham outros motivos.

Segurança. Mesmo que vivessem em um lugar moderadamente seguro como uma aldeia
criada pela magia dos druidas, era impossível passar um ano sem que quaisquer baixas
ocorressem devido aos monstros. Em contraste, pode-se dormir tranquilamente em Na-
zarick mesmo sem ter alguém para vigiar a noite.

Elas disseram muitas coisas, mas se resumissem apenas a isso, então não havia neces-
sidade de tirar os gêmeos daqui. Como Ainz pensou que deveria haver mais razões, ele
acrescentou:

“E poder servir àqueles dois é algo que vocês gostam.”

“...Aah.”

Ainz assentiu com empatia.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


6 7
Aqueles dois eram de raça semelhante aos Elfos e eram crianças fofas. Elas certamente
ficaram inseguras a princípio, mas a personalidade de Aura e Mare provavelmente as
conquistou.

Mesmo Ainz selecionaria os gêmeos se lhe perguntassem qual dos Guardiões do Andar
ele gostaria de servir. Mais precisamente, se alguém lhe perguntasse, ele provavelmente
diria algo como: “Não posso escolher porque todos são maravilhosos”. Mas se fosse para
ser sincero, seriam aqueles dois. O próximo na fila seria Cocytus. Ele realmente não que-
ria servir aos outros.

Mesmo assim, ele pensou que isso era algo que poderia ser dito na presença dos gêmeos.
Embora achasse que elas tinham algo mais a dizer, parecia ser o fim da conversa.

Para falar a verdade, não entendi foi nada. Por que eles não podiam ouvir isso? Havia algo
na conversa anterior que as faria serem repreendidas pelos gêmeos? ...Bem, tanto faz.

“Muito bem. Então permito que continuem servindo Nazarick como têm feito até agora.”

Não havia razão para recusar seu desejo.

As Elfas pareciam felizes ao ouvir a resposta. Não parecia que estavam fingindo.

“Todavia, se estivermos falando sobre vínculo empregatício, precisaremos discutir pri-


meiro salário e bem-estar. Vou mandar alguém investigar isso.”

Parecia que não entendiam o que Ainz estava falando, mas essa era uma questão im-
portante para ele.

Como essas Elfas deveriam ser tratadas se tornaria um fator importante quando esta-
belecessem relações amistosas com os Elfos Negros do Reino Élfico. Eles poderiam dizer
que depois de libertar as Elfas da escravidão e cuidar delas, elas estavam apenas retri-
buindo o que haviam recebido. Mas, havia um limite para tais desculpas. Sua situação
atual de trabalho não remunerado espelhava as práticas de uma empresa abusiva. Ele
não queria que os Elfos Negros que poderiam visitá-los no futuro tivessem tal impressão.

Nesse caso, ele usaria essas três para estabelecer o precedente de Nazarick como uma
empresa ética.

Ainz deu uma rápida olhada nas empregadas ao seu redor.

Elas estavam colocando as mãos atrás das orelhas como se quisessem ouvi-los melhor
enquanto tentavam fazer parecer que estavam descansando o queixo nas palmas das
mãos.

Elas não estavam nem um pouco preocupadas com sua cara de pau.

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


6 8
Ainz não sentiu vontade de repreendê-las, pois achava que era apenas uma demonstra-
ção de lealdade, mas pelo menos queria que disfarçassem um pouco melhor.

Eu deveria fazer um contrato com essas Elfas o mais rápido possível. Além disso, devo
tentar estender o tratamento da companhia ética dessas Elfas para as empregadas regu-
lares?

Era algo que valia a tentativa, mas ele temia que as empregadas viciadas em trabalho
dirigissem sua ira às Elfas, que seriam a causa do aumento de seu tempo de lazer. Claro,
ele não achava que iriam tão longe a ponto de matá-las, mas precisava ter cuidado se
decidisse estender o tratamento às empregadas.

“...Mudando de assunto, quero pedir a ajuda de vocês em nossa excursão ao seu país.
Quero que ajam como guias, se possível. Claro, Aura e Mare também virão conosco. É só
que não estamos familiarizados com a etiqueta élfica, então ajudaria se atuassem como
nossas mediadoras.”

As Elfas se entreolharam e negaram.

“Perdoe-nos, mas não temos confiança em agir como guias. Quanto a ser mediadoras...
embora tenhamos viajado pela nossa aldeia, também não temos confiança nas regras de
etiqueta...”

“É mesmo, é...”

“Perdão!”

“Ah, não precisa se curvar.”

Seria incômodo visitar um lugar desconhecido sem um guia, mas não era como se ele
tivesse certeza de que essas Elfas poderiam ser úteis. Como pretendia ir para o desco-
nhecido, seria melhor não as forçar a vir. Elas podem até acabar se tornando um fardo.

Ainz olhou para trás e chamou Lumière. Depois que ela aproximou seu rosto, Ainz sus-
surrou “mais perto” e levantou sua xícara. Claro, o conteúdo do copo não foi tocado. Só
para ter certeza, ele gesticulou na direção dos gêmeos com os olhos.

Ele pensou que estava sendo um pouco obtuso, mas parecia que ela rapidamente en-
tendeu e saiu com um simples “com licença”.

“E— O que os Elfos em sua maioria costumam pensar a respeito dos Elfos Negros?”

“São seres esplêndidos.”

Ainz franziu suas sobrancelhas inexistentes, foi uma resposta um tanto suspeita.

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6 9
Ele ficaria feliz se essa realmente fosse a opinião geral a respeito, mas essa resposta
parecia fora de lugar.

Ainz imediatamente pensou no motivo. Estavam considerando Aura e Mare.

“—Não, não é isso. Estou perguntando sobre as relações entre a raça dos Elfos Negros
e sua raça.”

“São seres esplêndidos.”

“Não é possível...”

Estava fora de sua alçada fazer algo a respeito desse tipo de reverência. Depois de se-
rem tratadas como subordinadas dos gêmeos por tanto tempo, elas não poderiam dizer
algo como “Elfos Negros são uma raça inferior”. Pois se dissessem, isso sim seria assus-
tador.

“Como mencionei antes, pretendo iniciar relações diplomáticas com o seu país. Tam-
bém quero confiar isso aos gêmeos. É por isso que eu quero saber como os Elfos em geral
veem os Elfos Negros. Eu não quero que os pequenos sejam maltratados se a sociedade
élfica tiver opiniões negativas a respeito deles. Então, eu preciso de uma resposta ho-
nesta.”

As Elfas se entreolharam.

“Com toda honestidade, senhor, como nossa aldeia não tinha Elfos Negros, os encontra-
mos aqui pela primeira vez. É por isso que nunca tivemos qualquer prejulgamento deles.
O máximo que sabemos é que migraram do norte para a grande floresta.”

“Ouvimos falar de suas peles escuras por boatos e ficamos surpresas ao ver que era
verdade.”

“Não me lembro dos aldeões dizendo nada negativo sobre os Elfos Negros, mas peço
que tenha em mente que isso era algo de nossa aldeia.”

Parecia que não mais estavam tentando bajulá-lo ou enganá-lo. Então essas jovens Elfas
(talvez chamá-las de jovens fosse um pouco exagerado) não tinham nenhuma opinião
ruim sobre os Elfos Negros.

Mesmo sendo uma minoria, não parecia que eram perseguidos. Talvez fosse porque os
Elfos não tinham espaço para tais coisas quando estavam sendo ameaçados por uma
força externa — a Teocracia. Ou talvez a floresta fosse apenas um lugar difícil de se viver.

“...A propósito, e sobre os undeads?”

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


7 0
“Inimigos que mancham a floresta.”

“Seres nojentos.”

“No entanto, raramente encontramos algum.”

“Ah, sim.”

Respostas imediatas.

Enquanto se perguntava o porquê ignoraram solenemente os sentimentos do mestre


dos gêmeos, Ainz optou por não dizer nada.

Ele pediu que falassem com honestidade, mas isso era honesto demais. Essas garotas
eram do tipo que seriam demitidas porque realmente acreditavam nas palavras do CEO
quando pediam para serem informais.

Agora com suas dúvidas sanadas, ele estava certo de que não poderia ser o emissário.
Talvez isso fosse melhor assim. Era uma ótima desculpa para se dar. Certamente não era
porque Ainz não era talentoso o suficiente.

Só restava tomar as medidas corretas na ordem certa — enviar diplomatas, iniciar re-
lações diplomáticas e depois seguir para o Reino Élfico.

Mas não temos esses diplomatas. ...O fato de não podermos confiar nos humanos encarre-
gados dos assuntos internos é um ponto fraco... Ou talvez haja alguns e eu simplesmente
não sei. Nesse caso, que tal pedir à Albedo para despachar aventureiros? Não... esse sistema
ainda é bem imaturo... ou talvez eu esteja errado. Afinal, é de mim que estamos falando.

Se ele informasse Albedo, ela provavelmente diria que os aventureiros funcionariam


muito bem. Mas—

—Todo o xis da questão é a falta de tempo.

Devido às hostilidades com a Teocracia, o Reino Élfico foi praticamente encurralado. E


era assim desde de muito antes dessas Elfas serem capturadas. Se as coisas corressem
mal, era perfeitamente possível que o Reino Élfico fosse destruído em breve.

O colapso do Reino Élfico não seria um revés para Ainz, até porque seria muito mais
eficaz estabelecer relações diplomáticas se o Reino Feiticeiro pudesse oferecer sua ajuda
nesse cenário. Então, seria melhor se eles apenas esperassem o colapso? Talvez não
dessa vez.

Eles não tinham o luxo de observar a situação de braços cruzados, especialmente por-
que valorizava muito a raridade das vidas dos Elfos Negros.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


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Talvez eu deva enviar os dois na frente— não, não posso fazer isso. Não me sinto confor-
tável deixando que saiam sozinhos em um lugar desconhecido. Eu mais do que ninguém sei
que são muito mais do que crianças, são NPCS de nível cem... Mas acho que o melhor a ser
feito é simplesmente ignorar esses assuntos de relações internacionais e focar em conseguir
amigos para eles. Isso só vai dar certo se eu for junto.

Ele não planejava enfrentar à Teocracia e salvar o País Élfico neste momento. Mais pre-
cisamente, Ainz não queria transformar a Teocracia em inimiga do Reino Feiticeiro de-
vido à sua total falta de tato político.

Ele queria saber as opiniões de Albedo e Demiurge, mas temia que pudessem descobrir
que ele não passava de um impostor. Se não prestasse total atenção a cada palavra dita,
suas declarações vagas poderiam acabar sendo levadas a sério e causar danos à Nazarick
no futuro.

Não seria uma má idéia dizer para evacuarem apenas os Elfos Negros depois de visitar o
país dos Elfos. Nesse caso... há necessidade de levar alguém além dos gêmeos?

Caso decidisse levar alguém junto, era melhor levar guardas furtivos como Hanzos em
vez de liderar algo como um exército.

Como aquela vez no Reino Dwarf.

“Entendi tudo...”

Ainz olhou para as três. Elas estariam na mesma posição daquele Lizardman.

“H-há algum problema?”

“Não, só estou falando comigo mesmo.”

Ele poderia levar uma das três, deixando as outras duas aqui. Enquanto ele as manti-
vesse como reféns, a Elfa acompanhante provavelmente não faria nada que fosse nega-
tivo para Ainz.

Nada mal.

Mesmo que entendessem que estavam sendo mantidas reféns, ele poderia insistir que
não era o caso.

Ainz olhou para os gêmeos. Eles imediatamente entenderam suas intenções. Aura, Mare
e Lumière voltaram para a mesa.

“A propósito, que tipo de presentes faria os Elfos felizes? Coisas como ouro e pedras
preciosas?”

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


7 2
“Nosso povo não usa moedas de metal, então acho que o ouro não funcionaria...”

“Acho que nossa aldeia ficaria mais feliz com a comida e talvez ervas raras. Pequenos
arranhões e afins podem ser curados por magia, mas venenos e doenças precisam de um
druida talentoso para curar. Portanto, pacotes de ervas são altamente valorizados.”

“Não precisamos de roupas, já que também as fazemos das Árvores Élficas”

“Casas, flechas... e até roupas. Parece que a magia druídica dos Elfos é muito conveni-
ente. Você não pode fazer isso, certo, Mare?”

“Eh? Ah, n-não. E-eu não posso usar tal magia.”

Talvez esse tipo peculiar de magia druídica em si fosse o símbolo do progresso dos Elfos.
Ele queria essas técnicas se possível, mas dificilmente os habitantes de Nazarick seriam
capazes de usá-las. Isso só reafirmou que a necessidade de que fazer os seres desse
mundo se prostrarem diante de Nazarick e trazê-los sob seu reinado seria o principal
fator que poderia inclinar a balança da vitória em uma hipotética guerra de guildas.

Mas—

Eu devo supor que havia guildas — aquelas que foram teletransportadas no passado —
que já fizeram isso. Eu deveria dizer à Albedo e fazer com que ela repense nossa estratégia
nacional de guerra.

Era lógico que se alguém como Ainz pudesse pensar nisso, outros Jogadores também
poderiam. Só idiotas pensariam em si mesmos como alguém especial.

Talvez fosse uma boa idéia transportar grandes quantidades de comida pelo 「Gate」
ao chegar às aldeias élficas, tornando-os mais amigáveis ao Reino Feiticeiro.

Ele lembrava-se bem da eficácia que teve no Reino Dwarf. Tudo daria certo, contanto
que pudesse replicar o que conseguiu fazer lá e improvisar conforme necessário.

Eu sempre procuro uma oportunidade de fugir daqui, não é...

“...A melhor maneira de chegar é primeiro encontrar o lago crescente, visitar a capital
real que se dizia estar em sua costa para coletar informações e depois ir para a aldeia
dos Elfos Negros.”

“A gente vai pra uma aldeia de Elfos Negros?”

Aura parecia querer dizer algo mais, mas não quis perguntar em detalhes na frente das
três.

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7 3
Se possível, Ainz não pretendia dizer que iriam para lá apenas para que fizessem amigos.
Ele queria que fosse algo natural, não uma obrigação.

“Correto. Esse é o plano. E vou precisar da sua ajuda.”

Ele deliberadamente ignorou o comportamento de Aura, mas ainda recebeu um par de


afirmações energéticas em troca.

“O que farei depois... persuasão? Não posso dar a mesma desculpa que usei para a ex-
pedição ao Reino Dwarf...”

Ele não estava confiante em resolver esse problema, mas precisava fazer alguma coisa
para trazer o conceito de férias remuneradas para Nazarick.

Nesse ponto — como se esperasse a conversa terminar — os pratos foram trazidos.

“Bem, aproveitem o banquete.”

Com Ainz encorajando-as, as Elfas comeram sem se refrearem.

Parte 3

Qual decisão tomar diante de um desafio?

Havia diversos métodos apropriados para superar um e, desta vez, Ainz escolheu usar
a situação e a vantagem numérica.

Com Aura e Mare ao seu lado, Ainz sentou-se no trono na sala de audiências preparada
pelos Guardiões. Em sua mão estava o cajado original da Ainz Ooal Gown, algo que não
segurava há muito tempo.

O porte derradeiro do Supremo Governante de Nazarick e líder da guilda Ainz Ooal


Gown, por assim dizer.

Todavia, era incerto que sairia vitorioso diante do adversário que logo entraria em cena.
Seu oponente vindouro era nada menos que o chefão entre os chefões. Um chefão mais
[Devorador d o s N o v e Mundos]
temível do que o próprio Devourer of the Nine Worlds, pensou Ainz enquanto engolia com
sua garganta inexistente.

Ele já havia feito diversas simulações mentais, mas ainda eram limitadas por ser apenas
um mero humano. Quando se tratava do intelecto de seu oponente, ele não estava nem
no sopé da montanha.

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


7 4
Então—

Não há mais nada a fazer... exceto contar com a sorte!!

Ele estava colocando todas as suas fichas em sua capacidade de improvisar. Ele tinha
certeza de que seu eu futuro sobreviveria.

Lumière, que aguardava em frente à entrada, anunciou a chegada do adversário.

“—Muito bem. Deixe-a entrar”

“Entendido, Ainz-sama.”

Todos já deveriam ter entendido quem era o misterioso oponente.

Não era outra senão a Chefona Final, também conhecida como Supervisora Guardiã, Al-
bedo.

No momento em que notou Ainz, Albedo mudou de seu rosto sorridente habitual para
uma expressão séria.

“Peço mil perdões por deixar o senhor me esperando.”

Vendo Albedo curvando-se profundamente perto da entrada, Ainz ordenou que ela le-
vantasse a cabeça.

“Não se preocupe, Albedo. Você me informou previamente que se atrasaria. Então po-
demos dizer que chegou na hora certa.”

Quando contatado de antemão através do 「Message」, Albedo informou que por estar
ocupada com afazeres relacionados à Prisão Congelada, sua aparência poderia não ser
adequada para uma audiência. Então, ela pediu algum tempo para se arrumar.

Sem motivo para recusar, Ainz estipulou um tempo, 30 minutos a mais do que Albedo
pediu. O fato de Albedo chegar dez minutos antes do horário designado provavelmente
devia-se à sua personalidade. Ou talvez fosse apenas uma regra não dita, onde adultos
tendiam a sempre chegar antes da hora.

Albedo levantou a cabeça, caminhou diante do trono e genuflectiu.

Sem perder tempo, Ainz informou-a imediatamente.

“Albedo. Vou tirar férias remuneradas a partir de hoje.”

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Ele poderia ter inventado várias desculpas, mas toda vez ia por esse caminho, a con-
versa tendia a tomar rumos estranhos. Então ele sentiu que era melhor declarar direta-
mente seu objetivo. Demiurge estava ausente desta vez, então seria improvável que in-
terpretasse suas palavras de um modo totalmente distorcido.

Albedo franziu as sobrancelhas ligeiramente enquanto levantava a cabeça. Ela então


olhou de um lado para o outro, possivelmente verificando as reações de Aura e Mare.

Ainz continuou a observar Albedo, preocupado com sua reação. Ela respondeu com
uma expressão séria:

“Incluindo Nazarick, tudo no Reino Feiticeiro pertence ao senhor, Ainz-sama.”

—Quê?

Ele não conseguia entender o porquê de tais dizeres.

Não fazia sentido.

Como alguém poderia chegar a tal resposta?

Que saltos de lógica, que linha de pensamento levaria a essa conclusão?

Como Ainz deveria respondê-la?

Ele logo chegou a duas respostas plausíveis.

“Mas o que você está dizendo?” era uma, a outra era “Sim, exatamente como supôs”. Claro,
ele florearia essas palavras para fazê-las soar régias.

Ainz começou a forçar sua massa cerebral imaginária com todas as forças, mas o tempo
era seu inimigo. Albedo já estava na grande área, ele precisava defender o mais rápido
possível.

“...Parece que houve um mal-entendido, Albedo. Não é isso que estou tentando dizer.”

Ele decidiu ser honesto. Teria sido melhor fingir como costumava fazer?

—Sim, Provavelmente.

De todo modo, ao sacrificar a alma de Suzuki Satoru, ele conseguiu preservar a imagem
de Ainz Ooal Gown, o Supremo Governante de Nazarick, pelo menos por enquanto.

Albedo fez uma expressão como se tivesse percebido algo.

“R-rogo que me perdoe pelo meu erro, Ainz-sama.”

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


7 6
Ela se curvou novamente em pânico.

“Não, não interprete como se eu estivesse zangado. Você não precisa se curvar.”

Apenas pessoas escrotas sentiriam prazer ao ver um inocente abaixando a cabeça sem
ter feito nada de errado.

“Parece que o termo ‘férias remuneradas’ foi mal interpretado.”

Nazarick não tinha salários nem folgas. Estava no auge das empresas abusivas. Portanto,
era muito provável que ela pensasse que o termo fosse uma metáfora para outra coisa.
Era lógico concluir que isso foi culpa de Ainz, afinal, ele ainda tinha que implementar
dito sistema em Nazarick. Claro, Ainz ainda se justificaria apontando a obstinação dos
NPCs por mais trabalho como a raiz do problema.

Segundo o que dizia a experiência pessoal de Suzuki Satoru, mas por pior que uma em-
presa fosse, os funcionários tendiam a tolerar, desde que seus relacionamentos inter-
pessoais fossem bons. Por outro lado, se esses relacionamentos fossem ruins, não im-
portaria quão boa a empresa fosse; seus funcionários tendiam a ficar desmotivados ra-
pidamente.

Talvez Nazarick estivesse em bom funcionamento porque as relações interpessoais en-


tre seus habitantes eram ótimas.

“O erro foi meu. Me perdoe.”

Ainz abaixou a cabeça também.

“A-Ainz-sama! Por favor, levante a cabeça!”

Após ouvir Albedo em pânico, Ainz levantou a cabeça.

“...Creio que, como ambos nos curvamos, posso considerar que me perdoou?”

“Sequer fez algo de errado, Ainz-sama...”

“—Se chegar o dia em que eu não possa me curvar para vocês, então esse dia será o meu
fim. Pois não serei mais eu.”

De olhos bem abertos, Albedo ofegou e então se curvou profundamente.

Houve uma comoção ao lado de Ainz, causada pela surpresa dos gêmeos com a reação
de Albedo.

Antes que pudesse perguntar qual era o problema, Albedo levantou a cabeça.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


7 7
“O senhor disse que são férias remuneradas, pretende levar esses dois com o senhor,
Ainz-sama?

Como esperado de Albedo.

Ter notado que Ainz estava planejando viajar apenas pela frase “férias remuneradas”,
Albedo era assustadoramente perspicaz. Se fosse Ainz no lugar dela, provavelmente te-
ria dito, “Como os dois estão aqui, está planejando passar algum tempo no Sexto Andar?”.

“Estou planejando ir para o Reino Élfico, situado no sul, com esses dois.”

“Então será o país dos Elfos...”

Albedo ponderou por um tempo antes de falar novamente:

“Entendo...”

O que ela tinha entendido? Talvez estivesse pensando que Ainz estava indo para lá por
diplomacia. Ainz tinha que ter certeza.

“...Não seja precipitada. Não vou lá por razões diplomáticas. Eu só quero ver como é.”

“Claro.”

Uma resposta simples. Ainz pensou que ela diria algo mais...

Isso era muito mais assustador. Pois tinha a sensação de que um mal-entendido de pro-
porções apocalípticas estava se enraizando.

“...Como ia dizendo, viajarei para lá com esses dois. Se houver algo urgente, entre em
contato comigo através do 「Message」. Eu retornarei imediatamente... isso é tudo, en-
tendeu? Não pretendo fazer nada além disso. Eu espero do fundo do meu coração que
tenha ficado claro. Estamos entendidos?”

“Sim, senhor. Então vai partir em breve, Ainz-sama?”

“S-sim, correto.”

Ele não tinha pensado tão à frente, mas considerando os avanços da Teocracia, seria
melhor que começassem quanto antes:

“Eu pretendo ir logo, mas Aura e Mare têm que se preparar, não é mesmo?”

“Creio que ambos não veriam problema. Se decidisse partir neste instante, seria natural
que eles completassem seus preparativos imediatamente, Ainz-sama.”
Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas
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Ainz queria repreendê-la por colocar palavras nas bocas de terceiros, mas os gêmeos
concordaram de imediato.

“Mmmmmm—”

Se os gêmeos estavam de acordo, então não era o lugar de Ainz se opor.

“—Eu quero ter certeza de uma coisa. Não apenas de você, Albedo, mas de Aura e Mare
também. Preciso perguntar para vocês. A Grande Tumba de Nazarick estabeleceu o
Reino Feiticeiro, fez do Império um vassalo, estendeu seu controle sobre os demi-huma-
nos das terras selvagens e recentemente destruiu o Reino Re-Estize. Pode-se dizer que
o tamanho da organização cresceu conforme a expansão de nosso território. Pois bem...
isso me traz algumas preocupações. Nosso domínio expandiu, mas temos uma expansão
correspondente de mão de obra?”

Uma boa organização não poderia parar de funcionar só porque uma ou duas pessoas
estavam de recesso.

Aura e Mare certamente faziam parte do alto escalão. Se considerássemos Nazarick


como uma empresa, eles seriam executivos. Funcionários normais podiam deixar seus
pares substituí-los, mas os executivos não tinham esse luxo. Como tal, seria ruim se a
organização parasse apenas porque os dois estariam fora.

Pois se fosse o caso, o plano deveria ser adiado e talvez alterado.

“—Isso me preocupa. Talvez precisemos tomar algumas medidas drásticas, se for o


caso.”

“Creio que não haverá problemas. E, se necessário, sempre haverá eu e Demiurge. Se


também tivermos a cooperação de Pandora’s Actor, não haverá problemas.”

“Esplêndido. Como esperado de você, Albedo. Já propôs uma solução para minhas dú-
vidas. Fez um ótimo trabalho, digno do ser mais— digo, um dos seres mais inteligentes
de Nazarick e detentora do título de Supervisora Guardiã. Absolutamente brilhante. Es-
tou muito impressionado.”

Ele elogiou Albedo com todo o seu coração.

Ao contrário de Ainz, ela administrava diligentemente a organização. Se alguém assim


não merecesse tal elogio, então ninguém mais merecia.

“—Sou imensamente grata por elogios tão amáveis .”

Albedo recuperou sua postura depois de uma profunda reverência, mas sua expressão
estava um pouco intransigente.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


7 9
Outra dúvida surgiu na cabeça de Ainz.

“Dessa vez serão Aura e Mare... mas tudo continuaria funcionando se você e Demiurge
tirassem férias?”

Albedo hesitou um pouco, mas respondeu sem perder tempo.

“Acredito que mesmo se estivéssemos ausentes, os outros poderiam nos substituir sem
problemas. Eles fariam o seu melhor para atender às suas expectativas, Ainz-sama.”

“Hmmm... Albedo. Não é sobre o que você acredita. Eu preciso ter certeza se podem ou
não lidar com isso sem problemas... eu sei que está em uma posição difícil, afinal levan-
taria dúvidas sobre as habilidades dos Guardiões de Andar — seus colegas, e eu entendo
que é doloroso para você . Mas, pode me dizer se estão aptos, sem que suas emoções lhe
atrapalhem? Se disser que não, então teremos que treiná-los e reestruturar a Guilda
quando tivermos tempo livre. Bem... se mesmo alguém como eu foi capaz de prever isso,
tenho certeza que você já pensou o mesmo.”

“C-com licença, Ainz-sama... desculpe por interromper... mas.”

“Qual o problema, Mare?”

“Eh, umm, si-sinto muito, mas n-não estou confiante de fazer o trabalho incrível que a
Albedo-san faz...”

Depois de um breve silêncio, a voz irritada de Albedo ecoou no Salão.

“—Isso é tudo que você tem a dizer!?”

O que deu nela?

Ele não sentiu que nenhuma das palavras de Mare justificasse a raiva de Albedo. Na
verdade, Ainz concordou com o que ele disse.

“Mare!”

Mare ficou acuado quando Albedo gritou. Ela estava muito aborrecida.

Antes que Ainz pudesse detê-la, Albedo continuou:

“Eu ouvi um Guardião de Andar, a elite hierárquica, dizer que não pode fazer o trabalho
que é esperado por um Ser Supremo?”

“Albedo! —Pare de fazer escândalo. Qual é o problema de alguém dizer a verdade? Seria
muito pior se dissesse que pode, sabendo que não é capaz”

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


8 0
“Perdoe minha insolência, mas permita-me continuar.”

Apesar da repreensão de Ainz, Albedo continuou em uma voz ainda mais alta. Mas,
como parecia que não estava mais direcionando sua raiva para Mare, Ainz a deixou ter-
minar.

“O problema não é reconhecer que não é capaz, mas sim não deixar bem claro que dará
seu melhor para estar apto a fazê-lo! Um Guardião de Andar não pode dizer que é inca-
paz de fazer algo que um Ser Supremo espera e simplesmente concluir seus dizeres.”

Eita.

Ainz grunhiu por dentro.

Ele não podia dizer que Albedo estava errada. O que Mare disse certamente deixou a
desejar se interpretado desse ponto de vista.

“...Ainz-sama, eu concordo com a Albedo. O Mare deveria é se retratar por ter dito as
coisas desse jeito. “

Disse Aura com indiferença. Sendo repreendido por sua própria irmã, Mare soltou al-
guns sons lamentáveis.

“Como um Guardião de Andar—”

“Pare!” Ainz gritou com raiva para impedir Albedo de continuar. Claro, foi apenas uma
encenação, ele não estava realmente com raiva. O fato de que sua supressão emocional
não entrou em ação era prova disso.

Ainz elevou sua aura assim como sua voz. Ele optou por usar o efeito visual da aura para
assumir o controle da conversa, não para prejudicar os outros. Ele escolheu usá-la por-
que sabia que Aura, Mare, Albedo e até Lumière estavam equipados com itens que con-
cediam imunidade contra efeitos de status mental.

Ele não sabia o que Albedo teria dito se permitisse que continuasse. Talvez mais tarde
ela explicasse com calma para Mare, mas como havia a chance de que isso pudesse re-
sultar em ressentimentos, Ainz não poderia deixá-la terminar.

“Mare. A Albedo tem razão. Se você expressar sua incapacidade de fazer algo, também
deve sugerir maneiras de melhorar.”

“P-por favor, me perdoe.”

“Por outro lado, Albedo. Você não acha que é vergonhoso um superior forçar seus su-
bordinados a fazerem algo que são incapazes de fazer?”

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


8 1
“...Não posso negar que é injusto.”

“Eu acho que ambas as partes erraram. Mas estou feliz por sua lealdade, e quero que
saiba que todos cometem erros. É preciso ser gentil ao corrigir um erro, para que da
próxima vez não fiquem receosos para reportarem caso erros voltem a acontecer.”

Albedo era muito leal e capaz, mas ela tendia a ser dura com os outros. Ainz concluiu
que a única razão pela qual isso não causava grandes problemas era porque havia rejei-
tado a maioria das sugestões dela sobre como lidar com os outros. Se Albedo recebesse
autoridade total, provavelmente terminaria em expurgos em larga escala.

Embora possa ser um medo infundado... eu acho...

“Sim. Eu sei que exagerei. Perdoe-me, Mare.”

“Eh, Ah, não. Não fez nada de errado, Albedo-san. Eu que errei... Eu sinto muito.”

Depois que se curvaram um para o outro (com Mare fazendo uma reverência mais pro-
funda), esse incidente poderia ser considerado resolvido por enquanto.

“...Então, onde estávamos? Lembrei. Como irei tirar férias com esses dois, quero que os
gêmeos escolham seus substitutos. Em primeiro lugar, transfiram seu trabalho para seus
substitutos no prazo de três dias. Se possível... confie-o aos Guardiões de Área sob seu
comando em vez dos Guardiões de Andar. Se não for possível—”

Ainz pensou que seria difícil entregar algo mais nas mãos de Albedo, já que faz pouco
tempo desde a destruição do Reino.

“Discutam o assunto com o Pandora’s Actor, tudo bem?”

Ele obteve uma resposta enérgica de ambos.

“Quanto à comitiva, Ainz-sama? Serão os Hanzos?”

Não era uma má sugestão, mais precisamente, Hanzos eram muito convenientes. Para
ser honesto, Ainz queria convocar mais se dinheiro e dados não fossem um problema.
Entretanto, os dados para invocações de Hanzo foram usados, mas ainda havia dados
para outros monstros do tipo ninja na biblioteca. Seria ótimo se ele pudesse usar isso,
mas—

—Se possível, eu preferiria não usar os ativos do tesouro, vai ter que ser assim por en-
quanto, pelo menos até que eu junte meu próprio dinheiro. Ou seria melhor priorizar o
fortalecimento das defesas de Nazarick? Vou pensar melhor a respeito quando estiver via-
jando. Aaah, queria tanto ter dinheiro... Dinheiro que eu possa usar do jeito que eu quiser...

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


8 2
Será que há alguém com algum tesouro escondido? Tipo, de alguém que não pode reclamar
mesmo que eu roube.

“...Ainz-sama?”

“Hum? ...Ah, perdão. Parece que fiquei perdido em pensamentos. Sobre a comitiva—”

Ainz parou antes de dizer “Hanzos são uma boa escolha”. Em geral, dizia-se que funcio-
nários excelentes eram bons em ler nuances. Embora Ainz fosse um funcionário medío-
cre, talvez tenha acertado um crítico nesse instante, porque sua intuição lhe disse para
calar a boca por um momento.

Isso porque ele conseguiu ler algumas emoções levemente diferentes do habitual tom
de Albedo.

“—Não, originalmente não planejei levar os Hanzos. Por acaso há algum trabalho que
queria que os Hanzos façam?”

“Ah, não, como o senhor não planeja levar os Hanzos dessa vez, não tenho porquê me
opor à sua decisão, Ainz-sama...”

Albedo hesitou um pouco enquanto tentava ler o humor de Ainz:

“Houveram algumas reclamações, a respeito de que os Hanzos são os únicos a serem


chamados... há muitas pessoas que querem trabalhar para o senhor, então eu queria per-
guntar se poderiam ter uma chance.”

Quando Ainz começou a encará-la, Albedo imediatamente apertou suas mãos nervosa-
mente.

“Me sinto aliviada de deixar o senhor a par de que há pessoas ansiosas para servi-lo.”

Ainz mentalmente colocou a mão na testa enquanto respondia com um “Uhum”.

Ainz— Suzuki Satoru era apenas uma pessoa comum, então nunca imaginou que tal
problema pudesse existir.

Era um fato que estava usando muito os Hanzos, mas deixar os outros terem essa im-
pressão era muito ruim.

O favoritismo sempre existia dentro de uma empresa. Era natural que pessoas aprecia-
das por seus superiores fossem promovidas, mesmo que seu talento fosse um pouco in-
ferior em comparação com seus colegas. Ainda assim, o favoritismo tendia a piorar as
relações sociais dentro da empresa.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


8 3
Isso não era bom. Ele não estava apenas pensando que; embora Nazarick fosse uma
empresa abusiva, de alguma forma estava funcionando bem por causa da força de suas
relações sociais internas, correto?

Ele não poderia dizer: “Irei com os Hanzos mesmo” em tal situação.

“Bem, vamos decidir a comitiva mais tarde— digo, em breve devemos informá-los. Será
interessante ver como você se preparará, assim minhas escolhas não atrapalhariam, não
acha?”

Ainz deu um sorriso enquanto se sentia totalmente diferente por dentro.

Albedo inclinou a cabeça com uma expressão que dizia: “Entendo. Como esperado de
Ainz-sama”.

“Sim, senhor. Eu informarei imediatamente todos os habitantes de Nazarick.”

“Ótimo. Estou contando com você.”

Ainz se levantou e saiu da sala com apenas Lumière o seguindo. Ele então soltou um
grande suspiro como um assalariado que acabara de terminar seu dia de trabalho.

♦♦♦

Albedo levantou a cabeça ao ouvir a porta fechar e seus olhos se encontraram com os
outros dois que levantaram a cabeça ao mesmo tempo.

“Ei, Albedo. Eu quero te perguntar uma coisa.”

“O que seria?”

Respondeu Albedo enquanto se levantava.

“Mesmo o Ainz-sama dizendo que vai visitar o Reino Élfico pra tirar férias... o que ele
realmente tá pretendendo? Não é possível que seja apenas pra dar uma relaxada, né?”

“—Dificilmente.”

“Eh? Ju-jura mesmo?”

O Supremo Governante de Nazarick, Ainz Ooal Gown, era um rei sábio cujo cada ação
continha inúmeros significados. Deve-se pensar que havia pelo menos três objetivos por
trás de cada um.

A posição de um rei não era uma coisa para ser tomada de ânimos leves. Não é como
um casaco que pode tirar e colocar de acordo com o clima. Mesmo tendo dito que seriam

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


8 4
férias — mesmo que os outros países acreditassem —, no final ele ainda era o ilustre rei
do Reino Feiticeiro. Cada movimento poderia ser considerado como parte da agenda do
Reino Feiticeiro. Qualquer idiota poderia entender isso.

Portanto, era lógico que havia outro significado oculto em seu ato de tirar férias remu-
neradas no país dos Elfos.

“E aí, qual você acha que é o objetivo do Ainz-sama?”

“Como ele mencionou, melhorar nossa organização provavelmente faz parte disso, mas
estou certa que coletar informações é o objetivo principal.”

Albedo disse enquanto ponderava:

“Eu acho que o Demiurge teria uma resposta melhor... a Teocracia deve estar implan-
tando uma ofensiva em larga escala contra o Reino Élfico neste exato momento.”

“Q-quer dizer aquela T-teocracia?”

Informações sobre a Teocracia Slane circulavam em Nazarick, então não havia necessi-
dade de explicar os fundamentos.

“Sim. Depois de perceberem que seu hipotético inimigo, o Reino Feiticeiro, entrou em
conflito com o Reino, eles naturalmente estão tentando terminar sua guerra com os Elfos
de uma vez por todas.”

“Porque é ruim lutar em dois frontes, né?”

“Correto. Embora a Teocracia não esteja em guerra conosco agora, considerando a si-
tuação futura, é melhor não dividir suas forças entre os frontes norte e sul. Nesse caso, é
altamente provável que estejam movendo uma grande ofensiva para atacar o Reino Él-
fico. É difícil pensar que oferecerão um tratado de paz justo agora, mas não tenho cer-
teza.”

Albedo não via problemas se o país dos Elfos fosse destruído pela Teocracia. Pelo con-
trário, traria apenas benefícios se a Teocracia escravizasse sua população, pois assim
poderia usar de Casus Belli para libertar os Elfos. Isso poderia aumentar a quantidade de
opções que tinham contra a Teocracia, mas parece que seu mestre pensava diferente da
situação. Talvez ele estivesse indo para lá porque queria obter mais informações antes
de tomar uma decisão.

Demiurge provavelmente teria respondido com certeza se estivesse presente.

Albedo tinha vantagem sobre Demiurge quando se tratava de assuntos internos, mas
em questões militares o jogo virava. Ela sempre perdeu para Demiurge nesse assunto.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


8 5
Enquanto esse pensamento se formava em sua mente, ela inclinou a cabeça se pergun-
tando o porquê de Demiurge estar tão quieto ultimamente.

Demiurge está traçando planos em segredo? Ele está planejando algo coletando informa-
ções secretas sobre a situação dentro do Reino Élfico? Eu não acho que seja o caso, mas...

Como Demiurge costumava trabalhar fora de Nazarick, ele detinha mais poderes arbi-
trários em comparação com os outros Guardiões. Ou melhor, era mais correto dizer que
os outros Guardiões não faziam pleno uso de seus privilégios. Dito isso, ele sempre des-
crevia as informações coletadas e suas ações em relatórios muito detalhados (que sem-
pre acabavam sendo grandes demais e chatos de ler) para seu mestre, relatórios esses
que passavam por ela. Era por isso que Albedo acreditava que ele não poderia estar tra-
mando algo sem que percebesse, já que não recebera nenhum relatório sobre o Reino
Élfico.

Considerando a personalidade de Demiurge, era improvável que ele estivesse escon-


dendo algo. Era mais provável que ainda não tivesse estudado o tema.

Contudo, não era algo que ela poderia confiar cegamente.

Seria lógico ir encontrá-lo imediatamente depois de deixar esse lugar. Não, ela deveria
requisitar sua presença. Não seria nada bom conversar no domínio dele, se ela tivesse
seus subordinados de prontidão durante a conversa, era provável que Demiurge ten-
tasse sondar suas intenções.

Mas se ele trouxesse aqueles demônios... não, ele tomaria ações tão impensadas? Será que
ele está duvidando de mim? Ele ainda não fez nada, então o problema é—

“V-vamos lutar contra a Teocracia?”

“Eh? Ah, sim, como ia dizendo; não sabemos se vai acontecer. Talvez até o Ainz-sama
não tenha certeza e é por isso que ele está usando a desculpa de férias remuneradas.”

A pergunta de Mare a acordou de seus pensamentos e, confusa, Albedo respondeu ra-


pidamente. Mesmo que ponderasse por um bom tempo, não havia suspeita nos olhos
dos gêmeos. Ela decidiu guardar seus pensamentos sobre Demiurge para mais tarde.

Talvez seu mestre estivesse pensando em viajar não como o governante de Nazarick,
mas apenas como um undead em férias. Dessa forma, mesmo que o pior acontecesse, os
danos à Nazarick seriam minimizados.

“Talvez, e apenas desta vez, há alguns elementos que nem mesmo o Ainz-sama tenha
certeza, creio que seja por isso que ele está fazendo seus movimentos sem envolver Na-
zarick.”

“Nem pensar!”

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


8 6
“Eeeh!? Está falando sobre o Ainz-sama, es-esqueceu?”

Os dois Elfos aumentaram o tom, cheios de surpresa,

A sabedoria de seu mestre conseguiu ler e controlar tudo até agora. Eles testemunha-
ram diversas vezes quando uma de suas ações corriqueiras acabou sendo o golpe fatal
para o oponente. De acordo com o que ouviram, ele havia planejado para os próximos
mil anos e estava fazendo jogadas dentro desse itinerário.

Era natural duvidar de Albedo, que disse que seu mestre poderia estar incerto sobre o
que fazer.

“...Como esperado do Ainz-sama, até você não conseguiu ler todas as intenções dele—”

Albedo sorriu sem graça para Aura, que falou com as mãos cruzadas atrás da cabeça.

“Primeiramente, é impossível compreender as ramificações de todos os planos do Ainz-


sama. Digo a vocês por experiência própria... Mas com toda honestidade, eu ainda não
entendo a razão pela qual o Ainz-sama usou a palavra ‘férias remuneradas’. Apenas te-
nham em mente que; como irão para o país dos Elfos, é muito provável que tenham que
enfrentar a Teocracia.”

Os dois Guardiões assentiram com expressões sérias.

“F-fomos autorizados a levar nossos próprios subordinados...”

“Além daqueles selecionados pelo Ainz-sama, você quer dizer...”

Albedo considerou a sugestão de Mare. Embora pudesse ser considerado uma afronta
ao seu mestre, também poderia deixá-lo feliz por terem preparado alguns por conta pró-
pria.

“Se o Ainz-sama quer uma diminuta força de elite... não, será quê...”

Albedo começou a considerar o tema mais profundamente:

“Por ora, selecionem um grupo para a comitiva menor e outro para caso precise de uma
maior... Quanto a mim, discutirei com o Demiurge a respeito dos objetivos de Ainz-sama
e informo vocês mais tarde.”

Ainz-sama estava extremamente preocupado com a deterioração da capacidade organi-


zacional de Nazarick. Será que melhorar isso faz parte de seus objetivos?

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


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Após dá-los metas e dizer para não se preocuparem muito, ela recebeu como resposta
elogios sarcásticos. Provavelmente por sua incapacidade de entender toda a extensão de
seu desconforto e sua inabilidade de responder à confiança depositada nela.

Ele estava especialmente preocupado com esse ponto...

Até o momento, haviam adquirido apenas uma pessoa a par com os maiores intelectos
de Nazarick. Ele estava dizendo que apenas isso não bastava? Ou era outra coisa...?

Albedo falou depois que ouviu os gêmeos reconhecendo suas sugestões.

“Creio que terei um maior entendimento das intenções do Ainz-sama depois que eu
souber quem ele escolheu para a comitiva... espero que o trabalho desta vez seja de al-
tíssimo nível. Observem tudo sem baixar a guarda e mantenham-se informados o tempo
todo.”

Os dois Guardiões responderam alegres à Albedo.

Considerando sua força de combate, ela tinha certeza de que seriam capazes de prote-
ger seu mestre, mas ter cuidado nunca é demais.

Ela precisava discutir com Demiurge e se preparar para a mobilização total de Nazarick
apenas por precaução.

Mesmo que vá desacelerar o modo como lido com os remanescentes do Reino, devemos
nos preparar por desencargo de consciência.

Albedo deixou a sala com os gêmeos, enquanto a caminho, ela mentalmente organizava
a ordem de suas próximas tarefas.

Capítulo 1 Para Tirar Férias Remuneradas


8 8
Capítulo 02: Passeio ao Estilo Nazarick

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


8 9
Parte 1

ode-se dizer que não haviam pontos de bloqueio na Grande Floresta de

P
Evasha, o lar dos Elfos. Certamente havia lugares com monstros perigosos,
pequenas tribos demi-humanas e labirintos impossíveis, mas não havia
estruturas que pudessem ser chamadas de fortalezas ou barreiras físicas
intransponíveis. No entanto, existia um lugar que era digno dessa alcunha.

E era tudo graças a uma única pessoa.

Escondido atrás de árvores esparsas, o vice-capitão da Escritura do Holocausto, Schoen,


bisbilhotava à frente.

Lá estava uma menina de cerca de 8 anos de idade, ela parecia ainda mais jovem do que
sua idade sugeria, um traço comum da raça dos Elfos.

Sentava-se em uma pequena cadeira em cima de um diminuto declive. Ela segurava um


arco grande demais para sua altura e, ao seu lado, eram vistas algumas flechas dentro da
aljava que se situava ao lado da cadeira.

Era possível contar as flechas sem usar os dedos de ambas as mãos, mas foram infor-
mados de antemão de que as flechas nunca acabavam. Não havia dúvida de que era um
item mágico.

Ninguém estava por perto, exceto a garota.

...E justamente isso o assustava.

Um herói poderia virar a maré da batalha sozinho. Era certo afirmar que apenas um
deles era igual a um exército de 10.000. Na verdade, a garota em sua frente já havia ti-
rado mais de 1.000 vidas do exército da Teocracia.

Um exército de 40.000 homens estava sendo acuado por uma garotinha sentada em
uma cadeira.

A estratégia indicada diante de uma situação dessas era contornar o obstáculo. Não era
como se tivessem que avançar a partir daqui. A grande floresta em si era uma barreira
natural, mas não era impossível fazer um desvio.

Dito isso, a oponente não era um exército, mas uma única combatente. Era fácil notar
os movimentos de uma tropa de guerreiros, mas a garota era muito boa no que fazia.
Estando sozinha, ela tinha mais mobilidade que seus homens. Uma vez que a perdessem
de vista, seria difícil encontrá-la novamente. Se um inimigo capaz de lutar sozinho contra

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


9 0
um exército fosse deixado por conta própria nas profundezas da grande floresta, não
havia necessidade de dizer que o moral da vanguarda cairia.

Também poderiam tentar atrasá-la, encurralando-a com uma pequena parte de sua
tropa enquanto deixavam o restante avançar. Isso não era exatamente uma má idéia,
exceto pela burrice óbvia de dividir suas forças em uma terra hostil.

Então, pode-se dizer que esta seria a melhor chance deles: como a oponente foi posici-
onada (embora ficar apenas sentada em uma cadeira levante sérias dúvidas sobre isso)
e instruída a agir dessa forma. O alto escalão decidiu que assim que soubessem sua loca-
lização, ela deveria ser neutralizada, mesmo que tivessem que sacrificar algumas de suas
forças.

“Somente um herói pode enfrentar um herói”, dizia o aforismo. Nada se resolveria envi-
ando a ralé.

Desta vez não havia heróis no exército de invasão da Teocracia, então a Escritura do
Holocausto foi incumbida a dar seu jeito e resolver o problema.

A propósito, não havia heróis na Escritura do Holocausto. Costumava haver um, mas foi
transferido para a Escritura Preta. Na Teocracia, qualquer um que entrasse no reino dos
heróis seria movido para a Escritura Preta.

Infelizmente, Schoen ainda não entrou nesse reino.

Apesar disso, eles foram enviados para esse campo de batalha, pois acreditava-se que;
desde que trabalhassem em equipe, poderiam derrotar um herói.

Era uma verdade.

A Escritura do Holocausto era capaz de matar heróis.

Mas havia uma grande diferença entre aqueles que acabaram de entrar no reino dos
heróis e aqueles que eram praticamente anômalos. Mesmo que pudessem vencer os no-
vatos, era impossível triunfarem contra seres atípicos. Era por isso que Schoen obser-
vava a garota com seriedade.

Soldados comuns, soldados mais fortes, soldados de elite, anômalos... Schoen, que tinha
visto seres de vários níveis, tinha conhecimento e inteligência suficientes para medir sua
força com precisão e minimizar suas baixas o máximo possível.

Embora não sejam comparáveis à Escritura Preta, os membros escolhidos para a Escri-
tura do Holocausto eram elites por direito próprio (de certa forma, o mesmo era válido
para as demais escrituras). Ele não queria que eles fossem mortos sem motivo.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


9 1
Dependendo do quão forte fosse, ele poderia ordenar que sacrificassem alguns solda-
dos para segurá-la enquanto esperavam que a Escritura Preta fosse despachada da Teo-
cracia.

Schoen soltou sua respiração lentamente.

Embora estivesse escondido atrás das árvores usando 「Invisibility」 e 「Silence」,


ele ainda tinha que estar atento mesmo quando respirava. A magia「Silence」não era
originalmente de ramificação arcana, mas essa versão foi desenvolvida para ser usada
por magic casters.

Ele queria secar o suor da testa, mas considerando que qualquer um de seus movimen-
tos poderia levar à morte, ele optou por se conter. Schoen era um magic caster talentoso,
mas quando se tratava de furtividade, ele era apenas um pouco melhor que uma pessoa
comum se não usasse magia.

Muito possivelmente a garota Elfa era uma ranger ou arqueira. Se fosse o primeiro, era
possível que detectasse Schoen mesmo através da furtividade mágica. Mesmo que não
soubesse sua localização exata, ela poderia usar um ataque de área — algo que foi con-
firmado de ela ser capaz — para transformá-lo em espetinho humano.

Dificilmente Schoen morreria em um único ataque, mesmo que o oponente fosse um


herói, mas não estava confiante em escapar se fosse ferido.

Mais forte que seu medo da morte, era seu medo de morrer em vão sem trazer as infor-
mações que coletou.

—Mas que pirralha desagradável.

Ela não tinha feito um único movimento desde que começou a observá-la. Sua expres-
são contemplativa a fazia parecer uma boneca.

Mas, Schoen sabia que não era o caso.

Depois de um longo tempo em observação, o alvo finalmente se moveu.

O coração de Schoen fisgou em seu peito, preocupado que seu alvo o tivesse notado.

Entretanto, não olhou em sua direção, mas isso não significava que poderia baixar a
guarda. Para aqueles que aprimoraram suas habilidades ao limite, era fácil saber de tudo
que ocorria em uma direção mesmo olhando para o lado oposto. Na verdade, Schoen
sabia que tal habilidade realmente existia.

Com sua audição fortalecida por 「Elephant Ear」, ele logo ouviu um grande grupo de
pessoas se aproximando. Provavelmente o que fez a garota olhar naquela direção.

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


9 2
Ele tinha certeza de quem se tratava — soldados da Teocracia.

Schoen sentia culpa, pois sabia o porquê foram enviados para cá.

Ele não podia avisá-los, pois isso era parte de seu dever.

Tudo que precisava fazer era prestar atenção na garota.

Sua verdadeira força só poderia ser compreendida se a vissem lutar. Esses soldados
eram os sacrifícios que o alto escalão enviou para esse propósito. Vidas valiosas seriam
perdidas hoje.

Schoen virou-se olhando para trás, certificando-se de que não seria notado pelo alvo.
Seus olhos, aprimorados pela magia de segundo nível 「Hawk-eye」, avistaram uma fle-
cha.

Enquanto fazia sua trajetória, a flecha solitária passou ao redor das árvores em seu ca-
minho e, em seguida, se multiplicou em várias flechas no ar, transformando-se em uma
chuva de flechas capaz de cobrir uma grande área.

A flecha não visava nada específico. Mesmo que pudesse localizar seu alvo através do
som, estavam no meio da floresta. Era impossível atirar com precisão com todas as ár-
vores ao redor. Por exemplo, uma 「Fireball」 seria capaz de contornar essas obstru-
ções.

Ela estava apenas fazendo bom uso do que sabia, combinando a habilidade de atirar
entre as aberturas das árvores com a habilidade de multiplicar as flechas.

Os ouvidos aprimorados de Schoen captaram gritos de dor dos soldados. Parecia que
ninguém saiu ileso.

—Gritos? Eles ainda estão vivos?

Os soldados zanzavam confusos, temendo as flechas que vinham de onde não podiam
ver. Como ninguém conseguia descobrir a trajetória das flechas, todos começaram a cor-
rer como baratas tontas. Não havia mais nenhum espírito de luta.

Não que estivessem cometendo um erro grave. Na verdade, pode-se dizer que estavam
agindo corretamente, espalhando-se aleatoriamente, o que permitiria que pelo menos
alguns sobrevivessem.

A garota disparou outra flecha. Que passou entre os espaços das árvores novamente e
depois se multiplicou. Entre a chuva de flechas, os sons de lamentos e o farfalhar da ve-
getação rasteira foi diminuindo.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


9 3
Ele aprendeu algo importante graças aos sacrifícios desses soldados.

Ela não poderia matar um soldado comum em um único ataque. Claro, considerando a
habilidade — Arte Marcial — que fez as flechas se multiplicarem, era lógico que cada
flecha teria precisão e dano reduzidos. Um herói poderia matar cada um daqueles solda-
dos com um único ataque. Então só poderia significar uma coisa.

—Ela não é grande coisa. Aquela pirralha nem mesmo está no reino dos heróis

Essa foi a conclusão de Schoen.

Por treinar tanto para igualar seu rival, o Terceiro Assento da Escritura Preta, “Tetra
Espíritos”, que ele pôde ter certeza de sua conclusão.

Ela era mais fraca que Schoen, mas isso não significava que poderiam enfrentá-la de
peito aberto.

Magic casters e arqueiros eram fortes à sua maneira. Mesmo que fosse mais forte do
que ela em termos gerais, o resultado era incerto. Poderia ser possível que ela estivesse
escondendo sua verdadeira força depois de perceber que estava sendo vigiada.

Mas, Schoen, o observador em questão, podia dizer que ainda estava seguro.

Agora precisavam dar apenas um passo. Neutralizar o obstáculo que impedia o avanço
da Teocracia.

Ele ativou 「Silent Magic: Wall of Protection from Arrows」.

Ele não achava que apenas isso bastava, ela poderia notar algo suspeito e escapar. Ainda
mais dada à distância que estava.

Só restava fortalecer sua determinação.

「Silent Maximize Magic: Magic Arrow」.

Ele saiu do esconderijo atrás da árvore e ativou suas habilidades de modo síncrono. Ele
também ativou o trunfo de uma vez por dia de sua profissão Devoto Arcano, a Escritura
do Holocausto exigia que seus membros tivessem. Isso permitiu que acessassem meta-
magias de fortalecimento que ainda não haviam aprendido. Naturalmente, ele escolheu
「Triplet Magic」.

Um total de 12 flechas mágicas foram disparadas ao mesmo tempo.

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


9 4
Não se podia escapar dessas flechas, mas em contrapartida, o dano de apenas uma era
baixo. Mesmo que não haja muita disparidade entre eles, seria difícil matá-la mesmo com
「Maximize Magic」. Mas... essa seria a regra se estivesse lutando sozinho.

Os subordinados diretos de Schoen estavam observando-lhe com 「See Invisibility」.

A expressão da garota mudou em um instante.

Talvez fosse porque se assustou com o ataque repentino, ou ainda porque viu mais de
cem 「Magic Arrows」 seguindo o ataque de Schoen.

A Escritura do Holocausto era encarregada de assassinato e contraterrorismo, o que


exigia que seus membros fossem adaptáveis, de modo que suas equipes consistiam de
pelo menos quatro membros, cada um com profissões diferentes.

Esse modo de operar era semelhante às táticas dos aventureiros no Reino e Império.
Secretamente, a Teocracia deu início às guildas de aventureiros, então, de certo modo,
poderia até chamá-los de irmãos de armas. A tática desta vez contou com uma equipe
composta por todos tendo uma profissão em comum. Além disso, apenas aqueles que
poderiam usar uma habilidade específica foram selecionados. O resultado final foi uma
equipe de magic casters que também poderia usar 「Invisibility」.

Um, dois, três. Quatro acertos.

Era como se asas de luz traçassem rasantes em meio aos dosséis.

O alvo caiu no chão e ficou imóvel com o rosto para baixo. Mesmo assim, apenas Schoen
se aproximou dela.

Ele não achava que o alvo, uma arqueira, seria capaz disso, mas havia ilusões capazes
de fingir-se de morto. Ele não poderia baixar a guarda.

Ele colocou o pé sob o corpo dela e a virou.

Por ser atingida por suas flechas mágicas, não havia uma única parte do corpo da cri-
ança que estivesse sem feridas. Schoen deu uma olhada mais de perto em seu rosto. Não
havia luz nos olhos vistos através da pequena abertura de suas pálpebras inchadas.

Ele teve certeza de que estava morta.

“Huh. —Quem com ferro fere, com ferro será ferido, pirralha de merda”

Eles não selecionaram 「Magic Arrow」 apenas para ser um ato de vingança simbólica.
Rangers com sentidos aguçados eram capazes de sentir e escapar de danos se fossem
atacados com magias de área de efeito.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


9 5
Ataques mentais eram situacionalmente eficazes em causar dano fatal em um único
golpe, mas havia uma alta probabilidade de que fosse anulado. Mas como tinha outros
dando-lhe suporte, ele optou por usar um método com pequenas chances de dar errado.

Independentemente disso, ainda foi a melhor magia que poderiam ter usado para se
vingar dos soldados mortos.

Schoen franziu as sobrancelhas ao ver o semblante da criança morta, pois havia paz de
espírito em seu rosto.

Talvez fosse uma interpretação errônea por parte dele, mas caso fosse de fato o caso,
seria extremamente irritante. Essa Elfa matou quase mil de seus companheiros da Teo-
cracia, então ele queria que ela morresse em agonia, lamentando até o último suspiro
por suas ações.

Schoen se conteve antes que pudesse cuspir no cadáver. Era preciso tirar o equipa-
mento dela primeiro. Ele planejava fazê-lo aqui, pois não havia inimigos por perto. Ele
se sentiria enojado se tivesse que tocar sua própria saliva no processo, então preferiu
cuspir depois.

Primeiro, o arco.

Uma arma capaz de parar o exército da Teocracia. Deve ser algo bom.

“Ora...”

Schoen ficou sem ação ao ouvir a voz masculina em tons de indiferença. Embora de-
vesse ter respondido imediatamente, o susto o deixou sem ação. Virando-se para olhar
de onde vinha, Schoen se deparou com um único Elfo.

Não havia ninguém aqui, ele tinha certeza disso. Não deveria haver Elfos além da garota.
Ele até teve o cuidado de usar「See Invisibility」 enquanto se aproximava do alvo.

“Humano, você sabia disso? Lutar entre a vida e a morte contra os fortes, é o caminho
mais rápido para tornar-se mais forte? Eu a tirei dos braços de sua mãe e a joguei nesse
campo de batalha quanto antes, pensando que ela se sobressairia...”

A voz parecia desapontada. O Elfo olhou para o cadáver da garota com desprezo:

“Sua imprestável. Você é ainda pior do que os outros fracassados que desperdiçaram
meu tempo. É o que eu sempre digo, quem não é capaz de trazer à tona a essência do rei
não é diferente do lixo.”

Schoen logo notou quem era o Elfo.

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


9 6
Seus olhos heterocromáticos eram a única prova que precisou.

O alvo final da Teocracia.

Um criminoso deplorável.

O Rei Elfo.

Uma existência contra a qual nem os heróis poderiam vencer, muito menos Schoen. Al-
guém acima dos anômalos.

Não havia como vencer.

「Silent Magic: Invisibility」.

Em pânico, Shoen imediatamente ativou a magia e escapou para um lugar próximo.

No entanto, os olhos do Rei Elfo seguiram-no. Mesmo que tenha se movido a uma curta
distância do local onde lançou 「Invisibility」, o Rei Elfo o via normalmente.

No momento em que se deu conta, Schoen fugiu a toda velocidade. Não seria possível
esconder as marcas que deixava na grama mesmo com 「Invisibility」 e 「Silence」,
ainda assim era um risco a tomar.

Mesmo fugindo o mais rápido que podia, o Rei Elfo ainda o seguia com os olhos. Não
parecia que estava usando 「See Invisibility」 para vê-lo perfeitamente. Ele estava
vendo através de 「Invisibility」e 「Silence」 usando apenas sua extraordinária visão.
Foi por isso que Schoen precisava criar alguma distância entre eles. Se o oponente não
estivesse usando habilidades anti-furtivas para encontrá-lo, apenas aumentar a distân-
cia entre tornaria mais fácil se esconder.

Por apenas um momento, ele se arrependeu de não usar 「Fly」 para escapar, mas ele
não poderia fazê-lo pois uma das profissões que adquiriu drenou boa parte de sua mana.

Adeptos de Surshana tinham uma habilidade especial com limitados usos por dia. Essa
habilidade permitia que estendessem o tempo efetivo de uma magia consumindo parte
de sua mana. Aproveitando essa habilidade, ele já havia esgotado a maior parte de sua
mana para manter suas outras magias. Portanto, ele não tinha mana suficiente para usar
「Fly」 de forma efetiva.

Além disso, só um louco usaria 「Fly」, pois ficaria indefeso diante do Rei Elfo. Schoen
não estava desesperado a esse ponto. Era mais lógico usar depois que pudesse se afastar
o suficiente e se esconder nas árvores.

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“—Hah”

Ele ouviu as zombarias do Rei Elfo vindo por trás.

“É tão sem sentido matá-los, mas— eu tive o trabalho de vir até aqui, então pode ser
bom para aliviar meu tédio.”

Como um magic caster, Schoen não era exatamente do tipo atlético. Mesmo assim, como
alguém que estava na beira do reino dos heróis, ele poderia cruzar grandes distâncias
com pouco esforço. Depois que Schoen conseguiu se afastar o suficiente, a voz do Rei
Elfo de repente ecoou em seus ouvidos, que estavam aprimorados pelo 「Elephant
Ear」.
[ B e e m o t e ]
“Vá — mate todos, Behemoth.”

A terra tremeu e ele entendeu que algo enorme havia surgido sem sequer olhar.

“DISPERSAR!”

Gritou, cancelando 「Silence」 para que sua voz pudesse alcançar seus subordinados.

Ele nunca havia gritado tão alto em toda a sua vida. Mesmo o Rei Elfo achando tolo de
sua parte, ainda foi o melhor caminho.

Ele precisava que seus subordinados dessem tudo de si, mesmo que significasse o sa-
crifício de alguns. Levar a informação para casa era a única maneira de honrar as vidas
perdidas.

Schoen, que estava mais próximo do Rei Elfo, certamente morreria. Então ele voltou. Se
morresse antes de seus subordinados, a chance de escaparem seria mais alta.
[Elementais T e r r e n o s ]
Ele já tinha visto Earth Elementals antes. Eram seres estranhos de aparência rotunda,
menores que humanos e com braços grandes demais para seus corpos. Mas, aquele que
estava à sua frente não tinha traços de fofura.

Um corpo disforme feito de pedregulhos e minério, e tão grande quanto as árvores ao


[Soberano E l e m e n t a l T e r r e n o ]
seu redor, o suficiente para ser chamado de Earth Elementallord.

Braços grossos e longos, pernas fortes e atarracadas. Talvez parecesse cômico se fosse
menor, mas sua silhueta exibia um poder sem igual. O Rei Elfo estava atrás dele, olhando
para a luta desesperada de Schoen com um sorriso de escárnio.

Sua pose era repugnante.

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


9 8
OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1
9 9
Um assassino que matava sem se pôr em perigo.

Despreocupado com os sentimentos alheios, o Rei Elfo imediatamente encurtou a dis-


tância com movimentos graciosos como se estivesse patinando sobre o gelo. O elemental
— Behemoth, ergueu seus dois braços gigantescos no ar.

“—Tenta a sorte, seu cretino! 「Wall of Stone」.”

Um muro de pedra foi erguido entre o Rei Elfo e ele.

No momento seguinte, foi quebrado com um único golpe, seus pedaços liquefizeram no
ar.

Embora houvesse outros fatores, a resistência e a durabilidade de uma barreira ten-


diam a ser proporcionais à força do conjurador. Isso era uma boa prova do poder do
elemental convocado.

Behemoth imediatamente ergueu o punho esquerdo.

Pelo canto do olho, Schoen viu o Rei Elfo parado ali com um sorriso de satisfação e logo
entendeu seus pensamentos torpes.

Ele sabia o que lhe aguardava. O Rei Elfo estava pensando que Schoen morreria no pró-
ximo ataque. E certamente não estava errado.

O punho do Behemoth alcançaria Schoen antes que pudesse lançar outra magia, seu
destino estava selado.

Mesmo assim—

Consegui ganhar algum tempo...

Ele desperdiçou o tempo de seu oponente, mesmo que apenas por alguns momentos,
mas já era um feito e tanto.

Era mais do que suficiente.

Pelo menos uma pessoa sobreviveria para retornar à Teocracia por causa disso. Poderia
ser o fim de Schoen, mas não da Teocracia.

No momento seguinte, Schoen foi esmagado pelo punho de Behemoth, mas não perdeu
seu sorriso mesmo em seu fim.
♦♦♦

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


100
O rei dos Elfos — Decem Hougan, passou pelo portão do castelo, soltando um suspiro
por sentir-se desconfortável.

Demorou muito para voltar ao castelo, o que o deixou de mau humor.

Ele retornou da maneira mais rápida possível, montando no infatigável Behemoth.


Mesmo assim, era tedioso perder tempo e ele odiava o estresse que isso lhe causava.

Recuperar as armas que deu à sua criação fracassada certamente não foi uma perda de
tempo — ele deveria ser elogiado por isso. O equipamento que deu a ela eram coisas que
recebera de seu pai, equipamentos que ninguém mais poderia replicar. Ele não podia
deixar com que caíssem nas mãos de humanos que não conseguiam entender seu valor.

Seu aborrecimento vinha do fato de que não havia mais ninguém que pudesse comple-
tar uma tarefa tão importante.

Ele não tinha subordinados a quem pudesse confiar tais questões. Isso porque todos
eram fracos.

Todos eram inúteis.

Em seu ponto de vista, Elfos eram uma raça esplêndida, seu pai era a prova disso. A raça
dos Elfos poderia se tornar mais forte do que qualquer outra. Se Decem fosse um tipo
[Soberano elfo]
especial de Elfo como um Alto Elfo ou um Elfolord, ele teria concluído que os outros eram
apenas piores e ponto final. No entanto, esse não era o caso. Seu pai também era apenas
um Elfo. Isso significava que qualquer Elfo poderia ser tão forte quanto.

É por isso que ele não conseguia entender o porquê de seus iguais serem tão fracos.

Como ele poderia provar que sua raça era a mais poderosa?

Ele só tinha que conseguir algo que pudesse convencer os incrédulos.

Ele só tinha que fazer desse mundo o domínio dos Elfos — ou mais precisamente, dele,
que possuía uma linhagem tão sagrada.

E para isso, ele exigia excelentes mulheres fortes.

Infelizmente, ele não tinha como saber quais fêmeas tinham úteros superiores até que
as crianças fossem geradas. Assim, ele enviou todos os seus filhos para a guerra, mas
quase nenhum conseguiu retornar.

Ele estava incomodado com o fato de que, mesmo após fazer isso por tanto tempo, ainda
não obtivera resultados.

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Uma fêmea se aproximou de Decem, que parecia bastante ameaçador enquanto imerso
em pensamentos.

“—Meu rei.”

“O que é?”

Ele dirigiu sua raiva colérica para a fêmea e então arregalou ligeiramente os olhos com
surpresa.

O olhar de uma pessoa forte (Decem) continha emoções fortes — especialmente se es-
tivesse cheio de hostilidade ou intenção assassina. Como resultado, tendia a quebrar o
espírito dos fracos. Mas de fato ele não dirigiu sua intenção assassina para ela, apenas
sua raiva. Mesmo assim, os seres mais fracos deveriam ser afetados e, embora essa fê-
mea tenha ficado pálida, ela resistiu.

Não deveria passar de uma mulher fraca.

Nesse caso, como ela resistiu? Talvez fosse porque estava exausto. Ele realmente não
se importava, mas deveria recompensá-la por isso.

Então, ele parou de encará-la. Decem era um homem misericordioso.

“Como está a criança?”

Quem deveria ser “a criança”? O que exatamente ela quis dizer com uma pergunta vaga
dessas, não deveria ela primeiro agradecer ao rei por trabalhar com tanto afinco depois
de uma longa viagem? Ele perdeu a motivação imediatamente.

“Refiro-me à Roogi.”

Roogi.

Ele não se lembrava de quem se tratava.

Decem não era bom em lembrar de nomes, afinal, quase não havia ninguém que fosse
digno de ser lembrado por ele.

Do seu ponto de vista, lembrar de proles inúteis era um desperdício de memória. Não é
que sua memória fosse limitada, mas não faz sentido guardar coisas sem importância.
Na verdade, ele não conseguia entender o porquê de tantas pessoas tentarem memorizar
inutilidades.

A fêmea desviou o olhar para o arco nas mãos de Decem.

“Então, ela morreu?”


Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick
102
De repente uma luz acendeu em sua cabeça. Era sobre aquela fracassada, aquela que
ousou morrer apesar de ter lhe dado armas tão preciosas. Ele sentiu-se envergonhado
por saber que metade de seu precioso sangue corria nas veias daquilo. Ou melhor, o que
o irritava era saber que metade do que corria em suas veias foi morta por meros huma-
nos.

“Sim, ela morreu.”

“En...entendi...”

Sua voz saiu fraca.

Possivelmente estava sentindo vergonha ao lembrar que seu sangue fluía através da-
quela criação fracassada, que por sinal tinha saído mais forte que a própria mãe. Assim
sendo, essa mulher deveria sentir ainda mais vergonha.

Mas era dever do rei dar uma segunda chance.

Decem sentiu-se comovido ao ver como era um rei gentil ao ponto de ser misericordi-
oso mesmo com os incompetentes.

“Vá para meus aposentos mais tarde. Vou lhe dar outra chance.”

Decem andou sem esperar resposta. Ele deveria levar essas armas ao tesouro primeiro.

Depois que voltou do tesouro, Decem limpou-se dos detritos do campo de batalha e
deitou na cama em seu quarto.

Enquanto esperava, um homem pediu sua permissão para entrar. Ele não podia ver a
mulher de antes atrás dele.

“...O que quer?”

“Trago-lhe informações, meu Rei. A mulher que Vossa Majestade convocou, chamada
Myuugi, cometeu suicídio”

“Suicídio?”

“Sim. Ela pulou do alto do castelo”

“Como é? Ela morreu ao cair daquela altura... que seja, às vezes esqueço que vocês são
fracos.”

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Decem ponderou. Ele não conseguia pensar em uma razão para o suicídio, até porque
ele tinha acabado de chamá-la para sua cama, ela deveria estar alegre. Talvez não tenha
sido suicídio, mas sim assassinato, por alguém que invejava os prazeres que ela teria.

“...Você tem certeza de que é um suicídio?”

“Sim. Temos certeza, houve uma testemunha.”

Decem pensou por um momento que talvez a testemunha fosse o assassino, mas se re-
almente foi um suicídio, qual poderia ter sido o motivo? Depois de refletir por um tempo,
Decem finalmente encontrou a resposta.

“Entendo... Só pode ser isso. Ela se arrependeu de dar à luz uma filha imprestável e se
matou como um pedido de desculpas, o que acha?”

“...Ninguém sabe o que se passava na cabeça dela, mas certamente tem razão, meu Rei.”

O homem respondeu inexpressivo.

“...Nesse caso, dê a ela um funeral adequado. Ela pediu desculpas com a própria vida. É
dever de um rei saber perdoar.”

“Sou grato pela consideração misericordiosa, meu rei”

Decem acenou majestosamente para o homem que se curvava profundamente. Como


ele pensava, os reis deveriam ser misericordiosos para com os inferiores.

Sentindo-se extremamente compassivo, Decem decidiu recompensar a lealdade do ho-


mem — ele não se lembrava de seu nome — antes que partisse.

“Você tem filhas?”

“...Sim... eu tenho.”

“Hoje é seu dia de sorte. Envie para mim as que forem maiores de idade. Se não tiver
nenhuma, sua esposa servirá meu propósito.”

O homem parecia profundamente comovido. Depois de tremer dos pés à cabeça, ele
falou como se estivesse espremendo palavras entre os dentes.

“Entendido, meu Rei...”

O homem saiu da sala e Decem começou a esquecer aquela fêmea. Não valia a pena
guardar lembranças de uma mulher inútil.

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


104
Parte 2

Voando acima da grande floresta que se estendia do sul do Reino Feiticeiro ao sul da
Teocracia.

Ainz olhou para a terra abaixo enquanto ventos uivantes sopravam ao seu redor.

“Então é isso que chamam de Grande Floresta. É mais como um mar de árvores... sim, o
Grande Mar de Árvores.”

Por ser noite, o fundo da vegetação profunda dava a ilusão de ser pintado de preto.
Quando os ventos passavam nos dosséis, o observador até chegaria a pensar que estava
vendo as ondas do mar. Ele sentiu que era realmente merecedor do nome. Na verdade,
essa floresta era maior do que a Grande Floresta de Tob e a Cordilheira Azerlisiana jun-
tas. Pode até ser maior que todo o Reino.

No que diz respeito ao Reino Feiticeiro, de agora em diante entraremos no Grande Mar de
Árvores.

Até onde a visão alcançava, nenhum ponto de referência era visto nesta colossal floresta.
Certamente havia várias espécies que fundaram civilizações independentes que muda-
ram o habitat para algo que melhor lhes servisse, mas ele não encontrou nenhum sinal
dessas mudanças acima das árvores.

—Talvez usem os dosséis como cobertura natural. Suas civilizações provavelmente evolu-
íram sempre mantendo em mente a camuflagem, assim não seriam presas fáceis de mons-
tros voadores.

Apesar disso, ele notou duas coisas.

A primeira consistia de um lago em forma de lua crescente que dizia-se ser a localização
da capital élfica. Ele o notou com relativa rapidez devido ao seu grande tamanho.

A outra era a estrada de terra que vinha desde a Teocracia Slane.

Foi feita artificialmente para limpar a floresta, facilitando o avanço dos exércitos da Te-
ocracia.

Parecia um fio de cabelo se comparada à imensa floresta, mas na verdade deveria ter
mais de 100 metros de largura. Ainz não seria capaz de percebê-la a partir de tamanha
altitude se não fosse minimamente dessa largura. Ele achava que era muito trabalho
para nada, mas possivelmente não havia outra maneira de criar uma passagem segura
nesse lugar. Considerando a quantidade de tempo e trabalho despendidos no projeto,
ficava tangível a obsessão da Teocracia em acabar com o Reino Élfico.

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Meio que não faz sentido. Por que isso é a única coisa que se destaca? A Teocracia parou
de avançar?

Se queriam destruir as aldeias élficas, não seria melhor derrubar as árvores e depois
criar incêndios florestais? A floresta não estava nem seca, nem úmida. Destruir as aldeias
élficas seria fácil como tirar doces de crianças, desde que prestem atenção nos arredores
quando começarem os incêndios.

Eles querem levar os Elfos como escravos e por isso não queimam tudo? Se for, parece que
a Teocracia não está tendo dificuldade alguma então...Talvez haja muita diferença entre a
força de suas tropas.

Ele não conseguiu ver nenhuma área queimada, mas não era prova de que não havia,
afinal, ele estava muito alto. Talvez Aura tivesse notado se estivesse aqui.

Aquelas luzes ali devem ser o acampamento da vanguarda da Teocracia...

Os humanos não podiam ver no escuro, então quanto maior o acampamento, maior a
probabilidade de ser brilhante o suficiente para ser visto de longe.

Mas, por vários motivos — principalmente sua posição no céu — era difícil ter uma boa
idéia da distância entre o acampamento e a capital. Ele não podia estimar quanto tempo
levaria para o exército chegar à capital se prosseguissem em linha reta enquanto limpa-
vam a floresta.

Após concluir que tinha visto tudo o que precisava ver, Ainz ativou 「Greater Telepor-
tation」.

A partir do chão seria fácil notá-lo se estivesse no céu sem qualquer cobertura. Havia
muitos seres com visão aprimorada, então não poderia ser descuidado mesmo de noite.

Claro, se fosse percebido, ele poderia escapar facilmente antes que pudessem chegar
até onde estava. Ainda assim, não havia mérito em deixar que notassem sua presença.
Então, Ainz não dissipou 「Perfect Unknowable」.

Pela análise de Ainz a partir das informações que reunira, a maioria dos seres vivos
nesse mundo eram fracos.

Todavia, não podia afirmar que não havia ninguém igual a ele em regiões onde sua in-
formação era escassa. Era prudente prosseguir assumindo que “talvez” existam.

Algum inimigo poderia preparar contramedidas se informações a seu respeito vazas-


sem e, com menos cartas na manga, a derrota ficaria cada vez mais perto.

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


106
...Bem, agora é saber mais da capital dos Elfos.

A noite estava um breu. A floresta sombria não deixava a luz do luar penetrar, mas não
que fosse um empecilho para Ainz. Ele pousou usando 「Fly」, o que permitia que flu-
tuasse logo acima do solo. Isso foi para evitar que pisasse na vegetação rasteira e avan-
çasse em direção ao seu alvo sem deixar pegadas.

Ele tinha uma boa noção de até que ponto o exército da Teocracia havia avançado.
Agora restava coletar informações na Capital Real dos Elfos.

A área diante dele se abriu gradualmente.

As moradias dos Elfos eram feitas de árvores baixas e pujantes chamadas Árvores Élfi-
cas e a Capital Real, onde um grande número delas estava reunida, parecia uma floresta.
A construção era a mesma de qualquer outra aldeia élfica, ficava especialmente impres-
sionante se um grande número fosse aglutinado. Talvez fosse porque parecia mais densa
do que uma capital humana, mas a sensação claustrofóbica foi forte o bastante para
deixá-lo acanhado. Ainz sentiu vontade de evitar o lugar porque o lembrava de seu an-
tigo mundo.

Não havia árvores ao redor da Capital Real, em vez disso, foram derrubadas e converti-
das em um grande campo gramado.

Não se tratava de um fenômeno natural, mas algo que os Elfos fizeram para melhor
defender seu território. Fôra feito para proporcionar melhor visibilidade, dificultando a
aproximação de inimigos que pudessem se esgueirar.

Por outro lado, talvez possa ser considerado como a estratégia de sobrevivência das Ár-
vores Élficas.

Ele inicialmente não pensou nada de mais quando soube que os Elfos cultivavam árvo-
res com magia, mas poderia haver a possibilidade de que as Árvores Élficas estivessem
usando os Elfos para se multiplicarem.

Ele podia imaginar essas árvores como uma espécie de monstro. Era algo que valia a
pena investigar para sanar suas dúvidas.

Ainz tentou ver o que mais havia à frente enquanto pensava em como investigar isso e
se deveria ou não delegar a Mare.

Pode haver guardas à espreita, inspecionando as pastagens sem cobertura. Deve ser com-
plicado atravessar sem usar magia.

Dito isso, seria possível para um ranger do nível de Aura. Rangers de alto nível tinham
a capacidade de permanecer ocultos mesmo que não houvesse cobertura. Se a diferença
de nível entre as contrapartes fosse alta o suficiente, era possível que o observador não
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notasse nada fora do comum, mesmo se olhasse bem nos olhos do ranger. Ele tinha ou-
vido de Aura que as capacidades furtivas de um ranger altamente qualificado eram boas
o bastante para fazer um terceiro pensar que não era nada além de uma pedra na estrada,
mas Ainz tinha suas dúvidas sobre a veracidade dessa afirmação. Em sua viagem até aqui,
ele fez experimentos ao ordenar que Aura se escondesse, e constatou que era mais ou
menos capaz de detectá-la desde que ela não usasse nenhum item mágico ou habilidades
especiais para aumentar suas aptidões. Isso porque Aura tinha seus níveis divididos en-
tre as profissões de Ranger e Domador de Feras. Além do mais, Ainz era de nível máximo,
então seus atributos base eram bem elevados. Ainz sentiu arrependimento por não po-
der experimentar pessoalmente o que Aura falou.

Deixando esse assunto de lado, Ainz não era furtivo o bastante para se infiltrar na Ca-
pital Real sem usar magia. Então, ele lançou 「Perfect Unknowable」 e ainda por cima
se transformou em um Elfo com magia de ilusão.

Embora fosse difícil anular seu 「Perfect Unknowable」 considerando a força de uma
pessoa comum desse mundo, ele ainda tinha que ter tanto cuidado como quando estava
voando. Foi por isso que ele chegou a criar uma ilusão também.

Ele jamais se considerava o sabichão quando se tratava do conhecimento sobre as ha-


bilidades e técnicas especiais desse Novo Mundo. Afinal, o conhecimento de Ainz veio de
seu tempo em YGGDRASIL e mesmo isso não era perfeito.

Ele assumiu que poderia haver alguém com habilidades capazes de ver através da invi-
sibilidade, assim como ele mesmo fazia, durante todo o tempo.
[ C a p a Ghillie]
Ainz também equipou um item mágico chamado Ghillie Cloak como parte de sua build
furtiva. Apesar de se cobrir com camadas de furtividade, ele também preparou medidas
para enganar o inimigo caso fosse descoberto. Cuidado nunca era demais.

Hora de começar.

Depois que chegou no limite entre a floresta e a pastagem — não havia mais cobertura
adiante — Ainz observou a capital.

Ele podia ver Elfos fazendo rondas nas pontes que ligavam o círculo externo de árvores
que compunham a Capital Real.

Eram equivalentes às muralhas de uma cidade, sendo as pontes alusões às referidas


muralhas.

Ele não tinha certeza se não tinham meios para ver através de seu 「Perfect Unknowa-
ble」 ou se simplesmente não estavam prestando atenção, mas os soldados continua-
vam a agir normalmente. Bem, após tanto preparo para ficar oculto, teria sido embara-
çoso se conseguissem detectá-lo tão rapidamente.

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


108
Após se certificar de que não estaria na linha de visão daqueles soldados, Ainz pegou
um pergaminho.

Ele deu início a ativação e— hesitou.

Ele tentou de novo e— hesitou.

Ele havia resolvido usar antes de vir, mas mesmo assim, ele não pôde deixar de sentir
que era um desperdício. Ele se via relutante em ativar o pergaminho toda vez que pen-
sava que deveria haver uma maneira melhor.

Ele não teria hesitado se estivesse em uma batalha com sua vida em jogo, mas o fato de
que não estava em uma situação tão desesperadora foi a raiz de sua hesitação.

Depois de um tempo, Ainz conseguiu clarear a cabeça e finalmente ativou o pergaminho.


Ele teria hesitado novamente se pensasse em qualquer coisa.

A magia ativada foi 「God’s Eye」.

Uma magia de 9º nível que criava um olho intangível e invisível. Esta foi provavelmente
a primeira vez que ele usou algo assim desde a época com os Lizardmen.

Seu alcance era muito maior do que o 「Remote Viewing」 e também podia atravessar
por obstáculos como paredes.

Embora fosse uma excelente magia para espionagem, não era a melhor que havia. E
mesmo sendo invisível a olho nu, poderia ser facilmente descoberta por magias de de-
tecção de segundo nível. Além disso, mesmo sendo intangível, se fosse destruída em um
ataque, quem a lançasse receberia o dano. Como era considerada pertencente à adivi-
nhação, o oponente poderia encontrar sua localização através de medidas anti-adivinha-
ção ou mesmo receberia um ataque se acionasse qualquer defesa automatizada. O prin-
cipal problema era que esse olho mágico não tinha nenhum HP e não usava o nível ou as
defesas de Ainz para escalonar suas capacidades.

Mesmo assim, como era mais vantajoso do que observar diretamente, às vezes era va-
lioso.

O olho flutuava a uma velocidade constante — tão lento que testou a paciência de Ainz
— e finalmente alcançou as muralhas da cidade.

Três guardas Elfos equipados com arcos estavam patrulhando como uma equipe, mas
ninguém notou a aproximação do 「God’s Eye」.

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Parece que não há ninguém com habilidades anti-invisibilidade aqui, mas... isso não ga-
rante que não há ninguém entre os Elfos que tenha profissões com tais habilidades.

Não havia razão para ignorarem o olho se notassem-no, então sua suposição estava cor-
reta. No entanto, ele não deveria ser descuidado porque era sua primeira missão de co-
leta de informações em um lugar até então desconhecido.

O 「God’s Eye」 de Ainz passou sob as passarelas e entrou na capital. Ele imediata-
mente fez o olho recuar após entrar na cidade, e então o moveu na frente dos três guar-
das de antes. Parecia que estavam conversando, mas ainda não haviam notado o olho.

“Uuufa. Até agora tudo bem...”

Ainz deu um suspiro de alívio.

Assim como Nazarick, as bases de guildas tinham armadilhas que eram ativadas no mo-
mento em que eram invadidas, enfraquecendo ou anulando certos tipos de magia. Pode-
riam desativar 「Invisibility」, reduzir a força de elementos sagrados, etc. Ainz verificou
se a cidade élfica tinha tais armadilhas implantadas.

Ele teria que verificar novamente em pontos cruciais da cidade, mas parecia que as par-
tes de acesso público não tinham armadilhas.

Ainz não queria gastar muito tempo sustentando 「Perfect Unknowable」. Conside-
rando a quantidade de mana que restaria, ele não teria muita margem de manobra.

Ainz gradualmente fez o olho se mover para as partes mais profundas da cidade. Ele
queria encontrar os Elfos que residiam em árvores correspondentes a lojas.

Se comparasse a uma cidade comum, as lojas deveriam estar agrupadas em um local de


fácil acesso. Considerando que também tinham que manter o estoque à mão, não seria
estranho se estivessem localizadas nas árvores maiores.

Depois de um tempo, Ainz resmungou baixinho.

“—Não consigo encontrar!”

Essa cidade, feita de milhares de árvores, não passava de uma floresta para o olho hu-
mano. Ele não conseguiu encontrar nada parecido com uma placa porque era noite e
também não havia placas de identificação nas árvores. Eram apenas um amontoado de
árvores sem nenhuma característica individual que ele pudesse notar. Ele nem mesmo
tinha certeza de que a árvore que estava olhando não era a mesma árvore que viu minu-
tos antes.

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


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Se fosse uma cidade humana, haveria uma via com lojas em ambos os lados. Também
poderiam estar agrupadas em torno da praça central.

De relance ele não encontrou nada similar. Como sua experiência havia se provado inú-
til, ele não teve escolha a não ser confiar em sua intuição.

Essa cidade não era nada acolhedora para um viajante. Seria difícil— não, impossível
encontrar o que procurava em meio a isso.

Dito isso, não era como se ele precisasse vasculhar tudo ainda hoje. Não seria bom ter
pressa, em vez disso, ir devagar e com segurança seria a melhor jogada.

Mesmo assim, Ainz continuou sua busca por mais um tempo. Ele já havia ativado o
「God’s Eye」, então poderia usá-lo até que o tempo se esgotasse.

Após sua longa busca, tudo que restou foram suspiros.

—Não adianta perder tempo nisso se até os comerciantes estão dormindo.

Era perda de tempo fazer algo assim sem um plano. Mesmo que fosse mais arriscado,
ele deveria voltar para procurar pela manhã. Ele provavelmente obteria uma pista ob-
servando a maneira como as pessoas se movimentavam. Ainz não tinha certeza de
quanto tempo levaria para atingir seu objetivo se não fizesse isso.

Ainz selecionou um lugar aleatório e enviou o「God’s Eye」 para dentro. Elfos usavam
as passarelas entre as árvores para se moverem pelas entradas de suas casas que cor-
respondiam ao primeiro ou segundo andar de uma casa humana. Então ele decidiu se
infiltrar no primeiro andar. Era o mesmo princípio de um ladrão vendo o que tinha de
valor nas gavetas. Começar do segundo andar seria uma péssima escolha.

Depois que o 「God’s Eye」 atravessou a parede, ele o manobrou até encontrar Elfos
dormindo no terceiro andar.

Ele encontrou um pai, uma mãe e duas crianças dormindo. Parecia que era uma casa de
família.

Tinha ouvido falar, mas... é tão primitivo...

Os quatro estavam dormindo profundamente em grandes amontoados de folhas cole-


tadas no que supostamente era um quarto. Aldeias humanas também usavam grama
seca no lugar de um colchão, então poderia ser considerado um equivalente cultural.

De acordo com as Elfas de Nazarick, era assim que um quarto normal dos Elfos se pare-
cia. Embora desse muito trabalho coletar uma grande quantidade de folhas, elas podiam

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ser usadas por um longo tempo sem problemas. Quando as indagou sobre serem picadas
por insetos, responderam que uma magia era lançada nas folhas para evitar isso.

As crianças — dois meninos — dormiam como anjinhos enquanto respiravam calma e


lentamente.

“Dormir, huh... como era mesmo?”

Muito tempo se passou desde que ganhara este corpo. Seu corpo não tinha as três ne-
cessidades básicas e proporcionava insensibilidade à dor, muito possivelmente por isso
que ele conseguiu seguir firme em seu caminho até agora, mas ainda havia um pingo de
arrependimento em seu coração. Quando viu suas feições solenes aproveitando um bom
sono, ele se sentiu nostálgico e com um pouco de inveja. Isso para não falar de quando
via pratos deliciosos à sua frente.

Fazer o que, né...

Ainz deu de ombros e ativou 「Greater Teleportation」. No instante seguinte se depa-


rou com uma grande cortina feita de videiras.

Não era estranho ver essas formações feitas de trepadeiras na floresta, mas se alguém
prestasse mais atenção, descobriria que ela estava escondendo uma pequena cabana por
detrás.
[ C a s a Secreta V e r d e ]
Esta era a base temporária do grupo nos últimos dias, a Green Secret House, um abrigo
criado por um item mágico.

Fenrir, que estava sentado ao lado da casa, levantou-se lentamente para farejar os ar-
redores, soltando um rosnado enquanto olhava na direção de Ainz.

Mas, sua linha de visão estava um pouco desalinhada de onde Ainz realmente estava.

Assim como seu experimento com Aura, mesmo Fenrir não conseguia sentir completa-
mente alguém sendo oculto pelo 「Perfect Unknowable」. Por sinal, ele deveria ser elo-
giado pelo fato de ter conseguido sentir Ainz, que mantinha uma magia tão poderosa de
ocultação.

Ainz cancelou a magia.

Agora que podia vê-lo, Fenrir abaixou a cabeça com um olhar de remorso.

Embora não pudesse falar, Fenrir era bastante inteligente. Seu ato de abaixar a cabeça
não foi devido a um instinto animal, ele estava claramente transmitindo seu pedido de
desculpas. Obviamente, Ainz não o culpava por nada.

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


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Do seu ponto de vista, ele era um intruso que tinha posto seus pés aqui. Essa era a rea-
ção natural de um guarda protegendo seu mestre; o real problema seria se ele não ti-
vesse esboçado reação alguma.

Desta vez, ele levou apenas Fenrir em vez dos habituais Hanzos. Embora Ainz tenha dito
que levaria muitos subordinados de alto nível, ele não permaneceu fiel às suas palavras
devido a certas razões. Na situação atual, onde não podia prever como seu plano de obter
amigos para os gêmeos funcionaria, ele preferiu não expor informações sobre suas tro-
pas.

E o outro motivo.

Ele parou de permitir que os Guardiões saíssem sozinhos após o incidente da lavagem
cerebral de Shalltear.

Mas qual foi o resultado? Apesar de Nazarick ter começado a ser mais ativa desde então,
o inimigo não apareceu novamente. O único que mordeu a isca foi o homem de armadura
platina chamado Riku Agneía, que confrontou Ainz — que na verdade era Pandora’s Ac-
tor — quando estava sozinho em campo de batalha. Era como se o inimigo que fez lava-
gem cerebral em Shalltear não existisse.

Assim concluiu que; como ele conseguiu fisgar Riku quando não havia Hanzos por perto,
talvez o inimigo tivesse uma maneira de detectar a presença dos Hanzos.

Talvez seja alguma habilidade de um item de World-Class.

Ou talvez com algum tipo de Talento.

Portanto, ele estava realizando um experimento arriscado ao não trazer os Hanzos.

Ele informou Albedo, mas mesmo Ainz podia ver que havia muitas falhas em seu racio-
cínio. Aparentemente ele a convenceu, pois sorria o tempo todo, o que o fez duvidar se
ela não estava apenas fingindo. Talvez fosse bom ter uma conversa depois que voltasse.

“—Bom garoto.”

Sentindo-se um pouco melancólico, Ainz deixou Fenrir com uma saudação curta. Ele
então colocou a mão na porta da Green Secret House — tão camuflada que não se pode-
ria encontrá-la sem saber que estava lá de antemão — e empurrou um pouco.

A porta não se moveu.

Infelizmente, como o item mágico não tinha um buraco de fechadura (embora pudesse
ser aberto à força por algo como o Ebynogoi – O Destruidor dos Sete Portões), era pre-
ciso pedir a alguém dentro para abrir se estivesse trancado.

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Ainz usou a aldrava. Era possível observar dentro da Green Secret House se alguém
tornasse a porta translúcida. Depois de alguns momentos, ele ouviu a porta sendo des-
trancada.

E então abriu.

“Bem-vindo!”

“Se-seja um-muito... em casa...”

Aura respondeu cheia de energia como sempre. Mare seguiu lentamente com suas boas-
vindas, seus olhos estavam completamente sonolentos.

Ambos vestiam pijamas, Mare até mesmo usava um gorro de dormir. Dada a hora, não
havia nada de estranho.

“Sinto muito por deixar vocês me esperando, cheguei mais tarde do que imaginei.”

Disse Ainz enquanto entrava.

O espaço interno estava bem iluminado por uma luz de tons quentes e era muito maior
do que se poderia esperar de sua aparência externa.

A porta dava direto na sala de estar e a cozinha e outros cômodos eram vistos de lá.
Havia também 4 portas que eram conectadas aos quartos individuais.

“Que nada, sem problemas. Até pensei que ia demorar mais quando você informou que
poderia se atrasar”

“Foi o que eu pensei, mas... Melhor não conversarmos aqui. Vamos sentar primeiro.”

Ele queria dizer à Aura que ela poderia ir dormir. Mas era melhor compartilhar o que
havia descoberto com eles, mesmo que fosse pouco. Ainz não confiava muito em sua me-
mória, então seria melhor resolver isso o mais rápido possível.

Embora sentindo-se culpado por fazê-los concordar com seus motivos egoístas, ele os
convidou para a sala de estar para contar-lhes sobre o que viu.

Agora sentado nas cadeiras, ele encontrou Aura olhando atentamente em contraste
com Mare, que se recostou no assento com os olhos semicerrados. Parecia que iria dor-
mir a qualquer momento. Ainz se sentiu ainda mais culpado quando os comparou com
as crianças adormecidas de antes.

Não estou sendo empático com aqueles que precisam dormir porque eu não preciso? Sou
muito desnaturado...

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


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“Quer ir dormir, Mare? Eu não me importo, amanhã de manhã a Aura pode repassar
nossa conversa.”

“Que nada...”

Aura deu um tabefe na cabeça de Mare:

“Acorda aí, vai. Tá sendo rude com Ainz-sama, não percebeu?”

“Waahg, oh, B-bem-vindo de volta.”

Mare fez uma pequena reverência. Ainz queria rir, mas não podia.

“Esse menino, viu... Vou te falar...” Aura estava ficando com raiva da atitude de Mare.

“Não é bom forçar alguém a ficar acordado. Isso pode afetar nossa operaç—”

Lembrando-se de seus dias de YGGDRASIL, Ainz fechou a boca de repente.

Antigamente, ele acreditava que isso não afetava seu trabalho de escritório, mas real-
mente era verdade? Além disso, era diferente quando fazia isso para se entreter versus
quando era obrigado a agradar alguém.

Ainz— Suzuki Satoru costumava reclamar quando tinha que ficar até tarde por causa
de seu chefe.

Por outro lado, ele não deveria estar comparando crianças com adultos, mas também
não era certo comparar as habilidades físicas de uma criança NPC de nível 100 com um
adulto comum como Suzuki Satoru.

Os dois olharam para Mare, cujos olhos — semicerrados de sonolência — pareciam es-
tar olhando para eles.

A cabeça de Mare foi se abaixando aos poucos, fazendo-o entrar em pânico e ficar de
olhos arregalados. Ele então voltou a cabeça para sua posição anterior.

Ele estava quase no limite.

“—Bem. Então vamos fazer assim. Mare, vá dormir para que isso não afete o trabalho
de amanhã. Não faz bem para a mente ficar acordado à força. Como disse antes, Aura,
você pode deixá-lo a par de nossa conversa amanhã?”

Era para ela ter concordado imediatamente. Em vez disso, ela fez uma expressão per-
plexa, provavelmente pensando que o comportamento de Mare era muito desleixado
para um Guardião. No entanto, foi apenas por um momento. Ela fez uma profunda reve-
rência, como se tivesse se convencido.

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“...Tá bom. Vou levar o Mare pro quarto dele. Consegue ficar de pé?”

“Uh, uh?”

Ele sequer conseguia dar uma resposta legível para Aura, então ficar de pé está fora de
questão.

“—Hmmm. Pode deixar que eu o levo, Aura.”

Aura parecia querer dizer algo, mas Ainz a ignorou, levantou-se e colocou Mare em seus
braços.

Talvez fosse porque Mare tivesse de pijama e com quase nenhum equipamento, mas ele
parecia bastante leve. Não, crianças normais provavelmente pesavam apenas isso.

Seria mais difícil se ele estivesse totalmente equipado, não que eu não conseguiria carre-
gar ele... É apenas que, aquela coisa é muito pesada... talvez mais pesada do que todos os
outros equipamentos dos Guardiões.

Já que ambas as mãos — ele poderia carregá-lo com uma mão se quisesse — estavam
ocupadas, ele deixou Aura ir à frente para abrir a porta. Ele entrou no quarto de Mare e
o deitou lentamente na cama.

Mare estava de olhos fechados e respirava devagar. Ele provavelmente começou a dor-
mir enquanto estava nos braços de Ainz.

Ainz saiu silenciosamente do quarto, tomando cuidado para não fazer nenhum barulho.
Aura seguiu o exemplo, saindo de forma ainda silenciosa, como esperado de uma exímia
arqueira.

Ambos voltaram para a sala e tomaram seus lugares novamente.

Imediatamente, Aura inclinou a cabeça e começou a falar:

“Senhor, espero que possa nos perdoar por descansarmos enquanto trabalhava tanto.
Peço perdão em nome do Mare. Entendo totalmente se estiver zangado e desconfortável
com a ética de trabalho dos Guardiões, mas se fosse pra trabalhar de noite, com certeza
iríamos equipar os itens para remover a necessidade de dormir e assim não veria esse
lado vergonhoso nosso. Se tiver em dúvida do porquê não usamos hoje, é porque nossa
força nas batalhas seria reduzida um pouco, pois equipar o item significa deixar de fora
nosso equipamento focado em batalha. Por isso optamos por não usar, pois a gente fica-
ria mais forte pra estar de guarda e te proteger, Ainz-sama...”

Aura explicou rapidamente. Ele podia sentir a ansiedade atacando através de sua ma-
neira incomum de falar.
Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick
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“Não, tenha calma, não precisa se preocupar tanto. Afinal, estamos aqui de férias. Não
há nada de errado em dormir cedo. E quanto a você, Aura? Não está com sono?”

“Ah, não, eu nunca ia agir dessa forma...”

“...Você está tensa, muito tensa. Veja bem, eu não estou sentindo raiva alguma. Confesso
que em vez disso, me sinto feliz por ter visto um lado diferente do Mare, entende? Não
precisa falar desse modo, vocês estão muito tensos perto de mim. Fiquei até curioso so-
bre como os outros se comportam no dia a dia. —Por exemplo, o que o Cocytus faz?”

“...O jeito normal dele não é muito diferente...”

Aura voltou à sua expressão normal.

“Interessante. Nesse caso, que tal eu dar uma espiada nele usando o 「Perfect Unkno-
wable」 enquanto ele está sozinho?”

Ainz sorriu sutilmente — embora seu rosto não mostrasse, sua voz transmitia seus sen-
timentos — e Aura replicou com um sorriso semelhante ao de uma criança brincalhona.

“Pode responder com sinceridade, tem certeza que não quer dormir?”

“Normalmente fico acordada por volta dessa hora, então tô bem.”

Segundo Aura, era comum ela ficar acordada até tarde da noite para brincar com seus
pets de hábitos noturnos. Essa “brincadeira” parecia ser importante para os Domadores
de Feras, já que os monstros acumulavam estresse e não operariam com todo o potencial
se negligenciassem o cuidado. Dito isso, não era como se ela estivesse reduzindo suas
horas de sono. Ela apenas compensaria dormindo até tarde se passasse à noite acordada.
O mesmo modo que alguém que trabalhava no turno da noite faria.

A propósito, se algum dos gêmeos tivesse que sair de Nazarick, eles equipariam o item
mencionado para anular o sono e ficar alerta.

Hm— O que eu faço a respeito disso? É natural que aqueles com mais responsabilidades
trabalhem mais, mas as raças que precisam dormir não deveriam dormir melhor? Especi-
almente as crianças, pois precisam de um bom descanso para crescerem bem. Talvez eu
devesse discutir isso com a Albedo... já perdi tempo demais pensando!

Depois que respirou fundo, Ainz falou sobre o acampamento da Teocracia que viu no
Grande Mar de Árvores, embora ele não tenha conseguido descobrir a força de suas tro-
pas ou a que distância estavam da capital élfica. O que importava era que seus exércitos
ainda estavam avançando. Entrar em conflito com a Teocracia não era parte da missão
atual de Ainz.

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Depois, ele começou a explicar o tópico mais importante de sua exploração da Capital
Real dos Elfos.

Ele contou tudo sem esconder nada. Não adiantava ocultar quaisquer tópicos. Ele só
tinha que ser honesto quando algo era impossível. Além disso, Aura era diferente daque-
les dois. Talvez ela aceitasse suas palavras sem más interpretações, talvez até sugerisse
algo construtivo.

“Então é desse jeito...” Aura, que ouviu sua explicação, assentiu levemente:

“Nesse caso, será melhor observar lá de dia, assim como você disse, Ainz-sama.”

“Também acho. É o que planejo fazer, mas o que vocês dois vão fazer nesse meio-
tempo?”

“Sobre isso... acha melhor que eu... não vá junto, né?”

“Isso mesmo. Acho que há uma chance muito pequena de você ser descoberta, mas
ainda não posso afirmar com certeza. É melhor não vazar quem realmente somos na
situação atual.”

“Pode deixar que eu falo pro Mare amanhã sobre o que vamos fazer. Mas, tava plane-
jando ir junto com você, Ainz-sama. Que tal eu investigar os arredores da cidade pra en-
contrar algum rastro deixado pelos Elfos?”

Ainz concordou com a cabeça.

Se as mercadorias estiverem sendo transportadas para a Capital Real, deveriam deixar


algum tipo de rastro para trás, por mais tênue que fosse. As trilhas mais usadas não são
diferentes das estradas.

Se conseguissem encontrá-las, também poderiam esperar encontrar lugares frequen-


tados pelos Elfos, como os assentamentos élficos do outro lado da estrada.

Tudo isso se baseava na suposição de que os Elfos não usavam algo como
「Forestwalker」, mas a idéia de Aura era muito boa. Não havia uma única razão para
se opor.

“Excelente sugestão. Creio que você não levaria nem um dia para investigar toda a área.
Trabalhe com o Mare para procurar quaisquer rastros deixados por eles. Estou contando
com vocês.”

“Beleza! Deixa comigo!!”

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


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“Nesse caso, por volta do meio-dia de amanhã vou realizar outra busca lá— na verdade
é hoje, considerando o horário”

“Então eu vou ir de noite, acho que é mais fácil ser notada de dia.”

“Uhum, confio em suas escolhas. Bem, hora de irmos para a cama... Boa noite, Aura.”

“Tá bom. Boa noite, Ainz-sama.”

Ainz se levantou junto com Aura.

Ele e Aura foram por caminhos diferentes, entrou no quarto e deitou na cama. Claro,
Ainz não precisava dormir por ser um undead. Então acabou tirando um livro de seu
inventário.

Era um dos livros sobre administração que ele lia frequentemente, intitulado “Tornar-
se Um Bom Líder”. Para ser franco, Ainz não achava que ler esses livros o estivesse aju-
dando, mas ainda era melhor ler do que não o ler.

Ainz começou a virar as páginas.

♦♦♦

Ainz ficou cabisbaixo por um tempo. Ele desperdiçou dois pergaminhos preciosos na
infiltração, um na primeira noite e outro no meio-dia do segundo dia. Somente no meio-
dia do terceiro dia Ainz finalmente conseguiu encontrar informações importantes. Dito
isto, as únicas coisas que encontrou foram as árvores com lojas, mas isso lhe permitiu
ter uma noção da planta da capital.

Para uns não era nada de mais, mas para ele era um grande passo. Ainz estava tão feliz
que sua supressão emocional foi desencadeada. Portanto, ele resolveu não desperdiçar
essa chance. Ainz fez questão de decorar o caminho para a loja.

Ele optou por recuar. Mesmo que ainda houvesse algum tempo para a magia continuar
ativa. Embora se sentisse extremamente curioso, querendo enviar o 「God’s Eye」 para
a árvore colossal que era o castelo real, ele conseguiu se controlar.

Nas culturas humanas, os reis nem sempre eram os seres mais fortes de suas civiliza-
ções. Isso devia-se a dois motivos. Seria difícil prosperar se seguissem apenas os mais
fortes e não aqueles que tomassem boas decisões. Era o método de sobrevivência de
espécies fracas — que também eram populosas — em um mundo cruel. A outra razão
era que geralmente ocupavam áreas mais seguras. Esse era o ponto em comum entre o
Reino, Império e Reino Sacro.

No entanto, para as raças que viviam em lugares de constante conflito, era natural que
o mais forte fosse o rei.
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Desse ponto, o Rei Elfo provavelmente era uma pessoa forte. Nesse caso, não fazia sen-
tido se jogar em perigo apenas por serem precipitados.

Até o presente momento, Ainz havia coletado várias informações sobre o mundo, mas
ainda não havia encontrado um ser forte que pudesse se igualar a ele, no que tangia a
seres que não fossem monstros. Se não tivesse se deparado com aquele misterioso guer-
reiro chamado Riku, ele teria sido descuidado e desprezado o Rei Elfo. Mas Riku o deixou
mais cauteloso do que nunca.

Ele dispersou o olho e lançou 「Greater Teleportation」.

Ainz voltou para sua base e trocou as informações que encontrou com os gêmeos —
desta vez, Mare estava de olhos bem abertos —, que haviam acabado de retornar.

Ele foi informado de que, embora só tivessem notado após o segundo dia de investiga-
ção, onde perceberam que os Elfos estavam usando as árvores para se locomoverem,
eles finalmente encontraram várias trilhas. Cada uma levaria um montante diferente de
tempo para ser investigada, dependendo da distância até o assentamento mais próximo
nessas estradas.

Ainz expressou desconforto, indagando a possibilidade de serem vistos pelos Elfos se


decidissem investigar.

Em resposta, Aura disse que viajariam com Fenrir. Ela confiantemente proclamou que
enquanto estivessem dentro da floresta, não seriam descobertos. Ela estava tão certa de
sua opinião que fez Ainz concluir que suas preocupações eram infundadas. Todavia, Ainz
não deu seu aval. Em vez disso, ele pediu que esperassem um pouco mais. Ele tinha cer-
teza que descobriria algo bom hoje.

E assim, na noite do terceiro dia.

Ainz aproximou-se da capital real novamente usando 「Perfect Unknowable」. Natu-


ralmente, ele se infiltrou em um local diferente, um que não havia visitado até então. Ele
não podia garantir que não deixara nenhum rastro em suas incursões anteriores, um que
algum excelente ranger Elfo conseguisse notar.

Ele sempre se movia usando 「Fly」 para não deixar nenhuma pegada, mas isso era
apenas do ponto de vista de Ainz, um total leigo em furtividade e espionagem. Ele não
poderia afirmar com certeza que não quebrou nenhum galho ou fez as folhas se curva-
rem em direções diferentes enquanto bisbilhotava.

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


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Falando sério, às vezes me pergunto o porquê eu sou neurótico assim... mas seria bem
chatinho se as aldeias élficas da região começassem a pensar que há alguma entidade mis-
teriosa rodando o lugar. Principalmente se forem capturados pela Teocracia e depois va-
zassem essa informação.

Era altamente improvável que essa “entidade misteriosa” fosse rastreada até o Reino
Feiticeiro, mas deixar a Teocracia com o pé-atrás não seria sábio. Ele estava com medo
de como a Teocracia reagiria. A reação inesperada deles poderia atrapalhar seus planos.

...Não faria mal dar uma pausa e perguntar o que a Albedo e o Demiurge pensam, mas se
eu fizer isso agora, meus planos para Aura e Mare fazerem amigos iriam por água abaixo.

Portanto, a única opção que restava para Ainz era ser o mais cuidadoso possível.

Ainz pegou um pergaminho e rapidamente o ativou. Ele não hesitou porque tinha cer-
teza de que desta vez haveria resultados concretos.

“Ótimo!” Ainz sussurrou depois de se infiltrar na Árvore Élfica do alvo com 「God’s
Eye」.

Seu alvo estava dormindo, abarrotado em uma pilha de folhas. Era um Elfo.

Os Elfos eram fundamentalmente uma raça esbelta, mais baixa em cerca de 10 a 20%
quando comparado aos humanos. Além disso, quase não tinham pêlos no corpo e não
tinham barbas. Como também pareciam joviais por um longo período de suas vidas, era
extremamente difícil estimar sua idade apenas pela aparência. A maioria parecia muito
mais jovem do que sua idade real.

Ainz não tinha certeza de que esse Elfo detinha a informação que buscava, mas havia
uma razão para Ainz o escolher como seu alvo apesar disso.

Pois esse Elfo morava sozinho.

Sequestrar uma família inteira causaria problemas, era muito mais fácil se fosse apenas
uma única pessoa.

Ele também tinha outro motivo, mas só poderia confirmar se estava certo mais tarde.

Como memorizou a rota, Ainz se teletransportou diretamente com 「Greater Telepor-


tation」.

O Elfo não acordou com a intrusão de Ainz. Ele só poderia sentir Ainz se fosse um ranger
de alto nível.

Ainz então lançou a magia de 4º nível 「Charm Species」 nele.

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A magia funcionou sem falhas graças a ele estar dormindo e a grande diferença entre
seus níveis.

“Acorde,” Falou Ainz.

Seu 「Perfect Unknowable」 foi dissipado no momento em que ele lançou uma magia
com a intenção de prejudicar — segundo às regras de YGGDRASIL, se lançasse alguma
magia que causasse resistência, sua magia de ocultação seria cancelada. Ele continuou a
acordá-lo enquanto balançava os ombros suavemente com as mãos, tomando cuidado
para não o machucar.

“...Nhhm?”

O Elfo resmungou como um idiota, mas fazia parte, pois havia acabado de acordar.

“Não resista, entendeu?”

Ainz terminou com isso e ativou 「Greater Teleportation」 enquanto segurava a mão
do Elfo.

Essa magia permitia que alguém se teletransportasse com outras pessoas, mas todas
tinham que estar de acordo e não resistir ao teletransporte. Funcionou aqui porque o
status de “encantado” era considerado como acordo. O status de “dominado” também
deve funcionar da mesma forma, mas ele não usou essa opção de dominação de alto nível
pois estava em guarda contra certas coisas.

Seu sequestro foi perfeitamente executado. Poderia até ser considerado como um cri-
minoso de primeira classe.

Ótimo. Assim como eu planejei!

Seu plano estava indo de vento em popa, é claro que estaria feliz. Ele sorria abertamente
em uma faceta óssea—

“—Hm!? M-mas que lugar é este? Onde é isso?”

Ao ver a mudança repentina em seu entorno e sentir o chão onde pisava, o Elfo se le-
vantou completamente acordado. Ele não parecia ainda estar pensando que isso era um
sonho. Ou talvez Elfos nem tivessem o conceito de sonhos para começo de conversa.

“Fale baixo.”

“M-mesmo falando isso, eu...”

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


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“Eu usei magia de teletransporte. Tenha calma. Não há ninguém aqui que faria mal a
você.”

“M-magia de teletransporte?”

O Elfo continuou em pânico, mas agora contido internamente. A única razão pela qual
parou foi porque o encantamento ainda estava em vigor.

“Bem, estamos em casa.”

Ainz abriu a porta entreaberta por completo e levou o Elfo para a Green Secret House.

Aura e Mare observavam pelas frestas das portas ligeiramente abertas de seus quartos.

Ele também pensou em deixar o cativo ver que haviam Elfos Negros, na esperança de
que isso o abrisse seu coração. Mas considerando os problemas que poderia causar no
futuro, ele achou melhor não.

Embora os Elfos Negros não fossem considerados inimigos segundo as três Elfas, não
significava que isso ainda era a norma vigente. Talvez agora os Elfos Negros fossem con-
siderados inimigos na Capital Real.

Claro, não seria um problema se Ainz sussurrasse “eles não são inimigos”.

“Que lugar é este... Não me diga que é o Mundo da Árvore Divina...?”

Ainz não sabia nada sobre o Mundo da Árvore Divina, mas ele podia adivinhar que pro-
vavelmente era algo de seus mitos e lendas. Ou, talvez—

Será algo a ver com algum jogador de YGGDRASIL? Preciso investigar, mas... não quero
perder tempo nisso. Depois eu investigo melhor.

Ainz o fez sentar em um sofá na sala e tirou um bloco de notas. Continha uma lista de
perguntas que precisava fazer. Ele não podia perder tempo. Se algo falhasse no processo,
ele teria que matar o sujeito. Embora fosse extremamente improvável, alguém que de-
saparecesse repentinamente da Capital Real ainda poderia causar problemas futuros.

“Diga ao seu amigão aqui o que você sabe, de forma bem resumida de preferência.”

Ainz continuou sem esperar por sua resposta:

“Existe a possibilidade de você morrer se alguém usar magia ou outros meios para ob-
ter informações suas?”

“Huh? Nunca ouvi falar de algo assim em mim, por quê?”

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O Elfo parecia não ter a menor idéia do que Ainz estava falando, mas havia a possibili-
dade de que simplesmente não soubesse, mesmo que houvesse tal armadilha.

Se bem me lembro, foram necessárias três perguntas antes de ser ativada daquela vez...

Ainz levou esses cenários em consideração enquanto preparava as perguntas, então ele
só precisava seguir à risca a ordem decrescente de questões.

“Você sabe a localização de alguma aldeia de Elfos Negros?”

“...Não sei o lugar exato, mas sei a região que fica na grande floresta,”

Parecia que era mais ao sul da Capital Real. Ele entrou em mais detalhes, dizendo que
estava em um lugar chamado Árvores Trigêmeas, onde as árvores eram enormes. Mas,
Ainz não conseguia entender o motivo dele não conhecer bem o lugar.

Ele teria que contar com Aura, que estava apenas de ouvinte.

“Próxima pergunta...”

Quando estava montando o questionário, os gêmeos ficaram surpresos que ele não in-
cluiu esta pergunta. Agora pensando com calma, parecia importante, então ele proferiu
a terceira pergunta.

“—Diga-me o que você sabe sobre a Teocracia.”

“A Teocracia... ahhh, aquele país horrível! Eles nos atacam sem motivo nenhum! Um
país sem honra, regido por idiotas, um bando de miseráveis que sequestram nosso povo
às centenas.”

Assim começou o desabafo do sujeito em relação à Teocracia, que continuou por um


tempo até que Ainz o deteve.

Mas parecia que o cativo, que era apenas um plebeu, não sabia o quão longe a Teocracia
havia avançado. Ele nem tinha certeza se os Elfos estavam ganhando ou perdendo. No
entanto, cada vez mais notando o patrulhamento intenso, a opinião comum entre os El-
fos era que a situação não era boa.

Três perguntas foram feitas, mas não havia indicação de que nenhuma armadilha ti-
vesse sido ativada. Como pensava, aquela vez foi uma exceção. Nesse caso, ele poderia
perguntar ao Elfo tudo o que queria ouvir, porém sem perder muito tempo.

“Como são as relações entre os Elfos e os Elfos Negros? São amigáveis?”

“Sim... eu acho?”

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


124
Antes que Ainz pudesse perguntar o motivo da pequena pausa, o Elfo começou a falar
novamente:

“Eu não odeio eles, e quem eu conheço também não. Para nós, eles são como parentes
distantes. Mas assim, isso é apenas o modo como eu e os que conheço são. Não sei o que
eles pensam de nós, você sabe? É bem raro ver um, então não sei o que pensam de nós.”

“Você sabe alguma coisa sobre o Reino Feiticeiro?”

“Não, o que é?”

Resposta instantânea. Bem, ele esperava por algo assim, então não ficou surpreso. De
todo modo, Ainz determinou que nada nas informações adquiridas até agora constituía
um obstáculo para seu plano.

“Isso é tudo que eu queria perguntar— muito obrigado.”

“Sem problemas. Somos amigos, né?”

Ainz involuntariamente sorriu sem graça com a resposta. Ele estava planejando fazer
amigos para os outros, mas quando a palavra foi apontada para ele, soou vazia. Para Ainz,
apenas seus companheiros de guilda poderiam ser chamados de amigos.

“Claro que sim.”

Mare espiou com a cabeça para fora da porta atrás do Elfo quando Ainz lhe enviou um
sinal. Ainz continuou a falar com o cara para desviar sua atenção:

“Eu também queria saber mais a respeito da cultura élfica, mas estamos sem tempo...”

Ele viu os olhos do Elfo ficarem sonolentos e então desmaiou de lado sobre o sofá.

O Elfo estava respirando calmamente, um sinal de sono profundo. Essa mudança repen-
tina de eventos foi causada por Mare usando 「Sandman’s Sand」.

Ainz fez Aura, que estava logo atrás de Mare, confirmar que o Elfo estava dormindo.

“...Aura. Você acha que podemos achar a aldeia dos Elfos Negros usando o que esse su-
jeito disse?”

“Provavelmente sim. Mas talvez eu tenha que passar um pente fino quando a gente che-
gar perto, pra encontrar a localização exata”

Isso já estava de bom tamanho para Ainz. Em seguida ele lançou 「Control Amnesia」
no Elfo.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


125
Esta foi a principal razão pela qual ele o sequestrou — selecionou — um Elfo que mo-
rasse sozinho.

Como era difícil estimar a idade de um Elfo, ele não podia ter certeza de que acharia um
adulto com algum conhecimento útil, mesmo que sequestrasse um de aparência madura.
Havia uma chance de o Elfo acabar sendo uma pessoa muito jovem que nunca saiu da
Capital Real.

Por outro lado, ele teria mais certeza se sequestrasse um Elfo que tivesse filhos, mas
isso criaria diversas pontas soltas para lidar posteriormente.

Se matasse todos para evitar o incômodo, estaria sinalizando para toda a cidade que
uma família inteira tinha desaparecido sem deixar vestígios. Isso certamente criaria pro-
blemas para eles. E dificilmente poderia criar um cenário que desse a entender que tinha
escapado durante a noite devido a dívidas ou algo assim.

E não havia como sua mana durar o suficiente para lançar 「Control Amnesia」 em
uma família inteira.

Portanto, ele selecionou um Elfo que morasse sozinho.

Ainz extraiu as memórias do Elfo em um único movimento. A manipulação precisa das


memórias, certificando-se de que os detalhes permanecessem consistentes, era difícil.
No entanto, era bem mais fácil removê-las em lotes sem se importar muito com os deta-
lhes.

Além disso, as memórias que ele precisava apagar eram recentes. Esta foi a razão pela
qual ele tentou levar o menor tempo possível para suas perguntas. Se não precisasse
apagar as memórias do Elfo com 「Control Amnesia」, Ainz teria passado o máximo de
tempo possível — talvez até a magia terminar e além, e até usando「Charm Species」
mais vezes — para questioná-lo.

Como controlou o número de perguntas e concluiu o questionário em pouco tempo, ele


facilmente conseguiu apagar as memórias até o momento em que foi dormir. Não, ele até
acabou apagando um pouco mais, até momentos antes de o Elfo ir para a cama.

Foi o meio mais econômico que encontrou para limpar memórias gastando pouco MP.
Olhando o resultado final, seu MP restante, mesmo que um pouco baixo, parecia que te-
ria valido cada decisão que tomou.

Por fim, foi o melhor que pôde fazer, então mesmo que o Elfo acordasse com algumas
dúvidas, ele apenas tinha que ser paciente e esperar a mente do Elfo preencher os bura-
cos.

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


126
Mesmo com um valor baixo de MP, ainda tinha o bastante para concluir as tarefas res-
tantes.

“Vou indo então. Aura, Mare, podem me dar uma ajudinha como planejamos?”

“Tá! Conte comigo!”

“Ah, S-sim. Eu farei o meu melhor.”

Aura e Mare seguraram os membros do Elfo, balançando-o enquanto carregavam-no


com Ainz liderando o caminho. Considerando quanto eram fortes, apenas um deles daria
conta de carregar, mas se sem querer deixassem o Elfo bater em algo, seria considerado
um dano, ele poderia acordar. Então Ainz teria que lançar 「Control Amnesia」 nova-
mente e ele não tinha certeza de que seu MP restante era suficiente para isso.

Obviamente—

—Eu fiz um plano diferente para esse caso, então não deve ser um problema.

Ainz primeiro saiu da Green Secret House sozinho e ativou 「Perfect Unknowable」.
Ele abriu um 「Gate」 logo depois.

Naturalmente, do outro lado do portal estava a casa desse Elfo.

Ainz adentrou o portal sozinho e entrou no quarto do Elfo. Ele imediatamente começou
a olhar ao redor enquanto tentava ouvir qualquer som.

...Uuuufa. É seguro.

Aparentemente não havia ninguém por perto para se alarmar com o repentino
「Gate」. Ainda assim, por um momento Ainz continuou a ouvir atentamente, obser-
vando a situação.

...Parece que... está tudo nos conformes.

Um ranger no nível de Aura poderia permanecer em completo silêncio, mas não era
como se fizessem isso o tempo todo só porque conseguiam. Teria um toque de humor
negro se existisse um ranger veterano que, nesse pouco tempo, conseguira perceber que
algo estava errado e ficasse de prontidão nessa casa. Assim, Ainz só podia supor que o
local estava seguro.

Ainz dissipou 「Perfect Unknowable」 e enfiou a cabeça no portal para fins de enviar
um sinal para os gêmeos. Eles trouxeram o homem, balançando pelos membros, através
da passagem sombria.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


127
Os três executaram seu plano em silêncio.

Primeiramente, Aura e Mare colocaram cuidadosamente o homem em sua cama de fo-


lhas. Seria um erro crasso se ele recebesse dano justo agora e acabasse acordando.

「Sandman’s Sand」 causava um sono mais profundo do que 「Sleep」. Apenas um


leve tremor acordaria alguém encantado por 「Sleep」, mas apenas um dano acordaria
alguém que fosse alvo de 「Sandman’s Sand」.

Se o deixassem como estava e ninguém viesse acordá-lo ou provocasse dano, ele mor-
reria de emaciação. Isso era algo que Ainz não queria, ainda mais após passar por tanto
escrutínio para não alertar ninguém de nada fora do comum.

Eles começaram a se preparar para acordar o sujeito depois de deixá-lo na cama. Ainz
olhou ao redor, tentando encontrar o objeto que viu quando entrou.

Era uma estranha escultura de madeira (pelo menos era assim que a via) com uma bar-
riga saliente que lembrava o cruzamento entre uma toupeira e um sapo. Eles não encon-
traram nenhum animal assim nos poucos dias que passaram na floresta. Talvez fosse
uma fera mítica vinda de lendas élficas. Ainz pegou a escultura em suas mãos.

Como eu pensei, é de madeira. Mas... é mais pesado do que esperava. Nada mal... só espero
que ele não morra por isso... bem, não há nada que eu possa fazer se acontecer.

Era muito improvável que suspeitassem do envolvimento de Ainz, mesmo que condu-
zissem uma investigação de assassinato.

Ao ver Ainz com a escultura, os gêmeos carregaram o Elfo sob a prateleira onde estava
posicionada.

Depois que Ainz deu-lhes um aceno de cabeça, os dois entraram primeiro no 「Gate」.
Ainz os seguiu e parou bem na frente do portal.

Ele então arremessou a estranha escultura no ar.

Isso era o melhor que podia fazer para não causar uma morte suspeita que fosse ligada
a ele posteriormente.

Ainz imediatamente entrou no 「Gate」 sem esperar que a escultura o atingisse e dis-
sipou o 「Gate」 sem pensar duas vezes.

“Bom. Só vou ver como ele está. Vocês dois me esperem aqui.”

“Tá! Entendido! Não vai demorar muito né? Boa sorte, Ainz-sama!”

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


128
“Ah, e-eu acho que o-o senhor vai ficar bem, mas... p-por favor tome cuidado porque eu
acho que sua mana pode estar baixa, Ainz-sama.”

Recebendo o incentivo dos gêmeos, Ainz usou 「Perfect Unknowable」 novamente e


lançou 「Greater Teleportation」 para aparecer no quarto do Elfo.

“—Caralho! Isso doeu! Por que essa coisa caiu sozinha!? E por que eu vim dormir aqui
de baixo!? Eu bebi ontem... eu lembro que não... Mas que merda, tá doendo...”

Ainz olhou para o Elfo bem acordado, que agora descontava sua raiva na prateleira. Ele
riu do Elfo, que cada vez mais resmungava da dor.

Deu certinho! Um crime perfeito!

O Elfo não parecia estar atuando e também não parecia suspeitar de nada— ou melhor,
parecia estar em dúvidas como a escultura caíra, mas provavelmente não achou que um
desconhecido entrou em seu quarto e jogou em cima dele.

“...Será quê...”

Ainz parou antes que pudesse ativar 「Greater Teleportation」 ao ouvir a suspeita na
voz do elfo.

Ele notou alguma coisa? Talvez não relacionada a nós, mas que houve um intruso? Será
que há algum equipamento de segurança aqui — um item mágico, afinal é uma loja? Eu
jurava que não tinha nenhum...

“...Tsungoga-sama está tentando me dizer alguma coisa?”

Tsungoga-sama? Eu não me lembro de nada assim em YGGDRASIL...

“Tsungoga-sama. Tsungoga-sama. Por favor, me dê um sinal do que está tentando dizer.”

O Elfo se ajoelhou com a cabeça encostada no chão e a escultura em suas mãos erguidas.
A pose correta que um devoto altamente religioso tomaria.

...Então é apenas a religião nativa? E porque ele está falando sozinho, hein? Será que sus-
peita que tenha alguém além dele? Ou está apenas rezando para esse deus chamado Tsun-
goga?

O Elfo parecia ser uma pessoa diferente daquela que sequestraram. Ainz hesitou por
um momento sobre se deveria ou não raptar o Elfo novamente e matá-lo, mas acabou
decidindo não o fazer. Era mais provável que estivesse apenas orando, mas ainda era
melhor estar em guarda. Ainz queria deixar algum dispositivo para monitorá-lo, se pos-
sível, mas isso seria difícil até mesmo para Ainz. Não havia nenhuma magia conveniente

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


129
em seu repertório. O máximo que podia fazer era usar magia para espioná-lo de vez em
quando.

Ainz estalou a língua — embora não tivesse uma — e voltou para a Green Secret House
usando 「Greater Teleportation」.

Os gêmeos, que estavam esperando por ele, sorriram quando Ainz dissipou 「Perfect
Unknowable」 e fez um joinha, indicando que estava tudo bem. Honestamente, ele ficou
um pouco desconfortável com o comportamento do Elfo, mas como não podia fazer nada
a respeito, optou por não contar aos gêmeos para evitar desconforto.

“Tudo certo, pessoal. Agradeço toda a cooperação que fizeram até agora. Com isso, o
trabalho de hoje está feito.”

Os gêmeos pareciam confusos com o misancene exagerado, mas logo depois sorriram e
Ainz finalizou:

“Como está ficando tarde, espero que durmam cedo para não ficarem sonolentos ama-
nhã.”

Os gêmeos responderam com um enérgico “Sim!”.

“Com isso, mesmo que ainda não seja tarde da noite, vou dizer quando partiremos. Por
sinal, eu não me importo que acordem quando quiser, mas não durmam até meio-dia,
me ouviram? Vamos combinar o seguinte; se acordarem antes das nove horas, eu lhes
trarei café da manhã diretamente de Nazarick.”

Eles responderam com um alto “SIM!”. Enquanto Aura cutucava Mare levemente com o
cotovelo, não parecia que ela o estava intimidando.

“Enfim, isso é tudo — obrigado por terem trabalhado com tanto afinco!”

Ao ouvir as palavras de Ainz, os dois também replicaram com o mesmo “Obrigado por
ter trabalhado com tanto afinco!”.

“Bem, isso é tudo pessoal!”

Parte 3

Eles partiram em direção à aldeia dos Elfos Negros.

Confiando nos dizeres do Elfo, eles avançavam pela floresta montando no dorso de Fen-
rir. Se pudessem ter descoberto o local através de exploração aérea, poderiam ter ido

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


130
sem fazer paradas, mas infelizmente, não puderam encontrar nada mesmo com os dons
de Aura.

Era difícil respirar enquanto eles corriam pela floresta — era como se Ainz estivesse
sendo cercado por todos os lados pelo ar da vegetação verdejante. Esse aroma peculiar
e extremamente pujante de uma floresta fez sua cavidade nasal coçar. Pode ter sido ape-
nas sua imaginação, mas ele sentia que o ar era diferente do encontrado na Grande Flo-
resta de Tob. Partindo do princípio que não fosse imaginação, o ar da região continha
diversas nuances. Embora esse mundo possa se assemelhar à YGGDRASIL, cada lugar
tinha uma peculiaridade única.

Enquanto pensava sem pressa a respeito, o desejo de querer viajar por toda a vastidão
desse Novo Mundo colocou um pouco de emoção em seu coração.

Se um Zé Ninguém corresse pelo Grande Mar de Árvores com suas trepadeiras suspen-
sas, árvores emaranhadas e mais obstáculos sem fim, dificilmente conseguiria seguir em
linha reta e, antes que percebesse, já estaria seguindo uma direção completamente
oposta.

Segundo o que ouviram do sujeito, a distância até a aldeia dos Elfos Negros era de cerca
de uma semana de viagem.

Mesmo os Elfos estando adaptados às florestas, se pudessem progredir 15 quilômetros


por dia dentro desse tumulto arbóreo, já teriam feito um ótimo trabalho. Com base nisso,
as aldeias seriam separadas por cerca de 100 quilômetros. Ainz e companhia cobriram
essa distância em pouco mais de uma hora. Se não precisassem verificar os arredores,
teriam chegado ainda mais rápido.

Isso apenas demonstrava o quão incrível Fenrir era. A habilidade 「Forestwalker」 de


Fenrir, foi particularmente útil, pois todas as árvores, matagais e empecilhos eram des-
viados como se estivessem contornando Fenrir; assim, eles foram capazes de viajar pra-
ticamente em linha reta. Independentemente do quão bom Fenrir fosse, eles não teriam
chegado tão longe em tão pouco tempo se não fosse por 「Forestwalker」.

Mas—

“Deve ser em algum lugar por aqui...”

Aura, que se sentava à frente de Ainz, inclinou a cabeça um tanto perdida.

Como as aldeias élficas eram erigidas nas árvores, era visualmente difícil encontrá-las.
Mas isso era de se esperar, foi justamente por isso que sua civilização se desenvolveu
para usar árvores como casas. A Capital Real dos Elfos, com todas as árvores ao redor
cortadas, era a exceção.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


131
Dito isso, apenas um mestre da camuflagem conseguiria esconder algo de Aura — uma
ranger altamente qualificada. Era muito difícil imaginar que ela deixaria algo passar des-
percebido, então apenas concluíram que ainda não haviam chegado em seu destino.

“Contanto que não percamos a noção da distância até o nosso alvo, não há problema. O
problema seria se chegássemos perto demais.”

Ainz tocou a máscara que tinha equipado com a mão:

“Almejo encontrá-los antes que nos encontrem. Quero coletar informações a respeito
deles, então vamos nos esconder em algum lugar onde não seremos descobertos.”

O que ele mais temia era que tivessem chegado a um local completamente errado. Ainda
assim, mesmo temendo, não o preocupava.

Se alguém lhe dissesse para ir a um lugar sem um único ponto de referência (como o
Mar de Árvores), Ainz certamente não seria capaz de ir. As instruções que recebera do
Elfo foram: “Quando você tiver andado uns dois mil e quinhentos passos, vai ver uma pedra
enorme, de lá vire na direção onde três árvores estão alinhadas, aí avance cerca de três mil
passos”, e assim por diante. Na ocasião, Ainz pensou que sua explicação era tudo, menos
clara.

Aura não compartilhava desse pensamento.

Com certeza houveram ocasiões em que mesmo Aura ficou confusa e teve que procurar
na área ao redor, mas ela ainda estava confiante e os guiou até aqui.

Será que todos os rangers sempre foram tão incríveis, ou é apenas a Aura que é...?

Quando visitou o Reino Dwarf, Ainz não sentiu que era o caso, mas essa viagem o levou
a concluir que teria sido impossível chegar tão longe sem um ranger para guiá-lo.

Mesmo YGGDRASIL tinha florestas tão densas, mas dada às proporções de realidade e
fantasia, concluía-se que era um ambiente ajustado para os jogadores. Ele não achava
que uma selva real seria tão formidável.

Mas o fato era que vivenciar algo dessa magnitude trazia-lhe um pouco de emoção.

São nessas regiões arcaicas que... as coisas podem acontecer... eu posso entender total-
mente esse desejo pelo desconhecido... Os World Searchers, huh...

Exploradores eram aqueles que perseguiam esse anseio. A síntese de um verdadeiro


aventureiro que Ainz procurava.

Largar essa vida e sair por aí explorando o mundo, heh...

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


132
Se vendo considerar novamente tais anseios, Ainz balançou a cabeça. Não havia como
ele fazer uma coisa dessas. Uma atitude que nunca seria permitida para Ainz Ooal Gown,
o Supremo Governante da Grande Tumba de Nazarick.

Porém, talvez lhe fosse permitido, nem que seja apenas uma fração. De forma que não
abandonasse Nazarick, mas sim que tirasse férias como essas.

Qual é, isso não quer sair da minha cabeça. Não posso ficar me enganando também, não
digo que não tenha a ver com todo esse fardo que eu carrego, dá vontade de largar tudo e
fugir... O que me resta é ficar andando em círculos sem evoluir? Sou incapaz de evoluir
porque sou um undead? Ou porque faz parte do meu jeito? Pensar nisso me deixa até de-
primido... Haaah. Bem, não adianta ficar com esses pensamentos infelizes. Enfim... desta
vez é com a Aura e Mare, mas que tal trazer o Cocytus e Demiurge se houver uma próxima
vez?... Não dou uma volta com eles desde aquela vez...

Ainz lembrou quando adquiriram o Navio Fantasma nas Planícies Katze.

Chega! Melhor parar com essa negatividade toda e me focar em coisas boas. Se eu fosse
fazer algo assim de novo, seria muito difícil sem um ranger, mas tentar superar esse desafio
usando apenas sabedoria e discernimento pode ser bem divertido.

Foi precisamente porque Aura estava presente que foram capazes de chegar tão longe
e de forma tão rápida, o único ponto negativo foi a sensação que Ainz sentia por não ter
feito nada.

Claro, Ainz poderia simplesmente dizer que ele mesmo lidaria com a situação. Se o fi-
zesse, Aura seria atenciosa e deixaria tudo em suas mãos. Se cometesse um erro, ela cer-
tamente pensaria em algo para ajudá-lo enquanto tomava cuidado para não o ofender.
Porém—

—Credo, tudo menos isso. Já basta a sensação de estar completamente perdido ao admi-
nistrar o Reino Feiticeiro!

Portanto, a melhor maneira de conseguir o que queria era ter uma aventura sem Aura.
Dessa forma, todos poderiam queimar os miolos e se divertirem. Todavia, Ainz só pen-
sava dessa maneira porque tinha confiança de que poderia sobreviver durante uma
aventura.

Por exemplo, se ele estivesse em algum lugar desconhecido e perdesse o rumo, ele po-
deria retornar de qualquer lugar usando 「Teleport」.

Outro exemplo seria, mesmo que alguma besta mágica desconhecida pulasse de um ma-
tagal para cima dele, ele seria capaz de lidar de alguma forma e, na pior das hipóteses,
ainda poderia fugir de volta para Nazarick.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


133
Enviar aventureiros para o desconhecido. Isso por si só não é um erro. Até o Ainzach achou
interessante. Mas não posso considerar um aventureiro no mesmo padrão que eu. Só de
olhar a Aura desbravando esse lugar, posso sentir a necessidade de treinar adequadamente
os aventureiros.

Não era como se Ainz quisesse que os aventureiros morressem.

Mesmo realizando treinamento na Grande Floresta de Tob, mas...

Os perigos encontrados na Grande Floresta de Tob, que estava sob o controle completo
de Nazarick, eram muito diferentes dos daqui. Pode não ser uma má idéia treinar os
aventureiros na Grande Floresta de Tob e realizar o exame final aqui, mas os pormeno-
res exigiam discussões com Mare.

“Uh, hm, Ainz-sama?”

“Oi? Ah, aconteceu algo, Aura? Fiquei distraído pensando umas coisas. O que quer falar?”

“Ah, bem, o que a gente faz agora?”

Ainz olhou para o céu. Ele não podia vê-lo através das milhões de folhas. O sol poente
não era mais visível para saberem que horas eram.

“Hm. O mesmo que fizemos antes, montaremos um acampamento que fique oculto dos
Elfos Negros, ou qualquer outra vida inteligente, e passaremos a noite lá.”

“Beleza! Ah, pode me dar um tempinho pra eu conferir uma coisa?”

“Claro,” Ainz respondeu e Aura agilmente pulou de Fenrir. No entanto, assim que Aura
parecia que estava prestes a sair correndo, Ainz rapidamente a chamou de volta.

“Um momento, Aura. Leve o Fenrir junto com você. Não se preocupe em nos deixar a pé.
Vou invocar um monstro como substituto do Fenrir. Tudo bem, Mare?”

“S-sim, Ainz-sama.”

Mare, que estava atrás de Ainz, respondeu apreensivo. A ordem da montaria era: Aura
na frente, seguido por Ainz e Mare respectivamente.

Por poderem sentir qualquer um que se aproximasse graças às incríveis habilidades de


Fenrir, Ainz e Mare estavam extremamente gratos por ele estar lá, já que os mesmos não
conseguiam fazê-lo. No entanto, não poderiam privar Aura de tamanha vantagem.

Seria uma coisa se ela tivesse magias de invocação como Ainz, mas Aura não tinha. Ele
estava preocupado em deixá-la vagar pelo desconhecido sem proteção. Usar um item
mágico como substituto era uma maneira de lidar com isso, mas ela perderia tempo se
Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick
134
fosse invocar um monstro. Quando levou em consideração limites de tempo e similares,
Ainz concluiu que não seria sábio que fosse sozinha.

Acho que estou me preocupando demais, mas a Aura vai terminar o que tem que fazer
mais rápido se levar o Fenrir junto.

Aura mostrou uma atitude como se fosse dizer algo, mas no fim respondeu: “Tá bom”.
E então, Ainz e Mare desmontaram, ela montou em Fenrir e partiu. A silhueta de uma
menina montada em seu lobo imediatamente desapareceu nas árvores da floresta.

“Vejamos, Mare. Vamos nos esconder nesta área, então temos que ser discretos. Se al-
guém nos encontrar aqui, todo o trabalho da Aura será em vão.”

“S-sim. Uh, hm, então, vamos usar a Green Secret House?”

“Boa sugestão, mas antes disso precisamos tirar uma pedra do sapato.”

Se Ainz estivesse sozinho, 「Perfect Unknowable」 seria a solução mais eficaz, mas ele
não poderia lançar essa magia em outros além de si mesmo. Além disso, a magia não
estava no repertório de Mare, então era necessário que tomassem medidas completa-
mente diferentes, e foi por isso que a invocação de monstros foi mencionada anterior-
mente.

Ainz tirou uma pequena estatueta de seu inventário — era um item mágico.
[Estátua d a B e s t a Mágica C é r b e r o ]
Statue of the Magical Beast: Cerberus.
[Estátua d e A n i m a l Cavalo de Guerra]
Um item mágico do mesmo criador da Statue of Animal: Warhorse que usara no pas-
sado. Os músculos na estatueta foram detalhadamente esculpidos, era uma magnífica
obra de arte que passava a sensação de movimento.

Quando Ainz a ativou, instantaneamente dilatou e a fera mágica surgiu.

O que apareceu foi, obviamente, Cerberus.

Ele podia morder com suas três cabeças de cachorro que lembravam a de um leão, ar-
ranhar com suas garras afiadas e picar com sua cauda venenosa que parecia uma ser-
pente. Todos os seus ataques também podiam ser imbuídos de dano de ígneo e possuía
resistência completa a fogo e veneno. Era uma fera de grande porte e de alto nível com
habilidades de combate consideráveis.

Essa força pode ser melhor compreendida se considerá-la em termos de monstros que
podem ser invocados através de 「Summon Monster 10th」.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


135
Vale ressaltar que, se fosse lutar contra um jogador do mesmo nível de Ainz, a criatura
não representaria um grande estorvo. Com isso dito, era o melhor que tinham em mãos.

O papel de um monstro invocado era atacar o ponto fraco de um inimigo, acionar arma-
dilhas, aumentar o número de jogadas disponíveis ou simplesmente servir como escudo.
Eles não foram feitos para derrotar outros jogadores por conta própria.

Certamente, se Cerberus fosse aprimorado pelo uso de uma habilidade, ele seria capaz
de sair-se melhor nas lutas. Por exemplo, alguns dos undeads que Ainz invocou estavam
[Sandália d a F o r ç a ]
usando Geta of Strength.

Ainda assim, se comparado com jogadores com profissões marciais na mesma faixa de
nível, independentemente se tivessem upado níveis em profissões favoráveis ou não
para lidarem com feras, contando que não sejam incompatíveis e nem que o jogador
usasse uma build sem sentido. Se lutassem apenas um contra um, um jogador raramente
perderia.
[Globo Ocular C a d á v e r ]
A primeira razão pela qual Ainz escolheu Cerberus e não um Eyeball Corpse ou outro
undead foi porque ele julgou que as habilidades sensoriais de um monstro do tipo fera
mágica seriam maiores.

A segunda foi porque concluiu que um monstro com olfato e audição excepcionais se
destacaria em seu papel como detector no Mar de Árvores, então ter uma boa visão não
adiantaria muito.

Cerberus pode perder para Fenrir em termos de níveis, mas ele ainda tinha três cabeças.
Não havia dúvida de que seu olfato era três vezes melhor — provavelmente.

“Uau.”

Disse Mare surpreso ao ver essa fera mágica pela primeira vez. Definitivamente não era
porque o achava forte.

“Ouça, Cerberus. Quando farejar alguém se aproximando que não seja um de nós, você
nos informará, entendido?”

“Grr,” as cabeças de Cerberus rosnaram. Foi um modo de rosnar que transmitira sua
ânsia e confiança. Ainz, mesmerizado com aquele sentimento de “Deixe conosco”, mos-
trou sua expressão orgulhosa para Mare — embora ele provavelmente não pudesse di-
zer.

“Vamos fazer um teste, a quantas centenas de metros consegue discernir um cheiro?”

Cerberus parou de se mover imediatamente.

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


136
“O que há de errado?”

“Deu merda.” “Hein?” “Calma pessoal.” era o que suas cabeças transmitiam, pois a ansie-
dade de não saberem o que estava a “centenas de metros” se fez presente.

Mesmo que ele desse a entender isso, Ainz só pôde dizer que era mais do que plausível
que a verdade fosse totalmente diferente.

“—Ora, vamos. Você tem três cabeças. Então consegue farejar melhor do que o Fenrir,
não é?”

“Kuuun,” Cerberus graciosamente grunhiu e deitou para expor sua barriga.

Talvez parecesse fofo se feito por um cachorrinho, até Ainz acariciaria sua barriga in-
defesa se fosse o caso. No entanto, ele estava lidando com Cerberus, não seria nada gra-
cioso. Mesmo que resumidamente fosse apenas um cachorro muito grande, sua aparên-
cia dantesca cortava qualquer clima de fofura.

Enquanto Ainz encarava Cerberus, Mare se aproximou e esfregou sua barriga.

“...Hum? O que aconteceu?”

Enquanto atento a Mare, que estava esfregando sua barriga, Cerberus levantou-se len-
tamente e com uma expressão determinada rosnou: “Farei o meu melhor”, “Vamos con-
seguir”, “Isso é impossível”, em resposta à pergunta de Ainz. Parecia que havia três senti-
mentos distintos.

Ainz notou que um terço dos sentimentos eram negativos.

“...Eu entendo se for demais para dar conta, tudo bem? Será muito pior se insistir e fa-
lhar... Pelo menos pode discernir os cheiros ao nosso redor e nos avisar quando um es-
tranho se aproximar?”

Embora o próprio Ainz tenha dito, ele logo concluiu que talvez centenas de metros fos-
sem impossíveis, afinal.

“He-heh-heh... eu devo dar conta disso.” “Isso é possível.” “Vamos conseguir.” Ainz assentiu
com esse sentimento.

“Então vá.”

Cerberus soltou um uivo e começou a farejar os arredores.

Aliás, Ainz também poderia dar ordens mentais. Era possível dar ordens a monstros
invocados mesmo que magias como 「Silence」 fossem usadas. Se alguém quisesse in-

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


137
terferir na conexão entre o invocador e invocado, precisaria de uma profissão extrema-
mente específica conhecida como Especialista Anti-Invocador. Ele deu ordens verbal-
mente porque pensou que Mare ficaria confuso ao ver Cerberus tomando atitudes de-
pois de apenas encarar Ainz.

“Enfim, vamos seguir como o seu plano de antes, Mare. Vamos usar a Green Secret
House e nos abrigarmos lá. É melhor não sermos vistos por ninguém.”

“Sim!”

Mare parecia satisfeito por sua própria sugestão ter sido aceita.

Fôra uma sugestão bem precisa.

Nem Ainz nem Mare possuíam técnicas de ocultação que pudessem apagar seus rastros.
Portanto, se andassem despretensiosamente, poderiam deixar sinais para trás, e talvez
algum exímio rastreador notasse e relatasse a seus superiores.

Por isso era sábio permanecerem onde estavam. Usar magia como 「Camouflage」, que
estava disponível para druidas e rangers, seria o ideal, mas infelizmente não fazia parte
de seus repertórios. Mesmo Mare sendo um druida, ele era um tipo de druida extrema-
mente nichado. Suas magias eram voltadas para o genocídio em massa, e se não recor-
resse a itens para auxiliá-lo, seu repertório druídico não passava de algumas magias do
tipo buff.

Após considerarem tudo, trazer a Green Secret House — um esconderijo onde não dei-
xariam pegadas ou outros sinais de sua presença se não saíssem dele — foi a melhor
decisão que puderam tomar.

Mas estava tudo bem sentar e relaxar mesmo com Aura ainda trabalhando?

Não, até Ainz conhecia a expressão “o homem certo para o trabalho”. Outrora, quando
ainda um mero assalariado, ele lembrava-se de ouvir isso quando encontrou um pro-
blema cabeludo em sua linha de trabalho. E então ele lembrou dos dizeres de Punitto
Moe: “Um trabalhador incompetente que não sabe a hora de parar é a maior das dores de
cabeça”.

Portanto, era melhor parar do que se meter em problemas.

Se tratado apenas como o Rei Feiticeiro delegando tarefas para um Guardião de Andar,
então não haveria nenhum problema. No entanto, por qual motivo Ainz começou esta
viagem?

Para enraizar as férias em Nazarick.

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


138
Além disso, sendo ele o adulto do grupo, ver crianças trabalhando enquanto ele não
fazia nada, o fez sentir uma enorme culpa.

Ainz ficou desesperado, ele pensou em várias formas de ajudar, mas não podia fazer
nada benéfico à Aura. A única desculpa que conseguiu inventar foi que estava fazendo
companhia a Mare.

Até quando vou me enganar com essa de cuidar de criança... só estou fugindo, né? Essa é
a única maneira de apoiar à Aura que consegui achar... Será que não tem outra? Ser res-
peitado por fazer minha parte... não, se tornar um adulto que cumpre o mínimo de suas
responsabilidades?

Ele deveria aceitar a dura verdade de que agora não havia nada que pudesse fazer?

Por mais que pensasse, não conseguia encontrar a resposta que procurava.

Um tanto desanimado, Ainz disse a Mare:

“...Vamos esperar dentro da Green Secret House até a Aura retornar.”

“Sim, senhor!”

Ainz sentiu um pouco de acalento depois da resposta alegre de Mare.

♦♦♦

Ankyloursus.

Se visto à distância poderia ser confundido com um urso, mas se permanecesse nesse
ledo engano por muito tempo, seria seu fim. Tinha cerca de dois a três metros de com-
primento. Com dois pares de membros dianteiros e duas patas traseiras. Garras afiadas
e pontiagudas com mais de 60 centímetros de comprimento saíam em duas das quatro
patas dianteiras, sua dureza supera até mesmo a do aço, armas naturais de combate.
Uma cauda longa e grossa brotava de suas costas, em sua ponta havia uma massa seme-
lhante a um martelo.

E, por fim, grande parte de seu corpo estava protegido por uma densa blindagem seme-
lhante a escamas. O poder contido em sua presença era aterrorizante; um único ataque
daquelas garras poderia cortar um guerreiro ao meio, de armadura e tudo.

Isso era o que deveria se ter mais cuidado.

A criatura em si não tinha habilidades especiais para dar status de terror, nem poderia
usar nenhuma magia poderosa. O Ankyloursus só podia usar 「Fragrance」, e por si só
não era útil em combate. Portanto, embora esteja entre os principais predadores do Mar
de Árvores, não era a besta-fera mais forte da região.
OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1
139
No entanto, não poderia ser tratado com ânimos leves.

Um ser tão grande e tão forte poderia matar até monstros que tivessem habilidades
especiais ou pudessem usar magia.

Não seria estranho confundi-lo com uma espécie diferente se o visse — realmente era
um Ankyloursus digno da alcunha de “Lord”.

O monstro ergueu a cabeça do estômago do animal que vinha devorando até então e
soltou um rosnado baixo e grave que encheria o coração de quem ouvisse de medo. Lon-
gas entranhas pendiam do canto de sua boca.

Ao bufar, expeliu a respiração entorpecida pelas vísceras e farejou o ar. Seu rosto estava
molhado de sangue, mas foi capaz de sentir que havia dois odores que nunca havia sen-
tido antes. Como ambos os odores estavam misturados, poderia ser uma fêmea acasa-
lando.

Sua barriga já estava cheia. Não faria mal algum ignorá-los.

No entanto, era desconfortante.

Esta área era o seu território. Nunca que ele permitiria alguém fazer o que bem enten-
desse como se fosse o dono do lugar.

Ele se apoiou nas patas traseiras e, depois de usar suas garras para arranhar uma ár-
vore, esfregou o corpo contra a mesma. Uma demonstração clara de que este era o seu
território, e então caminhou em direção à fonte do cheiro.

Ao longo do caminho, usou 「Fragrance」. Com isso, foi capaz de apagar seu próprio
odor corporal e o cheiro do sangue impregnado. Ao fazer isso, o enorme corpo do
Ankyloursus se aproximou de sua presa. Se não usasse essa tática, suas caçadas seriam
bastante infrutíferas.

O odor ficou mais forte.

Não havia indícios de que tivessem notado sua presença. Caso contrário, estariam
agindo de forma diferente. Por exemplo, parar tudo e procurar pela fonte do som. Ou
tentar fugir. No entanto, não estavam fazendo nada disso. Ou talvez estivessem pen-
sando que ganhariam por estarem em dois?

Ao aproximar-se o mais silenciosamente que pôde do local. Não conseguiu avistar sua
presa que possivelmente ainda estava escondida entre as árvores.

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


140
Mas isso não o impediria. Era sempre assim quando derrubava sua presa. Se os visse,
ele também seria visto. Ele sabia manter-se calmo enquanto farejava tudo ao seu redor,
ele avançaria de uma vez — encurtando a distância em um piscar de olhos, esse era seu
modo de caça.

Ao chegar perto, notou que os odores estavam se movendo.

Seria como suas caçadas de rotina e ele começou a correr. Apesar de ser enorme, corria
por entre as árvores como uma rajada de vento.

Como não tinha nenhuma habilidade como 「Forestwalker」, quando fez dessa área
seu território, ele derrubou todas as árvores que poderiam interferir em seu desloca-
mento. Deixando claro que, nenhuma árvore de meia-tigela seria capaz de parar seu ata-
que, mas se sua vítima estivesse alerta, poderia se aproveitar delas para escapar.

Não havia como negar que era um ser poderoso, mas nem todas as suas caçadas eram
bem-sucedidas. Essa foi a razão pela qual fez os preparativos.

A fonte do cheiro estava à sua frente.

Duas formas pretas, uma pequena e uma grande. A pequena estava em cima da grande.

Não se tratava de acasalamento. Muito provavelmente eram dois animais diferentes.

Isso não era incomum. Haviam animais que se ajudavam mutuamente. Por cima estaria
o mais esperto com alguma habilidade, enquanto em baixo estaria o mais apto a fugir,
esse tipo de coisa.

Fosse o que fossem, ambos não passavam de mera comida.

Ele sorriu.

A essa distância, já não havia mais como fugirem. O pequenino não tinha muita carne,
mas o que estava embaixo era bem grande. Como sua barriga ainda estava cheia, deveria
enterrá-los para fartar-se mais tarde.

Todavia, algo estava estranho.

Ele avançava enquanto pisava com força no chão. Eles notariam, mesmo que fossem
distraídos, e logo tomariam algum tipo de ação.

Porque não estavam com medo? Por que não estavam fugindo? Quase todos os animais
que o via tinham essas reações. As únicas exceções eram membros de sua própria raça.

Estariam eles paralisados de medo?

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


141
Pensou por um momento enquanto corria.

A carne de presas aterrorizadas não era muito saborosa. Quanto às suas preferências,
a tenra carne de presas que morriam lentamente era muito melhor, sua favorita. Quando
desistiam de viver após terem suas entranhas arrancadas enquanto ainda moribundos,
era a mais saborosa de todas.

“GRRROOOOAAAAAR!”

Ele se levantou e berrou na frente da presa.

Isso não era mera intimidação, era para incutir medo.

—Vá e corra, tente se manter vivo! Faça com que sua carne seja mais saborosa ainda, é
tudo que quero.

Murmurou mentalmente. A essa distância, já não lhes restava escapatória. Foi só por
ter certeza da caçada ser bem-sucedida que lhe foi garantido mostrar-lhes uma pequena
chance de fugir.

“Oh? Eu nunca vi um desses antes. Que urso fofo.”

O pequeno disse.

Essa forma, lembrou. Eu vi coisas nas árvores que eram como você. Ankyloursi também
podiam subir em árvores, mas devido a seus corpos enormes, essa escalada os deixava
muito vulneráveis. Por isso, quando achava suas presas em cima de uma árvore, ele pre-
feria derrubar a árvore primeiro. Na ocasião em que se deparou com esses seres, sua
barriga estava tão saciada e suas presas tão longe, ele os deixou fugir.

Mas como estes estavam no chão, não havia necessidade de se conter.

A criatura preta na parte de baixo o encarava sem se mover.

Ele pisou com sua pata dianteira e grandes garras brotaram dela.

Ele precisava atacar o de baixo, para que não fugissem.

Assim que planejou o que fazer, um som de *ching* passou por ele, sua perna dianteira
ficou quente — e logo uma dor intensa tomou conta.

Ele perdeu o equilíbrio e veio caindo de trás para frente.

Em pânico, olhou para a perna dianteira que tinha a dor latejante.

Ainda estava lá.


Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick
142
Ele não perdera um membro, mas tamanha era sua dor que não conseguia se mover.

“GuuUU.”

Quando olhou bem, notou uma coisa longa e serpentina que pendia da mão da pequena
criatura. Tinha sido atacado por aquilo? Seria veneno. Quando era um filhote, foi picado
por uma enorme cobra venenosa e a sensação de formigamento era semelhante a essa.

“Calminha aí. Eu não vou te machucar. Fica calminho, viu?”

Quando o pequeno balançou a mão, um alto estampido veio de uma árvore próxima. A
arma serpentina havia atingido a árvore. A força do impacto tirou um naco da casca, pa-
recia que tinha explodido de dentro para fora.

Eu também sei fazer isso. Mesmo com esse pensamento, calafrios percorreram todo seu
corpo.

Ele havia se enganado quanto a seu tamanho?

Pois pouco a pouco ele começou a ver o diminuto ser parecendo assustadoramente
grande diante de seus olhos.

“Tá tudo bem, relaxa bichinho. Eu não sou assustadora. Olha pra mim, eu sou de boa.”

Enquanto bradava, o pequeno ser saiu de cima do maior. Ele desceu ao chão e se apro-
ximou com as duas patas dianteiras bem esticadas. Realmente é pequeno. Mas como sua
força é tão grande assim?

Eu sou o caçador e eles são a caça— essa é a regra. Então como— como essa criaturinha
se aproxima de mim sem sentir nenhum medo?

Era como se— sua presa fosse um predador alfa.

Ele moveu seus olhos do pequeno e olhou para o grande.

Ele os observava atentamente.

Isso também era algo que não conseguia entender.

Ao longo de sua vida, havia se deparado com diversos animais, mas nenhum nunca se
comportou assim.

Todos davam meia-volta e fugiam de medo.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


143
Quando era muito jovem — na época em que se separou de sua mãe e deixou o ninho
—, ele teve que fugir das presas que tentou caçar, pois eram muito mais fortes que ele.
Portanto, não havia vergonha em fugir de coisas que não entendia.

Agora, havia algo enrolado em sua pata traseira—

“Hora da ponte aérea.”

Seu campo de visão girou em círculos.

Foi tomado por uma súbita sensação de leveza, como se estivesse sendo puxado para
cima, e então um choque percorreu suas costas.

Por alguma razão, estou deitado de lado.

Quando se levantou, a coisa longa e serpentina estava enrolada em torno da perna tra-
seira que havia sido puxada, e o pequeno ser segurava na outra extremidade.

Não sei o que está acontecendo, mas aquele pequeno me derrubou? Eu caí, por essa pe-
quenez—

“Ei. Eu disse pra você não fugir.”

O pequeno rosnou, mostrando os dentes.

Era um som que dizia: “Não se engane, você será minha refeição”. Talvez fosse um pre-
dador de emboscada. Isso significava que aquele ser que vira na árvore daquela vez era
tão forte quanto esse?

“Hmmm. Você é teimoso, hein. E eu não posso deixar Ainz-sama esperando plantado lá...
talvez seja melhor eu te matar e esfolar do que tentar te levar vivo. Se bem que seria um
baita desperdício. Posso até te usar pra fazer uns experimentos. Hmmm... E o Ainz-sama
também disse que matar só em último caso...”

A criatura o encarava. Talvez significasse que não fosse um corredor. E por isso usava
aquela coisa parecida com uma serpente para capturar presas.

Ele tentou remover a todo custo o que prendia sua perna, no entanto, falhou.

Enrolava-se firmemente. Já que era assim, ele usou as garras de que tanto se orgulhava.

Não deveria haver nada que resistiria a seu poderoso corte.

Gu?

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


144
Grunhiu perplexo. Não aconteceu nada. Mesmo tendo cortado tudo em seu caminho até
então, desta vez não conseguiram.

“É, tanto faz. Mas não tô afim de lutar.”

Houve o som de terra movida e grama deslizando enquanto seu corpo era puxado. A
coisa serpentina o ligava até a força motriz responsável por esse feito.

Ele estava sendo arrastado pelo pequeno ser.

Não havia mais dúvidas. Aquele pequenino possuía uma força absurda.

“Não vai dar pra evitar. Eu realmente não gosto de fazer isso, mas vou tentar de novo...
e se não der certo, você já era.”

A coisa parecida com uma cobra foi removida de sua perna.

Wuh-PSSSH!

Antes mesmo que pudesse pensar: “Eu deveria fugir”, uma pontada de dor percorreu
seu corpo.

“GwoOOO!”

Chibatadas agonizantes de dor vieram em rápida sucessão. Seus braços, pernas, rosto,
barriga e cauda não doíam tanto assim, mas se fosse tentar cobrir alguma parte do corpo,
seriam as costas. Caso ficasse enrolado como um caracol, seria banhado em agonia.

Quando tentou engolir a dor para fugir, seu corpo foi imobilizado por uma pressão tre-
menda. Quando olhou, notou a criatura grande com uma de suas patas pisando em suas
costas, imobilizando-o. Tamanha era a força que parecia que afundaria no chão.

Seria um pesadelo? Já era difícil aparecer um, que dirá dois que eram mais poderosos
do que ele.

A dor continuou.

Cada vez que esse som ecoava, uma dor aguda percorria algum lugar de seu corpo. A
cacofonia de estampidos era como o som de uma tempestade.

Quando finalmente perdeu a vontade de resistir, o som finalmente parou. Não havia
nenhuma parte de seu corpo que não doía. Todo o seu corpo estava ardendo, e ele tinha
a sensação de que havia inchado duas ou até três vezes o seu tamanho normal.

“Prontinho, agora você é bonzinho e obediente, né?”

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


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Eu serei comida dos fortes. Depois de tanto fazer isso, chegou a minha vez; um dia é da
caça, outro do caçador.

“Bom garoto. Agora sim tá do jeito que eu gosto. Agora entendeu quem manda, né? En-
tão vamos indo.”

Mesmo com dentes tão pequenos, esse pequenino vai conseguir me devorar? Ou ele pre-
tende me compartilhar com esse maior?

Agora que desisti de viver, não há dúvida de que minha carne será saborosa.

♦♦♦

Dentro da Green Secret House, Ainz trabalhava junto com Mare.

Primeiro, eles dispuseram os pratos em cima de uma mesa obsidiana produzida usando
magia. Havia também sopa quente, mas foi colocada dentro de um refratário para mantê-
la aquecida, eles planejaram servi-la logo antes de jantarem. Eles prepararam copos
cheios de gelo para três e colocaram uma jarra cheia de suco no centro.

Mesmo com a porta da Green Secret House fechada, o ambiente estava perfeitamente
ventilado, isso foi graças ao funcionamento de um mecanismo mágico onde nem sons
nem cheiros saíam de dentro. No entanto, seria desativado quando a porta fosse aberta,
isso significava que, quando Aura voltasse o cheiro da comida vazaria para fora.

Esses aromas distintos seriam detectados a surpreendente distâncias. Dentre todos que
conhecia, Aura provavelmente não cometeria um erro tão banal como retornar à base
sem confirmar que a área ao redor era segura, mas ele não podia descartar a possibili-
dade de que um cheiro fora do alcance sensorial de Aura não fosse notado por alguém.
Nessa floresta, se alguém com inteligência e cultura sentisse o aroma de alguma comida
deliciosa, certamente acharia suspeito.

Os próprios Elfos Negros não possuíam olfato a par dos animais. No entanto, tudo era
possível nesse mundo, até mesmo poderia haver uma profissão que permitisse algo tão
específico. E mesmo que a própria pessoa não fosse capaz, talvez se estivesse junto com
uma fera mágica capaz de informar-lhe, por gestos ou algo do tipo, que detectara algo.

Resumidamente, Ainz e Mare estavam trabalhando diligentemente em algo que poderia


fazer o trabalho de Aura ser desperdiçado. Ainz estava totalmente ciente disso.

Então, o que os levou a prepararem alegremente uma refeição fôra porque; essa foi a
única idéia que Ainz teve para escapar de seus sentimentos de culpa.

Ou seja, era para dar boas-vindas à Aura com uma deliciosa refeição quando ela che-
gasse em casa cansada do trabalho.

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


146
Mesmo pesando os prós e contras, Ainz decidiu continuar.

Afinal, bastava não serem descobertos. Mesmo que o problema fosse o cheiro saindo,
valia o risco, pois só sairia quando Aura abrisse a porta.

A maneira mais infalível era fechar a porta assim que Aura entrasse e contar com suas
precauções.

Para Ainz, o mais importante seria o sentimento de surpresa de Aura ao abrir a porta e
“tchã-ram!” aí está a comida.

Por precaução, ele voltou à Nazarick e pediu ao Head Chef que preparasse pratos de
[Elemental V e n t o s o ]
fraco aroma. Além disso, o Wind Elemental que Mare invocou com um item mágico jo-
gava o ar ao redor deles para o céu. Todo o ar, incluindo os cheiros, seria enviado para
as copas das árvores, onde finalmente começaria a se espalhar. As partículas de cheiro
eram mais pesadas que o ar, ele não sabia se isso ainda era válido nesse mundo. Por
alguma razão, poderiam não descer, e mesmo que o fizesse, quando chegasse ao solo, já
teria se tornado consideravelmente tênue.

Ainda assim, havia algumas falhas em seus preparativos, isso porque quando a corrente
ascendente foi criada, as folhas se moviam levemente — não a ponto de Ainz se preocu-
par — mas se alguém de olhos aguçados estivesse assistindo do céu, poderia sentir que
algo estava fora do lugar. No entanto, alguns dias atrás, quando Ainz estava fazendo re-
conhecimento aéreo, pássaros eram as únicas coisas que vira no céu, então não valia a
pena se preocupar.

“Uh, hm, Ainz-sama. Já está na hora de eu devolver isto para o senhor.”

Assim que terminaram os preparativos, Mare ofereceu um orbe que Ainz lhe empres-
tara.

Era um item mágico de alta qualidade que ele chamou de Elemental Gacha. Dentro da
esfera transparente, semelhante a vidro, havia quatro luzes se movendo em círculos.

Permitia invocar e usar um elemental por uma hora, quatro vezes.

Os tipos que podiam ser invocados eram fogo, água, vento e terra. Havia também os
compostos de fogo + terra = magma; água + vento = nevasca; terra + água = pântano;
fogo + água = efervescente; terra + vento = tempestade de areia; fogo + vento = tornado
ígneo e muito mais.

Entre esses, os de elementos bases como fogo, água, vento e terra podem se manifestar
de três formas:
• Alto nível - com níveis na casa dos 40;
• Médio nível - com níveis na casa dos 20;

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


147
• Baixo nível - com níveis abaixo de 10.

Nessas ocasiões, se fosse de alto nível, viria apenas um. Em nível médio o número era
aleatório, mas variava de 1 a 3. O número de elementais de nível baixo também era ale-
atório, mas era um mínimo de 3 e podendo ir no máximo até 6.

Em relação aos compostos, podem se manifestar como sendo de alto nível, podendo
chegar na casa dos 50. Os de nível médio chegariam por volta do nível 30 no máximo. E
os de nível baixo seguindo a regra de virem abaixo do nível 10. No entanto, sempre viria
um, independentemente de qual nível.

Após saber disso, seria lógico pensar que era um item bastante útil, mas infelizmente o
elemental era escolhido aleatoriamente. Além disso, a probabilidade de vir um de nível
alto era extremamente rara. Como comparativo, a taxa de aparição de um de alto nível
[ E s t r e l a Cadente]
era similar à taxa de ganhar um anel Shooting Star no gacha.

Era estrategicamente inútil não ser capaz de invocar algo que se adequasse ao oponente
ou à situação. Se invocasse um Earth Elemental ao voar no céu, tudo o que poderia fazer
era vê-lo cair como uma pedra. Na verdade, eles tiveram que usar o item três vezes até
que Mare pôde invocar um Wind Elemental.

“Não precisa. Agora é seu, Mare. Como deve ter percebido, é um item meio duvidoso,
então eu ficaria feliz se pudesse guardá-lo para mim, se não se importar. Se pudesse in-
vocar, digamos, os elementais de classificação mais alta, elementais corrompidos ou ele-
mentais sagrados... então seria um ótimo item. Além disso, foi restrito para que apenas
druidas possam usá-lo. Se não o quiser, serei obrigado a deixar ele pegando poeira na
Tesouraria.”

Poderia ser útil para iniciantes no jogo, mas quando se tratava de Ainz e Mare, a história
era outra. Por essa razão, ele originalmente o deixou em seu inventário pensando que o
daria a alguém cujos níveis fossem baixos.

“O, o senhor tem certeza disso?”

“Sim, aceite de bom grado. Sei que estando com você, será muito mais valorizado.”

“Um-muito obrigado! Uh, hum... então os elementais invocados por isso vem do mesmo
elemento que usamos previamente?”

“Como?”

“Uhh, é que eu tenho um outro item de invocar elementais, mas para usar ele tem que
lançar uma magia com o elemento correspondente, ou que o tenha como elemento se-
cundário, antes de ativá-lo.”

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


148
Em outras palavras, se Mare quisesse invocar um elemental com dados de fogo usando
um item, ele teria que usar magia que tivesse chamas como elemento secundário, por
exemplo — embora Mare não pudesse usar — 「Fireball」 antes de usá-lo.

“Acredito que os pré-requisitos provavelmente foram atendidos, mas por que não tes-
tamos da próxima vez que tivermos mais tempo?”

“S-sim! Será u-uma honra.”

No passado — isso foi antes de confiar completamente neles — ele investigou as habi-
lidades de todos os NPCs e, ao fazê-lo, também aprendeu sobre seus equipamentos.

O item que poderia convocar elementais que Mare mencionou certamente poderia con-
vocar um único elemental de alto nível, mas só poderia fazê-lo uma vez a cada 24 horas,
e a duração da criatura invocada não era nem dez minutos. Se fosse para ser honesto, o
valor do item em si era baixo. Havia muitos outros muito mais poderosos.

E, no entanto, Mare tinha um imenso carinho pelo item, isso porque fôra um presente
de Bukubukuchagama.

Ainz sabia que esse sentimento era compartilhado entre todos os NPCs.

Apesar de haver itens muito melhores, os NPCs não mudariam seus próprios itens. Se
fossem mudar, seria apenas por outro equipamento que haviam recebido por seus cria-
dores. Claro, se Ainz desse algo, como fez agora, eles usariam o item, mas nunca envia-
riam uma requisição para trocar seus equipamentos por vontade própria. A única vez
foi quando fizeram exercícios de combate e Albedo veio implorando que queria pegar
emprestado várias coisas.

São limitados.

Era uma maneira extremamente rude de ver as coisas, mas foram as palavras que pas-
saram por sua mente.

Isso valia para ele também—

“—Uh, hum, há algo de errado?”

Ele fôra trazido de volta à realidade pela expressão preocupada de Mare. Parece que
Ainz se perdera em pensamentos mais uma vez.

“Hum? Oh, não, não é nada de mais. Eu estava pensando se eu estivesse em seu lugar,
como eu deveria usar esse item, apenas isso. Com certeza, convocar um elemental com
antecedência é—”

Cerberus se moveu do outro lado da porta.


OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1
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Quando Ainz abriu a mesma, Cerberus soltou um rosnado, as três cabeças olharam para
a mesma direção. Não havia dúvida do significado “alguém está vindo”.

Ainz e Mare olharam um para o outro.

“Eu fiz de tudo para não deixar nenhum cheiro sair daqui, mas... meu plano falhou?”

“Eu, eu não acho que é isso... mas...”

Cerberus não farejou Aura e Fenrir quando invocado. Mesmo assim, notou seus cheiros
impregnados em Ainz e Mare, então ele não deveria reagir assim.

Os dois olharam juntos na direção que Cerberus estava olhando. Não parecia haver
nada escondido nas árvores. Mare colocou a mão atrás das orelhas, tentando ouvir qual-
quer som vindo daquela direção.

“Uh, mhm, definitivamente parece que tem algo vindo...”

“Quer dizer que... não são eles, é isso?”

Quando Aura e Fenrir partiram, eles não fizeram nenhum som.

“Eu, eu sinto muito. Disso... disso eu não sei. Mas, o senhor tem razão. Eu acho que se
fosse minha irmã, ela estaria vindo muito mais silenciosamente... e... eu não acho que há
qualquer chance dela fazer barulho de propósito só para nos avisar que vasculhou a área
e sabe que não há problema...”

Em outras palavras, ele também só podia supor.

“Não nos resta muito o que fazer. Vamos seguir o plano de antes.”

Ainz ativou 「Perfect Unkowable」 e deu um comando para Cerberus acompanhá-lo.

Ao contrário de quando dava comandos verbais, comandos mentais não seriam inter-
feridos por 「Perfect Unkowable」. No entanto, mesmo Cerberus não podia ver Ainz,
assim, ter um bom posicionamento era importante. Se cometessem um erro, era possível
que Cerberus o atingisse sem querer.

Hmmm, 「Perfect Unkowable」 é muito prático. É uma pena que o Pandora’s Actor não
possa usar mesmo quando se transforma em mim. Bem, há outros meios de contornar isso,
como o uso de pergaminhos. O problema são os custos de materiais, limites de tempo e mais
um monte de coisas chatas.

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


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Enquanto resmungava mentalmente, Ainz avançou seguindo Cerberus. Em pouco
tempo, Ainz pôde ouvir o som da grama sendo pisoteada, e ele viu uma silhueta enorme.

Um urso?

No entanto, isso era diferente do seu urso médio. Parecia ter seis pernas e seu pêlo apa-
rentava estar encharcado e grudado em seu corpo. É algum tipo de fera mágica com a
habilidade especial de atirar água?

Mas o que mais chamou a atenção de Ainz foi Aura sentada em suas costas. Ela estava
segurando um chicote na mão e fez a besta mágica do tipo urso tremer de medo quando
o estalava em intervalos regulares.

Ao lado estava Fenrir os acompanhando.

...Aura não tinha esse tipo de animal antes... Mas o que está acontecendo aqui?

Parecia que tinham notado Cerberus, pois o encararam com cautela. Mas, a razão pela
qual eles não partiram para o ataque foi provavelmente porque não puderam confirmar
se era um Cerberus selvagem ou um Cerberus que Ainz havia invocado. Eles pareciam
estar pensando que se fosse um servo de Ainz, deveria de alguma forma transmitir esse
vínculo, ou seria diferente para um monstro invocado?

Ainz cancelou 「Perfect Unknowable」.

“Ainz-sama!”

No instante seguinte o olhar de cautela desapareceu de seu rosto e Aura gritou de ale-
gria:

“Hey! Irra!”

Aura balançou o chicote para o urso que parecia bastante relutante em avançar. Sol-
tando um grito que só poderia ser interpretado como abuso de animais, o urso aterrori-
zado caminhou até Ainz.

Quando chegou na frente de Ainz, Aura desmontou do urso.

“Bem-vinda, Aura.”

“Tô de volta, Ainz-sama. Tenho certeza que você tem algumas perguntas, então deixa
eu já responder elas agora. Esta fera mágica aqui é do tipo urso, como parecia ser o dono
da região, então eu domei ele! Eu usei um chicote pra pôr na cabeça dele quem é que
manda por aqui. E foi isso que fiz, o que achou, Ainz-sama?”

Ainz se perguntou o que era essa coisa


OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1
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“...Para dizer a verdade, eu não sei o quão poderosa essa fera mágica é... é forte o sufici-
ente para que os Elfos Negros e outros animais tenham medo?”

“Ah, saquei. Você sendo tão forte, até fica estranho julgar a força de uma coisinha fraca
como ele. Deixa eu ver aqui, não que é muito forte, mas parece ter força mais do que
suficiente pra controlar essa área. Então, eu no lugar de um Elfo Negro comum, acho que
nem chegaria perto por ser perigoso demais. Pelo o que notei, parece que ninguém se
aproxima dessa área inteira por medo desse carinha aqui. Então recomendo montar um
acampamento temporário nessa região, já que dificilmente um intruso vai se atrever a
chegar perto.”

“Que maravilha.”

Será bem útil, pensou Ainz.

Certamente havia um mérito maior em colocá-lo sob seu controle, em vez de apenas
matá-lo. Como não estava claro quanto tempo iriam gastar procurando e observando os
Elfos Negros. Se matassem o dono do território, o equilíbrio da floresta ficaria um caos,
e os Elfos Negros provavelmente viriam investigar para saber o que estava acontecendo.
Então seria melhor deixá-lo viver.

Seja como for—

“Aura. Não é como se eu estivesse questionando seu julgamento, mas você já não tem
feras mágicas demais para tomar conta? Não acha que pode acabar forçando sua habili-
dade ao limite? O que me preocupa é caso alguma escape do seu controle.”

Na maioria das vezes, era costume libertar as que estivessem há mais tempo, muitas
vezes não era que a pessoa queria libertar, mas sim que era obrigada a libertar.

Era o mesmo para monstros invocados e criados. Em YGGDRASIL, alguns poucos expe-
rimentaram o recebimento de mensagens de aviso informando que deveriam selecionar
qual animal queriam liberar.

“Tá de boa! Os Domadores de Feras têm conexões com as feras mágicas sob seu controle,
mas com essa aqui eu não tenho nadica de nada. O que tô querendo dizer é; não usei
nenhuma habilidade. Eu fiz à moda antiga, e mostrei pra ele quem é que manda. E tam-
bém não tô usando a habilidade da minha profissão de domador pra aumentar os atri-
butos dele.”

“Hmm... se eu entendi bem, não podemos dizer que ele é completamente leal, é isso?

Ainz concluiu que era possível que seus instintos selvagens despertassem e de repente
atacasse quem estivesse por perto. Mesmo indagando-a, ele não podia imaginar que

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


152
Aura ignoraria essa possibilidade. Ela provavelmente havia julgado que ninguém nessa
comitiva sofreria algum dano. Todavia, era preciso confirmar quanto antes.

Ainz, ao tentar estipular seu nível, de repente se lembrou de seu animal de estimação.

“...A propósito, qual é mais forte, Hamsuke ou ele?”

Aura tinha um semblante aflito.

Não, mesmo que não fique assim... Não é óbvio que essa fera tipo urso é mais forte?

“Posso responder com sinceridade?”

“É claro. Eu posso ser o mestre da Hamsuke, mas não quero que se contenha por isso,
diga-me o que pensa.”

“Nesse caso... se for só por aptidão física, é mais forte que a antiga Hamsuke. M-mas! A
Hamsuke pode usar magia, então se considerar isso, é difícil prever qual venceria numa
luta. Porque se a magia usada for eficaz, a batalha é decidida num piscar de olhos. Além
disso... a atual Hamsuke já conseguiu a profissão de Guerreiro. Então se ela usar arma-
dura, acho que ela ganha sem problema.”

A imagem de Hamsuke dormindo apareceu na mente de Ainz. E por alguma razão, havia
[Cavaleiro d a M o r t e ]
um Death Knight ao lado dela.

Ele ficou um pouco irritado.

Certamente, Hamsuke era como um animal de estimação, então Ainz não se importava
que ela fosse meio preguiçosa. Além disso, ela ajudava muito quando trabalhava como
montaria de Momon. Ainz estava plenamente ciente do quanto ela havia treinado para
adquirir a profissão de Guerreiro e outras habilidades. Mesmo assim, ele ficava irritado
sempre que via alguém brincando enquanto outros trabalhavam tanto.

“Não precisa ir tão longe para defender a Hamsuke, Aura,” ele queria dizer, mas engoliu
suas palavras por consideração aos sentimentos de Aura. Ela nunca elogiaria Hamsuke
sem motivo.

“Entendi...”

Ele poderia dizer algo além disso? Ainz, que não queria dizer algo como “Hamsuke é
incrível mesmo, eu sei”, decidiu mudar de assunto:

“—Mas, como um ser tão forte veio parar aqui? Ou será que feras mágicas como essa
são comuns no Grande Mar de Árvores? É algo que eu gostaria de investigar. Nós não
vimos nenhuma fera mágica de alto nível em nossa jornada até agora, não é?”

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


153
“Isso mesmo. Pode até ter tido um aqui e outro ali, mas eu mesma não vi. Talvez se a
gente procurar direitinho, podemos até achar alguns. O que acha?”

“Não, não vale o incômodo. Até porque não foi por isso que viemos.”

“Entendi, Ainz-sama. Explorar é uma coisa tão legal. Um bicho desses não tinha nem na
Grande Floresta de Tob. Então assim, há uma alta probabilidade de que há plantas e ani-
mais únicos — plantas medicinais nativas e essas coisas. Além disso, pode haver lugares
onde tem fenômenos especiais únicos.”

Nesse mundo mágico, existiam lugares onde aconteciam fenômenos inexplicáveis.

Água que corria de baixo para cima; uma colina onde um pilar de luz cor de arco-íris se
erguia em dias que granizava; um deserto onde um enorme tornado ocorria uma vez a
cada poucas décadas. Parecia que tudo isso poderia ser visto a olhos nus. Isso mesmo,
poderia — infelizmente, ainda não havia nenhum desses locais misteriosos dentro dos
territórios englobados pelo Reino Feiticeiro.

Em YGGDRASIL, lugares como esses tinham efeitos únicos, onde materiais e monstros
raros podiam ser encontrados.

Essa regra também se aplicava aqui? Por exemplo, no Pilar de Luz Prismática podia-se
[ P e d r a d o Arco-íris]
conseguir o drop Rainbow Stone, era como se fosse luz solidificada. Era um famoso ma-
terial que ajudava na criação de itens mágicos.

Não seria de grande ajuda no fortalecimento de Nazarick se esse tipo de região especial
pudesse ser colocada sob o controle do Reino Feiticeiro?

“Não parece provável que os Elfos conheçam a fundo a região onde habitam. Se for o
caso, então é exatamente como disse, Aura. No futuro vamos explorar essa região— e
será ótimo enviar os aventureiros.”

Os undeads que Ainz produzia eram incapazes de fazer coisas como descobrir novas
espécies de plantas medicinais. Talvez fosse hora de montar um grupo de aventuras com
uma equipe de undeads sendo usados como burros de carga, afinal.

“Enfim— vamos voltar. Mare está esperando por nós.”

“Beleza! Só me diga uma coisinha, Ainz-sama. Só pra confirmar, aquilo é um Cerberus


que você invocou?”

“Sim, acertou em cheio. Estou usando-o para substituir o Fenrir.”

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


154
Ainz caminhou junto com Aura. Claro, Fenrir e Cerberus também estavam com eles. O
urso parecia não querer ir, mas com apenas um estalo do chicote de Aura, ele veio obe-
dientemente.

“...A propósito, Aura. O que planeja fazer com seu mais novo animalzinho? Conside-
rando que não foi colocado completamente sob seu controle, como acha que lidaremos
com essa questão?”

“Bem, eu queria ver se você me deixaria levar ele com a gente pra Nazarick, pode?”

“Pretende soltá-lo no Sexto Andar?”

Uma coisa era ser inteligente o bastante para dialogar como Hamsuke, outra bem dife-
rente era deixar uma fera selvagem vagar sem rumo pelo 6º Andar. Afinal, mesmo uma
fera mágica nesse nível poderia acabar matando as empregadas regulares. Se fosse as-
sim, uma parte dos NPCs seria impedida de entrar no 6º Andar. Isso sem falar no dano
aos monstros do tipo planta. Havia também a questão do que fazer com sua integridade.

“Não. Eu tava pensando é em tentar domar as feras mágicas sem usar minhas Habilida-
des de Domador de Feras. Aí pensei em usar ele nesse experimento.”

“Hum. Eu compreendo seu desejo e realmente quero ajudá-la com isso, mas...”

Ganhar poderes exclusivos desse mundo era impossível para seres de YGGDRASIL. Do
ponto de vista de Ainz, que estava pensando em melhorar suas próprias habilidades, já
que não podia mais aumentar de níveis, ele deveria ter aceitado a proposta de Aura. En-
tretanto—

“Por que tem que ser justo ele? Melhor partir de algo mais fraco... que tal começar com
uma que esteja em torno do nível um?”

Uma fera de nível baixo não causaria transtornos — mesmo que as empregadas regu-
lares fossem atacadas, elas provavelmente poderiam dar conta com a força de seus equi-
pamentos.

“Acho que sim...”

Aura mostrou sinais de que não era bem o que queria:

“Se tá dizendo, Ainz-sama, então eu vou—”

“—Não, eu não estou dizendo, entendeu? Só estou perguntando o porquê escolheu esse
urso. É que você realmente gosta de ursos?”

De repente, Aura olhou para trás por cima do ombro.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


155
“...Fen. Olha os modos.” Foi tudo o que ela disse em um tom ligeiramente frio, e imedia-
tamente voltou a olhar para frente.

“—Desculpe, Ainz-sama. O Fen tava agindo meio estranho...”

Ainz olhou para trás, mas não parecia que Fenrir fosse fazer nada. No entanto, prova-
velmente foi devido à repreensão. Ainz olhou de volta para Aura e a indagou.

“Bem, não se preocupe com isso. Mas diga-me, por que aquele urso?”

“Bem, eu sei que ele não pode falar como a Hamsuke, mas ele parece bastante inteli-
gente. Fen e os outros não podem falar, mas são muito espertos, não são? Eu não acho
que não saber falar seja algo que determine inteligência, sabe? Então, assim, é melhor
treinar aqueles que têm alguma inteligência.”

Fazia todo sentido, Ainz não se lembrava de ouvir Fen falar, mas ele certamente era um
ser pensante. Suzuki Satoru não chegou a ter animais de estimação, mas esse grau de
sapiência era bem diferente de um cachorro bem treinado segundo o que ouvira. Claro,
todos os furos de seu pensamento poderiam ser respondidos apenas com “são animais
mágicos”.

“Às vezes noto que o Fen compreende o que o Mare Diz, então aqueles com um certo
grau de inteligência são mais adequados para treinar. Também poderia criar um desde
filhote, o que acha...?”

“Levaria muito tempo, não? Então algo que cresça em pouco tempo como um cachorro...
Aah, não sei se isso será útil pro treinamento.”

Já que iam treinar feras mágicas, era melhor que tivessem alguma utilidade. Levando
isso em conta, não havia outra escolha senão aceitar a proposta de Aura.

“...Eu permito, mas apenas fora de Nazarick. Há aquele lugar para onde levamos os hu-
manos da Capital Real, aquele lugar onde moram, lembra-se? Que tal lá?”

“A falsa Nazarick que eu construí daquela vez? Os aventureiros tão usando... E se eu não
deixar ele solto no Sexto Andar, e o deixar ele isolado até terminar o treinamento?”

“...Tudo bem, mas você promete que vai deixá-lo preso?”

“Sim! Muito obrigada por ser paciente comigo e aceitar, Ainz-sama.”

Ainz sorriu para Aura cabisbaixa.

“Não tem de quê. Assim como a Albedo está realizando exercícios de combate, sua ati-
tude de tentar melhorar a si mesma é magnífica. Todos vocês NPCs são o meu— digo,
são o orgulho e alegria da Ainz Ooal Gown.”
Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick
156
Os olhos de Aura ficaram bem abertos, e ela ficou sem saber como agir.

Por ser algo tão repentino, Ainz se repreendeu. Ele disse algo que não deveria? Ele não
tinha nenhuma lembrança disso. Não—

—Eu lembro que não disse nada de mais. Será que eu devo me colocar na perspectiva
dela? Ser o orgulho e a alegria da Chagama-san é tudo que importa, e ela não dá a mínima
para os outros, é isso? Ou será que ela está... feliz? Não parece que ela está sorrindo... Hmm.
Melhor eu tomar alguma atitude me preparando para o pior, em vez de esperar o melhor.

Seria ainda mais estranho se desculpar por qualquer coisa. Portanto, Ainz só tinha uma
medida que poderia tomar.

“Ah, já ia me esquecendo. Para mostrar como valorizamos seu trabalho, preparamos


uma refeição. Eu e o Mare fizemos— bem, não sabemos cozinhar então buscamos de
Nazarick e montamos a mesa.”

Ele tentou disfarçar o melhor que pôde.

“Hohoho,” enquanto ria de forma fajuta, aproveitou a oportunidade para espiar a apa-
rência de Aura.

Hum? Ela não está brava? Pode ser um sorriso forçado, ou pode ser um sorriso de bajula-
ção. Será que ela está sorrindo mesmo?

Aura sorria de orelha a orelha, de modo tão puro que ele não podia acreditar que era
insincero. De onde vinha essa felicidade? Dos elogios? Ou por saber que fizeram uma
refeição para ela?

É... eu preciso elogiar mais os NPCs.

Ainz fortaleceu sua determinação. Ele lembrava por alto o que um dos ex-membros da
guilda disse em tons desmotivados: “Gratidão é algo que é preciso ser dito. Se você apenas
pensa, mas não demonstra. Logo vai ver a cara feia que sua esposa vai começar a fazer”.

Foi Touch-san que disse?

Enquanto tentava se lembrar, a Green Secret House apareceu. Quando chegaram à


frente, Mare, que estava monitorando as coisas por dentro, abriu a porta.

“Bem-vinda de volta, o-onee-chan.”

“É, cheguei em casa.”

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


157
Ela podia ver uma mesa de jantar completamente arrumada atrás de Mare. Aura fez
uma varredura completa do que tinha na mesa, aumentando a ansiedade de Ainz.

“Nossa, parece que tá uma delícia!”

Vendo a feição alegre de Aura, Ainz ficou aliviado. Ele estava um pouco preocupado que
ela dissesse algo como, “Ow, eu tava com vontade de katsudon hoje...” — claro, mesmo
sabendo que ela não seria rude assim. Como raramente tinha a chance de dividir uma
mesa com alguém, ele estava preocupado que sua sensibilidade gastronômica tivesse se
tornado extremamente entorpecida e grosseira.

“Sim, o Head Chef vai adorar saber disso. Além disso, também preparei a porção do
Fenrir, mas...”

Em cima de um toco que montaram próximo à base, colocaram um enorme pedaço de


carne exclusivamente para Fenrir. Era de uma vaca que estavam criando como gado. O
sangue ainda escorria, demonstrando seu frescor e suculência. A fazenda de gado leiteiro
ficava em um local perto de Nazarick, um grande terreno onde o gado era deixado em
um vasto pasto.

O Head Chef comentou que: “Para essa raça, eu pessoalmente prefiro o sabor da carne
quando são alimentados com grãos em vez de capim”. Talvez seus dizeres como especia-
lista culinário tivessem influência, ou os outros pensavam o mesmo, mas o fato era que
essa carne não era muito popular dentro de Nazarick.

Originalmente eles não podiam pastar, por isso veio o pensamento de criar gado, para
que assim ficassem mais saborosos. No entanto, não tinham mão de obra suficiente para
isso. Em E-Rantel, várias pessoas foram movidas à força para criar o bairro demi-humano
— apelido —, então quase não havia pessoas que tivessem habilidades relacionadas à
criação de animais e, mesmo que houvesse, teriam ido embora na direção das vilas fron-
teiriças. Apesar dos pesares, era apenas a opinião de alguém exigente com os ingredien-
tes, não havia problema se fosse a ração de uma fera mágica.

“...E quanto àquele urso, pretende alimentá-lo?”

“Ele vai ficar bem. Parece que comeu logo antes de me encontrar. Além disso, faz parte
do treinamento não dar comida até que ele entenda completamente que eu sou a chefe
dele.”

“Oh, sim... Digo, você tem razão. Mesmo para humanos ou outras raças, quando quebra-
mos suas mentes, eles nos obedecem totalmente.”

Eles entraram na Green Secret House enquanto papeavam.

“Pode comer, garoto.”

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


158
Aura disse pouco antes de passar pela porta e Fenrir, que estava esperando paciente-
mente, afundou os dentes na carne. Ankyloursus apenas observava tudo de ombros bai-
xos, olhando-o dessa forma, realmente parecia possuir algum grau de inteligência, assim
como Aura disse.

Aliás, Cerberus não precisava de jantar. E mesmo que o alimentasse, seria inútil. Não
era como se não houvesse casos em que fossem fortalecidos dando-lhes comidas com
buffs, mas na situação atual, Ainz não sentia um pingo de necessidade de fazer esse tipo
de coisa. “Ei? É sério isso?” “Bullying não é legal!” “Tenho fominha”. Após tomar sua deci-
são, Ainz teve um palpite de que essas eram as reações de Cerberus, mas certamente era
apenas sua imaginação.

Os três chegaram à mesa que Ainz havia preparado.

“Aproveitem.”

Os dois disseram: “Agradecemos pela refeição”, em uníssono. Naturalmente, Ainz não


comeu. Aura foi a primeira a comer.

“Ainz-sama! Tá delicioso!”

“Mm-hmm”, Mare concordou com as palavras de sua irmã. Ainz sorriu para os dois.

“Fico feliz que gostaram. Informarei o Head Chef depois... tenho uma coisa a dizer en-
quanto estão comendo, como agora sabemos, graças à investigação da Aura, que ficare-
mos bem mesmo se construirmos uma base temporária nessa região. Vamos escolher
um local para realocar a Green Secret House, depois eu quero que tomemos medidas
para encontrar a aldeia dos Elfos Negros.”

Os dois pararam de comer e ouviram seriamente o que Ainz tinha a dizer. Bem, até Su-
zuki Satoru teria feito o mesmo se seu chefe começasse a falar algo relacionado ao tra-
balho.

“Depois disso, estabeleceremos relações amistosas com eles. Nosso plano agora é— en-
quanto a Aura permitir, realizar Missão: Lamento do Ogro Vermelho.”

Ainz sorriu. Ele já havia feito isso com seus amigos, na ocasião disseram que era um
truquezinho sujo. Na verdade, enquanto pensava em qual monstro usar para esse plano,
Aura trouxe o “homem certo para o trabalho”. Se ela aprovasse, não haveria outra mão
para jogar tão boa quanto esta.

Não ter total controle sob a criatura era um elemento de incerteza no plano, mas por
sua vez, isso também aumentaria o realismo.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


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Ele não sabia se diferia pelo indivíduo ou pela raça, mas não havia uniformidade na
[Lorde Malig no d a I r a ]
habilidade de atuação dos monstros. Curiosamente, o Evil Lord Wrath teve um desem-
[ D e m ô n i o da Diadema]
penho excelente, mas de acordo com Shizu parecia que “o Circlet Demon era um ator
ruim”.

Ele queria esconder suas identidades e força. Mas não seria melhor se pudessem sim-
plesmente serem convidados a entrar? Preferencialmente, poderiam fazer aos poucos
ao longo dos anos, mas quando considerou a Teocracia, ele não achou que lhes restava
tanto tempo.

“É um lamento de choro? Ou lamento de estar gritando? Qual desses, Ainz-sama?”

Ainz mais uma vez sorriu para a curiosidade de Aura. Ao mesmo tempo, foi uma das
muitas coisas que ele aprendeu com seus amigos.

Parecia que o nome da estratégia tinha um significado mais profundo, mas Ainz agiu
como se soubesse, sem realmente saber. De todo modo, ele poderia explicar qual era
essa estratégia usando suas experiências reais como base. Ainz foi dizer e—

“—Oh! É ‘O Ogro Vermelho Que Chorou, não é? Eu li esse livro recentemente!”

Tendo sua estratégia confrontada por algo que não conhecia, Ainz se calou e lentamente
olhou para o céu.

Se tivesse visto um majestoso céu azul acima, sua mente não sofreria tanto ao ser con-
frontado pela inocência de uma criança, também poderia ter aprendido uma coisa ou
duas. Ele poderia ter recebido o conforto de que era pequeno diante da grandeza do
mundo.

No entanto, tudo o que viu foi o teto da Green Secret House. Depois de olhar um pouco
para as vigas de madeira, ele virou o rosto para ver o sorriso puro e inocente de Mare.

A possibilidade ainda permanecia de que Mare estava tendo a conclusão errada.

“...É mesmo? Você não cansa de me surpreender, Mare. Eu nunca li esse livro antes. En-
tão o nome é Ogro Vermelho Que Chorou...?”

“Sim! Se for como no livro... vamos usar aquele urso no plano, não é!?”

Minha nossa, ele acertou na mosca.

“...Ah, huh. Sim. Você com certeza é incrível, Mare...”

E assim, Ainz sorriu para ambos.

Capítulo 2 Passeio ao Estilo Nazarick


160
Capítulo 03: O Árduo Trabalho de Aura

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161
Parte 1

aldeia dos Elfos Negros no Grande Mar de Árvores.

A Não era diferente de uma aldeia de Elfos.

Por exemplo, a raça chamada Elfos Selvagens já foram Elfos comuns. A


mudança de habitat produziu mudanças não apenas na cultura, mas também fisicamente,
de modo que atualmente eram reconhecidos como uma nova espécie.

Então, a razão pela qual as mudanças físicas ou mágicas não ocorreram nos Elfos Ne-
gros foi porque, além de serem da mesma raça dos Elfos, eles viviam no mesmo ambiente.
Também quase não havia diferenças culturais, e seu modo de vida era centrado nas Ár-
vores Élficas. Assim, as profissões que ganharam foram, assim como com os Elfos, prin-
cipalmente ligadas a Ranger e Druida.

As diferenças eram apenas a cor da pele, formas de repelir animais, costumes e outros
pormenores na melhor das hipóteses.

O dito repelente produzia seu efeito de repulsa usando aromas. Os Elfos Negros apren-
deram essa preciosa sabedoria dos Treants e outros habitantes da floresta onde viviam
antes de se mudarem para o Grande Mar de Árvores. Ervas de odor forte foram planta-
das ao redor da aldeia, criadas e espalhadas em torno de um emplastro especial que re-
pelia animais e — embora sua eficácia tivesse que ser consideravelmente dividida entre
duração e área de efeito — usavam magia druídica.

Este método também se provou eficaz no Grande Mar de Árvores, e comparado a outros
povoados — sem contar a Capital Real — as aldeias dos Elfos Negros eram seguras.

No entanto, os Elfos não conheciam esse método. Caso se popularizasse, o efeito de re-
pulsa produzido pelos odores diminuiria. Feras mágicas, assim como outros animais, po-
diam parecer ignorantes, mas de forma alguma eram. Pelo contrário, se descobrissem
que a comida estava do outro lado desse véu fétido, o nível de perigo aumentaria. Por
essas razões, mesmo que não nutrissem sentimentos ruins por seus parentes, eles não
poderiam ensinar-lhes esse método de mão beijada.

Contudo, no dia de hoje, os Elfos Negros, acreditando em sua própria “segurança”, logo
descobririam que estavam pisando em ovos.

Um rugido intenso pôde ser ouvido ao longe.

Essa era uma ocorrência rotineira no Grande Mar de Árvores. Seja no raiar do sol ou
tarde da noite, não havia dias em que os ruídos de animais não pudessem ser ouvidos.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


162
Além disso, havia espécies que, apesar de pequenas, tinham bramidos surpreendentes.
Então ouvir um único rugido não significava que algo estava acontecendo.

Certamente eram assustadores. Havia várias espécies de feras mágicas que podiam in-
cutir poderes especiais em seus rugidos. Quem os ouvia ficava assustado, confuso, perdia
a vontade de lutar e, às vezes, havia alguns que chegavam a causar exaustão.

Mas se fosse ouvido à distância, esses efeitos especiais não se manifestariam. Resu-
mindo, um único rugido distante não denotava perigo.

Todavia, naquele dia, um Elfo Negro pediu que todos ficassem em guarda. A altura do
mandante não estava fora da média para um Elfo Negro. Contudo, seus membros longos,
esbeltos e flexíveis, cujos movimentos fluídos e eficientes davam à sensação de um poder
oculto, facilmente o fazia parecer maior do que sua real estatura.

Sua aparência jovial era bem harmônica e, mesmo dentro da aldeia, era muito popular
entre as mulheres.

Não havia ninguém entre os Elfos Negros vivendo no Grande Mar de Árvores que não o
conhecesse. Um experiente arqueiro de primeira linha, ostentando o antigo e honroso
sobrenome da Casa Blueberry — uma das 13 famílias ancestrais — que se tornaram as
figuras centrais durante a Grande Migração.

Em suas mãos, Blueberry Egnia segurava um arco composto ao estilo cultural dos Elfos
Negros, do qual havia poucos nesta aldeia.

Era um arco que ninguém poderia usar a menos que tivesse obtido uma pontuação ex-
tremamente boa no “Torneio de Tiro com Arco” realizado na estação em que as flores de
Becoa desabrochavam — uma vez a cada três anos.

Obedecendo ao chamado de Egnia, os soldados Elfos Negros se reuniram imediata-


mente. Embora fossem chamados de soldados, eram rangers que não haviam saído para
caçar, não soldados em tempo integral.

A aldeia onde Egnia morava era a maior nas proximidades. E, no entanto, havia apenas
cerca de 200 habitantes, então não tinham margem de manobra para alocar guerreiros
em tempo integral no local.

Na frente de seus colegas que se uniram a ele com olhares perplexos, Egnia moveu le-
vemente as orelhas — enquanto se concentrava nos sons distantes, ele anunciou com
uma voz firme:

“Vocês já devem saber o porquê os reuni aqui. Aquele rugido de agora há pouco, eu já
ouvi uma vez. É o rugido de um Ursus adulto, e dos grandes.”

Egnia sentiu que todos à sua volta imediatamente ficaram tensos.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


163
Era óbvio o motivo. Qualquer Elfo Negro vivendo nesta floresta, mesmo que fosse uma
criança, sabia o nome da fera mágica que deveria ser mais temida — Ankyloursus.

Na área ao redor dessa aldeia, havia várias espécies de monstros cujo nível de perigo
era alto, mas o Ankyloursus era o que estava no topo dessa lista.

Talvez teriam chance se fosse um filhote, mas não era exagero dizer que atacar um
adulto — um totalmente crescido — significava morte. Sua couraça repelia até flechas e
sua força física poderia facilmente dividir um Elfo Negro ao meio. Além disso, devido a
todas as suas destrezas físicas serem altas, fugir era consideravelmente difícil; verdadei-
ramente um monstro aterrorizante.

“...Eu também ouvi um rugido, mas é mesmo de um Ursus? Tem certeza de que não in-
terpretou errado?”

Perguntou a Elfa Negra.

Uma dos 3 vice-mestres da caça, e uma ranger habilidosa que segurava um arco com-
posto como o de Egnia em suas mãos.

Parecia que mesmo ela estava em dúvida se tratava mesmo de um Ursus.

Além disso, um pássaro fofo chamado Uivador Plumado, por exemplo, poderia imitar
os rugidos de várias espécies de monstros. E havia outros animais na floresta com habi-
lidades semelhantes a essa.

Com esse tipo de animal nas cercanias, identificar o animal certo a partir de um único
barulho distante era extremamente difícil. A pergunta dela era razoável. Todavia, Egnia
era o melhor ranger dessa floresta. Ele superava todos não apenas em sua habilidade
com um arco, mas também na alta amplitude de seus sentidos, e até mesmo sua compe-
tência de analisar esses sinais tênues era a melhor dentre todos. Sua pergunta não se
originou por desconfiar de Egnia, mas sim pela esperança que ele estivesse errado.

“Sinto muito, mas não há dúvida. Mesmo que passe eras, jamais vou esquecer daquele
rugido que me fez ficar arrepiado — daqueles que faz você sentir quanto é fraco. Ainda
hoje posso ouvir se fechar meus olhos. Então jamais me enganaria dessa forma.”

O próximo a falar foi o Mestre da Caça.

Os pilares da hierarquia na aldeia eram o Mestre da Caça, o Conselho de Anciãos, o Far-


macêutico Chefe e o Mestre do Rito. O Conselho de Anciãos era composto por três mem-
bros, então ao todo haviam seis regentes.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


164
Não havia um arco composto em sua posse, contudo, era um ótimo especialista em ar-
madilhas, mas tirando isso da equação, suas habilidades estavam muito atrás das de Eg-
nia. Mesmo não podendo competir com um arqueiro, não havia dúvida de que era influ-
ente e, embora fosse mais jovem que Egnia, tinha uma personalidade calma e serena, um
Mestre da Caça que ninguém ousava falar mal.

“Um Ursus adulto... podemos confirmar que ele invadiu nosso território?”

Na maioria dos casos, ele rugiria ao lutar contra um inimigo forte ou um membro hostil
de sua própria espécie. Caso contrário, poderia também estar anunciando sua vitória ou
declarando seu território. Às vezes até poderia estar procriando. Entretanto, o mais pro-
vável era que alguém tenha entrado em seu território.

Pois uma vez que um Ankyloursus estabelecesse seu território — a área se expandiria
à medida que seu corpo crescesse — ele raramente tentaria dominar outro. E também
era muito raro que caçasse fora dele.

Assim, era razoável pensar que alguém havia invadido.

“Haah... Que saco. Eu não sei quem ou o que invadiu o território dele. Mas espero que o
idiota que fez isso acabe na barriga do Ursus, assim aprende a não perturbar a paz alheia.”

Os Elfos Negros ao redor concordaram com a reclamação do Mestre da Caça. Egnia deu
um sorriso irônico para seus colegas.

Considerando os instintos do Ankyloursus, contanto que não o provocassem impensa-


damente, era de conhecimento comum que, de certa forma, ele mantinha o ambiente
equilibrado.

“O que diz é certo, mas não sabemos se já entrou ou não no território, não é? Quando
ouvi o Ursus rugir aquela vez, foi quando dois deles estavam brigando. E a luta naquela
vez aconteceu fora de seu território.”

“Hum, perdão por interromper, Egnia-san, eu tenho uma dúvida... Eu mesmo ouvi algo
muito baixo, mas já que mencionou, também acredito que é o rugido de um Ursus. Porém,
o território dele é bem longe daqui, não? Então, por que chamou a todos?”

“Bem, não sei se aconteceu alguma coisa com o Ursus, mas algo fora do comum está
acontecendo para ele estar desse jeito. Talvez esteja mudando seu território, ou talvez
um rival apareceu. Enfim, há muitas possibilidades. Por exemplo...”

Depois de respirar, Egnia continuou e disse:

“Talvez uma poderosa fera mágica esteja lutando e perca, mas ainda pode conseguir
fugir do Ursus. E pode acabar vindo à nossa porta. Então, por precaução devemos colocar

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


165
toda a aldeia em alerta. Mesmo que seja amanhã; vamos na direção do rugido para ter
uma noção do que aconteceu e do estado da floresta.”

Todos os presentes concordaram.

Seria problemático se não entendessem as mudanças na floresta e compartilhassem in-


formações. Era extremamente importante para aqueles que viviam das graças da natu-
reza.

“—A caçada de hoje está cancelada. Talvez seja mais seguro impedir que qualquer um
entre na floresta, muito menos para caçar. Ainda temos comida?”

“Os estoques estão bem. Tiramos a sorte grande ultimamente. Mas por via das dúvidas,
devemos informar o mais rápido possível o Mestre de Rito do que está acontecendo, para
que ele possa começar a produzir frutos. Não sabemos quantos dias levará até terminar-
mos de confirmar a segurança dos arredores.”

“A seguir... bem. É de bom tom conversar com os Anciãos a respeito. Pediremos aos
Anciãos que disseminem a informação para todos, talvez assim algum desavisado en-
tenda o que está acontecendo e que não é para entrar na floresta.”

Após Egnia solicitar os ditames, todos trocaram opiniões. Ninguém disse: “Você se pre-
ocupa à toa”. A floresta trazia bênçãos, mas também lançava infortúnios. Ser cauteloso e
não negligenciar os menores dos maus presságios era crucial para viver no Mar de Ár-
vores.

Era preciso deixar todos avisados da possibilidade de que a ordem da floresta estivesse
abalada.

“E quanto às demais aldeias? Devemos contatá-las assim que tivermos alguma noção
da situação? Ou é melhor informar agora mesmo?”

“As duas opções têm seus méritos, mas também podem estar equivocadas... Por que não
deixamos as decisões nas mãos dos Anciãos?”

“Ei, calma aí, é melhor termos uma opinião geral. Se for decidido por maioria, será útil
termos nosso posicionamento bem embasado caso aqueles velhos cabeças-duras fe-
dendo a peido proponham algo sem sentido.”

“...Olha os modos, Ganen. Ninguém aqui duvida que eles podem ser inflexíveis às vezes,
mas os Anciãos têm experiência de sobra. Vamos apenas escolher um caminho que pode
ser considerado mais seguro se fizermos bom uso da sabedoria deles.”

O Vice-Mestre da Caça — Plum Ganen — foi repreendido pelo Mestre da Caça.

“Mas—”

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


166
Ganen, frustrado, tentou protestar, mas sua boca foi coberta pela mão de Egnia.

“—Já falou demais. Como estão todos cientes do porquê os chamei, há algo mais que
precisamos considerar. E você, conhece bem a ameaça que um Ursus representa, não é?”

Sabendo que Ganen ficaria calado, Egnia removeu a mão e soltou um suspiro interno.

Todo mundo está cansado de saber que não tem problema se opor aos Anciãos, eu só gos-
taria que você considerasse a hora e o lugar.

“Enfim, devemos priorizar o que vamos fazer sobre a vigilância, então vamos deixar a
conversa com os velhos peidões para mais tarde, tudo bem? Afinal, é muita gente.”

“Se vamos ficar de guarda o dia todo, melhor fazer isso em três turnos. E é bom consi-
derar os dias seguintes.”

Eles de certa forma estavam acostumados a vigiar o dia todo, se alguém lhes lançasse
alguma magia que removesse a fadiga, poderiam prolongar para até o dia seguinte.

Se fossem fazer uma investigação até nos limites do território do Ursus, eles evitariam
ao máximo que seus sentidos ficassem entorpecidos.

“Você tem razão. E também—”

Eles ouviram mais um rugido. Com uma expressão tensa, todos olharam intensamente
na direção do som.

“Parece que está mais perto, não?”

Disse um deles, expressando o desconforto de todos. Egnia assentiu com uma simples
concordância.

“Como o Egnia disse há pouco, não pode estar perseguindo algo que entrou em seu ter-
ritório e depois escapou?”

Ankyloursi tinham uma tendência a reivindicarem suas presas. Se um animal que con-
sideravam sua presa escapasse, eles o perseguiriam mesmo fora de seu território. Mas
perseguir enquanto rugia era um pouco diferente da imagem que tinham em suas men-
tes, era mais compreensível se viesse de quem estivesse fugindo com o rabo entre as
pernas.

“Se for isso mesmo, uma presa fugitiva, ajudamos o Ursus a pegar quando ela chegar
aqui, ele vai ficar de barriga cheia e a aldeia vai ficar mais segura, não acham...?”

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


167
“Nem pense nisso! Só vai deixá-lo ainda mais irritado. Primeiro, há uma boa chance de
que a presa tenha a capacidade de fugir do Ursus por mais um bom tempo. Se a presa
vier em nossa direção, devemos pelo menos afastá-la.”

“Não, arriscado demais. Vai querer o Ursus rondando perto da aldeia? Imagine o pro-
blema se ele pensar que aqui é sua praça de alimentação. Devemos posicionar alguns
fora da aldeia, e se o Ursus ou a presa aparecem, vamos dar um jeito de levá-los para
uma direção diferente.”

Era ótimo ver esse conglomerado de opiniões, mas não era como se pudessem perder
muito tempo com isso. Ele realmente não queria se intrometer, mas não podia deixar de
falar. Egnia bateu palmas uma vez e chamou a atenção de todos para ele.

“Seja qual for a situação, o fato é que isso é anormal. Devemos agir agora. Se o Ursus
retornar ao seu território, tudo bem. Mas se não acontecer... se ele perder a presa de
vista mesmo depois de deixar seu território—”

Egnia olhou para todos:

“—Ainda mais se perder nas proximidades da aldeia, seria um dia daqueles.”

Quando imaginaram a possibilidade, todos franziram a testa.

“Primeiramente, o importante é pedir a ajuda de todos na aldeia, apenas nós não dare-
mos conta. O poder dos druidas será absolutamente necessário. Então, o Farmacêutico-
Chefe deve ter algum veneno capaz de afetar até mesmo um Ursus.”

Para feras mágicas do tipo besta como o Ursus, em vez de tentar derrotá-las com ata-
ques físicos, a magia que manipulava mentes era mais eficaz. Mesmo contra um opo-
nente protegido por uma couraça, gordura e músculos volumosos, era possível causar
dano superior ao de arcos e flechas usando magia — por exemplo, levaria dano se to-
casse nas chamas dos Fire Elementals que os druidas podiam convocar — e outros mé-
todos semelhantes.

Eles dificilmente venceriam se lutassem diretamente, mas se usassem magia e outros


métodos, então poderiam repetir os feitos do passado, onde de alguma forma, triunfa-
ram contra uma fera mágica que rivalizava com um Ursus.

“Já perdemos tempo demais discutindo. Precisamos agora mesmo, mas...”

Egnia olhou para o Mestre da Caça:

“—Podemos deixar essas responsabilidades para você?”

“Haa—”

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


168
O Mestre da Caça relutantemente balançou a cabeça:

“...Acho que não tem outro caminho. Atenção, pessoal. Quero os melhores fortalecendo
as defesas da aldeia. Aos demais, alertem todos. Quando terminarem sua parte, protejam
os incapazes de lutar. Beniri, lide com a divisão do pessoal. Ganen, vá ao Farmacêutico
Chefe, e você, Ovei, vá ao Mestre do Rito e conte aos outros. Eu irei ao Conselho de An-
ciãos. Estão esperando o quê? RÁPIDO! SEM MOLEZA! VÃO!”

Quando Egnia se preparava para sair, o Mestre da Caça enviou-lhe um sinal, então ele
foi ao seu encontro.

“Já tem um tempo que penso nisso... você é a pessoa com as habilidades mais notáveis
em toda a aldeia, não deveria assumir o papel de líder de uma vez?”

“Não faria tudo ser mais burocrático ainda? Meu nome, embora seja uma herança de
minha família, é um pouco conhecido nas outras aldeias.”

“Um pouco é ser humilde demais.”

Ignorando as palavras do Mestre da Caça, Egnia continuou:

“Se eu aceitasse um cargo desse, só geraria mais conflitos entre as aldeias, mais do que
já tem.”

“...Gah, minha cabeça até dói...Você acha que as coisas seriam diferentes se os Anciãos
dessem um passo para trás, um pequeno, sabe? Só um tiquinho mesmo...”

“Deixa de sonhar acordado. O que aconteceria é; se intrometerem menos agora, menos


eles vão se intrometer no futuro, sabe como eles são. E mesmo que todos os Anciãos se
aposentem, o problema viria das outras aldeias. Podemos dizer que aqueles cabeças-
duras que mantêm as coisas equilibradas.”

“O que podemos fazer para dar um jeito nisso?”

“Nada, não tem como.”

“Esperar até que algo sem solução aconteça, então?”

O Mestre da Caça ficou em silêncio.

“É, estou indo defender a aldeia.”

“Tudo bem, estou contando com você.”

Despedindo-se do Mestre da Caça, Egnia assumiu sua posição. Enquanto continuava sua
vigília na direção do rugido, parecia que a informação estava se espalhando rapidamente

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


169
dentro da aldeia. Isso não foi apenas porque os rangers estavam espalhando as notícias,
era graças a um sistema bem desenvolvido de entrega de informações que usavam no
dia a dia, uma solução que desenvolveram por viverem cercados de monstros.

Menos de dez minutos depois, o Mestre do Rito começou a produzir comida. O Farma-
cêutico Chefe também já havia enviado a Egnia o potente veneno e seu antídoto, só por
precaução.

O tempo passou com eles em alerta.

Eles não ouviram o rugido do Ursus desde então. A tensão entre os rangers começou a
diminuir. Foi o mesmo para Egnia; ele relaxou os ombros e massageou a rigidez das mãos
que seguravam seu arco.

O Ursus pegou sua presa? Ou pode ter retornado ao seu território porque sua presa
escapou. Seja qual for a resposta, o Mestre da Caça estava de pé ao lado dele.

“...Só por segurança, melhor ir investigar seu território, algo rápido. Posso contar com
você para isso?”

“—Pensei que nunca ia perguntar. Deixe comigo.”

Ele já estava pensando para onde iria quando adentrasse em seu território.

Egnia encarou intensamente a direção onde ficava o território da criatura, tentando ver
quaisquer resquícios da silhueta do Ursus. Não tardou para ter a sensação de ter visto
algo grande atrás das árvores.

“Chichii!”

Egnia vibrou os lábios e fez um som semelhante ao piar de um pássaro. Não era um som
qualquer, era algo especial que Egnia poderia emitir através do domínio de sua profissão,
informaria a seus colegas que ouvissem para estarem em guarda. Ao fazer isso, os alia-
dos atentos a esse som não seriam pegos por um ataque surpresa ou ficariam encurra-
lados.

A tensão no ar voltou a se intensificar.

Ao sentir que todos estavam bem atentos a seus movimentos, Egnia indicou, usando o
queixo, a direção onde acabara de ver o vulto. Seus olhos e ouvidos prestavam total aten-
ção na dita direção.

Por favor, que seja minha imaginação.

Tomara que tenha interpretado errado.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


170
Que seja apenas um mal-entendido.

Ele só viu a silhueta por um momento. Em um piscar de olhos tinha desaparecido em


meios às sombras das árvores longínquas. Era mais do que possível que tivesse se con-
fundido. No entanto, como um ranger altamente competente, a excelente visão de Egnia
frustrou até mesmo suas próprias expectativas.

“...É o Ankyloursus...”

Apesar de falar por reflexo — seus dizeres foram audíveis para todos, trazendo o terror
que batia à sua porta.

Não havia como negar, qualquer um podia vê-lo agora.

Uma enorme sombra se aproximava lentamente por entre as árvores.

Era o Destruidor do Grande Mar de Árvores — o Ankyloursus.

No entanto—

“H-hey, Blueberry-san. Aquela... coisa não é... grande demais? Os Ursi são todos grandes
assim?”

Indagou um jovem arqueiro enquanto engolia seco.

Por estar distante e escondido pelas árvores, eles não puderam confirmar definitiva-
mente. Ao compará-lo com as árvores ao redor, poderiam obter uma aproximação gros-
seira. Era muito grande, ou melhor, era gigantesco.

“...Sumomo. O que eu vi antes não era tão grande. Não pensei que ficaria maior. Eu sei
que crescem rápido, mas isso é um espécime anormal... se não tivermos sorte, o que es-
tamos lidando aqui é um...”

Egnia disse como se as palavras estivessem sendo espremidas dele:

“...Lord.”

O clima ficou austero.

Seres muito díspares do tamanho usual, com pêlos de cores diferentes, outras mudan-
ças peculiares ou com poderes únicos, eram chamados de espécimes anormais nessa al-
deia. Entretanto, mesmo entre essas gamas de mutações havia aqueles que se sobres-
saiam acima de todos. Eram seres de evolução atípica, que reinavam no auge de sua es-
pécie e, ocasionalmente, tinham atributos acima da média em todos os quesitos. Por-
tanto, tais indivíduos recebiam a alcunha de Lord.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


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Se o que estava diante de seus olhos fosse isso, significava que seria muito mais forte
que os outros de sua espécie.

Mesmo um Ankyloursus comum era um oponente preocupante, mas se toda a aldeia


lutasse junta, provavelmente seriam capazes de rechaçá-lo. No entanto, se a fera mágica
diante de seus olhos fosse realmente um Ursuslord, era totalmente inimaginável que
houvesse sobreviventes.

“Não pode ser! Só tinha ouvido dizer que tinha um ser do tipo Lord mais ao norte!”

Um dos arqueiros exclamou tão intensamente que perdigotos voaram de sua boca. No
entanto, eles controlaram o volume de suas vozes para não provocar o Ursus.

“Que porra aconteceu na Aldeia de Aju?”

Era uma aldeia de Elfos Negros — eles souberam por boatos que existia um Lord nas
proximidades da Aldeia de Aju. Lords não eram algo que apareciam com frequência.
Sendo assim, poderiam considerar que se tratava do mesmo espécime de Lord que ha-
bitava nas proximidades da Aldeia de Aju.

“—Eles foram exterminados?”

Se o Lord mudasse seu território, ou se estivesse começando a se mover na direção


dessa aldeia, alguém da Aldeia de Aju deveria ter vindo avisá-los. Mas ninguém tinha
vindo. Apesar disso, a criatura estava bem ali.

O silêncio recaiu sobre todos. Se avançassem na direção de onde ouviram o rugido pela
primeira vez, encontrariam a Aldeia de Aju.

...Então a Aldeia de Aju virou um campo de alimentação, pode ser que o Ursus tenha apren-
dido que há comida dentro da barreira fétida, e é por isso que está se comportando desta
maneira.

Ninguém queria dizer isso, mas todos chegaram à mesma conclusão.

Pinceladas de desespero deram cor à tensa atmosfera que se formou.

Mesmo que tivesse adquirido o gosto por Elfos Negros na Aldeia de Aju, não deveria
saber que havia comida fresca aqui.

Havia muitos Ankyloursi com preferências culinárias. Eles eram onívoros, mas tinham
alimentos específicos que preferiam comer. Se os Elfos Negros satisfizessem seus gostos
exigentes, eles teriam que abandonar essa aldeia, e mesmo que fizessem isso, não signi-
ficava que não os perseguiria. Portanto, era preciso levá-lo para longe e depois despistá-
lo.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


172
No entanto, havia um problema.

“Não, ainda não podemos concluir que a Aldeia de Aju foi exterminada.

Todos olharam para Egnia, que finalizou:

“Como testemunhei antes, há um Ursus nessa área. Se viesse um Lord da Aldeia de Aju,
se tivesse invadido o território do Ursus, seria estranho não os ouvir brigando. O que
estou tentando dizer é... o Ursus que originalmente fez da região seu território, prova-
velmente evoluiu e se tornou um Lord.”

Ainda havia uma chance de que fosse o Lord da Aldeia de Aju. Se o Lord invasor e o
Ursus não fossem de sexos diferentes, provavelmente não haveria briga. Também havia
a possibilidade, por menor que fosse, que estivessem cooperando mutuamente.

Contudo, se a Aldeia de Aju sobrevivera ou não, não era importante para suas circuns-
tâncias atuais. O que deveriam estar pensando agora era, se o Ursus não mudar de dire-
ção, o que eles deveriam fazer, qual seria a melhor decisão a se tomar?

Se fosse esse o caso—

“—Lutar contra um Lord é suicídio. Não há outra maneira senão convocar elementais e
fugir enquanto ganham algum tempo para nós.”

“Você acha que vai adiantar alguma coisa!? Ele vai nos perseguir e vai nos achar! O me-
lhor é encher a barriga dele com tudo que temos em estoque.”

“Concordo! Ursi têm tendência a se comportarem como ursos. Devem adorar mel! Va-
mos preparar uma carne no mel e jogar—”

Naquele momento, um rugido tão estrondoso foi ouvido que deu a impressão de fazer
os céus, a terra, as árvores e até seus corações tremerem. Não podia mais se esconder
nas sombras das árvores.

O Ankyloursuslord avançava lentamente.

A respiração dos Elfos Negros tornou-se rápida e curta. Suas mentes ficaram brancas.
Quaisquer que fossem as sugestões que tinham momentos antes foram obliteradas.

Ao sentirem a diferença entre suas respectivas forças, eles amuaram. Não era como se
aquele rugido tivesse um efeito especial que induzisse medo ou outros efeitos mentais.

Esta foi a simples, e fatal, reação daqueles que entenderam onde estavam na cadeia ali-
mentar. Tamanho fôra o choque que os Elfos Negros se viram impotentes, como seres
prestes a serem pisoteados.

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—Mas que droga.

Quase todos estavam convencidos da tragédia vindoura, e tentaram controlar sua an-
gústia. No entanto, ainda era cedo para desistir.

“—ACORDEM!!”

O grito de reprimenda os despertou.

“Ac, acr, acordar? Mas o que faremos!?”

“Sei lá, porra!”

Egnia respondeu à pergunta estridente da Elfa Negra sendo curto e grosso.

“Haa, por que você acha que eu sei?”

“Você só está nervoso...”

“Você não colabor— Escuta aqui! De onde tirou que eu teria algum plano milagroso!?
Eu não tenho, mas não podemos ficar parados! Ficar parado aqui não vai resolver nada!
Vamos nos espalhar, depois vemos o que—”

Seu objetivo também era aterrorizá-los? Pois o ritmo do Ursuslord era surpreendente-
mente lento.

Sua cabeça estava abaixada tentando farejar os Elfos Negros entre as flores plantadas
ao redor da aldeia. Por alguma razão, a palavra “rastejar-se” combinava com sua atitude
que dava essa impressão. Estava ferido? Se não, estava enfermo ou mesmo sendo afetado
por algum tipo de veneno? Cada vislumbre dessas possibilidades dava-lhes esperança,
mas sem dúvida era apenas uma espécie de escapismo em vista de uma situação extrema.

Vale a pena atacar? Não há necessidade de provocar ainda mais sua ira. Não tenho dúvida
que está vindo em nossa direção. Devemos fazer o primeiro movimento... as flechas serão
capazes de atingi-lo. Além disso, tenho certeza que todos se preparam para o pior. Se eu
for capaz de chamar sua atenção, talvez eu consiga separá-lo da aldeia... Calma... Há tam-
bém uma maneira alternativa de fazer isso...

“...Óleo.”

Quando Egnia murmurou, por um momento olhares perplexos apareceram nos arquei-
ros ao seu redor, mas instantaneamente entenderam o que quis dizer.

“É isso! Vamos banhá-lo com óleo e depois ateamos fogo usando um Fire Elemental!”

“Grande daquele jeito, vai ser difícil evitar o óleo!”

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


174
“E invocamos Water Elementals para garantir que as chamas não se espalhem!”

Não havia muito óleo na aldeia. Não é como se fosse difícil de encontrar, mas sim que
não lhes era de muita utilidade, era um dos bens que não armazenavam propositalmente.

Gritando “Estou indo”, um dos Elfos Negros saiu correndo, indo para o centro da aldeia.
Ele provavelmente pretendia informar um dos druidas que geralmente estava no arma-
zém. Seria um problema se gastassem todo o seu poder mágico em comida, sem saber
sobre o estado atual das coisas.

No mesmo instante, o rugido do Ursuslord tremeu o ar. Mesmo que tenha surtido o
mesmo efeito de antes, agora eles tinham se decidido e não seriam mais abalados.

“Mas o que está acontecendo?”

Um dos Elfos Negros indagou curiosamente. Não era apenas Egnia, todos os rangers
faziam a mesma pergunta.

Por causa da natureza dos Ankyloursi, deveriam ter feito uma investida imediatamente,
mas não havia sinal disso. Parecia que estava desmotivado— não, quando se tratava de
um Lord, provavelmente tinha objetivos mais obtusos.

Enquanto examinavam a situação, desta vez o Ursuslord se levantou e rugiu.

Fazer-se parecer maior e intimidar seu oponente era uma típica ação de um animal.
Entretanto, o que não entendiam era, por que não estava atacando?

Não era um mero animal selvagem, mas sim uma fera mágica. O Ursuslord era um ser
bastante inteligente. Mesmo que tenha confirmado que fracotes estavam bem a sua
frente, por que ele seguia o ditado de ladra, mas não morde?

Seus rugidos de agora a pouco tinham algum tipo de significado?

“Ei, será que ele não está treinando seus filhotes?”

Isso explicaria razoavelmente o comportamento anormal, Egnia também concordou em


pensamentos com quem quer que tenha dito.

Um pai levaria a criança junto quando saísse para caçar, a criança aprenderia obser-
vando a caça do pai e aprenderia como capturar cada tipo de presa. Era uma regra da
natureza, se saísse do ninho sem adquirir nenhuma habilidade de caça, morreria dias
depois de fome. O comportamento atípico do Ursuslord poderia ser ele tentando ensinar
seu filhote, que estava observando-o de algum lugar, sobre a comida conhecida como
Elfo Negro.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


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“Se for isso, podemos fazer algo considerando o futuro, não seria melhor pôr na cabeça
dos filhotes que nós somos uma presa que não vale a pena? Será um problemão se for-
mos lembrados como mera comida.”

“Mas o Ursus não vai ficar fora de controle se fizermos algo com sua cria?”

“O filhote pode não ser tão inocente... pode ser que a carne com mel não faça nada. Se
for um treino de caça, provavelmente só comerá isca viva. Mas compensa tentar, não?”

De repente, o Ursuslord torceu o focinho e começou a correr na direção dos Elfos Ne-
gros.

Aquela aparência abatida que tinha até um momento atrás já havia desaparecido. Curi-
osamente, eles não podiam sentir uma intenção assassina iminente. Havia algo diferente.
Por apenas um instante, Egnia olhou para trás do Ursuslord. Ele teve a sensação de que
tinha o comportamento característico de um animal domado—

—Estou imaginando coisas. Até porque não deve haver nenhum ser capaz de domar um
Ursuslord.

“Não faz sentido... eu não entendo o que está acontecendo.”

Não era apenas Egnia, muitos de seus amigos também estavam confusos.

Eles não podiam ler quais ações o Ankyloursuslord tomaria. Seria um erro tentar en-
tender a fera mágica que era o rei da floresta, este foi o primeiro inimigo que sua expe-
riência e intuição de rangers se provaram inúteis.

No entanto, mesmo sem saber como agir, eles atravessaram uma das pontes e recuaram.
Era um fato inegável que o Ursuslord avançava na direção deles. Se não tivessem agido,
se tornariam a presa do Ursuslord.

O Ursuslord, que agora havia chegado à base da Árvore Élfica, onde ninguém permane-
cia, apoiou-se nas patas traseiras.

Era gigantesco.

Alcançava facilmente as pontes suspensas.

E então moveu um de seus braços maciços.

O ataque sacudiu ferozmente a Árvore Élfica, e seu tronco foi arrancado como se tivesse
explodido.

As pontes que ligavam as árvores se curvaram, e os Elfos Negros se agarraram deses-


peradamente aos lados para não perderem o equilíbrio.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


176
A circunferência externa da Árvore Élfica era especialmente forte. Afinal, havia tido seu
crescimento acelerado usando magia, garantindo-lhes grandes quantidades de nutrição
para crescerem fortes e graúdas. A imensa árvore, que tinha a robustez de repelir qual-
quer ataque de monstro, foi reduzida a cacos em um instante. Esta era a prova basal de
que a força física do Ursuslord excedia em muito a de qualquer outro monstro invasor
que já presenciaram.

“Que monstro maldito...”

“Podemos dizer que é tão forte quanto imaginávamos, mas diante dessa coisa... é real-
mente terrível...”

“—Não é hora de ficar impressionado. O que vamos fazer? Como podemos limitar os
números de vítimas?”

Precisou de apenas um ataque para perderem a vontade de lutar e passarem a lamentar.

Ninguém podia julgá-los, afinal, ao testemunhar em primeira mão um ataque que eles
mesmo nem sequer seriam capazes de replicar, onde até mesmo um raspão resultava
em morte era de fato aterrorizante.

O Ursuslord continuava a atacar a mesma Árvore Élfica, como se quisesse descontar sua
ira.

Era um comportamento muito anormal, mas não parecia que estava confuso por ser
vítima de algum ataque mental. Parecia que guardava algum tipo de rancor especial con-
tra as Árvores Élficas. Às vezes ele parava e dava uma espiada em Egnia e nos outros
Elfos Negros, antes de começar a atacar a árvore novamente.

Não parece que está ensinando um filhote... não é...?

Não havia nenhum sinal da existência de um filhote em qualquer lugar ao redor do Ur-
suslord.

Egnia olhou para a aljava presa em sua cintura, assim como para as flechas dentro dela.

Algum Elfo Negro o atacou, só para provocar ele? É por isso que guarda rancor contra as
Árvores Élficas?

Os Elfos Negros eram os únicos que achavam que as Árvores Élficas não tinham cheiro,
mas não era necessariamente verdade que criaturas com um excelente olfato, como o
Ankyloursus, não notassem. Se fosse apenas isso, então só precisavam abandonar essa
aldeia e estariam seguros por enquanto.

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Não, nada é tão fácil assim. Ele vai ficar com fome depois de descontar essa fúria toda... e
pode vir atrás de nós ao farejar nossos cheiros. Realmente, é melhor dar a carne coberta
de mel, e rezar para que seja suficiente para satisfazê-lo. Mas, o que me preocupa são essas
olhadas que ele dá... parece que está pensando em algo.

O olhar do Ursuslord tinha nuances de tremulação.

“Será que seu objetivo é nos manter presos aqui?”

“Pode ter um espécime diferente indo para a aldeia de outra direção?... Mas ele real-
mente faria isso? Ainda mais um Ursuslord?”

“Talvez queira nos expulsar daqui, não? Talvez haja outro Ursus esperando para nos
emboscar para onde fugirmos, ou algo assim.”

“Eu nunca ouvi falar de Ursi caçando juntos... não consigo pensar em nada mais. Então
não temos outra escolha a não ser cada um fugir para um lado, huh? Se cada um fugir
levando provisões, pode ser que ele se acalme enquanto estiver comendo, o que acham?”

“—É só isso que nos resta?”

“Não me olhe assim. Não é como se estivéssemos abandonando para sempre. Podemos
voltar assim que o Ursus se for.”

Mesmo consolados, não conseguiam imaginar as coisas indo tão bem.

Isso foi por causa dos sons de moagem que o Ursuslord fazia enquanto cortava a Árvore
Élfica. Pois talvez quisesse fazer dessa área seu território.

Se seu motivo fosse esse, então não havia outra maneira senão Egnia e os outros deixa-
rem tudo para trás e abandonarem a aldeia.

Através dos efeitos da magia, o crescimento de uma Árvore Élfica era incrivelmente ve-
loz. Mas mesmo que crescesse rápido, não era da noite para o dia. Para os Elfos Negros
que viviam em simbiose com as Árvores Élficas, abandonar uma era o mesmo que perder
tudo. Quantos sacrifícios teriam que fazer se não tivessem permissão para habitar as
aldeias vizinhas até que pudessem mais uma vez crescer uma grande Árvore Élfica?

“É. Vamos fugir da aldeia enquanto damos a carne com mel para o Ursus.”

Todos concordaram com as palavras do Mestre da Caça, que continuou:

“Por enquanto, Sumomo e Prune vão preparar a carne com mel. Os outros ficarão aqui
e chamarão a atenção do Ursuslord para que ele não entre na aldeia.”

Os dois jovens arqueiros correram para o centro da aldeia.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


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O Ursuslord, que já havia reduzido uma Árvore Élfica a pedaços e já passara para a pró-
xima, de repente parou de balançar as garras.

Antes que Egnia e os outros poderiam pensar: “O que deu nele?” o Ursuslord começou a
se mover.

Visando o centro da aldeia.

“Pare!!”

Egnia imediatamente sacou duas flechas de sua aljava e as preparou. No canto de sua
visão, ele viu que seus amigos estavam segurando seus arcos, prontos para atirar.

Ele simultaneamente ativou uma habilidade e disparou as duas flechas.

Ambas as flechas atingiram o enorme corpo do Ursuslord e—foram repelidas.

No instante seguinte, várias flechas foram disparadas.

Todas as flechas foram repelidas, mesmo atingindo o rosto ou as patas do Ursuslord. Já


as que não acertaram, acabaram perfurando o chão ou as árvores próximas a ele.

Não que tivessem uma mira ruim. Mesmo que a criatura se movesse, seu corpo era tão
grande que fez dele um alvo fácil.

O objetivo daquelas flechas não era causar dano, mas sim chamar a atenção do inimigo
e ganhar algum tempo.

No entanto, o Ursuslord não parou nem por um instante. Tudo o que fez foi dar uma
olhada na direção deles.

“Que droga!”

—Nosso oponente está no topo da cadeia alimentar, certo? Então por que caralhos ele
ignora seres de baixo escalão como nós? Ele não nos vê como fracos? Parece que ele tem
algo em mente... será que já atacou uma aldeia de Elfos Negros em algum outro lugar an-
tes? Ele sabe que os mais indefesos estão no centro da aldeia? Então está tentando deduzir
sua localização nos intimidando? Talvez tenha aprendido a caçar desse jeito quando era
fraco, então ao invés de nos ignorar, o Ursuslord está visando alvos mais fracos!?

Era precisamente porque esse tipo de caçada tinha dado certo no passado que faria a
mesma coisa novamente, fazia todo o sentido. Mesmo que tenha se tornado um Lord
poderoso, ele ainda fazia bom uso de suas experiências passadas.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


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Ao considerar essa possibilidade, então atacar as Árvores Élficas sem parar foi prova-
velmente para reunir os mais fortes, ou algo nesse sentido. Ao ver suas ações por essa
ótica, as contradições e seus comportamentos estranhos de repente faziam total sentido.

E mesmo isso pode ser baseado em uma experiência bem-sucedida em uma caçada an-
terior. Seja como for, no momento em que consideraram essa possibilidade, havia ape-
nas uma coisa que Egnia e os outros poderiam fazer a respeito.

Não permitir que o Ursuslord fosse para o centro da aldeia — onde as crianças e os
outros deveriam estar.

“Atrás dele!”

O Mestre da Caça nem precisou dizer nada. Todos pularam da ponte e correram pelo
chão.

Se corressem pelas pontes suspensas das Árvores Élficas, teriam que fazer pequenos,
mas inevitáveis desvios. Era extremamente perigoso correr em um lugar onde as patas
do Ursuslord podiam facilmente alcançá-los, mas eles não tiveram escolha a não ser fazê-
lo. Além disso, mesmo que o Ursuslord se virasse e começasse a atacá-los, eles ainda
conseguiriam ganhar algum tempo.

Parecia difícil para o grande Ursuslord correr pelos amontoados de Árvores Élficas, e
mesmo que houvesse um precipício separando suas destrezas de corrida, isso não lhes
afetaria se corressem pela aldeia. Pelo contrário, Egnia, que se orgulhava de ter as habi-
lidades físicas mais destacadas entre os Elfos Negros, conseguiu diminuir a distância ra-
pidamente.

Ele podia ouvir gritos vindos da direção que estavam indo.

Não era de alguém sendo atacado, mas sim porque as pessoas no centro da aldeia viram
a figura do Ursuslord.

Porra!

Havia uma praça no centro da aldeia, mas não ficava no chão. Era um lugar que parecia
uma bandeja de madeira suspensa no ar e era mantida no lugar pelas pontes que se es-
tendiam das árvores.

Quando o Ursuslord chegou ao local, ele se levantou e, após erguer seus dois braços
imensos, rugiu novamente.

Era mais alto do que antes e teve potência mais do que suficiente para fazer todos lá
dentro ficarem sem ação. A praça estava suspensa do chão por enquanto, mas o enorme
corpo do Ursuslord poderia facilmente alcançá-la.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


180
Tamanho fôra o rugido que aterrorizara todos que viam as dimensões daquela estru-
tura maciça. Essa combinação dera a ele um poder de luta que deixou muitos dos que
viram — pessoas de baixo nível, arqueiros novatos e crianças — petrificados.

Egnia jogou de lado seu arco composto e esvaziou ambas as mãos.

Esses arcos eram os tesouros dos Elfos Negros. Os materiais usados para confeccioná-
los não eram desta floresta, mas sim da terra onde viveram. Haviam poucas peças so-
bressalentes para consertá-los e nunca mais poderiam ser feitos. Ele provavelmente se-
ria repreendido pelos Anciãos por tratar algo tão importante com tanta rispidez. Con-
tudo, ele não teve tempo de guardá-lo com o devido esmero.

“UoOOO!”

Egnia gritou para elevar seu próprio moral e pulou no Ursuslord para tentar desviar
sua atenção da multidão. Quando se agarrou àquele corpo imenso, usou a pele dura e
áspera como apoio para escalar como se estivesse correndo pelas costas.

“—GoO!”

O Ursuslord se enfureceu, torcendo seu corpo para tentar se desvencilhar de Egnia.

Em um instante, seu corpo se desprendeu, e parecia que seria arremessado pela força
centrífuga, mas de alguma forma ele conseguiu resistir. Assim, ele foi capaz de alcançar
a parte de trás de sua cabeça. A raiva do Ursuslord ficou ainda mais colérica.

Era óbvio o porquê. Mesmo um Elfo Negro agiria da mesma maneira se uma abelha es-
tivesse zumbindo em seu pescoço.

Egnia se aproximou do pescoço do Lord, como se estivesse preso a ele, e segurou com
todas as forças para não cair.

Era estranho que não estivesse rolando no chão ou arranhando-o com aquelas garras
monstruosas, hoje a sorte estava do lado de Egnia, e deveria ser grato por isso.

“O que estão esperando!? Saiam daqui!”

Ele não pretendia fazer qualquer barulho, mas não podia evitar. Na verdade, os movi-
mentos do Ursuslord pareciam se tornar mais intensos em resposta à sua voz. Flechas
vieram voando como se quisessem impedi-lo. Alguém forte e com boa mira poderia aju-
dar em algo, e Egnia dificilmente seria atingido.

No entanto, nenhum dos disparos de Egnia perfurou sua couraça. Não havia sinal de
que as flechas estavam ferindo o Ursuslord. Se não pudessem sequer arranhá-lo, de nada
adiantariam flechas cobertas de veneno.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


181
Egnia segurou o mais firme que pôde. Não havia como ele se separar do Ursuslord,
agora.

O que parecia ser uma quantidade anormalmente longa de tempo se passou, e o movi-
mento do Ursuslord se tornou um pouquinho mais lento. Nutrir tanta raiva provavel-
mente o havia desgastado. Ainda assim, seu oponente era um Lord. Sua resiliência nem
deveria ser algo mensurável pelo bom senso. Não havia dúvida de que não tardaria para
se recuperar e logo entraria em fúria novamente.

As mãos de Egnia estavam dormentes. Dificilmente suportaria o próximo sacolejo.

Esta era sua última chance.

Ele estendeu uma mão à cintura e sacou a adaga de lá.

E então, em uma respiração, ele se levantou até que estivesse a uma distância onde pu-
desse alcançar as partes do Ursuslord que pareciam vulneráveis — seus olhos e nariz.
Tinha partes, como o pescoço, que não tinham armadura. Porém, havia uma densa ca-
mada de carne e pele nesses lugares. Ele não tinha confiança de que poderia causar qual-
quer dano com a adaga que empunhava.

Naquele momento, o corpo de Egnia flutuou suavemente. No instante em que ele soltou
uma mão, o Ursuslord sacudiu violentamente seu corpo. Mesmo que por um milagre ele
tivesse conseguido fazer uso de toda a extensão de sua força, não havia como ser capaz
de suportar em sua postura atual sem uma mão segurando.

Sua visão girou em círculos, ele podia ouvir gritos vindos de algum lugar.

Merd—

Uma vez que percebeu o que estava acontecendo, imediatamente jogou fora sua adaga
e levou a mão à cintura. O que ele tirou foi uma pequena algibeira de couro.

Ele caiu no chão com força. O impacto havia expelido todo o ar de seus pulmões e, por
um instante, ficou totalmente sem ar.

No entanto, mesmo em agonia, sua determinação suplantava a dor.

Egnia, que estava caído, olhou nos olhos do Ursuslord que se erguia na frente dele.

Ele não conseguia se mover.

Seu corpo estava petrificado pela pressão emanada pela criatura.

Ele sabia que tudo estaria acabado se fizesse um movimento errado.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


182
O bufar do Ursuslord chegou até ele. O fato de ter um cheiro tão agradável era surpre-
endente— ou melhor, era até espantoso.

Egnia teve a impressão de ver escárnio vindo da bocarra da criatura.

Não havia mais nenhum pensamento ou hesitação restante. Ele já havia se preparado
para o pior.

Pode vir. Coma minha carne junto disto.

Ser comido pelo Ursuslord era a pior coisa que poderia acontecer. Pois a criatura toma-
ria gosto pelo sabor de Elfos Negros.

No entanto, e se não gostasse do sabor?

Ele afrouxou o cordel ao redor da boca da algibeira de couro que segurava com força.

Era o veneno que lhe fôra dado de antemão. Quando considerou o tamanho do Ursus-
lord, achou que a dose contida lá era ínfima.

Todavia, mesmo que não fosse mortal, seria capaz de fazer a criatura tomar asco dos
Elfos Negros.

Quando abrisse aquela boca grande e o mordesse, ele estenderia os braços jogando ve-
neno contido em ambas as mãos.

Seria frustrante se o atacasse com suas garras.

Se ele fosse mordido, não terminaria apenas com seus braços.

Mas Egnia havia se preparado para isso.

Não, ele havia decidido há muito tempo.

Ele viveu e logo morreria em prol dessa aldeia.

A razão pela qual era mais forte que os outros era porque se dedicara para este dia.

Venha logo. Prove o gostinho dos Elfos Negros daqui, quero ver se não vai querer vomitar.

O Ursuslord desviou o olhar dele.

—O que ele pensa que está fazendo?

O Ursuslord deu um rugido, balançou sua cauda e braços. Então repetiu os ataques nas
Árvores Élficas como se estivesse descontando sua raiva em algo. Era quase como se

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183
ignorasse Egnia, mas não fazia o menor sentido. Porque ele sentiu que ambos se entreo-
lharam.

“Egnia! Depressa!”

Confuso e incapaz de entender a situação, Egnia de repente notou a voz de um de seus


colegas arqueiros.

Ele estava em paz com seu destino, mas não era como se quisesse ser comido por esco-
lha própria.

Eles seriam capazes de escapar? O Ursuslord parecia não ter nenhum interesse neles,
mas ele sabia que os notava. Ele se perguntou, quais eram os planos da criatura?

Está fugindo é— a resposta certa?

Ele não sabia. Seu oponente não deixava nenhum sinal que pudesse interpretar.

Assim que Egnia chegou no auge de sua confusão, uma flecha passou como um raio de
luz e atingiu a Árvore Élfica bem na frente da fera mágica.

*Kooooooooon*, o som estridente foi suficiente para dar arrepios, claramente ressoou
e se espalhou como uma onda. Todos os Elfos Negros — até o Ursuslord — pararam de
se mover, tudo ao redor ficou completamente silencioso, como se alguém tivesse jogado
um balde de água fria.

Logo em seguida, uma voz adorável rompeu o silêncio.

“Hum... você já aprontou até demais.”

Era como se o mundo se tornasse um lugar mais reluzente.

A figura que apareceu de repente por trás de Egnia era apenas uma criança Elfa Negra.
Estranhamente, não era residente da aldeia. Parecia ser um menino extremamente bo-
nito, ou uma menina. Não, se olhasse bem de perto, notaria uma garota incrivelmente
bela. E ao se dar conta—

“Tão, tão bela.”

Egnia, deixou escapar.

Como uma garota poderia ser tão bela? Era mais bela que o orvalho da manhã quando
aglutinava e gotejava nas folhas atingidas pela luz da aurora, ela cintilava como joias.

Era como se ela emitisse uma luz própria. Por isso tivera a impressão do mundo estar
mais brilhante.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


184
OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1
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Além disso, era como se o vislumbre da vida ficasse evidente nos aromas emanados de
seus movimentos graciosos.

O nariz de Egnia aspirava fora de seu controle.

Ele queria levar um pouquinho desse aroma para seus pulmões, para que pudesse se
espalhar por todo seu sangue.

O que é essa fragrância? Era como se cada uma de suas células estivessem dançando de
alegria.

As mãos daquela garota de beleza inigualável — ela estava usando luvas, então não ser
capaz de ver seus dedos era frustrante —estavam segurando um arco surpreendente-
mente requintado. Aquela incrível peça de artesanato não era apenas um enfeite, ema-
nava um poder maior do que qualquer outro arco que Egnia já tinha visto, era o que sua
intuição de arqueiro gritava.

“Quão—”

Mas quem se importava com tudo isso?

O desequilíbrio da menina com um laço desproporcionalmente grande em relação ao


corpo fôra mais um fator para aumentar sua beleza.

Tudo nela era encantador. Ela reluzia.

“Ei, monstrengo. Sai daí, vai. Eu não vou deixar você aprontar mais das suas por aqui.”

Fofa.

Muito fofa.

Super fofa.

Sua beleza era tamanha que acabara se esquecendo que ouvira sua voz momentos atrás.
No entanto, dessa vez seu cérebro estava respondendo adequadamente à voz.

Repetia várias vezes em sua cabeça como um refrão. E toda vez que acontecia, ficava à
beira de arrepios.

Como em um estalar de dedos, a garota de beleza exuberante apontou um dedo para o


Ursuslord.

Por que?, ele se perguntou, seria tão belo se apontasse o dedo para ele.

Foi frustrante.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


186
Lamentável.

Ele estava triste que aqueles lindos olhos não o percebiam.

“Gurururuu!”

O Ursuslord rosnou.

Não era um rosnado destinado a intimidar, mas sim um rosnado de medo.

O Ursuslord estava cauteloso com a bela garota.

Naturalmente.

Quem quer que seja ficaria acuado ao ser encarado por algo tão belo. Qualquer um pen-
saria se tratar de uma deusa.

Claro, pode haver quem acredite que feras mágicas podem não ter esse tipo de senso
estético. Entretanto, era um modo muito arcaico de pensar.

Egnia negou veementemente.

Ele tinha motivos para tal.

Feras mágicas que possuíam grande poder eram lindas. Se assim for, paradoxalmente,
não seria estranho se essa garota de beleza inigualável possuísse poder incomparável.

Isso mesmo. Não haveria nada de estranho nisso.

No instante em que o Ursuslord deu um sinal de que ia tentar se mover, Egnia arregalou
os olhos de surpresa.

A bela garota já tinha uma flecha em seu arco.

Depois que a garota se revelou, Egnia não tirou os olhos dela nem por um instante.
Mesmo um piscar de olhos teria sido um sacrilégio, e ele tentara não fazer nenhuma vez.
No entanto, uma flecha estava em seu arco.

Não, não era estranho.

Ela era uma garota de beleza sem igual que só poderia ter sido gerada pelo próprio
mundo. Sendo esse o caso, não havia dúvida de que ela era capaz de qualquer coisa.

Egnia tinha essa convicção.

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Um clarão de luz passou por ele e—

“GwoOO!”

—O Ursuslord gritou.

Ele não estava nem aí para onde a flecha havia atingido. Mais importante do que isso
era não tirar os olhos da garota nem por um instante.

“▓, ▓▓▓!? ▓▓▓▓▓▓▓▓!?”

“▓▓▓!”

“▓▓▓▓▓!?”

Muitas palavras eram ditas, mas aos seus ouvidos eram apenas ruídos.

Era irritante.

Calem-se! Assim não vou conseguir ouvir a voz dessa beldade!

Do ponto de vista de Egnia, que estava tentando distinguir a voz da garota, todo o resto
era descartável.

Os passos do Ursuslord estavam desaparecendo na distância.

“▓!? ▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓▓!?”

Eu falei para calarem a boca! Como vão se redimir se eu não conseguir entender o que ela
está dizendo por causa de vocês!

“...Você tá bem?”

A garota de beleza inigualável o abordou.

Ela falou com ele, apenas ele e mais ninguém.

Ele tinha sido o escolhido!

Egnia ficara tão ansioso que não conseguia dizer nada. Incapaz de raciocinar, ele não
sabia quais palavras usar. Até mesmo respirar estava difícil. Mesmo assim, tomar esse
tipo de atitude era um sinal de desrespeito.

Apesar disso, reunindo toda a energia de seu corpo, Egnia espremeu a resposta mais
adequada.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


188
“Kew, vsch, ob.”

“...Hm?...Eh?...Que isso?”

A bela garota olhou para ele com dúvida. Mesmo essa expressão foi inimaginavelmente
adorável. Ou melhor, ele tinha certeza de que qualquer coisa que ela fizesse seria fofa.

“Sinto, sinto muito. Parece que o Egnia está confuso, deve ter sentido muito medo do
Ursuslord.”

“Hmmm.”

Isso foi tudo que a garota de beleza inigualável respondeu em tons monótonos às pala-
vras do Mestre da Caça. Logo, Egnia, que finalmente havia recuperado um pouco da sa-
nidade, corou ao se dar conta da própria gafe.

“Sinsm! ‘uition, obh’ado!”

“...? Ah, ‘obrigado por atirar aquela flecha’, é o que tá dizendo, né?”

Os arqueiros ao redor provavelmente também pensaram na primeira coisa que deve-


riam dizer para a bela garota. Quando desceram das árvores, lutando para serem os pri-
meiros a falar, abaixaram a cabeça para ela e expressaram sua gratidão.

“Ah, não foi nada de mais.”

Não é isso.

Era um mal-entendido.

Ele não estava agradecendo por salvá-lo. Ele precisava agradecê-la por aparecer diante
dele— bem aqui.

“Sinsm!”

“...Tem certeza que tá bem? Será que não bateu a cabeça àquela hora que caiu? Melhor
chamar um clérigo pra você?... Ou seria um druida? Aquela fera mágica pode ter algum
tipo de habilidade especial.”

“Tem razão. Parece que o Egnia sofreu algum traumatismo, melhor levar ele de uma
vez.”

Não tardou para ele ser colocado em uma maca feita de duas varas de madeira e corda.
Ele não se queixava de nenhuma dor, mas era inteiramente plausível que estivesse en-
torpecido após ver tamanha beleza diante de seus olhos. As pessoas eram capazes de

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


189
ignorar sua própria dor em situações extremas. Sendo esse o caso, seria razoável que
não sentisse nenhuma dor se uma garota de beleza inigualável lhe abordasse.

Para dizer a verdade, ele queria acompanhá-la, estar ao seu lado e respirar o mesmo ar
que ela. No entanto, seria de bom grado retribuir a preocupação que demonstrara por
ele. Era tão bonita e fofa, que ficou claro para qualquer um o tamanho de sua gentileza.
Então deveria evitar magoá-la a qualquer custo.

Por sua razão ter conseguido persuadir sua ânsia por mais dessa beleza, Egnia concor-
dou em ser levado.

Enquanto via a garota diminuindo em seu campo de visão, notou que ela estava conver-
sando com o Mestre da Caça, e então pensou:

...O que é esse pulsar violento no meu coração... será que é... Amor!!?

Blueberry Egnia. Aos 254 anos, encontrou seu primeiro amor.

Parte 2

Aura seguiu o Elfo Negro que se apresentou como o Mestre da Caça. Ele deveria ser
aquele que gerenciava todos os guardas da aldeia, mas Aura sentia que o homem que
desmaiara era mais forte. Sendo assim, por que esse cara se intitulava como chefe?
Mesmo entre os guerreiros da sociedade humana, apenas os mais fortes assumiam esse
título. Não, talvez—

—As profissões são diferentes? Tipo, aquele de antes poderia ser um guerreiro, enquanto
este é um ranger. Ou ele é tipo o Victim?

Aura chegou a uma resposta depois que se lembrou do Guardião do 8º Andar, pensando
que esse cara provavelmente também tinha algum dever específico a cumprir. Enquanto
esse pensamento se enraizava, ela tentou sentir se alguém a seguia.

Ele esteve aqui.

E continuaria aqui.

Um bando de Elfos Negros seguia Aura e o Mestre da Caça. Não deveria haver nenhuma
vítima do urso monstro. Talvez fosse porque não tinham nada para fazer por enquanto,
ou talvez fossem estimulados pela curiosidade, mas todos seguiam essa inesperada vi-
sita.

Obviamente, ela não sentiu nenhuma hostilidade ou intenção assassina deles.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


190
Claro, havia a possibilidade de que houvesse alguém muito habilidoso entre eles que
pudesse se esconder de seus sentidos, mas sua intuição lhe disse que não havia ninguém
assim por aqui. Até porque, se houvesse alguém tão forte presente, poderiam facilmente
ter matado o urso monstro antes que Aura chegasse.

...Parece que ninguém desconfiou de nada.

Ela tinha quase certeza que ninguém percebera que foram eles que enviaram aquela
monstruosidade.

Aaaaah, Aura pensou apática. Por que o Ainz-sama não quis deixar ninguém morrer?

As ordens de seu mestre em resumo eram:

• Infiltrar-se na aldeia;
• Preparar as bases para um relacionamento amigável.

A aldeia teria ficado mais grata se os tivesse salvado depois de algumas casualidades.
Talvez alguns reclamariam com “ela deveria ter nos salvado mais cedo”, mas essa era a
parcela que sempre reclamava de alguma coisa. Esses tipinhos, que seriam empecilhos
para Aura — e consequentemente para Nazarick —, poderiam ser eliminados quando a
oportunidade surgisse.

Por exemplo, bastaria enviar o urso monstro novamente.

Hnm. Ainda não consigo entender o que se passa na cabeça do Ainz-sama. Se for pelas
instruções é; o mais eficaz seria levar eles aos limites do desespero e depois fazer um res-
gate dramático... Será que a Albedo ou o Demiurge teriam entendido melhor se estivessem
aqui?

Aura não conseguia entender os profundos planos de seu mestre independentemente


do quanto ponderasse. Claro, provavelmente não havia ninguém que pudesse entender
as conjecturas de seu sábio governante, mas isso não significava que ela deveria desistir
de tentar.

Seu mestre desejava seu desenvolvimento. Além disso, como parte do alto escalão de
Nazarick, os Guardiões do Andar deveriam atuar como modelos para todos os habitantes
de Nazarick.

Hnnm. Hnnnnnm... Talvez seja porque se alguém tivesse sido morto, e depois a gente des-
cobrisse que era alguém útil, isso daria uma dor de cabeça. Mas o Ainz-sama provavel-
mente tá pensando algo mais profundo que isso.

O mesmo ocorreu com aquele urso monstro.

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191
Quando o indagou se deveria matá-lo enquanto os Elfos Negros testemunhavam o feito,
ele respondeu que seria um desperdício e havia um grande demérito em fazê-lo.

Certamente, era um espécime raro desconhecido para ela e também poderia ser consi-
derado forte para esse mundo. Ela concordou com a decisão de seu mestre porque eles
não tinham certeza se poderiam encontrar outro espécime tão forte.

Claro, foi ela quem propôs uma maneira de fazer bom uso do urso monstro, mas matá-
lo seria melhor para dissipar quaisquer suspeitas da aldeia. Seu mestre concordou nesse
ponto.

Mas, parecia que ele recusou porque não queria que Aura matasse o urso monstro com
suas próprias mãos.

Como não foi informada de nenhum demérito desse ato, continuou a refletir sobre as
possíveis razões.

Com o intelecto do Ainz-sama, tudo vai sair nos conformes se a gente seguir suas ordens
ao pé da letra. Mas seguir tudo sem questionar pode dar problemas depois...

Seguir sem entender não lhe permitiria um lugar ao topo. Somente aqueles que pudes-
sem compreender a intenção e também trazer um resultado melhor poderiam ser con-
siderados a elite.

Albedo e Demiurge sempre fazem o melhor nessa área, se saem tão bem que sempre são
elogiados pelo Ainz-sama. Não posso perder pra eles. Mas... hnnm... Talvez eu devesse ter
usado um urso mais fracos por aqui ao invés de matar todos. Isso teria sido melhor?

Aura olhou para o Mestre da Caça, que estava andando à sua frente.

Ele estava em silêncio desde que começaram a andar.

Normalmente, sendo salvos por uma criança, todo mundo teria um montão de perguntas.
Eu nem mesmo falei como me chamo. Será normal pros Elfos Negros? Acho que não, mas...

Não parecia que ele a odiava ou que não estava com disposição para conversar. Ela tam-
bém não sentia desdém emanando dele. Seu modo de agir corroborava seu palpite.

Ele andava com passos curtos, diminuindo seu ritmo para combinar com o de Aura. Se
ele pudesse mostrar tanta boa-vontade mesmo a odiando, ele só poderia ser considerado
uma pessoa extremamente difícil de lidar.

Provavelmente era apenas o jeito dele não falar muito, ou talvez não estivesse acostu-
mado a conversar com crianças.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


192
Sinceramente, como um anfitrião, ele era um zero à esquerda. Ainda assim, não era
como se Aura quisesse algum tipo de grande recepção, então não fazia sentido criticar
seus modos. Talvez o erro tenha sido não selecionar uma pessoa mais amigável para esta
primeira abordagem.

—Posso fazer nada quanto a isso, melhor puxar algum assunto pra ver.

Quem sabe fosse bom iniciar uma conversa para aliviar o clima, mas como logo chega-
riam ao destino, ela foi direto para o ponto.

“Anciãos, né? A gente vai conhecer as pessoas que não deram às caras mesmo com o
ataque daquele urso monstro, é isso?”

“Urso monstro? É assim que o Ankyloursus é chamado de onde vem?”

“Hm. É tipo isso.” Mentiu sem pestanejar:

“Ei, pode me contar mais sobre esses anciãos?”

“Aah. Faz sentido, já que vamos para lá. Eles realmente não estavam presentes, mas é
porque estavam preparando óleo dentro da Árvore Élfica onde vivem.”

“Hmmm. E são quantos, hein?”

O Mestre da Caça se virou e olhou para trás pela primeira vez.

“Ah, é diferente em seu lar? Aqui há três deles.”

“Meu lar—? É uma cidade longe daqui, lá não tem nada parecido com um conselho de
anciãos até onde eu sei.”

“Entendi. Parece muito diferente da nossa aldeia. Também ouvi dizer que a Cidade Él-
fica é governada por um rei... Ouvi dizer que uma cidade é como uma aldeia com mais
moradores, então talvez três Anciãos não bastem, é isso?”

“Bem...? Quase não existem Elfos Negros no meu país, não tenho certeza, sabe?”

Aura deu de ombros. Ela queria as informações do outro lado, mas estava evitando o
máximo que pudesse revelar alguma coisa.

Em primeiro lugar, até que ela descobrisse que tipo de autoridade os Anciãos exerciam
e que tipo de pessoas eram, ela não podia simplesmente falar qualquer coisa. Em se-
gundo lugar, ela não poderia concordar com o modo que administram o local, pois po-
deria exigir mais mão de obra para ser governada adequadamente. Ela teve seu mestre
como um contraexemplo.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


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Se houvesse três Ainz-samas, daria pra governar perfeitamente o mundo inteiro sem pre-
cisar da gente...

Enquanto Aura pensava em seu mestre, o Mestre da Caça arregalou os olhos em sur-
presa.

“...Você não está aqui em uma jornada do país dos Elfos Negros?”

“Hm? Nada a ver. É que, como eu comentei antes, quase não existem Elfos Negros no
meu país.”

Era melhor não dar números precisos, então Aura deu uma resposta ambígua.

“É habitado principalmente por outras raças, como: Humanos, Goblins, Lizardmen, Orcs,
etc. Viemos dar um passeio aqui depois de ouvir que havia mais da minha raça vivendo
nessa floresta.”

“Ah, sim...”

Aura se indagou do porquê da tensão em sua resposta. Ela queria perguntar, mas deci-
diu que não deveria ficar impaciente e tentou esperar a hora certa. Ela queria que ele
notasse o “Viemos” em sua frase.

“Quem diria que muitas raças podem coexistir juntas... é surpreendente.”

“Sério?”

Não importava quantas raças existissem. Se houvesse um ser acima de todos, seria na-
tural que todos se curvassem à grandeza desse ser. Por outro lado, se isso ainda não
tinha acontecido, só poderia significar que tal existência estava ausente.

Foi por isso que tiveram que espalhar o nome de Ainz Ooal Gown pelos quatros ventos.

Ainz-sama deve gerir todos os seres vivos desse mundo como o governante absoluto

Isso daria origem à paz absoluta. Se alguém desejasse essa utopia, deveria curvar-se ao
Ser Supremo.

Aura sentiu pena dos Elfos Negros que não conheciam essa grandeza. Era o tipo de com-
paixão que uma pessoa civilizada tendia a reservar para selvagens ignorantes.

Tenho certeza que a Albedo ficaria irritada com a ignorância deles, tadinho deles, é pedir
demais também. O importante é se ajoelharem pro Ainz-sama depois que souberem das
coisas.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


194
Mas havia aqueles que se negavam a abaixar a cabeça por pura idiotice. Também pode-
ria haver outros do mesmo nível dos Seres Supremos, ou que estavam sob a regência de
alguém assim.

Seres Supremos eram existências que rivalizavam com deuses, mas infelizmente, enti-
dades semelhantes também existiam.

Claro, os Seres Supremos estavam no topo até mesmo de tais existências. Outrora, eles
repeliram entidades que ousaram tentar violar Nazarick, também se dizia que um dos
Seres Supremos era a terceira pessoa mais forte do mundo inteiro.

No entanto, o fato de que havia alguns que poderiam rivalizar com os Seres Supremos
no quesito poder era inegável. Foi por isso que seu mestre, o único Ser Supremo restante,
era tão cauteloso.

Eu posso entender a cautela do Ainz-sama porque ele é quem tem mais experiência contra
eles... Eu sinto que não há esses seres aqui... Mas sei que é errado eu ter esses pensamentos
otimistas enquanto o Ainz-sama age com cautela...

Se houvesse alguém capaz de rivalizar com os Seres Supremos, mesmo que se escon-
desse habilmente, certamente haveria algum boato se interagisse com alguém. Houve
algumas existências assim no passado desse mundo, mas hoje em dia não havia resquí-
cios de que ainda existiam.

Era conjecturado que esta área do mundo era mais remota, então a informação demo-
rava para chegar por estas bandas.

Demiurge disse que temos que ficar em guarda mesmo assim...

Ele disse que era difícil impedir que as informações sobre a fundação do Reino Feiti-
ceiro vazassem, então quando as informações se espalhassem por todo o continente, eles
poderiam finalmente confirmar a presença — ou a ausência — de Jogadores. Portanto,
como os Guardiões de Andar, eles deveriam agir com o mesmo cuidado que seu mestre.

Ele também disse que tais oponentes eram mais propensos a aparecer no caos de uma
guerra, e que essa seria a melhor chance de fisgá-los.

“Não é que sejamos amigos de outras raças, mas também não é como se estivéssemos
em conflito. Há momentos que precisamos ocupar um local seguro nessa floresta, mas
também há momentos em que precisamos cooperar porque os monstros são nossos ini-
migos em comum... Os monstros fora da floresta são fortes?”

Ela sentiu que a pergunta dava a entender: “É por isso que você é tão forte assim?”.

“—Ah, Hn. Acho que; sim? Mas, talvez não tão forte pra mim?”

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


195
Como o homem parecia querer perguntar alguma coisa, Aura o interrompeu com uma
pergunta:

“Parece que você não conhece o mundo lá fora, quanto tempo faz desde que exploraram
as fronteiras?”

“Segundo os Anciãos, viemos para essa floresta há mais de trezentos anos, e eu nunca
ouvi falar de nenhum Elfo Negro que tenha saído desde então.”

“Trezentos? Você ouviu isso de outros? Que jeito estranho de colocar as coisas... Hei, tio.
Que idade você tem, hein?”

A expressão do Mestre da Caçada mudou consideravelmente pela primeira vez.

“—Tenho apenas um pouco mais de duzentos anos.”

Aura suprimiu seu desejo de dar uma longa encarada no rosto do Mestre da Caça.

Duzentos anos? Ele tá mentindo a idade pra mim? Isso, ou os Elfos Negros daqui contam
os anos de forma diferente...?

Ela pensou que ele estava mentindo, mas não podia dizer isso na cara dele. Já que tam-
bém podia sentir um clima depressivo vindo dele.

Era certo que isso o incomodava.

Aura não queria consolá-lo, mas se queria entrar nas boas graças daqui em diante, seria
melhor.

“Aah— sim. É só que você tem um ar de maturidade... de um jeito bom.”

“...Ah, obrigado. Isso só mostra como a vida nesta floresta é difícil.”

Aura não respondeu. Se era assim que ele lidava com a situação, ficar em silêncio era o
maior ato de bondade que ela poderia mostrar.

“Hmmmp... Quer dizer que vocês não têm vontade de sair da floresta? Tipo, ir dar uma
volta no meu país e tal??”

Ela não foi clara sobre as intenções de seu mestre, mas abordar esse tópico não deveria
causar problemas. E caso necessário, poderiam dizer que foi apenas uma brincadeira
mais tarde, já que eram apenas as palavras de uma criança. Além disso, seu mestre não
era alguém que iria repreendê-la por algo tão pífio.

Além disso, Ainz simplesmente usaria 「Message」para informá-la se fizesse algo er-
rado.
Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura
196
“Talvez não seja uma má idéia...”

“Você parece muito relutante. Nosso país é incrível, sabia? E lá não tem esses monstros
que ficam atacando a gente do nada assim não. Não tô falando que vai receber tudo de
mão beijada sabe, mas lá recompensam o esforço da gente. Lá você não precisa se esfor-
çar tanto pra ter tão pouco.”

“Falando assim, realmente parece ser maravilhoso. Pelo modo que fala, dá para sentir
que é verdade. Mesmo assim, não é uma coisa que podemos decidir de uma hora para a
outra. Mudar de local gera muita inquietação, principalmente se poderemos manter
nosso estilo de vida atual lá... Talvez seja porque eu esteja acostumado, e ficar aqui cause
menos problemas do que partir.”

Ele respondeu com seriedade às palavras insensatas de uma criança. Talvez fosse por-
que ele era uma pessoa boa e séria em sua essência, ou talvez fosse porque não queria
magoar Aura. Seja qual for o caso, parecia que falaria sem problemas contanto que ela
puxasse assunto. Um sorriso lentamente tomou forma na mente de Aura.

“E que tal se enviar algumas pessoas pra fazerem um teste lá?”

“Isso não é uma má idéia também... Será que aceitarão ir? Se sim, quantos? Se algo assim
for mesmo acontecer, as opiniões dos Anciãos terão um grande papel... embora haja mui-
tos de nós que se opõem às opiniões daqueles três.”

“Eh...? Quer dizer que os anciãos não têm influência na aldeia?”

O Mestre da Caça fez uma expressão azeda.

“Eu mesmo não os odeio— Ah, chegamos.”

Eles chegaram diante de uma árvore que parecia a mesma que as outras ao redor:

“Acho que já sabe, mas não é tão grande por dentro. Vamos chamá-los— Anciãos, temos
uma convidada!”

Ele levantou um pouco a voz. Gradualmente, três Elfos Negros apareceram e desceram
do buraco na árvore. O grupo era formado por dois homens e uma mulher.

Mesmo sendo chamados de Anciãos, eles não pareciam tão velhos. Quando comparados
aos humanos, eles pareciam quase na casa dos 40 anos.

É difícil adivinhar a idade dos Elfos Negros pela aparência. Eu já cometi uma gafe cha-
mando esse cara aí de tio... Ah, poderia ter chamado ele de irmão, mas ele realmente não
parece tão diferente desses anciãos aí.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


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Enquanto Aura pensava, os Elfos Negros que os seguiam se espalharam em um semicír-
culo atrás dela, cercando-os.

“Convidada, estes três são os Anciãos da nossa aldeia. Anciãos, deixem-me apresentar
nossa convidada. Foi ela quem lutou contra o Ursuslord, uma viajante que veio de um
país onde diferentes raças vivem juntas em harmonia, seu país não há muitos Elfos Ne-
gros, é um lugar além da floresta.”

Aura curvou-se ligeiramente após os dizeres do Mestre da Caça. Ainda assim, era mais
um aceno de cabeça do que uma reverência adequada. Ela sentiu que se diminuir demais
prejudicaria seus planos futuros. Mesmo que fosse uma criança, Aura também era sua
salvadora. Seria incômodo se não fosse levada a sério por causa de sua idade.

As instruções do Ainz-sama foram pra eu tratar eles de um jeito amigável, será que vai
dar ruim se eu agir como se fosse superior a eles?

“...Eu sou Aura Bella Fiora. Prazer em conhecer vocês.”

“Uhum. Você fez bem em vir aqui, rebento distante, Aura Bella Fiora.”

O homem que estava no meio — provavelmente seu representante — lhe respondeu


com palavras sombrias. A disparidade entre sua aparência e sua atitude séria era im-
pressionante de certo modo, pois ele realmente não parecia tão velho.

Alguém no grupo de Elfos Negros que os cercava de repente falou em uma voz alta o
suficiente para alcançar todos.

“Primeiro não deveria agradecer à salvadora da aldeia? E por que está se referindo à
nossa benfeitora sem prestar o devido respeito?”

“Isso mesmo. Deveriam mostrar mais gratidão a ela. Devem estar mordidos de inveja
porque foi uma mulher que nos salvou.”

Algumas das mulheres protestaram.

Da parte de Aura, ela não achou a saudação rude. Mas isso provavelmente se devia às
diferenças entre as pessoas com boa e má vontade.

O representante dos Anciãos mostrou uma carranca de desgosto.

“Hmph. Estávamos prestes a agradecer — Aura Bella Fiora-dono. Estamos extrema-


mente gratos por repelir o Ankyloursuslord e por salvar nossa aldeia.”

“Exatamente. A impaciência dos jovens é problemática. Existe uma ordem para a con-
versa seguir.”

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


198
Quando a anciã que estava ao lado do representante disse isso, uma mulher em algum
lugar murmurou:

“Para começo de conversa essa ordem de conversa está toda errada. Deve ser que o
cérebro deles apodrece com a idade.”

Olhando para o Mestre da Caça, Aura encontrou-o fazendo uma expressão como se es-
tivesse com dor de barriga. Talvez ele tenha sido questionado de qual lado estava. O An-
cião que estava à direita também estava fazendo uma expressão semelhante. Os outros
dois tinham expressões sombrias, a Anciã começou a encarar os Elfos Negros ao redor.

É... Talvez eu precise considerar com calma de qual lado eu vou estar antes de decidir
qualquer coisa.

Normalmente, ambas as facções gostariam de receber um forasteiro poderoso como


Aura. Ela precisava agir da maneira que fosse mais benéfica para Nazarick.

A melhor coisa a se fazer era perguntar a seu mestre, mas também haveria momentos
em que Aura poderia ter que agir de forma independente pois a situação não lhe permi-
tia tais ajudas.

Seria tão mais fácil se o Ainz-sama me desse um sinalzinho pelo menos...

Uma das razões pelas quais Ainz escondera seus objetivos foi porque queria que eles
— os membros da “Ainz Ooal Gown”, incluindo os Guardiões de Andar — amadureces-
sem, pois assim seriam mais autônomos. Ele queria que pensassem e agissem por conta
própria.

Mas isso era uma grande responsabilidade do ponto de vista de Aura.

Mesmo que eu erre, tenho certeza que ele vai dar um jeito de consertar com um de seus
planos incríveis...

Todavia, isso não significava que ela estava livre para errar como bem entendesse.

Agir sem pensar só porque seu mestre limparia a bagunça não seria nada além de des-
lealdade.

Como Guardiã de Andar, como uma das ajudantes nessa missão, Aura precisava pensar
com calma e encontrar o caminho que traria mais benefícios à Nazarick.

Foi por isso que não pôde deixar de ficar irritada com os atritos dos Elfos Negros, pois
mostraram suas picuinhas diante de uma convidada que levava a situação tão a sério.

Contudo, esta também era uma boa oportunidade. Dependendo de como capitalizasse
em cima desse atrito, ela poderia tirar muitas vantagens.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


199
...Era isso que o Ainz-sama tava mirando o tempo todo? Não é possível. Como ele saberia
que a aldeia tá com problemas internos? Enfim, pra seguir suas ordens de criar uma posi-
ção amigável dentro da aldeia, eu deveria...

“Desculpa interromper, mas tão tentando fazer eu me arrepender de ter tido todo esse
trabalho, de ter vindo até aqui salvar vocês? Se não, porque não deixam pra brigar
quando eu for embora? Prefiro que me mostrem algo bom pra eu mostrar quando retor-
nar pro meu país, pra que eu possa dizer que aqui é um lugar legal.”

O silêncio tomou conta, foi como jogar um balde de água fria.

Era de se esperar. Se tivessem o mínimo de vergonha por suas ações agora, certamente
não gostariam que a notícia se espalhasse para outras raças.

Aura sentiu que tinha exagerado um pouco. Mesmo sendo ela quem lutou contra o urso
monstro— o Ankyloursus, ela ainda era uma criança sendo insolente. Isso poderia aca-
bar fazendo as duas facções ficarem contra ela, mas também poderia gerar bons resul-
tados.

Em suma, ela não passava de uma viajante que salvara a aldeia. Caso se esquecessem
disso e a criticassem apesar de eles mesmos darem o vexame que a fez agir, eles só po-
deriam ser considerados pessoas sem caráter.

Era melhor ser inimigo de gente sem caráter do que amigo.

Mesmo que fosse contra as ordens de seu mestre, isso não significava que ela tinha que
ser apreciada por todos os Elfos Negros. Ela ainda não podia ver toda a extensão do plano,
mas era melhor eliminar de uma vez aqueles que não trariam nenhum bem à Nazarick.

E mesmo se uma facção hostil não for com minha cara, outra vai ser. E mesmo que não
for isso, posso fazer de uma terceira facção minha aliada, se necessário.

Mesmo que ela acabasse transformando as duas facções em seus inimigos, ela sabia que
havia pessoas como o Mestre da Caça que não pertencia a nenhuma. Na pior das hipóte-
ses, ela poderia torná-los seus aliados, o único problema seria ter que se desculpar a seu
mestre por deixar as coisas chegarem nesse extremo.

“Grhum. Bem, podemos perguntar o motivo da visita de Aura Bella Fiora-dono à nossa
aldeia?”

“Fiora é meu sobrenome, pode me chamar apenas disso. Não é difícil de adivinhar o
motivo. Eu ouvi rumores sobre Elfos Negros vivendo nessa região. Por isso, vim conhe-
cer pessoas da minha raça. Quase não há Elfos Negros em minha terra natal, entende?
Então, eu gostaria de passar uns dias aqui, isso se permitirem.”

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


200
“Não nos importamos, mas... veio sozinha?”

“Por enquanto.”

“Por enquanto?”

“Sim. Eu sou boa em andar pela floresta, então meus amigos pediram para que eu viesse
na frente. Na verdade, provavelmente devem chegar aqui em... três dias no máximo, eu
acho. Meu irmão e meu tio devem chegar aqui nesse tempo.”

Claro, esse tio de quem ela falou não era outro senão seu mestre, Ainz Ooal Gown.

“Tio?”

“É. Nossos pais desapareceram—”

Aura continuou enquanto se desculpava mentalmente com Bukubukuchagama:

“—E meu tio pegou a gente pra criar.”

Uma outra mentira poderia ser mais fácil de acreditar, mas poderia se tornar proble-
mático mais tarde se eles fossem descobertos. Então ela tentou deixar o mais próximo
possível da realidade.

“Entendi... Desculpe por fazer-lhe se lembrar de tal assunto. Se veio aqui sozinha, é pal-
pável sua força, já que lutou contra um Ankyloursus, um Lord, agora faz sentido.”

Aura ficou surpresa esperando mais palavras de consolo.

Mas ao refletir mais a fundo, concluiu que estavam no Grande Mar de Árvores, um lugar
cheio de perigos. Como não faltavam crianças que perderam os pais, sua história prova-
velmente não era triste o suficiente para merecer mais consolo.

“Bem, não nos importamos se planeja ficar. Podemos emprestar-lhe uma Árvore Élfica,
se quiser. O que acha?”

“Hm. Vou querer sim, muito obrigada.”

“Perfeito. Alguém— Apple. Conduza Fiora-dono a uma Árvore Élfica desocupada. Pode
fazer isso?”

O Mestre da Caça respondeu ao chamarem seu nome.

“É claro. Deixe comigo. Vou levá-la até a melhor Árvore Élfica da aldeia.”

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


201
“Além disso, já que seu honorável tio e irmão se juntarão a nós em três dias, não se
importará se fizermos uma festança para todos, certo?”

“Seria ótimo. Estarei sob seus cuidados.”

“Com isso de lado, Fiora-dono. Se importaria em nos contar as histórias de sua jornada
mais tarde? E também ficaremos felizes se nos contar sobre seu país onde não há Elfos
Negros. Não sabemos absolutamente nada além das bordas dessa floresta. Que fique
claro, não vamos forçá-la se houver memórias dolorosas.”

E agora, o que ela deveria fazer?

Aura começou a pensar.

Não havia benefícios em abrir o jogo como uma idiota. Teve sua utilidade em chamar
atenção mais cedo, mas não tinha sentido agora, pois ela já havia demonstrado sua força.
Dito isso, assim como dar informações impensadas era ruim, ser muito reservada tam-
bém poderia causar problemas. Nesse caso, suas únicas opções eram; mentir e distribuir
a verdade quando fosse conveniente, ou misturar verdade e mentira de acordo...

Eu vou ter que falar isso com o Ainz-sama e o Mare pra não criar contradições quando
eles chegarem, agora não posso ficar totalmente calada sem dizer nada. Se eu disser que é
melhor perguntarem pro Ainz-sama, que só chega mais tarde, eles vão ficar desconfiados
da minha relutância...

Ela não podia deixar que suspeitassem de nada.

Até que pudesse ler o objetivo final de seu mestre, ela deveria continuar trabalhando
para deixar tudo em termos amigáveis.

Hnnm. Não há 「Message」 ainda, então o Ainz-sama tá me dizendo que é pra eu mesma
pensar na resposta, mas que tipo de resposta ele gostaria?

“Fiora-dono, há algum problema?”

Parecia que ela ficou em silêncio por muito tempo. Aura devolveu um sorriso.

“Aah, é que é uma história muito incomum, então tava em dúvida se deveria dizer. Bem,
acho que não tem problema contar um pouco sobre minha casa e as viagens. Tipo, co-
nhecem a Trilha Feérica?”

“A Trilha Feérica? Isso não deveria ser apenas uma lenda?”

Indagou alguém entre os Elfos Negros que os cercavam.

“...Pois é, a Estrada da Lua e a Trilha Feérica existem.”


Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura
202
Apesar de estarem dentro do sexto andar de Nazarick, Aura acrescentou internamente:

“Mas eu não posso falar em detalhes essas coisas com pessoas que não são escolhidas
pelos Feéricos.”

“Huhu. Que pena, então. Fio... digo, tudo bem chamar-lhe de Aura-dono?”

Os olhos da Anciã estavam ardendo de paixão. A resposta já estava decidida. Embora


Aura realmente não quisesse, ela não podia recusar considerando as ordens de seu mes-
tre.

“Eu não me importo.”

“Então, Aura-dono. Tenho pensado nisso desde que se apresentou; seu nome é muito
bonito.”

“Obrigada!”

Respondeu Aura com um sorriso genuíno. Ela estava elogiando o nome dado a ela por
um Ser Supremo. Não havia como Aura recusar tal elogio. No entanto, como entendeu
que era apenas cortesia, ele não rendeu muito o assunto.

A Anciã parecia satisfeita com a resposta. Ela continuou a falar de bom humor.

“Então, Aura-dono também é uma Elfa Negra escolhida pelos Feéricos. Isso é esplên-
dido... A maioria das pessoas nessa aldeia não tem esse privilégio. É por isso que eles não
sabem como nós— os Elfos Negros que viviam no Norte viajamos até aqui.”

...Elfos Negros vieram aqui usando a Trilha Feérica? Ele tem uma habilidade dessas?

A Trilha Feérica dentro de Nazarick não podia teletransportar pessoas a uma distância
tão grande. Eles estavam confundindo ou talvez houvesse uma Trilha Feérica totalmente
diferente.

Aura conseguiu extrair algumas informações, mas ela sentiu que poderia ter cometido
um erro. Pensando bem, ela negou isso mentalmente. Ela habilmente extrairia a infor-
mação. E—

Eu serei elogiada pelo Ainz-sama!

Aura apertou seu punho, cheia de determinação em seu coração.

♦♦♦

Aura foi para suas acomodações, liderada pelo Mestre da Caça.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


203
Ainz, que a estava seguindo esse tempo todo usando 「Perfect Unknowable」, soltou
um suspiro de alívio.

Uma parte do alívio foi devido a não encontrar ninguém forte o suficiente para rivalizar
com ele, já a outra pelo primeiro contato de Aura ter ido tão bem.

Dito isso, ele não podia ter certeza de que não estavam apenas fazendo um misancene
amigável. Um povo ser tão indiferente ao fato de uma criança ter viajado de uma distân-
cia tão longa sozinha só deveria ter um parafuso a menos. Eles obviamente esconderiam
seus verdadeiros sentimentos se não quisessem que ela fosse bem-vinda.

Talvez fosse exagerado de sua parte pensar isso, mas queria ter certeza de que não es-
tavam apenas atuando. Seria simples se pudesse simplesmente sequestrar alguém como
o Elfo de antes e lançar magia de controle mental como 「Charm」. Mas seria um incô-
modo lidar com os efeitos se tivesse que usar 「Control Amnesia」novamente . Seria tão
mais fácil se pudesse simplesmente matá-los.

Agora era preciso investigar os ânimos atuais da aldeia.

Um tópico de conversa completamente novo conhecido como “Aura” não saía da boca
do povo. Não havia dúvida de que os aldeões estavam ansiosos para falar sobre ela com
os outros.

Ainz se perguntou o quão honestos os aldeões seriam quando Aura não estivesse por
perto.

Como ainda usava o 「Perfect Unknowable」, esta era a melhor chance de reunir infor-
mações brutas, livres de qualquer mentira.

Os três Anciãos voltaram para sua árvore e o amontoado de Elfos se dispersara gradu-
almente. A questão era qual Elfo Negro ele deveria seguir e espionar. Ele já notou algu-
mas crianças Elfas Negras da idade de Aura — um palpite baseado em sua estatura —
durante a reunião.

De modo geral, ele queria ir atrás das crianças e ouvir o que tinha a dizer sobre Aura.

Mas ele ouviu uma voz dizendo “aquela garota...” da árvore que estava perto apenas um
momento atrás.

Merda! Eu deveria estar ouvindo a conversa dos anciãos!

Ele deveria bisbilhotar os Anciãos, que eram mais propensos a falar assuntos mais re-
levantes — obviamente, assuntos esses que não tangiam a questão de fazerem os gê-
meos terem novas amizades.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


204
Ainz usou 「Fly」 para flutuar suavemente até a entrada da árvore em que os Anciãos
entraram.

Ele não conseguiu encontrá-los quando espiou dentro. As vozes vinham do topo da es-
cada que se estendia desta sala. Ele podia ouvi-los daqui, mas só para garantir, Ainz en-
trou na árvore e subiu as escadas com 「Fly」.

“E o que aquela garota disse, quanto você acha que é real? Ela insinuou que viajou
usando o poder da Trilha Feérica.”

O mais velho dos Anciãos estava falando de uma maneira ligeiramente diferente de an-
tes, mas isso era de se esperar. Mesmo Ainz mudaria sua maneira de falar dependendo
de com quem ele estava falando. Em contrapartida, as pessoas de quem ele tinha mais
medo eram aquelas que não agiam assim.

Então é assim que o ancião fala com seus amigos.

“Eu acho que pode ser real. Não acha que seria difícil uma criança viajar uma distância
tão grande sem usar a Trilha Feérica?”

“Ainda não podemos ter certeza, só sabemos que ela é forte o suficiente para repelir
aquele Ursuslord, entendeu?”

“Ara, e se aquela arma fez a maior parte do trabalho? Você reparou bem? Aquele arco é
deslumbrante! Não consigo nem imaginar quanto vale! Talvez seja algo que um Feérico
concedeu a ela.”

O arco que Aura usou pertencia a Ainz e não era considerado forte em YGGDRASIL, mas
provavelmente era de primeira classe em termos de ostentação.

Talvez eu deva fazer uma propaganda do Ofício Rúnico aqui também...

Enquanto pensou isso, os Anciãos continuaram com sua conversa:

“Quanto tempo ela passará aqui? Por mim que ela fique para sempre, se possível.”

“Não, duvido muito. É mais provável que ela parta imediatamente novamente depois
de se juntar ao seu honorável tio e irmão. Não somos a única aldeia de Elfos Negros da
floresta. Talvez visitem as outras aldeias para estabelecer contatos amigáveis. Eu sei o
porquê ela veio nos conhecer— conhecer nossa raça, mas não há razão para ela ficar em
nossa aldeia.”

“Tocou em um bom ponto. Devemos perguntar a ela em detalhes o porquê veio conhe-
cer os Elfos Negros. É por isso que devemos tornar a festa de boas-vindas grandiosa.”

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


205
“Aah, concordo totalmente. Temos que dar a maior festa que essa aldeia já viu, para que
fique marcado nela mesmo depois de visitar as outras aldeias. Devemos começar a pre-
parar suprimentos para os próximos três dias.”

“Não acha que vai gerar revolta?”

“De forma alguma. Vamos receber a família da garota que salvou a aldeia, esqueceu?
Até mesmo eles podem entender o básico.”

“Você tem razão... E é bem capaz que consigamos extrair algo sobre a Trilha Feérica de
seu honorável tio e talvez de seu irmão. Talvez falem um pouco caso sintam-se bem-
vindos em nossa aldeia.”

“Sim. Mas minha esperança é que ela permaneça conosco.”

“...Por que está tão obcecado com isso? O fato de ela ter sido escolhida pelos Feéricos é
tão atraente para você?”

“Óbvio. Nós... ou melhor, todos das aldeias ao nosso redor já perderam a maior parte de
sua Bênção Feérica. Mas se a criança ficar aqui...”

“Por acaso não está pensando em dominar as outras aldeias com isso, não é? Já deixo
avisado que sou veementemente contra qualquer plano que esteja tramando, entendeu?”

“Não disse nada que justifique dizer isso. É só que, se pudermos aprender como ela re-
cebeu a Bênção Feérica, talvez possamos recuperar a nossa também.”

Ainz sentiu que os Feéricos sobre os quais eles estavam falando não eram seres raciais,
mas algo mais próximo de espíritos. YGGDRASIL também tinha o conceito da Bênção
Feérica. Talvez o Feérico nativo deste mundo tivesse tais habilidades naturalmente.

Também é possível que eles estivessem construindo profissões semelhantes às da Côrte


Seelie e Côrte Unseelie. Essas profissões tinham uma habilidade especial de teletrans-
porte semelhante à Trilha Feérica, isso se suas lembranças estivessem corretas.

Era para eu ter certeza disso.

Ele também deveria compartilhar essa informação com Aura.

Os Anciãos continuaram a falar enquanto Ainz pulava de pensamentos em pensamen-


tos.

“Se conseguirmos, os jovens também mudarão de opinião.”

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


206
“Enfim, não vamos forçar os convidados a falarem a respeito. Não apenas isso. Seja res-
peitoso com o tio e irmão dela. Eu realmente não quero que fiquemos malfadados e que
nossa opinião pública seja desmoralizada quando retornarem ao seu país.”

Os olhos de Ainz — as órbitas vazias em seu crânio — ficaram mais escuros.

Hummm... Esta aldeia é a escolha errada? Eu realmente não quero deixar Aura ser usada
como uma ferramenta em disputas internas.

Ele nunca deixaria as crianças confiadas a ele por Bukubukuchagama serem feridas.
Ainz se sentiu irritado com a Anciã.

...Eu deveria abrir os olhos dela quanto a esses adultos... só espero que pelo menos as cri-
anças daqui sejam puras.

Depois de ouvir que eles mudaram o assunto para a festa de boas-vindas e confirmar
que não suspeitavam de Aura, Ainz lançou 「Greater Teleportation」. Depois de chegar
ao seu destino, ele dissipou 「Perfect Unknowable」.

“A-Ainz-sama. B-bem-vindo.”

Mare, que estava esperando do lado de fora da Green Secret House, fez uma pequena
reverência.

“Cheguei, Mare. Parece que está tudo bem por aqui.”

Um Eyeball Corpse que ele convocou usando 「Create Undead」 estava flutuando ao
lado de Mare. Ainz procurou a coisa enorme que deveria estar lá, mas não conseguiu
encontrá-la.

“Ah, sim. Então o Fenrir ainda não voltou?”

“S-sim. Ainda não.”

Fenrir foi encarregado de trazer o Ankyloursus que fugiu da aldeia dos Elfos Negros.

Se os Elfos Negros tivessem usado a cabeça, tentariam seguir o rastro do Ankyloursus


para lidar com isso enquanto tivessem o trunfo conhecido como Aura.

Assim, eles teriam que enganar o grupo de caça primeiro se quisessem trazer o
Ankyloursus de volta a essa base temporária.

No entanto, o Ankyloursus era grande e não tinha nenhuma habilidade furtiva, então
seria difícil apagar seu rastro sozinho. Alguém teria que fazê-lo em seu lugar.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


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Eles acharam Fenrir adequado para a tarefa. Fenrir tinha uma habilidade chamada
「Forestwalker」. O plano era fazer Fenrir carregar Ankyloursus até aqui em suas cos-
tas para que não houvesse vestígios.

Claro, Ainz poderia ir até sua localização e teletransportá-lo consigo usando 「Greater
Teleportation」 ou poderia carregá-lo com 「Fly」 como Narberal fez, mas teve que
acompanhar Aura para coletar informações. Caso houvesse uma emergência, ele tam-
bém seria responsável por exterminar o inimigo ou ajudar Aura a escapar, então eles
confiaram essa tarefa a Fenrir.

Parece que minha previsão está errada... Achei que enviariam imediatamente uma equipe
com a Aura para acabar com o Ankyloursus... Talvez eu mesmo devesse buscá-lo se ainda
houver tempo.

“Entendi. Então vamos esperar um pouco. De todo modo, creio que deve estar preocu-
pado, então eu vou dizer... creio que saiba a resposta, já que me viu voltando sozinho.
Você não recebeu nenhuma mensagem da Aura, correto?”

Mare assentiu com a pergunta de Ainz:

“Bem, era isso que eu esperava. Parece que a Aura se infiltrou na aldeia dos Elfos Negros
sem problemas.”

Como os gêmeos tinham um item que permitia a comunicação bidirecional, se Mare não
recebeu nenhum sinal de socorro de Aura, isso significava que ela estava segura. Ainda
assim, era possível que Aura não fosse capaz de responder a uma emergência rapida-
mente e acabasse incapacitada. Por isso não podiam ser descuidados.

Havia também o fato de que Aura mudou para um equipamento inferior para se mistu-
rar melhor com os aldeões. Em seu estado atual ela estava muito mais vulnerável.

O fato de Ainz não enviar um guarda-costas furtivo mesmo sabendo dessa vulnerabili-
dade foi porque em grupo havia optado por não o fazer.

Após uma conversa com Aura e Mare, eles acabaram optando por não implantar ne-
nhum guarda ao redor de Aura. Isso fez Ainz ficar tão ansioso que seu estômago doeria
se ele tivesse um.

Até agora Ainz se arrependia disso, se perguntando se tomaram a decisão errada. Tal-
vez houvesse uma idéia melhor que não cogitaram. Por exemplo, Ainz poderia criar
monstros incorpóreos usando「Create Undead」, talvez eles devessem ter implantado
algo assim para vigiá-la.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


208
Porém, havia duas vantagens em não ter nada guardando Aura. Uma era que eles esta-
riam livres para invocar monstros que fossem mais adequados para lidar com a situação
que pudesse surgir. A outra era—

—Será mais fácil para a Aura ficar um pouco livre de Nazarick se não houver nenhum
subordinado por perto, especialmente guardas, que de certa forma servem a ela. Aí ela
pode interagir com os Elfos Negros de uma maneira mais descontraída, sem se preocupar
em ser julgada.

—Talvez Aura pudesse fazer amigos mais facilmente.

Mas, no momento, uma enorme pedra no caminho surgiu, o que impedia de Aura fazer
amigos.

Ou seja, Aura acabou se tornando algo como uma espécie de Messias da aldeia.

Ele não achava que o plano O Ogro Vermelho Que Chorou dera errado. Ele simples-
mente não tinha nenhum outro método que pudesse fazer Aura se infiltrar na aldeia de
forma rápida e eficiente. Ainda assim, a situação atual tinha ido um pouco longe demais.

Caso Ainz tivesse conhecido seus amigos da “Ainz Ooal Gown” primeiro no mundo real
— onde havia muita desigualdade — e não no jogo, talvez nunca fossem amigos. Da
mesma forma, Aura, como a salvadora da aldeia, não podia interagir com as crianças
comuns da aldeia em seu nível.

Ainz teve que nivelá-la para o mesmo nível deles. Diminuí-la, para que se tornasse ape-
nas uma criança normal.

Ainz olhou para Mare.

Era injusto que Aura tivesse a chance de fazer amigos enquanto Mare não. Ele queria
dar uma chance para Mare também.

Como ambos foram confiados a ele por Bukubukuchagama. Era seu dever tratá-los
igualmente.

Claro, cada um era único a seu modo, mas ambos deveriam ter oportunidades iguais.

Pensando aqui, é bem absurdo eu, que não tenho experiência alguma com filhos, pensar
essas coisas. Quem eu devo perguntar a respeito...?

Ainz de repente lembrou de Nfirea.

Nada mal. Ele é um bom pai. É só quê—

Havia um problema com Mare. E não era sobre sua personalidade tímida.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


209
O problema foi Bukubukuchagama-san fazendo do Mare um crossdresser para combinar
com seus ‘gostos’.

Nessa jornada, ele havia notado que a maioria dos Elfos Negros das aldeias usavam cal-
ças compridas. Havia também uns que usavam saias compridas, mas sempre eram mu-
lheres. Além disso, ele teve a impressão de ainda usarem calças compridas por baixo
daquelas saias. Obviamente ele não podia afirmar, já que não ficara espiando por de-
baixo de suas saias. Talvez fossem meias-calças, não calças.

Aura explicou que expor a pele era uma má idéia para quem vivia na floresta, então
talvez seja por isso que estavam vestindo calças por baixo.

「Perfect Unknowable」 é dissipado quando ataco alguém. Digo, para ser mais preciso, é
quando faço algo que pode ser considerado prejudicial. Nesse caso... dar uma levantadinha
na saia e espiar por baixo seria considerado um ataque?

Fôra a primeira vez que tal dúvida veio à mente de Ainz.

Ainz deu uma olhadela no rosto de Mare.

“Ah, Eh? Q-qual é problema?”

Desde quando eu sou besta assim? Por que estou pensando uma coisa dessas?

O lado não degenerado de Ainz— seu lado normal o repreendeu.

Ele sabia que não poderia fazer algo assim, mas sua curiosidade sobre uma área inex-
plorada da magia o estimulava fortemente.

—Chega! Onde eu estou com a cabeça!? Querer espiar por baixo da saia do Mare já é algo
além do bom senso da curiosidade!

Embora Mare provavelmente permitiria se o perguntasse—

—Por que caralhos estou considerando isso!?

“O-o que aconteceu?”

“—Nada, estava pensando coisas sem sentido... É sobre algo que quero testar no futuro,
mas não é uma questão para o presente e procurarei alguém onde eu possa pôr em prá-
tica.”

Ainz não sentiu a necessidade de explicar mais para o confuso Mare.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


210
De todo modo, Albedo era a melhor escolha para experimentar — pelo menos a escolha
mais aceitável — em comparação a Mare.

Outra voz dentro dele protestou que Mare era diferente de Albedo. Ainz limpou isso de
sua mente junto de sua curiosidade.

Enfim, o Mare provavelmente pode sofrer preconceito pelo seu estilo de vestir. Tenho de
evitar isso a todo custo... por que ele ainda se veste assim... Não, não, não é isso. Nem era
para eu pensar isso... afinal foi decisão da Chagama-san, é muito errado eu pedir que ele
mude. Mas... se for só temporário, haverá problema? Acho que não tem problemas parar
com o crossdressing enquanto estiver na aldeia com a Aura... mas...

Ainz nunca esperou que ele fosse colocado em uma sinuca de bico por causa dos gostos
de sua velha amiga.

“Assim, Mare. Preciso conversar uma coisa com você...”

“Sim!”

Mare olhou para ele com uma expressão séria.

...Chagama-san. Estou cometendo um erro?

Uma bolha rosa surgiu em sua mente. Ele ficou um pouco irritado, já que parecia que a
forma glutinosa estava lhe dando um “joinha” por algum motivo.

“P-perdão eu...”

“...Sinto muito, Mare. Eu estava devaneando...”

Ainz soltou um suspiro de seus pulmões inexistentes e se virou para olhar diretamente
para Mare:

“Mare. Eu quero que você pare de usar roupas femininas por um tempo.”

Ele foi direto ao ponto.

Ainz continuou antes que Mare pudesse mudar sua expressão:

“Ouça, como disse antes, estou planejando levá-lo para a aldeia para atuar como apoio
de Aura, lembra? Então, as roupas que você veste são muito chamativas para uma infil-
tração, espero que possa trocar de roupa para esta missão.”

Ainz falou sem parar em um ritmo apressado.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


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Mare continuou a olhar para Ainz. Talvez estivesse pensando ser algo único para ele, já
que não havia comentado com Aura.

Após o jorro de palavras, Ainz se calou.

Nenhuma desculpa viável veio à sua mente. Na verdade, era ilógico considerar um ho-
mem se vestindo como uma mulher estranho, mas não vice-versa. Será que Bukubuku-
chagama pensou tão à frente—

Não, é o gosto dela— aliás, é mais o fetiche dela. Afinal é irmã de quem, né? Do Peroron-
san, afinal...

Sua única opção era enganar Mare. Felizmente, Aura também mudou a maioria de seus
equipamentos e armas porque o equipamento que eles geralmente usam em Nazarick
era muito impressionante. Ele nunca pensou que isso seria útil em um momento como
esse.

“Eu também pedi à Aura para mudar um pouco seu equipamento, lembra? Seria ruim
se eles suspeitassem de nosso equipamento ostensivo. O que me diz?”

Eu sou muito dissimulado... Joguei tudo nas costas do Mare para ele decidir.

“E-entendido. Pode contar comigo, Ainz-sama.”

“Não vê problema?”

“N-não. Se for para i-infiltração, acho que a Bukubukuchagama-sama entenderia.”

“Co-correto. Uhum. Ela certamente entenderia o motivo.”

Ainz sentiu os sentimentos de Mare por Bukubukuchagama através de sua devoção ao


traje, ele tentou pensar como sua velha amiga estaria reagindo agora.

É bem capaz que ela desse uma crise e começasse a se desculpar com o Mare... Ou, a reação
oposta também é totalmente provável, né...?

Com isso, ele podia considerar o plano de fazer amigos para Aura e Mare ter prosse-
guido para a etapa final.

“Enfim, vamos completar nossos preparativos para nos juntarmos à Aura.”

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


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OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1
213
Parte 3

Aura manejava um arco em um lugar longe da aldeia. Era feito de metal e era muito
mais corpulento do que os que os Elfos Negros normalmente usavam.

Seu comprimento superava a altura de Aura.

Ela puxou e soltou a corda repetidamente, fazendo o arco guinchar. Esse grande arco,
que originalmente pertencia à aldeia, era tão infame que mesmo os mais fortes não eram
capazes de puxar. Os Elfos Negros inicialmente arregalaram os olhos quando viram uma
criança usá-lo sem esforço, mas também imediatamente fizeram semblantes de acordo
com o fato.

“A forma como armazenaram ele deixou muito a desejar. Tá fazendo esses ruídos todos
porque tem partes que desgastam com o tempo, sabiam? Será por isso que ninguém foi
capaz de usar? Hmm, parece instável. Fiquei com dúvida se a flecha realmente vai pra
onde eu a miro...”
[ A l c e G i g a n cornos]
Seu alvo atual era chamado de ‘Gigahorn Elk ’, uma fera mágica semelhante a um alce.
Apesar de seus enormes chifres, ele podia se mover graciosamente dentro da floresta
usando 「Forestwalker」. Essa habilidade tornava suas investidas extremamente pode-
rosas.

Aura provavelmente estaria na típica imagem de uma caçadora estilosa se ficasse pa-
rada enquanto rastreava sua presa com um olhar afiado, mas Ainz não podia ver ne-
nhuma tensão em seu perfil — ela estava apenas sendo ela mesma. Ela estava indiferente,
como se estivesse prestes a catar uma pedra e arremessá-la no lago.

Em contraste, os outros três guardas da aldeia — dois homens e uma mulher — esta-
vam em uma posição completamente diferente. Eles estavam se escondendo dos senti-
dos da presa, seus rostos eram a epítome da seriedade. Ainz não sabia como faziam, pois
também estavam apagando sua presença ao limpar suas mentes de todos os pensamen-
tos.

Embora com arcos em mãos, esses Elfos Negros ainda precisavam armá-los.

Normalmente, eles atirariam todos ao mesmo tempo para evitar que a presa escapasse
e também para reduzir as chances de um contra-ataque catastrófico, mas não estavam
fazendo porque não queriam ficar no caminho de Aura.

O fato de todos ficarem no chão dessa vez mostrou suas intenções.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


214
Normalmente, os Elfos Negros se posicionavam nas árvores mais seguras, temendo
contra-ataques das presas. Eles então esperariam pelo tipo de presa com a qual pode-
riam lidar. Caça ao estilo do mateiro, por assim dizer. O fato de estarem no chão, apesar
disso, demonstrou sua confiança em Aura.

E o que Ainz estava fazendo como o mais inapto em furtividade? Estava novamente
usando 「Perfect Unknowable」. Já usara tanto a magia desde que veio nessa jornada
que começou a se sentir desconfortável, imaginando se estava confiando demais nisso.
De qualquer forma, depois que esconder sua presença, nem a presa nem os Elfos Negros
pareciam tê-lo notado. Ele os seguiu durante toda essa caçada, mas Aura foi a única que
o percebeu.

Aura lançou a flecha.

Mais ou menos ao mesmo tempo — ou talvez milissegundos depois, no piscar de um


olho — o Gigahorn Elk moveu seu pescoço como se estivesse tentando observar seus
arredores.

Provavelmente notou o sibilar do arco ao ecoar pela floresta.

Ainz pensou que isso não deveria ter sido possível, pois o som fôra extremamente baixo.
Além disso, o alvo estava tão longe que pela lógica não poderia ouvi-lo, então por que o
Gigahorn Elk reagiu?

Certamente foi apenas uma coincidência, ou talvez algum tipo de habilidade especial.
Se não fosse nada disso, então talvez — embora fosse apenas uma conjectura de Ainz —
ele sentiu sobrenaturalmente a eminência de um ataque.

Contudo, apesar de toda a sua intuição, a flecha conseguiu perfurar a cabeça do Giga-
horn Elk como se fosse nada, seu destino já estava selado antes mesmo do disparo.

Mesmo com a flecha cravada em sua cabeça, seu corpo se contorceu, mas não desmoro-
nou.

Não importava se era uma fera mágica ou uma mera fera, animais em geral não tinham
muito HP.

Teria sido um ataque fatal se Aura tivesse equipado seu arco de YGGDRASIL, mas pare-
cia que esse arco emprestado da aldeia não era poderoso o bastante.

Isso mostra claramente que o equipamento e as armas afetam muito a força de alguém.
Bem, parece que a Aura não usou nenhuma habilidade especial desta vez, talvez os resul-
tados mudassem se ela tivesse usado.

A fera tentou saltar para longe mesmo ferida, era melhor fugir do que lutar.

OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1


215
Aura disparou outra flecha sem qualquer hesitação, como se já tivesse previsto a reação
do alce.

Perfurado mais uma vez em sua cabeça, o Gigahorn Elk finalmente caiu no chão.

“Nossa, é assim que se faz.”

“Como esperado da Fiora-sama.”

Em contraste com a calma de Aura, o Elfo Negro mais próximo levantou a voz, cheio de
admiração apaixonada. Foram Plum Ganen, o Vice-Mestre da Caça, e o líder do grupo de
caça desta vez.

Ainz não sentiu fingimento e até o considerou um forte aliado para Aura em certo sen-
tido. No entanto, algo em sua atitude trazia desgosto para Ainz.

Sua atitude era muito positivista.

Seus olhos brilhavam com uma mistura de respeito, adoração e paixão — assim como
aquela garota de olhos perversos do Reino Sacro quando a ressuscitou. Com toda hones-
tidade, ele não deveria olhar para uma criança desse modo.

Esta foi a segunda vez que ela caçou com esse grupo e não foi assim da primeira vez.

Era verdade que Aura lutou contra o Ankyloursus, mas Plum Ganen só considerou isso
como uma medida de sua proeza de batalha e não seu talento na caça. Na verdade, en-
quanto sob 「Perfect Unknowable」, Ainz o ouviu dizendo que ele propôs a caçada por-
que queriam estimar sua habilidade de ranger.

Mas — a maneira como Aura (sem esforço) atravessou a floresta deu arrepios a Plum,
sua capacidade furtiva o deslumbrou, e quando viu sua habilidade com o arco, seus olhos
começaram a brilhar com admiração. Foi um pouco cômico vê-lo parado boquiaberto. E
assim, ele acabou virando o fã número um da Aura em toda a aldeia.

Todavia, ele era apenas um obstáculo para o plano de Ainz.

Enquanto alguém assim existisse, seria difícil fazer que Aura fosse vista apenas como
uma criança normal.

Poderia ser facilmente resolvido se isso fosse apenas ele, mas o fato de não ser o caso o
incomodou ainda mais.

Matá-los é apenas em último caso...

“Ei, gente! Podem me elogiar mais tarde, não? Andem, vamos tirar ele daqui!”

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


216
“Sim! Agora mesmo, Fiora-sama!! Vamos, pessoal!”

Os dois Elfos Negros restantes, que encaravam Plum de forma estranha, também come-
çaram a agir. Eles também admiravam Aura, mas foram capazes de permanecer com a
cabeça fria depois de ver o exagero de Plum.

As pernas do alce foram amarradas com uma corda, e a outra ponta da corda pendia de
um galho. Eles então puxaram a corda para tentar pendurar a carcaça de cabeça para
baixo, mas o imenso corpo do alce se provou ser difícil para os três.

Aura alcançou a corda e puxou-a com um leve “Hoy!”. O cadáver que se mostrou difícil
para os três Elfos foi facilmente erguido.

“Como esperado de Fiora-sama!”

Aura franziu um pouco a testa com o elogio de Plum.

Ainz podia entender. E assentiu enquanto os rostos dos habitantes de Nazarick passa-
vam por sua mente.

Ser elogiado pelas coisas erradas trazia mal-estar, mas receber elogios exagerados por
coisas simples também não era nada bom. Pois abria margem de interpretação para en-
tender que estavam sendo ridicularizados.

Enquanto Ainz se perguntava se era sua falta de autoconfiança que o fazia se sentir as-
sim, o procedimento continuou. Um Elfo Negro colocou a mão sobre a presa, cobrindo a
carcaça com algum tipo de névoa branca. Parecia uma habilidade especial que congelava
o corpo da presa. Ainz não conhecia nada do tipo na lista das habilidades de ranger, en-
tão era algo de origem druídica ou alguma profissão que este Elfo Negro tinha.

Depois disso, eles sangraram o corpo e coletaram o líquido em uma tigela embaixo. Ele
ouviu que faziam isso para evitar que os germes no sangue se multiplicassem. Talvez o
poder do Elfo Negro mencionado acima não fosse suficiente para congelar o corpo in-
teiro.

O sangue coletado na tigela também poderia ser usado para cozinhar.

Durante sua primeira caçada, Ainz ouviu que eles raramente levavam o sangue consigo
por medo de atrair predadores no caminho.

Eles cavaram um buraco e jogaram a cabeça e as vísceras nele.

Normalmente levariam alguns dos miúdos, mas a carcaça do alce era grande demais
para levarem tudo.

Eles pararam de preparar a carcaça depois disso.

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O costume dos Elfos Negros era realizar esfolamento somente depois de trazer a presa
de volta para a aldeia.

Embora Ainz chamasse isso de costume dos Elfos Negros como um exímio conhecedor
de caça, se alguém lhe perguntasse “Qual é o costume normal, então?”, ele se veria obri-
gado a responder que na verdade não sabia nada sobre caça. Talvez o costume dos Elfos
Negros fosse o mesmo que o comum.

Os Elfos Negros baixaram a carcaça no chão e a amarraram a um bastão. Com um “Ip-


hupp!” eles o levantaram. Parecia que achavam muito pesado. Embora Ainz não pudesse
ter certeza, parecia que o ditado “vergonha é roubar e não poder carregar” se provou
verdade.

Aura não os estava ajudando nessa tarefa, pois foi encarregada da tarefa de guardá-los.

O grupo começou sua jornada de volta para a aldeia.

Geralmente, uma caçada bem-sucedida levava muito tempo. No entanto, graças à Aura,
essa caçada fôra concluída relativamente rápido, resultando em semblantes alegres nos
rostos dos Elfos Negros. Embora vivessem na floresta, deixar a segurança da aldeia os
esgotava mentalmente.

“—Fiora-sama, isso foi totalmente incrível. Foi uma ótima arqueira hoje.”

Plum foi o primeiro a começar a falar depois que começaram a andar. Não era bajulação,
parecia mais ser seus sentimentos genuínos.

“Acha mesmo? Bem, talvez seja incrível pra vocês... mas por aí sempre há alguém me-
lhor. Como direi... um parente meu...? Nn— acho que é rude falar assim. Enfim, há alguém
mais incrível do que eu. Ah! E não tô falando do meu tio.”

“...Ouvi dizer que seu honorável tio e seu irmão chegarão à aldeia hoje ou amanhã, eles
são rangers tão bons assim?”

“Não, é que eles não são rangers.”

“Sério? Eu pensei que eles seriam rangers habilidosos, considerando que ambos estão
atravessando a floresta sozinhos... Nesse caso, o que eles fazem?”

“...Não vou mentir, eles são habilidosos. Quanto ao que são bons, isso você verá logo
logo. Vai valer a pena esperar. Mas mudando de assunto, vou voltar a ficar de guarda, tá
bom? Eu posso escapar sozinha se acontecer algo, mas tô pensando em vocês, notar uma
ameaça um segundo antes pode ser a diferença entre viver e morrer. Tô errada?”

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


218
Ela não tinha certeza sobre o quanto poderia falar sobre Ainz e Mare, então usou uma
boa desculpa para cortá-lo. A questão agora era como o outro lado encarava isso.

Qualquer um levaria na esportiva se a pessoa com quem estava tendo uma conversa
agradável de repente o cortasse, mesmo que o motivo fizesse sentido? A pessoa não se
sentiria magoada dependendo de seu caráter?

Além de fanático, ele é alguém importante na aldeia. É melhor eu preparar contramedidas


no caso dele começar a odiar à Aura e espalhar rumores ruins dela...

Ainz pensou que uma queda no status de Aura na aldeia não era necessariamente uma
coisa ruim no momento, mas seria problemático caso se deteriorasse muito.

Mas as preocupações de Ainz se provaram inúteis momentos depois.

“Por favor, me perdoe! Nem cheguei a pensar nisso!”

Plum curvou-se com uma força tremenda. Se ele não estivesse carregando a carcaça,
provavelmente teria se prostrado em dogeza — ou alguma forma élfica equivalente de
se desculpar. Esse tipo de resposta excessiva era o motivo pelo qual ele era considerado
um fanático.

“Aah— bem, você é bem esperto, tenho certeza que teria notado sem eu falar, né? Acho
que deve ter se distraído porque eu vim, mas pra mim só prova quanto você confia em
mim, não é? Tô feliz, de verdade, mas quero que você preste um pouco mais de atenção,
tem coisas que tem hora e lugar.”

Nossa— Ela é boa em consolar alguém de uma posição superior... Talvez essa seja sua
experiência como Guardiã de Andar dando as caras. Se for um sinal de amadurecimento
dela como NPC eu fico feliz... Ou talvez seja algo que a Bukubukuchagama-san implantou
nela? De todo modo só tenho motivos para comemorar, pois é um sinal de que Chagama-
san vive através da Aura.

Imaginando uma bolha rosa atrás de Aura — uma cena não tão agradável de se imaginar
—, o rosto imóvel de Ainz sorriu.

O grupo ouviu as palavras de Aura e continuou sua jornada de volta sem perturbá-la. E
assim, chegaram à aldeia sem nenhum contratempo. Depois que confirmou que eles che-
garam à aldeia com segurança, Plum bradou:

“Alegrem-se! Todos! Fiora-sama também conseguiu um dos grandes desta vez.”

Ainz estalou a língua.

Ele esperava que isso acontecesse, mas logo percebeu que não podia fazer nada a res-
peito. Era natural que os caçadores se sentissem orgulhosos por algo que poderia lhes

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219
custar a vida, assim para aqueles que sabiam da dificuldade de fazê-lo. Provavelmente
Plum fez isso especialmente porque Aura era uma forasteira e isso melhoraria sua posi-
ção.

Mas Ainz não desejava tudo vindo com tamanha facilidade.

Os transeuntes nas passarelas que atravessam as Árvores Élficas se reuniram, olhando


admirados para a enorme carcaça.

“Beleza, eu vou voltar.”

“Claro! Pode deixar que cuidaremos do restante, Fiora-sama!!”

Deixando o trabalho para Plum, Aura foi para a casa que a aldeia lhe emprestou.

Ele queria ir atrás de Aura, que estava voltando sozinha, mas agora não era um bom
momento. Ele precisava saber como a posição de Aura estava mudando dentro da aldeia.

Aura continuou a andar, apenas virando a cabeça para olhar para o Ainz, ainda flutu-
ando no ar.

Ela parece tão solitária...

Talvez fosse apenas sentimentalismo de Ainz falando mais alto, mas foi o que sua ex-
pressão corporal deu a entender.

Nesta aldeia, havia pessoas que olhavam para Aura com admiração e havia pessoas que
a respeitavam, mas não havia quem se aproximou dela como amiga.

Ela não estava sendo vista como uma garota viajando, mas como uma existência supe-
rior a quem deveriam se curvar em respeito. Assim como Ainz tinha pensado antes, isso
não era uma coisa ruim em si.

Mas era ruim para os objetivos de Ainz.

Eu tenho que transformar a Aura de herói da aldeia em apenas uma criança normal... mas
tudo que eu penso parece que não vai dar em nada. Se eu tentar rebaixar a reputação dela
antes que eu chegue na aldeia, eu serei nada menos que um pária... bem, um beco sem saída.
Depois de ser ajudada por ela, a aldeia obviamente valorizará mais a Aura do que o parente
que chegou depois.

Ainz permaneceu parado enquanto os outros Elfos Negros começaram a se reunir um


por um. Naturalmente, também havia crianças da altura de Aura no grupo.

A carcaça estava sendo dividida e entregue aos aldeões para cozinhar.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


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“E não se esqueçam de agradecer à Fiora-sama pela caça!”

Toda vez que um Elfo Negro recebia sua porção, eles falavam palavras de gratidão com
rostos sorridentes.

Mesmo caçadores habilidosos como Elfos Negros não tinham sucesso em todas as caça-
das. Parece que conseguir uma carne tão boa era uma ocasião rara. Ainz ouviu da última
vez que os espiou, ou talvez tenha sido antes disso.

A enorme pilha de carne foi sendo aos poucos repartida, tornando-se cada vez menor.
O fanático, Plum, continuou a dizer isso toda vez que entregava uma porção a alguém:
“Seja grato à Fiora-sama”.

Mesmo sendo algo chato, ele não tinha queixas sobre o ato em si.

Era verdade que Aura caçara a presa, e seria mais ofensivo alguém não estar grato, mas
mesmo assim—

“Como esperado da Fiora-sama. Ela deveria ser a única a liderar nossa aldeia.”

“Ah, concordo demais. Ela não apenas afastou o Ursuslord, mas também é uma caçadora
de primeira categoria. A aldeia estaria em boas mãos se ela ficasse aqui, mas...”

“Assino embaixo, com certeza!”

Cinco Elfos Negros adultos se reuniram em volta de Plum e continuaram coisas simila-
res.

Seus elogios à Aura aumentaram gradativamente. O fato de as crianças que se reuniram


também estarem ouvindo era extremamente problemático.

“...Mas a Fiora-chan ainda é uma criança, esqueceu?”

Um Elfo Negro, que cheirava a ervas, disse de repente.

As expressões da reunião fanática mudaram imediatamente.

“Tá falando igual àqueles Anciãos... igual àqueles fedorentos!”

Foi uma exclamação exaltada.

Plum, que estava sorrindo alguns momentos antes, agora parecia completamente dife-
rente, respirando descontroladamente.

“Idade é apenas um número. Apenas ser mais velho é algo bom!? Não! Certamente, há
pessoas que acumularam experiência e se tornaram habilidosas com a idade, mas isso

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não é algo que vem naturalmente ao envelhecer. A idade não pode ser o padrão absoluto
com o qual medimos tudo — mas, abra os olhos! Apenas a habilidade pode ser absoluta!!”

Ainz concordou.

Ele viu isso muitas vezes em seu local de trabalho. Haviam aqueles que eram bons em
algo nisso desde o início, enquanto outros não eram e nunca se tornariam bons, não im-
portando quantos anos se passassem.

“Ela é talentosa! Esse é o único poder que pode proteger a maioria das pessoas nesse
lugar perigoso! Somente a habilidade é absoluta! Mesmo que seja tão jovem!”

“Mas... a Fiora-chan não é um pouco jovem demais?”

Outro fanático respondeu friamente à mulher que se opôs: “Não é assim que pensam os
Anciãos? Então você é igual a eles, hein?”

“—Haa?”

A mulher olhou para o Elfo Negro com hostilidade. Ainz podia ver claramente que os
Anciãos eram muito odiados.

Fala sério, não vi eles fazendo nada que pudesse gerar tanto ódio assim...

Ainz não entendia o porquê os mais jovens tinham uma opinião tão negativa sobre eles,
mas fazia apenas dois dias desde que começou a observá-los. E não é como se estivesse
observando tudo e todos, então algo pode ter passado despercebido.

“Para rejeitar a ideologia dos Anciãos — você que prioriza a idade — não deveríamos,
em vez disso, ceder aos Elfos Negros talentosos como a Fiora-sama e até possivelmente
fazê-la nos liderar?”

Pare, só pare com isso.

Ainz fez uma careta.

Não foi por isso que ele enviou Aura para cá.

Se Aura ouvisse isso e as coisas saíssem do controle, ela poderia simplesmente concor-
dar e passar a liderá-los. Até poderia ser uma ótima ideia para a expansão de Nazarick,
mas não era isso que Ainz desejava.

Ainz voltou seu olhar para as crianças assistindo a briga dos adultos.

Ao contrário de suas expressões alegres quando receberam a comida, agora seus sem-
blantes estavam nublados de desconforto.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


222
Aí que está o principal problema...

Ainz queria fazer amigos para os gêmeos.

Ao contrário das crianças no mundo de Suzuki Satoru, as crianças desse mundo — como
Nemu — podiam se aproximar de Aura com inocência e curiosidade. No entanto, pelo
que Ainz testemunhou e pelo que Aura disse, ainda não havia ninguém assim por aqui.

Talvez estejam acostumados a suprimir sua curiosidade, pois crescer em um lugar pe-
rigoso como a Grande Floresta exigia tal rigor. No entanto, o mais provável era que sen-
tiram a atitude dos adultos em relação à Aura e formaram uma imagem dela como al-
guém que vivia em um mundo totalmente diferente deles. Aos seus olhos, Aura era uma
criança que ao mesmo tempo não era uma criança.

Ainz chegou a pensar se deveria intervir diretamente e fazer a opinião da aldeia sobre
Aura cair apenas para que as crianças pudessem se aproximar dela.

É dificil ter intimidade... digo, criar laços de amizade com alguém profundamente respei-
tado pelos adultos... Por exemplo, mesmo que o objeto de respeito não seja muito diferente
de sua idade... ou talvez seja ainda mais estranho para elas porque se trata de alguém da
mesma idade? Pelo menos nas conversas que escutei, não ouvi os pais dizendo aos filhos
para não se aproximarem da Aura ou ordenando que a tratassem com todo o respeito. Mas
isso é uma coisa boa ou ruim?

“Haa...” Ainz acabou soltando um suspiro.

Não havia como fazerem amigos se isso continuasse.

Nesse caso... devo entrar em cena e pedir diretamente que se tornem amigos? O problema
é que o resultado é incerto... Ou talvez eu deva apenas esperar que a situação mude. Será
que todo pai tem que passar por essa labuta...?

Ponderando sobre a mesma pergunta de antes, Ainz ativou 「Greater Teleportation」,


as palavras finais que ouviu antes de se teletransportar foram:

“—Além do mais, de onde tirou essa de chamá-la de ‘Fiora-chan’? Deve ser Fiora-sama!”

Parte 4

Um sonho.
Estou sonhando.
Eu sei que adormeci.

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Como se chamava?
Sim, um sonho lúcido.
Um sonho onde está ciente do que acontece.
Eu sou uma criança no sonho.
E... fui jogada longe.
Não dói. Sim. Não dói porque isso é um sonho.
Ainda assim, dói.
Meu rosto lateja de dor. Provavelmente tenho um corte na boca por causa do impacto.
Sinto gosto de sangue.
Eu posso prová-lo mesmo que seja um sonho.
Estranho.
Isso é realmente um sonho?
Uma mão alcança meu rosto.
Uma mãozinha toda suja.
Então é um sonho, afinal.
Minhas mãos não são mais tão pequenas.
Estou aliviada.
É apenas um sonho.
Minha visão se moveu.
—Não! Eu não quero levantar. No entanto, me levantei.
Levantei-me novamente, pegando o porrete que deixei cair.
A mãe está de pé diante de mim.
Ela é inexpressiva. É como se estivesse usando uma máscara. Ela olha para mim com fri-
eza.
Ela segura um porrete na mão, para me bater até que eu não possa mais ficar de pé.
E então ela golpeou.
Eu posso aguentar agora, mas era impossível para mim naquele momento.
Assim que a dor tomou conta, fui jogada longe.
Mais dor percorreu meu corpo depois que caí.
Minha visão turvou.
São as lágrimas.
De repente, me perguntei quanto tempo fazia desde a última vez que chorei.
Meu olhar se moveu mais uma vez.
A mãe está dizendo alguma coisa.
Olho para o porrete no chão que em algum momento caiu de minhas mãos.
Minha mãe provavelmente me disse para ficar de pé.
Mas não posso.
É doloroso e difícil.
Eu sei que respondi algo assim enquanto chorava.
A expressão da mãe não mudou, ela lentamente ergueu o porrete e assumiu uma pos-
tura, como se quisesse que eu a visse fazendo isso.
Eu ouço uma voz.
Movo meus olhos e vejo uma mulher gorda correndo em nossa direção.
Ela é alguém que ajudava com nosso trabalho doméstico. Ela fazia uma comida delici-
osa.
É a tia Nazaire.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


224
Suas omeletes são excelentes. Eram minhas favoritas. A comida dela era o sabor das mi-
nhas memórias e também o padrão pelo qual eu julgo outras comidas.
Infelizmente, ela já faleceu. Esse sonho vai continuar eu querendo ou não, mas prefiro
sonhar em comer a comida dela em vez de treinar com minha mãe.
Mais tarde, aprendi que as mães devem cozinhar, mas não tenho nenhuma lembrança de
comer a comida da minha mãe. Mas eu me lembro de alguém dizendo que ela provavel-
mente estava ocupada com o meu treinamento.
Eu aceitei essa explicação na época porque eu era ignorante.
Mas agora, depois de me tornar adulta, posso dizer com certeza que estava errado.
Eu nem tenho muitas lembranças de comer junto com minha mãe. Na maioria das mi-
nhas memórias eu como sozinha.

“Bom dia...”

A cor voltou ao mundo. Eu vou acordar? Deviam ter me acordado mais cedo.
Não é como se eu tivesse esquecido.
Sim, eu posso entender.
Minha mãe me odiava.
Ela provavelmente achou a criança nascida de seu estupro extremamente repulsiva.
Por isso, minha mãe nunca comemorou meu aniversário.
Nunca recebi nenhuma palavra de encorajamento dela.
Como “obrigado”.
Ou “parabéns”.
Ou “Que ótimo, não acha!”.
Nem mesmo palavras tão comuns.
A propósito — minha mãe alguma vez me chamou pelo meu nome?
Quem me deu esse nome?
Mas, se ela realmente me odiava tanto, ela deveria ter me matado.
Ela poderia facilmente ter feito isso.
Mas eu não fui morta.
Então, é lógico que eu não era odiada.
Talvez não seja nada mais do que uma pífia esperança minha.

“P-por favor, espere, Faine-sama. Ela ainda é uma criança. Não é bom continuar seu trei-
namento neste estado.”

Tia Nazaire não recua mesmo depois de ser encarada por minha mãe.
Pensando bem, tia Nazaire também não era uma pessoa comum.

“E-ela precisará descansar em breve. Vou preparar bebidas...”

“Que seja.”

“Vou cuidar de suas feridas enquanto Faine-sama está tomando uma bebida, então...”

“Ela está bem.”

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Todas as minhas feridas foram curadas por um aceno da mão de minha mãe.
A dor também passou.

“Você está bem, não está?”

A mãe aproximou o rosto.


Seus olhos eram como os de uma boneca, desprovidos de qualquer expressão. Repulsivo.

“...Sim... estou...”

“Ótimo.”

A mãe virou-se para a tia Nazaire:

“...Satisfeita agora? Ela está bem, e ela já é forte o suficiente para resistir à ressurreição
mesmo. Entende? Não há problema nenhum.”

“...Sim. Entendi—”

“—Bom dia... Com licença, Morte-sama está aí?”

Ela ouviu a voz baixa e tímida de uma mulher. Esta não era uma voz dentro de seu sonho.
Veio da realidade.

Sua consciência emergiu à superfície.

Ela podia ver o teto. Este era seu próprio quarto. Havia mais alguém presente além dela.
Talvez fosse porque não estava totalmente acordada, mas ela não conseguia sentir ne-
nhuma hostilidade da pessoa.

“Se eu vou sonhar de qualquer jeito, pelo menos me deixe sonhar com algo mágico...”

Sussurrou. Ela suspirou e esfregou os olhos. Sentindo algo úmido em seus dedos, ela
percebeu que chorou em algum momento:

“—Eu acordei agora. Pode esperar um minuto?”

“Hieee! Por favor, não se preocupe com sua humilde serva! Vou esperar o tempo que
for preciso, então, fique à vontade!”

Ela não disse nada para ameaçar a mulher, mas a mesma ficara extremamente assus-
tada. Sentindo vontade de suspirar novamente, Morte Certa se levantou da cama e vestiu
uma camisola pendurada em uma cadeira próxima.

Ela sabia quem vinha ao seu quarto pela voz.

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


226
Morte Certa sentiu que não precisava perder tempo se vestindo, pois a visitante era
uma colega do mesmo sexo, e seria rude fazê-la esperar no quarto ao lado até que esti-
vesse totalmente vestida.

Quando ela abriu a porta do quarto adjunto e entrou, ela encontrou a visitante atônita,
como se não soubesse como reagir.

“—Desculpe por fazer você esperar. Acho melhor se sentar, não?”

“Não, não, acabei de chegar, hehehe. Desculpe por perturbar seu descanso, Morte Certa-
sama. Eu ficaria feliz se pudesse me perdoar.”

Ela se curvou servilmente com um sorriso amigável no rosto. Além disso — provavel-
mente inconscientemente — ela até começou a esfregar as mãos. Para um dos trunfos
da teocracia — o 11º Assento da Escritura Preta, com o título de “Magia Infinita”, e como
aquela que alcançou o reino dos heróis — esse comportamento era muito patético.

“É sério que não vai se sentar?”

“Não, não, não, não. É desnecessário. Eu retornarei imediatamente depois de lhe passar
a mensagem, Morte Certa-sama...”

Ela balançou as mãos nervosamente.

Ela não precisava rejeitar com tanta veemência, pensou Morte Certa.

“O que de mais vai acontecer se sentar, não é como se eu fosse ficar com raiva, sabia?
Aliás, eu prometo que não vou... não precisa ficar tão acanhada... não somos colegas?”

Quando ouviu isso, um sorriso cortês surgiu no rosto da mulher.

“Ehehehe, peço desculpas por ter que chamar uma verme como eu de colega, Morte
Certa-sama.”

“Acho que está exagerando um pouco... Veja bem. Entre as pessoas com quem lidei —
entre os membros da Escritura Preta com quem tive batalhas simuladas, você é a mais
servil, sabia? Quem diria que antes costumava ser tão convencida.”

A Escritura Preta era uma agregação de heróis. Portanto, ocasionalmente, alguns re-
cém-chegados eram muito soberbos. Um dos deveres de Morte Certa era mostrá-los seu
lugar. Portanto, mesmo que os membros da Escritura Preta fossem seus colegas, ela só
estava familiarizada com os mais arrogantes.

Dito isso, foi algo que ela fez apenas com aqueles que se achavam muito, então não era
como se essa mulher fosse especial. Até mesmo o capitão, a quem disciplinara com mais

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força do que essa mulher — às vezes até se arrependia de ter ido longe demais com o
capitão — a tratava normalmente agora. No entanto, apenas essa mulher agia assim.

Talvez apenas ter seu ego quebrado já fôra demais para essa mulher.

Eu deveria levar em conta a personalidade deles da próxima vez...

“É ruim ser arrogante, mas não poderia pelo menos agir um pouco mais confiante?”

“Ei, eheh. Eu não posso fazer uma coisa dessas diante de Morte Certa-sama.”

Ela começou a esfregar as mãos ainda mais intensamente.

Morte Certa concluiu que não fez nada para que ela agisse assim.

Ela só avançou enquanto suprimia a magia da mulher, ficou por cima dela, e apenas
deliberadamente deu um soco em seu rosto — e porque era para ser um treinamento —
e teve o cuidado de não a matar enquanto a espancava até dizerem chega.

Morte Certa testemunhou quando ela não reconheceu a derrota, lançando suas magias
mesmo imobilizada, então ela a admirava como alguém com culhões. Desde então, ela
até aprendeu a lançar magias enquanto suportava a dor. Ela era alguém com um desejo
de melhorar a si mesma.

Morte Certa se sentiu um pouco triste ao ver alguém que tinha subido em seu conceito
agir dessa maneira.

“...E então, o que veio fazer aqui? Embora eu tenha uma idéia do que se trata.”

“C-certo. Como esperado de...”

“—Aa, chega de bajulação.”

“Ah, S-sim. À medida que o exército de subjugação dos Elfos começou a avançar ainda
mais, fui encarregada de informar à Morte Certa-sama para iniciar seus preparativos
para sair.”

“É sobre isso...”

O rosto da mulher se contorceu quando viu Morte Certa sorrindo. Isso não poderia ser
porque ela estava fazendo uma cara assustadora. Ela estava sorrindo normalmente.

“Será que agora eu finalmente tirarei esse gosto ruim da boca...”

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


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229
Interlúdio

Capítulo 3 O Árduo Trabalho de Aura


230
o acumular um poder mágico ainda maior, a entidade anteriormente cha-

A
[ L i c h Ancião]
mada de Elder Lich avançava para uma existência mais poderosa cha-
[Lich da Noite]
mada Night Lich. Apenas alguns desses seres foram registrados nos anais
da história, um fato pelo qual muitos eram gratos.

Isso porque Night Liches eram seres imensamente poderosos.

Eles poderiam usar várias magias do 6º Nível — um nível que se diz estar além do reino
dos humanos. Com tanto poder, poderiam até se defender contra os Dragões mais velhos.
Além disso, eles também possuíam muitas habilidades especiais, contavam com muitos
undeads como seus seguidores, eram altamente inteligentes e residiam em fortalezas
inexpugnáveis.

Com todas essas regalias, era como se fossem governantes de nações, existências dignas
de serem chamadas de Senhores dos Mortos.

Na verdade, haviam três renomados Night Liches—

• O Night Lich Dracônico “Q’fantera=Argolos”.


• Titã Night Lich “Siyern”.
• E um Night Lich (provavelmente) um senhor das sombras conhecido por seu ape-
lido de “Fear”.

—Que governavam notoriamente domínios do tamanho de pequenos reinos e eram


existências temidas que inspiravam medo nos países ao seu redor.

E assim, Night Liches eram considerados seres saídos diretamente dos mitos, sua pre-
sença era sussurrada em tons de medo e admiração. Eles eram o mesmo que desastres
naturais para quem entrasse em seu caminho.

Um desses temíveis Night Liches do submundo, apelidado de “Abismo” — Benjeli Ansis


—, saiu de uma sala enorme enquanto se curvava.

Com seis braços e duas cabeças, proficiente não apenas com magias arcanas, mas tam-
bém com outros sistemas, este Night Lich era um ser temível que humanos sequer po-
deriam sonhar em derrotar. Se emergisse de sua reclusão, os três Night Liches mencio-
nados acima provavelmente teriam um quarto membro. Ele era um antigo undead que
foi o fundador e membro do núcleo mais interno desta organização.

A organização chamada “Corpus do Abismo”.

Formada por magic casters undeads. O objetivo original deste conclave profano era co-
operarem entre si para que seus interesses não colidissem.

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231
Dito isso, era inevitável que magic casters imortais que passaram uma eternidade pes-
quisando os abismos da magia não batessem de frente nos interesses alheios.

Os undeads tendiam a ter outros desejos no lugar das três necessidades básicas dos
vivos. Para eles, geralmente se manifestava como um desejo de conhecimento. Assim,
quando havia um conflito onde mais conhecimento estava em jogo, eles tendiam a não
se conter, resultando em brigas até a morte.

Hipoteticamente, se alguém concentrasse todos os três desejos fundamentais dos vivos


em um, alguém com esse desejo singular também acharia extremamente difícil se conter.

Houve muitos undeads que encontraram seu fim por esse motivo, embora por vezes os
vivos aproveitaram a oportunidade para eliminar os dois combatentes.

Isso resultou em mais e mais undeads que perceberam que era melhor compartilhar
em vez de monopolizar o conhecimento, ou magia, ao custo de suas vidas. Se não fosse
possível, eles deveriam barganhar entre si. E assim, criaram uma lista de nomes.

A lista estava na tabuleta conhecida como “Granisle Inscription” posteriormente, uma


tabuleta que continha os nomes de muitos seres adeptos da magia, embora a tabuleta
em si não fosse mágica.

No início continha apenas os nomes de quatro Night Liches e três Elder Liches, e a única
obrigação da organização era que os outros membros deveriam se unir para punir qual-
quer membro que violasse as regras.

Após 200 anos, a organização desenvolveu as regras em um sistema abrangente.

A adesão de undeads da organização aumentou: um total de 7 membros do círculo in-


terno e 48 no círculo externo. Agora, eram uma grande organização de 55 membros, dos
quais os undeads do círculo interno estavam no nível de dificuldade de 150.

Mas havia muito poucos que sabiam sobre essa reunião.

Os undeads da organização eram geralmente divididos em dois tipos.

Um grupo aumentava sua influência entre os vivos e a usava para atingir seus objetivos.
O outro não interagia com o mundo dos vivos e trabalhava em prol de seus objetivos fora
de cena, fora da vista de qualquer um.

Como o primeiro era diminuto em comparação ao segundo, a organização nunca atuou


abertamente no mundo dos vivos.

Se algum deles aumentasse sua influência entre os vivos como o antigo grupo, isso tam-
bém levaria a um aumento na quantidade de inimigos que tinham de lidar. Especial-
mente porque os undeads eram considerados inimigos de todas as coisas vivas, esses

Interlúdio
232
tipos particulares tendiam a ser eliminados pelos vivos que até abdicavam de sua naci-
onalidade para esse fim.

Isso levou a uma redução nos números do primeiro grupo. Claro, também existiam
undeads que conseguiam reunir poder entre os vivos enquanto permaneciam no anoni-
mato, mas eram raros.

Como resultado, a “Corpus do Abismo” permaneceu uma organização envolta em mis-


tério, apenas comentada em rumores. O motivo pelo qual os três Night Liches extrema-
mente fortes mencionados não foram convidados a participar foi porque sua presença
chamaria muita atenção.

Ao sair da sala onde Aquele ficava, ele chegou a um largo corredor ao lado do qual havia
uma sala fracamente iluminada.

Era a sala de espera para aqueles que pretendiam marcar uma reunião com Aquele.
Aquele nunca prepararia algo assim — não era gentil o suficiente para tais gestos — en-
tão Benjeli e outros pediram e receberam sua permissão para criar esse ambiente.

Um ser na sala chamou Benjeli.

“Então voltou. Agora deve ser a minha vez.”

Como Benjeli esperou junto com eles na sala há pouco, ele sabia quem era mesmo sem
ver. Na verdade, ninguém entraria aqui sem ser convocado — pois isso irritaria Aquele
— então nunca teriam um visitante surpresa. Os únicos convocados aqui hoje foram os
membros do círculo interno. Depois de 400 anos desde a fundação da organização, havia
9 membros no círculo interno no presente.

“O Abismo”, “A Santa do Branco”, “O Viajante da Morte”, “O Rei da Decadência”, “Duque


de Olhos Carmesins”, “Lobo Sábio”, “O Ancião do Anfitriões”, “O Devorado”, “O Regresso
do Amarelo”.

Todos estavam reunidos aqui mais cedo e foram convocados um por vez. Agora só res-
tava uma.

“A Santa do Branco”, Grazn Rocker.

Uma undead de pele como cera branca que usava um véu e roupas totalmente brancas.
Uma aparência que era completamente alabastrina da cabeça aos pés.

Ela era alguém que havia alcançado o 8º nível de magia e que agora estava mirando no
9º. Benjeli não pôde deixar de reconhecê-la como a melhor pesquisadora. Ela também
era a favorita do atual líder da organização.

Não—

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—Aquele não gosta de ninguém. Todos eram desagradáveis para Aquele, ainda assim,
tinha paciência com ela pois poderia usá-la para seus fins.

Foi isso que pôde sentir das conversas com Aquele.

Aquele não fazia a menor questão de esconder, por vezes chamando a magia que Benjeli
e outros usam de “imundice”.

Portanto, ser altamente valorizada não era nada para Grazn se orgulhar.

Aquele só se aproveitava deles como um parasita, não oferecia nada em troca. Não de-
veria haver ninguém que pudesse ser feliz sendo usado por Aquele.

Isso valia principalmente para alguém que era uma pesquisadora talentosa, como
Grazn.

Claro, ninguém iria expressar seus sentimentos ante Aquele. E, lamentavelmente, esta-
vam de mãos atadas, não poderiam vencer mesmo que todos se rebelassem contra.

“...Ah. O que acha de conversarmos um pouco? Afinal, já faz muito tempo desde que
fizemos isso.”

“...Como assim?...Ah. Claro. Eu entendi. Será um prazer. O lugar de sempre, certo?”

“Sim. Então vou em frente.”

Benjeli a deixou e caminhou pela escuridão por um tempo, algo que poderia fazer sem
esforço, já que seus traços raciais lhe proporcionavam visão no escuro. Também não ha-
via necessidade daquela luz na sala de espera. Ele não sabia quem organizou, mas pro-
vavelmente era apenas para decoração.

O piso era uma única rocha polida por meios mágicos, mas o teto ainda era de rocha
bruta.

Esta enorme caverna não era natural. O líder de sua organização havia gasto muito
tempo e esforço.

Eles visitavam esta caverna uma vez a cada poucos anos — ou quando eram convocados
—, mas ele não podia deixar de zombar toda vez que via o esforço gasto para cavá-la.

Night Liches que eram bons em magia geralmente desconsideravam o porte físico, mas
esse desprezo era mais pelo que esta caverna representava: a covardia de alguém que
agia tão soberbo e poderoso diante deles.

Interlúdio
234
Depois que se certificou de estar há alguma distância entre ele e a sala, Benjeli ativou
「Teleportation」 duas vezes para chegar ao seu destino.

Ele chegou diante de um castelo construído nas profundezas das montanhas. Era a re-
sidência de Krunui Log Entesh Na, “Duque de Olhos Carmesins” do círculo interno.

Entre o círculo interno, Krunui era o que mais gostava de manter as coisas limpas e
arrumadas e se cercava do bom e do melhor. O mesmo valia para sua residência.

Este castelo fôra construído pelo trabalho de diferentes raças — pagos com o conheci-
mento da magia, itens mágicos e tesouros cheios de pedras preciosas —, era tão grandi-
oso que até mesmo alguém sem senso estético poderia apreciá-lo. Essa era a razão pela
qual o círculo interno usava sua residência como ponto de encontro sempre que tinham
algo a discutir.

Ao chegar ao portão, um dos undeads de Krunui apareceu e levou Benjeli para o castelo.

Depois de ser levado a uma sala, notou que todos do círculo interno, exceto Grazn, já
estavam presentes.

“—Desculpe por fazê-los esperar.”

“Bom trabalho lidando com Aquele.”

Quem falou foi o senhorio do castelo, Krunui.

Sua característica mais marcante era sua pele extremamente pálida. Ele não era um
undead natural, mas um ex-humano que se transformou em um usando magia. Talvez
fosse por isso que eles pudessem ver traços de seu eu passado em sua obsessão por se
cercar de coisas boas. Enquanto os outros sempre usavam as mesmas roupas — itens
mágicos com grandes quantidades de poder mágico — ele usava uma roupa impecável
diferente a cada vez, mas suas roupas não tinham nenhum poder mágico.

Para outros membros, roupas eram consideradas equipamentos para se fortalecer, mas
para Krunui, eram objetos para decorar-se.

“Quero esperar pela Grazn antes de começarmos. Não se importa, certo?”

Benjeli perguntou a seus companheiros enquanto se sentava em um dos sofás da sala.


Ninguém se opôs.

O que aconteceria em breve era algo que haviam repetido muitas vezes antes, uma dis-
cussão sobre como rebelarem-se contra Aquele.

Em primeiro lugar, só aceitaram Aquele porque era extremamente poderoso.

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Aquele provavelmente descobriu a Corpus do Abismo de algum membro do círculo ex-
terno. Um dia Aquele apareceu de repente diante deles e mostrou sua força.

Benjeli e os outros se ajoelharam para Aquele porque pensaram que agiria como um
escudo contra os seres mais fortes desse mundo. Eles certamente não fizeram isso para
expandir a organização.

Mas Aquele se provou um crápula.

Primeiramente, a Corpus do Abismo não foi fundada para criar problemas em qualquer
que fosse o lugar. Eles ficariam preocupados se Aquele pensasse que eram apenas uma
força conveniente que poderia usar a bel-prazer em seus pactos com terceiros.

Então eles decidiram preparar um novo impedimento contra Aquele. Era o consenso
geral de todos no círculo interno que o conheciam.

Normalmente, quanto mais pessoas sabiam de um plano, maiores eram as chances de


traição. Como ninguém ainda os traiu, isso só demonstrava sua falta de lealdade para
com Aquele.

E pelo menos por enquanto, estavam seguros. O fato de Benjeli e outros ainda estarem
vivos era prova disso.

Todos aqui já teriam sido dizimados se fossem traídos, todos tinham plena consciência
disso. Aquele apenas governava a organização por meios egoístas, usando a pesquisa de
Benjeli e dos outros para se fortalecer. Mesmo assim, Aquele nunca toleraria quaisquer
ações clandestinas de qualquer um.

Aquele não tinha a clemência ou a mente aberta que um governante deveria possuir.
Aquele era muito cauteloso.

Portanto, Aquele ainda não tinha desconfiado de nada.

Felizmente, Aquele não tinha a habilidade de dominar os undeads.

Considerando a diferença em seus pontos fortes, Aquele poderia facilmente controlar


Benjeli e outros caso se especializasse neste campo.

Não pense que poderá continuar nos explorando para sempre!

Benjeli gritou por dentro e expulsou a forma enorme da criatura que apareceu em sua
mente.

Interlúdio
236
Posfácio

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Ilustrações
Glossário
248
Glossário
250
Glossário

Glossário
252
Glossário
-Magias, Habilidades & Passivas- Ghillie Cloak: ........................................................ Capa Ghillie.
Tradução livre de seus nomes Green Secret House: .............................Casa Secreta Verde.
Guardian Armor: ................................... Armadura Guardiã.
Camouflage: ........................................................ Camuflagem. Rainbow Stone: ....................................... Pedra do Arco-íris.
Charm Species: ........................................ Encantar Espécies. Razor Edge:..................................................... Fio de Navalha.
Charm: ......................................................................... Encantar. Shooting Star: ............................................... Estrela Cadente.
Control Amnesia: .......................................Controlar Amnésia. Statue of Animal: Warhorse:Estátua de Animal: Cavalo
Control Amnesia: .......................................Controlar Amnésia. de Guerra.
Create Undead:............................................... Criar Morto-Vivo. Statue of the Magical Beast: Cerberus:Estátua da Besta
Dominate:........................................................................... Dominar. Mágica: Cérbero.
Elephant Ear: ........................................... Orelha de Elefante.
Fireball: ............................................................... Bola de Fogo.
Fly: ........................................................................................ Voar. -Termos & Terminologias-
Forestwalker: ................................... Caminhante da Floresta.
Fragrance: ...................................................................... Fragrância. Ad nauseam:Argumentum ad nauseam é uma expressão
Gate: ............................................................................................ Portal. em língua latina que se refere à argumentação por repe-
Greater Teleportation: ................... Maior Teletransporte. tição, que consiste em repetir insistentemente a mesma
Hawk-eye: ........................................................ Olho de Falcão. afirmação até o ponto de, metaforicamente, provocar
Invisibility: ........................................................Invisibilidade. náusea.
Invisibility: ........................................................Invisibilidade. Buff: ............... Efeitos Positivos que aprimoram o jogador.
Magic Arrow: ................................................... Flecha Mágica. Build:Configuração dos atributos de um personagem nos
Message:.......................................................................... Mensagem. jogos eletrônicos conhecidos como RPG, onde cada perso-
Perfect Unknowable: .....................Incognoscível Perfeito. nagem tem características distintas e onde cada mudança
Remote Viewing: ................................Visualização Remota. afeta o comportamento do personagem no jogo podendo,
Sandman’s Sand: ......................................... Areia de Sandman. assim, uma build fazer total diferença tornando cada per-
See Invisibility: ........................................ Ver Invisibilidade. sonagem único no jogo.
Silence: ...........................................................................Silêncio. Campina:Um tipo de bioma terrestre formado por cam-
Summon Monster 10th: .................. Invocar Monstro 10º. pos completamente despidos de árvores (campos limpos).
Teleport:.................................................................... Teleporte. Corpus do Abismo:Em japonês 深 淵 な る 軀
Wall of Protection From Arrows:Muro de Proteção (Shin'en'naru Karada). Corpus abrange tanto “Corpo”,
Contra Flechas. quanto um compilado de informações relativos a algo.
Wall of Stone: ...............................................Parede de Pedra. Demi-glace: Um molho próprio para guarnecer pratos de
carne, principalmente carne bovina, derivado de um dos
molhos básicos da culinária da França, o molho espanhol.
-Metamagia- Dogeza:(土下座) é um elemento da etiqueta tradicional
japonesa que envolve ajoelhar-se diretamente no chão e
Maximize Magic:Maximizar Magia — aumenta o poder curvar-se para se prostrar enquanto toca a cabeça no
destrutivo da magia. chão.
Silent Magic:Magia Silenciosa — permite que o usuário Futon:布団 é um tipo de colchão usado na tradicional
ative uma magia sem a necessidade de recitá-la, elimi- cama japonesa. Os futons são baixos, com cerca de 5 cm
nando o perigo de um terceiro ou pessoa interromper a de altura, e têm no interior algodão, lã ou material sinté-
ativação. tico. Vendem-se conjuntos no Japão que incluem o col-
Triplet Magic: ................................................Triplicar Magia. chão (shikibuton), o edredon (kakebuton) e a almofada
Twin Magic:Duplicar Magia — duplica a magia sem a ne- (makura). Estas almofadas enchem-se com feijão verde,
cessidade se usar a mesma magia duas vezes. trigo negro ou peças de plástico.
Widen Magic:Ampliar Magia — aumenta a área de efeito Gazebo:Pequena construção, com teto e ger. aberta dos
da magia. lados, erguida em jardins ou parques.
Geta:下駄, são uma forma tradicional de calçado Japonês
que lembram ambos tamancos e chinelos. Eles são um
-Itens- tipo de sandália com uma base de madeira elevada presa
Tradução livre & Curiosidades no pé com um tecido sandália de correia para manter o pé
bem acima do nível do solo.
Amulet of Immortality: ........... Amuleto da Imortalidade. Gravitas:É um termo latino que nomeia uma das virtudes
Earth Recover:............................................... Restaura Terra. prezadas pela antiga sociedade romana. As outras eram
Ebynogoi:Apesar de sua pronúncia エビノゴイ, na ver- dignitas, pietas e iustitia. Gravitas significa literalmente
dade é escrito como 七門の粉砕者, ou seja, O Destruidor peso, mas veio adquirir o significado de uma personali-
dos Sete Portões, que explica que só pode ser usado sete dade ética, de seriedade e de apego à honra e ao dever.
vezes. Katsudon:Um prato japonês, constituído por arroz co-
Gauntlets of Vitality: ................... Manoplas da Vitalidade. berto por tonkatsu(costeleta de porco frita e empanada)
Geta of Strength: .................................... Sandálias da Força.

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temperado com molho próprio e envolto por ovo bem co-
zido ou não. -Raças & Monstros-
Ranger:Em RPGs, é uma classe de personagens com perí-
cia a coisas relacionadas à floresta, rastreamento e caça, Alraune:O alemão para Mandrágora. É uma criatura ori-
além de proficiências com arcos, geralmente é traduzido ginária na idade média alemã. Como o nome sugere, é um
como Patrulheiro, Guarda Florestal. tipo de mandrágora, porém com aspecto humanoide.
Seelie:Manifestações puras da natureza e da beleza, os Alraunelord: ................................................... Soberana Alraune.
membros da Corte Seelie se consideram o ápice da perfei- Alto Elfo: ....................................... Variante superior dos Elfos.
ção. Ankyloursuslord: ........................... Soberano Anquilourso.
Status Quo:É uma expressão do Latim que significa “o es- Beastman: .........................................................Homem-Besta.
tado das coisas”. Ela também pode ser escrita sem o “s” Behemoth:Ou Beemote, é uma criatura descrita na Bíblia,
(statu quo), mudando apenas o começo da frase: “no es- no livro de Jó, 40:15–24. O nome é o plural do hebraico
tado das coisas”. A expressão surgiu por volta de 1700 ‫בהמה‬, bəhēmāh, “animal”, com sentido enfático (“animal
como uma forma reduzida da frase “in statu quo res erant grande”, “animal por excelência”). Na tradição judaica or-
ante bellum”, que pode ser traduzida como “no estado em todoxa, o Beemote é o monstro da terra por excelência,
que as coisas estavam antes da guerra”. em oposição ao Leviatã, o monstro do mar, e Ziz, o mons-
Toque blanche: Touca branca, em francês. O chapéu tem tro do ar.
origem incerta. Acredita-se que surgiu por volta do século Centipistorm: .................................................. Tormentopéia.
16, no Império Bizantino, na Europa Oriental. A cor Cerberus:Cérbero (em grego clássico: Κέρβερος; “de-
branca veio no século 19, quando o “chef” francês Marie- mónio do poço”), na mitologia grega, era um monstruoso
Antoine Carême (1784-1833) redesenhou os uniformes cão de três cabeças que guardava a entrada do mundo in-
dos chefes de cozinha e adotou o chapéu comprido como ferior, o reino dos mortos, deixando as almas entrarem,
símbolo de hierarquia elevada. mas jamais saírem e despedaçando os mortais que por lá
Unseelie:Ao contrário da seletiva e restritiva Côrte Seelie, se aventurassem.
a Unseelie dá as boas-vindas a todos e a tudo com a mí- Circlet Demon:................................... Demônio da Diadema.
nima ancestralidade de sangue feérico. Feéricos podem e Death Knight: ..........................................Cavaleiro da Morte.
se reproduzem com qualquer coisa, criando criaturas es- Devourer of the Nine Worlds:Devorador dos Nove
tranhas. Mundos.
Wok:Uoque ou uosque é um utensílio básico da culinária Dryad:Na mitologia grega, as dríades (em grego: Δρυάδες,
asiática. O objeto tem a forma de uma meia esfera metá- Dryádes, de δρῦς, drýs, “carvalho”) eram ninfas associa-
lica ou cerâmica, munida de duas alças ou de um cabo. Al- das aos carvalhos. De acordo com uma antiga lenda, cada
guns woks têm o fundo plano, dando-lhe uma forma se- dríade nascia junto com uma determinada árvore, da qual
melhante à de uma frigideira. ela exalava. A dríade vivia na árvore ou próxima a ela.
World Searchers:Em tradução literal “Pesquisadores do Quando a sua árvore era cortada ou morta, a divindade
Mundo”, era um Guilda de YGGDRASIL. também morria.
Dwarf: ................................................................................. Anão.
Earth Elemental: .................................... Elemental Terreno.
-Nomes- Earth Elementallord: ........ Soberano Elemental Terreno.
Elder Lich: ..................................................................... Lich Ancião.
Amanomahitotsu:Na mitologia japonesa, esse é o Elfo Negro:Uma variação dos Elfos. Dependendo da mi-
mesmo nome do deus da forja, metalurgia e ferraria. tologia, são tidos como uma variação corrompida de Elfos
Ankyloursus:O nome é uma união do grego antigo (Não confirmado se será assim em OVERLORD). Em RPG’s
“Ankúlo” (fusão) com o latim “Ursus” (Urso). também são chamados de Drow. Na mitologia podem ser
Ariadne: Vem dos contos gregos. De acordo com a lenda, chamados de Svartálfar ou Dökkálfar.
ela dá a Teseu o “Fio de Ariadne” que permite que Teseu Elfo:Tem origem mística da mitologia nórdica e céltica.
saiba a saída do labirinto onde se encontra o Minotauro. Seu nome deriva de Alfs ou Alfr.
Decem Hougan:Apenas uma interpretação etimológica Elfolord: .................................................................... Soberano Elfo.
de seu nome, não confirmado pelo autor. “Decem” é o la- Evil Lord Wrath: ................................ Lorde Maligno da Ira.
tim para Dez. Já “Hougan” ホウガン(também pode ser Eyeball Corpse: .................................Globo Ocular Cadáver.
lido como Hougang). Hougang é aversão pinyin de Aū- Feérico:Relativo ou pertencente ao mundo do imaginário,
káng, um nome Hokkien e Teochew que significa “fim do do que não tem ligação com a realidade concreta e factual;
rio”. fabuloso, fantástico, mágico. Em RPGS relacionado às fa-
Gigahorn Elk: .................................................. Alce Gigancornos. das.
Lumière: ..............................Uma palavra francesa para luz. Fenrir:É um lobo monstruoso. Fenrir é atestada na Edda
Platinum Dragonlord:Soberano Dragão de Platina. Os em verso, compilada no século XIII a partir de fontes tra-
kanjis de seu nome abaixo do furigana são de 白 金 dicionais anteriores, e a Edda em prosa e na Heimskringla,
(Shirogane), significa “platina”. escritas no século XIII por Snorri Sturluson. Itzamna:
Sandman:Personagem do folclore europeu que dizem Raça de Lagartos de YGGDRASIL. Na língua maia, o signi-
ser o responsável por trazer sonhos. No brasil seu equi- ficado do nome Itzamna é “Casa dos Lagartos”.
valente se chama João-Pestana. Também é um persona- Goblin:Raça demi-humana — Eles são feios, geralmente
gem muito famoso nas HQs de mesmo nome, obra escrita mal-intencionados e, às vezes, humanoides maliciosos
por Neil Gaiman que atualmente ganhou uma série na que moram nas florestas.
NETFLIX. Hanzo:O nome da criatura em OVERLORD é escrito como
ハンゾウ, mas por curiosidade, o nome “Hanzo” pode ser

Glossário
254
uma alusão ao famoso samurai e ninja Hattori Hanzo 服 muita intimidade. O “chan” é usado após o nome inteiro
部半蔵. ou abreviado.
Lizardman: ...................................................Homem-Lagarto. Dono:殿 | どの - O sufixo “dono” vem da palavra “tono”,
Night Lich: ...........................................................Lich da Noite. que significa “senhor”. Seria semelhante ao termo "meu
Orc:Orcs são demi-humanos com a altura relativa a um senhor". Na época dos samurais, costuma-se denotar um
humano mediano, com características faciais suínas. grande respeito ao interlocutor.
Ork: ............................................... Variante superior de Orcs. Onee:Uma maneira informal de falar irmã mais velha, e
Slime:Raça em RPG com aspecto glutinoso, possuem di- se junto com o sufixo “chan”, denota uma forma carinhosa.
versas resistências inatas. Sama:様 | さま- O sufixo “Sama” é uma versão mais res-
Spear Needle: ...............................................Agulha de Lança. peitosa e formal de “san”. A traduções mais próxima do
Undead:................................................................... Morto-Vivo. termo “sama” para o português seria “Vossa Senhoria”.
Wind Elemental: .................................... Elemental Ventoso. No Japão, é importante referir-se a pessoas importantes
Woodland Dragon: ..................................... Dragão do Bosque. ou a alguém que admira e é muito importante, no império
antigo era muito usado para se referir a rainhas.
San:さん — O sufixo “San” é um honorífico que pode ser
-Honoríficos & Tratamentos- usado em praticamente todas as situações, independente
do sexo da pessoa. Normalmente é usado para pessoas
Chan:ちゃん — O sufixo “chan” é um termo carinhoso que temos pouca ou nenhuma intimidade. Também usado
usado geralmente para crianças ou pessoas que temos quando a pessoa considera o interlocutor como um de
igual hierarquia.

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Notas de Tradução:

Escritura do Pó. Referência bíblica. Gênesis 3:19 “No suor do teu rosto comerás o teu
pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te
tornarás.
Ainz é um brotão. Na parte onde o Ainz se indaga a respeito da educação da Alraune,
ele parece estar considerando as traquitanas que a tradução automática vigente nesse
mundo faz.
Grande Mar de Árvores. Creio que seja uma alusão à Aokigahara, floresta japonesa de
38 km² situada na base noroeste do monte Fuji, no Japão. A mesma é apelidada de Mar
de Árvores (樹海).
Shihoutu Tokitu. Seu nome é escrito em katakana como “シホウツ・トキツ”. Porém
nos outros sistemas de escrita japonesa ele faz alusão a outras coisas relacionadas à sua
persona; トキツ (Tokitu), quando passado para o Hiragana, é o mesmo nome de um fa-
moso bistrô francês situado no Japão, chamado de Bistro Tokitsu (ビストロときつ).
Ainda nele, sua ficha japonesa mostra apenas 24 lvls em suas profissões. Mas abaixo é
dito que no total ele tem 77 lvl em profissões, logo concluí que esqueceram de adicionar
o “etc...” em sua ficha japonesa e tomei a liberdade de adicionar aqui. Também é dito que
ele tem 1 lvl racial, porém não é especificado qual é a raça em sua ficha, mesmo dizendo
no Capítulo 1 que ele é um “Ork”.
Kanji no peito do Variable Talisman: O kanji 守 significa “Protetor”.

Glossário
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OVERLORD 15 A Divina Meia-Elfa | 1
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Rugidos ecoam dentro do Grande Mar de Árvores.
Preocupados com a rápida expansão do Reino Feiticeiro, os líderes da Teo-
cracia Slane decidem depor o Rei Elfo para assim estarem melhores prepa-
rados contra o Reino Feiticeiro.
Ao mesmo tempo, Ainz — por amor paternal — quis “ajudar Aura e Mare a
fazerem novos amigos”. Usando a necessidade de férias como desculpa, Ainz
e os gêmeos iniciam sua viagem para o Reino Élfico.
A grande ofensiva da Teocracia Slane coincidiu com a visita de Ainz ao
Reino Élfico, o que causou um grande alvoroço entre os habitantes de Naza-
rick.
Testemunhe como o Ainz — O Rei Astuto — surpreende ambos os frontes
fazendo o que bem entende no Grande Mar de Árvores com os Gêmeos!

ISBN: 9784047365551

ISBN 9784047365551
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