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História Contemporânea: Até A Nova Ordem Mundial

Unidade 1 - Compreendendo o século XX e XXI


Introdução
Nesta unidade iniciaremos o estudo da História Contemporânea. Mas afinal, o
que é História Contemporânea? Segundo o dicionário contemporâneo é “um
adjetivo que faz referência ao que é do mesmo tempo, que viveu na mesma
época” (AURÉLIO, 2001). Portanto podemos pensar que a História
contemporânea seria a História que aconteceu na mesma época em que
vivemos.

1. Introdução aos estudos de história contemporânea


Tradicionalmente, o período conhecido como História Contemporânea remonta
desde a Revolução Francesa em 1889 até os dias atuais. Muitas vezes nos
perguntamos “mas porque a Revolução Francesa?” Devemos lembrar que a
Revolução Francesa foi a semente que insurgiu contra os regimes monárquicos
absolutistas e que, mesmo que muitos deles tenham retornado ao poder, a
ideia de desigualdade de nascimento entre as classes sociais nunca mais foi a
mesma.
Partindo deste princípio, estudaremos nesta disciplina o século XX e XXI em
seus acontecimentos que infringiram as maiores mudanças no modo de vida
que veio a se tornar o que conhecemos atualmente.
Inicialmente é necessário compreender as correntes historiográficas e
questionamentos sobre o estudo do século XX e XXI. Analisar e entender o
trabalho do historiador facilita compreender as dificuldades envolvidas no que é
realizar a história de um período tão recente e de mudanças tão significativas
quanto os séculos XX e XXI.
Em seguida, analisaremos as heranças da Segunda Guerra Mundial para o
mundo com a divisão da Alemanha, visando eliminar qualquer herança da
cultura nazista, e o crescimento de duas superpotências mundiais, os Estados
Unidos e União Soviética com seus conflitos e sua herança para outros países.
Posteriormente, compreenderemos os processos de descolonização da África,
da Ásia e os conflitos no Oriente Médio e seus efeitos nestes países. Efeitos
estes que levaram a conflitos e instabilidades nestas regiões até os dias atuais.
Em sequência, é necessário entender o fim da União Soviética com o colapso
do mundo socialista. Neste momento iremos entender a formação da Nova
Ordem Mundial que vem com os Estados Unidos como superpotência e nos
carrega pela globalização, marcada pelo encurtamento das distâncias e do
tempo, e pela formação do mundo em que vivemos atualmente atualmente.
Por fim, encerraremos a disciplina compreendendo os desdobramentos da
tecnologia em nossas vidas e em nossa história, como sociedade, entendendo
processos que assim foram desencadeados, como o terrorismo na era global.
De maneira geral o estudo de História Contemporânea é a análise de um
período em que nossa sociedade sofreu profundas mudanças estruturais as
quais nos levaram ao cotidiano em que conhecemos. Portanto, venha conhecer
e compreender nossa sociedade!

2.  Século XX e XXI como problema historiográfico


Muito se discute sobre a História Contemporânea e a capacidade de se
analisar um período que para a História é tão recente e contemporâneo aos
historiadores. Para isso, inicialmente, precisamos relembrar de onde vêm as
informações para que o historiador “faça história”. Nas sociedades
ocidentalizadas, toda produção de historiografia se baseia na análise de fontes
primárias ou secundárias, isto é, de documentos escritos, antropológicos e
arqueológicos, a partir dos quais seja possível concluir algo sobre os
acontecimentos de um período pela sua análise.
Naturalmente, algumas destas fontes podem levar anos a serem encontradas,
especialmente em se tratando de vestígios arqueológicos, que são aqueles
encontrados por escavações e analisados por arqueólogos quanto a sua
procedência.
Portanto, estudar o século XX pode ser uma tarefa árdua ao historiador, uma
vez que este ainda pode ter vivido muitos dos acontecimentos aos quais
analisa e pouca documentação alternativa pode estar disponível, seja pelo
pouco tempo decorrido para encontrá-las ou pela vontade política recente de
alguns países em não divulgá-la.
A seguir, analisaremos as diferentes interpretações históricas do século XX e
XXI com a Escola dos Annales e Eric Hobsbawm.

2.1  A Escola dos Annales


Em 1929 surgia no contexto historiográfico francês a revista “Annales d´historie
économique et sociale”. O objetivo de tal revista seria desenvolver um novo tipo
de história, rompendo e contestando com a forma como era produzido o
conhecimento acadêmico. A crítica vinha especialmente ao caráter
especialmente fundamentado apenas em fatos e em interpretações, sem base
na investigação concreta. As obras eram dedicadas à história política e militar e
as fontes utilizadas eram majoritariamente compostas por documentos oficiais
do Estado.
A revista existe até hoje e os historiadores ligados a ela são chamados de
“integrantes da Escola dos Annales”. Mas como exatamente eles acreditavam
que deveria ser produzido o conhecimento histórico?
A Escola dos Annales foi dividida em três gerações distintas, tornando difícil a
análise de todas elas. No entanto, é possível sintetizar que estes historiadores
pretendiam construir o conhecimento sobre o passado a partir de um estatuto
científico.
Um dos fundadores da revista, chamado Marc Bloch (1866-1944), propõe em
seu livro Apologia da História que os historiadores deveriam utilizar diversos
tipos de fontes para a análise histórica, como os documentos orais,
numismáticos, arqueológicos. Em uma famosa passagem, Bloch afirma que:
Por trás dos grandes vestígios sensíveis a paisagem, (os artefatos ou
máquinas), por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições
aparentemente mais desligadas daqueles que as criaram, são os homens que
a história quer capturar. Quem não conseguir isso será apenas, no máximo,
um serviçal da erudição. Já que o bom historiador se parece com o ogro da
lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça. ( BLOCH,
2001 P. 54 )
Desta forma, podemos perceber que para Bloch a história deveria, na medida
do possível, renunciar seu julgamento de valor e, para isso, o historiador
deveria abandonar seus sentimentos, preconceitos e referências intelectuais.
Só assim ele poderia realmente fazer história como uma ciência.
Além disso, é essencial destacar a importância da Escola dos Annales na
nossa compreensão e maneira de seriar a História. Suas gerações difundiram a
ideia de história quantitativa e serial, isto é, a perspectiva de longa duração
pela análise e estudo das continuidades e descontinuidades dos
acontecimentos, realizando divisões como a que utilizamos aqui, de História
Antiga, História Moderna, História Contemporânea, entre outras.

2.2 Eric Hobsbawm e o breve século XX


Eric J. Hobsbawm é um historiador e professor que  nasceu em 1917 em
Alexandria no Egito. Ele realizou seus estudos em Viena, Berlim, Londres e
Cambridge e discutiu a História Contemporânea de forma marcante com seus 6
livros.
Para analisar a Historiografia da História Contemporânea é primordial
considerar os textos de Hobsbawm. Sua escrita enfatiza e problematiza em
diversos momentos a questão de fazer história contemporânea como podemos
perceber no trecho abaixo:
“Não é possível escrever a história do século XX como a de qualquer outra
época, quando mais não fosse porque ninguém pode escrever sobre seu
próprio tempo de vida como pode (e deve) fazer em relação a uma época
conhecida apenas de fora, em segunda ou terceira mão por intermédio de
fontes da época ou de historiadores posteriores.” ( HOBSBAWM, 1995, p. 7 )
Assim, é perceptível que mesmo o historiador conhecido como um dos maiores
de seu tempo reconhece a dificuldade de se fazer história do século XX sendo
contemporâneo a ele. Tal afirmação se baseia na concepção herdada da
Escola dos Annales ao que seria atualmente o modo correto de se fazer
história: imparcial, sem sentimentos, preconceitos e percepções pessoais.
Mas, afinal, como desvincular sua opinião pessoal de um acontecimento que
você viveu diretamente ao analisá-lo historicamente? Talvez este seja um dos
maiores questionamentos, ainda não resolvidos,  da história contemporânea.

3.  A guerra fria
Ao final da Segunda Guerra Mundial, duas superpotências se destacaram
devido ao seu crescimento econômico e seu papel na luta contra a Alemanha
nazista. Foram elas os Estados Unidos da América e a União Soviética. Este
período, comumente chamado de Guerra Fria, ocorreu entre os anos de 1945 e
1989 e foi marcado pela disputa ideológica e por áreas de influência entre as
duas potências.

3.1  A ordem mundial bipolar


Como dito anteriormente, após a Segunda Guerra Mundial a Europa estava
devastada. As antigas potências imperialistas europeias como Inglaterra,
Alemanha e França estavam muito enfraquecidas pelos gastos com a guerra e
pelo fato desta ter acontecido em seu território. Agora a hegemonia mundial
passava para os Estados Unidos da América (EUA), que haviam se tornado a
maior potência econômica.
Ao mesmo tempo, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS)
passava um uma rápida industrialização devido à política econômica
implantada pelo governo de Joseph Stalin e ainda possuía o maior exército do
mundo, o qual havia conseguido render a Alemanha nazista.
Foi neste contexto que se iniciaram disputas ideológicas, econômicas e
políticas entre essas duas superpotências. De um lado estava os Estados
Unidos da América, com seu governo capitalista, e de outro a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas e os governos socialistas. Ambas estavam
sedentas por áreas de influência.
Esta disputa ficou conhecida como Guerra Fria, isto porque as duas potências
estavam receosas de se enfrentarem militar e fisicamente, apesar de
fornecerem ajuda militar aos países com os quais se alinharam.
3.2. A doutrina Truman
Em 1946, Winston Churchill, o ex- primeiro-ministro inglês, visitou os Estados
Unidos e fez um discurso marcante ao chamar a atenção dos políticos
estadunidenses para a dominação hegemônica da URSS no Leste Europeu.
Ele chamou esta dominação ao Leste de “cortina de ferro”.
No ano seguinte, Harry Truman oficializou a nova orientação política dos
Estados Unidos, denominando-a de Doutrina Truman. Nela os EUA assumiram
a posição de líder dos países capitalistas ocidentais contra o avanço da URSS,
oferecendo apoio militar e econômico a seus aliados. Foi neste momento que o
conflito indireto ficou explícito, tendo início a Guerra Fria entre Estados Unidos
e União Soviética e se estendendo também à rede de influências de ambas as
potências.

3.3. Plano Marshall


Além da Doutrina Truman, em 1947 foi lançado o Plano Marshall que levava tal
nome por ter sido pensado pelo secretários de Estado estadunidense George
Marshall.
Seu plano, como complemento econômico da Doutrina Truman, previa uma
ajuda econômica para a reconstrução dos países europeus. Com isso, os EUA
tinham a intenção de garantir a manutenção do capitalismo na Europa,
diminuindo as chances de expansão do socialismo no continente. No entanto, a
propaganda partidária da época apresentava o Plano Marshall como uma obra
de ajuda humanitária aos países europeus.
Os países da Europa Ocidental deram boas-vindas à ajuda econômica
proporcionada pelo Plano Marshall. O cartaz produzido pelo governo da
Alemanha Ocidental é intitulado “Caminho Livre  para o Plano Marshall”,
produzido em 1950.

3.4.  O Comecon
Do outro lado do mundo, assim como os EUA apoiaram os países capitalistas,
a URSS forneceu apoio econômico e militar aos países do bloco socialista. Em
1949, foi oficializado o Conselho para Assistência Econômica Mútua
(Comecon), que auxiliava o desenvolvimento e integrava as economias do
Leste Europeu, tendo como lideranças a URSS. De maneira geral, o Comecon
englobava  a Hungria, Polônia, Romênia, Bulgária, Mongólia, Tchecoslováquia
e a República Democrática Alemã conhecida como Alemanha Oriental.
4. A guerra fria II
Os anos seguintes foram os que a bipolaridade, a disputa ideológica e as
alianças militares foram levadas ao extremo entre as potências que disputavam
a Guerra Fria. A política de alianças intitulada Doutrina Truman foi reafirmada
com a criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em 1949.
A criação da OTAN buscava reafirmar a existência de um escudo militar do
Ocidente capitalista contra os avanços do bloco socialista apoiado pela União
Soviética, agora organizados com o Comecon. Faziam parte da OTAN o
Canadá, a maior parte dos países da Europa Ocidental e outros países
capitalistas.

4.1. A divisão da Alemanha


Após o final da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha, que havia sido
derrotada, foi dividida entre os quatro países vencedores da guerra: França,
Inglaterra, EUA e URSS. Ao final da década de 1940 os países capitalistas
formaram um único lado ocidental alemão chamado República Federal da
Alemanha (RFA), com a capital em Bonn. Já o lado oriental permaneceu
vinculado à URSS e foi denominado República Democrática Alemã (RDA), com
a capital em Berlim.
Além disso, a cidade de Berlim também foi dividida em duas áreas de
influência: o lado socialista no leste e o capitalista no oeste. Com o passar do
tempo, a URSS começa a enfrentar uma crise econômica, fato que faz com
que os cidadãos da Berlim oriental passem para a Berlim ocidental, que recebia
ajuda financeira do Plano Marshall e estava em melhores condições
econômicas.
Em 1961, com o intuito de evitar a passagem de pessoas do leste para o lado
oeste, ocorreu a construção de um muro que dividia a cidade em duas. Esta
construção se iniciou na madrugada, de maneira que, ao acordar, muitos
cidadãos já se depararam com um muro separando a cidade de Berlim.
Este muro ficou conhecido como O Muro de Berlim, e era vigiado o tempo todo.
Ele existiu por 28 anos e se tornou um dos símbolos da Guerra Fria e da
potencial crise da bipolaridade do mundo vinda do extremismo.
4.2. O Pacto de Varsóvia
Em 1955, a Alemanha Ocidental se vinculou à Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN). Em contrapartida, os países do Leste Europeu
assinaram o Pacto de Varsóvia sob a liderança da URSS.
Este pacto definia que, em caso de conflitos armados, os países socialistas se
apoiariam mutuamente. Assinaram o Pacto de Varsóvia a União Soviética, a
Polônia, a Alemanha Ocidental, a Tchecoslováquia, a Hungria, a Roménia, a
Bulgária e a Alemanha Oriental.
4.3. A corrida tecnológica
As disputas entre os Estados Unidos da América e a União das República
Socialistas Soviéticas não ficaram apenas no âmbito da influência sobre os
outros países. Foi neste período que as tensões entre os países jogaram no
cenário mundial a possibilidade de destruição completa da humanidade.
Isto ocorreu devido à chamada corrida armamentista, que era a capacidade de
se produzir armas cada vez mais destrutivas. Ambas as potências buscavam
demonstrar que possuíam armas de maior efeito e com isso enfatizar sua
superioridade frente à outra. À medida que os dois países desenvolveram suas
armas, o potencial destrutivo aumentou consideravelmente. Além das bombas
atômicas, foram criadas as bombas de hidrogênio, que possuem um poder
destrutivo muito superior ao da bomba atômica.
Os Estados Unidos iniciaram uma série de testes atômicos em uma ilha
formada por corais em Bikini no ano de 1946. Em resposta, os soviéticos
testaram a sua primeira bomba atômica em 1949 no deserto do Cazaquistão.

Além de bombas nucleares, os EUA e a URSS desenvolveram mísseis


intercontinentais que tinham a capacidade de lançamento de grandes
distâncias para atingir o território inimigo. Assim, as áreas de influência se
mostravam ainda mais importantes, uma vez que seria possível destinar uma
base de mísseis de longa distância a qualquer país aliado no mundo. Isto
transformou a concepção espacial do mundo como um grande perigo
constante, provocando pânico nos habitantes dessas duas superpotências.

Em 1961, o presidente John Kennedy iniciou uma política de incentivo à


construção de abrigos antinucleares para que a população tivesse onde se
esconder em caso de ataques inimigos. Muitos cidadãos, temendo uma guerra
nuclear, construíram abrigos e os abasteceram com mantimentos suficientes
para semanas e até anos.
Podemos perceber, pela declaração do Secretário da Defesa dos Estados
Unidos, Robert McNamara, a situação crítica em que se encontravam os EUA e
a URSS ao criar o termo “Mutual Destruction”, do inglês, destruição mútua
assegurada”.
McNamara garante em sua declaração que, mesmo que um país sofresse um
ataque nuclear, ainda haveria tempo de deferir uma retaliação nuclear levando
à destruição de ambos os países.
A situação se torna pior ao lembrar da política de alianças militares como o
Pacto de Varsóvia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte. A
possibilidade de uma guerra nuclear era grande, levando a uma grande
catástrofe devido a potência das armas nucleares.
Diante disto, Estados Unidos e União Soviética assinaram um tratado em 1963
de Banimento Parcial de Testes Nucleares e em 1968 o Tratado de Não
Proliferação Nuclear. Esses acordos pretendiam colocar um limite à corrida
armamentista.

4.4. A corrida espacial


Além do armamento nuclear, durante a Guerra Fria os Estados Unidos e a
União Soviética investiram no desenvolvimento de tecnologia espacial. Esses
investimentos em tecnologia espacial eram vantajosos pois os foguetes
utilizados nos lançamentos de espaçonaves e satélites podiam ser utilizados
também para o lançamento de mísseis nucleares a longa distância.  Também é
importante lembrar que os satélites colocados para  orbitar em torno da terra
tinham a capacidade de monitorar e controlar o que acontecia nas mais
diversas partes do planeta.
É especialmente neste momento que os gastos com investimentos na corrida
espacial passam a ser altíssimos e as duas superpotências se veem gastando
mais do que deveriam na tentativa de demonstrar uma suposta superioridade
de um bloco frente ao outro para o mundo.
Por fim, a União Soviética foi a primeira a colocar um ser humano no espaço. O
jovem soviético chamado Yuri Gagarin marcou a presença do ser humano no
espaço. No entanto, em 1969, o voo norte americano chamado Apollo 11
conseguiu levar três astronautas americanos a pousar na lua. Estavam
presentes Neil Armstrong e Buzz Aldrin no módulo lunar em 20 de julho de
1969.
Apesar dos gastos exorbitantes, é possível dizer que os Estados Unidos da
América sobreviveram à Guerra Fria como uma potência econômica capitalista.
Já a  União Soviética, devido a problemas internos e aos gastos envolvidos na
corrida armamentista e tecnológica, se aprofundou em uma crise econômica, a
qual se tornava cada vez mais difícil de sair.

4.5. O fim da guerra fria


A Guerra Fria passou a perder força na década de 1980, quando os países
soviéticos passaram por severas crises econômicas. É claro que a crise
econômica afetou também a Alemanha Oriental, que passava por um aumento
da dívida externa, déficit comercial e falta de mercadorias básicas. Além disso,
a infraestrutura e a indústria do país eram precárias.
Tal insatisfação da população da Alemanha Oriental era agravada devido ao
autoritarismo do governo. A censura era recorrente, assim como a perseguição
de opositores. A população da Alemanha Oriental começou a organizar uma
oposição devido aos recentes movimentos que haviam acontecido na Hungria
e na Polônia. Sendo o primeiro deles o decreto de abertura de fronteiras do
país com o Oeste e o segundo a eleição de um primeiro ministro que não fosse
do partido socialista.
Em 9 de novembro de 1989, Gunter Schabowski, o porta-voz do governo
Alemão Oriental anunciou uma nova lei de mobilidade para os cidadãos da
Alemanha. Nela, eles não teriam mais restrições de passagem do lado oriental
para o ocidental. No entanto, Schabowski cometeu um engano e informou ao
jornalista que a nova lei entraria em vigor imediatamente, quando na realidade
ainda precisaria passar pela aprovação do parlamento.
Imediatamente cerca de 100 mil cidadãos se dirigiram ao muro na esperança
de que o informe fosse verdadeiro. Ao perceberem que ainda não podiam
transitar livremente se iniciou um protesto de permanência no muro, visando
forçar o governo soviético a aprovar a nova lei de mobilidade. Na madrugada
do dia 09 para o dia 10 de novembro a população começou a derrubada do
muro com martelos e picaretas.
A queda do Muro de Berlim foi o ato simbólico que marcou o fim das disputas
econômicas, militares e ideológicas entre os blocos socialistas e capitalistas,
saindo o último como vencedor. A partir de então o capitalismo dominaria o
mundo contemporâneo.

4.6. Consequências
A queda do Muro de Berlim marca visualmente o fim da bipolaridade e da
Guerra Fria, sendo um dos acontecimento mais importantes da História
Contemporânea. Ela contribuiu para a queda do bloco comunista do Leste
Europeu, que já se encontrava em crise econômica.
Além disso, contribuiu decisivamente para a reunificação da Alemanha,
trazendo um grande desafio para os governantes da Alemanha Ocidental:
modernizar a porção leste.
Unidade 2 - As independências das colônias europeias
Introdução
Seja bem-vindo à segunda unidade de História Contemporânea: Até a Nova
Ordem Mundial! Nesta unidade estudaremos sobre o pós Segunda Guerra
mundial para além da Europa. Aprenderemos como a Europa perdeu suas
colônias e como foram realizadas as independências das ex-colônias na África
e na Ásia.
Analisaremos especialmente os países africanos que foram partilhados pelas
nações europeias e que passaram pelo processo de descolonização, cada qual
com a sua particularidade e em sua época.
Em seguida, conheceremos mais sobre o Oriente Médio e suas disputas,
envolvendo a Guerra Fria e aspectos religiosos.

1. O processo de descolonização da África


Tendo pensado no significado da palavra descolonização, veremos agora os
processos de independências no continente africano, contextualizados na
segunda metade do século XX. Aqui estudaremos também os principais
desafios e problemas dessas novas nações, comparando seus processos de
independência.
Países como Egito, África do Sul e Etiópia já tinham conquistado sua
independência no início do século XX. No entanto a maioria dos países só se
tornou independente a partir da década de 1950, de acordo com cada
individualidade do local.
É importante lembrar da Conferência de Berlim, o processo do século XIX que
promoveu a partilha da África entre os países europeus colonizadores.
Portanto, além das individualidades inerentes a cada povoado e região do
continente, existiam ainda características individuais de cada governo
referentes ao seu país, como seu idioma e cultura miscigenada.
Sendo assim, analisaremos os processos de descolonização e independência
de acordo com as regiões colonizadoras.

1.1. A conferência  de Bandung


Antes de iniciarmos a análise mais minuciosa sobre as independências dos
países africanos, é necessário conhecer o contexto internacional em que elas
se encontravam.
Em 1955 foi realizada uma conferência na Indonésia com 29 países, os quais
se comprometeram em ajudar e apoiar as independências dos povos da Ásia,
África e Oceania. Estes países, de maioria africanos e asiáticos, se declararam
não alinhados a nenhuma das potências que dividiam as vertentes políticas e
ideológicas do mundo durante a Guerra Fria: Estados Unidos da América e
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Além disso, estes países se comprometeram em trabalhar pela maior igualdade
entre as nações como um ponto chave para a manutenção da paz mundial. No
entanto, os países que mais poderiam ajudar não estavam envolvidos nesta
conferência e ainda viam os movimentos de libertação destas nações como
uma possibilidade de aumentar suas áreas de influência.

1.2. O domínio  português: Moçambique, Angola e Guiné-Bissau


Portugal teve algumas nações africanas sob seu domínio desde o século XVI e
ao longo de 400 anos. Neste período, o Império português dependeu de suas
colônias na América, no Oriente e na África, locais de onde obtinha grande
parte de suas riquezas pela colonização de exploração. No século XIX, com a
independência do Brasil, o Império português se tornou ainda mais dependente
de suas colônias africanas como fonte de renda. Entre elas estavam Angola,
Moçambique e Guiné-Bissau.
Além de fornecer riquezas à Portugal, as colônias passaram a ser fontes de
emprego para os portugueses que não o encontravam em seu país de origem e
aceitavam começar uma nova vida na África, em um país que possuísse o
mesmo idioma. Chegando nas colônias, estes assumiram os empregos
qualificados deixando para os locais apenas trabalhos periféricos, secundários
e menos remunerados.
Os africanos resistiram de diversas formas, mas qualquer manifestação de
resistência era reprimida pela polícia Internacional e de Defesa do Estado
(PIDE), da ditadura portuguesa de Antônio Salazar.
Com o passar do tempo, os africanos foram adquirindo mais consciência
política e em 1951 um grupo de jovens  fundou, em Lisboa, o Centro de
Estudos Africanos. Neste grupo se destacou Agostinho Neto, de Angola, e
Amílcar Cabral, de Guiné-Bissau e Cabo Verde. Poetas e pensadores que no
futuro fariam parte da chamada “geração 50”, eles se organizaram
politicamente em lutas pela independência.
Amílcar Cabral se destacou ao fundar, em 1956, o Partido Africano para a
Independência de Guiné-Bissau e Cabo Verde, com ideologias socialista e
nacionalista. Já Agostinho Neto organizou o Movimento Popular pela
Libertação de Angola (MPLA) no ano seguinte.
Foi apenas na década de 1960 que ganhou força a luta armada, além de outros
meios de resistência que persistiram, como as publicações de jornais e greves
de trabalhadores.
Passou a ser cada vez mais comum a formação de guerrilhas como tática de
guerra. Nelas, os guerrilheiros possuíam mais conhecimento de seu território e
passaram a combater o Exércitos de Portugal, que contava com mais de 140
mil homens só na África. Os gastos do governo português para a manutenção
dessas colônias passou a ser exorbitante e desvantajoso, além do grande
número de jovens mortos nos conflitos.
Simultaneamente, em Portugal ocorre a Revolução dos Cravos, um movimento
que derrubou a ditadura salazarista, defendendo a democratização do país e o
fim do colonialismo.
Assim, em 1974 Guiné-Bissau teve sua independência reconhecida. No ano
seguinte Moçambique e Angola também conseguiram sua independência,
sendo as lutas armadas essenciais para a libertação da África Portuguesa.

1.3. O domínio  francês: Guiné e Argélia


Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a França estava arrasada
economicamente e, por isso, com dificuldades em reprimir protestos em suas
colônias. Por este motivo a estratégia do governo francês, em 1958, foi propor
um referendo à população dos territórios na África sob seu domínio.
O líder do governo, Charles de Gaulle, com isso, questionava se os territórios
dominados preferiam se manter integrados à França ou se desejavam a
separação com “consequências” econômicas.
Neste referendo, apenas Guiné escolheu pela separação imediata, mesmo que
junto dela viessem retaliações. Segundo o líder do Partido Democrático da
Guiné, “Preferimos a pobreza na liberdade à riqueza na escravidão. Temos
uma primeira e indiscutível necessidade: a de nossa dignidade. Ora, não há
dignidade sem liberdade.” (SERRANO, 1995).
É claro que a França reagiu praticando vários tipos de retaliação ao país, como
o bloqueio das contas dos guineenses nos bancos franceses, nos quais eles
não poderiam mais nem movimentar, nem retirar seu dinheiro.
Posteriormente, outras nações proclamaram sua independência pela via
diplomática, como Camarões, Senegal, Mali, Costa do Marfim, entre outras.
Apenas na Argélia foi necessária a luta armada para o processo de
independência, tendo sido extremamente violenta, com duração de oito anos
de conflito. Isso ocorreu pois tal colônia era muito próspera para a França, que
reagiu às manifestações com grande repressão e violência. Em 1954, foi
fundada a Frente de Libertação Nacional (FLN), liderada por Ben Bella, que
passou a organizar a luta armada.
Passados oito anos de conflito, haviam milhares de mortos dos dois lados,
inclusive da população civil argelina. Em 1962 a Argélia obteve sua
independência.
1.4. O domínio britânico: Gana e Quênia
Nas colônias inglesas a organização política visava “dividir para governar”,
incentivando assim a tensão entre as etnias locais e evitando a formação de
uma política de alianças contra seu domínio. No entanto, para que seu domínio
fosse duradouro, o sistema administrativo era indireto, ou seja, não era um
inglês que governava: o chefe nativo local é quem estava no poder, desde que
cooperasse com as autoridades inglesas.
Assim, ao mesmo tempo em que dividia e enfraquecia as etnias locais, a
Inglaterra passava o poder para os grupos nos quais confiava gradativamente,
preservando seus interesses econômicos na região.
No Quênia os britânicos encontraram a resistência dos Kikuyu, um povo que
desejava a devolução de suas terras dominadas, ou seja, a redistribuição das
terras dos africanos. Como líder, se destacou Jomo Kenyata, que organizou a
União Nacional Africana do Quênia, um partido político nacionalista que
defendia tal visão sobre as terras locais.
Do movimento de resistência dos Kikuyu nasceu uma guerrilha chamada Mau
Mau, a qual lutava violentamente contra o colonialismo britânico. Após muitos
enfrentamentos, a independência foi alcançada em 1963, quando o povo
elegeu como presidente Jomo Kenyata.
Já em Gana, na antiga região chamada de Costa do Ouro, que possuía muito
ouro e diamantes, a resistência se deu por meio da desobediência civil. Isto é,
uma resistência pacífica inspirada nos ensinamentos de M.K.Gandhi. Nesta
forma de resistência, os cidadãos eram incentivados a não pagar impostos, não
comprar produtos ingleses e nem seguir leis que os discriminavam dos
colonizadores.
O líder de tal resistência se chamava Kwame Nkrumah, fundador do Partido da
Convenção do Povo, que defendia a “autonomia já”, visando a união das etnias
distintas contra o domínio britânico. Em 1957, a Grã-Bretanha aceitou negociar
a independência de Gana e, em 1960, o primeiro presidente eleito foi Kwame
Nkrumah.

1.5. Domínio belga:  Congo


O colonialismo belga carregava consigo uma série de especificidades mais
radicais quando comparadas aos outros países africanos. Os congoleses não
contavam com direitos políticos, eram submetidos a trabalhos forçados e ao
racismo constante. Suas identidades foram seriamente afetadas e eram
privados de qualquer preparo intelectual mais aprofundado desde pequenos.
Diante de tal repressão e negação cultural, a luta congolesa só ganhou unidade
com Patrice Lumumba, que organizou o Movimento Nacional Congolês (MNC),
fundado em 1957.
Sob sua liderança e incentivo, diversas manifestações de rua afloraram na
capital do Congo. A pressão foi tão efetiva que, em 1960, os belgas se
retiraram do Congo e a nação se tornou independente, tendo como primeiro
presidente Patrice Lumumba.
No entanto, o projeto político de Lumumba, que promovia unidade, não
prosperou e uma província riquíssima, chamada Katanga, iniciou uma guerra
separatista. Desta forma, se iniciou a guerra civil, que, no contexto mundial da
Guerra Fria, recebia influência e apoio de ambas as superpotências estudadas
anteriormente. Por fim, Lumumba foi preso e assassinado, o que levou a ONU
a intervir no país, buscando assegurar sua independência.

1.6.  A África do Sul


A África do Sul é um caso para ser estudado à parte, independente de sua
colonização, devido às particularidades às quais o país foi submetido.
Inicialmente, é importante mencionar que a África do Sul foi ocupada por
holandeses, mas no século XIX o seu domínio passou para as mãos do
ingleses, que estavam profundamente interessados nas minas de ouro e
diamantes da região. Portanto, formou-se uma sociedade com grande
presença de ingleses, dos descendentes de holandeses, que eram conhecidos
pelo nome de bôeres, e de sul africanos nativos da região.
O conflito entre esses povos se agrava em 1911, quando os ingleses e bôeres
criam e impõem diversas leis que limitam as liberdades dos negros. A maioria
negra, nada satisfeita, passa a se organizar politicamente contra os brancos,
fundando o Congresso Nacional Africano (CNA), um partido político que lutava
pela defesa dos direitos dos nativos.
A partir de então existem dois lados em uma mesma nação e as tensões entre
eles apenas se agrava com o passar do tempo. Foi em 1948 que o governo
racista e majoritariamente branco decidiu oficializar o apartheid, uma política
racista que separava os brancos dos negros e seus direitos e deveres dentro
do país.
Assim, passaram a existir locais onde apenas brancos poderiam morar, lojas
para brancos , universidades só para negros, praias para negros, lugares no
ônibus para brancos e outros para negros, e até mesmo a obrigatoriedade de
que os negros andassem sempre com sua documentação para controle da
polícia de onde ele poderia ou não ir.
Não bastando isso, a miscigenação passou a ser ilegal, de modo que não se
permitia o casamento entre negros e brancos e nem a participação política de
negros. O destaque de movimento de resistência ao apartheid foi o líder do
CNA, chamado Nelson Mandela. Ele era um advogado que atuava legalmente
contra o regime segregacionista. Sua luta pela defesa dos negros e pelo fim do
apartheid o levou a ser preso e cumprir 27 anos na prisão.
No entanto, a luta dos negros pelo fim da segregação permaneceu e nos anos
de 1970 ocorreu um massacre em um bairro negro, conhecido como bairro de
Soweto. Semelhante a este massacre, na década anterior, a polícia havia
assassinado 67 jovens negros que realizavam uma passeata pacífica em
Sharpeville.
Frente a todo o extremismo, racismo e a segregação dentro do país, a
comunidade internacional passou a pressionar o governo da África do Sul,
exigindo melhoras. O passado recente da Segunda Guerra Mundial, com a
perseguição dos judeus agravava ainda mais o movimento racista que todos
viam crescer na África do Sul. Desta forma, a ONU proibiu a venda de armas
no país e os negros sul-africanos passaram a protestar e enfrentar o governo
diretamente. Em 1990, após tanta pressão, o governo anulou as leis
segregacionistas, acabando com o apartheid, e libertou Nelson Mandela da
prisão. Mandela foi eleito presidente do país nas eleições de 1994.

2. A descolonização da Ásia
A descolonização da Ásia, com seus processos de independência, ocorreu
simultaneamente às independências ocorridas na África, as quais acabamos de
analisar. Como visto sobre as colônias britânicas na África, foi ao final da
Segunda Guerra Mundial que teve início a desagregação do império colonial
inglês. Analisaremos aqui o caso da Índia Britânica, que se tornou
independente no pós Segunda Guerra, mas que já carregava questões
separatistas desde muito antes.

2.1. A independência da índia britânica


No final do século XIX, os movimentos de independência ganharam força na
Índia britânica, existindo dois grandes grupos que lutavam pelo fim do domínio
inglês. Um deles reunia as camadas médias da população indiana, de maioria
da religião hindu, era o Partido do Congresso. Já do outro lado existia a Liga
Muçulmana, que defendia a independência e, após isso, a separação da Índia
britânica em dois países: o Paquistão, muçulmano, e a Índia, hindu.
Após a Primeira Guerra Mundial, a luta dos indianos passou a ser personificada
por um líder chamado Mohandas Karamchand Gandhi, conhecido como
Mahatma Gandhi, que significa “a grande alma Gandhi”. Ele era extremamente
pacífico e defendia a desobediências civil, que nada mais era do que incentivar
os indianos a boicotar os produtos ingleses, não se submeterem às leis
segregacionista e não pagarem os impostos.
A partir de 1930, Gandhi liderou um grande movimento de resistência pacífica
entre os britânicos, tentando unir os hindus com os muçulmanos em torno dos
ideais de independência. Devido à grande pressão da população e frente à
decadência econômica da inglaterra após a guerra, a independência é
reconhecida em 1947. Porém, optou-se pela divisão do país em dois: a
República da Índia e a República do Paquistão.

3. Conflitos no Oriente Médio


Com frequência encontramos notícias retratando conflitos no Oriente Médio, de
maneira que muitas vezes se normaliza para nós, ocidentais, a ideia de que a
região do Oriente Médio é naturalmente conflituosa e problemática. Portanto, é
necessário conhecer e compreender melhor esta parte do mundo.
Inicialmente, devemos compreender que o Oriente Médio é uma região situada
entre  três continentes: África, Ásia e Europa, sendo, desta forma, um ponto
essencial para rotas comerciais desde a Antiguidade. Além disso, esta região é
de clima árido, de altas temperaturas e solo pouco fértil, porém abaixo deste
solo está uma das regiões do mundo onde mais se encontra jazidas de
petróleo.
Descobertas a pouco mais de um século, estas jazidas são, em grande
maioria, o motivo de conflitos recorrentes na região, uma vez que quem
controlá-la também controla grandes quantidades de petróleo. A partir da
década de 1920, as companhias norte-americanas e britânicas passaram a
disputar a região e o direito de extrair e refinar o petróleo, disputas estas que
permanecem até os dias atuais.
Além disso, a região por si só foi marcada pela disputa religiosa de um território
que seria considerado sagrado para as religiões cristã, muçulmana e judaica.

3.1. A criação do estado de Israel


O Estado de Israel é um país judaico em uma região chamada Palestina,
situada no Oriente Médio entre o Egito, Jordânia, Síria e o Líbano. No entanto,
este país não existiu sempre ali. Ele foi fundado após a Segunda Guerra
Mundial, em um período no qual milhares de judeus haviam sido perseguidos e
mortos no Holocausto.
Desde o domínio romano sobre a Palestina, os judeus perderam seu território e
se dispersaram pelo mundo, mas mantendo sempre sua cultura e religião onde
iam. No final do século XIX se destacou o Movimento Sionista, pelo qual os
judeus reivindicavam uma pátria para o seu povo, sugerindo como local a terra
sagrada, ao redor da cidade de Jerusalém. Passaram então a comprar terras
na região da Palestina.
No entanto, foi só ao final da Segunda Guerra Mundial, frente ao holocausto
realizado pelos nazistas, que mais uma vez se fez necessário realocar milhares
de judeus que se encontravam presos ou deslocados pelo mundo. Em 1947, a
ONU determinou que o território Palestino fosse dividido entre judeus e
palestinos, cada qual com seu estado independente.
Os palestinos não concordaram com a determinação da ONU, uma vez que
muitos perderiam as suas terras para a criação do Estado de Israel. De outro
lado, os judeus defendiam que, na Antiguidade, aquela terra já havia sido deles
e lhes teria sido tomada, portanto eles teriam direitos sobre ela.
Assim, iniciou-se um conflito étnico e religioso entre palestinos e judeus. Não
bastando tais rivalidades, em 1948, com a fundação do Estado de Israel, é
formada uma Liga Árabe de países que se sentiram ameaçados pela presença
dos judeus no Oriente Médio. Porém, Israel contava com o apoio dos Estados
Unidos e, por isso, estava muito bem preparado para uma possível guerra.
Fato que aconteceu posteriormente, com os judeus dominando a maior parte
das terras que antes eram da Palestina, ultrapassando até mesmo os limites
definidos pela ONU.
Veja nos mapas as mudanças territoriais na região da Palestina e de Israel.

Figura 4 - Infográfico indicando em vermelho a população palestina e a


diminuição de seu território. Fonte: Toda Materia.
4. Conflitos no Oriente Médio II
Desde a fundação do Estado de Israel e de sua expansão, os conflitos no
Oriente Médio são constantes, influenciados pelas potências estrangeiras que
procuram obter o controle do da extração do petróleo. Como resultado temos
milhões de refugiados, fugindo dos conflitos, nos países vizinhos. Em meio a
todos os conflitos, existe a cidade de Jerusalém, considerada sagrada para as
três maiores religiões do mundo e cidade internacional segundo a ONU.
Vários acordos de paz já foram firmados. No entanto, existe uma dificuldade
em que a população consiga cumprir tais acordos, como a delimitação das
fronteiras dos Estados palestino e israelense e o controle sobre os rios da
região, que garantem a água, já escassa.
Tal dificuldade em cumprir os acordos existe devido ao extremismo de ambos
os lados e seu fundamentalismo. Isto é, um movimento que defende que os
princípios étnicos e religiosos devem ser cumpridos como verdades absolutas e
inquestionáveis.

Os radicais palestinos são contrários à existência do Estado de Israel, já os


extremistas judeus querem expandir mais seu território e fazer uma “grande
Israel”. Ambos propositalmente procuram atrapalhar as negociações de paz por
não aceitarem a atual demarcação dos territórios. Dessa maneira, os conflitos
permanecem e milhares de inocentes sofrem com a situação.
4.1 A revolução iraniana
Como vimos anteriormente, a influência norte-americana e soviética eram
muito forte em todo o mundo durante a Guerra Fria. No Oriente Médio não foi
diferente, como exemplificado no apoio dos Estados Unidos a Israel.
No caso do Irã, em 1953 os Estados Unidos apoiaram um golpe de Estado do
xá Reza Pahlevi que já governava o país durante a Segunda Guerra Mundial. É
importante refletir sobre o interesse norte americano na região para apoiar um
golpe, sendo o Irã um dos maiores produtores mundiais de petróleo com uma
localização estratégica no Oriente Médio.
Durante o governo do xá Reza Pahlevi o Irã sofreu medidas modernizadoras
pró-ocidente, mas seu modelo ocidentalizado e a corrupção de seu governo
revoltou a população que era de maioria muçulmana, e em 1979 explodiu em
um movimento por mudanças.
Unidade 3 - O Colapso do mundo socialista e a nova ordem
mundial
Introdução
Bem-vindos à unidade 3 da disciplina de História Contemporânea! Nesta
unidade estudaremos como a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas,
uma superpotência, entrou em colapso  no final do século XX. Entenderemos
os motivos da crise que levou ao colapso e as mudanças ocorridas no Leste
Europeu com o desmembramento da URSS.
Também analisaremos como o mundo prosseguiu após a Guerra Fria, com o
fim da URSS como superpotência competitiva aos Estados Unidos da América.
Veremos o nascer da Nova Ordem Mundial e seus fundamentos junto da
Globalização.
Desta forma caminharemos cada vez mais próximos aos dias atuais e, pelo
estudo da História Contemporânea, entenderemos melhor o mundo em que
vivemos. Convidamos todos a descobrir e conhecer ainda mais do mundo.

1. O colapso do mundo socialista: o fim da URSS


Estudamos anteriormente como durante a Guerra Fria, no Pós Segunda Guerra
Mundial, duas superpotências passaram a dominar o mundo e se confrontar
por áreas de influência visando a defesa de seu modelo político e econômico.
As ideologias do capitalismo e comunismo se espalharam pelo mundo de
acordo com os alinhamentos dos países a estas potências.
No Leste Europeu e em boa parte da Ásia o domínio foi da União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que foi construída em 1922 e, no
momento, era o maior país do mundo, com 22,4 milhões de quilômetros
quadrados.
1.1. O governo de Josef Stalin
Josef Stalin foi um político soviético que governou a URSS de 1924 a 1953
definindo grande parte das políticas básicas da URSS após a Revolução Russa
(1917). Em seu governo, Stalin visava o crescimento econômico, impondo uma
ditadura de planejamento da economia centralizado e organizado pelos planos
quinquenais.
Diante dos planos quinquenais o governo soviético obteve um grande
crescimento econômico tendo destaque a produção de grãos e a indústria de
base. Também cresceu o desenvolvimento tecnológico e a educação, visando
a qualificação profissional. Foi neste período de crescimento que a URSS
rivalizava com os Estados Unidos da América, tendo como símbolo a corrida
espacial.
1.2. O governo de Kruschev e Brejnev
Em 1953, após a morte de Josef Stalin, iniciou-se o governo de Nikita
Kruschev. Ele foi o líder da URSS conhecido pelas suas políticas mais brandas,
de desestalinização do Estado soviético. Ou seja, ele procurou diminuir a
censura e desativar os chamados gulags , campos de trabalho forçados aos
quais eram enviados os que discordavam do regime ditatorial de Stalin.
Frente a tal postura de Kruschev diversos crimes de Stalin foram divulgados e
se revelou o que foi um regime ditatorial de prisões e violência por trás de todo
o crescimento econômico. Sendo assim, muitos militantes abandonaram os
partidos comunistas de seus países e a defesa da URSS.
Em contrapartida, o sucessor de Kruschev foi Leonid Brejnev, um membro mais
conservador do Partido Comunista Soviético. Em seu governo procurou
aumentar o controle sobre os países socialistas sob sua influência  e
internamente promoveu a censura e o retorno dos gulags para os opositores
de seu governo.
Foi no governo de Brejnev (1964-1982), ao longo da década de 1970 que a
URSS viveu uma grave crise econômica. Uma sucessão de invernos rigorosos
prejudicou a colheita, levando à baixa produtividade agrícola e, logo, à baixa
produtividade industrial. Além disso, os gastos do governo para a manutenção
das disputas na Guerra Fria vinham sendo exorbitantes e, mesmo assim, a
defasagem do bloco comunista em relação ao capitalista era clara. Também é
importante ressaltar a corrupção da burocracia soviética e do governo de uma
forma geral.
Em 1982, com a morte de Brejnev, a crise se agrava devido a decisões
políticas equivocadas. Ocorre o aumento do desemprego, do crime organizado,
do alcoolismo. Os valores morais antes compartilhados na URSS também
passam a entrar em crise, como a cooperação e a solidariedade. Desta forma,
quem assumisse o poder na União Soviética teria muitos desafios a enfrentar.

1.3. O governo de Mikhail Gorbachev


Em 1985 assumiu o governo de Mikhail Gorbachev, um dirigente que teve que
enfrentar uma grave crise econômica, e o fez buscando tornar menos rígido o
sistema político soviético.
Para isso, Gorbachev implantou um amplo sistema de reformas, conhecidas
como Perestroika e Glasnost. A Perestroika propunha a reestruturação pela
restauração econômica. Ela visava dinamizar o  país e superar os atrasos
tecnológicos, diminuindo investimentos bélicos para investir  na produção de
bens de consumo.
Entre as principais medidas da Perestroika podemos citar: a permissão da
entrada de capital estrangeiro no país, a permissão para a abertura de lojas
comerciais privadas, cortes nos gastos militares e o fim do monopólio estatal
sobre alguns setores, como o de alimentos.
Estas medidas visavam melhor atender a população e redirecionar a fonte de
renda investindo em locais onde mais era necessário. A retirada das tropas
soviéticas do Afeganistão foi a maior simbologia dos cortes militares do
período, demonstrando a diminuição do poder da URSS como superpotência
da Guerra Fria.
A outra reforma também implantada por Gorbachev foi a Glasnost, que
propunha a abertura política da URSS pela diminuição do controle burocrático
do Partido Comunista, visando descentralizar a política soviética.
Entre as principais medidas da Glasnost, podemos destacar: a libertação de
presos políticos, a concessão da liberdade de fazer greve, fim da censura à
imprensa e às artes e o fim do sistema de partido único.
O fim do Partido Comunista como sendo o partido único da URSS foi de grande
simbologia para as reformas políticas de Gorbachev, sendo implantado o
pluripartidarismo, isto é, a possibilidade de existência de diversos partidos
políticos.
Tanto a Perestroika como a Glasnost eram reformas vistas com receio pelos
antigos políticos da URSS, que tinham como objetivo a manutenção de seus
privilégios. Esta ala conservadora do Partido Comunista era contrária às
reformas. Ao contrário dela existiam também os ultra-reformistas que visavam
a aceleração das reformas. Portanto, Gorbachev era criticado de ambos os
lados.
Em 1991, os conservadores aplicaram um golpe de Estado visando retirar
Gorbachev do poder. Com o apoio às reformas, a população reagiu e, liderados
pelo ultra-reformista Boris Yeltsin, combateram os golpistas e devolveram o
poder a Gorbachev.
Mikhail Gorbatchev permaneceu no governo legalmente, mas o exercício do
poder era de Boris Yeltsin, que já era então presidente da Rússia. As
mudanças incentivadas por Gorbatchev geraram frutos em toda a URSS e,
uma por uma, as repúblicas que a compunham foram buscando a
independência. Por fim, em dezembro de 1991 foi assinado o Acordo de
Mensk, pelos presidentes da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia. Ele determinava a
criação da Comunidade de Estados Independentes (CEI) extinguindo a URSS
como entidade política.

2. O colapso do mundo socialista: o leste europeu


A URSS era composta de diversos povos, com religiões, hábitos e línguas
próprias. No entanto, durante o governo de Stalin foi implantado um processo
conhecido como russificação. Isto significava que passaria a haver uma
tentativa efetiva de homogeneizar as culturas e práticas em toda a URSS.
Inicialmente, tornou-se obrigatório o ensino da língua russa em todo o território.
Em seguida, russos foram nomeados para os principais cargos do governo, o
deslocamento de russos para as demais repúblicas soviéticas foi incentivado e
foi ordenada a remoção dos não russos que ali viviam, buscando acabar com a
pluralidade dentro do território da URSS.
Esses enfrentamentos com outras culturas e povos geraram protestos e o
crescimento do nacionalismo em diversas repúblicas socialistas. Procurando
reprimi-los, os que discordavam era enviados aos gulags russos.
Com o fim do período stalinista, as repúblicas socialistas ganharam esperanças
de que haveria alguma mudança. No entanto, com o governo de Brejnev a
repressão foi agravada, aumentando o controle da URSS sobre os países
socialistas e em dois momentos foi autorizado o uso da violência nesses
países.
A primeira delas foi na chamada Primavera de Praga, em 1968. A chamada
Primavera de Praga nada mais era que um movimento pacífico que pretendia
transformar em uma democracia o sistema político comunista da
Tchecoslováquia. As tropas da URSS invadiram a Tchecoslováquia e
reprimiram tal movimento brutalmente com seus soldados.
Já o segundo momento foi 11 anos depois, com o envio de tropas russas para
o Afeganistão, para ajudar o governo comunista local que tentava conter um
levante islâmico.
2.1. O leste europeu
Com o final da Segunda Guerra Mundial, diversos países do chamado Leste
Europeu se alinharam à URSS, devido às necessidades de reconstrução e às
disputas por áreas de influência entre os Estados Unidos e a União Soviética.
Alguns países muito próximos dependiam diretamente da URSS e foram
chamados de países-satélites. Eram eles Polônia, Tchecoslováquia, Romênia,
Hungria, Alemanha Oriental, entre outros. Estes países por muito tempo
viveram sob domínio direto da URSS, de seu modelo político, econômico, de
sua ideologia, assim como de seus limites e censuras.
Foi apenas após a criação da CEI que os países socialistas do Leste Europeu
iniciaram um processo de transição para o sistema capitalista. A transição
econômica e ideológica não foi fácil, porém na maioria dos países foi pacífica,
visto que eram perceptíveis os efeitos da crise da URSS.
2.2. A Alemanha Oriental
No caso da Alemanha, estudamos anteriormente sua divisão, ocorrida com o
fim da Segunda Guerra Mundial. Em 1949 foram criadas duas Alemanhas:
Alemanha Oriental (socialista) e Alemanha Ocidental (capitalista). Além disso,
vimos que a cidade de Berlim também foi dividida na mesma lógica, criando a
Berlim Ocidental e Berlim Oriental.
Devido a crise na URSS e as diferenças dos modos de vida nos distintos
modelos econômicos, os cidadãos da Berlim Oriental começaram a fugir para a
Berlim Ocidental. Visando diminuir as fugas, em 1961, foi criado o Muro de
Berlim.
Na década de 1980, descontentes com a falta de liberdade e as condições de
vida, os cidadãos da Berlim Oriental, estimulados pela Glasnost, promoveram
diversas manifestações e, em 1989, foi derrubado o Muro de Berlim, marcando
o fim da Ordem Mundial Bipolarizada. Em 1990, Gorbachev ordenou a retirada
das tropas soviéticas da Alemanha, que, no mesmo ano, voltou a ser um país
único.

2.3. Caso da Iugoslávia


A Iugoslávia era uma área de influência soviética dividida em seis repúblicas:
Croácia, Eslovênia, Bósnia-Hezergóvina, Sérvia, Montenegro e Macedônia. A
região era governada pelo marechal Josip Tito, que, para garantir a paz,
distribuía igualmente os recursos e poderes entre as seis repúblicas.
No entanto, com a morte de Tito em 1980, o equilíbrio entre as etnias se
desfez. As repúblicas mais ricas começaram a reivindicar a separação das
demais, buscando não precisar dividir seus recursos. Assim, o nacionalismo
começou a se sobressair ao comunismo.
Foi em um momento de crise econômica na região que as repúblicas mais
ricas, como a Eslovênia e a Croácia, se declararam independentes em 1991.
Descontente, o presidente da Iugoslávia, justificando que precisaria defender
uma minoria sérvia que vivia na Croácia, decretou a invasão do país. Foi
necessário que a força de paz da ONU interviesse para que o conflito tivesse
um fim e que as duas independências fossem reconhecidas.
Ao mesmo tempo, na Bósnia um governo foi recém-eleito constituído por uma
maioria de bósnios-muçulmanos. Novamente descontente, o Presidente da
Iugoslávia armou os sérvios e iniciou uma guerra contra o novo governo. O
conflito étnico-religioso durou três anos e recebeu diversas denúncias da
ocorrência de política de limpeza étnica.
Frente ao conflito, a Otan interveio nos Bálcãs, forçando a Iugoslávia a
reconhecer a Bósnia como país independente. Em 2003 o Parlamento
Iugoslavo se reuniu e decidiu extinguir a República Federal da Iugoslávia,
constituindo o Estado da Sérvia e Montenegro.
3. O surgimento da nova ordem mundial
Com o fim da Ordem Mundial Bipolar, ao final da Guerra Fria, ocorreu o
fortalecimento de vários pólos de poder, formando a Nova Ordem Mundial. Este
novo momento na História Contemporânea traz a divisão do mundo em
diversos pólos capitalistas, não tendo mais somente um ou dois focos de
poder.
3.1. Mundo multipolar
Com o fim da Guerra Fria, a disputa entre Estados Unidos e a URSS resultou
na emergência dos EUA como a maior superpotência econômica e militar do
planeta. O confronto entre o modelo capitalista e socialista foi substituído por
uma disputa interna do próprio capitalismo, pela formação de alianças, que
geraram blocos de poder político e econômico.
Desta forma, ao final do século XX, passaram a existir três blocos de poder: o
americano, liderado pelos Estados Unidos, o oriental, cujo centro é o Japão, e
o europeu, constituído pelos países da União Europeia.
Já no começo do século XXI, passou a haver grande crescimento da China,
que juntamente com outros países emergentes, como a Rússia, o Brasil e a
Índia, fazem parte deste mundo multipolar em que vivemos atualmente.
3.2. A China como nova potência mundial
A China foi um país que surpreendeu por seu crescimento e desenvolvimento
na segunda metade do século XX. O país que anteriormente funcionava em um
modelo socialista, caracterizado pela personificação de Mao Tse Tung,
realizava pouco comércio com outros países.
No entanto, após a morte de Mao Tse Tung em 1976 o país começo a focar no
comércio e no investimento estrangeiro, buscando a melhoria de sua
economia. Sendo assim, durante toda a década de 1980, a China passou por
grandes transformações. A abertura econômica foi acompanhada pela forte
intervenção do Estado, que controlava rigidamente a produção do país.
Neste período a indústria recebeu altos investimentos estatais em tecnologia e
passou por um período de modernização extrema. Levando em consideração o
novo mundo em que se encontrava, suas indústrias vieram a ser úteis a
diversas fábricas e produtores estrangeiros, como veremos em seguida numa
abordagem sobre a desvinculação da criação do produto com a sua produção.
Este é um dos motivos pelos quais encontramos até mesmo no Brasil diversos
objetos de consumo com a famosa etiqueta “made in china”. Assim, podemos
refletir sobre a industrialização chinesa e também sobre a dispersão destes
produtos no mundo globalizado e multipolar.
Apesar disto, o governo chinês não apresentou grandes mudanças em relação
aos períodos anteriores. O Partido Comunista continua a governar o país e
muitas são as regiões e casos em que a liberdade física e de expressão são
violadas.
3.3 Terceiro mundo
É importante mencionar que durante a Guerra Fria foi criada uma divisão de
alinhamentos político-econômicos que acabou por perdurar no mundo
multipolar.
Esta divisão propunha um grupo de países que não estariam alinhados nem
com a URSS nem com os EUA, de maneira que se mantiveram neutros
durante esta disputa mundial por áreas de influência, ao longo da Guerra Fria.
Mas, como estes países conseguiram independência suficiente em relação às
superpotências?
A desvinculação passou a ocorrer após a Segunda Guerra Mundial, no
momento em que as nações imperialistas europeias estavam destruídas e
preocupadas com os gastos financeiros envolvidos na reconstrução de seu
território e de sua economia.
Algumas, em especial, foram devastadas não só fisicamente, mas também
política, economicamente e culturalmente. Como exemplos podemos pensar na
Alemanha, dividida entre capitalistas e socialistas com o objetivo de garantir o
fim da cultura e ideologia nazistas.
Foi neste momento que diversos países da África e Ásia conseguiram a sua
independência, como vimos anteriormente nesta disciplina. Muitos dos líderes
que governavam essas novas nações não tinham a intenção de se “alinhar”
com nenhum dos dois blocos de poder. Após passarem anos de suas histórias
subjugados como colônias de outros países, eles buscavam a completa
independência.
Para isso, foi realizada em abril de 1955 uma reunião de 29 governantes dos
países afro-asiáticos chamada Conferência de Bandung. Realizada na
Indonésia, esta conferência foi responsável pela criação de um documento que
criticava o racismo e o imperialismo e defendia o direito dessas nações de ser
plenamente independentes, podendo opinar e ter mais participação nas
tomadas de decisões globais.
Estes países ficaram conhecidos como os “Países Não Alinhados”, dos quais
participavam especialmente Índia, África do Sul e Egito, entre outros países.
Eles argumentavam que, na realidade, o que estava sendo formada era uma
divisão entre países ricos e países pobres.

Desta maneira eles passam a ser considerados o Terceiro Mundo, isto é, a


parte alternativa do mundo, enquanto o Primeiro Mundo seria composto pelos
países capitalistas alinhados aos EUA e o Segundo Mundo, pelos países
socialistas, alinhados à URSS.
Esta conferência e as ideias dos países do Terceiro Mundo originaram um
movimento conhecido como terceiro-mundismo, no qual os países de Terceiro
Mundo culpabilizavam as nações imperialistas pelo passado de exploração, o
que os teria levado à situação atual de pobreza.
No entanto, é necessário refletir sobre as ações dos políticos locais após as
independências. É inegável que em muitos desses países a desigualdade
proporcionada pela exploração das nações imperialistas foi acentuada e as
elites no poder, que não tinham como pretensão realizar a distribuição de renda
e promover políticas públicas para melhorar as condições de vida nesses
locais, se aproveitaram da situação.
4. A globalização
O processo de globalização pode ser definido como um processo histórico de
crescente integração econômica, social e cultural entre diferentes povos e
países. Tal processo se iniciou com as chamadas Grandes Navegações no
século XV, quando a economia dos países passou a ser interligada. No
entanto, foi com a Primeira e Segunda Revolução Industrial, que as mudanças
tecnológicas permitiram alterar o modo de vida de todo o planeta.
Após a Segunda Guerra Mundial o ritmo das mudanças passou a ser mais
intenso. Os investimentos em tecnologia e as demandas do capitalismo
levaram à Revolução Técnico-Científico-Informacional, ou Terceira Revolução
Industrial.
4.1. Características da globalização
Apesar de vivermos na era globalizada, é difícil refletir sobre ela e como suas
imposições permeiam e definem nossas vidas. Podemos analisar mais
atentamente algumas características da globalização como a
Internacionalização da produção, aumento da circulação de capitais e as
informações transmitidas em tempo real.
Quanto à Internacionalização da produção, podemos refletir sobre a distinção
criada entre a criação de um produto e a sua produção. Isto é, a forma como é
desvinculada a produção de fato de um produto nas fábricas e a criação deste
produto entre os líderes da marca.
Isto passou a ocorrer com a globalização, uma vez que as empresas
multinacionais percebem que é possível produzir gastando menos ao reduzir o
valor gasto com a mão de obra. Normalmente os países em desenvolvimento
possuem leis trabalhistas mais brandas e mão de obra mais barata, motivo que
faz com que as multinacionais realizem a transferência de suas fábricas para
estes países, visando internacionalizar sua produção.
Quanto ao aumento da circulação de capitais, isso diz respeito a uma enorme
quantidade de dinheiro que circula pelo mundo na forma de empréstimos e
investimentos. Para isso, se faz uso frequente de computadores, eletrônicos e
dados em grande quantidade.
Sobre as Informações transmitidas em tempo real é necessário pensar em uma
revolução da informação. Isto aconteceu porque, com o advento de novas
tecnologias, as informações passaram a ser transmitidas em tempo real e
interligar pessoas por todo o mundo.
Com isso, passou a se acentuar a sensação de que o mundo seria menor do
que realmente é, pois passa a ser possível viajar e conseguir informações de
diversas partes do mundo em um período de tempo cada vez menor.
No âmbito cultural, a internet propiciou uma integração de comportamentos em
todo o mundo. Logicamente, o sistema capitalista faz grande uso de tal
integração de maneira que é mais fácil lucrar ao gerar um único tipo de
mercado consumidor homogeneizado. Desta forma, se faz uso desta indústria
cultural globalizada para ampliar o mercado consumidor.

4.2. A globalização e os blocos econômicos.


Como vimos anteriormente a globalização permite que politicamente e
economicamente exista uma interligação entre os países. Com a manutenção
da ordem multipolar, países, especialmente vizinhos, buscaram realizar
alianças entre si com o propósito de melhorar sua posição mundialmente como
nação.
Estas alianças podem envolver diversos níveis de relação entre os países,
sendo possível a definição de uma zona de livre comércio, zona de preferência
tarifária, união aduaneira, união economica e monetária e mercado comum.
Cada nível de relação indica um maior ou menor comprometimento da
soberania do país.
Entre os blocos econômicos mais conhecidos pelos brasileiros temos o
Mercosul, o BRICS e a União Europeia. Mas o que são estes grupos e como
Brasil pode estar participando de dois deles ao mesmo tempo?
O Mercosul, ou Mercado comum do Sul  nada mais é que um bloco de países
vizinhos no quais integram o Brasil, Uruguai, Paraguai, Venezuela e Argentina.
Criado em 1991 com o Tratado de Assunção o Mercosul propõe uma zona de
livre comércio, isto é, a partir de 1991 os produtos produzidos nos países
membro podem ser comercializados sem tarifas, estando excluídos deste
acordo apenas alguns produtos especiais. Também é possível a livre
circulação de pessoas para o turismo, de forma que não é necessários que os
cidadão dos países integrantes solicitem visto de entrada ao circular dentro do
bloco.
Além disso, para se manter no grupo os países devem seguir algumas normas,
como a manutenção do sistema democrático. Em 2017 a cúpula se reuniu e
suspendeu temporariamente a Venezuela do grupo por desrespeitar a ordem
democrática. Estima-se que no futuro o Mercosul adotará uma moeda única
para todos os países integrantes.

O BRICS é um grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul,
países que estão com a economia em crescimento e que representam grande
parte do Produto Interno Bruto mundial. Desde 2006 ocorrem reuniões anuais
buscando definir acordos e estratégias de cooperação entre eles.
Juntos, estes cinco países reforçam as pesquisas sobre o mundo globalizado
no qual existe forte tendência à descentralização do poder político-econômico.
Já a União Europeia é uma união econômica na qual 28 países independentes
participam. Nela existe um mercado comum e a aplicação de leis comum a
todos os governos. Dentro do espaço conhecido como Schengen busca-se
garantir a livre circulação de pessoas, assim como de capitais sendo abolido os
controles de passaporte.
Em 1999 foi criada a Zona do Euro, isto é uma união monetária composta por
18 Estados-membro que definem a utilização de uma só moeda, o Euro. Isso
busca garantir a paridade no poder de compra.

Unidade 4 - Globalização e terrorismo


Introdução
Bem-vindo à unidade 4 da disciplina de História Contemporânea! Estamos
cada vez mais próximos de estudar o período em que vivemos. Na unidade
anterior aprendemos sobre o fim da Guerra Fria, com a Ordem Bipolar e o
surgimento de uma Nova Ordem Mundial, desta vez multipolar e capitalista.
Nesta unidade aprenderemos sobre a Globalização na Nova Ordem Mundial, e
como os Estados e as políticas se moldaram à ela. Também veremos suas
consequências e alguns processos com características próprias como o
Terrorismo no mundo globalizado.
1. A globalização e o neoliberalismo
A Globalização foi um processo histórico de significativa interligação
econômica, cultural e social no mundo. A partir dela o mundo passou a ser
visto como um conjunto único de atividades conectadas entre si e que não são
limitadas pelas fronteiras locais ou internacionais. Mas como tal processo terá
ocorrido?
O termo globalização é bastante antigo, remontando ao período em que, com
as Grandes Navegações europeias (séculos XV e XVI), o mundo começou a
ser organizado em uma economia interligada, na qual os capitais fluíam de um
país ao outro. Era o princípio da chamada economia-mundo.
No século XVIII, com a Primeira Revolução Industrial e as fábricas, e na
metade do XIX, com a Segunda Revolução Industrial e os meios técnico-
científico, os transportes e as comunicações, podemos notar a aceleração da
ligação entre as economias e países que comercializavam e transportavam
matérias primas, meios de consumo e circulavam dinheiro entre Estados
distintos.
No entanto, após o fim da Segunda Guerra Mundial, com os investimentos em
ciência e tecnologia provenientes do período da Guerra Fria, devido às
demandas do próprio capitalismo, passou a ocorrer a robotização dos
processos produtivos, entre outras descobertas as quais deram ao período da
década de 1970 o nome de Terceira Revolução Industrial. É neste período que
podemos de fato definir a Globalização como a conhecemos hoje:
característica de uma sociedade global interligada econômica,  política e
culturalmente.
1.1. Últimas décadas do século XX
As últimas décadas do século XX foram marcadas por rupturas significativas no
campo da História. Entre elas podemos citar a Queda do Muro de Berlim, a
dissolução da URSS, a corrida aeroespacial, a revolução microeletrônica e a
ascensão dos  governos neoliberais. Mas o que seriam este governos
neoliberais?
O neoliberalismo é uma doutrina política e econômica que se expandiu na
segunda metade do século XX defendendo a não intervenção do Estado na
economia. Para os adeptos de tal doutrina o mercado econômico se regularia
naturalmente baseado na ideia de oferta e procura.
Ou seja, os defensores do neoliberalismo justificam que a abertura do mercado
de um país à concorrência internacional forçaria os fabricantes nacionais  a
produzirem bens de melhor qualidade com um preço menor, uma vez que
agora existe a concorrência internacional.
Para eles tal processo seria vantajoso para o consumidor, que teria diversas
opções de consumir bens com qualidade por um preço baixo e competitivo.
1.2. A crítica ao estado de bem-estar social
Os defensores do neoliberalismo criticam duramente os governos que os
antecederam que propunham o Estado de Bem-Estar Social. No Estado de
Bem-Estar Social, o governo realizava políticas que tinham o objetivo de suprir
as necessidades básicas dos cidadãos por meio da intervenção pública nos
mecanismos de produção, aumentando, assim, a transferência de renda para
os setores mais carentes da sociedade.

Você sabia?
Nos Estados Unidos da América, o Estado de Bem-Estar Social foi essencial
para que o país conseguisse se reerguer após a crise de superprodução
ocorrida de 1929. Naquele caso, o modelo ficou conhecido pelo nome de New
Deal (Novo Acordo), que durante o período de governo de Franklin Delano
Roosevelt aumentou a intervenção do Estado na economia limitando a
produção de mercadorias, acrescentando medidas trabalhistas como o salário
mínimo e investindo em programas de distribuição de renda.Os neoliberalistas
acreditam que tal modelo interferia demais na livre circulação econômica,
impedindo que os países regulem seu mercado pela lei da oferta e da procura.
Então, por exemplo, ao garantir um salário mínimo para todos, o Estado
influenciou na ordem anterior que previa que quanto mais pessoas disponíveis
para trabalhar menor seria o salário pago pelo contratante.

Já os críticos ao neoliberalismo defendem que a abertura do mercado nacional


aos capitalistas e mercadorias estrangeiras seria prejudicial à indústria
nacional, que perderia seu mercado consumidor local e pela falta de renda
precisaria demitir funcionários, levando assim ao desemprego e favorecendo as
multinacionais.
1.3. Os rostos do neoliberalismo
Como vimos anteriormente, o neoliberalismo foi uma política econômica
característica do final do século XX que defende o livre comércio e a não
intervenção do Estado na economia. Isto se demonstra em uma economia com
o grande número de privatizações de empresas que antes eram poder do
Estado, diminuição de gastos com bem estar social como seguro desemprego,
aposentadoria, auxílio doença, direitos trabalhistas.
Dois estadistas foram associados ao neoliberalismo no século XX, são eles
Margaret Thatcher e Ronald Reagan, dois importantes líderes do mundo
capitalista. Ela foi primeira ministra do Reino Unido entre 1979 e 1990 e ele,
Presidente dos Estados Unidos da América de 1981 a 1989.
Estes dois políticos praticaram e defenderam as políticas neoliberais em seus
países, diminuindo os impostos das redes de amparo social para criar espaço
de diminuição dos impostos às grandes empresas, gerando menos burocracia
e mais espaço para a iniciativa privada.
No Brasil o neoliberalismo foi a política vigente no governo de Fernando Collor
de Mello de 1990 a 1992, momento em que ocorreu uma política de abertura às
importações diminuindo-se as tarifas protecionistas e iniciou-se um processo
de privatização das empresas estatais.

2. Globalização, sociedade e tecnologia


Vimos anteriormente que, mesmo que se mostrasse uma tendência desde o
final da década de 1960, foi somente com o crescimento da Terceira Revolução
Industrial e a partir da década de 1990 que o conjunto de técnicas da
informática, tecnologia e comunicações se expandiu por todo o mundo,
acarretando em uma completa reconfiguração na economia, na sociedade e na
cultura como um todo.
Globalização foi o termo escolhido para designar estas transformações e inter-
relações no mundo contemporâneo caracterizadas pela difusão das tecnologias
e a abertura dos mercados internacionais.
Vimos na unidade anterior características deste processo de globalização,
como a internacionalização da produção, na qual ocorre a separação entre a
criação de um produto e sua produção, o aumento da circulação de capitais
interligando as economias de países distintos por meio de empréstimos e
investimentos. Além disso, falamos do aumento do fluxo de mercadorias entre
países e das informações transmitidas em tempo real.
2.1. Avanços tecnológicos na era global
Com o fim do mundo polarizado característico da Guerra Fria e com o advento
da Revolução Tecnológica ficou mais fácil conceber o mundo como um só, isto
é, um mesmo local unido pelas características básicas, independente de
diferenças políticas, culturais e sociais. Uma das consequências mais
significativas foi a maior agilidade na comunicação e na transferência de
recursos financeiros.
Foi a tecnologia desenvolvida durante a Guerra Fria que possibilitou esta maior
agilidade de informações, necessária, naquele momento, devido ao medo
constante que existia pela ameaça de uma guerra nuclear. Posteriormente,
com o fim do mundo bipolar, esta rede de informações foi aberta para uso dos
cientistas e professores para que trocassem informações de pesquisas
desenvolvidas para o desenvolvimento tecnológico.
Em 1990 foi liberado o uso da internet oficialmente para uso comercial, o que
se tornou símbolo da globalização. Veja abaixo o texto de Nicolau Sevcenko
sobre as empresas no mundo globalizado:
“Com o processo de revolução da microeletrônica, da informática e das
comunicações, as empresas ganharam enorme flexibilidade, de maneira que
elas podem decompor e recompor o conjunto de seu sistema produtivo no
sentido de conseguir os melhores resultados dessa mobilidade. Assim, as
empresas podem estabelecer seu setor produtivo na parte do mundo onde os
juros e os salários sejam os mais baixos, e os sindicatos mais controlados,
para ter lucros maiores.

Além disso, as empresas colocam as filiais destinadas à captação de matérias-


primas onde a legislação de proteção ao meio ambiente é menos elaborada.
Depois, elas instalam seu sistema financeiro onde os juros são mais altos. Por
fim, colocam sua direção e gerência administrativa na região onde a qualidade
de vida é a mais alta possível. Então, desdobra-se a empresa de forma a ter o
maior benefício possível das fragilidades e vantagens encontradas em todas as
partes de um sistema econômico e politicamente desigual. Isso aumenta a
lucratividade.

A contrapartida desse processo é que se algum país não aceitar essas


condições, a empresa simplesmente retira o seu investimento e o que resta ao
país é minguar na miséria absoluta.

Portanto, configura-se uma chantagem econômica. Mas, como os países


atrelados a um sistema aberto de investimento externo dependem desse
circuito, os Estados locais encontram-se desprovidos de poder de negociação
diante do poderio das grandes empresas. Ato contínuo, as grandes empresas
ditam as negociações, bem como a agenda política desses países.Portanto, a
situação do mundo foi reconfigurada, de modo que o capitalismo se tornou
transnacional e os Estados perderam sua soberania de maneira drástica. Por
outro lado, os Estados-sede das empresas ganharam um poder de intervenção
e de defesa de seus interesses que os transformou em megapotências de
abrangência mundial.” (Nicolau Sevcenko. Revista E do Sesc São Paulo),
n.o 53, out. 2001 .

Disponível em:
< https://www.sescsp.org.br/online/artigo/1267_ENTREVISTANICOLAU+SEVC
ENKO  . Acesso em: 12 jul. 2019.)
Sendo assim, podemos refletir como os avanços tecnológicos alteraram a
forma com que os países se relacionam, assim como a maneira de
funcionamento do capitalismo atual.
2.2. Consequências do processo de globalização
Partindo das análises realizadas anteriormente, é possível refletir sobre as
contradições do processo de globalização, que, ao mesmo tempo em que
propõe o contato entre a população mundial das mais distintas realidades,
também acentua as diferenças locais por processos como os das
multinacionais desvinculando a criação do produto de sua produção. Os países
agora estão interligados, mas isto acaba justificando a exploração dos países
em desenvolvimento pelos que já são desenvolvidos no modelo capitalista, os
quais  vêem na globalização e nos avanços tecnológicos uma maneira de
lucrar e incentivar o capitalismo mesmo frente à exploração exacerbada.
Ao final da década de 1990, começam a surgir movimentos críticos, que se
organizavam para questionar esta globalização “perversa” pelo mundo.
Podemos ler o texto do professor Milton Santos abaixo demonstrando tal
questionamento ao modelo de globalização existente:
“Vivemos num mundo confuso e confusamente percebido. Haverá nisto um
paradoxo pedindo uma explicação? De um lado, é abusivamente mencionado
o extraordinário progresso das ciências e das técnicas, das quais um dos frutos
são os novos materiais artificiais que autorizam precisão e a intencionalidade.
De outro lado, há também, referência obrigatória à aceleração contemporânea
e todas as vertigens que cria, a começar pela própria velocidade.

Todos esses, porém, são dados de um mundo físico fabricado pelo homem,
cuja utilização, aliás, permite que o mundo se torne esse mundo confuso e
confusamente percebido. Explicações mecanicistas são, todavia, insuficientes.
É a maneira como, sobre essa base material, se produz a história humana que
é a verdadeira responsável pela criação da torre de babel em que vive a nossa
era globalizada.
Quando tudo permite imaginar que se tornou possível a criação de um mundo
veraz, o que é imposto aos espíritos é um mundo de fabulações, que se
aproveita do alargamento de todos os contextos para consagrar um discurso
único. Seus fundamentos são a informação e o seu império, que encontram
alicerce na produção de imagens e do imaginário, e se opõem ao serviço do
império do dinheiro, fundado este na economização e na monetarização da
vida social e da vida pessoal. (...) Devemos considerar a existência de pelo
menos três mundos num só:

Globalização como fábula: ideia sustentada pela máquina ideológica. Fala-se,


por exemplo, em uma aldeia global para fazer crer que a difusão instantânea
de notícias realmente informa as pessoas. A partir desse mito e do
encurtamento das distâncias – para aqueles que podem efetivamente viajar –
se difunde a noção de que o mundo se houvesse tornado, para todos, ao
alcance da mão.

Globalização como perversidade: de fato, para a maior parte da humanidade a


globalização está se impondo como uma fábula de perversidades. O
desemprego crescente se torna crônico; a pobreza aumenta e as classes
médias perdem em qualidade de vida; mortalidade infantil permanece; a
educação de qualidade é cada vez mais inacessível.

Globalização como possibilidade: todavia, podemos pensar na construção de


um outro mundo, mediante uma globalização mais humana. Baseada na
mistura de povos, raças, culturas, gostos. A isso se acrescente, graças ao
progresso da informação, a "mistura" de filosofias, em detrimento do
racionalismo europeu.(...)

Globalização é, de certa forma, o ápice do processo de internacionalização do


mundo capitalista. No fim do século XX e graças aos avanços da ciência,
produziu-se um sistema de técnicas presidido pelas técnicas da informação,
que passaram a exercer um papel de elo entre as demais, unindo-as e
assegurando ao novo sistema técnico uma presença planetária. Só que a
globalização não é apenas a existência desse novo sistema de técnicas.

Ela é também o resultado das ações que asseguram a emergência de um


mercado dito global, responsável pelo essencial dos processos políticos
atualmente eficazes.

” (Milton Santos. Por uma outra globalização: do pensamento único à


consciência universal. São Paulo: Record, 2000. p. 18-23.)
Após ler o texto de Milton Santos podemos refletir sobre como pensamos
recorrentemente na Globalização como fábula e, no entanto, como sofremos a
Globalização como perversidade na qual as maravilhas da tecnologia, o
encurtamento das distâncias, a difusão da informação na realidade nos são
oferecidos à distância em troca do desemprego e das desigualdades sociais
nos países menos desenvolvidos. Sendo necessário refletir sobre a
Globalização como possibilidade e lutar por ela.

3. Terrorismo na era global


Nota-se que as contradições do processo de globalização levaram ao aumento
das desigualdades sociais e à difusão da cultura ocidental pelo mundo. Esta
cultura é apresentada pelos meios de comunicação como a “correta”, a
“superior” às demais culturas, sendo questionável se a difusão dos meios de
comunicação promoveu a diversidade e a criação de uma cultura global ou se
foi um difusor da cultura anglo-americana.
Neste contexto, cada vez mais partes da população mundial vêm sendo
colocadas em situações de exclusão sócio-econômicas e as diferenças
culturais vêm sendo acentuadas.
Desta forma, o terrorismo aparece como uma maneira que algumas minorias
encontraram de impor as suas ideias se utilizando de violência psíquica e
física.
3.1. Terrorismo e os meios de comunicação
Atualmente, o terrorismo é visto como um ataque físico normalmente
internacional com a intenção de causar pânico e chamar a atenção do mundo
para algum grupo terrorista, o qual reivindica e problematiza algum problema
específico. Além disso, o terrorismo faz uso dos meios de comunicação em
massa globalizados, uma vez que sua intenção é chamar a atenção do mundo
para seu problema utilizando-se de um atentado. Os meios de comunicação,
ao transmitirem tais ações, concedem ao terrorista a atenção desejada e
provam a viabilidade das ações terroristas.
Com o passar do tempo, esta nova faceta do terrorismo foi se alterando, sendo
que atualmente a grande maioria dos ataques ocorre por discordância religiosa
ou motivos políticos. Como exemplo podemos lembrar que nos últimos anos
diversos ataques ocorreram na Europa por pessoas dispostas a culpabilizar as
nações europeias pela exploração, no século XIX, de seus países de origem.
4. Terrorismo na era global II
O terrorismo, portanto, sofreu modificações devido ao desenvolvimento da
globalização, assim como alterou seus motivos e suas formas de se difundir
pelo mundo.
A globalização é responsável por acentuar as desigualdades sociais, desta vez
em uma esfera mundial, e o terrorismo utiliza de suas facetas para conquistar
espaço, como a utilização dos meios de comunicação para a difusão dos
ataques e o uso da internet e dos meios tecnológicos para se organizar e
adquirir informações antes privadas.
Agora analisaremos dois momentos do terrorismo na era globalizada, sendo o
primeiro deles o atentado de 11 de setembro de 2001, que marca o início da
Guerra ao Terror e o segundo, o nascimento e crescimento do Estado Islâmico.
4.1. Os atentados de 11 de setembro de 2001
No dia 11 do mês de setembro do ano de 2001 os Estados Unidos da América
sofreram uma série de ataques terroristas praticados por suicidas e assumidos
pela organização fundamentalista islâmica al-Qaeda.
Neste dia, dezenove terroristas sequestraram quatro aviões de passageiros
colidindo dois deles intencionalmente contra o complexo de edifícios chamado
World Trade Center, localizado na cidade de Manhattan em Nova York.
Outros dois aviões foram intencionalmente derrubados no Pentágono, a sede
do departamento de defesa americano, e em um campo aberto na Pensilvânia
após alguns passageiros terem se revoltado e assumido o controle da
aeronave. Não houve sobreviventes em nenhum dos voos.

Confirmando as características do terrorismo na era globalizada, todas as


colisões dos aviões foram documentadas e transmitidas em tempo real para
todo o mundo. O pânico e o medo tomaram conta da comunidade internacional,
pois o maior símbolo de prosperidade do capitalismo em seu núcleo, os
Estados Unidos da América, estava sendo atacado.
Como resposta aos ataques, o presidente americano George W. Bush iniciou a
chamada Guerra ao Terror, visando a retaliação aos atentados. Os Estados
Unidos invadiram então o Afeganistão, país que havia abrigado a al-Qaeda.
Posteriormente, a Guerra ao Terror foi usada também para justificar a invasão
do Iraque em 2003.
Além disso, as leis antiterrorismo foram reforçadas, a bolsa de valores
permaneceu fechada por quase uma semana e os danos materiais, financeiros
e psicológicos foram inestimáveis.

4.2. Ascensão do Estado Islâmico


Conhecida como Estado Islâmico, a organização jihadista islâmica inicialmente
recebia o nome de Estado Islâmico do Iraque e do Levante/Síria. O grupo foi
criado após a invasão do iraque em 2003 e prega a formação de um Estado,
mais exatamente um califado, sob as leis do islamismo radical. Eles afirmam
sua autoridade sobre todos os muçulmanos do mundo e defendem uma
expansão de seu território até a dominação de todas as regiões de maioria
islâmica.
Inicialmente era composto por diversas organizações terroristas sunitas, entre
elas a Al-Qaeda, mas foi se expandindo com a absorção de grupos tribais do
Iraque e, posteriormente, com a sua participação na Guerra Civil na Síria.
Sua atuação na Guerra Civil da Síria ocorreu devido a oportunidade de dominar
uma região já fragmentada e sob ataque, o que ocorreu após as tensões
iniciadas com grandes manifestações contra o presidente Bashar al-Assad. O
grupo é violento e exige que todos os povos sob seu domínio sigam a lei
islâmica e pratiquem a mesma religião.

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