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FUNDAÇÃO PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS

LARA CAMILE NUNES PINTO

FATORES ANTI-NUTRICIONAIS E MICOTOXINAS:


REVISÃO DE LITERATURA

CONSELHEIRO LAFAIETE
2022
LARA CAMILE NUNES PINTO

FATORES ANTI-NUTRICIONAIS E MICOTOXINAS:


REVISÃO DE LITERATURA

Trabalho de Nutrição apresentado ao docente Pedro Silva de Oliveira,


direcionado ao centro universitário Presidente Antônio Carlos de
Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais.

CONSELHEIRO LAFAIETE
2022
I – FATORES ANTI-NUTRICIONAIS

1 - Definir e caracterizar os fatores antinutricionais presentes nos


alimentos para ruminantes e monogástricos.  
Os fatores anti-nutricionais são definidos como compostos ou classes de
compostos presentes numa extensa variedade de alimentos de origem vegetal,
que quando consumidos, reduzem o valor nutritivo desses alimentos. Assim
sendo, pode-se afirmar que eles interferem na absorção de nutrientes, e por
esse motivo prejudicam o bem-estar animal quando ingeridos em quantidades
exacerbantes, diminuindo a concentração de aminoácidos essenciais e
minerais do organismo além de poder causar alterações na mucosa
gastrointestinal. A presença desses fatores anti-nutricionais pode ser justificada
como uma certa proteção criada pelos vegetais superiores contra os
herbívoros, pois várias substâncias do metabolismo secundário das plantas
vêm sendo utilizadas em forma de defesa contra esses animais (Andrade et al.,
2015; Benevides et al., 2011; Júnior et al., 2010).
Dessa forma, em frangos de corte, por exemplo, utiliza-se o milho e o
farelo de soja como principais constituintes da dieta. Porém, para que o último
não interfira no bem-estar desses animais, deve-se inativar seus valores anti-
nutricionais. Isso ocorre por meio da extrusão, por exemplo, onde fatores como
temperatura e pressão são utilizados em vista de desativar toxinas contidas no
grão sem a ocorrência de perda nutricional. Ademais, alimentos como feijão
guandu cru vêm sendo estudados como fonte de substituição do farelo de soja.
Entretanto, essa leguminosa também apresenta fatores anti-nutricionais, como
inibidores de proteases e hemaglutininas, que alteram a digestibilidade de
nutrientes. Além disso, outros fatores anti-nutricionais para aves são os
polissacarídeos não-amilaceos (comprometimento na digestão), polímeros
fenólicos (afetam a digestibilidade e palatabilidade das dietas), lectina
(prejudica a capacidade enzimática e absorção da parede intestinal), fitato (sua
baixa disponibilidade pode afetar digestibilidade de outros nutrientes e inibir
ação de enzimas), gossipol (seu excesso pode trazer problemas como perda
de apetite, depressão da atividade respiratória, anemia, edemas pulmonares,
hipertrofia do fígado e necrose muscular cardíaca), ácido cianídrico (toxicidade)
e saponinas (modificações na permeabilidade da mucosa intestinal) (Andrade
et al., 2015; Silva et al., 2017).
Outrossim, entre os compostos considerados antioxidantes para os
monogástricos, estão os polifenóis, mais especificamente os taninos, que são
metabólitos secundários presentes nas plantas com capacidade de reduzir a
digestibilidade da proteína, carboidratos e minerais, além de diminuir a
atividade de enzimas digestivas e causar danos à mucosa do sistema digestivo
ou, ainda, exercer toxicidade sistêmica. Há, também, os nitratos e nitritos, que
podem produzir efeito tóxico aos indivíduos pelo consumo de alimentos – a
depender do uso de fertilizantes e das condições nas quais os alimentos são
cultivados, colhidos e armazenados. Além disso, temos oxalatos, fitatos,
inibidores de proteases, e glicosídeos cianogênicos, que também possuem
relevância como fatores anti-nutricionais (Benevides et al., 2011).
Entretanto, no que diz respeito aos ruminantes, além dos taninos também
representarem efeitos anti-nutricionais importantes, também é válido ressaltar a
lignina, que compõe a parede celular do vegetal e limita a disponibilidade dos
carboidratos da parede celular aos microrganismos presentes no rúmen,
dificultando, assim, a digestão da mesma. Para mais, podemos citar o gossipol,
que apresenta toxicidade principalmente para os monogástricos, também
possuindo importância para os ruminantes. É um pigmento polifenólico amarelo
produzidos nas glândulas pigmentares do algodão, sendo encontrado de forma
livre na semente. Sua utilização pode causar perda de apetite, edemas
pulmonares e fígado hipertrofiado. Ademais, os compostos cianogênicos
possuem um líquido incolor, considerado uma das substâncias mais tóxicas
que se conhecem. As saponinas, os inibidores de enzimas digestivas e as
lectinas também podem ser citadas, pois também interferem na absorção de
nutrientes (Júnior et al., 2010).

  2 - Descrever as formas de eliminação ou redução dos fatores


antinutricionais
Assim sendo, para que o bem-estar dos animais seja mantido, torna-se
necessária a eliminação ou a redução desses fatores anti-nutricionais. Por esse
motivo, de acordo com Souza et al. (2019) há técnicas como a moagem, que
visa aumentar a degradabilidade da matéria seca ao diminuir sua
granulometria; o cozimento, que é um tratamento térmico muito utilizado para a
redução e/ou inativação de substâncias indesejáveis em alimentos – deve ser
manuseado de forma adequada, sem temperatura elevada e num curto período
de tempo, para que não cause alterações físico-químicas nas proteínas; a
peletização, que consiste num processo realizado pela indústria de rações,
sendo definida como a aglomeração de partículas de um ingrediente ou de uma
mistura de ingredientes, por meio de processos mecânicos, em combinação
com umidade, pressão e calor e a extrusão, uma etapa de processamento
industrial de matéria-prima sólida, a qual junta num único equipamento várias
operações unitárias e modificações físico-químicas, frequentemente em
combinação, obtendo como resultando a saída do respectivo produto pelos
orifícios. Além disso, há tratamentos específicos para certas substâncias anti-
nutricionais como o gossipol – a adição de outro ingrediente na ração como a
lisina, por exemplo e a lignina – identificação da qualidade da forragem.
Outrossim, também existem estratégias animais para a diminuição dos efeitos
dos fatores anti-nutricionais. Os ruminantes, por exemplo, possuem
detoxificação microbiana pré-gástrica de plantas que sejam venenosas para os
herbívoros não ruminantes. A primeira linha de defesa de algumas espécies
animais contra os compostos fenólicos ou taninos na dieta são as proteínas
salivares. As glândulas parótidas também possuem relevância, visto que
produzem mais saliva.
II – MICOTOXINAS

 1 – Citar e caracterizar as principais micotoxinas na alimentação animal


De acordo com Bahniuk et al. (2021), as micotoxinas podem ser definidas
como metabólitos secundários tóxicos produzidos por espécies de fungos
filamentosos. A ingestão de alimentos contaminados por essas substâncias
causa as micotoxicoses, doenças relacionadas à quantidade de toxina ingerida,
ao tempo de exposição e às características de cada uma delas. Ademais, são
produzidas naturalmente em grãos de cereais e subprodutos muito utilizados
como matéria prima na fabricação de ração destinada a cães.
Assim sendo, as principais micotoxinas presentes na alimentação animal
são: as aflatoxinas, as zearalenonas, as fusariotoxinas, as ocratoxinas, as
tricotecenos e as fumonisinas (Moreira, 2018).

 Aflatoxinas (AF)
São micotoxinas produzidas por fungos do gênero Aspergillus,
principalmente Aspergillus flavus, A. parasiticus, A. nominus e outras espécies
do gênero. Dezoito tipos de aflatoxinas são conhecidos atualmente, sendo as
mais comuns AFB1, AFB2 (produzidas pelos fungos A. flavus e A. parasiticus),
AFG1 e AFG2 (A. parasiticus), todas estas têm ocorrência natural em diversos
produtos, principalmente grãos. As AFM1 e AFM2 são originadas da
transformação das AFB1 e AFB2 pelo organismo após a ingestão de alimentos
contaminados, sendo encontradas na carne, leite e urina dos animais (Moreira,
2018).
Assim sendo, a AFB1 é considerada a mais potente, ainda que possua um
mecanismo de ação semelhante aos das AFB2, AFG1 e AFG2, diferindo-se
delas quanto ao potencial tóxico. Sua ação inicia com a ingestão da micotoxina
por via oral e esta é rapidamente absorvida pelo trato gastrointestinal, ligando-
se principalmente à albumina sanguínea, espalhando pelos tecidos (hepático,
principalmente, onde são biotransformadas) e causando distúrbios metabólitos
como a degeneração gordurosa hepática ocasionada pelo aumento de síntese
e redução na oxidação/exportação dos ácidos graxos, além da inibição das
enzimas glicogênicas e a gliconeogênese (Moreira, 2018).
Diferentes danos podem ser causados pelo consumo de aflatoxinas, sendo
seus efeitos variáveis de acordo com a espécie, quantidade de toxina ingerida
e tempo de exposição; os sinais clínicos são influenciados também pela idade
dos animais (mais jovens têm maior sensibilidade) e o estado nutricional dos
mesmos (Moreira et al., 2018)
 Zearalenona (ZEA)
É uma micotoxina estrogênica não esteroide, produzida por diversas
espécies de fungos do gênero Fusarium, principalmente F. culmorum, F.
graminearum e F. crookwellense; que contém estrutura química semelhante
aos estrógenos naturais; apresenta maior potencial estrogênico quando
comparada ao 17 β-estradiol, devido ao seu modo de ação e o tempo de
permanência no núcleo das células, sendo, portanto, a principal causa dos
seus efeitos tóxicos (Moreira et al., 2018).
Após a ingestão, a ZEA pode ser biotransformada no fígado em seus
metabólitos, o α-zearalenol (α-ZEA) e o β-zearalenol (β-ZEA). Possui extrema
relevância em suínos, que são animais hipersensíveis a ela. Diversas
alterações ocorrem no organismo quando uma fêmea suína é intoxicada por
ZEA, porém, seus efeitos destacam-se mais frequentemente a problemas do
trato reprodutivo, além de possuir diversos outros sinais clínicos de
intoxicação (Moreira et al., 2018).

 Tricotecenos
Os tricotecenos são produzidos pelos fungos Fusarium, Cefalosporium,
Myrothecium, Stachybotrys e Trichoderma, os tricotecenos estão divididos em
dois grupos: macrocíclicos (principais representantes a toxina T-2, e
diacetoxyscirpenol (DAS)) e não-macrocíclicos (deoxinivalenol - DON ou
vomitoxina - e 3-acetil-deoxinivalenol) (Moreira et al., 2018).
Quando em condições favoráveis (elevada umidade e temperaturas entre
6-24°C), é comum a sua presença nas culturas do milho, trigo, cevada, aveia,
arroz, centeio e outras plantações (Moreira et al., 2018).
A ação tóxica dos tricotecenos ocorre através da inibição da síntese
proteica, redução da produção dos ácidos nucleicos, o que resulta em ação
imunossupressora e prejudicam principalmente as células do trato
gastrointestinal, pele e tecidos linfoides e eritróides (Moreira et al., 2018).

 Fumonisinas
As fumonisinas pertencem ao grupo das micotoxinas produzidas por
fungos do gênero Fusarium e Alternaria, especialmente F. verticillioides e
F.proliferatum. São amplamente encontradas em cereais produzidos em clima
quente e seco, seguido por períodos de alta umidade e em cereais atacados
por insetos e condições de estocagem com umidade relativa superior a 18%.
O limite máximo tolerado pela legislação brasileira é de 5000 µg/kg (Moreira et
al., 2018).
Os metabólitos da fumonisinas, B1 (maior abundância), B2 e B3 têm
estrutura similar aos esfingolipídeos; sendo a inibição da ceramida sintetase
(enzima responsável pela síntese de esfingolipídeos) seu mecanismo de
toxicidade. Segundo Dilkin et al. (2004), essa inibição, quando ocorre de
forma aguda (altos níveis de fumonisina), induz à ocorrência de edema
pulmonar em suínos, e atinge órgãos como pulmão, fígado e coração,
podendo levar à óbito (Moreira et al., 2018).
Quando o contato com a fumonisina ocorre por períodos longos e com
baixos níveis, leva a modificações na morfologia do intestino, como redução
na altura das vilosidades e profundidade de criptas (Tabela 2), queda no
desempenho produtivo e desuniformidade dos lotes. Em aves ocorre redução
do ganho de peso, aumento do peso de órgãos como fígado, proventrículo e
moela, diarreia, ascite, hidropericardite e palidez do miocárdio, edema e
congestão renal (Moreira et al., 2018).

 Ocratoxina A (OTA)
A ocratoxina A é a mais conhecida e tóxica entre o grupo das ocratoxinas.
Produzida por diversas cepas de fungos do gênero Aspergillus sp., incluindo
A. ochraceus, A. alliaceus, A. ostianus, A. mellus, além disto, fungos do
gênero Penicillum sp. também produzem OTA (Moreira et al., 2018).
Esta micotoxina é comumente encontrada em grãos e cereais como
milho, cevada, trigo, soja, aveia, centeio, feijão seco. A OTA tem seu
desenvolvimento potencializado em temperaturas entre 4 – 37°C e umidade
relativa do ar de 19 – 40% (Moreira et al., 2018).
De acordo com Resolução da ANVISA RDC n° 7 de 18/fev./2011, o limite
máximo tolerado de OTA em cereais para posterior processamento é de 20
µg/kg. Possui alta afinidade de ligação às proteínas do plasma, sendo em sua
maioria ligada às proteínas séricas, principalmente a albumina. Tem absorção
rápida, mas pode apresentar lenta eliminação, isto porque pode ocorrer
reabsorção nos túulos renais, dificultando sua eliminação e elevando o risco
de acúmulo nos tecidos. Apresenta propriedades hepatotóxicas, nefrotóxicas,
imunotóxicas e carcinogênicas (Moreira et al., 2018)..
O principal prejuízo pela intoxicação por OTA ocorre nos rins, isto porque
esta micotoxina altera a filtração glomerular, além de modificar a função dos
túbulos contorcidos proximais, levando perdas na capacidade de
concentração urinária. Em suínos, a intoxicação causa inapetência, redução
no ganho de peso, além de sinais clínicos como polidpsia, poliúria, hematúria,
lesões renais e hepáticas (Moreira et al., 2018).
2 – Descrever as principais micotoxinas de importância na medicina
veterinária, citando o seu respectivo órgão alvo

Micotoxina Órgãos/Tecidos Principal animal


alvo afetado

Aflatoxinas Fígado Homem, aves,


bovinos, ovinos,
suínos e cães.

Zearalenona Trato reprodutivo, Suínos, vacas.


fígado

Tricoteceno Boca, cérebro, TGI Homem, bovinos,


aves

Ocratoxina A Rins, tecido ósseo Aves

Fumonisina TGI, fígado, esôfago Aves


Principais micotoxinas e os órgãos/tecidos afetados nas diferentes espécies animais.

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