Professional Documents
Culture Documents
Resumo Métodos Qualitativos
Resumo Métodos Qualitativos
Corrente construtivista
A verdade absoluta é intangível; A realidade é uma construção, onde temos um papel ativo; O processo
de investigação assume uma forma expressiva; A subjetividade não deve ser anulada, mas integrada na
investigação; Os erros podem funcionar como momentos propícios ao crescimento e maturação do
projeto de investigação teor exploratório
Implica visões:
do Homem - nasce com capacidades que desenvolve pela interação que estabelece com o meio e
significados que lhe atribui; é um ser ativo que age e desenvolve estratégias face aos constrangimentos
presentes no meio;
do Meio - tendencialmente mais dinâmico, reconhecimento de alta complexidade e de difícil apreensão
na sua globalidade.
Quais as diferenças entre investigação quantitativa e qualitativa?
Quantitativa Qualitativa
Dados Informações padronizadas, respostas Trabalha com informação vinda de discursos e
(quantitativos vs qualitativos) precisas e utiliza técnicas estatísticas que observações, porém também pode envolver a
permitem a quantificação de dados. quantificação de, por exemplo, unidades de
conteúdo, são menos definidas à priori.
Ambiente Pode envolver ambos e não se limita ao Pode envolver ambos e não se limita ao meio
(artificial vs natural) meio em si, mas ao controlo de dados. Há em si, mas também ao controlo de dados,
grande preocupação com o controlo. mais ao natural. Há menos preocupações com
o controlo para aceder aos significados, às
singularidades.
Centrado Centrada nos comportamentos, porém Centrada nos significados, porém em algumas
(comportamentos vs significados) em algumas investigações procura os investigações também se foca nos
significados. comportamentos.
Modelo das ciências naturais Aceitação. Maior rejeição, nomeadamente na
(aceitação vs rejeição) investigação em psicologia.
Abordagem (dedutiva vs indutiva) Dedutiva, modelos hipotético-dedutivos. Indutiva.
Visa (produzir leis científicas vs Preocupada em chegar a dados válidos Preocupada em caracterizar a diversidade dos
identifica padrões culturais) que permitam a formulação de leis. contextos e perceções.
Validade (o instrumento que A validade depende do rigor com que o O investigador funciona como um
pretende medir) instrumento foi concebido e instrumento, logo a validade depende do seu
administrado, e do rigor do tratamento de rigor, competência e ética.
dados.
Como as conjugar:
1. Partir da qualitativa para construir a quantitativa.
Ex.: “focus groups” para avançar com um questionário;
2. Usar a qualitativa como forma de validar a quantitativa.
Ex.: fazer uma sessão de Análise Colectiva para validar os resultados estatísticos de um questionário;
3. Métodos quantitativos para validar um estudo preliminar qualitativo.
Ex.: estudo preliminar de um caso que levou a certas conclusões; recorrer à quantitativa para confirmar
a possibilidade de generalizar;
4. Uso simultâneo, cruzado das duas metodologias.
Ex.: questionário e análise documental, complementada com entrevistas.
Características estratégicas da investigação qualitativa
Porquê falar em caraterísticas “estratégicas”?
Estratégia é um enquadramento para a ação, com uma direção definida. Permite a escolha das técnicas e
práticas metodológicas a usar numa investigação. As decisões sobre os métodos representam escolhas
estratégicas.
O debate tem se focado na escolha entre 2 paradigmas: positivismo-lógico, que recorre a métodos
quantitativos e experimentais para testar generalizações hipotético-dedutivas e inquérito
fenomenológico, que recorre a abordagens qualitativas e naturalistas, para de forma indutiva e holística,
compreender a experiência humana num certo contexto.
Grande peso cultural e histórico do paradigma quantitativo/experimental.
Dificuldade em abandonar a dupla quantitativo vs qualitativo limites à flexibilidade, adequabilidade e
criatividade.
Outra forma de encarar a investigação aposta num novo paradigma, que consegue articular escolhas
metodológicas de acordo com os objetos do estudo, as questões de investigação e recursos disponíveis
└- PARADIGMA DAS ESCOLHAS
Inquérito naturalista
Estudo de situações do mundo real. Não manipula variáveis. O olhar do investigador dirige-se para o que
ocorre naturalmente. Atitude de abertura para com o que emerge. Guba, o inquérito naturalista, evolve
uma abordagem orientada para a descoberta, minimizando a manipulação do investigador. É dado valor
à complexidade e dinamismo presentes no terreno, onde se desenvolve a investigação. Explora as
diferenças individuais na forma como cada um se relaciona e experiência as situações. A escolha entre
inquérito naturalista e uma abordagem experimental relaciona-se com o design da investigação.
Análise indutiva
Os métodos qualitativos são preferencialmente orientados para a descoberta, obedecendo a uma lógica
indutiva. Uma abordagem avaliativa é tanto mais indutiva quanto mais o investigador conseguir dar
sentido a uma situação sem impor expectativas preexistentes ao fenómeno em análise. Começa com
observações, que vão permitindo vários níveis de construção, rumo ao desenho de modelos. Não há
preocupação em definir “à prioris”, relações entre variáveism hipóteses que vão ser testadas.
Formas de análise indutiva: individual (parte de observações feitas a nível de indivíduos) e grupos,
organizações, comunidades (observações orientadas para características que fazem sentido para aquele
grupo, organização ou comunidade) em ambos os casos, as conclusões e teorias formuladas são
sempre sustentadas, enraizadas num contexto específico, no mundo real.
Perspetiva holística/global
O objetivo da investigação é compreender a globalidade das dimensões que caracterizam um certo
fenómeno. Parte-se da ideia de que a compreensão só é atingida quando o investigador se apropria da
grande complexidade que envolve o contexto (social, político, etc.), o que não é possível de ser atingido
pela tentativa de redução desta complexidade pela investigação quantitativa. O todo é considerado como
mais do que a soma das suas partes, uma vez que há interações e relações de influência, e
interdependência entre elas. Procura-se retirar uma “fotografia/imagem”, onde todas as dimensões
estejam visíveis. O objeto de estudo num certo contexto é entendido como uma situação particular e
única, com um significado próprio e singular, não aplicável a outras situações.
Perspetiva dinâmica e desenvolvimental
Se a envolvente está em mudança sistemática, a investigação tem de considerar e integrar o dinamismo
e o desenvolvimento na mesma. Não é possível, nem desejável procurar controlar a mudança, já que
assim estaríamos a tornar redutora a nossa investigação. Na investigação, o que surge de forma
imprevisível e inesperada não deve ser encarado como um erro, mas sim como sinal de diferença,
singularidade e complexidade, que devemos tentar compreender. A investigação pode ter como objetivo
compreender esta dinâmica e os seus efeitos holísticos sobre os sujeitos.
Empatia e insight
A capacidade para se colocar no ponto de vista do outro, a empatia, favorece o contacto com os seus
pensamentos, sentimentos e experiências. Esta é uma capacidade que permite nos dar sentido ao mundo
e desenvolver a nossa consciência. É através do envolvimento ativo do investigador que a metodologia
qualitativa favorece o insight, fornecendo ao mesmo as bases empíricas para descrever as perspetivas dos
outros e, ao mesmo tempo, legitimando os seus próprios pensamentos, sentimentos, insights como
partes integrantes da investigação.
Flexibilidade do design
Partindo do terreno, a investigação qualitativa, naturalista não se sustenta num design experimental
rigorosamente pensado (como faz a quantitativa). O design vai ganhando forma à medida que a
investigação se desenvolve, é emergente e resulta do pragmatismo que caracteriza esta investigação. O
que conduz a investigação são os dados que vão fazendo um certo sentido e que vão encaminhando o
investigador numa determinada direção, deixando outras para trás. Trata-se assim de um sistemático
processo de decisão que vai contribuindo para a definição do seu design.
Estas 9 características da investigação qualitativa são ideais estratégicos que permitem direcionar a ação
do investigador.
TRADIÇÕES E ORIENTAÇÕES TEÓRICAS NA INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA
Hermenêutica
Orientada para o estudo da compreensão interpretativa ou do significado, dando atenção ao contexto e ao
propósito (intenção) original. É uma abordagem teórica que auxilia a investigação qualitativa, pois tenta
responder à questão acerca de “quais as condições que tornam possível a interpretação dos significados de
um ato humano ou da produção de um dado produto?”.
Se num estudo der a entender que foi tido em conta estudos antigos, informação de livros ou citações, isto
implica uma interpretação de texto.
Princípio de Kneller:
- A compreensão de um ato humano ou de um produto, e toda a aprendizagem é como interpretar um texto;
- Toda a interpretação ocorre num determinado contexto, numa certa tradição;
- A mesma envolve a abertura do investigador a um texto/ou a algo análogo e o seu questionamento;
- O investigador deve interpretar um texto à luz da sua situação (pois se ele fosse outra pessoa, poderia se
centrar noutros aspetos).
Estas 8 tradições / orientações teóricas usam a investigação qualitativa; Porém usam os métodos qualitativos
para diferentes objetivos, colocam questões de investigação diversas e interpretam os resultados à luz de
quadros de referência distintos.
Biografia
o Estudo de um único indivíduo quando esse material está acessível e o individuo está disposto a partilhar
essa informação
o Estudo de um indivíduo e das suas experiências relatadas ao investigador ou pesquisadas em fontes
documentais;
o Uso e recolha de documentos de vida que descrevem momentos de transição e chave na vida de indivíduos;
o O autor conta a história de um indivíduo, sendo este o foco central do estudo;
o A recolha de dados consiste em “conversas” ou história, em reconstruções de experiências de vida, assim
como observações dos participantes;
o O indivíduo recorda um evento particular da sua vida, uma revelação;
o O autor relata informação pormenorizada acerca do contexto histórico desse evento, situando-o também
em termos do contexto social;
o O autor está presente no estudo, refletindo acerca das suas próprias experiências e tendo noção de que o
estudo é a sua interpretação dos significados dos indivíduos em causa.
Grounded theory
Para gerar ou desenvolver teoria
- pretende gerar ou desenvolver teoria, um esquema analítico de um fenómeno relacionado com uma
situação particular;
- a situação em que indivíduos interagem, atuam e reagem a um fenómeno.
Estudo de Caso
Para examinar um caso, temporal e espacialmente localizado cuja imagem em profundidade deve ser explicitada
o exploração de um sistema ou de um caso (ou vários) – um acontecimento, um programa, uma atividade ou
indivíduos – ao longo do tempo, através de uma recolha de dados detalhada e profunda que envolva múltiplas
fontes de informação ricas em termos do contexto visado;
o este sistema é localizado temporal e espacialmente;
o identificação do “caso” a ser estudado e do seu contexto;
o o caso é um “sistema”, comprometido em termos temporais e espaciais;
o uso de múltiplas e extensas fontes de informação na recolha dos dados no sentido de construir uma imagem
detalhada do “caso”;
o considerável dispêndio de tempo na descrição do contexto do “caso”, situando-o nas suas várias dimensões
contextuais.
Assim, este autor prefere chamar a este critério – confiança / “confiável” (trustworthiness):
Que tipo de métodos foram usados na recolha?
Que tipo de métodos foram usados na análise dos dados?
Quem conduziu a pesquisa?
3 Conceitos interrelacionados propostos por Merrick (1999) que visam constituir critérios de
avaliação da qualidade da IQ:
1. Confiança
Envolve elementos que traduzem o que é considerado uma “boa prática”;
De acordo com Stiles (1993, citado por Merrick,1999, p. 30), temos a considerar 4 elementos
que merecem confiança:
Tornar clara, aberta e explícita a orientação d@ investigador/a, isto é, ser transparente
quanto às suas opções e ao seu papel enquanto instrumento da investigação (e não procurar
esconder o papel d@ investigador/a e o eventual enviesamento que este pode introduzir na
investigação);
@ investigador/a tem de se envolver de forma intensiva e prolongada com o material /
dados;
Triangulação de fontes, isto é, recurso combinado de diferentes dados vindos de diversas
fontes, no sentido de verificar a sua consistência;
Partilha e discussão sobre o processo de investigação e sobre os resultados.
2. Reflexibilidade
Trata-se da “autorreflexão disciplinada” (Wilkinson, 1988) que @ investigador/a conduz
sobre todo o processo de investigação;
Refere-se ao esforço desencadeado pel@ investigador/a para clarificar o processo de
recolha, de análise e de interpretação dos dados;
Traduz então o papel d@ investigador/a no processo de pesquisa, pelo facto de este procurar
compreender e representar os dados;
Ex.: Durante o processo de observação não participante de um grupo de toxicodependentes,
como foi “contornado” (e se o foi!) o efeito da presença do investigador? Que crenças e valores
sobre este tema acompanharam o investigador para o terreno? Que reflexões e críticas
podemos fazer?
3 Modalidades de Reflexibilidade
3. Representação
Refere-se à forma e conteúdo que @ investigador/a incute à representação do seu saber
(vindo ou não da pesquisa em causa);
O ato de representar os dados não se refere apenas à descrição das nossas conclusões no
final do estudo; refere-se à totalidade do processo de investigação (Denzin & Lincoln, 1994,
citados por Merrick, 1999, p. 32);
Certos autores/as (como Fine, 1992 e Lather, 1991) sugerem que as formas como
apresentamos os dados tem tanto a ver com o que somos e diz tanto sobre nós como diz
sobre @s noss@s participantes e sobre as nossas conclusões;
Desta forma, a dificuldade está na capacidade d@ investigador/a saber distinguir o que
resulta das suas opções, valores, experiências e o que resulta dos dados recolhidos junto d@s
participantes e/ou documentos.
A perspetiva de Patton
Para este autor, a credibilidade e a qualidade de uma investigação dependem de três elementos:
1. Métodos e das técnicas
2. Credibilidade do próprio investigador
3. Paradigma construtivista/interpretativo, fenomenológico
Promoção da qualidade e credibilidade na IQ: técnicas e métodos, investigador e paradigma
1. Rigor na escolha e utilização dos métodos e das técnicas, tendo em vista apurar dados
credíveis e de qualidade;
2. Credibilidade do próprio investigador que está dependente da solidez da sua formação e da
sua experiência;
3. Respeito total pelo paradigma de base da investigação qualitativa –
construtivista/interpretativo, fenomenológico. A falta de crença e de respeito pelos
princípios subjacentes a este paradigma, põe em risco a qualidade da invest. quali.
Técnicas para aumentar a qualidade da análise:
1. Procura de explicações alternativas – procurar deixar a forma como estamos a relacionar e
a interpretar os dados e procurar outras maneiras, por exemplo, combinando os dados de
outra forma, encontrando outras grelhas de leitura do fenómeno;
2. Integrar os dados “negativos”, isto é, os dados que contrariam a nossa leitura do fenómeno.
Considerar outras explicações para o que surge de “inesperado”, por vezes, “indesejado”;
3. Triangulação de métodos, de fontes, de analistas e de teorias/perspetivas;
4. Verificação do design – contexto.
3. Triangulação
- Se eu usar vários métodos e técnicas de recolha – ex. entrevistas e observação – posso
potenciar a consistência dos resultados? (posso também combinar IQ com I Quantitativa).
- Se usar o mesmo método e diversificar as minhas fontes – ex. entrevistas com educadores e
pais de x infantários, obterei consistência?
- Se mostrar os resultados a diferentes analistas / investigadores, obterei explicações similares?
- Se eu recorrer a diferentes modelos teóricos explicativos, consigo enriquecer a minha leitura,
aumentar a minha compreensão sobre os resultados?
4. Verificação do design
Trata-se de garantir que os métodos selecionados e os dados recolhidos tiveram em
consideração as especificidades do contexto onde a investigação foi conduzida;
As opções que fomos fazendo em termos do design da investigação – grupo de participantes,
momento da recolha, situação envolvida na recolha - podem ou não ter interferido nos
resultados?
Ex.: Pretendo estudar, através de observação, as modalidades de interação dos estudantes da
Universidade Lusíada do Porto no contexto da Associação Académica (AA). Escolho certos
participantes e certos momentos para proceder às observações. Mas, serão estes os que melhor
me ajudam a desenvolver uma abordagem compreensiva deste fenómeno? Eu incluí, por ex., os
momentos de eleições, as fases de preparação de seminários ou tertúlias? ou ainda outros
marcantes na dinâmica da AA?