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POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA

ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DA TRINDADE - APMT


FACULDADE DA POLÍCIA MILITAR - FAPOM
CURSO DE FORMAÇÃO DE SARGENTOS
Fonte: PMSC (2020).

CADERNO DE ESTUDOS

ATIVIDADE DE POLÍCIA AMBIENTAL


1ª Edição - 2022
F I C H A C ATA LO G R Á F I C A

P762
Polícia Militar de Santa Catarina. Academia de Polícia Militar da
Trindade. Faculdade da Polícia Militar de Santa Catarina. Curso de
Formação de Sargentos.
Caderno de estudos: atividade de Polícia Ambiental. / Polícia
Militar de Santa Catarina. – 1. ed. - Florianópolis: PMSC, 2022.
86 p. : il.

Bibliografia: p. 79-86.

1. Polícia Ambiental. I. Polícia Militar de Santa Catarina. II.


Curso de Formação de Sargentos. III. Título.

CDD: 363.2

Ficha catalográfica elaborada por:


Dilva Páscoa De Marco Fazzioni - CRB: 14/636 e
Luciana Mara Silva - CRB: 14/948.
Biblioteca da APMT (Cap. Osmar Romão da Silva).

Como referenciar esta publicação:

POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA. Academia de Polícia Militar da Trindade.


Faculdade da Polícia Militar de Santa Catarina. Curso de Formação de Sargentos.
Caderno de estudos: atividade de Polícia Ambiental. 1. ed. Florianópolis: PMSC,
2022. [Intranet - Acesso Restrito].
@2022. TODOS OS DIREITOS DE REPRODUÇÃO SÃO RESERVADOS À POLÍCIA MILITAR
DE SANTA CATARINA. SOMENTE SERÁ PERMITIDA A REPRODUÇÃO PARCIAL DESTA
PUBLICAÇÃO, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Edição, distribuição e informações:


Academia de Polícia Militar da Trindade - APMT.
Faculdade da Polícia Militar de Santa Catarina - FAPOM.
Divisão de Coordenação Pedagógica e da Divisão de Formação e Graduação de Ensino.
Av. Me. Benvenuta, 265 - Trindade, Florianópolis - SC, 88035-001
www.pm.sc.gov.br

FICHA TÉCNICA

POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA - PMSC


COMANDANTE GERAL - Coronel PM Marcelo Pontes
SUBCOMANDANTE - Coronel PM Evandro de Andrade Fraga
CHEFE DE ESTADO MAIOR - Coronel PM Jardel Carlito da Silva

ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DA TRINDADE - APMT


FACULDADE DA POLÍCIA MILITAR - FAPOM
DIRETOR GERAL - Coronel PM Ricardo Alves da Silva
COMANDANTE DA ESFAP - Tenente-coronel PM Fred Hilton Gonçalves da Silva

DIVISÃO DE FORMAÇÃO E GRADUAÇÃO DE ENSINO - DFG


DIVISÃO DE COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA - DCP
CHEFIA - Tenente-coronel PM Alfredo Schuch
PEDAGOGA / DOCENTE (Administração e Orientação Educacional) - Profa Esp. Henriete Jacobsen
PEDAGOGA / DOCENTE (Gestão Escolar) - Profa Dra Cíntia Andréa Dornelles Teixeira

EQUIPE DE ELABORAÇÃO
AUTORIA - Major PM Paulo Roland Ern, Major PM Tatiano Cabral Broering e Major PM Edmilson
Machado Camargo Nassiff
DESIGNER EDUCACIONAL / DOCENTE - Profa Dra Ana Paula Knaul
PROJETO GRÁFICO - Profa Dra Mayara Atherino Macedo
DESIGNER GRÁFICO / DOCENTE (Diagramação) - Prof. Esp. Fábio Luiz Raulino
REVISORA TEXTUAL E GRAMATICAL / DOCENTE - Profa Dra Vera Lúcia Andrade Bahiense
BIBLIOTECÁRIAS / DOCENTES (Revisão Metodológica) - Profa Dra Dilva Páscoa de Marco Fazzioni
& Profa Dra Luciana Mara Silva
PMSC 2022
SUMÁRIO

Capítulo 1 Capítulo 3
DA EVOLUÇÃO DA ATIVIDADE DOS CRIMES E INFRAÇÕES
DE POLÍCIA MILITAR ADMINISTRATIVAS
AMBIENTAL 10 AMBIENTAIS 50
Histórico da Atividade de Polícia Lei Nº 9.605/98 51
Militar Ambiental 11 Da Lei Complementar Nº 140/11 52
Estrutura da Polícia Militar Código Estadual do Meio
Ambiental 17 Ambiente de Santa Catarina 56
Capítulo 2 Infrações Administrativas
NOÇÕES DE DIREITO Ambientais 59
AMBIENTAL 19
Infrações Penais Ambientais 68
O Meio Ambiente na Constituição
Federal 20 Capítulo 4
NOÇÕES DO PROCESSO
Política Nacional do Meio ADMINISTRATIVO DE
Ambiente (Lei nº 6.938/81) 40 FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL 73
Código Florestal Federal 46 CONSIDERAÇÕES FINAIS 78
MINICURRÍCULO DO PROFESSOR
Graduação
Graduação em Direito - UNIVALI, 2007.

Especialização
Pós-Graduação em Gestão de Ordem Pública - FAPOM,
2021.
Especialista em Direito Público - FURB, 2011.

Cursos de Formação
Formação internacional sobre proteção do meio
ambiente e o patrimônio histórico - Escuela de
Especialización da Espanha, 2018.

Paulo Roland Ern Currículo Lattes


Major PM http://lattes.cnpq.br/4761660341725035
Chefe da Divisão
Operacional do Comando da
Polícia Militar Ambiental.

Instrutor:
Professor dos Cursos de
Formação FAPOM nas
disciplinas de crimes e
infrações ambientais.
MINICURRÍCULO DO PROFESSOR
Graduação
Direito - UNISUL, 2005.

Especialização
Especialização em Ordem Pública - FAPOM, 2019.
Especialização em Direito Ambiental - Centro
Universitário Internacional, 2014;

Currículo Lattes
http://lattes.cnpq.br/9204720293575586

Tatiano Cabral Broering


Major PM
MINICURRÍCULO DO PROFESSOR
Graduação
Direito - Universidade do Contestado, Campus de
Curitibanos (2005)

Especialização
Mestre em Planejamento Territorial e Desenvolvimento
Socioambiental - UDESC, 2022;
Pós-Graduação em Gestão de Ordem Pública (2021);
Pós-Graduação em Direito Material e Processual Civil -
CESUSC, 2009.

Cursos de Formação
Edmilson Machado Camargo Curso de Preparação para a Carreira da Magistratura do
Nassiff Estado de Santa Catarina de Florianópolis, 2016;
Major PM
Curso de Preparação ao Concurso de Ingresso à Carreira
Instrutor: do Ministério Público de Florianópolis, 2014;
Instrutor FAPOM na área de Curso Internacional de Polícia Judicial na Escuela de
Direito Ambiental, Sistema Especialización da Espanha, 2018.
de Comando em Operações
e Gestão de Materiais e Currículo Lattes
Patrimônio. http://lattes.cnpq.br/4308570214357810
APRESENTAÇÃO

Antes de iniciarmos esta disciplina, em todas as atividades desenvolvidas


vamos conhecer o motivo pelo qual ela pela Corporação, e não poderia ser
é ofertada nos Cursos de Formação, seja diferente nas atividades relacionadas
de Oficiais (CFO), Sargentos (CFS) ou à Polícia Militar Ambiental (PMA),
Soldados (CFSd). A razão é simples! A justamente na pessoa de cada membro
proteção do meio ambiente se torna a da Corporação. Para tanto, torna-se
cada dia uma necessidade entre todos necessário um conhecimento mínimo da
os cidadãos. A garantia de um meio legislação ambiental vigente e dos pro-
ambiente equilibrado e propício à sadia cedimentos adotados pela Corporação
qualidade de vida é de responsabilidade para a atividade da PMA.
da coletividade e do Estado.
Portanto, os conteúdos apresentados
Diversas são as ações desenvolvidas neste caderno servirão como base para
pelo Estado na defesa do meio ambiente, atuação nas fileiras da Corporação em
quais sejam, os licenciamentos ambien- prol do meio ambiente.
tais, a edição de leis, portarias, decretos,
Lembramos que este caderno de estudo
ações fiscalizatórias etc. Nessa parcela
serve de forma basilar e exemplificativa
de proteção enquadram-se as atividades
para o conteúdo programático, não se
da Polícia Militar (PM), como atividade
constituindo num material exaustivo,
do poder administrativo do Estado, prin-
de modo a ser complementado por cada
cipalmente por meio das ações de fiscali-
instrutor da matéria, principalmente
zação desenvolvidas pela Polícia Militar
com exemplos práticos do dia a dia das
Ambiental (PMA) em Santa Catarina.
guarnições que atuam no exercício da
Notadamente, o(a) policial militar exer- polícia ostensiva ambiental, levando o
ce papel preponderante e fundamental aluno(a) mais próximo da realidade.
CAPÍTULO 1

DA EVOLUÇÃO DA ATIVIDADE DE
POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL

Fonte: Polícia Militar Ambiental / Instagram.


Fonte: PMSC (2019).
DA EVOLUÇÃO DA ATIVIDADE DE POLÍCIA
MILITAR AMBIENTAL

Neste capítulo veremos a origem da E que na atualidade cumpre a sua missão


Polícia Militar Ambiental e sua evolução Constitucional na busca da proteção e
até a atual estruturação do Comando melhoria da qualidade do meio ambiente
de Polícia Militar Ambiental, buscando para as presentes e futuras gerações.
demonstrar que a Polícia Militar Am- Ao final, o aluno deverá compreender
biental foi introduzida na proteção do como está organizada a Polícia Militar
meio ambiente por um contexto históri- Ambiental no Estado e suas diversas
co mundial e local. áreas de circunscrição.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 1 10


Polícia Militar Ambiental / Instagram.
Fonte: Polícia Militar Ambiental / Instagram.

Histórico da Atividade de
Polícia Militar Ambiental

A edição da Lei nº 3.147, de 17 de de- março de 1983, (Regulamento da Lei de


zembro de 1962, acentua Silveira (2011, Organização Básica), mas que acabou
p. 59), “surge a primeira proposta de Polí- não tendo a efetividade desejada.
cia Florestal no Estado de Santa Catarina,
Esta posição é ratificada e complemen-
sediada no município de Curitibanos - SC”.
tada por Rambusch (2014, p. 22) relem-
Entretanto, a Lei nº 5.521, de 28 de brando que no período de 1979 a 1983
fevereiro de 1979, acabou extinguindo a Polícia Florestal deixou de existir,
a matéria de policiamento florestal surgindo novamente como ramificação
como atribuição da PMSC, retornando da PMSC pelo Decreto-Lei nº 19.237,
somente com a promulgação do De- que remete à corporação o papel de
creto-Lei Estadual nº 19.237, de 14 de execução do policiamento de manancial

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 1 11


DA EVOLUÇÃO DA ATIVIDADE DE POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL
● HISTÓRICO DA ATIVIDADE DE POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL

e florestal, ganhando envergadura novamente Ainda, Dezordi (2006) pon-


em termos de atribuições com a Lei Estadual nº tua de maneira acertada que
8.039/90, no art. 7º, após a promulgação da Cons- a Polícia Ambiental em San-
tituição Estadual Catarinense, in verbis: ta Catarina no ano de 1990
é realmente efetivada, quan-
Art. 7º - Para o exercício de suas competências, no
do foi então criada a Com-
policiamento florestal e de mananciais fluviais e
panhia de Polícia Florestal,
lacustres, a Polícia Militar elaborará plano de atua-
através da Lei Estadual nº
ção, aprovado por Decreto do Chefe do Poder Exe-
8.039/90, tendo sua sede e
cutivo, levando em conta as seguintes prioridades:
única unidade na Baixada
I - mananciais; do Maciambú, município de
II - reservas ecológicas municipais, estaduais e Palhoça/SC, com o mister
federais; de atender todo o território
III - parques e áreas de preservação permanente; catarinense.
IV - reservas indígenas; Neste diapasão e ao en-
V - monumentos paisagísticos; contro da Lei nº 8.039/90,
VI - dunas, rios e lagos. é editado o Decreto nº
1.017/91, que regulamenta
Parágrafo Único - A fiscalização das áreas defi-
as ações desenvolvidas por
nidas no "caput" poderá ser feita mediante con-
meio do exercício do poli-
vênio com órgãos públicos federais, estaduais e
ciamento ambiental, con-
municipais com atuação na preservação do meio
forme art. 4º que poderá ser
ambiente (SANTA CATARINA, 1990).
visto na página que segue.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 1 12


DA EVOLUÇÃO DA ATIVIDADE DE POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL
● HISTÓRICO DA ATIVIDADE DE POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL

Art. 4º - Além de executar as ações e VII - desenvolver atividades de comu-


operações militares, através do poli- nicação social;
ciamento ostensivo ou de operações
VIII - cooperar com órgãos próprios
específicas, visando a proteção das
na educação ambiental;
áreas de preservação ambiental, e
zelar pela melhoria do meio ambiente IX - atuar repressivamente, se for o
no Estado de Santa Catarina, cabe à caso;
Polícia Militar: X - planejar, através do Estado
I - atuar por iniciativa própria ou Maior, a política de emprego do efe-
mediante solicitação, na esfera de tivo, na ação de polícia de proteção
sua competência; ambiental;

II - atuar em apoio aos órgãos envol- XI - baixar diretrizes de ação e/ou


vidos com a defesa e preservação do atuação das unidades de policiamen-
meio ambiente, garantindo-lhes o to ambiental;
exercício do poder de polícia de que XII - estabelecer, em conjunto com os
são detentores; órgãos de meio ambiente do Estado,
III - paralisar e/ou embargar ativida- os locais de atuação das unidades de
des irregulares; policiamento ambiental;

IV - lavrar autos de infração; XIII - propor, ao governo do Estado, a


criação e/ou ampliação de unidades
V - apreender instrumentos, equipa-
de policiamento ambiental;
mentos e compostos químicos, utili-
zados em desacordo com a legislação XIV - estabelecer a subordinação das
ambiental; unidades de policiamento ambiental;
VI - Identificar pessoas, procedendo XV - estabelecer os níveis de relacio-
a busca e o desarmamento nas áreas namento entre a Corporação e os or-
das operações; ganismos ligados ao meio ambiente;

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 1 13


DA EVOLUÇÃO DA ATIVIDADE DE POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL
● HISTÓRICO DA ATIVIDADE DE POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL

XVI - manter as condições operati- de meios preventivos, repressivos e


vas das unidades de policiamento educação ecológica;
ambiental: XXIV - fiscalizar as explorações flores-
XVII - desenvolver a modernização tais, no âmbito de suas atribuições;
administrativa e operacional das XXV - fiscalizar o transporte de pro-
unidades de policiamento ambiental; dutos e subprodutos florestais e de
XVIII - captar os recursos necessários plantas vivas, oriundas de florestas;
para o desempenho das missões de XXVI - difundir a legislação e estimu-
polícia ambiental; lar o plantio de árvores, especialmen-
XIX - viabilizar cursos de aperfeiçoa- te junto ao homem do campo;
mento técnico, na área de policia- XXVII - atender ou providenciar o
mento ambiental, dentro e fora da atendimento de denúncias de desmate,
Corporação; queimadas, caça e pesca predatória;
XX - efetuar o policiamento ostensivo XXVIII - exercer a vigilância, para
nos parques florestais, reservas bioló- impedir a soltura de balões festivos,
gicas e áreas de proteção ambiental; que possam provocar incêndios;
XXI - fiscalizar minerações, uso de XXIX - fiscalizar o transporte e o
agrotóxicos e poluentes, dentro comércio de pássaros e animais
dos limites definidos pelos órgãos silvestres;
competentes;
XXX - fiscalizar criadouros e consu-
XXII - fiscalizar áreas de desmata- midores de animais silvestres, devida-
mento e queimadas, que impliquem mente autorizados;
na retirada total ou parcial de essên-
XXXI - combater os comerciantes,
cias nativas;
caçadores e consumidores de animais
XXIII - proteger as florestas, contra a silvestres, não autorizados pelos
ação predatória do homem, através órgãos competentes;

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 1 14


DA EVOLUÇÃO DA ATIVIDADE DE POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL
● HISTÓRICO DA ATIVIDADE DE POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL

XXXII - assistir, orientar e fiscalizar os XXXVI - promover o reforço ao


pescadores profissionais e amadores: policiamento ambiental, através
XXXIII - combater a poluição do meio de outros segmentos da Corpo-
ambiente, acionando as autoridades ração, sempre que assim se fizer
competentes, quando necessário; necessário;
XXXIV - combater a pesca predatória; XXXVII - atender a solicitação de
XXXV - exercer a autoridade policial órgãos civis, responsáveis pelo meio
de meio ambiente, nos limites esta- ambiente, garantindo-lhes o exercício
belecidos pela legislação vigente e/ou de suas funções específicas (SANTA
por delegação de órgãos competentes; CATARINA, 1991).

Constitucionalmente, iremos ver que o De igual maneira, a Constituição do


meio ambiente recebeu inédita prote- Estado catarinense tratou a matéria de
ção a partir de 1988 e que os conceitos proteção ambiental de forma especial
de Polícia Ostensiva e de Ordem Públi- e desta vez atrelando-a à segurança
ca estão voltados também para a seara pública, em especial à Polícia Militar,
ambiental. conforme art. 107:

Art. 107 – À Polícia Militar, órgão a preservação da ordem e da segu-


permanente, força auxiliar reserva do rança pública;
Exército, organizada com base na hie-
[...]
rarquia e na disciplina, subordinada ao
d) a guarda e a fiscalização das flores-
Governador do Estado, cabe, nos limi-
tes de sua competência, além de outras tas e dos mananciais;
atribuições estabelecidas em Lei: [...]
I - exercer a polícia ostensiva relacio- g) a proteção do meio ambiente
nadas com: (SANTA CATARINA, 1989).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 1 15


DA EVOLUÇÃO DA ATIVIDADE DE POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL
● HISTÓRICO DA ATIVIDADE DE POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL

Continuando, o ditame Estadual catari- passou a denominar-se Companhia de


nense versou sobre a proteção ambien- Polícia de Proteção Ambiental (CPPA),
tal de maneira específica igualmente Dr. Fritz Müller, nome dado em refe-
nos artigos 181 e 182 regrando a ne- rência ao pai da ecologia catarinense.
cessidade de a Polícia Militar do Estado Em cerimônia realizada no dia 22 de
de Santa Catarina em possuir um órgão setembro de 2005, na sede do Parque
especial de polícia florestal. Neste sen- da Serrado Tabuleiro, em Palhoça, o
tido, como já vimos anteriormente, a Lei governador do Estado à época, Luiz
Estadual nº 8.039/90 criou a Companhia Henrique da Silveira, prestigiou a CPPA
de Polícia Florestal (CPF). e a elevou a Guarnição Especial de Polí-
cia Militar Ambiental (Decreto nº 3.379,
Art. 181 - Todos têm direito ao meio
de 4 de agosto de 2005), dando a mes-
ambiente ecologicamente equilibrado,
ma a estrutura de Batalhão de Polícia
impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e Militar Ambiental(BPMA), com sede em
preservá-lo para as presentes e futuras Florianópolis. Posteriormente, resulta-
gerações. do da promulgação do Decreto Estadual
nº 1.682, de 08 de setembro de 2008,
Art. 182 - Incumbe ao Estado, na for-
criou subunidades em Florianópolis,
ma da lei:
Palhoça, Laguna, Joinville, Blumenau,
[...] Lages, Chapecó, Herval d’Oeste, Mara-
Parágrafo 2º - O Estado instituirá, cajá e Canoinhas.
na Polícia Militar, órgão especial de
Atualmente, a Polícia Militar Ambiental
polícia florestal (SANTA CATARINA,
conta com dois Batalhões, subordinados
1990, grifo nosso).
ao Comando de Polícia Militar Ambien-
Deste modo, através do Decreto nº tal (CPMA). Na sequência, veremos os
3.569, de 27 de março de 1993, a CPF detalhes da estrutura do CPMA.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 1 16


Comando de Policiamento Militar Ambiental.
Fonte: PMSC (2020).

Estrutura da Polícia Militar Ambiental

Em 15 de janeiro de 2016, através do atribuições que eram desenvolvidas


Decreto nº 565, foi criado e ativado o pelo Batalhão de Polícia Militar Am-
Comando de Polícia Militar Ambiental biental (BPMA), sendo que também
da Polícia Militar do Estado de Santa conservou os mesmos recursos huma-
Catarina, com sede no município de nos e materiais existentes desta Orga-
Florianópolis, cuja circunscrição é a área
nização Policial Militar (OPM), assim
territorial do Estado.
como foram mantidos em vigor todos
O Comando de Polícia Militar Ambien- os convênios e demais atos administra-
tal (CPMA) quando criado, manteve as tivos vigentes.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 1 17


CAPÍTULO 2

NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL

Fonte: Autor / Banco de Imagens.


Fonte: PMSC (2022).
NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL

No presente capítulo o aluno terá uma visão geral da evo-


lução Constitucional da proteção ao meio ambiente, pas-
sando pela criação da Política Nacional do Meio Ambiente
e pela normatização federal dada pelo Código Florestal.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 19


O Meio Ambiente na Constituição Federal

No Brasil, na década de 70 e 80, iniciou-se a conscientiza-


ção da importância de proteção ao “meio ambiente”, que
pode ser evidenciada pelas simples análises dos textos das
Constituições brasileiras anteriores à do ano de 1988, que
não faziam qualquer referência à expressão.

Vejamos a evolução histórica:

A Constituição do Império de 1824


apenas cuidou da proibição de indústrias 1824
contrárias à saúde do cidadão;

Em 1891, a primeira Constituição Republicana, atribuía


competência legislativa à União para legislar sobre as suas
minas e terras (Obs.: Código Civil de 1916 deu início à tutela
jurídica brasileira do meio ambiente, quando, nos arts. 554 a
1891
591, elencou normas para a solução do conflito de vizinhança,
como o art. 584, que proibia construções que viessem a poluir
ou inutilizar, para uso ordinário, a água do poço ou fonte
alheia, que fosse preexistente);

Constituição de 1934 - dispensou proteção às


belezas naturais, ao patrimônio histórico, artístico e
cultural; conferiu à União competência em matéria
de riquezas do subsolo, mineração, águas, florestas, 1934
caça, pesca e sua exploração (a partir desta
Constituição foi relegado ao meio ambiente um
tratamento diluído e pontual);

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 20


1934
NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Constituição de 1937 - também se preocupou


com a proteção dos monumentos históricos, artís-
ticos e naturais, bem como das paisagens e locais
especialmente dotados pela natureza; inclui entre
as matérias de competência da União legislar 1937
sobre minas, águas, florestas, caça, pesca, e sua
exploração; cuidou ainda da competência legislati-
va sobre subsolo e tratou da proteção das plantas
e rebanhos contra moléstias e agentes nocivos;

Constituição de 1946 - além de manter a defesa do


patrimônio histórico, cultural e paisagístico, conser-
1946 vou como competência da União legislar sobre nor-
mas gerais da defesa da saúde, das riquezas do subso-
lo, das águas, florestas, caça e pesca;

Constituição de 1967 - insistiu na necessidade


de proteção do patrimônio histórico, cultural e
paisagístico; disse ser atribuição da União legislar 1967
sobre normas gerais de defesa da saúde, sobre jazidas,
florestas, caça, pesca e água;

Constituição de 1969 - emenda outorgada pela Junta Militar à


Constituição de 1967, cuidou também da defesa do patrimônio
histórico, cultural e paisagístico. Em relação à divisão de com-
petência, manteve as disposições da Constituição emendada.
1969 Em seu art. 172, disse que “a lei regulará, mediante prévio
levantamento ecológico, o aproveitamento agrícola de terras
sujeitas a intempéries e calamidades” (BRASIL, 1969) e que “o
mau uso da terra impedirá o proprietário de receber incentivos
e auxílio do governo” (BRASIL, 1969).

Evolução Histórica do Meio Ambiente na Constituição Federal.


Fonte: PMSC (2022).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 21


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Cabe observar a introdução do vocábu- Diante deste contexto, estava ocor-


lo “ecológico” em textos legais. rendo o aumento da “consciência
ecológica”, influenciando diretamente
É certo que, nas referidas Constituições
a formulação da legislação ambiental
anteriores a de 1988, não houve a
mundial e brasileira.
proteção integral do “meio ambiente”,
mas apenas a disciplina de alguns de Exemplo disso, foi que no Brasil depois
seus elementos integrantes ou matérias da Declaração de Estocolmo, no ano
coligadas. de 1975, surgiu o Decreto nº 76.389
condicionando a aprovação de projetos
No entanto, por influência de estudos e
industriais à observância de “normas
manifestações políticas de âmbito inter-
antipoluidoras”.
nacional mesmo anteriores ao ano de
1988, como a Declaração de Estocolmo Apenas alguns anos depois, para ser
de 1972, resultante da 1ª Conferência mais preciso em 1981, foi publicada a
das Nações Unidas Sobre o “Meio Am- Lei Federal nº 6.938, estabelecendo a
biente”, esta que apontou a necessidade Política Nacional do Meio Ambiente,
da conservação, dentre os mais variados dispondo ela de mecanismos para for-
recursos naturais, entre eles: “água, mulação e aplicação, tendo como obje-
ar, solo, flora, fauna”, em benefício das tivo, compatibilizar o desenvolvimento
gerações presentes e futuras. Assim, econômico-social e a preservação da
tratando-se da autonomia do “Direito qualidade do meio ambiente e do equi-
Ambiental” no Brasil, foram publicadas, líbrio ecológico, considerando, ainda,
no mesmo sentido, leis federais espar- “o meio ambiente como um patrimônio
sas que davam sinais de que a proteção público” (BRASIL, 1981), sendo que
ao “meio ambiente”, de maneira integral hoje, o meio ambiente não é considera-
e cada vez mais concreta, era só uma do patrimônio público e, sim, um bem
questão de tempo. ambiental de caráter transindividual.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 22


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Ainda, a referida Lei Federal nº 6.938/81 trouxe Porém, como observa Sir-
em seu bojo o que viria a ser um dos principais vinskas (2002 apud SOUZA,
instrumentos desta Política Nacional que foi a 2014, p. 24)
avaliação de impactos ambientais, conforme
art. 9º, inciso III, passando a exigir licença dos a conceituação e proteção
órgãos ambientais públicos responsáveis na do meio ambiente era
hipótese das atividades serem “efetiva” ou “po- ainda incipiente e incom-
tencialmente poluidoras”. pleta, sobretudo por expor
que o meio ambiente se
referia ao aspecto natural
deixando de tratar de as-
pectos jurídicos relevan-
IMPORTANTE
tes, os quais garantiriam
A Lei de Política Nacional (Lei nº 6.938/81) tam- a ampla efetiva proteção
bém estruturou o Sistema Nacional do Meio ambiental.
Ambiente (SISNAMA), integrando os órgãos mu-
nicipais nesta Política Nacional e atribuindo-lhes Neste sentido, no ano de 1985,
a responsabilidade pelo controle e fiscalização foi publicada a Lei Federal nº
de atividades que possam acarretar degradação 7.347 que, por sua vez, disci-
ambiental na esfera local, bem como a elabora- plinou a Ação Civil Pública de
ção de normas supletivas e complementares às responsabilidade por danos
editadas pela União e pelos Estados, conforme
causados ao meio ambiente,
art. 6º, exigindo-se que o indispensável desen-
possibilitando o acesso cole-
volvimento humano e social não se dê a qualquer
tivo à Justiça para defesa do
custo (BRASIL, 1981).
meio ambiente.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 23


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Contudo, a Constituição
Federal da República Fe-
derativa do Brasil promul-
gada em 05 de outubro de
1988 (CF/88), denomina-
da “verde”, representou
um marco na legislação
ambiental brasileira,
trazendo grande avanço
no tratamento jurídico ao
“meio ambiente”, pois deli-
mitou áreas consideradas
como patrimônio nacional
e dedicou um capítulo
inteiro à sua proteção,
localizando-a de maneira
estruturada no Título VIII,
denominado “Da Ordem
Social”, que engloba a
Seguridade Social: Saúde,
Previdência Social e
Assistência Social, Educa-
ção, Cultura e Desporto,
a Ciência Tecnologia e
Inovação, a Comunicação
Social e, no artigo 225,
estabelece destaque à sua
previsão constitucional,
nestes termos:
Constituição Federal.
Fonte: Almanaque Lusofonista.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 24


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

TÍTULO VIII manejo ecológico das espécies e


Da Ordem Social ecossistemas;

CAPÍTULO I II - preservar a diversidade e a integri-


dade do patrimônio genético do País
DISPOSIÇÃO GERAL
e fiscalizar as entidades dedicadas à
[...] pesquisa e manipulação de material
Art. 193. A ordem social tem como genético;
base o primado do trabalho, e como III - definir, em todas as unidades da
objetivo o bem-estar e a justiça Federação, espaços territoriais e seus
sociais. componentes a serem especialmente
[...] protegidos, sendo a alteração e a su-
pressão permitidas somente através
CAPÍTULO VI
de lei, vedada qualquer utilização que
DO MEIO AMBIENTE comprometa a integridade dos atri-
[...] butos que justifiquem sua proteção;
Art. 225. Todos têm direito ao meio IV - exigir, na forma da lei, para
ambiente ecologicamente equilibrado, instalação de obra ou atividade
bem de uso comum do povo e essencial potencialmente causadora de signifi-
à sadia qualidade de vida, impondo-se cativa degradação do meio ambiente,
ao Poder Público e à coletividade o estudo prévio de impacto ambiental,
dever de defendê-lo e preservá-lo para a que se dará publicidade;
as presentes e futuras gerações.
V - controlar a produção, a comercia-
§ 1º Para assegurar a efetividade des- lização e o emprego de técnicas, mé-
se direito, incumbe ao Poder Público: todos e substâncias que comportem
I - preservar e restaurar os processos risco para a vida, a qualidade de vida
ecológicos essenciais e prover o e o meio ambiente;

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 25


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

VI - promover a educação ambiental sua utilização far-se-á, na forma da


em todos os níveis de ensino e a cons- lei, dentro de condições que assegu-
cientização pública para a preserva- rem a preservação do meio ambiente,
ção do meio ambiente; inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais.
VII - proteger a fauna e a flora, ve-
dadas, na forma da lei, as práticas § 5º São indisponíveis as terras devo-
que coloquem em risco sua função lutas ou arrecadadas pelos Estados,
ecológica, provoquem a extinção de por ações discriminatórias, neces-
espécies ou submetam os animais a sárias à proteção dos ecossistemas
crueldade. naturais.

§ 2º Aquele que explorar recursos § 6º As usinas que operem com reator


minerais fica obrigado a recuperar o nuclear deverão ter sua localização
meio ambiente degradado, de acordo definida em lei federal, sem o que não
com solução técnica exigida pelo órgão poderão ser instaladas.
público competente, na forma da lei. § 7º Para fins do disposto na parte
final do inciso VII do § 1º deste artigo,
§ 3º As condutas e atividades con-
não se consideram cruéis as práticas
sideradas lesivas ao meio ambiente
desportivas que utilizem animais,
sujeitarão os infratores, pessoas
desde que sejam manifestações
físicas ou jurídicas, a sanções penais e
culturais, conforme o § 1º do art. 215
administrativas, independentemente
desta Constituição Federal, registra-
da obrigação de reparar os danos
das como bem de natureza imaterial
causados.
integrante do patrimônio cultural
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, brasileiro, devendo ser regulamen-
a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o tadas por lei específica que assegure
Pantanal Mato-Grossense e a Zona o bem-estar dos animais envolvidos
Costeira são patrimônio nacional, e (BRASIL, 1988).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 26


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A partir da afirmação expressa no caput do art. 225 da


CF/88 (BRASIL, 1988) para um melhor alcance de com-
preensão definimos a seguir alguns termos abordados:

• Todos: o meio ambiente pertence a • Sadia qualidade de vida: a sadia quali-


todos e a cada um ao mesmo tempo, dade foi uma inovação constitucional,
se enquadrando na categoria de direi- visto que as Constituições brasileiras
tos transindividuais. É um interesse sempre consagraram o direito à vida,
difuso; mas sem expressar preocupação com
sua qualidade;
• Todos têm direito: trata-se de um
direito público subjetivo de natureza • Impondo-se ao poder público e à cole-
difusa, oponível erga omnes, comple- tividade: trata-se do reconhecimento
tado pelo direito de exercício da ação de que o Poder Público, por si só, não
popular para a proteção ambiental é capaz de cuidar e preservar o meio
prevista no art. 5º, LXXIII; ambiente. A coletividade, ou seja, a so-
ciedade civil é OBRIGADA a colaborar
• Bem de uso comum do povo: significa
na proteção;
que o meio ambiente é indisponível, já
que não se trata de um bem dominical, • Presentes e futuras gerações: trata-se
não pertence ao domínio público. Re- da consagração do princípio da solida-
fere-se à expressão “todos”; riedade intergeracional.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 27


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

O Supremo Tribunal Federal, já teve a oportuni-


A legislação ambien-
dade de citar o “meio ambiente”: “[...] como um
tal, deste modo, quan-
típico direito de terceira geração que assiste, de
do traz restrições ao
modo subjetivamente indeterminado, a todo o exercício do direito de
gênero humano, circunstância essa que justifica propriedade, atinge
a especial obrigação – que incumbe ao Estado também as proprieda-
e à própria coletividade – de defendê-lo e de des particulares, porque
preservá-lo em benefício das presentes e futuras o meio ambiente não é
gerações [...]”i(SÃO PAULO, 2018). um bem público, o meio
ambiente é um bem de
Assim, a natureza jurídica do meio ambiente é de bem de interesse público. Isso
realmente está certo. Se
interesse público. Não é bem público, mas bem de inte-
o meio ambiente fosse
resse público. Há o interesse público comum na defesa
um bem público, não
dos recursos naturais do meio ambiente.
haveria a possibilidade
de existência de pro-
É por isso que as regras de direito ambiental não
priedades particulares,
recaem apenas sobre bens públicos da União, Esta-
tudo seria do domínio
dos e Municípios, mas também sobre propriedades
do Estado.
particulares.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 28


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Ainda, para fins didáticos, de forma inovadora, a CF/88 es-


tabeleceu a proteção do meio ambiente como princípio da
ordem econômica, no art. 170, Título VII, nestes termos:

TÍTULO VII VI - defesa do meio ambiente, inclu-


Da Ordem Econômica e Financeira sive mediante tratamento diferen-
ciado conforme o impacto ambiental
CAPÍTULO I
dos produtos e serviços e de seus
DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVI- processos de elaboração e prestação;
DADE ECONÔMICA
VII - redução das desigualdades re-
[...] gionais e sociais;
Art. 170. A ordem econômica,
VIII - busca do pleno emprego;
fundada na valorização do trabalho
humano e na livre iniciativa, tem IX - tratamento favorecido para as
por fim assegurar a todos existência empresas de pequeno porte consti-
digna, conforme os ditames da jus- tuídas sob as leis brasileiras e que
tiça social, observados os seguintes tenham sua sede e administração no
princípios: País.
I - soberania nacional; Parágrafo único. É assegurado a to-
II - propriedade privada; dos o livre exercício de qualquer ativi-
dade econômica, independentemente
III - função social da propriedade;
de autorização de órgãos públicos,
IV - livre concorrência; salvo nos casos previstos em lei (BRA-
V - defesa do consumidor; SIL, 1988, grifo nosso).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 29


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Há que se destacar, então, que


TÍTULO II
a dimensão conferida ao tema
“meio ambiente” não se resume Dos Direitos e Garantias Fundamentais
aos dispositivos concentrados,
CAPÍTULO I
especialmente, no Capítulo VI, do
Título VIII, dirigido à Ordem Social; DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E
alcança da mesma forma, inúmeros COLETIVOS
outros regramentos insertos ao Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem
longo do texto nos mais diversos distinção de qualquer natureza, garantin-
Títulos e Capítulos, decorrentes
do-se aos brasileiros e aos estrangeiros resi-
do conteúdo interdisciplinar da
dentes no País a inviolabilidade do direito à
matéria, como demonstrado nas
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
citações legislativas acima.
à propriedade, nos termos seguintes:
Outro exemplo seria o foi definido
[...]
no inciso LXXIII do art. 5º da CF/88,
o qual conferiu ao “meio ambiente” LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima
status de DIREITO FUNDAMEN- para propor ação popular que vise a anular
TAL, pois definido no caput à ga- ato lesivo ao patrimônio público ou de
rantia do direito “à vida” e, sequen- entidade de que o Estado participe, à mora-
cialmente, no inciso LXXIII definiu lidade administrativa, ao meio ambiente e
que “qualquer cidadão é parte ao patrimônio histórico e cultural, ficando
legítima para propor ação popular o autor, salvo comprovada má-fé, isento de
que vise anular ato lesivo ao meio custas judiciais e do ônus da sucumbência
ambiente e ao patrimônio histórico (BRASIL, 1988).
e cultural”, senão vejamos:

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 30


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Isso significa dizer que, tratando-se de Portanto, a CF/88 é a primeira das


DIREITO FUNDAMENTAL, o direito ao Constituições brasileiras a tratar da
ambiente sadio e equilibrado é indis- questão ecológica, instituindo no
ponível, prevalecendo, assim, o dever ordenamento brasileiro o DIREITO
jurídico-constitucional de preservação, FUNDAMENTAL – chamado de terceira
para a transmissão do patrimônio am- geração – ao ambiente sadio e equili-
biental às gerações futuras. brado. Ao dedicar um capítulo inteiro à
proteção ambiental (art. 225 CF), con-
Determina, ainda, a referida CF/88 que o
sagrando-a como princípio da ordem
“meio ambiente” é - bem de uso comum
econômica (art. 170, inciso VI), o texto
do povo -, isto é, não é suscetível de apro-
constitucional considera o “meio am-
priação. Se por um lado, o Poder Público
biente” como “bem de uso comum do
fica obrigado a proteger e preservar o
povo”, cuja defesa e proteção às futuras
meio ambiente, por outro, o particular,
gerações incumbe ao Poder Público e a
não tem apenas o direito ao meio am-
todo o cidadão.
biente, passando a ser titular do dever
de PRESERVAR e DEFENDÊ-LO. Tanto Em razão do “todo” apontado anterior-
é, que impôs no parágrafo 1º do art. 225, mente, na atualidade, originou-se um
as regras a serem obedecidas pelo Poder arcabouço de princípios que delimitam
Público, com vistas à efetividade dos a efetiva proteção ao “meio ambiente”.
referidos direitos, e no parágrafo tercei- Diante disso, precisamos citar alguns
ro ficou determinado que as condutas e para melhor compreensão da matéria e
atividades consideradas lesivas ao meio entendimento da sua real importância,
ambiente sujeitarão os infratores, pes- que podem estar de maneira expressa
soas físicas ou jurídicas, a sanções penais ou implicitamente previstos na CF/88
e administrativas, independentemente e nas diversas legislações infraconsti-
da obrigação de reparar os danos causa- tucionais que cuidam do assunto. Na
dos (reparação civil) (BRASIL, 1988). sequência, citamos os principais.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 31


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

a. Princípio da Prevenção: por esse tombamento, as liminares, as sanções


princípio, deve ser dada prioridade administrativas. O princípio se mani-
às medidas que evitem danos ao festa na CF/88, quando esta exige a
meio ambiente. A prevenção é realização de estudo prévio de impac-
preceito fundamental, uma vez que to ambiental (BRASIL, 1988).
os danos ambientais, na maioria
b. Princípio da Precaução: propugna que
das vezes, são irreversíveis e irre-
quando houver ameaça de danos sérios
paráveis. O dever jurídico de evitar
ou irreversíveis, a ausência absoluta
a consumação de danos ao meio
de certeza científica quanto a eles não
ambiente vem sendo salientado em
deve ser utilizada para postergar medi-
convenções, declarações e sentenças
das eficazes e economicamente viáveis
de tribunais internacionais, como na
de evitação do resultado. O princípio
maioria das legislações internacio-
da precaução visa a durabilidade da
nais. Os meios a serem utilizados na
sadia qualidade de vida das gerações
prevenção podem variar conforme o
humanas e a continuidade da natureza
desenvolvimento de um país.
existente no planeta. A precaução
A prevenção e a preservação devem deve ser visualizada não só em relação
ser concretizadas por meio da cons- às gerações presentes, como em rela-
ciência ecológica, que deve ser de- ção ao direito ao meio ambiente das
senvolvida através de uma educação gerações futuras (BRASIL, 1988). No
ambiental. Brasil foi inserido expressamente como
princípio 15 da Declaração do Rio/92:
Como nossa realidade não contem-
pla, ainda, a aludida consciência, tor- Princípio 15: "Para que o ambiente
na-se necessário observar instrumen- seja protegido, serão aplicadas, de
tos necessários para sua efetivação, acordo com as suas capacidades,
como o estudo de impacto ambiental medidas preventivas. Onde existam
(EIA), o Relatório de Impacto Am- ameaças de riscos sérios ou irre-
biental (RIMA), o manejo ecológico, o versíveis, não será utilizada a falta

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 32


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

de certeza científica total como c. Princípio da Responsabilização: tra-


razão para o adiamento de medidas ta-se do Princípio 13 da Declaração
eficazes, em termos de custo, para Rio/92. Por ele, os Estados deverão
evitar a degradação ambiental desenvolver legislação nacional rela-
(DECLARAÇÃO …, 1992). tiva à responsabilidade e à indeniza-
ção das vítimas da poluição e outros
A precaução caracteriza-se pela ação danos ambientais. Nestes termos:
antecipada diante do risco ou do pe-
rigo. No mundo da precaução há uma Os Estados deverão cooperar da
dupla fonte de incerteza: o perigo em si mesma forma, de maneira rápida
mesmo considerado e a ausência de co- e mais decidida, na elaboração
nhecimentos científicos sobre o perigo. das normas internacionais sobre
A primeira lei expressamente previu o a responsabilidade e indenização
princípio foi a da Biossegurança (Lei nº por efeitos adversos advindos dos
11.105/05 – art. 1º). Vale dizer: a incer- danos ambientais causados por
teza científica milita em favor do meio atividades realizadas dentro de sua
ambiente. A precaução caracteriza-se jurisdição ou sob seu controle, em
pela ação antecipada diante do risco ou zonas situadas fora de sua jurisdi-
perigo desconhecido. ção (DECLARAÇÃO …, 1992).

No direito interno, o Brasil adotou, na


Lei nº 6.938/81, a responsabilidade ob-
jetiva, tendo a CR/88 considerado im-
T E O R I A N A P R ÁT I C A prescindível a obrigação de reparação
dos danos causados ao meio ambiente.
Enquanto a prevenção trabalha com
o risco certo, a precaução vai além d. Princípio do Poluidor-Pagador: tem
e se preocupa com o risco incerto. A
previsão constitucional - art. 225, §
prevenção se dá em relação ao perigo
3º CF. Por ele, todo agente que cause
concreto, ao passo que a precaução
algum dano ao meio ambiente deverá
envolve perigo abstrato ou potencial.
arcar com os custos de sua recupe-

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 33


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

ração, independentemente de culpa mente “in natura”, ou seja, buscando


(responsabilidade objetiva). O poluidor restabelecer o “status quo ante”.
é obrigado a corrigir ou a recuperar o
Esse princípio não tolera a poluição,
ambiente, além de cessar a atividade
pois a finalidade primordial é evitá-la.
nociva. O responsável pelo dano am-
Não se trata de uma autorização para
biental deverá indenizar a sociedade.
poluir condicionada à indenização. A
poluição continua vedada; se aconte-
cer, contudo, deve dar-se a recomposi-
ção in natura e a indenização dos danos
R E F L I TA insuscetíveis de recomposição.
Porém, quem é o poluidor? Poluidor é
Há, entretanto, forte caráter repressivo
toda pessoa física ou jurídica de direi-
e preventivo no princípio. Na órbita
to público ou privado que, de algum
modo, forem os causadores do dano repressiva, há incidência de alguns as-
ambiental. (BRASIL, 1981). pectos do regime jurídico da responsabi-
lidade civil aos danos ambientais, como:
Assim, mesmo não existindo qualquer 1. responsabilidade civil objetiva (pre-
ilicitude no comportamento do polui- vista pela Lei da Política Nacional do
dor, mesmo que seus atos sejam am- Meio Ambiente, no art. 14, § 1º);
parados pelo direito, ele deverá sanar
2. prioridade da reparação especificado
os danos causados. Deste modo, para
dano ambiental, em detrimento da
tornar obrigatório o pagamento pela
conversão da obrigação de fazerem
poluição danosa efetivada, não há
pagar o equivalente em dinheiro
necessidade de ser provado que o
(somente caso for infrutífera tal possi-
poluidor está cometendo faltas ou
bilidade, poderá recair a condenação
infrações. Há necessidade, somente,
de se provar a ocorrência da poluição sobre pecúnia – artigos 2º e 4º, PNMA);
advinda de uma atividade própria. A 3. solidariedade para suportar os danos
reparação deverá ser preferencial- causados ao meio ambiente.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 34


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

e. Princípio do Usuário-Pagador: em
matéria de proteção do meio ambiente,
T E O R I A N A P R ÁT I C A
o princípio significa que o utilizador do
recurso natural deve suportar o con- Exemplos concretos de sua aplica-
junto dos custos destinados a tornar ção são as audiências públicas em
possível a sua utilização, assim como sede de estudo prévio de impacto
os custos advindos de sua própria utili- ambiental. Há, aqui, a tentativa de
zação. Esse princípio tem por objetivo provocar os cidadãos, fazendo-os
fazer com que os custos não sejam su- saírem de um status passivo de be-
portados, nem pelos poderes públicos e neficiários dos atos do Poder Públi-
nem por terceiros, mas pelo utilizador, co e partilhar a responsabilidade na
evitando externalidades negativas. gestão dos interesses da coletivida-
de, inclusive atuando judicialmente,
f. Princípio da Participação: Esse princípio, por intermédio de ação popular,
que não é exclusivo do Direito Ambiental, como apresentado acima.
expressa a ideia de que para resolução dos
problemas do ambiente deve ser dada es- Destaca-se a atuação, também neste
pecial ênfase à cooperação entre o Estado sentido, das ONGs e assento dos
e a sociedade, através da participação dos cidadãos nos conselhos ambientais
diferentes grupos sociais na formulação e e da consulta pública para criação de
na execução da política ambiental. algumas unidades de conservação.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 35


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

g. Princípio da Informação: encontra tal como os processos pelos quais o


respaldo nos arts. 6º, § 3º, e 10º da indivíduo e a coletividade constroem
Política Nacional do Meio Ambiente, valores sociais, conhecimentos,
e nos arts. 220 e 221 da CF/88 (dever habilidades, atitudes e competências
de informar e de ser informado). Ao voltadas para a conservação do meio
proclamar a publicidade do estudo ambiente, bem de uso comum do
de impacto ambiental, a Constituição povo, essencial à qualidade de vida
Federal assegura informação ao pú- (BRASIL, 1999). Bem como a Lei nº
blico, que terá acesso ao EIA/RIMA 13.558, de 17 de novembro de 2005,
(art. 225, § 1º, IV). No plano infra- que dispõe sobre a Política Estadual
constitucional, a Lei nº 6.938/81, em de Educação Ambiental – PEEA, a
seu art. 9º, VII e VIII, insere, dentre qual a PMA tem a responsabilidade
os instrumentos da política do meio pela educação não-formal, art. 15, inc.
ambiente, a obrigação de o Estado de VI, da Lei nº 14.675/09. A educação
produzir um cadastro de informações ambiental consubstancia-se em rele-
ambientais e de assegurar ao público vante instrumento para esclarecer e
a prestação de informações relativas envolver a comunidade no processo
ao meio ambiente. de controle da preservação do meio
ambiente, pois lhe daria o conheci-
h. Princípio da Educação Ambiental:
mento necessário dos meios e instru-
princípio expressamente previsto na
mentos de que poderia se valer para
CF/88, art. 225, § 1º, VI. Educar am-
o exercício da cidadania em matéria
bientalmente significa reduzir os cus-
ambiental (SANTA CATARINA, 2005).
tos ambientais, efetivar o princípio da
prevenção, fixar a consciência ecoló- i. Princípio do Desenvolvimento Sus-
gica, incentivar a realização do prin- tentável: a ideia de desenvolvimento
cípio da solidariedade. Neste sentido, socioeconômico em harmonia com a
também, a Lei da Política Nacional da preservação ambiental emergiu da
Educação Ambiental (Lei nº 9.795/99, Conferência de Estocolmo, de 1972. A
art. 6º), definindo educação ambien- CF/88 abriga esse princípio (Art. 170,

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 36


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

VI, e art. 225 da CF). Pilares do desen- assegurar, para as presentes e futuras
volvimento sustentável: crescimento gerações, um piso vital mínimo. Há
econômico, preservação ambiental e quem determine o ambiente ecologi-
equidade social. Trata-se da necessida- camente equilibrado como um mínimo
de de preservação dos recursos na- existencial ambiental (BRASIL, 1988).
turais, pelas presentes gerações, para
k. Princípio da Função Socioambiental
as gerações futuras, de exploração
da Propriedade: Impõe ao proprietá-
racional e uso equitativo dos recursos
rio um dever de exercer o seu direito
naturais e da consideração do meio
de acordo com as necessidades so-
ambiente para a definição de políticas
ciais, dentre as quais se sobressai a de
públicas e planos de desenvolvimento
preservação ambiental. O direito de
socioeconômicos. Dessa forma, o prin-
propriedade há muito não é mais con-
cípio tem por conteúdo a manutenção
cebido como algo que se exerce em
das bases vitais da produção e repro-
proveito exclusivo de seu titular, mas
dução do homem e de suas atividades,
deve ser revertido para o coletivo,
garantindo uma relação satisfatória
seja ela rural ou urbana. Por conse-
entre os homens e o ambiente, para
guinte, exige-se do detentor do direito
que as futuras gerações também te-
de propriedade não só condutas
nham oportunidade de desfrutar dos
negativas (não poluir, não perturbar,
mesmos recursos (BRASIL, 1988).
não impor maus tratos aos animais),
j. Princípio do Direito ao Meio Ambien- como também positivas (averbar a
te Sadio e Ecologicamente Equilibra- reserva legal, revegetar a área de
do: inspirada na Carta de Estocolmo de preservação permanente, fazer con-
1972, a Constituição Federal, em seu tenção acústica numa casa noturna
art. 225, consagrou esse princípio. O etc.). No Brasil, o legislador da CF/88
direito ao meio ambiente hígido está proclamou, de maneira veemente, que
intimamente ligado ao direito funda- o uso da propriedade deve ser condi-
mental à vida. Para que existam condi- cionado ao bem-estar social (art. 5º,
ções de vida no planeta, é necessário inc. XXII e XXIII). Note-se, ainda, que

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 37


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

a função social da propriedade não se limita à


propriedade rural, mas também à propriedade
SAIBA MAIS
urbana. O uso da propriedade pode e deve ser
controlado pela Administração e pelo Judiciá- Ver Decisão no STF na medida
rio, impondo as restrições que forem neces- cautelar na arguição de des-
sárias para salvaguardar os bens maiores da cumprimento de preceito fun-
coletividade, de modo a evitar, por comandos damental 748 distrito federal.

prontos e eficientes, qualquer ameaça ou le- https://portal.stf.jus.br/pro-


são à qualidade de vida (BRASIL, 1988). cessos/detalhe.asp?inciden-
te=6018018
l. Princípios da Proibição do Retrocesso e do
Progresso Ambiental: vedação ao retrocesso
quando já existem medidas protetivas. Im-
pede que qualquer um dos Poderes ataque
o núcleo essencial de direitos e garantias
ambientais já positivados, protegidos e imple-
mentados. Não é possível a edição de normas
posteriores mais flexíveis, pois comprometem
a solidariedade intergeracional. Necessidade
de avançar e aprimorar a legislação ambien-
tal. “Cláusula de Progressividade” do Pacto
Internacional de Direitos Econômicos, Sociais
e Culturais (art. 2º, 1). Finalidade de garantir
a disponibilidade permanente e salubridade
social. ( BRASIL, 1992).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 38


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

m. Princípio do Protetor-Recebedor: mentos econômicos para fomentar a


postula que aquele agente público ou proteção ao meio ambiente e de um
privado que protege um bem natural fundamento da ação ambiental que
em benefício da comunidade deve pode ser considerado o avesso do co-
receber uma compensação financeira nhecido princípio do usuário pagador,
como incentivo pelo serviço de prote- que postula que aquele que usa um de-
ção ambiental prestado. O princípio terminado recurso da natureza deve
do protetor-recebedor incentiva pagar por tal utilização. Um exemplo
economicamente quem protege uma adotado em alguns municípios, é a
área, deixando de utilizar seus recur- possibilidade de redução das alíquotas
sos, estimulando assim a preservação. de IPTU para quem mantém áreas ver-
Trata-se do Estado agindo com instru- des protegidas em suas propriedades.

Policial Militar
Ambiental.
Fonte: Polícia Militar
Ambiental / Instagram.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 39


Política Nacional do Meio Ambiente
(Lei nº 6.938/81)

A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) (Lei nº


6.938/81) sistematizou a tutela do meio ambiente no Bra-
sil, nos termos do art. 4º (BRASIL, 1981), conforme segue.

a. Compatibilização do desenvolvimen- com essa meta, o estabelecimento de


to econômico e social com a preser- critérios objetivamente aferíveis, para
vação do meio ambiente: essa meta que todos os que se utilizam do meio
tem implícita em si a compatibilização ambiente saibam os limites de suas
dos princípios da prevenção e do de- atuações, além de como proceder
senvolvimento sustentável. O Brasil para que elas sejam mais proveitosas;
não adotou a concepção absolutista
de resguardo do meio ambiente, pela d. Desenvolvimento de pesquisas tec-
qual tudo o que modifique o status nológicas voltadas para o uso racio-
quo ambiental deve ser impedido. nal do meio ambiente;
Afinal, é imprescindível o desenvolvi-
e. Difusão de novas tecnologias de
mento socioeconômico do país;
manejo e informações ambientais
b. Definição de áreas prioritárias de para formar uma consciência pública:
proteção: por intermédio dos zonea- de papel relevante, pois enquanto a
mentos, tanto urbanos quanto rurais, sociedade não tiver consciência do
assim como pela criação de unidades seu papel na efetivação das políticas
de conservação; ambientais, a informação não atinge o
seu verdadeiro objetivo;
c. Estabelecimento de critérios e pa-
drões de qualidade ambiental e nor- f. Utilizar racionalmente e permitir a
mas relativas ao uso normal e manejo disponibilidade permanente do meio
dos recursos ambientais: busca-se ambiente.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 40


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (LEI Nº 6.938/81)

São conceitos elencados, ainda na PNMA:

Art 3º - Para os fins previstos nesta IV – poluidor - a pessoa física ou ju-


Lei, entende-se por: rídica, de direito público ou privado,
I - meio ambiente - o conjunto de con- responsável, direta ou indiretamente,
dições, leis, influências e interações por atividade causadora de degrada-
de ordem física, química e biológica, ção ambiental;
que permite, abriga e rege a vida em A poluição é uma espécie qualificada
todas as suas formas; da degradação. A poluição agrega ao
II - degradação da qualidade ambien- conceito de degradação o fato de ser
tal - a alteração adversa das caracte- resultante de atividades humanas,
rísticas do meio ambiente; notadamente, que prejudiquem
saúde, a segurança e o bem estar da
III – poluição - a degradação da qua- população; criem condições adver-
lidade ambiental resultante de ativi- sas às atividades sociais e econô-
dades que direta ou indiretamente: micas; afetem desfavoravelmente a
a) prejudiquem a saúde, a segurança biota; afetem as condições estéticas
e o bem-estar da população; ou sanitárias do meio ambiente;
b) criem condições adversas às ativi- lacem matérias ou energia em de-
dades sociais e econômicas; sacordo com os padrões ambientais
estabelecidos.
c) afetem desfavoravelmente a biota;
V - recursos ambientais - a atmosfe-
d) afetem as condições estéticas ou ra, as águas interiores, superficiais
sanitárias do meio ambiente; e subterrâneas, os estuários, o mar
e) lancem matérias ou energia em territorial, o solo, o subsolo, os ele-
desacordo com os padrões ambien- mentos da biosfera, a fauna e a flora
tais estabelecidos; (BRASIL, 1981, grifo nosso).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 41


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (LEI Nº 6.938/81)

De acordo com a PNMA, o meio b. Conselho Nacional do Meio Ambiente


ambiente será administrado pelo (CONAMA) (ÓRGÃO CONSULTIVO E DE-
SISNAMA – Sistema Nacional LIBERATIVO): trata-se de órgão federal com
de Meio Ambiente, o qual com- atribuições CONSULTIVAS (apresentação de
preende um conjunto de órgãos estudos e pareceres) e DELIBERATIVAS; é o
e entidades federais, estaduais “cérebro” da determinação do comportamen-
e municipais atuantes no setor1. to ambiental brasileiro. Suas resoluções de-
Ele é integrado por um órgão liberativas possuem força de lei para todo o
superior, um órgão consultivo e sistema, (O art. 8º da PNMA que confere força
deliberativo, um órgão central, normativa às Resoluções do CONAMA: VII
um órgão executor, diversos ór- - estabelecer normas, critérios e padrões rela-
gãos setoriais, órgãos seccionais tivos ao controle e à manutenção da qualidade
e órgãos locais. É estruturado da do meio ambiente com vistas ao uso racional
seguinte forma: dos recursos ambientais, principalmente os
hídricos.) (BRASIL, 1981), condicionando e
a. Conselho de Governo (ÓR- subordinando as demais normas ambientais
GÃO SUPERIOR): trata-se do publicadas pelos outros entes. Suas principais
órgão superior do SISNAMA, competências estão elencadas no art. 8º da
que tem a função de prestar Lei de PNMA. Apesar dessa competência
assessoria ao Presidente da legislativa ampla, são os Estados, através de
República na formulação da seus órgãos e entidades ambientais, que efe-
política nacional e nas diretri- tivamente executam as diretrizes da política
zes governamentais. ambiental determinada pelo CONAMA.

1
O antecedente do Sisnama foi a Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA, que surgiu logo após a Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano - Estocolmo, 1972. Ante a pressão da comunidade internacional, o
SEMA surgiu com o declarado objetivo de orientar uma política de conservação do meio ambiente e o uso racional dos
recursos naturais e foi a resposta brasileira neutralizadora das pressões do momento.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 42


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (LEI Nº 6.938/81)

c. Ministério do Meio Ambiente – e. Órgãos seccionais (ESTADUAIS


MMA (ÓRGÃO CENTRAL): órgão E DF): são os órgãos e entidades
criado em 1992, após a ECO/92. estaduais responsáveis pelos pro-
Possui a competência de coordenar, gramas, projetos e pelo controle e
supervisionar e controlar a política FISCALIZAÇÃO de atividade capazes
do meio ambiente em nível nacional, de provocar degradação ambiental
principalmente em assuntos de inte- em seu território. Exercem a com-
resse da União, com impactos sobre petência material ou administrativa.
mais de um Estado-membro. Ainda, no Estado de Santa Catarina,
a POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL faz
d. Instituto Brasileiro do Meio Ambien-
parte do Sistema Nacional do Meio
te e dos Recursos Naturais Renová-
Ambiente como integrante do Órgão
veis (IBAMA) - ÓRGÃO EXECUTOR:
SECCIONAL, por construção lógica
trata-se de uma autarquia federal vin-
legal conforme indicado acima, além
culada ao MMA, com a finalidade de
de compor o Sistema Estadual do
coordenar, executar e fazer executar,
Meio Ambiente (SEMA).
em nível federal, a política nacional do
meio ambiente, as diretrizes governa-
mentais fixadas ao meio ambiente, a
preservação, conservação, uso racio-
nal, fiscalização, controle e fomento
dos recursos ambientais. O IBAMA é
órgão executor geral e o ICMBIO (Ins-
tituto Chico Mendes) é órgão executor
apenas na atuação das unidades de
conservação, é uma autarquia voltada
apenas para a gestão das unidades de
conservação. As outras políticas gover-
namentais de meio ambiente, em nível
federal, são executadas pelo IBAMA.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 43


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (LEI Nº 6.938/81)

Esta interpretação se dá, a princípio, por força do que dis-


põe o art. 107 e art. 182, §2º, da Constituição Estadual de
1989, vejamos:

Art. 107. À Polícia Militar, órgão f) a polícia judiciária militar, nos ter-
permanente, força auxiliar, reserva mos de lei federal;
do Exército, organizada com base
g) a proteção do meio ambiente; e
na hierarquia e na disciplina, subor-
dinada ao Governador do Estado, h) a garantia do exercício do poder
cabe, nos limites de sua compe- de polícia dos órgãos e entidades
tência, além de outras atribuições públicas, especialmente da área
estabelecidas em Lei: fazendária, sanitária, de proteção
ambiental, de uso e ocupação do solo
I - exercer a polícia ostensiva relacio-
e de patrimônio cultural; II - cooperar
nada com:
com órgãos de defesa civil; e III -
a) a preservação da ordem e da segu- atuar preventivamente como força de
rança pública; dissuasão e repressivamente como de
b) o radiopatrulhamento terrestre, restauração da ordem pública.
aéreo, lacustre e fluvial; [...]
Art. 182. Incumbe ao Estado, na
c) o patrulhamento rodoviário;
forma da lei:
d) a guarda e a fiscalização das flores- [...]
tas e dos mananciais; § 2º O Estado instituirá, na Polícia
e) a guarda e a fiscalização do trânsi- Militar, órgão especial de polícia flo-
to urbano; restal (SANTA CATARINA, 1989).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 44


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (LEI Nº 6.938/81)

Ressalta-se que a Polícia Militar Am- f. Órgãos locais: compreendem os


biental, unidade operacional espe- órgãos municipais, que apenas execu-
cializada da Polícia Militar, comporta tam e fiscalizam. A atuação dos mu-
inúmeras atribuições, objetivando, nicípios foi realçada pela Resolução
por meio da prevenção e repressão, nº 237/97 do CONAMA, ao prever a
a busca do bem-estar na relação possibilidade de licenciamento muni-
homem e meio ambiente. Nota-se cipal de atividades de impacto local.
que o Estado de Santa Catarina se Referida atribuição está em harmonia
tornou um ente diferenciado por com o disposto no art. 8º, da Lei Com-
conta das especificações legislativas plementar 140/2011.
relacionadas às atividades de Polícia
Ostensiva Ambiental e proteção do
Meio Ambiente. A Lei nº 14.675/09
instituiu o Código Estadual do Meio
Ambiente e enumerou os integrantes
do Sistema Estadual do Meio Am-
biente (SEMA) no artigo 10, dentre
eles, a Polícia Militar Ambiental com
atribuições definidas no art. 15.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 45


Fonte: Gerd Altmann / Pixabay.

Código Florestal Federal

Criado pela Lei nº 12.651/12, após ser exigir, administrativa ou judicialmente,


objeto de acirrada discussão no Con- do titular do domínio que ele preserve a
gresso, prevê que “as florestas e demais sua boa condição ecológica.
formas de vegetação são bens de inte-
resse comum a todos” (BRASIL, 2012) Pelo Código Florestal, a propriedade flo-
o que significa que, embora o domínio restal está regida pelas limitações gerais
da floresta seja público ou privado, o existentes, tais como normas de vizinhan-
interesse deve ser compreendido como ça e o desempenho da função social da
a faculdade legal e constitucionalmente propriedade, delineada na Constituição e
assegurada a qualquer indivíduo de regulada pelo Código Florestal.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 46


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● CÓDIGO FLORESTAL FEDERAL

A propriedade florestal tem três (3) limitações principais:


áreas de preservação permanente, reservas legais e cor-
te somente com autorização do poder público e com base
no art. 2º, § 1º do citado Código:

§ 1º Na utilização e exploração da da Lei no 6.938, de 31 de agosto de


vegetação, as ações ou omissões 1981, e das sanções administrativas,
contrárias às disposições desta Lei civis e penais.
são consideradas uso irregular da § 2º AS OBRIGAÇÕES PREVISTAS
propriedade, aplicando-se o procedi- NESTA LEI TÊM NATUREZA REAL
mento sumário previsto no inciso II E SÃO TRANSMITIDAS AO SUCES-
do art. 275 da Lei no 5.869, de 11 de SOR, DE QUALQUER NATUREZA,
janeiro de 1973 - Código de Processo NO CASO DE TRANSFERÊNCIA DE
Civil, sem prejuízo da responsabilida- DOMÍNIO OU POSSE DO IMÓVEL
de civil, nos termos do § 1o do art. 14 RURAL. (BRASIL, 2012, grifo nosso).

Trata-se da expressa consagração legal do caráter “propter


rem” da obrigação de recuperar o meio ambiente.

As áreas de Preservação Permanente estão previstas nos


arts. 4º a 6º. Já as áreas de Reserva Legal, estão previstas
nos arts. 12 a 16.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 47


NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL ● CÓDIGO FLORESTAL FEDERAL

ÁREAS ESPECIALMENTE PROTEGIDAS

O Sistema Nacional
de Unidades de Con-
SAIBA MAIS
servação da Natureza
(SNUC) regulado pela • Áreas de Preservação Permanente (APP) – Lei nº
Lei nº 9.985/2000, 12.651/12, disponível em: http://www.planalto.gov.br/
trata de espaços terri- ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm
toriais especialmente • Reserva Legal – Lei nº 12.651/12;
protegidos. Porém, o • Servidão Ambiental – Lei nº 12.651/12.
SNUC não exaure tais
Podemos mencionar, ainda, outras espécies de proteção
espaços especialmente
ambiental, como:
protegidos.
• Sítios do Patrimônio Mundial Natural (reconhecidos
Outras normas ambien- pela UNESCO conforme a Convenção do Patrimônio
tais protetivas de deter- Mundial em 1972), disponível em: http://sigep.cprm.
minados ecossistemas gov.br/apresentacao.htm
ou biomas, tais como o
• Reservas da Biosfera (reconhecidas pela UNESCO,
Código Florestal: com alguma disciplina normativa no artigo 41 da Lei nº
9.985/00, regulamentado nos artigos 41 a 45 do De-
creto nº 4.340/02), disponível em: http://www.planal-
to.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4340.htm

• Sítios Ramsar (reconhecidos conforme a Convenção


sobre Zonas Úmidas, ocorrida em Ramsar - Irã, ratifi-
cada pelo Brasil em 24/09/93). Decreto nº 5.759/06,
disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2004-2006/2006/decreto/D5759.htm

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 2 48


CAPÍTULO 3

DOS CRIMES E INFRAÇÕES


ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS

Fonte: Polícia Militar Ambiental / Instagram.


Fonte: Polícia Militar Ambiental / Instagram.
DOS CRIMES E INFRAÇÕES
ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS

Neste capítulo, serão abordados os principais crimes e a


estrutura da Lei de Crimes Ambientais, também, uma vi-
são dos tipos e estruturação das infrações administrativas
ambientais e outras infrações e crimes previstos na legis-
lação de modo geral.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 50


Lei Nº 9.605/98

A Lei de Crimes Ambientais tem como foco central a


reparação do dano ou pelo menos buscar a compensação
do dano ambiental. A maioria dos institutos da parte geral
está relacionada com a reparação do dano ambiental. As-
sim, antes de punir, a lei busca reparar o dano ambiental.

A responsabilidade penal das pessoas físicas e jurídicas nos


crimes ambientais está prevista na Constituição Federal e
na Lei dos Crimes Ambientais, conforme exposto a seguir:

Art. 225 § 3º, da CF/88 - As condutas o disposto nesta Lei, nos casos em que
e atividades consideradas lesivas ao a infração seja cometida por decisão de
meio ambiente sujeitarão os infratores, seu representante legal ou contratual,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções ou de seu órgão colegiado, no interesse
penais e administrativas, independen- ou benefício da sua entidade.
temente da obrigação de reparar os Parágrafo único. A responsabilidade
danos causados (BRASIL, 1988). das pessoas jurídicas não exclui a
Art. 3º da Lei 9.605/98 - As pessoas das pessoas físicas, autoras, coau-
jurídicas serão responsabilizadas admi- toras ou partícipes do mesmo fato
nistrativa, civil e penalmente conforme (BRASIL, 1988).

DO DECRETO FEDERAL Nº 6514/08

O Decreto Federal nº 6514, de 22 de julho de 2008, dispõe


sobre as infrações e sanções administrativas ao meio am-
biente, estabelece o processo administrativo federal para
apuração destas infrações.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 51


Lei.
Fonte: Succo / Pixabay.

Da Lei Complementar Nº 140/11

A Lei Complementar nº 140, de 8 de dezembro das paisagens naturais no-


de 2011, consagrando o federalismo coopera- táveis, à proteção do meio
tivo, em atendimento ao disposto no parágrafo ambiente, ao combate à
único do art. 23 da CF/88, veio fixar normas, poluição em qualquer de
para ações administrativas decorrentes do suas formas e à preserva-
exercício da competência comum de TODOS OS ção das florestas, da fauna
ENTES DA FEDERAÇÃO relativas à proteção e da flora (BRASIL, 2011).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 52


DOS CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS ● DA LEI COMPLEMENTAR Nº 140/11

Vejamos o artigo 23 da Constituição Federal:

Art. 23. É competência comum da cuária e organizar o abastecimento


União, dos Estados, do Distrito Federal alimentar;
e dos Municípios:
IX - promover programas de construção
I - zelar pela guarda da Constituição, de moradias e a melhoria das condições
das leis e das instituições democráticas habitacionais e de saneamento básico;
e conservar o patrimônio público;
X - combater as causas da pobreza e
II - cuidar da saúde e assistência públi- os fatores de marginalização, promo-
ca, da proteção e garantia das pessoas vendo a integração social dos setores
portadoras de deficiência; desfavorecidos;
III - proteger os documentos, as obras XI - registrar, acompanhar e fiscalizar
e outros bens de valor histórico, ar- as concessões de direitos de pesquisa e
tístico e cultural, os monumentos, as exploração de recursos hídricos e mine-
paisagens naturais notáveis e os sítios rais em seus territórios;
arqueológicos;
XII - estabelecer e implantar política de
IV - impedir a evasão, a destruição e a
educação para a segurança do trânsito.
descaracterização de obras de arte e de
outros bens de valor histórico, artístico Parágrafo único. Lei complementar
ou cultural; fixará normas para a cooperação entre
a União e os Estados, o Distrito Federal
V - proporcionar os meios de acesso à
e os Municípios, tendo em vista o equilí-
cultura, à educação, à ciência, à tecno-
brio do desenvolvimento e do bem-estar
logia, à pesquisa e à inovação;
em âmbito nacional.
VI - proteger o meio ambiente e com-
Parágrafo único. Leis complementares
bater a poluição em qualquer de suas
fixarão normas para a cooperação entre
formas;
a União e os Estados, o Distrito Federal
VII - preservar as florestas, a fauna e a e os Municípios, tendo em vista o equilí-
flora; brio do desenvolvimento e do bem-estar
VIII - fomentar a produção agrope- em âmbito nacional (BRASIL, 1988).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 53


DOS CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS ● DA LEI COMPLEMENTAR Nº 140/11

A Lei Complementar nº 140 era esperada


justamente por ser um tema certamente con-
IMPORTANTE
trovertido e gerador de conflitos no Direito
Ambiental. Uma questão relevante é a com-
petência para o licenciamento/
A LC nº 140 acolheu, em regra, a localiza- autorização ambiental frente a
ção como critério para definição do órgão competência para a atividade de
competente para fiscalização, licenciamento fiscalização ambiental. A ativi-
ambiental e aplicação de multas. dade de fiscalização ambiental
é comum a todos os entes fede-
Dessa forma, o critério que era subjetivo rados, conforme competência
(abrangência do impacto ambiental) passou constitucional prevista no art.
a ser, como regra geral, objetivo (localização 23, VI, da CF.
do empreendimento ou atividade). O au-
mento da segurança jurídica sobre o tema foi
significativo.

Cabe observar uma distinção dentro da com-


petência material entre (1) competência de
licenciar e (2) competência de fiscalizar. A LC
adotou essa sistemática.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 54


DOS CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS ● DA LEI COMPLEMENTAR Nº 140/11

Assim, para evitar a sobreposição de autua- Ou seja, o ente competente é


ções (bis in idem) tem-se a previsão do artigo quem tem a atribuição de lavrar
17, caput, c/c §3º, da Lei Complementar nº o auto, todavia, todos os entes
140/2011: podem fiscalizar. Assim, haven-
do perigo iminente ou atual ao
Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo
meio ambiente, os demais entes
licenciamento ou autorização, conforme o
federados estão autorizados
caso, de um empreendimento ou atividade,
a agir cautelarmente e/ou,
lavrar auto de infração ambiental e instaurar
existindo omissão e inércia do
processo administrativo para a apuração de
ente originalmente atribuído
infrações à legislação ambiental cometidas
da competência para licenciar,
pelo empreendimento ou atividade licenciada
a agir com base no poder de
ou autorizada.
polícia, fiscalizando e tomando
[...] as medidas cabíveis.
§ 3o O disposto no caput deste artigo não
impede o exercício pelos entes federativos
da atribuição comum de fiscalização da
conformidade de empreendimentos e ativi-
dades efetiva ou potencialmente poluidores
ou utilizadores de recursos naturais com a
legislação ambiental em vigor, prevalecendo o
auto de infração ambiental lavrado por órgão
que detenha a atribuição de licenciamento ou
autorização a que se refere o caput (BRASIL,
2011, grifo nosso).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 55


Bandeira de Santa Catarina.
Fonte: FreeImages.

Código Estadual do Meio Ambiente


de Santa Catarina

Em Santa Catarina foi criado pela Lei Estadual nº


14.675/09 o Código Estadual do Meio Ambiente, visando
estabelecer normas à proteção e à melhoria da qualidade
ambiental no seu território, utilizando-se da sua compe-
tência comum de fiscalização ambiental, definiu princípios,
objetivos e diretrizes.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 56


DOS CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS
● CÓDIGO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE DE SANTA CATARINA

DECRETO Nº 1.529, DE 24 DE ABRIL DE 2013


O Decreto nº 1.529/13
Art. 1º O rito do processo administrativo de fiscalização
dispõe sobre o rito do
ambiental do Estado será definido em portaria conjun-
processo administra-
ta a ser elaborada e expedida pelo Batalhão de Polícia
tivo de fiscalização
Militar Ambiental (BPMA) e pela Fundação do Meio
ambiental do Estado
Ambiente (FATMA).
e estabelece outras
providências a partir Art. 2º Fica criada a Comissão de Estudos e Aperfeiçoa-
do art. 1º: mento do Processo Administrativo de Fiscalização Am-
biental do Estado, vinculada à FATMA, com a finalidade
de realizar estudos com vistas à manutenção constante
dos procedimentos afetos ao processo administrativo
de fiscalização ambiental, apresentando propostas ao
Comandante do BPMA e ao Presidente da FATMA.
Art. 3º A Comissão de que trata o art. 2º deste Decreto
será composta por 4 (quatro) integrantes, sendo:
I – 2 (dois) servidores efetivos, lotados ou em exercício
na FATMA; e
II – 2 (dois) policiais militares, integrantes do BPMA.
Parágrafo único. Os membros da Comissão de que trata
este Decreto não receberão qualquer tipo de remunera-
ção por sua atuação, sendo o exercício de suas ativida-
des considerado de relevante interesse público (SANTA
CATARINA, 2013).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 57


DOS CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS
● CÓDIGO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE DE SANTA CATARINA

P O R TA R I A C O N J U N TA I M A / C P M A N º 1 4 3 / 2 0 1 9 E
P O R TA R I A N ° 1 7 0 / 2 0 1 3 / G A B P - FAT M A / B P M A - S C

A Portaria Conjunta IMA/CPMA nº Comando da Polícia Militar Ambiental


143/2019 entrou em vigor em 10 de para regular os procedimentos para apu-
junho de 2019 e revogou a Portaria nº ração de infrações ambientais por condu-
170/2013/GABP-FATMA/BPMA-SC, tas e atividades lesivas ao meio ambiente
criada em 2013. É assinada pela Funda- no âmbito da FATMA e do Batalhão de
ção do Meio Ambiente - FATMA e pelo Polícia Militar Ambiental – BPMA.

Polícia Militar Ambiental em deslocamento.


Fonte: Polícia Militar Ambiental / Instagram.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 58


Infrações Administrativas Ambientais

A Constituição Federal, em seu artigo 225, Deste modo, evidencia-se que uma
§3º, prevê a incidência cumulativa das san- mesma conduta poderá ocasionar
ções administrativas e penais contra os in- a responsabilidade das pessoas
fratores ambientais, independentemente da físicas ou jurídicas, em três esferas
obrigação da reparação dos danos causados, de responsabilidade: administra-
in verbis: tiva, penal e civil. As esferas de
responsabilidade, em regra, são
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambien-
independentes, exceto quando a
te ecologicamente equilibrado, bem de uso
lei define de modo diverso.
comum do povo e essencial à sadia qualida-
de de vida, impondo-se ao Poder Público e à Como já vimos, a proteção do meio
coletividade o dever de defendê-lo e preser- ambiente é de competência comum
vá-lo para as presentes e futuras gerações. a ser exercida pela União, Estados,
[...] Distrito Federal e Municípios, bem
como, de legislar concorrente-
§ 3º As condutas e atividades consideradas
mente sobre florestas, caça, pesca,
lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infra-
fauna, conservação da natureza,
tores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
defesa do solo e dos recursos natu-
penais e administrativas, independente-
rais, proteção do meio ambiente e
mente da obrigação de reparar os danos
causados (BRASIL, 1988). controle da poluição, conforme art.
23, VI, e art. 24, VI, da CF:

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 59


DOS CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS
● CÓDIGO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE DE SANTA CATARINA

Art. 23. É competência comum da Vale destacar que os atos administrati-


União, dos Estados, do Distrito Federal vos gozam dos atributos da presunção
e dos Municípios: de veracidade e legitimidade, cabendo
ao suposto infrator retirar essa presun-
[...] ção relativa, quando da oportunização
VI - proteger o meio ambiente e com- da instrução probatória.
bater a poluição em qualquer de suas
formas; DAS SANÇÕES:
TIPICIDADE E LEGALIDADE
Art. 24. Compete à União, aos Estados
A previsão das infrações administra-
e ao Distrito Federal legislar concor-
tivas tem como fundamento a Lei nº
rentemente sobre:
9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais)
[...] a qual prevê em seu Capítulo VI – Da
VI - florestas, caça, pesca, fauna, con- infração administrativa (arts. 70 a 76),
servação da natureza, defesa do solo sendo que os tipos infracionais restaram
e dos recursos naturais, proteção do regulamentados pelo Decreto Federal
meio ambiente e controle da poluição nº 6.514/08.
(BRASIL, 1988).
Conforme art. 70 da Lei nº 9.605/98:
Frente à legislação acima, tem-se que “Art. 70. Considera-se infração adminis-
cada ente federado poderá atribuir trativa ambiental toda ação ou omissão
suas próprias infrações administrati- que viole as regras jurídicas de uso, gozo,
vas/ambientais por normatização es- promoção, proteção e recuperação do meio
pecífica, com base no poder de polícia ambiente” (BRASIL, 1998), em conjunto
ambiental, respeitado o devido proces- com o caput, do artigo 14 da Lei nº
so administrativo legal para a aplicação 6.938/81 (Lei da Política Nacional do
das sanções. Meio Ambiente).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 60


DOS CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS
● CÓDIGO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE DE SANTA CATARINA

A responsabilização administrativa O art. 72 da Lei nº 9605/98 dispõe sobre


pode alcançar diversos agentes, inclusi- as sanções administrativas:
ve as pessoas jurídicas, conforme arts.
Art. 72. As infrações administrativas
2º e 3º da Lei nº 9.605/98:
são punidas com as seguintes sanções,
Art. 2º Quem, de qualquer forma, con- observado o disposto no art. 6º:
corre para a prática dos crimes previstos I - advertência;
nesta Lei, incide nas penas a estes comi-
II - multa simples;
nadas, na medida da sua culpabilidade,
bem como o diretor, o administrador, o III - multa diária;
membro de conselho e de órgão técnico, IV - apreensão dos animais, produtos
o auditor, o gerente, o preposto ou man- e subprodutos da fauna e flora, instru-
datário de pessoa jurídica, que, sabendo mentos, petrechos, equipamentos ou
da conduta criminosa de outrem, deixar veículos de qualquer natureza utiliza-
de impedir a sua prática, quando podia dos na infração;
agir para evitá-la.
V - destruição ou inutilização do
Art. 3º As pessoas jurídicas serão produto;
responsabilizadas administrativa, civil
VI - suspensão de venda e fabricação
e penalmente conforme o disposto
do produto;
nesta Lei, nos casos em que a infração
seja cometida por decisão de seu VII - embargo de obra ou atividade;
representante legal ou contratual, ou VIII - demolição de obra;
de seu órgão colegiado, no interesse ou
IX - suspensão parcial ou total de
benefício da sua entidade.
atividades;
Parágrafo único. A responsabilidade das
pessoas jurídicas não exclui a das pessoas X – (VETADO)
físicas, autoras, co-autoras ou partícipes XI - restritiva de direitos (BRASIL,
do mesmo fato (BRASIL, 1998). 1998).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 61


DOS CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS
● CÓDIGO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE DE SANTA CATARINA

No Estado de Santa Catarina, ainda Situação que pode causar confusão é a


temos a aplicação concorrente da Lei prevista no art. 72, §3º, da Lei nº 9.605/98,
nº 14.675/09 (Código Estadual do Meio a qual exige o dolo ou culpa (negligência)
Ambiente): para a aplicação da sanção de multa.

Art. 58º. Além das sanções adminis- Art. 72 [...]


trativas previstas em norma federal, § 3º A multa simples será aplicada
as infrações administrativas no Estado sempre que o agente, por negligência
podem ser punidas com: ou dolo:
I – obrigação de promover a recupera- I - advertido por irregularidades que
ção ambiental;(Redação revogada pela tenham sido praticadas, deixar de
Lei 18.350, de 2022); saná-las, no prazo assinalado por ór-
II - suspensão ou cassação da licença gão competente do SISNAMA ou pela
ou autorização ambiental; e Capitania dos Portos, do Ministério da
III - participação em programa de Marinha;
educação ambiental, limitada ao mon- II - opuser embaraço à fiscalização dos
tante da multa cominada. órgãos do SISNAMA ou da Capitania
[...] dos Portos, do Ministério da Marinha
(BRASIL, 1988).
Art. 61º. A multa simples, além dos
casos previstos na legislação federal,
também deve ser aplicada quando
estiverem presentes os pressupostos
da medida preventiva.
[...] (SANTA CATARINA, 2009, grifo
nosso).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 62


DOS CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS
● CÓDIGO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE DE SANTA CATARINA

conduta infrinja a legislação ambiental


e tenha nexo com a ação ou omissão do
IMPORTANTE
agente. Neste sentido, Milaré (2005, p.
Atente-se que as situações expressamen- 73) aborda que:
te ali elencadas são específicas, ou seja,
quando o agente já foi autuado e devida- [...] a responsabilidade administra-
mente processado, ao final sendo a ele tiva ambiental caracteriza-se por
aplicada a penalidade de advertência e constituir um sistema híbrido entre
este deixa de sanar as irregularidades.
a responsabilidade civil objetiva e
a responsabilidade penal subjetiva:
Tem-se que pelo preceito legal, sendo
de um lado, de acordo com a defi-
ao agente imputada a infração prevista
nição de infração administrativa
no art. 80 do Dec. nº 6.514/08, não cabe
no artigo 70 da lei 9.605/1998, a
o benefício da sanção de advertência
responsabilidade administrativa
e sim a aplicação da sanção de multa
obrigatoriamente, podendo esta ser prescinde de culpa; de outro,
cumulada com outra penalidade, exce- porém, ao contrário da esfera civil,
tuando-se a advertência por expressa não dispensa a ilicitude da con-
previsão legal. O mesmo raciocínio deve duta para que seja ela tida como
ser aplicado quando o agente opuser infracional, além de caracterizar-
embaraço à fiscalização dos órgãos do -se pela pessoalidade, decorrente
SISNAMA, art. 78 do Dec. nº 6.514/08. de sua índole repressiva.
Nesta situação, deverá ser aplicada
Desta maneira, para a responsabilização
a sanção de multa obrigatoriamente,
administrativa da pessoa natural ou
podendo ser cumulada com outra pena-
jurídica são necessários a demonstração
lidade, excetuando-se a advertência por
do dano, com a violação às regras jurídi-
expressa previsão legal.
cas de uso, gozo, promoção, proteção e
Assim, nota-se que a regra geral é a res- recuperação do meio ambiente, e o cor-
ponsabilidade administrativa objetiva respondente nexo de causalidade com
com atenuantes, todavia, se exige que a a ação ou omissão do agente, não sendo

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 63


DOS CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS
● CÓDIGO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE DE SANTA CATARINA

necessário avaliar a ocorrência do dolo Todavia, tal entendimento hodierna-


ou culpa (regra geral – responsabilidade mente está passando por uma alteração
objetiva), sempre devendo verificar o de jurisprudência e de entendimento
nexo de causalidade entre a conduta e a do IBAMA, que por meio do PARECER
responsabilidade do causador do dano, n. 00004/2020/GABIN/PFE-IBAMA-
exceto nos casos de força maior, caso -SEDE/PGF/AGU, orientou que o órgão
fortuito ou fato de terceiro. Neste sen- de fiscalização deve seguir a linha do
tido, Rodrigues (2019, p. 08) aborda que, necessidade da caracterização do dolo
e da culpa, conforme ementa: EMENTA:
Desta forma, respeitando as opi- DIREITO AMBIENTAL. INFRAÇÃO
niões doutrinárias contrárias, que AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE
são sérias e fundamentadas, man- ADMINISTRATIVA. RESPONSABILI-
tém-se a afirmação feita de que a DADE SUBJETIVA. NECESSIDADE DE
imposição da responsabilidade ad- DOLO OU CULPA. JURISPRUDÊNCIA
ministrativa ambiental é, regra ge- PACÍFICA, ESTÁVEL, ÍNTEGRA E COE-
ral, objetiva, podendo o legislador RENTE (STJ). REVISÃO DA ORIENTA-
distinguir este regime geral como ÇÃO JURÍDICA NORMATIVA 26/2011/
fez no caso da multa simples. Por- PFE-IBAMA. https://sapiens.agu.gov.br/
tanto, é irrelevante a culpabilidade valida_publico?id=442105811.
do infrator/transgressor (e sendo
suficiente a sua voluntariedade) na
prática do ato que viole as regras
jurídicas de uso, gozo, promoção,
proteção e recuperação do meio
ambiente. https://www.migalhas.
com.br/depeso/302576/o-stj-e-a-
-responsabilidade-administrativa-
-ambiental-subjetiva-notas-para-
-uma-reflexao

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 64


DOS CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS
● CÓDIGO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE DE SANTA CATARINA

DOS TIPOS DE INFRAÇÕES


A D M I N I S T R AT I VA S

Grande parte das infrações adminis-


trativas ambientais estão previstas no
Decreto nº 6.514/08 (BRASIL, 2008) e
encontra-se assim dividida:
• arts. 24 a 42 – Infrações contra a fauna;
• arts. 43 a 60-A – Infrações contra a
flora;
• arts. 61 a 71 – Infrações relativas à
poluição;
• arts 72 a 75 – infrações contra o
ordenamento urbano e o patrimônio
cultural;
• arts. 76 a 83 – Infrações contra a Ad-
ministração Ambiental;
• arts. 84 a 93 – Infrações cometidas
exclusivamente em Unidades de
Conservação.

Várias infrações ambientais corres-


pondem a tipos penais, assim, quando a
conduta for simultaneamente infração
ambiental e crime ambiental, a absolvi-
ção criminal por inexistência do fato ou
autoria terá reflexo na esfera adminis-
trativa, por aplicação analógica do art.
Floresta.
935 do Código Civil (BRASIL, 2002). Fonte: wirestock / Freepik.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 65


DOS CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS
● CÓDIGO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE DE SANTA CATARINA

O U T R A S I N F R A Ç Õ E S A M B I E N TA I S

As diversas legislações ambientais podem prever outras


infrações, assim, temos vários exemplos, conforme segue.

a. Lei nº 9.433/97 (Lei dos Recursos Hídricos):

Art. 49. Constitui infração relacionados com os mesmos em


das normas de utilização de desacordo com as condições estabe-
recursos hídricos superficiais ou lecidas na outorga;
subterrâneos: V - perfurar poços para extração de
I - derivar ou utilizar recursos hídri- água subterrânea ou operá-los sem
cos para qualquer finalidade, sem a a devida autorização;
respectiva outorga de direito de uso; VI - fraudar as medições dos volu-
II - iniciar a implantação ou implan- mes de água utilizados ou declarar
tar empreendimento relacionado valores diferentes dos medidos;
com a derivação ou a utilização VII - infringir normas estabelecidas
de recursos hídricos, superficiais no regulamento desta Lei e nos
ou subterrâneos, que implique regulamentos administrativos,
alterações no regime, quantidade compreendendo instruções e pro-
ou qualidade dos mesmos, sem au- cedimentos fixados pelos órgãos ou
torização dos órgãos ou entidades entidades competentes;
competentes;
VIII - obstar ou dificultar a ação
III - (VETADO) fiscalizadora das autoridades
IV - utilizar-se dos recursos hídri- competentes no exercício de suas
cos ou executar obras ou serviços funções (BRASIL, 1997).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 66


DOS CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS
● CÓDIGO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE DE SANTA CATARINA

b. Lei nº 11.105/05 (Lei de Biossegurança):

Art. 20. Sem prejuízo da aplicação das penas previstas


nesta Lei, os responsáveis pelos danos ao meio ambien-
te e a terceiros responderão, solidariamente, por sua
indenização ou reparação integral, independentemente
da existência de culpa.
Art. 21. Considera-se infração administrativa toda
ação ou omissão que viole as normas previstas nesta Lei
e demais disposições legais pertinentes.
Parágrafo único. As infrações administrativas serão
punidas na forma estabelecida no regulamento desta
Lei, independentemente das medidas cautelares de
apreensão de produtos, suspensão de venda de produ-
to e embargos de atividades, com as seguintes sanções
(BRASIL, 2005).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 67


Infrações Penais Ambientais

Polícia Militar Ambiental atentendo ocorrência.


Fonte: PMSC (2020).

A proteção penal ambiental possui como Penal, bem como na legislação extravagan-
base a Lei nº 9.605/98 (Lei dos Crimes Am- te. Essa lei inaugurou na legislação brasi-
bientais) a qual teve o condão de revogar leira a possibilidade da responsabilidade
quase todos os tipos previstos no Código penal das pessoas jurídicas, in verbis:

Art. 3º As pessoas jurídicas serão Parágrafo único. A responsabilidade


responsabilizadas administrativa, das pessoas jurídicas não exclui a das
civil e penalmente conforme o dis- pessoas físicas, autoras, co-autoras
posto nesta Lei, nos casos em que a ou partícipes do mesmo fato.
infração seja cometida por decisão Art. 4º Poderá ser desconsiderada a
de seu representante legal ou con- pessoa jurídica sempre que sua perso-
tratual, ou de seu órgão colegiado, nalidade for obstáculo ao ressarcimen-
no interesse ou benefício da sua to de prejuízos causados à qualidade
entidade. do meio ambiente (BRASIL, 1998).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 68


DOS CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS ● INFRAÇÕES PENAIS AMBIENTAIS

Conforme a previsão legal, para Outra situação é a figura do “garantidor” cria-


que as pessoas jurídicas possam do pelo art. 2º, parte final, da Lei nº 9.605/98:
ser responsabilizadas por um crime
ambiental será necessário que dois Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre
pressupostos sejam atendidos: 1) para a prática dos crimes previstos nesta
que seja cometida por decisão de Lei, incide nas penas a estes cominadas, na
seu representante legal ou contra- medida da sua culpabilidade, bem como o
tual, ou de seu órgão colegiado; e, diretor, o administrador, o membro de con-
2) que seja cometida no interesse selho e de órgão técnico, o auditor, o ge-
ou benefício da sua entidade. rente, o preposto ou mandatário de pessoa
jurídica, que, sabendo da conduta criminosa
Questão que gera divergência da
de outrem, deixar de impedir a sua prática,
justiça é a tese da necessidade da
quando podia agir para evitá-la (BRASIL,
dupla imputação, ou seja, somen-
1988, grifo nosso).
te pode ocorrer a imputação da
pessoa jurídica se houver imputa-
Deste modo, caso um dos agentes acima cita-
ção de pessoa física juntamente
dos soubesse e tivesse conhecimento do co-
ao fato. Todavia, o Supremo Tribu-
metimento de uma conduta penal ambiental,
nal Federal (STF) não acatou este
mas deixou de agir/impedir a prática quando
entendimento e no julgamento do
podia agir/impedir para evitar o crime, este
RE 548.181, decidiu pela possibi-
responderá pelo crime.
lidade de condenação da pessoa
jurídica por crime ambiental e pela Outra previsão legal, art. 4º da Lei nº
absolvição das pessoas físicas, 9.605/98, é a possibilidade da desconsidera-
inclusive do gestor da empresa. ção da personalidade jurídica.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 69


DOS CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS ● INFRAÇÕES PENAIS AMBIENTAIS

D A C O M P E T Ê N C I A PA R A
JULGAMENTO CRIMINAL

A competência para julgamento dos crimes ambientais, em


regra, pertence à Justiça Estadual, exceto quando o delito
for consumado contra bens, serviços ou interesse da União,
de suas autarquias ou empresas públicas (art. 109, IV, CF).

A apreensão dos produtos e instrumentos dos crimes am-


bientais está prevista no art. 25 da Lei nº 9.605/98:

Art. 25. Verificada a infração, serão em condições adequadas de acondi-


apreendidos seus produtos e instru- cionamento e transporte que garan-
mentos, lavrando-se os respectivos tam o seu bem-estar físico.
autos. § 3º Tratando-se de produtos pe-
§ 1o Os animais serão prioritaria- recíveis ou madeiras, serão estes
mente libertados em seu habitat ou, avaliados e doados a instituições
sendo tal medida inviável ou não re- científicas, hospitalares, penais e
comendável por questões sanitárias, outras com fins beneficentes§ 4° Os
entregues a jardins zoológicos, fun- produtos e subprodutos da fauna
dações ou entidades assemelhadas, não perecíveis serão destruídos ou
para guarda e cuidados sob a respon- doados a instituições científicas, cul-
sabilidade de técnicos habilitados. turais ou educacionais.
§ 2o Até que os animais sejam entre- § 5º Os instrumentos utilizados na
gues às instituições mencionadas no prática da infração serão vendidos,
§1o deste artigo, o órgão autuante garantida a sua descaracterização por
zelará para que eles sejam mantidos meio da reciclagem (BRASIL, 1998).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 70


DOS CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS ● INFRAÇÕES PENAIS AMBIENTAIS

DOS TIPOS DE INFRAÇÕES PENAIS

De modo geral, os delitos A Lei nº 9.605/98 não revogou todos os crimes


penais estão previstos na Lei previstos nas legislações esparsas, assim temos
nº 9.605/98, no Capítulo V, a como exemplo:
partir do:
a. Art. 250 do Código Penal:
• art. 29 a 37 – dos crimes con-
tra a Fauna; Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo
a vida, a integridade física ou o patrimônio
• art. 38 a 53 – dos crimes con-
de outrem:
tra a Flora;
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa
• art. 54 a 61 – da Poluição e
(BRASIL, 1998).
outros Crimes Ambientais;
• art. 62 a 65 – dos crimes con- b. A Lei nº 7.643/87:
tra o ordenamento urbano e
o patrimônio cultural; Art. 1º Fica proibida a pesca, ou qualquer forma
de molestamento intencional, de toda espécie
• art. 66 a 69-A – dos crimes
de cetáceo nas águas jurisdicionais brasileiras.
contra a administração
ambiental. Art. 2º A infração ao disposto nesta lei será
punida com a pena de 2 (dois) a 5 (cinco) anos
de reclusão e multa de 50 (cinqüenta) a 100
(cem) Obrigações do Tesouro Nacional - OTN,
com perda da embarcação em favor da União,
em caso de reincidência (BRASIL, 1997).

Verificada a incidência dos crimes e lembrando


que as condutas infracionais a legislação ambien-
tal possuem tríplice responsabilidade: penal, civil
e administrativa. Passaremos a seguir a tratar da
apuração das infrações administrativas.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 3 71


CAPÍTULO 4

NOÇÕES DO PROCESSO
ADMINISTRATIVO DE
FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL

Fonte: PMSC (2020).


Fonte: PMSC (2020).
NOÇÕES DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DE
FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL

O presente capítulo fundamenta-se talizados mediante o devido processo


na Portaria Conjunta IMA/CPMA nº legal, através do qual serão apuradas
143, de 06 de junho de 2019, (DOE as responsabilidades por infrações am-
n.21033 – 10/06/19), que passou a bientais, com imposição das sanções, a
regular os procedimentos para apu- defesa, o sistema recursal e a execução
ração de infrações administrativas administrativa de multas no âmbito dos
ambientais por condutas e atividades órgãos executores da Política Estadual
lesivas ao meio ambiente, instrumen- do Meio Ambiente.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 4 73


NOÇÕES DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DE FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL

Porém, convém mencionar o


Art. 10. Os Oficiais da Polícia Militar são auto-
art. 10 da Lei complementar nº
ridades policiais militares para o exercício das
454, de 05 de agosto de 2009
missões de Polícia Ostensiva e de Preservação
e a Portaria nº 1.168, de 20 de
da Ordem Pública, na forma do § 5º do art.
dezembro de 2013 da PMSC,
144 da Constituição Federal, incluindo os
que constitui o exercício da
atos de polícia administrativa ostensiva a ela
autoridade de polícia adminis-
inerentes (LC n. 454/2009)
trativa ambiental e do processo
administrativo de fiscalização Art. 1º Constituir o exercício da Autoridade de
ambiental como atividades vol- Polícia Administrativa Ambiental e do Proces-
tadas à preservação da ordem so Administrativo de Fiscalização Ambiental
pública, o qual vejamos: realizado no âmbito do Batalhão de Polícia
Militar Ambiental (BPMA), como atividades
voltadas à preservação da ordem pública,
consistentes na ação estatal de proteção do
meio ambiente.
Parágrafo único. Para os fins estabelecidos
no caput, considera-se autoridade ambiental
competente para instaurar, instruir e julgar o
Processo Administrativo de Fiscalização Am-
biental o oficial que integra o BPMA, em sua
respectiva circunscrição (PMSC, 2013).

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 4 74


NOÇÕES DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DE FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL

Diante disso, para um entendimento geral sobre o Processo


Administrativo Ambiental realizado pela Polícia Militar
Ambiental, destacamos abaixo alguns conceitos trazidos pela
Portaria Conjunta IMA/CPMA nº 143/2019 (BRASIL, 2019):

CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES por Portaria específica do Presidente


PRELIMINARES SEÇÃO I Dos do IMA ou do Comandante do Co-
Conceitos mando de Policiamento Militar Am-
Art. 2º Para fins desta Portaria biental de Santa Catarina– CPMA,
considera-se: autoridades estas que, em razão de
suas competências, restam designa-
I – Agente Fiscal: servidor de carreira
das como Autoridades Ambientais
do Estado lotado nos órgãos executores
Fiscalizadoras primárias;
da Política Estadual do Meio Ambiente,
devidamente qualificado e capacitado, III – Conversão de multa: procedi-
assim reconhecido por meio de Por- mento especial de quitação da multa
tarias do Presidente do IMA e/ou do que visa, nos termos de regulamen-
Comandante do CPMA, detentor do tação específica, converter o valor
poder de polícia, responsável por lavrar pecuniário correspondente através
o Auto de Infração Ambiental e tomar de Termo de Compromisso;
as medidas preventivas que visem ces- IV – Decisão de primeira instância:
sar o dano ambiental; o ato de julgamento, proferido pela
II – Autoridade Ambiental Fiscaliza- Autoridade Ambiental Fiscalizadora
dora: servidor ou empregado público de primeira instância, passível de
investido em função pública, com recurso pelo (autuado) interessado;
poderes para, depois de transcorrido V – Decisão de Recurso Administrati-
o prazo para Alegações Finais, julgar vo: decisão prolatada pelo órgão hie-
o processo administrativo infracio- rárquico superior do SEMA – Sistema
nal ambiental, devendo ser nomeado Estadual do Meio Ambiente;

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 4 75


NOÇÕES DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DE FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL

VI – Decisão Administrativa de Pena- Estadual de Meio Ambiente: Instituto


lidade: decisão proferida pelas Auto- do Meio Ambiente de Santa Catarina
ridades Ambientais Fiscalizadoras, – IMA e Comando de Policiamento
quando do julgamento do Processo Militar Ambiental – CPMA;
Administrativo Ambiental;
XII – Processo Administrativo Am-
VII – Multa indicada: estabelecida biental: Procedimento originado
pelo agente autuante no Auto de In- pelos órgãos executores da Política
fração Ambiental, por ocasião de sua Estadual de Meio Ambiente que tem
lavratura, que dá início ao processo origem com a lavratura do Auto de
administrativo sancionatório; Infração Ambiental.
VIII – Multa consolidada: aquela que XIII – Reincidência: cometimento
resulta da decisão no julgamento de de nova infração ambiental pelo
defesa ou recurso, consideradas as mesmo infrator, no período de cinco
circunstâncias agravantes, atenuan- anos, contados da lavratura de Auto
tes, bem como a majoração e mino- de Infração Ambiental anterior
ração incidentes nos termos desta
devidamente confirmado em decisão
Portaria, além dos acréscimos legais;
transitada e julgada;
IX – Multa simples aberta: sanção
XIV – Suspensão da Exigibilidade
pecuniária prevista em ato normativo
da Multa: procedimento especial de
estabelecida objetivamente por tabe-
suspensão da cobrança com possibi-
la de valoração, dentro de um inter-
lidade de redução do valor da multa
valo entre um mínimo e um máximo
que visa, nos termos de regulamenta-
legal, sem indicação de um valor fixo;
ção específica, ofertar ao infrator, ou
X – Multa simples fechada: sanção a requerimento deste, por termo de
pecuniária prevista em ato normativo compromisso, obrigar-se à adoção de
com valor certo e determinado; medidas específicas para fazer cessar
XI – Órgãos Executores da Política ou corrigir a degradação ambiental;

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 4 76


NOÇÕES DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DE FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL

XV – Termo de Compromisso: cons- poluidora e seus efeitos negativos


titui título executivo extrajudicial, sobre o meio ambiente, observados
sendo o instrumento legal próprio, os prazos e metas acordados;
firmado, individual ou coletivamen- XVI – Trânsito em julgado adminis-
te, entre o infrator ambiental e a trativo: momento processual admi-
autoridade ambiental competente, nistrativo no qual a decisão torna-se
visando à execução de medidas com definitiva, não havendo possibilidade
condicionantes técnicas específicas de modificação, em virtude do exau-
de modo a cessar, adaptar, recompor, rimento do prazo para interposição
compensar ou corrigir a atividade de recurso ou da Decisão de Recurso
degradadora ou potencialmente Administrativo.

Com relação às infrações e sanções O Processo Administrativo de Fiscaliza-


administrativas, considera-se infração ção Ambiental (PAFA) deve ser aplicado
administrativa ambiental, toda ação levando em consideração as atualizações
ou omissão que viole as regras jurídi- legais do Código Estadual do Meio Am-
cas de uso, gozo, promoção, proteção biente e deve sempre se pautar pela le-
e recuperação do meio ambiente, com galidade, ampla defesa e o contraditório.
base na Lei Federal nº 9.605, de 12
de fevereiro de 1998, regulamentada Atualmente, o PAFA está em estudos
pelo Decreto nº 6.514, de 22 de julho para se tornar 100% eletrônico, seguin-
de 2008 e Lei Estadual nº 14.675, de do a linha da PMSC de reduzir a emissão
13 de abril de 2009, sem prejuízo de e o consumo de carbono, bem como,
outras infrações tipificadas na legisla- dando maior agilidade e eficiência ao
ção vigente. atendimento das demandas.

Atividade de Polícia Ambiental • Capítulo 4 77


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste Caderno procedeu- deve estar baseada em ações


-se à análise da atuação da preventivas e administrativas.
Polícia Militar Ambiental ao Fundamentou-se na legislação
agir dentro da sua esfera de que trata da competência da
competência na proteção do Polícia Militar para agir na
meio ambiente, frente ao aten- proteção do meio ambiente,
dimento das ocorrências. Para demonstrando que a Polícia
tanto, buscou-se utilizar da Militar Ambiental é órgão
bibliografia a respeito do tema, competente para agir preven-
delineando os aspectos legais e
tivamente e repressivamente,
doutrinários e a legislação que
devendo tomar as medidas e
tutela a proteção ambiental.
providências legais para impe-
Assim, buscou-se capacitar o dir, cessar os danos ambientais
aluno a respeito da atuação da e responsabilizar administrati-
Polícia Militar Ambiental que vamente os infratores.

78
REFERÊNCIAS
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988. [1988].
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-
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22 maio 2022.

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Atos Internacionais. Pacto Internacional sobre
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Promul-
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to.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.
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BRASIL. Emenda Constitucional n.1 de 17 de


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tuição Federal de 24 de janeiro de 1967. [1969].
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vil_03/constituicao/emendas/emc_anterior1988/
emc01-69.htm. Acesso em: 22 maio 2022.

BRASIL. Lei complementar nº 140, de 08 de


dezembro de 2011. Fixa normas, nos termos dos
incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do
art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação
entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios nas ações administrativas decorrentes
do exercício da competência comum relativas à
proteção das paisagens naturais notáveis, à pro-
teção do meio ambiente, ao combate à poluição
em qualquer de suas formas e à preservação das
florestas, da fauna e da flora; e altera a Lei no
6.938, de 31 de agosto de 1981. [2011]. Disponí-
vel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
lcp/lcp140.htm. Acesso em: 20 maio 2022.

BRASIL. Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005.


Regulamenta os incisos II, IV e V do § 1º do art.
225 da Constituição Federal, estabelece normas
de segurança e mecanismos de fiscalização de
atividades que envolvam organismos genetica-
mente modificados – OGM e seus derivados,
cria o Conselho Nacional de Biossegurança –
CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional
de Biossegurança – CTNBio, dispõe sobre a
Política Nacional de Biossegurança – PNB, re-
voga a Lei nº 8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a
Medida Provisória nº 2.191-9, de 23 de agosto
de 2001, e os arts. 5º , 6º , 7º , 8º , 9º , 10 e 16 da
Lei nº 10.814, de 15 de dezembro de 2003, e
dá outras providências. [2005]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2005/Lei/L11105.htm#:~:text=Fica%20
criado%2C%20no%20%C3%A2mbito%20
do,envolvam%20OGM%20e%20seus%20deri-
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BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012.
Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa;
altera as Leis nºs 6.938, de 31 de agosto de 1981,
9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428,
de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nºs
4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de
14 de abril de 1989, e a Medida Provisória nº
2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras
providências. [2012]. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/
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BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981.


Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Am-
biente, seus fins e mecanismos de formulação e
aplicação, e dá outras providências. [1981]. Dis-
ponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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BRASIL. Lei nº 7.643, de 18 de dezembro de 1987.


Proíbe a pesca de cetáceo nas águas jurisdicionais
brasileiras, e dá outras providências. [1987]. Dis-
ponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/l7643.htm. Acesso em: 20 maio 2022.

BRASIL. Lei nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997.


Institui a Política Nacional de Recursos Hídri-
cos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX
do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art.
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