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O texto de Laura Bohannan, “Shakespeare na selva”, relata a história de uma antropóloga,

a própria Laura, que viaja até uma localidade no ocidente africano para estudar o grupo nativo
da região, os Tiv. Logo nos dois primeiros parágrafos de seu texto, podemos observar certos
comentários peculiares de seu amigo inglês, que seriam de que os americanos apresentam certa
dificuldade para entender Shakespeare devido a “incompreensão do particular”. Contudo, a
personagem discorda, afirmando que os humanos se comportavam da mesma maneira, em
qualquer lugar do mundo.
Em seguida, seu amigo oferece-lhe uma cópia de Hamlet que carregava consigo, seguido
de outro comentário a ser destacado, de que a terra na qual estavam era primitiva, expressando
claramente seu pensamento etnocêntrico europeu, no qual trata-se da ideia de que os padrões
culturais da europa são superiores ao dos demais povos. E, na minha opinião, preconceituoso.
Tal pensamento se justifica quando observamos o passado, no contexto da grande dominação
europeia nas sociedades das Américas, da África e da Ásia.
Ademais, vale ressaltar ainda um conceito chamado “darwinismo social”, termo
popularizado em 1944, teoria, entre algumas outras, que legitimou o discurso ideológico
europeu para dominar outros continentes, a modo de que serviu como discurso motivador para
justificar suas ações violentas e subjulgar os povos de características diferentes. Essa teoria
compactuava com a ideia de que a teoria da evolução das espécies, de Charles Darwin, poderia
ser aplicada à sociedade: o uso dos conceitos de luta pela existência e sobrevivência dos mais
aptos, para justificar políticas que não fazem distinção entre aqueles capazes de se sustentar e
os incapazes, motivando ideias como racismo, imperialismo, fascismo, nazismo, entre muitas
outras crenças preconceituosas e capacitistas.
Nesse contexto, é evidente que há diversas diferenças no modo de vida dos Tiv e dos
ingleses, além da forma como enxergavam a realidade na qual estavam inseridos. Contudo, é
equivocado pensar que uma cultura é atrasada ou retrógrada por possuírem costumes próprios.
Tais hábitos são o que constituem a identidade cultural de um indivíduo, de um país, de uma
nação. Além disso, é possível observar também a mesma atitude etnocêntrica posteriormente,
mas, surpreendentemente, por parte dos Tiv dessa vez.

Enquanto Laura contava Hamlet para a tribo, afim de provar que Shakespeare poderia ser
facilmente interpretado por qualquer cultura, pondo em prática sua teoria. Essa tribo possuía o
costume de sentar juntos ao redor da fogueira para contar histórias. Laura é interrompida
diversas vezes pelos ouvintes, enquanto corrigiam suas falas utilizando de suas crenças
culturais como critérios avaliativos do que seria aceitável ou não na história. No fim, a autora
afirma que nem ela mesma conseguia reconhecer a história que estava contando, devido as
alterações que tivera de fazer para que os Tiv a compreendessem.

Em suma, é interessante pensar sobre esse texto, analisando o relativismo e o etnocentrismo


entre os pontos de vista de culturas extremamente diferentes como os Tiv e os ingleses e
americanos. Assim, a ideia geral do texto de Laura Bohannan é a de que não há dificuldade por
parte de outros povos para entender Shakespeare, como seu amigo inglês disse. Na verdade, o
que há são inúmeras interpretações, por conta das especificidades de cada nação, para uma
única obra, e não uma questão de capacidade de compreensão mais ou menos desenvolvido.
Diferentes visões, devido as distintas realidades, que geram conclusões mais distintas ainda
umas das outras.

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