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A IMPRESSAO DESTE NUMERO FOI PATROCINADS PELO GRUPO EMPRESARIAL ENGEPAB/AGOS PAVLNA REVISTA PATRIMONIO Nv 22/1987 Cras ¢ elaborado no quacka do cingiientendrio, sranscorrida em 1987: da criagde du Serviga, hoje Secretaria do Patriménia Histérico © Antsticy Nacional, este mimero da Revista do Patriménia abre suas paginas para o debate acerea do papel e do desempento do drgia ederal de preservacio do patrinénio cultural do pats. 01 objetivy € possbilitar. através da pluralidade de enfoyues opiniges, una avaliayao do que foi feito an longo de meio século e, também, a formulagéo de proposigées prospectivas de rumos. Julgou-se pertinente fazer preceder 0 debate sobre reservagio de um outra que esté permanentemente na ordem do dia: a relagdo entre Estado e Cultura, tema sugestivo ¢ earregado de nuances, sobre 0 quel discorem alguns nomes expressivos ds intelevtusidaae brasileira miltamte dia dea das ciéncias humanas. 0 debate acerca da preservacia aglutina especiatistas © téeniens de diversos setores da SPLIAN(Pré-Meméria ¢ de instituigoes congéneres dos estados ¢ municipios, assim ‘corny estudiosos que enfocam essa temitica no nivel da especuligio todric Este ndmnero contém, assim, no pk da problemiitica geral de preservacdo, artis e ensaios voltados para & investigagia de conceitys ¢ metodologias A pratica institucional, por cm ver, suscita unt conjunto de questdes que. distribuidas em varios tipicas, vac da ddiseussao do insttuto legal do tumbamente 8 agao preservadora desenvolvida pela SPHAN/Prd-Memoria, coma a conservagao evon restauragio do palriminio edificaclo (inbvels tombados igoladamente, auicleos, urbanos ¢ centros histdricas protegidos, tratamento dos centornus dos bens tomhados) ¢ dus bens méveis inscritos ros Livres do Tombo, passanita pela fungo dos wentarios na preservagio, pela abordagem de questnes ‘clacionadas com 0 parriménio aaturs), ¢ patrimonio arqucoldgico, os acervas musenis, of acervos bibliograficas e arquivisticos, ¢ os temas inerentes & inserga do tabalho de preservasao na dinimica séciv-eultural SUMARIO REVISTA PATRIMONIO Histérico e Artistico Nacional N° 22/1987 [A Revista do Patrimsnio Histirico € Artistico Nacional ¢ uma publicagio da Secretaria do Patriminio Historica © Antistico Nacional do Minis eat pola Asse Social da Fundagao Nacional Pro- Mem oda Cul de Comunicagin Secretirio do Patrimonio Histrico ¢ Artitico Nacional!Presidente da Fundacaio Nacional Pris Memiria: Oswaldo José de Capos Mello, Assessora de Comunicacdo So ‘one Felman da Cunha Régo Redagdo: José Laurenio de Melo (editor) Julio Bandeira ¢ Luiz Fernando P.N Franco (editores assistentes) ¢ Regina Clara Simoes Lopes (secretiria executiva) Projet grafico: Victor Burton, Arte: Elayne Fonseca Fernandes, Revisio: José Bernardino Cotta de Ma Mota hes Vieira e Sylvio Clemente da Fotografia: Eduardo Melo, Addministracioe Mati Sérg Ventura. Colaboragdes: Jose Américo Motta Pessina (coordenador do Nicleo de Editoragao da Fundacio Nacion Pro: Memsiria), Denise Taveica do Couto fa do Niicleo de Eaitoragao), Cristina Barbosa (paginagio), Margareth Moe (aguarelas), Malena Barretto (desenhos) Composicio: Lid Ferreira inior Artes Gratis ¢ Eitora Ltda Arte-fnal: Mierocompo Sistema de Fotocomposicio Lida Fotolios: Esto Grifico Reprocolor Lida Impressio: Imprinta Redacdio, administracio e correspondéncia, Av. Rio Branco, 46, 4: andar. Rio de Janeiro, RJ. CEP 20.090; Tel.: 233-7663. 0s artigos publicados na Revista do Patriménio so autorais, nv reletindo posigio da SPHAN ou da al Prt Memoria #0 Naci ESTADO E CULTURA Concepsdo oficial de cultura e proceso cultural Gabriel Cohn 7 0 Estado e os problemas da politica ‘cultural no Brasil de hoje Leandro Kondler " 0 Estado ea cultura Luiz Costa Lima 18 Da histéria como memoria da nado @ historia enquanto critica da meméria nacional Guilherme Pereira das Neves 22 A propésito de politica cultural Regina Clara Simoes Lo 26 Cultura popular Octavio Tani 30 Lei Sarney: desafio a competéncia Maria Ignez Mantovani Franco 33 SPHAN: resumo cronoligico M Pronunciamento do Ministto Celso Furtado a5 PROBLEMATICA GERAL Restaura-se 0 Patriménio Angelo Oswaldo de Araijo Santos 37 Patriménio interior ptonio Candide 40 0 Paco ou 0 pore: ‘uma visdo possivel do cingiientendrio Olympio Serra R SPHAN: refrigério da cultura oficial Sergio Miceli 4 Documentos historicos, documentos de cultura Antonio Augusto Arantes 4 Cultura na veia, saudade em lata (por ‘wma critica da economia do espirito) Luiz Fernando P.N. Franco, 56 TOMBAMENTO ‘Mesa-redonda: Tombamento Dina Lemer, Dora Alcantara, Liicia Helena de Oliveira Fontes, Maria das Gracas Spencer Coelho © Sdnia Rabelo oo Algumas divagagées sobre 0 conceito de tombamento Roberto Marinho de Azevedo 80 Por um inventério do patriménio cultural brasileiro Paulo Ormindo de Azevedo 82 Inventdrio nacional dos bens iméveis tombados: instrumento para ‘uma protecio eficaz Maria Tarcila Guedes 86 PATRIMONIO EDIFICADO. Mesa-redonda: Patriménio edificado 1 conservacdo/restauragao AntOnio Pedro Aledntara, Augusto Silva Telles, Carlos Alberto Reis Campos, Lia Motta e Rodrigo Andrade 90 Carta de Veneza: carta internacional sobre conservacdo e restauracio de ‘monumentos ¢ sitios 106 A SPHAN em Ouro Preto: uma historia de conceitos e eritérios Motta 108 Mesa-redonda: Patrimanio edificado sitios historicos/nicleos urbanosientorno Augusto Ivan de Freitas Pinheiro, Carlos Nelson Ferreira dos Santos, Fernanda Colagrossi, Jurema Kopke Eis Amaut, Luiz Fernando Franco © Vera Bosi 1 Participacdo e pesquisa na preservacdo do patriménio cultural Vera Bosi 138 BENS MOVEIS A defesa do patrim6nio cultural mével Lygia Martins Costa 145 Restauracao de bens moveis e integrados: 40 anos Orlando Ramos Filho 154 Teatro da memoria Maria de Lourdes Parteiras Horta 158 Patriménio bibliogrifico e a problemitica das bibliotecas nacionais Jannice Monte-Mér 163 Mesa-redonda: Acervos arquivisticos dilson Antunes, Jaelson Bitran Trindade, José Maria Jardim e René Armand Dreifuss 7 Protecdo do patrimonio documenul: ‘ucla ou cooperagio? Sydney Sérgio Fernandes Solis e Vivien Ishaq 186 0 desafio da indexasio nos arquivos ermanentes textuais Helena Dodd Ferre7, Jerusa Gongalves de Araijo e Rosely Curi Rondinelli 191 PATRIMONIO ARQUEOLOGICO Mesa-redonda: Patriménio arqueologico Maria da Conceigio de M.C. Belirio, Maria Elisa Sold, Paulo Jungueira, Regina Coeli Pinheiro da Silva e Ulpiano T. Bezerra de Meneses 193 7 Para uma politica arqueolégica da SPHAN Ulpiano T. Bezerra de Meneses 206 Sobre a preservagdo dos sitios ‘arqueoligicos brasileiros Regina Cocli Pinheiro da Silva 2/0 Fazer arqueologia: resgatar memérias Edna June Morley 2 Conservacdo arqueolégica ‘Wanda Martins Lorédo 2s PATRIMONIO NATURAL Mesa-redonda: Patriménio natural Aziz Ab’Saber, Ibsen Cimara, José Lutzenberger, José Tabacow e William Rodrigues 217 A natureza no patriménio cultural do Brasil Carlos Alberto Ribeiro de Xavier 233 Ambiente e culturas cequilibrio e rupuura no espago geogréfico ora chamado Brasil Aziz Ab’ 236 | Estado e Cultura RLU LEE IT, WREE ayeagttininn ily a. apeebayiits ml Ebspst Rip secebnae ayn i i Bs 4 iy ; see angen k FEE aii eT wh Uhl’ 0 UU 0 a eh UT EU RH FR Th eer ome i Wh ae 0 -amn Ne 22/1987 REVISTA DO PATRIMONIO HISTORICO E ARTISTICO NACIONAL. GaBRiEL COHN CONCEPCAO OFICIAL DE CULTURA E PROCESSO CULTURAL expressdo "‘concepydo oficial de cultura” serd aqui usada de mo- do deseritive, mas. conforme se buscaré explictar nas consideragies fi- nais, também mum registro critica. Do onto de vista descritevo 0 termo refere- s€ a uma concepgio de cultura de catéter Lunitétio ¢ plobalizador, orientada pora a telorincina sociedade nacional, comres- paldo institucional em érgdos do Estado € inspiradora de poiticas culeuras espe- cfficas. O periode de referéncia para as presentes considcragdes Ca década 1975- 1985, © mais ligeiro exame do modo como se exprimeor nas iastancias oficias a na- tureza e 05 problemas de cultura ne Brae sil nesse perfodo revela a persisténcia de sortos temas ¢ formulagoes basicas, a despeito das mudancas poiticas avori- «das. Um segundo exame evidencia rede finigoes desses mesmos termos. que ner- mitem reconstruir uma trajetGria digo de nota, A tendéncia mais geral nas redefini ses da convepyaio oficial de cultura no perfodo pode ser formulado desde ogo ‘os seguintes termos: parte-se, ern mea- tos da Udcada de 70 (nas yestoes Jarbas Pessarinhoe Ney Brapano MEC)de uma oncepsio de cultura como “somatsria das etiagdes do homem’, vale dizer. ‘como heranca e patriménio, para acres ccentar que essa somatéria 86 dé no pro ccessu de criagau do proprio homem, com ‘© que se introxiuz umm componente “hu ‘manista”” ainda abstrato, que constitu tum dos lemmas bisices a setem reelabora- dos ao longo do. periodo. Ji no final da ddécada de 70 (na gestio Eduardo Portlla no MEC) a énase recaird sobre a cultura ‘camo modo de ser, como vivéncia de de- terminadas parcelas da sociedade. Mais recentemente (jf na vigéncia do Minis \ério Ua Cultura, na gestio Alutsio Pi- smenta)passa-se a vé-la em seu papel Ue resistencia & domtinagio hegeménica. nalinente, ma clapa mui ecente (nu for rmulogdes de Celso Furtado) realgiese sua condicéo de fonte de criatividade Pereorrem-se, assim, quatro estégios fundamentais: © primeieo, marcady por uma concepsie humunista absirara da caltura, relativa & criagio da homem er eral € da capresso disso no contexto ‘nacional brasileiro: 6 sceundo, marcado Por uma concepgso existenctal. relativa ao modu Ue ser, & vivncia de segmentos especificos da populagdo; 0 tescvirs, em ue se enfatiza a dimensio politica do provesso cultural, mo Abita da dive dade das formas de visa social, conc bendo-a no seu potencial de resistencia © eonfito;¢ © quarto. que a caneehe come potenctal de criatividade simbélica dos ‘ariados sepmentos da popalagic FFssas eoncepydes gerais, ainda abs- tratas quando expressas de mancira 0 suméria, sdo entretanto inseparavets de Propestas mals espectficas relativas aos Portadores efetivos do processo cultural, até porque $6 ganham sentido na for” mulago de diretvizes priticas pelus ins taneias olicias, vale dizer. em politcas ‘culturais, F agin manifesta-se uma cons- tante em todas as comeepedics:@ seu in peto “antieltista”™, que conduz ® prev pagio com 2 "democratizagio daeul- ura", presente em todos os documentos relevantes, independentemente dos con- textos palticos da sua formalacso, A ferenga basica neste ponto consiste no sentido que se atribut a essa democratiza- cle, Se em meados da decada de 70 se ftarava de promover a inlegragdo nacio- nal pela difusio de oma prodtucao cul- tural vista como unitéria entre uma po- ‘pulagdo que deveris ser colocada a altura de recebé-la mediante a educagio, mais dianke u prevcupagao maior seré com a diversidade das formas e experiéneias cullerus numa Sociedade marcadamente cada ¢ excludente. Issa fice ni tido nas propostas da gestdo Portelia, quando $2 enfatizana a necessidade de Invertes-e o eaminbo até entdo percorri- 0, da oferta 3 partir do centro para a periferia, ¢ ganha sua espressao mais acabada no programa ce trabalho do ges- to Aluisio Pimenta ao recém-cralo Mie ristério da Cultura, no qual 0 estimulo a

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