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Colecao Pensamento Criminolégico Georg Rusche e Otto Kirchheimer Punigdo e estrutura social 2 Edigto ‘Traducdo, revisdo técnica e nota introdutéria Gizlene Neder Editora Revan 2004 observa que a [dade Média pouco conhecia das idéias que traduzem. ido hesitante de justiga: diividas sobre a respon- noso, a convieeio de que a sociedade € até certo desculpam sua severidade considerando que medidas dist necessirias até o fim da Idade Média para o combate a uma criminalidade insurgente. As antoridades, argumentam, foram obrigadas a conter 0 {ria da punigao é uma grande extensiio da hist6ria da irracionalidade e crueldade humana®, imeira ordem de observagdes, tem-se apontado que minal alcanga relativamente pouco sucesso. Ela xd0s e os queimados de suas casas e da sociedade de gente honesta e os joga na rua. A prépria lei ajudou a is de criminosos em pot 9s pequenos desvios que se to éinadequado. A pi ia 4 crueldade primit a de uma época, agora ‘mesma é um fendmeno social que apenas pode ais dominantes num dado sbewegung. Zur Zeitscrift fiir Anthropologie des birgu Sozialfors Ti ‘Mercantilismo e surgimento da prisio 1. O mercado de trabalho eo Estado Os métodos de punigdo comegaram a sofrer uma mudanga gradual e profunda em fins do século XVI. A possibilidade de ex- plorar o trabalho de prisioneiros passou a receber crescentemente iniais atengio, com a adogao da escravidio nas galés, dep« servidio penal através de trabalhos forgados; as duas primeiras por um certo tempo, a terceira como precursora hesitante de uma igo que tem permanccido até 0 presente. Algumas vezes snte com o sistema tradicional de fi- tenderam a subst de consideragées hut mas de um certo desenvolvimento econdmico que revelava o valor potencial de uma massa de material humano completamente & dis- posigao das autoridades! . ‘O surgimento de grandes e présperos setores urbanos eriou uma demanda crescente por certos bens de consumo. A estabilidade da ‘demanda e 0 crescimento do sistema financeiro levaram a uma cons- tante extensiio dos mercados; a possibilidade de 0 empresério colocar seus produtos tornou:se quase desprezivel. Mercadores de paises que foram pouco afetados pelos novos tesouros em metais preciosos pu- deram vender em grande monta para aqueles que foram mais forte~ mente afetados, Paises que estabeleceram relagdes de comércio com oLevantee a cextraordinatiamé "A melhor discusstio sobre as quesides do trabalho sob 0 mercantilismo se em B, F, Heckscher, Me 1d. M, Shapiro (Londres, 145-72. 43 Alemanha. Como resultado da Guerra dos Trinta Anos, a populagdo caiu em meados do século XVII a uma taxa apenas ‘compardvel a certas quedas locais durante a peste negra. Umaestimativa de queda de 18 para 7 milhes, segundo alguns autores*, pode ser exage- rada, Entretanto, mesmo as estimativas mais moderadas impressionam, ‘nama-Stemnegg calcula 17,64 milhdes em 1475, 20,95 entre 1600-1620 € 13,29 em meados do século XVI, Somente na segunda metade do século XVIL ocorte um crescimento lento, e em muitos casos foi neces- rio um século ou mais para refazer a perda. No perfodo anterior & Guerra dos Trinta Anos os ordenadlos cafram enquanto a popula cres- (620¢ 1670, aumentaram. Como Elsas formuk DelaCourt, amigo de Spinosa, pintou um quadro vivo da Holanda, ‘onde uma tal escassez de forea de trabalho estrangeira obrigava os pro- prietrios a pagar salitios tio altos que seu nivel de vida acabava por ser inferior ao de seus prdprios trabalhadores, Ble descreve situagio similar nas cidades, onde os aprendizes e servos eram menos déceis e mais bem. pagos do que em qualquer outro pais”. Queixas semelhantes podem ser m frage zu Beginn des modernen Kapi 1927), Geschichte vom westfilisch nt coragems nas condigdes ue a0 populacho favoreido fsse cobrado Um tibuto ddoméstico, apesar de estar ciente dos perigos inerentes a tal medida, ¢ mostra ‘como as autoridades de uma certa cidade foram forgadas a impor um tributo muito pequeno aos servigais, que, por sua vez, associaram-se e em conjunto cconfortével mas mastrava tondéncia de melhora. A situago na Franga era em. alguma medida diferente, pois a interven estatal em favor dos empregadores estiticana Frangae na Inglaterra, e mais ainda na Alemanha, dividida que ‘em outras, sem qualquer interagdo, Nesse ponto temos um contraste com a situagdo de nossa sociedade atual, na qual iz, Hauser, 08 mercados tendem a atuar como vasos comunicantes, tans com os outros", Sob o Ancien Régime, tanto a auséncia de estra- das quanto a legislagao proibi tendéncia de os pregos icagdio'". O fato de uma pobreza local generalizada poder coin- cidir com escassez de forga de trabalho devia-se em parte a existéncia de leis relativas a pobreza, que forgava os pobres a retornarem cidades e vilas mesmo quando njo havia a menor possibilidade de "" H. Hauser, Preficio de seu Recherches et documents sur l'histoire des prix en France de 1500 & 1800 (Paris, 1936), p. 67. "ate pono éabordado por W, Somb edigio, Munique, 1917), I, 2, ibricas efervescentes pode encher- de mendigos nessas circunstincias; tenho © 56 posso pensar sobre os resultado: sreado de bens foi fechado, devido a guerras ou causas, a multidio de pedintes clamando por pio nas ruas fica to grande que ndo se sabe como fazer para escapar deles”. 45 das condigdes locais, fome, guerras e peste també se automaticamente a mao-de-obra recentement seus lares de origem, A falta de constancia no fornecimento de mao-de-obra e a baixa am obter forga de trabalho. ‘mento de altos saldrios e gerantindo condigdes de trabalho favord ‘Se considerarmos as condigdes diametralmente opostas do século an- terior, podemos entender o que esta mudanga representou para as classes roprietarias. O infcio do desaparecimento da reserva de mijo-de-obra os dos meios de produ- radicaisem era necessaria ‘so dos salérios e a prod ‘As classes dominantes usaram todos os meios para superar as condigdes do mercado de trabalho. I Fgorons resting . uma aberragio paradoxal ¢ absurda eist da época, superada pela evolu subseqiiente dos acon- tecimentos'?, Este ponto de vista falha em desconsiderar a importin- "E, Lipson, Economie History of England (Londres, 19: aponta 0 mesmo para a Inglaterra. A mesma situagio € desc ranga por L. Lallemand, Histoire de la chart 1, Temps modemnes aris, 1910) 1,p.177. Ver a discussiio sobre esta questo em Bielschowsky, op. a” 3. cia hist6rica dessas medidas como uma grave problema da falta de forga de trab pria existéncia da ordem social. todas essas medidas foi a relacionada bs ten- tativas de estimulo & taxa de natalidade, Muitos autores a condenaram como um sinal de estupidez, falta de visio © mesmo degenerescéncia ‘moral. Para 0s contempordneos, entretanto, nada parecia mais Sbvio. ‘Visava amenizar a falta de trabalhadores através da promocdo de uma taxa de nascimentos. A teoria, muito difundida durante 0 século ra de que a populagio da I tratégia para resolver 0 que ameagava a pré- guorras, emigragéo, impostos excessivos, aumento dos pregos dos alimentos ¢ 0 cercamento dos campos". (Os economistas da época davam muita importincia a luta con- tra essa calamidade: Stissmilch, por exemplo, dizia que a fel de, a seguranga e a satide de um pats dependiam da, tes de um gover ado; essa fun todos os habitantes tinham meios de subsisténcia; enfim, fazer tudo que estivesse em seu poder para combater a pobreza, de forma a estimular 0 casamento de todos os que desejassem se casar, e que todos os casais tivessem muitos filhos'S. O clero deveria estar pre- parado para invocar argumentos rel ™ Ver Paul Mantoux, The Eighteenth Contury, rad, Marjorie Vernon (Londres, 1929), p. 350. *SSissmilch, op. cit, I, p. 407. Os mesmos sentimentos foram expressos por I. 1. G. von lust, Die Grundfesten zu der Macht und Gltckseligkeit der Staaten (Konigsberg, 1760), I, p. 175; ¢ Gesammelle politsche und Finaneschriften 48 nasciment milch desafiava qualquer tedlogo a protestar con- tra sua tentativa de mostrar que nenhum homem poderia governar com sabedoria se na inte mandamento do Criador ra, diz Pribram, os S do May Day, com todo seu d a conseqlléncia era o crescimento da populacio. Mesmo que as perdessem suas virtudes, 0 rei ganhava novos stiditos ~ » Soldados, Nessas ocasides, ele préprio, provavel- no crescimento da populagao, de forma a fazer jus Pela mesma razao, continua Pribr leitura do Book of Sports era um bom exemplo da pol demognifica absolutista, que apelava aos mais baixos instintos das ‘massas para o interesse onipresente do Estado!”, Na Franca, Colbert para casamentos precoces ¢ fa ivo para os alemiies. As conse- ‘da Guerra dos Trinta Anos e as dimensbes pequenas do territério, em comparagdo a sua demanda, exigiam que o poder adotasse uma ampla e efet forma que o mercan- mo na Alemanha tem sido presentemente chamado de popula- ista!®, Em 1746, 0 clero prussiano foi proibido de punir as mies solteiras. O objetivo dessa medida era reduir o némero de infanticiios. und des Kameralund Finanzwesens (Kopenhagen, 1761), 1, p. 199. Sonnenfels recomendou que qualquer mle deveria ser presenteada com dez Reichstaler a0 deixar a maternidade. Theodor Lau queixou- 1a oposigio do clero temeroso de Deus impediu a legalizagao da pol meio soberano de tornar um pafs populoso; ver L. Elste Bvdlkerungspoli Beclim, 1924), p.748. Sussmileh, op. ci 2),p-41. Willenbiicher. Die strafrechtsphilosophische Anschauungen Friedrichs des Grossen Breslau, 1904), p. 46. Ver também E, Sl taat und Recht in Theorie und Praxis Friedrichs des Grossen (Leipzig, 1936), p. 34 (not). 49 Em 1747, promulgou-se um deereto contra 0 costumeiro ano de luto para viivas.Os éditos de Frederico Tl da Prssia, de 17 de agosto de 1756 ¢ de 8 de fevereiro de 1765, Tas como sem reputagio e as, foram expressas numa carta a Voltaire: ‘um rebanho num grande patio senhori rover suas reservas ua dinica fungio é povoare Encontramos essas mesmas tendéncias nos grandes c6digos le- sche Landrecht, de 1794, por exem- ‘mas de forma tio gais da época. O aligemeine pre plo, considerava a posigao legal de criangas i favorével que faz as cldusulas corresy de 1900 parecerem barbaras. No primeiro cédigo, outorgavi ito de receber uma compensagio do pai da c lar o pagamento dos custos do parto™ brutais de seu sistema desta escéria humana era cuidadosamente pensados de acordo com o sistema demogrifico, financeiro e econdmico, de tal forma que tudo suprida rapidamente por mercendios, Na medida em que a industria- lizagdo avangava, as condigdes de vida dos trabalhadores melhoraram idade de se levar uma vida mais calma do que ade um soldado, De modo que tomou-se cada vez mais dificil para os utar soldados, pois era preciso com| 11 Meineck, Die Idee der Staatsrdson (Munique e Berlim, 1924), p. 357. 50 efor focais exam 108 com um certo néime~ ro de recrutas®5, Os camponeses tinham medo de trazer sua pro- dugio as cidades; muitos jovens foram enviados para o front. As coisas pioraram durante 0 reinado de Frederico Guilherme 1. As autoridades locais provincianas queixavam-se de que as pessoas no campo e que toda a ec eraros que o rei da Pritssia promulgou o famoso Kan para deter as disputas por reerutas entre os capitties mi- litares**, A valorizagio dos soldados pode ser constatada pelos pre- 0s extraordinariamente altos pagos pela Inglaterra aos princi alemdes durante as guerras c guerras coloniais praticame: © argumento de que sua populagao podia ser melhor ocupada em oficios e artes de paz, A escassez, de homens tomnou-se ta reforgado com criminosos. Nas grandes g1 as que a Inglaterra tra- imo quartel do século s por um mento, convocagio ou importagao. Jutzes © los sobre a adequagiio dos condenados para jo moral’s, O exército foi considerado um tipo de organizagao penal, apropriado usgewahlte Schriften, ed. Ditekton d. K. uk Sehrifen, Parte IL (Vien .p. 469,, pedintes e pobres atendidos nas enfermati as militares como 0 feziam os Janizare ™R, Kapp, Der soldatenhandel deutscher Flrsten nack Amerika (2* ed, Berlim, 1874), p.31 ®L. 0. Pike, History of Crime in England (Londres, 1876), Il, 372-73. 51 ara errantes, extravagantes, ovelhas negras e ex-condenados??. Al- guns pafses foram mais longe, accitando criminosos de outros 1 eles", Avé-Lal escreve que 0 prontuatio de quase todos 0s criminosos do séc XVII cor ‘ execu até que as cir- Ocriminoso nao apenas podia evitar as galés pelo alistamento como recebia um tratamento especial se cometesse um crime enquanto servis- se 0 exército, Para os delitos de cardter militar estavam previstas penas ‘muito severas, de acordo com os respectivos estatutos. No entanto, na prtica, 0s soldados eram tratados len ipariam posigdes particularmente perigosas em caso de guer- cia teve, naturalmente, uma influéncia signil 0 Guilherme T ordenou que os eamponeses € ivessem feito 0 bem seriam mandados pata ostava de ver os escritores tadora da Coroa cumprindo parte do dugque de 1796, entregou a uma comissio militar linguientes ei jo caréter “voluntério” desta “mudanga di Lucht, Die Strafrechispflege in Sachsen-Weimar- 1929), p. 58, t, Die deutsche Gaunerthum in seiner soc literarischen und linguistischen Ausbildung zu seinem heutig 1858), 1,p.85. Pa 177-78, . cits Ml, p. 373. Getalmente, um soldado condenado por um crime ‘capital no podia ser executado sem a autorizagdo do rei. A. F Lueder, Kridsche Geschichte der Statistik (Gettingen, 1817), p. 425, refere-se 4s gangues de rufides, para quem a influgneia combinada de veio, crime e dreito a0 perdio 82 A politica do periodo mercantilista revela um mercado muito favordvel aos empregadores, pois 0 florescimento da indi somente com a ajuda ¢ o ps 8, Mesmo na In- erra, a despeito de sua longa hist6ria de présperas empresas as, € apesar da oposigdo dos puritanos aos monopélios reais e instituigdes similarmente “artificiais”, encontramos um apoio governamental ativo para muitas inddstrias sob 0 reinado dos Tudors eno comego dos Stuarts®3, O crescimento continuado da indistria ‘am 3s novas condig6es de trabalho ¢ a0. submetidos. O govern, que sempre garant (0 funcionérios que ne; litos eram frequlentemente recompensados com participagtio nas empresas), estava naturalmen- de uma forga de trabalho a baixo custo lagtio que regulamentasse o trabalho nas tuma ordem de 21 de agosto Pagamento do restante de um di : anulatrciro de seda, com a expectativa de que cle corresponderia através da dedicagio a conduzir seu prdprio negscio com zeloerescene. Na Austra, Becher obteve uma concessiio e subs para asus Manufakturhaus no Tabor (Viena); ver H, Hatschek, Dos Manufakturkaus auf dem Tabor in Wien (Leipzig, 1685) 53 devido por um certo Sehnitzer, mos em posigio de dependéncia™, A emigragiio de trabalhadores era vigorosamente proibida pelo Estado. Um decreto francés de 1669 estabelecia o seqiiestro ¢ 0 fisco da propriedade do trabalhador emigrante, e um iltimo deereto de 1682 ia mais longe, introduzindo a pena de morte aos emigrantes ¢ aprisionamento ao incitamento & emigragiio*, Por outro Indo, as con- etentava atrair trabalhadores de outros pafses. Em torn de 1786, ‘menos do que um tergo dos hat da Prissia era composto ou de Becher censurava os par o pats dos pedi humana devia ser usada pelo igtagdio de mendigos* Levass avant 1789 789; ver também Sombart, op 810. Vale a har que a agricultura também sofreu com a escassez de forga de trabalho em varios Estados. Os saldrios na Prissia, por exemplo, tio altos que os proprictirios de terra evitavam contratarteabalhadores livres, intensificando a exploragdo dos arrendatérios. Estes, por sua vez, aspirava para as cidades e os proprietirios revidavam fortalecendo a setvidio. Gru dele der neuen Wirachageschche von 1” Jane bi or Gop or simplemente thao dito ic pgs sao coe cmp ru dermina pelo sear ver Slevin, Wislageshch 1935) p 1056.0 Agencies Landes pasa (atl Teo pardgrfo 183} permit ao sethor tomar a sags de sus pls © ter Serves em sua cot, Condes sinless so desenas pao caso da nga por Linon, lo 20, parigra- fo 148, que preve a punigio de quatro a oito anos de prisio ou Fi ppara aqueles que incitassem ou ajudassem os encarregados das cempregadores ou trabalhadores a emigrarem, ‘erande valor aos homens. 54 argumentou que um Estado que desejasse promover 0 erescimento de sua populagio devia ser um asilo para todos os oprimidos perseguidos de outras terras, e que jamais um refugiado devia ser desprezado. Uma tal politica, ele dizia, no é contréria a justiga, ois € bem conhecido o fato de que o 6dio, a vinganga e 0 espirito de perseguigio freqilentemente levavam a falsas acusagdes. Mes- ‘mo que os crimes fossem hediondos, e por isso no pudessem ser perdoados, devia-se tio-somente oferecer provas claras sobre eles eas novas autoridades poderiam administrar a justiga para os refu- giados®, Estado tabelou salérios mi imos para conter 2 alta dos pre- ‘gos da mao-de-obra, resultante da livre competigio no mercado de trabalho. A politica salarial era orientada pelo prinefpio de que um pafs no poderia tornar-se rico se nao dispusesse de uma grande jos forgados a trabalhar para sair da pobreza. Esse ponto de vista foi reforgado pela teoria eco- némica da época ¢ todas as propostas de reforma eram baseadas na idéia de que a populagio s6 pode ser obrigada a trabalhar quan- ‘amos que eles sempre trabalhario, a néo ser sperava-se outro in- io real causada pelo que razio nés pens que sejam obrigados pela necessidade?” centivo 20 trabalho através do queda do aumento dos pregos. ‘© cumprimento dos regulamentos fabris tornou-se um pro- blema muito importante em fungio da escassez de ente da qualificada. Introd! para controlar as atividades do trabalhador, desde suas preces mi as de regular sua vida privada, tendo em vista protegé-Io de situagées que poderiam afetar sua produ- % Justi, Grundfesten, I, p. 240. ituagées similares podem ser encontradas em Sssmilch, op. ¢ Esta & a (ese desenvolvida 8 exaustio por Wit, Petty, Temple © ‘que um certo crescimento do prego dos bens de primeira necessidade como o ao trabalho niio era indesejével 55 ‘dade do trabalho era baixa, ¢ as niimero de folgas durante ano. Com freqiiéncia promulgav: is para regular jomada de trabalho, que estava sendo reduzida pelo crescente poder dos assalatiados. A jor: nada de 12 horas na Holanda no século XVII era comparativam: pequena em relago a um dia normal de 12 a 16 horas nos séculos XVII eXVillIna Franga®, A pedrade toque da regulamentagio estatal do mer- cado de trabalho foi, sobretudo, a proibigio da organizago da classe trabalhadora, Os trabalhadores eram severamente punidos se largassem suas ferramentas para exigir aumento sa sa‘, A liberdade de a que dizia que questées trabalhistas deviam ser decididas somente pelas autoridades governamentais*. trabalho infantil era acalentado de todas as maneiras possiveis, ‘Uma erianga era posta para trabalhar numa fébrica to logo pudesse ser usada, O Estado fornecia as manufaturas criangas dos orfanatos; em alguns casos o empregador era obrigado a providenciar-Ihes as refeigées, e no mais que isto®*, Ocasionalmente, 0 Estado criava seus proprios © Assim, de forma a conter os efeitos do Blue Monday, que tomou-se uma tradigio em toda a Europa, 0 regulamento fabril do Royal Manufaetories, do ‘St. Maur-Des Fossées previa que os trabalhadores nas cidades deviam recolher-se centie nove ¢ dez horas da noite nos domingos feriados, de modo a estarem nas nas na manha seguinte; ver Levasseur, Classes ouwridres, Ul, p. 425. it, p. 49: E, Basch, Holliindische Wirtschaftsgeschichte iprema na Inglate ‘que as associagdes da classe trabalhadora eram ovo estabelecendo pregos excessi- de trabalho favoraveis; ver Lipson, Up. 388. Para o caso da Prange, ver Levasseur, Classes ouriére p. 508-11; Sée, op.it, p.269¢ 363, * Ver os arguments de Sombatt, op, cit, 1,2, p. 831, Ver 0 contrato entre « Coros de Middelturg ¢ os protestantes de origem francesa emprego de érfies, como aponion do séeulo XVI, ver Baasch, op cit ‘na qual instru 0 general para que pusesse & disposigio de um ‘manufatureiro de damascos ¢ seda, aprendizes GrTios, 56 estabelecimentos para empregar os Grftios, Todo esse quadro valorizava as criangas per se, tornando-as metcadoria de troca. Pais pobres aluga~ ‘vam suas criangas, ou mesmo obtinham uma renda fixa entregando-as a ‘um patraio para serem empregadas em sua fébrica, renunciando a qual quer direito sobre elas. aio do mercado de trabalho produzia, dessa forma, efeitos na educagio*®, O ponto alto de qualquer boa educagao era treinar as cri- aangas para a indistria, Havia todo tipo de escolas industriais, como a de tecelagem, de costura, onde as criangas no apenas eram treinadas gra~ -como recebiam um pequeno salto pelo trabalho". Os tebri- jgorosamente o trabalho de criangas, dizendo que era o melhor caminho para manté-las longe do mal, ao mesmo tempo que as ensinava.a ajudar os pais finan te. Somente algumas vores isola {das protestavam contra os perigos fisicos causados pelo trabalho preco- ce, apontando que estas criangas estariam posteriormente incapacitadas ppara.o trabalho, caso lograssem sobreviver. smpreendedores®. Até mesmo os soldados los para trabalhos forgados nas tecela- a0 trabalho através da reclusiio em casas de t vorkhouses)*, 2. Ftapas no tratamento da pobreza ¢ por tradigfo, como viva, loucos € pliblica para mendigos e pobres somente pode ser compreendida se relacionamos a caridade com o direito penal Um afresco da Igreja de Sio Francisco de Assis, retrata a alegoria da Pobreza. Sao Francisco col farrapos, com expresstio de resignagiio, cercada por espinhos. Cristo estd entre os dois, numa atitude de entrega da “Senhora Pobreza” a0 noivo, ¢ anjos esto olhando com reveréneia para ambos os lados. Esta pintura posigZo na qual era socialmente possfvel assun zanna Tdade Média’. Max Weber no somente tolerava a met como a glotificava, através da or- dens mendicantes, e que mesmo os mendigos seculares eram, is vezes, ‘ratados como um Estado, pois eles davam as pessoas que tinham recur- sea pobreza voluntéria ea involuntétia, e mesmo as obri- gages ea vantagens do bem feito em forma de caridade para pedin- justificando-se aos ollios de Deus fazendo caridade. thuysen, o exercicio da caridade é uma fungiio essencial dos podero- "Loe. cit Para o caso da Prissia, ver Hinze, op. cit, 5 Muitos pintores depois de Giotto deram uma expressdo similar a essa concepgio de pobreza. CF. Dante, The Divine Comedy, Paradise, XI. 2 Weber. The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism, trad, Talcott Parsons (Londres, 1930), p. 177. 76. 58 rial aos pobres*, Bsta atitude era compreensivel numa sociedade onde sempre era posst ‘um ato de abnegagdo her reconhecido socialmente. Entregar comida e roupas aos necessitados eagradavaa Deus. Cuidar da pobteza era tarefa da Igreja. A propriedade acumulada ‘eja era justificada como propriedade dos pobres, dos doentes ¢ dos velhos. Incursdes ad hoc do Estado nesta esfera geralmente visa ‘vam a manter 0s saldrios baixos e a assegurar um supriment do de forga de trabalho, Nos momentos em que as pragas e as guerras consumiam trinta ou sessenta por cento da populagio da desempregados que condigdes e sob um certo aumento dos salrios que atemorizava, forgarem os pedintes ao trabalho, ut ‘go em obras ceram pagos por uma tabela bastante baixa, de forma que se esperava enco- 59 ingleses de 1388°, Entretanto, estas eram todas medidas transit6rias, esem qualquer efeito duradouro, ima relatados da forga de trabalho ¢ da pobreza ‘a completa mudanga durante o século XVI. As condigées, de vida das classes subalternas, como vimos, se deterioraram. Levasseur nomeia a mendicdncia como um dos males do século, & relaciona seu crescimento 2 dissolugio da ordem feudal” . Con para temer uma di € que a populagio de mendigos ¢ vagabundos aumentada por aqueles que procuravam € nfo encontravam traba- -onclui de tudo isto que, face ao aparecimento de ja e oconfisco de suas propriedades imento a pobreza®, breza diferia nitidamente daquela da classe senhorial feudal. A doutti- fa da necessidade do trabalho como uma condigzio, jg0 milito desejdvel, mas wm Esta concepstio corresponde ao sistema soci- 43, Eden considers cit, TV, p. 390, era, ver M. Leonhard, The Early History of Poor Relief tance et trabalho dos outros ou da guerra, viver cra uma calamidade compardvel as burguesia, entretanto, conse; industria, Embora o seu ca desse_ ser comparado com o trabalho requerido a qual das classes subaltemas, a sua atividade, de acordo coma valorizagtio ¢glorificada como trabalho. A prosperidade, portanto, perdeu seu sen- tido pecaminoso, ¢ esvaziou-se a idéia de generosidade voluntéria para com a pobreza como absolvigtio dos pecados imputados pelo fato de ser préspero--A-burguesiat jus i fazer 0 bem ‘va podia ser tomada como i, em primeiro lugar, eram scus dons que explicavam seu sucesso na Vida terrena®, Nao apenas qual- icentes com o trabalho e de que as oportunidades para 6 trabalho so muitas ~ encontraram em Lutero um ardoroso defen- sor. Ele escreveu que se devia apenas evitar que os pobres no mor- resem de fome ou de frio, e que nio se devia viver as custas do trabalho de outrem. Segundo sua visto, nenhuma pessoa que queria ser pobre deveria tomar-se rica, mas qualquer um que desejasse pros- peridade deveria tio somente trabalhar arduamente™. Aaatitude da burg teve no calvinismo a sua mais clara for- @ Ver Groonthuysen, op. cit., Cap. IV, “Chi Lebensauffassung”. Lutero, “An Open iche und burg. ", Works, trad. ed. C. M. _mesmas fontes de capital das antigas companhias de comércio. Ambas aluxtiria ¢ uma despese Poupar caso se pretendesse crescer ou mesmo manter um patamar ‘minimo de subsisténcia, No entanto, o calvinismo foi ape buiram para o capitalismo, O fato de tere que avangaram para uma nova e ete, de mencionar o fato de que adotaram, no campo da assis- tas, Nao pode haver diividas, entretanto, de que a dou- trina calvinista propiciou uma base guesia diante dos problemas sociais. As virtudes apropriadas que aju- daram a produgio e restringiram o consumo, especialmente de supét- fluos, tiveram nos fundamentos puritanos, no dizer de Kraus, seu rofundo, sendo a racionalizacao e os métodos estandar- 1a sObria negagao dos prazeres, mestra do perfodo mereant para a aumentar a producZo a exportagao; de que a consumo deveriam ser reduzidos, de forma a trazer a de possfvel de metais preciosos para o pais ¢ preservar com umestilo de vida ascético. A ética comerci fortaleceu-se, encorajando, a um s6 tempo, a realizagio de grandes negécios ¢ a rentincia pessoal. O ascetismo protestante atuou podero- “J.B. Kraus, Scholastit, Puritanismus und Kapitalismus (Munique, 1930), .260-61. e izouo “impulso de agi iente & vontade de Deus, Bssaatitude rel Juiz moral dos outos impor-lhes de conduta. As privages accitas pelas classes dominant das is classes subalternas num grau muito mais elevado. Quando supri- ‘mento de miio-de-obraestivesse baixo, tomavam-se necessérias modidas especiais para forgaras pessoas ao trabalo, para que 0s lucr0s c tas fossem mantidos. Calvino era frequlentemente citado e suas es interpretadas no sentido de que o povo, « massa de trabalhadores & artesfios seguia obedientemente a Deus quando estava em estado de po- breza, Weber esté correto quando afirma que os interesses de Deus e os interesses dos empregadores esto cl em harmonia, numa concepeio que encontra 0c io do trabalhador em ‘sua consciéneia sobre seu dever, e naoem sta confissiio exterior de Fé", Bvidentemente, essa filosofia nto podia aceitara mendicancia e nha-se a pratica cat6lica de caridade indiseriminada: O-princfpio los da face da Terra, Os calvinistas sabiam uma maneira melhor de usar essa fonte inexplorada de prosperidade, ejustificavam sua prati- ca através da condenagio da mendicaneia como pecado de indoléncia como violagao do dever de amor fraterno®, cada vez mais énfa , altima auma po- Isto ¢ amplamente confirmado através das regula. mentagées das cidades germénicas qu breza no ambito da administragao local. As regulamentagées munici- ais de Wittenberg ¢ Leisnitz influenciadas por Lutero) introduziram medidas inadequadas, mas as grandes cidades livres do Proviso de trabalho e ferramentas, adiantamento de dinkeiro para artesfios necessitados, distribuigdio de donativos, licengas para mendi- ‘incia para os inaptos ao trabalho e assim por diante™, Porém, na pratica, essas regulamentagGes raramente eram bem sucedidas e seus efeitos podiam ser comparados as primeiras medidas da Igreja, como se pode ver pela seguinte prédica de 1534: os acuso pela completa destruigéo dos estabelecimentos de tiios que amavam os pobres a ps lavavam seus pés, preparavam-Ihes ¢o1 163. © Ver esta discussio cm E. Troelisch, The Sox Politik und des Armenwesens Jahrbuch, XXXI, a passagem da assistencia aos pobres da Igreja para a de, ver W. V. Marx, The Development of Charity in Medieval Lon Nova Torque, 1937), p. 83-99, ot 0 fez Nosso Sen portas como se fossem malfeitores e __Embora as doutrinas da Reforma, € a rejeigao ym a causa princi- catdlica de Ypn medidas adotadas pelas Go econdmica, a deterioraca chorme aumento da mendicainc 208 como ctiminosos é uma das indicagdes da impoténcia das autori- dades de sustentar esses recursos humanos supérfluos, resultando na adogao de medidas duras. N estatuto de 1547 previa que ygabundos que se ret ‘ou que fugissem res coma escravos por dois anos Umfange des . 46-47 e p. 16-77. 65 , pois nenhum desses idades foram forgadas imero de permissGes a esquemas previa emprego suficiente, ¢ as Em fins do século XVI, a crescente escassez de forga de traba- Iho pressionou a mudanga no tratamento dos pobres. Tal mudanga refletiu-se em atitudes quanto & mend xpressas em escritos contemporineos. Encontramos num panfleto de 1641 que ostenta 0 Remédio de Stanley: 0 caminho para reformar mendigos, ladrées, salteadores, punguistas; um compéndio para mos- trar que 0 Scio, o pecado de Sodoma, é a pobreza e a miséria deste reino: escrito por gente boa movida pela vontade de honrar 2 Deus eo ‘bem puiblico de ricos e pobres”, Neste panfleto, um ladriio que foi perdoado pela Rainha Blizabeth, depois de haver recebido a sentenga de morte, calculou as perdas ca comunidad como resultado do 6cio em torno de 80 mil mendigos que poderiam ser utilizados em traba- thos iteis’® . As queixas caracteristicas da Baixa Idade Médi ‘aos delitos contra a propriedade e outros crimes graves cometidos Por criaturas desesperadas, sem meios de subsisténcia, dio lugar a queixas sobre 0 écio de mendigos, que implicava perdas para o pais. ‘As pessoas que perambulavam e mendigavam e se dirigiam as de condigbes de vida mais favoréveis durante 0 ista nem sempre estavam aptas a se defender da exceto em tempos de crise. Se as condigdes ofereci- das pelos empregadores pareciam muito duras, elas preferiam a cari dade privada ao trabalho regular. Nessa época, o pagamento a mendi- Bos, como os seguros-desemprego de hoje em dia, ficavam abaixo do limite a que os salérios podiam chegar. Freqllentemente trabalhadores tomnavam-se mendigos quando queriam férias por um perfodo longo ou curto de tempo, ou quando recuperavam o folego enquanto procu- ravam um emprego melhor ou mais agradvel. Lallemand, op. cit, TV, 1, p. 184-85, 0 panfleto esta impresso em Eden, op. eit, I, p. 165-70, junto de outros panfletos do mesmo tipo, 66 inha prop6sitos mais diretamente econ6: 0s pobres recusassem a oferecer seu po 599 estabelecia penalidades para mend 3s que abandonassem seus senhores, que deixassem seus empregos para se tomarem mendigos. to francés de 1724 justificava a punigao & mendicéncia apta com base na idéia de que eles de fato privavam os pobres de pao, pois privavam as cidades evilas de seu potencial de trabalho”. As definigdes de arru- Conclufmos, portanto, que a adogio, em fins do século XVI, de ‘um método mais humano de repressio A vadiagem, a instituigao da casa de correcio, constitufa também uma nova mudanga nas condi- ‘Anova legislacao para a mendicdncia expres- saya uma nova politica econdmica. Com aajuda da maqui tado usou com novos propds fava a seu dispor. 3. O surgimento da casa de corregio A primeira instituigao criada com o objetivo de limpar as cidades de vagabundos e mendigos foi, provavelmente, a Bridewell, em Lon- B17. A. V, Judges, The XXX, eorretamente enfatiza 0 7 Ver as observagies de Sombatt, op. Elicabethan Underworld (Londres, fato de que as primeiras leis para o trabalho visavam o niio emprego como “um tipo de vicio, praticado somente por aqueles que desafiavam a ordem social”. Sobre a proibigdo de donativos, ver Pike, op. cit, I p. 67; Kraus, re und die frazdsische ‘a Holanda possufa o sistema capitalista mais desenyolvido da Europa, porém no dispunha da reserva de forga de trabalho que existia na Inglaterra depois do fechamento dos campos. J nos referimos aos iam na inadas ir 0 custo da produgdo eram naturalmente bem-vindas. Todos 0s esforgos foram feitos para aproveitar a reserva de mo-de-obra

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