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23 Revitalizacao, habitacdo em areas historicas @ a questao da gentrificacao Resumo Circe Maria Gama Monteiro ‘Aaula apresenta o processo da gentificacio canforme vem ocorrenco em seas cen trais ou historicas de vi ‘vase negativas de dive ccompreender os fatores ‘grupos seins de voltar Conceitos entrificagio,oconceito de “rent gap” ea perspectiva de andlisedoconsumocultar Introdusa0 A quase constante associaco de projetos de revitalizasdo de dreas istoricas com o desenvolvimento de atividades de lazer ligadas principalmente a0 turismo em imprin slo uma natureza eminentementeecondmica a process0, ‘ou sea partes do incentivo a reforma de eificacbes para abrigaratividades lucrativas que preferencialmente ara fam pessoas para a area. © incentivo exclusivo de uses, tais como restaurantes, Dares, lojs de artesanato, casas de souvenirs, boutiques, galerias de arte, em geral voltados para uma populacao flutuante de turistas ou ususrios temporirios [principale _mentea noite), tem demostrado ser uma estratgia frig, ate mesmo economicamente,e incapaz de imprimix um processo de revitalizacio sustentavel a longo prazo. ‘Os projetos de conservasao integrada em areas histricas tem-se pautado por propostas de implementacio de usos ‘mstos, vsando proporcionar um ambiente social ecultu: ral diversificado,, portant, economicamente propicioa sua revitalizagdo, Nesse sentido, a questdo da habitagio ras drs historic assume papel preponderante,princi- palmente quando se trata de areas ja degradadas. ‘A retomada de areas historicas como local de moradia & imprescindivel para se consolidar uma vida cotidiana nesses centros ou bairrose parase garantir um process Sustentavel. E importante ressaltar que o entendimento de morar nio se restringe a questao da habitagao, dare forma de residencias, mas também da presenca de serv 0s cotidianos basicos, como padarias, supermercados, farmécias, escolas. Morar ¢um conceito mais abrangente, que envolvea possbilidade derealizacio de vaiadas ati- vidades cotidianas, ‘As reas historias geralmente esto locaizadas em dre ‘as centrais da cidade, lugares que experimentaram um processo historico de perdla de funcdo, ou de perda de ria eidades no mundo, Apresentam as considerades posti- sas perspectivas de abordagem e ressalta a importincia de que imprimem vitalidade ao processo, movida por diversos popalagio, quase sempre passando por longos periodos dle degradagto, tanto de stas edifices como da quali- dade de sua vida urbana. Apesar da complexidade de tais processos que mudam em cada situaca0, as questbes ‘as revitalizacies sio sempre semelhantes: Quem deve- Fo ser os moradores, como ser. processo de ocupacdo, como estas edificacies sero transformadas,quais os n0- ‘vos padres de moradia exigidos, que atividades de su- [porte serao necessrias? Como estas intervenes locals ‘tao relacionadas com processos urbanos mais amplos, ‘com necessidades definias globalmente? Talsindlagagdes nos levamaanalisarasexperiéncias, nem sempre to recentes, de retomada de espacos urbanos cen- trai, areas histricas antigos bairros proletarios como ‘espacos de moradia privlegiados na érea urbana. As. ‘im, torna-se necessariodiscutireanalisarofendmeno da sgentriicagio que vem acorrendo em varias cidades do ‘mundo, bem como explcitar os contornos das diferencas locals, as posigdes prs contras, reagdes e contra-tea- «2es esse novo fendmeno de retomada das areas centrais das cidades. Da evasto sucesso: 08 caminhos da degeneragio (Osbairros historicos caracterizam-se, geralmente, por sua situagae de centralidade, ou por possrem uma localiza- «0 valorizada na cidade, vistoque,em algum periodo da historia da cidade, abrigaram atividades ou populagies ddominantes. A perda de funcao e o declnio das areas podem ser resultantes de uma complexa rede de fares, tanto econdmicos como socials ou morfologicos, Estudos sabreadinimicaresidencial das cidades demons- tram queas classes sociais mais abastadas sto detentoras dde maior mobilidade e, portanto, sto as primeiras am dar, motivadas tanto pela perda das qualidades atrativas de uma drea, como também pela ateagio de novas sreas com novosatrativos. Resultante disso, essas dreas quando abandonadas, passam por perfodos de estagnacio e sio ocupadas por populagbes de menor poder aquisitive, que en- ‘ontram em tais ocalidades a possibilidade de alugu- 287 ire Maria Game Monti is mais baixos. Simbolicamente, passam a represe taro lugar de minorias, consolidando imagens negat vas de abandono, que aceleram a degeneragdo de am- plas areas urbanas, ‘Uma das questtes hisicas a ser enfrentadasem um pro eso de revitalizacio é justamente, como tratara poptt- Jaco atual moradora das areas, Como manté-Iase, 20 ‘mesmo tempo, ineentivar populagdes mais afhientes a morar nesses bairros? Dependendo da socedade e das condigdesculturals, de dificil assimilasao a convivencia de clases soca distin- ts, oque acaba por acarretara remogio da populaio me- nos abastada e suas atividades poroutras capazesdeatra- ir usuarios mais afluentes, A esse processo de substituicio de populagioe ativida- des para outras associadas a classes socials mais elev das tém-se dacioo nome de gentifcacio, Definindo gentrificagso Gennifcacao €a substituigao de uma populagto declasse baixa que ocupa um bairro urbano, por outra de classe ‘maisalta. Pode ser dito também que gentificgao a con- ‘versio de tuma rea antiga, em um bairro mais aluente, pela reforma das habitacoes,resultando em um aumento {do valor dos imsvets, ea expulsdo da popuilacio original mais pobre, Esse processo tanto pode sero resultado de uma politica ‘orquestrada de revitalizacao, como pode resultar de um ‘Processo natural, tendo sua origem em interesses de gru- Pos sociais especificos. Em ambos os casos, 0 processo pode envolver conflits entre os grupos até a completa remogiio dos moradores declasse mats baixa, © termo foi cunhado originalmente pela socidloga ingle s2 Ruth Glass (1964), quando da analise do processo em, ~andamento em bairros de Londres, no inicio dos anos 60; “Pouco a pouco,imiimeros bares operéries de Londres foram imoadides pela classes médias, tanto media baivascomo media. alta. Modestas velas de habitagies, “cottages”, com dois ‘modes superiorese dos inferior foram sendotomados quando os contates de “leasing” se expircoam,¢passaoam ase tornar residéncias,elegantes ¢caras. Una vez que este process de _gentrifcago comesa, este se desenvolve cont rapidez até que a Ultima habitagoproltiria, sews ocupantes sto removitos,¢ todo caracter social do burro ¢ transformado,” Segundo Neil Smith (1986), 0 processo de gentrificagdo acontece quando a populace operéria ou pobre, mora- dora nas dreas centrais da cidade, 6 renovada pelo fluxo de capital privado de compradores de classe média & ‘média alta, tanto como compradores como inquilinos, & ‘consiste em uma reviravolta dramatica e n3o previsivel do que a maioria das teorias urbanas do século vinte pre- dliziam ser o destino das areas centrais das cidades, (Oprocesso possui um componente reconhecidamente po- sitivo, ode provocar revitalizacdes no coracio das cida- des revertendo um movimento de contra-urbanizacio.e periferizacio,e demonstrando que determinados grupos ‘Mluentes ainda encontram nessas areas urbanas condli- {Bes de qualidade de vida urbana diferenciada. lado negativo consist na pritica deexpulsio de popu- lagies, com menor poder frente as forcas de mercado, para Jreas distantes, exacerbando a segregacao e a injustica social naestrutura da cidade. Duas abordagens sintetizam e classificam diferentemen- te essas novas reas revitalizadas da cidade: + Como uma “cidade revanchista”, ¢ vista como wma ter tation eniondrade grupos declasse mia de retomara cidade ‘camsidrada “usurpaa” por outras populagies” (Smith, 1996). Essa abordagem estabelece sua posicSo a favor das mino~ Flas marginalizadas, + Como” cidade emancipada'” (Caulfield, 1994), conside- ‘a0 processo como criador de um espaco de possibilida- desde interac social, tolerincia e diversidade cultural, ‘visto como um movimento de rejeicio dos padréesurba- ‘nosconvencionais, Tal abordagem defende a posicio dos ‘grupos gentriicadores, Embora partindo de posicdes ideoldgicas notoriamente contrarias, ambas as perspectivas reconhecem a neces lade de melhor se oompreenderem os process0s que ge- ama gentrificacio de areas urbanas consideradas aban- donadas. Fatores de gentrificagao ‘A tentativa de explica s flores determinantes detal pro- ‘cesso tem demonstrado ser mais complexa do que inkial- ‘mente oi sugerida pela clara definicio do fenomeno. As ‘experiéncias ocorvidas em varias cidades, tanto europe ascomo americans, lemostram uma enorme diversida- de de fatores, que niio podem ser descritos de forma simplificada, ou mesmo generalizados de uma realida- dea outra Teoricamente, as das correntes tise detido em anli- sar por aque ecomo essa transformacoesacontecem, mas Se opaem principalmente no estabelecimento do foc da questo. A primar, analisarofatores de gente, focaizaprincipalmenteoaspectoecondmito do proses: so, bem como aelagao entre flaxo de capitalea prea s80do espasourbano. Eo chamado eo produto tn docome expoentemaiorogedgrafo Nel smith, A segunda perspectiva interessa-se pelas caracteristcas dos gentrificadores (raga, sexo, padrao educacional, op- ‘so sexual, tipo de ocupasao, composigio familiar.) & ‘seus padrOes de consumo, considera como fator primor- dial a producao da cultura urbana na sociedade pés-in- dustrial eé chamada perspection do consumo. producio ea teora do "ent gap” foi elirenial deenda defn prSevith OF ent sprad entre arenda poten dose (oe cpitalzada sob 0 us0 atual do solo, ou ada, @ i i i nda aa ro seco presente rend pencil que pe ser tos” nth. 1987). i ae onpy eae peo a eee SE Cee ce pot rani segundo es seeroqu are aint dra da tor maria Becca per do ample procs eden al deacon Se dena seaport _Aperspetiva do consumo ea emergéncia da nova clas- semedia ‘Ranoutraabordagem defende que ndo se pode compre- tender agenirficacdo, su processo efatoresdeterminantes ‘Semanalisaracaracteristica dos gentrificadores, ou sea, ‘eindves poder str prontos para gentifiagio, masopro- ‘eo acontece sem guehaiapessoes querendo acuparoespa- {oe morar nests ens centr ‘Nessa perspetiva inicada pelo gedgrafocanadense David Lay (1096) énecessario compreender quem so esses ato res, quem sio as pessoas ¢ 0s grupos dessa complexa & fragimentada classe média que procura morar nas éreas historias Taisestudos objetivam definiro perfil dessa “nova classe snsia urbana”, Essa classe gentrificadora difere da defie iio tradicional de elasse media, Pode ser caractrizada com emergent’, um grupo que procura dferenciagdo.e para a qual o status social é conferido pelo padrio de Consumo, (endo pelo nivel educacional, de renda ou acu posto). O consumo do historicoe do simbolico aparece, eno, como um consumo diferenciado do urbano, sa pespectiva toma-se especialmente interessante na

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