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Um Chamado Retornando @ Palavra A Dadiva de Sermos Verdadeiros Adoradores REVISTA 0S Manoel Canuto |S PURTTANOS: sow ine 3 a | ae ‘sal asceu Joao Batista. Cumpriu-se o tempo de sua mae, Isabel, dar a luz. Os vi- | Ware cant bin lemon Reiss Zinhos e parentes viram que o Senhor usara de misericérdia para com a casal, | BEB Zacarias e Isabel, pois Isabel era Ja velha e sempre fora estéril. Por isso, co- | Mas ssroe ‘i J Tesles ‘memoraram juntos com a familia 0 nascimenta da crianga. No dia em que a crianga | TERM ne ae } recebeu 0 selo do pacto, a circuncisao, eles, por emogao, esqueceram que a crianga | Semi: Fle srw era 0 resultado da misericérdia de Deus e sugeriram que 0 bebe recebesse o mesmo * Pita Sea ama nome do pai, Zacarias. Que sugestao afetiva e sentimental! Qualauer pai se sentiria | fatness honrado com a sugestao ‘Mas Isabel reagiu contra esta sugestao com uma palavra enfética e cheia de re- nests aoa 5 cS aacr fi or preensdo: “De modo nenfu'. Ou seja, “nem pensem nisso!”. Nao deu explicagoes, | Sit mamas ‘mas apenas afirmou: “Ele deve ser chamado Jodo”. Ou seja, “Ele tem de ser cha- | {stein incrmu mado Joda!! Vocés nao sabvem 0 que estao dizendo e esqueceram que esta crianga & filha da graca de Deus! Joao significa Deus é gracioso.”. Isabel eo marido Zacarias | fm twurtanouyniconar eram justos diante de Deus e viviam de forma irrepreensivel em todos os preceitos € | Rumen, tien tami mandamentos do Senhar. Eles tinham bem viva em suas mentes a ardem do ano Gabriel: “Zacarias, ndo temas, porque a tua oracdo foi ouvida e Isabel, tua mulher, te dard a luz urn filho a quem dards 0 nome de Joao” (Le 1:13). Zacarias ficou atemorizado e questionou tudo aquilo porque Isabel € ele eram jé muito velhos e sua esposa, além disso, em toda sua vida fora estéril. Zacarias nao creu na palavra do anjo € por isso ficou surdo-mudo, Os parentes e amigos nao concordaram com as palavras de Isabel e solicitaram por “acenos” (Le 1:62) a0 chefe do lar uma posigdo “oficial” quanto a questo. Zacarias pede uma tabuazinha e escreve nela 0 que Isabel dissera. Escreveu: "Jodo é 0 seu nome”. Deus ali mesmo lhe restitui a voz e a audi¢ao. Compés, por tudo isso, lum eaintico que é uma profecia: “ Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu 0 seu povo, @ nos suscitou plena e po derosa salvacao... como prometera, desde a antiguidade por boca dos seus santos profetas para nos li- bertar dos n0ss0s inimigos... para usar de misericérdla com nossos pais e lembrar-se da sua alianga ¢ do juramento que fez a Abrado, 0 nosso pai, de conceder-nos que, livres das maos de inimigas, 0 adords- ‘semos sem temar, em santidade e justi¢a perante ele, todos os nossos dias" (Lc 1:67-75). Neste cdntico inspirado, 0 sacerdote Zacarias fala-nos que o Deus que nos redimiu, nos salvou, fez promes- sas a Abrado e seus descendentes de conceder-nos que o adorassemos sem temor, em santidade e justiga peran- te Ele todos os dias da nossa vida. A nossa adoracao correta é concedida por Deus, mesmo aqueles que sao redimidos e saivos. Por isso Jesus fala que Deus busca adoradores que 0 adorem em espirito € em verdade. Sera que natural- mente existem estas pessoas? Paulo diz que nao ha quem busque a Deus (Rm 3:11). Jesus disse a mulher sama ritana que ela adorava a quer nao conhecia. Pode alguém adorar e buscar a quem nao se conhece? Impossivel! ‘Assim Deus, antes, regenera e santifica para que assim o homem possa adorar a Deus verdadeiramente. Quem pregaria o Evangelho fielmente se Deus nao nos concedesse sua Palavra escrita? (Lc 24:27), Quem vem a Cristo se o Pai nda o trouxer? (Jo 6: 44). Quem ora de forma aceitavel a Deus se o Espirito nao interce- der com gemidos inexprimiveis? (Rm 8:26). Quem tem espirito de siplica, se Deus nao 0 der? (Zc 12:10). Quem pode adorar a Deus de forma aceitével se Ele mesmo néo conceder esta béncao revelada em Sua Palavra? Zacarias afirma isso: “... juramento que fez a Abrado, 0 nosso pai, de conceder-nos que, livres das mdos de inimigos, o adoréssemos sem temor...". Por que sem temar? Poraue agora podemos nos apresentar diante déle: “Tendo, pois, irméos intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus... aproximemo-nis, com sincero coragao, em plena certeza de fé..” (Hb 10: 19 € 22). SENHOR, dé-nos espirito de graga e de séplica e concede-nos 0 favor de Te adorarmos corretamente sem temor, em santidade e justica, porque sem Ti nada podemos fazer. Faz-nos verdadeiros adoradores. Boa leitural 2 Revita 0s Puritanos Recuperando a Palavra — I James Philip A URGENCIA DA PREGACAO EXPOSITIVA HOJE moveu 0 coragéo de incontavels pessoas em todo o mundo com o seu comovente e famaso discurso que comecau com as palavras: “Eu tenho um sonho..."". Homens menores também podem ter “visbes" e "5o- rnhos", e ew tenho um também. Eu desejo levantar uma argumentacdo para a pregacéo expositiva. Minha con vicgdo — e esta tem sido a base sobre a qual meu préprio ministério tem sido construido durante os ultimos quarenta anos —é que, a menos que haja um resgate, uma verdadeira reabilitagao da doutrina biblica da pre- gagdo, 0 processo de decadéncia dentro da vida da igreja esta passivel de continuar e ser acelerado. D ‘outor Martin Luther King, 0 lider dos Direitos Civis Americanos e ganhador do Prémio Nobel da Paz, INTRODUCAO AA primeira coisa que acho ser necesséria fazer é colocar este tema em algum tipo de perspectiva histérica. A titulo de introducao é necessirio dizer que talvez uma nota breve autobiogréfica no inicio, nao estaré fora de ordem. Os primeiros oito anos do meu ministério (sequindo dezoito meses de auxiliar estagidrio em Glasgow) foram passados no nordeste da Escécia, numa pequena comunidade de pesca com uma tradigéo evangélica, até ‘mesmo evangelistica, e segui um homem que tinha ministrado ali durante dezessete anos sem ver toda aquela bboa resposta esperada. Meus anos foram anos de colheita e vimos “grandes dias do Filho do Homem", com 0 Espirito de Deus trabalhando no que eu supuna ser 0 mais préximo das manifestacdes classicas de avivamento como tem sido visto nos anos pés-guerra, com um terrivel senso de eternidade pairando sobre o lugar, € as pessoas sendo trabaladas pele Espirito Santo de modo impressionantemente sibite, algumas vezes sem mes- mmo estar na igreja. Mas, foram também dias nos quais aprendi os perigos do zelo meramente evangelistico correndo para semear, e Deus colocou em meu coragao a urgéncia por um ministério de ensino em profundida- de que tivesse como seu abjetivo a construgdio do carater cristo. ‘Quando fui chamado para Edinburg mais de trinta anos atrds, eu senti que minha tarefa era expor as Escri- turas sistematicamente, liveo por livro. O que eu senti Deus "me dizer" foi “Va I4, nregue e estabeleca a minha Palavea naquele lugar’ e ponto final! Isso era tudo. Assim, n&o me senti livre para tomar qualquer linha par- ticular nem impor qualquer modelo particular no trabalho. Minha tarefa e o meu envio eram expar as Escriti- ras, [sto eu tinha buscado e havia sido capacitado para fazer. Percebo agora, como talvez nao pudesse té-lo feito entao, que tal atitude e tal prética fazem certas suposi- es definidas sobre a natureza da prépria pregacao € fluem de certa doutrina da pregacao. Portanto, dificil- mente seria surpreendente —e isto traz A perspectiva historica que referi — que quando minha Junta Eclesial ‘cenerosamente instou comigo para uma licenca sabatica de seis meses, aproveitel a oportunidade para engajar- me num estudo sobre a historia da pregagao. Uma das coisas que me entusiasmou mais imediatamente foi a leitura da biografia de um bem conhecido pregador escoces, J. P. Struthers, de Greenock. Struthers manteve amizade e correspondéncia durante muitos anos com 0 grande James Denney, do Trinity College, Glasgow. Foi a leitura de alguma das cartas deles, particularmente 0 pedido de Struthers a Denney de alguns dos seus ser- mes e “um texto para pregar no préximo domingo” que levou-me & percep¢ao que muitas das pregacoes da- queles dias eram “textuais"” em lugar de uma exposicao continua. Além disso, este era de fato 0 modelo segui- do por muitas das figuras proeminentes do sécula XIX — McCheyne, os Bonars, Spurgeon — e uma grande parte da pregagao do século dezoito e muitas do século dezessete parecem ter sido do mesmo tipo, em agudo contraste com Calvino e os Reformadores que perseguiam uma politica de exposigao sistematica das Escrituras, pregando através de toda a Biblia, liveo por livro, no espaco de dez anos. Tornou-se rapidamente evidente para mim, depois de uma consideragao preliminar a até mesmo rapida deste assunto, que nada menos que um exame de toda a histéria da pregacao, desde as suas origens primitivas, Conquanto condensado, seria suficiente para fazer algum tipo de justica no assunto. Isto eu procurei fazer e, embora nao seja minha preocupacao entrar nisto detalhadamente agora, sera suficlente dizer que os padroes de pregacao que se desenvolveram na época pés-Reforma, nos séculos dezessete e dezoito e que persistiram até o dezenove, eram mais uma reversao 20s padrées pré-Reforma do escolasticismo medieval do que um desenvol- vimento dos padrdes da Reforma, Naturalmente estou me referindo & metodologia da pregacao, nao a substn- 3 a Os Puritanos a Jam cia do assunto! € inteiramente verda- eiro dizer que aqueles que seguiram 6 estilo do Calvinismo de exposigao, livro por livro, na linha antiga *homi- lia’, foram relativamente poucos e salientaram-se na histéria da igreja escocesa do século XVII ao XIX como grandemente atipicos. € apenas nos anos pés-guerra do século vinte que aquela pregagao comegou a firmar-se mais uma vez PREGACAO DA REFORMA 0 que foi que marcou a pregagao dos reformadores fazentlo-a permanecer em um contraste marcante com a pregacao do escalasticismo medieval e, sem vida, com muito do que veio a seguir do século XVII em diante? Simplesmente isto: os reformadores volta~ ram diretamente aos padrées biblicos de presacao, para a “homilia”, para abrir e desvendar o que di- iam as Escrituras, dando 0 sentido delas e fazendo 0 ovo entender a leitura (Neemias 8:8) — com efeito, lum comentario corrente sobre a Escritura, entremea- o.com aplicacao. Isto € 0 que fol téo central para eles e foi uma centralidade que eles encontraram nas pré- prias Escrituras. Ninguém pode ler a Escritura e, par- ticularmente, a historia da igreja primitiva, sem to- mar consciéncia do supremo e, em verdade, funda- mental lugar que dado & preaacao. © enorme impacto do dia de Pentecostes em Atos 2 foi causado, nao pelo impeto poderoso do vento nem das linguas como de fogo, bipartidas, mas pela procia~ magao da Palavra. As espetaculares manifestagdes, & verdade, fizeram 0 povo perguntar “O que significa isto?’ mas, foi a pregagao da Palavra que affigiu seus coragdes fazendo-0s dizer “Que faremos, irmos?”. Quando o trabalho eo testemunno da Lareja come garam a se expandir e algumas das implicagies do Evangelho comecaram a se tornar evidentes na neces- sidade de consolagao e de interesse social, os apdsto- los designaram didconos para supervisionar essa ne- cessidade com o seguinte comentario: "Mao 6 razodvel que abandonemos a Palavra de Deus para servir as ‘mesas...10s consagraremos 4 oragao € a0 ministério da Palavra” (At 6:2,4).. Quando veio a perseguigo, como inevitavelmente aconteceu, saberos que 0s discipulos primitives sendo espalhades para o estrangeiro, “iam por toda parte pregando a Palavra” (At 8:4). 0 primeiro grande mo- vimento missiondrio evangelistico teve sua arigem na Antioquia, numa lareja que fora profundamente edifi- cada na Palavra. © empenho apostélico tomou invariavelmente a forma de um ministério de ensino. Eles provaram, como Paulo torna claro no infcio da sua primeira epts- tola aos Corintios, que aprouve a Deus, pela loucura da pregacao, salvar aqueles que créem, 4 Ninguém pode ler a Escri- tura e, particularmente, a historia da igreja primi sem tomar consciéncia do supremo e, em verdade, fundamental lugar que € dado a pregagao. E neste contexto que podemos melhor compreender 0 comentario fa, feito por Lucas, 0 historiador, sobre © impacto extraordindrio que a pre- ga¢do dos apéstolos teve em Efeso: “Assim, a palavra do Senhor crescia @ prevalecia poderosamente” (At 19:20). 0 distinto tedlogo de outros tem- pos anteriores, P.T, Forsyth, um araduado pela Uni- versidade de Aberdeen, fez esta admirdvel declaracao no inicio do seu liveo Positive Preaching and the Mo- dern Mind (A pregacao Positiva e a Mentalidade Mo- derna): “Pregar é a instituicdo mais caracteristica da Cristandade, Com a sua pregacdo a Cristandade per- manece ou cai”. Dizendo isto ele estava apenas refle- indo a atitude e a convicgao dos préprios reformado- res, pois eles acreditavam que a pregacdo da Palavea de Deus era a constituigo essencial do ministério, € ‘que todos 05 outros deveres ligados zo oficio do minis- tério so secundarios a pregacao. Antes da ministra- «a0 dos sacramentos, antes da organizagao e da disci- plina, vem a pregagao da divina Palavra 0s reformadores sustentavam que, quando estava pregando realmente a Palavra de Deus, 0 pastor esta~ va realizando a obra mais exaltada sobre a terra. Ele estava co-operando na obra redentiva de Deus, trazen- do 0s pecadores & salvacao, construindo a igreja de Cristo e, acima de tudo, glorificando a Deus o Senhor, de quem ele era embaixador. Tal era a convicgao dos reformadores e era uma conviegao que estava destinada a revolucionar toda a Europa nos séculos XV e XVI. Gomecando pelos Lolar- dos, seguidores de Wycliff, que viajaram em toda ex- tenséo e largura da Inglaterra, expondo as Escrituras e fazendo conhecida a mensagem do Evangelho 20 povo simples através do uso da sua traducao das Escrituras ppara o inglés, ela era verdadeiramente “uma idéia cuja hora tinha chegado”. 0 movimento ganhou impeto € tornou-se literalmente irresistivel, e 2 Reforma tornou- se um fato glarioso — pondo em chamas toda a europa ‘com sua mensagem da graca liber:adora. A Reforma foi verdadeiramente um retorno pata, € uma recuperacao da mensagem das Escrituras, € a pregacao e exposi¢ao daguela mensagem da maneira ‘que ela foi praticada na igreja primitiva e nos primei- vos séculos da era crista. Observei mais cedo que tudo iss0 produz certas suposi¢bes definidas a respeito da natureza da prépria pregacéo, e procede de uma certa doutrina da pregagdo, E necessdrio que se diga duas coisas sobre isto. Primeiro devemos ver as pressuposi- bes basicas que fundamentam a necessidade essen- cial sentida pelos reformadores para dar um basta nas formes existentes e retornar ao modelo do Novo Tes- tamento. Segundo, devemos olhar a prépria doutrina reformada da pregacao. Revista Os Puritanos UM ROMPIMENTO COM 0 PASSADO Quanto ao primeiro ponto, os reformadores resolu- tamente criam ¢ ensinavam que as Escrituras eam essencialmente inteligiveis para a mente espiritual normal. Eles recusavam aceitar, como a Igreja Caté- lica tinha ensinado por tanto tempo, que era muito perigoso e dificil para o povo simples ler e estudar as Escrituras por si mesmo — uma crenga que fez a Bi blia tornar-se um liveo selado, do qual havia uma ig- nordncia disseminada e quase completa. Para Calvino © seus colegas a necessidade gritante daqueles dias daquela geragéo era comunicar ao pove simples um conhecimento das Escrituras. A eles havia sido nega. do isto por muito tempo e, agora, estavam famintos da Palavra de vida. De que outra maneira paderia aquele conhecimento ser comunicado a nao ser atra vés de uma exposicao extremamente compreensiva de todas as suas partes? Como colocou um escritor refor- mado “A homilia analitica apresenta ao cleo uma ‘oportunidade para inteirar, tanto ele mesmo, quanto (5 seus ouvintes num tempo comparativamente curto, do conteddo geral dos Escritos Sagrados” (R. B. Kui per) Por outro lado — e este é até mais basico e funda- mental — os reformadores afirmavam que Cristo e as Escrituras eram insepardveis, no sentido de que é ape- nas em e através das Escrituras que Cristo pode ser conhecido. Por isso, para comunicar um Cristo total e mediar uma salvacao total, & necessério uma Biblia total; pois, Cristo esté em todo e qualouer lugar da Escritura, e em todas as suas partes um homem ouve a “Voz do Seu Mestre”. “Examinai as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e sio elas mes- mas que testificam de mim (Jo 5:39, disse 0 nosso Senhor. Dificimente pode ser contestado que com respeito a amas estas consideracées, a roda completou o circulo, Hoje, existe uma ignordincia da Biblia, difundida de umm extremo ao outro da terra e, reconhecidamente, uma fome crescente nos coracées de homens e mulheres pela Palavra viva. € existe uma percepcao crescente da necessidade para uma apresentagéo da mensagem da revelacdo biblica completa, com uma viséo para criar um cardter cristae equilibrado e maduro nas vi «das do povo de Deus — a espécie de carater que pade rejuvenescer e regenerar a sociedade dos riossos dias. A DOUTRINA REFORMADA DA PREGACAO Ja nos referimos ao indissoltvel vinculo que os reformadores viram existir entre Cristo ¢ as Escrituras Isto tem significacao para sua doutri- 1a da preaagdo, pols uma é 0 corolé- rio da outra. T-H.L.Parker em seu excelente livro sobre Calvino, The Oracles of God (Os Oraculos de Deus), Revista Os Puritanos discute isso com algumas miniicias e sumariza as ca- racteristicas distintivas da posigéo do grande refor- mador genebrino: Pregar é 2 Palavra de Deus, primei- ro.no sentido que é uma exposigao e interpretagao da Biblia, o que é tanto a Palavra de Deus como se os homens "ouvissem as palaveas reais pronunciadas pelo préprio Deus" Pregar 6 a Palavra de Deus porque o pregador fol enviado € comissionado por Deus como Seu embaixa- dor, aquele que tem autoridade para falar em seu nome. Pregar é a Palavra de Deus no sentido que ela € a revelacao. Ela é a Palavra de Deus quando Deus fala através das palavras humanas revelando-se atra- vés delas e usando-as como vefculo da Sua araca, Para usar as préprias palavras de Calvino: "Deus dig- nase a consagrar as bocas e as inguas dos homens 20 seu servigo fazendo Sua prépria vor ser ouvida neles" Nao € tanto que Calvino identifique a palavra humana faiada com a Palavra de Deus viva — a distingao en- tre as duas estd sempre ali — mas, ao invés disso, & ‘que ele reconhece que Deus se apraz em falar na pala~ vra pregada, como verdadeiramente se torna claro em [Atos 10.44: “Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu 0 Espirito Santo sobre todas os que ouviam a palavra’” IMPLICAGOES IMPORTANTES, Tudo isso tem implicagdes praticas importantes. Uma é que a pregagao mais do que o pregador é ce decisiva importancia — a mensagem ao invés do men- sageiro. Isto € de uma significagao maior do que se imagina. Natucalmente, se 0 Evangetho fosse simples mente uma histéria a relatar, entéo @ consideracao importante seria o pregador: seu estilo, sua apresenta co, sua oratéria. Mas, se © Evangelho &, como sus- tentam os apéstolos e 0s reformadores, 0 poder de Deus para a salvacao e nao simplesmente alguma coi- sa assistida pelo poder de Deus, entao a énfase passa do pregador para a coisa pregada, e da exceléncia do discurso” e “as encantadoras palaveas de sabedoria do homem” — a qual Paulo to explicita e decisiva- mente repudiou — para a mensagem que vem “en? demonstracao de espirito e de poder’ P. T. Forsyth esta, desse modo, correto quando afirma que 0 pregadar cristao nao é 0 sucessor do orador grego, mas do profeta hebrev, com seu “Assim diz o Senhor". Reaimente , um exemplo muito bom brigatério podia contribuir para afirmar que foi pre cisamente a predominancia da ret6- O enorme impacto do dia | rica e oratéria classicas, que nos de Pentecostes em Atos 2 foi causado, nao pelo | impeto poderoso do vento | nem das linguas como de fogo, bipartidas, mas pela pproclamagao da Palavra, primeiros séculos eram termos sind- riimos de uma alta educacao e foram cada vez mais adotados pelos lideres da igreja que finalmente obscurece- ram € quase destrufram a igrela na Idade Média. Por isso € que os refor- | | | 5 | { g 8 % a Recuperando James Philip | | | madores repudiaram-na tao veemen- | temente e retornaram a pregagao na idade patristica, e estabeleceram inteira, livro por live ‘Uma das implicagées importantes na afirmagao ‘que as Escrituras sao a Palavra de Deus viva & que, quando elas sao pregadas no Espirito e entendidas pela mente e pelo coracao, elas exercem uma influén- cia dinamica sobre a vida. Isto significa que, basica- mente, em nosso trabalho pelo Evangelho devemos depender da verdade do proprio Deus para fazer sua prépria obra de dar vida e confiar em Seu poder para fazé-lo. James Denney tem uma excelente passagem rum dos seus sermdes publicados, sobre a tentagao do nosso Senhor. Falando da recusa de Jesus em ceder & tentagao de usar métodos que recorrem mais aos sen- tidos do que & alma (“Atira-te daqui abaixo”), ele continua: Quéo pouco ele (Jesus) tinha de tudo aquilo em que as igreias hoje sio tentadas a confiar! Quo ppouco ha nos Evangelhos a respeito de métados © aparatos!... podemos bem imaginar que ele olharia com mais éo que assombro para a im- portancia que os seus discipulos atribuem a estas coisas agora. “Ele falava para eles a Pa- lavra’, 10 era tudo. A confianga da igreja em ultras coisas € realmente uma desconfianca da verdade, uma ma vontade de acreditar que 0 seu poder est4 nela prépria, algo de ter alguma coisa mais irresistivel do que a verdade para defender a causa da verdade; tudo isto € pro- e350 do atefsmo...Nao € apenas um erro, mas tum pecado, confiar em atracées para os ou dos e para 0s olhos que foram feitas para os lugares de entretenimento. 0 que o evangelista chama “a palavra” — a verdade espiritual, a mensagem do Pai e do Seu reino — falada no Espirito e reforgada pelo Espirito, dita pela fé © ouvida pela fé — é nosso tinico recurso verda deiro € ndo devemos nos envergonhar da sua simplicidade “Alguma coisa mais irresistivel do que a verdade para defender a causa da verdade'; nao ¢ isto a con- denagdo de uma grande parte do travalho cristao hoje? Sua falha é que os homens ndo acreditam que a Paiavra de Deus é uma Palavea viva. Esta é a necessi- dade e esse é 0 caminho: submeter 0 povo a Palavra de vida, dar ao povo as Escrituras, ensind-las, desvenda- las dando a compreensao e confiar que © poder da Palavra incendiara 0 coragao dos homens como fez aqui. Este é 0 madelo. Acreditamos realmente na Pa- 6 .08 reformadores afirma- | vam que Cristo e as Escri- como exposigao da Escritura, como | turas eram inseparaveis, no sentido de que é apenas em a tradigéo de exposigao continua da | ¢ através das Escrituras que Escritura, pregando através da Biblia | Gyisto pode ser conhecido. lavra a esse ponto? Contentar-nos- ‘emos em deixar a Palavra fazer isto, nna {6 e confianga que, a seu tempo, ela produziré transformagao e revo- lugao moral? Ou cedemos a tentagao, quando nada parece acontecer, de introduzir outras coisas para suple- mentar este simples ensino da Biblia? E assim que pensamos no secreto dos nossos coragaes? Eu lembro, com respeito, que isto tem muito a ver com a igreja evangética contempordnea e com a proli- feracao de organizacoes para-eclesidsticas em sua preocupagao e entusiasmo com coisas outras que nao a verdade, onde a pregagao esta relegada a um papel inferior e cada vez menor e um louvor com cAnticos: deploraveis tem se tornado a ordem do dia. Parece-me que um conceito falso, defeituoso & antibfolica de adoragao esta em funcionamento aqui — como se 0 culto pudesse estar divorciado da Pala- vra.e do ouvir a Palavra. Uma das mais puras expres- sdes de adoracdo € encontrada no Salmo 95: * Vinde, adoremos e prostremo-nos ...". Certamente nao é sem significagao que quase na sua préxima respira- Gao 0 salmista diz; " Hoje, se ouvirdes a sua voz, néo endurecais 0 coragdo”. Este € 0 contexto em que a atloragao biblica esta inserida — o entregar e ouvir a paiavra — e & um desvio perigoso da verdade imagi- nar que é possivel ter “adoragéo” ou “comunhao” a parte da Palavra. Deixe-me oferecer-Ihe 0 comentario de uma recente revista de interesse missionério no mundo estudantil ‘As Unides Cristas parecem gastar mais tempo no culto do que costumavam fazer; enquanto antes tinham um curto tempo para 0 louvor e Gepois uns quarenta minutos ou mais para a leitura 6a Biblia, agora é freaiientemente qua- renia minutos ou mais no louvor e depots uns vinte minutos de paiestra. Uma experiéncia realizada por um grupo de estudantes colocou uma personatidade muito dingmica para fazer uma palestra bem jovial, cheia de hist6rias ‘muito interessantes. Na semana seguinte eles mandaram um homem mais sério que era um professor de Biblia muito bom e duas ou trés semanas depois eles enviaram um questionario ‘05 estudantes. Todos eles lembraram muita coisa do segundo palestrante. Parece que mui- tos estudantes agora querem palestras mais leves, © que torna mais dificil para nés um as- sunto missionavio bibs. ‘Armeu ver, isto nao é uma boa coisa para se ter ‘no mundo estudanti! no tempo atual; é algo muito inquietante e deveria estar nas oragdes do povo de Deus. Revista Os Puritanos ANATUREZA DA PREGACAO EXPOSITIVA 0 proximo pomio a que eu quero chegar refere-se & nnatureza e &s bases do ministévio expositivo e eu gos- taria de dividi-lo em duas partes principais. Aperfeigoamento dos Santos 0 primeiro esta encapsulado nas palavras bem co- nhecidas do apéstolo Paulo em Efésios 4, onde ele fala da instituigao pelo Cristo exaltado dos dons de ministério em sua igreja “com vistas ao aperfeicoa- mento dos santos para 0 desempenho do seu servico, para a edificacao do corpo de Cristo’ de modo a trazé los & maturidade e estatura nEle. Esta ¢ uma magni- fica passagem, levando-me a salientar que ha un mi- ristério triplo envolvido na pregagao da Palavra Tuminagao para os Ignorantes Primeiro que tudo existe 0 aspecto iluminativo do ministério. A iluminagao é necesséria para 9s igno- rantes e 05 confusos. Existe uma area importante e vasta para nossa consideragao. Nos vemos este aspecto iluminativo atuar no senti- do inicial no ministério da regeneragio. € a entvada dda palavra divina, como diz 0 salmista, que d& luz. A {8 vem pelo owvir, € 0 ouvir pela Palavra de Deus, & ‘eu primeiro ato € abrir olhos cegos e mentes para entender a verdade do Evangelho. “Entendes o que 152", disse Felipe ao eunuco etiope, este foi 0 inicio das coisas para le. € € para nés todos. Mas, a agdo iluminadora da Palavra continua a0 longo da linha, pois existem diferentes tipos de igno- rncia e confusdo para ela combater. € certo dizer que ha uma grande quantidade de ignorancia nas mentes e coragées dos crentes— talve2 especialmente jovens crentes, mas certamente ndo apenas estes — no ‘que diz respeito a sua posigao em Cristo. Isto & muito iimpressivo e caracteristicamente destacado por Paulo em Romanos 6, por exemplo, nas repetidas palavras, “Nao sabeis?”. E esta ignorancia da nossa posigao em Cristo, de auem nds somos © a que somos e onde nés estamos, nEle, que tem Jevado muitssima confusao nna doutrina da santificagao, para nao dizer empobre- cimento. Por isso & que Paulo escreve daquele modo aos Efésios (1:15ss), orando para que os olhos co seu entendimento possam ser iluminads, que eles possam conhecer a riqueza da sua posigaa em Cristoe a exten sto da sua vitria nee Uma ilustragao bem vivida das possibilidades ine- rentes & sua idéia de iluminacdo € vista no incidente registrado em Atos 19, no qual Paulo encontrou certos discipulos em Eteso cuja experiéncia eva claramente in- completa. Quando aralidos sobre seu conhecimento e experiéncia do Espi- rito Santo, sua resposta foi “em mesmo ouvinos que existe o Espirito Revista Os Puritanos A primeira e gritante ne- | cessdae do nossa tempo | vga spiritual Em Eléses 12 6 um ministério de ensino | que revelara ao povo de Deus a riqueza do Evangelho da graca Santo". \gnorancia era o seu problema. Havia coisas que eles precisavam saber, mas nao sabiam. E 0 mi istério de Paulo para eles foi, antes de tudo e neces- sariamente um ministério de iluminagao. Eles tinham que ser preparados para compreender algumas verda: des muito necessarias a respeito do Espirito Santo (19:4), Estou inteirado, naturaimente, da natureza controversa desta passagem de Atos, mas sua inter. pretacao precisa, nao € 0 que deve nos preocupar agora. Em qualquer que seja a interpretacdo, estes homens entraram numa plenitude de experiéncia que nunca tinham conhecido antes. Eles entraram na sua heranca real como filhos de Deus e tornaram-se ho- mens fervorosos por Ele — com que resultado, pode- mos ver no resto do capitulo! Pois sua experiéncia foi © préiogo e o prelidio do impacto tremendo e de longo alcance em toda a cidade. ‘As palavras ern Atos 19:20 (VA), “Assim, a Pala- vra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente” séio um sumario idéneo do que aconteceu. No espaco de tr8s curtas anos o nome de Jesus foi magnificado naquela cidade gentilica e idélatra e toda a Asia ouviu a palavra do Evangelho. Nao & significativo que o ca- pitulo que registra esta obra poderosa comece com luma histéria que nos conta coma doze discipulos en- traram em seu destino e heranca reais como filhos de Deus? Nao devemos esquecer, porém, a importéncia destas palavras citadas,do verso 20 “a Palavra cres- cia ...poderosamente...”. Como a Palavra pode cres- cer? Bem, ela se tornow a realidade maior, mais im- portante e mais sublime para aqueles homens. Eles descobriram a riqueza do Evangelho da graca. Eu nao acho que seria enfatizar demais dizer que isto & muito freaiientemente a verdadeira natureza do nosso empo- brecimenta hoje. A primeira e gritante necessidade do nosso tempo é um ministério de ensino que revelard ao ovo de Deus a riqueza do Evangelho da graca de ‘modo a abrir as verdades da salvagao para que sua mesma grandeza e majestade possam sobrepujar & dominar os homens. A necessidade é de um ministério de ensino que acenderé uma grande chama interior & que consumira a impureza de coisas menores do povo ‘no tipo de alcance que conta para o reino de Deus. Terapia para os Doentes Segundo, temos 0 que pode ser chamado de o as- pecto terapéutico do ministério. Luz e iluminagao para 05 ignorantes e confusos so acompanhadas por tera- pia para os doentes. Se a ignorancia impede 0 desen- volvimento para a maturidade espiri- tual, assim também faz a doenga na Paulo usa uma palavra traduzida na VRA como “aperfeicoamento”, a qual € cheia de significagao neste contexto. Sua raiz significa “trazer 7 Recuperando a Palavra a & alguma coisa ou alguém para sua pré- pia condigao (se pela primeira vez ou por um espaco de tempo)’. A palavra 6 usada no Grego classico como um certando uma articulagao quebrada”” | Palavra. © aparece no Novo Testamento em contextos como “concertando redes rasgadas’ (Mt 4:21) e “restaurando um desviado” (GI 6:1). Estas referéncias sdo suficientes para nos indicar o que pode ser chamado a “terapia da Palavra’. Se a vida de um hhomem nao € 0 que deveria ser, € da agao terapéutica da Palavra que ele necessita. Apalavra 0 desafiaré e convencera, freqlientemente em assuntos especificos E aqui que vemos a verdadeira compreensao da “crise” na experiéncia espiritual. & verdade que a ilu- minagdo da Palavra pode trazer sibito esclarecimen- to: “Eu vejo agora”, dizemos quando a luz jorra. Isto € uma crise, se voc€ prefere, em nosso pensamento. Mas, com a aco terapéutica da Palavra, a crise pode ser muito mais aguda. “Se tua mao te faz tropecar, corta-a, disse 0 nosso Sentior. Isto & crise realmente, exatamente como cirurgia abdominal é cirurgia de crise na esfera médica. 0 drado enfermo deve ser cor- ado, extirpado, se for para se preservar a sate. Mas, esta cirurgia, entenda-se, € essencialmente uma coisa negativa e preparatéria, Ela nao € a pré- bria saide; ela simplesmente remove aquilo que torna impossivel a boa sade. Assim também, na vida espi- ritual, a terapia da Palavra nao constitul, ela mesma crescimento e edificacdo; ela simplesmente torna pos- sivel 0 crescimento ao remover e tratar com coisas {que tém sido um impedimento até agora. Crise na vida espiritual quer dizer. exatamente isto € ndo deverios confundir com significar que um homem que tenha pasado por uma experiéncia de crise, tenha “chega- do" ao sentido espiritual ou esteja num plano espiritu- almente mais alto do que outros; to pouco podemos supor que um homem que se submeteu a cirurgia de maior porte seja superior aqueles que ndo passaram por ela. Realmente, um homem que tenha sofrido urna crise espiritual, esta apenas comecando. A experién- cia crista significativa, verdadeira, torna-se possivel agora que os obstaculos ao crescimento estao fora do camino, E 6 porque ele de fato abandonou sua con- sagracdo primeira, original, que esta terapia-de-crise toma-se necessdria. Alguma coisa estava indo errada agora foi colocada em ordem. ‘Ai é onde pademios ver perigo real no que é charma- do alaumas vezes de ministério de “conversao”, se faz 4 suposi¢do, como acontece alguinas vezes, que todo mundo esta doente e necessita de cirurgia da alma Alimento Para os Sos Entretanto, existe um terceiro aspecto muito im- portante do ministério, a saber, sua fungao doutrind- 8 Cristo 6 feito para nés sabe- doria, justiga, santificagao e redengao, e para conseguir um Cristo total nés neces- ‘termo médico para se referir a “con- | sitamos da totalidade da ria e eficiente, Ha iluminacao para 0s ignorantes e confusos, terapia para 5 enfermos e agora, atimento para 0s sa0s. Quando tudo que impe- de o crescimento do crente é removi- do — ianorancia por um lado, e do- enga por outro — ele pode entao crescer para a maturidade e em maturidade, até che- gar & medida da estatura da plenitude de Cristo Aaui € 0 processo firme do crescimento que & im- portante — nao uma experiéncia marcada por crise. Nem ha uma interrupedo para a maturidade — ne- hum plano simples, de trés pontos que contorne 0 assunto sério da disciplina crista com sua luta e bata- Iha e esforco, com sua obediéncia didria, e morte dié- ria para 0 pecado. A parabola do Nosso Senhor da semente crescendo secretamente tem relevancia aqui primeiro a haste, depois a espiga, depois a espiga hela de ardos. Este € 0 modelo para o crescimento cristao positivo. Apenas através de uma submissao firme a disciplina da Palavra em toda a sua plenitude, como ela ministra para nds as riquezas de Cristo e como ela, firme e progressivamente nos domina, 6s desenvolvemios 05 tracos do carter. Por isso Cristo tein designaco ministros, profetas ¢ professores na igreia, para o aperfeicoamento dos santos, para trazé- los & maturidade nE le, Para Paulo, isto significa 0 conselho integral de Deus. 0 fato é que precisamos de toda a verdade de Deus para 0 nosso crescimento equilibrado — simplesmente esta ou aquela doutrina, esta ou aquela Enfase. Cristo ¢ feito para nds sabedoria, Justica, san- tificagdo e redengdo, e para conseguir um Cristo total in6s necessitamos da totalidade da Palavra. Ele é a vida da Palavra e toda ela tem poder santificador, edificador e doutrindrio. Por isso é que a énfase inde- vida sobre esta ou aquela “teoria” de santificacdo, esta ou aquela preocupacao com una “linha” particu. lar de interoretagao € geradora de confuséo com fre- ‘qléncia, para no dizer tensdo e stress na vida crista, E eu posso dizer que hd muitissimas “linhas”” sendo mascateadas hoje, todas sem excegao, relvindicando ser “a resposta”. Cristaes pobres, ansiosos, desorien- tados entram em seus rebanhas para encontrar uma resposta sempre iluséria (e algumas vezes a um consi- deravel custo financeiro, retirando-se a seguir, decep- cionados), quando o tempo todo suas reais necessida- des poderiam ser satisfeitas a longo prazo pela sub- isso de si mesmos, cam seriedade, ao ensino da Palavra, Precisamos do conselho de Deus completo para nos tornar 0 que deverfamos ser. Esta é a razao pela ual jamais poder haver qualquer substituto eficaz para um ministério biblico completo e verdadeiro cujo alcance estenda-se de Génesis a Apocalipse. E onde ‘quer que vocé tena um ministério assim, em que ne- Revista Os Puritanos inhuma concessao seja feita para atitudes carnais nos coragées cristaos, mas, pelo contrario, a pregacao expositiva seja levada a sério, os resultados so sem- pre os mesmos: nao somente um tal ministério produz frutos, mas frutos de qualidade. Ele constréi homens e mulheres de calibre e de cardter. Deus é fiel & Sua propria Palavra. Uma revista Presbiteriana dos Estados Unidos conta de um ministro que passou teés meses de sua li- cenca sabatica viajando pelo pais para observar 0 crescimento das igrejas. Tendo viajado 20.000 milhas (cerca de 32.000 Km) para este estudo “ele encontrou, entre outras coisas, que a pre- ‘gagdo que Deus esté usando para ajudar 0 povo € simplesmente 0 ensino da Biblia; no & a ora- toria fantasiosa, nao centrada em problemas, nao chela de truques. € principalmente um co- mentério corrente sobre as Escrituras, passan- do ao largo dos artificios homiléticos que de- vem acompanhar um sermao que usa a Biblia coma mero acessério... Estas igrejas ndo per- mitirao um sermao de vinte minutos © uma producdo teatral para substituir o sélido ensino biblico. Familias inteiras vém e se deleitam com 9s longos trabaihos. A confianga do prega- dor e do povo repousa na Palavra de Deus, per- mitindo a Deus realizar Sua obra através da Sua Palavra. A grande frealiéncia de algumas estas igrejasé explicada...pelo fato que 0 povo vira para uma igreja onde é alimentado pela Palavra de Deus’ COMPROMETENDO-SE COM 0 MINISTERIO EXPOSITIVO 0 outro aspecto da natureza @ bases do ministério expositive relaciona-se abordagem pratica a ele por ‘aqueles que se comprometem com ele. Deixe-me dizer no principio que ele nos enyolve em muitissimo estudo disciplinado e trabalho pesado basico no exercicio de “manejar bem a Palavra da verdade”, como Paulo coloca, e de ser “um obreiro que ndo tem de que se envergonhar" Trabalho Pesado Basico Por outro lado, existe o que eu chamo de “traba- Iho pesado basico” de dar atengao e descobrir o que dizem as Escrituras. Os reformadores persistiam na verdade que, o significado da palavra como foi dada originalmente, € o significado que conduz a mensa- ‘gem de Deus ao povo. Isto frequientemente necessita de muitissima escavagao, muitissimo estudo com a ajuda dos eruditos e criticos. Frequentemente tenho insistido com os estudantes da minha congregagao para se “especializarem’” nos comentdrias expositi- vos € exegéticos mais do que devocionais, na compra Revista Os Puritanos de livros teolégicos. Se a coisa centralmente impor- tante & 0 que a Escritura esta dizendo, entao é nosso dover dar a atengdo a isto primeiro que tudo e mais que isso. Tenho dito isto, contudo, temos de acrescentar ‘duas outras consideracdes. Uma é que os detalhes da introducdo histérica, tempo e lugar onde foi escrito, etc, ndo tem em vista ser a substancia da nossa pre- ‘gacdo. Verdadeiramente existem muitas publicacoes académicas e problemas envolvidos, digamos, no es- tudo de um evangelho, mas isto nao & a substancia da pregacdo. Mesmo que fosse, vocé poderia conseguir tudo num bom pulpito 0 que as pessoas podem conse- guir nos diciondrios. James Denney tem algumas coisas incisivas a dizer a este respeito. Comentando as palavras de Paulo em 2 Co 1:19,20, ele diz 0 Evangelho que € identificado com o Fitho de Deus, Jesus Cristo, esté descrito aqui como afir~ magdo poderosa. Nao é SIM e NAO uma men- sagem cheia de inconsisténcias ou amoiguida- des, uma proclamagao cuja sentido ninguém pode ter certeza de que entendeu. Nela (em auto significa “em Cristo”) © sempitemo Sim encontrou lugar, © presente perfeito (gegonen) indica que esta grande afirmagao chegou para nds e est conosco de uma vez para sempre. 0 ‘que era, e continua a ser no tempo de Paulo, & para o dia de hoje, E neste cardter positive, preciso, ineguivoco que a forga do Evangelho repousa. 0 que um homiem nao pode saber, no pode medi, ndo pode expressar, ele no pode pregar. A refutagao de erros populares, teorias, até mesmo sobre as Escrituras, néo & Evange- tho; A “economia” intelectual com a qual um homem habit numa posicao dibia usa lingua- gem a respeito da Biblia ou sua doutrina que para o simples significa SIM, e para o astuto qualifica enormemente 0 SIM, nao € Evange- iho, Nao ha forga em nenhuma destas coisas. Lidar com elas néo produz cardter simples, sin- cero, sélido, cristae, Quando elas se fixam na alma o resultado nao é aquele para 0 qual pode- rfamos fazer 0 apelo que Paulo faz aqui. Se, afinal de contas temos um Evangelho, € porque existem coisas que estao para nés acima de qualquer divida, verdades tao infaliveis que nao as podemos questionar, tao absolutas que no as podemos limitar, s&o tao nossa vida que ‘mexer com elas & tocar nosso préprio coragao. Ninguém que nao tenha afirmagées poderosas a respeito do Filho de Deus, Jesus Cristo — afir- ‘magies em que nao existe ambialidade e as ‘quais nenhun questionamento pode alcangar — tem o direito de pregar: Recuperando a Palavra = a 5 Ss Tanto assim que um estudo completo e disciplinado com comentarios, ndo quer dizer que seja uma ques- tao de relatar e passar adiante o que lemos nos co- mentarios. Ao contrario, destina-se a ser uma Palavra viva, uma Palavra que vem de Deus que, de forma justa, voc€ no pode conseguir nos comentarios. Isso jamais significara que nao devamos nos preocupar em lé-los. Em verdade, nds devemos! E quando o trabalho pesado € feito, ou esta sendo feito, que o estudo e a disciplina envolvides agem como uma espécie de cata- lisador, ¢ do estudo ali emerge a autntica Palavra do Senhor. Isto vem da estudo e do trabalho pesado e nao etd sem eles. Sir Thomas Taylor, antigo diretor da Universidade de Aberdeen, e crente devoto, costuma- va dizer: “As Escrituras ndo entregam seus tesouros & pesquisa casual” Por isso a pregacao expositiva jamais é uma mera exposigdo e exegese, mas estas e alguma coisa a mais: © ministério do Espirito Santo de Deus que s6 Ele pode torné-la alimento para a alma, para edificar os homens na {6 — nutrigao espiritual como resposta a oragio "0 pe nosso de cada dia dé-nos hoje”. Nao pademos, quando 0s homens nos pedem pao nos con- tentarmos em dar-lhes uma pedra De minha parte, através dos anos, e cada vez mais, & medida em que os anos passam, tenho encon- trado a necessidade de cavar cada vez mais profun- damente dentro das Escrituras, e colocar 0 aprendi- zado da igreja em dia, tanto quanto estiver em meu poder fazé-lo. Exigente como indubitavelmente 6, a pregacao expositiva traz mais e mais uma elasticida- e de mente e espirito e um senso de vivacidade a pregacao. Mas, vocé pode dizer “O tempo que isso leva!” Sim, realmente, porém € uma questao de prioridades, no €? Deixe-me lembré-lo da exortagao de Paulo a Timéteo: “Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer nao" (2 Tm 4:1-5). Ninguém pode deixar de entender a urgéncia de Paulo nas palavras com que ele ordena ao joven Ti- moteo Prega a Palavra”,e isto serve para nos lem- bar que 0 tempo ndo esta do nosso lado em nosso in- teresse de construir e estabelecer uma muralha desta natureza contra as marés de iegalidade e anarquismo que surgem nos dias de hoje. Ha uma necessidade dgritante da igreja recuperar sua {6 na Palavra divina 2 qual ela foi comissionada a pregar, recuperar tam bbém sua 6 na pregagdo como meio designado por Deus de comunicar 0 poder divino para as situagées hhumanas que desesperadamente dele necessitam. Esta claro para mim que, desde que esta éa arma acima de todas as outras e que é poderasa através de Deus para a demoligao de fortalezas, a pregacao da Palavra de- veria ser a prioridade suprema e urgente da igreja, E claro que, mesmo no contexto das necessidades cons- cientes do tempo, este nao 6 sempre 0 caso; claro 10 também que esta prioridade urgente tende muito pron- tamente a se tornar submersa numa multiddo de “ou- tras coisas” — muitas delas boas e valiosas, algumas nao tanto, mas todas da mesma forma mortalmente perigosas com relacdo ao tempo e atengao que elas conseguem roubar, “daquela coisa indispensavel”” ‘Tudo mais na vida da lgreja deveria ser subserviente & tarefa de pregar e ser seus auxiliares necessarios — aconselhamento espiritual eo trabalho pastoral Quando no ministério, devemos ter como nosso objeti- vyo que, seja o que for que sofra em nossa movimenta- da esfera de trabalho (e sempre haverd mais a fazer do que pode ser feito por um s6 homem), © tempo que € preciso ser dedicado a pregagao do coragao e da mente para 0 pélpito ndo sofrera, mas sera mantido ‘como sagrado. E 0 povo de Deus também, se ¢ sdbio, tomard cuidado para que suas exigéncias aos seus ministros nao sejam tais que eles tornem isto uma impossibilidade prética para si mesmos. Pois, a me- nos que eles 0 fagam, achardo que a efetivagao e a fertilidade praticas do seu trabalho se tornarao sujei- tasa lei de diminuigao, e emergiré um padrao no qual mais ¢ mais atividade produziré com cada vez menos vitalidade espiritual e seus frutos, até chegar a um ponto quando a verdadeira obra do Evangelho sera velegada a um lugar relativamente, se nao completa- mente, insignificante. Um Povo de Oragao Isto 6 algo que cristaos sabios e com discernimen- to podem fazer muitissimo para que acontega. Existe uma grande necessidade para um povo que ora, apoiar os que so chamados e ordenados para prega- rem a Palavra e, pela mesma intensidade e forca das suas oragdes, incita-los a um ministério verdadetra- mente paderoso e profético que perturbara na cons- ciéncia nacional e produziré um soerguimento na sociedade contempordnea do modo como foi conheci do na historia passada de nossa terra (Escécia). E nosso papel clamar a Deus para que este seja 0 tipo de ministério que Ele dé & sua igreja em nosso tempo. Nao pensemos que isto € pedir o impossivel. Pense sobre a Reforma na Escécia. Quando Deus restituiu sua Palavra ao povo, através do ministério de Knox e seus colegas, num perlodo de tempo comparativa mente curto uma teansformagda moral e espiritual tarnou-se um fato através de toda a nagao. Paderia acontecer de novo. E necessario que acontega de novo. Se nao acontecer novamente, a perspectiva para o futuro é realmente sombria NAO PERCAM A CONTINUAGAO NA PROXIMA EDIGAO, Traduzdo e publcado com permissio da Tyndale Press. 10 Rv. James Philip torou-seriristra da Holyrood Abbey Church of Scotland, Edinburg em 2958 e & amplamente conhecido por sua regacio e seu miistério de escritor. Revista Os Puritanos Thomas Boston em: Por Que os Homens Nao Créem no Evangelho? James A. Thomson disse: "Se uma pessoa realmente entendesse o evangelho, no vejo como poderia rejeité-lo”. Seu argue mento era que se apenas pudéssemos fazer 0 evangelho absolutamente claro, todo mundo, forgosamente, © aceitaria, 0 nosso pastor estava pregando uma série maravilhosa de sermaes em Romanos, tornando clara a justificagdo pela fé e a total suficiéncia da cruz de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Nés pensamos que, se apenas este evangelho salvador de Romanos 1.16 pudesse ser colocado exatamente tdo claro para todos os homens, todo coragao receberia alearemente o evangelho. Um quarto de século mais tarde, pela araca de Deus, meu pai e eu estavamos simplesmente ligados & cruz. 0 que se tornou dolorosamente claro para mim & gue, néo importa quao claramente o evangelho seja apresen tado, 05 homens o rejeitarae. Isto nos leva a fazer 2 pergunta: Por que os homens no créem no Senhor Jesus Cristo e sao salvos? Naturalmente hé uma resposta e hé wma centena de respostas. Como alguém que aceita e ama as doutrinas calvinistas da graca e da soberania de Deus, eu sei que existe uma resposta, Nao aprouve ao Pai outorgar-Ihes a fé salvadora de Deus (Mt 11.25). Se vocé nao cré & porque Deus nao o elegeu. Existe também uma centena de respostas, que vao desde a tradigao religiosa até as objecoes familiares, a obra enganadora de Satands, ao duvidar da Palavra de Deus Contudo, nao estamos aqui para verificar estas razdes, Estamos perguntando qual é 2 cegueira e perversi- dade precisa do homem pecador que o leva a rejeitar 0 evangelho de Cristo. Vamos trazer a resposta com as palavras de Thomas Boston, 0 teblogo escocés do século dezoito. As notas seguintes sao tiradas do sermao de Boston em Isafas 61.1 (Works, vol. 9, pp. 540-541), Thomas Boston declara que a rejeigdo do homem ao evangetho pode ser investigavel chegando a certas fra- quezas pecaminosas. Citaremos a principal andlise de Thomas Boston, frase por frase, ¢ depois adicionaremos rnossos préprios comentarios explicativos F: ‘ocasionalmente no ano em que o Senhor misericordiosamente salvou-nos 2 ambos, que meu pai me REJEIGAO AO EVANGELHO — FRAQUEZAS PECAMINOSAS 1) “Wenhum senso exato da miséria espiritual”. Provérbios 27.7 - A alma farta pisa o favo de met. Esta € a velha fraqueza Laodicense (Ap 3.17). Um homem diz: Eu nao percebo qualquer mal, caréncia ou falha na minha vida. Tenho uma boa educacao; alcancei sucesso profissional; meu casamento e meus filhos So étimos; ‘minha vida pessoal é moral e integra. Tenho respelto pela igreja, creio em Deus, mas no vejo qualquer neces sidade predominante na minha vida — nada que me obrigue a clamar a Jesus Cristo para que me salve”. Este € 0 homem que ouve sobre o tesouro escondido no campo. Ele contesta: “Sim, muitas pessoas podem reaimen- te usar este tesouro e tenho certeza de que sera bom para eles, mas de qualquer mado, muito obrigado, eu ia tenho o meu préprio tesouro” 2) “ Nenhuma visdo real e senso de sua prdpria iniquidade". Ele diz: “Nao sou nenfum anjo, néo sou per- feito, tenho agido erradamente, chame isso pecado se quiser, mas...". Hd sempre aquele "mas'. Muitos livretes evangélicos prescrevem que fagamos uma pergunta, como, “Voce admite ter pecado?”. A resposta usual é: “Naturalmente que sim’. HA, contude, sempre o5 dedos cruzados, ou uma ressalva. “Depende do que vocé quer dizer por pecado; nao sou nenhum assassino serial. Nao sou do partido nazista; no sou um pervertido, Assim, se isso quer dizer que tenho sido menos do que deveria, sim. Mas se quer dizer que sou algum tipo de pessoa denravada, entao, nao. Certamente que Deus e 2 religiao poderiam fazer-me uma pessoa melhar, e todos nés precisamos disso. Mas eu nao me considera um pecador decaldo, com uma vida corrupta, cuja

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