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IESF - INSTITUTO EDUCACIONAL SIGMUND FREUD

CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE

INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE

PROFº JOSÉ GOMES DA SILVA NETO

Cachoeiro de Itapemirim- E.S.


“ A Psicanálise é , em
essência,
Uma cura pelo AMOR.”

Sigmund Freud
1-INTRODUÇÃO
“A inteligência é o único meio que possuímos
para dominar os nossos instintos.”
Sigmund Freud

A construção da Psicanálise se relaciona com a própria história de


Freud. O autor percebeu em elementos a sua volta as bases para teorizar
sobre o ser humano e o sofrimento psíquico, que resultaram na
Psicanálise.
Sigmund Freud tentou entender a gênese da histeria e se esbarrou na
sexualidade humana e a partir disso criou o conceito de inconsciente,
derivando daí formulações importantes, como as duas tópicas que
explicam a constituição do aparelho psíquico humano, o conceito de
Libido, o Complexo de Édipo e a Teoria da Incompletude.
A teoria formulada por Sigmund Freud no início do século XX é ampla
e complexa. O autor começa seus estudos ainda no fim do século XIX, mas
publica sua primeira obra considerada psicanalítica, “A Interpretação dos
Sonhos”, em 1900. Assim, o desenvolvimento de tal teoria se relaciona ao
próprio contexto do início do século XX, em que ocorreram diversas
transformações em todo o mundo.
Ao tentar entender o sofrimento psíquico de pacientes diagnosticadas
com histeria, Freud acaba por perceber e construir diversos conceitos
ligados à constituição do psiquismo humano.
Freud, como neurologista, começaria uma minuciosa pesquisa que o
levaria à constituição de um novo campo do conhecimento no qual o
sintoma adquiriria um sentido bastante diferenciado da doença,
intrinsecamente ligado às funções de um constructo teórico que ele
chamaria de Aparelho Psíquico. Com a descoberta de processos
inconscientes que agem sobre o sujeito sem que este o saiba e limitam a
sua liberdade, a psicanálise encontra-se em perpétua investigação, e o seu
campo de estudo vê os seus limites se ampliarem cada vez mais,
ultrapassando a fronteira das desordens da saúde mental, da conduta e da
saúde somática, para inserir-se em um campo de diálogo interdisciplinar.
Conceitos complexos que são desenvolvidos nos quarenta anos de
história da Psicanálise, desenvolvida por Freud, e ainda em mais de cem
anos de Psicanálise em que outros autores teorizam a partir dos
constructos freudianos.
Este início não substitui a leitura do próprio autor, pois o aprendizado
diretamente com o Psicanalista é mais rico do que qualquer revisão
bibliográfica.
O mesmo questionamento que inaugurou a obra freudiana está
presente no projeto psicanalítico, marcado pelo desejo de identificar a
origem do sofrimento humano, e de renovar, incessantemente, a tentativa
de dizer o indizível. À Freud devemos a dissolução, teórica e prática, das
fronteiras entre o normal e o patológico. Obras como A Interpretação dos
Sonhos e Psicopatologia da Vida Cotidiana continuam marcando gerações
de pensadores.

Freud trouxe ao mundo a perspectiva do analista, que auxilia o


indivíduo em sua autodescoberta.
Você será introduzido aos principais conceitos da Psicanálise
Freudiana de maneira objetiva, exemplificada e com uma linguagem
apropriada.
A Psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud, revolucionou o
tratamento de humanos.

“O valor da vida não pode ser avaliado”.


Nietzsche
2- QUEM FOI SIGMUND FREUD ?

BIOGRAFIA

Sigmund Freud (nascido Sigismund


Schlomo Freud; em Freiberg, Moravia, 6
de maio de 1856 – Londres, 23 de
setembro de 1939) foi um
médico neurologista criador
da Psicanálise. Freud nasceu em uma
família judaica, em Freiberg, na época
pertencente ao Império
Austríaco (atualmente, a localidade é
denominada Příbor, e pertence
à República Checa).

PRIMEIROS ANOS E EDUCAÇÃO

Sigmund Freud (seu primeiro nome de nascimento era "Sigismund",


mas o mudou em 1878) era filho de pais judeus. Seus pais eram da Galícia,
uma província histórica que fica entre a atual Ucrânia Ocidental e o sudeste
da Polônia. Seu pai, Jacob Freud (1815–1896), um comerciante de lã, teve
dois filhos, Emanuel (1833–1914) e Philipp (1836–1911), de seu primeiro
casamento. A família de Jacob era de judeus hassídicos e, embora o próprio
Jacob tenha se afastado da tradição, ele ficou conhecido por seu estudo
da Torá. Ele e a mãe de Freud, Amalia Nathansohn, que era 20 anos mais
jovem e sua terceira esposa, foram casados pelo rabino Isaac Noah
Mannheimer em 29 de julho de 1855.
Em função de problemas financeiros, Jacob e Amalia mudaram-se
para Leipzig em 1859 e em 1860 para Viena, onde se estabeleceram com os
filhos Sigmund e Anna. Os meios-irmãos de Freud mudaram-se
para Manchester. Em Viena, a família Freud cresceu até 1866, com o
nascimento de Rosa, Marie, Adolfine, Pauline e Alexander. Embora tenha
passado boa parte da vida em Viena, Freud revelou que nunca se adaptou
à cidade e que sempre sentia saudades de Freiberg. Enquanto criança e
adolescente, Freud nutriu mais sentimentos
amorosos pela mãe do que pelo pai, que o
considerava "fraco" e "covarde". A
compreensão desses sentimentos tornar-se-ia
a base para a futura formulação do Complexo
de Édipo.
Placa memorial localizada onde Freud
nasceu em Příbor, na República Tcheca

Os primeiros anos de Freud são pouco


conhecidos, já que ele destruiu seus escritos
pessoais em duas ocasiões: a primeira
em 1885 e novamente em 1894. Além disso,
seus escritos posteriores foram protegidos
cuidadosamente nos Arquivos de Sigmund Freud, aos quais só tinham
acesso Ernest Jones (seu biógrafo oficial) e uns poucos membros do
círculo da psicanálise. O trabalho de Jeffrey Moussaieff Masson pôs
alguma luz sobre a natureza do material oculto. .
Freud ingressou na Universidade de Viena aos 17 anos. Ele planejava
estudar Direito, mas as doutrinas de Darwin e seu interesse por ciências
naturais o impulsionaram a cursar medicina, onde seus estudos
incluíram filosofia com o professor Franz Brentano, fisiologia com o
professor Ernst Brücke, e zoologia com o professor darwinista Carl
Friedrich Claus. Em 1876, Freud passou quatro semanas na estação
zoológica de Claus em Trieste, dissecando o sistema reprodutor
masculino de aproximadamente quatrocentas enguias. Na época, pouco se
sabia sobre a reprodução de enguias, e a pesquisa de Freud objetivava
verificar a afirmação do pesquisador polonês Simone de Syrski, a qual
postulava a existência de gônadas em enguias. No fim, Freud confirmou
parcial e inconclusivamente a asserção de Syrski.
Entre 1876 e 1882, Freud trabalhou no laboratório
de fisiologia de Ernst Brücke, o qual se tornou um grande mentor
intelectual para ele, de modo que seu quarto filho se chamou Ernst em sua
homenagem. Com Brücke, Freud entra em contato com a linha fisicalista
da fisiologia. O interesse de Brücke não era apenas descobrir
as estruturas de órgãos ou células particulares, mas sim, suas funções.
Dentre as atribuições de Freud, nesta época, estavam o estudo
da anatomia e da histologia do cérebro humano. Durante os estudos,
identificou várias semelhanças entre a estrutura cerebral humana e a
de répteis, o que o remete ao então recente estudo de Charles
Darwin sobre a evolução das espécies e à discussão da "superioridade"
dos seres humanos sobre outras espécies. No laboratório, Freud
conheceu Ernst von Fleischl-Marxow e Josef Breuer, futuros amigos que
tiveram impacto, respectivamente, no estudo da cocaína e na
formação psicanalítica de Sigmund.
INÍCIO DA CARREIRA E CASAMENTO

Embora tenha se formado em 1881, Freud continuou com suas


pesquisas no laboratório de Brücke. No ano seguinte, conheceu Martha
Bernays numa visita que fez à casa de sua irmã e acabou se apaixonando.
Já em 17 de junho de 1882 Martha e Freud noivaram. Cinco anos mais
nova, Martha era oriunda de uma família judaica ortodoxa, enquanto que
Freud era um descrente que tentou separá-la de suas crenças religiosas.
Freud também se mostrou austero quanto ao papel que Martha exerceria
em sua casa depois de casados: embora pensasse que, em algum
momento futuro, a lei concederia às mulheres os direitos até então
negados, também acreditava, a exemplo de um burguês de sua época, que
a mulher deveria cumprir seu papel com as tarefas doméstica e familiar.

O baixo salário e as poucas perspectivas de carreira


na pesquisa científica fizeram-no abandonar o laboratório e a começar a
trabalhar no Hospital Geral, o principal hospital de Viena, passando por
vários departamentos como "cirurgia, medicina de doenças internas,
psiquiatria, dermatologia, doenças nervosas e oftalmologia
sucessivamente". Começou no cargo de Aspirant (assistente clínico) e
alcançou o cargo de Privatdozent (conferencista) em julho de 1884, um
cargo que oferecia prestígio mas não salário.

Em 1885, Freud solicitou uma bolsa de viagem e licença do hospital


por seis meses. Viajou para a França, onde trabalhou com Jean-Martin
Charcot, um respeitável psiquiatra do hospital psiquiátrico Saltpêtrière que
estudava a histeria. Charcot curava paralisias histéricas através
da hipnose, o que impressionou Freud e contribuiu ainda mais para
Charcot se tornar um modelo para o médico vienense. Freud aperfeiçoou
suas técnicas em hipnose em 1889 ao visitar uma escola rival de Charcot,
localizada em Nancy, que afirmava ser possível realizar a hipnose em
qualquer pessoa, independentemente de ser histérica ou não. Assim como
fez com Brücke, Freud rendeu algumas homenagens a Charcot ao nomear
um de seus filhos de Jean-Martin, além de traduzir para o alemão suas
conferências.

De volta ao Hospital Geral e entusiasmado pelos estudos de Charcot,


Freud passa a atender, na maior parte, jovens senhoras judias que sofriam
de um conjunto de sintomas aparentemente neurológicos que
compreendiam paralisia, cegueira parcial, alucinações, perda de controle
motor e que não podiam ser diagnosticados com exames. O tratamento
mais eficaz para tal doença incluía, na época, massagem, terapia de
repouso e hipnose.

Em 14 de setembro de 1886, em Hamburgo, Freud casou-se com


Martha Bernays com a ajuda financeira de alguns amigos mais abastados,
dentre eles Josef Breuer, um colega mais velho da faculdade de medicina.
Foi com as discussões de casos clínicos
com Breuer que surgiram as ideias que
culminaram com a publicação dos primeiros
artigos sobre a Psicanálise. O primeiro caso
clínico relatado deve-se a Breuer e descreve o
tratamento dado a uma paciente (Bertha
Pappenheim, chamada de "Anna O." no livro),
que demonstrava vários sintomas clássicos
de histeria. O método de tratamento consistia
na chamada "cura pela fala" ou "cura
catártica", na qual o ou a paciente discute
sobre as suas associações com cada sintoma
e, com isso, os faz desaparecer. Esta técnica
tornou-se o centro das técnicas de Freud, que
também acreditava que as memórias ocultas ou "reprimidas" nas quais
baseavam-se os sintomas de histeria eram sempre de natureza sexual.
Breuer não concordava com Freud neste último ponto, o que levou à
separação entre eles logo após a publicação dos casos clínicos.
Na verdade, inicialmente, a classe médica em geral acaba por
marginalizar as ideias de Freud; seu único confidente durante esta época
é o médico Wilhelm Fliess. Depois que o pai de Freud falece, em outubro
de 1896, segundo as cartas recebidas por Fliess, Freud, naquele período,
dedica-se a anotar e analisar seus próprios sonhos, remetendo-os à sua
própria infância e, no processo, determinando as raízes de suas
próprias neuroses. Tais anotações tornam-se a fonte para a obra A
Interpretação dos Sonhos. Durante o curso desta autoanálise, Freud chega
à conclusão de que seus próprios problemas eram devidos a uma atração
por sua mãe e a uma hostilidade em relação a seu pai. É o famoso
"Complexo de Édipo", que se torna o coração da teoria de Freud sobre a
origem da neurose em todos os seus pacientes.
Nos primeiros anos do século XX, são publicadas suas obras A
Interpretação dos Sonhos e A psicopatologia da vida cotidiana. Nesta
época, Freud já não mantinha mais contato nem com Josef Breuer, nem
com Wilhelm Fliess. No início, as tiragens das obras não animavam Freud,
mas logo médicos de vários lugares — Eugen Bleuler, Carl Jung, Karl
Abraham, Ernest Jones, Sandor Ferenczi — mostram respaldo às suas
ideias e passam a compor o Movimento Psicanalítico. O público geral
passou também a se interessar na prática da análise psicológica,
principalmente entre círculos de educadores e até mesmo teólogos, o que
foi amplamente divulgado, dentre outros, pelo clérigo protestante e
colaborador freudiano Oskar Pfister, contribuindo para o avanço da análise
leiga, defendida por Freud.
Por sua vida inteira, Freud teve uma posição financeira modesta. Josef
Breuer foi, no início, um aliado de Freud em suas ideias e um aliado
financeiro.
Freud criou o termo "Psicanálise" para designar um método para
investigar os processos inconscientes e de outro modo inacessíveis
do psiquismo.

Nos tempos do nazismo, Freud perdeu quatro das cinco irmãs


nos campos de concentração: Regine (Rosa) em Auschwitz, Mitzi (Marie)
em Theresienstadt, Dolfi (Esther Adolfine) e Paula (Pauline) em Treblinka.
Embora Maria Bonaparte tenha tentado tirá-las do país, elas foram
impedidas de sair de Viena pelas autoridades nazistas.

Morou em Viena até 1938, quando, após a anexação da Áustria à


Alemanha nazista, em razão de sua etnia judaica, refugiou-se na Inglaterra,
onde já se encontrava parte de sua família.

Freud e Martha tiveram seis filhos: Mathilde, nascida em 1887, Jean-


Martin, nascido em 1889, Olivier, nascido em 1891, Ernst, nascido em 1892,
Sophie, nascida em 1893 e Anna, nascida em 1895. Um deles, Martin Freud,
escreveu uma memória intitulada Freud: Homem e Pai, na qual descreve o
pai como um homem que trabalhava extremamente, por longas horas, mas
que adorava ficar com suas crianças durante as férias de verão. Anna
Freud, filha de Freud, foi também uma psicanalista destacada,
particularmente no campo do tratamento de crianças e do desenvolvimento
psicológico. Sigmund Freud foi avô do pintor Lucian Freud e do ator e
escritor Clement Freud, e bisavô da jornalista Emma Freud, da desenhista
de moda Bella Freud e do relações públicas Matthew Freud.

MORTE

Freud morreu de câncer no palato aos 83 anos de idade (passou por


trinta e três cirurgias). Supõe-se que tenha morrido de uma dose excessiva
de morfina. Freud sentia muita dor, e segundo a história contada, ele teria
dito ao médico que lhe aplicasse uma dose excessiva de morfina para
terminar com o sofrimento, o que seria eutanásia. Encontra-se sepultado
no crematório de Golders Green, no bairro de Golders Green, em Londres,
na Inglaterra.
Freud iniciou seus estudos pela utilização da técnica da hipnose no
tratamento de pacientes com histeria, como forma de acesso aos seus
conteúdos mentais. Ao observar a melhora dos pacientes tratados pelo
médico francês Charcot, elaborou a hipótese de que a causa da histeria
era psicológica, e não orgânica. Essa hipótese serviu de base para outros
conceitos desenvolvidos por Freud, como o do inconsciente.
Freud também é conhecido por suas teorias do Complexo de Édipo e
da Repressão Psicológica e por criar a utilização clínica da Psicanálise
como tratamento das psicopatologias, através da escuta do paciente.
Freud acreditava que o desejo sexual era a energia motivacional primária
da vida humana. Sua obra fez surgir uma nova compreensão do ser
humano, como um animal dotado de razão imperfeita e influenciado por
seus desejos e sentimentos. Segundo Freud, a contradição entre esses
impulsos e a vida em sociedade gera, no ser humano, um tormento
psíquico.
Freud tinha uma visão biopsicossocial do ser humano. Fatos como a
descrição de pacientes curados através do diálogo por Josef Breuer e a
morte do colega Ernst von Fleischl-Marxow por dose
excessiva do antidepressivo da época, a cocaína, levaram-no ao abandono
das técnicas de hipnose e de drogas para criar um novo método: a cura
pela fala, ou seja, a Psicanálise, que utilizava a interpretação de sonhos e
a livre associação como vias de acesso ao inconsciente.
Suas teorias e seus tratamentos foram controversos
na Viena do século XIX, e continuam a ser muito debatidos hoje. Sua teoria
é de grande influência na psicologia atual e segue se desenvolvendo
através de estudos e prática clínica na área, com psicanalistas que vieram
depois dele. Estes criaram suas próprias teorias, mas sempre com base
nos pressupostos intrínsecos colocados por Freud, como a noção de
inconsciente e transferência.
3- OBRAS SELECIONADAS DE FREUD
“O homem enérgico e bem-sucedido é aquele
que consegue transmutar as fantasias do desejo em realidades.”
Sigmund Freud

Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos:


1893 ES, II
comunicação preliminar (Breuer e Freud)

1894 As Neuropsicoses de defesa ES, III

1895 Projeto para uma psicologia científica ES, I

1895 Estudos sobre a histeria (Freud e Breuer) ES, II

1896 A etiologia da histeria ES, III

1898 A sexualidade na etiologia das neuroses ES, III

1899 Lembranças encobridoras ES, III

1900 A interpretação dos sonhos ES,IV-V

1901 Sobre os sonhos ES, V

1901 Sobre a psicopatologia da vida cotidiana ES, VI

1905 Três ensaios sobre a teoria da sexualidade ES, VII

1905 Os chistes e sua relação com o inconsciente ES, VIII

1907 Delírios e sonhos na "Gradiva" de Jensen ES, IX

1907 O esclarecimento sexual das crianças ES, IX

1908 Caráter e erotismo anal ES, IX

1908 Sobre as teorias sexuais das crianças ES, IX

1908 Moral sexual "civilizada" e doença nervosa moderna ES, IX

1908 Escritores criativos e devaneio ES, IX

Análise de uma fobia em um menino de cinco anos (O Pequeno


1909 ES, X
Hans)
Notas sobre um caso de neurose obsessiva (O Homem dos
1909 ES, X
Ratos)

1910 Cinco Lições de Psicanálise ES, XI

1910 Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância ES, XI

1910 A significação antitética das palavras primitivas ES, XI

1910 Um tipo especial de escolha de objeto feita pelos homens ES, XI

Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um


1911 ES, XII
caso de paranóia (O Caso Schreber)

1912 Sobre a tendência universal à depreciação na esfera do amor ES, XI

1913 Totem and Tabu ES, XIII

1914 O Moisés de Michelangelo ES, XIII

1914 A história do movimento psicanalítico ES, XIV

1915 Reflexões para os tempos de guerra e morte ES, XIV

1915 Os instintos e suas vicissitudes ES, XIV

1915 Repressão ES, XIV

1915 O inconsciente ES, XIV

1915-17 Conferências introdutórias sobre Psicanálise ES,XV-XVI

1917 Luto e Melancolia ES, XIV

1919 O 'estranho' ES, XVII

1920 A psicogênese de um caso de homossexualismo numa mulher ES, XVIII

1920 Além do princípio do prazer ES, XVIII

1921 Psicologia de grupo e a análise do ego (*) ES, XVIII

1923 O ego e o id ES, XIX

1923 Uma neurose demoníaca do século XVII ES, XIX

1924 O problema econômico do masoquismo ES, XIX


1925 Uma nota sobre o 'bloco mágico' ES, XIX

1925 A negativa ES, XIX

Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica


1925 ES, XIX
entre os sexos

1925 Um estudo autobiográfico ES, XX

1926 Inibições, sintomas e angústia ES, XX

1926 A questão da análise leiga ES, XX

1927 O futuro de uma ilusão ES, XXI

1928 Dostoevsky e o Parricídio ES, XXI

1930 O mal-estar na civilização ES, XXI

1931 Tipos libidinais ES, XXI

1931 Sexualidade feminina ES, XXI

1933 Novas conferências introdutórias sobre psicanálise ES, XXII

1933 Por que a guerra? ES, XXII

1936 Um distúrbio de memória na Acrópole ES, XXII

1937 Análise terminável e interminável ES, XXIII

1937 Construções em análise ES, XXIII

1939 Moisés e o monoteísmo ES, XXIII

1940 Esboço de Psicanálise ES, XXIII

1940 Algumas lições elementares de psicanálise ES, XXIII

Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas


de Sigmund Freud – 24 volumes, Imago Ed., RJ, 1969.
4- PSICANÁLISE

CONCEITUAÇÃO

No seu trabalho “Dois artigos de enciclopédia: psicanálise e teoria da


libido”, em 1923, Freud vai definir a Psicanálise como:
1- Um procedimento de INVESTIGAÇÃO dos processos mentais,
2- Um método de TRATAMENTO e
3- Uma DISCIPLINA CIENTÍFICA.

No trabalho “Podem os leigos exercer psicanálise?”, em 1926, ele


completa a definição afirmando que “deve existir uma UNIÃO entre CURAR
e INVESTIGAR”.

O que significa a definição de psicanálise apresentada por


Freud?
Psicanálise é um ramo clínico teórico que se ocupa em explicar o
funcionamento da mente humana, ajudando a tratar distúrbios mentais e
neuroses. ... De acordo com Freud, grande parte dos processos psíquicos
da mente humana estão em estado de inconsciência, sendo estes
dominados pelos desejos sexuais.

O método psicanalítico foi uma terapia criada e, primeiramente,


empregada em casos de neurose e de psicose. Ademais, Freud também
usou seu método para tratar a histeria e, consequentemente, outras
doenças psíquicas. Atualmente, a psicanálise é usada para tratar diversas
doenças de ordem psíquica. Assim, sendo considerada uma ciência fora
da psicologia.
Com relação à sua metodologia, esse método pode ser entendido como
embasado na interpretação dos conteúdos inconscientes de palavras,
ações e produções imaginárias do paciente.

OS NÍVEIS DA PSICANÁLISE

Para se compreender melhor a Psicanálise, deve-se entender que ela se


divide em três níveis. Os dois primeiros níveis são parte do método
psicanalítico e o terceiro nível é o conjunto de suas teorias.

O Primeiro nível é baseado num método de investigação. Método que


consiste em evidenciar o significado inconsciente das palavras, das ações
e das produções imaginárias do paciente. Essas produções imaginárias
podem ser entendidas como os sonhos, as fantasias e os delírios da
pessoa. Este método interpretativo baseia-se nas associações livres do
paciente, as quais garantem que essa interpretação possa ser validada.
Esse nível é a base do método psicanalítico.
O Segundo nível é tipificado por meio do primeiro nível. É um método
que se baseia na investigação realizada com o paciente e no que foi
especificado por essa investigação. Trata-se de uma interpretação
controlada da resistência, da transferência e do desejo. É a esse nível que
está diretamente ligado o tratamento psicanalítico. Ou à denominada
análise do paciente, processo pelo qual se busca tratar suas doenças
psíquicas.
O Terceiro nível é um conjunto de teorias psicanalíticas e
psicopatológicas. Por ele, são sistematizados os dados introduzidos pelo
método psicanalítico. Freud, para chegar nessa metodologia, abandonou o
uso da catarse por meio da hipnose e da sugestão.
Então, Freud passou a fazer uma análise psíquica de seus pacientes
buscando ouvi-los, deixando-os falar livremente. E assim, usou um novo
termo, do qual se originou o termo psicanálise.
De acordo com a história, esse termo foi primeiramente usado em um
artigo sobre etiologia. Freud usou o termo “psycho-analyse”, em francês,
idioma no qual foi publicado o artigo. E assim foi dando origem a essa nova
ciência.

O MÉTODO PSICANALÍTICO

Ao compreender a psicanálise como uma área da ciência à parte da


psicologia, vê-se que o modelo psicanalítico e o emprego desse termo
podem ter mais de um significado. Isto é, pode ser tanto o método
terapêutico usado para tratar doenças psíquicas, quanto o procedimento
de investigação em que esse método se baseia.
Pode ser entendida como o acúmulo sistemático de conhecimentos
sobre a mente humana.
O método psicanalítico é um procedimento para a investigação dos
processos mentais. Essa investigação busca pensamentos, sentimentos,
emoções, fantasias e sonhos por meio da análise do indivíduo. Esses
processos mentais eram, praticamente, inacessíveis de outras formas
antes do surgimento da psicanálise e do método psicanalítico.
Esse método se baseia na investigação da pessoa, buscando entender
o que existe em seu inconsciente. Assim, identificando seus traumas,
emoções, recalques, sentimentos etc. Dessa forma, pode-se usar essa
terapia para se tratar neuroses, histeria, psicoses e doenças ou problemas
psíquicos. O método de investigação busca evidenciar o significado
inconsciente das palavras, atos e produções imaginárias.
Ao analisarmos a psicanálise e sua repercussão na época em que foi
criada, vemos que ela causou muita polêmica. Ela também acabou criando
muitas divergências entre os próprios seguidores de Freud, isto é, entre os
primeiros psicanalistas. A psicanálise, assim, acabou se dividindo em
várias doutrinas diferentes.

QUEM INVESTIGA E INTERPRETA?

Essa interpretação é realizada pelo psicanalista ou analista. Esse analista


funcionará como um ESPELHO.
Na investigação que levará a interpretação, o analista tira da mente toda e
qualquer influência pessoal, qualquer escrúpulo. Ele vai funcionar como um
investigador, um policial.

QUAL É O GRANDE OBJETIVO DA PSICANÁLISE?

Tornar o INCONSCIENTE, em CONSCIENTE.

4.1- PSICANÁLISE COMO CIÊNCIA

Freud esteve com um pé nas concepções positivas de sua época, não


só da medicina, mas também da física e química de cujos princípios ele
sofreu uma enorme influência na elaboração de suas teorias psicanalíticas.
O outro pé ele apoiou num campo que até então era totalmente
desconhecido e desdenhado, criando e propondo a existência de uma
dinâmica inconsciente, com leis e fenômenos específicos, alguns
explicáveis pelas suas novas teorias, e outros a serem explicados e
comprovados a partir de cogitações metapsicologias.
De uma forma extremamente resumida e esquemática, podemos dividir
a evolução histórica da psicanálise, centrada exclusivamente nas
contribuições originais de Freud, nos cinco seguinte estágio, a seguir
descritos:
1)- TEORIA DO TRAUMA- Em sua origem grega, a
palavra trauma remete a ferida. Na psicanálise, a concepção de trauma está
referida a experiências precoces e não a fatos atuais, uma vez que a marca
do sujeito se confunde com o infantil. Em um texto tardio de Freud, Moisés
y la religión monoteísta, encontramos: "Chamamos traumas a essas
impressões de precoce vivência, logo esquecidas, às quais atribuímos tão
grande significação para a etiologia das neuroses" (Freud,1939/1986a, p.
70). Nesse contexto, os traumas "são vivências no corpo próprio ou bem
percepções sensoriais, o mais das vezes do visto e ouvido, vale dizer,
lembranças ou impressões" . Dentro dessa perspectiva, é a suposição de
que as vivências traumáticas se encontram na base da formação dos
sintomas que autoriza a pensar em um tratamento do trauma: "foi preciso
render-se à evidência e reconhecer que na raiz de toda a formação de
sintoma se achavam impressões traumáticas procedentes da vida sexual
precoce" (Freud, 1923/1989c, p. 239). Essa relação entre os traumas e os
sintomas é retomada no texto sobre o monoteísmo, supracitado: "(os
sintomas) são consequências de certas vivências e impressões que
reconhecemos como traumas etiológicos" (Freud, 1939/1986a, p. 71).

2)- TEORIA TOPOGRÁFICA- se refere ao modo como Freud


compreende a estrutura da Psique. Justifica-se que aquilo que está no
consciente não é o idêntico àquilo que está no inconsciente, então a
finalidade está em trazer para a consciência o que está reprimido no
inconsciente.

Freud descreveu a mente como um


iceberg, sendo, a parte visível
correspondente a Consciência. O Pré-
consciente é a parte da mente que ora
está submersa, ora toca superfície da
consciência. Por fim, há uma parte oculta,
que abriga os desejos e experiências
reprimidas.

CONSCIENTE (Cs)– Parte capaz de ter percepção dos sentimentos,


pensamentos, lembranças e fantasias do momento. É a união de todos os
fenômenos que estão disponíveis para o indivíduo e como ele percebe o
mundo exterior. Quando o indivíduo passa por uma dificuldade, trauma,
alegria ou superação, dentre outros, o fato cria uma representação
inconsciente e pode se tornar pré-consciente e, assim sendo, poderá ser
acessada quando o indivíduo se concentra naquilo que lhe é favorável e
desejável recordar na consciência.
Freud tratava o sistema consciente de duas formas distintas. Na
primeira teoria, o Consciente é apenas parte de um todo onde a maioria dos
processos mentais advêm dos processos psíquicos inconscientes. E a
segunda teoria defende que o Consciente é relevante e pode não ser pois
há de se levar em conta as percepções sensoriais do indivíduo e essas
percepções compõem o Consciente.
Freud, com a Teoria do Modelo Topográfico quis “…tornar possível a
complicação do funcionamento psíquico, decompondo este
funcionamento e atribuindo cada função em especial às diversas partes do
aparelho” (Laplanche e Pontalis, 199

PRÉ-CONSCIENTE (Pcs)- Relaciona-se aos conteúdos que podem


“facilmente” chegar à consciência. O pré-consciente está localizado entre
o consciente e o inconsciente e devido à sua localização, algumas
informações que estão ali armazenadas como pensamentos, experiências,
ideias, planejamentos, podem ser acessadas com um pouco de esforço da
pessoa. Mas assim como o Inconsciente (Ics) tem sua maneira de se
expressar, o Pré-Consciente também possui uma linguagem própria que é
formada através da percepção da realidade e a junção de elementos vindos
do inconsciente.

INCONSCIENTE(Ics) - Refere-se ao material não disponível à consciência


ou escrutínio (exame minucioso) do indivíduo. O inconsciente diz respeito
aos efeitos e temáticas que não são conscientes, mas, ao mesmo tempo, é
necessário perceber a diferença dos conteúdos pois, a linguagem que o
inconsciente usa para se comunicar com o consciente é empírico, uma vez
que essa linguagem se dá através de atos falhos, sonhos, chistes,
projeções, associações livres, dentre outras.
O inconsciente não é apenas o contrário do Consciente como o próprio
Freud comentou. Também é vago dizer que o inconsciente é algo
modulado. Então, considera-se o inconsciente como a fase preparatória
para o consciente e como Freud descreveu: o psiquismo real, pois a maior
parte da vida psíquica mora no inconsciente.

3)- TEORIA ESTRUTURAL -Inconformado com a limitação de sua


primeira tópica por não conseguir inserir nela as instâncias psíquicas foi
então que Freud sintetizou a teoria da segunda tópica, denominada modelo
estrutural ou dinâmico.

Esse modelo sugere que o funcionamento do aparelho psíquico seja


dividido em instâncias psíquicas chamadas de Id, Ego e Superego e que,
nesse modelo, haja interação constante entre as estruturas e assim
conseguisse explicar os fenômenos psíquicos.
O ID -é formado por instintos, desejos (inconscientes), pulsões, impulsos,
regido segundo o princípio do prazer e por isso está sempre em busca de
ter prazer e consequentemente, evitar a dor (ou o desprazer) fazendo com
que ele, o Id, seja a fonte de energia psíquica. O ID da a motivação que o
indivíduo tem para realizar algo, é sugerido que advém do Id através da
energia psíquica dele, mas, é necessário esclarecer que o Id não faz planos,
ele busca solução imediata para as tensões, não conhece inibição e não
aceita frustrações.

Algumas características do Id: Não segue lógica, juízo, valores, moral


nem ética. É irracional, impulsivo, exigente, antissocial e se orienta pela
busca do prazer. O Id é totalmente inconsciente.

EGO - Para Freud o Ego é a instância que separa o Id do Superego. No


sentido figurado, diz-se que o Ego é desenvolvido a partir do Id e é regido
pelo princípio da realidade, portanto, tem como objetivo permitir que os
impulsos do Id sejam plausíveis e que considere o mundo externo.

O princípio da realidade insere a razão, o comportamento humano


tradicional, a espera e o planejamento. Há um retardamento das pulsões
até o momento em que a realidade permita que o prazer seja satisfeito com
o mínimo de consequências negativas. O Ego se torna então o mediador
entre os desejos do Id e a repressão do Superego.

SUPEREGO - Constitui uma parte da mente psíquica que representa a


moral da mente humana e os valores sociais. Laplanche e Pontalis (1982)
definem, no livro Vocabulário da Psicanálise, que o Superego foi descrito
por Freud como “…o seu papel é assimilável ao de um juiz ou de um censor
relativamente ao ego”.

Freud vê na consciência moral, na auto-observação, na formação de


ideais, funções do superego.” O Superego é formado após a formação do
Ego. Segundo Freud, ele é formado correlativamente ao declínio do
Complexo de Édipo, pois esse complexo pode ser marcado pelo esforço
da criança de introjetar os valores advindos dos pais e da sociedade com
a finalidade de receber amor e afeto.

Modelo Topográfico e Modelo Estrutural

A tese principal de separação entre os sistemas, definidos como


Inconsciente, Pré-Consciente e Consciente, no modelo topográfico não
pode ser separado do modelo estrutural ou dinâmico que traz a
estruturação em Id, Ego e Superego onde os sistemas se encontram em
conflitos entre si e que são igualmente essenciais à Psicanálise.

“Freud não renunciou a conciliar suas duas tópicas. Por diversas vezes
apresenta uma representação espacialmente figurada do conjunto do
aparelho psíquico em que
coexistem as divisões do ego
– id – superego e as divisões
inconsciente – pré-consciente
– consciente.” Laplanche e
Pontalis, 1982.

4)- CONCEITUAÇÃO SOBRE O


NARCISISMO - Para Sigmund
Freud, o narcisismo é uma fase
do desenvolvimento das
pessoas. É um estágio em que se verifica a passagem do autoerotismo, ou seja,
do prazer que é concentrado no próprio corpo, para eleição de outro ser como
objeto de amor. Essa transição é importante porque o indivíduo adquire a
habilidade de conviver com aquilo que é diferente.

Esse estágio intermediário é denominado por Freud como narcisismo


primário. É o momento em que o ego é eleito como objeto de amor. Ele se
diferencia do autoerotismo, que é uma fase em que o ego ainda não
existe.

O narcisismo secundário, por sua vez, consiste no retorno da afeição


ao ego depois que ela foi destinada a objetos externos. De acordo com o
pai da psicanálise, todas as pessoas são narcisistas em certo ponto já
que elas contêm em si um ímpeto pela autoconservação.

5)- DISSOCIAÇÃO DO EGO - Dissociação é um estado agudo de


descompensação mental, no qual certos pensamentos, emoções, sensações e/ou
memórias são ocultados, por serem muito chocantes para a mente consciente
integrar.

A IMPORTÂNCIA DO EGO

Mas por que do ego? Pois, é o ego que traz para a realidade a fala do id
e do superego. Porém, um ego fragilizado pode pender para o id, deixando
o indivíduo mais voltado para as suas próprias vontades.

Desse modo, a pessoa não se a tem para realidade da vida em


sociedade. Ademais, pode deixar-se levar mais pelo superego, deixando o
sujeito “engessado” por tantas regras. Desse modo, o ego deve ser
fortalecido. Ou seja, se não tiver o controle sobre o id ou o superego, serão
necessários os mecanismos de defesa. Para assim aliviar a tensão da
realidade. Pois, estão sobre uma outra realidade individualizada do sujeito.
DUAS REALIDADES DIFERENTES

Quando se fala em duas realidades, pode até parecer meio confuso, mas
não é. Ou seja, pode-se viver em um mundo de fantasias, onde tudo é muito
mais imaginativo do que real.

Assim, como resultado há o cansaço mental. Isso porque leva a pessoa


para fora de uma realidade social, descontextualizando-a frente aos
padrões em que se vive.

Outro ponto é que, um ego saudável sempre buscará o equilíbrio. Pois,


saberá impor limites para seu narcisismo e não ficará preso em fases
psicossexuais.

QUANDO OS MECANISMOS DE DEFESA DO EGO APARECEM?

Dessa forma, os mecanismos surgem quando há ataque do id ou do


superego contra o ego. Segundo Freud, o ser humano não era dono de si,
pois existe diálogos entre o id, ego e superego.

Então, quando o ego não é forte o suficiente para tomar suas próprias
decisões, pode sofrer muito com os ataques vindo da primeira e terceira
parte dessa estrutura. Anna Freud ao tratar da livre associação, mostra
uma interessante ação do id contra o ego:

O paciente transgride a regra fundamental da análise ou, como dizemos,


ergue “resistências”. Isso significa que a incursão do id deu lugar a um
contra-ataque do ego ao id. A atenção do observador é desviada agora
das associações para a resistência, isto é, do conteúdo do id para a
atividade do ego. O analista tem uma oportunidade de testemunhar,
então, a entrada em ação, pelo ego (…) e compete-lhe agora fazer disso o
objeto de sua investigação. Observa, então, que, com essa mudança de
objeto, a situação na análise também mudou subitamente. Ao analisar o
id, o analista é auxiliado pela tendência espontânea dos derivados do id
para virem à superfície: seus esforços e os do material que tenta analisar
têm uma direção semelhante. Freud, Anna. ( 1975, P.16-17)

O trabalho do psicanalista com os mecanismos de defesa do ego

Desse modo, a partir dos mecanismos de defesas do ego que o analista


pode começar a estudar e elaborar as questões reflexivas que serão
repassadas para o paciente. Pois, quando acontece algo ao ego que ele
não suporta, é preciso ter uma defesa para aliviar a tensão.

Assim, é como se houvesse uma mudança de foco. Então, o que é


conhecido como “recalque” é aquilo que não foi suportado e ficará no
inconsciente. Portanto, tudo que foi recalcado no inconsciente uma hora
ou outra volta.

Desse modo, o recalque está encoberto por algum mecanismo de


defesa do ego. Então, cabe ao psicanalista encontrar e trabalhar em cima
dessa falta de saúde psíquica. Por isso, a interpretação da linguagem
inconsciente é muito importante. Assim como a tradução clara para o
paciente.

Sobre o saber ouvir

Logo, ao compreender e decifrar o inconsciente, o indivíduo conhece


mais sobre si mesmo. Sendo assim, seu ego se tornará mais
fortalecido. Portanto, a análise é a maneira mais indicada para escutar esse
mundo inconsciente.

Dessa maneira, para que haja saúde psíquica é importante ouvir e


entender essa fala que vive submersa em cada um. Porque esse outro
mundo tem suas regras e valores. E ainda, os valores, nem sempre
parecem com aqueles vividos na realidade.

Por isso, a análise visa entender o inconsciente. Sendo assim, o


principal objetivo é amadurecer e fortalecer um ego que está adoecido.
Pois, não foram preparados para a vida.

O QUE É REPRESSÃO?

Desse modo, a repressão é conhecida como recalcamento ou


recalque. Assim, é algo que já aconteceu ou pode acontecer na vida de uma
pessoa. Então, se o ego não consegue lidar com determinada questão,
sente-se ameaçado. Logo, manda essa conta para o inconsciente, podendo
sair a qualquer momento.

Nesse sentido, de forma geral, a repressão é quem manda todo


mecanismo de defesa para o inconsciente. Contudo, na Psicanálise não há
um consenso sobre a interpretação de repressão e recalque. Ou seja,
muitos não enxergam que os termos possuem o mesmo significado.

Sendo assim, para os franceses o sentido da repressão é o seguinte.


Ela é utilizada como um desaparecimento da consciência. Ou seja, dos
objetos colocados no consciente e pré-consciente. Por isso, segundo
Wilson Castello de Almeida,
Recalcamento (refoulement, em francês) seria a operação com as
características de transpor para o inconsciente conteúdos ideativos e
representacionais ligados à pulsão, como: pensamentos, imagens e
recordações. (ALMEIDA, 2009, p. 32)

Diferenças entre repressão, supressão e opressão

Além da repressão, é interessante salientar a “supressão”. Pois, é uma


forma de jogar fora, de forma consciente, sentimentos ou ideias que não
foram muito aceitas pelo Ego ideal. Nesse sentido, a “opressão”, seria
estar em um lugar de desconforto.

Isto é, seja por um indivíduo tirano ou algo similar que deixa em estado
de tensão ou incomodo. Assim, esses termos não devem ser
confundidos. Pois, mesmo que em algum momento podem se entrelaçar,
cada um tem seu significado próprio.

Nesse sentido, os mecanismos de defesa foram percebidos e sofreram


mudanças ao longo da história. Mas o fato é que eles dão entendimento às
conversas dentro do psiquismo humano. Sendo assim, estão relacionados
a uma fase primitiva dos instintos.

Mecanismos de defesa do eu e a questão da identidade

Isso ocorre porque estamos sempre buscando satisfação. Assim como


a realização dos nossos desejos internos. Por isso, os mecanismos de
defesa falam muito sobre quem realmente somos. Ademais, sobre o que
está ocorrendo em nosso inconsciente.

Nesse sentido, às vezes, ou quase sempre, nem sabemos quem


realmente somos. Pois, agimos através dos diálogos entre o id, o ego e o
superego. Então, quando percebemos os mecanismos de defesa fica mais
fácil trabalhar esses instintos.

Isso porque em muitos dos casos eles podem ser prejudiciais para vida
do ser humano. Já que a gratificação pode estar baseada na pulsão de
morte, que seria a parte ruim. Ou ainda, na pulsão de vida, que é a parte
boa.

Somos seres que vivem por uma pulsão, seja ela de vida ou de morte,
tudo depende da estrutura da qual fomos inseridos. Então, vivemos para
realizar os desejos que foram produzidos em nós. Assim, Freud ao trazer a
teoria psicossexual, só mostrou ao mundo um ser humano que é fruto do
meio.

Ou seja, que tem suas questões inatas, mas a maior parte da bagagem
que se traz vem do contexto em que se é inserido. Por isso, a realidade
humana está pautada nos valores que são atribuídos externamente,
mexendo em um inconsciente que tem viva própria.

Portanto, os mecanismos de defesa do ego são criados frente a essa


realidade humana, para que cada indivíduo possa suportar o que seria
insuportável. Nesse sentido, é preciso fortalecer um ego que precisa estar
em harmonia com mundo inconsciente e ao mesmo tempo consciente.

Assim, manter o ego na defensiva. Logo, para ter um ego ser


fortalecido é necessário ter uma boa educação, experiências de vida,
autoestima fortalecida, saber administrar a ansiedade e ter consciência da
realidade da vida.

MAS O QUE É HISTERIA?

1- Histeria, do grego hystera, significa “útero “.

O que é Histeria?

Tradicionalmente, entende-se a histeria como:

• Uma manifestação principalmente física de diversas formas,


como tiques nervosos, espasmos, gagueira, mutismo,
paralisias, até mesmo cegueira temporária.
• Esta manifestação não tem uma causa física evidente, o que
indicaria poder haver uma origem psíquica.
• Com métodos como a hipnose ou o diálogo terapêutico da
associação livre em psicanálise, é possível tentar rememorar
eventos pontuais ou reiterados que estejam na base da
histeria;
• ao se identificar a causa e falar sobre ela, os terapeutas e
pacientes relatam que os sintomas histéricos (físicos)
tendem a diminuir ou desaparecer.
A histeria para Freud e o início da Psicanálise

A histeria ganha certa centralidade nos estudos iniciais da psicanálise. A-


final, foi através dessas queixas clínicas que o tratamento desenvolvido
por Freud, influenciado por seus pares, pôde continuar a evoluir dentro
do arcabouço teórico e prático da psicanálise.

É necessário reservar um espaço importante dentro da formação para a


compreensão dessa patologia, sua etiologia, desenvolvimentos, formas
de intervenção e interpretação, além do tratamento. Por isso, pode se dizer
que foi a primeira patologia estudada por Freud e especialistas dos
estudos da mente. E, desde então, o conceito de Histeria foi desdobrado,
revelando-se outras patologias, de modo que os psiquiatras atuais
preferem não adotar esta terminologia.
O livro Estudos sobre a histeria (1893/1895) publicado em conjunto en
tre Freud e Breuer, foi a obra fundadora da psicanálise, embora os escri-
tos contidos em A Interpretação dos Sonhos (1900) sejam considerados,
por Freud, como o grande livro seminal da psicanálise. Deste modo, nos
estudos, os autores discutem e introduzem a ideia sobre a doença:

“(…) como originária de uma fonte da qual os pacientes estão relutantes


em falar, ou mesmo não conseguem discernir sua origem. Tal origem se-
ria encontrada em um trauma psíquico ocorrido na infância, no qual uma
representação ligada a um afeto
angustiante teria sido isolada do circuito consciente das ideias, e o afeto
foi dissociado a partir disso e descarregado no corpo.” (Revista
Eletrônica Científica de Psicologia, 2009).

Resumindo, podemos dizer que o significado de Histeria está ligado:

• a um trauma na idade infantil;


• de que a pessoa adulta não consegue se lembrar muito bem
(recalque);
• este afeto se desprende da lembrança original, isto é, da
representação “verdadeira”;
• e acaba se manifestando no corpo, isto é, com incômodos físicos
(somatização).

Histeria e Somatização
Enquanto a histeria se restringe ao episódio de ordem psíquica,
a somatização é descrita como um sintoma é manifesto no corpo, embora
originário de uma causa psíquica. É como se uma causa inconsciente
aflitiva levasse o corpo a expressá-la, mas usando uma linguagem
diferente, que não revela a causa do sintoma.
Na histeria, há uma ideia de repressão(barreira), que isola as
representações desvinculadas dos afetos em uma “segunda consciência
“subordinada à consciência normal.
Esta crise relatada está relacionada à formação do sintoma que, devido a
um trauma infantil, apresentaria um correspondente da ordem do simbóli-
co, separando o afeto de sua representação.

A repressão dos afetos ligados à realização de um desejo provocaria um


impedimento que, devido à dificuldade da elaboração psíquica em atribuir
um significado à experiência, manifestaria o sintoma no plano somático
(corpo), caracterizando o conceito de conversão histérica. Isso
provoca, dentro de uma cadeia associativa, a transformação dos afetos e
m sintomas somáticos, daí o nome de conversão histérica.

Assim, o uso do método catártico como forma de tratamento foi eficiente,


uma vez que foi realizado o acessso
às representações isoladas do afeto (evento traumático), sendo possível a
revelação desse afeto, causando alívio e eliminação do sintoma.

Esse movimento de descarga foi chamado de Ab-


reação, que, segundo Laplanche e Pontalis (1996), consistiria em um pro-
cesso de descarga emocional que, liberando o afeto ligado à memória de
um trauma, anularia seus efeitos patogênicos.

Freud e seus precursores

Finalmente, no século 19, os estudos sobre histeria de Jean-Martin Charcot


levam a uma visão mais científica e analítica da condição, aceitando-a
como um distúrbio psicológico e não biológico, e tentando definir a histeria
medicamente, com a intenção de remover a crença de uma origem
supernatural para a doença.

Isto porque Freud aprofunda mais essa pesquisa, afirmando que histeria é
algo completamente emocional, e pode afetar tanto homens quanto
mulheres, sendo um problema causado por traumas que impediam que
suas vítimas conseguissem sentir prazer sexual de modo convencional.

Isso é o ponto de partida para Freud definir o Complexo de Édipo,


descrevendo a feminilidade como uma falha ou ausência de masculinidade.
A definição de histeria do século 19, vendo então a histeria como
uma busca pelo “falo perdido”, acabou sendo utilizada como modo de
descreditar os movimentos feministas do século 19 que buscavam
aumentar os direitos das mulheres.
PULSÕES

O que significa Pulsão para Freud?

Quando Freud fala em Instinto (Instinkt), ele se refere ao comportamento animal,


hereditário, característico da espécie. Já o termo Pulsão (Trieb) coloca em
evidência a impulsão. Segundo Freud, uma pulsão tem a sua fonte numa
excitação corporal (estado de tensão); o seu objetivo ou meta é suprimir o estado
de tensão que reina na fonte pulsional; é no objeto ou graças a ele que a pulsão
pode atingir sua meta.

Pulsão – Processo dinâmico que consiste numa pressão ou força (carga


energética) que faz o indivíduo tender para um objetivo. (Laplanche e Pontalis –
Vocabulário de Psicanálise – pg. 394) Costuma-se referir ao conceito de
pulsão (Trieb) como aquele que designa o limite entre o somático e o
psíquico, um conceito-limite ou conceito fronteiriço que, por alguns
aspectos, assemelhar-se-ia à noção de instinto (Instinkt), mas, que, por
outros, distinguir-se-ia radicalmente deste.
A semelhança estaria na idéia de tendência ou ímpeto a agir, isto é,
genericamente falando, ambos os termos se prestariam a expressar uma
necessidade que compele o organismo em direção a alguma ação na realidade.
(Fractal, Rev. Psicol. vol.23 no.2 Rio de Janeiro May/Aug. 2011)

Freud, em sua definição, constata que a Pulsão como um conceito-


limite entre o psíquico e o somático é um dos significados do conceito
de pulsão, ou seja, significado mais amplo e superficial. Além do
conceito-limite ou conceito fronteiriço que apresenta a pulsão como
aquilo que marca os contornos do campo psíquico investigado pela
psicanálise frente ao somático, há outros dois significados de nível
mais profundo e específico.

A pulsão é também definida como: Pulsão como representante psíquico


dos estímulos corporais – a pulsão como representante psíquico
(psychischer Repräsentant) dos estímulos que provém do interior do
corpo e Pulsão como medida da exigência de trabalho imposta ao
psíquico – a medida da exigência de trabalho imposta ao psíquico em
consequência de sua relação com o corporal.

Freud apresenta as pulsões com dualidade. O primeiro dualismo


encontrado, segundo ele, é o das pulsões sexuais e das pulsões do ego
ou de autoconservação. Ao longo do tempo esses conceitos foram se
modificando e se classificando entre pulsão de vida (Eros) e pulsão de
morte (Thanatos).

O que significa Pulsão de Vida e de Morte

Pulsões de Vida se classificam como uma grande categoria de pulsões que


Freud se utiliza para contrapor, em sua última teoria, às Pulsões de
Morte. As pulsões de vida tendem a constituir unidades cada vez maiores
e a mantê-las.

O termo “Eros” foi usado para classificar as Pulsões de Vida. Eros é uma
palavra que vem do latim, Éros, e seu significado expressa o amor, o desejo
e atração sensual. Eros é o deus do amor na mitologia grega.

O termo erótico é derivado de eros. Marcuse discute em seu livro “Eros e


Civilização” (1966), sobre o termo Eros como pulsão de vida, que é aguçada
pela libido do indivíduo, através do anseio pela civilização, e a convivência
coletiva. Para Marcuse, segundo uma análise freudiana, Eros é a pulsão
libidinal, que motiva o indivíduo a vida. (Oliveira, L. G. Revista Labirinto –
Ano X, nº 14 – dezembro de 2010)

Pulsões de Morte voltadas inicialmente para o interior e tendendo à


autodestruição, as pulsões de morte seriam secundariamente voltadas
para o exterior, manifestando-se então sob a forma de pulsão de agressão
ou de destruição. Tendem para a redução completa das tensões, isto é,
tendem a reconduzir o ser vivo ao estado anorgânico.

O termo “Thanatos” foi usado para classificar as Pulsões de Morte. Na


mitologia grega, Thanatos (Thánatos, uma palavra que vem do grego) era
a personificação da morte. A pulsão de morte, na qual Freud se refere, é a
morte simbólica, a morte social; uma pulsão que leva o indivíduo à loucura,
ao suicídio, ou seja, uma morte simbólica ou material perante a sociedade.
(Oliveira, L. G. Revista Labirinto – Ano X, nº 14 – dezembro de 2010)

A hipótese das Pulsões de Morte, para Freud, serviu para explicar os


fenômenos relacionados à compulsão à repetição e também para afirmar a
dualidade das pulsões, sendo elas as pulsões de vida e as pulsões de
morte.

Segundo Freud, o indivíduo possui latente dentro de si a pulsão de vida e


a pulsão de morte. A pulsão de vida faz com que o indivíduo sinta
necessidade de satisfazer suas vontades, de buscar o prazer e de satisfazer
a libido, mas, para o indivíduo que vive em sociedade, sua libido se
concretiza através do instinto organizado.

O instinto organizado é a consciência social implantada no indivíduo para


viver coletivamente (ou seja, a ação do Ego sobre o Id, conforme a 2ª tópica
Freudiana*) *Nota: O Id, na 2ª tópica Freudiana, é denominado
inconsciente, é o depósito das energias psíquicas. O ego procura
substituir o princípio de prazer que reina sem restrições no Id pelo princípio
de realidade.

A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS

A visão que a Psicanálise tem dos sonhos é que estes se mostram como
reflexos do nosso cotidiano consciente. Basicamente, essas imagens que
temos durante nosso sono são questões às quais não conseguimos
resolver anteriormente. Vamos entrar em uma breve análise do livro A
interpretação dos sonhos e observar como esses fenômenos nos atingem.

A interpretação dos sonhos ligava diretamente a base da pré-Psicanálise


com o que viria depois. Ao longo da obra, notamos o desenvolvimento de
Freud em relação a alguns pilares de seu trabalho. Enquanto alguns foram
descartados, outros se aperfeiçoaram e hoje regem uma avaliação
psicoterapêutica, a começar por:

A cura pela fala

Acatando o pedido de uma paciente, Freud se calou e passou a escutar os


seus pacientes. Como que por clareza, observou que os sintomas da
histeria se dissolviam quando o cliente falava. Assim que narravam as
origens dos sintomas que sentiam, os histéricos encontravam alívio e até
a reabilitação.

O poder dos sonhos

Assim que começavam a falar de seus sonhos, os clientes realizavam


associações importantes à sua própria neurose. A fim de entender as
causas do problema, Freud não se limitava ao que era ou não importante.
O inconsciente se manifestava aqui e decifrar a sua estrutura seria o papel
do psicanalista e analisado.

Sexualidade infantil

Antes de todos, o próprio Freud se chocava com o relato de seus pacientes


sobre a sexualidade na infância. Isso porque o mesmo passou a receber
casos em comum de pessoas que tiveram experiências de prazer quando
menores. Com o tempo, o psicanalista desenvolveu a ideia, ao mesmo
tempo em que se afastava da comunidade científica.

Mesmo sem corpo, o sonho tem estrutura


Freud acaba se mostrando bastante desenvolto quando fala nos sonhos
em A interpretação dos sonhos. O mesmo construiu características e
algumas leis para dignificar esse comportamento inconsciente do ser
humano. Dessa forma, conseguiu criar a ponte entre sonho e os sintomas
histéricos que surgem. Algumas delas são:

Sonhos são produtos de desejo

Freud acreditava que os sonhos são realizações inconscientes de nossas


vontades. Sempre que temos algum desejo ao qual não podemos realizar,
o escondemos, a fim de esquecê-lo, o recalcando. Contudo, esse desejo
continua a existir em determinado lugar e continua a criar efeitos em nós,
como os sonhos.

Possuem leis próprias

Ao contrário de nossa vida desperta, os sonhos obedecem a leis diferentes


aos quais estamos acostumados. Isso fica provado na imprevisibilidade à
qual eles nos surpreendem. A consciência possui regras lógicas, lineares
e conhecidas. A mesma fórmula não é seguida pelo inconsciente, já que
este não possui controle ou diretriz específica.

Sintomas da neurose

Assim como os sonhos, sintomas de neurose tem a mesma estrutura.


Estes podem ser vistos como resultado do recalque, já que o desejo
precisa se manifestar de um modo ou outro. Mas cabe ressaltar que um
sintoma de neurose também é visto como manifestação de desejo. Só que
nele há solução para a apresentação do desejo na consciência.

A mecânica do sonho
A interpretação dos sonhos defende que os sonhos fogem completamente
da perspectiva consciente que vivemos. Eles não consideram a realidade,
o tempo, contradições ou qualquer caminho que rege o mundo “comum”.
Essas projeções servem para canalizarmos nossos impulsos, a fim de
esvaí-los de uma “prisão”.

Em dois capítulos do livro, Freud afirma que há um mecanismo de


movimento que empresta valores entre ideias. Com isso, imagens sem
importância aparente podem ser amenizadas e comporem os sonhos com
certa censura. Em contrapartida, imagens oníricas bem nítidas têm
importância por causa da ligação de outra cena realmente relevante.

Ademais, os sonhos apresentam o projeto de condensação, onde detalhes


revelam ideias completas. O psicanalista já deu exemplos claros de como
características isoladas conseguem identificar bem uma pessoa quando
mesclada a características grupais. Basicamente, apenas uma pessoa
pode condensar a característica de uma multidão.

A interpretação dos sonhos pode ser considerada como um


dos mais valiosos testamentos de Freud

Por meio dele, enxergamos o nascimento da concepção oficial do que é


inconsciente ao ser humano. Sem contar que também marca a data de
nascimento da Psicanálise, servindo de ponto para enxergamos as
mudanças ao longo de um século.

Ainda que o mundo moderno afirme a desnecessidade da psicoterapia,


devemos nos atentar ao modo de vida que levamos. O imediatismo serve
apenas para polir os traumas que carregamos ao longo da vida, sem tratá-
los corretamente. É preciso que se faça uma intervenção mais profunda e
completa no problema. Esse é o papel da Psicanálise.

AS NEUROSES

Freud define a neurose como a expressão de um conflito entre os desejos


do nosso inconsciente. Para ele, certos impulsos inconscientes são
incompatíveis com a realidade exterior ou são impossíveis de serem
concretizados, desenvolvendo-se no sujeito um intenso estado de
ansiedade e mal-estar geral.

O que é Neurose para a Psicanálise?

Um dos principais assuntos estudados pela psicanálise é a neurose. Pode


ser considerada, a priori, como uma doença psíquica.

É possível entender neuroses como fenômenos gerados por um conflito


psíquico, que envolve a frustração de um impulso instintivo. Além disso,
conforme pontua a psicanálise, a neurose é também o resultado de nossas
experiências, sejam elas:

• vivências;
• traumas;
• ou recalques.

Ao ir mais além, ela é entendida também como problemas relacionados à


fixação da libido e à fixação problemática.

Freud aprofundou seus estudos sobre o assunto, as suas causas e


sintomas. Além disso, usou seus estudos para embasar parte de suas
teorias psicanalíticas, assim como as metodologias terapêuticas por ele
criadas. Para Freud, o inconsciente alimentava os instintos e os impulsos
e ele deveria ser trabalhado para se curar as neuroses.

A sua autoanálise consistia em encarar de forma calma os seus próprios


fantasmas mentais e, assim, ele buscou avaliar como o afetavam. A sua
autoanálise se voltou para as memórias da infância, após perpassar
assuntos da sua vida adulta.

Outro fator determinante para estudar a si mesmo foi também a morte de


seu pai, em 1896, conforme ele próprio afirmou. A partir dessa análise de
si mesmo, ele passou a analisar seus pacientes e a fundamentar as suas
teorias. Inclusive as suas teorias a respeito da neurose.

O que é neurose na Teoria Freudiana?

A neurose é um dos principais pontos da teoria de Freud, assim como ele


relaciona à sexualidade e a sua importância para a vida mental. Por isso,
ao desenvolver a sua teoria da sexualidade, ele demonstrou diversas
origens que levam o homem ao sofrimento.

Freud pontuou, dentre essas questões, alguns fenômenos relacionados a


estados corporais específicos que seriam de natureza somática. Assim, ele
considerou como característicos do que ficou denominado como “neurose
atual”. Termo esse que inclui:

• a neurastenia;
• a neurose de angústia;
• e hipocondria.

De acordo com Freud, dentre os principais sintomas encontrados na


neurastenia, de acordo com a teoria freudiana, estão a brutalidade do fator
sexual. Por isso, ela aparece como um problema para a vida humana.
Também há as cefaleias e as prisões de ventre. Além de outros que podem
surgir devido a uma atividade sexual não satisfatória, como o excesso de
masturbação.

Já para a neurose de angústia alguns de seus principais sintomas podem


ser de natureza diversa. Dentre eles, diarreias e congestões, distúrbios
respiratórios ou cardíacos etc.
A hipocondria não apresenta sintomas somáticos concretos. Porém, ela
leva à nosofobia, que seria o medo de ficar doente. A qual está ligada aos
sintomas da neurose de angústia.

De acordo com Freud, esses fenômenos seriam as “neuroses atuais”.


Dessa forma, Freud confere a eles um caráter contemporâneo dos fatores
sexuais envolvidos em sua sintomatologia. Diferente das psiconeuroses,
que possuem um caráter de historicidade da sexualidade.

Dessa forma, o termo neurose atual seria o oposto à psiconeurose, no que


tange à historicidade subjetiva a esse fenômeno. Assim é possível
entender a amplitude para a psicanálise sobre o assunto. E muitos de seus
sintomas estariam ligados à sexualidade, segundo Freud e suas teorias.

As neuroses e a sexualidade

Ao se definir o que é neurose para a psicanálise, a gente vê que muitos de


seus sintomas ou origens estão ligados à sexualidade. Ao menos, de
acordo com as teorias de Freud. Um ponto decisivo na sua teoria é quando
ele revela sobre os fatores sexuais, quando trabalhados nas neuroses
atuais. Ele afirma que esses fatores influenciaram na interferência do
caráter universal do fator sexual nas psiconeuroses.

Freud afirma que há um “desvio” da libido de sua aplicação satisfatória na


neurose da angústia, por exemplo. Para Freud a excitação teria uma ordem
somática, como se houvesse um acúmulo somático da excitação
sexual. Além disso, Freud afirma que essa excitação vem acompanhada de
um decréscimo nos processos sexuais, por parte da psique. Para Freud, a
excitação sexual possui uma grande importância nos processos psíquicos.
Os quais, de acordo com a psicanálise, podem levar à neurose.

Freud teorizou que diversos sintomas e manifestações, guardadas as suas


peculiaridades, teriam a sexualidade como centro da questão da neurose.
Dentre essas manifestações estariam as conversões histéricas, as
neuroses de angústia e neurastenias, as ideias obsessivas etc.

Além disso, é possível ver que as neuroses atuais e as psiconeuroses,


aparecem mescladas de forma simultânea e clínica. Sendo assim, a ligação
entre essas duas neuroses está configurada a partir do que Freud chamou
de libido. Para Freud, a neurose atual está contida na psiconeurose, como
se fosse o seu núcleo.

Alguns sintomas para ajudar a entender o que é neurose e o que ela


causa
Os sintomas costumam variar de acordo com cada indivíduo. Mas existem
alguns sintomas que podem indicar um sinal de alerta para a existência do
transtorno. Entre eles estão:

• medo de situações comuns do cotidiano;


• alterações de humor sem motivo aparente;
• grande preocupação que se mantém mesmo sem uma causa
específica;
• traços de histeria;
• fobia

Alguns tipos de neurose e suas características

Quando a gente analisa a neurose para a psicanálise, a gente ver que há


diversos tipos de neurose: a de angústia, a de abandono e a familiar.

• Neurose de Angústia é um tipo simples de psiconeurose. A qual tem


na angústia o seu principal sintoma. Ela evolui em crises, que podem
ser mais ou menos próximas. A neurose de angústia se manifesta
com maior frequência em portadores de constituição ansiosa.
• Neurose de Abandono caracteriza um quadro no qual predominam a
angústia do abandono, além da necessidade de segurança.
• A Neurose Familiar ocorre quando, em determinada família, as
neuroses individuais se completam. Dessa forma, elas acabam se
condicionando de forma recíproca. Além disso, ela pode evidenciar
a influência exercida sobre as crianças por sua estrutura familiar.
Inclusive, influência do casal parental.

Algumas outras neuroses conhecidas pela psicanálise

• Neurose de Destino
• Neurose do Fracasso
• Narcísica
• Neurose Traumática
• Neurose Mista
• De Caráter
• De Compensação
• Neurose Depressiva
• Neurose Histérica Dissociativa e a de Conversão
• Obsessiva Compulsiva
• Neurose Fóbica,

Além dessas, existem outras neuroses identificadas pelas teorias


psicanalíticas. Como visto, existem diversos tipos e cada uma possui seus
sintomas e particularidades.
COMPLEXO DE ÉDIPO

O Complexo de Édipo é um termo psicanalítico criado por Sigmund Freud


para explicar o vínculo triangular entre mãe, pai e filho, na fase da formação
da Personalidade. Freud cunhou esse termo em sua teoria de estágios
psicossexuais do desenvolvimento ou teoria da sexualidade. Na
psicanálise, fala-se sobre a centralidade do Édipo, isto é, este complexo é
um fator central para entendimento da psicanálise e da psique humana.

O que é complexo de Édipo?


O Complexo de Édipo é um termo basicamente usado para descrever
os sentimentos de um menino à sua mãe (atração) e ao seu pai
(repulsa). Isto é, o desejo do menino pela mãe e o consequente ciúme que
ele sente do pai. É como se o filho visse o pai como um rival, ao querer a
atenção e afeto de sua mãe.

Afinal, a criança antes se confundia com a própria mãe durante a gestação.


Depois, na fase de amamentação e nos primeiros meses de vida, a criança
começa a se diferenciar da mãe, mas continua tendo da mãe um grande
foco de atenção. Gradativamente, a criança sente que a mãe lhe diminui a
atenção, e percebe a existência do pai como uma suposta causa.

Freud, em sua teoria do desenvolvimento psicossexual infantil, afirmou


que a origem da vida psicossexual se divide em fases, das quais se
destacam:

• Fase Oral: do nascimento até aproximadamente dois anos de idade.


• Fase Anal: de cerca dos dois anos de idade até cerca de três ou
quatro anos de idade.
• Fase Fálica: dos três ou quatro anos até aproximadamente seis anos
de idade.
• Fase de Latência: dos seis anos de idade até o início da puberdade,
quando tende a se declinar ou se dissolver o Complexo de Édipo.

De acordo com Freud, o complexo de Édipo tem um papel muito importante


na fase fálica do desenvolvimento psicossexual. Para Freud, a conclusão
bem resolvida desta etapa envolveria a identificação do menino com o pai,
isto é, o menino deixar de rivalizar-se com o pai e passar a aceitar a
impossibilidade do incesto. E isso contribuiria para o desenvolvimento de
uma identidade sexual madura e independente.

O complexo de Édipo é um conjunto de elementos psíquicos e relacionais


que:

• inicia-se na fase fálica (ou no final da fase fálica) e tende a se resolver


na fase de latência (dos 6 aos 13 anos);
• como regra, é marcado por uma rivalidade com o pai e um desejo
pela mãe (e por sua atenção), sendo o oposto também possível
(rivalidade com a mãe e desejo pelo pai, especialmente no caso das
meninas);
• o pai ou a pessoa que faça a função paterna é ao mesmo tempo uma
barreira ao desejo da criança e um ideal que a criança passa a buscar
para si, conforme o Édipo vá se resolvendo;
• o superego tende a se formar e fortalecer na fase de latência, em que
o pai deixa de ser um oponente (resolvendo o Édipo) e torna-se um
exemplo, e quando há a introjeção das regras sociais e morais que a
criança/adolescente passará a adotar em sua jornada.

Diferença entre meninos e meninas

Quando Freud elaborou a ideia de um Complexo Edipiano, imaginou


essencialmente a referência aos meninos. Depois, especialmente no
texto “A dissolução do Complexo de Édipo” (1924), propôs algumas
diferenças entre meninos e meninas na questão edipiana.

Basicamente, a menina pode ter afeto pelo pai e rivalidade com a mãe, que
é vista como sua concorrente. Além do mais:

• o temor da castração, que nos meninos representa o medo de perder


o pênis,
• na menina pode ser entendido como a castração já realizada (falta
do pênis).

Porém, em termos de afeições e rivalidades com pai/mãe e a fase de maior


autonomia e do superego que deve vir com a resolução (dissolução ou
encerramento) do Complexo de Édipo, entende-se que o fenômeno ocorre
tanto com meninos e meninas.

O que pode variar é com quem o menino se identifica (mãe ou pai) e com
quem rivaliza. Da mesma forma, com a menina, que pode se identificar mais
com o pai e rivalizar com a mãe.

De toda forma, o que se entende hoje é que as ideias do Complexo de Édipo


possam ser aplicáveis de forma relativamente similar para meninos e
meninas.

Embora seja o chamado “padrão”:

• a atração da criança pelo(a) pai/mãe de sexo oposto e


• a rivalização com o(a) pai/mãe de mesmo sexo,
é possível também haver uma atração do menino para com o pai e uma
rivalidade para com a mãe. E, na menina, uma atração pela mãe e uma
rivalidade com o pai.

Em termos da psique humana e da complexidade das relações afetivo-


familiares, entende-se hoje que é temerário arriscar uma universalização.
Há que se olhar para cada história.

Ainda assim e mesmo com críticas ou adaptações ao modelo edipiano


original, é possível ao analista:

• olhar para cada realidade familiar e de formação da criança, e


• entender que existam as atrações e rivalidades sugeridas pelo
Complexo de Édipo,
• tanto para meninas quanto para meninos,
• e ver como o Édipo pode ter ocorrido em cada caso, de maneira a
marcar a formação da personalidade até a vida adulta.

Alguns autores denominam esta fase análoga ao Complexo de Édipo para


as meninas como Complexo de Electra. Neste, as meninas sentem desejos
pelos seus pais e ciúmes de suas mães.

As funções de pai e de mãe no Complexo de Édipo

É importante entendermos:

• a função de mãe: que pode ser sintetizada com as ideias de proteção e


amor, um ideal de volta ao passado e de possibilidade de realização dos
desejos do Id, de quando a criança tinha a proteção uterina e a atenção
integral da mãe (na verdade, quando a criança se confundia com a mãe);
• a função de pai: que seriam os limites impostos pelo dever, um ideal de
caminhar para o futuro e de independência, que pode impor o receio ou
angústia ao novo para a criança, razão para a criança nutrir ainda maior
animosidade em relação ao pai.

Estas funções independem se de fato há uma mãe e um pai como casal. A


função de afeto e a função de dever podem ser desempenhadas por outras
pessoas e outras composições familiares, por pais adotivos, por famílias
complexas (em que avôs/tios etc. convivem no mesmo ambiente) e até mesmo
uma mãe ou um pai sozinhos.

Complexo de Édipo: A Mitologia


O Complexo de Édipo foi proposto pela primeira vez por Freud em seu
livro A Interpretação dos Sonhos. Ainda que Freud só tenha começado a
usar o termo, formalmente, a partir de 1910.

A denominação desse termo é retirada da peça de Sófocles intitulada


“Édipo Rei”. Na peça, o personagem Édipo “acidentalmente” mata o seu
próprio pai (Laio) e acaba se casando com a sua própria mãe (Jocasta).

A peça “Édipo Rei” de Sófocles faz parte de uma trilogia, que inclui também
as obras “Antígona” e “Édipo em Colono”. No enredo de Édipo Rei, o rei
de Tebas (Laio) é advertido pelo oráculo para que não tenha filho, pois, se
o tivesse, este filho mataria o próprio pai (o rei Laio).

O nascimento e o abandono de Édipo

Laio não acata o conselho: tem um filho. Depois, temendo a profecia, Laio
se arrepende e ordena que o filho seja sacrificado.

Então, um servo do rei Laio deixa o bebê tebano para morrer no Monte
Citerão, entre Tebas e Corinto, amarrando o bebê pelos calcanhares, em
uma árvore. Entretanto, um pastor coríntio salva o bebê e o leva para sua
cidade, onde o bebê é adotado pelo rei Pólibo.

Ao bebê, os pais adotivos dão o nome de Édipo, que costuma ser traduzido
como “aquele que tem os pés furados” ou “aquele que foi pendurado pelos
pés”.

Já jovem, ao consultar o oráculo de Delfos para saber sobre a sua origem,


Édipo ouve uma terrível profecia. A de que o seu destino é matar o seu pai
e desposar a sua própria mãe. Para supostamente fugir desta profecia,
Édipo abandona Corinto, acreditando que Pólibo é seu verdadeiro pai.

Uma marca das tragédias é o fato de que o destino apresenta


“coincidências” e que estas coincidências são inescapáveis, por mais que
os personagens tentem fugir delas. E assim será com Édipo, envolto em
uma trama inescapável.

Édipo enfrenta a comitiva e, depois, a Esfinge

Em suas andanças, Édipo encontra por uma estrada um homem idoso (que
estava acompanhado de uma comitiva), com quem Édipo acaba discutindo.
Então, Édipo mata esse homem e quase toda a sua comitiva, restando
apenas um sobrevivente da comitiva.

Quando Édipo chega a Tebas, a Esfinge que afligia a cidade com grandes
castigos propõe a Édipo (como a qualquer outro que tentasse entrar na
cidade) um enigma: “qual animal tem quatro patas de manhã, duas patas à
tarde e três à noite?“.

Édipo desvenda o enigma da Esfinge: a resposta é o homem. No início da


vida o ser humano engatinha (4 patas), na idade adulta caminha sobre duas
pernas (patas) e, idoso, caminha com duas pernas mais uma bengala (3
patas). Manhã, tarde e noite representariam as fases da vida humana.

Ao responder o enigma, Édipo salva a sua vida e a da cidade: pois a Esfinge


se suicida.

Édipo é nomeado rei de Tebas e casa-se com Jocasta

Como recompensa pela destruição da Esfinge, Édipo é nomeado rei de


Tebas e desposa a irmã do então rei Creonte. Esta esposa de Édipo
é Jocasta, viúva de Laio, que fora assassinado.

Após 15 anos, uma peste assola Tebas.

O oráculo de Delfos é perguntado sobre o que deve ser feito para salvar a
cidade. O oráculo responde que o assassino do rei Laio deve ser punido,
só assim a peste seria interrompida. Então, o cego Tirésias diz a Édipo que
o assassino de Laio está mais perto do que todos imaginariam.

Nesse momento, um mensageiro de Corinto chega a Tebas e revela que o


rei de lá falecera e diz que Édipo é filho legítimo do rei Laio. Também é
quando aparece o sobrevivente da comitiva de Laio. Quem, por sinal, é o
mesmo homem que abandonara o bebê no Monte Citerão.

Está cumprido o destino trágico na História de Édipo

O jovem que agora está diante dele é o rei de Tebas, Édipo. Assim, revela-
se que Édipo:

• matou o pai (Laio) e


• casou-se com a mãe (Jocasta).

E fez as duas coisas “sem saber” que Laio era seu pai e que Jocasta era
sua mãe.

Após essa descoberta, Édipo fica desolado. Fura os próprios olhos e, cego,
passa a perambular sem destino pelo mundo, como seu castigo. A rainha
Jocasta comete suicídio.

Características do Complexo de Édipo: Freud


Todos os seres humanos devem a sua origem a um pai e a uma mãe. Para
Freud, não haveria, assim, como escapar dessa triangulação (bebê – mãe
– pai), a qual constitui o centro do conflito humano. Essa triangulação
define a estrutura psíquica do sujeito. E ela não está presente apenas na
infância do sujeito, mas em toda a sua vida.

O Complexo de Édipo é um conceito universal para a compreensão sobre


o que é psicanálise. Um conceito que fala sobre sentimentos como o amor
e o ódio, quando direcionados àqueles que mais nos são próximos, nossos
pais. É também uma teoria sobre a maturidade psíquica: um sujeito só se
torna psiquicamente autônomo quando supera a infantilização da fase de
dependência a seus pais.

A fase fálica começa a trazer à criança várias proibições até então


desconhecidas. É quando a criança começa a perceber que a sociedade
lhe impõe regras, limites e costumes. A criança já não pode mais fazer o
que quer (seu id não pode ser plenamente atendido), e a sua liberdade
começa a ser cerceada, em função de uma vida social mais complexa, com
novos agentes.

Nesse momento, a criança começa a identificar mais claramente as


distinções entre si e os seus genitores. Sendo, portanto, uma das fases
mais importantes do desenvolvimento, psicológico e sexual. Segundo
Freud, os reflexos da idade edipiana poderão se refletir por toda a vida
adulta do sujeito. Inclusive em sua vida sexual, sua realização profissional,
sua maturidade psíquica, sua capacidade de se relacionar afetivamente
com outras pessoas etc.

Como se Resolve o Complexo de Édipo?

Para resolver esta fase edipiana, é necessário desenvolver uma identidade


saudável e mais autônoma. A criança deve

• identificar-se com o genitor do mesmo sexo (o menino com o pai, a


menina com a mãe) e
• deixar de desejar o genitor de sexo oposto.

Assim, a criança resolve o conflito incestuoso e característico do


Complexo de Édipo.

A demanda colocada aos pais na educação psicológica da criança


é permitir que a criança se autonomize e deixe de colocar seu afeto (amor
e animosidade) apenas em relação ao núcleo familiar.

Para isso, a criança (e, depois, o adolescente) buscará outros ideais e


objetos, como brinquedos, amigos, professores, super-heróis, artistas etc.
E, por vezes, até mesmo rejeitará a atenção dos pais. Isso é comum como
a diferenciação necessária à autonomia.

De acordo com Freud, essa fase edipiana envolve o id e o ego da seguinte


forma:

1. O primitivo id quer eliminar o pai, e o ego, realista, sabe que o pai é


muito mais forte.
2. É quando surge a angústia de castração no menino, que teme que o
pai mais forte se imponha contra ele.
3. Ao descobrir as diferenças físicas entre o homem e a mulher, a
criança acha que o pênis do sexo feminino foi removido.
4. Com isso, o menino também acha que o seu pai irá castrá-lo por
desejar a sua mãe: é o chamado Complexo de Castração.
5. Para resolver esse conflito, o filho deve ceder e se identificar com o
pai. Isto é, aceitar o pai, manter uma relação com o pai e elaborar um
apreço à figura paterna. Afinal, se o filho desafiar o pai, estará numa
posição vulnerável depois.
6. Ao mesmo tempo, o filho deve abdicar-se do incesto com a mãe
(você, psicanalista, não interprete isso pela via moralista, pense que
esta atração da criança é pulsional e ainda é confuso para a
sexualidade e a personalidade em formação).

Basicamente, para superar o complexo de Édipo e seguir em frente, o filho


deverá aceitar a supremacia do pai e a impossibilidade de ter o amor
conjugal pleno com sua mãe. Assim, o “eu” estará livre para se fixar a
outros objetos de amor. Isto é, realizar-se com outra pessoa, ter uma
profissão, assumir um papel de responsabilidade pessoal, familiar e social.

Diz-se que houve um complexo de Édipo mal resolvido quando a criança


não consegue fazer esta passagem de afeto, mantendo-se infantilizada na
idade adulta, insegura em relação a ambientes e pessoas, incapaz de
assumir responsabilidades, presa ao afeto/proteção da mãe e à rivalidade
com o pai, não conseguindo tomar decisões sozinha, projetando em outras
pessoas o papel de pai/mãe.

O papel do Superego

Conforme ocorra a superação bem resolvida do complexo de Édipo, vai se


estruturando o superego. Atua como uma autoridade moral internalizada
pela pessoa. Por isso, este momento de superação é, para Freud, essencial
ao desenvolvimento psicossexual do indivíduo.

No livro Mal Estar na Civilização, Freud sugere que o mito de Édipo está na
base não só do indivíduo, mas também na base da cultura. A escola, a
religião, a moral, a família, o poder de polícia, os ideais de normalidade, as
leis são alguns exemplos de construções sociais que buscam impor aos
mais novos as regras que vão preservar o status quo das gerações
anteriores.

Assim como o pai faz em relação ao filho, a sociedade criaria a cultura


(sinônimo de civilização, em Freud) e todos os seus aparelhos em razão do
temor de que os jovens (os “filhos”) ataquem as regras de funcionamento
que já organizam esta sociedade.

5-FREUD E O MOVIMENTO PSICANÁLITICO

O movimento psicanalítico teve o seu primeiro período, que vai até 1902,
uma época de pouco reconhecimento. Durante esse período, Freud
trabalhou sozinho e, dessa forma, conseguiu ter algumas vantagens. Isto
é, ele não precisava ler determinadas publicações, assim como não tinha
de realizar embates com adversários a respeito de suas ideias e das ideias
do movimento.

Nessa fase, ainda eram poucos os que se interessavam pelo assunto. Em


1900, por exemplo, Freud realizou uma palestra na universidade de Viena,
a qual teve apenas três pessoas presentes.
Logo Freud e seus seguidores, que foram surgindo, passaram a trabalhar
juntos na divulgação da psicanálise.

A partir de 1902 até 1910, a psicanálise passou ampliar os seus espaços,


presente em outros contextos e nos meios acadêmicos. O primeiro
Congresso Internacional de Psicanálise foi realizado na cidade de
Salzburg, em 1908. Em 1909, foi fundado o Jornal Internacional de
Psicanálise. E em 1910, Freud propôs a fundação da Associação
Internacional de Psicanálise. No entanto, a brigada vienense foi contra a
criação dessa fundação, na época.

A Primeira Grande Guerra

Com o início da Primeira Grande Guerra, passou-se a repensar na


civilização, de modo geral. Nesse momento, a psicanálise acabou sendo
colocada no centro das atenções. Assim, foram abertas as portas para a
cultura do século XX, na qual Freud desempenhou um papel crucial.

A partir dessa época, passou a se reconhecer, especificamente, a


importância da psicanálise para o tratamento da neurose da guerra.
Inclusive pelo fato de que os tratamentos comuns até então aplicados não
funcionavam nestes casos. Sendo assim, percebeu algo mais profundo a
ser especificamente tratado.

Foi onde entrou a psicanálise e Freud, embasado nas denominadas


neuroses da guerra, reformulou a sua teoria da angústia.
Foi principalmente nessa época que a psicanálise começou a se espalhar
por outros países, além da Áustria, onde havia nascido. Nesse momento,
sua expansão ocorreu, principalmente, em países de língua alemã.

Freud e seus Seguidores

Primeira fileira: Sigmund Freud, Stanley Hall, Carl Gustav Jung; segunda
fileira: Abraham Brill, Ernest Jones, Sandor Ferenczi. Universidade de
Clark, em Massachusetts, nos Estados Unidos, em Setembro de 1909.
Fonte: Wikipedia

O movimento psicanalítico ganhou maior propulsão conforme foi


ganhando mais adeptos. Fundado e divulgado por Freud e seus
seguidores, dentre os quais estão: Otto Rank, Ernest Jones, Hanns Sachs,
Alfred Adler, Sandor Ferenczi, Max Eitingnon, Wilhelm Stekel, Carl Gustav
Jung e Karl Abraham, dentre outros.

O movimento da psicanálise passou a ganhar terreno lentamente, a partir


de Freud e de seus adeptos. Por outro lado, inclusive por ser inovador em
muitos sentidos dentro da psicologia e dos estudos sobre a mente humana,
o movimento foi atacado e difamado por psiquiatras, psicólogos e pela
imprensa da época.

Isso talvez explique por que o movimento acabou assumindo mais um


caráter de uma seita religiosa do que de área de estudo, propriamente dita.
Além disso, havia muita divergência entre os pensamentos dos próprios
membros.
Apesar de Freud e seus seguidores formarem um grupo que afirmava ter
uma compreensão profunda do comportamento humano, havia, muitas
vezes, uma intolerância entre os próprios membros.

O movimento psicanalítico ficou também conhecido pelas discordâncias


entre Freud e seus seguidores. Para entender um pouco mais sobre essas
discordâncias veremos algumas linhas de estudos seguidas por alguns
seguidores de Freud.

Sándor Ferenczi (1873-1933) tinha o seu interesse voltado para uma versão
da terapia que seria mais curta. Acreditava nisso junto de outro seguidor,
Otto Rank, que defendia esse pensamento. Ele tinha uma preocupação
relacionada à quantidade de tempo que o paciente levaria para concluir a
análise.

Dentro desse intuito, ele experimentou várias maneiras de acelerar o


processo preconizado por Freud. Freud não aprovava esta atitude,
entretanto, nunca houve um rompimento definitivo entre ambos. Ferenczi,
além disso, enfatizava na importância da natureza “impessoal” da terapia.

Otto Rank (1884 – 1939) também acabou se afastando do grupo. Apesar de


antes ter sido tratado por Freud como um filho e de este o ter auxiliado em
sua formação acadêmica. Após muito tempo ter sido um membro
comportado da Sociedade Psicanalítica de Viena, Freud, aos poucos,
percebeu divergências em sua forma de pensar.

Rank e Ferenczi publicaram o livro “O Desenvolvimento da Psicanálise”,


em 1924, no qual defendiam a ideia de reduzir o tempo do tratamento.
Nesse livro eles defendiam a ideia de que as experiências ocorridas na
infância do indivíduo talvez não fossem tão importantes.

Sendo assim, o paciente adulto poderia lidar rapidamente com os seus


problemas. Além disso, seu livro “O Trauma do Nascimento” Rank falava
do trauma do nascimento e a fantasia de voltar para o útero materno.

No livro ele afirmava que esses eram fatores mais importantes do que os
estágios ocorridos posteriormente, durante o desenvolvimento infantil.
Esse trauma, inclusive, era mais importante que o complexo de Édipo, para
o autor.

Adler e Jung e suas linhas de estudo

Um dos seguidores de Freud que são mais conhecidos atualmente é Alfred


Adler. Ele foi um dos primeiros a se afastar desse primeiro grupo de
psicanalistas. Em 1907, ele publicou a obra “Estudo de Inferioridade
Orgânica”, na qual afirmava que “ser humano significa possuir uma
sensação de inferioridade”.
De acordo com a teoria de Adler, os impulsos eróticos primitivos do ser
humano não eram sexuais, mas sim eram agressivos. Ele também afirmava
que a neurose tinha uma causa orgânica, que ela advinha de uma
inferioridade orgânica original. Portanto, para Adler a biologia era
determinante na vida das pessoas.

Ele acabou sendo expulso do grupo por expor as suas ideias, opostas às
ideias de Freud e da psicanálise então tida como única e original.

Carl Gustav Jung (1875 – 1961) foi presidente da Associação Internacional


de Psicanálise, porém, também acabou divergindo o pensamento inicial da
psicanálise. Para Freud, Jung era como um filho e herdeiro do movimento,
isso acabou acarretando diversos problemas.

Em 1912, Jung conferenciou em Nova York, na Universidade de Fordham


e, ao invés de defender Freud, ele criticou as suas ideias e teorias básicas.
Jung criticava as origens sexuais e infantis dos distúrbios neuróticos. Ele
dizia que a psicanálise deveria ir além de sua ênfase exagerada na
sexualidade, e em um artigo apresentado em 1913, em Londres, ele falou
de uma “psicologia analítica”. O que acabou acarretando um rompimento
definitivo entre Jung e Freud.

Apesar de tantas divergências entre Freud e seguidores, vemos que essas


divergências a respeito da natureza da psicanálise acabam refletindo a
forma como ela se liga a outras áreas, como cultura, religião e história, ou
a forma como se reflete nas sociedades.
6- BIBLIOGRAFIA

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