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Coledo PENSAMENTO CRITICO vol. 13 Ficha catalogrifica aruda pelo Centro de Catalogacio-na-fonte do ‘TO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, Ri) Hobsbawm, Erie J = fp a pre re ERIC J. HOBSBAWM A ERA DAS REVOLUCOES Europa 1789-1848 Tradugdo de Maria Tereza Lopes Teixeira Marcos Penchel 2.8 BDICAO Dev « Tarra tat Copyright © Weidenflé & Nicolon Lid, London “Ticlo do original ings The Age of Revolution Europe 1789-1868 Montagem da copa: Mario Roberto Cortés da Siva hone Mm Reprodusio do quadro de Isidore Pils, de 1889, em que aparece Roveet de do 4 Marelhesa, de sua autora Dios adguirdos peta EDITORA PAZ E TERRA S.A, Rua Andet Cavalcanti, 36 Fatima, Rio de Janeiro, RY ‘We se reserva a propriedade desta traducdo, Sumario Introdugao Parte 1 EVOLUCAO |. O Mundo na Década de 1780 2. A Revolugio Industrial 3. A Revolugio Francesa 4.4 Guerra 5. A Paz 6. As Revol 7. 0 Nacionalismo Parte IL RESULTADOS, Aberta ao Talento Os Trabathadores Pobres 12. A Ideologia Religiosa A 14, A Artes 15. A Ciéncia 16. Conclusiio: Rumo a 1848 2B a n 95 7 127 151 167 187 203 221 239 255 275 301 321 333 347 359 » ¢ Hustragdes fentre as paginas 160 ¢ 151) _ Rei Luis XVI, 3. $. Duplessis, Galeria Maria Antonieta, Versathes (Foto: Giraudon) (0 Faetonte, Stubbs, National Gallery, Londres (Foto: National Gallery) . Cacada aos Coethos, Franz KrOger (1807-1857), Galeria Gemalde, ‘Dessau (Foto: Marburg) |. Principe Augusto da Prissia, Galeria Nacional, Berlim (Foto: Marburi A Familia Flaquer, Espalter, Museu do Prado, Madri (Foto: A. Castellanon, Madti) © Professor Claassen e sua Famitia, 1. Milde, Museu de Hambur- go (Foto: Marburg) ‘4 Familia Stamarty, 3. D. 1 Paris (Foto: Colegio Man: ‘Auto-retrato, por volta de 1836, Karl Blecher (1789-1840), Galeria Nacional, Berlim (Foto: Marburg) Sala da Guarda dos Estudantes na Universidade de Viena, 1848, Franz Shams, Museu Histérico do Estado, Viena (Foto: Bildar- chiv der Osterreichischen Nationalbibliotek) ia Real Bolsa de Valores, Richard Dighton (Foto: Radio Times, Hulton Picture Library) ‘A Conferéncia, Honoré Daumier (1808-1879) (Foto: Marburg) Levante camponés na Morivia (Foto: Marburg) © Trabalhador Agricola, S. H. Graine, ADD Ms. 15547 F. 54, Museu Britdnico (Foto: Museu Briténico) Os tértaros maltratando os camponeses russos, de uma gravure do inicio do século XIX (Foto: Radio Times, Hulton Picture Libra- 2) Dois camponeses russos em 1823 (Foto: Radio Times, Hulton Picture Library) Os Fabricantes de Aco de Sheffield, M. Jackson (Foto: Colesto Mansell) oe Recepcio Matinal ao Rei Hudson, Punch * (Foto: Museu Britdni- es (1780-1867), Museu do Louvre, Fébneas, T. A. Priot (Foto: Colegio Mansell) Ort egg Carlin (Foto: Galeria Parker) oa ‘Lane, St. Giles, ondres (Foto: Radio Times, Hulton Picture LibvarY) a aus, Lubeck (Foto: Marbura) emer, Sch , . Biedemeier Giles, Londres (Foto: Radio Times, Hulton Pictu- +e Loran Minas de Carséo de Northumberland e Durnham,G. * HL. Harris (Foto: Museu da Ciéncia) oa, te ar Te yardins de Kensington ou Modas e Sustos de 1829, ” Cruikshank (Foto: Colegio Man: 25, Parade unter den Linden, G. A. Schrader (pintado entre | ‘ria Nacional, Berlim (Foto: Marburg) ‘wesleyana na City Road de Londres (Foto: Colecdo Mansell) jor da Capela de Great Ilford, Essex (Foto: Colegio Man- : Leningrado (Foto: Coleco Mansel A Tomada da Bastlha, Prieur, Museu do Louvre, Paris (Fo raudon) 30, Transporte Militar para Montmartre, Prieur, Museu do Louvre, Paris (Foto: Giraudon) 31. 0 povo invadindo o Paldcio das Tulherias, Prieur, Museu do Low we, Paris (Foto: Gitaudon) 32, A Marselhesa (Foto: Archiv fOr K uns 33, Modelo da guilhotina, Museu Carnavalet, Pa |. A Raitha Maria Antonieta a caminko da execucdo, esboyo de J. L. David (Foto: Coleco Mansell) 35, Robespierre, Museu Ballotz (Foto: Colecdo Mansell) 36. Marat, Museu Ballotz (Foto: Colecio Manse 37. Danton, Museu Ballotz (Foto: Colegio Manseil) 38. St, Just, Museu de Condére (Foto: Colegio Man: 39. Mirabeau, Museu de Condére (Foto: Colegio Mansell) 40. Morte do General Marceau, gravura de Eichler baseada em Gira- de (Foto: Archiv fir Kunst and Geschichte, Berlim) 41. Gravura 2 de Os Desastres da Guerra, Goya (Foto: The Hispanic Society of America) . Couraceiros franceses atacando na Batalha de Moscou, Albrecht fet Museu de Munique (Foto: Marburg) ‘apoledo Bonaparte, Primeiro Cénsul, J. L. David (Foto: Cole- mn ee Mansell) " independéncia venezuela em 1821 (ais Cane Anne Proclamada em Caracas fundado em 1841 e que posteri stata. (Grande Encilopédia Delta Larousse, vel (Nota de eis bras 45. 0 Adeus dos Poloneses @ Pétria, 1831, Dietrich Monten (1799- 1843), Galeria Nacional, Berlim (Foto: Marbu 46. O castizo merecido na Baia de Anson (Foto: G: 41, Mohammed Ali, governante do Egito (Foto: Colegdo Mansell) ‘20s vintee cinco anos de idade, G. sola, Institue 49, Toussaint Louverture (Foto: Colecio Man: ‘50. 0 Povo ateando fogo ao trono ao pé da Coluna de Julho, 1848 (Fo- lecdo Mansell liar Armado, Museu Hist6rico do Estado, Viena (Foto: (darchiv der Osterreichischen Nationalbibliotek) lustrated London News) Museu do Louvre, Paris (Fo- to: Colegdo Mansel 54, Estagdo de Euston, George Stephenson (Foto: Coleco Mansell) 55. A ponte suspensa de Clifton, Isambard Kingdom Brunel (Foto: ‘National Buildings Record) 56, Fachada do Museu Bri dings Record) 51. Enterro das Cinzas de Napoledo no Arco do Triunfo, \S de de- zembro de 1840, litografia de Adam baseada em Bichbois, Va Cabinet des Estampes, Paris (Foto: Marburg) :no, Brillat Savorin (Foto: Guide Gastronomique) iradores da rua Cato, 1819 (Foto: Colegio M ico (1842-1847) (Foto: National Buil- io da Praca de S. Pedro ea maneira pela qual a Reunido Refor- ista de Manchester foi dispersada pelo Poder Civil e Militar, 16 ated London News (Foto: Biblioteca John Rylands) 61. Vida, Julgamento, Confissdo e Execugdo de T. H. Hooker (Foto: Cole¢do Mansell) 62. Abrigo de Indigentes (Foto: Colegio Mans 63. Funeral em Skibbereen, 1884 (Foto: Coleco Mansell) 64. Acorrentados da cidade de Hobart, 1856 (Foto: Coleco Man- sell) 65, Monumento comemorativo a Walter Scott, Edinburgo (Foto: Tony Scott) 66. Gravura contemporinea da Bolsa, Paris (Foto: Coleco Man- sell) 67. Fanny Elssler (Foto: cortesia do Mercury Theatre, Nottinghill Gate) 68. Madame Recamier, J. L. David, Museu do Louvre, Paris (Foto: Colegio Mansel A égua Molly Longleggs segura por seu jéquei, Stubbs (Foto: Co- 10. n. 2. 2B. 1". 1. 16. 87. 88, 89. 3 an. |. Casa das Palmeiras no Ja do Selvagem, Delacroix, Galeria de Arte de Budapest eset uses de Belas Artes, Budapeste) te (ote: den Linden, Eduard Gaeriner (1801-1877), Galeria Nacio. nal, Berlim A PRO étio para 0 primeiro ato do Otelo, de Rossini, Friedrich Siat (rs 1841), Teatro da Opera de Berlim, 1847 (Foto: Ar- chiv fr kunst und Geschichte, Berlim) Punagem de Caspar David Friedrich (Foto: Marburg) paistetscendo sobre o Mar, Casper David Friedrich, Galeria Na- ‘cional, Berlim (Foto: Marburg) GW Pabrica de Swainson, Birley & Cia., G. Tingle (Foto: Coleco Mansell) : , saree Ferro, Joseph Wright, Colecto da falecida Condessa de Meuntbatten de Burma, Royal Academy of Arts, Londres (Foto; Royal Academy of Arts) © Mercado de Escravos, 1836, Horace Vernet (Foto: Marburg) jos por uma danga numa ‘he Commonwealth Rela- Dois oficiais europeus sendo entre casa da India por volta de 1800 (Fo! tions Office) Mulheres da Argélia num Harém, Delacroix, Museu do Louvre, Paris (Foto: Colegio Mansell) 0 Foguete , de George Stephenson (Foto: Museu da Ciéncia) Modelo do P. S. Britannia (Foto: Museu da Ciéncia) “a Lampada de Argand ¢ a Lampada Quimica de Argand (Foto: ‘The Illustrated London News) |. A primeira rua iluminada a gis, Terrago da Carlton House, Pall Mall, 1809 (Foto: Coleco Mansell) ; Desenhando Retortas no Grande Estabelecimento de Gas, Brick Lane, 1830 (Foto: Museu Britanico) . O Thine! do Témisa, 1825-1843, Isambard Kingdom Brunel (Fo- to: Colegdo Mansell) . Fachada da loja Priest logo depois de sua inauguragdo (Foto: Radio Times, Hulton Picture Library) Botinico de Kew, Decimus Bur- ton (Foto: Sir John Summerson) A Carruagem de Brighton em frente aos escritdrios da empresa em Londres, 1840 (Foto: Colegio Mansell) Inauguracdo da Estrada de Ferro Napoles-Portici, Salvatore Fergola, Museo Nazionale di San Martino (Foto: Galeria Soprin- tendenza, Napoles) Método usado pelas criancas nas minas de carvao, Real Coms: sio sobre o Emprego de Criangas nas Minas, 1842 (Foto: Cole- 40 Mansell) Meio de tazer 0s trabalhadores infantis do fundo das minas & {atudo. Real Comissdo sobre o Emprego de Criangas nas Minas, (Foto: Colegio Mansell) 92. A plaina de Whitworth, 1842 (Foto: Crown Copyright) I 93. Michael Faraday fazendo uma palestra no Instituto Real, 1846 (Foto: Crown Copyright) 94, Estante de minerais no atelié de Goethe (Foto: Nationale For- chung: und Gedenkstatten in Weimer) 95, Alexandre von Humboldt (Foto: Colec4o Mansell) 196. Alexandre Sergeievich Pushkin (Foto: Colegio Mansell) 97, Ludwig von Beethoven (Foto: Radio Times, Hulton Picture Library) 98. Johan Wolfgang von Goethe (Foto: Marburg) 99, George Wilhelm Friedrich Hegel (Foto: Colegio Mansell) 100, Auto-retrato de Francisco de Goya y Lucientes (Foto: Colegio Mansell) 101. Charles Dickens (Foto: Coleco Mansell) 102. Honoré de Balzac (Foto: Colegéo Mansell) Mapas A Europa em 1789 A Europa em 1810 A Europa em 1840 A Populacdo Mundial nas Grandes Cidades: 1800-1850 A Cultura Ocidental, 1815-1848: A Opera Os Estados Europeus em 1836 A Industrializagao da Europa: 1850 A Expansio do Direito Francés een een Terceiro Capitulo A REVOLUGAO FRANCESA Um inglés que nio se sinta cheto de estima e admiragdo pela maneira suslime com gue estd agora se efetuando uma das mais IM POR- TANTES REVOLUCOES que o mundo jamais viu deve estar morto para todos os sentidos da virtude e da liberdade; nenhum de meus atricios que tenha tido a sorte de presenciar as ocorréncias dos iilti- ‘mos trés dias nesta grande cidade fard mais que testemunhar que mi= nha linguagem nao € hiperbolica. The Morning Post (21 de julho de 1789) sobre a queda da Basti- Tha Brevemente as nacées esclarecidas colocardo em julgamento aqueles que tém até agui governado os seus destinos. Os reis fugirdo para os desertos, para a companhia dos animais selvagens que a eles se asse~ melham; ea Natureza recuperaré os seus direitos. Saint-Just; Sur La Constitution de la France, Discours prononcé 4 la Convention, 24 de abril de 1793. mente sob a influéncia da revolugdo industrial britanica, sua politica e ideologia foram formadas fundamentalmente pela Revolugao France- sa. A Gra-Bretanha forneceu o modelo para as ferrovias ¢ fabricas, 0 vo econdmico que rompeu com as estruturas sécio-econdmicas jonais do mundo nao europeu; mas foi a Franca que fez suas re- volugdes e a elas deu suas idéias, a ponto de bandeiras tricolores de um tipo ou de outro terem-se tornado o emblema de praticamente todas as nagdes emergentes, ¢ a politica européia (ou mesmo mundial) entre 1789 € 1917 foi em grande parte a luta a favor e contra os principios de 1789, ou os ainda mais incendidrios de 1793. A Franga forneceu 0 vo- cabulério e os temas da politica liberal e radical-democratica para a maior parte do mundo, A Franga deu o primeiro grande exemplo, 0 conceito ¢ o vocabulirio do nacionalismo. A Franca forneceu os 06+ {208 legais, 0 modelo de organizacdo técnica e cientifica ¢ o sistema mé- trico de medidas para a maioria dos paises. A ideologia do mundo mo- z f demno atingiv as antigas civilizagdes que tinham até entio resistido as gerne guropéias inicialmente através da influéncia francesa, Esta foi a ‘obra da Revolugéo Francesa* ‘6 final do seculo XVIII, como vimos, foi uma época de crise para ‘os velhos regimes da Europa ¢ seus sistemas econdmicos, ¢ suas ulti ot décadas foram cheias de agitagdes politicas. as vezes chegando a ponto da revolta, ¢ de movimentos coloniais em busca de autonomia ds vezes atingindo 0 ponto da secessiio: ndo so nos EUA (1776-83) mas tmbem na Irlanda (1782-4), na Bélgica ¢ em Liége (1787-90), na Ho- anda (1783-7), em Genebra e até mesmo ~ conforme ja se discutiu = na Inglaterra (1779). A quantidade de agitacSes pol a alguns historiadores mais recentes falaram de uma democritica”, em que a Revolugio Francesa foi apenas um exemplo, embora o mais dramatico e de maior alcance € repercussio '. ‘Na medida em que a crise do velho regime nao foi puramente um fendmeno francés, ha algum peso nestas observacdes. Iguaimente, pode-se argumentar que a Revolugio Russa de 1917 (que ocupa uma posigdo de importincia andloga em nosso século) fol meramente 0 Frais dramatico de toda uma série de movimentos semelhantes, tais como os que - alguns anos antes de 1917 ~ finalmente puseram fim aos antigos impérios turco e chinés. Ainda assim, ha ai um equivoco. A Revolugdo Francesa pode nao ter sido um fendmeno isolado, mas foi muito mais fundamental do que os outros fendmenos contemporaneos f suas conseqiéncias foram portanto mais profundas. Em primeiro lu- gar, ela se deu no mais populoso e poderoso Estado da Europa (nd0 considerando a Russia). Em 1789, cerca de um em cada cinco euro peus era francés, Em segundo lugar, ela foi, diferentemente de todas as Tevolugdes que a precederam e a seguiram, uma revolugao social de massa, e incomensuravelmente mais radical do que qualquer levante comparavel. Nao um fato meramente acidental que os revolucioné- rios americans e os jacobinos briténicos que emigraram para a Fran- a devido a suas simpatias politicas tenham sido vistos como modera~ dos na Franca. Tom Paine era um extremista na Gra-Bretanha ¢ na América; mas em Paris ele estava entre os mais moderados dos giron- dinos, Resultaram das revolugdes americanas, grosseiramente fal do, paises que continuaram a ser 0 que eram, somente sem o controle politico dos britinicos, espanhéis e portugueses. O resultado da Revo- Reo Francesa foi que a era de Balzac substituiu a era de Mme. Du- ‘Es ference etre a infutcias britnicaeranesa no deve ser levada muito on, fe, Nenhum dos dois centros da revolugdo dupla confinou sua ifluénca a Gusiaee" gumpo de avdnge humana eos dos eam antes complemetares gue cOmPe Tmo, gac fae meso guand ambos convergiam mais elaramente- com 9 ee iam’a se simultaneamente inventado e batizado nos dois paises ~. COMET Baie rahi a ae ee Em terceiro lugar, entre todas as revolugdes contemporineas, a Revolugio Francesa foi a nica ecuménica, Seus exércitos paruram pura revolucionar © mundo; suas idéiss de fato o revolucionaram. A Pevolugio americana foi um acontecimento crucial na histéria ameri- Cana, mas (exceto nos paises diretamente envolvidos nela ou por ela) Geixou poucos tragos relevantes em outras partes. A Revolugio Fran- Gesa € um marco em todos os paises. Suas repercussdes, ao contrério Gaquelas da revolugdo americana, ocasionaram os levantes que lev ram a libertagao da América Latina depois de 1808, Sua influéncia di- Feta se espalhou até Bengala, onde Ram Mohan Roy fo1 inspirado por laa fundar 0 primeiro movimento de reforma hindu, predecessor do fnoderno nacionalismo indiano. (Quando visitou a Inglaterra em 1830, le insistiu em viajar num navio francés para demonstrar 0 entusiasmo Gue tinha pelos principios da Revolugdo.) A Revolucdo Francesa foi, domo se disse bem, "0 primeiro grande movimento de idéias da cris- tandade ocidental que teve qualquer efeito real sobre o mundo islimi- co", e isto quase que de imediato. Por volta da metade do século XIX a palavra turea vatan, que até entdo simplesmente descrevia 0 lo- cal de nascimento ou a residéncia de um homem, tinha comegado a se ‘ob sua influéncia, em algo parecido com pairie, o termo rites de 1800 sobretudo uma expressio legal que denota- va 0 oposto de “escravidio", tinha comegado a adquirit um novo con- {elido politico. Sua influéncia direta é universal, pois ela forneceu 0 io para todos os movimentos revolucionérios subsequentes, suas Tigdes (interpretadas segundo o gosto de cada um) tendo sido incorpo- radas a0 socialismo € a0 comunismo modernos®. ‘A Revolucao Francesa é assim a revolucdo do seu tempo, ¢ nao apenas uma, embora a mais proeminente, do seu tipo. E suas origens devem portanto ser procuradas ndo meramente em condicdes gerais da Europa, mas sim na situacao especifica da Franga. Sua peculiarida- de €é talvez melhor ilustrada em termos internacionais. Durante todo 0 Século XVIII a Franga foi o maior rival econdmico da Gra-Bretanha, Seu comércio externo, que se multiplicou quatro vezes entre 1720 € 1780, causava ansiedade; seu sistema colonial foi em certas areas (co- mo nas Indias Ocidentais) mais din&mico que 0 britanico. Mesmo as sim a Franga nao era uma poténcia como a Gra-Bretanha, cuja Pt a externa ji era substancialmente determinada pelos interesses da ¢ pansio capitalista, Ela era a mais poderosa, ¢ sob varios aspectos nais pied, das velhas e aristocrdticas monarquias absolutas da Euro” pa, Em outras palavras, o conflito entre a estrutura oficial eos interes cla ajudou a es modelos const Francesa ~ para varios Estados mocratico-radicais de tempos em tempo ZB sex enapelesid do seth rapine #38 savas forcas soctts ascend eae ide na Franga do que tm oulras partes aes forgaa sitiem #lLo prctarnente © que Queriim, Tw. ene eee par um comérao € uma empresa srt, par uma adr fe padromeda de um omico fol de toda a rex Gram’o desenvolrmenta dos recursos Da 1 Glove wnagio raionun e mmparciais. fede dewt programa ‘Come prmeiror tPre. feast lamentavelmente 0 fracaeo cara mmas dss tipo, em doses modest ete vveis de mudar 0 carater geral de suas esi ainda fracassaram em face da tesisténcia das ai ‘outros interesses estabelecidos, deirando op, tum pouco mars limpa do seu antigo Estado, Na Franga elas fe ram mays rapidamente do que em outras partes, pois Interesses estabelecidos era mais efetiva, Mas os res casso foram mais catastroficos para a monarg) danga burguesa erem fortes demais para ca plesmente transteriram suas esperangas de ums m para © povo ou a “nayio™ : Nio obstante, uma peneralizagio desta longe na compreensdo de por que a revolugdo eclodiu quando eck € por que tomou aquele curso notivel. Para rarmos a chamada “reagdo feudal”” que realmente forneceu a centelna ‘ que fez explocir 0 barril de polvora da Franca ‘As 400 mil pessoas aproximadamente que, entre os 2 franceses, formavam a nobreza, a inguestionavel nagdo, embora nio to absolutamente a salvo d | ‘nhas menores como na Prussia € outros lugares, es} guras. Elas gozavam de consideraveis privilégios, inclusive de isengdo de virios impostos (mas ndo de tantos quanto o clero, mais bem orga- nizado). € do direito de receber trioutos feudais, Politicamente sua si- twagdo era menos brilhante.A monarquia absoluta, conquento interra~ Mente aristocratica e até mesmo feudal no seu ethos, tinha desutuido os nobres de sua independéncis politica e responsabilidade e reduzido 20 minimo suas velhias instituicdes representativas - propriedades € Parlements. O fato continuou a se agravar entre a mais alta aristocra- Gia € entre a nobiesse de robe mais recente, criada pelos reis para varios fins, principalmente financeiros ¢ administrativos; uma classe média Bovernamental enobrecida que expressava tanto quanto podia 0 duplo 4 romissio das lie fam pastante se itonanrs = scontentamento dos anstocratas ¢ dos burzueses supa remanescentes E caves das prom mente as preo- renvers Guette:ros por nascimento € ttadigd® ~ 08 te impedidos de exercer um offcio bu profissio -, eles dependiam da renda de suas propnedades. ou, periencessem & min: fes ou cortestos, "AO, eramm nesessirios quatro gc (¢ para comprar uma comissio no exersito, obres e até mesmo as intendéncias, a pedea regular da ad! real, tinham sido retomadas por eles. Consegaentemente, jos exasperava os sent suvedida competigio por po: rola 0 pro Estado através da creso de assumir a ademinsstraglo € provinciana, De maneira semieinante, eles - € especiaimente 9 cavalheiros provincianos mais pobres que tinham poucos outron Tee cursos ~ tentaram neutralizar o declinio de suas rencas usando ao mae Kimo seus consideraveis direnios feudais para extorguir dinneito (ou servigo) do campesinato. Toda uma profisedo, a dos asceu para reviver os direitos obsoietos deste tipo ou en- (0 para aumentar ao mauimo 0 lucro dos eustentes. Seu mais ce- lebrado membro, Gracchus Babé ase tornar o liver da primer ra revolta comunista da historia m em 1796. Consegien te, a nobreza ndo so exasperava a classe mecia mas t noprea pot ua ber desta classe enorme, compreendend ne De Va, as propriedades nodres cobriam $07 as propriedades do clero talvez codmissem outros 6°, com variagdes Fegionais '. Assim € que na diocese de Montpelier os camponeses 4 Possuiam de 38 a 40°, da terra, a burguesia de 18 a 19°,, 08 nobres de 1S. a 16°, € 0 clero de }.a4',, enquanto um-quinto era de terras co» nte um-quinto da terra, * Especulistas em diteto feusal (NT) % FP OTE . a grande maioria ndo tinha terras ou 1s‘, Na verdade, ent mon fa esta aumentada tinha uma quantidade atraso téenico dominant dumento da populacdo. Os tributos feu aa uma grande e cada vez maior proporcio da renda do camponds, Wantagdo reduzia o valor do resto. Pois s6 a minoria dos camponeses {que tinna um constante excedente para vendas se beneficiava dos pre- Sg erescentes; 0 resto, de uma maneira ou de outra, sofria, especial- Greate em tempos de ma colheita, quando dominavam os precos de fo- he, Ha pouca divida de que nos 20 anos que precederam a Revolugio juagao dos camponeses tenha piorado por essas razdes. ‘Os problemas financeiros da monarquia agravaram 0 quadro, A ‘estrutura fiscal e administrativa do reino era tremendamente obsoleta, ©. como vimos, a tentativa de remediar a situagio através das reformas Ge 1774-6 fracassou, derrotada pela resisténcia dos interesses estabele- tidos encabecados pelos parlements. Entdo a Franca envolveu-se na guerra da independéncia americana. A vitéria contra a Inglaterra foi Sbtida ao custo da bancarrota final, ¢ assim @ revolugao americana péde proclamar-se a causa direta da Revolugio Frencesa, Varios ex- pedientes foram tentados com sucesso cada vez menor, mas sempre Jonge de uma reforma fundamental que, mobilizando a considerdvel capacidade tributavel do pais, pudesse enfrentar uma situagzo em que (08 gastos excediam a renda em pelo menos 20%, € nao havia quaisquer fades de economias efetivas. Pois embora a extravagincia de ‘constantemente culpada pela crise, 0s gastos da astos totais em 1788, A guerra, a mari- im um-quarto, ¢ metade era consumida ce. A guerra e a divida ~ a guerra ameri- = partiram a espinha da monarquia. ‘A crise do governo deu a aristocracia e a0s parlements a sua chan- ce. Eles se recusavam a pagar pela crise se seus privilégios ndo fossem idos. A primeira brecha no fronte do absolutismo foi uma “as- " escolhidos a dedo, mas assim mesmo rebeldes, 87 para satisfazer as exigéncias governamentais. A io de convocar os Es- pelo servigo di cana e sua di convocada em segunda e decisiva brecha foi a desesperada dec tados Gerais, a velha assembléia feudal do 1614, Assim, a Revolugdo comecou como uma tentativa de recapturar o Estado, Esta tentativa foi mal calculada por duas ra- z6es: ela subestimou as intengdes independentes do “Terceiro Estado” ~ a entidade ficticia destinada a representar todos os que néo eram nobres nem membros do clero, mas de fato dominada pela classe mé- dia - ¢ desprezou a profunda crise sécio-econdmica no da qual langava suas exigéncias politicas. ‘A Revolugio Francesa nao foi feita ou liderada por um partido ‘ou movimento organizado, no sentido moderno, nem por homens que estivessem tentando levar a cabo um programa estruturado. Nem mes- = chegou a ter “lideres” do tipo que as revolugdes do século XX nos tem apresentado, até 0 surgimento da figura pés-revolucionari Lobe mPa PAN age geen es tee yer en entre um grupo social bastante coerente deu ao movimento revolucio. pario uma unidade efetiva. O grupo era a “burguesi ssico, conforme for mais. Até este ponto os “fildsofos” podem ser, com jus dos responsaveis pela Revolugdo. Ela teria ocorrido sem provavelmente constituiram a diferenca entre um simples im velho regime € a sua substituigdo répida e efetiva por um novo. Em sua forma mais geral, a ideologia de 1789 era a magSnice, pressa com to subl éncia na Flauta Mégica de Mozart (1791), uma das pri s de arte propagandisticas de uma é poca em que as mais altas realizagGes artisticas pertenceram tantas ve- zes 9 propaganda. Mais especificamente, as exigéncias do burgués fo- ram delineadas na famosa Declaragéo dos Direitos do Homem e do Cidadao, de 1789. Este documento é um manifesto contra a sociedade hierérquica de privilégios nobres, mas ndo um manifesto a favor de ‘uma sociedade democra ria, “Os homens nascem ¢ vivem livres e iguais perante as Ie ia seu primeiro artigo: mas ela tam- bem prevé a Ses sociais, ainda que “somente n0 terreno da uti as profissdes estavar se a corrida comecasse sem handicaps, era igualmente entendido fato consumado que os corredores nao terminariam juntos. A dec gio aficmava (como contrério a hierarquia nobre ou absolutismo) “todos os cidadaos tém o direito de colaborar na el mas “pessoalmente ou através de seus representant representativa que ela vislumbrava como o érgio fundamental de go- mente uma assembléia democraticamente iminar os reis. Uma quia const igarquia possuidora de terras era mais adequada & maioria dos liberais burgueses do que 8 re- liblica democratica que poderia ter parecido uma expresso mais 16- Bica de suas aspiragdes tedricas, embora alguns também advogassem esta causa, Mas no geral, o burgués liberal classico de 1789(¢ 0 liberal de 1789-1848) ndo era um democrata mas sim um devoto do constity- cionalismo, um Estado secular com liberdades civis ¢ garantias para empresa privada e um governo de contribuintes ¢ proprietarios Entretanto, oficialmente esse regime expressaria ndo apenas ses interesses de classe, mas também a vontade geral do “‘povo", que cv Por sua vez (uma significativa identficagio) "a nagdofrancest’”O re io era mais Luis, pela Graga de Deus, Rei de Franca ¢ Navarre, Luis, pela Graga de Deus e do direito constitucional do Estaéo, 1 dos franceses. “A fonte de toda a soberania”, di jeclaracio, - 7 ms 4 ‘ i side essencialmente na nagio”. E a nagdo, conforme disse Abbe Sieyes, nao reconkiecia na terra qualquer direito acima do seu prope endo aeeitava qualquer lei ou autoridade que nao a sua - nema da h franidade como um todo, nem a de outras nagdes. Sem divida, a m Gio francesa, como suas subseqilentes imitadoras. nao concebey in Gialmente que seus interesses pudessem se chocar com os de outros po. Vos, mas, pelo contrario, via a si mesma como inauguradora ou partic Cipante de um movimento de libertagao geral dos povos contra a tira. nia. Mas de fato a rivalidade nacional (por exemplo, a dos homens de negécios franceses com os ingleses) ¢ a subordinagéo nacional (por exemplo, a das nacdes conquistadas ou libertadas face aos interesses da grande ration) estavam implicitas no nacionalismo ao qual a bur. guesia de 1789 deu sua primeira expresséo Cado com “a nagdo” era um conceito revoluciondrio; mais revolucio- niirio do que 0 programa liberal-burgués que presencia express Mas era também uma faca de dois gumes. Visto que 0s camponeses € 0s trabalhadores pobres eram analfa- betos, politicamente simples ou imaturos, e 0 processo de eleigao, indi- reto, 610 homens, a maioria desse tipo, foram eleitos para representar 0 Terceiro Estado, A maioria da assembiéia era de advozados que de- sempenhavam um papel econdmico importante na Franca provincia- na; cerca de 100 representantes eram capitalistas ¢ homens de nego- cios. A classe média Iutou acirradamente, € com sucesso, para obter uma representacdo téo grande quanto a da nobreza ¢ a do clero juntas, uma ambigdo moderada para um grupo que oficialmente representa 93% do povo. E agora lutava com igual determinagio pelo direito de explorar sua maioria potencial de votos, transfor mando os Estados Gerais numa assembiéia de deputados que votariam individualmente, 40 contririo do corpo feudal tradicional que deliberava e votava “or- dens” ou categorias, uma situagdo em que a nobreza € 0 clero podiam sempre derrotar o Terceiro Estado. Foi ai que se deu a primeira vitéria revoluciondria, Cerca de seis semanas apés a abertura dos Estados Ge- rais, os Comuns, ansiosos por evitar a ago do rei, dos nobres ¢ do cle- To, constituiram-se eles mesmo, e todos os que estavam preparados ara se juntarem a eles nos termos que ditassem, em Assembléia Na~ sional com o direito de reformar a constituigdo. Foi feita uma tentati- va contra-revoluciondria que os levou a formular suas exigéncias pr amente nos termos da Camara dos Comuns inglesa. O absolutismo Atingia seus extertores, conforme Mirabeau, um brilhante ¢ desacredi- lado ex-nobre, disse ao Rei: “Majestade, vés sois um estranho nesta assembléia e ndo tendes o direito de se pronunciar aqui do ro ietito Estado obteve sucesso, contra a resistencia unificads soirss€, das ordens privilegiadas, porque representava ndo apenas as bem ange na minoria militante e instruida, mas também as de for- ‘Seibem mais poderosas: os trabalhadores pobres das cidades, © ¢sPe- aeente de Paris, ¢ em suma, também, 0 campesinato revoluciond- ‘io. © que transformou uma limitada agitagao reformista em uma Te 8 volugio foi 0 fato de que a conclamacdo dos Estados ci Ge 1780 tinham sido, por uma complenidade de razées, um periode de Grandes dificuldades praticamente para todos ot ramos da economia Francesa. Uma md safra em 1788 (e 1789) e um inverno muito diftad foenaram aguda a crise. As mas safras faziam softer 0 campesinate pois significavam que enquanto os grandes produtores podiam vender peveais a precos de fome, a maioria dos homens em suas insuficientes propriedades tinha provavelmente que se alimentar do milho reserva- fo para o plantio ou comprar alimentos aqueles pregos, especialmente nos meses imediatamente anteriores a nova safra (maio-julho), Obvia- mente as as safras faziam softer também os pobres das cidades, eujo Gusto de vida - 0 pio era o principal alimento ~ podia duplicar. Fazia- Os sofrer ainda mais, porque 0 empobrecimento do campo reduzia @ mercado de manufaturas e portanto também produzia uma depress4o industrial. Os pobres do interior ficavam assim desesperados ¢ envol- vidos em distarbios e banditismo; os pobres das cidades ficavam du- plamente desesperados j4 que o trabalho cessava no exato momento em que o custo de vida subia vertiginosamente. Em circunstancias nor- mais, teria ocorido provavelmente pouco mais que agitacdes cepa Mas em 1788 e 1789 uma convulsio de grandes proporgSes no reino € uma campanha de propaganda e eleicdo deram ao desespero do povo uma perspectiva politica, E lhe apresentaram a tremenda ¢ abaladora idéia de se libertar da pequena nobreza e da opressio. Um povo turbu- nto se colocava por trés dos deputados do Terceiro Estado. ‘A contra-revoluco transformou um levante de massa em poten cial em um levante efetivo, Sem divida era natural que o velho regime oferecesse resisténcia, se necessirio com forga armada, embora o exér- cito nao fosse mais totalmente de confianga. (Sé sonhadores irealistas suporiam que Luis XVI pudesse ter aceito a derrota e imediatamente se transformado em um monarca constitucional, mesmo que ele tives se sido um homem menos desprezivel ¢ estipido do que era, casado com uma mulher menos irresponsivel e com menos miolos de geinba, © preparado para escutar conselheiros menos desastrosos.) De fato contra-revolugiio mobilizou contra si as massas de Paris, ja famintas, ‘adas € militantes, O resultado mais sensacional de sua mobi iva queda da Bastilha, uma pristo estatal que simbolizave 8 autoridade real e onde os revolucionatios esperavam encontrar arma, Em tempos de revolugio nada é mais poderoso do que a queda Tt simbolos, A queda da Bastlha, que fez do 14 de julho a fest Maen, francesa, ratificou a queda do despotismo ¢ fol saudada em (80 mundo como 0 principio de libertagdo. Até mesmo o austere Xa Emanuel Kant, de Koenigsberg, de quem se diz ea er real to regrados que os cidadios daquela cidade acertavam por Ee She reldgios, postergou a hora de seu passeio vesperting 20 TO Atay cia, de modo que convenceu a cidade de Koenigsberg i certo €que {ue sacudiu o mundo tinha deveras ocorrido, O que é mais 9 yr ~ a queda da Ba para o campo. AAs revolugdes camponesas s80 movimentos vasto andnimos, mas irresistiveis, O que transformou quietagio camponesa em uma convulsio irreversivel fa dos levantes das cidades provincianas com uma onaa ie” massa, que se espalhou de forma obscure mas des regides do pais: o chamado Grande Medo de julho e principio de agosto de | iho, a estrutura social do feu. da Franca Real ruiam em pedagos. Tudo o q tal foi uma dispersdo de regimentos pou Nacional sem forga coercitiva e uma m 3 Tevou a revolugdo para as cidades provincan, abe isformes, uma epidemia de in, confiaveis, uma Assembiéia plicidade de admini be municipais ou provincianas da classe média que logo montaen ‘Guardas Nacion, jodelo de Paris. classe média € a aristocrac vel: todos 05 feudais foram of quando a do para sua ren mo $6 foi finalmente abolido em 1793, No final de agosto, a revolugdo tinha também adquirico seu manifesto formal a Declaragao dos Direitos do Homem e do Cidadio. Em contrapartda, © fei resistiu com sua costumeira estupidez, e setores revolucionan da classe média, amedrontados com as implicagdes sociais do levante de massa, comegaram a pensar que era chegada a hora do conservado- rismo, Em resumo, a principal forma da politica revolucionéria burgue- sa francesa e de todas as subseqilentes estava agora bem clara, Es dramatica danga dialética dominaria as geragdes futuras. Repetidas vezes veremos moderados reformadores da ciasse média mobilizando a8 massas contra a resistencia obstinada ow a contra-revolugio. Vere mos as massas indo além dos objetivos dos moderados rumo a sus Proprias revolugdes sociais, ¢ 0s moderados, por sua vez, dividindo-se em um grupo conservador, dai em diante fazendo causa comum com 0s reacionérios, e um grupo de esquerda, determinado a perseRuit 0 Testo dos objetivos moderados, ainda nio alcangados, com 0 uxlio ddas massas, mesmo com o risco de perder 0 controle sobre elas. Eas- sim por diante, com repetigdes e variagdes do modelo resistencia -o- bilizagdo de massa ~ inclinacdo para a esquerda ~ rompimento ent o$ cdo para a direita — até que 0 grosso da classe me iante para o campo conservador ou seja derrotado ial. Na maioria das revolugdes burguesas subs moderados viriam a retroceder, ou trans! Gonservadora, num estagio bastante inicial. De ato. ns gue cen eggs dé modo crescente (mais notadamente na Alemanha) MGs s tomaram absolutamente relutantes em comecat uma lusdo, por medo de suas incaleula aa eferind 0 compre de culaveis conseqdéncias,prefeinds = teiea atistocracia, A peculiaridade da srancesa€ que uma faceo da classe media libeal estava pronta acon a tinuar revo fucionaria até 0, e mesmo além do, limiar da revolucio an- ram os jacobinos, cujo nome veio a significar “revolugdo rac or qué? Em parte, €clar0, porque a burguesia francesa no tinha eae emer, come os liberais posteriores, a terivel meméria da ainda pare Francesa. Depois de 1794, ficaria claro para os moderados Revolugie fe jacobmno tinha levado a revolugdo longe demas para ot ave fivos ¢ comodidades burguest mente como ficaria claro objetivo®-golucionarios que “o sol de 1793”, se fosse nasce de novo, are Que brinar sobre uma sociedade ndo burguesa. Por outro lado, st aus podiam sustentar o radicalismo porque em sua época ndo oom classe que pudesse fornecer uma solugdo social coerente cxistla Tnativa & deles. Esta classe s6 surgiu no curso da revolugdo $edustrial, com o “proletariado” ou, mais precisamen ingias ¢ movimentos baseados nele, Na Revolugdo Francesa a caste ceeina'se mesmo esta € uma designacdo impropria para a massa de Salariados contratados, mas fundamentalmente nio industias ~ Sina nao desempenhava qualquer papel independent. Eles tisham fome, faziam egitagdes e talvez sonhassem, mas por motivos préticos seguiam os ligeres nao proletérios. O campesinato nunca fornece uma alternativa politica para ninguém; apenas, de acordo com a oca- Sido, uma forge guase irresistivel ou um obsticulo quate irremovivel ‘A Gnica alternativa para o radicalisme burgués (se excetuarmos pe- Guenos grupos de idedlogos ou miltantesimpotentes quando desir ddos do apoto das massas) eram os “sanscblottes”, um movimento dsr forme, sobretudo urbano, de trabalhadores pobres, pequenos arte sos, ioistas, aries, pequenos empresiriog ete, Os sansculotes ram organizados, prineipalmente nas "segdes” de Pars nos col Politicos locais,e forneciam a principal forga de chogue da revolusdo ~ cram eles os verdadeiros manifestantes, aitadores, constutors d barricadas, Através de jornalisas como Marat e Hébert, através de Porta-vozes locais, eles também formularam uma politica, por ts da ual estava| um ideal socal contraditério vagamente dein, Combinava o respeito wena) propriedade priv lace nos icon trabalho porostico pelo govern, sldn0se sega Social para o homem pobre, uma democraci extemads, de igualdade © de liberdade, localizada e direta, Na verdade, os saseulottes 700) uum ramo daquela importante e universal tendéncia poitice aue proek, Fava expressar os intereses da grande massa de "pequenos Ronee” que existia entre os pélos do “burgués” ¢ do “proletério” fe mente talvez mais proximos deste do que daquele poraue cram, ha maioria pobres. Esta tendéncia pode ser observada Unidos ou populismo), na Gra-Bretanh: Lecessores dos futuros “republ (Com os mazzinianos e os garibaldinos) das vezes, ela costumou se colocar, nas é 5 + NAS épocas pds. como uma ala esquerdista do liberalismo di ois POs evolu mo da classe Ciontriag, teem abandonar 0 antigo principio de que nia s Ree ™as telutay da, epronta, em tempos de crise, a se rebelar comer nMOS Ma esque, nheiro”, “os monarq '@ muralha de d fica a humanidade”. © OUTO que crucj. a sansculottes ta ‘, meceu nenhuma alternativa real. O seu ideal, um meager ee Nao de aldedes ¢ pequenos artesdos ou um futuro dourade gene outado zendeiros e arttices nao perturbados por bangueitos ¢ pees inreaizdvel, A hist6ria se movia silenciosamente conga cones ea mo que podiam fazer ~ ¢ isto eles conseguiram em L79se4 ooo obstdculos & sua passazem, os quais dilicultaram o creseimen eeu mico francés daguela época até quase a atual. De fare geet ‘mo foi um fendmeno tio desamparado que seu proprio none ue ticamente esquecido, ou s6 © sinSnimo do jacobimo que the deu lideranga no Ano Hebismo lembrado com: I Entre 1789 € 1791, a vitoriosa burouesia moderada, atuando atr vés do que tinha a esta altura se transformado na Assembléia Const tuinte, tomou providéncias para a gigantesca rucionalizagdo e reforma da Franea, que era seu objetivo. A maioria dos empreendimentos ins Uitucionais duradouros da revolucio datam deste periodo, assim como OS Seus mais extraordinarios resultados internacionais, o sistema mé- ‘rico ¢ a emancipacao pioneira dos judeus. Economicamente as pers- Pectivas da Assembiéia Constituinte eram inteiramente liberais: sua Politica em relagéo aos camponeses era o cerco das terras comuns ¢ 0 incentivo aos empresérios rurais; para a classe trabalhadora, a interdi- 40 dos sindicatos: para os pequenos artesios, a aboligdo dos grémios FfotPoFacdes. Dava pouca satisfugdo concreta a0 povo comum, eXee- Tees battit de 1790, com a secularizacdo e venda dos terrenos da Iereit (bem como dos terrenos da nobreza emigrante) que tinha a tripla Vil figem de enfraquecer o clericalismo, fortalecer o empresirio rural € Provinciano e dar a muitos camponeses uma retribuicdo mensuravel Por Suds atividades revolucionarias. A Constituigdo de 1791 rechaco¥ 4S democracia excessiva através de um sistema de monarquia constitu vos" Fe- sional baseada nui m diteito de propriedade dos “cidadios sonhecidamente bast: Es ° ae ‘ante amplo. Esperava-se que os passivos hon! sem sua denominagio, a " : . Na verdade, ai oi i isto nao a ° mnarquia. € bora a eens aconteceu. Por um lado, am ‘ura fortemente apoiada por uma poderosa faccdo Bur eS exe rae : Aenea ondria, nio podia se conformat com 0 Ov ee nisse a canting C2MSPiFava por uma eruzada de primos reais que B ais caolice se ee emAMtE de plebeus e restiuisse 0 ungido de Devs. fA ‘st da Franca, a seu lugar de direito. A Constituisde vil do Clero (1790), uma ma concebida tentativa de destruir nao a Igre- ja, mas a lealdade romana absolutista da Igreja, levou a maioria do lero e de seus figis & oposicdo, ¢ ajudou a levar o rei a desesperada € afinal suicida tentativa de fugir do pais. Ele foi recapturado em Varen- nies (junho de 1791) dai em diante 0 tepublicanismo tornou-se uma forca de massa; pois os reis tradicionais que abandonam seus povos perdem o direito 4 lealdade. Por outro lado, a incontrolada economia de livre empresa dos moderados acentuou as flutuagdes no nivel dos precos dos alimentos e conseqientemente a militancia dos pobres das cidades, especialmente em Paris. O preco do pao registrava a tempera- tura politica de Paris com a exatidao de um termémetro ¢ as massas de Paris eram a forga revolucionaria decisiva: ndo por mero acaso, anova bandeira nacional francesa foi uma combinacdo do velho branco real com as cores vermelha e azul de Paris. A eclosio da guerra agravou a situagdo; isto quer dizer que ela ocasionou uma segunda revolugao em 1792, a Republica Jacobina do Ano Il, €. entemente, Napoledo. Em outras palavras, ela historia da Revolugdo Francesa na historia da Europa. Duas forgas levaram a Franga a uma guerra geral: a extrema reita e a esquerda moderada, O rei, a nobreza francesa e a crescente emigragao aristocratica e eclesidstica, acampados em varias cidades da Alemanha Ocidental, achavam que s6 a intervengao estrangeira pode Tia restaurar o veino regime*. Esta intervengao ndo foi muito facil- mente orgunizada, dadas as complexidades da situagdo internacional e a relativa tranqutlidade politica de outros paises. Entretanto, era cada evidente para os nobres e 0s governantes por direito divino de paises que a restauracdo do poder de Luis XVI ndo era mer: lum ato de solidariedade de classe, mas uma protegao importan- ‘détas perturbadoras vindas da Franca, Conse- paru @ reconquista da Franca concentraram-se te contra a difusio d quentemente, as lore: tertor, Ao mesmo tempo, os proprios liberais moderados, e principal- Brupo de politicos que se aglomerava em torno dos deputa- dos do departamento mercantil de Gironda, eram uma forga belicosa, Isto se devia, em parte, ao fato de que toda revolucio genuina tende a ser ecuménica. Para os franceses, bem como para seus numerosos sim- antes no exterior, a libertagdo da Franca era simplesmente o pri- Passo para o triunfo universal da liberdade, uma atitude que le- You facilmente & conviegio de que era dever da patria da revolugio li- bertar todos os povos que gemiam debaixo da opressio e da tirania. Hayia entre os revolucionarins, moderados ¢ extremistas, uma paixdo jenerosa e genuinamente exaltada em difundir a liberdade; uma inabi- Ihdade genuina para separar a causa da nagio francesa daquela de toda a humanidade escravizada, O movimento francés, assim como todos + Cerca de leses emigratam entee 1789 ¢ 1798", 3 0s outros movimentos revoluciondrios, viria vista, ou a adapt, dai até peio menos 1848. Toda ay Pont de libertacdo européia até 1848 giravam em torno de um fo eens Pata dos povos, sob a lideranga dos franceses, para derrutas am coniunto péia; e, depois de 1830, outros movimentos de revolta nace sti? 2U* ral, como 0 italiano e 0 polonés, também tenderam aver seal ibe: em certo sentido como o Messias destinado por sua proerse gyrase a iniciar os planos libertérios de todos os outros poven erdade Por outro lado, considerada menos ideal sticamente, também ajudaria a solucionar numerosos problemas doméat tentador e Sbvio atribuir as dificuldades do novo regime ds os bes dos emigrantes ¢ dos tiranos estrangeiros,€ langar contueuie populares descontentes. Mais especiticamente. os homens de negoeice argumentavam que as perspectivas econdmicas incertas, adestatnn gio da moeda ¢ outros problemas so podiam ser remediados se a ameaga de intervengao fosse dissipada. Eles e seus idedlogos deviam pensar, com uma olhadela na experiéncia b1 Nica, que a supremacia econdémica era filha da agressividade sistematica. (O século XVIII nio foi um século em que o homem de negdcios bem-sucedido estivesse ab- solutamente casado com a paz.) Além do mais, como logo se veria, a guerra podia ser feita para dar lucros. Por todas estas razOes, a ma tia da nova Assembieia Legisiativa, exceto uma pequena ala direitista uma pequena ala esquerdista sob 0 comando de Robespierre, pregs- va a guerra. Por estas razdes também, quando a guerra chegou, as con- quistas da revolugao viriam a combinar a libertacéo, a exploragio € 4 digressio politica ‘A guerra foi declarada em abril de 1792, A derrota, que 0 povo (bem plausivelmente) atribuiu a sabotagem e & traigio real, trouxe @ radicalizagdo, Em agosto-setembro, a monarquia foi derrubada, a Re- publica estabelecida e uma nova era da histria humana proclamada, ‘com a instituigdo do Ano I do calendario revolucionario, pela ago at mada das massas sansculottes de Paris. A herdica idade de ferro da Revolugdo Francesa comegou entre os massacres dos prisionciros Politicos, as eleigdes para a Convengéo Nacional ~ provavelmenté ‘mais notavel assembléia na histéria do parlamentarismo - ¢ a concl mmagio para a resisténcia total aos invasores. O rei foi feito prisioneo Galnvasio fsangsia sustada por um nada dramético duelo de ar As guerras rev. Se 6 fido dt tevin is a terior € moderados em e sero de ceaenen parlamentares COM charme'e wennos £m casa, um corpo de oradores parlamentares cor ron eho Que representa oy grandes negocios, «DUS Imposnvel, pol epetngto intelectual. Sua politica ea interamece com forca pon fomente Estados em eampanas militares imitadat¢ 2 Berra ¢ oie eHabelecidas poderiam ter esperancas de manier Como feziam eproblemas domésticos em compartimentos estanguey cy te nesta época as senhoras ¢ cavalheiros brit 8 guerra cos. Era nicos dos romances de Jane Austen. A revolucdo ndo estava em uma Campanha limitada nem tinha Torgas estabelecidas, pois sua guerra os ser entre a vitoria total da revolugdo mundial ¢ a derrota total, que Senificava a total contra-revolugdo, ¢ seu exército ~ 0 que sobrow do sitho exército frances ~ era incapaz e inseguro. Dumouriez, 0 maior general da Repabiica, logo desertaria para o inimigo. Somente méto- sen yevolucionarios sem precedentes poderiam vencer uma guerra des- See Mresmo que a vitoria viesse a significar simplesmente a derrota da Jhtcrvencao estrangeira. De fato, tais métodos foram encontrados. No decorrer de sua crise, a jovem Republica Francesa descobriu ou inven tou a guerra total: a total mobilizagdo dos recursos de uma nacao atra- ves do recrutamento, do racionamento ¢ de uma economia de guerra Hieidamente controlada, e da virtual aboligao, em casa ¢ no exterior, dda distinedo entre soldados e civis. O espanto causado pelas implica~ ‘Goes desta descoberta s6 se tornou claro em nossa propria época histo- fica, Uma vez que a guerra revoluciondria de 1792-4 permaneceu por ‘muito tempo um episodio excepcional, a maioria dos observadores do seculo XIX ndo conseguiu entendé-la, mas quando muito observar (e mesmo isso foi esquecido até a opuléncia do fim da era vitoriana) que ts guerras levam & revolugdes € que as revolugdes vencem guerras de outro modo invenciveis. Somente hoje em dia podemos ver quanto do ue se passou na Repiblica Jacobina eno “Terror” de 1793-4 faz sen- tide apenas nos termos de um moderno esforco de guerra total. Os sansculottes saudaram um governo revolucionario de guerra, € no apenas porque corretamente defendiam que 6 assim a contra- revolugio e a intervengao estrangeira podiam ser derrotadas, mas tam- bem porque seus métodos mobilizavam 0 povo ¢ traziam a justica s0- cial mais para perto. (Eles desprezavam o fato de que nenhum esforco cfetivo de guerra moderna é compativel com a democracia direta, vo- luntdria ¢ descentralizada que acalentavam.) Os girondinos, por outro lado, temiam as conseqiiéncias politicas da combinagio de uma revo- lugdo de massa com a guerra que eles provocaram. Nem estavam pre- parados para competir com a esquerda. Eles nao queriam julgar ou executar 0 rei, mas tinham que competir com seus rivais, “a Monta- ‘nha’ (0s jacobinos), por este simbolo de zelo revoluciondrio; a Monta- nha ganhou prestigio, nio a Gironda. Por outro lado. os girondinos queriam realmente expandir a guerra para uma cruzada ideologica ge- ral de libertacdo e para um desafio direto ao grande rival econémico, a Gra-Bretanha. Neste particular, tiveram sucesso. Por volta demarco de 1793, a Franca estava em guerra contra a maior parte da Europa e tinha dado inicio a anexacdes estrangeiras (legitimadas pela recém- inventada doutrina do direito francés as “fronteiras naturais”). Mas a expansio da guerra, principalmente quando ela ia mal, sé fortaleceu a esquerda, a tinica que poderia vencé-la, Batendo em retirada e derrota~ da taticamente, a Gironda foi finalmente levada a ataques mal calcula~ dos contra a esquerda, que logo se transformariam em uma revolta provinciana organizada contra Paris. Um rapido golpe dos sansculot~ 85 i i i ' j tes derrubou-a em 2 de junho de 1793, Tinha chegado a cobina. Republica Ja. Ht Quando 0 leigo instrufdo pensa na Revolucdo Fi acontecimentos de 1789, mas especialmente a Repablice Jessbeee oo Ano II, que vém a sua mente. © empertigado Robespierte, o gi hd co e dissoluto Danton, a gélida elegancia revolucionaria de Saintlvey, © gordo Marat, 0 Comité de Salvacao Publica, o tribunal revoluciond’ rio € a guilhotina so as imagens que vemos mais claramente. Os pré. prios nomes dos revolucionarios moderados que surgem entre Mira. beau e Lafayette (1789) ¢ os lideres jacobinos (1793) desapareceram da meméria de todos, exceto dos historiadores, Os girondinos sto lembrados apenas como um grupo, ¢ talvez por causa das mulheres icamente sem importincia mas rom4nticas que estavam ligadas a ~ Mme, Roland ou Charlotte Corday. Quem, fora do campo espe- cializado, conhece sequer os nomes de Brissot, Vergniaud, Guadet e do resto? Os conservadores criaram uma imagem duradoura do Ter- ror, da ditadura e da histérica e desenfreada sanguinoléncia, embora pelos padrdes do século XX, e mesmo pelos padrdes das repressdes conservadoras contra as revolugdes sociais, tais como os massacres que se seguiram a Comuna de Paris de 1871, suas matangas em massa fossem relativamente modestas: 17 mil execugdes oficiais em 14 me- ses ’. Os revolucionérios, especialmente na Franca, viram-na como @ primeira repiblica do povo, inspiracdo de toda a revolta subseqlente, Pris esta ndo era uma época a ser medida pelos critérios humanos coti- ianos, Isto é verdade. Mas para o francés da sdlida classe média que es- tava por trés do Terror, ele nao era nem patolégico nem apocaliptico, ‘mas primeiramente e sobretudo 0 Unico método efetivo de preservar seu pais. Isto a Reput Jacobina conseguiu, ¢ seu empreendimento foi sobre-humano. Em junho de 1793, 60 dos 80 departamentos fran- c=ses estavam em revoita contra Paris; os exércitos dos principes ale- mies estavam invadindo a Franga pelo norte e pelo leste; os briténicos atacavam pelo sul ¢ pelo oeste: o pais achava-se desamparado ¢ falido. iors meses mais tarde, toda a Franca estava sob firme sont) cruparane’slinham sido expulsos, os exércitos franceses por sua st anos de guage ace € estavam perto de comecar um periodo de 2 Volta de ang, nimertupto ¢ facil triunfo malitar. Ainda assim. Por cra mantido neice ot Um exerci trés vezes maior que 0 anterior da francesa a stade do custo de marco de 1793, €0 valor da moe” plamente substituid 1or, do papel-moeda - assignats - que a tinl ria te marcante com ano grt, Mantido razoavelmente estavel, em contrat St. André, 0 mente td0 € 0 futuro. Nao é de admirar que Jeanbon embora fosse um fropisobine do Comité de Salvagio Publica es 86 ‘me republicano, mais tarde se tornaria um mais eficientes prefeitos de Napoledo, olhasse para a Franca imperial com desdém quando ela cambaleava sob as derrotas de 1812-3.A Re- piblica do Ano II tinha enfrentado com sucesso erises piores € com menos recursos *. Para estes homens, como de fato para a maioria da Convengto Nacional que no fundo deteve 0 controle durante todo este periodo, a escolha era simples: ou o Terror, com todos os seus defeitos do ponto de vista da classe média, ou a destruigao da Revolugdo, a desintegra- G40 do Estado nacional ¢ provavelmente ~ jé ndo havia o exemplo da Poldnia? ~ 0 desaparecimento do pais. Muito provavelmente, exceto a desesperada crise da Franca, muitos deles teriam preferido um re- ‘gime menos ferrenho e certamente uma economia controlada com me- nos rigor: a queda de Robespierre levou a uma epidemia de descontro- le econdmico, fraudes e corrupgdo que incidentalmente culminou numa inflagao galopante e na bancarrota nacional de 1797. Mas mes mo do ponto de vista mais estreito, as perspectivas da classe média francesa dependiam das de um Estado nacional centralizado, forte € unificado. E, de qualquer forma, poderia a Revolugdo que tinha prati- camente criado os termos “nagdo” e “patriotismo” em seus sentidos modernos, abandonar a grande nation ? ‘A primeira tarefa do regime jacobino foi mobilizar 0 apoio da massa contra a dissidéncia dos notaveis e girondinos provincianos e preservar 0 j4 mobilizado apoio da massa dos sansculottes de Paris, al sumas de cujas exigéncias por um esforgo de guerra revolucionério - recrutamento geral (0 levée en masse), tetrorismo contra os “traido- res” e controle geral dos precos (o maximum”) ~ coincidiam de qual- quer forma com 0 senso comum jacobino, embora suas outras exigen- cias viessem a se mostrar problematicas. Uma nova constituigdo um tanto radicalizada, e até entdo retardada pela Gironda, foi proclama- da, De acordo com este nobre documento, todavia académico, dava-se ‘a0 povo o sufrigio universal, o direito de insurreigdo, trabalho ou sub- sisténcia, € ~ o mais significativo - a declaragdo oficial de que a felici- dade de todos era 0 objetivo do governo ¢ de que os direitos do povo deveriam ser nao somente accessiveis, mas também operantes. Foi a primeira constituigdo genuinamente democratica proclamada por um Estado moderno. Mais concretamente, os jacobinos aboliram sem in- denizagio todos os direitos feudais remanescentes, aumentaram a8 ‘oportunidades para o pequeno comprador adquirir as terras confisca- das dos emigrantes e - alguns meses mais tarde ~ aboliram a escravi- + vis ae gue ease de govern etumancos de madeira, que vam depo puro crv brag See tr vam continua com os dliragta, Eu frum de, se arses J perorem ave eau 8 pnt de a Sanat Lex Prod Naplon 8 a pest Nia dio nas tmingos a lutarem pela Rep tiveram os mais a a, ajudara Louverture *. 3 Na Franga, estabeleceram essa cidadela inexpugn nos ¢ médios proprietdrios camponeses, pequenos ari economicamente retrogrados, mas apaixonadamente volugio ¢ & Repiiblica, que tem dominado a vida do A transformagao capitalista da agricultura e da pe condigao essencial para um répido desenvolvimen reduzida a um rase}o, ecom ela a velocidade da urbanizacio,texpact sho do mercado doméstico, a multiplicacao da classe trabalhadere conseqdentemente, o ulterior avanco da revolucao proletaria, Tang os grandes negécios quanto os movimentos trabaihistas foram longs, mente condenados a permanecer fendmenos minoritérios na Frama, has cercadas por um oceano de donos de mercearia vendedores ag mitho, pequenos propritérios camponeses e donos de cates (ef. eaph. tulo 9) O centro do novo governo, representando uma alianca de jacobi- nos e sansculottes, inclinou-se, portanto, claramente para a esquerda Isto se reletiu no reconstruido Comité de Salvagao Publica, que ra damente se transformou no efetivo Ministério da Guerra irancés Comité perdeu Danton, um revoluciondrio poderoso. dissoluto e pro- vavelmente corrupto, mas imensamente talentoso e mais moderado do que aparentava (tinha sido ministro na ultima administragao real), € ganhou Maximilien Robespierre, que se tornou seu membro mais in- fuente. Poucos historiadores tém sido desapaixonados a respeito deste advogado fanatico, fro e afetado, com seu senso um tanto excessivo de monopéiio privado da virtude, porque ele ainda encarna o terrivel¢ Blorioso Ano Il a respeito do qual ninguém é neutro. Ele nao era uma Pessoa agradivel; até mesmo os que acham que ele estava certo ten ddem hoje em dia a preferir o brithante rigor matematico daquele arqui- {sto de paraisos espartanos, o jovem Saint-Just. Nao foi também um Brande homem, e sim muitas vezes limitado. Mas é 0 nico individuo Projetado pela Revolugéo (com a excegdo de Napoleio) sobre 0 qu Reguknvolveu um culto. Isto porque, para ele, como para a historia, a Kepiblica Jucobina nao era um instrumento para ganhar guerras, mas eds yea: © terrivel e glorioso reino da justiga e da virtude, quendo liqualeaae os, iStdos fossem iguais perante a nagio, ¢ 0 povo tives © Com os traidores. Jean Jacques Rousseau (ef. adiante capi ‘vel de peque. e520 € lojistas, devotados a Re Pais desde entio, quena empresa, ¢ to econdmico, foi * 0 fracasso da Franga na ota liquidagdo d ;polebnica em retomar o Haiti foi uma das principal interes; ta ye foi ven~ Be pas emuaneserteImpésa Americana da Franca. que Sting ere de Comes da Lousiana (om 183) gon EUA, ASS, wate fume poten de dimen seeiamo.na América fo a transformasto 88 ina convieedo de justica deram-lhe sua forga, Ele no tinha poderes ditatoriais formais nem mesmo um cargo, sendo simplesmente um membro do Comité de Salvacéo Pablica, que era por ‘vez um mero subcomité da Convengio ~ 0 mais poderoso, embo- ta jamais todo-poderoso, Seu poder era o do povo - as mastas pari sienses; seu terror, 0 delas. Quando elas 0 abandonaram, ele caiu A tragédia de Robespierre © da Repiblica Jacobina foi que eles mesmos foram obrigados a afastar este apoio. O regime era uma alian- a entre a classe média e as massas trabalhadoras, mas voltado para @ classe média, As concessdes jacobinas e sansculottes eram toleradas $6, porque, € na medida em que, ligavam as massas a0 regime sem aterro- Fizat os proprietarios: e dentro da alianga os jacobinos da classe média gram decisives. Além do mais, as proprias necessidades da guerra obrigavam qualquer governo a centralizar e a disciplinar, as custas da igdes livres em que flores durante a Guerra Civil Espanhola de 1936-9, leceu os comunistas a custa dos anarquistas, fortaleceu os jacobi- nos do tipo de Saint-Just & custa dos sansculottes do tipo de Hébert Por volta de 1794, o governo e a politica eram monoliticas e domina- dos ferreamente por agentes diretos do Comité ou da Convencdo ~ delegados en mission ~ € por um amplo quadro de oficiais € ios jacobinos juntamente com organizagdes locais do parti- do. Por fim, as necessidades econdmicas da guerra afastaram 0 apoio lar. Nas cidades, 0 controle de pregos € o racionamento benefi- im aS massas, mas 0 cortespondente congelamento dos saldrios as prejudicava. No campo, 0 confisco sistematico de alimentos (que os sansculottes das cidades tinham sido os primeiros a advogar) afastou 5 camponeses. As massis portanto recolheram-se ao descontentamento ou a uma passividade confusa e ressentida, especialmente depois do julga- mento € execugdo dos hébertistas, os mais ardentes porta-vozes dos sansculottes. Enquanto isso, os defensores mais moderados da Revo- lucdo estavam alarmados com o ataque contra a oposicdo direitista, esta altura encabegada por Danton. Esta facgio tinha fornecido refi Bio para numerosos escroques, especuladores, operadores do mercado negro € outros elementos corruptos embora acumuladores de capital, e isso to mais prontamente quanto 0 proprio Danton incorpors Eee citer le ps ebioe aera ee surge no inicio das revolugdes sociais até que seja suplantado pelo rig do puritanismo que invariavelmente vem dominé-lo. Os Dantons da historia sio sempre derrotados pelos Robespirres (ou por agueles que fingem se portar como Robespierres), porque a dedicasdo gids © treita pode obter sucesso onde a boémia no o consegue. Entretanto, se Robespierre conquistou 0 apoio dos moderados por eliminar tas no interesse do esforco Tupedo, o que se apresentava afinal de com cree tara de guerra, as ulteriores restrigdes & liberdade a a agao de g * a re | i en Siih asx nbeiro foram mais desconcertantes para o homem de negécios, Fy mente, nenhum grande corpo de opinido gostava das exennaie ei gieas um tanto extravagantes do periodo ~ as sistemdticas camper de descristianizagdo (devidas a0 zelo dos sansculcwes) ¢ ¢eneethas sido civica de Robespiere, a do Set Supremo, cheia de sereva ue tentava contrapor-se aos ateus elevara termo os presence ms no Jean Jacques. E' constantesilvo da gulhotina lembraee oo" politicos que ninguém estava realmente a salvo. ron Por volta de abril de 1794, tanto a direita quanto a esquerda ham ido para a guilhotina, © os seguidores de Robespierre eeterat> portanto poiticamenteisolados, Somente a erse da guetta ena Sha no poder. Quando, no final de junho de 1794, os novos exeranes a Republica démonstraram sua firmeza derrotando devicidamane cg austriacos em Fleurus e ocupando a Belgica, fim estava oe Nono Termidor pelo calendério revolucionério (27 de julho de 1794), a Convencio derrubou Robespierre. No dia seguinte, cle, Saint-Just Couthon foram executados, ¢ o mesmo ocorreu alguns diss demic com 87 membros da revolucionaria Comuna de Paris Iv © Termidor é o fim da herdica ¢ lembrada fase da Revolugdo: a fase dos esfarrapados sansculottes e dos corretos cidadaos de bonés Yermelhos que viam-se a si mesmos como Brutus e Cato, do periodo as frases generosas, classicas e grandiloglientes e também das mortais “Lyon n'est plus”, “Dez mil soldados precisam de sapatos, Pegards os sapatos de todos os aristocratas de Estrasburgo ¢ os entregaras pron {0s para o transporte até os quartéis amanha as dez horas da ma- nha’. * Nao foi uma fase cOmoda para se viver, pois a maioria dos ho- mens sentia fome e muitos tinham medo, mas foi um fendmeno tao {errivel e ireversivel quanto a primeira explosio nuclear, e toda a his- {Gria tem sido permanentemente transformada por ela, E a energia que 8 gerou foi suficiente para varrer os exércitos dos velhos regimes da Europa como se fossem feitos de palha © problema com que se defrontava a classe média francesa no res- (1 30 gue € tecnicamente descrito como o periodo revolucionsrio (1794-9) era como alcangar a esta sornas bases do programa liberal de 1789-91. A classe média jamais seeatulu desde entdo até hoje solucionar este problema de forma Adequada, embora a partir de 1870 ‘conseguisse descobrir na republica Parlamentar uma formula exeqilivel para a maior parte do tempo. AS "apidas alternancias de regime ~ Diretrio (1795-9), Consulado (1799 a May mpério (1804-14), a restaurada Monarquia Bourbon (1815-30), Derio (Isso ssc onstitucional (1830-48), a Republica (1848-51), € 0 Im (1852-70) ~ foram todas tentativas pare se manter uma sociedade 90 burguesa evitando ao mesmo tempo o duplo perigo da repiblica moerética jacobina © do velho regime. '*'8® % epAblica de- A grande fraqueza dos termidorianos era que eles ndo desfruta vam de nenhum apoio politica (no maximo, tolerdncia), esprimidon como estavam entre uma revivida reagio arstocritica © ot pobtes sansculottes jacobinos de Paris, que log se arrependeram da queda de Robespierre. Em 1795, projetaram uma elaborada constituigio de controles € balancos para se resguardarem de ambos, ¢ as pertédicas viradas para a direita e a esquerda os mantiveram em presario equilibrio; mas cada vez mais tinham que depender do exército para dispersar a oposigio, Era uma situacdo curiosamente semelhante & da Quarta Repiblica, ¢ o resultado foi semelhante: o governo de um ge- neral. Mas o Diretdrio dependia do exército para algo mais do que a supressio de golpes e consprragdes periédicas (vérias em 1795, a de Babeuf em 1796, a do Frutidor em 1797, a do Floreal em 1798 ¢ a da Pradaria em 1799) *. A inatividade era a dnica garantia segura de po- der para um regime fraco ¢ impopular, mas a classe média necessitava de iniciativa e de expansao. O exército resolveu este problema aparen- temente insolivel. Ele conquistou; pagou-se a si mesmor e, mais do que isto, suas pilhagens e conquistas resgataram 0 governo. Teria sido surpreendente que, em conseauéncia, o mais inteligente e capaz dos ligeres do exército, Napoledo Bonaparte, tivesse decidido que 0 exérei- (0 revolucionério foi o mais formidavel rebento da Re- De um levée en masse de cidadios revolucionsrios, © se transformou em uma forga de combatentes profission houve recrutamento entre 1793 ¢ 1798, e os que ndo tinham slo ou talento para o muilitarismo desertaram em massa. Portanto, cle reteve as caracteristicas da Revolugdo e adquiriu as caracteristicas do interesse estabelecido, a t{pica mistura bonapartista. A Revolugio deu-tne sua superioridade militar sem prevedentes, que o soberbo gene- ‘0 de Napoledo viria a explorar. Ele sempre permaneceu uma espé- ¢ de leva improvisada de soldados, no qual recrutas mal-treinados cquiriam treinamento € moral através de velhos e cansativos exerc- ios, em que era desprezivel a disciplina formal de caserna, em que os soldados eram tratados como homens ¢a regra absoluta de promogdo Or méritos (que signiicavam distingao na batalha) produziy ume he- Tarquia simples de coragem. Isto ¢ 0 senso de arrogante missio revolN- cionaria fizeram o exército francés independente dos recursos sobre 08 fi xército pos. Jamais foi ent adequada has tho rapide quais se apoiavam forgas mais ortodoxas. Ele jamais tema efetivo de suprimento, pois se apoiava nos amparado por uma industria de armamentos minim: 2 suas necessidades triviais; mas ele venceu suas bat * Os nomes sio os dos meses do calendirio revolucionsro. an tomate nian. 7 4 mente que necessitava de poucas armas: em 1806 a grande exército prussiano ruiu perante um exército em que uma u tar inteiva disparou somente 1.400 tiros de canhdo, Os diam confiar em uma coragem ofensiva ilimitada e em de razodvel de iniciativa local. Reconhecidamente, ele t: fraqueza de suas origens. Com a excecdo de Napoledo e pouguissines outros, seu generalato ¢ estado-maior eram pobres, pois o gene ot volucionério ou 0 marechal napolednico era bem provavelmente any duro primeiro-sargento ou uma espécie de oficial de compantia pre movido antes por bravura e lideranga do que por inteligéneia: o Mens chal Ney, herdico, mas totalmente imbecil, era o tipo exato. Napoleao venceu batalhas; seus marechais sozinhos tendiam a perdé-las. Seu precirio sistema de suprimento bastava nos paises ricos e saquedveis onde tinha sido desenvolvido: Bélgica, norte da Itdiia e Alemanha. ‘Nos espacos dridos da Polénia e da Russia, como veremos, ele ruiu. A auséncia total de servigos sanitarios multiplicava as baixas: entre 1800 ¢ 1815 Napoledo perdeu 40% de suas forcas (embora cerca de um- terco pela desergdo), mas entre 90% e 98% destas perdas eram de ho- ‘mens que morreram no no campo de combate mas sim devido a feri- mentos, doengas, exaustdo e frio. Em resumo, foi um exército que con- quistou toda a Europa em curtas ¢ vigorosas rajadas nao apenas por- que podia fazé-lo , mas porque tinha que fazé-lo. Por outro lado, o exército era uma carreira como qualquer outra das muitas abertas ao talento pela revolugao burguesa, e os que nele obtiveram sucesso tinham um interesse investido na estabilidade inter- na como qualquer outro burgués. Foi isto que fez do exército, a des- Peito de seu jacobinismo embutido, um pilar do govern pds termidoriano, ¢ de seu lider Bonaparte uma pessoa adequada para concluir a revolucdo burguesa e comegar o regime burgués. O proprio Napoledo Bonaparte, embora cavalheiro de nascimento pelos padrées de sua barbara ilha natal da Cérsega, era um carreirista tipico daquela especie. Nascido em 1769, ambicioso, descontente e revolucionario. subiu vagarosamente na artilharia, um dos poucos ramos do exérei real em que a competéncia técnica era indispensdvel. Durante a Revolu- Gao, ¢ especialmente sob a ditadura jacobina que ele apoiou firmemen- te, foi reconhecido por um comissirio local em um fronte de suma im- Portancia - por casualidade, um patricio da Cérsega, fato que dificil- mente pode ter abalado suas inten¢des ~ como um soldado de dons es- pléndidos € muito Promissor. O Ano II fez dele um general. Sobrevi- Yeu a queda de Robespierre, € um dom para o cultivo de ligagoes uteis em Paris ajudou-o em sua escalada apds este momento dificil. Agarrou 4 sua chance na campanha italiana de 1796, que fez dele o inquestion®- do primeira Soldado da Republica, que agia virtualmente independen- iS autoridades civis. O Poder foi meio atirado sobre seus ombros € rans tgarrado por ele quando as invasdes estrangeiras de 1790 revela ram a fraqueza do Diretério ea sua prépria indispensabilidade. Tor- Rouse Primeiro cénsul, depois cénsul vitalicio e Imperador. E com > maquina do inidade mil Benerais po. uma quantida- ambém tinha a sua chegada, como que por milagre, os insokive iStan oracle ene lind proba Die Civil, uma concordata com a Igreja e até mesmo S simbolo da estabilidade burguesa - um Banco Naci nha 0 seu primeiro mito secular. Os leitores mais velhos ou os de paises antiquados conhecem 0 mito napolednico tal como ele existiu durante o século em que nea, ma sala da classe média estava completa sem o seu bustove talento panfletérios podiam afirmar, mesmo como piada, que ele ngo-era uy homem mas um deus-sol. O extraordindrio poder deste mito nto pode ser adequadamente explicado nem pelas vitorias napolednicas nem pela propaganda napolednica, ou tampouco pelo proprio génio indu- bitével de Napoledo. Como homem ele era inquestionavelmente muito brilhante, versdtil inteligente e imaginativo, embora o poder o tivesse tornado sérdido. Como general, ndo teve igual; como governante, oi um planejador, chefe ¢ executivo soberbamente eficiente e um intelec- tual suficientemente completo para entender e supervisionar 0 que seus subordinados faziam. Como individuo parece ter irradiado um senso de grandeza, mas a maioria dos que deram esse testemunho, por exemplo, Goethe, viram-no no auge de sua fama, quando 0 mito ja 0 tinha envolvido, Foi, sem sombra de dividas, um grande homem e talvez com a excecdo de Lénin - seu retrato € o que a maioria das pes- soas razoavelmente instruidas, mesmo hoje, reconheceriam mais pron- tamente numa galeria de personagens da historia, ainda que somente pela tripla marca registrada do tamanho pequeno, do cabelo escovado para a frente sobre a testa e da mao enfiada no colete entreaberto, Tal- vez nio tenha sentido fazer uma comparagio dele, em termos de gran- deza, com candidatos a esse titulo no século XX. Pois 0 mito napolednico baseia-se menos nos méritos de Napo- ledo do que nos fatos, ent&o sem paralelo, de sua carreira. Os poe que se tornaram conhecidos por terem abalado o mundo de forma : cisiva no passado tinham comegado como reis, como Alexandre, 08 patricios, como Jtilio César, mas Napoledo foi o “pequeno cabo ee gelgou 0 comando de um continente pelo seu puro a ess eile to nao foi estritamente verdadeiro, mas sua ascensio ate mente metedrica e alta para tornar razodvel a descricdo}) Toso Jove intelectual que devorasse livros, como o jovem Bonaparte o sens crevesse maus poemas ¢ romances eadorasse Rousseau poders: OP tir da, ver o cfu como o limite eseu monograma enfaixado 20 20 Todo homem de negécis dai em diante inka um nome pore Ng bigdo: ser ~ os proprios clichés o denunciam — um Nepere as nangas” ou da indistria, Todos os homens com Pela visdo, entéo sem paralelo, de 3 aior do que aqueles que tinham nascido para eer deu A ambigdo um nome pessoal no momento

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