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UNIVERSIDADE PAULISTA

Práticas Sociais e Subjetivas – 2021


Registro de Observação
N° 4

Nome: Victória Pinho de Queiróz

RA: F121IF-3

Data: 24/10/2021
Total de Horas: 5 Horas

Tema: Gênero e Orientação Sexual


Local: Layback Park São Paulo

Descrição:

Tarde de domingo e estou em uma pista de skate que


gosto muito, há duas pistas de skate, uma área para deejay,
food trucks, mesas e cadeiras. O público do local é bem
amplo, crianças, adolescentes e adultos todos ocupando e
interagindo no mesmo espaço. Me posiciono em uma
cadeira de praia, confortavelmente, julgo ter a melhor
localização para observar diversos ambientes, em minha
concepção é uma ótima área para observar. Me aproximo da
pista de skate e lá está uma menina que aparenta ter doze
anos de idade, cabelo médio enrolados e presos em rabo de

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cavalo, usa tênis, calça jeans e acessórios de segurança.
Ela realiza diversas manobras com excelência até cair e
ceder sua vez para o próximo.
Não vejo nenhuma regra escrita ou falada, mas há uma
sequência bem clara - caiu, entra o próximo. O desta vez é
um menino, aparenta ser mais novo, cabelos lisos loiro, sem
camisa, calca jeans, tênis e acessórios de segurança.
Quando ele entra na pista noto que há um homem o
acompanhando com o olhar fixo, diria até que pude sentir
sua admiração observando daqui. Este menino, por sua vez,
realizou menos manobras que anterior, ao contrário da
menina caiu rapidamente com os joelhos no chão. Desvio
um pouco minha atenção e observo a deejay tocar, ela usa
uma camisa branca por baixo de um suéter, botas brancas,
alguns acessórios e cabelo solto. A música que ela toca me
agrada bastante. Em sua volta a algumas pessoas, observo
a roupa de todos eles. E em minha mente acho divertido
como em lugares que onde o gênero dos frequentadores é
alternativo há uma impressão que se tem liberdade para se
expressar como quiser. Seja na vestimenta ou no
comportamento. Daqui não consigo observar uma pessoa se
quer que porte o mesmo estilo, não há um padrão a ser
seguido – se bem que, talvez, haja um padrão.
Em meu canto não observo casais de todas as formas
e orientações. Duas meninas se beijam a minha esquerda,

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logo atrás há uma mulher e um homem a trocar caricias
enquanto ouve atentamente uma pessoa falar. Há cada
canto há alguém distribuindo amor, quase como se o
sentimento estivesse pairando no ar. Pessoas parecem se
expressar de maneira desprendida, mas ao mesmo tempo
não deixo de notar que alguns indivíduos carregam talvez
um olhar que procura aprovação. Como se a cada
movimento fosse conferido a sua volta, checando se alguém
estava olhando/notando.
Meus pensamentos são invadidos por duas vozes que
conversam logo atrás de mim. Algo sobre aceitação
corporal. Uma queixa para a outra, coisas em seu corpo que
gostaria de mudar. A outra por sua vez ouve e confidência
incômodos semelhantes. Por longos minutos elas ficam
citando características pessoais e de outros, como se fosse
uma lista a ser seguida. Neste momento me dou conta de
que talvez, exista sim um padrão quase que invisível sendo
importo a todos os humanos que habitam esta Terra.

Percepções do Observador/Análise Teórica:

Ao refletir sobre os momentos vivencias intercalo com


a linha de raciocino citada por Bauman em Amor Líquido,
onde questiona se a identidade sexual é um “dom da
natureza” ou “construção social”.

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Qualquer que seja o vocabulário usado para articular a atual situação do homo sexualis,
e quer se vejam o autotreinamento e a autodescoberta ou as intervenções médicas e
genéticas como o caminho certo para se atingir a identidade sexual adequada/desejada,
o essencial continua sendo a "alterabilidade", a transitoriedade, a não-finalidade das
identidades sexuais assumidas, quaisquer que sejam. A vida do homo sexualis é, por
esse motivo, carregada de ansiedade. Há sempre a suspeita — mesmo que apaziguada
e inativa por algum tempo — de que se esteja vivendo uma mentira ou um equívoco; de
que algo de importância crucial foi esquecido, perdido, negligenciado, permanecendo
não-ensaiado e inexplorado; de que não se cumpriu uma obrigação vital para o eu
autêntico da própria pessoa, ou de que algumas oportunidades de felicidade de um tipo
desconhecido, completamente diferentes do que se vivenciou antes, ainda não foram
aproveitadas e tendem a se perder para sempre se continuarem desconsideradas .
(BAUMAN 2004, pág. 35)

Penso que procedimentos e cirurgias estéticas são na


verdade uma aposta e não uma certeza. Talvez, todos os
indivíduos que habitam este plano terrestre estão na
verdade buscando respostas para o que sentem, buscam
uma maneira de como se conectar com aquilo que se
identificam. E não há como ter a certeza de algo senão
fazendo.

A consciência dessa ambivalência é desalentadora e não produz o fim da ansiedade.


Gera uma incerteza que só pode ser temporariamente apaziguada, jamais totalmente
extinta. Contamina qualquer condição escolhida/atingida com dúvidas persistentes a
respeito de sua propriedade e sabedoria (...) (BAUMAN 2004, pág. 35)

Esta busca incessante que visa a melhor versão do eu


interno é sem fim, ingrata e inquieta.

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Referências Bibliográficas:

Observação - Layback Park São Paulo. (2 horas).

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos


laços humanos. Tradução: Carlos Alberto Medeiros. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar. Ed., 2004.

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