You are on page 1of 14
CARAJA CANAXIVUE Quem féz os morros foi Canaxivue, amontoando a terra com as mos. Quem féz o mato, o grande rio e as cachoei- ras foi Canaxivue. As cachoeiras represam os peixes e isso” é bom para os caraja. Canaxivue encontrou um caraja comendo um fruto, Ca- naxivue perguntou: — Que esté comendo? Canaxivue transformou-o em sinimbu. Quem féz os animais foi Canaxivue. fle transformor os caraj4 em animais. Todos os animais eram caraja. Z Quem féz a grande enchente foi Canaxivue. Um belo” dia os caraj4 encontraram-no quando estava cacando. fle comegou a cantar mas os indios néo 0 compreenderam. Pe-« diu tabaco e nao entenderam as suas palavras. Trouxeram-? -lhe frutos e éle apontou para alguém que estava pitando.- Deram-lhe ent&o tabaco e Canaxivue pitou até cair sem sen-~ tidos. Meteram-no numa canoa e o levarami para a aldeia. Ali acordou e novamente cantou e dangou. Tudo isso e ain, da a sua lingua estranha assustaram tanto os carajd que* foram embora, com mulher e filhos. 2 Canaxivue ficou zangado, transformou-se numa grande | piranha e perseguiu-os. Alcangando-os, mandou os caraja_, pararem, e como éles nio quisessem obedecer, quebrou uma” das muitas cabacas cheia de agua que levava consigo. En-., tao o rio comegou a subir. Como os caraja ainda nao pa- + rassem, éle foi quebrando cabaca por cabaca e a Agua cres- ceu cada vez mais, inundando a terra toda até que, por fim, © sébre ela se elevavam apenas dois morros. Nos mesmos, 08» caraja se tinham refugiado. Canaxivue mandou os peixt puxd-los para baixo, para dentro da agua. Poucos caraj} ficaram vivos. _ Canaxivue era também dono do fogo. Os-carajé pedi-— ram-lhe o fogo mas éle disse que nao dava. Entaio 0 sap0 3 roubou-lhe o fogo e deu-o aos caraja. Quem deu & arraia horriveis esporées foi Canaxivue. > Outrora, a arraia ndo tinha esporées. Canaxivue cortou as ‘ile 188 4 mt farpas do coqueiro ¢-deu-as a ela, Enléo « arrata picou 0.) cg,ajd, Cle chorou n_ ito e foi-se ¢ abora. Tamém fi Ca:.ixivue quem deu no pato ura lancha d) barre. O pato tha uma lancha « - metal. Canaxivue a. se-The: Vamos irocar de lanchas, eu Ihe dou uma de sarro. Fizeram a barganha. Quando o pato entrou n:. lancha de barr: ela comecou a fazer agua. Nao havia jeito d calafetar os buracos ¢ ela afundou. Ai o pato saiu com seus patinhos, chorando e nadando. Canaxivue féz também o tracaja tal como é hoje. Anti- gamente, o tracaja era muito grande, maior do que as ou- tras tartarugas. A onca estava trepada no alto de uma ar- vore. O tracaja vinha nadando & beira do rio e encontrou- -se com a onga. E Ihe disse: — Amiga Onea, pode pular, caia aqui, na minha ca- beca! A onca responde: — Nao, senao arrebento a sua cabega. O tracaja insistiu: — Venha cair aqui, nas minhas costas. Enlao a onga caiu sébre o tracaja e o tracaja ficou em pedagos. A onca foi-se embora. Canaxiyue chegou e falou: - Eh, amigo Tracaja, como foi que vocé morreu assim? Pegou os pedacos das cascas e foi juntando. Assim, féz os tracajas miudinhos. Por isso, tracaja é tao mitido. Por isso 0 tracaja é mais mitido do que a tartaruga. Canaxiyue, de estatura baixa e pele clara, casou-se com uma caraja chamada Mareico. Naquele tempo ainda nao havia lua na terra. Por isso, 0 sogro de Canaxivue trope- cou num téco quando saiu em busca de alguma coisa. Ma- chucou-se muito e xingou tudo que havia. — Vocé quer ser meu genro? Vocé quer ser poderoso? — gritou. — Canaxivue que féz 0 rio e os morros, 0 mato, os peixes e a onca, nao é nem mesmo capaz de acabar com esta escluridaéo sem fim! Vocé nao é nada, nio passa de um simples caraja! A sogra, porém, como é costume entre os caraja, xin- gava mais ainda, Xingou tanto tempo e com tais gritos quey por fim, Canaxivue resolyeu-se a ir buscar a luz. Depois de haver andado algum tempo, deitou-se e mor- reu. Ai veio o caracara e comeu-lhe os olhos. Dois dias depois veio o urubu e comeu a carne do seu brago e da sua perna. Depois de mais dois dias apareceu o urubu-rei. Sen- tou-se com todo o seu péso em cima de Canaxivue. fste estava deitado de costas e com os bragos abertos. Mas, de 190 a repente, voltou’a vida, alragou o urubu-re e se, ‘rou-o. O urubu-rei chorou. = — Déme a luz! — ordenou Canaxivue. A ‘uz era o cn acete de penas do urub rei. E::d0, 0 urub :-rei deu-lhe as estrélas — Quero mais luz! — teimou Canaxivi». Entdo, o urubu vei dew a lua. Mas Canaxivus nao a soltou: — Eu quero 1 aa luz ainda mais forte! Entéo, 0 urubu-rei entregou-Ihe o sol. Assim, o coitado perdeu todo o seu capacete de penas. < Canaxivue quebrou logo as pernas do sol, da lua e das estrélas. Passou um dia inteiro quebrando-lhes as pernas. ‘Até entio, éles corriam depressa demais; depois passaram a caminhar mancando. © Canaxivue perguntou ao urubu-rei como fiar e tecer co- bertas, fabricar enfeites de algodao, apanhar tartarugas, tor- ‘cer corda dé arco, pescar, cagar, fazer uma roga e cavar uma Ycanoa. O urubu-rei passou um dia inteiro a ensinar-Ihe isso. Desde entio, os caraja sabem fiar, tecer cobertas, fabricar enfeites de algodao, apanhar tartarugas, torcer corda de ar- co, pescar, cacar plantar uma roca e construir uma canoa. ~ Quando 0 urubu-rei jé estava voando novamente para 0 céu, a sogra de Canaxivue achou que deviam perguntar- ‘Ihe ainda como gente velha fica de névo méca. Ento, j velo 1a do alto a resposta. Ouviram-na as arvores e 0s ani- re Os homens, porém, nao conseguiram ouvi-la. eRe Herbert Baldus: Canaxivue”. Cultura, n° 4, Rio de Janeiro, 1951 pp. 47-49. 191 senmemermeemnme CARAJA, FACANHA } DE DOIS IRMAOS No principio 0 sol era grande ¢ parecido com caraja. Tinha duas filhas bonitas. Os caraja Alobederi e seu irmao queriam casar-se com elas. Presentearam o sol com en. feites e conseguiram a permissao do velho. Certa vez 0 sol disse as filhas: — Vossos maridos precisam trazer-me fumo! Os irmaos foram ao mato colhér fumo, mas o fumo em- perrou e nao quis sair, Tentara arrancar as félhas com as, mios, mas o fumo ficou grudado em seus dedos. As mulheres vieram e deram um jeitinho: entZo o fumo saiu. O sol, porém, zangou-se com as filhas e quis maté-las, £ sabido que o fumo pertence ao sol. 0 sol, de ma catadura, disse as filhas: -— Estou com fome; mandai vossos maridos buscar peixes! Alobederi e o irmao foram pescar, mas o rio estava cheio de piranhas. — Como poderemos pescar? — perguntaram éles, com médo, Veio um passarinho, cacou muitas piranhas, deu-as aos dois irmaos ¢ aconselhou: — Levai-as para a casa do sol. # sabido que a pira- nha é 0 peixe do sol. Disse ainda uma vez o sol as filhas: — Agora, vossos maridos tém de trazer-me ovodi, ou almécega, resina cor de mbar para tingir o corpo. Alobederi e 0 irmao correram para o mato, Quando l& chegaram, 0 pé de aroeira ou Ientisco, de onde deviam tirar a almécega, estava rodeado pelo fogo. — Como poderemos tirar 0 ovodi? Chamaram o passarinho e pediram-lhe que trouxesse agua. O passarinho trouxe Agua, muita 4gua, e conseguiu apagar 0 fogo. Entéo, os irmaos puderam extrair a resina e levé-la para a casa do sogro. Disseram &s mulheres: — Eis aqui a almécega, dai-a a yosso pai. 1 sabido que 0 ovodi pertence ao sol. Alobederi nfo sabia amar e perguntou ao irmfo: 192 ds filhas: — Estou com. fome; mandai ossos maridos buscar peixes. sol, de mé catadura, disse vos: - - Como ser que se ama? Q.irmad pe~ ou e disse: - Vamos p. -guntar ao mac La foram. © macaco tinha lar | experiéneia e de:.-:ma ligdo comp'cta. “las Alobederi, desgostoso, agarrou-o pelo cabelo que ihe caia na testa e gritou: - - Basta! Vor isso, ainda hoje o macaco tem a testa limpa ‘os cabelas nao the caem sobre cla, como acontece com os caraja. Begressando & casa, Alobederi e seu irmao dormiram com as filhas do sol. Depois foram-se embora, desiludidos, ~~ Agora viramos pirarucu! Alobedcri ¢ seu irmao cairam num lago e se puseram a pular como pirarucus. Tinham-se tornado piraracus. Na margem, havia muitos jaburus. Alobederi declarou: — Nao queremos ser mortos pelos jaburus! Os pernaltas atacaram os pirarucus e mataram um dé- les: 0 irm&o de Alobederi. Os dois rapazes eram altos e bonitos. Alobederi era duro como pedra, por isso os jaburus néo conseguiram ma. té-lo. Mas 0 irmao era mole; os jaburus mataram-no e co. meram-no. Alobederi ¢ seu irmao cairam num Jago e se puserama um velho caraja. Entrou e pensou: — Fala-se que nesta casa existem duas belas araras. Irureruré foi pescar e voltou; depois, sain de novo para apanhar tartarugas no anzol, regressando mais tarde, Du- rante todo ésse tempo Alobederi ficou sentado ali, 56 olhan- do, Entao, Irureruré foi tirar mel. Alobederi tomou co- ragem, agarrou uma das araras e saiu correndo. . A mulher de Irureruré pés-se a chama-lo: ~~ Venha depressa! Alobederi fugiu com a arara! Trureruré correu atras de Alobederi, alcangou-o e rugiu: — Vou matar-te! Mas Alobederi ofereceu-Ihe um presente. Deu a Irure- ruré um remédio feito de plantas. E péde levar consigo a arara, Entao Irureruré, dando-se por bem Pago, voltou para sua casa. Herbert Baldus: "Ensaios de Etnologia Brasileira”, Companhia Editora Nacional, Colegao Brasiliana, Vol. 101, Sio Paulo, 1937, pp. 226-228, 194 CARAS. O 'ACARE E AS MULHERES BELICOSAS As mulheres de certa aldeia, em certas épocas, costu- mavam ir & lagoa onde vivia solitario jacaré. Para maior comodidade, construiram ranchos ¢ levaram utensilios de cozinha: panelas e outras vasilhas. Levaram enfeites de penas e também almiscar para esfregar no corpo. Uma dessas mulheres enfeitava-se com todos ésses ade- recos e a sua pele era ungida de esséncias, Enquanto as ou- tras pescavam, cozinhavam ou iam procurar frutos na flo- resta, ela permanecia sentada sdbre as ervas, A beira da lagoa. Nem bem as outras se afastavam, a mulher dos enfeites gri- tava: — Jacaré, vem trazer peixe, matrincho, curimata, pa- pa-terra e avoadeira! 0 jacaré respondia: — J& vou! E 14 vinha arrastando uma fieira de pescado. Chegando a beira da lagoa, deitava a cabeca sobre a coxa da mulher, para que ela fizesse cafuné ¢ adormecia. Enquanto isso, as outras preparavam a comida e depois do passeio levavam a seus homens apenas as cascas dos frutos. Mas a mulher en- feitada ficava com o jacaré e sé vollava para casa muito mais tarde. Com o tempo, os homens ficaram admirados de consta- tar que as mulheres sé traziam as cascas dos frutos. Deci- diram investigar. Um déles mandou que o filho acompa- nhasse a mie.- Esta, porém, recusou-se a consentir ¢ sé de- pois de muitos pedidos permitiu que o filho a seguisse. Quando 0 menino vyoltou, revelou aos homens o que ti- nha visto. Dai a dois dias, éstes se reuniram e foram, éles préprios, & lagoa, enquanto as mulheres tiveram de ficar na aldeia. Também os homens se esfregaram com almiscar e chama- ram o jacaré. 0 bicho apareceu como de costume, com a fieira de peixes, e deitou-se para dormir. Mas os homens 0 mataram com uma claya, alirando-o no mato. 195 Em seguida, foram cacar; mataram aind outros jaca. rés, garcas, marrecos ¢ urrbus, e voltarath |. rac: a’con a preia, Gritarum zombeteicos para as mulhe +s — Vos nos enganastes, agora podeis co ier urubu! No dia seguinte, 14 foram. as mulheres, mas 0 jacaré nao aparceet. Que ‘teria acontecido? Afinal, o seu cadaver foi encontrado 10 mato. Enfurecidas, correram para a al, deia, fizeram flechas e arcos, desafiaram os homens para a uta. Os homens néo levaram ésse desafio a sério e, para nao ferir as mulheres, viraram as flechas ao colocé-las no arco, pondo-as com a ponta para tras. Mas as mulheres atiraram: com as pontas para a frente e mataram os homens, com exceedo de alguns poucos, que fugiram, Depois dessa faca- nha, as mulheres desceram o rio e nunca mais se teve now licias delas. No tempo em que aquéle jacaré vivia, todos os jacarés falavam. Hoje nao fala mais nenhum. sche de Paul Erenreich: “Contribuicses para a Etnologia do Brasil”. Re- vista do Museu Paulista, Nova Série, Vol. 11, Sao Paulo, 1948 pp. 83-84, 196 Bae, .-.deitava a cabega sébre a coxa da mulher, para que ela fizesse cafuné e adormecia. CARAJA AS FLECHAS MAGICAS Aqiéles dois bugios matavam e comiam todos os ho- mens que conseguiam pegar. Dois irmaos resolveram ma. té-los. Caminhando pelo mato, encontraram uma mulher. -sapo. — Aonde vao vocés? — perguntou ela. — Vamos matar bugios. -,Se me quiserdes tomar por mulher, eu vos ensinarei como é preciso agir; do contrario, ireis morrer na cert, Os irmaos acharam graca naquilo e continuaram no seu caminho, Dali a pouco chegaram perto de uma arvore onde estavam trepados os bugios, armados com flechas de arre. mésso. Nas vizinhaneas, viam-se as ossadas dos homens que haviam matado. Os dois jovens tinham flechas de arenes. so ¢ iniciaram a luta, Mas os bichos sabiam agachar-se de tal jeito que as flechas passavam por cima déles, sem atin. gi-los. Dali a pouco, os bugios passaram a ofensiva: um dos irmfos caiu ferido no élho esquerdo, sendo aprisionados pelos ferozes inimigos. O terceiro irmao, que tinha ficado em casa, era doente, com feridas pelo corpo inteiro e a avé era quem tratava déle. fsse irmao foi cacar aves ¢ uma de suas flechas caitt diante da toca de uma cobra. Esta botou a cabeca para fora e perguntou: — Que estés fazendo aqui? Como é que podes cacar, se me pareces tio doente? fle se comoveu com as palavras da cobra. — Sim, é verdade que sou muito doente, todos me aban- donaram, meus irméos estado mortos, ssmente minlia avo trata de mim. A cobra falou: , Quero dar-te um remédio, mas nao digas a ninguém que fui eu a ajudar-te, E, assim dizendo, besuntou-lhe 0 corpo com uma poma- da preta, Chegando a casa, a avé perguntou-lhe por que motivo ficara assim, 198 «..chegaram perto de uma drvore onde estavam trepados os bugios, armados com flechas de arremésso. Ele se esquivou e diss: — Passei por entre arvores queimadas. No dF seguinte voltou a toca da cu. “a e esta o besun- tou Je névo'com a pomada. No ler -eiro dia, sentindo-se eurado, !, i ving.r os irmaos, A cobra deu-Ihe uma flecha, ~ Com essa arma — disse ela — mataras os bugios, Em can\'nho, encontrarés uma mulher-sapo « te te pedira para Casares com’ela. Finge aceilar a propo. ‘a e trata de en. gand-la. Qttando chegou ao lugar em que estava a mulher-sapo, esta {€z-Ihe a proposta de casamento, mas 0 indio proceden Somo a cobra The havia recomendado. A mulher-sapo, ilu. dida por éle, Ihe disse: ~_, Deixa os bugios atirarem primeiro e, quando chegar a tua vez, faze pontaria nos seus olhos. Chegando a arvore fatidica, reconheceu debaixo dela as ossadas dos irmios. Os bichos I de cima gritaram para éle, dizendo que atirasse primeiro, Mas 0 jovem nao atendew Esperou trangiilamente, até que os adversérios resolveramn iniciar © combate. Entéo, com as primeiras flechas, vazou Primeiro 0 élho de um, depois o lho de outro. Os dois be gios morreram, mas ficaram pendurados pela cauda num galho da arvore. A conselho da mulher-sapo, mandou umn lagarto desenganché-lo, 0 que foi feito com éxito. © indio voltou & toca da cobra e contou tudo 0 que Aeentecera. Ela, porém, Ihe deu um feixe de flechas que tinham 0 poder de atingir e trazer qualquer caca contra a qual fossem mandadas, Podiam fornecer-Ihe frutos do ma. fo, mel ¢ muitas outras coisas. Havia uma flecha propria para cada espécie de caga e cada uma delas era, alémn disso, acompanhada de uma droga magica, encerrada num co, quinho. A peconha se destinaya a enfraquecer 0 efeito dos flechas que voltavam, com muita forca, na direcio de quem as atirava, . Assim 0 méco se provia das melhores cacas ¢ peixes. Nao demorou muito e casou-se. Criou um rebanho é plan- {ou uma roca, Recomendava sempre & mulher que, quan. do éle estivesse fora, ninguém se servisse das flechas por que, do contrario, trariam morte certa. Assim mesmo, seu SHuhado, eerta vez, conseguiu convencer a irma a entregar- -Ihe as flechas. Lé foi éle. A principio tudo corren bem. A flecha des- tinada aos poreos ¢ a flecha destinada aos peixes cumpri- Tam 2 sua tarefa e depois se imobilizaram, gracas 4 droga magica, Quando, porém, atirou a flecha de tirar mel, apa~ 200 ' receu-lhe d> sttbito a cabeca de um «ysis com a bocarra i escancaradi, a exibir pontudos de = O cunhado — j-er- nas para qiic vos qiero? — dei'ou s »rrer como doido, sem © -lembrar-se do rectirso indicado : & E 0 monstro ficou as sdltas; langou-se"contra © homens, matando a todos os que encontrava. Ouvindo a celeuma que se levaniara, 0 hom: m voltou sla roca e, depois de muito trabalho, conseguiu conjurar o perigo. Mas a metade da aldeia jA estava morta. Entao le’ correu a toca da cobra e contou-lhe tudo o que havia acontecido. — Bem feito, pela tua desobediéncia — respondeu cla. — : Mas nao posso fazer nada. Amanhé, sairemos juntos para a caca, a fim de pescar um pirarucu, Mas se uma de mi- nhas filhas te tocar, me avisards, No dia seguinte a cobra chegou com téda a sua familia e encontrou junto & lagoa os caraja munidos de suas rédes feitas de cip6. Enquanto éles pescavam, o.homem foi an- .« dando pélo mato junto com a cobra. Em certo ponto, uma das filhas da cobra tocou-o, mas éle nao disse nada. : Ent&o a cobra se transformou num pirarucu e persua- » diu o homem a fazer a mesma coisa. Ambos cairam na ré- «de dos pescadores. A cobra conseguin fugir através das ma- + Ihas e o jovem, préso na réde, foi arrastado A praia pelos ~ demais caraja, Um veio e tentou mata-lo a golpes de maga, © mas éle o agarrou e puxou-o para o fundo da agua, de mo. “do que o seu perseguidor deixou cair a arma. A cobra, yen- do que sem o seu auxilio 0 indio néo poderia salyar-se, aju- dou-o a desenredar-se da tralha e desencantou-o, — Bem feito por nao teres dito nada quando minha filha tocou em ti! — Paul Erenreich: “Contribuicées para a Etnologia do Brasil”. Re- vista do Museu Paulista, Nova Série, Vol. I, Sdo Paulo, 1948, pp. 84-86. 201

You might also like