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O Estado atual e suas perspectivas

Com o término da segunda guerra mundial, a economia

capitalista atinge o ápice de sua potencialidade em decorrência das vultuosas

despesas empreendidas com a guerra fria e da transformação dos Estados

Unidos no credor dos países da Europa do pós-guerra. Durante esse período a

ideologia econômica Keynesiana, conjugada ao espantoso crescimento da

segunda metade do século XX, deu azo ao reconhecimento das fórmulas

político-econômicas encampadas com entusiasmo pelos Estados Democráticos

de Direito.

A política sócio-econômica de Keynes fora reconhecida como

um modelo de sucesso, devendo o Estado continuar intervindo constantemente

na economia gerando empregos, mesmo que para isso fosse necessária a

emissão de moeda sem lastro – fato que gerava um perene risco de inflação.

O fim da guerra fria e da ininterrupta ameaça de um sistema

político antagônico (socialismo) implicou uma diminuição dos gastos do Estado

com seu aparato bélico; fato que conjugado ao extenso período de gastos

públicos sem lastro levou à derrocada do arquétipo de Estado tabulado por

Keynes.

Com a nova conjuntura restou sobremaneira demonstrada a

procedência das críticas tecidas pelos opositores do Keynesianismo; haja vista

o novo quadro mundial – agora de elevação dos índices de inflação e aumento

do desemprego – desenhado a partir da década de noventa.

O Estado Democrático de Direito, como vimos, varia suas

posições conforme os conceitos sócio-econômicos vigentes. Dessa feita,


atentos à realidade que permeava a economia, o Estado novamente se

transfigura sob a justificativa de atingir suas finalidades sociais e reveste-se,

embasado nos preceitos genéricos enunciados na constituição, dos

instrumentos reguladores aptos à materialização de seus desideratos na nova

ordem mundial1.

Interessa ainda lembrar que, a despeito do déficit público e da

elevação das taxas inflacionárias decorrentes da política de geração de

empregos do Estado, contribuiu também para o colapso da máquina

administrativa o seu agigantamento; o que lhe impossibilitou a administração

das atividades que havia chamado para si em decorrência das mazelas

apresentadas pelo serviço público e nas atividades econômicas empresariais

estatais (OLIVEIRA, 2003, p. 75).

A solução vislumbrada remetia ao passado, a uma retomada

dos até então sepultados dogmas liberais. Esta nova vertente do liberalismo

clássico, intitulado de “neoliberalismo”, pode ser descrita como similar à sua

matriz ideológica do século XVIII, guardando em relação a esta apenas

singularidades distanciadoras dos fins sociais de consecução do bem comum

defendidas pelo Estado social projetado por Keynes. Dentre suas inovações,

merecem relevo a admissão de uma parca intervenção estatal na economia,

dês que com o intuito de coibir práticas nefastas à atividade econômica – leia-

se iniciativa privada dos detentores do poder econômico – como um todo (p.

ex. a formação de cartéis), e o afastamento do discurso de proteção das

1
Sob esse prisma, é hoje um consenso que o Estado neoliberal nada mais é que uma vertente
do Estado Democrático de Direito, ou seja, consiste aquele em autêntica subespécie deste.
liberdades individuais em detrimento da primazia pelo discurso das liberdades

econômicas.2

Os primeiros países a porem em prática o discurso neoliberal

foram os Estados Unidos e o Reino Unido, eliminando a política de altos

investimentos em setores públicos da economia e diminuindo ou pondo fim à

sua participação direta na prestação dos serviços públicos (desestatização,

privatização, concessão, terceirização etc.).3

Tratando da matéria, Alexandre Santos de Aragão (2002, p.

70) afirmou com acerto:

O Estado se viu forçado a “sair de onde entrou”: não tinha mais


capacidade econômica para manter os investimentos econômicos,
sociais e de infra-estrutura realizados durante o período de fartura do
segundo pós-guerra. Teve que suprimir grandes partes dos seus
investimentos ou, se tivessem potencial de lucro, passa-los à
iniciativa privada.

A prestação de serviços públicos regressa, assim, para a

iniciativa privada, desprendido novamente do contumaz intervencionismo

estatal, restando este submetido a livre concorrência e a lógica do mercado.

As implicações dessa nova orientação político-econômica não

podem, entretanto, dar azo a um regresso das concepções abstencionistas do

século XVIII. A administração pública deve, tendo em vista a complexidade

econômica, ajustar o mercado e a concorrência às finalidades do Estado

2
O discurso neoliberal encontra eco nas palavras de juristas como Paulo Otero (1998, p. 166-
167), que afirma “que não há decisão válida de privatizar sem a proxecução directa e imediata
de um interesse público. Desde logo, observando a constituição, pode dizer-se que o princípio
da privatização tem subjacente o entendimento de que o interesse público na concretização
Estado do bem-estar não envolve sempre, ou, pelo menos, necessariamente, uma intervenção
directa pública em termos econômicos, sendo passível de obter satisfação através da iniciativa
econômica privada“.
3
O mesmo fenômeno é hoje uma constante em praticamente a totalidade dos países
capitalistas.
Democrático de Direito (quais sejam: a solidariedade e a justiça social),

zelando para que a prestação dos serviços públicos por particulares cumpra

com a insofismável satisfação das necessidades básicas da sociedade, ou

seja, coadunando-a à consecução do interesse público.

Sob a égide da prestação dos serviços públicos por

particulares emerge uma situação de risco eminente das conquistas oriundas

do denominado Estado de bem-estar, sendo inarredável um debate acerca da

eficiência da prestação desses serviços pela iniciativa privada, atrelada às

regras do mercado e a lógica do mercado. Cabe, pois, ao Estado, criar regras

garantidoras da supremacia do interesse público, viabilizando dessa maneira a

proteção dos usuários dos serviços públicos.

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