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oe A formacao do™’ _ Amazonas Analisaras origens do maior rio do mundo ajuda pesquisadores a explicar a : Ene MeL Total wet ae ee CFU ao uelc-Meua(o Eta velal (or) Be POR CARINA HOORN Cee Rae ndo pode deixar de notar que a gua foe do poderoso canal principal, O rio, que tas peruanas perto do Pacifico por 6. 1 brasileira, ultrapassa suas margens ¢ inunda grandes areas de estagdes chuvosas, E mirfades cle Lagos se espalham por stias eee On es floresta mais diversif da Terra, Até recentemente os pesquisadores nio tinham a menor id SUS eee ee ee ene ne cae eee eee Sed eee ee ee De eee et ee Nos tltimos 15 anosy hovas oportunidades de estudar os registros geolé ae eee ea On ecu eae ce OR auca cece eet er —<<__ ———— De Tey arquipélago de Anavilhanas, eer ee ens eer weeneay . Sees « ae sd . = Ses a ae ee Fy i * Se See eee que seu desenvolvimento influenciou a evoluséo de plantas ¢ animais nativos. Muitos pesquisadores hoje defendem {que © rio incipiente alimentou inimeros Jagos interconectados no meio do conti nente antes de forjar uma conexo direta ‘com 0 oceano Atlintico; esta zona imi da dinamica produziu condigdes ideais ranto criaturas aquaticas quan- 5 surgissem muito antes do {ue se pensava. As novas interpretagdes também explicam como criaturas que ‘normalmente entre elas, os golfinhos ~ hoje prosperam nos lagos internos da Amazénia, ivem apenas no aceano = SEDIMENTOS TESTEMUNHAIS Entender como ¢ quando 0 rio Amazonas se formou é essencial para desvendar 0s detalhes de como foi moldada a evolugio da vida na Amazénia. Antes do inicio da década de 90, os gedlogos sabiam apenas «que poderosos movimentos da crosta ter restre forjaram os Andes, na América do Sul, elevaram picos em outros lugares do planeta jincluindo o Himalaia e os Alpes} centre 23 milhdes 5 milhoes de anos atris, época conhecida como Mioceno. Esses ceventos dramaticos dispararam 0 nasci -menty de novos rios e alteraram © curso dos exi especialistas acreditam que a América do Sul tenha sido uma exceco, Mas a natu- a especifica eo periodo de tais mudan ‘gas eram desconhecidos. Quando comecei a explorar 0 pro- sites na Europa e na Asia, € 0s, blema em 1988, suspeitava que os me Ihores registros do ambiente amazénico Jama, areia restos de plantas armazena- dos no canal do rio que hoje segue pa © Atlintico. Mas obter esses sedimentos = hi muito solidificados rouneano I or tcc, ance’: Snot: I Une forcs grande s oe ee para abragar Se ‘ BEEN istics nan code sac EEE seoredos facilmente. Eas BE scchss dss derecsoc I gcc soba ro sas Foe pone samen en geral o fazem ao longo i. AULA ABERTA ee ROCHAS ANTIGAS contém pis 9's sobre 0S dis inicials da Amazénia, comoestes ‘Benhascos amarelados a0 longo do rio colombiano Caqueté, que s6 raramente se Projetam para fora da densa floresta Umi de tributérios quase inacessiveis e tendem a ser cobertas por uma vegetagio densa, Ao lon de canais, meu assistente de campo e eu Viajamos pela Colimbia, Peru e Brasil e encontramos apenas uma dita de aflo ram Com frequéncia tivemos de manejar um facio para cortar fez surpreendendo uma © outta expondo as go de centenas de quilémetros pegadas de nhamos acesso apenas s camadas supe riores da grossa formagao tuma onga. Mesmo assim, t dos primeiros tempos consistia em barro avermelhado e arvia heanea de quartzo, ramente haviam se formado pela erosio de granitos e outras rochas claras no interior do continente. Tal composi io implica que os canais antigos da re iio se originaram no coragio da Ama zonia. Eu supus-~e outros pesquisadore depois confirmaram ~ que no inicio do Mioceno os rios vinham do noroeste, de colinas baixas, para o interior continen: tal, ealguns escoavam no mar do Caribe. A paisagem amazénica mudou rochosa, que se estende (ANVIDADES: significativamente logo apés um epi- ue se ext Bey) ieifeaivamente logo apds um ei por quase 1 km para ba- (MMMM séio violeneo de aiidades ectént xoda supericicem alguns [gamiistpade) cas empurrar para cima o nordeste locais. relevo. Ea movie dos Andes. Cerca de 16 milhoes de Mieke otra. | Menlagdo dase aa 1 aproximadamente, 0 co- (ESMMIRERERERIN iizado chamado linhito. Era Gbvio eco do que os gedlogos iperigesan§) ue as particulas escuras de lama e chamam de Mioceno mé- WHS/MBSESSE!| Seia vieram de outra forte cue nie dio. A maioria das rochas iets granitos claros, E padrées em ca tos mosemes franios claros. E pa aque encontramos daadas mannfash 99) madasdistinas nos sedimentos fox Do mar para o mar? Entre os mistérios mais impressionantes da AmazOnia moderna estao os botos, as raias © outras craturas tiicamente marinhas (fotos) que povoam 0s oasis lamacentos de aqua cove da fioresta umida. Uma antiga teoria sugere que um mar raso tomava a América do Sul de norte a sul (mapa abaixo) por um longo periodo do Mioceno, entre 23 milhoes @ 10 milhées de anos atras, © que esses animais descendem de ancestrais dos oceanos que migraram pata a regide Via aquele canal marinho. Mais tarde, quando o mar retraiu, as espécies teriam evoluido para tolerar a agua doce. silzados indicavam que a agua que as depositou nao vinha mais do norte, mas sim do leste. Meu palpite foi que as mon- tanhas erguidas mudaram os padres de drenagem, enviando a agua do leste em diregio ao Atlantco. Para apoiar essa idcia, anélises poste Fiores do sedimento feitas na Universida- de Wageningen, Holanda, provaram que muitos dos gros de areia marrons eram de fato fragmentos de xisto e de ourras rochas escuras que foram levados pela gua & medida que cresciam os Andes recém-nascidos. Além disso, alguns dos ros de pen ¢ esporos que encontrei na argila e nos linhitos vieram de coniferas ¢ samambaias que s6 poderiam ter cresci- ddo em elevadas altitudes, em montanas, © pélen contrastava com os sedimentos ‘mais antigos do Mioeeno, que vinham de plantas conhecidas por crescerem apenas cm interiores continentais de baixa alk titude. Niileos de rochas do Brasil, que forneceram a tinica sequéncia completa dda, mudanga do barro avermelhado para os sedimentos azulados e marrons, acaba ram por corroborar minhas conelusées Enfim os cientistas tinham evidencias inegiveis de quando nasceu o embrido do rio Amazo- nas. Mas logo se rornou claro que 6 rio adquiriu sua grandiosidade $6 muito depois. Em 1997, David Dobson, hoje na Faculdade Guile ford, em Greensboro (Carolina do Norte), ¢ seus colegas desco- briram que os geios da areia an- dina que encontrei na Amaz6nia comegaram ase acumular 20 longo da costa brasileira apenas 10 milhées de anos atras. Esse marco de tempo significa que 0 rio demorou pelo menos 6 milhdes de anos para se desenvolver em um sist. ma de drenagem totalmente conecta- do e transcontinental, como é hoje. A pesquisa das mudangas geolégicas que ocorrecam naquele periodo de transigio hoje esclarece as origens da enigmatica fauna da regio, AGUA SALGADA ou Doce? Por décadas, a principal hi potese prevalecente sobre a Amazénia no Mioceno indicava que, na época, um mar raso teria inundado a exido por bastante tempo. A descoberta de que 0 rio Amazonas levou milhoes de anos para amadurever io contradiziaaquela SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL AULAABERTA 39 porque deixava aberta a possibilidade de ue aquele mar barrou 0 caminho do rio incipiente até 0 Atlantico. Defensores dessa hipétese apontam que uma conexdo prolongada com © mar aberto poderia explicar como botos, peixes-boi, raias e outras cri turas marinhas entraram no coragio do continente. Quando o mar retraiv, cles teriam desenvolvido a habilidade de tolerar a agua doce, o que expl ria como esses animais vivem nos oasis aquiticos da floresta. Pesquisadores nna Argentina também exibiram casos convincentes de que certas condigies marinhas raras ocorreram no interior do pais durante 0 Mioceno. Com esses argumentos, fica tentador acreditar no cenario marinho, mas meus colegas e eu descobrimos varias evidén- elatve a agua marina, Empobrecido Crescimento da cconena ao longo do tempo. azul) suger jo medido em conchas de moluscos Dipodonde 18 milhées de anos (curva fortemente que os arimais viveram om um rio tropical. As faixas de crescimento ~ camadas de concha que os moluscos constroem com elementos dissolvides na agua em que vivem - mostram um padrao alternado de enriquecimento « esvaziemento de uma forma rara de oxigénio chamada oxigénio 18, Esses padroes alternados, verifcados também no molusco moderno amazdnico Trplodan (curva vermeha),significam que os animais experimentaram as estagdes seca e chuvosa tipicas das florestas umidas tropicas; as curvas seriam muito mais planas se os, moluscos tivessem vivido em um mar aberto @ salgaco Reforgando essa ideia, um novo estu- do com moluscos indica que o clima do Mioceno era capaz de dar suporte a uma floresta timid diversa. Ron J. G. Ka- andorp, da Universidade Livre de Ams- terdi, analisou as faixas de crescimento em conchas de moluscos com cerca de 16 milhoes de anos, desta vez estudan: do assinaturas quimicas do oxigénio, elemento que registra a abundancia de chuva, As faxas mostraram um padrio de altemnancia dos is6topos de oxigénio muito parecido com os observados em moluscos. amazénicos atuais. Nas con- ‘chas modernas, as faixas alternadas sio conhecidas como um produto das esta- «bes chuvosas e seas das quaisafloresta depende. Apesar de o mundo ter sido um lugar mais quente no Mioceno, a presen 6 de sinais quase idénticos de oxigénio ‘nos moluscos ancestrais sugere que a va- riagio climtica necessiria para sustentar © ecossistema de uma floresta timida ji existia quando viviam — muito antes das «eras glaciais dos dltimos milhGes de anos. EXPLOSAO DE ESPECIES ‘Com base nessas novas evidéncias, um riimero crescente de cientistas concor- da que a terra alagada na Amazénia durante o Mioceno era um beryo de es- peciagdo, onde ocorreu uma explosio evolucionaria. A sublevagio dos Andes deu inicio a tudo a0 desencadear 0 nas- cimento do rio Amazonas, responsivel por alimentar uma vasta terra alagada que dominou a Amazénia por quase 7 milhdes de anos. Invasores marinhos viajaram para a regido em poucas ocasides. A incursio posterior jf com os ambientes de gua doce formados por lagos interconec- tados, se mostrou um terreno de cru- zamento perfeito para novos animais aquiticos, como moluscos, que se de- senvolveram em uma fauna altamente diversificada e populosa dentro de um tempo surpreendentemente curto ~ tal vez apenas alguns mihares de anos. © ambiente era ideal também para peque- nos crusticeos chamados ostravodes. Fernando Mufioz-Torres, da Ecopetrol, uma petrolifera colombiana, descobriu ue esses animais ~ assim como 0s mo- luscos — experimentaram uma explosio de especiagio no mesmo periodo, Lagos « canais rasos e 0 isolamento parcial de algumas areas provavelmente encoraja ram as taxas elevadas de especiagio. Mais tarde, quando o sistema in- terconectado de lagos cedew espaco para o recém-formado rio Amazonas, a maioria dos moluscos ¢ ostracodes — ue precisam de condigdes mais calmas ‘em lagos - sumiu, Ao mesmo tempo, contudo, este cendrio em mudanga deu mais condigdes para as plantas ¢ os animais terrestres evoluirem. Uma das descobertas mais animadoras dos estu dos geol6gicos recentes é que a flora e a fauna amazdnicas 40 incrivelmente resilientes. Pelos 22 milhdes de anos que a floresta timida exist, ela se man- teve forte ~ e mesmo cresceu ~ apesar das mudangas tremendas na paisagem: © florescimento da cordilheira dos Andes, no leste, © nascimento do rio ‘Amazonas e a inundagio pela agua do ‘mar, Seré que essa persisténcia ajudara a Amaz6nia a sobreviver 4s mudangas provocadas pelo homem? . AAUTORA, Cerina Hoom & getoga © especiaista em pen do Instuo de Bloversidage e Dnémica de Ecosse rmaem Amster, Holanda Ele corciiuo dota ra Unversidade de Arsterda em 1294 e mestraco ‘em comunicagdo de cénci no eral Calege de Londies om 2004 Expeou ros na Amazéeia, ro8 ‘Ares. no Hala Stans oe Ona paraiden ticar a efilncia desses ambieres sedimentares "a vageacto local Alem de segue com a pesquisa Cenfies, Cana atvamano aaa com roves tec roogias de expbragao e precurao de patclane gas para Shel en Rishik, Holanda PARA CONHECER MAS New contributions on neogene geography and depositional environments in Amazonia. Editado por Carina Hoom Hubert B. Vann fm Journal of South American Earh Sciences. vol 21, 8 1-2, 2008. Origin and evolution of to- ical rain forests. Robert) Morey. John Wey & ‘Sons, 2000, ‘Seasonal Amazonian rainfall variation in the Miocene climate optimum. Fon J. G.

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