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ENZO ROPPO O CONTRATO \A ALMEDINA © CONTRATO ‘iro ORGINAL “IL CONTRATTO” ENZO ROPPO EDIGOES ALMEDINA. SA ‘Av, Femio Magalhes, n° 584,52 Andar 3000-178 Coimbra ‘Tel: 239851 904 Fax: 239 85) 901 ‘woywalmedina.net ceditora@almedina net Janeiro, 2009 uposrro excaL 287869109 (0s dados eas opnides inserdos na presente pubiiengto sio da exclusiva respon eprodugo desta ob, por fotocia 04 ou ein preva atorizagoeserita do Ea cpu_347 = | PREFACIO 1. Mais do que um prefécio, este texto pretende ser uma justifi- cagao. Com efeito, voltar a publicar, numa fase de maturidade de um autor, uma obfa pertencente ao tempo da sua juventude (tinha 30 anos quando a escrevi; agora tenho o dobro) carece, de alguma forma, de uma justificago. Tanto mais quando o livro trata de um tema como o contrato, que nos 30 anos apés a primeira edigiio da ‘obra (1977) conheceu transformagées profundas. Grandes linhas de evolugo ¢ de mudanga atravessaram, nestas trés décadas, 0 dominio do contrato, redesenhando os seus contornos @ restituindo-nos uma imagem do facto juridico bastante diferente daquela do passado, Tudo aconteceu com bastante rapidez, precipi- tando-se sobretudo na tltima década do”século XX. Na primeira parte do século pasado enconivam-se aqueles a quem John Reed, referindo-se & Revolugo de Outubro, designou como os «10 dias que transformaram o mundo». O especialista em direito civil poderia falar sobre os «10 anos que transformaram 0 contrato», aludindo as transforriagdes amadurecidas na década de 90 do século XX. ‘Apenas alguns breves comentérios. 2, O contrato europeizou-se. Hoje jé ndo € possfvel pensar no contrato em termos puramente domésticos, na Iégica restrita do ‘ordenamento nacional tinico. Hoje € possivel, ¢ mesmo obrigat6rio, falar sobre um direito europeu dos contratos. Um direito contratual europeu, que € um direito for «comunitétion, porque surge, em larga medida, das directivas, dos fe dos planos de acgio dos érgtios do governo da numal de Justiga; © €, sdida em que ndo é 40 mesmo tempo, um direito «comum», na 4 _ © contrato gerado somente por via institucional, politica ou burocrética, mas fambém — de um modo menos formalizado, mas nfo menos efi através do citeuito das trocas. cultu dos modelos, das elaboragdes académicas e através das entre os protagonistas das profissdes legais, E obriga cada jurista europeu a voltar a discutir as tradigdes da Sua propria famflia juridica e a abrir-se as tradigées das outras famili- modo, por exemplo, os civil lawyers perguntam-se se na va de um direito dos contratos harmonizado a escala curopeia existiré ainda espago para um instrumento extremamente nobre na sua bagagem conceptual, como o da «causa» do contrato; © mesmo tempo, os juristas da common law aprendem a familiari. zar-se € a conviver com uma categoria tio incompreensfvel ao seu senso comum, como a da «boa fé. £ e g g 5 g 3. O contrato tomou-se um objecto ¢ um instrumento essencial das politicas de market regulation, que visam opotem-se as préticas anticoncorrenciais, as assimetrias informativas e a outras «falhas do mercado». A criaglo ¢ a enorme expansio da categoria dos «contratos do consumidor» so apenas o exemplo mais vis{vel. Mas existem outras: desde a crescente rencia entre o diteito dos contratos e a dis. lina antitrust, & atengao, cada vez mais acutilante, dada aos rel namentos contratuais entre empresas com desigualdade de barganing Power, ¢ & emergéncia de novos sectores importantes, antes desconhe- cidos (basta pensar nos contratos do mercado financeiro) 4. E estes fenémenos, por seu lado, geram posteriores transforma- ‘ges do contrato significativas. De um ponto de vista sistemstico regista-se a crescente fragmen- pelo menos, a perda de centralidade da do contrato, concebi prepotente, uma I6gica anti-unitéria, pluralista olar, que prefere pensar no «contrato> como numa galdxia de ren sou classes de contratos, cada um com a sua di renciada da dos outros tipos ou classes. Prefcio _ 5 lores, aumenta a sensi- contratual». Cada vez mais frequentemente pede-se ao legislador e ao intérprete que saiam da I6gica segundo a qual — repetindo as palavras de Georges Ripert — 0 «contractuel» € automaticamente sinénimo de duster; e até mesmo que superem o velho dogma da inatacabilidade do equilfbtio econé- mico do contrato. 5. Tudo isto esti bem presente nos que escrevem sobre 0 contrato com um pé no fim do século pasado (¢ do milénio!) e outro no infcio deste. E foi sobre tudo isto que tentei eu proprio tratar, nos trabalhos em matéria de contrato, que tive ocasitio de produzir nestes dltimos anos: desde o livro I Contratto (Giuffre, Miléo, 2001, pag. XLI- -1066), até & colecgiio de ensai (2* ed., Giappi Turim, 2005, Trattato del contratio (volumes I-VI, 6. Mas tudo isto néo existia (ou pelo menos nao com tanta evidéncia e prepoténcia) nos anos 70 do século.XX e, consequente- mente, 0 meu velho Contratto desses anos ‘no o pode abranger. Mas, enti, porqué propor uma reedi¢ao do livro, num momento € num cenério que arriscam fazé-lo parécer irremediavelmente obs: eto? Penso que existe uma razo. Um livro deve set avaliado com base na missio que the € atribu(da, ou, se se preferir, com base nas suas ambigdes. As ambigdes do meu velho Contratto eram limitadas, assim como er la a missio visada, O trabalho niio pretende — em nunca pretendeu ~ oferecer uma representagio completa, analf- tica e actualizada do direito contratu uma abordagem, um modo de se ap) suas regras. Uma obra com um obj >» — esté, talvez, menos exposta ao impacto das mudangas e, ‘menos sujeita ao envelhecimento; talvez conservando tempo a capacidade de cumprit a sua propria pequena fungio de guia «de primeiro nivel» no mundo do contrato. ‘ contrato Este 6, certamente, um mundo complexo: muito mais complexo do que tudo o que emerge de um livro como meu pequeno Contratto. Creio, no entanto, que a complexidade se afere em graus: partindo das grandes linhas, dos elementos de fundo da realidade inquirida, para depois acumular estratos de conhecimento, progressi- vamente posteriores e mais evoluidos. © meu pequeno Contratto nao tem como obj do que isto: acompanhar quem estuda 0 facto jurfdico no primeiro frogo do seu percurso de aprendizagem; fornecer-lhe as coordenadas gerais sobre as quais assentar o trabalho futuro de enriquecimento e aprofundamento, E tenho a axdécia de pensar que pode ainda reali- zar esta fungiio, com eficécia suficiente, mesmo a uma distincia de 30 anos. vo nada mais Dezembro de 2008 Vincenzo Rorro CAPITULO 1 FUNCAO E EVOLUCAO HISTORICA DO DIREITO DOS CONTRATOS 1. A OPERACAO ECONOMICA, 0 CONTRATO, O DIREITO DOS CONTRATOS 1.1, Contrato-operagao econdmica e contrato-conceito juridico «Contrato» é um conceito juridico: uma construgéo da ciéncia juridica elaborada (além do mais) com o fim de dotar a linguagem juridica de um termo capaz de resumir, desig de.forma sintética, uma série de principios e regras uma disciplina jurfdica complexa, Mas como acon tece com todos 0s conceitos juridicos, também 0 conceito de de se~ entendido a fundo, na sua esséncia inti- itarmos a considerd-lo numa dimensio exclusi- vamente juridica—como se tal constitufsse uma realidade auténoma, dotada de auténoma existéncia nos textos legais nos livros de direito, Bem pelo contrério, os conceitos juri- dicos—e entre estes, em primeiro lugar, 0 de contrato— reflectem sempre uma realidade exterior a si préprios, uma realidade de interesses, de relagdes, de situacdes econémico- iais, relativamente aos quais cumprem, de diversas ma- uma fungdo instrumental. Dai que, para conhecer verdadeiramente 0 conceito do qual nos ocupamos, se torne necessério tomar em atenta consideragio a realidade econd- mico-social que the subjaz e da qual ele representa a tradugiio

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