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56 Dubropes DE PESQUISA NAS RELAGOES SOCIAIS nizagio dos dados. ais definigbes incluirio definigdes for- ‘mais, destinadas a apresentar a natureza geral do ‘processo ou fenémeno pelo qual o pesquisador se interessa, bern como sua relagio com outros estudos © com a\teoria existente de com pessoas que tenham tido grande experigneia no campo a ser estudado, Mesmo na entrevista mais sistemitica dos_informantes posteriores & essencicl manter um certo grau de flexibilidade. © objetivo da estruiura da entrevista é garantir que todas as pessoas entrevistadas respondam as perygntas que 0 pesquisa lor deseja fazer; no entanto, as fungies «le descoberta e for- mulagio do estudo da experiéncia exigem que o informante sempre possa apresentar novas questes © perguntas que o pesquisador ainda nao tinha considerado. Ao formular questées para um roteiro de entrevista com profissionais, & geralmente wtil orientar as perguntas para 3 Para uma di turadas", ver 0 Capit uisio de entrevistas “estruturadss” © “nfocstra 107, pigs. 266-300. PLANEJAMENTO, DE PESQUISA er aquilo que “dé certo”. Vale dizer, usualmente as perguntas devem tera forma seguinte: “Se se deseja (determinado efeito), que influéneias ou métodos terfio, segundo sua ex- periéncia, maior probabilidade de. obté-lo?” Existem vérias Taubes para focalizar, fundamentalmente, as influncias que ‘provocam mudangas. Em primeiro lugar, o profissional, ecessariamente atento aos imperatives: de seu. trabalho, grienta-so para o que provoca. mudangs, 0 que’ “da: certo.” Tende a compreender melhor ¢ a ser mais capaz de respon- der a perguntas de contetido pritico do-que ao que & apre- sentado abstratamente. Em segundo lugar, a acentuagio da mudanga permite que 0 pesquisador obtenha indicagoes de processos que atuarn em certo periodo de tempo, o qup o Profissional pode observar de uma posigio extraordina Hiamente favordvel. Em terceiro lugar, se 0 interesse do pesquisador nio se volta apenas para as relagdes tedricas entre variéveis, mas também para as suas conseqiiéncias na agio social, precisa saber como tais variéveis tendem a reunir-se na vida diéria e como tais conjuntos de varitveis, geralmente encontrados, facilitam ou dificultam os objetivos socialmente desejéveis, ‘Sempre que possivel, a fim de estimular:o informanté a ‘comparar os principais métodos. alternatives para atingir um objetivo especifico, é desejével sondar além de uma simples apresentagio de prinofpies gerais que provocam determi: nada mudanga. ‘Tém muito valor os exemplos concretos, ti- rados da experiéncia do informante, de tentativas vitoriosas ‘ou fracassadas para obter um efeito especifico. Permitem que 0 pesquisador compare experiéncias de diferentes pessoas, em diferentes situagdes, ¢ assim chegie a generalizagbes © conclusdes provisérias, que ultrapassam as informagées de qualquer informante isolado. Para exemplificar um tipo de-pergunta que, segundo se verificou, ¢ muito itil em estudos de experiéncia, apresen- tamos as seguintes pe-guntes, retiradas de um estudo de experiéneia de relagées intergrupais na inciistria. * Algumas pessoas acreditam que um programa de fio no emprego’ exige que os membros 4 Este estudo {oi realizado por J. Harding’ © R. Hogrefe, da Commission on Community Interrlstions do American Jewish Congress. 88 2eETODOS DE PESQUISA NAS RELAGDRS. socTAls do grupo minoritério, com qualidades médias para. um emprego, sejam aceitos neste a partir do principio de que “quem chegou primeiro, fica com o lugar.” Outras pestons acreditam que, para a introdusio de’ membros do grupo minoritétio, € importante que o primeiro membro desse grupo tenha algumas qualificagbes’.es- eciais. A suposicio: é que isso tomard .mais, fécil, lepois, a aceitigto de outros membros désse grupo minoritério. Pergunta: Ser& necesshrio estabelecer qualifica~ ges especiais para os primeiros membros do grupo mi= noritério que do introduzidos em wima nova situagho? Se os primeiros membros de um grupo ininorité- rio introduzidos numa situagio sio especialmente se- lecionados, existem varias bases para fazer a selegio, Alternative A: Algumas pessoas acreditam que os primeiros membros de um grapo.minoritério introdu- zidos devem ter muita capacidade para o trabalho cespecifico que devem fazer. t Alternativa B: Outras pessoas acreditam que & mais importante que os membros do grupo minoritirio sejam muito agradaveis, do ponto de vista pessoal. Alternativa C: Outras pessoas acreditam que a principal consideragio € que os primeiros membros do frupo minoritirio sejam tio semethantes quanto pos- sivel as pessoas cém que devem trabalhar, tanto cm aparéncia fisica,” maneira, Tinguagem, educagio, inte- esses, quanto em experiéncin anterior, Pergunta: Qnais as prineipais vantagens ¢ desvan- tagens desses és principios pare a selegio dos pri- meiros. membros de um grnpo minoritirio questo introduzidos em uma nova’ situacio? De modo geral, a entrevista para conse tende a ser muito lon; horas - ¢ hreqiientemente dh Considerando-se a natureza da informasio desejada, & con- veniente preparar o informante com uma semana de antece- déneia, enviando-the uma edpia das questées a serem discuti. PLANEJAMENTO DE PEsquisa 69 das. Isso Tho da oportunidade nao sé para pensar antes, mas também para consultar sens colegas ¢ acrescentar 0 genhecimento que pode ser obtido com a experiéneia destes Ailtimos. ALGUNS SunpRopuTos Dos Estcpos pr Expsratvca, Um estudo da experiéncia, além de ser uma boa fonte de hij teses, pode dar informacéo: a respeita, das_possibilida priticas -de diferentes tipos de pesquisa. Onde obter os Tecutsos para a pesquisa? Que faitores podem ser ou nao controlados na situagio que se desefa estudar? Quais as varidveis que tendem a estar reunidas em situagées de comu- nidade? “Qual a disposicio de instituigées, profissionais © cidadaos para cooperar em estudos controlados de pesquisa a respeito do problema? As respostas a essas_e outras questes priticas semethantes podem ser um dos subprodutos de um estudo de experiéncia cuidadesamente planejado. Alm disso, um estudo desse tipo pode dar um Ievantamento dos problemas considerados urgentes pelas pessoas que traba- Mham em determinada rea, | Esse levantamento, pode ser extremamente itil no estabelecimento de prioridades num programa de pesqui © relatério de um estudo de experiéncia, também dé um resumo do conhecimento de profissionais capazes a rex peito da eficigncia de varios métodos e processos para atingir objetivos especificos. Em lugar de conhecimento mais formalizado, essa informagio pode ter extraordinério valor como um guia para as “melhores” praticas em determinado campo. Evidentemente, a0 apresentar esse resumo, deve-se deixar claro que o estudo nio se bascou numa’ amostra casual de pessoas que trabalham nesse campo. Sua utilid: de decorre da apresentacio de intuigdes e de priticas eficientes, e no da apresentacao do “tipico.” ANALISE DE EXEMPLOS QUE ESTIMULAM A COMPREENSAO5 Os cientistas que tabalham em ‘reas relativamente niio-formuladas, onde existe pouea experiéncin que sirva de '5 Grande parte da discussio seguinte baseia-se em artigo fiedite da J. Pe Dean, "The Method of Unstructured. Pilot Inquiry” Umm resume desse artigo foi publieado irr Dean (19534), 70 acéro00s Dit FESQUISA NAS HELAGOES sOcIANS guia, acham que o estudo de exemplos selecionados é um §nétodo muito produtivo para estimular a compreensio e Sugerir hipéteses para pesquisa. As notdveis intuigdes tebri- cas de Sigmund Freud foram, naturalmente, estimuladas por ‘seu estudo intensivo de pacientes. Da mesma forma, pro- fundas mudangas.em nossa concepgio das relagées entre 0 omem’@ a sociedade foram provocidas, em grande parte, pelos estudés antropolégicos de culturas ‘primitivas. ‘A partir desses exemplos, deve estar claro que no esta mos descrevendo 0 que 6 As vezes denominado a aborda- gem de “estudo de cdso”, no sentido restrito de estudar os ‘yogistros’ mantidos por instituic6es ow por psicoterapeutas, mas, ao contrério, o estudo intensive de exemplos seleciona- dos do fendmeno ém que estamos interessados. © foco pode yoltar-se para individuos, sitaagdes, gmpos on comunidades. O método de estudo pode ser 0 exame dos registros existen- tes; pode ser também o da entrevista ndo-estruturada ou da observacao participante, ou algema outra abordagem. ‘Quais os aspectos dessa sbordagem que a tomam um processo adequado para a provocagéo de intuigées? Um dos rincipais 6 a atitude do pesquisador, que & a de receptivi- \de ‘atenta, de busca, ¢ nfo de verificacdo. Em vez de limitar-se & verificagio das hipéteses existentes, o pesquisador 6 orientado pelas caracteristicas do objeto que esti sendo estudado. Sua busca est constantemente em proceso de reformulagéo ¢ nova orientagao; & medida que obtém novas informagées. Fazem-se froquentes mudangas nos tipos de dados coligidos on nos eritérios part a selecto de caso, a medida que as hipéteses emergentes exigem nova informagao. ‘Um segundo aspecto é a infensidade do estudo do indi- viduo, do grupo, da comunidade, da cultura, da situagio ow Go incidente escolhides para pesquisa, Tenta-se’ obter infor- magio suficiente para caracterizar ¢ explicar tanto os aspectos Singulares do caso que esta sendo estudado, quanto os que tem em comum com outros casos. No estudo do individuo, isso pode exigir um extenso eame de sua situacso presente ¢ de sua historia de vida, No estudo de um grupo, de um jncidente, etc., os individuos podem ser tratados como infor- mantes a respeito do objeto, e no como objetos de anklise intensiva. PLANEJAMENTO DE PESQUISA n ‘Uma terceira caracteristica desta abordagem 6 0 fato de depender das capacidades integradoras do pesquisador, de sua capacidade para reunir, numa interprotagio unificada, muitos e diversos aspectos de informacio. Esta ultima caracter(stica levou muitos eriticos a verem a anélise de casos de provocacio de intuicao como uma espécie de técnica pro- jetiva, na qual as conclusées tefletem, fundamentalmente, a predisposigho do pesquisador, e no: 0 objeto de estudo. Mesmo. que esta critica seja adequada para muitos estudos do caso, a caracterfstica nfo 6 necessariamente indesejével, quando 'o objetivo 6° provocar e nao. verificar hipéteses. Afinal, mesmo que o material de caso seja apenas o estimulo para a apresentagio explicita de uma hipétese anteriormente nio-formulada, pode ter uma fungio valiosa. Os cientistas sociais que trabalham com\esta abordagem verificaram, freqientemente, que 'o estudo de poucos casos pode provocar um grande nimero de novas intuigdes, en- qquanto quo grande’ nimero de outros casos apresoataré poucas idéias novas. Embora aqui, como em outros aspectos, nio seja possivel estabelecer.regras simples para a_sclecao do casos que devem ser estudadts, a experiénein indica que, para problemas especificos, alguns tipos sio mais adequados que outros. Absixo enumeramos alguns desses tipos, junta- mento com os objetives que, segundo se verificou, so mais liteis. A lista nio 6 exaustiva, nem os tipos sio, mutuamente exchusivos. 1, As reagées de estranhos ou recém-chegados podem indicar caracteristicas da comunidade que poderiam nio ser percebidas por um pesquisador eriado nessa cultura. Um tranho tende a ser sensivel a costumes e priticas sociais mais ow menos indiscutfveis para os membros de wma comu- nidade. Sua curiosidade, surpresa ou perplexidade podem chamar a atengio para aspectos da vida da comunidade com (08 quais os membros dessa comunidade esto tio habituados que j& #0 os observam 2. Os indivieuos ow grupos marginais, que passam de wm agrupamento cultural para outro © esto na periferia de ambos 08 grupos, sie, sob certos aspectos, semelhantes a estrangeiros ou cstranhos. Como estiio “no meio”, expostes a pressdes conflitivas dos grupos de que estio saindo e daque- n si10008 DE FESQUISA NAS RELAGOES SOCLAIS les para os quais se dirigem, freqtienterente revelam, de maneira dramitica, as principais infliéncias que atuam em cada grupo. Por exemplo, no campo de relagées intergrupais, tende a ser muito esclarecedor 0 estudo de imigrantes, de pessoas deslocadas, de judeus que tentam ser assimilados por ypos culturais locais, de negros que tentam “passar” por Efancos, de pessoas que estio no proves de coaversio para ‘9 catolicismo ou que abandonami esta religiéo, de pessoas.em ‘dreag de soberania nacional discutida. . B.. O estado do individuos ow grupos. que esto. em tiansigdo de um estédio de desenvolvimento para outro tem sido produtivo, sobretudo em pesquisas antropolégicas da influéncia da ‘cultura na -personalidade, Na pesquisa de alquer cultura, o antropélogo est necéssariamente limita- jo, pelo tempo, a um estudo Tongitudinal, em vez de estudar ‘os individuos do nascimento & morte. O estudo de individuos que estio nui ponto de transigfo ajuda a superar, até certo onto, as limitagoes da pesquisa longitudinal. Por exemplo, © estudo intensivo de bebés que esto sendo desmamados, de adolescentes ou de mulheres no perfodo da menopausa: tende a permitir compreensio no processo de mudanga e das caracterfsticas sécio-psicolégicas de estidios contiguos de desenvolvimento (ver Mead, 1946). De maneira seme- Thante, 0 estudo de grupos ow sociedades em transigtio pode ter valor para a compreensio do processo de mudanga social. 4. Os divergentes, os isolados ¢ os casos patolégicos podem, por contraste, esclarecer alguns casos comuns. O estudo de divergentes (por exemplo, individuos interessados em governo mundial, embora quase tgdey os seus semelhantes aceitem opinides nacionalistas ¢ isolacionistas) pode servir para salientar as normas e priticas sociais de que divergem, Pode indicar os tipos de presstio para 0 confonnismo-e as conseqiiéncias sécio-psicolégicas do nio-conformismo; pode, talvez, ausiliar a revelar os métodos pelos quais podem ser criadas as mudangas sociais. De maneira semelbante, 0 ¢3- tudo dos individuos isolades pode acentuar os. fatores que facilitan a coesio em determinado grupo ou comunidade. Pode também zevelar muita coisa a respeito da maneira pelt jual a informagio e as atitudes sio transmitidas num grupo ver, por exemplo, Festinger, Schachter e Back, 1950). As contribuigdes da psicanilise para a compressio de perso- PIANEAMENTO BE PEAQHIEA 73 nalidade constituem um notivel exemplo da intuigéo reve- Jada por umn estudo de casos patologiccs, que freqicateniente servem para sublinhar, pelo exagero, os processos: bisicos em casos ndo-patolégicos. Por exemplo, Ackerman e Jahoda (1950), em um estudo baseado em descricves psicanaliticas de casos em tratamento, verificaram que os pacientes depri- midos raramente apresentam preconceito. Esse. resultado — que supée’ que os. individues que dirigiram’ sua agressio. sentra si mesmos nfo precisam do preeonceito como wit canal para agiessio — apresenta uma interessante hipétese sobre a. psicodindmica do preconceito.. Os casos. extremos podem também ser esclarecedores quando se tem interesse. pela dinmica social. O estudo da muptura e do restabeleci- mento dos eontroles sociais, exemplificado em catfstrofes 1 turais ou distirbio racial — ver, por exemplo, Lee (1948) — pode permitir intuigGes valiosas do processo de controle social. 5. Freqiientemente, 0s casos “puros” sio produtivos. Por exemplo, Levy (1943), em seu estudo de superproteco maternal, estava interessado em trés questées: o que leva a mio a ser superprotetora, quais os efeitos da superprotecao maternal na crianga, como remediar ou impedir as dificul- dades que podem resultar da superprotegio. Supondo que pudesse encontrar as melhores indicagdes. através do estudo de superprotegio marcante, examinon muitos registros de casos tratados em clinica de orientacio infantil. Estabele- ceu dois eritérios principais para a selecio de casos a serem estudados intensvimente. Hvimeiro, devem mostrar extrema superprotegio por parte da miie, como se verifiea pela inse- parabilidade de mie e filho, 0 fato de a mae tratar a erianga como beb?, o fato de a mic impedir comportamento inde- pendente da erianga. Segundo, devem ser casos “‘puros”, isto € © comportamento da mie deve ser cocrentemente siper- protetor ¢ além disso, nto haver provas de ‘rejeigho da exianga. (Este iiltitno ‘critério foi estabelecido a partir da suposictg de que a combinagio de superprotesio € rejeiga0 € diversa' da superprotegio per se, © pode ter crigens ¢ con- seqiiéncias diferentes.) Dentre os casos que satisfaziain a ‘esses critérios, foram mantidos apenas os que apresentavam suficiente informagio a respeito da mie, de forma a tomar possiveis algumas inferéneias a respeito dos fatores que pro- Yocan comportamento superprotetor; informagao suficiente "4 aekropos UE PESQUISA NAS RELAGOES soctAss sobre a crianga, de forma a permitir compreensio dos tipos de problemas provocados por tal comportamento; e informa- a0 suficiente sobre o tratamerito do caso, a fim de conseguir indicagdes sobre os efeitos da terapia. Dos mais de quinhen- tos casos examinados, apenas vinte satisfaziam a todos esses critérios; esses vinte.constituiram a baso para o estudo de Levy. 6. As caracteristicas de individwos bem ajustados dos ‘mal ajustados ‘a determinada sitaagio apresentam indicagdes valiosas sobre a natureza dessa situagio. O conhecimento do quo as. pessoas que se sentem bem em determinada co- munidade @ parecem mais ajustadas a esta sio muito depen dentes ‘ou tém personalidade autoritérja, d4 certa compreen- sao das caracteristicas da comunidade. De maneira seme- Thante, a descoberta de que os que se sentem prejudicados por determinada situagio sio os jovens e ambiciosos e os que tém muita iniciativa pessoal, daria uma indicagao sobre a natureza da situagao. 7. A escolha de individuos que representam diferentes posigdes na estrutura social auxilia a obtengio de uma opiniio mais completa da situagio que refletem, Em quase todos ©s grupos sociais encontramos variagdes no status social e especializagio de papéis ou fungées sociais. Os individuos que ocupam essas diferentes posigdes tendem a ver de dife- rentes perspectivas qualquer situagio, ¢ tal diversidade per- mite compreensio. A entrevista de porteiros mim conjumto residencial pode ser tio importante, para a compreensio nas olagies existentes nesse conjunto, quanto a entrevista do gerente. As discrepfncias ¢ as scmelhancas, nas percepgoes sociais das pessoas que tém diferentes posicbes ou desem- penham diferentes fungdes, sho muitas vezes reveladoras. 8. Um exame da experiéncia pessoal de pesquisador © uma anilisc cuidadosa de suas reagdes, ao tentar “proje- tar-se” na situatio das pessoas que estuda, pode ser" uma valiosa fonte de compreensio. Afinal de contas, 0 “caso” que 0 pesquisador melhor conhece geralmente 0. sew (embora’ ai tenha também o maior viés). Como se ve na biografia de Prewd escrita por Jones (1953), muitas das mais valiosas intuicdes de Freud deéorreram de seus esforgos para compreender a si mesmo. Cerlamente, existerm poucas pessoas com as qualidades de Freud; nio podemos esperar que a | PLANEJAMENTO. DE TESQuIsA cy andlise do experiéncia pessoal tenha, miuitas vezes, resultados to produtivos, No entarito, apesar disso, ai esta’ uma fonte de sdéias que mio deve ser desprezada. Esse aspocto 36 precisa ser lembrado porque, muitas vezes, os cientistas estio Yo preocupados com a importincia da’ objetividade, que tentam manter a maior distincia: possivel entre eles ¢ os objetos de seu estudo. Nas etapas da pesquisa em que se procera idéias, e no conclusdes, essa objetividade podo ser yuada, Nossa enumeracio de casos que “provocam intuigées” & inevitavelmente incompleta. Naturalmente, o tipo de casos que terio mais valor depende, em _ Frande parte, do problema que s0 procura estudar. “Apésar disso, geralmente 6 cotieto izer que, em estudos exploratérios, os’ casos que apresentam nitidos eontfastes ou tém aspectos salientes so mais ateis, pols mum trabalho exploratério a percepoko de pequenss iferengas tende a ser dificil. E importante lembrar que os estudos exploratérios con- duzem apenas a intuigdes ou hipéteses; nio verificam, nem demonstram. Ao escolher casos com caracteristicas especiais, © pesquisador, por definigdo, considerou casos que néo 40 tipicos. Embora os casos marginals, divergentes ou “puros” tondam a ser fontes produtivas de idéias sobre processoy que podem ocorrer em casos mais tipicos, nfo se pode supor pg tals processos ocorram em outros casos, além dos estan lados. As pressGes: sobre individuos marginais podem ser ammito diferentes das que atuam em individuos bem integrados num grupo; os casos divergentes podem ser divergentes nio apenas em seu comportamento, mas também nos processos psicolégicos subjacentes. Unr estudo exploratério deve: ser sempre visto como apenas um primeiro passo; so necessarios estudos mais cuidadosamente controlados, a fim, de verificar se as hipSteses que surgem tém aplicabilidade geral, Estudos Descritivos Uma grande quantidade de pesquisa social se volta para a descricio de caracteristicas de comunidades. EB possivel estudar as pessoas de uma comunidade: sua distribuigio por grupos de idade, seus antecedentes raciais ou nacionais, sua 76 azronos DE PESOUISA Nas” RELAGHES socials saiide fisica ou mental, a quantidade de edueagio que rece- ‘beram — a lista poderia ser ampliada indefinidamente. possivel estudar 0s rectirsos de.uma comunidade © seu ‘emprego: a condigéo das habitagées, 0 uso de biblictecas, a proporgao de crimes em varios bairros — ainda aqui, a lista tntermindvel. E possivel tentar a descr da estrutura | da. organizagio social da coimunidade, ou dos principais ‘padres de comportamento. © ranted ‘Outro. grande conjunto de pesquisa se refere & estimativa da proporgio de pessoas, nuina populagdo especificada, que aceitam certas opinides ou atit ou que se ,compertam do determinada maneira: quantas esti a favor da admissao da China Comunista nas Nagées Unidas? Quantas acreditam que negros © brancos. devem viver em bairros’ separados? Quantas pensam que a pena de morte deve ser abolica? Quantas “assistiram a programas de televisio na semana passada? Outros estudos se referem a predig6es especificas: quan- tas pessoas voterio num candidato? Quantas pessoas ven- dertio suas apélices governamentais em determinado perfodo? Quais os bairros em que o crescimentd da populagio tende a ser suficientemente grande, de forma a exigir, num futuro préximo, novas escolas ou novos recursos de transporte? Outros se referem A descoberta ou verifieagio da ligasio entre determinadas varidveis: Ser que os catélicos votam ‘mais no Partido Democritico que os protestantes? Seré que as pessoas que Iéem muito vio freqiientemente ao cinema? Serd que as pessoas que tém preconceito contra os judeus tendem também a-ter preconceito contra os negros? Serd que, em conjunto, as meninas aprendem a falar antes dos meninos? Note-so que nenhuma dessas perguntas, sob a forma aqui apresentada, envclve wima hipétese de que uma das varidveis provogue outra ou a esta conduza; as questées que inclem tais hipéteses apresentam exigéncias diferentes para os processos de pesquisa. Sob 0 titulo de estudos descritivos agrupamos um grande conjunto de interesses de pesquise. Foram agrupados porque, do ponto de vista de processos de pesquisa, apresentamn impor ‘antes caracterfsticas comuns. AS questoes de pesquisa pres- supderi muitos conbecimentos anteriores do problema a ser pesquisado, ao contrério do que ocorre com as questées que FLANEJAMENTO DE FESQUIEA " constituem o fundamento para os estudos exploratérios. O pesquisador precisa ser capaz do define caramente 0 que deseja medir, ¢ de encontrar métodos adequados para essa mensuracio. Além disso, precisa ser capaz de especificar quem deve ser incluido na definigio de “determinada comu- nidade” ou “determinada populagio”. Ao coligir provas pare tm setudo desto tipo, nfo i tanta neces Oe flexi. dade, mas de uma clara formulagio de que om quem deve set medido, Bein. como de téenieas’ para medidos vélidas © Os ostudos descritivos. nfo se. limit a amétodo de coleta de dados. Poder sonata, qutlquer wan + ow todos o5.métodos que serio apresestalos Hos eapitulos posteriores.: Lundberg, Komarovsky ¢ Melnery (1984), em seu estudo sobre 0 lazer, obtiveram informacdo através de entrevistas, questiondrios, observacio sistematica direta, and- Uiso dos registros da comunidade © observagio. participante: Mais de duzentas entrevistas formais — que dura- vam de uma a tiés horas ~ foram fates come pastores protestantes, diretores de escolas © senhoras em suas tesidéncias, Houve muitas outras entrevistas incidentais, durante a entrega de fichas a serem preenchidas, 6 grande miimero através de contato casual e conheci- mento, decomentes da vida na comunidade. Além da usual andlise de material Secundirio — tais como his- térias, relatérios anuais de organizagées,. jornais’ —, estudamos a mobilidade da populagan auavés da andlise de listas de telefones © outras listas de enderecos de quinze vilas e cidades, o que exigiu a verificagio de mais de duzentos mil nomes ¢ enderegos, Entre 0s projetos de observagéo formal direta, havia 9 registro de uma ficha das atividades de aproximadamente 6-800 passa- cos de tens. As viagens constantes ataves. da as visitas a outras casas, as escolas; jues para riangas ~ todos os principals rocencos de rereagho € todos os contatos incidentais da vida diéria completam a histéria das observagi ue ia est do lazer das pessoas,” 10 4° beseia este estado © Para uma discuss 2 es 'e de’ validade © precisio de mensuragiio, vee 3 mizop0s PE FESQUISA Nas NELAGOES socIAIS Embora. 0s estudos descritivos possam empregar grande amplitude de técnicas, isso nio.signifiea que se caracterizem pela flexibilidade que distingue os estudos exploratérios. Os processos a serem usados num estudo descritivo devem ser cuidadosamente planejados. Como o objetivo é conseguir informagao completa e- exata, o plano de. pesquisa precisa prever mito maior cuidado com o viés do que.os estudos exploratéries. Dada. a quantidade’ de trabalho freqiiente- mente exigida nos estudos. descritivos, & extraordinariamente importante o cuidado com a economia de esforco na pesquisa, Tais consideragdes de economia e protecio contra o. viés entram em todas as etapas: na formulagao dos objetivos do estudo; no planejamento dos métodos para a coleta de dados; na escolha da amostra; na coleta, no processamento. e na anélise dos dados; na apresentagio’ dos resultados. Os paré- grafos seguintes indicam algumas das formas pelas quais se consideram, no planejamento de um estudo descritivo, a economia ¢ a protegiio contra o viés? Como exemplo, con- sideraremos um estado do tratamento de fregueses negros em restaurantes de Nova Iorque (Selltiz, 1955). FORMULAGAO DOS OBJETIVOS DO ESTUDO © primeizo passo num estado descritivo, como ein qual- quer outro, 6 definir a pergunta a ser respondida. Ando ser que 0s objetivos sejam especificados com suficiente exatidio, de modo a assegurar que os dados coligidos sejar significativos para a questio apresentada, 0 estudo pode nko apresentar a informaguo desejada. Em nosso exemplo, a pergunta da pesquisa era a seguinte: sera que os restaurantes de Nova Torque tém dis- criminagio contra os fregueses negros? No entanto, antes de obter dados para responder & questio, era necessério especi- ficar 9 que se eatendia por discriminagdo. Esta foi definida como designaldade entre o tratamento dado a fregueses Drancos e negros, a nfo ser que, aparentemente, houvesse razio para acseditar que a diferenga no tratamento se devia 7 Para uma discussio mais minuciosa de, estudos descritives, sobretado dos que se apresentam sob a forma de levantamentos do opinigo, atitudes, ete, ver Hyman (1955, Parte I), © Parten (1950) LaNEyAMENTO DE Pesquita o algum outro fator que nio fosse a diferenca de raga. Este conceito geral foi traduzido numa definiggo de trabalho através da especificagio dos tipos de comportamento — dos empregados de restaurante — que poderiam ser considerados como indicadores de discrimina¢a0: recusa direta de servigo a possiveis § negros; recusa indireta de servico aos negros, fazendo-os indefinidamente, ou dizendo que h& necessidade de reserva; prova de confusio diante do aparecimento de negros no restatrante — por exemplo, répida conferdnela entre cr mattze’ e © garcony indicaglo, para os negros, de uma mesa indeseffivel ow que os coloque. fora da vista dos outros fregueses; mau servigo; comida ruim; preco excessivamente elevado. Cada item na definigao de trabalho incluia 0 conceito bisico de desigualdade de tratamento; dessa forma, 9 maui servigo, em si mesmo, néo devia: ser gonsiderado como prova de discriminagio. © ponto bisico do estudo era a pergunta: os restaurantes de Nova Iorque fazem discriminagéo contra os fregueses negros? As discussdes com pessoas que, segundo se. poderia esperar, deviam ter uma boa base’ para .avaliar a provavel amplitude da discriminagio, mostraram uma tio grande diver- géncia de opiniao que parccia haver pouca’base para a apre- sentagio de uma predigao quanto A existéncia ou amplitude da discriminagao. Foram formuladas, também, algumas perguntas secundérias: a discriminagio oconie com mais, freqiiéncia em restaurantes com presos relativamente cle~ vados? "A diseriminagao € mais provavel em restaurantes com ‘maitres"? “Nos restaurantes “americanos” ow nos restaurantes “estrangeiros”? Essas questées subsididrias indicaram a neces- sidade da coleta de certos tipos de iniformagio a respeito dos restaurantes estudados. As questées do economia também entraram.na cspeci- ficagao da pergunta da pesquisa. © estudo foi realizado por um grupo vohintério, com recuss0s limitados, Ao Considerar as etapas posterfores do estudo ~ escolha da amostra de restaurantes, coleta de dados, apresentacao dos resultados — 05 planejadores procuraram saber se havia probabilidade de serem capazes de verificar uma amostra suficientemente grande de todos os tipos de restaurantes na cidade de Nova Torque, a fim de conseguir resultados precisos. “A resposta, evidentemente negativa, levou uma restrigdo tanto da drea 80 askro00s DE PESQUISA Nas RELAGSES soctAID ‘ifica a sor abrangida (aproximadaniente 150 quadras Fa parte central do leste de Manhattan), quanto da amplitude de pregos dos restaurantes que seriam incluidos (eom a climinagéo dos mais caros e dos mais baratos). PLANEJAMENTO DOS METODOS DE COLETA DE DADOS Depois da formulagio suficientemente especifica do bblema, de modo a indicar os dados exigidos, 6 preciso. tele. cionar os métodos para a obtencao de dados. E preciso oriar as téenicas para a coleta de informagio, se, eomo & provivel, ainda nao existem téenicas adequadas, Cada um dos vArios métodos — observagio, entrevista, questiondrios, técnicas pro- jetivas, exame de registros, e assin por diante — tem suas vantagens e limitagdes, discutidas minuciosamente em capi. tulos posteriores. "* No estudo aqui apresentado como exemplo, o métedo especifico de coleta dos dados foi um pouco estranho: grupos de fregueses brancos © negros iam a restaurantes, comiam ¢ apresentavam suas experiéncias. . Embora 0 processo fosse . lispendioso, foi considerado como o que aprescntava mais \ probabilidade de dar informagdo segura sobre as priticas dos restaurantes, Basicamente, era uma técnica de observagi como tal, era especialmente adequada para o estudo do comportamento em sua sitnagio natural. Se o estudo se referisse 0s sentimentos dos\proprietérios de restaurantes quanto a0 servigo para negros, ou as opinides da populago branea quanto ao fato de os negros deverem ou nio ser servidos em todos os restaurantes, seriam mais adequadas outras técnicas, tais como entrevistas, questionarios ou métodos projetivos. Se sc interessasse por outra questio — por exemplo, © volume de. negécios feito por restaurantes — .teria sido possivel obter a informacio através do exame de registros. A etapa de criagéo de processos de coleta de dados é um dos pontos principais em que se introduzem medidas para impedir 0 vies © a imprecisio. No estudo de discriminagao de restaurantes, tais medidas se referiam a duas fontes principals de viés: diferengas, no tratamento de fregueses brancos ¢ negros, devidas a algum outro fator, que nio fose a diferenga de raga, ¢ deformagio na descrigio de expe- riéncias. PLANEJAMENTO DE PESQUISA ei Foram tomiadas precaugSes complexas para climinar outras razdes possiveis para diferengas no tratamento — por exemplo, a possibilidade de que os primeiros a chegar rece! bessem a mesa mais desejivel, os mais bem vestidos recebes- sem o melhor tratamento, os homens‘ou pessoas mais velhas recebessem melhor tratamento do que mulheres: ou pessoas mats jovens, ete. Ein primeiro lugar, os pares de fregueses que iam a determinado-restaurante eram igualados quanto a sexo idade, Se o grupo negro era.composto de dois homens, 2. gtupe' Branco que ia ao mesmo restaurante era composto também de dois homens; com’ poneas excegSes, ambos ‘0s grupos eram da mesma idade. Como todo o” grupo -era relativaanente homogéneo quanto a nivel sécio-econdmico, ‘trajes © comportamento social geral, sob esses aspects nio era_necessirio “iguala:” os grupos. A seguir, os “fregueses” recebiam instrugses para assegurar que seu comportamehto seria semelhante sob certos aspectos — por exemplo, némero de pratos pedidos ¢ prego aproximade, da refeigao. Acima de tudo, tinham instrug6es para aceitar, sem protesto, qualquer comportamento dos empregados do restaurante, © ndo dar qualquer indicagio de que tivessem qualquer outro objetivo, em sua ida ao restaurante, além da refeigio, Os esforgos para prevenir o vids na descrigdo referiam-se tanto &. constragio da ficha de xelatério, quanto ao treina. mento dés verificadores. Quase todas as perguntas da ficha de’ relatério pediam respostas curtas e ligadas a fatos: “Quando foi que vocé entrou no restaurant?” -“Quando se sentou?” “Voce escolheu sua mesa ou recebeu uma indicaggo do empregado do restaurante?” Parecia pouco provavel que as respostas a tais perguntas pudessem ser muito deformadas pelos sentimentos dos verificadores. Além disso, tornavam possivel a identificagao de casos em que o grupo negro reccbia melhor tratamento do que o branco, bem como aqueles em que ocorria o inverso. Assim, reduzia-se a pos- sibilidade de que sentimentos gerais fossem viesados ‘por atengio indevida a casos de tratamento discriminatério contra © grupo negro. Numa sessio de treinamento intensivo, os vetificadores’receberam instrugées minuciosas a respeito de Procedimentos e uma oportunidade para praticar em situagoes imagingrias. 82, aatrov0s DE PESQUISA NAS RELAGOES soctAls estudo & necessdrio introduzir precaugGes semne- Ihanter ne gue seja.o método de coleta de dados. As perguntas precisam ser enidadosamente examinadas quanto A possibilidade de sua apresentagao sugerir mais uma resposta do que outra; os entrevistadores precisam ser instrufdos para nao fazerem perguntas que orientem as respostas, nem expri- mirem sua, opiniéo; os cbservadores precisam. ser treinados para qu todos registrem, da mesma maneira, um determinado Trem do comportamento, de constraidos, os instrumentos de coleta de dados deve passar por wm prétete antes peat sien 7 estudo, propriamente dito. As perguntas que, side zrpramente di, As ergnts que paras ee verificagao preliminar, de dificil compreensao, ou ambiguas, ou incapazes de dar informagio dtl. As’ categorias de observacio, as formulas estatisticas, ete., podem ser incémodas ou inadequedas para o material que esté sendo estudado. No estudo de discriminagéo de restaurantes, houve dois prétestes: um, por membros da comisso que planejava o estado, ¢ que abrengeu apenas um pequerio niimero de restaurantes; o segundo, por voluntarios semelhantes 20s verificadores do estudo final, © que abrangeu uma amostra de cofeterias © casas do lanches. Neste caso, os pré-testes indi- caram apenas a necessidade de revises, secundarias nas i trugies de verificagdo e na forma de deséri¢ao, mas revelaram. sérios problemas de organizagio e administragao — a escolha de verificadores, a distribuicao de tarefas, 0 preenchimento e a devolugio de fichas de deserigao, a supervisio do desenvol- vimento dos trabalhos, etc, — © conduairam a um planeja- mento muito mais cuidadoso desses aspectos .no estudo propriamente dito. Muita dificuldade pode ser evitada por uum pré-teste cuidadoso das técnicas a serem empregadas, a fim de ter a certeza de que permitirio a informagao neces- shria. A ESCOLHA DA AMOSTRA Em muitos estudos descritivos — embora, certamente, nao em todos — o pesquisador deseja ser capaz de fazer afirmagoes a respeito de certo grupo definido de pessoas ou objetos (por exemple, restaurantes), Raramente é necessario PLANEJAMENTO DE PEsgusA 8 estudar todis as pessoas de um grupo ‘a fim de consegnir uma descrigio exata_e precisa das atitudes © do compor- tamento de seus meribros. & mais freqtienite que seja sufi- ciente uma amostra da populagdo a ser estudada, Muito trabalho tem sido realizado sobre 0 problema de planejamento de amostras, de forma que estas permitam informagio, exata, com um minimo de esforco de pesquisa. Neste ponto, talvez soja stil exemplificar como um conhe. eimento. do consideragies estatisticas pode permitir uma grande economia na pesquisa. Rowntree (1041), em seu estudo clissico sobre a pobreza em York, na. Inglaterra, esquisou todas- as casas de operdrios. Para verificar a exatidio dos métodes de. amostragem, escolheu, de acordo com um processo sistenidtico, cada décima ficha de entrevista, © comparou os resultados assim obtidos com os obtidos com todos 0s casos. Cileulos semelhantes foram baseados em amostras de 1 em 20, 1 em 80, 1 em 40. 1 em 50. A tabela ‘mostra seus resultados para um tipo de informagio — a pro- Porgéo de rendimento gasto com aluguel, por familias em diferentes grapos de tenda. Verifiea-se que as varias amostras, qualquer que seja o seu tamanho, deram resultados. bem proximos dos verificados para todas as casas em cada classe de renda, Assim, comparando-se a coluna da extrema direita. (aimeros baseados numa amostra de 1, em 50 familias) com a coluna da extrema esquerda (nimeros baseados no estudo completo), vemos que a amostra indica que as familias na classe “A” de renda gastam 27,1 por cento de seu rendimento - fem aluguel, enquanto que o estudo total mostra que tais Samilies gastam 26,5 por cento de seus rendimentos em aluguel; na classe “B” de renda, a amostra indica 226 por cento do rendimento gasto em aluguel, enquanto quie 0 estado total indica 22,7 por cento, ¢ assim por diante. Em nenhum grupo de renda 0 niimero indicado pela amostra baseada em J familia em 50 difere em mais de duas unidades de porcen- tagem daquele que indicado pélo estudo completo. Em outras palavras, com uma amostra de 1 em 50, em vez de todas as casas de trabalhadores da cidade, teriamn sido obtidos, fundamentalmente, os mesmos resultados. Vale dizer, teria sido possivel uma considerével economia de terspo e esforgo, sem qualquer prejufzo significative para os resultados. a nubt000s De FREQUISA NAS RELAGOEE LOCIAIS PORCENTAGEM DE RENDIMENTO GASTO EM ALUGUEL de Estudo Estudos por Amostra Ronda Completo Iem10 Iem20 Lem30 lem40 Lem50 285° 268 259 BO aa aL D7 839 8S SaaS 82.6 WS Bl 172 “18 172 180 WS 160 WA 158 | Ta 160 us ook, 07a Mesmo diferengas muito pequenas entre inmeros — por exemplo, a diferenga entre 26,5 por cento ¢ 27,1 por cento — podem ser estatisticamente significantes. Ao decidir se uma diferenga merevé atengio, € importante levar em conta dois tipos de consideragio: as estatisticas e as priticas. Saber s0 uma diferenga entre dois nimeros & estatisticamente sig- nificante envolve precisamente a questio aqui discutida — 0 provavel desvio de mtimeros baseados em amostras, com relagio A populacio total de que se retira a amostra® Se determinada diferenga estatisticamente significante, a deci- sio quanto A sua significagio pritica’ é, naturalmente, uma " “questo de julgamento, através das conseqiiéncias dos dife- rentes, mimeros. Se alguma, decisio fundamental por exemplo, aumento geral de salérios — for tomada a partir dos zesultados, uma diferenga muito pequena de uma unidade de porcentagem, entre os resultados da amostra e 0 estado real ‘da populagio total, pode ser importante. No entanto, na maioria dos estudos parece improvavel que uma diferenga tao Pequena quanto as indicadas na tabela acima conduzisse a qualquer mudanca basica na interpretagio ou nas recomen. dagées para a acho, se tais recomendacGes estivessem entre 95 objetivos do estudo. Naturalmente, é importante que os resultados do estudo, quando baseados numa amostra (isto é, em apenas uma parte SO concetto de significineia estatstica & discutido no Capitulo 12, pigs. 473474, Para uma discussie mals minuciosa, eonsulter qualquer franual de estatistica, FLANNJAMENTO DE PESQUIGA 85, do grupo a respeito do qual se fatio as afirmagées), sejam uma representagio razoavelmente exata da situagao real no grupo total (designado, na terminologia da amostragem, por “populagio”). Isso significa que a amostra deve ser selecio- nada de forma que os resultados nela baseados tendam a corresponder. estreitamente a0s que seriam obtidos se a populagio fosse estudada. Para conseguir isso, tem-se dado. muita ateng&o a problemas e métodos de amostragem, Estes slo discutidos no Apéndice B. No estudo sobre restaurantes, foi empregada uma amostra sistemtica estratifieada. (Vero Apéndice B para uma definigfo de tais termos). As unidades- na amostra eram, naturalmente, restaurantes. Umma lista completa de restau- antes na drea tinha sido” organizada por voluntirios, que andaram em todos os quarteirbes e registraram todos os locais de refeigio — seu nome, endereco, amplitude de pregos.e outras informagées importantes. Como uma das questées que seriain pesquibadas referia-se xo fato de a ocorréncia de dis- criminagdo estar ou nio ligada ao nivel de prego dos restau- antes, a amostra foi estratificada a partir dessa base. Os ‘cartes em que se colocavam os dados sobre cada restaurante foram organizados de acérdo com o prego estimativo de uma refeicho média. Nao se sabia, antes, exatamente quantos verificadores estariam- disponiveis e, portanto, quantos res- taurantes poderiam ser incluidos na amostra. Com a decisio de concentrar o estudo em restaurantes de prego médio, 0 ‘eartio médio foi selecionado como o primeiro caso da amostra; ‘05 outros casos foram escolhidos através da retirada, alternada, de cada quarto cartio acima e cada quarto cartao abaixo da amédia.” Isso significava que, qualquer que fosse 0 tamanho final da amostra, constituiria 25 por cento dos restaurantes, colocados numa amplitude espetificdvel de prego, na drea geogréfica escolhida. A amostra final consistia de 62 restau- Fantes, que constituiam 25 por cento de 248 restaurantes, com ‘precos médios de 1,0 a 8,75 ddlares? 8 Como se indica no Apéndice B, os processos sistemdticos de amostragem, como este, tém algumas limitagdes que néo existe quando fas amostras’sSo selecionadas casualmente. No entanto, dada a docisio do que a amostra deveria constitwir 25 por eento. dos restaurantes de Aeterminaclo nivel de preso abrangido pelo estudo, mais a. incertera a respeito do mimero de restaurantes que seria possivel verificar, & 86 acéron0s DR FESQUEA NAS RELAGOES SOCIAIt 0 objetivo. da pesquisa determina a unidade adequada de eee Hom estudo de eleieao, as unidades de ‘mostragem sériam os ¢leitores qualificados; num estudo de orgamentos de familia, seriam as familias; mum estudo de ‘comportamentos de bebés, seriam periodos de tempo. Qual- quer que seja a unidade de amostragem, ¢ importante ter tina base para identificar a populagio de tais unidades ¢ um ribtcido especifcado para seleconar unidades dessa popu- lagéo (ver Apéndice B). COLETA E VERIFICAGAO DOS DADOS |A fim de obter dados coerentes, livres de exros intro- duzidos por enirevistadores, observadores e outras pessoas, & necessério supervisionar, estritamente, a equipe dos que trabalham no compo, quando coligem ¢ registram informagéo. E preciso estabelecer controles, por cxemplo, a fim de ter ‘a certeza de que os entrevistadores so honestos © que -0s Gados quo coligem nfo sio viesados.° A medida que os Gados sto coligidos, devern ser examinados para verificar se ‘sko completes, compreensiveis, coerentes ¢. précisos. No estudo de restaurantes, todos 0s verificadores, ime- diatamente depois de sairem dos restaurantes, voltavam para 4 sede do.estudo, a fim do preencher suas fichas de rela- trio, Os dois membros de cada. grupo preenchiam a ficha ‘em conjunto, mas sem qualquer discussiio com o outro grupo {que tinha io ao mesma restaurante. Depois de os dois elatérios para determinado restaurante terem sido ‘preencbi- Gos, um thembro da comissio supervisora verificava os dois yelatérios, a fim de ter a cetteza de que estavam completos © saber se as duas equipes estavam de acordo, Se havia qualquer diserepincia, esta era discutida em conjunto com ds duas equipes. Na maioria dos casos, tornou-se evidente Gnodragem sstemitca era male adaquada, Bois os limites da amplitude Sree ey act aumertadon, quando se tveste posbiidade 46 Sette Senge Be" ce ad om proce, de osagen Beet epiie tana decsto prelimioar quanto’ a pepulagio de resta- casual exes We sicra bmoetta ~ ito #, © BWvel Ge pres @ ser Srangide 1b pare wna ducussto de “falueasio” por entrvitadores © dos smétolos pare lentfciray ver Blankeaship ef ol. (1947). FLANEJAMENTO DE PESQUISA st que a discrepincia néo representava desacordo auténtico, unas us lapso de uma equipe ao preencher o relatério, ou uma incapacidade fisica de uma equipe para observar com- portamento visivel para a outra. Nos dois ou trés casos de buténtico desacordd, o supervisor escreveu um relatério mni- nucioso das. verses apresentadas pelas duas equipes. Esse controle, no momento em que os Felatdrios so apresentados, impede ‘muitas dificuldades em etapas posteriores ¢ garante a possibilidade de usar dados.que, de outra forma, preci- sariam ser desprezados. ‘ANALISE DOS RESULTADOS © provesso de anilise inclui: codificagio das respostas do entrevistas, observagdes, ete. (colocar cada item pa ca- tegoria adequada); tabulagio dos dados (contagem do n6- mero de itens em cada categoria); célculos estatisticos. Esses processos sao discutidos de maneira bem minuciosa no Capitulo 11. Aqui, podemos notar apenas que as conside- rages de economia e a necessidade de garantias ‘contra erro ‘entram em todos esses pasos. De modo geral, as considera- ‘Goes de economia exigem que a anilise seja minuciosamente Dlanejada, antes de comecar o trabalho. Desa forma, 0 pesquisador pode evitar trabalho desnecessario; por exemplo, Fazer tabelas que depois nao utilizaré, ov, de outro lado: yefazer algunas tabelas porque deixou de ai incluir dados importantes, Certamente, o planejamento prévio e comple- to da andlise nem sempre € possivel, ou mesmo desejivel; 20 pesquisador ocorrem novas idéias, A medida que examina bs resultados preliminares. No entanto, com excegio de estudos exploratérios, € sempre possivel ¢ desejavel estabe- Tecer antecipadamente os esquemas bisicos da anilise. ‘As garantias contra 0 erro na codificagio geralmente se yeferem a verificagao da preciso dos codificadores — isto 6, verificar até que ponto concordam na colocagao de deter- minado-item em determinada categoria. Se 0 cédigo exige julgamentos complexos, 0 processo usual € fazer com que ois ou mais codificadores. codifiquem, independentemente, tuna amostra do material, até que — com novo treinamento fou, se necessario, com modificagbes no eédigo — consigam tum graa sitisfatério de precisio, No caso de oédigos 88 Mirop0s DE PESQUISA NAS RELAGES SOCIAIS simples, um codificador pode processar todo o grupo de ‘easos, sem uma determinagao preliminar de precisio; depois, tum segundo codificador pode codificar, por exemplo, cada Vigésimo caso, a fim de conseguir um controle da exatidao. ‘Soo material for tabulado por maquina, deve ser colo- cado em cartées adequados; geralmente, isso 6 feito através de: furos. corres ‘a um -determinado oddigo.. & aconselhivel verificar a exatidio da perfuragéo; também aqui, ite se controla apenas uma amostra de cartdes. ‘E também possivel controlar a exatidio da tabulacko refazendoso uma amostra das tabelas. “No entanto, nessa etapa 6 possivel fazer um controle grosseixo, comparando-se ee Rtkinetos de diferentes tabelas, Por exemplo, os mimeros ‘em cada tabela deve dar 0 némero total de casos, a nio Ser que exista razio pafa omitir algum caso de determinada tabela. Além disso, algumas classificagdes tendem a ser usadas em mais de uma tabela, ¢ tals. mimeros permitem uum controle parcial da exatiddo. Por exemplo, no estudo do restaurantes, além da tabela bisica — com o niimero de restaurantes em que se encontrou discriminagio e 0 mximero Gaqueles em que isso nfo ocorria — havia tabelas com o nimero do restaurantes em que se encontrou determinado Hpo de discriminagic, a ocorréncia de discriminagio em restaurantes de diferentes niveis de prego, em restaurantes “gmericanos” © “estrangeiros”, etc. Se qualquer dessas ta- ‘elas mais minucidsas tivesse ‘mostiado um néimero diferente do apresentado pela tabela bésica quanto a restaurantes com disoriminacao, isso teria sido prova de erro. ‘Finalmente, hé necessidade de célculos estatisticos num estude, qualquer que seja a sua complesidade; ¢ necessnio caloular ‘médias, porcentagens, correlagbes. Aqui também fessas operagées podem ser controladas através de uma pessoa que refaca uma amostra dos céleulos. Existem operagées estatisticas de outro tipo, com 0 objetivo de garantia contra conclusées ndo-justificadas pelos resultados, Tais operagdes incluem, por exemplo, a estima- tiva, a partir dos resultados da amostra, da ocorréncia pro- vivel de certa caracteristica na populacio que a amostra pretende representar; a estimativa da probabilidade de que bs diferencas encontradas entre subgrupos da amostra re~ presentem diferengas entre os subgrupos correspondentes na ! I PIANFJAMENTO DE PESQUISA 89 populagao, e no diferengas apenas casuais, devidas & amos- tragem. (A l6gica subjacente a tais processos & discutida rapidamente no Capitulo 11; os processos so discutidos mi- nuciosamente nos manuais de estatistica). © processo de anélise no estud6 de restaurantes foi rela- ‘ivamente ‘O- mimero de casos nao era grande; 0 ‘inico julgamento complexo. do codificagio exigido . era decidir se" determinado réstaurante devia ot ndo ser. classifi- ‘ado como tendo’ apresentado discriminagao contra os fre- ‘gueses negros; ra pequeno niimero de caracteristicas de Festaurantes que deviam ser examinados,. com relagio ocorréncig de discriminagio. Diante do pequeno nimero de casos, da importincia da decisio quanto a0 fato de a dis- eriminagio ter ou nfo ocorrido, ¢ da estrutura da oxgani- zagdo que realizou estudo, foi seguido um proceso pouco econémico € pouco usual para codificar os restaurantes que tinham ou néo demonstrado discriminagio. ito pessoas serviram como codificadoras. A classificagio preliminar de cada restaurante, como discriminador ou nao-diseriminader, foi feita por um par de codificadores que trabalhavam con- juntamente. Finalmente, todo o grupo, trabalhando como comissio, reviu todas as-verificagdes e tomou a decisio final, quanto ao fato dé ter havido ou nio clara desigualdade de tratamento que no poderia ser considerada, de maneira razofvel, como acidental. © pequeno. mimero de casos © © pequeno mimero de vartiveis, com relagio A ocorréncia de discriminagio, fizeram com que o proceso de tabulacio fosse simples. Foram realizadas operagoes estatisticas adequadas para garantir as_conclusdes. A partir do resultado de que 42 or cento dos restaurantes verifieados deram aos fregueses negros. wm tratamento nitidamente inferior. estimou-se, através da'férmula para 0 erro padrio de uma porcentagem, que provavelinente entre 86 © 48 por cento de todos os res- tanrantes, nessa zea e desse nivel de prego, apresentavam Uiscriminagio contra os negros.! De forma semelhante. TI Outro estado da mesma Area, realizado dois anos pbs, em 4952, depos de una cimpanha para) provocar 8 ‘nio-diserimina observou dieriminngin em apenas 16. por cento dow ressurantes ve ficadon." © "cenlo' do sro 'padrto disea ‘poreontagem lovou A eal | | | 80 neivonos DE PESQUSA NAS RELAGOES sociars foram usados testes adequados de significdncia, a fim de ve- rificar se diferengas quanto A frequéncia de- discriminagio em restaurantes. de diferentes nivels, de pregos, diferente nacionalidade, com ou sem “maftres", ete, representavam, provavelmente, diferengas reais ou apenas variagées casuais, Das variiveis examinadas, verificou-se que apenas o ‘prego estava significantemente relacionado com discriminagio. Ve- rificou-se que, quando ‘os restauraiites foram divididos em trés niveis de precos, apenas uma proporgio muito menor dos restaurantes de nivel inferior apresentava discriminagao em seu tratamento para com negros. Resumo Neste capitulo, mestramos que a fungio do plancja- mento de pesquisa & permitir a coleta de provas significa vas, com m{nimo de esforgo, tempo e dinheiro, Tais consi- deragies sio importantes em qualquer estudo, qualquer que Seja 0 seu objetivo. Mas a mafeira de atingi las. depente, ‘em-grande-parte, -do-objetivo dz pesquisa. Quando o obje- tivo 6 a exploragao, & adequado urn planejamento fiexivel de pesquisa, que da oportunidade para considerar muitos aspectos diferentes de um problema. Quando-o objetivo de um estudo ¢ descrigdo precisa de uma situégao ou de uma ligagao entre variaveis, a exatidao se toma uma consideraclo Disica; h& necessidade de um planejamento que reduza o viés e aumente a precisio das provas coligidas. Os planeja- mentos adequados para estudos exploratérios © descritivos foram discutidos neste capitulo. Quando 0 objetivo de um estudo é verificar uma hipé- tese de uma relagio de causa ¢ efeito entre varidveis, apre- sentam-se outras exigéncias. No capftulo seguinte sio dis- eutidos planejamentos de pesquisa adequados para tais estudos. mativa de que, nessa Epoca, provavelmente entre 12 ¢ 20 por cento de {odor os reltaoranes, sen’ dien neste alvel de preso, apresentavam iseriminaséo contra’ os negros. 4 PLANEJAMENTO. DE .PESQUISA Il. Estudos que Verificam Hipéteses Causais A Légica da Verificagdo de Hipéteses sobre Relagdes Causais Inferéncia Causal a Partir de Experimentos Inferéncia Causal a Partir de Outros Planejamentos de Fstudo Resumo

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