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LUIZ COSTA LIMA Selegio, introdugio © TEORIA | DALITERATURA | EMSUASFONTES 2. edligtio Revista © ampliada 17, O NEW CRITICISM NOS ESTADOS UNIDOS Keith Cohen mi recusase a Ti Por conviegio doutrindtia, o New Ci i te definidos, no dor com rigor, periodos histéricos dogm: da os autores associados a0 que aqui chamaremos de sob a designagiio de New Criticism, hio esto, em geral, de acortlo, quando se trata de apontar quem tomou parle no movimento ¢ quais as preocupagdes essenciais do mesmo, Isto posto, pode-se, entretanto, adiantar que o New Criticism surgiu no decorrer dos anos 30, no Sul dos Estados Unidos, para em seguida passar @ ocupar uma posigio preponderante nos estudos lite realizados entre 1940 ¢ 1950. Se bem que o termo tenha sido em- pregado jd em 1910 por Joel Spingarn: para designar a critica “hu- manista”” de Irving Babbit e Paul Elmer Mor quase que exclusivamente, a um grupo di por John Crowe Ransom, que batizou 1941, quando dew a um de seus livros ‘orientados no inicio te © movimento em "he New Criticism de Ransom o haviam fo vieram a ocupar 0 centro onde ensinava, Ransom a com Allen Tate entre seus colaboradores na redagio da re- vista de poesia The fugitive (1922-1925). Alguns anos mais tarde, 10 akuno Cleanth Brooks, que viria a tornarse um dos mais entusidsticos ¢ sinceros propugnadores do New Criticism. Em 1937 “profissional”’ ( que, para ele, derivava de “professor” uni ‘Traduzido do francés “Le New criticism aux stats-unis (1935-1950), in Postique, 10, Seuil, Paris, 1972, 3 versitérfo), que se preocuparia mais com as técnicas da poesia do que com a erudi¢éo historia.’ Esse apelo a uma critica formalista ra- Ihe fora provocado por uma aprendizagem anterior- mente adquirida entre os Southern Agrarians, movimento ideotogica- mente conservador. Desde I'll take my stand: the south and the agra rian tradition (1930), coleténea assinada por Ransom, Tate, © mais dez outros autores, até sua coleboragdo em The American Review (1933-1937), onde se desenvolviam abertamente os temas principais do fascismo, os Agrarians sustentaram com firmeza uma politica veemente hostil 20 desenvolvimento industrial e a qualquer evolugéo social de caréter progressista.’ # bem verdade que se os Southern Agrarians nifio tinham, por assim dizer, partidérios e nfo possufam nenhum programa politico de cardter nacional, sous confrades, con- tudo, seguindo 0 caminho tragado por J. de Maistre e Maurras — no qual, no dizer de Eliot e Hulme, se tinham envolvido —, pressent!- ram uma tendéneia “contra-revolucionéria” no domino da eritica te6- rica." # assim ainda mais significativo 0 fato de ter 0 New Criticisin tomado impulso no final dos anos 30, num momento em que a critica marcista, até entio muito influente, encontrava-se desncreditada e posta de lado. Além de Ransom, Tate ¢ Brooks, que formavam inegavelmente © centro do movimento, torna-se desde jé necessério citar 0 nome de colaboradores, colegas ¢ outras figuras que, sem pertencerem a0 movi- mento, a ele se ligaram.* Robert Penn Warren, amigo e companheir de Brooks, com quem assinou vérios manuais escreveu ensaios, como “Pure and impure poet eprimavera de’ 1943), que vo ligavam mals bandlve €o ato postco que A do ato eritico. Yvor Winters, cujo nome é freqtientemente rela- clonado ao New sm ~ ao qual na verdade se opunha em muitos de seus pontos fundamentais* —, elaborou uma teotia critica mora- lizante que nada tem de comum — a nfo ser a intransigéncia — com ‘© movimento de que tratamos. Kenneth Burke ¢ R. P. Blackmur si- tuam-se ao mesmo tempo dentro ¢ fora do movimento, Burke, part ecessidades pess Trata-se de um te6rico ‘que conseguiu realizar a sintese de diversas correntes. Os tos crfticos que utiliza, bem como suas andlises de textos, trans- gridem freqiientemente os normas impostas pelos New Critics. Black- mur, cuja introdugio para The Art of the novel, de Henry James, influenciou bastante os estudos sobre o romance, é alguém em que 4 embora se interessasse mais pelas denotagSes do que pelo movimento e pelas ambigtiidades do poema. in Warten ficou na periferia do movimento, apesar vardhe as principais tendéncias (1 [1949], sem contudo deixar de dar procedéncfa as suas préprias preo- mente, R, timos anos do movimento, O primei las de grande utitidade, bem como pel ; 0 segundo, por ter fornecido uma sfntese pessoal desse 1, modificando-o algumas vezes. Considerando o fato de que ism foi por ele codifi- cada, a continuagiio do presente artigo fundamentar-se-f, muitas vezes, em seu trabalho, A novidade do New Criticism residia numa abordagem intrinseca do objeto literéro. Assim sendo, exam sbolidos |. Deixanda de lado os possivel influéncia é suj grande mimero de seus conceitos bési podemos citar T. E, Hulme, 'T. §, Eliot, Ezra Pound, um breve exame de tais fon- ies de tentarmos expor as Eliot fala de um perfodo essa sua posigfo extremista, além do precedente que oferece acs Poetas-criticos do Sul, como Ransom, Tate e R. P. Warren, realga ainda seu préprio status de poeta critico, bem como os de Hulme e Pound. Tem-se a impressfo de que as declaragées desses tr€s arautos de uma nova ora sobre a arte da poesia da critica sio o correta. E Eliot acrescentaria que tal prética certa tradigfo literdia — o significado de tal tradigdo tendo sido pro- 5 definido pela primeira vez por Hulme, no “Romanticism ism” A nova poesia (e, parece que por extensfo, também a nova critica) devia sex tomada como reaglo contra a moda do romanti .cterizar'se pela exatidao, a precisto c a clareza na dese gio — resultados de um “tremendo combate com a linguagem”.* Fe essa preciso na descrigfo que Hulme procurou aleangar em e que Pound indiscutivelmente conseguiu obter na sua. & preciso que, segundo Pound, era indispensfvel para que a imagem se fornasse “um complexo intelectual ¢ cmocional”.?” E & essa mesma precisio — ou, quando nada, algo muito ptéximo — que condiciona sbordagem do objeto literdtio pelo New Criticism. Os ensaios de Eliot tiveram a méxima influéncia sobre os Ne1 corruptores do fatos e' s6 ttm “opinides subjetivas ou imaginagdo; Goethe e Cole- inocentes. O que vem a ser o Hamlet de Coleridge? ‘Uma pesquisa honesta em relaglo aos dados ou o préprio Coleridge exibindose em sedutoras roupagens?”® O descrédito angado contra a opinido subjetiva ¢ a importincia atribufda aos “dados” deviam 1 com firmeza uma exigéncia de rdria, Insistir demais sobre os fatos — concede Eliot — pode, na pior apenas pela histéria ¢ pela pelos New sta origem a Eliot que esereveu: “A critica honesta ia nfo se interessam pelo poeta, ¢ sim pela poesia”. ‘A negagio da historia literdria ¢ da biografia no sentido tradi- ional ndo impediu Eliot de desenvolver as noses de tradigfo © de continuldade enquanto nogées néo histéricas. A tradi “ordem simultfinen” fixa da qual fazem parte tod obras, Sua famosa teoria da “dissociaglo da sensibilidade”, no século XVII baseave-se na conviegio de que, desde os poctas até os metaffsicos, hé uma continuidade até entiio nfo persebida inte- gralmente. A dissociagio sobrevinda depois dos metaffsicos pode ser resumidamente definida como dissociagio entre pensameitio © sen- sag. Se, a partir de meados do séoulo XVII, 0s poctas nfio porde- ram a faculdade de “sentir”, em contrapartida, 0 mecanismo do pen- 6 sociar pensamento e sensa¢o numa “Rebelaramse contra a especulagiio ¢ sentiam por aoess0s, em desequil tava a esses poetas era um "‘correlato objet 0 que, adequado as sensagées desses poctas, tor 0 efeito correspondente. Os ies, por um lado, utilizaram essa reinterpretagio da XVII como exemplo para uma reformulagio da om geral; por outro Tado, empregaram a nogdo de “ exegese de poemas p: res gros que ni wvando-o a posigdes capazes de jus eja como for, os orf pediu de adotar algumas das técnices crit ponto de vista do Richards, ciples of literary criticism, e desen ante 0 objeto literdrio, oo poema, proposto plo, Tal reagio é di ) de ichards, no entanto, nfo supe nenhuma projegio do “eu” do leitor no poema, Pelo contrério: acredita que, do poema, partam linhas de forga que se transformam no que ele 7 chama de sinestesia — “harmonia ¢ equilibrio dos impulsos”. Assim, © que no poema determina uma reago emocional, permanece intacto, separado da reagao que provoca, ¢ podendo ser analisado sm si mesmo. destacar lusio afetiva ta em qualquer teoria que nfo os impediu de per- ordagem ao deixar intacto lo desenvolver uma teoria da significagdo, Essa nova abor- A énfase dada aos caracteristica dos métodos ximando-a de sua propria posigio, Os estudos de Empson se inserem mais ou menos diretemente na trilha de Richards ¢ no interesse que este sempre manifestou pelas, estruturas verbais complexas, ‘que Empson se refira de eal maneira a Robert Graves ¢ ao Engl Tinguagem — divisio esta que “Ieva duas coisas que deveriam, na verda captadas numa 6 unida- de”? A andlise minuciosa re ada por Empson sobre 0 funciona: © estudo da ambigiti dade levada a efeito por Empson, da polissemia © dos diferentes nivels de significagéo abriram caminho a um bom néimero de estudos posteriores sobre a metifora. Se deixarmos de lado as correntes formalistas européias, cuja influéncia foi quando muito indire teotia do romance tal como reformulada por Perey Lubbock a partir de Henry James (The craft of fiction, 1921) — que trata de um géneto pelo qual os New Critics 86 se interessariam tardiamente (apés as Techniques of fiction [1944] de Tate) — as sobretudo negativas. desenvolvimento da ticularmente, contra Para eles, a aplicagao de tals ciéncias 20 e: tla sendo ressuscit “clentificas” e aparente- acolhidas por um ntimero crescente de “fiteratos”, impedit esses mesmos literatos de formular julgamentos nor- eles, um verdadeiro monstro). Donde 0 hébito as entire poesia ¢ citncia, Tinham por prin- cipais alvos 0 “freudismo” ¢ tudo 0 que na psicologia beheviorista © velente pudeste ser plieado @ literatura, (As esta reduzia a literatura a um conjunto de normas sociolégicas e politicas, constituindo assim o exemplo méximo de um ‘pétodo que relsciona o contetido de um obra a uma causa que The 6 externa, 9 Muitas das teorias do New Criticism devem ser recolocadas den- de influéncias de controvérsias. A dentincia das quatro “ilusdes” comega por advertir 0 ne6fito dos perigos da critica extrinseca, A ““ilusio intencional afetiva”’ (ajfective fallacy), dk claramente resumidas por W. K. Wi funde 0 poema com suas origens; 6 um caso particular daqui impacto sobre 0 leitor (6 que é, e 0 que pro- 0, ainda que, do suitor no momento inguir 0 estudo psicoldgico dos autores — pesquisa valida quando considera a hist6ria —, que pode conduzir ‘a-uma caracterologia, dos estudos poéticos, cujo interesse se concentra no préprio poema: ““Considerando o significado de um poema, hé uma diferenga entre a prova interna ¢ a externa, E afirmar que (1) a prova interna também 6 péblica, constitui um paradoxo apenas verbal ede superficie: a prova interna é descoberta através da seméntica e da sintexe de um poema, através de nosso conhecimento habitual da linguagem, através das graméticas, dos dicionétios, de toda a lite- ratura que 6 fonte dos diciondri svés, em getal, de tudo que forma a linguagem © a cultura; enquanto isso, (2) a prova extema é privada iossincritica, nfo pertence & obra como fato lingiifstico, me consiste em revelagdes (por exemplo, em diri sobre como ow por que o poeta escreveu o poema, para que senhora, enquanto estava sentado em que gramado ou na oca- sido da morte de que amigo ou irmio. Ha (3) uma espécie intermé- dia de prove que diz respeito & personslidade do autor ou aos sig. nificados privados ou semiprivados que se ligam a palavras ou temas de um autor ou da sociedade de que fazia parte. © significado de 10 uma palavra é @ histéri palayra, ¢ a biografia de um autor, a maneira como usa a palayra; as associagtes que a palavra assume para ele fezem parte da hist6ria e do significado da palavra”.”™ Toma-se, pois, muito doterminar limites preci utilizagiio da biografia nos estudos estritamente posticos, e bitdvel que um autor como Brooks, por exemplo, consentiria em Ihe dar um lugar de tanto destaque. Wimsatt explica que apelo feito pelas criticas modernas & intenedo do autor foi acrescentadas ao Waste land, que tém por modelo as notas & margem de The ancient mariner de Coleridge, procuram fi ensfio do poema, esclarecendo certos aspectos das idade de intengSes do autor leva, seja qual for 0 caso, a0 afas- tamento da composigio interna do poema, Enquanto a faldcia se perde na psicologia do autor, sfio afetiva se porde na psicologia erigos acarretados por esta segunda ilusio siio os de uma crt ara essa ilusio — como, por © a antropologia — fundamentam-se, de maneira Se levarmos 1 de gustibus non est disputandum, atingindo um relativismo total que, segundo o New Criticism, rouba & critica toda a sua razio de ser. Wimsatt dis- ivismo psicologista. A seman- essoal”’, No sistema proposto por Stevenson em Ethics and language (New Haven, 1944), que ar-se nos primeiros trabalhos de Richards, # auséncia de capaz de determinar as diferentes reagSes aos aspec- vos” de palavras descritivamente idés e designam o mesmo referente, como, por ex: disposigSes em determinados momentos, O segui ou histérico — baseado na antropologia cultural, toma como medida de valor poético o grau de emogao experimentado pelos leitores de uma época determinada. Formulado tedrica ou cientificamente, tal relativismo seduz o estudioso de histéria da literatura ou 0 bidgrafo. W A isso so acrescentam formas secundétias de relativismo psicologista: © objeto estético (teoria de Edmund Burke, para ca um relaxamento do corpo) jo mental 6 necessérin ao prazer uma espécie de a “suspenstio secundétias nio s com 9 modo pelo niflo especializados idade da forma” . Foi provavel mento Yvor Winters quem primeiro emprogou 0 termo para carac- terizar 0 movimento “modemnista” em poesia ¢ a sua tendgneia om a-numa linguagem forma, quando se esforga por imitar 0 informe, destr6i-se sma.” A poesia que sucumbe a essa ilusdo deriva da crenga de “que se algo ¢ sentido com bastante intensidade, basta deixar que se exprima por palavras para que encontre uma forma satisfatéria ‘yex postos em palavras, os elementos encontram ito crftico que se recusa a consi- fa ou conereta de um fenémeno, © poema nio a transcrigsio de iransformagiio dessa experiencia; ineduttvel, sfio: a que diz respelto A mensagem (fallacy of comm inologia de Tate), Trata-se da idéia de que a poesia critica que a acompanhava no exprimir pelo verso idéias e sentimentos que, acreditavam te, éeriam melhor ‘ou pelo que se mé: “as Ciénei linguagem de comunicago e suas proposigdes, seja qual for a forma lingiifstica de que se revestem, supdem uma correspondéncia unfyoca entre signi iduridos pela ciéncia (ver a Defer menos, nfo to diretamente, Suas proposig6es tém significagdes poli- 2 valentes © nio demonstram, de maneira alguma, um objeto singular ‘ow uma doutrina que fossem exteriores 20 poema. Cleanth Brooks fem em mente e lusfio da mensagem quando denuncia a “heresia da parifra Brooks, nfo exi frase no poema, A dos efeitos gerais cago em que se situa a esstncia do pocma”."* Donde 0 pre- incansavelmente repetido em todos os artigos dos New Crities ¢ formulado em verso por Archibald McLeash: Um poema niio deveria significar Mas ser. porém, no aceitam entre linguagem (cientfica). Brooks, por exer A porsia niio ¢ simplesmente emogio; exerce também uma fungio de reconhecimen {I que distingue contetido — proposi¢o geral ou doutrina contida no poema — e forma — vefculo particular dessa proposigio. Os dois domfnios permaneciam separados. A poesia era como um perfume dentro do vaporizador a leitura, a maneira pela qual se desprendia a ess8ncia, Contra tal teoria, os New Critics nfio encontraram nenhum apoio por parte dos, 13 danticos em quem censura idade dos neocléssicos. fato de terem abandonado entanto, de maneira das teories dos pré- New Critics). Quanto 20 formalismo extremo de Croce, para a propria expressfo jé € uma espécie de intuicdo, uma vez que tir a definigao de critérios criticos. Brooks ue 6 aparentemente elucida © problema: “O principlo gor de jo € particularmente vélido no que se refere nfo apreende primeiro encontrar a Linguagem dessa linguagem € através ‘Mas essa simples fusio de fundo e forma depende da identifica 80, A qual Croce nfo pode escapar, entre intuigio © expressiio, So- luo Inacettavel para Brooks, ainda que insista claramente sobre a necessidade de nfo situar a poesia de um lado (Fundo) ou de outro (forma), (Acontece-lhe, no entanto, ver a “poesia” num elemento pu- ramente formal extraido da totalidade do poema,) Seria preciso, a um 86 tempo, desintegrar ¢ refundir os velhos conceltos de fundo © de forma, inventar um instrumento — semelhante a0 dos formi rrussos — para separar os elementos lingiifeticos comuns ao ful ‘forma de qualidades menos tangfvels, menos materiais, ‘Wimsatt vai além © propée 0 melo de forjar um tal instrumento: “A ‘forma’ abrange ¢ penetra a mensagem, constituindo uma signifi cagiio que tem mais profundidade e densidade que a mensagem abs- trata ou o oramento soparado. A dimensfo centifica ou abstrata & a dimensio prética ou retétiea contm ambas a mensagem ¢ 0 meio de comunicagdo que thes & proprio; mas a dimensio postica estA justa- ‘mente na unidade dramética de um significado que colnclda com a Essa formulagdo 6, entretanto, algo confusa. Ré principio da segunda frase, por detrds das expressé tifica ou abstrata” e “‘dimensfio pritica ou ret6rica gorlas de Richards: fungGes referencial e emotiva da linguagem. Em ‘Wimsatt, h4 um avango nna medida em que o primeiro encontra nas dui ticas, a0 mesmo tempo, a mensagem ¢ seus meios. 4 tretanto, 0 traz de volta & distin¢do forma/conteddo, se devemos en- tender por dimensto poética a unio das dimensGes abstratas € retd- ricas, Essa confustio generalizada — num dominio, entretanto, onde conseguiram remover muitos empecithos — provavel- mente se origina de uma anélise inadequada da natureza da lingua- gem. Apesar de terem reconhecido, com um faro incomum, as ambi- gllidades das palavras e expresses dos textos, ni fa levar a termo a re mente © capaz de su si mesmas, o singulares se mentos esteticamente neutros, chamando-os de “componentes” ¢ cha- mar de “estrutura” 0 modo pelo qual assumem forga estética, Nio se se esconda o mesmo velho fransversalmente as certos elementos e forma, na , A obra é, global de s. A partir dessa posiglo, é posstvel ir melhor o formalism do New Cri- ogo de estrutura, Examinemos rooks, j4 que suas posigdes, por serem cosrentes, so em getal bastante significativas, Nas dez andlises que formam o essencial de The well wrought urn, 0 que o autor nala com insisténcia € a primazia do esquema (pattern) subjacente a ‘qualquer poema, ou seja: sua estrutura. Como a “imagem no tapete”” de James, tal esquema (ou estrutura) € perfeitamente discernivel dos componentes que a formam e sua beleza é independente da beleza (cu da austncia de beleza) intrinseca dos componentes. Entretanto, “estru 15 tura”, declara Brooks, “‘nio é de modo algum um termo inteiramente 0, de imagens ou de sonotidades. Indiscutivelmente, a estrutura & sempre condicionada pela natureza do componente do poema’. Deste modo, Brooks procura definir uma relago dinfmica entre estru- la parédia épi vengées di ra, tal como & cor strut conotagses, pontos de vista idade nio € uma unidade a que se che- io como numa formula algébrica, Trae epresenia néo um la que pareca, & primeira vista, que estamos diente de uma abordagem valorativa, @ termin regada, reposta em seu con- gna na realidade estruturas verbais e dé corpo 8 nogfio de cstrutura, transformando-a em algo além de um simples esqueleto ou de um mero arcabougo da obra. Os termos “conotagéi vista” (attitudes) e “significagdes” sfo fundamentais. Sem trair Brooks, podemos articulélos dizendo que as conotagGes das palavras utiliza- tito A partir de entio, vista” para designar um elemento da textura do proprio poema: elemento resul- tante da tonalidade (fone), a terceira de suas “quatro: categorias de significagao”.®° Nesse sentido, o termo se aproxima do emprego que Brooks dele faz. & interessante assinalar que Richards menciona, & guisa de ape imulagio, ou os {eag08 em que 0 locutor dei jaria, conscienternente, exprimi spar um ponto de vista que nio dese- justamente nesses “casos excep- 16 cionais” que Brooks, i te, vé 0 cere da poesi Os “pontos de vista” de Brooks so mais complexos que os de Richards. Ele distingue pontos de vista superfi is tindo menos sobre sua produgo inconscien- cutor & duplo: parodia o cristianismo e sitos amorosos, Mas se essas duas possibilidades existem inegavelmen- te na superficie e nfio devem ser ignoradas, o ponto de vista subjacente se revela como sendo o de um homem que se curva at religido, A preponderfincia de um ponto de vista sobre outro depende de relagdes correspondentes nas conotagées € outros elementos lin- giifsticos do poema, Brooks imagina o locutor do poema de Donne. ede qualquer pooma lirico, numa situagio dramética — de acordo com o modelo da persona de Pound. A estrutura de um poema — semethante & de uma obra arquiteténica ou pictérica, na medida em que constitui um esquema de tensées solucionadas (a pattern of re solved stresses) — parecese antes de tudo com a estrutura draméticn, nna qual se resolve uma série de contlitos agudos. No poema os con- flitos se devem & ambivaléncia da linguagem, cujas diversas manifes- tagdes suscitam complexos de pontos de vista. Conseqiientemente, a solugéo dos conflitos, a unificagio dos pontos de vista sucessivos de- ‘yom ser realizadas nao de maneira légica ou predicativa, mas drama. tisamente, segundo um principio andlogo aos da dramaturgie, Assim, © final da ode de Wordsworth, “Intimations of immortal satisfat6rfo, pois a passagem sem interrupyo da crianga ao homem é ali contada, ao invés de ser dramatizada, Conseqiientemente, um dos principals objetivos da Ieitura micros- cépica (close reading, cf. nota 19) preconizada pelo New Criticism ‘consiste em ajustar as téenicas poéticas gragas hs quais o locutor apa- rece subitamente sob uma luz dramética. Se a significagio de um poema reside nos complexos de pontos de vista, tornase muito im portante descobrir quais as tonalidades particulares que definem esses ppontos de vista, A tonalidade, por sua vez, deriva da exploragéo, por parte do poeta, da polivaléncia das palavras e das associagSes ds quais se prestam, bem como da posigo do locutor em relagio a cada um dos diferentes niveis de significagdo. O indispensével efeito. draméti- co, no sistema de Brooks, provém geralmente da confusio, da nio- congruéncia ou da interpenetra¢io de dois ou de virios niveis de significagfo. Donde a “ironia” — “termo mais geral entre os que ser- 7 ainda uma vez, impregna o conjunto da poes que a critica convencional até hoje adi fem praticamente todos os poemas de que trata. Representando um reforgo a ironia, surgem a ainbigilidade © © paradoxo. A primeira é paradoxo se situa ent a uma espécie de tensio sim, por exemplo, a tens acrescentar que os jogos de palavras tém sua eficéci dramatizagio do poema (exemplo: 0 jc substituiveis . O empre- g0 do verbo “simbolizat” parece atualmente um tanto ingentto e nos predispde contra qualquer enunciado onde aparece, mesmo quando a como, por exemplo, quando Brooks declara que a imagem do naked babe numa passagem de Macbeth “‘simboliza todos remotos que déo um sentido & vida.” No final de seu rério de um ponto de e Richards, a necessidade segundo a expressfio de ‘Urban, a “linguagem das linguagens” e serviria de intérprete ¢ de cbdi- ‘05 outros simbolisimos (como a arte). tomnaria posstvel stmbolo sem nevessidade de desenvolve- Jo em paréfrase — teve como constante obstéculo a profunda des- confianga dos organizadores do movimento em relagio A ciéncia, ram senéo a lingiifstica mais elementar, recusando-se a numa discipline potencialmente ta, Quando Brooks de seu sistema, zé-lo. Tate, logo apés ter recusado energicamente a formulada por Charles W. Morris (em The international 18 fetonet a tings uma ‘compreensio ¢, conseqilentemente, a de reconhecer daqueles que néo 0 sio” ® (grifo meu). que Wimsatt possa , sobretude, que possa ‘se possa solucionar intuitivamente tais contradigdes. Mas, até que isto le representar um obstéculo Apestr de atentos aos efetios da conctaglo New Critics no foram capazes de responder satisf to da reel da significacao geral do texto. Us thordando a obra lteérin pole anflie do estilo, poss. ting sods 19 aspectos mais gerais?”" Brooks aceita as conseqiiéncias de seu mé- todo quando declara: “os julgamentos nfo sfo formulados segundo 608 critérios de um perfodo hi lo, nem simplesmente se- undo 08 critérios do nosso tem) tos sfo feitos natural- ‘mente, como se possulssem valor univers Mas nfo é tanto a universalidade desses jutzos quant. dos absolutos postos em jogo que alarmava Herbert J. Mul bate com Brooks, travado nas paginas de The Sewanee Revi de 1949), A contradi¢fo mais significativa apontada por Muller (aur sistema prejudicado por contradigées ¢ paradoxos) reside no desejo de Brooks de estabelecet critérios absolutos de julgamento critico, ‘mediante um i contidas na obri que sio na verdade contingentes. Seguindo René Wellek, nfo se diré que os New Crities se per na fenomenologia pitta como Roman Ingarden, “que tenta ana- 1 obra de arte sem referéncia aos valores". Ao contrério, existe ies uma tendéncia nitida para dissociar valores ¢ estruturas ¢ supor, como Ingarden, que os valores so sobrepostos & estrutura, quer se situem sobre, quer no interior da mesma Fora do perspectivismo de Wellek e Warren (escala de valores flextvel ¢ maledvel), a fim de suprimir a dist is mo € 0 relativismo, tentow-se explorar a nogio hegel rigider r no de- (vero en mediador evidenciar as relagdes entre concreto © tarde (1947-1948) Ransom procurou em Freud o fundamé divisto da expressiio poética entre dois pélos: a estrutura légica torna- se a ordem reconhecida pelo ego, enquanto os dados concretos ¢ con- tingentes se otiginam da procura da desordem pelo id.** ‘Wimsatt aperfeigoou uma teoria segundo @ qual o “universal con- jesigna uma sintese completa dos dois pélos. A teoria de Ran- ‘som, jé criticada por Winters (cf. nota 5) por sua tendéncia a separar textura contingente ¢ substrato racional, 6 criticada por Wimsatt, que parte de um ponto de vista oposto. Uma vez que “‘analogia ¢ metéfora nio.somente formam 0 pr falando de modo geral, como também sfo inevithveis na critica”, parecedhe que com ‘sua teoria Ransom tenta simplesmente contornar a metéfora, consi- 20 derando-a como um elemento idioletal indispensivel ao desenvolvi- 0 do poema.!* Em seu ensaio sobre “The con- do particular ¢ designar categorias 1 as modernos ““cometem o erro de prestigiar as diferengas en- idade de cada um de acordo com 0 tempo ¢ stia estrutura cinética e, baseados isso, supdem ‘uma universolidade de significario simplesmente aproximativa ou normal, vendo no emprego de termos gerais uma comodidade mais do que uma verdade”. Wimsatt procurava uma maneira de dar conta da poesia na qual os detalhes conservassem sua integridade de idioleto sem sorem integrados em categorias mais amplas. “O cardter poético dos detalhes no consiste no que dizem direta ¢ explicitamente (como , mas naquilo que, pela sua orga- a metéfora que encarna o une conseqiientemente, uma ter ¢, na maloria dos casos, permanecerd sem nome, ‘apreendida somente através da metéfora, Tal classe era 0 da metapoesia — nogio bastante difundida durante os anos cin- qiienta —, que designa o processo postico pelo qual o poeta fala do pré- prio ato de escrever. Vista sob esse aspecto, a metéfora aparece como (© meio de estabelecer uma relacio dindmica entre duas classes ou dominios separados — relagio que passa a ser uma versio-miniatura do ato de escrever. Tanto Brooks quanto Tate analisaram o fenéme- no, O primeiro, nos cléssicos da Iingua inglesa de que trata em The well wrought urn; 0 outro, na poesia americana do sSculo XX, prin- cipalmente em Wallace Stevens. Mas nenhum dos dois ultrapassa 0 estégio de uma simples “parabola da poesia”.* 24 a0 qual conduzia o estudo da metéfora, que @ ‘© centro de uma grande parte das preocupa- Infelizmente, , mas thes repugnava apelar para fo, correta mas superficial, do que a citncia reduzisse o objeto literdrio por um sistema dogmé- jerente ot se contentasse com paréfrase, far que cla pudesse fornecer a mais de sndlise."* Longe de represent ranga de um movimento tio desvaloeizado aon olhos dos New Critics: © romantismo. Ainda que nfo constitua propriamente uma teoria da literatura pelo menos, uma profunda e eficaz in- de abordar 0 objeto literitio, Seus se- guidores dedicaram-se a difundir 0 método o mais amplamente posst- vel. Foi certamente nas universidades e mesmo nas escolas de 2° grau que o movimento mais se propagou: nelas foram utilizados, desde 0 final dos anos trinta, os manuais de Brooks e Warren destinados a melhorar o nfvel geral do ensino literério nas universidades. # inte- ressante observar que, no caso de Brooks, os manuals destinados tal fim apareceram antes d isa te6rica mais ampla ou de cestudos de textos mai . Esses novos métodos de ensino fe essas novas abordagens criticas espalharam-se rapidamente no sis tema universitério pelo fato de que antes de se tornarem alvo de interesse especial, os New Critics j& ocupavam cargos de ensino, Os resultados desses novos métodos, que punham de lado as abordagens hist6ricas © biogréficas j€ fo gastas, foram trouxeram uma nova contribuigio a respeito das proprias grande inconveniente, entretento, apontado pelos educadores a partir 22 de 1950, fol o fato de que o método podia ser aplicado mecanica- mente pelos estudantes — tal qual as equagées quimicas — sobretu- do sobre as obras modernas, desprezando totalmente 0 contexto cul- js obras se formavam. Era a conseqiléncia desde 1923 — onde se mencionadas no romance inglés’ tivel. Qualquer método exces ps de seus fundamentos, como se fossem o préprio método. Os autores, que exam freqiientemente publicados nas revistes do New Criticisin, tentaram muitas vezes reagir contra a cisfo que, a farts dos soon queria, tronse « eperag cote eri © profs “para qualquer ‘em possuir pata manter sua boa conscie professor de literatura deveria ser um eritico, ¢ um bom quer que fossem suas outras pretensdes”.”* s poetas de Southern vanguard (Ransom, Tat ia do ato critica em todos os ramos ido para a critica um s6 caminho com ‘0 de declaragées expli- a dos New Critics, uma refun- antes do ‘movimento foram responsével por uma das mais importantes reabilitagSes de que o século XX tem o mérito: analisaram profundamente os postas metafisicos, devolvendo-lhes a hhonra que mereciam, Tarefa levada a efeito pela exploragio em pro- fundidade do método indicado por Eliot em 1921, que considerava que esses poeta: imeira metade do século XVII representavam_ “o desenvolvimento directo ¢ normal do perfodo precedente”."* Isto nto com a idéia de Johnson — que durante todo © séoulo XIX jamais havia sido questionada — para quem os mets. 25 fisicos haviam a tal ponto distendido e desfigurado a lingua, que cal- ram no semsentido. Eliot, aliés, indicava uma vie de acesso nfo somente ao século XVII, mas também & sua prépria poesia ed poesia contemporfinea. Nogdes como as de conceits telescopados ou de con- eatenagiio de imagens (concentration of imagery), aj pio a Donne ¢ a scus seguidores, ajudaram os New Critics a explicar a nova literatura do principio do século, A associagio, muitas vezes implica mas ainda assim inegivel, entre os metfisies ¢ os moderos arretou algumas aberragées tempordrias; assim, por exemplo, de admiragio suscitada por Donne ¢ sua visio condenou a um 1 esquecimento a pi Brooks praticament que encontrava sua jus- ide” do Eliot, foi em iprio Brooks e de outros ys anos do movimento, Donne havia sido colocado tio alto que Ransom era capaz, comparando as imagens de um e outro, de colocé-lo acima de Shakespeare.** F possivel que tais exageros fossem necessérios & demonstrago de cerios pontos; no entanto, quando, por volta de 1950, o New Criticis i t6ria da literatura ndo Desde 1938, Brooks e Warren pela escolha ¢ apres ivas permanentes ¢ observavels ica o caminho que leva a uma histéria ! sonveniente ism foi marcado por uma série de ‘controvérsias tanto no centro como fora do movimento. © New Cri- 24 Hcism foi acusado de negligenciar a hist6ri {oj formulada de fom Tal acusacio, freqiiente- mais convincente por R. HL few, outono de perigoso em miios inexperientes, mal preparadag para 0 estudo do contexto da obra, ¢ encorajadas a mergulhar no estudo das imagens io do género © do porfodo aos 2m por objetivo nfo somente da mesma forma pela qual o Romantismo havia sido ex ‘Tradigio. ‘A Escola de Chicago mostrow-se vigorosamente contréria & recusa dos New Critics de levar em consideragiio as dl jo lider era Ronald §, Crane, con: anos trinta na Universidade de Chi ‘vam em varios departamentos (Ing! positivista, tory versus criticism in the university study of Journal, outubro de 1935). Naquela época, Ransom aprovava ‘mente a nova orientago que Crane dava aos estudos literdtios univer- propriamente dita." Os etiticos de Chicago esperaram até 1942 para propor uma radical reorganizagio dos estudos criticos, proposigies acompanhadas de dois estudos particulares apresentados como exem- plo.*' No final dos anos quarenta, entraram em polémica contra um certo mimero de New Crities, na Modern philology" Crane, que dirigia a revista, reuniu vérios desses artigos, aos quais vicram-se focrescentar outros trabalhos da Escola de Chicago, em icism: ancient and modern (Chicago, 1951). A “nov inteiramente numa reabilitagio da Podtiea de java a nocéo de unidade da obra (0 synolon de de modo a evitar as fragmentagses equivocas de uma abordagem tex- tual. Em Aristételes encontram-se ainda o melo de diferenger vérias 25 q cespécies ou géneros, definidos pela disposiglo dos synolons. Este mé- todo, ao mesmo tem dugio de Crane a Critics e criticism, remediar a tendéncia do New Cri ism em ler todos os poemas da mesma maneira, como se todos em o mesmo modo de funcionamento. Devia ainda remediar a “confusio (...) entre formas miméticas ¢ formas didaticas, ¢ 0 tra: tamento uniforme da poesia lirics, do romance, da tragédia e do censaio”."* A acusagio levantada por Crane contra 0 New Critic que exagerada, nfo deixa de ter um ponto interessante: denuncia o habito que tinham os New Critics, quando comegou o movimento, de restringir suas andlises a poemas Mticos curtos, aos quais reuniam, fs vezes, génetos posticos mais amplos (como, por exemplo, a anélise de Brooks e Warten sobre passagens do Paradise lost). Pouco mais entretanto, certos discfpulos adaptaram 0 método 8 anélise das sas do romance (ef. Mark Schorer, “Technique as discovery”, udson Review, 1 da mos em Brooks, na nogfo de fensdo em Tate, e na local contingente em Ransom, todas as obras apresentar, como diz 0 prdprio Brooks, o “mesmo tipo particular de estrutura”.* : A importincia da Escola de Chicago se prende ao fato de ter denunciado o simplismo de certos axiomas do New Criticism, como, por exemplo, a definigio da linguagem poética por simples oposicao Ada ciéncia, Infelizmente, afora sua nogo mal definida de “plura- nfo tinhem nenhuma outra coisa a opor ao “monismo mato- de Brooks. Ao que parece, contentaramse em empregar toda sob certo aspecto, as palavras sfio bastante importantes, pois que sfo necessirias A compreensio ele- mentar do poema, mas, sobre outro ponto de 8 palavras so sem importéineia, governadas e deierminades por cada um dos ‘outros elementos do poema”’."* Esses outros elementos so a “sele- fo”, 0 “personagem”, o “pensamento” (joge-se’ com as catcgorlas de Aristoteles). Assim sendo, do mesmo modo que a teoria de Empson, 26 fo © personagem se exprime por jogos spenas de um tnico aspecto da wmente”,** também o sistema de ridge, do qual deriva) sustenta- (menos rico do que o de se inteiramente na “‘simples regra gr ‘yras ou grupos de ps outras palayras ow de destruigio empreendido pela Escola de Chicago samente numa doutrina de “‘clareza da linguagem”, as nuances verbais que precedem aflorar de um sentido A conscién- cia: a clareza da linguagem 6 “inversamente proporcional ao néimero de operagées mentais necessérias & apreensio de um sentido, soja qual for © néimero de operagées mentais que tal sentido, uma vez apreendide, pode suscitar”** © estandarte do New Criticism foi o antiposttivismo, Este é um Ponto no qual podemos nos deter antes de acabar nossa exposicio. Tal posigGo, além de suas determinagdes hist6ricas ¢ eulturais, tem ainda sua determinagdo politica: consistia em participar da reagio contra as pretensbes cientfficas do marxismo. © American Scholar Forum, reunido em and the de- Davis, o Forum mos- lade, que existe em de Davis, se leva- em aplicar sem distingo © ajetivo “reaiondio” no que dia Txplto tant Is pos rérlas como as posig6es polfticas. No entanto, o erro mais funda- mental de Davis era ignorar a convergéncia sobre certos pontos entre 08 Southern Agrarians e grupos de esquerda. O interesse pelos conservadores em favor da descentralizagio, sua intervencionismo estatal, sua andlise da sociedade americana enquan- ssociada do homem comum, coincidiam com certos temas mar- vain em piiblico ¢ as posigées adotadas na vida privade, pois “os New Crities, de que tratava nesse artigo runt, of. nota 3), falam como tradicionalistas ortodoxos e dogméticos, enquanto vi- a7 ameticana, 0 que adotar posigdes ‘Warren em Segregation, Nova lorque, 1956) e esquerda estayam sendo atrafdas, Para o centro, em conseqiiéncia do movimento de provocedo pelo esforgo de guorta. No Fecer uma contradiggo lo tempo, nio meis parecer contradi- dizer que, nos anos cingiienta, nfo se ertamente o rac regi 86 outrora como'ainda hoje. Mas isso nao just medioctidade da produgio © branco nada tirou clo negro, nenhuma imagem de si enraizada na terra. Imagino que nesta época de ciéncias socials 0 termo imagem nto 6poca desaparece a relagiio profunda intagdo local. Um meio ambiente ¢ uma lugar. A diferenga aparecerd ol iem a forga moral de percebé-la, O it onde morava, mas néo the era poss conhecimento desse lugar, pois se interpunha toda a hierarquia de seus dependentes entre cle ¢ sua terra. Podia pedir a seu corretor que Ihe comprasse belos méveis Império, mas permanecta colono, Em com- ico, © Negro, por quem era responsavel, recebeu tudo deste. A da cultura francesa é, certamente, diferente. As belas-at enxertadas num tronco campestre. Mas nada de vivo ido sobre o negro; era demasiado estrangeiro; demasiado Imente corruptas e ainda assim produzir elevadas culturas. A escravidio do negro impedia 0 branco de apro- fundar sua propria imag 6 a rancia do intelect médio em relagio ao racismo ¢ a0 anticomunismo dimi ‘0s anos cingiienta, por outro lado, as idéias reaci formas mais insidiosas. A mais sech 28 ismo nfo proclamado do alto de uma torre de marfim, mas reves- ido das respeitéveis vestes do liberalismo. Kenneth Burke esclarece esse equivoco ideolégico, durante o Forum, quando observa que Davis se sente mais constrangido pelas reagdes dogmaticas provocadas pelo: ivos de uma sociedade do que termos aparente- tas, contudo impotentes, para descrever 0 que se € profissionais do New Criticism durante os anos enfrentar o ativismo que se desenvolvia nas Civis dos anos cin- dos anos sessenta), era. preciso ismo esclarecido. A heranga do New Criticism formou ‘um niicleo conservador que foi envolvido por vérias eamadas de libe- mo € acompanhado de um mecanismo regulador que permitia a iquer um esconder suas verdadeitas cores. Donde um conluio das ndéncias conservadoras ¢ das tendéncias pretensamente liberais no rofessor esclarecido, que podiia, daf por diante, ndvios sulistas para quem o homem de letras era o de esm ‘1 encarregado os dois deménios que impedem o advento de uma socie- litica ut6pica ¢ o “maniquefsmo ou sociedade comu- tétio aceite ¢ procure a ajuda de todos os métodos cientificos, do marxis- ‘mo ao positivismo égico, sem se acompanhar de efeités contra-revo- lucionérios? Esses slo, a nosso ver, os termos de um imenso desafio idcol6gico que deveré, dentro em breve, ser enfrentado em todas as universidades norte-americanas, NOTAS BIBLIOGRAFICAS 1. “Criticism, Inc.”, The Virginia Quaterly Review, (outono de 1957), pp. 588 e 600. Retomado em Ransom, The world’s body, Nova Torque, 1938, 29 s o eo 30 « RG. Davis, “The New Crit . Ver particularmente seu racioctnio Ver Walter Sutton, Modern American N. J, 1936), pp. 108-110 ¢, para maiores de It “Seward Collins and the American Re profascism, 1933-1937", Am 1960. Notar que os Agrarians detxaram a re The American Scholar, inverno, 1949-1950, pp. capdes ideoldgicas desse artigo, que ao pouco concludente American Sch« no final deste ensaio, Como foi declarado desde a introdugto, é mat definir 0 New Ct fixo de teo- ras, Existem divergéncias gritantes até mesmo entre os trés crt- ticos que esiao no centro desta antlise. ira a dicotomia jormutada por Ransom entre estrutura légica e texture local contingente, no “John Crowe Ransom: Or thunder without God”, In defense of reason (Chicago, 1947; Londres, 1960). ‘orum, sero anali . René Wellek, em Theory of literature, escrita em colaboractio com Austin Warren, New York, 1949 nota que os métodos eu- ropeus comecavam justamente a interessar os criticos norte-ame- ricanos, Trata-se de uma das primeiras obras em inglés que se ‘ocupan dos métodos expostos pelos jormalistas russos e por seus ‘sucessores tchecos @ poloneses, ¢ principalmente pelo Cfrculo do nos Estados Unidos desde pelo menos 1928, onde sua grande aplicagto teve um grande impacto nos métodos ie ensino nas lasses a partir do gindsio. Declarowse que o método do New Criticism baseava-se precisamente num modelo semelhante ao du tal modelo los, os New 0. explicagio de texto; seja qual for a influéncia qt possa ter tido, dirigiuse certamente nos dois s Critics endossaram o método francés, ultrapassan: - “The function of criticism", in Selected essays, Londres, 1952, p31. Speculations, Londres, 1924 1960, p. 152, Literary essays of Ezra Pound, ed T. S, Eliot, Nova Forque, 1954, P. 4; 0 original em Poetry (marco de 1913). Notar a recorréncia at 22, 25. 24, + Por exemplo, Allen Tat + Cleanth Brooks, por exemple . Cleanth Brooks, Literary ct da palavra “complexo” nos trabathos dos New Critics: lex of attixudes"” de Brooks, por exemplo, ‘The function of criticism”, Selected essays, p. 33. ‘0 com “The metaphysical poe de Binet om Madame Bovary com uma espécie de “correlato- objetivo" (emprega somente 0 termo “‘correlato”) para a vertigem gue atrai Emina (em “Techniques of fictions” Essays of four decades, Chicago 1959, p.140). lew os Seven types of ambiguity de (retatado por Austin Warren em ", Poetry, janeiro de Empson “doze ou treze vez “The Achievement of some recent o ism, Londres, 1924, pp. 117-131. sm, Norfolk, 1941, citado em Brooks 620. icism, A short history (em colabo- rago com William K. Wirasatt, Jr.), Nova lorque, 1957, p. 652. - Philosophy of rhetoric, Nova Iorque e Londres, 1936, em par- ticular, pp. 47-66. jcism, p. 643. A evolugtio de Ri- rature as knowledge”, chards & examinada por Aller Tate e Essays of four decades, pp. 99-101. Seven types of ambiguity, Londres, 1936; 1.* ed.: 1950, pp. 247, 255 @ 258. Seven types of a 5 Cleanth Brooks, ism, history and critical relativism”, The well wrought urn, Nova Torque, 1947, p. 235. “Literature as knowledge", op. cit., PI Tate em 1941, 6 ainda 0 critico de me sidades ¢ néo seria supervaloricar sua influéneia dizer que w forma falsificada do pensamento de Arnold representa a corrente cipal da aprectagao popular da poe the intentional fallacy”, escrito em colaboragéo com M. C. Beardsley), ‘The Verbal icon, studies in the meaning of poetry, Nova Torque, 1958; ed. or Lexington, Kentucky, 1954, p. 21. Esses dois artigos foram ante- riormente publicados em The Sewanee Review, vero de 1946 @ inverno de 1949, Id, explica 3 25. 5 32, 32. + “Tension in poetry”, op. “The problem of belief and the pr + Literary cr A nota que Wimsatt acrescenta a essa ttima frase & crucial para sua distingao entre a psicologia ¢ a das palayras depois que um poem jeapses que, no caso de serem aplictveis ao esquema origi nal, do deveriam ser ignoradas por escripulos quanto & in- tengito”. - A primeira frase é de Winters, a segunda, de R. P. Blackmur, citadas por Wiltiam Elton em “A Glossary of New Criticism”, Postry, dezembro de 1948, p. 161. Deve-se notar que, no caso de Wintters (Primitivism and decadence, Nova lorque, 1937, bem como no caso dos primeiros trabathos de Ramsom (The fugitive, 1922-1925), tais observagdes, que de outra rmaneira seriam correlas, conduzem a um reptidio a enaltecer as formas métri tradictonats. Brooks © Tate, que apreciavam Eliot ¢ Pound, contribuiram a trazer 45 coisas a seu devido lugar. » P. 58. Tate cita uma outra ilusdo, @ da simples denotagio, necesstria somente para a demonstra. si0 no contexto particular de seu ensaio, “The heresy of paraphrase”, op, isteu do verso livre 259. Brooks fala deste problema referindo-se a um exemplo con- ereto, “Corinnas going aMaying” de Herrick, em “What does Poetry communicate”, ibid., em particular, p. 74. Citagao de Language and reality de Urban em “The Heresy of araplis 199, im (com Cleanth Brooks), (cf.. nota 17), p. 747 Os preficios a este livro e ao livro citado na’nota seguinte fazem com que seja posstvel saber a qual dos dois autores remonta eada captiulo, ‘Theory of literature (cf. nota 6), p. 195. Wellek, ainda que se tenha mantido serapre @ disténcia das disputas crtticas (a ndo ser as mais importantes), mostra, neste Ii apoiar, de maneira bastante consegitente, as posigées defendidas pelos New Critics (recém-formuladas na época). E interessante notar que Brooks utilizou o livro desde seu aparectmento para sustentar suas préprias posigBes, acrescentando: “estaria sendo pouco sincero, apesar de tudo, se nao declarasse que o livro deles representa, de maneira geral, mew prdprio ponto de vista” (See wanee Review, verdo de 1949,.p, 376). lem of cognition”, ibid, p. - 39. 40. 4. 42. 4. 44. 45. 46. 47. 48. 49. . “Literature as knowledge”, op. . O New Critics interrogaram-se . “The Heresy of paraphrase”, op. cit., p. 194. sto mais que literal/figurado ou denotagio/conotaeao, lagio nto é particularmente feliz. pp. 104-105. is vezes sobre uma questo iste valor na literatura?” e tive- nder de maneira simplista. Mas 0 ‘que prejudica suas discusses sobre 0 valor é a tendéncia a transpor, da religiéo para a literatura, wma estrutura ou hierar quia que pode deturpar a natureza do julgamento avaliativo. “The concrete universal", The verbal icon (ver nota 24, pp. 82- 85. Publicado primeiramente na PMLA, marco de 1947. A apli- cago — de outra maneira correta — do “universal concreto” na poesia é diseutida abaixo. “The intentional fallacy”, ibid., p. 6. Tate “Longinus and the New Criticism”, Essays of four decades, P. 476, Conferéncia, abril de 1949, publicada em Lectures in criticism, The Johns Hopkins University, Nova Torque, 1948 cit P. os New Critios. f the critics, ed, op. cit. pp. "op. elt. pe Brooks, “The Heresy of paraphrase”, 214; Tate, “Mo- dern poetry” In Essays of four decad: Vide “The new encyclo Ransom, “The aris and the philovophers” em The Kenyon Re- view, primavera de'1939, pp. 159-182 ¢ 194-199, para as rea- $0es contemportneas a favor ¢ contra os primeiros volumes de ‘The international encyclopedia of unified science. 8 ate 52, 53. 58. 59. + “Criticism, Inc.”, The Vi “A note on critical ‘autotelism’”, em “The ci business”, The Kenyon Review, inverno de 1949, pp. 13-16. Retomada em Essays of four decades, of criticism”, 1925, op “The achievement of Apesar do cfeito estimulante que teve esse grupo nos cireulos de certticos, seu efeito na poesia norteamericana io dos “New” poetas-criticos, @ maior parte rejeitava, por exemplo, a tradigito de Walt Whit- ‘man, suscitou nas universidades uma grande curiosidade pela uretanto, satisfazé-la. Se & verdade 8, fizeram aumentar o prestigio de ¢ Wallace Stevens, ndo & menos prdpria poesia, dado 0 model lagio “metafisiea” dle conceitas tao insipidos, que $¢ forniou nevessirio esperar por movimentos tio variados quan to os Beats ¢ a New York School a fim de fazer voltar a raza 4 lingua dos norte-americanos, outono de 1957, P. 588. Ransom devia mudar de opinido mais tarde, em “Hu. manism at Chicago”, The Kenyon Review, outono de 1952, re- tomado em Poems and essays, New York, 19: Norman Maclean, “An Analysis of a tyric poom' teous evening” de Wordsworth), e Elder Ol zantiura’, Prolegomena to a poetics of the lyr Pp. 202-209 ¢ 209-219. Por exemple: R. , Crane, “Cleanth Brooks, or the bankruptcy of critical monism", 1948, pp. ‘5; Elder Olson, bolic reading of the ancient mariner 1948, pp. 275-279; W.R. Keast, “The New Cri King Lear” (contra R. B, Heilman), 1949, pp. 45-64, + Cliado em Walter Sutton, Modern american criticism (cf. nota | p. 155, Crane, “Cleanth Brooks. ..”, loc. cit., p. 227. + The well wrought um (ver nota 22), p. 191; ver igualmente p, 63. 64, 65. 66. 67. 68. 69, 218. Podese notar que Ransom foi um dos primeiros criticos que atacaram 0 estatismo dos termos “‘paradoxo’ om Brooks (Kenyon Review, 1947). 3 Elder Olson, “An oulline of poetic theory” in Critics and criti cism, abreviada, Chicago, 1957, pp. 21-22. Esta edigio, redusi- da & metade da original, 86 contém oito dos vinte ensaios; os ensaios de tendéncia polémica foram deixados de lado. Con- tém, entrotanto, uma bibliografia itil dos trabathos dos Chica- critics, ; Stson,"Wiltam Empson, contemporary criticism and poetic dic- tion” pp. 3435. Publicado primeiramente em Modern Philology, maio de 1950. loc. cit. p. 55. Para uma andlise la de como os Chicago Critics advertem contra a “atfes- capesar de se deixarera tevar pela mesma ilusdo, vide "he Chicago Critics”, The verbal icon, publicado pri- meiramente em Comparative literatute, inverno de 1953. ‘The American Scholar, inverso 1950-51 ¢ primavera de 1951, pp. 86-104 e 218-231. Tal debate, realizado em 22 de agosto de 1959, reuniu All , Kenneth Burke, Robert Gorham Davis, Malcom Cowley, William Barrett ¢ Hiram Haydn. Essays of four decades, pp. 525-526. Publicado primelramente em The Virginia Quaterly Review, abril de 1953, sob forma abreviada, conferéneia pronunciada por mal pela Paz © pela Ci verno de 1955, pp. 177-178. ‘Tradugiio Angela Carneiro Revisto Fernando Augusto da Rocka Rodrigues 35

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