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SERIE O QUE FAZER? ORIENTACAO PROFISSIONAL Maria Stella Sampaio Leite Coordenadoras da série Luciana Saddi Sonia Soicher Terepins Susana Muszkat Thais Blucher Digitalizado com CamScanr ‘série O que fa © 2018 Maria tella Sam Luciana Saddi, Sonia Soicl ‘coordenadoras) sera Falgard Bliicher Ltda ella Sampaio Leite Je reimpressio - 2019 Blucher Rua Pedroso Alvarenga, 1245, 4° andar (04531-934 ~ Sio Paulo - SP - Brasil ‘Tels 55.11 3078-5366, ‘ontatoeblucher.com-br weewcblucher.com.br Segundo o Novo Acardo Ortogrifico, conforme 5 6d do Vocabubério Ortogrifico da Lingua Portuguesa, Academia Brasileira de Letras, mango de 200, F Probids reproduc ual ov parcial por er? Orientacao profissional het Terepins, Susana Muszkat, Thais Blucher Dados Internacionais de Catalogagio na Publicagao (CIP) Angélica Macqua CRB-8/7057 ee tthe Leite, Maria Stella Sampaio Orientado profisional /M {ete ~ Sto Paulo: Blacher, 2018, ia Stella Sampaio 136 p.(O que fazer?) Bibliogeata ISHN 978-85.212-1349-9 (proms) ISBN 978-45-212-1880-5(ebowh) ayo pootshoaa {Tuba IL See is. cpp Las Indie para catlog sstemiticn 1. Ovienagto profisioal 1 Digitalizado com CamScanr 1. Escolha O que é uma orientacao profissional? Se, anos atras, a fungao do orientador profissional limitava-se a testagem exaustiva dos fatores inteligéncia, habilidades, interesses etc. a fim de delinear 0 melhor caminho para cada um alcancar seu ideal, hoje, se espera que quem procura orientagao profissional possa aprender a realizar sua escolha e comprometer-se com ela. O orientador ajuda o individuo a analisar seus desejos, resistén- cias, possibilidades, dificuldades com vistas a tragar um projeto de carreira, Mais do que tomar contato com a aspiracao principal, 0 jovem defronta-se com um vasto leque de aspiragées, diversas fa- cetas de si mesmo que serdo privilegiadas em momentos diferentes na escolha profissional. Em certa ocasiao, no primeiro encontro de um grupo, uma jo- vem introspectiva disse: “Intriga-me qual é 0 sentido da vida. A escolha da profissao tem a ver com isso. Escolher é dar um sentido a ela”. A pergunta mobilizou os demais jovens, que comecaram a elencar o que consideravam ser o sentido da vida: a felicidade, a Digitalizado com CamScanr 16 Escorts os amigos: # yida amorosa, familiar, além do taba s ra pensar sobre o futuro tem relacag ¢. ‘Om, se ecom 9 tracado de um pri irecom ¢ u i fisstio a segu! Projeto de yj, realizacao Areuniao de escolha da pro 1 despert os 0s temore ilize-se pelas propri ma em consideragao a singularidade da ee isso, propoe-se a analisar profundament, idades interna e externa, sobretudo em nuitas oulras reflexGes, como as expecta 15, CoM 1880, espera-Se qUE 0 SUjeito se; “elm. jas escolhas € projetos fut, 08, am mas tambén vas, 0S sonh plique, respons@! Essa abordagem tor diferente das modalidades psicomg. pete ao orientador, que utiliza que melhor se enquadra 4 privilegia-se a represen- ger prioridades, as quais a decisao com) econclui sobre a profissao indo a perspectiva 0 sujeito, ae figurada na andlise da problematica psicoldgica do tido dado por ele as ocupagdes € a0 mercado das pro- jeito de ele; tricas, para varios testes pessoa. Qual tagao indiret jovem eo sen! fissdes. Assim é possivel orientagdo profissional a realizar uma deciséo madura e conquistar um lugar na comunidade adulta. | ajudar aquele que procura um trabalho de A orientacao profissional propde 0 foco para trés tempos: 0 aoe moi ‘ sear Esta uitiong diz respeito a Perspec- > jo que muita gente pensa, nao ofe- ros eee trajetéria profissional em linha reta. Isso porque, 20 aes dessa natureza, © individuo é obrigado a tos. Vejamos: a escolhe vralieion de si ed em prejuizo de ou- al é uma ago continuada que inicia antes d a adolescénci ' quanto ac scéncia, culmina nesse perfodo com a decisio 0 curso que periodo com a dec Grau da carreira, ¢ Jo, que & o primeiro de- prosse; a Prossegue ao longo da vida. Carreira é a |i tiodo largo, de algui levard a uma pro’ nha profissi a A Hssional construfda durante um pe cadas, E na vj is. E na visada em retrospectiva Digitalizado com CamScanr MARIA STELLA SAMPAIO LEITE 17 justamente com certo tempo de experiéncia acumulada, que se tem a nogio do tragado de uma carreira, sua visio de conjunto. A quem se destina a orientagao profissional? A orientagio profissional é dirigida prioritariamente ao ado- lescente, porque é nessa fase da vida que a problematica vocacional se estrutura € emerge como dificuldade. No inicio da histéria da orientacao profissional, havia a preocupacio por parte dos orien- tadores em estabelecer relacdes ponto a ponto entre as profissées € as caracteristicas de personalidade da pessoa. Nesse periodo, pre- dominava a teoria trago-fator, segundo a qual se acreditava quea cada traco de personalidade correspondia um fator presente em uma profissdo. Foi uma época na qual varios testes psicolégicos foram criados com a finalidade de definir a profissio que melhor se enquadrasse a cada pessoa. Na ocasiio, dava-se muito valor a voca- ¢40, acreditando que ela fosse um chamado divino e inato. Atual- mente, se entende que voca¢ao nao é algo exclusivamente inato, nem adquirido, nao ha chamado divino que associe uma pessoa a uma voca¢ao e, com isso, a determinada profissio. O grande ganho nessa mudanga é que a decisio da pessoa Passa a ser respeitada. Nesse sentido, acredita-se que cabe ao sujeito a condicao de esco- lher e a escolha do futuro é algo que lhe pertence. O jovem que busca orientacao Profissional esta atrés do que Possa realiz4-lo no futuro, E, para compreender e analisar a com- Plexidade desse pedido, é necessério entender as diferentes insti- tuigdes nas quais essa pessoa estd alicergada, em especial familia, sistema educacional e sistema de produgao, Para o jovem, ndo ha futuro, ou mesmo uma profissaio, em abstrato. Ele quer ser um pro- fissional, real ou imaginado, com tais e quais caracteristicas, seme- lhante ou diferente de tal Pessoa, A escolha sempre diz respeito Digitalizado com CamScanr 18 ESCOLHA aos vinculos com os outros. Aspira a ser isso o1 7 essa ou aquela pessoa, das relagdes primarias ( 7 aquilo Segundo ou das relagdes secundarias (professores e iors) . ao mundo no qual quer ingressar. “Para um aise futuro nao é somente definir 0 que fazer, mas, fidimen Seino definir quem ser e, a0 mesmo tempo, quem nao ser”! eae jovem, nesse momento, esta na dificuldade em conciliar — ® pensou e ouviu falar a respeito de si mesmo. vod Lembro-me de um jovem que decidiu cursar computagio, mas ee nisso grande preocupacao. Dizia que nao podia cursar ciéncias da computagao porque firmara um pacto com seu itmao gémeo de que nao seguiriam a mesma profissao, € essa jé eraa escolha do irmao. Contou que 0s dois sempre rivalizaram muito, sobretudo quanto a vida escolar, € 0 trato entre eles tinha a fungo de separd-los, proporcionando maior autonomia a cada um deles a partir da universidade. Ora, isso trazia um efeito contrario: em vez de ambos conquistarem maior liberdade, a escolha do irmio le de escolha do meu paciente. Ele podia ser | de computagao. Assim, no final da nossa ‘éncias da computagao € aceitou recesse as razes da restringia a liberdad tudo, menos profissional avaliacdo 0 rapaz definiu-se por ci nversa com 0 irma\ lo que tinham firmado. ediante um processo psiquico grupais € yalorativos. Por esto amalge encarar uma CO! io. que esclas quebra do acord Todo jovem torna-se adulto m de integra¢ao de seus aspectos pessoais, isso, as inquietagdes relativas 20 futuro profissional madas a varias outras, sendo possivel conhecer sua profissional se a enxergarmos inserida na dinamica ger S atos para orienta? lescentes. Estes sao por exceléncia 0S candid i ; . o i io, realiza- yocacional, pois se supde que, 20 final do ensino médio, rea? rientagao rao a escolha sobre como prosseguir seus estudos. A 0 a 1 Bohoslavsky (1977, p. 53). Digitalizado com amScanr MARIA STELLA SAMPAIO LEITE 19 vocacional/profissional como um todo Promove um insight no adolescente com telagio a seu modo de pensar, sua identidade ocupacional, bem como a dinamica de sua Personalidade. O jovem que busca se orientar profiss pado com o futuro ¢ esta atrés de algo qu a realizd-lo, Nao sé os adolescentes estio ionalmente est4 Preocu- ie 0 faca feliz, que venha a procura da felicidade, Quantos artificios so usados em nome dela! A Paixao, a eterna juventude, a busca do paraiso... Para os adultos, 0 futuro é agora, mas, para o jovem, é um tempo potencial, carregado de esperan- gas e medos. Quando ele pensa em uma Profissio, acredita estar usando plenamente do seu livre-arbitrio e espera ter, com isso, cer- tezas e garantias sobre seu futuro. O adolescente considera que o unico problema est4 em descobrir dentro de sia ponta do iceberg. A escolha tem raizes no passado, desenvolvimento no presente e abre-se para o futuro, porém 0 jovem nao tem consciéncia disso. O futuro tem raizes naquilo que se é nas ordens institucionais fami- liar, da educacao e do mundo do trabalho. O futuro, para 0 adoles- cente, nao € algo abstrato, esta povoado de personagens, reais ou imagindrios, com tais ou quais atributos valorizados que acredita poderem ser conquistados seguindo as suas profissées. Esse futuro, vivido no presente, também se mostra repleto de temores relativos ao desconhecido. Para os adultos, o futuro é agora, mas para o jovem é um tempo potencial, carregado de esperangas e medos. Em meio a tantas turbuléncias proprias 4 adolescéncia, quan- do 0 jovem descobre o que estudar e em que trabalhar, escolhas entendidas como meio de aceder a papéis sociais adultos, dizemos que ele alcangou sua identidade ocupacional, sofrendo as mesmas operagées na conquista da identidade pessoal, uma vez que a iden- tidade ocupacional se desenvolve como um aspecto da identidade igitalizado com amScanr 20 ESCOLHA |, A ocupacao € 0 conjunto de expectativas de sssoal. : ! pe gio desses papéis pode ser conquistada a partir sun P conscientes ou inconscientes. Papel. A a. de SPecto, ‘Adolescéncia significa evolugao biolégica natural desde fancia até a maturidade. Adolescere quer dizer “jovem adultg, crescer e dor. A passage da adolescéncla corresponde a cert ntimero de exigéncias internas e expectativas externas que forcam 0 psiquismo do sujeito a um trabalho de Processamento € de reoy. | ganizacio. Desse processo dependera, em grande medida, toda g evolucao da personalidade e 0 posicionamento diante da familia ¢ ain. do grupo mais amplo. | Escolher uma profissdo é também um ritual de passagem Aescolha profissional é um dos rituais de passagem do jovem adolescente na nossa cultura. Por meio da profissao, ele alcanca a diferenciagao dos pais, afirma a pertinéncia a um grupo e assegura um lugar na sociedade. A escolha profissional é um dos rituais de passagem do jovem adolescente na nossa cultura, Os mitos sa we, ¢doem peracs, lendas ou historias criadas e contadas de gera- Beragdo que narram ee fendmeno, iVo, institu xplicam a origem de determinado iso ou costume social. Os ritos sao um Certo grupo com eramentos realizados pelos componentes de de trazer a Memoria alguns mitos Ritos e mitos expressam as Digitalizado com CamScanr MARIA STELLA SAMPAIO LEITE 21 contraditérios da vida, como nascimento, morte, adolescéncia e casamento. Em quase todas as culturas, hd um ritual de passagem da infan- cia para a adolescéncia que possui algumas constantes: passar do estado de natureza selvagem para a cultura e suas regras, o que im- plica muitas vezes um processo doloroso, arriscado para o corpo, e solitério; em algumas culturas, os ritos simbolizam purificagéo (semelhante ao batismo) e fecundidade? Na antiga Roma, o ritual de iniciagao salientava a caga, as brigas entre os grupos rivais, as corridas e a nudez. Havia, por exemplo, uma ceriménia em que a realizacao de uma corrida em volta da ci- dade se dava sem vestes, somente com uma tira de couro de animal amarrada na cintura. Correr era proprio dos escravos, enquanto 0 cidadao corria somente nessa ceriménia. Nesse ritual, a nudez significava no uma nudez absoluta, mas a auséncia da toga viril, a roupa por exceléncia do cidadao, a veste que os cidadaos de Roma deveriam adotar obrigatoriamente como definicao de seu proprio status, e que como tal era rigorosamente proibida aos estrangeiros eexilados. Apés a envergadura da toga viril, comegava um periodo de aprendizado, principalmente de ordem militar, com valores de coragem, arrogancia e até de ferocidade, mas sempre acompanha- dos da disciplina e da obediéncia? O ritual de passagem da crianga para a fase adulta foi retratado intensamente nas obras de arte grega. O centauro era uma versio mitolégica da iniciagdo: uma personagem que ja em seu aspecto fisico, meio homem e meio animal (cavalo), mostrava a pertinén- cia a dois mundos, o da natureza e o da cultura, em analogia ao mundo da infancia e ao da maturidade. O centauro era respeitado como mestre. Habil cacador, foi muitas vezes figurado com uma 2. Jeammet e Corgos (2005). 3 Fraschetti (1996). Digitalizado com CamScanr ae ESCOLHA “54 na ponta d rf eum. tendia também ‘ gal £08 € & habilidad, lho, 0 tre; © conhecimen nas co} Peticées Senvolvimento human Vida, a adolescéncia, tem de incorporar aspi a qual tem relacao de afeto. E 0 caso, a titulo nina que brinca de Usar os sapatos da mae ou do Menino que cura assimilar os gestos do pai. Fazendo assim, a ae om de se afastar de alguém importante para ela. Na medida em que ela introjeta, pde no interior de si aspectos do outro, a separacio pode ocorrer. ‘0 em geral e, de outra Pess0a com de exemplo, da me. Na adolescéncia, o individuo precisa separar-se dos pais e, para isso, assimila certos aspectos deles; mas é claro que, estando no auge de sua individuacao, ele processa, confronta as semelhangas e as divergéncias, a fim de desenvolver a propria identidade As identificacdes podem ocorrer com os ideais dos aie seat paternos e, as vezes, para diferenciar-se dos Pais, ° woe bn busca sua identidade se esforga por contrariar exatamel delos paternos. Digitalizado com CamScanr MARIA STELLA SAMPAIO LEITE 23 Qual é a diferenga entre orientagao vocacional e profissional? Ha diferentes maneiras de denominar o trabalho de auxiliar uma pessoa a realizar sua escolha profissional com rela¢ao ao futuro: orientagao profissional, voca- cional ¢ ocupacional. Nao existe propriamente um consenso quanto a nomeagdo desse trabalho entre os Profissionais que atuam nesse campo; cada posiciona- mento e justificativa tem suas razées. Alguns autores usam a expressdo “orientagdo vocacional” por conside- Tar que sua teoria, diferentemente das técnicas psico- métricas, vai a fundo na dindmica psiquica do indivi- duo, a qual é justamente do dominio do aspecto vocacional da pessoa. Hoje, um conjunto grande de Profissionais da drea prefere chamar esse trabalho de orientacéo profissional para evitar 0 uso da palavra vocagao, um termo entendido em sua origem como chamado divino, algo determinista, que salienta os as- Pectos inatos do individuo. Outros profissionais prefe- rem usar vocacional/ocupacional dando énfase ao foco no individuo e na profissio. O piiblico leigo que nos procura entende esse servico como orientagao vo- cacional simplesmente, e algumas pessoas chegam a se aborrecer com a expressdo orientagio profissional Porque empresta um sentido literal para 0 que supde ser uma abordagem que pretende fazer uma projegdo muito longinqua do futuro profissional do sujeito’ 5 Leite (2015, pp. 19-20). Digitalizado com CamScanr 24 ESCOLHA Atualmente, uma expresso que alude ao trabalho de orienta. cdo profissional tem sido usada: trata-se do coaching. Esse termo vem do inglés e quer dizer o processo segundo o qual uma Pessoa é orientada ou conduzida de uma posi¢ao A 4 B visando a um de- sempenho melhor. Qualquer tipo de intervengado com pessoas se prop6e a acompanhar, tratar ou orientar; a diferenca esta no mé- todo usado e na consisténcia da qualificacao do profissional. Essa atividade tem gerado muita confuséo porque seu campo de atua- ¢4o ultrapassou sua concep¢io original de ajudar adultos e recém- -formados a planejarem suas carreiras. Hoje em dia, ha coaching para qualquer dificuldade das pessoas com seu dia a dia: para os que queiram se orientar profissionalmente, coaching de mae de pri- meiro filho, coaching de casal em inicio de vida conjugal, coaching de pessoas apavoradas com tratamento odontoldgico, e por ai vai. Embora as vezes coaching seja usado como sinénimo de orienta- ¢40 profissional, prefiro manter o termo orientacao profissional/ vocacional para jovens em sua primeira escolha e para adultos em seu redirecionamento de carreira por considerar que essa pratica é eficiente na medida em que alcanga niveis profundos na andlise minuciosa da dinamica psiquica do sujeito, e isso se consegue pela acao de profissional com formagio sélida e especializada. . . Digitalizado com CamScanr

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