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‘Lom « pubtcagan dos dois ctigos que sequem com un geo! comum ~ ‘A Formagéo em Debole ~ 0 Revista CONVERGENCIA obre um espao nave: um ‘esporo pata o debate ene autores, sobre quesiées de poricular interese e dhudlidede no Vida Reigiosa, A FORMAGAO EM DEBATE: I. “Consideragoes Indignadas” sobre a Formagao Religiosa hoje Fr. Ctopovis M. Borr, OSM. S6 a oragho comunitdria néio basta para manter viva a chama da vida espiritual. Sem ritmo de oragao pessoal ninguém vai longe. E 0 desempenho é mediocre em toda linha. QUANDO SE BRINCA COM DEUS... Ainda ndo pude digerir a safda repen- tina de um jovem frade. E 6 para digerir? Nao é antes para vomitar? Fazer 05 vo- tos solenes, e nada menos que um més depois jogar tudo pelo ar... Nao € coisa para ficar decepcionado? Tudo bem que, diante da necessidade de dar a cartada definitiva, 0 jovem recue e, com toda a Iiberdade, tome o chapéu e v4 embora. F seu direito, ainda que isso nao deixe de decepcionar. Mas fazer os votos, nao digo j4 “em crise”, mas com a idéia de sair logo em seguida, isso € coisa para indignar. Brincadeiral.. De fato, uma palhacada! ‘Mas na qual fizeram figura de “palhagos” ou “otérios” Superiores, Formadores, con- frades, enfim todos os presentes na cele- Drago da profisso— uma celebrago na ‘qual todos, conttitos e edificados, presen- ciaram 0 que consideravam piamente “uma bela profissao de fé diante de nume- rosas testemunhas” (1Tm 6,12), Mas qual © qué! Mera encenaco de um jovem em ge depositavam as mais altas esperancas. isso que € revoltante. ‘Mas mais que a comédia (alias sem graca nenhuma), o que espanta é que 0 solene juramento dos votos definitivos, prestado “com a mio estendida sobre os santos evangelhos”, feito naquelas mise- réveis condig6es espirituais, demonstrou, em quem o fez, a mais absoluta falta de gravidade, mais, a extrema superficialida- de deespirito. Isso foi levar o proprio Deus na brincadeira. Mas “de Deus nao sezom- ba’ (GI6,7). ‘Como qualificar isso? Hipocrisia? Mas tém ainda sentido aqui palavras como perjério, sactilégio, escdndalo? Escandalo particularmente para os formandos mais jovens, testemunhas dos fatos. Coisa real- mente para instilar nesses “pequenos” o descrédito em relagao a seriedade da pro- posta de vida que estao apenas experimen. tando. “Ah, quer dizer que pode acabar convergéneia 37 assim, 6!” — pensardo eles. “Ai daquele do qual vem o escandalo!" (Mt 18,7). Como explicar uma coisa dessas? Ha- via algo de grave ou gravissimo que justi- ficasse um teatro desses? O terror, a forca, a morte? Para qué essa deslealdade, essa covardia, para nao dizer outra coisa, em “bom brasileiro"? 86 uma leviandade ex- trema pode comprometer as coisas mais sagradas da té alegando motives to ba- nais como: "Nao tive coragem de falar antes’, “Tive vergonha de decepcionar”, Mas, desfacatez para deixar a todos com “cara de bobo” ndo faltou. B nao faltou também 0 cinismo de decepcionar ainda ‘mais dolorosamente seus confrades do que se tivesse a honradez de sair em tempo com rélativa honra. ONDE O SENTIDO DO “MYSTERIUM” NA MODERNIDADE? Aliés (e aqui quero fazer uma primeira consideragao mais geral), me impressiona muito, na sensibilidade dos modemos, especialmente de suas maiores vitimas, os jJovens de hoje, a falta de sentido do "sa- grado”, do tremendum et fascinans, daqui- Jo que é venerével ¢ augusto, do que suptemamente sério. Nao me aconteceut de casar jovens, que, “diante do altar”, juraram amor eterno, eles também, “numa bela profissdo de fé diante de numerosas testemunhas’, e ao cabo de pouco anos, que digo?, de alguns meses, se separarem com a banalfssima explicacdo: "Nao deu certo"? Que valor tém aos jovens de hoje as ceriménias sagradas? Desconfio que seja um valor puramente estético e emocional. Nada mais. Querem curtir um momento belo e emocionante. Por isso, poem o mé- ximo cuidado no “visual” ¢ em registrar tudo com fotos e video. Quanto ao sentido moral e religioso, —a presenca do Divino, aco do Mistério, nticleo essencial da ce- lebragio — tudo isso vem tratado como mero “detalhe”... Nao existe mais, na sensibilidade mo- derna — secularizada, desencantada, banalizadora e mundana —o sentimento do “temor reverencial”, do “mysterium”. Isso tudo € considerado como coisa pré- moderna, dos tempos “mégicos”. Mas nés, que temos que ser “sal e luz”, devemos evantar a profecia contra-cultural: danem- se os modemos! Sua frivolidade cultural e religiosa nao deve significar absolutamen- tenada para um cristdo e, mais ainda para um Religioso, que tem, por profisso de vida, o dever de p6r 0 “espirito do tempo” sob julgamento e até de se contrapor reso- lutamente a ele, como manda Paulo: “Nao vos conformeis com esse mundo” (Rm 12,2). Agora, se formamas frades que, de- pois de mais de dez anos de acompanha- ‘mento religioso, continuam ainda imbuf- dos do “espirito do tempo” —e desse tem- po —, entao nao estamos perdendo fran- camente o nosso tempo? ‘Masniio quero perder mais tempo com 0 caso particular de onde parti. Teria ape- nas vontade de arquivé-lo com um “que o diabo o carregue’, se 0 espitito cristo nao me contivesse e ndo me obrigasse a en- tregé-lo a0 juizo de Deus, Voltemos, pois, sapiéncia, para tiraras ligdes dessas coisas, CASOS VARIOS: SINTOMA DE UMA SITUAGAO Pois, esse néo é um caso tinico. Talvez seja 0 mais chocante pela frivolidade es- pantosa com que se deu. Mas lembro-me de outros casos, de javens dos quais fui formador. O primeiro foi uns dez anos atrés. O rapaz saiu um ano depois da ardenacao, depois de ter realizado um ano de metes- rica e bem sucedida atividade pastoral, admirado por todos, aplaudido pelo “po- vo". No fim de um ano, certo dia, depois do almogo, pegou num pedaco de papel qualquer e af jogou essas inacreditdveis palavras: “Renuncio a todos os meus com- promissos de frade e de padre e parto par a outra.” Assinou e enfiou o papel debaixo da porta do quarto do Prior e foi fazer a sesta. Desse eito, sem o minimo sentimen- to da gravidade do que estava fazendo e sem o menor peso de consciéncia, Quan- do o Prior, estupefacto, viu o papel e veio me mostrar, fui ao quarto do frade, acor- dei-o e, mostrando-lhe o papel, disse: “Ir- mio, venha cé. Vocé pensa que abandonar a Vida religiosa e o Ministério é como mu- dar de meias ou sapatos? Vamos conver- sar a sério?” E assim comecou uma con- versa tensa, que, na verdade, nao levou a nada. Jé era tarde: o desfecho jé tinha sido decidido. Um oiutro frade, em cuja safda mevi envolvido, saiu cinco meses apés os votos solenes, depois de, numa assembléia, ter arvorado, contra colegas que tinham deixa- do, seus altos protestos de fidelidade, afir- mando que, quanto a ele, os presentes po- diam estar seguros: pois, “ainda que cho- vesse canivete”, ele jamais iria desistir... Sei que a situagao nao é exclusiva da minha Ordem. Casos semelhantes aconte- cem em todas as Familias religiosas, mas- culinas e femininas. Aqui, se sabe de um jovem que, mal recebeu o diaconato, mu- da inopinadamente de diregdo. L4, uma joven, ndo passou um ane dos votos per- pétuos, j4 pede dispensa, para espanto da Madre provincial. A situago parece bas- tante geral. Sob o impacto dos casos que me tocaram mais de perto, jé tive vontade de escrever para dizer trés ou quatro ver- dades, nuas e cruas, sobre a VR e a forma- 40, verdades que vinham se impondo & minha reflexdo e que — me parecia — se deveria novamente saber e levar mais a sério na formaco. Mas acabei cedendo a rotina dos ritmos da vida ordindria. ‘Contudo, o caso mais recente me pare- ceu téo chocante e ao mesmo tempo tao sintomético que resolvi falar. Também porque me parece que silenciar jé é mos- trar-me conivente com 0 curso que a for- macdo esté tomando e de que participei porlargos anos. Depois do ultimo caso, meu Provincial escreveu, desanimado: “Vejo tudo escuro em relagdo & formagao que estamos dando aos nossos jovens”. Por isso resolvi meter minha “colher de pau” nes- sa questo, nem que fosse para provocar ‘um debate um pouco mais sustentado em toro de uma problemdtica tao decisiva. SERA O TIPO VIGENTE DE FORMACAO? Por que, pois, ecomo acontecem coisas assim? Por que jovens fazem a profissao e/ou se ordenam e pouco tempo depois, entram em crise e saem? Pior: por que fa- zem 0s votos perpétuos e pouco depois de retiram? Pior ainda: por que decidem se ‘consagrar através de um compromisso que tem toda a forma canGnica e littirgica da definitividade, mas sem garantias subjeti- xvas de “segurar” o empenho solene? Refletindo sobre esses casos e outros semelhantes, veio-me obstinadamente & cabega a imagem do edificio “Palace II”, da Barra da Tijuca, aqui do Rio, que co- mecou subitamente a desmoronar e que finalmente foi implodido, Seré que nossa formagao néo é, do mesmo modo, uma construgao mal feita? Levantada com materiais falsos, sem consisténcia? Em cima de fundamentis cedicos? Quem res- ponde por esse desabamento? Nao é um pouco assim 0 caso da formagao? Tal si- tuago nao nos pie a tados e a cada um em questo? Como € que essas safdas nos apanham todos de surpresa? Seré que com tantos anos de corlvivéncia ainda no co- 39 convergéncia nhecemos nossos jovens e aquilo de que sio capazes? Pondo-me a mim mesmo em questo € tentando responder ao desafio, quero falar agora de algumas evidéncias, que sao, na verdade, antigas, mas que precisam ser relembradas e novamente postas em seu lugar de honra. A VIDA ESPIRITUAL EM PRIMEIRO LUGAR A primeira delas 6 0 primado da vida espiritual na VR. Serd que é preciso ainda justificar isso? Vale para a VR o que Paulo diz da Igreja: “Quanto ao fundamento, nin- guém pode colocar outro diverso do que foi posto: Jesus Cristo” (1Cor 3,11). Todos no sabem disso e nao estdo de acordo? ‘Mas no parece que isso é algo de efetivo na formagao. Endo me diga que isso nao precisa re- petir, que todo o mundo sabe; que essa é uma verdade elementar, que isso deve ser dado por descontado. Nao senhor: isso nunca pode ser dado por “favas contadas”, vista nossa tendéncia “natural” de nos fe- char a Cristo e aos valores do , Nao, meu imo, as coisas mais essenciais da {6 nunca podem ser dadas por adquiri- das para sempre, como “pacifica posses- sfo”. Temnos que conquisté-las e reconquis- ‘é-Jas cada dia contra o “mundo” €o “peca- do”, cuja forca continua atuando em nés. Precisa voltar a afirmar que o funda- mento € 0 eixo da VR é uma relacio “teo- logal” e nao eclesial, pastoral, social ou sei 140 que mais, Isso tudo faz certamente parte integrante da VR, mas é coisa que vem depois. AVR se ancora em Jesus Cristo e em miais nada, A “consagragao” se faz diretamente a Deus e a mais ninguém, ainda que mediada pela Igreja eno quadro ‘de uma Familia religiosa. O juramento dos votos é a Deus e nao 4 Comunidade ou & Ordem ou ainda a Igreja. O que significa tudo isso na pratica? Sig- nifica simplesmente isto: espiritualidade, Espiritualidade como cultivo da fé, da re- Jaco pessoal com Deus. Sem isso nao se vai longe. Se cai na primeira crise que vier pela frente, Se nao for na primeira, vai ser nna segunda ou na terceira. Ora, se nao se funda af a proprio compromisso religioso, se afunda — que ddvida! Por isso mesmo, sem um ritmo consistente de vida espiri- tual, feito de oragao, escuta da Palavra, me- ditago, sacramentos, a VR nao agtienta muito tempo. Porisso mesmo, aIgreja, em sua sabedoria milenar, vinculoua profissao solene a reza da “Liturgia das horas”. De fato, antes que alguém “perca a vocagao”, vai ver, petdeu antes 0 espirito de orago. Nao acredito em frade que nao reza, E nao me venham com a historia de que a oragao nao ¢ tudo, que pode ser hipocrisia farisaica. Isso nao depée contra a ora¢ao como tal, mas contra suas deformagies. A oracao farisaica nao impediu Jesus de ser um grande orante. A verdadeira oragao rise da falsa oragao, como diria Pascal. Quando falo em espiritualidade, enten- do aquifalar especialmente da oragio pes- soal. Mais: penso em “autonomia espiti- tual”, Refiro-me a um frade capaz de ter um ritmo de ora¢ao pessoal intenso e pr6- prio. Penso num frade que é capaz de ter uma disciplina minima nesse campo, O que percebo € isso: no tempo de for- ‘magio, 0 frade reza sim, Mas é como que carregado pela comunidade, por seus ritmos, sob o olhar vigilante do Mestre. Quando se insere numa comunidade “not- mal", ainda vai se essa comunidade tem um bom ritmo de oragao, uma oracao de qualidade. Mas, se nao tem, pobre do jo- vem frade, se no criou o hébito de “orar em segredo no quarto"! Disse expressa- ee mente “hébito” no sentido preciso de um costume pessoal e quase espontaneo de se por em oracdo de modo disciplina- do e regular. Se a formacéo inicial nao “AUTONOMIA DE VOO” Ha poucos anos atrés, o Pe. Geral me pediu fazer um trabalho com um grupo internacional de frades que tinham termi- nado a teologia e estavam para voltar para suas provincias. Tratava-se de ajud4-los a Tealizar sem maiores choques a passagem de uma casa de formacao para uma co- munidade “normal”. Um dos exercicios era que cada um construfsse uma “regra pes- soal de vida", colocando nela os 4 ou 5 compromissos vitais que seriam seguidos a qualquer o custo, sob pena de por em risco a vitalidade da prépria consagracao. Lembro-me que nao foi fécil fazer ver a todos como era importante que cada um estabelecesse momentos quotidianos de oracdo pessoal e meditacao da Palavra e certa regularidade na participagdo & Euca- ristia e na Confissao, —regras a que depois ‘obedecesse de maneira séria e escrupulo- sa, Sinceramente, temi por seu futuro. Ofato é quea maioria das Comunidades hoje tem um ritmo de oracao, nao digo de- ficiente, mas insuficiente. E até se com- preende: sd0 os intimeros trabalhos, a difi- culdade deacomunidadese encontrar, etc. ‘Mas isso é uma razo a mais para comple- tar a propria nutrigo espiritual com uma consegue, através de exercfcios repetidos, de praticas renovadas, criar esse “habi- to” de oracao pessoal, seu futuro religioso fica comprometido. EM ESPIRITUALIDADE alentada oragao pessoal, isso de “entrar no quarto, fechar a porta atrés de si e orar 20 Pai que esté 14, no segredo” (Mt 6,6). Sem isso, somente oragao comunitéria nao basta para manter viva a chama da vida espiri- tual, Se um frade no tem um ritmo pré- prio de oracao, nao vai longe. Aisso chamo de “autonomia de voo” no campo espiri- tual. Sem tal autonomia, que lhe permite ganhar altura, o Religioso se esborracha contra um obstaculo qualquer, mais cedo ‘ou mais tarde. E se nao sair, € por sorte ou por inércia. Mas, sem divida nenhuma, teré um desempenho religioso mediocre em toda a linha: fratera e apostélica. ‘Mas o que se vé concretamente hoje? Vé-se o frade fazer seus votos e depois nota-se seu “Livro das Horas” abandona- do num canto, esperando o préximo en- contro de oracao da comunidade. Dé para acreditar? Encontrei frade de votos sole- nes que sequer sabia que tinha a obriga- ao (na verdade, € privilégiol) de rezar 0 “oficio” em nome de todo 0 Povo de Deus. E nao € de se admirar se tal frade, a qual- quer momento, ache a caminhada religio- sa “sem nenhuma graca”, e mande tudo para o espaco. VIDA DE COMUNIDADE: IDEAL E IDEALISMO Ligando-me ao ponto anterior, quero aquifazer algumas criticas. Bisso em relacdo a dois valores da VR: a Comunidade e a Missao. Nao 0s quero criticar como tais, mas 20 fato de que muitas vezes eles tormam 0 Jugar central ou axial da vida espiritual. Comego pelo primeiro: a Comunida- de. De fato, freqiientemente pée-se o fun- damento da VR na fratenidade. Chamo isso o “fundamentalismo da Comunida- de”. O pior 6 quando essa ideologia co- munitarista toma a forma do “romantis- ‘mo comunitério”. Vive-se entao sonhan- do e buscando a materializagao do “co- mo ¢ bom e agradével viverem juntos os irmaos..”. tonvereéneia al E preciso aqui ter clareza teol6gica. A comunidade ¢ importante, é vital. Mas guardemos a “hierarquia dos valores”. A Comunidade nao ¢ e nem pode ser a base da VR. & antes um valor fundado e nao fundante. Nao é valor origindrio, mas deri- vado. & galho ou fruto, nao raiz. Foi tam- bémailusio das revolugdes modemas, que quiseram fundar um “mundo de irmaos”, prescindindo de um Pai. Vé se pode! Desse fundamentalismo as vitimas pri- vilegiadas so aqueles jovens que entram na VR alimentando no coracdo 0 “rornan- ce da comunidade”. Pois quem tem alguns anos de VR sabe das virtudes e dos limites da vida comunitéria. A comunidade ¢ deve ser um apoio, mas s vezes também um desafio e uma prova, Enisso mesmo ela nos é titil e nos forma. Jodo da Cruz dizia que o religioso deve ver em cadacom- panheiro de comunidade alguém manda- do por Deus para experimenté-lo, lapida- o, melhoré-lo, Do realissimo mas unilate- ral mote (se nao me engano, de S. Joao Berkmans): “Comunidade — minha ma- xima peniténcia”, passou-se ao outro ex- tremo: “A comunidade: meu idflio e meu sonho.” A Comunidade é “uma” razdo da VR, mas nao “a” Razao. Mas se se pe toda a esperanga da VR na Comunidade ou Fraternidade, corre- se risco de criar falsas esperangas e dar com decep¢des dolorosas. Como aconte- ceu com aquele frade que acompanhei em seu caminho formativo e que saiu um. ano depois: sua alegacao era: “A Comu- nidade néo me apoiou. O Provincial me abandonou”. Se pomos a Comunidade como valor maximo, criamos frades ima- turos, dependentes dos oiitros e que vi- vern frustrados porque nao encontraram a “Arvore de ouro” de seus sonhos — a fraternidade. Nao se vé que o “eis como é bom e agradével viverem unidos os irmaos” e 0 “vede como eles se amam” tem na base algo de mais profundo que a simples sim- patia humana, que o simples sonho de “to- dos se amarem”. E uma vida, em primeiro lugar, voltada para a “tnico necessério’ Depois, é uma vida feita sobretudo de ser- vigo humilde, de rentincia ao proprio ego- fsmo, da busca do interesse do outro an- tes do préprio, do seguimento de Cristo e de amor ao Evangelho. E voltamos aqui a Teencontrar a vida espiritual: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e de sua justica” (Mt 6,33). AMISSAO E SEUS EQUIVOCOS Outro equivoco é a famosa e pouco esclarecida Missio. Vai-se para a VR, vi- vve-se a VR com aquela extrema boa-von- tade de “ajudar os outros”: evangelizar o mundo, libertar o pobre. Analisando, hd trés ou quatro anos, uma sondagem da CRB sobre as motivacoes que leva- vam jovens Religiosas e Religiosos & VR, notei que uma das motivagées princi- pais era a “libertagao dos pobres”. Mui- to bem! A misséo uma dimensao cons- titutiva da consagragao, como viu mui- to bem a teologia latino-americana da VR. Aquela motivagao jé é um bom co- meco, mas néo se pode evidentemente ficar af. Que 0 “servigo ao povo” e a “opgio pelos pobres” sejam integrantes da Con- sagragao (diria mesmo do Cristianismo) {sso é ld indubitavel. E nisso fazemos ain- da tdo pouco! Mas sustentar que constitu- em o fundamento da VR ¢ um exo. Vi voc amarrar sua vida ao “povo”, ao “po- bre”, e saberd o quanto é castencialmente seguro esse gancho, Verd que precisa de qualquer coisa de mais s6lido, de uma base mais forte e mais funda para segurar seu compromisso de Consagracao e Missio. Lembro-me que, num semindrio lati- no-americano em que participei sobre “VR e opcao pelos pobres", afirmava-se a toda ahora que os pobres consttufam a base e centro da VR e da Igreja em geral. Opus- me com insisténcia, até parecer chato, a esse lugar-comum equivocado e contu- maz. Dizer que 0 pobre ndo € 0 eixo cen- al da VR depotia contra o Povo oprimi- a “opedo pelos pobres”? oul (© qué! Isso s6 salva a “opcdo pelos pobres” das ilusdes, das superficialidades @ dos chaves. Nao se libertam os pobres com discursos inflados e sem consistén- cia, como mastrou a tragédia do “socialis- ‘mo real", Alguns até parecem que “preci- sam’ dos pobres para justficar sua vida e sua consagracao. Se os pobres desapare- em como pobres, nao saberiam mais 6 que fazer de sua vida. Max Weber disse ‘bem: Muitos dos que vivem para os po- bres, acabam vivendo dos pobres. O VALOR DA CASTIDADE PARA OS DIAS DE HOJE Uma segunda verdade que é preciso rever na formacao da VR é a castidade. dificil falar com 0 tom adequado numa matéria téo delicada. O fato é que hoje nossos jovens sabem tudo de sexualidade, mas séo extremamente ignorantes em matéria de castidade, que 6 0 modo cris- t&o de lidar com a sexualidade. Arvora-se total desembaraco ou desinibicao ao se fa- lar de sexualidade, mas se more de vergo- nha de falar de modo conveniente do va- lor evangélico da castidade ou do celibato. Ora, 0 que éa gramética para a linguagem 6a castidade para a sexualidade. Sem isso, sexualidade néo passa da bocalidade exi- ida pelos nossos jomais populares ou da panalidade da literatura pornogréfica de nossas bancas de revistas. ‘Agora, como se motiva hoje, na for- magao, 0 celibato? Aprende-se que é para ‘yiver numa nova familia, que € a Comu- idade. Ou que € para se dedicar ao Povo. ‘Mas, aqui como paraa VR em geral, cons- trdi-se sobre um falso fundamento, ouum fundamento superficial. Aqui também valeo paulino “de fandamento nfo se pie outro a nao ser JC”, Fora de uma forte motivacao de fé nao tem voto de castida- de que resista para valer. Aqui estamos no campo da mistica, a seis mil pés aci- ma do utilitarismo comunitério e do pragmatismo pastoral. Quando leio os admiréveis “elogios da virgindade" ou “do celibato” dos grandes Padres, da Igreja, como Tertuliano, Cipria- no, Ambrdsio e Agostinho (no Ocidente) Atanésio, Basilio, Gregério de Nissa e Joao Cris6stomo (no Oriente), fico pensando: ‘Quem hoje faz uma coisa semelhante na intengao de nossos jovens, para atraf-los aosaltos ideais evangélicos, qual o dacasti- dade consagrada? E como nao aproveitar das orientagSes extremamente préticas para o cultivo do celibato desses Pais e Educadores na fé? E certo que o seu dis- curso esta em parte marcado pela cultura de sua época, mas nao se pode negar a autenticidade do “espftito” de sua mensa- gem, a sua forca de conviceao e, em parti- cular, o nivel de seu estilo, elevado e grave a0 mesmo tempo. Mas nesse campo, onde o farisafsmo campeia e um falso pudor obriga a uma linguagem apenas alusiva, € preciso reagir e falar claro, sem esconder 0 jogo. O fato é ‘que quando sai um frade, vai-se ver. jtinha uma mulher esperando. Foi assim com qua- se todos 0s casos de que tomei conheci- mento. Sei de excerGes, mas que s6 confit mam a regra geral. Quando um frade diz, que esté em crise, em 90% dos casos, vocé esté na pista certa se segue a consigna dos detetives: “Cherchez la femme" (ou “Cher- chez ’homme’, para 0 caso da Religiosa), Toavergéenecia & 44 MATURIDADE EMOCIONAL E VIGOR ESPIRITUAL Longe de mim fazer, nesse campo, qualquer concesséo ao machismo, jogan- do toda culpa na mulher. Além deseruma injustica e um erro grosseiro, no qual inci- diu a velha moral da castidade, seria sinal de ingratido com as amigas que tenho e as quais devo tanto, A questo principal est no frade mesmo, que devia, mas nao soube, se haver corretamente com essa relagao importante. Isso por falta de matu- tidade psicolégica e espiritual. (Repito: isso vale, mutatis mutandis, para a mulher re- ligiosa em relagao ao vardo), E nao me venham com essa de que esta é uma visdo superfici de jé antes estava em crise; que a mulher 86 veio depois, como conseqiiéncia. E ver- dade. Mas nao pelas razies que se adu- zem: que o frade nao estava bem na Co- munidade e em seu trabalho com 0 Povo. Mas ¢justamente pelo fato de queo frade se encontrava enfraquecido em sua co- munhao com Deus. Pois uma crise afetiva 86 derruba um frade se o encontra jé no chao em sua vida espiritual, Tirando os casos de falta evidente de vocagao para 0 celibato (mas para saber isso nao precisa de anos e anos de VR), na maioria dos casos, nao digo todos, quando alguém pensa em largar a VR e o celibato, ¢ por- que jé abandonou o cultivo da espiitua- lidade, a vida de oragao. Se um frade nao tem um grande amor a JCeao seu Reino, oamorde qualquer mulher facilmente lhe roubaré 0 coragao, Agostinho confessa: Nao ignoro 0 quanto pode sobre o cora- do de um homem o amor de uma mu- her, mas sei também que pode infinita- mente mais o amor de Deus e sua graga. Estou convencido de que particular- mente para essas crises vale o que Jesus disse uma vez de certos espiritos: Que s6 se vencem “com a oragéo” (Mc 9,29). Mas pouco adianta rezar durante a propria cri- se (e nem vai conseguir fazé-lo), se esta 0 encontra com profunda anemia espiritu isto 6, se antes o frade no se tiver acostu- mado a medir-se com Deus, como Jac6 com 0 anjo (cf. Gn 32,23-33). Essa é a crise mais dificil, porque, por sua natureza, é em geral vivida em grande solidéo moral. Quem encontra um cora- go amigo, bastante maduro e espiritual, para discernir situagGes assim delicadas? Quando vocé se frustra na Missao, quan- do, por exemplo, 0 povo o decepciona, vvocé sempre pode encontrar na Comuni- dade um apoio, ou pelo menos uma compensagao. Igualmente, quando vocé se frustra com a Comunidade ou com a Congregagao, 0 trabalho com o Povo e sua amizade podem ser de grande ajuda para superar aquela frustrago. Mas quan- do vocé se envolve afetivamente e mes- ‘mosexualmente com uma mulher, af nao tem Comunidade ou Povo que valham. Muitas vezes podem e devem ajudar, mas tantas outras aparecem como obstéculos e nao apoios. Aqui sé tem uma relacdo que garanta o éxito da operago: a radica- lizago da relagio teologal. Vocé pode achar isso muito mistico ou espiritualista. Mas é que talvez se é igno- rante do que vale 0 Espirito de Deus e do que € capaz. Ser que ndo ¢ isso mesmo que prova a vida dos santos e santas, como. Paulo, Francisco, Teresinha, Maria de Mégdala e, mais ainda, a outra Maria —a de Nazaré? Seria isso excessivo idealismo? Mas o Religioso nao faz profissao de bus- car a santidade, a perfeicao do amor? Que digo: o Religioso? Mas isso vale para todo e qualquer cristao, como relembrou 0 Vaticano I, no belo e esquecido cap. V da Lumen Gentium, intitulado justamente: ~*Vocagéo universal a santidade”. TRABALHO SERIO: FORMA DE POBREZA Mas, nessa revisio geral da formacao para a VR, hé ainda dois ou trés pontos para colocar. O primeiro é sobre o traba- Iho. Seré que se formam frades para o tra- balho, entendido como empenho, como Ocupagéo que se leva a sério? Ou se cria gente acomodada, ociosa? F isto que pre- ocupa: formam-se frades que, uma vez de- finitivamente integrados na Ordem, encos- tam-se na Comunidade e, “com a comida e a roupa passada”, vo tocando uma vidinha absolutamente pequeno-burgue- sa e mediocre. Quando falo de uma “formacdo para 0 trabalho” nao entendo necessariamente 0 trabalho produtivo, Nem ainda de ganhar a vida com uma profisséo remunerada. ‘Tudo isso € opcao particular, seja do indi- viduo, seja de uma familia religiosa. Falo, mais fundamentalmente, de “profissiona- lismo”, de ser o que se é, de levar a sério.a propria profissao religiosa. E isso que pre- ccisa inculcar no formando: um minimo de “consciéncia profissional”. Ora, um religioso é um verdadeiro “pro- fissional’ em primeiro hugar, um “profissio- nal do Evangelho". Bisso quese tem odirei- to de esperar dele. E a obrigago de quem fez “profissao” religiosa: a de viver coeren- temente seus votos, Tem que viver realmen- te empenhadbo nisso, com toda a “compe- téncia’. Portanto, antes de tudo, que viva como frade, que reze e dé exemplo de smo. Depois, e mais concretamen- te, éum profissional de uma atividade que seja til e produtiva. O tipo de trabalho pode variar: pode ser trabalho intelectual ouartistico, trabalho pastoral ou ento tra- balho manual, néo importa. O importante é que se ocupe, que se dedique a qualquer coisa de util, que se aplique deveras a uma atividade que sirva aos irméos, Essa é também a primeira forma de po- breza: viver trabalhando e, se possivel, do prOprio trabalho, Frades parasitas sfio os da pior espécie, que o manso Francisco en- xotava da comunidade, aos gritos de “Ir- ‘mio Mosca”. Incrivel: o frade que nao se empenhava em nada na Comunidade ou na Pardquia, quando sai, tem que pegar firme no batente: a vida obriga, quando nao 6a mulher e os filhos que arrumou. [Nesse ponto, a Vida Religiosa ea Vida Pas- toral tm ambas uma particularidade em relagdo a vida “no mundo”: elas ndo con- tam com constrangimentos sociais e eco- némicos, mas s6 com estimulos morais € espirituais. Agora, se um frade é religiosa- mente remisso, se no tem convicgao pes- soal se nao encontra uma Comunidade ‘ou um Superior que Ihe sirva de aguilhao, ento se afunda no aburguesamento mais parasitério. ‘Sabo-se que a formacdo hoje se centra no estudo, sobrando pouco tempo para o trabalho (dentro ou fora da comunidade), Gasta-se um rio de dinheiro para a forma- G40, sobretudo quando se trata de frades clérigos. (Meu ecOnomo provincial calcu- a que a formagéo, desde 0 2° grau, de um frade de votos solenes vem a custar perto de 100 mil délares) E 0 pior é que o frade, sustentado assim de modo téo paternalis- tico, cresce com uma mentalidade quase infantil a respeito da vida e do que cus- taem termos de trabalho e ganha-pao, E depois de todo esse investimento, quando se espera que o frade enfim pronto, va ajudar a “carregar o peso eo ardor do dia’, eis que se manda, deixando os trabalha- ores das primeiras horas com todo o ser- vigo. Pior: com uma petulancia incrivel e uma exigéncia irritada, pede ainda um “di- nheiro inicial” — e nao é pouco — para recomecar a vida... Mas néo tem qualquer coisa de errado em tudo isso? Nao se teria que mudar esse ercurso? Se os efeitos so esses (certo, nao convergéneia 4 coneerg Ono fn 46 sdo s6 esses), qual 6 a safda? Quem sabe? O certo é que essa que esté af nfo parece adequada, a ver os frutos que produz. Nao se deveria exigir, na formaco, um empe- nho moral mais sétio e exigente em rela- do as atividades comunitérias, pastorais ou culturais, como medida formativa e como forma de contribuigao a “reprodu- do ampliada” (para falar como certos eco- nomistas) do préprio Instituto. A EXIGENCIA DA DISCIPLINA Por fim, nao teriamos que repensar 0 conceito de disciplina na formagio? Serd que no temos sido vitimas do “permissi- vismo pedagégico” de nosso tempo e que esta sendo seriamente revisado, em vista dos efeitos contraproducentes que esté produzindo? & s6 ver as familias, como educam os filhos: fazern-lhes todos os gostos. Os filhos entiio tomam-se tiranetes de seus pais. Dessa matriz pedagégica saer cidadaos egoistas e pouco socidveis, pessoas problematicas e dependentes, gente sem um caréter forte e com uma subjetividade tremendamente fraca, que se abala diante da primeira crise. E ei-los cor- rendo para 0 colo da maméee parao bolso do papai... Nao é um pouco (ou muito) disso que esta sucedendo nas nossas casas de for- magio? Faz-se de tudo para “segurar” os ‘meninos no convento. Tanto mais que as vocagées rareiam... Mas ndo se deveria por 0s jovens & prova, como faziam os antigos Mestres, sobretudo antes dos votos defini- tivos, para ver se “agiientam o tirdio"? Mas parece que temos pena deles: Para qué, coitadinhos? E a correo? A minima pos- sivel, que 6 para ndo criar Religiosos recalcados... As vezes me pergunto, brincando, se néo faz falta aqui a velha “pedagogia do chinelo”, com que as boas mdes antigas criaram — e muito bem — seus filhos e filhas. Alids, muitas manhas ou “frescuras”, ‘como se diz. hoje, eram corrigidas com aqueles métodos simples e sabios, mas que se mostraram tanto eficazes. Nao se trata de voltar ao antiquado “método do bas- tao”. Penso aqui apenas no “chinelo” — um instrumento mais humilde, domésti- co e mateo. Exatamente na linha do povo que sabe quando diz: “Patada de cho- ca nao mata..” Mas certo é que esse método criava “caréter”, o que a pedago- gia modema ndo sabe nem o que é, para dar valor somente a “liberdade”, sem sa- ber que esté assim pagando pesado gio ideolégico ao malfadado liberalismo. OBEDIENCIA E DISPONIBILIDADE Enem falo ainda do frade que, apesar deseu voto de obediéneia, quer viver como eonde bem lhe apraze vé o espantalho do autoritarismo em qualquer intervencao do Superior. Mas quando um frade desses deixaa VR, ei-o feito um cordeirinho, todo submisso a0 patra, no trabalho, e & mu- Ther, em casa, Aliés, aconteceu que, um frade, que superior nenhum podia aman- sar, foi amansado, e muito bem, por uma mulher. Deus sabe 0 que faz.» E certo que precisarfamos restaurar 0 valor espiritual da obediéncia, além de sua importancia funcional, que 6 a de fazer andar qualquer instituigao que queira manter seu sentido de corpo, realizar sua missdo a contento e garantir seu futuro. ‘Todos sabem como é dificil hoje encon- trar quem aceite ser superior, Pois seu cargo parece ter-se reduzido & miserdvel fungdo de “descascar abacaxis” ou de fa- zerde “guarda de transito”. E quando quet tomar alguma meaiaa mass torte, encon- tra-se com as m4os amarradas pela “indisponibilidade” moral dos frades. Lampem msso a situagay se apresema anémala endo pode continuar muito tem- po sem exigir alguma mudanga. CONCLUINDO Essas sao algumas consideragdes que me vieram 4 mente, movidas em parte pelas saidas decepcionantes de alguns jovens frades, Sem diivida, esto marcadas pelo pathos do momento, mas espero, como recomenda (e distin- gue) meu mestre S. Tomés, que néo te- miha falado ex passione, mas sim cum passione, Isso sim. E nao tinha razio? Julgue voce, Mas, o que mais importa aqui é centrar a discusséo no tema e nao nas pessoas. Disse. ‘> II. Comentario as Consideragoes indignadas de Frei Clodovis Boft* Fret Prupente Nery ~ OFMCar Como jurar solenemente sobre 0 evangelho — os votos — se nele esta escrito, explicitamente, que nao devemos jurar, de forma alguma, jamais? 1. INIRODUGAO OU: DAS GRANDES COISAS & PRECISO TOMAR DISTANCIA PARA VE-LAS BEM? Hi alguns meses, circula em muitas comunidades religiosas do Brasil e do ex- terior um artigo de Frei Clodovis Boff sob o titulo: Consideragdes indignadas sobre a ‘formagiio para. Vida Religiosa hoje, entre- ue agora ao grande piblico pela revista Convergéncia, Trata-se, como ele mesmo 6 expressa, no principio e 2o final de seu escrito, de manifestar sua inquietude em relagdo ao fato de jovens abandonarem a vida religiosa e o sacerdécio pouqulssimo tempo depois da emissdo dos votos ou da ordenacao sacerdotal. O problema é grave e, exatamente por isso, exige de nés um debate critico e criterioso, Indignagdes s4o protestos contra algo que fere e avilta. les sao freqiientemente desarticulados, mas nem por isso menos criveis e verdadeiros. Esta é a sua forga, mas também a sua fragilidade, Pois nio basta nomear o problema. E necessério buscar as suas causas e, mais ainda, as vias de sua superagao. De dentro de uma pro- funda dor, como de dentro de um nevoei- 10, 05 olhos nunca véem muito longe. Dis- sipada, porém, a borrasca, cessadas eseca- 1 Dedico este artigo a meu irmao Liicio. Ble foi rligioso e sacerdote. Sua bondade para com as pessoas, sobretudo as criancas, sua alegria de viver e gratidao para com Deus e sua simplicidade testemu- nham-me: ele ndo 6 apenas o esposo de Aparecida, 0 pai de Jodozinho e Mariama, mas um irmao para muitos e, sobretudo, um homem que continua amando Jesus Cristo: de todo carago. 2 Kahlil Gibran, Para além das palavras, ulinas, Sao Paulo, 1985, p. 48.

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