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Ree eed SOCIO-CULTURAL EM CONTEXTO ESCOLAR Vitor Manuel de Almeida (© Vio Mansel de Amaia (© do peti, ul ani. (© dapreseneegto apes Paap, La Tuco Mada Sic Caroma Ese Cnmos pr cmp da Coleg: aueopa0@ Farmagio ‘CoordenadordeClegée-JndoM.Parastova ‘utr Vitor Manoa do Almelo vio do Test Mii ne Design «Paginas: Marcia Pres ImgressioeAcabament:ublsa \sancsre-gr-es60.0¢9 Depésto Lega 076810 Eig, Derenbroge 208 2 Eigdo Margode 010 Nennume pate dest putas pode ser vans 0 erate por qualquer meio ou forma some suorzato rove Tago 0 ates arervado pot oigdes PAGO, LOA Eton Potro. Patacho ua do caléga, Sab Mangualde PORTUGAL. ua Bart de Josue Caraga, 12 Sora da amore 2620-08 Romade Pomtucat tines pedano@petegnpt ‘weuelcoespedauape Prefacio Na obra agora publicada, que tenho o prazer de prefaciar, Vitor Manuel de Almeida sistematiza dados e fornece pistas que per tem uma adequada compreensio do papel desempenhado (ou a cdesempenhar) nas escolas pela figura do “mediador” sécio-cultural, figura de emergéncia recente no universo escolar, em particular nos estabelecimentos de ensino situados em bairros ditos “problemdti- cos" ou “dificeis’. Este trabalho inclui uma investigagio empirica que assume, do ponto de vista metodoldgico, a modalidade de um estudo de caso de uma escola situada num bairro “periférico” da Grande Lisboa, no {qual se verifica uma particular concentraco de populacées oriun- das da imigracdo africana. A escola que é objecto do estudo de caso tem jé um largo e reconhecido historial positive na tentativa de proceder a abordegens educativas que respondam a esta situacao, que tem vindo a colocar aos sistemas escolares problemas dificil- mente resoliiveis. O estudo destaca-se pelo seu rigor conceptual € metodolégico, pela clareza e pela siia pertinéncia, quer para a comunidade escolar e profissional, quer para gestores e decisores politicos, quer ainda para a elucidacao critica da problemética da “mediagao” em contexto escolar. Com a criagio de sistemas escolares de massas, de acesso uni- versal, obrigatério e gratuito, por periodos de tempo cada vez mais longos, a escola passou a viver a crescente heterogeneidade de pi- blicos como uma patologia para a qual seria possivel encontrar remédios sem colocar em causa a cléssica “gramética organizacio- nal” que marca a escola da modernidade. As exigéncias de assegurar fim ensino “simultaneo”, baseado na compartimentagao disciplinar, Idirigido a turmas em que o referencial é 0 aluno “médio”, traduzem- | se por uma uniformidade interna e por modalidades de divisio ¢ de fexercicio do trabalho, por parte dos professores, que desarmam a inst- tuigio escolar perante a diversidade de piblicos, situando-se muitos Jes longe da cultura escolar. Estas dificuldades em estabelecer uma ™omunicagao” fecunda e funcional entre a escola, os seus alunos € ‘as suas comunidades de pertenca (familiar ou étnica) foram substan- Jcialmente agravadas com a transformagdo de uma escola de elites | numa escola para todos, resultante de medidas de politica educativa, |de fluxos migrat6rios, de processos de concentragao de problemas {soci 6rios especificos. Este conjunto de factores, externos Je internos & escola, contribui para alimentar e agravar processos de | dualizagao social e de segregacao escolar que esto no cerne daquilo | que, em termos comuns, se tem vindo a designar por “exclusdo"” 1} € neste contexto que emerge a figura do mediador-sécio-cultarat que, no caso portugués tem sido mais frequentemente associado & necessidade de facilitar a interacgao comunicacional entre a escola € minorias étnicas mais distantes da cultura da escola (populacées ciganas e de origem africana, por exemplo). A criagao da figura do imediador que, segundo o estudo agora publicado, parece ter um Jespaco préprio de competéncias e de dominios de intervencao, pode Iser entendida como uma complexificaco da organizacao escolar a { qual, superando a visdo simplista de um somatério de aulas, disc | plinas e professores especializados, apela & construgéo e acgao { concertada de equipas pedagégicas multiprofissionais, nas quais se |Lintegrariam 0 psicélogo, 0 orientador profissional, o mediador, etc. Pode também ser vista como a cria¢ao de uma resposta a disfuncio- namentos da organizagao escolar: na impossibilidade de estabelecer tum didlogo entre a escola e os alunos e suas familias, na medida fem que as duas partes falam, pensam e agem de acordo com pres- supostos diferentes, torna-se necesséria a introducao de “tradutores" que possam estabelecer pontes. Nesta segunda perspectiva a figura 12 _ OWadiader Sci Cubrl em Cane Solar Vitor Manuel de Ae le pa- ontrar sgurar olinar, szem- pede tinsti- escola lagdes ara do er um pode colar a disci acgao sais se vr, etc. velecer redida 1 pres- stores" figura do mediador inscreve-se numa estratégia de “ortopedia” social. As duas perspectivas estdo presentes e coexistem de modo hibrido em muitas das experigncias até agora ensaiadas, o que permite compre- ender 6 fenémeno de “ambivaléncia” que, segundo 0 autor, marca 0 exercicio da funcio de mediador. Este “oscila entre a subordinacao aos princfpios que sao inerentes ao conhecimento critico que tem dos contextos e modos de vida da comunidade com a qual trabalha” €, por outro lado, a “necesséria obediéncia aos imperativos exigidos pela escola/cultura dominante, ao seu status quo” (p. 166). Na apresentacao dos dados empiricos, bem como nas suas propostas de interpretagao, o autor evidencia de forma convincente 05 aspectos positivos que é possivel extrair do caso em anélise, mas também identifica claramente a manutenco de assimetrias entre a escola e os seus piiblicos que desequilibram o papel do media- dor. A auséncia de um contacto directo, regular e substantivo con- cretiza-se numa telacdo funcional, baseada num “distanciamento entre docentes e mediadores”. O “fechamento” dos docentes n seu territério disciplinar e da sala de aula leva-os a percepcionar 05 mediadores como um recurso de natureza “assistencialista’, en- quanto estes se sentem limitados na sua capacidade de interagirem positivamente com os professores. © mediador, que se apresenta & € reconhecido como porta-voz da comunidade a que esté ligado, revela uma capacidade de influéncia relativamente precéria sobre aescola e 0 corpo docente. O baixissimo nivel de qualificagées (9° | ano de escolaridede), bem como a auséncia de um estatuto bem definido e a natureza precaria do vinculo contratual fragilizam as potencialidades da acgio dos mediadores. © grande problema, e a! grande interrogacio, com que, de forma muito pertinente, finaliza este trabalho é 0 de saber se a potencial acco transformadora do papel exercido pelo mediador se vai sobrepor, ou no, a uma funcao de “gestdo controlada da exclusao”. A resposta esté em aberto, quer pela margem de autonomia dos actores e das organizagées, quer pela necessidade de dar continuidade a trabalhos de investigacao neste dominio. Lisboa, 19 de Outubro de 2009 Rui Canario

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