You are on page 1of 12
Ensaios FEE, Porto Alegre. (14)2:410-421, 1993 POSITIVISMO, TRABALHISMO, POPULISMO: A IDEOLOGIA DAS ELITES GAUCHAS Pedro Cezar Dutra Fonseca* Naanflise da economia eda politica gatichas durante o periodo republicano, varias contribuigdes significativas tém sido formuladas por inGmeros autores, inclusive sobre as ideologias que as permeiam. O desvendar do pensamento, dos simbolos e das representac0es a que os principais Iideres politicos e as elites em geral se perfiliaram e de que fizeram uso nasceu com a propria historiografia do Rio Grande do Sul. Se, antes, enaltecedora dos feitos do homem dos pampas — um gatcho que luta por idéias ¢ ideais, com desapego a objetivos materiais —, a partir dos anos 70 novos autores surgiram com novas propostas metodolégicas, quase todas precisando vinculos mais estreitos entre o pensar, 0 discurso e os simbolos com fendmenos emergentes da economia ¢ da politica. Este artigo aborda justamente essa face do debate, procurando polemizar com algumas dessas teses, esperando que, antes de fornecer respostas definitivas, se contribua para novos trabalhos, como s6i acontecer em boa parte dos estudos das ciéncias ditas sociais. J4 ha algum tempo, penso que merecem reparos ¢ qualificagdes as teses segundo as quais: (a) h4 vinculos-estreitos entre positivismo e trabalhismo, de modo que este Ultimo teria sido gestado na Repdblica Velha; (b) o desapego das elites gatichas ao Positivismo, e de Vargas em particular, teria ocorrido apés 1930, ao chegarem ao poder a nivel federal; correlata a esta, como explicar que segmentos de uma elite regional, com vinculos seja na pecufria extensiva, seja na agricultura colonial — as duas faces econdmicas do Rio Grande do Sul na Repablica Velha —, pudessem encampar projeto nacional de t&o longo alcance, assentado na industrializacdo e configurado em um conjunto de polfticas, o qual se convencionou denominar, nao sem reparos de alguns, de "nacional-desenvolvimentismo’;! (c) 0 positivismo teria, ao contrario do que afirma a segunda tese, perdurado apés 1930; assim, o Estado Novo é visto como a realizagao mais acabada da ideologia positivista a nivel nacional, levando ao Pais as concepg5es vigentes entre as elites politicas na RepGblica Velha. Esta referenda, a seu modo, a relago * Professor titular do Departamento de Ciéncias Econémicas da UFRGS. ' Quanto a este iltimo aspecto, ver meu artigo Os gatichos e a perspectiva macional: das fazendas a0 Catete, em Gonzagas (1992). Ensaios FEE, Porto Alegre, (14)2:410-421, 1993 4il entre positivismo e trabalhismo, j& que o PTB nasce ainda na ditadura estado-novista, ‘0 que consolida a relagéo de ambos com 0 populismo e com o desenvolvimentismo, Vejamos cada uma delas separadamente. Positivismo e trabalhismo Embora mais antiga, a tese que vincula as origens do trabalhismo ao positivismo ganhou expresso nos trabalhos de Miguel Bodea: o primeiro analisa o comportamento do governo gaticho de Borges de Medeiros nas greves de 1917 (BODEA, s.d.); ¢ 0 segundo, de maior folego, o trabalhismo ¢ o populismo no Rio Grande do Sul (BODEA, 1992), Em ambos, o sustentAculo basico reside no comportamento das elites estaduais, que, ao contrério dos dirigentes de outros pontos do Pafs & época, se dispunham a atender a reivindicacdes e/ou a fazer aliancas com o operariado industrial emergente, bem como tinham uma postura relativamente critica ao capital estrangeiro. Con- sagravam-se, assim, o trabalhismo ¢ 0 nacionalismo em suas origens, € 0 ideério do Progresso dos positivistas, sem nenhuma dificuldade ou mediacdo, logo se tornou, nessas andlises, o embrifio do desenvolvimentismo. Na opinido de Bodea (s.d., p.81), o Governo gaticho, monopolizado pelo PRR, deparava-se com duplo enfrentamento: as dissidéncias e a oposi¢do estadual, de um lado, ¢ as oligarquias exportadoras ¢ detentoras do poder federal, de outro, o que teria possibilitado "(...)0 ensaio pioneiro de uma ‘alianga para baixo’ entre setores das classes médias urbanas acoplados ao segmento da oligarquia dissidente representado pelo PRR e as nascentes forgas populares que invadem o cenfrio politico, com a greve de 1917". Se é verdade que Borges de Medeiros atuou como mediador entre os grevistas € os industriais, preferindo a negociac&o a repressio, uma novidade & época, ¢ que 0 Intendente Municipal de Porto Alegre, José Montaury, pelo Ato n° 137 tabelou os pregos de primeira necessidade, nfo deixa também de ser verdade que o inusitado dessas medidas nfo pode ser desvinculado da propria forca do movimento: atingindo as principais categorias de trabalhadores ¢ alastrando-se pelo interior do Estado, foi Praticamente uma greve geral — algo jamais até ent&io ocorrido. O carter problemstico da anfilise de Bodea revela-se principalmente ao atribuir A ideologia dos governantes — 0 conselho de Comte de integrar o proletariado a sociedade "moderna’, tio decantado nos discursos dos lideres chimangos — uma das principais razdes do comportamento de Borges de Medeiros ao receber representantes dos trabalhadores em palfcio, para ouvir suas reivindicagdes, sem jamais atribuir isso a propria forca e organizaciio dos grevistas ¢ ao proprio vulto que tomou o movimento. Tanto estes ndo podem ser ignorados que tais atitudes jamais foram tomadas pelo lider governista antes de 1917 e nem repetidas ap6s esse ano. Ao contriério, oGoverno gaticho trataria as greves subsegiientes de forma niio diversa do tratamento usual dispensado em 412 Ensaios FEE, Porto Alegre, (14)2:410-421, 1993 outros estados; os freqilentes apelos para voltar ao trabalho somados com a forga policial. Diante da impossibilidade de generalizar o comportamento do Governo frente as greves, do acontecido em 1917 para todo o periodo da Reptblica Velha, certamente o poder de explicacdo das hip6teses que assinalam a especificidade do ocorrido naquele ano é maior do que o daquelas que procuram buscar linhas gerais, coerentes ¢ de fundo ideol6gico (o positivismo) ou pragmatico-politico (as crises interoligarquicas) para explicar o referido comportamento. Por isso prefiro entender as atitudes do Governo gaticho em 1917 como algo episédico, resultado de um conjunto de fatores cir- cunstanciais, ndo passivel de generalizagdo e sem razdes mais profundas que possam detectar o aparecimento deaigo novo, duradouro nas relagdes entre as classes dirigentes € © movimento emergente dos trabalhadores.Sem contar, ainda, que esse tipo de explicag4o, ao recorrer a uma invers&odo ocorrido através da generalizagode um evento especifico, faz forte apelo A imaginagdo e aos simbolos, configurando a representac&o que as elites dirigentes fazem delas mesmas. Se no Brasil a questo social era "caso de policia” na Repdblica Velha, no Rio Grande do Sul tudo faz crer que era diferente: a elite governamenta) aliangava-se aos trabalhadores contra os empresfrios, mediava os conflitos ay lo neutralidade — como réquer 0 bom positivismo —, mas, na pratica, defendia os mais fracos. Ao recorrer a especificidade local nesses termos, busca-s¢ a legitimacao pela diferenciacao, e ndo s6 do positivismo como do proprio trabalhismo. Nao é dificil, a partir daf, entender-se o segundo como desdobramento do primeiro, ou que os galichos que assumiram o poder federal a partir de 1930 levaram tais idéias ¢ praticas 40 resto do Pats. Qocorrido em 1917 com as greves operarias é interpretado de forma semelhante ‘ao que aconteceu na transferéncia do controle da Viagdo Férrea do Rio Grande do Sul (VFRGS) para o Governo Estadual, em 1920, Essa atitude do Govemo foi resultado de fortes presses, devido a baixa qualidade dos servigos prestados pela concessionéria belga Auxiliaire, em fieg6cio com @ Brazil Railway, de origem norte-americana. A atitude dé Borges de Medeiros certamente se afastava do liberalismo ¢ encontrava respaldo no positivismo, o qual admitia intervencdo governamental em questo de utilidade poblica ¢ para atender a “anseios sociais’. O positivismo nunca entendeu, como o liberalismo cl&ssico, que o mercado poderia, sem interferéncias mesmo esporédicas, levar a melhor solug&o para os problemas econémicos. Advogava a intervengao em carater excepcional se necessfria para garantir o "progresso" — ou seja, fomentar a acumulag&o de capital. O Estado neutro defendido ideologicamente tinha sentido ao negar o intervencionismo para atender a interesses privados, de grupos especificos, mas encontrava guarida ¢ razio de ser quando se tratava de uma demanda “social”, no caso, que prejudicava todos os produtores locais, devido aos péssimos servigos da companhia estrangeira respons4vel pela viagdo férrea. Mas a encampacio da VFRGS, fato episédico ¢ s6 realizado apés varias egociagdes com as empresas estrangeiras visando a solucdes altemnativas menos drasticas — e que, de resto, se mostraram infrutfiferas —, torou-se, nas maos de parte da historiografia, o prenancio do "nacionalismo trabalhista*. Por isso, afirma Bodea (sd, p.65)quea "(...) greve ferroviteia de 1917 ajudara o Governo gatichoa sensibilizar a opinido piblica a favor das teses de estatizacao dos servigos de utilidade pablica”. Ora, essa construgSo supde que o Governo gaticho defendia firmemente tal estatizagfo Ensaios FEE, Porto Alegre, (14)2:410-421, 1993 413 € que se aproveitou da greve para "sensibilizar” a opiniso piblica, invertendo drasticamente 0 acontecido. Nem o Governo preferia essa solugaéo — ¢ s6 a usou em ‘iltimo recurso — como o movimento contra as companhias partiu dos produtores eda populagdo: estes € que sensibilizaram o Governo, se se pode usar essa expresso, eno © contrério (sem contar a ingenuidade de supor que o Governo ditatorial gaGcho precisasse do apoio da-"opiniao publica” para realizar tal feito, como se esta tivesse afeic4o a priori pelo capital estrangeiro, um obstéculo a encampagdo, e precisasse ser convencida do contririo...). Se h& uma semelhanca entre esse nacionalismo epis6dico de Borges de Medeiros e o de Vargas apés 1930, e com todas as qualificagdes hist6ricas que se fazem necessérias, esta deveria dar-se em raz4o oposta a pretendida pela literatura: nemo lider chimango nem Vargas eram hostis ao capital estrangeiro, ¢ o nacionalismo do Gltimo sempre conviveu, a ndo ser nos anos finais de seu Gltimo governo (1951-54), com apelos recorrentes & presenga do capital estrangeiro para ajudar no desenvolvimento econdémico do Pais. A solicitagao da presenga da ajuda estrangeira foi constante ao longo da Repéblica Velha no Rio Grande do Sul. Em 1903, o Governo assinou contrato com a Brazilian Cold Storage & Development Limited para estabelecer um frigorifico no Estado, concedendo a ela uma série de privilégios, dentre os quais a reducdo de impostos. Mais tarde, o contrato foi rompido por falta de interesse da companhia (PESAVENTO, 1980, p.73-74). Em 1912, o Govemo isentou, pelo prazo de 30 anos, do Imposto de IndGstrias ¢ Profissdes 0 gado abatido e a exportaco de came congelada ou refrigerada de qualquer frigorifico que se instalasse no Estado. Somente em 1917 ¢ 1918, instalaram- -se em Santana do Livramento as empresas Armour ¢ Wilson, e, em 1917, a Swift, na Cidade de Rio Grande. As empresas estrangeiras, alias, s6 decidiram instalar-se apés demoradas barganhas com o Governo estadual, que, finalmente, hes deu inimeras vantagens fiscais. A instalagdo dos frigorfficos estrangeiros foi solicitada ¢ incentivada pelo Governo gatcho ¢ saudada até pela aguerrida oposicaéo maragata: todos a viam como a grande solucdo para as crises recorrentes da pecu4ria e das charqueadas. A decepedo que mais tarde tomou conta dos fazendeiros, dos charqueadores ¢ do Governo nunca foi estravasada com apelos nacionalistas: criticava-se 0 monopdlio dessas empresas € ndo o fato de serem estrangeiras. Tanto que a solugdo encontrada foi fundar um frigorffico com capitais locais para lhes fazer concorréncia — e n&o encampé-las. Diante disso, pergunta-se: que nacionalismo é esse? A luz dessa argumentag&o, parece evidente que a tese que vé no positivismo a origem do trabalhismo merece, se n&o ser rejeitada, pelo menos qualificada. A rigor, de fato, nunca foi feita a “alianca para baixo" do Governo positivista gaticho com os trabalhadores ou com as classes médias urbanas mais pobres: o Governo, por exemplo, ficou até as vésperas da formagdoda Alianga Liberal contrério ao voto secreto, a Justica Eleitoral, a0 voto feminino ¢ ao pluralismo partidério na representag&o, programa basic, caso procurasse selar esse tipo de alianga. Assim, parece bastante duvidoso que os conflitos do PRR seja com os maragatos locais, seja com as oligarquias dos estados centrais tenham ensejado uma busca de apoio nos “de baixo" por parte do PRR para ampliar sua correlagio de forgas..Ao contrério, do ponto de vista Hgico, & per- 414 Ensaios FEE, Porto Alegre, (14)2:410-421, 1993 feitamente concebivel a hipétese oposta: frente aos movimentos populares ¢ urbanos, o Governo tendeu a agir, via de regra, representando os interesses mais gerais ¢ definidores das classes dominantes, ¢ dai Jegitimando-se frente 4s oposigdes politicas locais ou nacionais, No & de se estranhar, por exemplo, que, no periodo 1917-20, quando foram maiores © movimento dos trabalhadores e 0 nGmero de greves, menor tenha sido o impeto das oposi¢ées maragatas. Assim, 0s acontecimentos relativos a greve de 1917 ¢ a encampagdo da VFRGS devem ser interpretados dentro de sua excepcionalidade. Deles nao se pode inferir um comportamento generalizante para todo o periodo, com orisco de se ignorarem outros, t4o importantes quanto estes, mas muito mais freqiientes no periodo. Alias, como demonstra Angela de Castro Gomes (1979, p.77), a bancada gatchada Camara Federal, quando da regulamentagdo do trabalho na década de 20, foi muito mais resistente as leis trabalhistas que a bancada paulista. O proletariado deveria ser esclarecido e cooptado, come aconselhava Comte, e por isso defendia a educagdo, a protecao as mulheres ¢ aos menores € seguros contra acidentes de trabalho. Nao obstante, rejeitou o horfrio de trabalho de oito horas ¢ a implantagao do direito de férias. Posturas como essa revelam com muito mais precisdo o pensamento das elites, sua ideologia ¢ intengdes, que fatos episddicos. Positivismo e desenvolvimentismo Quando se problematiza 2 hipétese de que o trabalhismo tenha sido originado no positivismo ¢ que esta seria uma peculiaridade das elites gatcchas na RepGblica Velha, no se quer dizer que nao existamespecificidades que as diferem das co-irmas de outros pontos do Pais. E mais que esclarecido na literatura 0 fato de o Rio Grande do Sul voltar-se ao mercado interno — 0 que gerava pontos conflitantes nas politicas cambial € monet&ria com relagdo a Sao Paulo —, o fato da filiacdo doutrinfria positivista e as relagdes do PRR com o Exército, o que o opunha as campanhas civilistas. Pée-se em questdo, todavia, que fosse sua prética usual uma “alianca para baixo” ou algo que lembrasse de fato o trabalhismo — um fendmeno mais complexo nas relagdes entre Estado ¢ “subalternos", que, inclusive, supde certa organizacdo corporativa do movimento operério e um acesso mais amplo ao direito de voto (na Repablica Velha, apenas entre 2% ¢ 3% da populacdo votava nas eleigdes presidenciais), Sao inconcebiveis o trabalhismo e o populismo sem a emergéncia da sociedade de massas: na Repdblica Velha, a politica oficial limitava-se 4 minoria da populacdo e por isso vinha a tona com luta de interesses entre estados € no entre classes. A aparéncia do conflito social, no claro/escuro que permeia as relagGes sociais ¢ politicas da sociedade capitalista, deixava t. nsparente “os interesses do Rio Grande", "a politica de Minas", "a voz de Sao Paulo” ¢ nunca os trabalhadores, os empresdrios industriais e os proprietatios de terra. A Reptblica era olig4rquica, como a denomina boa parte da literatura, e por isso a denominagio tem sentido e razao de ser, j4 que a politica oficial se restringia as elites. Dentro desse contexto, 0 trabalhismo como ideologia ou forma Ensaios FEE, Porto Alegre, (14)2:410-421, 1993 41S de dominagdo ndo existia, nem possuia razo de ser. Nem poderia ser gestado em situagao hist6rica diversa e até antitética a que 0 explica como fendmeno politico. O positivismo gaticho, entrementes, pode ter trazido, em sua especificidade, 0 inicio das concepgdes desenvolvimentistas. Ao opor-se ao liberalismo classico, ou ao nao aceitar o dogmatismo do livre mercado como precondicdo suficiente para assegurar a acumulagdo de capital — o Estado como responsdvel pelo "progresso”, em alianga com a iniciativa privada —, o positivismo nfo deixou de antecipar, antes de 1930, o desenvolvimentismo. Mas a relacdo entre este € o trabalhismo é historicamente limitada: o desenvolvimentismo no Brasil é anterior cronologicamente ao Estado populista ou ao trabalhismo, assim como continuou apés 1964, exatamente quando da derrocada destes dois. A confusdo entre desenvolvimentismo e populismo é téo corrente na literatura como entre trabalhismo e positivismo. O lema "ordem e progresso" dos positivistas pode ensejar interpretagdes como esta: "A nitida conotagdo conservadora do positivismo no século XIX europeu, como 0 soberbo desprezo de tal corrente que sempre ostentou, p.e., diante da concepgdo marxista de alta de classes, modificou-se bastante na América Latina. O inéspito habitat latino-americano, pontilhado de formas de relagdes sociais ¢ culturais produzidas por sistemas de vidas que mesmo quando enganchadas a dindmica da relac&o capitalista intemacional resistiam a racionalizacdo crescente da sociedade e da economia, gerou uma deformagio simpStica do positivismo. Tornou-se paladino da idéia de pro- gresso. A diferenca de habitat cultural nao pode cortar pela raiz a outra idéia da filosofia polftica positivista, ade ordem. Mas, pelo menos, mitigou seus impetos uniformizadores, dada a variedade e a desordem constitutiva de um continente formado pela miscigenacdo de alguns modos de produg&o as- sentados em princ{pios basicos conflitantes, e tomou 0 positivismo ideologia mais reformista que reacionéria" (CARDOSO, 1980, p.17-18). Cardoso ressalta corretamente que 0 positivismo trouxe consigo a idéia de progresso— ou “desenvolvimento”, j4 usado como sindnimo do primeiro ao final dos anos 20. Entretanto sua anélise frisa a ordem para 0 contexto europeu, 0 progresso para o caso latino-americano. Considero, todavia, que nem ordem nem progresso podem ser dissociados um do outro e do Positivismo em quaisquer dos dois casos — embora em cada um possam ter conotagdes especificas e concregdes proprias. Subjacente a essa tese de Cardoso encontra-se o pressuposto (defensAvel) de maior organizac4o dos trabalhadores europeus que dos latino-americanos, a qual requeria lembranca da ordem com mais freqiéncia na Europa, e, do mesmo modo, barreiras mais acentuadas ¢ mais dificeis de transpor, para a expansio capitalista, na América Latina, o que fazia a idéia de "progresso" ser localmente mais propalada (FONSECA, 1989, p.76). Se assim entendida, a interpretago de Cardoso nio merece qualquer reparo. Porém, tendo em vista o caso brasileiro: (a) claramente subestima os movimentos sociais ¢ populares que tiveram lugar na Repablica Velha; (b) talvez também por isso mesmo subestime o carter conservador do positivismo autéctone — daf té-lo chamado de deformagao "simpatica” —e, mais que isto, "reformista”. A critica a Femando Henrique Cardoso passa necessariamente pelo entendimento do que o processo de desenvolvimento capitalista brasileiro — 0 "progresso" — nunca 416 Ensaios FEE, Porto Alegre, (14)2:410-421, 1993 - dispensou 0 outro lado da ideologia —a "ordem". Os dois aspectos do positivismo nao podem, nem para fins analfticos nem de exposi¢&o, ser dissociados, com 0 risco de, a0 ignorar-se um deles, perderem sua dinamica, sua complexidade e as méltiplas determinac6es que os envolvem. "Progresso dentro da ordem" sup6e exatamente acumulagdo de capital sem quaisquer. vinculos distributivistas ¢/ou associados a uma democracia substantiva: ao cercear as reivindicagdes, concebé-las como desordem ou anomia, o positivismo (sem qualquer arroubo panflet4rio) propde a acumulag&o para o capital e o bom comportamento para o trabalho. Fica claro, entiio, que, para o caso brasileiro e, portanto, o gaticho, nao ha de se destacar isoladamente nema ordem nemo progresso; ambos fazem parte de um mesmo Projeto ¢ de um mesmo processo: "progresso”, pois, desenvolvimento das forcas produtivas e das relagdes sociais capitalistas; mas necessariamente ordenado, pois, excludente ¢ sem ferir aspectos tradicionais concentradores da estrutura social. O positivismo nada tinha de reformista, como assinalou Cardoso: teve "total desprezo” pelas lutas de classes tanto na Europa como no Brasil. Seu cardter progressista s6 pode ser mencionado stricto sensu: a defesa do desenvolvimento das relagées capitalistas ¢, a partir dos anos 20, da industrializacdo, o que se chocava com a defesa do agrarismo intransigente de parte das elites, Mas omitia, por exemplo, as quest6es distributivas emergentes desse mesmo desenvolvimento. Essa idéia desenvolvimentista, que toma vulto no Governo Federal apés 1930, indubitavelmente tem como predecessor o governo de Vargas no Rio Grande do Sul, iniciado em 1928. Este criou, pelo Decreto n° 4.070, de 22 de junho desse ano, o Banco do Estado do Rio Grande do Sul. E, ao contrério de Borges de Medeiros, que defendia o Estado neutro e condenava empréstimos, sob a égide da moral positivista de que o Estado deveria nfo se endividar para dar exemplo moral a sociedade, Vargas entendia 0 crédito como instituig#o fundamental ao progresso. A moralizagao do positivismo ortodoxo foi substituida pela ideologia do Estado comprometido com o progresso, a qual deixava de ser figura de ret6rica: subsidiar ¢ estabelecer prioridades passaram a fazer parte da agenda estatal. O Estado "neutro" foi substitufdo por outro, atuante, comprometido com o progresso ¢ com o financiamento da producfo tanto na pratica como no discurso, o que nfo acontecia a época de Borges de Medeiros. Assim, ao se afastar da prética politica de seu antecessor, Vargas levava as Gltimas conseqhéncias o idefrio positivista de comprometer-se com 0 progresso, mas chocava-se com 0 postulado da neutralidade, também positivista: uma contradig&o evidente da doutrina de Comte ¢ materializada de forma diversa nfo sé nas figuras dos dois politicos, Borges ¢ Vargas, mas em duas diferentes gerac6es de politicos ligados ao PRR. J. Love (1975) denomina de "geragiio de 1907" o grupo ao qual pertenciam Vargas, Jo&io Neves da Fontoura, Flores da Cunha, Lindolfo Collor e Osvaldo Aranha, mais jpvens que os préceres da Repiblica, como Jtlio de Castilhos, Borges de Medeiros € Pinheiro Machado. Embora formados dentro dos cfnones positivistas, a primeira geragéio enfrentou os problemas de consolidagéo da nova forma de governo ¢ a Revolucdo Federalista; intransigentemente defendeu o federalismo, a ditadura posi- tivista, a diversificag&o econémica estadual, prendendo-se a dogmas como 0 orgamento equilibrado e a critica a empréstimos por parte do setor pGblico. A segunda gerac¢do, ees Ensaios FEE, Porto Alegre, (14)2:410-421, 1993 417 por influéncia de Pinheiro Machado e respondendo a propria expansdo econdmica gaticha & A necessidade de assegurar mercados nacionais, desde logo criticava 0 isolacionismo relativo da politica borgista, entendendo ser fundamental a presenga maior de gatichos a nivel federal. Ao assumir a Presidéncia do Rio Grande do Sul em 1928, juntamente com alguns membros da "gerac&o de 1907", Vargas daria énfase a politica nacional: ele mesmo ocupara até entio a pasta da Fazenda. Ao reinterpretar o positivismo, dando-Ihe nova forma, abandonava paulatinamente seus dogmas, ensejando a criagdo de algo novo na economia brasileira: o desenvolvimentismo. Por isso é importante ressair que o desapego ao positivismo Por parte dessa nova geracdo no foi abrupto, mas gradual. Ocorreu ao longo da Repablica Velha, reforgou-se apés 1928, e, quando da formagao da Alianga Liberal eda "Revolugio de 30", os principios ideolégicos de Comte j4 eram bem mais ténues. Ao longo da década de 30, descaracterizar-se-iam muito ao se mesclarem com as novas ideologias em voga, como 0 Corporativismo ¢ o fascismo. Permaneceria do positivismo certamente o ideal de progresso dentro da ordem — o qual acompanha a prOpria hist6ria do desenvolvimento capitalista brasileiro —, mas principios programAticos como descentralizagao federalista, orgamento equilibrado, Estado neutro ¢ intervencionismo moderado seriam abandonados, fazendo emergir algo novo, diverso do positivismo da velha geracSo. Os gatichos do Estado nacional: as novas ideologias Atese segundo a qual o positivismo gatcho foi levado ao resto do Pats a partir de 1930, coma ascensiiode Vargas ao poder federal, é corrente na literatura. Em sua versio mais radical, no se faz diferenca entre o positivismo da velha e da nova geracao do PRR, eassocia-se 0 autoritarismo do Estado do pés 1930 a seus principios doutringrios. O transplante da ideologia do Rio Grande do Sul para a politica nacional dé-se sem nenhuma mediacdo, sem nenhum conflito, sem nenhuma graga. Ivan Lins (1967, p. 211) afirma, por exemplo, que Vargas, apés ter chegado a Presidéncia do Pafs, se manteve "fiel 4 sua formacfio politica, essencialmente castilhista e, portanto, posi- tivista". Frankhin de Oliveira (1985, p.71) assevera: "Mas 0 que, no frigir dos ovos, pregava Jalio de Castilhos? A onipoténcia absolutfssima do Poder Executivo. Na Constituig&o que ele proprio redigiu, © Legislative figura como mero omamento. Desdenhava a mec&nica eleito- ral. Era contra o sistema de deliberag&o pelo voto das maiorias, Um autocrata metido a fisico social. A heranga castilhista foi revitalizada por Vargas, depois de 1930. E ainda niio se apagou’. A anflise mais complexa ¢ acurada de Miguel Bodea (1992, p.202) niio foge da mesma linha: "Na minha interpretacio, a Revolucio de 1930 acarretou a substituicao, no seio da classe dominante, do nicleo oligérquico tradicional por uma nova elite, de origem positivista, portadora de um projeto reformador ¢ modemizante, que acabaria se personificando ma figura de Vargas". 418 Ensaios FEE, Porto Alegre, (14)2:410-421, 1993 De fato, com a chegada de Vargas ao poder federal em 1930, emergiram novas Propostas, nova pratica politica, novos simbolos ¢ novo discurso, desde logo n&éo expressdo Gnica dos setores gatichos, mas de correlagdo de forcas formada a nivel nacional quando da Alianga Liberal ¢, mais precisamente, quando da "Revolucao de 30". B impossivel entender seu governo e a ideologia oficial sem ter presente tal correlago, estabelecida entre setores divergentes, mas que se uniram contra 0 situacionismo representado pelo candidato paulista eleito, Jdlio Prestes. Sabe-se, ainda, que boa parte das antigas oligarquias aderiu a Alianga Liberal, mas rejeitava a via "revolucionria"; para o golpe de outubro de 1930, que levou Vargas ao poder, foi fundamental a participagdo das forgas armadas, inaugurando a presenga sélida dos antigos tenentes dos anos 20 na politica nacional. A maior parte dos interventores nomeados por Vargas nos estados eram militares. Certamente boa parte das idéias correntes nessas elites sio novas, se consideradas do ponto de vista do Governo Federal, j4 que muitas estavam presentes nos discursos de Vargas desde a época de parlamentar, ainda na Repiiblica Velha, So os casos, por exemplo, da critica ao laissez-faire, da abertura para certo intervencionismo ¢ do descrédito relativo aos partidos ¢ 4 democracia representativa. Jé antes de 1930, defendia, como depois desse ano, a primazia da ciéncia sobre a politica, da administragdo ¢ da economia sobre 0 direito ¢ a filosofia. Como todos esses pontos constam no idedrio positivista, 4 primeira vista pode-se advogar que este, juntamente com Vargas, foi transplantado ao Catete. Se é obvia a formagio positivista de Vargas, como bom membro do PRR, ¢ sem negligenciar que alguns tracos desta permaneceram em seus discursos €, mais que isso, que existem pontos fundamentais convergentes entre a ideologia positivista ¢ o proprio proceso de desenvolvimento capitalista do Brasil que se estendem, modificados, até nossos dias — o progresso ordenado e excludente, onde o povo é mais espectador que participe —, varios aspectos podem ser levantados a tese do transplante da positivismo. ao Governo Federal apés 1930. Como jé analisei alhures (FONSECA, 1989, p.244), h4, inicialmente, um problema de ordem epistemolégica. Se s&o essenciais, no estudo das ideologias, 0. entendimento das razGes que as impulsionam e the dao sentido, assim como seus vinculos com as condigdes concretas postas a0s homens (ou certa classe ou grupo social) emdeterminada circunstancia especifica, decorre dai mais a exigéncia metodolégica de se precisar como elas tomam corpo dentro de cada conjuntura hist6rica, 0 uso delas feito por seus seguidores, do que testar até que ponto determinada personagem foi coerente ou consistent ao longo do tempo com certo conjunto de idéias, Caso se admitisse a existéncia do positivismo no Govemo Federal ap6s 1930, interessaria mais entender como e de que forma cle se fez presente naquela situacdo hist6rica especifica do que afirmar ter sido ele "levado” ao Rio de Janeiro apés ter habitado por 40 anos no Rio Grande do Sul. Em contraste com os cavalos, 0 positivismo nao pode com facilidade ser transportado e atado no obelisco... Ha que se distinguir, em segundo lugar, que a ideologia do governante néo é necessariamente a do governo. Mesmo se admitindo a filiag&o irrestrita de Vargas ao positivismo na Repiblica Velha, nada garantiria ter-se ela estendido ao conjunto da equipe governamental apds 1930. O Governo, como se sabe, iniciou-se sob a égide de Ensaios FEE, Porto Alegre, (14)2:410-421, 1993 419 uma alianga da qual faziam parte politicos de diversos matizes ideolégicos, muitos dos quais reconhecidamente criticos ao positivismo. A aproximagao de Vargas aos "tenen- tes” nos primeiros anos da década de 30 emnada fere o carater heterogéneo da ideologia do grupo dirigente, pois aqueles nunca tiveram uma Ginica ideologia enquanto grupo, nele havendo liberais, fascistas, integralistas, positivistas e até "esquerdistas". Em terceiro lugar, cabe relembrar o paulatino desapego de Vargas ao positivismo ao longo da RepGiblica Velha. Como jé mencionei anteriormente, a chamada "geracdo de 1907", a qual ele pertencia no Partido Republicano Rio-Grandense, apesarda filiagdo positivista foi gradualmente libertando-se da ortodoxia, esta mais presente entre os proceres da Repiblica. © Govemo Vargas no Rio Grande do Sul, por outro lado, representou mais um passo nessa direco: embora admitindo governar inspirado nos ensinamentos de Comte e de outros mestres positivistas (o contrério significaria romper ideologicamente com o PRR), passou a interpreté-lo de forma diferente da que Castilhos e Borges de Medeiros haviam feito. Em contraste com esses dois ex-Pre- sidentes do Estado, os apelos Aqueles autores ndo eram freqiientes nos discursos de Vargas quando estavaa frente do Governo Estadual. Ap6s 1930, nao hé registrode uma vez sequer em que admitisse continuar adepto do positivismo —embora haja passagens em seus discursos demonstrando que a influéncia ndo se apagara totalmente. A ideologia de Vargas nesse perfodo consubstanciava-se na negacéo da propria ideologia: nas entrelinhas, criticava o PRR ¢ seu proprio passado, explorando a contradig&éo dos que negavam a filosofia, mas, religiosamente, seguiam uma delas. Embora se pudesse objetar que, em assim procedendo, Vargas continuava apegado a sua antiga formago positivista (negar a ideologia é princfpio positivista), no minimo far-se-ia necess4rio mencionar que, apés 1930, a adogao dessa doutrina se deu de forma completamente diversa da do perfodo anterior, pois, ao contrério da Reptblica Velha, sua influéncia apareceria nos anos 30 dissimulada, j4 que existia A medida que era negada. Certamente nfo foi essa a forma tomada pela ortodoxia positivista de Castilhos ¢ Borges de Medeiros. Enquanto no governo destes houve uma ideologia oficial, por assim dizer, exatamente o que Vargas ndo aceitava era que isso voltasse a ocorrer. Dai afirmar que pretendia, "sem pré-conceitos", fazer uso dos ensinamentos de todos os autores: contemporaneos capazes de colaborar para a solucdo dos problemas brasileiros ... Em quarto lugar, finalmente, devem-se lembrar aspectos da ideologia ¢ das acdes do Governo que frontalmente se opunham aos dogmas mais sagrados do positivismo. Para tanto, apenas um, 0 federalismo, é per se suficiente para rejeitar a hipotese antes levantada. Seu peso como argumento é tanto mais expressivo quanto mais se tiver em mente o significado da autonomia estadual para os positivistas sul-rio-grandenses; diretamente de Comte estes haviam extraido o ideal das pequenas comunidades relativamente autirquicas, e, a0 longo dos 40 primeiros anos de regime republicano, o federalismo destacou-se, seguramente, como a principal bandeira do PRR. Nao é de se estranhar, portanto, a forte resistencia encontrada no Rio Grande do Sul jé as primeiras medidas centralizadoras do Govemo Provisério. A Frente Unica estadual, formada por ocasiaoda Alianca Liberal, gradualmente bandeou-se para a oposic&o. Republicangs, como Borges de Medeiros e Joao Neves da Fontoura, e maragatos, como Assis Brasil e Raul Pilla, nao hesitaram em declarar-se descontentes com os rumos tomados pela "Revolucdo": a volta 420 Ensaios FEE, Porto Alegre, (14)2:410-421, 1993 a0 regime constitucional e ao federalismo surgiu como suas exigéncias mais imediatas. _ As antigas oligarquias mais uma vez mostravam-se dispostas @ unio para a defesa dos caros principios liberais: estes, no caso, significavam sua propria sobrevivencia. Tao acirrados estavam os impetos oposicionistas gatchos que, até o filtimo momento, os dirigentes da revolta paulista de 1932 julgaram contar com seu apoio para derrubar 0 Governo. Comose vé, frageis sioas bases da tese de que 0 positivismo teria sido transportado ao Catete com a "Revoluco de 30". Mesmo na "questo social", sua influéncia deve ser qualificada: embora os positivistas gatichos a tenham reconhecido desde 0 infcioda Repdblica, essa abertura nao passou do mero reconhecimento, porquanto sempre se opuseram A "estatizacéo da questiio social". Lindolfo Collor, da mesma geracio de Vargas no PRR e seu Ministro do Trabalho, inspirou-se diretamente no fascismo e nao nos ensinamentos de Comte e de Castilhos ao ¢laborar a legislacao trabalhista. As novas ideologias emergentes nos anos 30 e no periodo entre guerras nfo podem ser con- fundidas com o positivismo da Repablica Velha, embora ambas autoritérias, anti- liberais ¢ defensoras intransigentes da ordem. Bibliografia BODEA, Miguel (1992). Trabalhismo e populismo no Rio Grande do Sul, Porto Alegre: UFRGS. BODEA, Miguel (s.d.). A greve de 1917: as origens do trabalhismo gaficho. Porto Alegre: L & PM. CARDOSO, Fernando Henrique (1980). As idéias e seu lugar: ensaio sobre as teorias do desenvolvimento econémico. Petrépolis: Vozes. FONSECA, Pedro Cesar Dutra (1989). Vargas: 0 capitalismo em construgfio, Séo Paulo: Brasiliense. GOMES, Angela Maria de Castro (1979). Burguesia e trabalho, politica e legislacaio social no Brasil, 1917-1937. Rio de Janeiro: Campus. GONZAGAS, S., FISCHER, L. A., org. (1992). N6s, 06 gatichos, Porto Alegre: UFRGS. LINS, Ivan (1967). Hist6ria do positivismo no Brasil. 2.ed. Sao Paulo: Nacional. LOVE, Joseph L. (1975). © regionalismo gaficho e as origens da Revolucao de 30. Sio Paulo: Perspectiva. OLIVEIRA, Franklin (1985). Complexo de Caim. Senhor, Sao Paulo: Editora Tres, n222. PESAVENTO, Sandra J. (1980). Repablica velha gaicha: charqueadas, frigorificos, criadores. Porto Alegre: Movimento/ JEL. Ensaios FEE, Porto Alegre, (14)2:410-421, 1993 421 Abstract This article approaches some aspects of the political and ideological arrengements of the elites in Rio Grande do Sul in the 20 th century, criticising'the existing literature. Thus it refutes the proposition that the laborism had its origin in the republican positivism, showing that the treatment given by the gacho govern- ment in 1917 to the workmen on strike was an episodical event and not the rule in the period. The article aiso shows the difference between developmentalism and laborism, and points out that the influence of positivism happened mastly in the former rather tham in the latter, disagreeing that the positivism was taken to the federal government by Vargas after 1930.

You might also like